Exortacao Pastoral Escutismo Escola de Educacao-1

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  • 8/13/2019 Exortacao Pastoral Escutismo Escola de Educacao-1

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    CONFERNCIA EPISCOPAL PORTUGUESA

    Exortao Pastoral

    O Escutismo,Escola de Educao

    EXORTAO PASTORAL DA CONFERNCIA EPISCOPALSOBRE O ESCUTISMO, ESCOLA DE EDUCAO

    Introduo

    O Escutismo catlico surgiu em Portugal em 1923, por iniciativa do Arcebispo Primaz de Braga D.Manuel Vieira de Matos. Este prelado confiou ao Pe. Dr. Avelino Gonalves a tarefa de organizar e acompanharos primeiros passos do Corpo Nacional de Scouts (hojeEscutas).

    No corrente ano de 1995, em que comemoramos o centenrio do nascimento do Dr. Avelino Gonalves,(nascido a 1 de Maio de 1895), julgamos oportunopublicar esta Exortao sobre a natureza do EscutismoCatlico e o seu valor para a formao integral dosjovens cristos e para o bem da Sociedade e da IgrejaemPortugal.

    O Escutismo mostra hoje grande vigor e dinamismo. Tem conhecido nos ltimos anos uma expansonotvel e prestado um contributo precioso educao integral dos jovens. Tornou-se um movimento prestigiado e

    procurado. Muitos pais desejam introduzir os seus filhos no Escutismo, muitos adolescentes, crianas e jovens seinteressam e dedicama este movimento. O Escutismo, como mtodo de educao, vai de encontro anecessidadeshoje sentidas, adapta-se sensibilidade das novas geraes e apresenta uma pedagogia que mostra a sua eficcia

    pelos frutos alcanados.Verificaram-se, entretanto na sociedade, profundas mudanas culturais com reflexos considerveis no estilo

    de vida e nos valores dos jovens. Estas mudanas colocam alguns problemas educao dos mais novos.Reconhecendo a actualidade dos princpios e valores do Escutismo, desejamos chamar a ateno para as

    exigncias que as novas condies culturais e eclesiais apresentam aco educativa deste movimento para que,mantendo a fidelidade s orientaes do seu fundador Baden-Powell, continue a ser uma escola de educaohumana e crist, de modo a formar pessoas felizes, solidrias e participativas no bem comum, social e eclesial.Por esta razo, destinamos a presente exortao aos elementos mais responsveis do Escutismo, a todos oseducadores empenhados num projecto de educao global e aos jovens interessados nos verdadeiros valoresda vida.

    I Parte

    ESCUTISMO, MTODO ACTUAL DE EDUCAO

    1. Desafios Educao dos Jovens

    Os jovens esto na idade de construir o futuro e definir um projecto pessoal de vida. Nesta fase dedeterminao do rumo da existncia so influenciados pelos modelos apresentados pelos adultos, pelosvalores veiculados pelo ambiente social e pela orientao das instituies educativas. Os jovens danossa poca so muito diferentes entre si consoante as influncias que receberam e as opes quefizeram na sua vida.

    Ora a influncia do ambiente social e cultural hoje muito complexa e diversificada. Anos atrs,a orientao educativa vinha predominantemente da famlia, da escola e da Igreja. Nos ltimos tempos,

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    porm, a juventude adquiriu maior autonomia face a estas instituies e tornou-se mais dependente damoda, dos grupos, da televiso e do ambiente social. A famlia, ameaada pela disperso, nem semprese apresenta capaz de transmitir valores e referncias ticas. A escola, que se prolonga por um lequeetrio mais amplo, no resolve completamente a educao moral. A catequese paroquial, s por si,apesar do esforo de renovao, no alcana todos os frutos desejados. A televiso exerce umainfluncia mais profunda, mas nem sempre positiva.

    Variadas anlises sociais chamam a ateno para a crise de valores da actual cultura massificada: ohedonismo, o culto do corpo e da aparncia exterior, o prevalecer dos direitos individuais sobre osdeveres, a tentao do dinheiro fcil, a febre do consumismo, o imediatismo, a tendncia para oerotismo e para o luxo. Este ambiente cultural favorece o aparecimento de um tipo de pessoa comalgumas caractersticas predominantes: a superficialidade, o narcisismo, a frivolidade, o vazio dereferncias ticas, a contestao da autoridade, a permissividade moral.

