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Estado de Goiás MINISTÉRIO PÚBLICO 1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE SANTA HELENA DE GOIÁS EXMO. JUIZ DE DIREITO DA __ VARA DA COMARCA DE SANTA HELENA DE GOIÁS - GO O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, por intermédio da 1ª Promotora de Justiça – Curadora do Meio Ambiente desta Comarca, com fundamento no art. 129, inc. III, e art. 225, ambos da Constituição Federal; art. 117, inciso III, § 3º, da Constituição do Estado de Goiás; art. 25, inc. IV, alínea “a”, da Lei Federal nº 8.625/93; art. 46, inc. VI, alínea “a”, da Lei Complementar Estadual nº 25/98; art. 67, da Lei Federal nº 9.605/98; na Lei Federal nº 8.078/90; na Lei Federal nº 6.938/81, na Lei Federal nº 7.347/85, nas Resoluções Conama nº 001/86, 237/97 e 279/01, e demais dispositivos aplicáveis à espécie, vem propor AÇÃO CIVIL PÚBLICA em desfavor de: MINERAÇÃO SÃO LUIZ LTDA, pessoa jurídica de direito privado, sediada na GO – 164, Km 05, às margens do Ribeirão São Tomás, com CNPJ de nº 08.248.679/0001-44, Santa Helena de Goiás – GO, representada judicialmente por LUIZ CLAUDIO MORAES, brasileiro, separado judicialmente, empresário, portador de C.I. RG 7.026.206.545, expedida em 10/06/1986 e CPF 195.597.719-49, natural de Ponte Serrana – SC, nascido aos 05/08/1951, filho de Nilvo Xarao Moraes e Alborinda Marafon, residente e domiciliado em Rio Verde-GO, à Travessa 1, Qd. 14, Lt. 14, Bairro Santo Agostinho, CEP 75904-640 (fl. 51). com base nos fatos e fundamentos jurídicos a seguir aduzidos. 1. Os Fatos A empresa de mineração ora requerida explora uma pedreira de extração de basalto, anteriormente explorada pelas empresas “Sociedade Itumbiarense de Dragagem Ltda” e “Kade Engenharia e Construção Ltda”. A extração de rocha basáltica (brita), mediante a utilização de explosivos, vem causando sérios danos ao meio ambiente. 1

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO … · Lei Federal nº 8.625/93; art. 46, inc. VI, alínea “a”, ... conforme se depreende dos documento de fl. 37. Embora o empreendimento

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1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE SANTA HELENA DE GOIÁS

EXMO. JUIZ DE DIREITO DA __ VARA DA COMARCA DE SANTA HELENA DE GOIÁS - GO

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, por intermédio da 1ª Promotora de Justiça – Curadora do Meio Ambiente desta Comarca, com fundamento no art. 129, inc. III, e art. 225, ambos da Constituição Federal; art. 117, inciso III, § 3º, da Constituição do Estado de Goiás; art. 25, inc. IV, alínea “a”, da Lei Federal nº 8.625/93; art. 46, inc. VI, alínea “a”, da Lei Complementar Estadual nº 25/98; art. 67, da Lei Federal nº 9.605/98; na Lei Federal nº 8.078/90; na Lei Federal nº 6.938/81, na Lei Federal nº 7.347/85, nas Resoluções Conama nº 001/86, 237/97 e 279/01, e demais dispositivos aplicáveis à espécie, vem propor AÇÃO CIVIL PÚBLICA em desfavor de:

MINERAÇÃO SÃO LUIZ LTDA, pessoa jurídica de direito privado, sediada na GO – 164, Km 05, às margens do Ribeirão São Tomás, com CNPJ de nº 08.248.679/0001-44, Santa Helena de Goiás – GO, representada judicialmente por LUIZ CLAUDIO MORAES, brasileiro, separado judicialmente, empresário, portador de C.I. RG 7.026.206.545, expedida em 10/06/1986 e CPF 195.597.719-49, natural de Ponte Serrana – SC, nascido aos 05/08/1951, filho de Nilvo Xarao Moraes e Alborinda Marafon, residente e domiciliado em Rio Verde-GO, à Travessa 1, Qd. 14, Lt. 14, Bairro Santo Agostinho, CEP 75904-640 (fl. 51).

com base nos fatos e fundamentos jurídicos a seguir aduzidos.

