62
M INISTÉRIO P ÚBLICO DO E STADO DO P ARANÁ 5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Umuarama R. Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - CEP 87.501.200 – Fone: 44 3266-8302 1 1 EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ____ VARA CÍVEL DA COMARCA DE UMUARAMA - PR “Com leis ruins e funcionários bons ainda é possível governar. Mas com funcionários ruins as melhores leis não servem para nada”. (Otto Bismarck) O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ, por seu órgão ao final subscrito, no exercício de suas atribuições constitucionais, com fundamento no artigo 129, III, da Constituição Federal; no artigo 25, IV, da Lei nº 8.625/93; na Lei nº 7.347/85; na Lei nº 8.429/92; e, no artigo 68, VI, 1, da Lei Complementar Estadual nº 85/99; à vista dos elementos contidos no anexo Inquérito Civil Público nº 0151.08.000034-3, instaurado nesta 5ª Promotoria de Justiça, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, propor, AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE RESPONSABILIDADE PELA PRÁTICA DE ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA, CUMULADA COM RESSARCIMENTO DE DANOS AO ERÁRIO e PEDIDO LIMINAR DE MEDIDA CAUTELAR, em face de: I. JOÃO JORGE HELLÚ, brasileiro, casado, médico, nascido aos 03/12/1951, filho de Jamil Hellú e Adélia Astun Hellú, natural de Rifaina – SP, RG 849.836 SSP/PR, CPF 329.508.709-10, residente e domiciliado na Av. Ângelo Moreira da Fonseca, 4630, Umuarama – PR; encontradiço também no Hospital CEMIL, nesta Cidade; II. LUIZ RENATO RIBEIRO DE AZEVEDO, brasileiro, casado, médico, ex-prefeito do Município de Umuarama, RG 1.139.380-2 SESP/PR, CPF 349.902.329-68, residente na Rua Tamoios, 443, Apto. 11, Vila Izabel, CEP 80320-290, Curitiba – PR, e com endereço profissional na Av. Presidente Getulio Vargas, 2682, Água Verde, Curitiba – PR (Animus - Clínica Interdisciplinar); III. GESIMARY DE SANTI AZEVEDO, brasileira, casada, psicóloga, RG 1.418.588-7 SSP/PR, CPF 557.783.059-15, ex-Secretária de Desenvolvimento Social do Município de Umuarama, residente na Rua Tamoios, 443,

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA … · – 20 horas semanais -, previsto na Lei Complementar 01/90,10 constando da ficha funcional que esta nomeação teria decorrido

  • Upload
    others

  • View
    0

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA … · – 20 horas semanais -, previsto na Lei Complementar 01/90,10 constando da ficha funcional que esta nomeação teria decorrido

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Umuarama

R. Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - CEP 87.501.200 – Fone: 44 3266-8302 1 1

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ____ VARA CÍVEL DA COMARCA DE UMUARAMA - PR

“Com leis ruins e funcionários bons ainda

é possível governar. Mas com funcionários ruins as melhores leis não servem para nada”. (Otto Bismarck)

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ, por seu órgão ao final subscrito, no exercício de suas atribuições constitucionais, com fundamento no artigo 129, III, da Constituição Federal; no artigo 25, IV, da Lei nº 8.625/93; na Lei nº 7.347/85; na Lei nº 8.429/92; e, no artigo 68, VI, 1, da Lei Complementar Estadual nº 85/99; à vista dos elementos contidos no anexo Inquérito Civil Público nº 0151.08.000034-3, instaurado nesta 5ª Promotoria de Justiça, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, propor, AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE RESPONSABILIDADE PELA PRÁTICA DE ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA, CUMULADA COM RESSARCIMENTO DE

DANOS AO ERÁRIO e PEDIDO LIMINAR DE MEDIDA CAUTELAR,

em face de: I. JOÃO JORGE HELLÚ, brasileiro, casado, médico, nascido aos

03/12/1951, filho de Jamil Hellú e Adélia Astun Hellú, natural de Rifaina – SP, RG 849.836 SSP/PR, CPF 329.508.709-10, residente e domiciliado na Av. Ângelo Moreira da Fonseca, 4630, Umuarama – PR; encontradiço também no Hospital CEMIL, nesta Cidade;

II. LUIZ RENATO RIBEIRO DE AZEVEDO, brasileiro, casado,

médico, ex-prefeito do Município de Umuarama, RG 1.139.380-2 SESP/PR, CPF 349.902.329-68, residente na Rua Tamoios, 443, Apto. 11, Vila Izabel, CEP 80320-290, Curitiba – PR, e com endereço profissional na Av. Presidente Getulio Vargas, 2682, Água Verde, Curitiba – PR (Animus - Clínica Interdisciplinar);

III. GESIMARY DE SANTI AZEVEDO, brasileira, casada,

psicóloga, RG 1.418.588-7 SSP/PR, CPF 557.783.059-15, ex-Secretária de Desenvolvimento Social do Município de Umuarama, residente na Rua Tamoios, 443,

Page 2: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA … · – 20 horas semanais -, previsto na Lei Complementar 01/90,10 constando da ficha funcional que esta nomeação teria decorrido

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Umuarama

R. Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - CEP 87.501.200 – Fone: 44 3266-8302 2 2

Apto. 11, Vila Izabel, CEP 80320-290, Curitiba – PR, e com endereço profissional na Av. Presidente Getulio Vargas, 2682, Água Verde, CEP 80240-270, Curitiba – PR (Animus - Clínica Interdisciplinar);

IV. NILSON MANDUCA, brasileiro, viúvo, servidor público, RG

1.567.126-2 SSP/PR, CPF 276.805.099-72, nascido aos 11/10/1955, natural de Astorga – PR, filho de Nicola Manduca e Ana Caliane Manduca, residente na Av. Rotary, 2416, Parque Presidente, Umuarama-PR;

V. MOACIR SILVA, brasileiro, casado, empresário, atual Prefeito

Municipal de Umuarama, RG 2.139.180 SESP/PR, CPF nº 308.544.239-15, residente neste Município de Umuarama – PR; encontradiço na Prefeitura Municipal local;

VI. JORGE MAURO JARDIM, brasileiro, casado, dentista e

servidor público Estadual, RG 810.374 SSP/PR, CPF 201.661.509-59, filho de José Fernandes Jardim e Genoveva Petreca Jardim, residente na Rua Lions, 5896, Jardim Lisboa, Umuarama – PR;

VII. CLAUDIO FRANCISCONI DA SILVA, brasileiro, casado,

bacharel em administração de empresa e funcionário público do Estado do Paraná no cargo de administrador, RG 973.641-7, CPF 301.285.799-00, filho de Dourival da Silva e Nadir Francisconi da Silva, residente a Av. Duque de Caxias, 4770, Umuarama – PR;

VIII. JOSÉ GONÇALVES DIAS NETO, brasileiro, casado,

farmacêutico-bioquímico, atual Secretário Municipal de Saúde, RG 6.090.540-1 SSP/PR, CPF 608.146.089-49, filho de Antonio Gonçalves Dias e Alice Machado Medeiros Dias, residente na Av. Presidente Castelo Branco, Ed. Manoel Bandeira, apto. 302, Centro, Umuarama – PR;

IX. RENATA PITTITO, brasileira, solteira, farmacêutica, servidora

do Município de Umuarama, RG 5.800.606-8, SPP/PR, CPF 024.812.469-26, filha de Orlando Pittito e Elza de Freitas Pittito, residente na Rua José Luciano Andrade, 5879, Jardim Lisboa, Umuarama – PR; e

X. MUNICÍPIO DE UMUARAMA, pessoa jurídica de direito

público interno, inscrito no CNPJ/MG sob nº 76.247.378/0001-56, representado por seu Prefeito Municipal em exercício, encontradiço na sede da Prefeitura Municipal, sita na Av. Rio Branco, 3771, Paço Municipal, nesta cidade de Umuarama - PR;

1. DA DISTRIBUIÇÃO POR DEPENDÊNCIA. A presente ação civil pública por ato de improbidade administrativa,

nos termos do artigo 253, I, do Código de Processo Civil, deve ser distribuída ao Juízo da Segunda Vara Cível desta Comarca de Umuarama, por dependência com a Medida Cautelar Inominada nº 008.120/2011, movida pelo Ministério Público do Estado do Paraná em face do Centro Médico Materno Infantil Ltda.

Page 3: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA … · – 20 horas semanais -, previsto na Lei Complementar 01/90,10 constando da ficha funcional que esta nomeação teria decorrido

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Umuarama

R. Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - CEP 87.501.200 – Fone: 44 3266-8302 3 3

Nesta medida cautelar, tendo em vista a negativa do referido

hospital em atender requisição ministerial que visava apurar, e fazer prova, dos atos e procedimentos realizados pelo requerido JOÃO JORGE HELLÚ, em caráter privado, na condição de médico anestesiologista, durante período e horário de expediente no qual deveria estar à disposição do serviço público do Município de Umuarama, o Ministério Público obteve decisão judicial determinando a nomeação de perito para o fim específico de:

“ter acesso amplo e imediato aos prontuários médicos de pacientes,

fichas de atendimentos e livros de anestesia, do referido estabelecimento hospitalar, a partir do ano de 2007, para anotações e/ou cópias sobre a data e horário (início e termino) das cirurgias, tratamentos, ou outros procedimentos médicos em que foram realizados serviços de anestesia, constando o nome dos anestesistas responsáveis, salientado a desnecessidade de menção ao nome dos pacientes, enfermidades, cirurgias ou procedimentos relativos a eles, para o fim específico de instruir os autos do Inquérito Civil MPPR-0151.08.000034-3”

Em decorrência foi nomeado o perito criminal do Instituto de

Criminalista do Estado do Paraná, Gilson Lotário Zahadi, que elaborou relatório circunstanciado, comprovando os fatos sob investigação. Documento este que ora é utilizado como parte integrante do referido inquérito civil e como prova produzida com autorização judicial, para instruir a presente Ação Civil Pública por ato de Improbidade Administrativa.

Sendo assim, é evidente a conexão estabelecida entre a referida

Medida Cautelar e a demanda ora proposta, determinando a sua distribuição por dependência.

2. DOS FATOS.

No ano de 2008 o Ministério Público instaurou o Inquérito Civil Público nº 0151.08.000034-3 1 com objetivo de apurar notícias, inicialmente formuladas com base em atas do Conselho Municipal de Saúde2 e depois reforçada em representação do vereador Jonesberto Ronie Vivi3, de que o servidor público municipal JOÃO JORGE HELLÚ, titular de um cargo efetivo de médico de clínica básica, estaria recebendo normalmente sua remuneração sem que estivesse cumprindo com sua carga de 20 (vinte) horas semanais.

As inúmeras diligências realizadas demonstraram que o referido

servidor público efetivamente não cumpria sua carga horária, como também nunca trabalhou como médico de clínica básica, funções próprias do seu cargo.

1 A numeração de páginas indicadas na presente inicial refere-se à paginação do Inquérito Civil. 2 Fls. 02. 3 Fls. 198.

Page 4: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA … · – 20 horas semanais -, previsto na Lei Complementar 01/90,10 constando da ficha funcional que esta nomeação teria decorrido

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Umuarama

R. Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - CEP 87.501.200 – Fone: 44 3266-8302 4 4

Também se apurou que isso acontecia com o beneplácito de seus superiores hierárquicos, ora também requeridos, que propositadamente o mantinha designado para funções diversas que, apesar de serem relacionadas à atividade de médico, não diziam respeito à clínica básica e, o que é mais grave, possuíam demandas praticamente inexpressivas, fazendo com que referido servidor ficasse a maior parte do tempo ocioso, possibilitando, assim, que o mesmo exercesse livremente suas atividades particulares de médico anestesista e de sócio-administrador do hospital privado CEMIL – Centro Médico Materno Infantil Ltda., do qual é sócio desde 19824.

Em perícia realizada por perito médico do Instituto de Criminalística,

com autorização judicial obtida em Medida Cautelar Inominada (supra referida), ficou comprovado que desde janeiro de 2007 até agosto de 2011, período em que se circunscreveu a perícia, o requerido JOÃO JORGE HELLÚ comparecia diuturnamente no Hospital CEMIL – Centro Médico Materno Infantil Ltda., nos mais variados horários, inclusive nos horários em que deveria estar trabalhando para o Município de Umuarama, para realizar serviços de anestesista enquanto médico associado do referido hospital e, portanto, fora das suas obrigações de servidor público municipal e em prejuízo dessas.5

Tendo em conta que se apurou a co-responsabilidade de agentes

públicos, além da responsabilidade pessoal do próprio servidor JOÃO JORGE HELLÚ, em duas gestões distintas da Administração do Município de Umuarama, a seguir passa-se a fazer a descrição dos fatos apurados em dois tópicos, cada qual para uma dessas gestões.

Antes, porém, cabe conhecer a forma como o médico JOÃO JORGE

HELLÚ ingressou no funcionalismo do Município de Umuarama. 2.1. A admissão de JOÃO JORGE HELLÚ no serviço público.

O requerido JOÃO JORGE HELLÚ foi admitido no serviço público do

Município de Umuarama, pela primeira vez, em 01 de junho de 1981, como médico, permanecendo neste cargo até 21 de agosto de 1984, quando foi dispensado sem justa causa, conforme consta de sua então ficha de empregado.6

Alguns anos depois, em 02 de janeiro de 1989, na gestão do então

Prefeito Alexandre Ceranto, o requerido JOÃO JORGE HELLÚ foi nomeado ao cargo em comissão de Secretário de Saúde e Bem Estar Social, símbolo CC-01, por meio do Decreto nº 007.7

Quinze dias depois, ou seja, em 17 de janeiro de 1989, pelo Decreto

nº 044, também subscrito pelo Prefeito Alexandre Ceranto, o requerido JOÃO JORGE 4 Fl. 1.387 – 7º Volume 5 Fls. 3.086-3.108 – 15º Volume. 6 Fls. 32. 7 Fls. 33.

Page 5: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA … · – 20 horas semanais -, previsto na Lei Complementar 01/90,10 constando da ficha funcional que esta nomeação teria decorrido

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Umuarama

R. Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - CEP 87.501.200 – Fone: 44 3266-8302 5 5

HELLÚ foi nomeado ao cargo em comissão de Secretário de Saúde, símbolo CC-01, revogando-se o decreto anterior.8

João Jorge Hellú, então, exerceu o cargo de Secretário Municipal de

Saúde até 31 de dezembro de 1992, quando, juntamente com os demais secretários municipais da gestão de Alexandre Ceranto, foi exonerado do cargo de Secretário de Saúde, por meio do Decreto nº 0362.9

Antes, porém, por meio do decreto nº 0161, de 24 de abril de 1992,

com efeitos retroativos a partir de 13 de abril de 1992, o então Secretário Municipal de Saúde JOÃO JORGE HELLÚ foi nomeado ao cargo efetivo de médico clínica básica – 20 horas semanais -, previsto na Lei Complementar 01/90,10 constando da ficha funcional que esta nomeação teria decorrido de habilitação em concurso público, realizado no dia 30 de março de 1992.11

Ou seja, o requerido JOÃO JORGE HELLÚ, foi nomeado ao cargo

efetivo de médico clínica básica, em razão da habilitação em concurso público, realizado no dia 30 de março de 1992, durante período em que o mesmo ocupava o cargo em comissão de Secretário Municipal de Saúde.

2.2. Período 2007-2008 – Gestão LUIZ RENATO.

Os anos de 2007 e 2008 correspondem aos dois últimos anos da gestão do ex-prefeito e também requerido LUIZ RENATO REBEIRO DE AZEVEDO.

Durante essa gestão, a estrutura da administração do Município de Umuarama era organizada pela Lei Complementar nº 147, de 30 de setembro de 2005, que, dentre outras alterações, havia extinguido as Secretarias de Saúde, de Bem Estar Social e de Educação, e criado a Secretaria de Desenvolvimento Social, com três Diretorias: Diretoria de Saúde, Diretoria de Bem Estar Social, e Diretoria de Educação. 12

A Secretaria de Desenvolvimento Social era comandada pela requerida GESIMARY DE SANTI AZEVEDO, esposa do então prefeito LUIZ RENATO RIBEIRO DE AZEVEDO, e a Diretoria de Saúde era exercida pelo requerido NILSON MANDUCA.

Portanto, o requerido JOÃO JORGE HELLÚ, enquanto servidor

público municipal titular de um cargo de médico clínica básica, estava diretamente subordinado aos requeridos NILSON MANDUCA, Diretor de Saúde, e GESIMARY AZEVEDO, Secretária Municipal de Desenvolvimento Social e, ainda, indiretamente, ao prefeito LUIZ RENATO RIBEIRO DE AZEVEDO.

8 Fls. 34. 9 Fls. 35. 10 Fls. 36-37. 11 Fls. 160. 12 Fl. 2.681 – 13º volume

Page 6: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA … · – 20 horas semanais -, previsto na Lei Complementar 01/90,10 constando da ficha funcional que esta nomeação teria decorrido

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Umuarama

R. Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - CEP 87.501.200 – Fone: 44 3266-8302 6 6

2.2.1. A atuação do Conselho Municipal de Saúde e a omissão dos requeridos Luiz Renato, Nilson Manduca e Gesimary Azevedo. Nas investigações levadas a cabo no Inquérito Civil, em anexo, se apurou que no início do ano de 2007, o Conselho Municipal de Saúde, conforme demonstra a Ata de sua reunião ordinária do dia 30 de janeiro de 2007,13 já vinha cobrando atitudes da Secretaria Municipal de Saúde quanto ao fato de que servidores municipais da saúde, principalmente médicos, não cumpriam a carga horária a que estavam submetidos, no entanto, sem que nenhuma medida concreta fosse adotada.

Também desde aquela época já havia fortes debates nas reuniões

do Conselho Municipal de Saúde - inclusive com a participação do então Diretor Municipal de Saúde, o requerido NILSON MANDUCA, e a então Secretária Municipal de Desenvolvimento Social, a requerida GESIMARY AZEVEDO - acerca da falta de médicos trabalhando no pronto atendimento e nas unidades básicas de saúde, chegando a ser sugerida a terceirização do pronto atendimento, conforme demonstram as Atas das reuniões do conselho dos dias 17 e 25 de abril de 2007.14

Inclusive, a Comissão de Finanças do referido Conselho, em abril de

2007, decidiu pela aprovação dos gastos do Município de Umuarama na área de saúde, relativos aos meses de janeiro, fevereiro e março de 2007, com a ressalva de que nas próximas prestações de contas fosse apresentada uma avaliação de cada unidade de saúde, com relatório completo, contendo, dentre outros, informações quanto ao cumprimento de horário pelos profissionais de cada unidade. Ocasião em que também se recomendou que fosse afixado em todas as unidades de saúde um quadro de horário dos funcionários, inclusive médico e dentistas, sob pena de não apreciação das contas seguintes.15 Recomendação essa que, diga-se de passagem, também nunca foi atendida pela Administração Municipal.

Em novembro de 2007, o Conselho Municipal de Saúde, diante de

“denúncias” de que servidores do Município de Umuarama da área de saúde, especialmente o requerido JOÃO JORGE HELLÚ e seu colega Gilberto Lopes16, estariam recebendo sem trabalhar, e tendo em vista que respostas a pedidos de informações anteriores não eram satisfatórias, deliberaram por oficiar novamente à Administração Municipal.17

Em cumprimento a essa decisão, em 04 de dezembro de 2007, a 1ª

Secretária do Conselho Municipal de Saúde, oficiou à Secretária de Desenvolvimento Social, a requerida GESIMARY DE SANTI AZEVEDO, comunicando a decisão do Conselho e solicitando informações especificamente sobre os médicos JOÃO JORGE HELLÚ e Gilberto Lopes, indagando onde estavam lotados, em qual unidade

13 Fls. 338-342. 14 Fls. 374 e 378-379. 15 Fls. 614. 16 Os fatos envolvendo o médico e ex-servidor municipal Gilberto Carlos Lopes é objeto de outro inquérito civil público, autuado sob nº 0151.12.00004-8. 17 Fls. 07 e 09.

Page 7: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA … · – 20 horas semanais -, previsto na Lei Complementar 01/90,10 constando da ficha funcional que esta nomeação teria decorrido

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Umuarama

R. Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - CEP 87.501.200 – Fone: 44 3266-8302 7 7

trabalhavam, qual eram suas cargas horárias, e quais serviços tais médicos prestavam.18

Atendendo ao pedido, a requerida GESIMARY AZEVEDO respondeu,

em 12 de dezembro de 2007, que, o “Dr. João Jorge Hellu: está lotado na Diretoria de Saúde, trabalha na Divisão de Média e Alta Complexidade, sua carga horária é de oito horas. Presta serviços de anestesia à pacientes portadores de necessidades especiais à nível ambulatorial e verificação de óbitos”.19

Em 28 de fevereiro de 2008, com objetivo de preparar-se para

reunião do Conselho que se realizaria no dia 18 de março seguinte, a Presidente do Conselho Municipal de Saúde reiterou o pedido, agora em ofício dirigido ao requerido NILSON MANDUCA, então Diretor de Saúde, onde constou expressamente que, “sobre os atendimentos do Dr. João Jorge solicitamos um relatório bimestral a ser entregue para comissão de finanças deste Conselho, contendo, procedimento realizado, nome, endereço e telefone dos pacientes por ele atendidos”. Ofício esse que foi recebido pelo próprio NILSON MANDUCA, em 05.03.2008.20

A partir desses reiterados pedidos, o Conselho Municipal de Saúde

descobriu, conforme constou da Ata de Reunião Extraordinária do dia 04 de março de 2008, que a Secretaria Municipal de Saúde não tinha nenhum controle a respeito dos trabalhos desenvolvidos por seus servidores profissionais da saúde, em especial dos médicos, dentre eles o requerido JOÃO JORGE HELLÚ, não sabendo precisar exatamente os serviços que executava e nem o local e os horários em que trabalhava. Também ficou claro que a Administração Municipal somente passou a realizar algum registro das atividades desses profissionais, e de modo muito precário, naquele ano de 2008 e somente para poder atender aos pedidos e questionamentos do Conselho Municipal de Saúde.21

Tal fato levou o Conselho Municipal de Saúde a aprovar, naquela mesma reunião de março de 2008, que a Administração Municipal deveria encaminhar à comissão de finanças um relatório bimestral informando as atividades realizadas pelo médico JOÃO JORGE HELLÚ, contendo nome, telefone endereço dos pacientes atendidos.22

Em reunião do Conselho Municipal de Saúde do dia 16 de setembro

de 2008, a questão voltou novamente ao debate, quando o conselheiro Hélio Takeda registrou que durante o ano de 2007, o médico JOÃO JORGE HELLÚ realizou apenas 06 (seis) procedimentos e que naquele momento o mesmo estaria realizando uma média de apenas 03 (três) procedimentos por mês.23

18 Fl. 605. 19 Fl. 851 – 5º Volume. 20 Fl. 676. 21 Fs. 17. 22 Fls. 18 e 220. 23 Fl. 448.

Page 8: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA … · – 20 horas semanais -, previsto na Lei Complementar 01/90,10 constando da ficha funcional que esta nomeação teria decorrido

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Umuarama

R. Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - CEP 87.501.200 – Fone: 44 3266-8302 8 8

Tais informações ficaram ainda mais detalhadas no Relatório da Comissão de Finanças do referido Conselho, elaborado em 29 de outubro de 2008, onde expressamente constou que:

“A comissão de Finanças reuniu no dia 17 de setembro de 2008, nas

dependências da Secretaria Municipal de Saúde para avaliar e relatar parecer do ponto de pauta: do servidor público Dr. João Jorge Hellu, encaminhado pela Reunião Ordinária do Conselho Municipal de Saúde. Esta comissão constatou que o relatório apresentado, compreendendo o período de Fevereiro a Agosto de 2008, constou que dos 25 nomes de pacientes atendidos pelo referido profissional e conforme relatório apresentado pela Secretária Municipal de Saúde, dos procedimentos realizados, somente 07 (sete) pacientes foram atendidos em realização de exame de Tomografia, apenas utilizando o procedimento “cheirinho anestésico” para imobilizar a criança para realização de exame, assim sendo, a Comissão de Finanças sugere ao Conselho Municipal de Saúde a suspensão daqui por diante “das Aprovações das Contas do Fundo Municipal de Saúde”, pois estão ligadas ao faturamento do Município, uma vez que o profissional é concursado para prestar serviços na área de clínica básica e o mesmo está com desvio de função, não cumprindo a “carga horária” recebendo a sua remuneração há vários anos, sem se quer ter locação de trabalho” 24 25

Tendo em vista que a Administração Municipal, por meio dos

requeridos LUIZ RENATO RIBEIRO DE AZEVEDO, GESIMARY DE SANTI AZEVEDO e NILSON MANDUCA, não haviam adotado qualquer providência efetiva objetivando a solução da questão, o Conselho Municipal de Saúde novamente oficiou, em 21 de novembro de 2008, agora ao então Diretor Municipal de Saúde, o requerido NILSON MANDUCA, requerendo informações detalhadas acerca da equipe de profissionais e respectivas cargas horárias do eixo atenção básica de cada unidade de saúde.26 Lembrando que o requerido JOÃO JORGE HELLÚ, na condição de contratado do Município de Umuarama como médico de clínica básica, seu nome deveria integrar as informações então solicitadas pelo Conselho Municipal de Saúde.

