Exilados por amor

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    EXILADOS

    POR

    AMOR

    Psicografia de Sandra CarneiroEsprito de Lcius

    OBS: Os direitos desta obra foram doados s obras assistenciais do GrupoCristo Assistencial Casa do Po XXXI, Atibaia, SP.

    As pessoas que leram esta obra digitalizadas podem fazer uma contribuiodiretamente visitando: http://www.vivaluz.com.br/vivaluz/casa-do-pao.html

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    Pesquisa liderada por James Hansen, da NASA, publicada em outubrode 2006 na revista PNAS (da Academia Nacional de Cincias dos EUA),constata que nas ltimas trs dcadas a Terra esquentou mais do que emtoda a era industrial. O aumento foi de 0,2C por dcada, uma aceleraosem precedentes que pe fim esperana de estabilizao do clima.

    O pesquisador afirma que, se o aquecimento alcanar mais 2C ou3C, provavelmente veremos mudanas que tornaro a Terra um planetadiferente do que conhecemos hoje. A ltima vez que ela esteve to quente

    foi no Plioceno, h 3 milhes de anos, quando o nvel do mar era 25 metrosmais alto que hoje.

    J o Relatrio Stern, comandado por Nicholas Stern (ex-economista-chefe do Banco Mundial), divulgado em outubro de 2006, mostra que asevidncias cientficas do aquecimento global so impressionantes e decisi-vas.

    Segundo o relatrio, a elevao da temperatura global e o conseqenteaumento do nvel do mar, devido expanso do oceano e ao derretimento de

    geleiras de terra firme, podero causar inundaes que obrigaro at 100milhes de pessoas a abandonarem regies costeiras. No outro extremo, oaumento das secas em determinados pases tambm poder criar milhesdaquilo que o estudo chama de refugiados do clima.

    O primeiro-ministro britnico Tony Blair, que encomendou o relatrio,afirmou: "Este desastre no vai acontecer em um distante futuro de ficocientfica, mas ainda durante a atual gerao".

    A cincia apenas comprova, dia a dia, o que diversos textos bblicos,

    profecias e mensagens medinicas j alertaram quanto s calamidades quese abatero sobre a Terra, trazendo dias de tormento e perplexidade:

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    "Porque haver ento grande aflio, como nunca houve desde o

    princpio do mundo at agora, tampouco h de haver" (Mateus, 24:21)

    "E, logo depois da aflio daqueles dias, o sol escurecer, e a lua no

    dar a sua luz e as estrelas cairo do cu, e as potncias dos cus sero

    abaladas" (Mateus, 24:29)

    "Eu vi um novo cu e uma nova terra, porque o primeiro cu e a pri-

    meira terra desapareceram, e o mar j no existia" (Apocalipse, 21:1)

    "Os perodos de expurgo esto tambm prescritos nesse planejamento

    imenso. Quando os orbes se aproximam desses perodos, entram em uma

    fase de transio durante a qual aumenta enormemente a intensidade fsica

    e emocional da vida dos espritos encarnados ali, quase sempre de baixoteor vibratrio, vibrao essa que se projeta maleficamente na aura prpria

    do orbe e nos planos espirituais que lhe so adjacentes; produz-se uma on-

    da de magnetismo deletrio que erige um processo, quase sempre violento e

    drstico, de purificao geral. Estamos agora, em pleno regime dum pero-

    do desses" (Trecho de mensagem medinica, extrado do livro Exilados da

    Capela, de Edgard Armond - Editora Aliana)

    "Ele era a luz dos homens, a luz resplandeceu nas trevas e as trevasno a receberam" (Joo, 1:4-5)

    Compreendemos, portanto, diante dos acontecimentos que envolvemnosso mundo, que imprescindvel despertar. Jesus continua com seus amo-rosos braos abertos, a esperar por ns, pela nossa deciso de segui-lo eam-lo, resgatando nossas almas e construindo definitivamente um futuro deglria.

    No nos demoremos mais; no desperdicemos o precioso tempo, agrande oportunidade que Deus nos oferece, aqui e agora.Est em nossas mos, amigo leitor, a deciso de partilharmos com o

    Mestre Divino a construo do Reino de Deus sobre a Terra, poupando-nosde maiores dores e sofrimentos. Ele nos quer ao seu lado, mas para isso preciso combater em ns aquilo que nos afasta do Criador e de suas leis per-feitas, que o Bom Pastor veio exemplificar.

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    preciso transcender o momento presente e enxergar, um pouco maisalm, nossa origem divina e nossa destinao gloriosa.

    Lucius

    1. ParteH muitos milnios, um dos orbes do sistema da estrela

    Capela, na Constelao do Cocheiro, localizado a cerca de42 anos-luz da Terra, atravessava importante momento detransformao, passando da posio de mundo de expiaese provas para a de mundo de regenerao.

    Atravs de incessantes esforos evolutivos, o povo atingiraum novo estgio para o orbe, que no mais poderia abrigaraqueles que insistiam em opor-se ao bem e luz. Essesespritos rebeldes e recalcitrantes no mal-milhes deles -

    foram ento, por deciso de entidades elevadas quedirigem o Cosmo, exilados de seu mundo e enviados para a

    Terra, um orbe primitivo e em incio de desenvolvimento.

    Na Terra, essas almas que haviam recusado

    render-se diante do Criador do Universo teriam nova

    oportunidade -atravs da dor e do sofrimento a que

    seriam submetias pelas condies naturais do planetaem formao -de lapidar seus sentimentos e, finalmente,

    aceitar sua destinao gloriosa, no caminho para Deus

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    CAPTULO 1No bastasse aquele corre-corre a que se habituara, Ernesto assumia ain-

    da mais atividades. Constantemente, a famlia reclamava-lhe a presena;Elvira pedia toda manh:

    -Volte mais cedo hoje. Seria possvel, querido? Os meninos tm sentidomuito a sua falta e eu tambm...

    -Como voc choraminga, Elvira! Temos estado juntos todos os finais desemana; tenho procurado dar maior ateno aos nossos filhos.

    - Seja honesto consigo prprio, querido! Seus finais de semana so sem-pre ocupados com reunies de negcios, seja com o pessoal do escritrio ou

    com o pessoal do laboratrio; estamos sempre cercados de outras pessoas!Seus filhos sentem falta de voc, querido, da sua companhia!

    Ernesto beijava-lhe a mo e sorria, sem dizer nada. Descia pelo elevadorexpresso, direto para o carro areo, e seguia para a fundao que presidia.Ele estava completamente absorvido pela inquieta aspirao de encontrarum modo de extinguir o maior sofrimento humano: a morte.

    Esse era o objetivo final de suas pesquisas e experimentos. Mdico bri-lhante e bem-sucedido, h muito trocara o jaleco branco dos hospitais pelo

    pesado avental do laboratrio que o protegia das radiaes. No atendiamais os pacientes sofredores, e sim participava de interminveis reuniescom os pesquisadores e acionistas da organizao.

    Desde que obtivera sucesso com a clonagem de seres humanos, os con-vites se somavam em sua mesa e em seu aparelho de intercomunicao; ele

    j nem os atendia mais. No entanto, foi do centro de pesquisas em que traba-lhava que recebeu o convite mais tentador: realizar toda e qualquer experi-ncia com a clonagem humana, sem limites de recursos e com proteo le-

    gal de um squito de advogados bem-sucedidos e at mesmo de juzes, parano ser incomodado pelas instituies que protestavam em oposio aosexperimentos que utilizavam embries humanos, entre outros.

    Na noite em que acertou os ltimos detalhes da nova empreitada, chegouem casa eufrico.

    - Prepare-se, Elvira, vamos comemorar.-E o que aconteceu de to especial?

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    - Eu consegui, Elvira, finalmente consegui!-O que, Ernesto? Vai comear outra experincia?-Muitas, minha querida! De fato, vou presidir a maior organizao de

    pesquisas mdicas do mundo! Sem restries e com total liberdade paraexpandir minhas experincias ao infinito.

    Ela empalideceu e sentiu fugir-lhe o sangue da face. Apoiou-se no pri-meiro mvel que tinha frente, quase a desfalecer. Ernesto socorreu-a:

    -O que foi? O que est sentindo?Elvira no podia falar. Auxiliada pelo esposo, sentou-se no sof e apoiou

    a cabea nos joelhos. Ernesto fez-lhe algumas massagens na nuca e ela re-cobrou a cor.

    -O que aconteceu? No v me dizer que est grvida outra vez.Sria, ela fitou-o fundo nos olhos e respondeu:

    -Voc sabe o que penso sobre suas atuais atividades, Ernesto. Jamaisconcordei com elas e jamais haverei de concordar, nem que viva mil anos.S Deus tem poder sobre a vida e a morte. Suas experincias com clonagem

    j foram contra a minha vontade. Mas agora muito pior: sei de suas inten-es. Quantos embries sero utilizados para tentar impedir o acon-tecimento absolutamente inevitvel para todo homem? Afinal, por que amorte o assusta tanto, Ernesto?

    - Do que voc est falando? A morte no me assusta em nada.

    - Como no? Por que deseja impedi-la a qualquer custo? A morte no ruim, Ernesto, apenas uma mudana de estado energtico. Voc sabe que aalma continua vivendo...

    -L vem voc outra vez com essas estrias de faz-de-conta. Eu que de-veria estar cobrando. Voc deixa de me apoiar, a mim, o mais reconhecidopesquisador cientfico da atualidade, aclamado pela imprensa e por toda aclasse mdica como o maior realizador do sculo, homenageado pelo mundointeiro por aquilo que conquistei. Nem sequer me acompanha aos eventos de

    que participo, onde usualmente sou prestigiado e aguardado. E por qu?Para ir a essas suas reunies msticas.Agora o olhar de Elvira se tornara triste e lgrimas se formavam em seus

    lindos olhos castanhos. Ela encarou o marido com extremada ternura e dis-se:

    - Ernesto, Ernesto, voc brinca com fogo; sabe muito bem do que euparticipo. Foi voc mesmo que me levou l.

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    - Mas foi h muito tempo e j mudei de opinio, evolu! No creio maisem nada daquilo.

    - Como pode dizer isso? O que foi que cegou voc, querido? O que a-conteceu com aquele jovem sonhador que conheci, cheio de esperana evontade de mudar o mundo?

    -E voc quer mudana maior do que dominar a morte? Ter poder sobreela?

    Ignorando o que o marido dizia, Elvira prosseguiu:- Eu me lembro bem da indiferena que sentia quando entramos naquele

    ncleo de estudos pela primeira vez. Havia estudado quase todas as religiese nenhuma delas me atraa. No havia encontrado nada que me respondesses indagaes mais profundas da alma. Ento voc me convenceu, com seuhabitual entusiasmo, sua persistncia em argumentar...

    J conversamos sobre isso antes. Agora preciso me deitar porque te-nho obrigaes me aguardando amanh. De novo ela o ignorou:

    - Mas quando entrei naquela pequena sala, senti algo especial. Sei queabri minha alma verdade e ela me iluminou a conscincia.

    -J basta, Elvira. Chega!- Nunca mais fui a mesma pessoa, Ernesto. A paz que me envolve e-

    norme. Sei que a morte apenas uma transformao pela qual passamos e,muito embora nos separe temporria e fisicamente daqueles a quem ama-

    mos, continuamos a nos encontrar em sonhos, em esprito, enfim...-Boa noite, Elvira. Essa conversa j me aborreceu!Ernesto virou as costas e, deixando a mulher com as ltimas palavras a

    lhe morrerem na garganta, sumiu no longo corredor que terminava no quartodo casal.

