Ministério Público Federal Ministério Público do Estado de Goiás Procuradoria da República em Goiás Centro de Apoio Operacional de Defesa do Ofício do Consumidor, Ordem Econômica Consumidor, Usuários dos Serviços Públicos e e Educação Crimes contra as Relações de Consumo

20/06/2006ACP Banco PostalAção Civil Pública - correspondente bancário - falta de estrutura e segurança - informações sobre conta-salárioACP Banco Postal

EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA _______ VARA FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DE GOIÁS

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, através da Procuradora

da República que subscreve a presente exordial, com atuação no Ofício do

Consumidor e Ordem Econômica, e o MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, neste ato representado pelo Promotor de Justiça da 12ª Promotoria de

Justiça, com atribuições na defesa do consumidor, e pelo Coordenador do Centro

de Apoio Operacional de Defesa do Consumidor, Usuários dos Serviços Públicos e

Crimes contra as Relações de Consumo, em litisconsórcio, e com suporte no art.

129, III, da Constituição Federal de 1988, bem como do art. 1º, II e IV da Lei nº

7.347/85 e arts. 82, III e 91 da Lei nº 8.078/90, além dos dispositivos pertinentes na

Lei Complementar nº 75/93, propor

______________ 1 ___________________

AÇÃO CIVIL PÚBLICA, com pedido de ANTECIPAÇÃO DE TUTELA,

em defesa dos interesses dos consumidores e dos idosos usuários dos serviços de

natureza bancária prestados por agências dos Correios em todo o Estado de Goiás,

atividade denominada “Banco Postal”, na função de correspondente do Banco

Bradesco, em face de

BANCO CENTRAL DO BRASIL - BACEN, autarquia federal, pessoa jurídica de

direito público interno, com sede em Brasília-DF, podendo ser citado na sua

Procuradoria-Geral, SBS, Qd. 03, Bloco B, Ed. Sede, CEP 70.074-900, Brasília-DF,

na pessoa de seu representante legal,

EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELÉGRAFOS – ECT, empresa

pública federal, instituída pelo Decreto-lei nº 509/69, inscrita no CNPJ sob o nº

34.028.316/0001-03, com sede na praça Dr. Pedro Ludovico Teixeira, nº 11, centro,

nesta cidade de Goiânia, representada pelo Diretor Regional em Goiás, Sr. Sérgio

Douglas Repolho Negri;

e

BANCO BRADESCO S.A., pessoa jurídica de direito privado, inscrito no CNPJ sob

o nº 60.746.948/0001-12, com sede na Avenida Goiás, nº 414 (esq. com a Rua 3),

centro, nesta cidade de Goiânia, representado pelo Diretor Regional em Goiás, Sr.

João Barbosa Sobrinho;

pelos fatos e fundamentos que passa a expor:

1. DOS OBJETIVOS DA AÇÃO

Inicialmente, por intermédio da Resolução nº 2.707 e da

Circular nº 2.978, ambas do Banco Central do Brasil, facultou-se às instituições

bancárias a contratação de empresas para funções de correspondentes no país.

Atualmente, rege o assunto a Resolução BACEN nº 3.110/00, alterada pela

Resolução nº 3.156/03.

______________ 2 _________________

O serviço denominado “Banco Postal”, prestado pelos Correios,

é um serviço financeiro especial implementado pela Empresa Brasileira de Correios

e Telégrafos – EBCT, em parceria com o Banco Bradesco S.A, na forma da

Portaria nº 558, de 4 de outubro de 2000, do Ministério das Comunicações, que

assim dispõe:

“ O MINISTRO DE ESTADO DAS COMUNICAÇÕES, no uso das

atribuições que lhe confere o art. 87, Parágrafo Único, incisos II e IV,

da Constituição, com suporte no Decreto nº 3.354, de 28 de janeiro

de 2000, resolve:

Art. 1º Instituir o Serviço Financeiro Postal Especial, denominado

Banco Postal, a ser prestado pela Empresa Brasileira de Correios e

Telégrafos – ECT, de acordo com os princípios gerais definidos nesta

Portaria e em normas específicas pertinentes.

Art. 2º Os serviços relativos ao Banco Postal caracterizam-se pela utilização da rede de atendimento da ECT para a prestação de serviços bancários básicos, em todo o território nacional, como correspondente de instituições bancárias, na forma definida pela Resolução do Conselho Monetário Nacional de nº 2.707, de 30 de março de 2000.

.....

§ 2º Os serviços referidos no caput deverão ser prestados em

parceria com instituições bancárias pertencentes ao Sistema

Financeiro Nacional” (g.n.)

A Resolução do Banco Central do Brasil nº 2.707/00, citada

pela portaria instituidora do Banco Postal, foi revogada pela Resolução do Banco

Central do Brasil nº 3.110/00, que por sua vez foi alterada pela Resolução nº 3.156,

de 17 de dezembro de 2003, que dispõe sobre a contratação de correspondentes

no País, por parte das instituições financeiras.______________ 3 _________________

Assim, em mandamento à portaria ministerial de criação do

Banco Postal, e após o devido processo licitatório, o Banco Bradesco foi contratado

na condição de instituição financeira responsável pelo Banco Postal, que passou a

ser seu correspondente, na forma preconizada pelas Resoluções do Banco Central.