1. Os FatosA empresa de mineração ora requerida explora uma

pedreira de extração de basalto, anteriormente explorada pelas empresas “Sociedade Itumbiarense de Dragagem Ltda” e “Kade Engenharia e Construção Ltda”.

A extração de rocha basáltica (brita), mediante a utilização de explosivos, vem causando sérios danos ao meio ambiente.

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Através de ofício ao Presidente da Agência Ambiental, para apurar se o empreendimento estava licenciado (fl. 26), apurou-se que possuía licença de instalação válida até 19 de março de 2006 e licença de funcionamento com validade suspensa em 03 de fevereiro de 2005, mas que estava “dependendo da juntada nos autos da documentação exigida no item 3.12, para restauração da validade da licença.”

O item 3.12 da licença de funcionamento diz respeito à suspensão de sua validade, caso expirado o prazo de validade de outras licenças, emitidas por outros entes da administração Pública, até que seja regularizada a situação (fl. 29).

Não foi informado na resposta qual era o novo “documento” que teria o condão de restaurar a validade da licença.

Foi realizada inspeção pelos fiscais municipais do meio ambiente, conforme ofício de fl. 30, inclusive instruída com fotografias, após requisição do Ministério Público.

Também foi requisitada informação quanto à regularidade face ao Código de Posturas, ao Secretário Municipal de Administração e Finanças (fl. 31).

Finalmente, outra requisição foi expedida à Agência Ambiental, conforme fl. 36, novamente questionando sobre o licenciamento ambiental do empreendimento.

Vejamos as respostas aos três ofícios-requisição.

A diligência realizada pelo fiscal ambiental e pela bióloga do departamento, cujo relatório vem à fl. 32, evidencia o seguinte:

...“formou-se uma grande cratera, com profundidade de até 50 m e com largura até 800 m 2 ou mais. Nas rochas que formam a parede da cratera, podem ser observadas várias minas jorrando água que fica acumulada no fundo da mesma e que é retirada por bomba, sendo jogada em canal que dá acesso ao Rio São Tomaz, no momento da inspesão (sic), a água retirada apresentava cor e textura normal. A estrada de acesso para parte interna da cratera segue ao lado de um córrego e não obedece a distância estipulada para APP. As (sic) margens desse corrego (sic) foram encontradas (sic) uma quantidade significante de garrafas descartáveis, nesta estrada há um poste de madeira com fiação elétrica bastante precaria, (sic) o qual fornece energia para a bomba de água já mencionada. Próximo ao maquinário que trituram (sic) as pedras existe uma pequena área verde com presença de poucas árvores, mas que no momento encontrava-se com uma grande quantidade de lixo (correias de maquínas (sic) e pneus). Ao fundo do escritório sentido ao Rio São Tomaz existe uma cerca delimitando a área de APP, porém há um galpão metálico dentro da área delimitada.” (fl. 32)

Na oportunidade em que realizaram a inspeção, os subscritores do relatório acima transcrito tiraram fotografias, úteis para torná-lo ainda mais claro. Vejamos:

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fotografia 01

fotografia 02

Aqui se vê claramente a profundidade e extensão da cratera que se formou com a extração do mineral, bem como a água que brota das várias minas.

Talvez esse seja um dos motivos porque as licenças concedidas são sempre “em caráter precário”, e sempre “faltando apresentar tal documento”...

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O fato é que, atualmente, a requerida não possui licença ambiental, nem de instalação nem de funcionamento, conforme se depreende dos documento de fl. 37.

Embora o empreendimento já tenha sido precariamente licenciado antes, não houve revalidação do referido licenciamento.

Na verdade, a Agência Ambiental jamais deveria ter

concedido licença de instalação nem de funcionamento, já que tudo indica que não houve o Estudo Prévio de Impacto Ambiental (EIA) nem apresentação de Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), conforme a Resolução do CONAMA de nº 001 de 23 de janeiro de 1986, o que, para a atividade de extração mineral, é indispensável, tampouco obtenção de autorização junto ao Departamento Nacional de Mineração.

A ocorrência do órgão licenciador estadual, lavrada apenas após requisição do Ministério Público (fl. 36), foi feita porque a requerida mantinha em “funcionamento atividade potencialmente poluidora sem licença” (fl. 42).

