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ESTADO DE GOIÁS
MINISTÉRIO PÚBLICO9ª Promotoria de Justiça da Comarca de Anápolis
Ex.ma. Sra. Dra. Juíza de Direito da Vara das Fazendas Públicas desta Comarca de Anápolis/GO
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS,
por seu órgão que esta subscreve, o 9º Promotor de Justiça da Comarca de
Anápolis, substituindo processualmente o hipossuficiente ARGEU FAYAD TOLEDO, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, com fundamento nos
artigos 127 e art. 129, III, da Constituição da República Federativa do Brasil/88, art.
25, IV, “a”, da Lei nº 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público), art. 6º,
da Lei nº 7.853/89; Lei n° 7.347/85; Lei nº 8.080/90, Lei nº 8.078/90, art. 46, VI, “a”,
da Lei Complementar Estadual nº 25 de 06 de Julho de 1.998, propor a presente
AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA, em
face de:
IPASGO – INSTITUTO DE PREVIDÊNCIA E ASSISTÊNCIA DOS SERVIDORES DO ESTADO DE GOIÁS, pessoa jurídica
de direito público, autarquia estadual, sediada na Av. São Francisco, Nº 890, Bairro
Jundiaí, Anápolis-GO,
Av. Senador José Lourenço Dias, n.º 1311 Edfº. do Fórum, 7º andar, sala 10 – centro – Anápolis-Go.Tel. (xx)62 -311-2885 Ramal- 205-206 - e-mail: [email protected]
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Em função dos termos fáticos e meritórios que passa a aduzir da seguinte forma :
I. DA LEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM DO MINISTÉRIO PÚBLICO E DOS DISPOSITIVOS CONSTITUCIONAIS ACERCA DA PROTEÇÃO À SAÚDE COMO DIREITO SOCIAL E DA GUARDA DOS INTERESSES CONSUMEIRISTAS
A tutela da saúde como direito social, arraigado ao Estado
Democrático Social de Direito, em nosso ordenamento Pátrio, já vem apresentando
feições desde a Constituição de República de 1934, sendo definitivamente
incorporada, em consonância com o primado na Declaração Universal dos Direitos
Humanos de 1948, em seu art. 25:
“Toda pessoa tem direito a um nível de vida suficiente
para lhe assegurar e a sua família a saúde e o bem-estar,
principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao
alojamento, à assistência médica e ainda quanto aos
serviços sociais necessários; e tem direito a segurança no
desemprego, na doença, na invalidez, na viuvez, na
velhice ou noutros casos de perda de meios de
subsistência por circunstâncias independentes da sua
vontade”1.
Agregou-se também, ao ordenamento pátrio, os ditos do
Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, de 1966; em seu
art. 12 :
1 Declaração proclamada pela Resolução n. 217 A da Assembléia Geral das Nações Unidas, em 10 de dezembro de 1948, com adesão pelo Brasil.
Av. Senador José Lourenço Dias, n.º 1311 Edfº. do Fórum, 7º andar – centro – Anápolis-Go.Tel. (xx)62 -311-2885 Ramais- 209-206 - e-mails: [email protected]/[email protected]
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“Os Estados-partes no Presente Pacto reconhecem o
direito de toda pessoa de desfrutar o mais elevado nível
de saúde física e mental”2.
Em teleológica conseqüência, a Constituição Federal de
1988 em seu art. 1º, III, preceitua como um dos seus fundamentos “a dignidade da
pessoa humana” e enuncia no elenco dos direitos e garantias fundamentais a
“inviolabilidade do direito à vida”. E seqüencialmente proclama o rol dos direitos
sociais, neles incluindo a “saúde” (art.6º), cujos lineamentos constam de outras
disposições em título próprio.
Neste sentido, proclama o artigo 196 da Constituição :
“A saúde é direito de todos e dever do Estado garantido
mediante políticas sociais e econômicas que visem à
redução do risco de doença e de outros agravos e ao
acesso universal e igualitário às ações e serviços para
sua promoção, proteção e recuperação”.