Ocorre que, ao contrário do que tenta fazer crer, o Banco

Postal não tem autonomia no exercício da atividade de correspondente bancário,

ficando sujeito a total responsabilidade do Banco Bradesco, e por consequência à

normatização do Sistema Financeiro Nacional.

Com efeito, a Resolução do Banco Central nº 3.110/03

estabelece no seu artigo 4º, inciso I, a total responsabilidade da instituição financeira contratante (BRADESCO) sobre os serviços prestados pela empresa contratada (CORREIOS).

Portanto, tem-se que o Banco Bradesco é responsável

integralmente pelos serviços prestados pelos Correios nas atividades do Banco

Postal, enquanto este é seu mero correspondente, devendo responder

solidariamente pela má prestação do serviço deste.

Neste sentido o reconhecimento da Jurisprudência, verbis:

AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 2003.04.01.036262-0/RSRELATOR : DES. FEDERAL VALDEMAR CAPELETTIAGRAVANTE : CAIXA ECONÔMICA FEDERAL - CEFAGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALINTERESSADO : BANCO CENTRAL DO BRASIL

EMENTAADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. CAIXA ECONÔMICA

FEDERAL. CESSAÇÃO DOS SERVIÇOS DE AGÊNCIAS

LOTÉRICAS E DEMAIS CORRESPONDENTES NÃO

QUALIFICADOS COMO INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS.

______________ 4 _________________

A Resolução nº 2.707, de 30/03/00, do Conselho Monetário Nacional,

tornada pública pelo Banco Central do Brasil, não se me afigura

inconstitucional nem ilegal, tendo sido tomada para, em essência,

facultar aos bancos múltiplos com carteira comercial, aos bancos

comerciais e à Caixa Econômica Federal a contratação de empresas

para prestação de diversos serviços, através do desempenho das

funções de correspondentes no País, e parecendo claro que essas correspondentes foram concebidas para atuar como longa manus das precitadas instituições financeiras, sob sua responsabilidade, ficando vedada àquelas a prática, por própria

conta e ordem, de operações privativas destas. (g.n.).

Em conclusão, o escopo da presente ação é a defesa coletiva

dos direitos dos consumidores dos serviços prestados pelo Banco Postal,

buscando-se coibir a transferência de serviços bancários a estabelecimentos que

não estejam dotados de estrutura física compatível com as necessidades de seus

usuários, e em desacordo com as normas do Sistema Financeiro Nacional.

2. DOS FATOS E DO DIREITO

A partir do momento em que o Banco Central passou a

autorizar as instituições financeiras a delegarem serviços de sua competência a

empresas não integrantes do Sistema Financeiro Nacional, com o objetivo de

aumentar o leque de opções aos consumidores, automaticamente as

responsabilidades inerentes a esse novo tipo de atendimento também devem ser

ampliadas.

Infere-se das informações contidas nos autos deste

procedimento, que todos os descasos possíveis estão sendo cometidos em

desfavor dos consumidores usuários dos serviços bancários terceirizados aos

Correios. Os serviços delegados pelo Banco Bradesco às agências dos Correios

estão em total descompasso com o Código de Defesa do Consumidor e com o

______________ 5 _________________

Estatuto do Idoso, podendo-se destacar, de plano, as seguintes irregularidades: a) instalações inadequadas (excessivamente pequenas, com falta de espaço e bancos

de espera); b) insuficiência de funcionários para atendimento ao público, o que

ocasiona demora no atendimento e filas; c) inexistência de instalações adequadas

a idosos e portadores de necessidades especiais; d) sistema de segurança

ineficiente, uma vez que não são cumpridas as normas de segurança que devem

existir nos estabelecimentos bancários (insuficiência/inexistência de equipamentos

e de mão de obra especializada); e) cobrança de tarifas abusivas para o

recebimento de aposentadorias e outros benefícios previdenciários.

As irregularidades acima constatadas levam à ocorrência de

toda a sorte de desrespeito aos usuários. Em razão do reduzido tamanho das

agências dos Correios, da insuficiência de atendentes e da falta de um mínimo de

estrutura, as pessoas são obrigadas a enfrentar intermináveis filas, que muitas

vezes se dirigem para fora do estabelecimento, ficando os consumidores de todas

as idades em pé por longo tempo, expostos ao sol, vento, chuva, frio, etc.

A situação se torna ainda mais caótica durante os dias de

pagamento dos benefícios previdênciários do INSS, quando se aglomeram um

número grande de beneficiários, na sua maioria pessoas idosas, que passam uma

boa parte do dia nas filas intermináveis da agências dos Correios, sendo comum

ainda não conseguirem retirar suas aposentadorias e pensões em razão da falta de

numerário suficiente para o pagamento a todos, uma vez que o dinheiro transferido

pelo Banco Bradesco às agências dos Correios é insuficiente ou mesmo utilizado

para outros fins.