Assim é que se chegou ao final do ano de 2008 e, portanto, também

da gestão do ex-prefeito LUIZ RENATO DE AZEVEDO, e nenhuma medida concreta, sequer a instauração de procedimento administrativo disciplinar, foi adotada pela administração que se findava.

Destarte, restou claramente apurado e comprovado que os

requeridos LUIZ RENATO RIBEIRO DE AZEVEDO, GESIMARY DE SANTI AZEVEDO e NILSON MANDUCA, tinham absoluta consciência de que o requerido JOÃO JOGE HELLÚ, não estava realizando suas atividade de servidor público municipal titular de um cargo de médico clínica básica, posto que por incontáveis vezes foram oficialmente comunicados do fato pelo Conselho Municipal de Saúde, de cujas reuniões inclusive, onde o assunto foi reiteradamente debatido, por várias vezes 24 Fl. 639. 25 A relação dos 25 pacientes referida pelo conselheiro consta das fls. 880-882 – 5º volume. 26 Fls. 633.

Page 9: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA … · – 20 horas semanais -, previsto na Lei Complementar 01/90,10 constando da ficha funcional que esta nomeação teria decorrido

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Umuarama

R. Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - CEP 87.501.200 – Fone: 44 3266-8302 9 9

participaram os requeridos GESIMARY AZEVEDO e NILSON MANDUCA, e, mesmo assim, nenhuma providência adotaram.

2.2.2. O fornecimento de informações inverídicas ao Conselho Municipal de Saúde e a ociosidade do servidor médico João Jorge Hellú. Além de se apurar a omissão dos requeridos LUIZ RENATO RIBEIRO DE AZEVEDO, GESIMARY DE SANTI AZEVEDO e NILSON MANDUCA quanto à obrigação legal de adotar providências em relação ao servidor faltoso, também se apurou que as informações prestadas por esses representantes da administração pública para o Conselho Municipal de Saúde não correspondiam com a verdade dos fatos e, na parte que correspondiam, revelaram que o requerido JOÃO JORGE HELLÚ efetivamente ficava a maior parte do tempo ocioso, realizando alguns procedimentos esporádicos e não prestava serviços em unidades básicas de saúde.

Com efeito, conforme constou da Ata da reunião do Conselho

Municipal de Saúde do dia 16 de setembro de 2008, o conselheiro Hélio Takeda observou que durante o ano de 2007, o médico JOÃO JORGE HELLÚ teria realizado apenas 06 (seis) procedimentos e que naquele momento o mesmo estaria realizando uma média de apenas 03 (três) procedimentos por mês.27

E mais, a Comissão de Finanças do mesmo Conselho Municipal de

Saúde, após fazer a verificação das informações constantes de relatório fornecido pela Administração Municipal, constatou que dos 25 (vinte e cinco) pacientes que o requerido JOÃO JORGE HELLÚ teria atendido no período de fevereiro a agosto de 2008, somente 07 (sete) crianças efetivamente teriam se submetido a exame de tomografia, que necessitava de anestesia, com a realização do procedimento mais simples conhecido por “cheirinho anestésico”.

Constatou-se, portanto, que o relatório encaminhado ao Conselho

Municipal de Saúde, continha informações inverídicas e, na parte verídica, indicava que no período de fevereiro a agosto de 2008 (durante sete meses) o requerido JOÃO JORGE HELLÚ, enquanto médico do Município de Umuarama, tinha realizado apenas 07 (sete) procedimentos de anestesia conhecido como “cheirinho anestésico”, em crianças que se submeteriam a exame de tomografia. 28

Essa conclusão do Conselho Municipal de Saúde é corroborada pelas

declarações prestadas por Maria de Lurdes Gianini, servidora pública municipal que esteve lotada na Divisão de Média e Alta Complexidade da Diretoria de Saúde, e que era responsável, entre os anos de 2007, 2008 e 2009, pelo agendamento dos exames que seriam feitos na clínica RX Zukowsk quando houvesse necessidade do paciente ser anestesiado, a qual relatou que nesta época eram agendadas cerca de 5 ou 6 (cinco ou seis) anestesias por mês para serem feitas pelo requerido JOÃO JORGE HELLU.29 27 Fl. 448. 28 Fl. 639. 29 Fl. 3.296 – 16º Volume.

Page 10: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA … · – 20 horas semanais -, previsto na Lei Complementar 01/90,10 constando da ficha funcional que esta nomeação teria decorrido

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Umuarama

R. Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - CEP 87.501.200 – Fone: 44 3266-8302 10 10

Declarações essas, que também são corroboradas com as informações que a requerida GESIMARY AZEVEDO já havia prestado ao Conselho Municipal de Saúde em dezembro de 2007, no sentido de que o requerido JOÃO JORGE HELLÚ estava lotado na Divisão de Média e Alta Complexidade e que prestava “serviços de anestesia à pacientes portadores de necessidades especiais à nível ambulatorial e verificação de óbitos”.30

As conclusões da Comissão de Finanças do Conselho Municipal de

Saúde, no sentido de que eram pouquíssimos, praticamente raros, os procedimentos de anestesia realizados pelo requerido JOÃO JORGE HELLÚ no ano de 2008, também foram confirmadas por documentos que posteriormente, em 26 de abril de 2011, foram encaminhados ao Ministério Público pelo Secretário de Saúde, Cláudio Francisconi da Silva, em cujo ofício fez constar que, “O Servidor João Jorge Hellu exerceu suas atividades, durante um período (até o mês de março de 2009), na Clínica RX Zucowski, onde efetuava anestesias em pacientes especiais, por determinação da Secretaria Municipal de Saúde e sob a fiscalização desta. Segue em anexo alguns comprovantes (fichas de entrada – atendimento) de serviços efetuados pelo Dr. João Jorge durante este período.”31

Esses documentos encaminhados pelo Secretário Cláudio

Francisconi, acima referidos, indicam que 11 (onze) pacientes do Sistema Único de Saúde foram atendidos pela empresa Zukovski e Parente Ltda. (a mesma Clínica RX Zucowski),32 e realizaram exame “TC Crânio” com o médico Silvio Alexandre Bruno, no período de 14/02/2008 a 04/06/2008.33

Ou seja, 11 (onze) pacientes em cinco meses e meio. Destacando

que nesses documentos não há absolutamente nada que comprove que o requerido JOÃO JORGE HELLÚ efetivamente tenha comparecido naquela clínica e efetuado algum procedimento anestésico, ainda que o tal “cheirinho anestésico”. No entanto, os documentos demonstram os pouquíssimos pacientes que foram submetidos, naquele período, a exames na referida clínica, e que poderiam necessitar da anestesia que, em tese, seria realizada pelo requerido JOÃO JORGE HELLÚ. 2.2.2.1 A inexistência de verificações de óbitos.

Ainda, quanto à informação da requerida GESIMARY AZEVEDO, contida na mesma resposta dirigida ao Conselho Municipal de Saúde, em 12 de dezembro de 2007, no sentido de que além desse trabalho de anestesista com pacientes especiais, o requerido JOÃO JORGE HELLÚ também seria responsável, no mesmo período de 2007 até início de 2009, pela verificação de óbitos, é de se registrar que nenhum atestado de óbito subscrito pelo mesmo foi apresentado ao Ministério Público.

30 Fl. 851 – 5º Volume. 31 Fl. 286 -2º volume. 32 O nome “Zukovski” parece ter sido grafado erroneamente no ofício do Secretário. 33 Fl. 287 a 309.

Page 11: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA … · – 20 horas semanais -, previsto na Lei Complementar 01/90,10 constando da ficha funcional que esta nomeação teria decorrido

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Umuarama

R. Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - CEP 87.501.200 – Fone: 44 3266-8302 11 11

Ao contrário, no mesmo ofício datado de 26 de abril de 2011, o Secretário de Saúde Cláudio Francisconi, informou que após março de 2009, quando o requerido JOÃO JORGE HELLÚ ficou a disposição da Divisão de Vigilância em Saúde, onde realizava atendimentos a pacientes com suspeita de Gripe A, não houve nenhum atestado de óbito assinado pelo mesmo e que tendo em conta que as pessoas que faleceram em decorrência desta doença se encontravam internadas, os óbitos foram atestados nos próprios hospitais.34 2.2.3 A falsidade ideológica dos boletins de frequência. Consta dos autos do inquérito civil em anexo, parte dos boletins de freqüência mensais dos servidores da Secretaria Municipal de Saúde, onde aparece o nome do requerido JOÃO JORGE HELLÚ, do período de junho de 2004 a maio de 200835, e do período de junho de 2008 a setembro de 201036. Parte desses boletins, especialmente os dos anos de 2007 e 2008,37 subscritos pelos requeridos NILSON MANDUCA e GESIMARY AZEVEDO, como também pela servidora Maria Aparecida Cardoso, registram que o requerido JOÃO JORGE HELLÚ comparecia todos os dias em seu local de trabalho, informação essa que, no entanto, é absolutamente inverídica, não traduzindo a realidade, conforme demonstram os fatos acima comprovados e os depoimentos colhidos nesta Promotoria de Justiça.

Nesses boletins consta que a lotação do requerido JOÃO JORGE

HELLÚ, naquele período, seria em “hospitais”, como se ele tivesse executado seus serviços de médico do Município de Umuarama em hospitais conveniados com o serviço público de saúde. Essa informação também chegou a ser acreditada pela conselheira Bernadete Fernandes, conforme visto em seu depoimento acima parcialmente transcrito. No entanto, como amplamente demonstrado nos parágrafos mais anteriores, as informações obtidas revelaram que, em verdade, o mesmo estaria designado apenas para fazer anestesias a pacientes especiais na Clínica RX Zukovski.

Neste sentido, vale reprisar, a informação que a então Secretária de

Desenvolvimento Social, GESIMARY AZEVEDO, prestou ao Conselho Municipal de Saúde, ainda em dezembro de 2007, quando disse que, o “Dr. João Jorge Hellu: está lotado na Diretoria de Saúde, trabalha na Divisão de Média e Alta Complexidade, sua carga horária é de oito horas. Presta serviços de anestesia à pacientes portadores de necessidades especiais à nível ambulatorial e verificação de óbitos”.38

A Informação da Secretária GESIMARY foi mais tarde igualmente

confirmada pelo Secretário de Saúde da gestão seguinte, o também requerido

34 Fl. 286. 35 Fls. 67-111. 36 Fls. 166-189 37 Fls. 96-111. 38 Fl. 851 – 5º Volume.

Page 12: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA … · – 20 horas semanais -, previsto na Lei Complementar 01/90,10 constando da ficha funcional que esta nomeação teria decorrido

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Umuarama

R. Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - CEP 87.501.200 – Fone: 44 3266-8302 12 12

CLÁUDIO FRANCISCONI DA SILVA, em ofício dirigido ao Setor de Recursos Humanos, em 06 de outubro de 2010.39

Ou seja, efetivamente o requerido JOÃO JORGE HELLÚ, nunca teve

“lotação” em nenhum hospital, como erroneamente consta naqueles boletins de freqüência. De modo que, as informações neles lançadas são absolutamente inverídicas, posto que se o médico JOÃO JORGE HELLÚ não estava lotado em hospitais por certo que não comparecia em tais locais para prestar serviços.

Aliás, o próprio NILSON MANDUCA disse em seu depoimento, “que

na época em que era Diretor de Saúde o Dr. João Jorge fazia verificações de óbito, perícias admissionais e para licenças saúde de servidores e, se não se engana, também auxiliava em auditorias; (...) que nos anos de 2007 e 2008 o Dr. João Jorge esteve lotado na Secretaria de Saúde, especificamente para fazer essas atividades antes referidas, que são de apoio à administração”.

Ou seja, segundo as declarações do requerido, NILSON MANDUCA,

o requerido JOÃO JORGE, nos anos de 2007 e 2008, estava lotado na Secretaria de Saúde, e não nos “hospitais”, como consta daqueles boletins de freqüência, que, aliás, eram assinados pelo próprio NILSON MANDUCA.

Na verdade, como visto, o requerido JOÃO JORGE HELLÚ, neste

período, estava mesmo lotado na Secretaria de Saúde, mas não fazia esses serviços todos relatados por NILSON MANDUCA, pois apenas comparecia, esporadicamente, na clínica RX Zukovski para fazer anestesias, na maioria das vezes pelo procedimento do “cheirinho anestésico” em pacientes especiais, principalmente crianças, que necessitavam ser sedadas para serem submetidas a exames radiológicos. Não fazia os tais serviços de apoio à administração, como declarou o requerido NILSON MANDUCA, e também não prestava qualquer serviço em hospitais, como constava dos boletins de freqüência e como, ingenuamente, acreditava a Conselheira Bernadete Fernandes.

Ademais, apesar de em tais relatórios constar as assinaturas dos

requeridos GESIMARY AZEVEDO e NILSON MANDUCA, ambos afirmaram, em seus depoimentos prestados na Promotoria de Justiça, que não tinham controle sobre a freqüência dos profissionais de saúde, dentre eles a do médico JOÃO JORGE HELLÚ.

A primeira declarou que só passou a tomar conhecimento das

atividades desenvolvidas pelo médico JOÃO JORGE, e isso por meio das informações que lhe eram repassadas pelo Diretor NILSON MANDUCA, depois de uma reunião no Conselho Municipal de Saúde, ocorrida em novembro de 2007, quando foi cobrada a respeito por alguns conselheiros:

“(...) que foi pelo Conselho Municipal de Saúde que a declarante

tomou conhecimento da questão envolvendo o Dr. João Jorge, isso numa reunião do conselho que ocorreu em novembro de 2007, o conselho

39 Fl. 165 – 1º Volume.

Page 13: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA … · – 20 horas semanais -, previsto na Lei Complementar 01/90,10 constando da ficha funcional que esta nomeação teria decorrido

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Umuarama

R. Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - CEP 87.501.200 – Fone: 44 3266-8302 13 13

reclamava que não estavam entendendo onde exatamente o Dr. João Jorge estaria trabalhando; que então a declarante pediu para o Diretor Nilson Manduca verificar a questão; que a partir de então a declarante passou a tomar consciência das atividades prestadas pelo Dr. João Jorge, segundo o que lhe dizia o Diretor Nilson Manduca, pois até então não tinha conhecimento dos trabalhos que o médico desempenhava; que então obteve as informações, por parte do Diretor Nilson Manduca, que o Dr. João Jorge vinha, durante a gestão do Prefeito Luiz Renato e no período em que a declarante foi secretaria, desempenhado atividades de atestados e verificação de óbitos e anestesias para casos especiais e de odontologia, que inclusive havia uma lista com a Maria de Lurdes, da Assistência Social à Saúde, com a necessidade dessas anestesias; (...) que não tem idéia da quantidade dessa demanda; que a declarante não foi verificar com exatidão os trabalhos realizados pelo Dr. João Jorge, para ver a quantidade dos serviços que ele realizava, porque tal constatação era de competência do Diretor Nilson Manduca;”40

NILSON MANDUCA, por sua vez, relatou que, “no período em que foi

Diretor Geral tinha a responsabilidade pela assinatura dos boletins de freqüência, que eram elaborados pelos servidores da seção de recursos humanos; que o declarante sempre assinou tais boletins confiando no preenchimento feito pelos respectivos setores;”.41 Ou seja, assinava os boletins de freqüência sem ter certeza da veracidade de seu conteúdo.

Na verdade, os tais boletins de freqüência eram preenchidos pela

servidora Maria Aparecida Cardoso, funcionária do departamento de recursos humanos que trabalhava dentro da Secretaria de Saúde e que tinha a incumbência, dentre outros, de coletar as informações repassadas pelas unidades de saúde e, com base nessas informações, elaborar os boletins de freqüência que depois seriam remetidos ao Departamento de Recursos Humanos com objetivo, especialmente, de elaboração da folha de pagamentos.

Essa conclusão é extraída dos depoimentos da própria Maria

Aparecida Cardoso e de Luis Alberto Haiduk, servidor municipal que já foi Diretor de Administração e também Diretor de Recursos Humanos.

Cumpre registrar que em parte de seu depoimento, quando a

senhora Maria Aparecida Cardoso relata que o Dr. JOÃO JORGE comparecia todos os dias no departamento de recursos humanos – que era o mesmo local de trabalho da referida servidora – por volta das 10h30min, a mesma estava se referindo ao período posterior a março de 2009, quando efetivamente o requerido JOÃO JORGE passou a ter lotação na Secretaria de Saúde, e não ao período anterior.

Assim, a própria funcionária Maria Aparecida Cardoso, no período de

2007 e 2008, não controlava diretamente a freqüência de nenhum servidor, já que

40 41 Fl. 3.301.

Page 14: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA … · – 20 horas semanais -, previsto na Lei Complementar 01/90,10 constando da ficha funcional que esta nomeação teria decorrido

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Umuarama

R. Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - CEP 87.501.200 – Fone: 44 3266-8302 14 14

preenchia os boletins com base nas informações repassadas pelas unidades de saúde, onde os servidores estavam lotados. E como o requerido JOÃO JORGE HELLÚ, nesta época, ainda não estava designado para trabalhar no Departamento de Recursos Humanos dentro da Secretaria de Saúde – mesmo local de trabalho da senhora Maria Aparecida Cardoso – é óbvio que a mesma não tinha nenhuma condição da fazer o controle de freqüência do médico e, por evidente, lançou informações inverídicas naqueles boletins de frequência, com base nas informações que, em tese, lhes eram repassadas pelos locais de lotação do requerido JOÃO JORGE. 2.2.4. Resumo dos fatos nos anos de 2007 e 2008.

Destarte, restou comprovado que na verdade, desde antes de 2007, não se precisando exatamente quando, o médico JOÃO JORGE HELLÚ, não tinha local e nem trabalho específico na Administração Municipal, e que a partir de 2007, em data também não precisada, teria sido designado para atuar na Divisão de Média e Alta Complexidade, vinculada à Secretaria Municipal de Saúde, prestando serviços como anestesiologista em pacientes que em razão de serem portadores de alguma deficiência e/ou de serem crianças, precisassem ser sedados para realizar algum exame, como radiografias.42

Também restou comprovado que neste período, de 2007 até início

de 2009, o requerido JOÃO JORGE HELLÚ realizou pouquíssimos desses procedimentos, em número praticamente insignificante, que dado o fato de não haver nenhum registro por parte da administração municipal não podem ser precisados, mas que segundo as declarações prestadas e as informações obtidas pelo Conselho Municipal de Saúde, poderiam variar entre 05 (cinco) ou 06 (seis) procedimentos em alguns meses a apenas 03 (três) em outros, e até a insignificância de 11 (onze) procedimentos no período de quase seis meses, o que dá uma média de pouco mais de 02 (dois) procedimentos mensais.

Ainda, além de serem pouquíssimos os trabalhos efetivamente

realizados, algumas vezes o requerido JOÃO JORGE HELLÚ não comparecia no dia e no horário que previamente já tinha agendado, conforme declarou a servidora Maria de Lurdes Gianini, responsável pelos agendamentos, obrigando a referida servidora a fazer novos agendamentos com a clínica e com o próprio requerido JOÃO JORGE HELLÚ. Existiram casos, inclusive, que em razão do não comparecimento do requerido JOÃO JORGE, o paciente acabava realizando o exame “particular”, ou seja, com o pagamento da despesa do próprio “bolso”, pois não poderia esperar pela vontade do médico, e em outros casos o paciente e seus familiares simplesmente desistiam de fazer o exame.43

Ou seja, neste período, o requerido JOÃO JORGE HELLÚ, enquanto

servidor público municipal, ficava praticamente o tempo todo ocioso, livre para

42 Fl. 286. 43 Fl. 3.295 – 16º volume.

Page 15: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA … · – 20 horas semanais -, previsto na Lei Complementar 01/90,10 constando da ficha funcional que esta nomeação teria decorrido

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Umuarama

R. Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - CEP 87.501.200 – Fone: 44 3266-8302 15 15

desempenhar suas atividades privadas, contando – é claro – com a negligência e beneplácito dos demais requeridos que, mesmo cientes desses fatos, não adotaram nenhuma providência.

Toda essa constatação dos fatos, extraída principalmente das Atas

das reuniões do Conselho Municipal de Saúde e das comunicações oficiais mantidas entre o Conselho e a Secretaria Municipal de Saúde, depois foram detalhadamente confirmadas em depoimentos prestados na Promotoria de Justiça, principalmente de alguns membros do Conselho Municipal de Saúde.