Em específico, no capítulo referente à família, a
Constituição reforça a preocupação com a questão sanitária, em seu art. 227, § 1º :
“É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar
à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o
direito à vida, à saúde (...)”
Neste sentido, a Carta Cidadã, incumbiu o Ministério
Público de “zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de
relevância pública aos direitos assegurados nesta Constituição, promovendo as
medidas necessárias a sua garantia “ (Art. 129, II da Constituição Federal).
2 Adotado pela Resolução n. 2.200-A da Assembléia Geral das Nações Unidas, em 16 de novembro de 1966, e ratificado pelo Brasil em 24 de janeiro de 1922.
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Na esteira de todo este ideário e complementando-o de
forma decisiva e contundente, divisa-se que o caput do artigo 127 da Nossa Lei
Maior, outorgou ao Parquet a função precípua de necessário guardião “da ordem
jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais
indisponíveis”, impondo-lhe uma atuação abrangente e relevante, que não se pode
curvar diante de ilegalidades e arbitrariedades em detrimento de tais valores
constitucionais.
Nesse passo, a legitimidade do Ministério Público para
demandar em casos que envolvam direitos difusos, coletivos, e principalmente
individuais indisponíveis, por mais que sempre venha a ser questionada, tem sua
origem no próprio texto constitucional, e toda interpretação a ela referente deve
guardar estrita consonância com o que lá esta previsto, sob pena de grave ofensa
aos seus mandamentos, e flagrante desprestígio à ordem democrática e ao Estado
de Direito.
Assim, é de se reconhecer que o MP não carece de
legitimidade para a presente ação, dada a natureza do direito envolvido, conquanto
nossa atuação visa sobretudo a manutenção da vida e da saúde do Sr. Argeu
Fayad, que se encontra internado em uma Unidade de Tratamento Intensivo em
hospital dessa cidade, sendo que seu plano de saúde se negou peremptoriamente e
sem justificativas, a cobrir os gastos com aquisição de medicamentos para seu
tratamento.
É importante ressaltar, que o conceito de relevância
pública evidenciado no inciso retro, aliado à hipossuficiência do substituído
processualmente, concedem pleno suporte à iniciativa ministerial.
Ressalta-se também, que o segundo conceito, nos casos
como o presente equivale à carência de terapia ou à sua negação injustificada pelo Av. Senador José Lourenço Dias, n.º 1311 Edfº. do Fórum, 7º andar – centro – Anápolis-Go.
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Poder Público ou pelos serviços particulares que se integram ao sistema de saúde
pátrio.
Há que se destacar também que a Lei nº 8.078/90
concede ao Ministério Público legitimidade para a defesa coletiva dos interesses ou direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos do consumidor (art. 82,
inc. I, c.c., art. 81, § único, I – III).
Conforme já expressado, no caso vertente, a atuação
ministerial visa à guarda do direito social à saúde e à própria vida, agregando-se
ainda a defesa dos direitos e interesses dos consumidores que se tornaram
associados ao IPASGO, por meio dos contratos padronizados, que a requerida pré
elaborou, sendo típicos contratos de adesão, conforme preceitua o art.54 da lei
consumerista.
Saliente-se que os interesses difusos dos consumidores
que poderão vir a sofrer o mesmo desprestígio ora esposado devem ser tutelados,
nos termos do art. 81, p. único, inc. I, da Lei nº 8.078/90 (Código de Defesa do
Consumidor).
II. DOS FATOS
Aos trinta dias do mês de junho do ano em curso foi
instaurado nesta Promotoria de Justiça, Procedimento Administrativo, visando
averiguar a pertinência das declarações prestadas pelo Sr Vicking José Carneiro, o
qual afirmou que seu primo, o Sr. Argeu Fayad Toledo, encontra-se internado na UTI
do Hospital Evangélico Goiano, em coma induzido, desde o dia 18 de junho
passado, sendo que tal internação se deu em virtude de quadro infeccioso agudo,
acompanhado de febre alta e hipertensão arterial, necessitando de ministração de
medicamento específico, o qual seu plano de saúde se negou a cobrir.