    Elvira viu com profunda tristeza o marido sair da sala. Limpou as lgri-mas que agora lhe desciam pela face, juntou as mos e chorou amargamentepor algum tempo. Alheia, no percebeu que o filho de quinze anos a obser-

    vava. Foi somente quando sentiu sua mo carinhosa a tocar-lhe os cabelosque ergueu o rosto, banhado pelo pranto:-No chore, me, no vai adiantar. Ele est completamente cego. Pensa

    que pode brincar de Deus...- No fale assim, Henrique.-Mas verdade. Voc sabe que verdade. Ele est enlouquecendo!- Ele conquistou muitas coisas...

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    -E isso o fez pensar que pode avanar mais e mais, sem parar? Me, elej foi longe demais, voc sabe disso. Fomos avisados. Se no mudar, nadapoder ajud-lo.

    Abraando-se ao jovem, Elvira disse entre soluos:-Temos de fazer algo, filho, precisamos ajud-lo!- Me, acalme-se. Sei o quanto o ama e eu tambm, mas no temos for-

    as para lutar contra sua crena cega!- Deve haver alguma forma de toc-lo; afinal, ele j acreditou tanto nas

    coisas boas, em Deus, no bem! Deve haver um jeito de faz-lo reencontrar-se com a verdade, com o amor, com o equilbrio...

    Henrique abraou-a forte, depois a segurou pelas faces e disse:-Dona Elvira, voc nunca desiste dele, no ?- Enquanto eu puder lutar...

    -H quantos sculos ser que vocs esto juntos, me?- H pelo menos cinco, disso eu tenho certeza.- Cinco sculos!-Seu pai um homem que tem princpios...- Mae, no tente atenuar os defeitos dele; claro que tem suas qualida-

    des, porm o orgulho o cega cada vez mais. Infelizmente ele acha que podetudo! Alm disso, voc percebe como a cada dia mais se afasta de ns?

    Elvira concordou com a cabea e o filho continuou:

    - S parece satisfeito quando est sob os holofotes, diante do pblico,sendo aplaudido e elogiado.

    -Ele um homem to inteligente, Henrique...-E de que isso tem adiantado, me? Eu acho at que o est prejudican-

    do...Enlaando suas mos nas do filho, Elvira silenciou entristecida.

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    CAPTULO 2Os dias iam passando e Ernesto cada vez se afastava mais do ambiente

    familiar. Primeiro, comeou a acordar bem cedo e sair antes que a famliaestivesse em p. Do mesmo modo, noite retornava muito tarde, evitandoencontrar a esposa. Elvira mais e mais se preocupava com a conduta do ma-rido. Ele j estivera distante em outros momentos. Quando prestes a obtersucesso com a clonagem humana, ficara duas semanas no laboratrio traba-lhando dia e noite. Mas ao menos se comunicava de vez em quando, dandonotcias. Agora parecia que algo estava diferente; era como se Ernesto noquisesse contato com ela.

    Na semana seguinte, ausentou-se de casa durante seis dias. Elvira noagentou, fez o que detestava fazer: arrumou-se e foi at o laboratrio.

    Ferdinando, o assistente, entrou na sala de testes e disse prximo ao ou-vido de Ernesto:

    - Sua esposa est a fora.Sem tirar os olhos do que fazia, o cientista respondeu:- Mande-a embora, diga que estou muito ocupado e que falo com ela

    noite.

    -Acho melhor atend-la. Tentei dizer que voc estava muito ocupado,mas ela insistiu em v-lo de qualquer modo. No consegui dissuadi-la. Vocconhece sua esposa melhor do que qualquer um. Elvira muito decidida;quando coloca alguma coisa na cabea, ningum tira. s vezes, nem mesmovoc!

    -Pois v at l e diga que estou ocupado -se quiser, que espere.Ferdinando transmitiu o recado. Entretanto, no convenceu Elvira a ir

    embora. Ela insistiu:

    -Eu espero o tempo que for necessrio. Uma hora ele ter de sair de lpara comer, ir ao banheiro... No possvel que passe todo o tempo dentroda sala de testes...

    - Ernesto est muito envolvido com sua pesquisa. Tem certeza de queem breve encontrar a chave que abrir os conhecimentos para derrotar amorte.

    -Voc sabe que isso impossvel!

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    -No, eu no sei. Se ele foi capaz de clonar com sucesso um ser humano,quem sabe do que mais aquela mente brilhante capaz? E no sou s eu queaposto em Ernesto. Os acionistas da indstria farmacutica que controla afundao esto investindo milhes, talvez bilhes, nessas experincias. Elestambm acreditam.

    - E quanto vo lucrar com o remdio que acabar com a morte? Ora, vo-c bem sabe como so esses homens de negcios: insensveis e ambiciosos.S pensam no dinheiro e mais nada. No pode ser assim, Ferdinando. E atica?

    - Que tica, Elvira? As pessoas esto morrendo e querem deixar de mor-rer. Voc imagina um produto que venda mais do que este? Se Ernesto con-seguir seu intento, ser o homem mais poderoso do mundo. Todos se curva-ro diante dele.

    - Os donos do negcio, sim, que sero ainda mais poderosos.- E o que voc acha que Ernesto ?Elvira espantou-se com a pergunta. Refletiu por alguns instantes, tentan-

    do entender a que Ferdinando se referia; depois respondeu:- Um mdico, cientista e pesquisador. Ferdinando sorriu, irnico:- Vejo que desconhece seu marido, minha prima. Ligeiramente impaci-

    ente com as sucessivas ironias do rapaz, ela indagou:-Se voc o conhece tanto assim, o que sabe mais do que eu?

    - Ernesto tornou-se importante acionista da indstria que controla a fun-dao.

    - Como assim? E onde ele arranjou dinheiro?-Minha ingnua priminha, Ernesto associou-se ao negcio autorizando a

    utilizao de todos os resultados de cada etapa das pesquisas, como bemquiserem os demais investidores.

    Ela empalideceu e silenciou. Ferdinando esperou por uma resposta, masElvira se calou. Recostou-se no confortvel sof da sala do marido e, depois

    de longa pausa, reafirmou:- Vou ficar at que ele retorne. Uma hora isso tem de acontecer.Satisfeito com o que causara, Ferdinando saiu.Elvira aguardou horas, sentada ou andando de um lado para outro da sa-

    la. Foi vrias vezes at o corredor, sem ver sinal de Ernesto. Por fim, ador-meceu no sof. Nem percebeu por quanto tempo dormiu. Despertou ouvindovozes no corredor, vozes que sussurravam:

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    -Traga-me mais esta, vou precisar.-Ela est no quinto ms de gestao, perigoso.-No se preocupe, Ernesto sabe o que est fazendo. J fez isso antes. Ela

    no quer a criana, quer?-So gmeos.Tanto melhor. Assim ganhamos tempo.-Insisto que arriscado; vamos esperar que chegue outra no comeo da

    gestao.-Nem pensar. Precisamos de material para continuar os testes.Est bem, mas a responsabilidade toda sua.- E nossa. No adianta esquivar-se, pois responsvel tambm.Elvira conhecia uma daquelas vozes, mesmo sussurrada: era Ferdinando.

    Ao notar que vinham em sua direo, desesperou-se. No podia deix-los

    saber que ouvira tudo. Ainda que totalmente atordoada com o que acabarade escutar, ela tentava pensar e pedia baixinho:

    Meu Deus, por favor, me ajude. No permita que me descubram aqui,por favor, me ajude.

    Agachou-se atrs do sof e ficou imvel. Algum tocou na maaneta daporta, e j ia abri-la, quando Elvira viu sua bolsa em cima da mesa do mari-do. Num mpeto, saltou por sobre o sof e deitou-se, fingindo dormir. Rapi-damente, enquanto Ferdinando acendia a luz da sala, fez alguns exerccios

    de relaxamento e controle mental que conhecia muito bem e num segundoatingiu um estado semelhante ao de sono profundo.

    Ao acender a luz, Ferdinando viu a prima. Desconfiado, aproximou-secauteloso, buscando sinais de que ela realmente adormecera. Ao chegar bemperto, convenceu-se de que dormia como um beb. Pegou sua bolsa na mesae vasculhou-a. Olhou o intercomunicador e verificou se havia feito ou rece-bido alguma ligao. Tudo estava tranqilo. Elvira devia estar dormindo hmuito tempo, pensou ele; afinal, j era quase manh.

    Sentou-se perto da prima e sacudiu-a sem d:- Elvira, acorde, acorde! V dormir em casa!Elvira fez que despertava lentamente e sentou-se. Ele ento a levantou,

    colocou a bolsa em seus braos e disse:- Vamos, tem de ir para casa. Ernesto no volta to cedo para esta sala.

    Est atolado em afazeres e vai passar o resto do dia trabalhando.E, puxando a prima pelo brao, finalizou:

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    -Meu motorista vai lev-la para casa.Mas, meu carro...-Ele leva mais tarde para voc.Elvira acatou e entrou no elevador. As portas estavam se fechando,

    quando Ferdinando as segurou e disse:- No venha mais ao centro de pesquisas, Elvira. Agora Ernesto um

    homem importante demais para ficar perdendo tempo com uma mulher queno o apoia. Se mudar de idia quanto s experincias, me avise; caso con-trrio, deixe-o trabalhar em paz.

    Ele soltou as portas, que se fecharam, barulhentas. Enquanto o elevadordescia, Elvira sentia todo o corpo tremer. No entanto, dominou-se, ciente deque o prdio era controlado por circuito interno de televiso.

    O retorno para casa foi longo e doloroso. Somente quando o motorista

    do primo sumiu na esquina foi que ela, entrando em casa, se entregou a sen-tido pranto, aliviando a dor que a sufocava.

    CAPTULO 3

    Elvira entrou em casa e, mal podendo andar, foi direto para seu quarto.Fechou a porta atrs de si e sentou-se na cama, tentando colocar algumaordem na mente agitada. Ficou quieta por alguns instantes, depois se levan-tou, foi at a janela e observou o novo dia que raiava. No horizonte a gigan-tesca Capela despontava radiante, acompanhada por outra estrela menor,orbitando ao seu redor. Elvira, ento, respirou fundo e ergueu os olhos aofirmamento, suplicando:

    - Deus misericordioso e cheio de bondade, agradeo a beleza deste dia

    que comea, e lembra ao meu corao que a sua generosidade tambm serenova a cada instante. Sei que posso contar sempre com o seu amparo e asua luz, Criador de amor; por isso rogo neste momento que venha em meuauxlio. Ampare meu querido Ernesto, Pai eterno, ajude-o Senhor da vida,tenha misericrdia, Senhor!

    Sua voz sumiu, cortada pela angstia e pela dor. Nesse momento, suavemelodia se fez ouvir no quarto da bela mulher, enquanto intensa luz tomava

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    conta do cmodo confortvel. Uma figura iluminada se fez visvel; envol-vendo Elvira com emanaes de amor e paz, falou:

    - No se angustie tanto, irm. De que adiantar ficar assim desesperada?Acha que poder auxiliar Ernesto nessas condies?

    Elvira, sem tirar os olhos da luminosa figura, chorou por alguns instan-tes. Depois, cercada pela energia restauradora daquele ser que a visitava,acalmou-se e, refeita, agradeceu:

    -Obrigada pelo seu socorro, querido amigo. O que seria de mim sem asua companhia constante?

    - Sabe que trabalhamos juntos, Elvira, e que igualmente tenho por vocelevado apreo. Agora peo que se mantenha serena; de nada adiantar ali-mentar o desespero.

    -Tem toda a razo, meu bom Jonef. que fiquei to chocada com o que

    ouvi naquele laboratrio... No esperava que Ernesto estivesse envolvidodesse modo...