Assim, por exemplo, constou do depoimento prestado pela senhora

Inês Aparecida Ulian, que foi membro do Conselho Municipal de Saúde, desde o ano de 2002 e até dezembro de 2011:

“(...) Que foi presidente do referido conselho entre 2008 e 2009;

que não se recorda exatamente, mas possivelmente no ano de 2007, o Conselheiro Hélio foi quem levantou os fatos acerca do Dr. João Jorge, trazendo ao conselho a informação de que o Dr. João Jorge não trabalhava; que então o conselho passou a pedir informações para a Secretaria Municipal de Saúde, acerca da contratação desse médico, qual o local de trabalho, o quê mesmo deveria fazer etc.; que então a Secretaria informou que o referido médico, naquele momento, estaria prestando serviços na secretaria de saúde, que sua carga horária era de 4 horas diárias; isso entre 2007 e 2008, quando a Secretária de Saúde era a Gesimary de Santi, lotado na própria Secretaria de Saúde; que então o conselho foi atrás de mais informações, que então a Secretaria de Saúde informou que o médico Dr. João Jorge estava fazendo atendimento como anestesista para pacientes com deficiência mental antes dos atendimentos odontológicos, médicos e outros, tais como exames radiológicos, etc.; que tais anestesias não eram feitas em razão da necessidade de procedimento cirúrgico, mas sim pela condição particular do paciente com deficiência que exigia a sua sedação, pois tais pacientes ficavam sempre agitados; que após essa informação, alguns conselheiros foram investigar os fatos, quais eram os pacientes atendidos, quais atendimentos eram feitos, etc., quando então descobriram que as informações prestadas pela Secretaria de Saúde, em seus relatórios remetidos ao conselho, não eram verídicas; que, por exemplo, em tais relatórios continham o nome, telefone e endereço dos pacientes que teriam sido atendidos pelo Dr. João Jorge, mas o conselho em suas verificações, descobriu que alguns pacientes que constavam dessa relação não tinham sido atendidos, que alguns telefones não existiam, etc.; que tais relatórios não eram integralmente inverídicos, pois algumas informações eram confirmadas; que tais relatórios sempre viam assinados pela Secretaria de Saúde Gesimary Azevedo; que diante disso o conselho pediu para a Secretaria que o Dr. João Jorge fosse mudado de setor, que ele fosse trabalhar nos postos de saúde; (...) que tem conhecimento de que o Dr. João Jorge era diretor administrativo do CEMIL, não sabendo se ele ainda exerce essa atividade, também não sabe qual o horário que ele faz trabalho em caráter particular no CEMIL, mas pela carga horária dele no município ele

Page 16: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA … · – 20 horas semanais -, previsto na Lei Complementar 01/90,10 constando da ficha funcional que esta nomeação teria decorrido

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Umuarama

R. Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - CEP 87.501.200 – Fone: 44 3266-8302 16 16

deveria ficar à disposição do Município por quatro horas durante o período da manhã;”44

No mesmo sentido, também foram as declarações da conselheira

Bernadete Fátima Fernandes, que relatou: “(...); que depois o Conselho Municipal de Saúde fez uma comissão

para apurar os fatos e cobrou informações do Município acerca dos atendimentos do Dr. João Jorge, quando então descobriram que no período de mais ou menos um ano o mesmo tinha feito apenas aproximadamente 17 (dezessete) atendimentos, conforme constava numa relação que foi fornecida pela Secretaria de Saúde; que então a declarante, juntamente com outros membros do conselho, entraram em contato com os pacientes que constavam desta lista, mas descobriram que alguns não tinham sido atendidos pelo SUS, em sim como paciente particular, e outros o telefone fornecido era da Secretaria Municipal de Saúde; que então o Conselho suspeitou que essa relação pudesse ser falsa, pois tinha algo errado; que então o Conselho decidiu que a Secretaria Municipal de Saúde deveria mandar um relatório trimestral dos atendimentos do Dr. João Jorge; que nesses relatórios, então, passou-se a observar que os atendimentos do Dr. João Jorge eram muito poucos, que não justificava a sua manutenção naquela atividade, o que durou mais ou menos um ano e meio, que ele continuou como anestesista dos hospitais;(...) ”45

Observa-se que a declarante disse que o requerido JOÃO JORGE,

naquela época, estaria designado para fazer anestesias em hospitais. No entanto, todas as informações oficiais obtidas, inclusive nos relatórios de atendimentos que a Secretaria de Saúde tinha encaminhado ao Conselho, constavam apenas atendimentos na supra referida Clínica RX Zukovski, onde o requerido JOÃO JORGE HELLÚ comparecia esporadicamente, conforme os agendamentos feitos pela servidora Maria de Lurdes Gianini, da divisão de Média e Alta Complexidade, para fazer anestesias, na maioria das vezes, repita-se, pelo procedimento simples do “cheirinho anestésico” em crianças e/ou pacientes portadores de necessidades especiais, que em razão dessas circunstâncias tinham de ser sedados para os exames.

Destarte, nos dois últimos anos da gestão do requerido LUIZ

RENATO, em 2007 e 2008, o requerido JOÃO JORGE HELLÚ, enquanto médico do Município de Umuarama, continuou fazendo exatamente os mesmo serviço que já vinha fazendo, qual seja, praticamente nada, apenas alguns e esporádicos procedimentos de anestesias em pacientes que precisassem ser sedados para realizar exame radiológico a ser executado na clinica RX Zukovski.

Continuou, pois, contando com a omissão e o beneplácito dos

requeridos LUIZ RENATO, GESIMARY AZEVEDO e NILSON MANDUCA para se

44 Fls. 3.287 – 16º volume. 45 Fls. 3.292 – 16º volume

Page 17: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA … · – 20 horas semanais -, previsto na Lei Complementar 01/90,10 constando da ficha funcional que esta nomeação teria decorrido

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Umuarama

R. Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - CEP 87.501.200 – Fone: 44 3266-8302 17 17

manter na mesma situação de ociosidade, que lhe permitia exercer, sem qualquer incômodo, suas atividades privadas de médico anestesista e de administrador do hospital privado de que sempre foi sócio.

2.3. Período 2009-2012 - Gestão MOACIR SILVA.

A partir do ano de 2009 e até os dias atuais, o Município de Umuarama passou a ser comandado pelo Prefeito Moacir Silva.

No final da gestão do ex-prefeito LUIZ RENATO, possivelmente

como medida de transição adotada em comum acordo com a equipe da nova administração, foi editada a Lei Complementar Municipal nº 214, de 11 de novembro de 2008, alterando a estrutura da administração municipal, para ter vigência a partir de 1º de janeiro de 2009. Nessa alteração foi extinta a Secretaria de Desenvolvimento Social e criada as Secretarias de Saúde, de Ação Social e de Educação, que antes correspondiam a três diretorias vinculadas à Secretaria então extinta.46 Assim, na gestão atual voltou a existir a Secretaria Municipal de Saúde, sendo comandada, sucessivamente, pelos requeridos JORGE MAURO JARDIM, CLÁUDIO FRANCISCONI DA SILVA e, atualmente, JOSÉ GONÇAVES DIAS NETO. Portanto, na atual gestão, o requerido JOÃO JORGE HELLÚ, enquanto servidor público municipal, era subordinado diretamente aos requeridos JORGE MAURO JARDIM, CLÁUDIO FRANCISCONI DA SILVA e, atualmente, JOSÉ GONÇAVES DIAS NETO, nos respectivos períodos em que cada um foi (ou é) Secretário Municipal de Saúde, e, indiretamente, também subordinado ao Prefeito MOACIR SILVA, que, por evidente, tem poder de comando sobre todos os demais.

Pois bem, sendo esta a estrutura da Administração Municipal durante a atual gestão e, portanto, estando determinado quais eram, e quais são ainda hoje, os agentes públicos responsáveis pela fiscalização e disciplina do pessoal da área de saúde, cumpre demonstrar que neste período o requerido JOÃO JORGE HELLÚ continuou não cumprindo sua carga horária de 20 (vinte) horas semanais, pois permaneceu designado para atuar em setores onde não havia, e não há, demanda suficiente para se manter com exclusividade um médico e, por conseguinte, continuou a desfrutar da situação privilegiada de ociosidade, da qual sempre gozou, possibilitando, assim, que continuasse a exercer, sem qualquer oposição da administração municipal, suas atividades privadas de médico anestesista e de administrador do hospital privado CEMIL. 2.3.1. Período do Secretário Jorge Mauro Jardim.

46 Fl. 2.957 – 15º Volume

Page 18: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA … · – 20 horas semanais -, previsto na Lei Complementar 01/90,10 constando da ficha funcional que esta nomeação teria decorrido

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Umuarama

R. Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - CEP 87.501.200 – Fone: 44 3266-8302 18 18

Como visto no tópico 2.1. acima, chegou o final da gestão do ex-prefeito LUIZ RENATO, no ano de 2008, e o requerido JOÃO JORGE HELLÚ, em tese, ainda estaria lotado na Divisão de Média e Alta Complexidade e designado para efetuar anestesias em pacientes especiais que fossem submetidos a exames radiológicos na Clínica RX Zukovski, em cuja cômoda situação de ociosidade teria permanecido até a assunção da nova administração.

A nova administração, sendo Secretário de Saúde o requerido

JORGE MAURO JARDIM, e já tendo conhecimento da situação de que alguns médicos efetivamente não cumpriam com suas obrigações de servidores públicos municipais, dentre eles o requerido JOÃO JORGE HELLÚ, começou a enfrentar o problema, que, inclusive, resultou no pedido de exoneração do médico Gilberto Lopes, o qual não admitia que tivesse de trabalhar na atenção básica.

No entanto, em relação ao requerido JOÃO JORGE HELLÚ, a

administração municipal continuou a ser complacente, tomando atitudes pouco ou de nenhuma eficiência e incompatíveis com o cargo de médico de clínica básica ocupado pelo mesmo.

Com efeito, como declarou o próprio ex-secretário municipal de

Saúde, JORGE MAURO JARDIM, a administração resolveu dar “duas chances” ao médico JOÃO JORGE, primeiro determinando que o mesmo fosse trabalhar na Divisão de Farmácia, e depois na Divisão de Vigilância em Saúde. Sendo que ambas as medidas foram inócuas, já que o médico, como será visto adiante, continuou não cumprindo horário de trabalho e, em relação à Divisão de Vigilância em Saúde, não havia trabalho suficiente que justificasse a designação de um médico, tanto mais com exclusividade. Além, é claro, do fato do requerido JOÃO JORGE HELLÚ sempre ser titular do cargo de médico de clínica básica e que, portanto, deveria estar trabalhando em alguma unidade básica de atenção a saúde.

Neste sentido, confira-se a seguinte passagem das declarações

prestadas pelo ex-secretário de saúde, o requerido JORGE MAURO JARDIM: “(...) que quando assumiu a Secretaria de Saúde deparou-se com

vários comentários de que havia médicos que não trabalhavam, que então começou a chamar cada um individualmente, para saber o que estava acontecendo; que primeiro chamou o Dr. Gilberto Lopes, o qual acabou pedindo exoneração; que depois chamou o Dr. Walid, o qual se apurou que trabalhava em três lugares diferentes, inclusive no Mato Grosso do Sul, que então, depois de cobranças, inclusive com abertura de sindicância, o mesmo acabou adequando os seus horários de trabalho; que o Dr. Gilberto Lopes não admitia que tivesse de trabalhar na atenção básica, para a qual tinha contrato de 8 (oito) horas diárias; que então o Dr. Gilberto Lopes acabou pedindo pra sair; que em relação ao Dr. João Jorge o declarante não conseguiu instaurar procedimento administrativo porque o Conselho Municipal de Saúde acatou a proposta do médico de ir trabalhar no setor de perícias dos funcionários do município, na Secretaria de Saúde, e fazer atestados de óbito, tendo ficado acordado com o Conselho que o médico iria

Page 19: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA … · – 20 horas semanais -, previsto na Lei Complementar 01/90,10 constando da ficha funcional que esta nomeação teria decorrido

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Umuarama

R. Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - CEP 87.501.200 – Fone: 44 3266-8302 19 19

fazer relatórios mensais das suas atividades; que o declarante nunca chegou a ver um desses relatórios, não sabendo se o mesmo fez os relatório; que antes disso foi dada duas “chances” ao médico Dr. João Jorge, primeiro para trabalhar na divisão de farmácia e depois na Vigilância em Saúde, mas mesmo assim o mesmo não cumpria horário regularmente, tanto é que a farmacêutica responsável pela farmácia (Francielize) pediu para que o médico fosse substituído, quando então a Renata Pittito, da Vigilância em Saúde, aceitou que o mesmo fosse trabalhar lá, mas também não deu certo, porque o médico João Jorge não cumpria expediente; que o Dr. João Jorge disse ao declarante que não ia pedir demissão porque esse emprego seria a sua única aposentadoria; que João Jorge também disse ao declarante que não iria trabalhar nos postos de saúde porque não sabia clinicar, já que era anestesista, e que não iria se expor no atendimento básico; que o Dr. João Jorge se negou a ir trabalhar em posto de saúde; (...)”

Essas declarações são corroboradas com o depoimento prestado

pelo então Diretor de Saúde, Sergio Toshihiko Eko, nos seguintes termos: “(...) que quando assumiu a função de diretor de saúde, durante o

decorrer do tempo, detectou o problema com três médicos, que não cumpriam com seu contrato quando [quanto] ao horário de trabalho; com um dos médicos, Dr. Walid, a administração conseguiu fazer com que o mesmo passasse a cumprir seu horário de modo satisfatório; que um outro médico, Dr. Gilberto Lopes, não conseguiu justificar o cumprimento de seu horário, nem perante a administração e nem juntamente com o conselho de saúde, onde a situação do mesmo foi debatida; que o médico Gilberto Lopes acabou pedido exoneração; o terceiro médico que tinha problemas com o cumprimento do horário era o Dr. João Jorge; que com esse médico, Dr. João Jorge, a administração, por determinação do Secretário de Saúde, tentou fazer com que o mesmo cumprisse horário, determinando que fosse trabalhar na assistência farmacêutica; que esta tentativa foi frustrante, inclusive com reclamação do setor, da farmacêutica responsável pelo setor; que na assistência farmacêutica o Dr. João Jorge deveria fazer regulação das receitas médicas prescritas por outros profissionais; que o horário do Dr. João Jorge deveria ser de 20 horas semanais; que a pessoa responsável pelo controle de freqüência do Dr. João Jorge era uma senhora conhecida por “Nenê”, que trabalhava na área de controle de pessoal; que a senhora “Nenê” fazia a elaboração do controle de freqüência, fazendo os boletins, para depois enviar para a folha de pagamentos; que “Nenê” não tinha cargo de chefia, sendo funcionária de carreira; que depois de ter constatado que o Dr. João Jorge não estava trabalhando satisfatoriamente na assistência farmacêutica, a questão voltou ao debate, entre a secretaria e o conselho, quando o médico foi chamado novamente; que então o Secretário de Saúde determinou que o mesmo fosse trabalhar fazendo perícia médica, no setor cuja chefe era a Sra. Renata PITTITO, onde também foi frustrante, pois o médico apenas passava por lá; que não se lembra de quem lhe passava as informações, mas que foram obtidas de várias pessoas; que então o Declarante pediu um relatório das atividades do médico para a Sra. Renata

Page 20: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA … · – 20 horas semanais -, previsto na Lei Complementar 01/90,10 constando da ficha funcional que esta nomeação teria decorrido

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Umuarama

R. Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - CEP 87.501.200 – Fone: 44 3266-8302 20 20

PITTITO; que a partir de então houve uma rebeldia por parte do médico, gerando bastante confusão e discussões; que o Declarante não chegou a receber o relatório, acreditando que saiu da Diretoria antes que houve tempo para resposta, houve uma certa protelação do Setor de Vigilância para a elaboração do relatório; que o declarante logo percebeu que houve um desgaste da sua pessoa;”47

Destarte, como se vê, em relação a dois médicos que estavam tendo

o mesmo tipo de problema do requerido JOÃO JORGE HELLÚ, a administração municipal foi mais eficiente, tendo resultado no pedido de exoneração de um e na adequação ao serviço de outro.

Mas em relação ao requerido JOÃO JORGE HELLÚ, cuja situação de

menoscabo já era bem mais antiga, a administração, por decisão do requerido JORGE MAURO JARDIM, então Secretário Municipal de Saúde, foi menos enérgica, tendo adotado medidas meramente paliativas e que, mesmo assim, se revelaram absolutamente ineficazes, posto que não teve nenhum efeito prático sobre o servidor público, que continuou não cumprindo com suas obrigações e afrontando a administração, mormente se opondo às providências que o Diretor de Saúde à época, Sergio Eko, tentou implementar.

Após ter sido designado para o Setor de Assistência Farmacêutica, o

que teria acontecido em janeiro de 200948, mas antes de ser designado para o setor de Vigilância em Saúde, o que teria ocorrido somente em outubro de 2009, o assunto relativo ao requerido JOÃO JORGE HELLÚ voltou a ser debatido no Conselho Municipal de Saúde, isso na reunião do dia 17 de março de 2009, quando estava presente o Secretário Municipal de Saúde, o requerido JORGE MAURO JARDIM, tendo ficado registrado em Ata, no pertinente, o seguinte:

“(...), informa ainda a presidente que o mesmo está a disposição da

SMS 49 para tomar todas as medidas necessárias para que as Instituições prestem atendimento de qualidade aos usuários e continua a mesma – chega de brincadeiras, inclusive os profissionais médicos que não queiram cumprir com a carga horária contratada a exemplo dos profissionais que há tempo, este conselho solicita da administração atitudes cabíveis com o Dr. João Jorge Hellu e o Dr. Gilberto Lopes, este conselho vem acompanhando o desempenho dos mesmos e verificou que não estão prestando serviço conforme preconiza o concurso público prestado, e todo o conselho aprovou voto de aplauso a SMS e delibera que o conselho participe de todas as reuniões com a promotoria e administradores dos Hospitais. O conselheiro Helio informa que cada hospital tem sua responsabilidade, o descredenciamento não é a melhor solução, mas sim a punição pelo descumprimento do credenciamento e os hospitais tem que melhorar o atendimento porque as instalações são boas e a respeito dos dois profissionais mencionados não acredita que a administração pública irá fazer

47 Fl. 3.302 – 16º volume. 48 Fl. 1.196 – 6º Volume. 49 SMS – Secretaria Municipal de Saúde.

Page 21: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA … · – 20 horas semanais -, previsto na Lei Complementar 01/90,10 constando da ficha funcional que esta nomeação teria decorrido

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Umuarama

R. Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - CEP 87.501.200 – Fone: 44 3266-8302 21 21

alguma coisa pois a tempos que faz parte da comissão de finanças e onde a mesma solicitou por diversas vezes providências e não foram ouvidos, Jorge secretario da SMS relata que não é este caminho do descredenciamento que ele quer seguir, mas sim uma outra forma de punição por isso encaminhou a promotoria o relatório da auditoria para que todos juntos poderão tomar atitudes, e em relação aos dois profissionais o Dr. João Jorge vai tirar 3 (três) meses de férias e depois será designado a outro setor da SMS e o Dr. Gilberto Lopes já está a disposição do Recursos Humanos e também informou que está sendo registrado falta por não se apresentar no serviço e solicita ajuda deste conselho para apoiar as atitudes cabíveis ao mesmos, (...)” 50

Diante dessa forte cobrança do Conselho Municipal de Saúde, e

tendo em vista que por conseqüência disso havia a possibilidade de que tivesse de vir a cumprir com suas obrigações de servidor público municipal, podendo ser designado para trabalhar em unidades básicas de saúde, o requerido JOÃO JORGE HELLÚ, optou por um caminho mais cômodo, resolveu tirar férias.

E como a sua ausência não iria fazer falta para a manutenção dos

mesmos níveis na prestação dos serviços da saúde, já que o mesmo efetivamente não prestava qualquer serviço, a administração municipal concordou em lhe conceder reiteradas férias, chegando ao total de 6 (seis) meses de férias consecutivas.

De modo que no período de 23 de março de 2009 a 14 de setembro

de 2009 o requerido JOÃO JORGE HELLÚ gozou férias, que seriam relativas aos seguintes períodos 13/04/2003 a 12/04/2004, 13/04/2004 a 12/04/2005, 13/04/2005 a 12/04/2006, 13/04/2006 a 12/04/2007, 13/04/2007 a 12/04/2008 e 13/04/2008 a 12/04/2009.51 2.3.1.1. A participação da requerida Renata Pittito. Tendo o requerido JOÃO JORGE HELLÚ retornado das férias, e considerando que a sua situação continuava a mesma, em 01 de outubro de 2009 a presidente do Conselho Municipal de Saúde enviou o oficiou 125/2009 ao Secretário Municipal de Saúde, JORGE MAURO JARDIM, solicitando informações acerca do local de lotação e carga horária cumprida pelo servidor.52 A resposta ao expediente foi dada ao Conselho na reunião do dia 20 de outubro de 2009.

Nesse meio tempo, não se sabe exatamente por quais razões, mas

possivelmente por influência direta do próprio JOÃO JORGE HELLÚ e/ou do Prefeito MOACIR SILVA, a chefe da Vigilância em Saúde, divisão vinculada à Secretaria de Saúde, a também requerida RENATA PITTITO, solicitou que o médico JOÃO JORGE HELLÚ fosse designado para trabalhar neste setor, o que foi acolhido pelo então 50 Fl. 484 – 3º volume. 51 Fls. 1.600-1.606 – 9º volume. 52 Fl. 696.

Page 22: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA … · – 20 horas semanais -, previsto na Lei Complementar 01/90,10 constando da ficha funcional que esta nomeação teria decorrido

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Umuarama

R. Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - CEP 87.501.200 – Fone: 44 3266-8302 22 22

secretário JORGE MAURO JARDIM, com posterior anuência do Conselho Municipal de Saúde.

Na reunião do Conselho Municipal de Saúde, ocorrida no dia 20 de

outubro de 2009, quando a administração deveria dar respostas ao ofício 125/2009 do referido Conselho, a requerida RENATA PITTITO esteve presente e chegou a justificar, perante os conselheiros, quanto à supostas necessidades de que a Vigilância em Saúde teria de que o requerido JOÃO JORGE HELLÚ fosse designado para seu setor. Na Ata daquela reunião, constou o seguinte:

“5º Ponto de Pauta: Resposta ao ofício 125/2009; A conselheira

Bernadete Caldeira solicitou do Dr. Jorge [Secretario de Saúde] faça uma vistoria no trabalho realizado pelo Dr. João Jorge. Jorge M. Jardim esclareceu que o Dr. João Jorge estava de férias e quando retornou de férias esta prestando serviços para a Vigilância Sanitária conforme solicitação da Renata e todo dia ele esta indo na Secretaria. Renata informou que a Vigilância necessita muito de um médico para atender os diversos procedimentos como por exemplo, atestado de óbito, solicitação de exames, e solicitou um prazo para informar ao Conselho de todo serviços que está sendo realizado por profissional, pois a demanda é grande e o Dr. Ricardo está sobrecarregado, e todo serviço realizado pelo Dr. João Jorge será relatado ao Conselho, e informou ainda que todos os procedimentos estão sendo registrados e apresentados por escrito junto ao Conselho. O conselho deliberou aprovar a proposta que em fevereiro será apresentado o relatório do serviço prestado por este profissional e o mesmo deverá ser apresentado a cada três meses ao Conselho” 53

Ou seja, conforme constou desta Ata, a requerida RENATA PITTITO,

enquanto Chefe da Vigilância em Saúde, com seus argumentos acerca das supostas necessidades do setor que comandava, influenciou a decisão do Conselho Municipal de Saúde, que acabou concordando com a designação do requerido JOÃO JORGE HELLÚ para trabalhar no referido setor, mesmo sabendo que o seu cargo é de médico clínica básica e que, portanto, continuaria em desvio de função, já que deveria estar fazendo atendimentos dessa natureza.

Inclusive, cabe reiterar, a requerida RENATA PITTITO

comprometeu-se a encaminhar relatórios dos serviços prestados pelo médico na Vigilância em Saúde. O que, por certo, contribuiu para que o Conselho Municipal de Saúde anuísse com a designação.

No entanto, algum tempo depois, o Conselho Municipal de Saúde

constatou que não havia demanda alguma que justificasse a designação de um médico no setor de Vigilância em Saúde e que, portanto, a designação do requerido JOÃO JORGE HELLÚ para este setor apenas contribuiu para que o médico continuasse na mesma situação de ociosidade de que já vinha desfrutando a muito tempo.