Nota-se nas licenças ambientais antigas (fls. 28/29) que há exigência de que o empreendimento atenda também às exigências de outros entes da Administração Pública, seja Municipal, Estadual ou Federal, sob pena de suspensão da licença emitida pela Agencia Ambiental.

Pois bem. A empresa requerida também não revalidou o Alvará junto à Secretaria de Administração e Finanças do Município (fl.33), de modo que, mesmo que tivesse conseguido licença ambiental do órgão estadual competente, referida licença estaria automaticamente suspensa.

Apurou-se tal dado com o ofício de fl. 31 ao Secretário Municipal de Administração e Finanças.

Finalmente, nem mesmo a autorização para extração mineral do Departamento Nacional de Mineração, indispensável para empreendimentos desse tipo, foi apresentada pela empresa ré.

Para a atividade de extração mineral, é indispensável, inclusive, o Estudo Prévio de Impacto Ambiental (EIA) e o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), conforme a Resolução do CONAMA de nº 001 de 23 de janeiro de 1986. Vejamos:

“Art. 2º - Dependerá de elaboração de estudo de impacto ambiental e respectivo relatório de impacto ambiental – RIMA, a serem submetidos à aprovação do órgão estadual competente, e do IBAMA em caráter supletivo, o licenciamento de atividades modificadoras do meio ambiente, tais como:

IX – Extração de minério, inclusive os de classe II, definidas no Código de Mineração;”

Além de todas as irregularidades elencadas, ficou

evidenciado que a requerida está desrespeitando a área de preservação permanente do Ribeirão São Tomás, tendo até construído um galpão metálico na área, conforme fotografado pelo Oficial de Promotoria. Vejamos:

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Pela largura do leito do referido Ribeirão, sua área de preservação permanente deve corresponder a 50 (cinqüenta) metros, no mínimo.

Além disso, segundo a Portaria GM nº124, de 20 de agosto de 1980, que se destina a prevenir a ocorrência de acidentes ambientais nos rios por indústrias potencialmente poluidoras, deve haver respeito, independente da largura do leito

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do manancial, a uma faixa de 200 (duzentos) metros ao longo de seu curso, quando for utilizado para abastecimento.

O Ribeirão São Tomás é o manancial que abastece a cidade de Santa Helena de Goiás e vem sendo constantemente monitorado pela Saneago, preocupada com os altos índices de agrotóxicos encontrados nas amostras de água bruta.

É claro que a existência desses índices deve-se à utilização indevida de agrotóxicos nas lavouras do município e também na comarca de Rio Verde. Entretanto, necessário se faz demonstrar o quanto a água que a população de Santa Helena consome é extraída de manancial tão maltratado.

Aliás, por falar em maus-tratos, apesar de existir previsão constitucional da obrigação de recuperar o meio ambiente degradado pela exploração de recursos minerais, não há o menor sinal de que tenha sido tomada, ao longo de todos esses anos, uma única medida nesse sentido.

É por todos esses fatos que o Ministério Público vem ajuizar a presente ação.

2. O Direito

A Constituição Federal prevê que:

“Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.

O parágrafo segundo desse dispositivo prevê que “Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com a solução técnica exigida pelo órgão competente, na forma da lei.”

Essa obrigação de recuperar o meio ambiente é uma das facetas de responsabilidade jurídica inerente à exploração mineral.

A Lei nº 7.805/89, em seu artigo 19, prevê, ainda, que ”o titular de autorização de pesquisa, de permissão de lavra garimpeira, de concessão de lavra, de licenciamento ou de manifesto de mina responde pelos danos causados ao meio ambiente”.

É certo que pelo visto, não obteve a empresa ora requerida permissão de lavra. Entretanto, importante demonstrar a seriedade que a legislação infraconstitucional tratou a matéria, inclusive com previsão de responsabilidade civil objetiva.

A abertura das cavas enseja a obrigação de recuperação da área, porque segundo Paulo Affonso Leme Machado, em “Direito Ambiental Brasileiro, pg. 656, 11ª Edição, “modifica a fertilidade do solo, a topografia e a paisagem da área. De um lado buracos vão sendo abertos e, de outro lado, pilhas de estéreis e de rejeitos vão sendo feitas.”

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Por ser uma atividade capaz de causar impacto de tal proporção no meio ambiente é que a legislação ambiental pátria condiciona o exercício da extração mineral ao preenchimento de tantos requisitos.