    - Tem certeza, Elvira? Acho que bem no fundo voc sabia. O que real-mente queria era confirmar...

    Ela assentiu:- Acho que tem razo. Eu tenho esse pressentimento, esse medo a me

    rondar como uma sombra escura. Sinto que a cada dia Ernesto se distanciamais do bem e da luz; e isso h muito tempo.

    - Voc est consciente de que fez tudo ao seu alcance para ajud-lo?- Sim, porm no foi o bastante. No consegui inspir-lo como deveria...- Apazige seu corao, minha irm. Ernesto teve oportunidades abun-

    dantes na presente existncia. Tudo foi cuidadosamente preparado: sua men-te brilhante foi contida pela pobreza e pelas dificuldades; a aspereza da in-fncia e da adolescncia associou-se sua lucidez mental e sua sensibili-dade para fazer com que ele dobrasse um pouco seu tremendo orgulho. De-pois, a paixo por voc e o casamento ainda muito jovem vieram proteg-lo

    de outros tantos enganos... Sua companhia dedicada e amorosa o preservouat onde foi possvel, bem como a chegada dos filhos, espritos to queridos.Vocs todos reunidos o envolveram em afeto e carinho, para toc-lo nas fi-bras mais profundas e ajud-lo a reconhecer o que de fato tem valor. Masnem com todo o esforo que voc e seus filhos empreenderam, aliado de-dicao de nossas equipes espirituais, foi possvel afast-lo daquilo que temdentro de si; Ernesto s poder vencer o orgulho que o ofusca, experincia

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    aps experincia, se efetivamente abrir a alma a Deus e se render suagrandeza e ao seu amor. Enquanto no se reconhecer como criatura limitada,dependente do Criador, ele viver iludido e emaranhado em suas mentirasinteriores, em suas iluses, dando abertura para que sua inteligncia impres-sionante o afunde ainda mais no lodo do orgulho e da prtica do mal.

    E ajoelhando-se respeitoso diante de Elvira, que sentada beira da camao ouvia em atento silncio, o amigo espiritual prosseguiu:

    -Receio que pouco se poder fazer por ele agora, Elvira. Os pesadoscompromissos que est assumindo com seus atos nefastos extinguiram devez a luz que ainda restava acesa em sua conscincia. Ernesto mergulhounas trevas do prprio corao. noite escura para nosso amigo e melhorser que abandone o corpo fsico o mais breve possvel, para que cesse omal que tem causado a tantos espritos que tentam regressar ao nosso mun-

    do.Elvira balanou a cabea, concordando com o amigo. E levando as duas

    mos ao rosto, em longo suspiro, perguntou:-Quanto tempo ele ter?- Muito pouco, Elvira. Ter de deixar o corpo imediatamente.- Ainda hoje?-Ser o melhor. Ele no pode realizar o aborto que planeja fazer esta

    noite. As almas que ameaa deter precisam regressar ao orbe; so espritos

    de luz que chegam ao lar difcil para ajudar antiga companheira. Ernesto nopode interromper aquela gestao.

    - Eu compreendo. Gostaria de estar presente...- Poupe-se, minha irm. Ore por ele aqui mesmo, durante o dia de hoje.

    Sustente-o com seu amor, como sempre fez.-E o que ser dele depois? Quando poderei reencontr-lo? Jonef, amo-

    roso, disse:- Muitos lhe agradecem alegres pelo trabalho que vem realizando, Elvi-

    ra. Voc tem servido ao bem com devotamento e abnegao... Gostaria depoder ajud-la mais com Ernesto; todavia, nada se pode fazer sem que elequeira.

    - Eu sei, Jonef. Sei quanto auxlio ele tem recebido e as muitas oportu-nidades que tem desperdiado. Muito me empenhei em ajud-lo, mas tam-bm meus esforos foram em vo... Ernesto ter de recomear e sabe-se lem que condies...

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    Jonef fitou Elvira com extremado e paternal carinho e afirmou:- Deus jamais nos abandona. Um dia, Ernesto haver de compreender a

    grandeza e o amor de Deus e retornar aos braos do Criador.O gigantesco sol que iluminava o orbe brilhava ento com toda a inten-

    sidade e Jonef despediu-se:-Preciso partir.Elvira, apesar do corao magoado pela dolorosa situao do compa-

    nheiro, sorriu e agradeceu:-Uma vez mais, Jonef, obrigada pelo socorro e pelo amparo to amoro-

    sos.Jonef desapareceu de sua vista e ela, resignada, permaneceu em orao

    pelo marido que tanto amava.Enquanto isso, no laboratrio da fundao, Ernesto se preparava para

    dar seqncia a suas atividades criminosas. Ao ver o sol se erguendo impo-nente no horizonte, resolveu subir at a cobertura do prdio para contemplaro belo dia que surgia. Antes, porm, procurou por Ferdinando e pediu queprovidenciasse um refresco e frutas. O assistente trouxe pessoalmente abandeja:

    - Aqui est, Ernesto. No seria bom voc descansar um pouco, para de-pois seguirmos com a agenda de hoje? Parece cansado.

    - No quero parar agora, Ferdinando. Sinto que algo est prestes a acon-

    tecer e quero que acontea logo!Ferdinando sorriu discretamente e disse, ao fechar a porta atrs de si:-Voc quem sabe, Ernesto. Se precisar de mim, estarei por perto.Ernesto tomou a bandeja nas mos e subiu. Acomodou-se no conforto

    do espaoso sof que ficava no centro da cobertura e, concentrando-se nogrande e pesado teto de vidro, abriu-o usando apenas o pensamento. O fres-cor da manh dominou seu rosto e seu corpo, dando-lhe uma sensao desatisfao e bem-estar. Naquele momento, sentia-se imensamente poderoso.

    Sorveu o suco devagar e saboreou as frutas, uma a uma, enquanto planejavaos prximos passos que deveria dar para atingir o sucesso com seus experi-mentos.

    Ainda estava longe da resposta que desejava, mas sabia que poderia ob-t-la; afinal, j alcanara tantos outros sucessos... A uma ordem de sua men-te, os objetos se movimentavam at onde ele desejasse. Sua fora mental eraenorme, e ele praticara sem cessar. Agora, com os conhecimentos que ad-

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    quirira, no s em relao medicina, como tambm manipulao da e-nergia, Ernesto se dedicava arduamente a desvendar os mistrios da energiacondensada; sabia que por esse caminho haveria de descobrir o princpio davida e, ento, poderia control-la, como fazia com os objetos, e mesmo comas pessoas de mente um pouco mais fraca, atravs da telepatia. Nada o dete-ria; seu poder seria ilimitado. Seus conhecimentos eram vastssimos e ele seorgulhava deles. Dedicara anos a fio a estudar, a experimentar o que apren-dia e a usar a intuio na consecuo de seus objetivos. Estava satisfeitocom o andamento de seus projetos. Entretanto, bem no fundo, algo o inco-modava, sem que se desse conta.

    Ao observar a imensido do armamento, ele pensou em Elvira. Forte a-perto no peito o assaltou. Levantou-se enrgico e expulsou do pensamento adelicada figura da esposa, dizendo em voz alta:

    - No hora para sentimentalismos!Ao levantar-se, porm, sentiu intensa dor, agora no peito e na cabea.

    De sbito, violenta tontura o fez sentar-se de novo na poltrona. Ernesto nocompreendia o que se passava. Nunca sentira aquele mal-estar. Lutou parase levantar, mas no teve foras e permaneceu sentado, quase deitado, como rosto voltado para o cu.

    O sol vibrante banhava-lhe a face e ele mal podia mover-se. Apenas res-pirava, e com dificuldade. Queria gritar, mas no conseguia. Esforava-se

    para se levantar, e o corpo o desobedecia. Num impulso inimaginvel, pro-curou dominar o pavor que sentia, diante de situao to inesperada, e acal-mar-se para raciocinar e compreender o que estava ocorrendo. Tampouco amente o obedecia. Ele, ento, pensou em Ferdinando, desejando cham-lo.

    Decorridos alguns instantes, notou que algo encobria o sol, sombreandoseu rosto. Percebeu que a sombra se aproximava, e viu que era Ferdinando.Num supremo esforo, tentou comunicar-se mentalmente com o assessor:

    -Ferdinando, ajude-me. Algo est acontecendo. No consigo me mover,

    tenho uma dor intensa no peito e...- Na cabea. - completou Ferdinando, aproximando-se mais de Ernesto- Eu sei, o veneno causa essa sensao. E tambm a morte lenta e dolorosa.

    Ernesto arregalou os olhos, apavorado, e continuou a comunicar-se men-talmente com Ferdinando:

    -Do que est falando?

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    Sentando-se no espaoso sof, bem ao lado do cientista, o assistenteprosseguiu:

    -Poupe suas derradeiras energias. No h nada que possa fazer. O vene-no bloqueia sua capacidade mental e energtica; no adianta tentar comuni-car-se com ningum, nem mesmo com Elvira - alis, principalmente comElvira. Sinto-lhe a presena aqui hoje, claramente, mas ela no poder maisinterferir nos acontecimentos... Interessante...

    Ernesto no conseguia articular sequer um pensamento completo. A doraumentava, dominando seu corpo inteiro. Incapaz de pensar, ele olhava Fer-dinando, estupefato. E este confessou:

    - H muito venho planejando livrar-me de voc. S precisava que confi-asse em mim o suficiente para me transmitir todos os seus conhecimentos.Agora que j tenho acesso a quase tudo, no preciso mais de voc. Vou ter-

    minar suas pesquisas, obter o resultado e receber todos os louros, que defato mereo. Se no fosse por mim, voc jamais teria realizado a clonagem,muito menos chegado at aqui. O servio sujo quer que eu faa, e os resul-tados ficam sempre exclusivamente com voc -ou melhor, ficavam.

    Usando a fora da mente em Ernesto, o assessor o fez erguer-se lenta-mente no ar e volitar at alcanar o parapeito do prdio. Ento, ergueu-se dosof e, mantendo a concentrao inalterada, caminhou lentamente at ondeestava o mdico e disse:

    - Eu assumo daqui por diante. Adeus, Ernesto.Foi sem nenhuma resistncia que Ferdinando empurrou o corpo imobili-

    zado de Ernesto prdio abaixo.

    CAPTULO 4Elvira ainda estava em seu quarto, meditando e orando, quando Henri-

    que bateu porta:-Me, venha depressa.Embora totalmente preparada, Elvira sentiu sumir-lhe o sangue do cor-

    po. Seu corao batia descompassado; suas mos suavam e sua boca estavaseca. Mesmo assim, levantou-se devagar e atendeu ao chamado:

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    - O que foi, meu filho?- E da fundao. Pediram que fosse depressa at l. Parece que algo mui-

    to srio ocorreu com papai.- Acalme-se, meu filho. Lembremos que a Providncia Divina jamais

    nos desampara.- Por que est falando assim? Sabe de alguma coisa? Elvira o olhou fi-

    xamente e no respondeu. O jovem, queconhecia bem a me, disse entristecido:- Voc j sabe o que est acontecendo, no ? Foi avisada, me?- Hoje pela manh.- E o que houve com ele?- Tenha f em Deus, Henrique. Ele nunca nos abandona.Mesmo quando o momento difcil, de dor, de sofrimento, continua

    querendo o melhor para ns. Voc sabe disso, no ? Precisamos estar con-fiantes e unidos, mais do que nunca, filho. Seus irmos ainda no tm capa-cidade de compreender como voc e precisaro de nosso apoio.