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Segundo se constatou no procedimento investigatório, os
médicos que acompanham o tratamento hospitalar do Sr Ageu Fayad, entenderam
por bem ministrar o medicamento XIGRIS RAH PROT.C/SMG/SML/ CX/1FR (DROPRECOGINA ALFA) – LILLY, a ser aplicado em uma dose diária, durante no
mínimo, oito dias consecutivos, uma vez que o paciente acha-se acometido de
diabetes tipo II, apresentado quadro clínico de sepsis grave sem foco definido,
conforme consta dos laudos juntados aos autos.
Nesse tom, importa destacar que o estado de saúde do
Sr. Argeu Fayad, de acordo com o relato de seus médicos, é de extremo cuidado,
com sérios riscos de morte anunciada, e somente com a ministração do
medicamento acima citado, pode haver a possibilidade de reversão do seu quadro
clínico de coma induzido.
Assim, em vista do grave estado de saúde do paciente, e
ainda da necessidade urgente de ministração do medicamento, o Sr. Vicking
Carneiro, autorizou o hospital a adquirir o medicamento necessário para dois dias de
uso, ao custo de R$ 58.918,74 (cinqüenta e oito mil, novecentos e dezoito reais e
setenta e quatro centavos), para posteriormente solicitar o ressarcimento da quantia
despendida junto ao plano de saúde do segurado, uma vez que seu plano tinha
cobertura integral.
Calha destacar, que segundo se apurou do procedimento
próprio, o Sr Argeu Fayad é de fato segurado do plano de saúde com cobertura
integral do Instituto de Previdência e Assistência dos Servidores do Estado de Goiás
– IPASGO, na qualidade de dependente de sua mãe, tendo assinado termo de
adesão ao plano de saúde, possuindo ampla cobertura no que concerne à prestação
de serviços médico-hospitalares.
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Ocorre que, ao se dirigir ao Instituto em comento
objetivando o ressarcimento das despesas acima realizadas e ainda visando
informar da necessidade de novas aquisições do medicamento, face às outras
aplicações futuras, o Sr, Vicking foi informado pelo Gerente de Assistência Médica
do IPASGO, o Sr. Bento Xaier de Almeida, que o plano de saúde não paga por tal
medicamento, tendo inclusive, fornecido uma declaração nesse sentido (doc junto),
sem no entanto, sequer justificar o motivo da negativa.
É imperioso evidenciar-se, à guisa de ratificação do direito
incontroverso do substituído neste feito, que o mesmo vem regularmente honrando
com os pagamentos das contribuições em favor do fornecedor do mencionado
serviço de saúde, o que consolida a necessidade de ser adequadamente atendido,
como básico direito inerente a todos aqueles que ajustam comprometimentos
bilaterais.
Cabe aqui esclarecer, que o operador do plano de saúde,
ao negar atendimento adequado ao seu segurado, viola não apenas o contrato
assinado entre ambos, mas também e fundamentalmente a própria Lei, já que não
há justificativa plausível para abster-se a fornecer o medicamento indicado, o que
acaba por colocar em sério risco de morte um cidadão que confiou na seriedade e
responsabilidade do Instituto demandado.
Há que se esclarecer ainda que o pagamento das
primeiras doses do medicamento necessário para o tratamento do Sr. Argeu, só foi
possível graças à solidariedade de toda sua família, que uniu-se num esforço sobre-
humano para alcançar a quantia necessária, mas que não dispõe mais de condições
financeiras para pagar pelo restante do tratamento hospitalar, conquanto perfazeria
o astronômico valor de no mínimo de R$ 250.000,00 (duzentos e cinqüenta mil
reais).
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Dessa forma, não restando outro meio ao Segurado de
fazer valer seu direito em ter suas despesas médico-hospitalares cobertas pelo Réu,
até mesmo porque é por isso que pactuou com o mesmo, vem buscar a almejada e
necessária tutela jurisdicional ora pleiteada.