    De muitos lados se faz ouvir o alerta sobre esta crise de valores, muita gente se preocupaseriamente com o vazio de ideias e de projectos na vida das pessoas,designadamente dos jovens eas consequncias negativas que brotam deste vazio. Esta situao parece estar na origem de algumas

    preocupantes chagas da nossa sociedade: a delinquncia juvenil, a violncia e a agressivadade, o recurso droga.

    Existem tambm sinais de esperana. As pessoas em geral, e os jovens de forma especial,mostram-se sensveis solidariedade, preocupados com a paz e a justia; nota-se na gerao actual umamaior abertura ao Transcendente e o interesse pela dimenso espiritual; a questo ecolgica, anecessidade de um projecto de vida, so hoje preocupaes de muita gente; a prpria adeso aomovimento escutista manifesta a procura de valores e propostas educativas. Apresentam-se, portanto,possibilidades deeducar para os valores humanos e de evangelizar aactual gerao.

    2. Proposta Educativa do Escutismo

    As grandes intuies educativas do Escutismo so proposta adequada s preocupaes da

    nossa pocaneste mbito crtico da educao. Com efeito, os mais originais valores da proposta deBaden-Powell so caractersticas indispensveis em qualquer processo que queira conduzir as novasgeraes ao encontro da verdade, do homem e da vida.

    Na verdade, este movimento apresenta-se, antes de mais, como um projecto de educaointegral, capaz depromover o desenvolvimento equilibrado e harmnicoda pessoa na totalidadedas suas dimenses: enquanto sujeito de relao consigo prpria; enquanto sujeito de relao com omeio; enquanto sujeito de relao com os outros e com o prprio Deus.

    Praticando uma pedagogia activa, conduz os seus membros a tornarem-se protagonistas doprprio crescimento. Como itinerrio educativo acompanha tanto a infncia, como a adolescncia e ajuventude e orienta para a adeso a um ideal caracterizado por grandes valores ticos, humanos ecristos: a solidariedade caracterizada na "boa-aco" e no servio gratuito; a vida em comunidade, no"bando", na "patrulha" ou na "equipa",onde se aprende a viver em relacionamento so; a fratemidade

    universal sem distino de classes, raas, credos ou ideologias; o esprito de observao e criatividade; aconscincia da dignidade e da liberdade pessoais. O mtodo educativo atrai os jovens, pois valoriza o

    jogo no sentido de desenvolver as atitudes decorrentes do ideal escutista codificadas na "Lei" e"Promessa" que lhe d vida.

    Surge como oportunidade de desenvolvimento de capacidades fsicas e virtudes de carcter, pelaexigncia que caracteriza as suas mais tpicas actividades e pela disciplina que pede aos seus membros.

    Afirma-se como escola de cidadania, pela educao para a participao, para o servio e para asolidariedade na correcta articulao entre a liberdade e a responsabilidade do indivduo e do grupo queconstitui uma experincia primria na prtica escutista.

    O respeito pela natureza e cultivo de uma sadia conscincia ecolgica so tnicas fundamentaisdo seu iderio e da sua aco, constituindo um dos principais atributos da imagem do Escutismo.

    A referncia tica constante a um quadro de valores e a abertura espiritual e religiosa que lhe so

    prprias conferem, tambm, sua aco educativa um alcance inquestionvel nas actuaiscircunstncias.

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    II Parte

    O ESCUTISMO CATLICO NA EDUCAO DA F

    3. Ideal Escutista e o Cristianismo

    Oprojecto escutista portador de um ideal que o torna capaz de oferecer uma mundividnciacaracterizada por valores humanos que dialogam com os valores da f. Baden-Powell era, ele prprio,um cristo convicto e, por isso, natural a convergncia entre o ideal que prope aos escuteiros e arevelao crist.

    O cristianismo, matriz espiritual do Escutismo, defende no somente a fidelidade a Deus, comotambm orienta na fidelidade ao homem. Est ao servio da verdadeira fratemidade e da liberdaderesponsvel, quer educar na convivncia pacfica e justa de todos os homens para alm das raas e dos

    grupos tnicos. D origem vida comunitria assente no dilogo, na partilha fraterna e no serviomtuo. Tudo isto constitui, tambm, caracterstica essencial na proposta escutista, como afirma a CartaCatlica do Escutismo (aprovada em Julho de 1977 pela Conferncia Internacional Catlica doEscutismo): O mtodo escutista, pela sua pedagogia comunitria, a sua educao pela aco, peloexerccio da responsabilidade, pelo compromisso da Promessa e pelo progresso pessoal, coincide comas preocupaes educativas da Igreja (n5).