53 Fl. 529 – volume 03.

Page 23: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA … · – 20 horas semanais -, previsto na Lei Complementar 01/90,10 constando da ficha funcional que esta nomeação teria decorrido

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Umuarama

R. Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - CEP 87.501.200 – Fone: 44 3266-8302 23 23

As primeiras suspeitas do Conselho neste sentido surgiram na reunião do dia 23 de fevereiro de 2010, quando a conselheira Bernadete Caldeira indagou se a requerida RENATA PITTITO havia sido convidada para comparecer na reunião a fim de prestar contas acerca das atividades do médico JOÃO JORGE HELLÚ, e a conselheira Bernadete Del Mônaco informou que havia feito o convite, mas que RENATA PITTITO não havia comparecido. 54

Então, nesta mesma reunião o Conselho deliberou por oficiar

novamente para a requerida RENATA PITTITO e ao então Secretário de Saúde, o requerido JORGE MAURO JARDIM, solicitando que ambos comparecessem na próxima reunião do Conselho, que se realizaria no dia 23 daquele mês, para prestarem esclarecimentos e apresentarem relatório das atividades exercidas pelo médico JOÃO JORGE HELLÚ. Ofícios esses, que foram expedidos em 18 de março de 2010.55

A resposta da requerida RENATA PITTITO foi o seguinte

comunicado: “Em resposta a solicitação das atividades do profissional João Jorge

Hellu na Vigilância em Saúde, informo que como fora acordado com esse conselho na reunião de 29 de outubro de 2009, a vigilância solicitaria que o mesmo atuasse em relação a atestados de óbitos, (já que o médico atual estava na eminência de se aposentar) e atendimentos de pacientes com Dengue e Gripe A, através de atendimento imediato, prescrição de medicamentos e emissão de atestados de comunicantes. Porém no período de aproximadamente 45 dias que o mesmo este na Divisão, não tivemos maiores intercorrências em relação a essas patologias, já que o último dia de disponibilidade do mesmo para o nosso setor foi em 15 de dezembro. Informo ainda que o mesmo esteve a disposição também para a Vigilância Epidemiológica, para declaração e codificação de óbitos mas nesse setor já possui profissionais que suprem essa atividade.”56

E a resposta do Secretário Municipal de Saúde, JORGE MAURO

JARDIM, foi dada pelo ofício 325/2010, com o seguinte conteúdo: “Em resposta ao ofício nº 011/10, informamos que o profissional

médico Dr. João Jorge Hellu, lotado na Diretoria de Saúde, desde o dia 08/03/2010 na parte da manhã, desenvolve as seguintes atividades:

- realização de pericia médica; - exames admissionais de funcionários da prefeitura na Secretaria

de Saúde.”57

54 Fl. 546 – volume 3. 55 Fl. 739 e 740. 56 Fl. 1.197 – 7º volume. 57 Fl. 1.198 – 7º volume.

Page 24: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA … · – 20 horas semanais -, previsto na Lei Complementar 01/90,10 constando da ficha funcional que esta nomeação teria decorrido

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Umuarama

R. Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - CEP 87.501.200 – Fone: 44 3266-8302 24 24

Em 05 de março de 2010, o Secretário de Saúde JORGE MAURO JARDIM enviou o oficio 293/10 ao Diretor de Recursos Humanos, Luiz Alberto Haiduk, cuja cópia chegou ao Conselho Municipal de Saúde, com o seguinte conteúdo:

“Em resposta ao Ofício nº 062 – DRH e Requerimento nº. 02/2010

da Câmara Municipal de Umuarama, informamos o seguinte: a) O médico e servidor do Município João Jorge Hellu está lotado na

Secretaria Municipal de Saúde / Administração; b) A carga horária é de 20 (vinte) horas semanais; c) Quanto à freqüência consta registro de 16 (dezesseis) faltas no

mês de janeiro de 2010. Não constam faltas nos restantes do período solicitado. No período de 23/03/09 até o dia 12/09/09 esteve em período de férias (acumuladas).

d) Não constam nos arquivos da Secretaria Municipal de Saúde registros de pacientes atendidos pelo profissional no período solicitado;

Esta administração em janeiro de 2009 designou o profissional para Divisão de Farmácia. No mês de março entrou em férias. Em outubro, na reunião do Conselho Municipal de Saúde foi acordado que o profissional fosse designado para a Divisão de Vigilância em Saúde, e que apresentasse relatório das atividades até o mês de fevereiro de 2010, que, no entanto, ficou prorrogado para a próxima reunião ordinária do Conselho Municipal de Saúde a ser realizada no mês de março de 2010. Em 08/03/2010, o profissional foi designado para realizar perícia médica nesta Secretaria no período da manhã.”58

Tendo em vista essas respostas, na reunião do dia 23 de março de

2010 do Conselho Municipal de Saúde, estando presentes os requeridos RENATA PITTITO e JORGE MAURO JARDIM, o assunto foi fortemente debatido, tendo sido consignado em Ata o seguinte:

“Esclarecimentos sobre o profissional médico de saúde;

Luci informa que conforme foi solicitado pela conselheira Bernadete Caldeira o Conselho enviou dois ofícios, um para a Secretaria Municipal de Saúde e outro para a Vigilância em Saúde, solicitando relatório do serviço prestado pelo servidor João Jorge Hellu. Bernadete Del Mônaco fez a leitura do relatório entregue pela Vigilância em Saúde, onde a Renata Pitito (VISA) informa que no período de novembro a dezembro de 2009, aproximadamente 45 dias, foi solicitado que o médico atuasse em relação aos óbitos e atendimento de pacientes com Dengue e Gripe A, porém não teve maiores intercorrencias em relação a essas patologia e na codificação de óbitos já possui um profissional que supre essa atividade, relata que o médico ficou a disposição até o dia 15 de dezembro. A conselheira Bernadete Caldeira questiona Renata Pitito, se ela sabia que tinha um profissional nos óbitos e que não tinha tendo intercorrencias das patologias, porque não colocaram o profissional em outra atividade, ficando ele sem

58 Fl. 1.196 – 6º Volume.

Page 25: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA … · – 20 horas semanais -, previsto na Lei Complementar 01/90,10 constando da ficha funcional que esta nomeação teria decorrido

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Umuarama

R. Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - CEP 87.501.200 – Fone: 44 3266-8302 25 25

fazer nada. Bernadete Del Mônaco lê o ofício 293/10 –SMS, relatando que o mesmo tem carga horária de 20 horas semanais, e em janeiro 2010 foi registrado 16 dias de falta, não consta nos arquivos da Secretaria Municipal de Saúde os registros de pacientes atendidos pelo profissional citado e finalizando, desde o dia 08/03/2010 o profissional esta atendendo perícia médica nesta Secretaria, informa também que foi enviado o oficio 325/10 Secretaria Municipal de Saúde enviando cópia da folha ponto do médico. A conselheira Bernadete Caldeira fala que desde 2008 foi solicitado relatório trimestral das atividades do profissional João Jorge Hellu e solicita relatório trimestral com horários de atendimentos com nome e telefone dos pacientes por ele atendido no setor que ele esta atualmente, e apresentar no Conselho. Dr. Jorge (Secretário a Saúde) propôs entregar relatório mensal das atividades do profissional. A conselheira Antonia questiona sobre as férias acumuladas, não é inconstitucional, como chegou a esse ponto de 06 férias, 06 anos que ninguém viu ou viram e não fizeram nada. O conselheiro José Donizete cita que na unidade de Saúde do Guarani o médico saiu de férias umas três vezes e que há demora na substituição. A conselheira Neusa questiona por que o médico foi designado para um setor que não precisava. As conselheiras Neusa e Antonia questionam por que não colocar o mesmo nas Unidades de Saúde já que não tem médicos suficiente para estar trabalhando ou até mesmo cobrindo as férias dos profissionais que necessitam sair e que não tem outro para supri-los nas férias deixando as unidades sem esse atendimento. Dr. Jorge fala que nada impede do médico João Jorge Hellu esta indo cobrir férias dos profissionais que atendem nas unidades já que ele é contratado como Clínico Geral. Houve uma discussão prolongada a respeito de como cobrar dos profissionais de saúde que cumprem seus horários, principalmente dos médicos e dentistas. Foi lembrado que o plano Municipal contempla implantação de relógios pontos digitais em todas as Unidades de Saúde da Secretária. Dra Ana fala que todos os concurso são iguais para todos, que ao falar de cumprimento de horários aos dentistas eles estão questionando o horário do profissional médico. A conselheira Bernadete Del Mônaco fala que o horário deve ser cobrado para todos os servidores e aqueles que não cumprem deverá ser advertido;” 59

Destarte, depois de ter sido designado para o Setor de Assistência

em Farmácia, onde o requerido JOÃO JORGE HELLÚ teve uma atuação “frustrante”, conforme definição do então Diretor de Saúde Sérgio Eko60, e depois de ter usufruído 6 (seis) meses consecutivos de férias, a administração municipal, então sob o comando do Secretário de Saúde JORGE MAURO JARDIM, contando com a participação da requerida RENATA PITTITO, designou o requerido JOÃO JORGE HELLÚ para atuar no Setor de Vigilância em Saúde, onde, segundo informação da própria RENATA PITTITO, o mesmo teria permanecido apenas 45 (quarenta e cinco) dias, porém sem nenhum trabalho relevante.

59 Fl. 554 – 3º volume.b 60 Depoimento de fl. 3.302 – 16º volume.

Page 26: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA … · – 20 horas semanais -, previsto na Lei Complementar 01/90,10 constando da ficha funcional que esta nomeação teria decorrido

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Umuarama

R. Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - CEP 87.501.200 – Fone: 44 3266-8302 26 26

Destaca-se que a codificação de óbitos, um dos serviços que foi utilizado perante o Conselho como justificativa para que o médico fosse designado para o Setor de Vigilância em Saúde, já era realizado por outro profissional, conforme depois admitiu a própria RENATA PITTITO no comunicado acima transcrito.

Aliás, essa inexistência de trabalho para o médico no Setor de

Vigilância em Saúde, foi confirmada pela própria RENATA PITTITO nas declarações que prestou na Promotoria de Justiça, nos seguintes termos:

“(...) que no período que o Dr. João Jorge esteve atendendo a

Vigilância, o médico não tinha uma sala específica e nem uma mesa, etc.; que o Dr. João Jorge era chamado conforme a necessidade do setor; que o Dr. João Jorge, no período em que este lotado na Vigilância em Saúde, ficou mais ou menos 7 (sete) meses de férias, ou licença premio, sendo certo que neste período não deu suporte nenhum ao setor; que neste período de afastamento do Dr. João Jorge, por motivo de férias ou licença, foi o Dr. Luiz Antonio Melo Costa quem deu suporte ao setor; que no setor não tem nenhum registro dos trabalhos realizados pelo médico, posto que o mesmo não atendia pacientes; que neste período o médico João Jorge não permanecia no setor da Vigilância em Saúde; que naquela época a declarante não fazia o controle de freqüência de nenhum servidor do setor; que também nunca foi responsável pelo controle de freqüência do Dr. João Jorge; que o livro ponto ficava no departamento de recursos humanos; que no período em que o Dr. João Jorge esteve dando suporte técnico para a Vigilância em Saúde, descontando o tempo em que o mesmo esteve de férias ou licenças, o mesmo comparecia todos os dias e perguntava para a declarante se precisava de alguma coisa, e como não havia serviço, o médico ia embora; que neste período o Dr. João Jorge estava à disposição para dar suporte a Vigilância em Saúde com exclusividade; que o Dr. João Jorge esteve a disposição da Vigilância em Saúde por um período muito pequeno de tempo e depois disso ele começou a atender funcionários na sala do Departamento de Recursos Humanos, acredita a declarante de funcionários que estava afastados; que a declarante tem ciência de que neste período em que o Dr. João Jorge esteve à disposição da Vigilância em Saúde, que já havia cobranças do Conselho de Saúde quanto ao trabalho realizado pelo médico, ou seja a declarante já sabia que o mesmo estava tendo problemas de freqüência no trabalho, inclusive com registro em ata do Conselho de Saúde; que a declarante sempre esteve presente nas reuniões do Conselho de Saúde; que o Dr. João Jorge nunca esteve presente nas reuniões do Conselho de Saúde;”61

Cabe observar, ainda, que naquele mesmo comunicado a requerida

RENATA PITTITO informou ao Conselho Municipal de Saúde que o requerido JOÃO JORGE HELLÚ teria permanecido no Setor de Vigilância em Saúde somente até o dia 15 de dezembro de 2009, enquanto o Secretário de Saúde, o requerido JORGE

61 Fl. 3.298 – 16º volume.

Page 27: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA … · – 20 horas semanais -, previsto na Lei Complementar 01/90,10 constando da ficha funcional que esta nomeação teria decorrido

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Umuarama

R. Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - CEP 87.501.200 – Fone: 44 3266-8302 27 27

MAURO JARDIM, também no seu ofício dirigido ao Conselho Municipal de Saúde acima transcrito, informou que o médico JOÃO JORGE HELLÚ tinha sido designado, a partir de 08/03/2010, para desenvolver atividades de “perícia médica” e “exames admissionais de funcionários da prefeitura na Secretaria de Saúde”. 62

Ou seja, segundo essas informações oficiais, prestadas

contemporaneamente ao Conselho Municipal de Saúde, o requerido JOÃO JORGE HELLÚ teria permanecido de 15 de dezembro de 2009 até 07 de março de 2010 sem nenhuma designação específica, vale dizer, sem sequer ter um local onde, formalmente, deveria estar trabalhando. 2.3.1.2. A lotação de JOÃO JORGE HELLÚ no setor de pessoal da Secretaria de Saúde e a inexistência de demanda.

Depois disso, em 15 de março de 2010, o Secretário de Saúde JORGE MAURO JARDIM, em resposta a requisição do Ministério Público, informou que os médicos lotados na Diretoria de Saúde desenvolveriam as seguintes atividades:

“a) João Jorge Hellu: Esta administração em janeiro de 2009

designou o profissional para divisão de farmácia. No mês março a setembro 2009 entrou em férias. Em outubro, na

reunião do Conselho Municipal de Saúde foi acordado que o profissional fosse designada para a Divisão Vigilância em saúde e que apresentasse relatório das atividades ate mês de fevereiro de 2010, que no entanto, ficou prorrogado para a próxima reunião ordinária do Conselho Municipal de Saúde a ser realizada no mês de março 2010 em 08/03/2010, o profissional foi designado para realizar pericia médica e exames admissionais nesta Secretaria no período da manhã.

b) Marcio Tadeu Faria Brasileiro: Realiza pericia Medica e exames admissionais

c) Maria Luiza Fretes Farinha: Realiza auditoria de AIH nos Hospitais d) Sergio Stort: Realiza auditoria nos Hospitais e codificações de

óbitos.” 63 Ou seja, reiterou-se a informação de que a partir de 08 de março de

2010 o requerido JOÃO JORGE HELLÚ teria sido designado para realizar perícias medicas e exames admissionais na própria Secretaria Municipal de Saúde, acrescentando que essas mesmas atividades também eram exercidas por outro médico, o Dr. Marcio Tadeu Faria Brasileiro.

Logo, poderia se supor que existiriam muitas perícias médicas e

exames admissionais para serem realizados, posto que a Administração Municipal mantinha dois profissionais médicos para essas atividades.

62 Fl. 1.198 – 7º volume. 63 Fl. 3.046 – Os erros gramaticais são do original e os trechos sublinhados não.

Page 28: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA … · – 20 horas semanais -, previsto na Lei Complementar 01/90,10 constando da ficha funcional que esta nomeação teria decorrido

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Umuarama

R. Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - CEP 87.501.200 – Fone: 44 3266-8302 28 28

Entretanto, o relatório dos trabalhos que teria sido realizado pelo requerido JOÃO JORGE HELLÚ a partir desse período, elaborado em razão das reiteradas cobranças do Conselho Municipal de Saúde, demonstra que essa suposta elevada demanda efetivamente nunca existiu.

Com efeito, o relatório denominado “Controle De Atendimentos do

DR. JOÃO JORGE HELLU”, que englobaria as atividades de “perícias”, “consultas de rotina”, “exames admissionais”, “atestados para jogos”, “encaminhamentos”, “atendimentos para funcionários da secretaria” e “receitas”, que abrangeu o período de 22 de abril de 2010 a 30 de junho de 2011, demonstra vários períodos, de dias e até meses inteiros, com registro de nenhuma atividade, com a mera indicação da ausência de pacientes, identificada pelo código “s/ pacientes”.64

Esse relatório, de modo resumido, apresenta o seguinte quadro:

Mês / Ano Quantidade de pacientes atendidos pelo Dr. João Jorge Hellú

Abril / 2010 10 (dez) Maio / 2010 26 (vinte e seis) Junho /2010 11 (onze) Julho / 2010 13 (treze) Agosto / 2010 01 (um) Setembro / 2010 11 (onze) Outubro / 2010 00 (zero) Novembro /2010 03 (três) Dezembro / 2010 05 (cinco) Janeiro / 2011 00 (zero) Fevereiro / 201165 01 (um) Março / 2011 11 (onze) Abril / 2011 04 (quatro) Maio / 2011 00 (zero) Junho / 2011 09 (nove)

Fazendo-se um simples cálculo entre o total de pacientes atendidos

e o número de meses do período, chega-se a uma média de 7,4 (sete vírgula quatro) pacientes por mês. Ou seja, neste período, quando esteve lotado diretamente na Secretaria de Saúde, fazendo os tais exames admissionais, atestados médicos, perícias e outros, o requerido JOÃO JORGE HELLÚ atendeu algo em torno de apenas 7 (sete) pessoas por mês.

Atenção, não são sete atendimentos por dia, o que já seria pouco,

mais sim uma média de sete atendimentos por mês. Um verdadeiro absurdo! Esses dados são corroborados pelo depoimento prestado pela

servidora Maria Aparecida Esteves Cardoso, funcionária municipal do Departamento 64 Fl. 3.204-3.223 – 16º volume. 65 Consta que em fevereiro de 2011 o Dr. João Jorge gozou 15 (quinze) dias de férias.

Page 29: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA … · – 20 horas semanais -, previsto na Lei Complementar 01/90,10 constando da ficha funcional que esta nomeação teria decorrido

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Umuarama

R. Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - CEP 87.501.200 – Fone: 44 3266-8302 29 29

de Recursos Humanos, mas que trabalhava dentro da Secretaria de Saúde, e que seria responsável pela elaboração dos boletins de freqüência dos servidores da Secretaria de Saúde para serem encaminhados ao Departamento de Recursos Humanos, a qual declarou o seguinte:

“(...); que o setor em que trabalha não fica no mesmo prédio da

prefeitura, funcionando atualmente no antigo fórum; que o Dr. João Jorge, antes de novembro de 2011, esteve designado para fazer atendimentos de perícias, atestados admissionais e verificação de licença de funcionários que estivessem com atestado de outro médico por mais de três dias; que neste período o Dr. João Jorge comparecia todos os dias no departamento de recursos humanos junto à Secretaria de Saúde; que alguns dias tinham bastante serviço para ele, outros dias tinha pouco serviço e teve dias que não tinha ninguém para o médico atender; que o Dr. João Jorge sempre comparecia por volta das 10h e 30min e permanecia o tempo que fosse necessário quando havia pacientes para ser atendido e quando não tinha nenhum paciente o mesmo ia embora; se tivesse cinco ou seis pacientes, o médico atendia e depois ia embora; que a declarante, nesta época, fazia o controle da freqüência do Dr. João Jorge, assim como dos demais funcionários; (...)”66

Isso, também corresponde ao depoimento do requerido JORGE

MAURO JARDIM, em cujo trecho declarou, “que nesta época em que João Jorge esteve no atendimento das perícias o declarante sempre perguntava aos servidores do setor a quantidade de atendimentos que tinha tido no dia, e sempre haviam poucos pacientes atendidos, e os servidores diziam que o médico João Jorge permanecia no local por cerca de 15 ou 20 minutos; onde comparecia por volta das 11 (onze) horas;”.67

O relatório acima abrange o período de abril de 2010 até junho de

2011, no entanto o requerido JOÃO JORGE HELLÚ teria permanecido fazendo esse trabalho, fisicamente no departamento de recursos humanos junto à Secretaria de Saúde - pois havia um braço do DRH dentro da Secretaria de Saúde -, até o mês de novembro de 2011, quando foi transferido para o recém criado SESMT – Serviço de Medicina do Trabalho, setor que passou a ser responsável por todos esses serviços que então seriam executados pelo requerido JOÃO JORGE HELLÚ e, concomitantemente, também pelo Dr. Marcio Tadeu Faria Brasileiro.

Com efeito, o requerido JOÃO JORGE HELLÚ, contando sempre com

a omissão dolosa dos agentes públicos, permaneceu de 08 de março de 2010 até novembro de 2011, quando esteve designado para atender no Departamento de Recursos Humanos dentro da própria Secretaria de Saúde, nesta cômoda disfunção, com pouquíssimos pacientes para serem atendidos, chegando a passar dias e até meses inteiros, sem ter nenhum paciente, exatamente como era do seu gosto e desejo, já que assim tinha praticamente todo o dia livre para suas atividades

66 Fl. 3.297 – 16º volume. 67 Fl. 3.310 – 16º volume.

Page 30: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA … · – 20 horas semanais -, previsto na Lei Complementar 01/90,10 constando da ficha funcional que esta nomeação teria decorrido

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Umuarama

R. Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - CEP 87.501.200 – Fone: 44 3266-8302 30 30

privadas, sem prejuízo da remuneração que recebia do Município, a qual sempre contava como uma “aposentadoria antecipada”.

Nesse período, no entanto, tendo em conta que a administração

havia se comprometido em apresentar relatório de suas atividades ao Conselho Municipal de Saúde, o requerido JOÃO JORGE HELLÚ tomou o cuidado de comparecer todos os dias no local de trabalho, entre 10h30min e 11h, e permanecer por ali alguns minutos, por certo para se certificar de ter sido visto por alguém, e depois ia embora. 2.3.2. Período do Secretário Cláudio Francisconi da Silva.

Como dito, o requerido JOÃO JORGE HELLÚ permaneceu assim até pelo menos novembro de 2011, quando foi transferido para o recém criado SESMT – Serviço de Medicina do Trabalho -, isso já na gestão do atual Secretário de Saúde, e também requerido, JOSÉ GONÇALVES DIAS NETO.

Entretanto, nesse meio tempo, em junho de 2010, houve alteração

no cargo de Secretário Municipal de Saúde, tendo o requerido JORGE MAURO JARDIM deixado a secretaria, e assumido em seu lugar o também requerido CLÁUDIO FRANCISCONI DA SILVA, que permaneceu no cargo até maio de 2011, conforme suas próprias declarações perante a Promotoria de Justiça.68

Logo, durante todo o período em que o requerido CLÁUDIO

FRANCISCONI DA SILVA ocupou o cargo de Secretário de Saúde, de junho de 2010 a maio de 2011, o requerido JOÃO JORGE HELLÚ esteve naquela cômoda disfunção acima referida, no Departamento de Recursos Humanos junto à Secretaria de Saúde, onde o mesmo permaneceu de março de 2010 até novembro de 2011.

Cabe observar que a Secretaria Municipal de Saúde, desde a gestão

do ex-prefeito LUIZ RENATO, quando era apenas uma Diretoria de Saúde, já funcionava no prédio do antigo Fórum, onde havia o gabinete do Diretor de Saúde e, na gestão de MOACIR SILVA, também do Secretário de Saúde, sendo que neste mesmo local também funcionava aquele braço do Departamento de Recursos Humanos, onde o requerido JOÃO JORGE HELLÚ deveria comparecer todos os dias, para fazer os seus esporádicos atendimentos, ficar por ali alguns minutos para “registrar” presença e depois ir embora.

Portanto, o novo Secretário de Saúde, o requerido CLAÚDIO

FRANCISCONI DA SILVA, quando assumiu, passou a ter permanente contado com essa situação de menoscabo, que já vinha desde antes da sua assunção e continuou depois de sua saída. Não obstante isso, o requerido CLAUDIO FRANCISCONI DA SILVA também não adotou qualquer providência, apesar de ter tomado pleno conhecido da situação de ociosidade do requerido JOÃO JORGE HELLÚ, inclusive

68 F. 3.311 – 16º volume.

Page 31: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA … · – 20 horas semanais -, previsto na Lei Complementar 01/90,10 constando da ficha funcional que esta nomeação teria decorrido

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Umuarama

R. Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - CEP 87.501.200 – Fone: 44 3266-8302 31 31

pelos debates no Conselho Municipal de Saúde, em cujas reuniões, segundo declarou69, compareceu em quase todas.