Por outro lado, o Banco Bradesco vem debitando, nas contas

correntes de aposentados e pensionistas que recebem os benefícios junto às

agências dos Correios, uma taxa de manutenção da conta corrente ativa.

Os correntistas idosos não têm sido devidamente informados

da possibilidade de receberem os seus benefícios através da chamada “conta-

______________ 6 _________________

salário”, que é criada com a finalidade exclusiva do levantamento do benefício na

instituição financeira credenciada junto ao INSS, sem qualquer ônus ao

beneficiário.

Com efeito, ao procurarem as agências dos Correios, na

condição de correspondentes bancários do Banco Bradesco, para receberem suas

aposentadorias, aos beneficiários é ofertado um contrato de adesão de abertura de

conta-corrente adicionado de uma cesta de produtos e serviços, remunerado

mediante uma tarifa básica, sem que lhes fosse avisado o direito de receberem os

seus benefícios sem ônus através da conta-salário.

Assim, tais contratos onerosos são assinados aproveitando-se

da ignorância dos consumidores idosos, que não necessitam dos serviços

adicionais oferecidos pela instituição financeira, mas assim procedem em razão da

necessidade imediata de receber os benefícios, sem que lhes seja dada a devida

ciência de que existe a alternativa da abertura de conta com a exclusiva finalidade

do recebimento, sem ônus.

Em resposta a ofício constante dos autos do procedimento, os

Correios admitem que trabalham com um cesta de produtos e serviços que é

definida pelo Banco Bradesco, chamada de “conta-fácil”, tarifada no valor de R$

3,80 (três reais e oitenta centavos) por mês.

Na prática o que acontece é que, o Banco Bradesco, sob o

entendimento que os serviços oferecidos pelas agências dos Correios não se

submetem à regulamentação do Banco Central, em especial em relação à

obrigatoriedade da oferta gratuita da chamada “conta-salário”, encaminham os

aposentados para os serviços prestados pelos Correios, quando então será

cobrada a tarifa da “conta-fácil”.

No que se refere ao item segurança, observa-se que nem

mesmo vigias capacitados fazem a segurança das agências dos Correios, que

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passaram a movimentar um volume de dinheiro muito maior do que aquele

anteriormente proveniente unicamente de serviços postais, tornando-se alvo fácil à

ação de marginais. Assim, são correntes as notícias de assaltos praticados no

interior das agências dos Correios, com a exposição dos consumidores à ação de

elementos armados. Para piorar, as agências também são desprovidas de portas

com detector de metais, e muitas vezes não dispõem de câmaras de segurança.

Nota-se que o serviço criado para melhorar o atendimento ao

público, para desafogar as agências bancárias, transformou-se em um grave

problema. De um lado, o Banco Bradesco não está oferecendo o aporte necessário

aos Correios para a satisfação do atendimento ao consumidor, incluindo-se a

questão da segurança. De outro lado, o Banco Central simplesmente está deixando

de fiscalizar as instituições financeiras no tocante ao cumprimento das obrigações

inerentes às atividades bancárias, no que concerne ao atendimento ao público. Os

serviços delegados, que são de total responsabilidade da instituição financeira

contratante, também devem estar sob supervisão do Banco Central.

Ora, ter como atividade principal ou acessória, cumulativamente

ou não, "a captação, intermediação ou aplicação de recursos financeiros de

terceiros, em moeda nacional" - definição de instituição financeira dada pela Lei nº

7.492/86, hoje tornou-se atividade comum às agências dos Correios e, portanto,

devem elas estar sob fiscalização do BACEN, como verdadeiras instituições

financeiras que hoje se apresentam. Daí também a omissão por parte do BACEN.

2.1. DA RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DO BRADESCO E DOS CORREIOS PELA SEGURANÇA DOS CONSUMIDORES

O Banco Bradesco não se responsabiliza pelos danos que

venham a ser causados aos consumidores em razão de operações realizadas

nasquelas agências, sejam aquelas de praxe, sejam as que se relacionem a

operações bancárias. A assunção destas últimas ligam-se diretamente ao fator

______________ 8 _________________

segurança, que deixa a desejar, expondo o público a riscos mais freqüentes.

O Código do Consumidor (Lei nº 8.078/90) é por demais claro,

vedando as condutas adotadas pelo Banco Bradesco. Senão vejamos:

"Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da

existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos

consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem

como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição

e riscos.

§1º. O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o

consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as

circunstâncias relevantes, entre as quais:

I - o modo de seu fornecimento.

Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas,

concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de

empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos.

Parágrafo único. Nos casos de descumprimento, total ou parcial, das

obrigações referidas neste artigo, serão as pessoas jurídicas

compelidas a cumpri-las e reparar os danos causados, na forma

prevista neste Código. (destacamos)

É notória a falta de segurança nas agências dos Correios para

a realização de operações bancárias, visto que não são disponibilizados guardas

armados, circuito interno de TV ou portas giratórias com detector de metais, hoje

considerados como elementos mínimos de segurança nas dependências das

instituições financeiras em operação no Brasil.