    Esta convergncia natural supe, no Escutismo catlico, uma articulao intencional entre oideal deste movimento e o cristianismo. Assim, na prxis educativa, os valores intrnsecos ao espritoescutista ho-de receber uma iluminao crist que lhe confira um horizonte de transcendncia e umareferncia cristolgica e eclesial capaz de oferecer, mais do que uma mundividncia, umaespiritualidade.

    Viver o ideal de servir, caracterstica primeira do Escutismo, toma-se diferente, se esse ideal

    assume Jesus Cristo,Aquele que veio para servir e dar a vida (Mt 20,27-28), e o mandato da caridade,como razo e fundamento do seu cumprimento. Do mesmo modo, o respeito pela natureza e aconscincia ecolgica, adquirem outro alcance e outro apoio, se entendidas e vividas no contexto dateologia da criao e da responsabilidade co-criadora do Homem pelo cosmo e alimentadas pelaesperana escatolgica de novos cus, e nova terra (Ap 21,1).

    A f ilumina o projecto educativo de Baden-Powell e oferece-lhe uma consistncia maisslida, identificando e enformando a dimenso espiritual que lhe implcita. De facto, esta enriquecida pela adeso ao Evangelho e pelo seguimento de Jesus Cristo, tornando-se apta pararesponder aos anseios mais profundos do corao dos jovens e potenciando o Escutismo catlico paraser um instrumento privilegiado de proposta de f e de evangelizao dos mais novos.

    4. Escutismo, Pedagogia para a F

    Desde o incio, a Igreja reconheceu no Escutismo um instrumento vlido para a educao da f ecrescimento da vida crist. Na verdade, todos os elementos constituintes do mtodo escutista, sedevidamente assumidos e exercidos, permitem esta educao, de tal modo que se pode afirmar que oEscutismo, no seu todo, constitui uma pedagogia para a f. Neste sentido se pronuncia a ConfernciaInternacional Catlica do Escutismo ao afirmar que: os catlicos reconhecem na educao

    fundamentalmente libertadora proposta pelo mtodo escutista um acesso aos valores do Evangelho (...).O Escutismo pode, assim, tornar-se o lugar de uma autntica revelao de Jesus Cristo. Estaevangelizao situa-se no propriocorao do Escutismo (Carta Catlica do Escutismo, n 1 e 2).

    Na verdade, assim como a f ilumina e solidifica os valores prprios do Escutismo, assimeste oferece um mtodo educativo que permite fazer a experincia das atitudes e doscomportamentos da f ao longo docrescimento da pessoa, conduzindo, deste modo, a um efectivo

    processo de maturao crist. Do mesmo modo, por exemplo, a Promessa escutista e o cumprimento

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    da Lei afirmam-se como possibilidades de ensaiar a adeso ao Deus da aliana e ao compromissotico dela decorrente. A Boa-Aco tpica do Escutismo torna-se educao para a caridade gratuita e

    para a imitao de Jesus Cristo, o Servo. O acampamento e o contacto com a natureza surgem comoaprendizagem de Deus criador e do cuidado com a criao como tarefa de f, e ao mesmo tempo comoexercitao da austeridade e da capacidade de sacrifcio. O sistema de "patrulhas" permite a experinciada comunho, da participao e da corresponsabilidade, no s na perspectiva do empenhamento social,mas tambm da pertena comunidade eclesial. A experincia da fraternidade mundial escutista amediao para experimentar a catolicidade da Igreja, o dilogo ecumnico e inter-religioso e paracrescer nas atitudes da tolerncia e da solidariedade internacional. O progresso (conjunto de provas

    para cada idade) ajuda a entender a existncia crist como caminho de aperfeioamento integralcontinuado e nunca concludo. O projecto (mtodo de planificao e realizao de actividades)desenvolve a conscincia da vida como resposta a uma vocao e suscita e desenvolve as atitudesfundamentais de liberdade e responsabilidade para responder.