III. DA AUSÊNCIA DE DISPOSIÇÃO CONTRATUAL ACERCA
DE LIMITAÇÕES DE COBERTURA DO PLANO DE SAÚDE
Com efeito, a negativa de realização do tratamento
médico-hospitalar às expensas do Réu, padece de legalidade, conquanto o contrato
assinado entre ele e o ora substituído processualmente, não prevê nada que
justifique tal desídia, sendo certo que o plano ao qual aderiu o Sr. Argeu, tem
cobertura integral das despesas específicas que forem necessárias.
Ora Excelência, qualquer negativa de assistência médica
por parte do Requerido deve estar amparada em argumentos plausíveis, e que
estejam estampados em contrato, sendo nitidamente ilegal qualquer exigência que
não esteja expressamente delimitada no instrumento formalizador do pacto
contratual, não lhe sendo lícito deixar sem amparo seu segurado, seja porque o
valor do medicamento é de alto custo, ou mesmo sobre qualquer outro motivo legal.
Desta feita, não há como se negar que o paciente possui o direito a ter seu
tratamento integralmente coberto pelo plano de saúde a que aderiu.
Não há mesmo ínfimo fundamento na justificativa do
Requerido, em se negar a pagar a integralidade do tratamento, haja vista que tal
assertiva não condiz com o que está estampado no contrato firmado, e o que é pior,
há expressa burla ao princípio da boa-fé objetiva, que precisa ser inafastavelmente
observado, na medida em que toda e qualquer cláusula que importe limitação aos
direitos do consumidor em contratos de adesão, precisam vir redigidas de forma
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destacada, com caracteres diferenciados daqueles insertos no corpo do contrato,
para que não paire dúvida ao mais vulnerável da relação consumerista.
Forçoso é reconhecer, que nossos tribunais, sendo
importante evidenciar o STJ, na vanguarda de todos eles, têm por expresso o
entendimento de que há relação de consumo entre segurado e o plano de saúde,
aplicando-se portanto as disposições do CDC, sobre contratos de adesão (art.54), e
abusividade e nulidade de cláusulas contratuais (art.51), neste sentido veja-se o
Resp 333.169-SP de 17 de setembro de 2002.
No caso vertente, o que é mais grave, é que sequer
houve a inclusão de tal limitação quanto à possibilidade de ministração do
mencionado medicamento. Ao sentir ministerial, em face do princípio da proteção
integral mesmo que estipulada, tal restrição precisa ser analisada no caso concreto,
ao se ter por base situações de relevo em que haja necessidade de tratamento
específico, conforme já também decidiu o colendo STJ, quanto à nulidade de
cláusula que exclui o tratamento de AIDS, em face da relevância jurídico- social do
atendimento em casos desta natureza.
IV. DA CARACTERIZAÇÃO DA EMERGENCIALIDADE DE
AQUISIÇÃO DO MEDICAMENTO
Para melhor delimitação da necessidade de se ministrar
diariamente o medicamento em comento, vale trazer à colação o laudo dos ilustres
médicos responsáveis por atender o paciente, que de forma muito elucidativa assim
se pronunciou:
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Diante de tais esclarecedoras premissas, em silogismo
simplista, conclui-se com meridiana clareza, pela imperiosa necessidade de
aplicação do medicamento, com a máxima urgência possível, face o grave estado de
saúde do substituído processualmente.
Estando o juízo alicerçadamente formado pelo médico
responsável e considerando que a feitura do procedimento encontra-se
legitimamente protegida pelo contrato, ultima-se por fim, que, a procrastinação do
feito pelo Réu é induvidosamente ilegal, por não dizer criminosa, já que a inação,
irrefutavelmente, poderá causar a morte do segurado.
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V. DO PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADAA Lei n.° 8.952, de 13 de dezembro de 1994, conferiu
nova redação ao artigo 273 do código de Processo Civil, no sentido de possibilitar a
antecipação dos efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, in verbis:
"Art. 273. O juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que,
existindo prova inequívoca, se convença da verossimilhança da alegação e:I - haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação;
II - fique caracterizado o abuso de direito de defesa ou o manifesto propósito
protelatório do réu."