Se o Banco Bradesco se preocupa com a questão da

segurança em suas agências, dotando-as de estrutura compatível com os serviços

ali prestados, o mesmo tratamento deve ser por ela dispensado às instalações dos

______________ 9 _________________

Correios, que passaram a desempenhar a mesma atividade. Daí a impossibilidade

de que tal responsabilidade seja pelo Banco Bradesco transferida às agências dos

Correios, da forma que consta do contrato firmando entre ambos.

Com efeito, dispõe o contrato de correspondente bancário

firmado entre o Banco Bradesco e a ECT, verbis:

“Cláusula Décima Quarta – A contratada (Correios) se obriga:

I ) ...

...

VI) adotar todas as medidas de segurança, como consequência dos

serviços de “correspondente bancário”, que serão prestadas como

decorrência deste contrato.

...

VII) prestar os serviços objeto deste contrato com rigorosa

observância das normas técnicas e de segurança relacionadas com o

trabalho a ser executado”

Tal preceito contratual é expressamente vedado pelo art. 4º, I,

da Resolução do BACEN nº 3.110/03, alterada pela Resolução nº 3.156/03, que

dispõe o seguinte:"Art. 1º. Alterar e consolidar, nos termos desta Resolução, as normas que dispõem sobre a contratação, por parte de instituições financeiras e demais instituições autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil, de empresas, integrantes ou não do Sistema Financeiro Nacional, para o desempenho das funções de correspondente no país, com vistas

à prestação dos seguintes serviços:"

"Art. 4º. Os contratos referentes à prestação de serviços de

correspondente, nos termos desta Resolução, devem incluir

cláusulas prevendo:

______________ 10 _________________

I - a total responsabilidade da instituição financeira contratante sobre os serviços prestados pela empresa contratada, inclusive

na hipótese de substabelecimento do contrato de terceiros, total ou

parcialmente;

...

IV - a obrigatoriedade de divulgação, pela empresa contratada, em

painel fixado em local visível ao público, de informação que explicite,

de forma inequívoca, a sua condição de simples prestadora de serviços à instituição financeira contratante." (destacamos)

Por outro lado, o artigo 25 da Lei nº 8.078/90, e seu parágrafo

primeiro, estabelecem a responsabilidade solidária perante o consumidor de todos

os responsáveis pela prestação do serviço, independentemente de regra legal entre

eles .

Art. 25. É vedada a estipulação contratual de cláusula que

impossibilite, exonere ou atenue, a obrigação de indenizar prevista

nesta e nas Seções anteriores.

§ 1º . Havendo mais de um responsável pela causação do dano,

todos respondem solidariamente pela reparação prevista nesta e nas

Seções anteriores”.

A precariedade da segurança nas agências dos Correios coloca

em risco a vida das pessoas que buscam seus serviços. Sobre a regulamentação

legal desta questão, vejamos o que dispõe a Lei nº 7.102/83:

"Art. 2º. O sistema de segurança referido no artigo anterior inclui

pessoas adequadamente preparadas, assim chamadas vigilantes,

alarme capaz de permitir, com segurança, comunicação entre o

estabelecimento financeiro e outro da mesma instituição, empresa de

vigilância ou órgão policial mais próximo, e pelo menos mais um dos

seguintes dispositivos:

I - equipamentos elétricos, eletrônicos e de filmagens que

possibilitem a identificação dos assaltantes;______________ 11 _________________

II - artefatos que retardem a ação dos criminosos, perseguindo a sua

identificação ou captura; e

III - cabina blindada com permanência ininterrupta de vigilante

durante o expediente para o público e enquanto houver

movimentação de numerário no interior do estabelecimento."

Como visto, a segurança dos clientes das instituições

financeiras, e de seus funcionários, é acuradamente tratada pela Lei. Esses ítens

básicos visam justamente propiciar a tranqüilidade necessária para a ideal

prestação de serviços aos cidadãos. Essas normas não são meras afetações

legais, mas imperativos categóricos a garantir um mínimo de segurança àqueles

que se utilizam dos serviços bancários, agora também prestados pelas agências

dos Correios.

Dispõe a Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de

Defesa do Consumidor):

“Art. 1º. O presente Código estabelece normas de proteção e defesa

do consumidor, de ordem pública e interesse social, nos termos dos

arts. 5º, inciso XXXII, 170, inciso V, da Constituição Federal e art. 48

de suas Disposições Transitórias.

...

Art. 6º. São direitos básicos do consumidor:

I - a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos

provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços

considerados perigosos ou nocivos”.

Como ensina EDUARDO GABRIEL SAAD:

“93. O artigo sob comentário, especialmente no seu inciso I, faz-nos

ver que objetiva não apenas a reparação dos danos eventualmente

______________ 12 _________________

causados por defeitos do produto adquirido ou de imperfeições do

serviço prestado.