    O Escutismo contm, pois, no mtodo educativo, virtualidades evangelizadoras deindiscutvel oportunidade pastoral. Por isso mesmo, em razo deste dilogo recproco entre a Igreja eo Escutismo, nasceu, em 1923, como atrs se referiu, o Corpo Nacional de Escutas, CNE, associao deEscutismo catlico que adopta o mtodo escutista como estilo adequado para progredir no caminho

    cristo.

    5. Jesus Cristo, centro da F

    O cristianismo no apenas apenas um projecto de valores evanglicos. Esses valores brotam deuma pessoa concreta, tm fundamento no exemplo vivido por Algum: Jesus Cristo. Na sua vidahistrica, Jesus de Nazar apresenta um exemplo normativo para os discpulos de todos os tempos. Ele o homem livre, solidrio, defensor da dignidade de todas as pessoas, disponvel para o servio de Deus edos homens mais necessitados os pecadores e marginais atento beleza do universo e sensvel aosofrimento dos que o rodeiam. Ele indica a todos os crentes um caminho, um estilo de vida: "Eu sou oCaminho, a Verdade e a Vida. Ningum vai ao Pai seno por Mim" (Jo 14,6). Ele o Caminho que

    conduz vida verdadeira, a Verdade que se pratica e liberta.Jesus Cristo no uma figura do passado. Ressuscitou, est vivo e vem ao encontro dos homens.

    A todos aqueles que O acolhem, Ele oferece uma nova vida em comunho misteriosa com Deus e comos homens. O cristianismo a descoberta de Jesus Cristo como Caminho de salvao, como Algumque est vivo e se toma determinante na vida do crente. Quem descobre Jesus Cristo sente-se cativado

    por Ele e chamado a segui-Lo: "Eu sou a luz do mundo. Quem me segue no andar nas trevas maspossuir a luz da vida" (Jo 8,12).

    Deste modo, o ideal cristo no apenas um conjunto de verdades e de valores. , antes demais, o encontro e a descoberta de uma pessoa viva, Jesus Cristo, fonte e fundamento dessesvalores:"Sem O terdes visto, vs O amais; sem O ver ainda crestes n'Ele e isto para vs fonte de umaalegria inefvel e gloriosa" (1Ped 1,8-9).

    Assim, o Escutismo catlico encontra em Jesus Cristo uma referncia concreta e um alicerce

    transcendente para o caminho que prope.Procurem, pois, os assistentes e dirigentes do CNE ajudaros Escutas no conhecimento mais profundo e na adeso mais convicta ao mistrio de Jesus Cristo,

    proporcionando-lhes oportunidades para ouvir a Palavra de Deus, para a orao e para a celebrao dosSacramentos, sobretudo da Eucaristia. Sem este alicerce espiritual o Escutismo ficaria debilitado.

    6. Escutismo e Comunidade Crist

    Outra dimenso importante da f crist que o Escutismo catlico precisa de cultivar nos seusmembros a comunho eclesial, a conscincia de pertena Igreja. Jesus Cristo continua presente nahistria e vem ao encontro das pessoas de todos os tempos atravs da Igreja. A f crist recebe-se daIgreja e conduz Igreja. O cristianismo vive-se em Igreja. Esta deve entender-se como mistrio decomunho dos homens com Deus e dos homens entre si. A comunho com Deus vive-se e testemunha-se na comunho eclesial. A f crist no um facto individual, mas comunitrio.

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    Esta dimenso comunitria da f traduz-se, como regra, pela integrao numa parquia: "Acomunho eclesial, embora possua sempre uma dimenso universal, encontra a sua expresso maisimediata e visvel na parquia: esta a ltima localizao da Igreja; , em certo sentido, a prpria Igrejaque vive no meio das casas dos seus filhos e das suas filhas (Christifideles Laici ExortaoApostlica sobre Vocao e Misso dos Leigos na Igreja e no Mundo, 26).

    O Escutismo catlico chamado a realizar e a valorizar esta dimenso comunitria da f. Num ambiente social marcado pelo individualismo, pelo anonimato e pela massificao, o CNE deveeducar os seus membros no sentido de grupo, no esprito de comunidade, vivendo e testemunhando afratemidade crist. A comear, antes de mais, no pequeno grupo (bando, patrulha ou equipa) e alargar-seao agrupamento. Cada unidade ou agrupamento escutista encontra neste ideal comunitrio um projectoestimulante para se tornar uma pequena famlia em que transpaream a unio, a amizade e o serviogratuito aos outros.