    Henrique fitou a me, preocupado, e uma vez mais questionou:- Mas, afinal, qual o problema?- No sei maiores detalhes, filho. Apenas fui informada de que seu pai

    teria de deixar a encarnao prematuramente, por no ser mais possvel suapermanncia no corpo denso. Suas escolhas esto prejudicando muitas vidas

    e a espiritualidade superior no teve alternativa, seno permitir que se encer-rasse esta oportunidade a ele concedida.

    Henrique suspirou, desolado:- Que tristeza, me! Sabemos o quanto ele pediu para voltar, o quanto

    prometeu que se esforaria para acertar desta vez. Quanto tempo foi precisopara que todos ns pudssemos estar juntos de novo!... Especialmente voc,me.

    Elvira o encarou com doura e disse:

    - Deus respeita nossas escolhas, filho; embora tudo tenha limite, quandoestas vo contra as suas leis perfeitas. Seu pai falhou, porm ter nova opor-tunidade...

    - Sabe-se l quando...- Vamos acreditar, Henrique, confiemos em Deus. Nesse instante, Feli-

    pe, o filho mais velho, bateu porta desesperado:- Me, venha depressa! Aconteceu uma desgraa! O papai, ele...

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    Imediatamente Elvira abriu a porta e abraou o filho, que tremia:- Uma desgraa, me! Ele morreu!Elvira continuou enlaada ao filho, enquanto pesadas lgrimas lhe des-

    ciam pela face. Henrique abraou-se aos dois e chorou com eles. Assimpermaneceram longo tempo, at que todos se acalmassem. Ento, Elviralimpou os olhos midos e vermelhos e pediu:

    - Fique aqui, Felipe, e espere pelo seu irmo, que em breve chegar. A-inda muito pequeno e precisa que cuide dele...

    Felipe no deixou a me terminar:- No, quero ir com voc. Quero ver meu pai... Elvira segurou carinho-

    samente a face do filho ao dizer:- Seu pai j no est conosco. O que se pode ver apenas a vestimenta

    fsica, material, que ele usou no tempo que esteve entre ns. Seu pai est

    agora em outra dimenso, iniciando uma nova fase em sua existncia... Noh nada para voc ver. Fique aqui.

    - S se o Henrique ficar tambm.Elvira olhou suplicante para Henrique, que perguntou: -Pode mesmo ir

    sozinha, me? Vai ficar bem? Eu posso ficar com o Felipe e o Lucas, masseria bom se voc fosse com algum...

    - Eu no estarei sozinha, pode ficar tranqilo. Enquanto conversava comos filhos, Elvira viu a figura amiga de Jonef, que se mantinha a certa dis-

    tncia, respeitoso.Henrique assentiu com a cabea, entendendo que a me estava em com-

    panhia espiritual que a ampararia naquela hora.Elvira saiu depressa. Assim que chegou ao prdio do centro de pesqui-

    sas, teve de enfrentar o assdio dos reprteres que se aglomeravam atrs deum cordo de isolamento. Ela se identificou e conseguiu andar at onde es-tavam alguns funcionrios da instituio, junto com policiais e investigado-res. Um dos funcionrios logo a identificou:

    -Elvira, eu sinto muito. Estamos todos comovidos. Sabamos que doutorErnesto estava sob forte presso, mas jamais poderamos imaginar que fossecapaz de fazer algo assim...

    - E o que houve, Marcelo?- Ainda no sabe, Elvira?- S sei que ele est morto.- No sabe como aconteceu?

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    - Por favor, conte-me. Como foi?- Doutor Ernesto atirou-se da cobertura do prdio; ele se suicidou.Elvira sentiu as pernas fraquejarem. Confiava profundamente em Deus,

    mas aquela notcia a tomara de assalto.-Tem certeza, Marcelo? Como sabe?-Ele estava sozinho na cobertura; as cmaras de segurana no registra-

    ram mais ningum subindo.-No poderia ter sido um acidente? Ser que ele no se distraiu, pensan-

    do em suas experincias, e caiu?- Tudo indica que no, Elvira. Sei que muito difcil aceitar... Especial-

    mente de algum to confiante e seguro como doutor Ernesto.- Por isso mesmo, Marcelo. No posso imaginar Ernesto, empolgado

    como estava com seus experimentos, dando fim vida, quanto se sentia to

    perto de concretizar seus planos...- mesmo sem sentido, mas foi o que disseram os primeiros policiais.Elvira despediu-se e foi procura do investigador responsvel.- Seu marido foi levado ao hospital.- Vo fazer autpsia?- Vai ser difcil, senhora. Esto tentando.- Qual a provvel causa?-Ainda no sabemos; mas presumimos ser suicdio.

    - No possvel! Tenho certeza de que isso no aconteceu!- Seu depoimento ser importante para ns; logo que estiver mais calma,

    poderemos conversar - concluiu o investigador, atendendo ao chamado dealguns colegas que o requisitavam.

    Elvira afastou-se do aglomerado e foi para o hospital. No caminho medi-tava e conversava mentalmente com seu amigo e protetor, que insistia emdizer-lhe:

    - Fique tranqila, Elvira. Esse crime ele no cometeu.

    Os dias que se seguiram foram de intensa dor para Elvira e seus familia-res. Todos suportaram interrogatrios interminveis, em meio ao dolorososepultamento do chefe da famlia. Elvira era assediada por amigos, curiosos,parentes e admiradores do marido, que queriam detalhes sobre o falecimentoe as investigaes. Sentia-se atordoada e cansada. Em meio a tamanho tu-multo, tinha pouco tempo para estar consigo prpria e refletir sobre o ocor-

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    rido - e, principalmente, para orar pelo marido. Isso era o que mais a entris-tecia.

    Enfim, depois de algumas semanas, o ambiente comeou a se acalmar eno final do segundo ms Elvira experimentou relativo alvio. Aps refazer-se fsica, emocional e espiritualmente, passou a pedir a Deus pelo compa-nheiro, a quem amava com desvelo. Sabia que sua situao no mundo espi-ritual seria difcil e queria ajudar em tudo o que lhe fosse possvel.

    Em uma noite calma, seu fiel amigo espiritual Jonef veio falar-lhe, du-rante o sono. Desprendida do corpo fsico, recebeu-o ansiosa:

    - Meu amigo, como bom v-lo! Tem notcias de Ernesto? Preciso mui-to estar com ele!

    O amigo, contudo, estava srio.- No creio ser este o melhor momento para v-lo, Elvira. Ele no passa

    bem e voc ainda est abalada. Descanse, serene seu corao e, em ocasiooportuna, poder encontr-lo.

    - Esteve com ele?- Eu o vi.- Onde ele est?-No momento certo saber, Elvira. Agora descanse. Seus filhos precisam

    muito de voc.Impondo as mos sobre o corpo fsico de Elvira, que permanecia igual-

    mente inquieto na cama, Jonef procurou auxiliar a amiga a refazer-se. Emalguns instantes, ela dormia profunda e mansamente.

    CAPTULO 5

    Enquanto dormia, Ferdinando debatia-se, agitado: -V embora! Livrei-me de voc, o que ainda faz aqui? Suma, vamos!De um salto, sentou-se na cama, apavorado. Tomando conscincia de

    que acabava de acordar e pensando que tivera um pesadelo terrvel, levan-tou-se e caminhou at a janela. Entreabriu a elegante cortina e observou acidade a seus ps. Poucos eram os transeuntes e veculos que se moviam.Tudo estava calmo.

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    A cidade era de uma beleza estonteante. Apesar dos recursos tecnolgi-cos de que dispunha - permitindo, por exemplo, que os veculos se moves-sem sem tocar o solo e alcanarem rapidamente o destino desejado -, a mo-vimentao era organizada e sincronizada. Os condutores educados e cuida-dosos dirigiam sempre com muita gentileza e cortesia, ao menos na grandemaioria. O combustvel utilizado era a energia solar armazenada, o que ga-rantia que o ar se mantivesse limpo e puro. As ruas eram bem cuidadas,limpas e arborizadas. Tudo evidenciava as transformaes que se vinhamacentuando naquele belo e rico mundo.

    Ferdinando respirou longamente, sentindo o aroma delicado no ar damadrugada. Depois, voltou a se deitar e disse a si mesmo, como para seconvencer:

    - Preciso descansar. Foi s um pesadelo. Se bem que se repita quase to-

    da noite, apenas um sonho.Quando se deitava, procurando a melhor posio no travesseiro, algum

    o espreitava, atento:- Pode tentar se enganar quanto quiser, meu caro, mas no vou deix-lo

    em paz at acabar com sua vida! Confiei em voc, Ferdinando; confiei-lhemeus mais preciosos segredos e voc, o que fez? Destruiu-me. Eu estava toperto... Mas voc me paga! Vai se ver comigo. No sossego enquanto no odestruir tambm.

    Ferdinando se remexia na cama, sem conciliar o sono. Embora no escu-tasse Ernesto, que em esprito estava agarrado fortemente ao seu pescoo,registrava-lhe as palavras, pois no conseguia relaxar. Virava-se de um ladopara o outro, inquieto, sentindo faltar-lhe o ar.

    Noite aps noite, Ferdinando rolava na cama, buscando em vo o repou-so. Quando chegava a adormecer, dava com a figura raivosa de Ernesto,tentando enforc-lo, sem que ele nada pudesse fazer. Acordava ento so-bressaltado, angustiado, e o medo o impedia de voltar a dormir.

    Naquela manh, no laboratrio, Ferdinando mal conservava os olhos a-bertos. Estava exausto, sem foras para prosseguir os experimentos. A pres-so dos acionistas por algum progresso era constante e Ferdinando no po-dia mais sequer raciocinar. Ele sabia que havia algo errado; aqueles sonhoseram muito reais. Mesmo assim, insistia em no pensar naquilo e concen-trar-se no trabalho a fazer.

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    To logo souberam da morte de Ernesto, o presidente e os acionistas daindstria farmacutica controladora da fundao se preocuparam em encon-trar um sucessor para o renomado cientista. Ferdinando, rapidamente, tratoude assegurar-lhes que possua todas as informaes e os planos que Ernestoestava desenvolvendo - como seu assessor direto, tinha acesso a tudo, quaseao que ia na mente do grande mdico e cientista. No foi difcil convenc-los e sem demora ocupou o lugar que pertencera a Ernesto. O rapaz, ambi-cioso e audacioso, havia premeditado tudo com muito cuidado.

    Relembrando os esforos que empreendera para chegar at aquela posi-o, Ferdinando deu um soco na mesa e gritou como se falasse diretamentecom Ernesto:

    - Nada vai me impedir de obter meus intentos! Nada! No importa queeu no durma pelo resto da vida. Vou conseguir tudo o que desejo. Tudo!

    Cerrando o punho, ia socar novamente a mesa, quando o telefone tocou.O rapaz atendeu, e do outro lado da linha o telefone estava mudo. A cena serepetiu por cinco vezes, at que Ferdinando ignorou o toque e se levantouirritado. Andou de um lado para outro na sala, cada vez mais enervado comaquele som que no cessava. Aproximou-se do aparelho, arrancou-o comtoda a fora e o lanou parede, despedaando-o. Em seguida foi seu inter-comunicador que comeou a chamar sem parar. No encontrando ningumna linha, ele desligou. O toque recomeou. De novo ele atendeu e foi ento

    que escutou claramente a voz de Ernesto:-Desta vez no vai conseguir livrar-se de mim!Ferdinando atirou o aparelho na parede e saiu da sala, em desespero.

    Passou pela assistente como um furaco e, ao invs de tomar o elevador,desceu as escadas apavorado, gritando:

    - Eu j me livrei de voc, Ernesto! Desaparea! V embora! Gritava edescia as escadas cada vez mais depressa, como se visse nitidamente Ernes-to correndo atrs dele. A assistente acompanhou, assustada, o comportamen-

    to do chefe. H dias vinha estranhando as atitudes de Ferdinando, inclusivej havia comentado com vrios colegas que ele parecia ter perdido o juzo.Ao constatar seu estado naquele dia, no teve dvidas: ligou para o hospitalpsiquitrico que mantinha convnio com a fundao e informou o que esta-va acontecendo.

