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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL
EXPEDITO MARQUES SANTOS
BIBLIOTECA: INSTRUMENTO DE APRENDIZAGEM
NAS ESCOLAS
Vitória, 2009.
2
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL
BIBLIOTECA: INSTRUMENTO DE APRENDIZAGEM
NAS ESCOLAS
Trabalho apresentado à Universidade Cândido Mendes, Instituto A Vez do Mestre, como requisito para obtenção do título de pós-graduado em Psicopedagogia Institucional, “Lato Sensu”.
Professora orientadora: Narcisa Castilho Melo
Vitória, 2009.
3
AGRADECIMENTOS:
Agradeço a conclusão desse trabalho aos
profissionais desta Universidade e a todos
aqueles que colaboraram direta e
indiretamente para que eu pudesse realizá-lo.
4
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho à esposa, Geni, que
teve tanta paciência durante todo o tempo
que passei à frente do computador em busca
de alternativas de fontes de pesquisa e no
farfalhar das páginas de tantos livros
manuseados que nos tiraram tantas idas
não-idas à praia, ao shopping ou aos
aniversários que nunca estão marcados em
nossas agendas mentais. A ela eu agradeço
de coração.
5
RESUMO: Trata-se de uma pesquisa bibliográfica sobre a problemática do uso da
biblioteca escolar como agente ativo na formação intelectual dos alunos,
especificamente quando da faixa etária referente ao ensino fundamental
menor. Nesta fase é que se definirá o bom leitor e intérprete. Analisaremos as
barreiras que dificultam o uso da biblioteca e sua importância como elemento
complementar do trabalho do psicopedagogo numa instituição escolar.
Destacamos, ainda, a possibilidade que o ato de leitura tem de encantamento
aos alunos mais jovens e que a escola não perca isso de vista. Além disso,
enfatizamos a necessidade urgente de se oferecer em todas as escolas, em
tempo integral, uma biblioteca bem montada e atualizada como espaço de
convivência da comunidade escolar, que seja antes de tudo lugar de atração
para o gosto da leitura e do conhecimento.
PALAVRAS-CHAVES: BIBLIOTECA, PRAZER DA LEITURA, LEITURA, PSICOPEDADOGIA.
6
METODOLOGIA
Nosso estudo tem como escopo uma pesquisa qualitativa. Quanto aos
objetivos é exploratória e descritiva, procurando captar a situação em sua
extensão tratando de levantar possíveis variáveis e o verdadeiro significado,
tornando mais explícito o problema, aprofundando as idéias.
Neste trabalho procuraremos utilizar estudos bibliográficos, análise e
comparação de obras e pesquisas descritivas e exploratórias elaboradas sobre
bibliotecas, especialmente sobre as bibliotecas de escolas públicas, a
propósito de sua utilidade e importância na melhoria da capacidade de leitura e
interpretação de textos e, por extensão, como instrumento obrigatório na
melhoria nas condições de ensino. É importante destacar as possibilidades de
aquisição de informações em meios multimídia e em revistas eletrônicas
especializadas que podem ser extremamente úteis na identificação de
problemas e levantamento de informações necessárias à pesquisa.