    A comunho eclesial no termina na fraternidade de cada unidade ou agrupamento, mas realiza-setambm pela pertena a uma parquia. habitualmente numa parquia que o Escutismo catlico faz aexperincia de eclesialidade, de ligao ao Povo de Deus. Na parquia encontra o espao fsico (a sede),a possibilidade de uma formao crist de base, a celebrao dos sacramentos, o ambiente eclesial evrios servios comunitrios em que pode colaborar. ainda na parquia, que pode encontrar os

    dirigentes responsveis e bem formados.Procure, deste modo, cada agrupamento desenvolver em todos os seus membros o sentido depertena e de colaborao empenhada na parquia orientando-os nomeadamente:

    a) para a frequncia do itinerrio completo da catequese que estrutura a formao crist de base econduz ao completamento da iniciao crist;

    b) para a participao activa na celebrao dominical da Eucaristia, fonte e centro da vida crist eencontro festivo com Deus e com a comunidade; os agrupamentos do CNE devem considerar aEucaristia dominical como o polo volta do qual se ordenam as outras actividades;c) para a presena activa e responsvel nos grandes acontecimentos da famlia paroquial.As parquias, por sua vez, esforcem-se por organizar no seu seio e apoiar o Escutismo catlico,

    pois este movimento constitui um fermento de vitalidade e dinamismo eclesial. A educao humana ecrist das novas geraes a melhor garantia do futuro da parquia.

    III Parte

    O CNE NUMA PASTORAL RENOVADA

    7. O CNE, Caminho para a NovaEvangelizao

    A descristianizao actual, que se reflecte na crise de valores, atrs referida, toma necessria umanova evangelizao. o prprio Papa Joo Paulo II quem lana esta prioridade para misso da Igreja,

    de modo a responder aos desafios da nova situao e iluminar com a esperana do Evangelho o terceiromilnio, preparando uma sociedade mais humana e mais crist.Nova evangelizao o convite a evangelizar de novo e de forma nova. Evangelizar de novo,

    porque a primeira evangelizao parece perder fora e influncia na conscincia e nos comportamentosdas pessoas e das sociedades. Evangelizar de uma forma nova, porque estamos num contexto culturaldiferente. No podemos repetir ou restaurar o estilo de evangelizao do passado. Precisamos deencontrar "novos mtodos, novo ardor e nova estratgia" segundo a expresso do Santo Padre.

    A nova evangelizao destina-se tambm aos jovens, adolescentes e crianas integradas no CNE.Como movimento de Igreja, o CNE precisa de se repensar para responder, a seu modo, a este desafio danova evangelizao.

    Na sua pedagogia o Escutismo contm um dinamismo evangelizador que necessita de servalorizado. Indicamos algumas direces:

    a) Personalizar e fundamentar a f. A nova evangelizao deve promover a f assente emconvices pessoais, capaz de enfrentar um ambiente social descristianizado. Viver hoje como

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    cristo deve tornar-se objecto de uma deciso pessoal e no apenas fruto do meio social. OEscutismo tem possibilidades de conduzir personalizao da f atravs da convergnciaprofunda entre as actividades e os valores que prope e a f crist que lhes serve de matriz.Deste modo, conduz a uma experincia pessoal de vida crist e orienta no desenvolvimento

    progressivo e integral em ordem maturidade humana e crist.b) A nova evangelizao h-de dirigir-se tambm cultura atingindo com a fora do evangelhoos critrios de julgar, os valores que contam, os centros de interesse, as linhas de pensamento, asfontes inspiradoras e os modelos de vida da humanidade (Evangelii Nuntiandi ExortaoApostlica sobre a Evangelizao no Mundo Contemporneo, 19). Tambm neste campo oEscutismo poder desempenhar um papel de primeira importncia, educando para osvalores evanglicos e atravs deles orientar para o encontro com Aquele que a fonte e ofundamento desses valores: Jesus Cristo centro de toda a verdadeira evangelizao (cfr. n 4, 5 e6).c) A nova evangelizaoh-de orientar-se aos afastados. O Escutismo tem, possibilidades delevar o Evangelho aos afastados, de atingir pessoas que esto fora ou alheadas da vida crist. Naverdade, responde a preocupaes e oferece valores que interessam a muita gente quehabitualmente no frequenta a Igreja: a questo ecolgica, a educao tica, a responsabilidade