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    Ao chegar no andar trreo, Ferdinando estava lvido e completamentesem flego. Sem foras, confuso e aturdido, sentou-se no meio do saguoprincipal do prdio e se ps a chorar, bradando:

    -Por favor, v embora! No me atormente mais! Por favor! Deixe-meem paz!

    No demorou muito e uma ambulncia encostou porta do prdio. Trshomens trajando branco se dirigiram para Ferdinando, que j chorava comocriana. Quando viu que se aproximavam, foi se arrastando pelo cho, en-costado parede, enquanto gritava:

    - No, por favor, afastem-se de mim! No me toquem! No! No!Incapaz de se controlar, teve de ser imobilizado e sedado pelos enfer-

    meiros, sob a ordem do mdico que os acompanhava. Foi levado ao hospitalpsiquitrico e, aps minucioso exame, considerado portador de distrbio

    mental grave.Imediatamente os responsveis pela fundao iniciaram a busca de outro

    cientista que pudesse dar andamento s pesquisas; candidatos no faltavame logo encontraram outro mdico que se disps prazerosamente a prosseguiras anlises de onde Ernesto e seu assistente haviam parado.

    Passados alguns meses Ferdinando no falava nem andava mais, parali-sado no leito, de onde nunca saiu, at ser encontrado pela enfermeira, semrespirar, com os olhos arregalados, como se o tivessem asfixiado.

    Ao desprender-se do corpo fsico, a dor de Ferdinando foi ainda maior.Em seus derradeiros instantes ele gritava:

    - Pare, por favor! No consigo respirar!E o drama no cessou com o desenlace. Seu corpo espiritual continuava

    agarrado por Ernesto e ambos, perseguido e perseguidor, foram sugadospara o espao ao redor do orbe, arrastados para tenebrosa regio de dor esofrimento.

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    CAPTULO 6E ira, no obstante recuperada por completo do momento ficil pelo qual

    passara, continuava extremamente preocupada com a situao espiritual deErnesto. Ela conhecia bem a condio das almas que deixam o mundo sob odomnio do orgulho e do egosmo e, sobretudo, longe de Deus.

    Inabalvel, intercedia por ele em orao, rogando ao Pai que o auxilias-se. Ao deitar-se, noite aps noite, pedia ao bom amigo Jonef que a condu-zisse at onde estava o marido.

    Naquela noite, Elvira se deitou e, entre lgrimas, suplicou a Deus queajudasse Ernesto a reerguer-se da sombra onde provavelmente se encontra-

    va. Jonef, afvel e amoroso, apareceu no quarto, dizendo:- Minha querida irm, precisa ter pacincia e aguardar confiante a res-

    taurao espiritual de seu companheiro. Deus nos deu o livre arbtrio e infe-lizmente, por ora, Ernesto preferiu o caminho que o afastou do bem e da luz.Quanto a voc, minha irm, tem usado suas oportunidades para fazer o beme acender a luz divina ao seu redor e dentro de seu corao. Por isso, nopodero estar juntos por enquanto.

    - Eu desejo ajud-lo, Jonef. No me pea para ficar longe dele. Sabe h

    quanto tempo o acompanho, encamao aps encarnao.-Sim, Elvira, eu sei. Contudo, vocs escolheram caminhos opostos, e pa-

    ra Ernesto o regresso levar muito tempo. Assim, vocs tero de ficar sepa-rados por um perodo.

    -Mas ele precisa de mim...Envolvendo-a carinhosamente em intensa luz, Jonef prosseguiu:- Prepare-se. Em breve virei busc-la para um encontro que a ajudar a

    entender melhor o que estou falando.

    -Vai me levar at ele?- Ns vamos tentar.Elvira olhou para o amigo e, intrigada, perguntou:- Como "tentar"? No sabe onde ele est? Sei que deve ser um lugar

    triste e sombrio, mas quantas vezes o acompanhei a tais ambientes, pararesgatarmos irmos em situao semelhante do meu querido Ernesto?

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    -Acontece, Elvira, que agora diferente. Estamos diante de um momen-to singular para o nosso mundo. O resgate no ser mais to simples...

    Elvira, sria, silenciou por instantes. Depois questionou:- Do que est falando, Jonef?- chegado o momento de se consumar a transformao pela qual tanto

    temos ansiado. O orbe est se modificando e, em breve, ser um mundo deregenerao, onde somente as almas mais conscientes e afeioadas ao bempodero habitar.

    Elvira encarou Jonef enlevada. Seu rosto doce e meigo cintilava e deleemanavam luzes radiantes. De seu peito, luzes azuis e rosadas se expandiamao infinito. Sua beleza espiritual era encantadora. Seus olhos brilhavam co-mo estrelas no firma-mento. Ela no conseguia falar. Sentia o corao pulsarnum misto de jbilo e tristeza.

    Jonef tocou-lhe os cabelos ternamente e acrescentou:- Sim, querida irm, chegou a hora de se completar a mudana. Veremos

    por fim a violncia dar lugar paz; o dio ser trocado pelo amor; o orgulhoceder vez humildade; e o mal, enfraquecido, ser vencido pelo bem. otriunfo de Deus nos coraes dos homens de nosso mundo!

    Elvira fitou Jonef com emoo, sorrindo. Depois, como a se lembrar dealgo, estremeceu e perguntou:

    - E o que ser de Ernesto, justamente agora? Sabamos que seria sua l-

    tima chance. O que vai acontecer com ele?- Entendo sua angstia, minha irm, e por isso obtive autorizao para

    lev-la comigo a importante reunio no plano espiritual, para que possacompreender o destino de nosso irmo.

    -E acha que verei Ernesto, nessa reunio?- Elvira, no h como ter certeza. Mas insisto em que descanse e se pre-

    pare; possvel que encontremos Ernesto entre aqueles que iro participardesse encontro especial. Em breve virei busc-la, durante o sono fsico.

    Movendo a cabea em sinal afirmativo e sorrindo com doura para Jone-f, ela concordou:- Haverei de estar pronta, com a graa de Deus, meu bom amigo. A-

    guardo-o com o corao preparado.

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    CAPTULO 7A vida flua com toda a intensidade naquele orbe admirvel, cujas bele-

    zas o colocavam entre os mais lindos do Universo. A movimentao eragrande nas ruas e nos prdios; homens e mulheres iam e vinham; jovens ecrianas se dedicavam com alegria s suas atividades.

    A humanidade estava otimista. Nunca antes um governo mundial tiveratanta confiana e credibilidade por parte das populaes. Pela primeira vezna histria, os povos tinham um s governo para todos os pases. As barrei-ras entre as diferentes naes haviam cado e uma ampla coalizo poltica

    fora capaz de eleger, num esforo gigantesco, um governo nico. Havia osque resistiam; muitos interesses se opunham a esse avano. No obstante,com o crescimento econmico unindo as naes, derrubando taxas e impos-tos entre os povos, a economia global se consolidara e de tal modo se forta-lecera igualmente seu rgo representativo (constitudo de enviados de to-dos os pases) que fora possvel convencer a coletividade a eleger um go-verno centralizado.

    As populaes estavam cansadas da violncia e das guerras sucessivas;

    famlias incontveis haviam sido dizimadas e as pessoas ansiavam por al-gum em quem pudessem confiar; esperavam por uma transformao; dese-

    javam como nunca antes que houvesse paz, finalmente, entre todos os ho-mens.

    O governo nico se iniciara h alguns anos e os resultados se faziam no-tar em toda parte: o mundo, outrora beira da destruio em conseqnciado contnuo desrespeito e das agresses sofridas por seus habitantes, atra-vessava uma fase de harmonia e restaurao, ainda que lenta e gradual, de

    suas reservas naturais. Nenhuma rvore fora derrubada nos ltimos anos,nenhuma sequer. E novas reservas florestais vinham sendo cultivadas, diaaps dia. Eram grupos enormes de jovens, estudantes, que deixavam as salasde aula e iam s reas completamente destrudas para, sob a orientao detcnicos agrnomos, comear o reflorestamento das extenses devastadas. Aprincpio, muitos acharam que os esforos seriam em vo - nada mais pode-ria ser feito para salvar o mundo. Muitos acreditavam mesmo que a destrui-

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    o total era inevitvel. No entanto, passados alguns anos, eles viam reflorira esperana, nos grandes parques que se formavam em toda parte. As rvo-res nativas de cada regio eram semeadas e, com a vegetao pouco a poucorecuperada, ia tambm ressurgindo a fauna original.

    Nas cidades, abandonadas e empobrecidas, destitudas de beleza, a mu-dana fora ainda mais radical: o governo vinha atuando diretamente na edu-cao da populao e j o prprio povo, consciente e esperanoso, buscavaalternativas para melhorar os centros urbanos. Grandes mutires se realiza-vam com freqncia, entregues tarefa de elevar a qualidade de vida nasregies mais pobres das cidades. A populao, outrora esmagada pela de-sesperana, pela pobreza e pela fome, agora respirava aliviada, cheia de o-timismo e confiana.

    Investimentos constantes em pesquisas, com resultados bem direciona-

    dos, traziam avano tecnolgico para todas as reas. O orbe experimentavaum progresso jamais visto em todos os seus setores de atividades. Os inte-resses pessoais, aos poucos, cediam lugar ao bem comum, graas consci-ncia reta e ao amor, que prevalecia invariavelmente, inclusive nas almasdaqueles que governavam. O respeito ao prximo e a Deus era assunto roti-neiro nas reunies polticas.

    Entretanto, havia os que ainda se opunham duramente, ignorando oumesmo rejeitando os resultados que se vinham obtendo; viam, mas no que-

    riam aceitar que aos poucos brotava uma nova civilizao. No cediam sevidncias, contrariados em seus interesses particulares.

    Dentre esses grupos que se opunham ao progresso, havia um em especi-al, constitudo de importantes figuras sociais e polticas: eram homens denegcios, que viam seus lucros diminurem por conta da mudana de hbi-tos das populaes. Dentre eles, muitos tambm tinham forte influncia jun-to a membros do governo nico.

    Esse pequeno mas poderoso grupo se reunia tentando, sucessivamente,

    diversas aes para desestabilizar o governo e tomar o poder nas prpriasmos. Eles estavam adotando estratgias cada vez mais agressivas e naquelatarde, discutiam, ardorosos, como haveriam de proceder com relao s l-timas propostas do governo.

    Marcelo, um dos mais poderosos, dizia:- No concordo em absoluto! Temos de tomar providncias. Se deixar-

    mos que continuem, perderemos de vez o controle.

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    - Que se h de fazer, Marcelo? Eles agora so maioria! - redargiu Fel-cio, dividido entre o bem-estar que constatava no povo e os interesses deseus amigos, que vinham sendo afetados.

    - Que nada! Um bando de frouxos, isso o que eles so. To ingnuos...Nesse ponto Maurcio interveio, convicto:- Olhe, Felcio, se no tomarmos atitude agora, ficar cada vez mais di-

    fcil. Tenho conexes no mundo inteiro, com aqueles que continuam insatis-feitos com o rumo que as coisas esto tomando.

    - Temos apoio em todo lugar. s mover um dedo (e muito dinheiro) epoderemos insuflar metade da populao do globo contra o governo. - destavez foi Rodolfo quem tomou a palavra.