Como base inicial de análise do material bibliográfico, recorrerei às
obras disponíveis “Curso Técnico de Formação para Funcionário de Educação
– Biblioteca Escolar”, Brasília – 2007, MEC/UNB, de Graça Pimentel e outros
autores, “Biblioteca Escolar ao alcance das mãos”, de Jaqueline Cristiane
Stavis e outros autores, “Leitura na escola e na biblioteca”, de Ezequiel
Teodoro da Silva, Escola, Sala de Leitura e Biblioteca Criativas, de Lucila
Martínez e Gian Calvi, Como Usar a biblioteca na escola, de Carol Kulthal, A
biblioteca escolar, de Bernadete Santos Campello e outros autores, Política de
formação de leitores, do MEC, entre outras obras de referência que justificam a
importância da leitura, tais como as propostas por Paulo Freire em A
importância do ato de ler e Como e por que ler os clássicos universais desde
cedo, de Ana Maria Machado. Essa análise bibliográfica pode ser acrescida
com a leitura e interpretação de obras de especialistas no assunto como Edson
Nery da Fonseca em sua obra Introdução à Biblioteconomia ou em revistas
científicas especializadas na área como a Revista ACB de biblioteconomia de
Santa Catarina e a Revista de Psicologia, Educação e Cultura, assim como o
acompanhamento de periódicos acadêmicos e artigos de especialistas
disponíveis em meios multimídia através da Internet.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO P. 08
CAPÍTULO I EM DEFESA DA LEITURA E DA BIBLIOTECA P. 13
CAPÍTULO II O PRAZER DA LEITURA PARA AS CRIANÇAS P. 22
CAPÍTULO III A BIBLIOTECA NO APOIO AO TRABALHO DO
PSICOPEDAGOGO
P. 28
CAPÍTULO IV A BIBLIOTECA NOS PROJETOS-POLÍTICO-PEDAGÓGICOS
DAS ESCOLAS E DE GOVERNO
P. 37
CONSIDERAÇÕES FINAIS P. 44
BIBLIOGRAFIA P. 48
ANEXOS P. 51
8
INTRODUÇÃO O uso da biblioteca nas escolas como recurso de incremento ao ensino-
aprendizagem pode contribuir para que o aluno seja um elemento ativo,
dinâmico, criativo, consciente, independente e co-responsável pelo seu
aprendizado. Através da leitura, que é um poderoso instrumento disseminador
de idéias, o estudante poderá ter uma bela contribuição para a sua formação
como cidadão transformador da sociedade.
A biblioteca pode ser o primeiro local onde a criança tem os primeiros
contatos com os livros. Essa demanda, então, pode ser uma atribuição
referente ao trabalho de quem está à frente da biblioteca em conjunto com os
demais profissionais diretamente ligados ao ensino – especialmente ao
psicopedagogo – para que, usando da atratividade, se possa garantir a
freqüência constante do aluno à escola. Deve-se, assim, promover o espaço
de leitura como sendo de formação, de informação e também de recreação.
O incentivo à leitura é uma possibilidade de viabilizar a formação do
leitor competente, que lê e compreende o que está lendo, apropriando-se das
idéias lançadas nos textos e gerando novos conhecimentos. Muito se tem
discutido a respeito da miséria de nossas bibliotecas. Mas pouco se tem feito
para criar situações de melhoria do uso delas. Por isso, é necessário analisar
as formas de promoção à leitura, no espaço escolar e descrever atividades e
ações que venham se juntar aos esforços de agregação de valores a este
patrimônio indispensável na educação dos alunos.
A promoção e o incentivo à leitura podem dar ânimo para que se
desenvolva o interesse pela leitura e consequentemente pela escrita. A prática
da escrita e da leitura podem contribuir para que o aluno atinja um pensamento
crítico e a sua conseqüente formação de cidadão que tenha preocupação com
as transformações sociais que a nossa sociedade tanto precisa.
9
O presente trabalho se divide em quatro capítulos destacando a relação
que se pode fazer entre o encantamento da leitura e o uso obrigatório da
biblioteca escolar no cotidiano dos alunos e a necessidade da mesma de ser
inserida no plano político-pedagógico e no plano de trabalho do psicopedagogo
- um instrumento de aprendizagem que deverá ser acionado pelo
psicopedagogo.
A questão central deste trabalho versa sobre a importância da biblioteca
como instrumento ativo no ato de desenvolvimento do gosto pela leitura e
consequentemente como auxiliar indispensável na aprendizagem de nossas
crianças.
No mundo atual exige-se das pessoas que estejam preparadas para
ocupar os espaços no mercado de trabalho, que sejam cidadãs. Num mundo
concorrencial as pessoas não têm muito espaço para se deixarem conduzir
pelos rumos do acaso. Torna-se necessário, assim, que as pessoas se
qualifiquem e estejam aptas a disputar os espaços do mundo do trabalho com
a preparação exigida pelo mesmo. Essa preparação exige de todos que
busquem atualizações e novos conhecimentos. Sendo assim, a leitura e a
interpretação do que foi lido são fundamentais para a inserção dos jovens na
vida em sociedade, como cidadãos, e no mundo do trabalho, também um
direito da cidadania.