Ao comentar sobre a exploração mineral nas áreas de preservação permanente, Paulo Affonso Leme Machado, na mesma obra já citada, ensina que “o exercício de algumas atividades de mineração – como a extração de areia ou a exploração de jazida em encostas – poderá configurar atentado à vegetação de preservação permanente. Os abusos têm-se multiplicado por excessiva tolerância da Administração Pública, com conseqüências gravosas para os cursos d`água, que se vêem assoreados, e para os mananciais, que são afetados na quantidade e na qualidade”. Cumpre salientar que acerca da vegetação de preservação permanente, máxime quando há induvidosa mensuração, no art. 2º da Lei 4.771/65, não cabe outra decisão ao Departamento Nacional da Produção Mineral-DNPM, ao IBAMA e aos órgãos ambientais estaduais a não ser cumprir as normas, sem nenhuma margem de discricionariedade”(pg. 640).

A despeito disso, como vimos, a Agência Ambiental chegou a licenciar o empreendimento, e tudo indica que não houve o Estudo Prévio de Impacto Ambiental (EIA) nem apresentação de Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), conforme a Resolução do CONAMA de nº 001 de 23 de janeiro de 1986, o que, para a atividade de extração mineral, é indispensável, tampouco obtenção de autorização junto ao Departamento Nacional de Mineração.

Se por alguns anos a atividade chegou a ser licenciada, o fato é que, atualmente, conforme se depreende dos autos, não existe nem mesmo licenciamento precário a amparar a atividade desempenhada pela requerida.

Licença é ato administrativo vinculado que faculta o exercício de certa atividade, uma vez preenchidos os requisitos legalmente estabelecidos. É neste sentido o conceito de Hely Lopes Meirelles.

Em direito ambiental, as licenças revelam outra nuança, em razão do bem jurídico envolvido, qual seja, o meio ambiente, que não se encontra na esfera de disponibilidade de ninguém, nem do Estado, nem dos administrados.

Bem jurídico de uso comum do povo, o meio ambiente é direito difuso e possui como características precípuas a indeterminabilidade, indivisibilidade e indisponibilidade.

A Resolução CONAMA nº 237/97, em seu art. 1º, inc. II conceitua Licença Ambiental como “ato administrativo pelo qual o órgão ambiental competente estabelece as condições, restrições e medidas de controle ambiental que deverão ser obedecidas pelo empreendedor, pessoa física ou jurídica, para localizar, instalar, ampliar e operar empreendimentos ou atividades utilizadoras dos recursos ambientais consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou aquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental”.

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O licenciamento ambiental, instrumento da Política Nacional do Meio Ambiente (CF, art. 225, § 1º, incs. IV e V; art. 9a, inc. IV, da Lei n. 6.938/81), constitui, em verdade, em instrumento de gestão do ambiente, tendo em vista que por seu intermédio, conforme ensina Edis Milaré, “busca a Administração Pública exercer o necessário controle sobre as atividades humanas que interferem nas condições ambientais, de forma a compatibilizar o desenvolvimento econômico com a preservação do equilíbrio ecológico” (Direito do Ambiente, Ed. Revista dos Tribunais, 2000, pág. 313).

O licenciamento ambiental é, portanto, um instrumento da Política Nacional do Meio Ambiente que tem como escopo o cumprimento de dois princípios constitucionais ambientais insculpidos na Carta Magna, quais sejam:

a) princípio da prevenção, do qual decorre a obrigatoriedade ao Poder Público de realizar a prévia análise ambiental antes da tomada de decisão; e

b) princípio do controle da atividade do poder público.A falta de licença ambiental prévia gera, na verdade, a

presunção de que a atividade realmente é poluidora do meio ambiente, causando a inversão do ônus da prova.

Apesar de não possuir licença ambiental prévia, a requerida vem funcionando normalmente, como se o preenchimento de tal requisito não fosse necessário, o que não pode ser permitido.

Na instrução probatória, será requerida a realização de perícia para comprovar em definitivo que a requerida não preenche os requisitos necessários para a obtenção do licenciamento ambiental, de modo que o objetivo do Ministério Público não é apenas o encerramento das atividades da requerida, porque ela está funcionando sem licença, mas também o impedimento de que volte a operar, ainda que, em remotíssima hipótese, seja licenciada, e, finalmente, que seja ela obrigada a reparar o dano.