Enfatiza que dentre os direitos básicos do consumidor está a

proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por

práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados

perigosos ou nocivos.

...

É claro que segurança - no Código - não se limita às medidas

tendentes a resguardar a saúde do consumidor. Abrange, outrossim,

as disposições destinadas a assegurar-lhe o conforto e a proteger

seus interesses nas relações de consumo. Não menos certo, porém,

que a parte mais expressiva e relevante da segurança diz respeito à

saúde do consumidor” (Comentários ao Código de Defesa do

Consumidor, 4ª ed., LTr, págs. 160-189).

De se ressaltar, ainda, que a Adin nº 2591-1, proposta pela

Confederação nacional do Sistema Financeiro-CONSIF, foi julgada improcedente

pelo STF em 07.06.06, o qual reconheceu a constitucionalidade do art. 3º, § 2º da

Lei nº 8.078/90, que considera que as atividades de natureza bancária, financeira,

de crédito e securitária submetem-se ao Código de Defesa do Consumidor.

2.2. DA RESPONSABILIDADE DO BANCO CENTRAL PELA FISCALIZAÇÃO DA SEGURANÇA E PRESTEZA DO ATENDIMENTO OFERECIDO PELAS AGÊNCIAS DOS CORREIOS ENQUANTO CORRESPONDENTES BANCÁRIOS

Também o Banco Central do Brasil, em casos de comprovada

omissão de sua parte, deve ser solidariamente responsável por eventuais danos

causados aos usuários dos serviços bancários fornecidos pelas agências dos

Correios, quando evidenciados defeitos relativos à sua prestação.

O art. 6º da Lei nº 7.102 reza:______________ 13 _________________

“Art. 6º. Compete ao Banco Central do Brasil:

I - autorizar o funcionamento de estabelecimentos financeiros após

verificar os requisitos mínimos de segurança indispensáveis, de

acordo com o art. 2º desta Lei, ouvida a respectiva Secretaria de

Segurança;

II - fiscalizar os estabelecimentos financeiros quanto ao cumprimento

desta Lei;

III - aplicar aos estabelecimentos financeiros as penalidades previstas

nesta Lei."

Portanto, o BACEN é o responsável pela fiscalização do quesito

segurança das instituições financeiras. Desta afirmativa depreende-se que as

agências dos Correios terceirizadas para a prestação de serviços similares também

deverão sofrer a fiscalização do BACEN, sendo impedidas de funcionar quando

reprovadas neste aspecto.

3. VIOLAÇÃO À DIGNIDADE DAS PESSOAS IDOSAS, PORTADORAS DE DEFICIÊNCIA FÍSICA, GESTANTES, LACTANTES E DAS ACOMPANHADAS POR CRIANÇAS DE COLO.

Sabe-se que hoje grande parcela dos que procuram os

Correios para serviços bancários são pessoas idosas, principalmente para o

recebimento de benefícios do INSS.

As irregularidades no atendimento ofertado pelos Correios vêm

contrariando o sistema legal de proteção que foi promulgado para assegurar a

dignidade aos idosos.

______________ 14 _________________

Assim dispõe o Estatuto do Idoso:

"Art. 3º. É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do

Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a

efetivação do direito à vida, à saúde...

Parágrafo único. A garantia da prioridade compreende:

I - atendimento preferencial imediato e individualizado junto aos órgãos públicos e privados prestadores de serviços à população." (destacamos)

A Lei nº 10.048/2000, além da proteção ao idoso, objetivou

amparar os portadores de deficiência física, as gestantes, as lactantes e as

pessoas acompanhadas de crianças de colo, enfatizando:

"Art. 1º. As pessoas portadoras de deficiência física, os idosos com idade igual ou superior a sessenta e cinco anos, as gestantes, as lactantes e as pessoas acompanhadas por crianças de colo terão atendimento prioritário, nos termos desta Lei.

Art. 2º. As repartições públicas e empresas concessionárias de serviços públicos estão obrigadas a dispensar atendimento prioritário, por meio de serviços individualizados que assegurem tratamento diferenciado e atendimento imediato às pessoas a que se refere o art. 1º.

Parágrafo único. É assegurada, em todas as instituições financeiras, a prioridade de atendimento às pessoas mencionadas no art. 1º." (destacamos)

Por sua vez, o chamado "Código do Correntista" (Consolidação

das Resoluções nºs 2.878/01 e 2.892/01 e da Circular nº 3.058/01, todas do

BACEN) procurou atender as normas de ordem pública do Código de Defesa do ______________ 15 _________________

Consumidor, ao preceituar em seu art. 9º, verbis:

"Art. 9º. As instituições referidas no art. 1º devem estabelecer em

suas dependências alternativas técnicas, físicas ou especiais que

garantam:

I - atendimento prioritário para pessoas portadoras de deficiência

física ou com mobilidade reduzida, temporária ou definitiva, idosos,

gestantes, lactantes e pessoas acompanhadas de colo, mediante:

a) garantia de lugar privilegiado em filas;

b) distribuição de senhas com numeração adequada ao atendimento

preferencial;

c) guichê de caixa para atendimento exclusivo."