    Felcio argumentou, receoso:- Porm no poderemos saber quais as conseqncias dessa nossa atitu-

    de... Parece que as coisas esto indo realmente bem.- Felcio, voc sempre esteve do nosso lado; mas, se ainda tem dvida,

    por que no tira umas frias? No tem de participar, se no quiser.O homem de seus cinqenta anos calou-se, pensativo. A reunio j du-

    rava horas quando Marcelo sugeriu aos participantes, que somavam mais demeia centena:

    - Vamos dominar um dos submarinos nucleares e ameaar explodi-lo. Opnico ser geral e ficar muito fcil tomarmos o poder, com o apoio de

    todas as faces que se opem ao governo atual.A sala explodiu em discusses. Todos falavam ao mesmo tempo, uns

    mais receosos do que outros. Marcelo pediu:- Senhores, vamos manter a ordem. As manifestaes devem ser envia-

    das ao nosso telo; caso contrrio no conseguiremos chegar a um consenso.Perguntas e sugestes se somavam. Depois de muitas horas de acalorada

    discusso, finalmente a maioria concordou: tomariam o controle de um dossubmarinos nucleares mais potentes do mundo. Essa seria a mensagem dire-

    ta ao governo de que ele no tinha o poder absoluto - eles, sim passariam ater.Era uma medida drstica. Outras menores j haviam sido tentadas, sem

    xito. Atos terroristas tinham sido incentivados em diversas partes do globo,mas o povo contribua, os casos eram solucionados e os executantes doscrimes, quase sempre presos, estavam comeando a delatar a procednciadas ordens.

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    Marcelo representava grande nmero de interessados em refrear a qual-quer custo o progresso que se via de forma generalizada. Eles simplesmenteno queriam viver sem o controle que sempre haviam detido. Sentiam-seameaados pela fora que a populao global vinha demonstrando e tudofariam para que o progresso fosse impedido.

    Algumas semanas se passaram. Aquele dia amanheceu com frescor in-comparvel e Felcio - que depois da conturbada reunio decidira afastar-setemporariamente de suas atividades - olhava pela janela o trfego das crian-as indo para a escola. Sentia-se profundamente incomodado naquela ma-nh. Observava tudo e pensava em como as coisas haviam chegado queleponto, quando a esposa chegou, plida e ofegante, quase sem conseguir fa-lar:

    - Venha ver... Felcio! uma... catstrofe de dimenses incomparveis!

    - O que aconteceu, Melissa? -Ligue a televiso.Felcio empalideceu tambm. Lembrou-se de que aquele deveria ser o

    dia da ao que seu grupo planejara. Ligou a televiso, que noticiava emtodos os canais:

    "A poeira radiativa alcanar algumas cidades. Aqueles que tm abrigo

    nuclear devem busc-lo imediatamente".

    Felcio passou de um canal a outro, atrs de mais informaes:

    "O mais poderoso submarino nuclear afundou e em seguida explodiu,gerando onda gigantesca que encobriu grande parte dos continentes Houve

    destruio macia. Segundo informaes colhidas com diversas reas de

    controle e operaes, tudo indica ter sido uma ao terrorista sem prece-

    dentes ".

    Sem esboar reao, completamente atnito, Felcio olhava para a mu-lher, que chorava desesperada.Naquela mesma hora, longe dali, Elvira igualmente assistia ao notici-

    rio, incrdula, junto dos filhos, que assustados perguntavam:- E agora? O que vai acontecer? Vai morrer muita gente? Henrique ques-

    tionou:

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    - Como que pode ser isso? Esse submarino era de segurana mxima,utilizado apenas para pesquisa em guas profundas...

    Elvira respirou fundo e respondeu:-Eu no sei o que dizer, meu filho. Agora que nosso mundo parecia de-

    finitivamente melhor, vemos esse desastre monstruoso... No sei, Henrique,no sei mesmo o que dizer...

    - Por que Deus permitiu uma coisa dessas, me? - questionou Lucas, ofilho mais novo.

    Elvira fitou o jovem e explicou:-Meu filho, Deus nunca quer o mal, somente o bem para todas as suas

    criaturas. Ele nos ama infinitamente. S quer o nosso bem. Creia-me, Lucas,se algo to terrvel aconteceu, foi porque algum agiu contra a vontade deDeus.

    -Mesmo assim, por que Deus deixou algum tentar destruir tudo?-Porque ele nos d liberdade, meu filho. Somos livres para agir de acor-

    do com nossa vontade. Ele nos deu esse poder. No entanto, para usarmosisso em nosso benefcio, para o nosso bem e o bem geral de nossos seme-lhantes, e no para satisfazer nosso orgulho e nosso egosmo. Esse tem sidoo maior problema humano, voc bem sabe. contra isso que lutamos inces-santemente...

    Apesar da resposta sbia da me, Lucas no se convenceu e, balanando

    a cabea em sinal negativo, repetia:-Isso no est certo... No est certo... Como isso foi acontecer, meu

    Deus? Por qu?Dor, sofrimento e estupefao: era o que se via estampado em todos os

    rostos. Era inacreditvel que, aps tantos esforos bem-sucedidos do gover-no nico para melhorar as condies do mundo, muitos ainda agissem paradestru-lo.

    O nmero de mortes em decorrncia das ondas radioativas foi enorme.

    S no foi maior porque a populao h muito se preparara para enfrentaralgo semelhante, e muitos possuam abrigos anti-radiao.

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    CAPTULO 8O dia foi de agitao e angstia em toda parte. Mesmo assim, Elvira no

    esquecia a recomendao de Jonef e, em meio tragdia que se abaterasobre seus amigos, filhos e vizinhos, seu corao se mantinha ligado a Er-nesto e possibilidade de encontr-lo.

    J era noite alta e seus filhos ainda estavam grudados no aparelho de te-leviso, esperando novas informaes referentes aos fatos atordoantes quesobre o orbe se haviam abatido. Elvira entrou na sala e pediu:

    - Muito bem, rapazes, acho que j chega por hoje. Vamos nos deitar eprocurar descansar. No se preocupem, pois amanh, logo que levantarem,

    todas as emissoras continuaro noticiando o que aconteceu. E repetindo astransmisses de agora. Vocs no perdero nada.

    Cansados, e sem ter muito como argumentar com a me, eles acabaramcedendo e foram para a cama.

    A casa estava silenciosa. Elvira rolava de um lado para o outro, tentandose acalmar, pois queria estar pronta para a oportunidade com que o amigoespiritual lhe acenara. Jonef a acompanhara ao longo do dia, embora semse fazer perceber ostensivamente; agora, prximo cabea dela, aplicava-

    lhe fluxos de energia tranqilizadora sobre os centros nervosos, procurandoserenar sua mente. Pouco a pouco, Elvira, que orava em pensamento, entre-gou-se ao sono reparador.

    Logo que seu corpo entrou em sono profundo, seu peris-prito, liberto,ergueu-se com a ajuda de Jonef. Ela lhe disse:

    - Meu bom amigo, como me alegra v-lo! Que dia difcil tivemos hoje...Sinto-me esgotada.

    Amparando-a gentilmente, Jonef respondeu:

    - chegado o momento to esperado, Elvira; sigamos sem demora. So-mos chamados a comparecer a importantssima reunio no espao, prximoao nosso orbe, e cabe-nos acima de tudo auxiliar no padro vibratrio neces-srio para a realizao de encontro de natureza to singular. Deixemos paradiscutir assuntos menos elevados em nosso retorno, se voc ainda o desejar.Est certo?

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    O semblante de Elvira radiava luz intensa, de beleza admirvel. Seus o-lhos vibravam amor e emoo iluminada, e ela respondeu, compassiva esubmissa:

    -Est certssimo, meu amigo. So os vcios da matria, que no conse-guimos ainda superar. Vamos sem demora.

    Em segundos, simples expresso da vontade de ambos, estavam diantede majestoso portal. Muitos acorriam ao local, em pequenos grupos de trsou quatro; entidades espirituais acompanhavam almas que, desprendidas docorpo fsico durante o sono, compareciam solene reunio.

    Respeitosos, entraram. Assim que cruzaram o portal avistaram ao longe,sobre colina verdejante, grande nmero de entidades que chegavam e procu-ravam se acomodar. O ambiente era de luz e beleza sublimes. rvores fron-dosas e flores delicadssimas que exalavam suave aroma compunham o ce-

    nrio deslumbrante. No cume do monte, instrumentos estavam colocados ealguns lugares preparados para aqueles que iriam conduzir a reunio. Luzesintensas eram vistas de longe, roscas, azuladas, lilases. Muitos eram os queas emitiam e o lugar transbordava harmonia e paz indescritveis.

    Logo Elvira e Jonef alcanaram os outros. Ela, ento, fitou o amigo eperguntou com delicadeza:

    -No vejo nossos amigos, Jonef, onde esto?-Muitos se encontram em tarefa na crosta, auxiliando nossos irmos em

    transposio de planos. Outros obedecem s orientaes de nossos superio-res, participando das equipes de busca aos nossos irmos recalcitrantes nomal, que se escondem da luz. Eles devero apresentar-se esta noite, paracolher os frutos de seu orgulho e sua iniqidade.

    Jonef se calou por alguns instantes. No breve silncio que se fez entreeles, o semblante de Elvira era de expectativa, at que o amigo continuou:

    - Esta noite ser o incio da grande transio; no mais possvel espe-rar. Para que nosso mundo no seja destrudo e ganhe foras para se regene-

    rar, milhares de almas sero transferidas para um planeta ainda primitivo,cujos obstculos e limitaes permitiro que recebam novas oportunidadesde reabilitao e progresso. Voc no ignora que as falanges dos irmos quese comprazem no erro esto dificultando o desenvolvimento de nosso orbe.

    - Eu tenho plena conscincia disso, Jonef; s no sabia que estvamosto perto desse momento. Foram tantas as profecias que pareciam no se

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    cumprir que muitos acabaram por esquecer que um dia se daria o fato mar-cante da transio.

    - Pois bem, Elvira, acheguemo-nos mais; a reunio est para comear.Os dois se aproximaram do ajuntamento, tomando assentos confortveis,

    entre os que se espalhavam pela ramagem fresca. Elvira avistou rostos dealguns conhecidos e queridos, que cumprimentou mentalmente.

    Em poucos instantes, o silncio se fez absoluto. Todos oravam, pedindoas bnos de Deus para o encontro. Elvira, conquanto feliz por presenciarepisdio to singular na histria daquela humanidade, sentia o corao aper-tado e inquieto, pois temia pelo destino de Ernesto. Jonef tocou-lhe asmos com ternura e advertiu:

    - Elvira, procure no pensar em Ernesto agora. Deixe que o Criadorconduza aquele a quem voc tanto ama e coloque seu amor a Deus adiante

    de tudo.Acatando a sugesto do amigo, Elvira concentrou o pensamento nas

    verdades eternas e na beleza daquela ocasio, serenando desse modo o pr-prio corao.

    No cume do monte surgiram luzes to fulgurantes que alguns no as po-diam fitar. Aos poucos elas tomaram a forma humana e se fizeram visveis atodos. A mais radiosa das luzes permaneceu brilhando, fortemente; delaemanava suave fragrncia que imediatamente inundou todo o ambiente, e

    encheu de alegria o corao de cada um dos participantes. Era o governadorespiritual daquele mundo, que se apresentava distinta audincia. Saudou atodos e, aps sublime e elevada prece, deu incio esperada reunio.