Inclusive, conforme declaração prestada pela conselheira Bernadete

Fátima Fernandes, o Conselho chegou a pedir ao requerido CLAUDIO FRANCISCONI que designasse o médico JOÃO JORGE HELLÚ para trabalhar nas unidades básicas de saúde, nos seguintes termos:

“(...); que então o conselho solicitou novamente para a Secretaria

de Saúde para que o Dr. João Jorge assumisse suas função em um posto de saúde; que essa nova solicitação do conselho já foi feita para o novo Secretário de Saúde, Cláudio Francisconi, pois o Dr. Jorge Jardim, havia sido demitido; que nesta ocasião o Conselho colocou o Secretário Cláudio Francisconi a par de toda a situação; que então o Dr. João Jorge passou a fazer atendimento (perícias médicas) na própria Secretaria de Saúde, portanto não acolheram o decidido pelo Conselho Municipal de Saúde; que o conselho continuou cobrando os relatórios trimestrais, que então nesses relatórios também foi observado que não havia demanda suficiente para manter o Dr. João Jorge nas perícias da Secretaria; que o Dr. João Jorge deve ter ficado na secretária, fazendo as perícias, entre meados de 2010 até agosto de 2011; que atualmente a declarante não sabe onde o Dr. João Jorge esta trabalhando;(...)”70

Tal fato é confirmado pelo conteúdo da Ata da reunião do Conselho

Municipal de Saúde, ocorrida no dia 19 de outubro de 2010, ou seja, cerca de quatro meses depois de CLAUDIO FRANCISCONI ter assumido a secretaria de saúde, in verbis:

“Relatório dos serviços prestados pelo médico Dr. João

Jorge Hellú: A conselheira Bernadete Caldeira informa a plenária sobre o relatório dos serviços prestados pelo Dr. João Jorge que quase não teve atendimento e que desde julho de 2010 não esta atendendo por não ter paciente, dizendo que isso virou brincadeira pois desde 2007 o Conselho vem batendo em cima e nada é feito, propõe que já que não tem paciente que a Secretaria de Saúde encaminhe para que ele preste serviços nas Unidades de saúde, já que muitas tem problemas por falta de médico, pois não é justo pagar com dinheiro do povo para o médico que não trabalha, lembra ainda que ele é concursado como clinico geral, propondo que seja encaminhado para o fórum a situação do médico com o trabalho. O presidente Valentin cedeu espaço a Secretaria Municipal de Saúde, porém a mesma não quis se manifestar. Aberto a discussão: A conselheira Sirlene fala que ninguém esta aqui por amor partidário e sim pelos SUS, devendo sim ser encaminhado a Promotoria Pública Federal. A conselheira Antonia diz que o descaso da Secretaria de Saúde esta ferindo o princípio da legalidade, pois se fosse com outro profissional que não estivesse

69 Fl. 3.311 – 16º volume. 70 Fl. 3.293 – 16º volume.

Page 32: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA … · – 20 horas semanais -, previsto na Lei Complementar 01/90,10 constando da ficha funcional que esta nomeação teria decorrido

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Umuarama

R. Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - CEP 87.501.200 – Fone: 44 3266-8302 32 32

trabalhando garante que já tinha sido demitido, e apóia sem que ele seja enviado a trabalhar nas Unidades de Saúde que esta faltando médico, acrescenta que a Secretaria de Saúde esta conivente com isso e o Conselho esta aqui aplaudindo, devendo parar por aqui encaminhando o caso para o Ministério Público Federal. A conselheira Bernadete Avelar fala que o relatório que foi feito a respeito do Dr. João Jorge deveria ser de todos pois o Dr. João Jorge não é o único, que tem mais médicos e outros profissionais que fazem a mesma coisa, Bernadete Avelar solicita que a Secretaria de Saúde encaminhe um outro relatório mais detalhados com nomes dos médicos, salário, horários de atendimento e onde estão lotados. O conselheiro Oscar fala que os médicos por ter uma melhor preparação deveriam tratar a saúde melhor. O conselheiro José Donizete informa que quando o conselho ou usuário reclama, como é o seu caso acaba sendo retalhado. Após uma ampla discussão houve uma aprovação de proposta, que foi prejudicada pela retirada da fala do Conselheiro Hélio.”71

Mas não foi somente nesta reunião do Conselho Municipal de Saúde,

ocorrida em outubro de 2010, que formalmente o requerido CLAUDIO FRANCISCONI tomou conhecimento da situação do requerido JOÃO JORGE HELLÚ.

Com efeito, em 25 de fevereiro de 2011, o presidente do Conselho

Municipal de Saúde, Valentin Spancerski, oficiou ao Secretário Municipal de Saúde, o requerido CLAUDIO FRANCISCONI DA SILVA, solicitando, dentre outras coisas, o relatório dos atendimentos realizados pelo médico JOÃO JORGE HELLÚ nos últimos 6 (seis) meses.72

Também teve conhecimento da gravidade do caso em abril de 2011,

quando recebeu o ofício requisitório do Ministério Público, o qual respondeu em 06 de abril de 2011 pelo ofício 335/2011, informando que o médico JOÃO JORGE HELLÚ não estaria prestando qualquer espécie de serviços de Auditoria à Secretaria Municipal de Saúde e que, naquela atualidade, o mesmo estaria designado para realizar perícias médicas, diariamente, junto aos funcionários da Prefeitura Municipal.73

Ou seja, é inegável que o requerido CLÁUDIO FRANCISCONI teve

amplo conhecimento da situação, mas não adotou qualquer providência. Aliás, isso ficou claro em seu próprio depoimento, prestado na Promotoria de Justiça, quando declarou:

“(...); que participava das reuniões do Conselho de Saúde; que no

período que esteve na Secretaria de fato apurou que o Dr. João Jorge não cumpria mesmo a sua carga horária de quatro horas diárias; que quando assumiu como Secretário de Saúde, tendo gabinete de trabalho já no prédio do antigo fórum, onde fica toda a administração da Secretaria de Saúde, o Dr. João Jorge já estava designado para trabalhar lá na assistência ao

71 Fl. 585-586 – 3º volume. 72 Fl. 845 – 5º volume. 73 Fls. 282 – 2º volume.

Page 33: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA … · – 20 horas semanais -, previsto na Lei Complementar 01/90,10 constando da ficha funcional que esta nomeação teria decorrido

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Umuarama

R. Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - CEP 87.501.200 – Fone: 44 3266-8302 33 33

pessoal do município, fazendo perícias médicas, atestados de saúde a servidores, etc.; que quando recebeu a notícia do Conselho de Saúde de que o Médico João Jorge não estaria cumprindo sua carga horária de trabalho, dirigiu-se até o setor de recursos humanos da secretaria, onde indagou à funcionária responsável, Maria Aparecida Cardoso, conhecida por “Nenê”, sobre a veracidade das informações obtidas no Conselho, tendo Nenê respondido ao declarante que o médico João Jorge comparecia todos os dias pela manhã na secretaria e que atendia os pacientes que tivessem presentes e depois ia embora; que o declarante viu o ponto do médico assinado e que chegou a ver, algumas vezes, pessoas que possivelmente estavam esperando, no corredor da secretaria, pelo atendimento do médico, mas que nunca chegou a perguntar a tais pessoas se as mesmas estavam ou não esperando atendimento do médico; que também nunca chegou a pedir os documentos que registravam o efetivo trabalho do médico; que não possuía conhecimento, na época, do dever de instaurar processo de sindicância ou disciplinar para apurar as faltas funcionais do médico João Jorge; que não chegou a comentar com o prefeito acerca da situação do médico João Jorge e que o prefeito também nunca falou com o declarante acerca do caso; que participou de quase todas as reuniões do conselho de saúde; que nessas reuniões do Conselho, nas quais o declarante esteve presente, nunca houve decisão para que o médico João Jorge fosse trabalhar na unidade básica de saúde; que na Secretaria de Saúde existia um assessor jurídico, mas o declarante nunca o consultou acerca do caso e nem se o declarante era quem tinha competência para instaurar processo de sindicância; que o médico João Jorge era pessoalmente mal quisto dentro da secretaria de saúde, nos relacionamentos interpessoais com os demais, e que, inclusive, o declarante chegou a ser questionado por um outro médico do município, em conversa informal, sobre a falta de trabalho do médico João Jorge e o recebimento regular da sua remuneração, e que o referido médico se mostrou indignado; que o declarante pediu para sair da secretaria de saúde por razões diversas da questão ora tratada; que ficou sabendo que outros secretários, antecessores do declarante, tiveram problemas com a situação do Dr. João Jorge e que atualmente, segundo ouviu dizer, a situação permanece a mesma; que tinha conhecimento de que o Dr. João Jorge atendia como anestesista, em caráter particular, no Hospital Cemil, do qual o mesmo é sócio; que nunca teve conhecimento de que o Dr. João Jorge fizesse esses trabalhos em caráter particular no horário da manhã, pois sempre teve informação de que no período da manhã o mesmo ia na secretaria; que desde de janeiro de 2011 já estava com intenção de deixar a secretaria, mas só conseguiu tomar essa decisão em maio de 2011, quando pediu exoneração; (...)”

Ou seja, mesmo ciente, pelas reuniões do Conselho de Saúde e por

outros meios, que o requerido JOÃO JORGE HELLÚ não tinha trabalho nenhum a realizar no setor onde estava lotado, salvo alguns pouquíssimos atendimentos por mês, acerca do que também foi alertado por outro médico, o requerido CLÁUDIO FRANCISCONI apenas limitou-se a verificar, com a funcionária conhecida por “Dona Nenê”, se o médico comparecia ou não na Secretaria de Saúde, e tendo esta lhe dito

Page 34: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA … · – 20 horas semanais -, previsto na Lei Complementar 01/90,10 constando da ficha funcional que esta nomeação teria decorrido

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Umuarama

R. Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - CEP 87.501.200 – Fone: 44 3266-8302 34 34

que o médico comparecia todos os dias pela manhã, não teve nenhuma preocupação em verificar se efetivamente havia ou não demanda de trabalho para o médico, se este cumpria integralmente sua carga horária ou não, e, portanto, foi absolutamente complacente com a situação de ociosidade desfrutada por JOÃO JORGE, que já vinha de longa data.

Destarte, o requerido CLÁUDIO FRANCISCONI DA SILVA, assim

como seus antecessores na Secretaria Municipal de Saúde, os requeridos JORGE MAURO JARDIM, NILSON MANDUCA e GESIMARY AZEVEDO, também foi dolosamente omisso em relação à situação de ociosidade desfrutada pelo requerido JOÃO JORGE HELLÚ, em evidente descaso com os princípios norteadores da administração pública, mormente os da legalidade, da moralidade e da eficiência, causando sérios prejuízos econômicos ao erário e materiais ao serviço público de saúde. 2.3.3. Período do Secretário José Gonçalves dias Neto.

Continuando, em maio de 2011, como dito, CLAUDIO FRANCISCONI DA SILVA também deixou a Secretaria Municipal de Saúde e em seu lugar, no dia 24 de maio de 2011, assumiu o requerido JOSÉ GONÇALVES DIAS NETO.

O requerido JOSÉ GONÇALVES, em depoimento prestado na

Promotoria de Justiça, disse que logo que assumiu a Secretaria de Saúde, em maio de 2011, percebeu a presença de alguns médicos que compareciam no prédio da Secretaria todos os dias, dentre eles o requerido JOÃO JORGE, e que achou o fato estranho porque no local sequer havia consultório médico. Que então, continuou, procurou informações a respeito, sendo informado pela “Dona Nenê” que se tratavam de médicos peritos da prefeitura e da secretaria de saúde, que ali estavam para atender as demandas de perícias medicas do Departamento de Recursos Humanos, mas que não tomou qualquer providência porque essa prática já vinha de outras gestões e que passado algum tempo, por volta de julho/agosto de 2011, começou a estruturar o servido de medicina do trabalho, órgão vinculado ao Departamento de Recursos Humanos e não à Secretaria de Saúde, onde foram lotados aqueles profissionais, os quais, a partir de então, deixaram de ser subordinados à Secretaria de Saúde, passando a responderem diretamente ao Departamento de Recursos Humanos.74

Mas não foi exatamente assim que os fatos aconteceram nesse

período. Posto que o requerido JOSÉ GONÇAVES DIAS NETO, algum tempo depois de ter assumido a Secretaria Municipal de Saúde, possivelmente no mês de agosto de 2011, tomou conhecimento de todo o histórico do requerido JOÃO JORGE HELLÚ, em reunião do Conselho Municipal de Saúde.

Neste sentido, são esclarecedoras as declarações prestadas pela

Conselheira Inês Aparecida Ulian, nos seguintes termos:

74 Fls. 3.316-3.318 – 16º volume.

Page 35: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA … · – 20 horas semanais -, previsto na Lei Complementar 01/90,10 constando da ficha funcional que esta nomeação teria decorrido

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Umuarama

R. Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - CEP 87.501.200 – Fone: 44 3266-8302 35 35

“(...); que todos os secretários municipais, assim que assumiam a secretaria de saúde, eram comunicados pelo conselho acerca da situação do Dr. João Jorge; que o Conselho Municipal de Saúde sempre cobrou dos Secretários de Saúde que o Dr. João Jorge fosse designado para fazer atendimentos nas unidades de saúde, mas isso nunca foi atendido; que tais solicitações e cobranças do conselho foram feitas, segundo lembra a declarante, aos seguintes secretários de saúde: Gesimary Azevedo, Jorge Mauro Jardim, Claudio Francisconi e por último ao José Gonçalves Dias Neto, também foi chamado a uma reunião do Conselho onde o mesmo foi colocado a parte da situação do Dr. João Jorge; que então o Secretário José Gonçalves foi se informar com o Recursos Humanos onde estava trabalhando o Dr. João Jorge, pois o secretário não tinha essa informação, que isso foi a partir de agosto de 2011; que então o Secretário descobriu, segundo informações do Departamento de Recursos Humanos, que o médico Dr. João Jorge estaria à disposição do próprio RH para fazer auditoria dos atestados médicos apresentados pelos servidores públicos; que tal trabalho de verificação da necessidade de afastamento de servidores, por motivo de licença de saúde, estaria sendo feito pelo Dr. João Jorge dentro do Serviço de Segurança e Medicina do Trabalho, vinculado ao próprio RH; que então a secretaria de saúde continuou não emitindo os relatórios das atividades do Dr. João Jorge, desde agosto de 2011 o conselho não recebeu mais tais relatórios; que então, desde agosto de 2011, os relatórios das atividades do Dr. João Jorge deveriam ser emitidos pelo Departamento de Recursos Humanos; que a declarante não esteve na reunião do conselho do dia 15 de maio de 2012, pois estava de licença maternidade, que no entanto ficou sabendo que nesta reunião esteve presente um representante do Departamento de Recursos Humanos, cujo nome não ficou sabendo, o qual disse aos conselheiros que não tinha como emitir relatórios das atividades do médico João Jorge; que tem conhecimento de que o Dr. João Jorge era diretor administrativo do CEMIL, não sabendo se ele ainda exerce essa atividade, também não sabe qual o horário que ele faz trabalho em caráter particular no CEMIL, mas pela carga horária dele no município ele deveria ficar à disposição do Município por quatro horas durante o período da manhã;”

Destarte, o requerido JOSÉ GONÇALVES DIAS NETO, tomou

conhecimento de todo o histórico do requerido JOÃO JORGE, no mês de agosto de 2011, e mesmo assim não procurou saber se efetivamente havia demanda para que o mesmo continuasse lotado no Departamento de Recursos Humanos dentro da Secretaria de Saúde, supostamente fazendo os tais exames admissionais e perícias médicas, juntamente com outros três médicos. Limitou-se a transferir os profissionais para o novo setor que criou, o Serviço de Medicina do Trabalho – SESMT -, órgão vinculado diretamente ao Departamento de Recurso Humanos, para o qual também transferiu a responsabilidade de fiscalizar as atividades dos médicos, inclusive do requerido JOÃO JORGE HELLÚ.

Ou seja, mesmo tendo sido alertado pelo Conselho Municipal de

Saúde acerca da gravidade da situação, o requerido JOSÉ GONÇALVES DIAS NETO,

Page 36: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA … · – 20 horas semanais -, previsto na Lei Complementar 01/90,10 constando da ficha funcional que esta nomeação teria decorrido

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Umuarama

R. Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - CEP 87.501.200 – Fone: 44 3266-8302 36 36

ao invés de procurar verificar se havia demanda suficiente para manter três médicos em tais serviços, que, lembrem-se, permitia ao requerido JOÃO JORGE HELLÚ ficar até meses inteiros sem atender nenhum paciente, preferiu simplesmente transferir o problema para outro setor, o Departamento de Recursos Humanos, a quem transferiu toda a responsabilidade pela fiscalização dos trabalhos desses médicos, como se os mesmos não estivessem subordinados à Secretaria de Saúde.

Tal constatação, aliás, ficou bem evidenciada nas declarações do

próprio Secretário, JOSÉ GONÇAVES DIAS, que em parte se transcreve: “(...) que passado algum tempo, por volta de julho e agosto de

2011, começou a se estruturar o serviço de medicina do trabalho, que era vinculado ao Departamento de Recursos Humanos, e não à Secretaria de Saúde; que a partir de então o Declarante transferiu todos os profissionais relacionados com essa atividade, inclusive os três médicos antes referidos, para o novo Serviço de Medicina do Trabalho, em cujo local, inclusive, foi providenciada instalações adequadas; que desde então aqueles profissionais estão lotados no serviço de medicina do trabalho, vinculado ao Departamento de Recursos Humanos; que os três médicos referidos, são funcionários da Secretaria Municipal, mas cedidos ao referido serviço de medicina do trabalho; que desde então, outubro de 2011, o declarante não tem controle da freqüência desses profissionais ao trabalho, inclusive do Dr. João Jorge, já que essa função passou a ser deste setor de medicina do trabalho, que controla a agenda dos serviços e etc.; que desde que assumiu compareceu em todas as reuniões ordinárias do Conselho Municipal de Saúde, em cujas reuniões, por várias vezes, foi debatido o assunto relativo ao Dr. João Jorge; que então nessas reuniões o Conselho debatia e solicitava informações acerca das atividades exercidas pelo Dr. João Jorge, principalmente quanto aos atendimentos feitos e à demanda do serviço; que o conselho queria saber quantas pessoas o médico atendia, quais questões efetivamente atendia, etc.; que então o declarante apenas esclareceu ao conselho os serviços que o médico estava fazendo e qual era a demanda; (...) que quando o declarante assumiu havia uma solicitação do Conselho de Saúde para que o Município, por meio do Setor de Recursos Humanos, fizesse um acompanhamento detalhado dos atendimentos feitos pelo médico João Jorge, mas que o declarante somente tomou conhecimento disso algum tempo depois através da Conselheira Bernadete; que então o declarante foi verificar e constatou que tal acompanhamento já não estava mais sendo realizado desde que tinha assumido; que não sabe o motivo pelo qual tal acompanhamento deixou de ser feito; que reitera que quando assumiu o Dr. João Jorge já estava prestando serviços no Departamento de Recursos Humanos, fazendo as perícias médicas, que depois foi transferido, fisicamente, para o setor de medicina do trabalho, localizado próximo ao Centro Cultural, onde continuou fazendo os mesmos trabalhos de perícia médica, atestados etc.; que o controle de freqüência do Dr. João Jorge nunca esteve na competência do Declarante, que o mesmo nunca assinou o livro ponto ou folha de freqüência do Dr. João Jorge; que apesar dos debates no conselho em torno da situação do Dr. João Jorge o declarante não

Page 37: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA … · – 20 horas semanais -, previsto na Lei Complementar 01/90,10 constando da ficha funcional que esta nomeação teria decorrido

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Umuarama

R. Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - CEP 87.501.200 – Fone: 44 3266-8302 37 37

procurou saber se havia demanda suficiente para manter o médico na realização dos serviços de perícia junto ao Departamento de Recursos Humanos, até porque esse serviço já vinha sido e executado e instituído a vários anos, fazendo com que o declarante acreditasse que estava correto e naquele momento não tomasse qualquer providência, até porque havia outras questões maiores e mais urgentes para serem resolvidas; que o declarante não fez uma análise mais aprofundada dos serviços que estavam sendo executados pelo Dr. João Jorge, assim como dos demais profissionais, limitando-se a responder as indagações do conselho com base na situação que já estava instituída quando assumiu; que apenas fez a reorganização, transferindo tais profissionais para o Serviço de Medicina do Trabalho – SESMT, assim que o local e sua instalação ficou adequado; (...)”75

Destarte, o requerido JOSÉ GONÇAVES DIAS NETTO, tendo

assumido a Secretaria Municipal de Saúde em maio de 2011, e após ter tomado pleno conhecimento da situação de menoscabo e do histórico de ociosidade do requerido JOÃO JORGE HELLÚ, assim como seus antecessores na Secretaria, também não adotou qualquer providência visando à solução do problema, ao revés, aproveitou a oportunidade de criação e organização do serviço de medicina do trabalho para transferir o problema para o Departamento de Recursos Humanos.

Cumpre registrar que compete à Secretaria de Saúde decidir onde

os profissionais de saúde devem trabalhar, fazendo a seleção dos profissionais e dos locais segundo seus cargos, suas qualificações e, principalmente, visando atender à demanda do serviço público em cada unidade de trabalho. É claro que isso abrange os serviços de medicina do trabalho, mas também é igualmente claro que cabe à Secretaria de Saúde verificar se existe demanda suficiente neste setor para que seja mantido, com exclusividade, um ou mais profissionais da medicina, tendo em vista, principalmente, a grande carência de médicos nas unidades básicas de saúde, conforme já vinha sendo denunciando pelo Conselho Municipal de Saúde ao longo dos anos. 2.4. Resumo geral dos fatos e a participação dos prefeitos Luiz Renato e Moacir Silva.

De tudo quanto foi exposto restou demonstrado que o requerido JOÃO JORGE HELLÚ, sempre desfrutou de uma situação de absoluta ociosidade no serviço público municipal, possibilitando, assim, que exercesse livremente suas atividades particulares de médico anestesista e de sócio-administrador do hospital privado CEMIL.

Também restou comprovado que para isso sempre contou com o

beneplácito, algumas vezes por omissão e outras por ação dolosa de seus superiores hierárquicos e de outros agentes públicos, os requeridos, NILSON MANDUCA, GEISIMARY AZEVEDO, JORGE MAURO JARDIM, RENATA PITTITO, CLAÚDIO

75 Fls. 3.316-3.318.

Page 38: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA … · – 20 horas semanais -, previsto na Lei Complementar 01/90,10 constando da ficha funcional que esta nomeação teria decorrido

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Umuarama

R. Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - CEP 87.501.200 – Fone: 44 3266-8302 38 38

FRANCISCONI DA SILVA e JOSÉ GONÇALVES DIAS NETO. Estes, apesar de reiteradamente alertados e cobrados pelo Conselho Municipal de Saúde, sempre mantiveram o servidor JOÃO JORGE HELLÚ designado para atividades onde não havia demanda suficiente para se manter um médico com exclusividade e em evidente desvio das funções próprias de seu cargo de médico de clínica básica.

Mas não foram apenas esses agentes públicos que tiveram

participação e responsabilidade nos fatos. Com efeito, os prefeitos e requeridos, LUIZ RENATO RIBEIRO DE

AZEVEDO e MOACIR SILVA, também sempre tiveram conhecimento da situação em que se encontrava – e ainda se encontra - o requerido JOÃO JORGE HELLÚ, concorrendo, ainda, para a manutenção desse estado de ociosidade do servidor.

O requerido JOÃO JORGE HELLÚ é servidor do Município de

Umuarama desde o ano de 1992, quando assumiu um cargo de médico clínica básica, tendo sido, inclusive, Secretario Municipal de Saúde na gestão do ex-prefeito ALEXANDRE CERANTO, também nos anos noventa.

Também é público e notório nesta Cidade de Umuarama, que o

requerido JOÃO JORGE HELLÚ há muito tempo é sócio diretor do Hospital Cemil, onde, além das atividades de administrador, comparece diuturnamente para exercer a atividade de médico anestesista.