A biblioteca é, pois, espaço não só obrigatório dentro e fora das escolas,
mas também fundamental, nessa aquisição de conhecimentos formais de
preparação à cidadania e ao mercado de trabalho.
Às crianças não se deve permitir que se percam as oportunidades de
tornarem-se amigas dos livros. Essa amizade com os livros só será feita se no
início da vida escolar não se produzam traumas irrecuperáveis. Nas séries
iniciais do ensino fundamental a nenhuma criança deve ser negado o acesso
ao mundo dos livros, das revistas, enfim, dos recursos que devem ser
oferecidos pela biblioteca das escolas. Sabemos que, especialmente nas
10
escolas públicas, os recursos para um funcionamento satisfatório são
escassos. Mas é mais grave ainda sabermos que há uma assincronia entre
objetivos pregados de uma formação cidadã e a realização desses desejos na
concretização da oferta de uma biblioteca de qualidade desde o primeiro dia de
aula. As escolas, em sua grande maioria, são omissas a esse respeito.
Deixam-se levar pela falta de vontade e esquecem o direito de fazer valer a
obrigação de o aluno ter à sua disposição uma biblioteca que lhe forneça o
material mínimo necessário à sua educação escolar.
Nos contatos que temos nas escolas públicas de nossas cidades
encontramos desde bibliotecas inacessíveis guardadas com portões de ferro
sempre fechados, até amontoados de livros e revistas, velhos e novos, com ou
sem cupim, obras superadas que poderiam ser descartadas misturadas a livros
novíssimos uns jogados sobre os outros no chão de uma sala de aula
desativada e em meio a carteiras quebradas, restos de mesas de professores,
cobertas literalmente com estantes apodrecidas. E as portas fechadas. Por
outro lado, há também uma preocupação excessiva com a guarda do
patrimônio público tornando proibitivo o acesso à biblioteca pelo simples fato
de não haver um funcionário responsável ou alguém que o substitua em sua
ausência. Ao aluno cabe esperar e aceitar essas lacunas e ficar gratuitamente
à disposição da concorrência desleal de outras oportunidades informacionais
como as lan houses, o MSN ou as amizades deletérias que o mundo da rua
oferece. “Por falta de um grito se perde uma boiada”, conforme um ditado
popular do nordeste do Brasil. Por poucas viagens perdidas à biblioteca
perdemos leitores para outras opções menos saudáveis.
É necessário que se questione a falta de cuidados e a falta de interesse
dos profissionais superiores na hierarquia nas instituições escolares. Já não se
pode mais fazer pouco caso do que é patrimônio público. Não se pode mais
continuar dando pouco valor à leitura e a educação nas escolas. Como mudar
essa situação? Como despertar o interesse dos alunos pelo gosto da leitura,
enfim? É um problema que tem solução. Bastam ações concretas e vontade
política.
11
Pode-se inferir, então, que a biblioteca escolar poderia ser um ponto de
apoio de nossas crianças carentes para terem acesso aos livros, uma vez que
dificilmente a condição econômica de seus responsáveis permite minimamente
a aquisição de materiais de estudo compatíveis com suas necessidades.
Mesmo que muitas crianças tenham condições financeiras para ter acesso a
livros ela têm direito a uma biblioteca de qualidade. Como todas as demais
crianças.
Desse modo, acreditamos seguramente que a biblioteca pode contribuir
com a melhoria da aprendizagem em nossas escolas, principalmente as
escolas públicas, incrementando as perspectivas de enriquecimento intelectual
de nossos alunos. Pode ser lugar de encantamento especialmente às crianças
do ensino fundamental menor. Uma biblioteca bem organizada e atraente
pode funcionar como acessório fundamental ao professor não só porque
propicia novas incursões do jovem em suas descobertas cotidianas, mas
porque permite o desenvolvimento de suas potencialidades.