Por certo, as normas regulamentares instituídas pelo BACEN

representam a materialidade das garantias previstas no Estatuto do Idoso e no

Código de Defesa do Consumidor.

O atendimento dispensado aos idosos e deficientes físicos que

procuram as agências dos Correios para a prestação dos serviços oferecidos e

para o recebimento de aposentadorias, contrariam o sistema legal de proteção que

foi promulgado para assegurar a dignidade desta classe especial de consumidores.

Há portanto que prevalecer o atendimento preferencial aos

idosos e deficientes físicos, assim como às gestantes e portadoras de criabnças de

colo, de modo a ser franqueado um atendimento equivalente a suas condições.

Assegurar aos idosos, portadores de deficiências físicas e

demais pessoas em situações especiais, a existência digna significa tratá-los com

DIGNIDADE e RESPEITO. Neste contexto protecionista, o Código de Defesa do

Consumidor vedou ao fornecedor a colocação no mercado de serviços que

acarretem riscos à saúde e segurança do consumidor. Isto é o mesmo que dizer:

não tratem o consumidor com DESPREZO e INSIGNIFICÂNCIA.

______________ 16 _________________

“Art. 8º - Os produtos ou serviços colocados no mercado de consumo

não acarretarão riscos à saúde ou segurança dos consumidores,

exceto os considerados normais e previsíveis em decorrência de sua

natureza e fruição, obrigando-se os fornecedores, em qualquer

hipótese, a dar as informações necessárias e adequadas a seu

respeito.”

4. A PROIBIÇÃO DE COBRANÇA DE TARIFAS NAS CONTAS EXCLUSIVAMENTE UTILIZADAS PARA RECEBIMENTO DE BENEFÍCIOS:

A conduta adotada pelo Banco Bradesco e pelos Correios, de

cobrar tarifas de clientes que possuem interesse de manter uma conta apenas para

o recebimento de seus benefícios previdenciários, ofende o disposto no art. 1º, § 1º,

da Resolução nº 2.718/2000 do Conselho Monetário Nacional, que

taxativamente determina o seguinte:

"Art. 1º. Facultar às instituições financeiras, na prestação de serviços

de pagamento de salários, vencimentos, aposentadorias, pensões e

similares, proceder aos respectivos créditos em nome dos

beneficiários mediante utilização de contas não movimentáveis por

cheques destinadas ao registro e controle do fluxo de recursos, às

quais não se aplicam as disposições da Resolução nº 2.025, de 24 de

novembro de 1993.

§ 1º Na prestação dos serviços referidos neste artigo, é vedado às instituições financeiras cobrar dos beneficiários, a qualquer título, tarifas destinadas ao ressarcimento pela realização dos serviços, devendo ser observadas, além das condições previstas

nesta Resolução, a legislação específica referente a cada espécie de

pagamento e as demais normas aplicáveis."

§ 2º A vedação à cobrança de tarifas referida no parágrafo anterior

aplica-se, inclusive, às operações de transferência dos créditos para

______________ 17 _________________

outras instituições financeiras, quando realizadas pelos beneficiários

pelo montante total do crédito.”

O fato é que o Banco Bradesco e os Correios, em desacordo

com a referida legislação, têm cobrado tarifas pela manutenção das contas que

somente existem para percepção de benefícios do INSS.

Ressalta-se que muitos beneficiários do INSS, porque recebem

suas aposentadorias no Banco Bradesco, preferem mesmo utilizar esse banco para

outros serviços financeiros decorrentes de uma relação contratual. Obviamente,

nesta ação coletiva não há intenção de contemplar tais pessoas, uma vez que

objetiva-se o reconhecimento do direito de opção e escolha dos consumidores.

Apenas aqueles que pretendem exclusivamente receber seus

benefícios, sem a contratação de serviços adicionais, não podem ser onerados com

o pagamento de tarifas, enquanto que os demais que, além de receberem tais

valores, pretendam manter plena relação contratual com a instituição financeira,

deverão se submeter ao pagamento das respectivas tarifas, não sendo alcançados

por esta ação coletiva.

O reconhecimento da vulnerabilidade dos consumidores é, sem

dúvida alguma, um dos grandes pilares do Código de Defesa do Consumidor (art.

4º, inc. I). Em razão desse princípio, o Código de Defesa do Consumidor possui

uma estrutura voltada ao equilíbrio das relações jurídicas entre fornecedores e

consumidores, que é caracterizada pela facilitação de seu acesso aos instrumentos

de defesa, pela inversão do ônus da prova, desconsideração da personalidade

jurídica, pela responsabilidade objetiva e solidária, pela tutela coletiva, pela

prevenção e reparação de danos morais.

No caso em tela, verifica-se que o Banco Bradesco e os

Correios estão exercendo seu poder de forma abusiva frente a uma parcela

expressiva de seus consumidores, aproveitando-se da sua vulnerabilidade para

cobrar tarifas de quem é obrigado a perceber seus benefícios previdenciários ______________ 18 _________________

mediante depósito em contas, embora não tenha qualquer interesse em utilizar tais

contas para outras finalidades.