(destacamos)
Os dois critérios gerais eleitos pelo legislador para a
antecipação de tutela são, portanto, como dispõe a lei processual: prova inequívoca
e verossimilhança do alegado. Comentando esses requisitos, o eminente Juiz
Federal, Dr. Teori Albino Zavascki, pondera que:
"Atento, certamente, à gravidade do ato que opera restrição i direitos
fundamentais, estabeleceu o legislador, como pressupostos genéricos,
indispensáveis a qualquer das espécies de antecipação da tutela, que haja (a) prova inequívoca e (b) verossimilhança da alegação. O fumus boni iuris
deverá estar, portanto, especialmente qualificado: exige-se que os fatos,
examinados com base na prova já carreada, possam ser tidos como fatos certos.
Em outras palavras: diferentemente do que ocorre no processo cautelar (onde há
juízo de plausibilidade quanto ao direito e de probabilidade quanto aos fatos
alegados), a antecipação da tutela de mérito supõe verossimilhança quanto ao fundamento de direito, que decorre de (relativa) certeza quanto à verdade
dos fatos.
Sob esse aspecto, não há como deixar de identificar os
pressupostos da antecipação da tutela de mérito, do art. 273, com os da liminar em
mandado de segurança: nos dois casos, além da relevância dos fundamentos (de
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direito), supõe-se provada nos autos a matéria fática. (…) Assim, o que a lei exige não é, certamente, prova de verdade absoluta, que sempre será relativa, mesmo quando concluída a instrução, mas uma prova robusta, que, embora no âmbito de cognição sumária, aproxime, em segura medida, o juízo de probabilidade do juízo de verdade." (Antecipação da Tutela, Editora Saraiva, São
Paulo, 1997, fls. 75-76, destacamos).
Sem embargos, no caso ora posto sub judice, todos os
requisitos exigidos pela lei processual para o deferimento da tutela antecipada
encontram-se reunidos.
A verossimilhança da alegação decorre da própria certeza
com relação aos fatos e o que prevê o contrato, que não afasta a responsabilidade
do contratado, em cobrir integralmente o tratamento hospitalar, inclusive com a
aquisição dos medicamentos necessários, mesmo que de alto custo. Do mesmo
plano, O fumus boni iuris encontra-se igualmente presente, assentado sobre os
argumentos jurídicos que apontam para a cristalina violação do pactuado, bem como
da própria legislação em vigor, negando-se a fornecer um serviço ao qual está
obrigado.
O perigo do dano irreparável também é flagrante, posto
que a não ministração do medicamento, o que certamente irá acontecer ante a
impossibilidade da família arcar com as despesas com a sua aquisição, e ainda a
negativa do insitutito em pagar por elas, por certo, terá como conseqüência a morte
do paciente, como afirmam os próprios médicos em seus laudos.
Calha destacar que o artigo 84 da Lei nº 8.078/90, aliás,
nos mesmos termos do artigo 461 do Código de Processo Civil, aduzem que
havendo justificado receio de ineficácia do provimento final pode o juiz conceder a
tutela antecipada. Ora, o periculum in mora é notório, na medida em que somente
o medicamento pode reverter o quadro clínico do segurado, e sua aplicação está Av. Senador José Lourenço Dias, n.º 1311 Edfº. do Fórum, 7º andar – centro – Anápolis-Go.
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comprometida ante à impossibilidade financeira da família em adquiri-lo e a negativa
do obrigado legal a fornecer-lhe.
Impor a espera do término da ação judicial para o gozo de
seu direito, seria manter o substituído processualmente, por prazo indefinido, a
situação de injustiça e de violação aos seus direitos fundamentais, seria mantê-lo,
bem como a sua família num sofrimento sufocante e doloroso, que coloca em risco
sua própria vida.
Não se pode olvidar ainda que não há qualquer óbice que
impeça o deferimento do pedido de tutela antecipada em face de entidade estatal,
especialmente em casos em que se discutem direitos fundamentais, onde a delonga
de uma ação judicial pode causar mesmo o perecimento do direito pleiteado.