    Aquela alma de absoluta pureza abraou a todos com sua energia deamor e explicou a importncia do momento. Ressaltou que, no Universocriado por Deus, todos os mundos evoluem da mesma maneira que os serespor Ele criados. Disse, jubiloso, que havia chegado o dia que Deus determi-nara para a depurao do querido orbe a que pertenciam, aps as duras lutas

    e os sofrimentos superados pela maior parte de seus habitantes. No haveriamais catstrofes naturais, nem a predominncia do mal. O Reino de Deus sefizera finalmente vitorioso no corao daquele povo, cheio de piedade evirtudes. O mal estava controlado. E se o povo, bondoso e misericordioso,continuasse a vigiar o corao e as tendncias inferiores, submetendo-se vontade de Deus, o mundo que habitava seguiria seu curso na espiral detransformao que o levaria a se tornar um mundo evoludo. O orbe passava

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    por significativa mutao e abrigaria, a partir daquele momento, almas emregenerao. Por causa disso, e conforme a determinao de espritos eleva-dos que controlam o Universo, as milhares de almas que persistissem nomal, rejeitando o amor e a verdade, seriam banidas do orbe, temporariamen-te, para que pudessem, atravs de srias dificuldades, de lutas dolorosas eexperincias expiatrias em um planeta jovem e com habitantes primitivos,sujeitar-se finalmente aos desgnios divinos, que at ento renegavam.

    Depois de breve pausa, ele retomou a palavra:-No mais possvel que permaneam conosco. As almas que comeam

    a retornar para nosso mundo, neste novo ciclo evolutivo de regenerao, eque daro grande impulso ao seu desenvolvimento, necessitam de ambienteonde vicejem o bem, o amor e a fraternidade. No h mais lugar para o dioe o egosmo consciente, tampouco para o orgulho tenaz. Em um ambiente

    de tamanha harmonia e tanto bem-estar, nossos irmos que ainda desprezama Deus no tero como renovar-se pela dor; preciso que sejam lanadosem maior abismo, onde o sofrimento os desperte para o Criador e para suaprpria felicidade. Muitos partiro deixando aqui entes queridos, que segui-ro sua jornada evolutiva. Mas eu lhes asseguro que os que estiverem prepa-rados e tiverem condio espiritual podero visit-los no orbe para ondesero encaminhados.

    Que Deus nos abenoe a todos.

    O governador interrompeu seu discurso. Suave cntico espalhou-se peloambiente e apresentou-se um coral reluzente, de vestes branqussimas, alivi-ando com a msica elevada a dor do corao de muitos que por tempo inde-finido perderiam contato com aqueles a quem amavam.

    Elvira escutava com o corao opresso, porm resignado. Pesadas l-grimas desciam-lhe pela face e foi somente ao final dos cnticos que sentiualgum alvio.

    Aps a doce apresentao, nova e fulgurante luz surgiu no meio dos di-

    rigentes. O governador daquele mundo em transio saudou o governadorda Terra, planeta para onde seriam enviados os exilados.Lentamente, a intensa luz que aparecera, cujo brilho ofuscava a viso da

    maioria dos presentes, se condensou na figura amorosa de um ser fisicamen-te semelhante aos capelinos. De feies meigas e suaves, ele atraa todos osolhares. Retribuindo o carinho com que era recebido, aquele ser de luz sau-dou:

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    -Que a paz de Deus esteja com todos vocs e que ele abenoe essa tran-sio bendita por que passam neste momento. Nosso Senhor, que tudo sabee tudo v, recompensa sempre as obras de nossas mos e a colheita, boa oum, sempre certa.

    Depois da breve saudao se fez silncio expectante. Em alguns instan-tes, grande tumulto distncia foi ouvido. Abriu-se o ter ao longe e dasentranhas das trevas subiu uma espaonave enorme, com muitas almas emseu interior. Algumas gritavam, amaldioando a Deus por estarem presasnaquelas condies. Outras vertiam doloroso pranto de arrependimento eremorso. Havia as que clamavam por misericrdia e gritavam por socorro.Umas gemiam, to-somente. Outras lamentavam, angustiadas, o destino queas aguardaria.

    CAPTULO 9Aquelaseria a primeira grande transferncia de almas que partiriam para

    a Terra, deixando para trs o belo mundo em regenerao. Milhes de outrasainda haveriam de ser exiladas. Muitas estavam sendo presas e confinadaspelos trabalhadores da luz que as recolhiam em profundos e escuros abis-

    mos.Elvira desejou aproximar-se da espaonave, na esperana de ver Ernes-

    to. Angustiosa expectativa pairava no ar. Ela pensava no marido e em qualseria seu destino, no novo lar onde iria viver. Foi ento que o governador daTerra se aproximou da gigantesca espaonave e falou afetuosamente s al-mas que ali se encontravam:

    - A partir de agora, eu os recebo no orbe da Terra, planeta em estgio i-nicial de evoluo. A misericrdia divina jamais abandona criatura alguma.

    Meus irmos, foroso recomear e os habitantes da Terra precisam da con-tribuio de vocs. L, junto aos irmos primitivos, vocs podero colaborarpara a sua evoluo, o seu adiantamento, enquanto resgatam os pesados d-bitos contrados para com a justia divina. E a nova oportunidade que Deusoferece a vocs. Ainda que distantes do lar, eu prometo que estarei semprecuidando de todos. No princpio, chegando Terra, sero habilitados paraaprender a viver em um ambiente primitivo, com todas as dificuldades que

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    vocs superaram nos primrdios de seu prprio mundo e, portanto, j esque-ceram. Sero preparados para viver em um corpo mais grosseiro e denso,com suas necessidades e seus desafios. E um dia, quando for o momentopropcio, eu mesmo descerei Terra e estarei encarnado junto com vocs, afim de ajud-los na conquista de suas almas para o glorioso destino que osaguarda. Vocs jamais sero desamparados, ainda que tenham virado ascostas e desprezado as leis divinas. Nosso Pai jamais os abandonar; exerce-r sua justia, porm o far com profundo amor.

    As palavras daquele ser de pura luz eram doces e suaves, causando forteemoo. Os capelinos que seriam exilados o ouviam com ateno e muitoscoraes se abrandaram diante das promessas que fazia. A maioria no opodia mirar, tamanha era a luz que dele emanava; escondiam os olhos e a-penas ouviam suas abenoadas palavras. Outros, entretanto, manti-nham-se

    cegos e surdos s suas palavras, nutrindo revolta profunda contra Deus eseus desgnios.

    Quando o divino embaixador da Terra terminou, afastou-se da grandenave. O governador daquele orbe autorizou a aproximao dos presentesque tivessem pessoas amadas entre os que partiriam. Elvira imediatamentelevantou-se, mas Jonef a deteve:

    - Ernesto no est entre os que vo partir hoje. Surpresa, ela se sentou eperguntou:

    -Sabe onde ele est?- Recebemos informaes sobre sua localizao antes do incio da reuni-

    o. Ele deve partir muito em breve, assim que puder ser resgatado.- E onde est? Podemos v-lo?Jonef pousou em Elvira os olhos lmpidos e amorosos e disse:- Querida Elvira, tem certeza de que quer v-lo nas condies em que se

    encontra? Pelo que fui informado, seu estado de demncia total. Est en-louquecido pelo dio e pela vingana que empreitou.

    -Vingana?- No bastassem as suas deplorveis atitudes contra a vida, ele foi o res-ponsvel pela loucura e morte de Ferdinando. Os dois esto ligados de ma-neira lamentvel e ser difcil dissoci-los.

    Elvira calou-se, desolada. Depois, fitando o olhar bondoso de Jonef,pediu:

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    - Podemos v-lo? Eu realmente gostaria de ajud-lo. Sentindo as foraslhe faltarem, derramou amargo pranto

    e falou entre soluos:-Meu Deus, como foi possvel que Ernesto se afastasse tanto assim do

    Senhor?Depois, ergueu a cabea e encarou o amigo:- Ah, Jonef, como isso pde acontecer? Ernesto havia melhorado mui-

    to... J se redimira de tantos dbitos... Como foi cair to fundo?Jonef a abraou carinhosamente e respondeu, tambm entristecido:- O orgulho, Elvira, essa chaga tomou conta de nosso Ernesto. Ele, de

    fato, havia melhorado muito em suas duas ltimas encarnaes. Tnhamosgrandes esperanas para sua atual experincia, mas ele sucumbiu por essaimperfeio atroz. Ante a oportunidade de experimentar a expanso de sua

    inteligncia, no teve amor suficiente e falhou tremendamente.De olhos ainda midos, Elvira suplicou:- Podemos v-lo?Jonef assentiu com a cabea, dizendo:- Quando a reunio terminar, vamos procur-lo.A ateno de Elvira e Jonef se voltou para a movimentao que aconte-

    cia a meia-distncia. A grande nave se afastou, sob o olhar pesaroso de mi-lhares de capelinos que viam pessoas prximas deixarem o espao etreo do

    sistema de Capela para s se reencontrarem num futuro remoto. Eram almasafins que se separavam dolorosamente, por tempo indeterminado.

    Mais alguns cnticos ecoaram no espao, enquanto os gu-pos se afasta-vam lentamente. Muitos ainda buscavam orientaes sobre como poderiamajudar seus amados que partiam, mas aos poucos a multido se dispersava.

    Elvira, Jonef e uma equipe de mais sete trabalhadores abnegados dirigi-ram-se para onde Ernesto estava. Dois deles eram os responsveis por pren-d-lo assim que fosse encontrado.

    Caminharam para regio de sombras densas. O cenrio tornava-se tene-broso. Gritos e grunhidos eram ouvidos, bem como muitas ameaas. O gru-po estava protegido por energias luminosas para que pudesse transpor o es-curo abismo. Bandos de entidades deformadas tentavam atac-los, sem po-der atingi-los, e eles prosseguiam. Ao se aproximarem da entrada de umacaverna, Jonef disse a Elvira:

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    - aqui, eles esto l dentro. Eram prisioneiros de um grupo insolente,mas os mais perigosos j partiram para a Terra. De qualquer modo, Elvira, melhor que fique aqui com os outros. Eu, Manasses e Sadraque vamos en-trar.

    - Por favor, Jonef, posso ser til l dentro. Vocs podem precisar demim; eu vou entrar tambm, por favor.

    Jonef trocou rpido olhar com os companheiros, depois disse:-Pois bem, venha conosco; mas daqui por diante precisar fazer exata-

    mente o que lhe pedirmos, ou seu corpo fsico, ora em repouso, poder serafetado.

    Elvira concordou. Ela sentia dificuldade para respirar, pois a atmosferaera densa e pesada e o cheiro de enxofre, misturado a outros odores ftidos,era repugnante. Entraram.

    Aps pequena caminhada, Jonef, que ia adiante, estacou perto de umamassa disforme, com duas cabeas bem ntidas. Ele se virou para Elvira,sinalizando que os haviam encontrado. Ao constatar que aquela criaturamonstruosa que via sua frente fora outrora Ernesto, ela caiu de joelhosrogando mentalmente a Deus por piedade e misericrdia. Manasses e Sadra-que plasmaram uma maa e se acercaram de Ernesto, que atado a Ferdinan-do, em simbiose doentia, estava completamente deformado. Entretanto, aoperceber o movimento, Ernesto comeou a gritar e esbravejar que ningum

    se aproximasse ou ele atacaria. Elvira levantou-se e, achegando-se um pou-co mais s entidades doentias, suplicou:

    - Ernesto, sou eu, Elvira. Por favor, vocs precisam deixar que os aju-demos. Precisam de socorro. Ernesto querido, deixe-nos ajud-los...