    pelo bem comum. Atravs deste dilogo com a cultura e com os valores que as pessoas procuram,o Escutismo pode anunciar o Evangelho como Boa Nova que realiza em profundidade estasexpectativas humanas. Torna-se, assim, um movimento de fronteira entre a Igreja e o mundoe um meio para a nova evangelizao.d) A nova evangelizao s possvel com a participao interessada de todos os membros daIgreja, cada um segundo a responsabilidade especfica e o lugar prprio que tem na Igreja. Ora oEscutismo, pela participao activa que prope, pela responsabilidade que desperta, educapara a participao laical, incentiva e prepara os leigos para serem obreiros deevangelizao.Na verdade, cria neles uma atitude de servio a Deus e ao prximo e orienta-os

    para serem construtores da justia, da paz e da fraternidade. Torna-os, deste modo, construtoresdo Reino de Deus no mundo Reino de verdade, de santidade, de justia, de amor e de paz.

    8. O CNE na Pastoral Juvenil

    Como temos afirmado ao longo desta Exortao, o CNE tem muitas possibilidades de educar paravalores humanos e cristos e de dar um bom contributo nova evangelizao. Pode tornar-se umaresposta oportuna aos desafios da era do vazio e do secularismo empobrecedor. Oferece aos jovens um

    projecto de vida que os prepara para o futuro. Apresenta-se, portanto, como um movimentoevangelizador com caractersticas muito prprias e com potencialidades especficas no panorama deoutros movimentos e organismos que se dedicam pastoral juvenil. Mas no pode actuar isolado eautnomo. Como movimento eclesial deve integrar-se na pastoral de conjunto da Parquia e daDiocese, em articulao e complementaridade com outros organismos que colaboram na missoda Igreja, sobretudo na evangelizao dos jovens.O CNE precisa de ter conscincia do seu papel

    prprio, e, por outro lado, conhecer tambm e apreciar o contributo especfico de outros organismos. AIgreja um corpo animado pelo Esprito Santo que lhe concede carismas variados e desperta actividadesdiferentes. Esta variedade de carismas e operaes encontra a sua unidade e globalidade na pastoraldiocesana. na Diocese, de facto, que a Igreja se realiza na plenitude das suas dimenses.

    Os frutos do CNE dependem tambm da.conjugao com outras estruturas educativas. Antes demais, a famlia,primeira escola de virtudes sociais e crists, que chamada a prestar a este movimentouma colaborao activa. Depois, a parquia, que alm de reconhecer e apoiar o movimento, podeoferecer um servio de educao da f que proporcione uma formao crist de base a todos osmembros do Escutismo. Tambm a escola pode orientar os jovens na estima e no apreo por estemovimento que complementa a educao escolar. Deste modo, os frutos do CNE reclamam a acoconjugada de todas as instncias empenhadas na educao dos mais novos. O CNE ummovimento que aponta para o futuro. Transmite, na verdade, s novas geraes um ideal humano ecristo que promete uma sociedade mais fraterna e uma Igreja mais viva. Pelos valores que oferece, pela

    pedagogia que pratica, pelo interesse que desperta nos jovens, o Escutismo catlico portugus, em

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    comunho eclesial, apresenta-se em posio privilegiada para corresponder s exigncias de umapastoral da juventude.

    9. Os Dirigentes, Educadores eEvangelizadores

    A capacidade de formao e de evangelizao do CNE depende, de maneira preponderante,dos dirigentes ou animadores do movimento. So eles que do forma concreta pedagogia doEscutismo catlico e exercem uma influncia marcante no estilo e nos frutos de cada agrupamento.Assim a renovao do CNE passa primeiramente pelo perfil humano e cristo e pela adequadaformao dos dirigentes. A formao slida integra concretamente: a formao crist de base quefundamenta a identidade crist; a formao especializada em ordem a conhecer por dentro o projectoeducativo do Escutismo; e, ainda, a formao permanente que conduz a um aperfeioamento contnuodas capacidades educativas.

    Como orientadores de um movimento catlico so chamados a participar activa eresponsavelmente na misso da Igreja e a situar-se na renovao pastoral exigida pela novaevangelizao. Ajudando os membros do CNE a crescer como homens e como filhos de Deus, so eles

    mesmos estimulados no seu prprio crescimento humano e cristo. A sua aco como dirigentes umaforma de apostolado dos leigos. Assim se pronuncia a Carta Catlica do Escutismo: Os chefescatlicos que assumem esta tarefa educativa colaboram na misso confiada por Cristo Sua Igreja.Exercem a sua responsabilidade de acordo com o seu Bispo e colaboram com os Assistentes. Esta tarefad-lhes um lugar no apostolado dos leigos(n. 6).