Ou seja, trata-se de pessoa que reside e trabalha nesta cidade de

Umuarama há muito tempo, e que há mais de 20 (vinte) anos exerce suas atividades privadas e, concomitantemente, ocupa o cargo público de médico, o que é fato público e notório.

Ademais, segundo vários depoimentos prestados na Promotoria de

Justiça, o fato de que o requerido JOÃO JORGE HELLÚ sempre teve tratamento favorecido na Administração Municipal, não tendo obrigação de cumprir carga horária e ficando a maior parte do tempo ocioso, também era de conhecimento notório e corrente dentro da administração municipal, mormente na Secretaria Municipal de Saúde.

Neste sentido, vale conferir os seguintes trechos de alguns dos

depoimentos prestados na Promotoria: “(...) que todos os Secretários de Saúde do Município de Umuarama,

a partir de 2007, tiveram conhecimento da situação do Dr. João Jorge, posto que assim que um novo secretário assumia o conselho comunicava dos fatos, e nenhum deles adotou qualquer providência; que é de conhecimento corrente na Secretaria de Saúde, que o Dr. João Jorge não trabalha, que segundo informações de servidores lotados na Secretaria, quando lá estaria atendendo o médico Dr. João Jorge, o mesmo comparecia para assinar o ponto e vendo que não tinha ninguém para ser atendido ia embora e depois volta para assinar o ponto de saída; que também é de conhecimento público

Page 39: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA … · – 20 horas semanais -, previsto na Lei Complementar 01/90,10 constando da ficha funcional que esta nomeação teria decorrido

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Umuarama

R. Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - CEP 87.501.200 – Fone: 44 3266-8302 39 39

que o Dr. João Jorge é diretor do Hospital Cemil, mas que a declarante não sabe o horário de trabalho dele neste hospital.”76

“(...) que todo mundo na Secretaria de Saúde, funcionários,

diretores e secretários, sabem que o Dr. João Jorge tem problemas com o cumprimento de horário;”77

“(...); que o Prefeito Moacir Silva, tinha conhecimento de toda a

situação; que não pode afirmar se os prefeitos anteriores tinham conhecimento; que o Declarante, juntamente com o Secretário Jorge Mauro Jardim, se reuniram com o Prefeito Moacir Silva, para tratar da questão dos médicos Gilberto Lopes e João Jorge, tendo resolvido, depois, apenas o problema do Dr. Gilberto Lopes; que nesta reunião foi apenas comentado sobre o assunto, que estava sendo cobrado pelo conselho de saúde, que pelo que se lembra nesta reunião o prefeito disse que ‘era pra fazer o que tinha de ser feito’; que então o debate continuou no conselho e, depois dessa reunião, é que o Dr. João Jorge foi encaminhado para fazer as perícias na Secretaria de Saúde; que o declarante não tinha contato direto com o prefeito; que esse contato direto era feito pelo Secretário de Saúde; que o Secretário de Saúde dizia ao declarante que teria conversado com o prefeito acerca do assunto; (...) que aparentemente era de conhecimento amplo, de toda a secretaria de saúde, que o Dr. João Jorge não trabalhava; que o histórico que herdaram era que o Dr. João Jorge se prevalecia do fato de ser sócio do Hospital Cemil para tentar permanecer no status em que já estava acostumado; (...)”78

“(...); que desde que o declarante tem lembrança, enquanto

servidor do município, o Dr. João Jorge sempre esteve no setor de perícias médicas; que era conhecimento público e notório da administração de que o Dr. João Jorge não cumpria o seu horário de trabalho; (...) que o declarante sempre manteve os Secretários de Saúde, tanto o Jorge Jardim, quanto o Cláudio Francisconi da Silva, informados acerca do problema de cumprimento de horários pelos médicos de forma em geral e especificamente do Dr. João Jorge; que então os Secretários diziam ao declarante que tinham notificado os médicos, conversado com eles e que a relutância dos mesmos era grande, e não conseguiam fazer os mesmos cumprir horário; que o Dr. João Jorge nunca deu muita ‘bola’ para as notificações e chamamentos da Secretaria de Saúde, e também do próprio DRH, para o cumprimento de horário; que na época do declarante nunca foi aberto procedimento administrativo; que diretamente nunca algum Secretário disse ao declarante para deixar as coisas como estavam, mas indiretamente, nas entrelinhas isso “ficava no ar”; que, em princípio, caberia à Secretaria de Saúde determinar a instauração de procedimento disciplinar;

76 Bernadete Fátima Fernandes, fl. 3.294. 77 Maria de Lurdes Gianini, fl. 3.296. 78 Sergio Toshihiko Eko, fl. 3.303.

Page 40: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA … · – 20 horas semanais -, previsto na Lei Complementar 01/90,10 constando da ficha funcional que esta nomeação teria decorrido

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Umuarama

R. Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - CEP 87.501.200 – Fone: 44 3266-8302 40 40

que o Prefeito Moacir Silva provavelmente tem conhecimento dessa situação do Dr. João Jorge;(...)”79

Como se denota, diante de tamanha notoriedade dos fatos dentro

da administração pública, mormente dentre os servidores da Secretaria de Saúde e de Recursos Humanos, era praticamente impossível que os prefeitos municipais, os requeridos LUIZ RENATO e MOACIR SILVA, também não tivessem amplo conhecimento dos fatos.

Ademais, conforme declarações do requerido JORGE MAURO

JARDIM, Secretário de Saúde no período de janeiro de 2009 a maio de 2010, o prefeito MOACIR SILVA não só tinha amplo conhecimento dos fatos como também dava – e continua dando - cobertura para a manutenção da situação de ociosidade de que sempre desfrutou o requerido JOÃO JORGE HELLÚ, nos seguintes termos:

“(...) que o Dr. João Jorge disse ao declarante que não ia pedir a

demissão porque esse emprego seria a sua única aposentadoria; que João Jorge também disse ao declarante que não iria trabalhar nos postos de saúde porque não sabia clinicar, já que era anestesista, e que não iria se expor no atendimento básico; que o Dr. João Jorge se negou a ir trabalhar em posto de saúde; que o Prefeito Moacir Silva chegou a pedir para o Declarante, enquanto Secretário de Saúde, que substituísse o Diretor Sérgio Eko, pois a atuação do Diretor estava prejudicando a relação do prefeito com grupos políticos e empresariais de apoio político ao prefeito; que depois disso começou ocorrer uma certa retaliação do prefeito em relação à Secretaria de Saúde, havendo inclusive ingerência do Prefeito na gestão da saúde, em matéria que seria de atribuição do Secretário; que inclusive, em audiências com o prefeito, o mesmo dava muito pouco tempo para as questões da saúde; que algum tempo depois, em decorrência dessas questões, o declarante pediu para deixar a Secretaria de Saúde e levou consigo o Diretor de Saúde Sergio Eko, pois sabia que ambos, mais cedo ou mais tarde, seriam exonerados; que antes disso, inclusive, o prefeito tomou para si a gestão financeira da Secretaria de Saúde, chegando a utilizar indevidamente recursos dos repasses federais específicos para determinados programas em fins diversos, como por exemplo, pegou recursos da média complexidade e usou na atenção básica; (...); que é de conhecimento público que o Dr. João Jorge tinha e tem ligações comerciais com o Prefeito, por intermédio da Imobiliária Morena, que inclusive a Morena está fazendo a construção de reforma e ampliação do Hospital Cemil, onde João Jorge é sócio; que à época o prefeito chegou a dizer que o Dr. João Jorge era cliente da imobiliária, pois o mesmo comprava apartamentos da imobiliária; que certa ocasião veio um contrato da Secretaria de Administração para o declarante assinar, o qual tratava da renovação de contrato de aluguel de um prédio onde funcionava a merenda escolar, localizado próximo ao INSS, de propriedade do médico João Jorge, ou de sua família, que o médico dizia ser a pensão de sua mãe; que então o

79 Luiz Alberto Haiduk, fl. 3.306.

Page 41: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA … · – 20 horas semanais -, previsto na Lei Complementar 01/90,10 constando da ficha funcional que esta nomeação teria decorrido

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Umuarama

R. Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - CEP 87.501.200 – Fone: 44 3266-8302 41 41

declarante questionou a contratação, pois sabia que a merenda escolar já não funcionava mais lá, mas acabou assinando o contrato porque havia pressão do prefeito, que dizia tratar-se de negócio do grupo; que o prefeito sempre falava desse grupo de apoio, que seria de apoio político e empresarial; que toda vez que o declarante ia questionar alguma coisa, o prefeito falava desse grupo de apoio; (...); que o declarante tentou instaurar uma sindicância contra o Dr. João Jorge, mas foi barrado pela Secretaria de Administração, que relutava em fazer isso; (...);”80

O seja, o prefeito e requerido MOACIR SILVA sempre teve

conhecimento de que o requerido JOÃO JORGE HELLÚ encarava o seu cargo de médico municipal como um “cabide de emprego” ou um “bico”81, e que o mesmo não trabalhava e não pretendia trabalhar, mas ao invés de adotar as providências legais cabíveis, determinando aos seus subalternos, principalmente aos Secretários de Saúde, que instaurassem o competente procedimento disciplinar, passou a acobertar o comportamento do servidor.

Adotou essa postura tendo em conta o benefício particular que isso

poderia lhe proporcional, já que o servidor JOÃO JORGE HELLÚ, como reiteradamente mencionado, é sócio diretor do Hospital Cemil, talvez o maior centro médico materno infantil da região de Umuarama82, e, como tal, poderia não só lhe dar apoio político como também firmar lucrativos negócios por meio de sua empresa, a Imobiliária e Construtora Morena, como de fato esta ocorrendo, já que atualmente, como é de conhecimento público, o referido Hospital Cemil está passando por grande ampliação, com a construção de uma nova ala, cujas obras são executadas exatamente pela construtora de propriedade do prefeito MOACIR SILVA.

3. FUNDAMENTOS DE DIREITO. A Constituição Federal prescreve, em seu artigo 37, que “a administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência”.

80 Fls. 3.308-3.310 – 16º volume. 81 Cf. Dicionário Aurélio: Pop. Pequenos ganhos avulsos e/ou tarefa ocasional que os possibilita; biscate, galho. 82 Conforme consta no site do próprio Hospital, http://www.hospitalcemil.com.br/historia.php, acessado em 12.06.2012: “Trinta anos depois, hoje o Cemil é um dos centros de saúde consagrados como referência, equipado com tecnologia de Medicina de Primeiro Mundo e com uma equipe com mais de cem médicos e duzentos funcionários. Possui duas modernas UTIs (adulto e infantil/neonatal), pronto socorro com tomografia, Ala da Mulher e Ala Masculina (inéditos), além de um moderno centro cirúrgico com aparelhos de última geração. O atual Cemil ocupa uma área de sete mil metros quadrados construída em uma das áreas mais nobres da cidade. Todas as realizações e a história de três décadas do Cemil, este 'gigante pela própria natureza' mereceram inúmeras comemorações anfitrionadas pela atual diretoria do Cemil: os médicos João Jorge Hellú, diretor geral; Jansen Rodrigues Ferreira, diretor clínico; Guilherme Schimitt, diretor administrativo; e Luis Lucacin, diretor financeiro.”

Page 42: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA … · – 20 horas semanais -, previsto na Lei Complementar 01/90,10 constando da ficha funcional que esta nomeação teria decorrido

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Umuarama

R. Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - CEP 87.501.200 – Fone: 44 3266-8302 42 42

Essa norma da Constituição Federal é reproduzida pela Lei Orgânica do Município de Umuarama, com omissão apenas ao princípio da eficiência, nos seguintes termos:

“Art. 79 - A administração pública direta e indireta, de qualquer dos Poderes do Município, obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e, também, ao seguinte:”

Ainda, a Lei Federal 8.429/92, conhecida por “Lei de Improbidade Administrativa”, preconiza em seu artigo 4º que:

“Os agentes públicos de qualquer nível ou hierarquia são obrigados a velar pela estrita observância dos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade e publicidade no trato dos assuntos que lhes são afetos.”

Assim, seja por força direta da própria Constituição Federal, ou da Lei Orgânica do Município de Umuarama, como também da Lei de Improbidade Administrativa, de aplicação nacional, todos os agentes públicos do Município de Umuarama e de qualquer dos entes da Federação Brasileira, estão juridicamente vinculados e obrigados a cumprir, a respeitar e fazer cumprir os princípios da legalidade, da impessoalidade, da moralidade e, também, da eficiência. Com efeito, tais princípios constituem a base do ordenamento constitucional, são os mandamentos nucleares do nosso sistema83. Por isso, o mestre maior do Direito Administrativo Brasileiro na atualidade, o Professor CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELLO, consigna que:

“Violar um princípio é muito mais grave que transgredir uma norma qualquer. A desatenção ao princípio implica ofensa não apenas a um específico mandamento obrigatório, mas a todo o sistema de comandos. É a mais grave forma de ilegalidade ou de inconstitucionalidade, conforme o escalão do princípio atingido, porque representa insurgência contra todo o sistema, subversão de seus valores fundamentais, contumélia irremissível a seu arcabouço lógico e corrosão de sua estrutura mestra.” (grifou-se) 84

Destarte, todos os requeridos da presente ação civil pública estão submetidos a esse regime jurídico e, como tal, deveriam se comportar como obsequiosos cumpridores desses princípios máximos norteadores da Administração Pública, deles não podendo descurar, afrontar ou violar, sob pena de sofrerem as respectivas conseqüências, previstas nas legislação nacional, aplicável a todos os entes públicos, e também as previstas na legislação do Município de Umuarama.

83 - LUÍS ROBERTO BARROSO, citando Celso Antônio Bandeira de Mello, Interpretação e Aplicação da Constituição, 3ª ed., São Paulo: Ed. Saraiva, 1999, p. 148-149. CELSO RIBEIRO BASTOS, Curso de Direito Constitucional, 12ª ed., São Paulo: Ed. Saraiva, 1990, p. 138. MÁRCIA HAYDÉE PORTO DE CARVALHO , Hermenêutica Constitucional, Florianópolis: Ed. Obra Jurídica, 1997, p. 57. 84 - CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELLO , Curso de Direito Administrativo, 26ª ed., São Paulo: Malheiros, Ed., 2008, p. 114.

Page 43: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA … · – 20 horas semanais -, previsto na Lei Complementar 01/90,10 constando da ficha funcional que esta nomeação teria decorrido

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Umuarama

R. Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - CEP 87.501.200 – Fone: 44 3266-8302 43 43

Entretanto, não é isso que aconteceu e continua acontecendo na administração do Município de Umuarama.

Ao revés, os requeridos, inicialmente arrolados, com suas condutas

dolosas, comissivas e omissivas, acima exaustivamente narradas, afrontaram, violaram, desprezaram, e simplesmente ignoram – e, alguns deles, ainda continuam afrontando e desprezando - todos esses princípios, em especial, a legalidade, a moralidade, a impessoalidade e a eficiência. Estando, portanto, sujeitos a suportarem as sanções legais decorrentes de suas condutas ímprobas.

3.1. A violação ao princípio da legalidade e a conseqüente configuração de atos de improbidade administrativa nas modalidades de enriquecimento ilícito e de causar dano ao erário. Ao abordar o princípio da legalidade, o respeitado jurista CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELLO, leciona:

"Este é o princípio capital para a configuração do regime jurídico-administrativo.

(...) ... já que o Direito Administrativo (pelo menos aquilo que como tal

se concebe) nasce com o Estado de Direito: é uma conseqüência dele. É o fruto da submissão do Estado à lei. É em suma: a consagração da idéia de que a Administração Pública só pode ser exercida na conformidade da lei e que, de conseguinte, a atividade administrativa é atividade sublegal, infralegal, consistente na expedição de comandos complementares à lei. (12. Cf. Renato Alessi, ob. cit., p.4).

Instaura-se o princípio de que todo poder emana do povo, de tal sorte que os cidadãos é que são proclamados como os detentores do poder. Os governantes nada mais são, pois, que representantes da sociedade.

(...) Assim, o princípio da legalidade é o da completa submissão

da Administração às leis. Esta deve tão-somente obedecê-las, cumpri-las, pô-las em prática.

O princípio da legalidade, no Brasil, significa que a Administração nada pode fazer senão o que a lei determina.” (destacou-se)

E mais adiante, de maneira incisiva, acrescenta:

“Com efeito, enquanto na atividade privada pode-se fazer tudo o

que não é proibido, na atividade administrativa só se pode fazer o que é permitido". 85 (destacou-se)

85 - CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELLO , Curso de Direito Administrativo, 12ª edição, São Paulo: Editora Malheiros, 2000, p. 71, 75 e 749).

Page 44: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA … · – 20 horas semanais -, previsto na Lei Complementar 01/90,10 constando da ficha funcional que esta nomeação teria decorrido

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Umuarama

R. Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - CEP 87.501.200 – Fone: 44 3266-8302 44 44

Ou seja, por força de princípio constitucional da legalidade, o Administrador Público somente pode fazer aquilo que a lei expressamente o autorizar.86 Enquanto o particular pode fazer tudo que a lei não proibiu, os agentes públicos somente podem atuar quando e na forma preconizada pela lei.87 3.1.1. No entanto, conforme acima exaustivamente exposto e comprovado, o requerido JOÃO JORGE HELLÚ, servidor público municipal titular de um cargo efetivo de médico clínica básica, não cumpre sua carga horária de 20 (vinte) horas semanais, desde antes do ano de 2007, e continua não cumprindo até os dias atuais, e ainda prestava - e continua prestando - serviços médicos particulares de anestesista e exercendo a função de sócio-diretor do hospital privado Centro Materno Infantil Ltda., nos mesmos períodos em que deveria estar trabalhando para a população do Município de Umuarama, principalmente em uma unidade básica de saúde.

Assim agindo, o requerido JOÃO JORGE HELLÚ descumpriu, e continua descumprindo, com habitualidade, suas obrigações de servidor público municipal, quanto à assiduidade e, também, quanto à vedação do exercício de atividade privada em horário incompatível com o serviço público.

Com efeito, a Lei Complementar nº 18/92, que institui o regime

jurídico dos Servidores Públicos do Município de Umuarama, dispõe:

Art. 128. São deveres do servidor: (..) X – ser assíduo e pontual ao serviço. Art. 129. Ao servidor é proibido: I – ausentar-se do serviço durante o expediente, sem prévia

autorização do chefe imediato; (...) XV – Exercer quaisquer atividades que sejam incompatíveis

com o exercício do cargo ou função e com o horário de trabalho. 88

86 - A respeito: HELY LOPES MEIRELLES , Direito Administrativo Brasileiro, 25ª ed., São Paulo: Malheiros Ed., 2000, p. 82. CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELLO , Curso de Direito Administrativo, 9ª ed., São Paulo: Malheiros Ed., 1997, p. 36, 37, 59-60 e 63. MARIA SYLVIA ZANELLA DI PIETRO , Direito Administrativo, 6ª ed., São Paulo, Ed. Atlas, 1996, p. 61. DIOGENES GASPARINI , Direito Administrativo, 3ª ed., São Paulo: Ed. Saraiva, 1993, p. 6. LÚCIA VALLE FIGUEIREDO , Curso de Direito Administrativo, São Paulo, Malheiros Ed., 1994, p. 32. MIGUEL REALE , Revogação e Anulamento do Ato Administrativo, 2ª ed., Rio de Janeiro: Ed. Forense, 1980, p. 29. PINTO FERREIRA , Comentários à Constituição Brasileira, 2º vol., São Paulo: Ed. Saraiva, 1990, p. 362. CELSO RIBEIRO BASTOS, Comentários à Constituição do Brasil, 3º vol., tomo III, São Paulo: Ed. Saraiva, 1992, p. 25-26 e 32. ALEXANDRE DE MORAES , Direito Constitucional, 5ª ed, São Paulo: Ed. Atlas, 1999, p. 288. JOSÉ EDUARDO MARTINS CARDOZO , Princípios Constitucionais da Administração Pública (de acordo com a Emenda Constitucional nº 19/98), in: Os Dez anos da Constituição Federal, coordenador Alexandre de Moraes, Ed. Atlas, 1999, p. 153. 87 - HELY LOPES MEIRELLES , Direito administrativo brasileiro, 29 ed., São Paulo: Editora Malheiros, 2004, p. 88. 88 Fl. 2.513 – 13º volume.

Page 45: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA … · – 20 horas semanais -, previsto na Lei Complementar 01/90,10 constando da ficha funcional que esta nomeação teria decorrido

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Umuarama

R. Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - CEP 87.501.200 – Fone: 44 3266-8302 45 45

O requerido JOÃO JORGE HELLÚ, violou e continua violando as normas acima arroladas do Estatuto dos Servidores Públicos do Município de Umuarama, estando sujeito, portanto a sofrer a pena demissão por inassiduidade habitual, nos termos do artigo 143, combinado com artigo 149, do mesmo estatuo:

Art. 143. A demissão será aplicada nos seguintes casos: III – inassiduidade habitual; Art. 149. Entende-se por inassiduidade habitual a falta ao serviço,

sem causa justificada, por sessenta dias, interpoladamente, durante o período de doze meses.

Ou seja, o servidor que, sem justa causa, faltar ao serviço por

sessenta dias corridos ou alternadamente, durante um período de doze meses, comete inassiduidade habitual e deve ser demitido, por justa causa, do serviço público municipal.

Lembre-se que, conforme conclusões a que chegou o Conselho

Municipal de Saúde, no ano de 2007, o requerido JOÃO JORGE HELLÚ realizou apenas 06 (seis) procedimentos. Ou seja, ainda que tenha comparecido ao serviço um dia para cada procedimento, o mesmo compareceu ao trabalho apenas por 06 (seis) dias no ano de 2007.

Também conforme apurado pelo Conselho Municipal de Saúde, isso

com base em relatório de atividade elaborado pela própria Secretaria Municipal de Saúde, no período de fevereiro a agosto de 2008, o requerido JOÃO JORGE HELLÚ teria atendido apenas 25 (vinte e cinco) pacientes, dos quais, após diligências realizadas pelo próprio Conselho, apurou-se que somente 07 (sete) efetivamente tinham sido atendidos pelo requerido.

Na melhor das hipóteses, nos anos de 2007 e 2008, portanto

durante 24 (vinte e quatro) meses, o requerido JOÃO JORGE HELLÚ realizou, em médica, 5 ou 6 (cinco ou seis) anestesias por mês, na clínica RX Zukovsk, conforme narrou a servidora da Divisão de Média e Alta Complexidade responsável pelo agendamento desses procedimentos.

Destarte, é mais do que óbvio, que no período de 2007 e 2008, o

requerido JOÃO JORGE HELLÚ não comparecia ao serviço por longos períodos de tempo, cuja soma, a toda evidência, extrapola em muito o prazo legal de 60 (sessenta) dias interpolados no prazo de 12 (doze) meses.

Nem se argumente que neste período o requerido estaria à

disposição do serviço público municipal no período de 4 (quatro) horas diárias ou 20 (vinte) semanais, e que somente realizou aqueles pouquíssimos procedimentos na clínica RX Zukovsk porque não havia maior demanda e porque a administração municipal não o designava para outras atividades. Tal argumento, que pode ser utilizado pela defesa, não se sustentaria na medida em que o requerido JOÃO JORGE HELLÚ, nesse mesmo período, exerceu – e continua exercendo - atividades privadas

Page 46: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA … · – 20 horas semanais -, previsto na Lei Complementar 01/90,10 constando da ficha funcional que esta nomeação teria decorrido

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Umuarama

R. Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - CEP 87.501.200 – Fone: 44 3266-8302 46 46

incompatíveis com o seu horário de trabalho, posto que, diuturnamente, comparece no Hospital CEMIL, como médico anestesista associado para realizar procedimentos anestésicos, tudo conforme restou comprovado na medida cautelar inominada nº 008.120/2011.