    Todavia, no pde continuar. Das duas entidades, rajadas de energiasdeletrias comearam a ser arremessadas. Sadraque, ento, apontou para osdois um objeto que disparou raios neutralizadores e as entidades foram deimediato sedadas. Jonef e Manasses colocaram a massa disforme na maa e

    Elvira, junto ao rosto de Ernesto, afagou-lhe a testa e em lgrimas disse:-Descanse, meu amado. Onde voc for, a estarei tambm eu para orarpor voc, para sustent-lo com o meu amor. Jamais o abandonarei, Ernesto.Um dia, haver de voltar-se para Deus e nunca mais precisar passar peloque vive agora. E eu estarei ao seu lado, sempre.

    A cena era comovente. Elvira, que emitia intensa luz, de joelhos acarici-ava com desvelada ternura aquela massa pegajosa e cinzenta. Por um breve

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    instante o grupo permaneceu em profundo e respeitoso silncio. Depois,Manasses tomou Elvira pelo brao, levantou-a delicadamente e pediu:

    -Querida irm, ns temos de ir, pois nossa empreitada perigosa. Cer-tamente Deus j lhe ouviu as splicas de amor. Agora devemos ir.

    Imediatamente o grupo levou os prisioneiros para um posto de socorroprximo, onde aguardariam, sob deteno, nova partida de exilados para aTerra. Ainda uma vez, Elvira aproximou-se do corpo do marido, jungido aode Ferdinando. Ajoelhou-se beira da maa simples que os acomodava, to-cou-lhe a face com indizvel ternura e pediu que ambos fossem ajudados aencontrar o caminho de volta ao divino Criador, enquanto pesadas lgrimascorriam pela sua face iluminada. Aps curto silncio em que os amigos espi-rituais presentes acompanharam com reverncia a orao que ela proferia,Jonef ergueu-a e lembrou:

    -Agora vamos, minha irm, hora de partir.Ela o seguiu em silncio durante a rpida viagem de retorno. De volta ao

    seu lar, ao adentrarem o quarto, Jonef recomendou:- Descanse um pouco, Elvira, que logo amanhecer. Seus filhos preci-

    sam de voc; muitos dependem de sua ajuda no momento crucial pelo qualest passando o orbe. Muitos esto desencarnando e outros tantos desencar-naro brevemente em conseqncia da exploso nuclear, sendo sem demoratransferidos para a Terra.

    Acomodando-se a seu corpo fsico tambm agitado, Elvira perguntou:- O que ser de Ernesto agora? Quando partir para o novo planeta?- Ele ficar em tratamento por algum tempo e, logo que tiver o mnimo

    de condies, ser levado.- Gostaria imensamente de v-lo, de falar com ele outra vez, to logo

    seja possvel.- Seus pedidos foram atendidos, Elvira. Voc tem a seu favor anos de

    trabalho e dedicao aos semelhantes, em servio reverente ao Criador. Tem

    o merecimento e suas preces foram ouvidas. Contudo, por enquanto seuconcurso no ser salutar. Outros necessitam de voc aqui mesmo. Dessemodo, acompanharei pessoalmente o desenvolvimento de Ernesto, tantoaqui como quando de sua transferncia para a Terra. Esporadicamente, ireivisit-lo e, ainda que a distncia, darei a ele amparo e cuidados constantes.To logo ele esteja em condies de v-la, de falar com voc -ou seja, assimque esse encontro puder ser til de fato , providenciaremos que estejam

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    juntos. Agora, Elvira, tranqilize seu corao. Voc poder estar perto deErnesto, desde que seja proveitoso, especialmente para ele. Confie e traba-lhe, como tem feito, e um dia, pela misericrdia de Deus, estar de novo aolado dele.

    - Voc me trar notcias de seus progressos?-Sempre que as tiver.Elvira sorriu e ajustou-se por completo ao corpo fsico, adormecendo

    profundamente.

    CAPTULO 10

    Jonef acompanhava dia a dia o estado de Ernesto. Durante vrias se-manas ele permaneceu em sono angustiado e delirante, tendo o perispritoainda ligado fortemente ao de Ferdinando. Ambos ocupavam um quarto desegurana no posto de recuperao, prximo crosta do orbe. Todos os diasnumerosa equipe de magnetizadores participava das preces, ao entardecer dacrosta, e vibrava energias de restaurao tanto para o corpo espiritual, comopara o esprito dos enfermos, marcados pelo dio e pela rebeldia.

    O tempo passava sem que nenhum progresso se obtivesse no tratamento

    espiritual de Ernesto e Ferdinando. Os espritos encarregados de administraro posto de socorro decidiram, ento, que seria mais proveitoso transferi-lossem demora, para que na Terra iniciassem a nova fase de penosas reencar-naes.

    Na noite prevista para a transferncia, Jonef levou Elvira para se des-pedir. Ela chorou entristecida ao constatar que nenhum progresso se efetuaranaqueles dois coraes, obstinados no mal.

    Foram conduzidos, enfim, para o espao espiritual ao redor da Terra e

    preparados para o prximo reencarne. Iriam renascer nas condies em quese encontravam no espao para que do choque com o corpo fsico, com amatria densa, pudesse advir algum benefcio para aquelas almas.

    Foram encaminhados para uma tribo de seres primitivos, onde a lingua-gem falada ainda no existia. Reencarnaram ambos, filhos do mesmo casal,como irmos siameses e disformes, assustando a pequena aldeia. Abando-

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    nados pela me no meio de densa floresta tropical, foram rapidamente devo-rados por animais selvagens.

    Ao longo de muitos sculos, em igual situao renasceram seguida ecompulsoriamente, inconscientes do que se passava ao seu redor, e na mes-ma condio lamentvel retornaram vezes sucessivas ao plano espiritual daTerra, at que em uma dessas reencarnaes, pela misericrdia do Criador esob a proteo dos benfeitores espirituais, uma mulher j mais evoluda,esprito tambm originrio da civilizao do sistema de Capela, recebeu-oscomo filhos e afeioou-se a eles, apesar de todos os defeitos que apresenta-vam. Com esforo e dedicao, conseguiu mant-los com vida por cincoanos. Mesmo dispondo de curto perodo sobre o solo terreno, ao regressa-rem, estavam ligeiramente separados, um pouco menos ligados um ao outro.Era o primeiro progresso realizado desde que haviam deixado o lar longn-

    quo.Elvira acompanhava, sempre esperanosa, as reduzidas notcias que Jo-

    nef lhe trazia. Agora ela j estava no plano espiritual, bem como seus fi-lhos. Ela continuava, incansvel, trabalhando para o bem daqueles que ama-va e de tantos quantos necessitassem de sua ajuda. Dedicava-se especial-mente s crianas que desencarnavam em difcil condio. Era infatig-velcolaboradora nos servios de auxlio queles que, mesmo encarnados naque-le mundo em regenerao, se distanciavam gradualmente do bem. Por isso

    ela permanecia no plano espiritual; no mais reencarnara, desde sua ltimaexperincia junto com Ernesto. Foi com alegria que recebeu a notcia sobrea pequena melhora apresentada por Ernesto e Ferdinando.

    - Fico muito grata por manter-me informada, Jonef. No seria o mo-mento de estar com ele e ajud-lo a conquistar um pouco mais de equilbriopara sua prxima experincia na crosta da Terra?

    - Incansvel Elvira, eu sabia que desejaria v-lo, to logo trouxessequalquer notcia animadora. No entanto, ainda no o momento. Seu con-

    curso agora pouco poder contribuir para a melhora espiritual de Ernesto. preciso esperar; somente com o concurso do tempo, seu auxlio ser efetivo.Aguardemos a hora oportuna. Ernesto est apenas comeando seus passosna Terra a ainda precisar muito de sua ajuda.

    Consciente da ansiedade que dominava Elvira e do imenso amor que elanutria por Ernesto, tocou-lhe suavemente o ombro e consolou-a:

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    -Minha irm, continue confiando em Deus. Ele jamais desampara umsequer de seus filhos amados. Somos criaturas de suas mos, que ele amoro-samente acompanha passo a passo, na trajetria evolutiva.

    Ela suspirou e sorriu. Depois de alguns instantes, respondeu:-Tem razo, esperemos o melhor momento, o mais proveitoso para to-

    dos.Sculos se passaram. Ernesto e Ferdinando, em melhores condies,

    permaneciam no espao espiritual denso em torno da Terra, sendo prepara-dos para nova experincia. As equipes espirituais finalmente conseguiramrazovel separao de seus perispritos, que se completaria quando voltas-sem como irmos gmeos. Aps cuidadosa preparao, reencarnariam afinalem uma regio em franco desenvolvimento, filhos de pais tambm vindosdo sistema de Capela, para que a sintonia se fizesse maior, auxiliando no

    progresso de que todos necessitavam. Renasceram no continente de Atlnti-da. Contudo, ambos traziam deformaes fsicas ao nascerem, sendo que asde Ferdinando eram mais graves. Sem pensar duas vezes, o pai escolheu opequeno com menos defeitos e sacrificou o outro. Ernesto e Ferdinando seseparavam, depois de prolongado estado de inconscincia.

    Naquela famlia, o menino cresceu at completar doze anos e depois,no resistindo a uma srie de doenas fsicas e mentais, voltou ao plano es-piritual.

    A partir daquela experincia, Ernesto e Ferdinando seguiriam caminhosdistintos, pois o segundo j estava reencarnado quando o primeiro regres-sou. Alm do mais, Ernesto, aps indispensvel preparao, retornaria vida fsica sem perda de tempo, para que pudesse recobrar a conscincia einiciar o trabalho pessoal e intransfervel de resgate de sua alma para Deus.Mais uma vez, renasceria em Atlntida, na mesma famlia que havia deixa-do; seria neto daquela que fora sua me. Comeava para Ernesto nova fasede sofridas reencarnaes na Terra.

    Ainda semiconsciente de sua realidade, o esprito de Ernesto no com-preendia o que se passava. Quando chegou adolescncia, torturado porprofunda angstia, cometeu suicdio, regressando ao plano espiritual emsituao agravada. Apesar disso, aquele esprito comeava a despertar.

    * * *

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    Ao longe, Elvira contemplava seu orbe amado, enquanto tratava de al-gumas de suas plantas preferidas. Pensava nas crianas que recebera naqueledia, quando Jonef despertou-a de seu torpor:

    -Elas crescem lindas sob seus cuidados, Elvira.-Crescem lindas aqui, sob os cuidados de quem quer que as ame -ela

    sorriu, serena.Jonef abraou Elvira carinhosamente e disse:- Chegou o momento pelo qual voc tanto ansiava. Instantaneamente os

    olhos de Elvira encheram-se de lgrimas e ela indagou:- verdade, Jonef? Vou poder enfim reencontrar meu querido Ernes-

    to?- Sim, partiremos em algumas horas. Prepare-se. Virei busc-la assim

    que estiver pronta.

    -No perderei nem um minuto. Vou tomar todas as providncias paraque o trabalho aqui continue sem interrupes e ficarei livre para acompa-nh-lo.

    Parando, olhou para Jonef e perguntou, sria:-Como ele est?- Sofre bastante. Seu esprito comea a despertar lentamente e est mui-

    to difcil para ele compreender o que se passa sua volta. No presente mo-mento se encontra sob o domnio de entidades muito agressivas, que o fa-

    zem refm. Mesmo assim, convm que o encontremos e resgatemos, paraque retome sua caminhada. Nesta etapa, seu concurso poder auxiliar o tra-balho de evoluo de Ernesto.

    -Estarei pronta rapidamente.-Virei busc-la.Algumas horas depois, partiram junto com outros dois companheiros em

    direo Terra. Depois de percorrerem longa jornada entre os dois mundos,foram direto para as regies umbralinas do planeta, densas, pesadas, de a-

    marga aflio. Elvira assustou-se. At as regies mais obscuras em derredorde seu mundo no se pareciam em nada com o que via e sentia naquele am-biente. Era difcil, quase doloroso, respirar e senti