    A nova evangelizao s possvel com uma participao empenhada de todos os cristosconscientes da sua misso eclesial. Mas esta participao exige, antes de mais, que os prprios sedeixem transformar pelo Evangelho. S quem for primeiramente evangelizado pode, depois, evangelizar

    por sua vez.

    10. Os Assistentes, Animadores da Educao

    Os assistentes eclesisticos desempenham no CNE um papel de primeira importncia na medidaem que o ministrio ordenado o sinal da comunho eclesial e o promotor da evangelizao. A vidacomunitria no agrupamento, a ligao parquia, a educao integral dos membros do CNE e aformao adequada dos dirigentes leigos, so alguns dos aspectos que necessitam do apoio e do cuidado

    pastoral do assistente. A renovao do Escutismo catlico, em ordem a responder aos desafios da novaevangelizao, depende, em grande parte, da dedicao e da preparao dos assistentes eclesisticos,tanto a nvel paroquial como diocesano e nacional.

    Neste momento, os assistentes so chamados a prestar especial ateno ao crescimento dadimenso espiritual, educao para os valores humanos e cristos, renovao e actualizaodos rituais para os momentos celebrativos, e a velar, sobretudo, pela formao dos dirigentes, actualizando e acompanhando os cursos destinados a este fim.

    Esta amplitude das tarefas e responsabilidades dos assistentes reclama, da parte destes, umtrabalho em equipa, tanto a nvel nacional como a nvel regional. Uma equipa central, formada peloassistente nacional e por todos os assistentes regionais e de ncleo, ter mais possibilidades de definir

    prioridades, atribuir tarefas e pr em movimento a renovao permanente do CNE.

    Concluso

    Ao concluirmos esta Exortao Pastoral desejamos, uma vez mais, declarar o nosso apreo peloCNE, reconhecer as suas possibilidades educativas e manifestar a nossa confiana nos seus dirigentes e

    assistentes. Apraz-nos verificar que este apreo existe tambm entre os pais e educadores e mostra-se,de forma clara, na expanso do movimento. Esperamos que os orientadores e elementos do CNE

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    procurem estar altura das tradies do Escutismo, de modo que este movimento continue a merecertoda a confiana como escola de formao humana e crist.

    Chamamos tambm a ateno para as exigncias que hoje se colocam educao dos jovens.Nesse sentido exortamos os dirigentes e assistentes a que cuidem zelosamente da educao integralque o CNE chamado a proporcionar aos mais novos. Seria um empobrecimento grave ver noEscutismo apenas os aspectos exteriores e deixar na sombra os valores humanos e cristos queconstam da sua proposta original e que o tornam uma escola de formao humana e crist com grandeactualidade. De igual modo, importa ter conscincia da actual tendncia laicista que ameaadesligar o Escutismo da sua matriz crist e da sua intencionalidade, colocando em risco mesmo osvalores humanos to apreciados no projecto educativo deste movimento. Como procurmos esclareceroportunamente, verifica-se uma convergncia natural entre o ideal escutista e o cristianismo. A f cristfortalece o projecto educativo do Escutismo e este favorece a educao da atitude da f.Recomendamos, por isso, aos dirigentes e assistentes que estejam atentos a este risco e valorizem a raize perspectiva crist do Escutismo como alicerce da educao integral. Neste propsito, seria muito til a

    publicao de alguns subsdios educativos que possam servir oportunamente de guio para a formaohumana e crist dos dirigentes e membros do CNE.

    A educao dos jovens, adolescentes e crianas merece toda a dedicao e apoio tanto dos

    educadores como das comunidades crists. Exige tambm, no caso do CNE, meios humanos e materiaisadequados. Todos somos chamados a colaborar nesta tarefa, conscientes de que na pastoral juvenil, nosseus movimentos e associaes, se decide em parte o futuro da Igreja e da Sociedade.

    Ftima, 29 de Dezembro de 1995

    Nota do Revisor: para encontrar os nmeros 1 e 2 da Carta Catlica do Escutismo, consultar a edio da CICE; para onmero 6, consultar a edio da Carta Catlica do Escutismo do livro Celebraes do CNE.