Nesse sentido, tem-se reiteradamente pronunciado o
Egrégio Superior Tribunal de Justiça, como se vê nos arestos abaixo transcritos:
PROCESSUAL CIVIL. TUTELA ANTECIPADA CONTRA A FAZENDA PÚBLICA.
INAPLICABILIDADE DO ART. 1º, DA LEI N.º 9.494/97.
1. A tutela antecipada pressupõe direito evidente (líquido e certo) ou direito em
estado de periclitação. É líquido e certo o direito quando em consonância com a
jurisprudência predominante do STJ, o guardião da legislação infraconstitucional.
2. .......
3. .......
4. A tutela antecipada contra o Estado é admissível quando em jogo direitos
fundamentais como o de prestar saúde a toda a coletividade. Proteção imediata do
direito instrumental à consecução do direito-fim e dever do Estado.
5. ......
6. ......
7. É assente na doutrina que o provimento antecipatório é de efetivação imediata,
auto-executável e mandamental, características inconciliáveis com a
suspensividade da decisão. Não resistiria à lógica do razoável sustar provimento
urgente, como sói ser a liminar antecipatória. Aliás, não foi por outra razão que a
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novel reforma do CPC esclareceu que o provimento antecipado submete-se à
execução provisória, porém, completa. (Resp. 441466/RS, 1ª Turma, Min. Relator.
Luiz Fux, publicado no DJ de 09/06/2003, pág 179)
Destacamos
PREVIDENCIÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. ANTECIPAÇÃO DA TUTELA
CONTRA A FAZENDA PÚBLICA. PRESENÇA DOS REQUISITOS DO ART. 273
DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. REEXAME DE MATÉRIA FÁTICO-
PROBATÓRIA. INVIABILIDADE. APLICAÇÃO DA SÚMULA 07-STJ. ESTADO DE
NECESSIDADE. DÍVIDA ALIMENTÍCIA. EXCEPCIONALIDADE
CARACTERIZADA. POSSIBILIDADE DE CONCESSÃO. AGRAVO INTERNO
DESPROVIDO.
I- ....
II- O Colendo Supremo Tribunal Federal, quando do julgamento da medida liminar
na ADC nº 4, vetou a possibilidade da antecipação de tutela contra a Fazenda
Pública. Todavia, esta Corte ressalvou situações especialíssimas, justamente para evitar o perecimento do "bem da vida" posto em debate.
III - No caso das autos, por se tratar de dívida alimentícia necessária à
sobrevivência do necessitado, a tutela antecipada contra a Fazenda Pública é
admissível, conforme precedentes jurisprudenciais desta Corte. (AGA 518684/SC,
5ª Turma, Min. Relator Gilson Dipp, publicado no DJ de 06/10/2003, pág.316)
Grifamos
Destarte, em face de todo o exposto nesta exordial, e com
supedâneo no art. 273 e §§1° e 2° e art. 461 e §§ 3° e 4° do CPC, c/c os arts. 12 e
19 da Lei n.° 7.347/85 e 84 do Código de Defesa do Consumidor, considerando-se
presentes os requisitos autorizadores da antecipação dos efeitos da tutela, requer o
MINISTÉRIO PÚBLICO a concessão de tutela antecipada, nos seguintes termos
A – Seja o IPASGO, compelido a imediatamente arcar
com todas as despesas pertinentes ao tratamento médico-hospitalar do Sr. Argeu
Fayad Toledo, adquirindo todos os medicamentos que se fizerem necessários, e em Av. Senador José Lourenço Dias, n.º 1311 Edfº. do Fórum, 7º andar – centro – Anápolis-Go.