Isto posto, nas páginas seguintes defendemos a importância de uma
biblioteca escolar em todas as escolas. É fundamental compreender o estado
de abandono e desleixo das bibliotecas de nossas escolas para que se possa
resolver e sinalizar de forma positiva para as grandes possibilidades de se
criarem condições do uso da biblioteca não somente aos alunos, mas também
à família, à comunidade do entorno escolar e aos profissionais que atuam
diretamente na educação.
Ao longo do texto procuraremos fazer uma breve exposição da leitura
que se oferece no Brasil, especialmente nas escolas públicas dos nossos dias.
Depois procuraremos analisar o fascínio e o encantamento de nossas crianças
através do mundo da leitura. Em seguida desenvolveremos nossas idéias
relativas a respeito da importância de uma biblioteca como acessório
fundamental na relação do ensino com a aprendizagem e depois concluiremos
apresentando-a como elemento necessário e obrigatório na educação a partir
do projeto político pedagógico das escolas e a exigência prevista na legislação
12
brasileira, pois se exige que a escola ofereça as condições mínimas de
aprendizagem.
A atual Constituição Brasileira reza em seu Título III – do direito à
educação e do dever de educar – Art. IX – padrões mínimos de qualidade de
ensino definido como a variedade e quantidade mínima, por aluno, de insumos
indispensáveis ao desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem.
Esses padrões mínimos podem incluir necessariamente a adoção do
instrumento da biblioteca, e por extensão o uso do livro, mais constantemente
em todas as escolas brasileiras.
13
CAPÍTULO I EM DEFESA DA LEITURA E DA BIBLIOTECA
“Quando se trata de leitura... não cabe ‘ensinar’, ‘aprender’,
mas ‘dar a conhecer’, ‘proporcionar’, ‘oferecer’ aos alunos
condições materiais e imateriais necessárias ao pleno
desenvolvimento de suas capacidades, habilidades e aptidões
[...]. A escola irá utilizar instrumentos de informação que
circulam socialmente e propor atividades elaboradas com o
objetivo de ajudar o aluno a explorar e estruturar suas próprias
estratégias de leitura”. (PEREIRA, 2006, p. 46)
Educação não se faz somente nas escolas, não se limita aos livros e à
sala de aula. O fazer educacional se faz nas escolas, nas igrejas, nos clubes
sociais, nas ruas e através de diversos outros meios, inclusive nos grupos de
amizade. Mas a educação formal tem como missão principal transformar os
sujeitos em seres humanos melhores de acordo com as imagens que uns têm
dos outros. O sujeito da aprendizagem deve ser ator nessa transformação.
Pode também passar o que aprendeu a outras pessoas. Na educação formal
existem regras e métodos próprios, onde interagem alunos, professores e
demais profissionais e tornam os indivíduos capazes de interagirem com o
meio e nele circular compreendendo-o. Quanto mais um povo tem
complexidade em sua sociedade, desenvolve relações de poder e de divisão
social do trabalho, ele procura transmitir saber, ter a consciência da
necessidade de transmissão do saber. A organização e a divisão social levam
as pessoas a pensar em transmitir o conhecimento dentro de espaços variados
e a diferentes públicos. Os encontros dentro das escolas servem para que se
compartilhem experiências, trocando-as, comparando-as, contribuindo para a
reflexão e o diálogo. No espaço escolar o aluno poderá interpretar as
informações que recebe e desenvolver suas capacidades individuais que
poderão torná-lo um cidadão pró-ativo dentro do ambiente social. E para que a
escola possa viabilizar esse potencial é necessário que haja espaços de
14
convivência com um mínimo de infra-estrutura e profissionais competentes
para dar seguimento no aprendizado. Nesse contexto, o psicopedagogo pode
ser um instrumento de pressão para que se use com mais intensidade a
biblioteca escolar e se dê maior ênfase à sua importância, despertando no
aluno o interesse pela leitura, usando-a de forma criativa.