Ou seja, não há como se imaginar que o mesmo estivesse à

disposição da Administração Pública durante as 4 (quatro) horas diárias, posto que comparecia – e continua comparecendo - praticamente todos os dias, nos mais variados horários, para a realização de inúmeros procedimentos anestésicos como médico associado do hospital privado Cemil.

Tanto não estava integralmente à disposição do serviço público,

durante seu horário de expediente, que em algumas ocasiões não compareceu na Clínica RX Zukovsk para realizar procedimento anestésico, mesmo tendo agendado previamente o dia e o horário com a servidora responsável, a Senhora Maria de Lurdes Gianini.

Aliás, o próprio fato de ter que agendar o dia e o horário para

realização de suas obrigações de servidor público municipal, por si só já demonstra que o requerido não estava integralmente à disposição do Município de Umuarama no período de 4 (quatro) horas diárias. Posto que se estivesse bastaria que a servidora responsável marcasse o horário apenas com os pacientes e com a Clínica RX Zukovsk sempre no horário de expediente do servidor e, este, como era de sua obrigação, deveria comparecer sem fazer qualquer ressalva ou oposição.

Ainda, a mesma inassiduidade habitual e o concomitante exercício

de atividades privadas em horário incompatível com o expediente de trabalho no serviço municipal continuaram sendo praticadas pelo requerido JOÃO JORGE HELLÚ nos anos seguintes, de 2009 até os dias atuais.

Para caracterizar os 60 (sessenta) dias, interpolados, no prazo de 12

(doze) meses, basta observarmos que, nos termos do relatório de atendimentos elaborados pela Secretaria de Saúde,89 nos meses de outubro de 2010 e janeiro e maio de 2011, o requerido JOÃO JORGE HELLÚ não atendeu nenhum paciente sequer pelo Município de Umuarama, ficando durante noventa dias, ou três meses inteiros, sem fazer absolutamente nada.

Destarte, o requerido JOÃO JORGE HELLÚ, desde o ano de 2007 e

até os dias atuais, reiteradamente, vem descumprindo com seu dever de assiduidade e pontualidade no serviço público municipal, e, concomitantemente, vem se ausentado do local de trabalho para exercer atividades privadas incompatíveis com o horário de seu expediente, em flagrante violação ao artigo 128, inciso X, e ao artigo 129, incisos I e XV, da Lei Complementar 18/92, que institui o Estatuto dos Servidores Públicos do Município de Umuarama. Conduta essa, que configura inassiduidade habitual e, por conseguinte, impõe a pena de demissão do serviço público.

89 Fl. 3.204-3.223 – 16º volume.

Page 47: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA … · – 20 horas semanais -, previsto na Lei Complementar 01/90,10 constando da ficha funcional que esta nomeação teria decorrido

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Umuarama

R. Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - CEP 87.501.200 – Fone: 44 3266-8302 47 47

3.1.2 Mas além de configurar inassiduidade habitual, e de se sujeitar à pena de demissão, com essas mesmas condutas o requerido JOÃO JORGE HELLÚ também praticou – e continua praticando – ato de improbidade administrativa que importa em enriquecimento ilícito, nos termos do artigo 9º, caput, da Lei Federal 8.429/92:

“Art. 9º Constitui ato de improbidade administrativa

importando enriquecimento ilícito auferir qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida em razão do exercício do cargo, mandato, função, emprego ou atividade nas entidades mencionadas no art. 1º desta Lei, e notadamente:”

Com efeito, o requerido JOÃO JORGE HELLÚ, conforme se apurou,

desde o ano de 2007 e até os dias atuais, em especial no período janeiro de 2007 até agosto de 2011, no qual ficou comprovado pela perícia realizada em sede de medida cautelar, exerceu atividades privadas, por reiteradas vezes, praticamente todos os dias, durante o horário de expediente no qual deveria estar à disposição do serviço público municipal que o remunera.

Ou seja, apesar de regularmente remunerado pelo Município de

Umuarama, o requerido JOÃO JORGE HELLÚ nunca permaneceu integralmente à sua disposição durante as 04 (quatro horas) diárias ou 20 (vinte) semanais a que estava obrigado, causando, assim, evidente prejuízo ao erário e seu concomitante enriquecimento ilícito, posto que obteve evidente vantagem econômica indevida.

Ora, se por força do regime jurídico a que estava submetido, o

requerido JOÃO JORGE HELLÚ percebe determinada remuneração do erário para trabalhar durante 04 (quatro) horas diárias ou 20 (vinte) horas semanais, o simples fato de não permanecer integralmente à disposição do serviço público durante esse tempo, já é o suficiente para caracterizar o dano erário, na medida em que o Município pagava, e sempre pagou, por uma mão-de-obra (ou força de trabalho) que efetivamente nunca esteve à sua disposição no período regulamentar.

Assim, o requerido JOÃO JORGE HELLÚ, na medida em que sempre

recebeu sua remuneração e, em contrapartida, ao menos no período de 2007 até agosto de 2011, não permanecia durante quatro horas diárias ou vinte horas semanais, à disposição do Município de Umuarama, ao revés, desempenhava, diuturnamente, atividade privada, enriqueceu-se ilicitamente e praticou, reiteradamente, o ato de improbidade administrativa capitulado no artigo 9, caput, da Lei 8.429/92.

Logo, além de estar sujeito a pena de demissão, prevista no

estatuto dos servidores públicos de Umuarama, o requerido JOÃO JORGE HELLÚ também esta sujeito a suportar as sanções do artigo 12, I, da Lei de Improbidade Administrativa, conforme pedidos adiante formulados.

Page 48: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA … · – 20 horas semanais -, previsto na Lei Complementar 01/90,10 constando da ficha funcional que esta nomeação teria decorrido

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Umuarama

R. Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - CEP 87.501.200 – Fone: 44 3266-8302 48 48

3.1.3. Já os requeridos LUIZ RENATO RIBEIRO DE AZEVEDO, MOACIR SILVA, GESIMARY DE SANTI AZEVEDO, NILSON MANDUCA, JORGE MAURO JARDIM, CLAUDIO FRANCISCONI DA SILVA, JOSE GONÇALVES DIAS NETO, enquanto agentes públicos do Município de Umuarama, os dois primeiros na condição de prefeito, e os demais enquanto titulares de cargos de provimento em comissão de Secretário Municipal de Saúde ou de Diretor de Saúde, todos superiores hierarquicamente ao servidor JOÃO JORGE HELLÚ, também violaram o princípio da legalidade, na medida em que foram coniventes com a situação de ociosidade e de inassiduidade habitual em que sempre se encontrou o requerido JOÃO JORGE HELLÚ, e, apesar de por várias vezes alertados e cobrados pelo Conselho Municipal de Saúde, mantinham referido servidor em desvio de função, designando-o para local e/ou atividade que, além de incompatíveis com seu cargo de médico clínica básica, não tinha demanda suficiente para ocupar os serviços de um médico durante 4 (quatro) horas diárias, proporcionando, assim, a situação de privilégio da qual o mesmo sempre desfrutou.

Com efeito, o mesmo Estatuto dos Servidores Públicos do Município

de Umuarama, instituído pela Lei Complementar 18/92, prescreve: Art. 150. As penalidades disciplinares serão aplicadas: I – pelo chefe do Poder Executivo, pelo Presidente do Poder

Legislativo e Diretores de autarquias e fundações; II – pelos Secretários; (fl. 2.517).

Art. 152. A autoridade que tiver ciência de irregularidades

no serviço público é obrigada a promover a sua apuração imediata, através de sindicância, assegurada ao acusado ampla defesa.

Ou seja, competia – e continua competindo – a esses requeridos, os dois primeiros enquanto Chefes do Poder Executivo, e os demais, como Secretários de Saúde - inclusive o requerido NILSON MANDUCA, cujo cargo de Diretor na gestão passada tinha status e poder de Secretário de Saúde – a obrigação legal de adotar providências e promover a imediata apuração das faltas funcionais cometidas pelo requerido JOÃO JORGE HELLÚ.

Além de violação dessas normas do Estatuto dos Servidores Públicos, os requeridos GESIMARY DE SANTI AZEVEDO, JORGE MAURO JARDIM, CLAUDIO FRANCISCONI DA SILVA, JOSE GONÇALVES DIAS NETO, enquanto Secretários Municipais de Saúde, também descumpriram suas obrigações estatuídas na Lei Complementar 147/2005, que organiza a estrutura administrativa do Município de Umuarama, cujos dispositivos pertinentes rezam:

“Art. 53. Além de suas atribuições próprias especificadas nesta Lei, compete, ainda, aos Secretários:

I – exercer a Administração, orientar, coordenar e fiscalizar os trabalhos dos órgãos que lhe são subordinados;

(...)

Page 49: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA … · – 20 horas semanais -, previsto na Lei Complementar 01/90,10 constando da ficha funcional que esta nomeação teria decorrido

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Umuarama

R. Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - CEP 87.501.200 – Fone: 44 3266-8302 49 49

VIII – determinar a realização de sindicâncias para apuração sumária de faltas e irregularidades e propor a instauração de processos administrativos;”

E o requerido NILSON MANDUCA, enquanto Diretor de Saúde, também descumpriu o artigo 54 da mesma Lei Complementar 147:

“Art. 54. Além de suas atribuições próprias, especificadas nesta Lei, compete ainda, aos Diretores de Departamento, Assessores e Coordenadores:

II – propor a aplicação de medidas disciplinares que excederem a sua competência e aplicar aquelas que forem de sua alçada, nos termos da legislação vigente, aos servidores que lhes forem subordinados;

VIII – fazer cumprir, rigorosamente, o horário de trabalho do pessoal a seu cargo;”

No entanto, mesmo reiteradamente alertados e cobrados pelo Conselho Municipal de Saúde, esses requeridos, titulares de cargos de Prefeito Municipal, Secretário e Diretor de Saúde, não só foram omissos quanto ao dever legal de determinar a instauração de sindicância e ou de procedimento administrativo disciplinar, como também, deliberadamente, mantinham o servidor JOÃO JORGE HELLÚ em situação de ociosidade, designando-o ou mantendo-o designado para funções diversas das atividades próprias do cargo de médico clínica básica e acerca das quais praticamente inexistia demanda que ocupasse sua força de trabalho todos os dias durante as quatro horas de seu regime.

Com suas condutas, portanto, ora omissivas, ora comissivas, esses requeridos, plenamente cientes de suas condutas, criaram e mantiveram a situação de privilegiada ociosidade na qual o requerido JOÃO JORGE HELLÚ sempre se encontrou, possibilitando, assim, que o mesmo exercesse livremente suas atividades particulares de médico anestesista e de sócio-administrador do hospital privado CEMIL – Centro Médico Materno Infantil Ltda. -, causando evidente prejuízo ao erário, que pagava a remuneração do médico e não tinha a contraprestação do seu trabalho.

Especificamente quanto a requerida RENATA PITTITO, cabe

registrar que enquanto Chefe da Divisão de Vigilância em Saúde a mesma não tinha o poder de determinar o local de trabalho do requerido JOÃO JORGE HELLÚ, como também não tinha poder de adotar providências em face das reiteradas cobranças do Conselho Municipal de Saúde.

No entanto, conforme exposto no item 2.2.1.1 acima, a requerida

RENATA PITTITO, em outubro de 2009, solicitou ao Secretário de Saúde, JORGE MAURO JARDIM, a designação do médico JOÃO JORGE HELLÚ para atuar no setor de Vigilância em Saúde, e também influenciou o Conselho Municipal de Saúde para que anuísse com a designação, mesmo ciente de que naquele local não havia demanda de trabalho para o médico, conforme ela mesma, dias depois, admitiu

Page 50: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA … · – 20 horas semanais -, previsto na Lei Complementar 01/90,10 constando da ficha funcional que esta nomeação teria decorrido

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Umuarama

R. Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - CEP 87.501.200 – Fone: 44 3266-8302 50 50

perante o próprio Conselho. Portanto, induziu o Conselho Municipal de Saúde a erro e, assim, contribuiu diretamente para a manutenção do estado de ociosidade de que o requerido JOÃO JORGE HELLÚ já vinha desfrutando.

Assim agindo, os requeridos LUIZ RENATO RIBEIRO DE AZEVEDO,

MOACIR SILVA, GESIMARY DE SANTI AZEVEDO, JORGE MAURO JARDIM, CLAUDIO FRANCISCONI DA SILVA, JOSE GONÇALVES DIAS NETO, NILSON MANDUCA e RENATA PITTITO, praticaram o ato de improbidade administrativa previsto no artigo 10, caput, da Lei Federal 8.429/92, nos seguintes termos:

“Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que

causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º desta Lei, e notadamente:”

Com efeito, ao manterem, cada qual no seu respectivo período de

exercício de cargo público, o servidor JOÃO JORGE HELLÚ naquela permanente situação de ociosidade, e ao se omitirem quanto as suas obrigações legais de designar o mesmo servidor para funções próprias de seu cargo de médico clínica básica, em especial para trabalhar em uma unidade básica de saúde, esses requeridos, que tinham poder de mando e comando sobre o requerido JOÃO JORGE HELLÚ, criaram as condições propícias para que este continuasse recebendo sua remuneração sem a correspondente contraprestação da sua força de trabalho, causando, assim, evidente perda patrimonial ao Município de Umuarama, e prejuízo irreparável aos usuários carentes do serviço público de saúde.

3.2. A violação aos princípios da legalidade, da impessoalidade, da moralidade e da eficiência, e a conseqüente configuração de atos de improbidade administrativa na modalidade de atentar contra os princípios da administração pública. Além de importar em flagrante violação ao princípio de legalidade e de, conseqüentemente, importar na configuração de atos de improbidade administrativa nas modalidades de enriquecimento ilícito (em relação ao requerido JOÃO JORGE HELLÚ) e de causar dano ao erário (em relação aos demais), as condutas de todos os requeridos, inicialmente narradas, também importam em atentado aos princípios da impessoalidade, da moralidade e da eficiência, e, por conseguinte, também configuram atos de improbidade administrativa na modalidade de atentar contras os princípios da administração pública.

Para melhor compreensão do princípio da impessoalidade faz-se oportuna a seguinte lição da doutrina90:

90 - O Ministério Público não olvida o brocardo segundo o qual “o juiz conhece o direito”, mesmo porque este Órgão tem ciência do amplo conhecimento jurídico e capacidade judicante dos membros do Poder Judiciário Paranaense, no entanto, tendo em conta os fatos narrados, lamenta-se que o mesmo não pode ser dito em

Page 51: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA … · – 20 horas semanais -, previsto na Lei Complementar 01/90,10 constando da ficha funcional que esta nomeação teria decorrido

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Umuarama

R. Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - CEP 87.501.200 – Fone: 44 3266-8302 51 51

“O princípio da impessoalidade estabelece que a atuação do agente público deve basear-se na ausência de subjetividade, ficando esse impedido de considerar quaisquer inclinações e interesses pessoais, próprios ou de terceiros. A impessoalidade objetiva a igualdade de tratamento que a Administração deve aplicar aos administrados que se encontrem em idêntica situação jurídica, representando, nesse aspecto, uma faceta do princípio da isonomia.

Para Celso Antonio Bandeira de Mello, o princípio da impessoalidade ‘traduz a idéia de que a Administração tem que tratar a todos os administrados sem discriminações, benéficas ou detrimentosas. Nem favoritismo, nem perseguições são toleráveis. Simpatias ou animosidades pessoais, políticas ou ideológicas não podem interferir na atuação administrativa.’ E completa: ‘o princípio em causa não é senão o próprio princípio da igualdade ou isonomia’.”91

Assim, por força desse princípio constitucional, a administração

pública do Município de Umuarama, no caso representada pelos requeridos LUIZ RENATO, MOACIR SILVA, GEISIMARY AZEVEDO, JORGE MAURO JARDIM, NILSON MANDUCA, CLAUDIO FRANCISCONI, JOSÉ GONÇALVES DIAS NETO, NILSON MANDUCA e RENATA PITTITO, tem que despender tratamento igualitário, sem qualquer discriminação, benéfica ou detrimentosa, a todos os servidores públicos municipais.

No entanto, os requeridos, por meio de suas condutas

exaustivamente narradas, reiteradamente, criaram e mantiveram uma odiosa situação de privilégio em benefício de um único servidor público, o requerido JOÃO JORGE HELLÚ.

Proporcionaram, portanto, tratamento discrepante, impessoal e

subjetivo, em benefício único e exclusivo do requerido JOÃO JORGE HELLÚ, permitindo que o mesmo desfrutasse de uma permanente ociosidade no serviço público, sem prejuízo de sua remuneração, de modo que, assim, pudesse livremente exercer suas atividades privadas de médico anestesista e sócio administrador do Hospital Cemil, do qual é sócio-diretor.

Quanto ao princípio da moralidade, também de acordo com

lições da melhor doutrina, tem conteúdo formado pela mescla da moral jurídica, expressa nas regras internas da Administração, com a moral comum, representada pelos standards comportamentais que a sociedade deseja e espera dos agentes públicos. Para respeitar esse princípio deve o agente público conduzir-se como bom administrador, agir com lealdade e boa-fé, com proporcionalidade e razoabilidade,

relação aos agentes do Município de Umuarama requeridos na presente ação civil pública. Razão pela qual insiste em transcrever lições dos doutrinadores do direito. 91 - FERNANDA MARINELA , Direito administrativo, 4ª ed., Niterói: Impetus, 2010, p. 34.

Page 52: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA … · – 20 horas semanais -, previsto na Lei Complementar 01/90,10 constando da ficha funcional que esta nomeação teria decorrido

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Umuarama

R. Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - CEP 87.501.200 – Fone: 44 3266-8302 52 52

observar a lei e os padrões éticos que a sociedade espera, sempre visando o bem comum92.

Entretanto, como se extrai dos fatos narrados, o comportamento

dos requeridos, mormente de JOÃO JORGE HELLÚ, não atende à moral jurídica das regras internas da administração pública, como também não é condizente com a moral comum da sociedade.

Porquanto, tanto a moral jurídica, extraída das regras de direito,

especialmente do Estatuto dos Servidores Públicos do Município de Umuarama, quanto a moral comum, preconizam não ser moralmente aceito que o agente público, qualquer que seja o seu posto de trabalho, se locuplete indevidamente em prejuízo do patrimônio público, recebendo sua remuneração sem a contraprestação de sua força de trabalho.

Como também não corresponde às mesmas regras de moralidade, a

conduta dos demais requeridos que, mesmo sendo reiteradamente cobrados e alertados pelo Conselho Municipal de Saúde, criaram e/ou mantiveram as condições propícias para que essa situação de privilégio se estabelecesse e perdurasse. Possibilitando, assim, que o requerido JOÃO JORGE HELLÚ continuasse recebendo sua remuneração sem trabalhar, ou, quando muito, trabalhando esporadicamente.

Aliás, qualquer homem de mediana consciência moral sabe que não

é lícito, que não é moral e que não é honesto, receber remuneração sem a contraprestação do trabalho, tanto mais quando a prática se torna habitual, reiterada, prolongando-se por anos.

E ainda mais imoral, desonesta e vergonhosa se torna a conduta de

enriquecimento indevido do agente público quando os recursos que o remuneram provêem da tão precária e combalida saúde pública, na medida em que retira, em seu benefício pessoal, dinheiro que deveria ser utilizado para diminuir as filas nos postos de saúde e nos plantões dos hospitais conveniados aos serviços públicos.

Por fim, o princípio da eficiência, “exige que a atividade

administrativa seja exercida com presteza, perfeição e rendimento funcional. É o mais moderno princípio da função administrativa, que já não se contenta em ser desempenhada apenas com legalidade, exigindo resultados positivos, para o serviço público e satisfatório atendimento das necessidades da comunidade e de seus membros”.93

92 - Neste sentido: 1) MARIA SYLVIA ZANELLA DI PIETRO , Direito Administrativo, 6ª ed., São Paulo: Editora Atlas, 1996, p. 71. 2) LÚCIA VALLE FIGUEIREDO , Curso de Direito Administrativo, São Paulo: Malheiros Ed., 1994, p. 45. 3) DIOGENES GASPARINI, Direito Administrativo, 3ª ed., São Paulo: Ed. Saraiva, 1993, p. 7. 4) CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELLO , Direito Administrativo,5ª ed., São Paulo: Malheiros Ed., 1994, p. 59-60. 5) ALEXANDRE DE MORAIS , Direito Constitucional, 10ª ed., São Paulo: Ed. Atlas, 2001, p. 307. 93 HELLY LOPES MEIRELLES, Direito Administrativo Brasileiro, 29ª ed., São Paulo: Malheiros Editores, 2004, pag. 96.

Page 53: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA … · – 20 horas semanais -, previsto na Lei Complementar 01/90,10 constando da ficha funcional que esta nomeação teria decorrido

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Umuarama

R. Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - CEP 87.501.200 – Fone: 44 3266-8302 53 53

No entanto, as condutas do requeridos e o comportamento do servidor e requerido JOÃO JORGE HELLÚ caracterizam-se exatamente por serem completamente opostas à perfeição e ao rendimento funcional.

As condutas dos requeridos, mantendo o servidor JOÃO JORGE

HELLÚ em situação de total ociosidade, por longos anos, realizando atendimentos absolutamente esporádicos, sem prejuízo de sua remuneração, passam ao largo da mínima eficiência que seja.

Aliás, eficiência no serviço público tem como pressuposto o

trabalho, de todos os agentes públicos, e, portanto, onde não há desempenho de um trabalho, por óbvio que resta totalmente prejudicada qualquer possibilidade de eficiência.

Assim é que, com as mesmas condutas inicialmente narradas,

algumas comissivas outras omissivas, mas todas praticadas dolosamente, pois plenamente cientes dos fatos, os requeridos JOÃO JORGE HELLÚ, LUIZ RENATO, MOACIR SILVA, GEISIMARY AZEVEDO, JORGE MAURO JARDIM, NILSON MANDUCA, CLAUDIO FRANCISCONI, JOSÉ GONÇALVES DIAS NETO e RENATA PITTITO também praticaram atos de improbidade administrativa na modalidade de atenta aos princípios norteadores da administração pública, nos termos do art. 11, caput e inciso I, da Lei 8.429/92:

“Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que

atenta contra os princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade e lealdade às instituições, e notadamente:

I – praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou diverso daquele previsto, na regra de competência;

II – retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício;”

4. DO DANO AO ERÁRIO. Conforme amplamente demonstrado, o requerido JOÃO JORGE HELLÚ, enquanto servidor do Município de Umuarama, sempre desfrutou de uma privilegiada e imoral situação de ociosidade, sendo que do ano de 2007 até os dias de hoje – período no qual se restringiu as investigações – realizou pouquíssimos, praticamente insignificantes, atendimentos médicos, chegando a passar meses inteiros sem atender nenhum paciente sequer.

Restou comprovado que nos anos de 2007, 2008 e até março de 2009, enquanto o requerido JOÃO JORGE HELLÚ esteve designado na Divisão de Média e Alta Complexidade para anestesiar pacientes que, em razão de serem portadores de alguma deficiência e/ou crianças que precisassem ser sedados para

Page 54: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA … · – 20 horas semanais -, previsto na Lei Complementar 01/90,10 constando da ficha funcional que esta nomeação teria decorrido

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Umuarama

R. Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - CEP 87.501.200 – Fone: 44 3266-8302 54 54

realizar exames radiológicos, o mesmo realizou pouquíssimos desses procedimentos, em número praticamente insignificante.

Devido ao fato de não haver nenhum registro por parte da

administração municipal, os procedimentos não podem ser precisados, mas que segundo as declarações prestadas e as informações obtidas pelo Conselho Municipal de Saúde, poderiam variar entre 05 (cinco) ou 06 (seis) procedimentos em alguns meses a apenas 03 (três) em outros, e até a insignificância de 11 (onze) procedimentos no período de quase seis meses, o que daria uma média de pouco mais de 02 (dois) procedimentos mensais.