No rol dos direitos básicos do consumidor, há previsão sobre o

respeito à liberdade de escolha pelos consumidores, sobre a proteção contra a

utilização de métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas

e cláusulas abusivas impostas na prestação de serviços. Também há previsão

sobre a necessidade de efetiva prevenção e reparação de danos causados aos

consumidores (art. 6º, inc II, IV e VI).

O art. 39, inc. I, do Código de Defesa do Consumidor, por sua

vez, estabelece ser vedado ao fornecedor exigir do consumidor vantagem

manifestamente excessiva. Já o art. 51, inc. IV, prevê como cláusula abusiva

aquela que estabeleça obrigação considerada iníqua, abusiva, que coloque o

consumidor em desvantagem exagerada, ou seja, incompatível com a boa-fé ou a

eqüidade.

Da mesma forma, não lhes está sendo assegurado o direito básico da informação adequada sobre os serviços colocados no mercado de

consumo, previsto nos artigos 4º, IV e 6º, III. Com efeito, apesar da existência de

Resolução específica do Banco Central que concede aos beneficiários de

pagamentos o direito de receberem as vantagens através de conta-salário sem a

imposição de qualquer ônus, o Banco Bradesco e os Correios aproveitam-se das

suas condições de credenciados junto ao INSS para impor aos aposentados a

assinatura de contratos onerosos, sem informá-los de que poderiam fazê-lo sem

qualquer contra-prestação pecuniária.

A Consolidação das Resoluções nºs 2.878/01, 2.892/01 e da

Circular 3.058/01, todas do Banco Central do Brasil, chamada de “Código do

Correntista”, em vários artigos determina que as instituições financeiras ajam com

transparência e lealdade nas transações comerciais, verbis:

______________ 19 _________________

“Art. 1º Estabelecer que as instituições financeiras e demais

instituições autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil, na

contratação de operações e na prestação de serviços aos clientes e

ao público em geral, sem prejuízo da observância das demais

disposições legais e regulamentares vigentes e aplicáveis ao Sistema

Financeiro Nacional, devem adotar medidas que objetivem

assegurar:

I - transparência nas relações contratuais, preservando os clientes e o público usuário de práticas não eqüitativas, mediante prévio e integral conhecimento das cláusulas contratuais, evidenciando, inclusive, os dispositivos que imputem responsabilidades e penalidades;

....

Art. 5º É vedada às instituições referidas no art. 1º a utilização de

publicidade enganosa ou abusiva.

Parágrafo único. Para os efeitos do disposto no caput:

I - é enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação

capaz de induzir a erro o cliente ou o usuário, a respeito da natureza, características, riscos, taxas, comissões, tarifas ou

qualquer outra forma de remuneração, prazos, tributação e quaisquer

outros dados referentes a contratos, operações ou serviços

oferecidos ou prestados.

....

Art. 8º As instituições referidas no art. 1º devem utilizar terminologia

que possibilite, de forma clara e inequívoca, a identificação e o entendimento das operações realizadas, evidenciando o valor,

data, local e natureza, especialmente nos seguintes casos:

I - tabelas de tarifas de serviços;

II - contratos referentes a suas operações com clientes;” (g.n.).

______________ 20 _________________

Ao contrário do preconizado pela legislação bancária, o Banco

Bradesco e os Correios não prestam aos beneficiários do INSS qualquer

informação sobre a possibilidade da utilização da conta-salário para o recebimento

de suas aposentadorias, sem a cobrança de tarifa, negando-lhe direito líquido e

certo previsto em lei, e aproveitando das suas condições especiais para impor-lhes

contratos onerosos desnecessários.

5. DO INTERESSE DA UNIÃO

Em sendo a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos uma

empresa pública federal e o Banco Central uma autarquia federal, resta

evidenciado o interesse jurídico na União na presente demanda e seu direito de

intervir no feito, consoante expressa disposição prevista na Lei nº 9.469/97:

"Art. 5º. A União poderá intervir nas causas em que figurarem como

autoras ou rés, autarquias, fundações públicas, sociedades de

economia mista e empresas públicas federais."

Daí a necessidade de se intimar a União, para dizer se deseja

integrar a lide, e em qual pólo.