Se é por meio do saber que o homem passa a utilizar e decifrar os
códigos que permitem uma circulação mais segura no mundo moderno
podemos compreender que, ao se incluir a biblioteca como um lugar de
destaque no apoio pedagógico e cultural, estaremos automaticamente
reforçando os meios mínimos necessários à implantação de uma
aprendizagem que dá os primeiros passos para ser completa. Sendo assim, é
importante acrescentar que o psicopedagogo pode incrementar essas
possibilidades de fortalecimento do ensino incentivando o uso da biblioteca
pelo corpo docente e discente para que se dê a concretização dessa obra de
incentivo à leitura.
A práxis psicopedagógica é entendida como o conhecimento dos
processos de aprendizagem nos seus aspectos cognitivos, emocionais e
corporais. Pressupõe também a atuação tanto no processo normal do
aprendizado como na percepção de dificuldades (diagnóstico) e na
interferência no planejamento das instituições e no trabalho de re-educação
(terapia psicopedagógica).
A leitura no mundo pós-moderno é de fundamental importância para a
vida dos nossos alunos. Sem a capacidade de ler e interpretar, eles padecerão
de imensas dificuldades no aprendizado em todas as disciplinas. Uma leitura
incorreta de um enunciado numa prova pode inviabilizar uma resposta correta.
Hoje em dia os meios de comunicação dão enorme destaque às dificuldades
de interpretação dos alunos quanto à leitura, à escrita e à interpretação (Jornal
A Gazeta, Vitória-ES, edição de 01.07.2009):
15
“Não é à toa que mais da metade dos alunos do 1º ano do
ensino médio da rede pública estadual acertou menos de 50% da
prova do PAEBES (Plano de Avaliação do Ensino Básico do Espírito
Santo). No quesito domínio dos conteúdos e habilidades em leitura,
eles vão de mal a pior - apontam os resultados da avaliação.
Saber identificar a tese e o tema de um texto, os efeitos de
ironia e o sentido de uma palavra ou expressão é coisa que apenas
cerca de 45% dos alunos são capazes de fazer. A maior facilidade
que eles apresentam está na localização de informações explícitas de
um texto: 61% têm este domínio.
Os dados foram mapeados pela Secretaria Estadual de
Educação (SEDU) a partir da resposta dos alunos às questões –
elaboradas de acordo com as habilidades exigidas para a série.
O levantamento revela, ainda, que em 58% dos casos os
alunos não são capazes de reconhecer o efeito de sentido decorrente
do uso da pontuação. Além disso, apenas 51% dos alunos
conseguem reconhecer posições distintas entre duas ou mais
opiniões relativas ao mesmo tema”.
Sem leitura não há desenvolvimento da escrita, portanto é fundamental
que se dê nas escolas uma verdadeira importância à leitura e daí o destaque
que se deve dar a uma biblioteca escolar de boa qualidade. No entanto, o ato
de ler deve passar longe da obrigatoriedade. Ler deve ser uma atitude
consentida por aquele que lê. Conforme Cunha (1999, p. 51):
A leitura deve fluir sem a cobrança estabelecida no conteúdo
pedagógico escolar ou familiar, mas como algo prazeroso e
instigante. O livro deve ser visto como um objeto lúdico, não como
algo impositivo: A idéia de que a leitura vai fazer um bem à criança ou
ao jovem leva-nos a obrigá-los a ler, como lhes impomos a colher de
remédio, ser coagidos, tendo de ler uma obra que não lhe diz nada,
tendo de submeter-se a uma avaliação, e sendo punido se não
cumprir as regras do jogo que ela não definiu, nem entendeu. É a
16
tortura sutil e sem marcas ‘observáveis a olho nu’, de que não nos
damos conta”.
O ato de ler deve ser antes de tudo um ato de vontade, onde o indivíduo
determina por si mesmo aquilo que lhe é mais interessante. Para isso a
abordagem do psicopedagogo deve ser direcionada para que se crie no aluno
um interesse real e autônomo, criando-se situações em que se desperte o
prazer de ler. Conforme PIMENTEL (2007, p. 87), a paixão pela leitura deve
ser despertada, o aluno deve ser “seduzido” por ela, tendo por finalidade a
formação de um sujeito ativo e crítico:
“um ato de paixão, paixão essa que não pode se desligar da
formação e das estratégias de sedução ao livro. O que deve ser
transmitido ao leitor, por meio desse envolvimento forte e ao mesmo
tempo espontâneo, a competência que o fará ser leitor e que lhe
dará, no futuro, uma autonomia para saber escolher, selecionar,
criticar e ser agente construtor e transformador na sociedade”.