Abordados todos esses aspectos, convêm lembrar ainda que o funcionamento da pedreira não pode ser permitido pela própria faceta criminal que o acompanha, conforme previsto na Lei 9.605/98:

“Art. 55. Executar pesquisa, lavra ou extração de recursos minerais sem a competente autorização, permissão, concessão ou licença, ou em desacordo com a obtida:

Pena – detenção, de seis meses a um ano e multa.”

3. A Necessidade da Medida LiminarA Lei nº 7.347/85, que disciplina a ação civil pública,

autoriza o juiz a conceder medida liminar, com ou sem justificação prévia, em decisão sujeita a agravo (art. 12).

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De fato, Rodolfo de Camargo Mancuso, em sua obra “Ação Civil Pública” (Ed. RT, 5ª edição, pág. 149), diferencia “ação cautelar” de “mandado liminar”, ambas expressões previstas na Lei nº 7.347/85:

“Conjugando-se os arts. 4º e 12º da Lei 7.347/85, tem-se que essa tutela de urgência há de ser obtida através de liminar, que tanto pode ser pleiteada na ação cautelar (factível antes ou no curso da ação civil pública) ou no bojo da própria ação civil pública, normalmente em tópico destacado da própria petição inicial”.

Para esse fim, aponta-se a presença dos dois requisitos indispensáveis, ou seja, o “periculum in mora” e o “fumus boni juris”.

O “fumus boni juris” reside justamente na demonstração

de que a requerida vem funcionando sem licença ambiental, o que constitui infração penal com previsão no art. 50 da Lei 9605/98.

O “periculum in mora” também foi demonstrado. Citada por Rodolfo de Camargo Mancuso, na obra mencionada (pág. 145), Lúcia Valle Figueiredo é contundente ao afirmar que “A irreparabilidade do dano na ação civil pública é manifesta, na hipótese de procedência da ação. A volta ao statu quo ante é praticamente impossível e o fluid recovery não será suficiente a elidir o dano. Mister também salientar que os valores envolvidos na ação civil pública têm abrigo constitucional. A lesão a ditos valores será sempre irreparável (danos ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valores histórico, turístico e paisagístico)”. Justamente para evitar a irreparabilidade dos danos ambientais é que urge a concessão da liminar.

4. O Objetivo da AçãoComo exaustivamente noticiado, a presente ação civil

pública tem como finalidade coibir a atividade exercida pela requerida, impedir que ela opere sem a licença ambiental, impedir que ela continue funcionando às margens do Ribeirão São Tomás, ao arrepio do Código Florestal, bem como obrigar que repare o dano ambiental causado. Para tanto, pede o Ministério Público a imposição de obrigação de não fazer, para que se abstenha definitivamente de extrair minérios, sob pena de multa (Lei nº 7.347/85, art. 11).

5. O PedidoAnte o exposto, o Ministério Público requer:

1) que seja deferida medida liminar com o fim de:a) impor à Mineradora São Luis Ltda. a obrigação de não fazer, consistente em abster-se de desenvolver suas atividades; b) a fixação de multa diária de R$ 10.000,00 (dez mil reais), caso a requerida descumpra a obrigação

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mencionada acima, montante a ser recolhido ao Fundo Municipal do Meio Ambiente;

2) a citação da requerida, na pessoa do seu representante legal, para, querendo, contestar a ação no prazo de 15 (quinze) dias;

3) ao final, a procedência da ação, condenando-se a requerida à obrigação de não fazer, consistente em abster-se de funcionar, sob pena de aplicação da multa mencionada no item “1.b” do pedido da presente ação, bem como condenando-se, também, à obrigação de fazer, consistente em reparar o dano ambiental causado, com fundamento no dispositivo constitucional já ventilado.

Os fatos serão provados através de documentos (ora apresentados e a serem juntados), oitiva de testemunhas (a serem arroladas oportunamente), inspeção judicial in loco, perícias e depoimento pessoal dos representantes legais da requerida.

Dá-se à causa o valor de R$ 380,00.

Nestes termos,P. deferimento.

Santa Helena de Goiás, 16 de outubro de 2007

JULIANA GIOVANINI GONÇALVESPromotora de Justiça

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