Não obstante isso, o requerido JOÃO JORGE HELLÚ sempre

percebeu sua remuneração do cargo de modo integral, em evidente prejuízo ao erário.

Já no período de março de 2009 até os dias atuais, quando passou

a ser lotado diretamente na Secretaria de Recursos Humanos, supostamente fazendo perícias médicas e exames admissionais, o requerido JOÃO JORGE HELLÚ passou a comparecer todos os dias em seu local de trabalho. No entanto, conforme restou comprovado, lá permanecia entre 15 (quinze) e 30 (trinta) minutos, fazia o atendimento dos poucos pacientes do dia, quando havia algum, e depois ia embora.

Ou seja, a partir de março de 2009 e até os dias de hoje, o requerido

JOÃO JORGE HELLÚ ficava à disposição do Município de Umuarama – não necessariamente trabalhando – apenas, em média, 30 (trinta) minutos por dia. Também apesar disso, continuava percebendo integralmente a sua remuneração do cargo efetivo.

Assim, é evidente o prejuízo econômico causado ao erário do

Município de Umuarama e o correspondente enriquecimento ilícito do requerido JOÃO JORGE HELLÚ, que percebia – e continua percebendo – sua remuneração sem a contraprestação da sua força de trabalho, durante as quatro (04) horas diárias que deveria estar à disposição do Município.

Destarte, o requerido JOÃO JORGE HELLÚ deve ser condenado,

solidariamente com os demais requeridos, cada um desses respectivamente ao período em que teve participação nos fatos, a ressarcir ao Município de Umuarama a integralidade de todas as remunerações que recebeu nesses períodos, de janeiro de 2007 até março de 2009, e de março de 2009 até os dias atuais, descontando-se, apenas e tão somente, os valores respondentes às horas efetivamente trabalhadas em cada um desses períodos, conforme as médias até então apuradas, valores esses a serem calculados em liquidação de sentença e sobre os quais deverão incidir correção monetária e juros legais decorrentes de ato ilícito, tudo na forma dos artigos 37, § 4º, da Constituição Federal, 5º da Lei 8.429/92, e 186 combinado com 927 e 398 do Código Civil.

Na eventual hipótese de se chegar ao final da instrução processual e

Vossa Excelência não ficar convencido dessa forma de quantificação do dano, o que

Page 55: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA … · – 20 horas semanais -, previsto na Lei Complementar 01/90,10 constando da ficha funcional que esta nomeação teria decorrido

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Umuarama

R. Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - CEP 87.501.200 – Fone: 44 3266-8302 55 55

se admite apenas por força do princípio da eventualidade, caberá considerar uma segunda forma de quantificação do prejuízo ao erário.

Com efeito, além de serem pouquíssimos os trabalhos efetivamente

realizados, também ficou comprovado - em perícia realizada pelo Instituto de Criminalística com autorização judicial obtida em Medida Cautelar Inominada (supra referida) - que entre janeiro de 2007 e agosto de 2011, período em que se circunscreveu a perícia, o requerido JOÃO JORGE HELLÚ comparecia diuturnamente no Hospital CEMIL – Centro Médico Materno Infantil Ltda., nos mais variados horários, inclusive nos horários em que deveria estar trabalhando para o Município de Umuarama, para realizar serviços de anestesista enquanto médico associado do referido hospital e, portanto, fora das suas obrigações de servidor público municipal e em evidente prejuízo dessas.94 Logo, é absolutamente certo que além dos pouquíssimos e inexpressivos atendimentos médicos que fez enquanto servidor do Município de Umuarama, o requerido JOÃO JORGE HELLÚ, no período de janeiro 2007 a agosto de 2011, também não poderia ter comparecido ao seu local de trabalho no Município de Umuarama nesses dias e horários em que fez atendimentos no hospital CEMIL, já que fisicamente é impossível estar em dois lugares ao mesmo tempo. Assim, tendo por base as informações levantadas pela perícia do Instituto de Criminalista, que relacionou - com base nos livros de anotações de serviços anestésicos do Hospital Cemil - todos os procedimentos de anestesia realizados pelo requerido JOÃO JORGE HELLÚ naquele hospital privado no período de 2007 a agosto de 2011, a auditoria do Ministério Público procedeu ao levantamento dos dias e horários que o requerido sequer poderia estar à disposição do serviço público e, com base no valor de sua remuneração, calculou os valores correspondentes. Desta forma, a auditoria chegou ao valor de R$57.010.39 (cinqüenta e sete mil, dez reais e trinta e nove centavos), que corresponde a soma dos dias e horários de trabalho que o requerido JOÃO JORGE HELLÚ não poderia estar à disposição do serviço público municipal porque estava realizando procedimentos anestésicos no Hospital Cemil, do qual também é sócio-diretor. Este valor, que já está acrescido de correção monetária e juros simples de um por cento ao mês até maio de 2012, é o resultado de uma segunda forma de se apurar o dano causado ao erário do Município de Umuarama, caso não se entenda pelo ressarcimento do dano ao erário pela primeira forma. Cumpre registrar, que neste valor não estão incluídos os descontos relativos aos possíveis atendimentos anestésicos realizados pelo médico no Hospital Cemil, durante o período de 02/03/2007 a 11/11/2008, posto que os respectivos livros de registros de números 12 e 13 não foram encontrados no referido hospital no dia da perícia.

94 Fls. 3.086-3.108 – 15º Volume.

Page 56: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA … · – 20 horas semanais -, previsto na Lei Complementar 01/90,10 constando da ficha funcional que esta nomeação teria decorrido

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Umuarama

R. Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - CEP 87.501.200 – Fone: 44 3266-8302 56 56

Também cabe registrar, por final, que nos cálculos a auditoria do Ministério Público já desconsiderou os dias em que o servidor JOÃO JORGE HELLÚ estaria de férias, tendo por base as informações prestadas pelo próprio Município de Umuarama. 5. DAS CAUTELARES EM SEDE LIMINAR.

O objetivo da presente ação civil pública é o restabelecimento da efetividade dos princípios da legalidade, da moralidade, da impessoalidade, da eficiência, e, em especial, da probidade na relação jurídica estabelecida entre o Município de Umuarama com os seus agentes e ex-agentes requeridos, o que será obtido com a aplicação da sanção de demissão, por inassiduidade, ao servidor JOÃO JORGE HELLÚ, e a aplicação das sanções por ato de improbidade administrativa, previstas na Lei 8.429/92, a este e aos demais requeridos, quais sejam, as sanções de perda da função pública, suspensão dos direitos políticos, ressarcimento do dano ao erário, multa civil, e proibição de contratação com o poder público, a serem selecionadas e graduadas pelo órgão julgador conforme o grau de reprovabilidade da conduta de cada um. No entanto, até que o processo judicial chegue a seu termo e as referidas sanções possam ser efetivadas, e tendo em conta a impossibilidade de efetivação das penalidades de suspensão dos direito políticos e perda da função pública antes do trânsito em julgado de sentença condenatória por improbidade administrativa, faz-se imperioso a adoção, liminarmente, de medidas cautelares que impeçam a continuidade do dano ao erário e obstem o curso das violações aos referidos princípios norteadores da administração pública, preservando, de imediato, a probidade na relação jurídica estabelecida entre o requerido JOÃO JORGE HELLÚ e o Município de Umuarama, do qual o mesmo é servidor titular do cargo de médico clínica básica. Porquanto, apesar de tudo quanto foi demonstrado – e aqui reside o requisito do fumus boni iuris da tutela cautelar ora requerida -, mormente das reiteradas cobranças e alertas por parte do Conselho Municipal de Saúde, os agentes do Município de Umuarama, continuam mantendo o requerido JOÃO JORGE HELLÚ, juntamente com outros três médicos, no chamado Serviço de Medicina do Trabalho, supostamente fazendo exames admissionais, atestados e perícias médicas nos servidores municipais, local onde, como visto nos tópicos 2.2.1.2, 2.2.2 e 2.2.3, não existia, e continua não existindo, demanda suficiente para ocupar toda a força de trabalho deste profissional durante as 4 (quatro) horas diárias de seu regime de trabalho. Lembre-se que a partir de março de 2010, quando o requerido JOÃO JORGE HELLÚ foi designado para essas atividades, ainda na Secretaria de Saúde, o mesmo comparecia ao local de trabalho apenas por volta das 10h30min e lá permanecia por cerca de 15 a 30 minutos, e depois ia embora, já que não tinha

Page 57: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA … · – 20 horas semanais -, previsto na Lei Complementar 01/90,10 constando da ficha funcional que esta nomeação teria decorrido

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Umuarama

R. Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - CEP 87.501.200 – Fone: 44 3266-8302 57 57

pacientes a serem atendidos, conforme detalhadamente se expôs nos tópicos acima referidos. Destarte, em se mantendo o atual estado das coisas – e aqui reside o requisito do periculum in mora -, o requerido JOÃO JORGE HELLÚ continuará recebendo sua remuneração de servidor público municipal e também continuará usufruindo a odiosa situação de privilégio, com a permanência do exercício livre de suas atividades privadas de médico anestesista e sócio-diretor do Hospital CEMIL, durante o horário em que deveria estar trabalhando para o Município que o remunera, em evidente prejuízo ao erário. Fundado nesses elementos fáticos, reveladores dos requisitos do fumus boni iuris e do periculum in mora, busca-se a obtenção de tutela cautelar preventiva, em sede de liminar, com o objetivo de evitar a continuidade dessa lesão ao erário municipal e à probidade e moralidade na administração pública, com fulcro no artigo 12, da Lei 7.347/85 (lei de ação civil pública), segundo o qual “Poderá o juiz conceder mandado liminar, com ou sem justificação prévia, em decisão sujeita agravo”. Além de se fundar na regra da lei especial acima, a tutela cautelar preventiva também encontra amparo, em primeiro momento, no artigo 5º, XXXV, da Constituição Federal, segundo o qual “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito” e, em segundo momento, no poder geral de cautela, previsto no artigo 798 e seguintes do Código de Processo Civil. Importante observar que sob o título “do processo cautelar”, o legislador ordinário previu, no Código de Processo Civil, além de tutelas genuinamente cautelares, outras tutelas de urgência de caráter satisfativo e/ou inibitórias do ilícito. Neste sentido:

“O processo cautelar, ao lado dos processos de conhecimento e de execução, forma no sistema do CPC o tripé no qual se assenta a disciplina dos meios de obtenção da tutela jurisdicional, hoje reforçado pelo processo monitório, misto de conhecimento e execução. Contudo, emprestou o legislador à finalidade preventiva uma acepção ampla, abrangendo qualquer providência impeditiva da ocorrência de dano, ainda que não relacionado à eficácia de um provimento jurisdicional buscado em outro processo. Assim, sob o título genérico de processo cautelar, o legislador arrolou procedimentos que nem sempre dão origem a um processo cautelar genuíno.” (destacou-se) 95

Assim, faz-se necessário o deferimento de medida liminar, impondo ao Município de Umuarama a obrigação de lotar o requerido, e servidor público municipal, JOÃO JORGE HELLÚ, em uma unidade básica de saúde, dando, assim, cumprimento à deliberação do Conselho Municipal de Saúde e evitando-se o desvio

95 PAULO AFONSO GARRIDO DE PAULA, In Código de processo civil interpretado / Antonio Carlos Marcato, coordenador. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2005, pag. 2.284.

Page 58: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA … · – 20 horas semanais -, previsto na Lei Complementar 01/90,10 constando da ficha funcional que esta nomeação teria decorrido

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Umuarama

R. Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - CEP 87.501.200 – Fone: 44 3266-8302 58 58

de função, de modo que o servidor efetivamente exerça as atribuições próprias de seu cargo de médico clínica básica. Também se faz necessário o deferimento de medida liminar para impor ao requerido JOÃO JORGE HELLÚ, sob pena de aplicação de multa por dia de descumprimento das seguintes obrigações: (a) obrigação de que até final decisão de mérito na presente ação civil pública cumpra integralmente com sua carga de 4 (quatro) horas diárias ou 20 (vinte) semanais, de acordo com as atribuições próprias de seu cargo efetivo, no local a ser definido pelo Município de Umuarama; e (b) a proibição de exercer qualquer outra atividade privada, durante este horário do seu expediente.

Portanto, conclui-se que a medida liminar que ora se pleiteia é absolutamente imprescindível para se evitar a continuidade do dano ao erário, e principalmente, o irreparável prejuízo à saúde e à vida da população de Umuarama, tendo em vista ser de conhecimento púbico e notório a inexistência de médicos suficientes em praticamente todos os Municípios do País para atender a demanda deste tipo de serviço público tão essencial à coletividade.

Ademais, com o deferimento da medida liminar se estará

restabelecendo, no caso concreto, os requisitos do serviço público, que deve ser assegurado aos usuários de forma adequada, com a satisfação das exigências estabelecidas em lei, especialmente quanto a sua regularidade, continuidade, eficiência, atualidade e generalidade.

Enfim, o objetivo de tal providência de urgência, é sem dúvida

nenhuma assegurar proteção ao serviço público ligado a bens tão caros como, a saúde e a vida, notadamente da grande maioria da população carente deste Município, pois no dizer do mestre em Direito Administrativo, Celso Antônio Bandeira de Mello:

“O serviço público é o patrimônio dos que não tem patrimônio”.

6. DOS PEDIDOS E REQUERIMENTOS. Posto isso, o MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO

PARANÁ, por seu Promotor de Justiça, formula os seguintes pedidos:

6.1. A distribuição ao Juízo da 2ª Vara Cível desta Comarca de Umuarama, por dependência com a Medida Cautelar Inominada nº 008.120/2011, movida pelo Ministério Público do Estado do Paraná em face do Centro Médico Materno Infantil Ltda.

Page 59: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA … · – 20 horas semanais -, previsto na Lei Complementar 01/90,10 constando da ficha funcional que esta nomeação teria decorrido

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Umuarama

R. Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - CEP 87.501.200 – Fone: 44 3266-8302 59 59

6.2. Mandamento liminar de tutela cautelar preventiva, para o fim de:

6.2.1. Impor ao Município de Umuarama, sob pena de multa diária no valor de R$ 1.000,00 (um mil reais) a ser suportada pelas autoridades com poder de cumprimento das obrigações, quais sejam, o Prefeito e o Secretário Municipal de Saúde, as obrigações de fazer consistentes em: (a) lotar o requerido e servidor público municipal, JOÃO JORGE HELLÚ, em uma unidade básica de saúde, de modo que o mesmo efetivamente exerça as atribuições próprias de seu cargo de médico clínica básica; (b) providenciar sistema idôneo, preferencialmente eletrônico, para o controle de freqüência dos servidores no local de lotação do requerido JOÃO JORGE HELLÚ, em prazo certo;

6.2.2. Impor ao requerido JOÃO JORGE HELLÚ, sob pena do pagamento de multa diária, no valor de R$1.000,00 (um mil reais), o cumprimento das seguintes obrigações: (a) obrigação de, até final decisão de mérito na presente ação civil pública, cumprir integralmente com sua carga horária de trabalho, de 4 (quatro) horas diárias ou 20 (vinte) semanais, no local a ser definido pelo Município de Umuarama; e (b) a proibição de exercer qualquer outra atividade privada, durante seu horário de expediente no serviço público municipal, devendo comparecer e permanecer, durante as 4 (quatro) horas diárias e/ou 20 (vinte) horas semanais, no local e horário de trabalho determinado pelo Município de Umuarama.

6.3. A notificação dos requeridos JOÃO JORGE HELLÚ, LUIZ RENATO RIBEIRO DE AZEVEDO, MOACIR SILVA, GEISIMARY DE SANTI AZEVEDO, JORGE MAURO JARDIM, NILSON MANDUCA, CLAUDIO FRANCISCONI DA SILVA, JOSÉ GONÇALVES DIAS NETO e RENATA PITTITO para, querendo, apresentarem manifestação por escrito, no prazo de quinze dias, nos termos do artigo 17, § 7º, da Lei nº 8.429/92;

6.4. Transcorrido o prazo acima, com ou sem manifestação dos requeridos, o recebimento desta inicial, nos termos do art. 17, § 9º, da Lei 8.429/92, determinando-se a citação dos requeridos JOÃO JORGE HELLÚ, LUIZ RENATO RIBEIRO DE AZEVEDO, MOACIR SILVA, GEISIMARY DE SANTI AZEVEDO, JORGE MAURO JARDIM, NILSON MANDUCA, CLAUDIO FRANCISCONI DA SILVA, JOSÉ GONÇALVES DIAS NETO, e RENATA PITTITO, para, sob pena de revelia, responderem a presente ação civil pública;

6.5. A citação do Município de Umuarama para, nos termos do art. 6º, § 3º da Lei 4.717/65 c/c com art. 17, § 3º, da Lei 8.429/92, responder à presente

Page 60: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA … · – 20 horas semanais -, previsto na Lei Complementar 01/90,10 constando da ficha funcional que esta nomeação teria decorrido

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Umuarama

R. Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - CEP 87.501.200 – Fone: 44 3266-8302 60 60

demanda, abster-se de contestar, ou atuar ao lado do autor, na defesa do patrimônio público e da moralidade administrativa;

6.6. A concessão das prerrogativas referidas no artigo 172, § 2º do Código de Processo Civil, para o cumprimento das notificações e citações;

6.7. O deferimento de todos os meios probatórios em direito admitidos, especialmente a juntada de novos documentos, depoimentos pessoal dos requeridos e de testemunhas, sendo as abaixo arroladas em caráter de imprescindibilidade, além de outros que venham a se mostrar relevantes para a cabal comprovação dos fatos;

6.7.1. Visando, ainda, fortalecer a prova em relação a parte dos fatos e possibilitar a exata apuração do dano causado ao erário, na forma subsidiária de cálculo, requer que seja requisitado ao Hospital CEMIL:

(a) cópias dos livros nº 12 e 13 de registro e controle de anestesias realizadas naquele hospital, correspondentes aos procedimentos anestésicos realizados no período de 02/03/2007 a 11/11/2008, que não foram localizados no dia da perícia realizada pelo Instituto de Criminalista, bem como os livros de registro e controle de anestesias realizadas a partir de agosto de 2011 até a data de efetivação da medida, sob pena de ser determinada busca e apreensão dos documentos no local; (b) cópia do(s) contrato(s) firmado(s) com a empresa construtora responsável pelas obras de ampliação das instalações do hospital, atualmente em andamento, devidamente acompanhada dos respectivo memorial descritivo

6.8. No mérito, a procedência dos seguintes pedidos:

6.8.1 Nos termos da primeira parte do item 4. desta inicial, a condenação do requerido JOÃO JORGE HELLÚ, em solidariedade com os requeridos LUIZ RENATO RIBEIRO DE AZEVEDO, MOACIR SILVA, GEISIMARY DE SANTI AZEVEDO, JORGE MAURO JARDIM, NILSON MANDUCA, CLÁUDIO FRANCISCONI DA SILVA, JOSÉ GONÇALVES DIAS NETO e RENATA PETTITO, esses em relação aos períodos em que cada qual exerceu mandato e/ou cargo público, a ressarcirem ao Município de Umuarama, a integralidade do dano causado ao erário pelo servidor JOÃO JORGE HELLÚ, correspondente à soma de todas as suas remunerações do período de janeiro de 2007 até o início do cumprimento das medidas liminares acima pleiteadas (quando, em tese, haverá cessação do ilícito), descontando-se os valores das horas efetivamente trabalhadas nesse período, cujo montante, a ser apurado em liquidação de sentença, deve ser acrescidos de correção monetária e juros de mora desde cada evento danoso e até o efetivo ressarcimento (186 combinado com 927 e 398 do Código Civil); 6.8.2. Subsidiariamente, não sendo acolhido o pedido do item anterior (o que se admite apenas por imperativo da eventualidade), com fundamento no artigo 289 do Código de Processo Civil, conforme exposto na segunda parte do item 4., desta

Page 61: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA … · – 20 horas semanais -, previsto na Lei Complementar 01/90,10 constando da ficha funcional que esta nomeação teria decorrido

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Umuarama

R. Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - CEP 87.501.200 – Fone: 44 3266-8302 61 61

inicial, requer a condenação do requerido JOÃO JORGE HELLÚ, em solidariedade com os requeridos LUIZ RENATO RIBEIRO DE AZEVEDO, MOACIR SILVA, GEISIMARY DE SANTI AZEVEDO, JORGE MAURO JARDIM, NILSON MANDUCA, CLÁUDIO FRANCISCONI DA SILVA, JOSÉ GONÇALVES DIAS NETO, e RENATA PETTITO, esses em relação aos períodos em que cada qual exerceu mandato e/ou cargo público, a ressarcirem ao Município de Umuarama, a integralidade do dano causado ao erário pelo servidor JOÃO JORGE HELLÚ, correspondente a soma do valores dos dias e horários de trabalho apurados com base no valor da sua remuneração do respectivo mês, no período de janeiro de 2007 até o início do cumprimento das medidas liminares acima pleiteadas (quando, em tese, haverá cessão do ilícito), nos quais o mesmo não poderia estar à disposição do serviço público municipal porque estava realizando procedimentos anestésicos no Hospital Cemil, valores que devem ser acrescidos de correção monetária e juros de mora desde o evento danoso (art. 186 combinado com 927 e 398 do Código Civil), tudo a ser apurado em liquidação de sentença; 6.8.3. A condenação do requerido JOÃO JORGE HELLÚ pela prática do ato de improbidade administrativa previsto no artigo 9º, caput, da Lei 8.429/92, aplicando-lhe as sanções do artigo 12, inciso I, da mesma lei; 6.8.4. A condenação dos requeridos LUIZ RENATO RIBEIRO DE AZEVEDO, MOACIR SILVA, GEISIMARY DE SANTI AZEVEDO, JORGE MAURO JARDIM, NILSON MANDUCA, CLÁUDIO FRANCISCONI DA SILVA, JOSÉ GONÇALVES DIAS NETO e RENATA PITTITO, pela prática do ato de improbidade administrativa previsto no artigo 10, caput, da Lei 8.429/92, aplicando-lhes as sanções do artigo 12, inciso II, da mesma lei; 6.8.5. Subsidiariamente, não sendo acolhidos os pedidos dos itens 6.7.4 e 6.7.5 supra (o que se admite apenas por imperativo da eventualidade), com fundamento no artigo 289 do Código de Processo Civil, a condenação dos requeridos JOÃO JORGE HELLÚ, LUIZ RENATO RIBEIRO DE AZEVEDO, MOACIR SILVA, GEISIMARY DE SANTI AZEVEDO, JORGE MAURO JARDIM, NILSON MANDUCA, CLÁUDIO FRANCISCONI DA SILVA, JOSÉ GONÇALVES DIAS NETO e RENATA PITTITO, pela prática do ato de improbidade administrativa, capitulado no art. 11, caput e inciso I, da Lei 8.429/92, aplicando-lhes as sanções previstas no art. 12, inciso III, da mesma lei; 6.8.6. A condenação dos requeridos JOÃO JORGE HELLÚ, LUIZ RENATO RIBEIRO DE AZEVEDO, MOACIR SILVA, GEISIMARY DE SANTI AZEVEDO, JORGE MAURO JARDIM, NILSON MANDUCA, CLÁUDIO FRANCISCONI DA SILVA, JOSÉ GONÇALVES DIAS NETO, e RENATA PITTITO, ao pagamento das custas processuais;

Page 62: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA … · – 20 horas semanais -, previsto na Lei Complementar 01/90,10 constando da ficha funcional que esta nomeação teria decorrido

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Umuarama

R. Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - CEP 87.501.200 – Fone: 44 3266-8302 62 62

Atribui-se à causa o valor R$ 200.000,00 (duzentos mil reais). Umuarama-PR, 07 de agosto de 2012. FABIO HIDEKI NAKANISHI

Promotor de Justiça