Ler deve ser um exercício prazeroso, mas necessário. “O domínio e a
prática da leitura são fatores responsáveis e essenciais para o sucesso
acadêmico de qualquer estudante e cidadão”. (Idem, p. 88). As crianças
possuem uma imaginação fértil, livre de preconceitos, e uma vez estimuladas
apresentam grande potencial de leitura. “Elas geralmente estão abertas a
novas estruturas e se adaptam com facilidade às novidades apresentadas”.
(Ibidem, p. 92).
O desenvolvimento cognitivo está atrelado à capacidade de criar
símbolos, a qual depende de imitação, do jogo, do sonho e da representação.
Nos primeiros anos escolares as crianças estão em plena fase do jogo
simbólico, e a literatura pode ser importante aliada no desenvolvimento
cognitivo, pois ativa a função simbólica, o imaginário, a linguagem, a
compreensão do mundo por meio do faz-de-conta - “a criança preenche
significados e recria o mundo por meio do conhecimento e da emoção.”
(PIAGET, 1995. p. 93). O leitor infantil deve ter um tratamento especial e
diferenciado na biblioteca, pois carrega um potencial de leitura que quando
17
bem trabalhado se estende por toda a vida. E, continuando com as palavras de
Piaget: “[...] no futuro, terá as habilidades necessárias para um bom
aproveitamento das ferramentas tecnológicas disponíveis, e, certamente, sua
participação na construção da cidadania se dará de forma ativa”. (Idem, p.93)
Há que se destacar que a importância do ato de ler não pode ser
baseada simplesmente na quantidade de obras que o aluno deve conhecer,
mas está diretamente relacionada à qualidade do que se lê. Não é necessário,
portanto, que uma biblioteca o mínimo decente tenha que ter uma quantidade
muito grande de exemplares. Bem como o preparo dos alunos não exige uma
montanha de livros. Sobre isso, somente para comparar, Paulo Freire (1989)
nos ensina que:
“A insistência na quantidade de leituras sem o devido adestramento
nos textos a serem compreendidos, e não mecanicamente
memorizados, revela uma visão mágica da palavra escrita. Visão que
urge ser superada. A mesma, ainda que encarnada desde outro
ângulo, que se encontra, por exemplo, em quem escreve, quando
identifica a possível qualidade de seu trabalho, ou não, com a
quantidade de páginas escritas. No entanto, um dos documentos
mais importantes de que dispomos, As teses sobre Feuerbach, de
Marx, tem apenas duas páginas e meia...”.
É necessário reiterar, portanto, que não há dúvida de que uma biblioteca
numa escola pública contribui para a aprendizagem como fonte essencial para
pesquisa dos alunos, pois, de acordo com Castrillon (1985),
“o conceito de biblioteca escolar parte da análise das funções da
biblioteca com relação ao sistema educativo, ao currículo, a leitura, o
desenvolvimento da capacidade de pesquisa, da criatividade, com
aprendizagem permanente, a comunicação, a recreação, a
capacitação do professor, a informação educativa e a relação com a
comunidade”.
A pesquisa faz parte da aprendizagem dos alunos e sem elas ficam
dependentes quase sempre a apenas à aula expositiva – e esta perde parte da
18
sua aprendizagem no ar. O professor expõe, explica, conduz a aprendizagem,
mas precisa de uma percepção acurada de todos os alunos. Caso haja um
pequeno desvio de atenção, o desenrolar da aprendizagem fica prejudicado,
precisando que seja retornado ou com o pedido de ajuda ao professor ou,
então, recorrendo-se aos livros e pesquisando-se em casa ou nas bibliotecas.