6. DO PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA

No presente caso, em razão das irregularidades apontadas, do

risco à segurança da população e dos trabalhadores envolvidos nas operações

bancárias realizadas nas agências dos Correios, do desrespeito aos direitos dos

idosos, dos portadores de deficiências físicas, gestantes, lactantes e das pessoas

acompanhadas de crianças de colo, ou seja, em razão de serviço defeituoso

colocado à disposição do consumidor, requer-se, com lastro no art. 273 do CPC, e

com guarida do CDC, no Estatuto do Idoso, na Lei nº 10.048/2000, e nos próprios

normativos do BACEN e Conselho Monetário Nacional, a concessão de tutela

______________ 21 _________________

antecipada, a fim de que, sob pena de pagamento de multa diária no valor de R$

5.000,00 (cinco mil reais):

A) sejam o Banco Bradesco e a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos

obrigados, no prazo de 120 (cento e vinte) dias, a adequar a estrutura das agências

dos Correios que atuem como correspondentes bancários em todo o Estado de

Goiás, providenciado: a1) os equipamentos de segurança previstos na Lei nº

7.102/83, ou seja, os mesmos que são exigidos para a liberação de funcionamento

das instituições financeiras; a2) implementação de atendimento prioritário aos

idosos, aos portadores de deficiência física, às gestantes, às lactantes e às

pessoas acompanhadas de crianças de colo, através de garantia de lugar

privilegiado em filas, guichê para atendimento exclusivo e adaptado às suas

condições especiais, e assentos e locais privativos para a espera ; a3) o

cumprimento das Leis Municipais que regulam o tempo máximo de espera em filas,

com distribuição de senhas que contenham o horário de chegada dos

consumidores para o efetivo controle; e a4) pagamento dos benefícios do INSS no

mesmo dia da apresentação dos beneficiários para recebimento, respeitadas as

datas estabelecidas pelo INSS;

B) seja o Banco Bradesco obrigado, no prazo de 30 (trinta) dias, a consultar,

através de carta circular ou qualquer outro meio escrito que contenha conteúdo claro e didático a respeito da existência e da gratuidade da conta exclusiva para recebimento de salários, vencimentos, aposentadorias, pensões e similares, com as consequentes restrições advindas da escolha, a cada um

dos consumidores que se incluam nestas situações, e que atualmente percebam

seus benefícios através das agências dos Correios, concedendo-lhes o prazo de 30 dias após o recebimento da correspondência para manifestarem

expressamente a intenção de utilizar-se da conta para única e exclusivamente

perceber seus benefícios, sem a cobrança de qualquer taxa ou tarifa;

C) sejam o Banco Bradesco e a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos

obrigados a não cobrar tarifas, sob qualquer título, daqueles beneficiários que se

______________ 22 _________________

manifestarem no prazo concedido, no sentido de que pretendem apenas manter a

conta para o recebimento dos benefícios sem qualquer outra utilização dos serviços

e produtos prestados;

D) sejam o Banco Bradesco e a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos

obrigados a dar ciência, através de carta ou declaração escrita com prova de

recebimento, com conteúdo claro e didático a respeito da existência e da gratuidade da conta exclusiva para recebimento de salários, vencimentos, aposentadorias, pensões e similares, com as consequentes restrições advindas da escolha, aos beneficiários que passarem a receber seus benefícios

através das agências dos Correios;

Sem sombra de dúvidas resta demonstrado o fumus boni

juris. O periculum in mora, no presente caso, consiste na continuidade do

descumprimento, por parte das requeridas, da responsabilidade que possuem pelo

funcionamento das agências dos Correios como prestadoras de serviços bancários,

tanto no que diz respeito à adequação física de suas instalações aos pontos

enfocados nesta peça, quanto em relação à necessidade da correta fiscalização.

Restam, desta forma, presentes os pressupostos para a

concessão da tutela antecipada pleiteada.

7. O PEDIDO DE MÉRITO

Por fim, requerem o Ministério Público Federal e o Ministério

Público Estadual:

a) a confirmação da tutela antecipada postulada;

b) a procedência desta ação civil pública, para condenar o

Banco Bradesco, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos nas obrigações de

fazer e não fazer elencadas no tópico inerente ao pedido de antecipação de tutela;

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c) seja o Banco Central do Brasil condenado à efetivar a

fiscalização sobre a qualidade dos serviços bancários colocados à disposição dos

consumidores pelas agências dos Correios que atuem como correspondentes do

Bando Bradesco, ou seja, se os itens listados nas alíneas a1 e a2 do pedido de

antecipação de tutela foram de fato implementados;

d) a citação dos requeridos para, querendo, oferecerem

resposta à presente ação;

e) a intimação da União, na pessoa de seu representante legal,

com sede na Rua 82, nº 179, Setor Sul, Goiânia-GO, para, querendo, intervir no

feito;

f) seja determinada a publicação do edital de que fala o artigo

94 do Código de Defesa do Consumidor, na imprensa oficial da União;

g) a produção de todos os meios de prova em direito admitidos,

inclusive depoimento pessoal, se for o caso, dos representantes legais dos

demandados, oitiva de testemunhas e juntada de novos documentos, no momento

processual oportuno.

Requer a juntada dos Procedimentos Administrativos em

anexo, instaurados para a apuração dos fatos objeto da presente Ação Civil

Pública.

Dá-se à causa o valor de R$ 1.000,00 (mil reais), apenas para

fins processuais.

Goiânia, 20 de junho de 2006.

Mariane G. de Mello OliveiraPROCURADORA DA REPÚBLICA

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Murilo de Morais e MirandaPROMOTOR DE JUSTIÇA

Cláudio Braga LimaPROMOTOR DE JUSTIÇA

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