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especial o remédio denominado XIGRIS RAH PROT.C/SMG/SML/ CX/1FR (DROPRECOGINA ALFA) – LILLY, a ser ministrado de acordo com as prescrições
médicas, incluindo essas despesas no rol daquelas abarcadas pelo plano de saúde,
isentando-se de cobrar quaisquer valores supervenientes do seu associado;
B - Pede-se quanto aos efeitos da tutela antecipada, que
seja concedido o prazo de 48 horas(quarenta e oito horas) a partir da intimação,
para que o réu cumpra as obrigações requeridas de imediato, e caso assim não
proceda, seja condenado em multa diária, no valor de R$ 50.000,00 (cinqüenta mil
reais), para cada dia de desatendimento de qualquer decisão judicial, destinada ao
fundo previsto no artigo 13 da Lei n.º 7.347, de 24/07/85.
C – Requer ainda a determinação de Vossa Excelência ao
representante legal da entidade, para que se abstenha de impedir que outros
usuários que se encontrem em situação análoga à enfocada na inaugural, sejam
impedidas de se submeterem ao mesmo tratamento, devendo informar a este juízo a
relação de todos aqueles que estejam na mesma situação;
VI. DOS PEDIDOS
ACESSORIAMENTE REQUER:
D - O seguimento da ação no rito ordinário, e o valor da
causa será de R$ 100,00 (cem reais).
E - A citação do Requerido, para que o mesmo tome
ciência da presente e desejando a conteste, bem como as posteriores intimações,
na pessoa de seu representante legal.
Av. Senador José Lourenço Dias, n.º 1311 Edfº. do Fórum, 7º andar – centro – Anápolis-Go.Tel. (xx)62 -311-2885 Ramais- 209-206 - e-mails: [email protected]/[email protected]
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F - A condenação da requerida ao pagamento das custas
processuais;
G - A dispensa do pagamento de custas, emolumentos e
outros encargos, desde logo, em face do previsto no artigo 18 da Lei nº 7.347/85 e
do art. 87 da Lei nº 8.078/90;
H - Protesta-se pela produção de provas, através de
todos os meios admitidos em nosso Direito, em especial, a produção de prova
testemunhal, documental e pericial;
I - Pede-se o benefício legal da inversão do ônus da
prova em prejuízo da ré, quanto à matéria fática a ser debatida;
PRINCIPAIS :
Pede-se, como provimento jurisdicional, a procedência
total dos pedidos, determinando que a ré cumpra a seguinte obrigação de fazer:
J – Tornar definitivo os pedidos de antecipação de tutela,
para determinar que o IPASGO arque com todas as despesas pertinentes ao
tratamento médico-hospitalar do Sr. Argeu Fayad Toledo, adquirindo todos os
medicamentos que se fizerem necessários, e em especial o remédio denominado
XIGRIS RAH PROT.C/SMG/SML/ CX/1FR (DROPRECOGINA ALFA) – LILLY, a ser
ministrado de acordo com as prescrições médicas, incluindo essas despesas no rol
daquelas abarcadas pelo plano de saúde, isentando-se de cobrar quaisquer valores
supervenientes do seu associado, e ainda para que se abstenha de impedir que
outros usuários que se encontrem em situação análoga à enfocada na inaugural,
sejam impedidos de se submeterem ao mesmo tratamento;
Av. Senador José Lourenço Dias, n.º 1311 Edfº. do Fórum, 7º andar – centro – Anápolis-Go.Tel. (xx)62 -311-2885 Ramais- 209-206 - e-mails: [email protected]/[email protected]
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L – Requer por fim, que as despesas médico-hospitalares
com o segurado Argeu Fayad Toledo, referentes ao tratamento na UTI do Hospital
Evangélico Goiano, e que foram efetivamente pagas pelo segurado ou por sua
família, sejam-lhes devidamente reembolsadas, sendo que para tanto seguem
anexas as notas fiscais dos medicamentos já pagos, para a devida comprovação.
Nestes Termos,
Pede deferimento.
Anápolis, 01 de julho de 2004.
Marcelo Henrique dos SantosPROMOTOR DE JUSTIÇA
Av. Senador José Lourenço Dias, n.º 1311 Edfº. do Fórum, 7º andar – centro – Anápolis-Go.Tel. (xx)62 -311-2885 Ramais- 209-206 - e-mails: [email protected]/[email protected]
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