Como sabemos, a quantidade de livros didáticos e paradidáticos em
casa dos alunos é quase sempre insuficiente ou inexistente para suas
pesquisas. A família brasileira, em sua maioria, é composta por pessoas que
pertencem às classes menos favorecidas que não têm condições econômicas
para adquirir livros - mesmo que estejam conscientizadas do valor da
educação e das necessidades educativas mais prementes de seus filhos.
Em geral, nossas escolas dão pouca importância ao espaço de leitura e
pesquisa dos alunos. Nossas bibliotecas são quase sempre mal localizadas,
pessimamente organizadas e de acervo sofrível, ultrapassado e insuficiente.
Como lugar de acolhimento e apoio elas são quase sempre desconsideradas e
têm pouco respaldo daqueles que têm poder de tomada de decisão e da
burocracia do município e dos Estados. Mas, é difícil aceitar que não se
entenda uma biblioteca escolar como fator decisivo na formação de nossas
crianças:
“uma biblioteca estruturada e em funcionamento é condição básica
de sustentação de um ensino de qualidade, onde a repetência e a
evasão escolar são predominantes nas escolas de baixa qualidade
de ensino e não utilizam a biblioteca como suporte de ensino
aprendizagem” (In: Revista ACB: Biblioteca em Santa Catarina,
Florianópolis. V4, n. 4, 1999.)
É comum deixar como última ação a resolver dentro das escolas os
problemas concernentes às bibliotecas. As justificativas que são dadas são
extremamente comprometedoras e não se sustentam: não são usadas pelos
alunos e professores.
19
O gosto pela leitura se esvaece com o distanciamento das possibilidades
de leitura. Estas quando oferecidas num lugar aconchegante, razoavelmente
bem localizado, com acervo medianamente atualizado, certamente será um
lugar em que os usuários aparecerão e farão bom uso dos espaços a eles
destinados.
Os meios de comunicação em geral, jornais, revistas semanais de
circulação nacional, as emissoras de rádio e televisão, têm dado destaque as
dificuldades de interpretação do que se lê e no que se escreve. Quase sempre
os professores são responsabilizados pela deficiência de escrita e leitura
interpretativa dos nossos alunos. Aqueles que fazem essas críticas esquecem-
se, no entanto, da responsabilidade que a burocracia do poder público tem em
contribuir para o desenvolvimento da leitura e do saber e dos outros fatores
que influenciam negativamente no processo de aprendizagem. O professor
não pode fazer milagres – embora concordemos que a sua parte deve ser
feita. Para ser um bom leitor exige-se um processo contínuo de leitura de boas
obras, de boas fontes de pesquisa, leitura e entretenimento. Para isso é
imprescindível uma boa biblioteca em cada escola. E a burocracia do poder
público quase sempre emperra em suas demoradas tramitações o seu
funcionamento perene.
A televisão, a internet, os jogos eletrônicos, por sua vez, têm, nos
últimos anos, concorrido de forma desleal com a aprendizagem escolar. Há um
enorme crescimento nas possibilidades disponibilizadas aos estudantes que os
levam a transferir seus interesses para algo “mais dinâmico”, mais atrativo e
mais aproximado do seu mundo real - que nem sempre é tão real assim.
Alguns especialistas têm-se esforçado para entender o problema e emitir
opinião, mas apontando apenas as causas, sem oferecer subsídios
compatíveis e corajosos para a resolução dos efeitos nocivos que essa
concorrência leva aos nossos alunos.
A escola deve ter um papel de destaque no processo educativo. Sendo
assim, os materiais que podem contribuir ativamente no processo de educação
devem estar à disposição dos alunos e demais profissionais que atuam na
20
produção científica necessária ao enriquecimento da aprendizagem. Conforme
a opinião de SOBRAL (1982): “a pedagogia define a biblioteca como
propulsora do processo educacional [...] colaborando com as metas
educativas”.
Para FONSECA (1992) o conceito de biblioteca vem se ajustando e é
bom que isto venha acontecendo, pois a biblioteca hoje:
“é menos uma coleção de livros e outros documentos, devidamente
classificados e catalogados do que como uma assembléia de
usuários da informação. Por isso o seu foco deve se voltado para as
pessoas no uso que essa fazem da informação oferecendo meios
para que e esta circule da forma mais dinâmica possível”.
A escola que não proporciona aos alunos o contato com a leitura, não
ensina a ler. Este deve ser um compromisso de todos os que atuam na
escola. A biblioteca deve se transformar em um espaço ativo para melhorar os
índices de leitura. Não deve ser somente um espaço de ação pedagógica de
apoio ao conhecimento e suporte as pesquisas, mas “um espaço onde todos
possam utilizá-la como fonte de cidadania, experiência e formação para a
vida”. (PIMENTEL, 2007, p. 25).
Corroborando essa idéia, conforme podemos perceber no Manifesto da
UNESCO em defesa da biblioteca (Anexo 2):
“A biblioteca é a porta de entrada para o conhecimento, fornece
as condições básicas para o aprendizado, permanente, autonomia
das decisões e para o desenvolvimento cultural dos indivíduos e dos
grupos sociais” [...], pois, [...] “Propicia informação e idéias
fundamentais para o funcionamento bem-sucedido da atual
sociedade, baseada na informação e no conhecimento. A biblioteca
escolar habilita os estudantes para a aprendizagem ao longo da vida
e desenvolve a imaginação, preparando-os para conviver como
cidadãos responsáveis”.
21
Para o psicopedagogo, a biblioteca abrirá, ainda no ensino básico,
caminhos para que os alunos desenvolvam a curiosidade e o senso crítico que
o levarão à cidadania plena. A biblioteca escolar:
“é uma instituição que organiza a utilização de livros, orienta a leitura
dos alunos, coopera com a educação e com o desenvolvimento
cultural da comunidade escolar e dá suporte ao atendimento do
currículo da escola”. (PIMENTEL, 2007, p. 88)
Ainda fazendo coro ao pensamento do autor referenciado concordamos
com a efetiva participação da família no acompanhamento da vida escolar: “A
escola e a biblioteca necessitam de uma maior articulação com a família,
devendo os pais ser sensibilizados para esse processo”. (Idem, p. 88)
É por isso que uma biblioteca pode ser um lugar que ajuda na criação de
um mundo diferenciado, imaginativo e rico de expectativas:
“A biblioteca pode ser a porta de acesso a emoções, respostas,
soluções, experiências gratificantes e de prazer, dando a
possibilidade de voar com a imaginação, de criar e ter novas idéias,
de solucionar problemas simples e complexos”. (MARTINEZ ,1998,
p. 8).
Deve-se acrescentar que uma biblioteca atraente, mesmo que seja
humilde, tem a obrigação de, além de ser receptiva, planejar bem suas
atividades ao longo do período letivo. Deve proporcionar atividades de leitura,
propor desafios aos seus freqüentadores (por exemplo: adivinhas),
apresentações teatrais, expor as novas aquisições, desenvolver leituras em
grupo (por exemplo: a hora do conto), marcar encontros literários ou
campanhas de trocas de livros e exposição de leituras (por exemplo: roda de
leitura – a constante e solidária troca de livros que porventura os alunos
venham adquirindo e lendo com o incentivo e apoio dos professores).
22
CAPÍTULO II O PRAZER DA LEITURA PARA AS CRIANÇAS
O que é uma biblioteca e quais são suas atribuições dentro de uma
escola? Está claro que ela não existe em todas as escolas brasileiras.
Segundo o Censo de 2005, “somente 19,4% das escolas públicas de ensino
fundamental possuem biblioteca, ou seja, 27.815 escolas em um total de
143.631 unidades escolares (BERENBLUM, 2006)”. Pouco se lhe dá
importância. Sendo um lugar onde são encontradas as informações
armazenadas em diferentes fontes e formas, ela pode ser vista como um
espaço de troca de saberes, espaço de lazer, debate e pesquisa. Não sendo o
lugar onde se contém a maior quantidade de informações, pois isso se dá no
campo externo a ela, no entanto o seu acervo viabiliza um acesso rápido e
eficaz, normatizado e facilitado, permitindo acesso a todos que sejam
orientados em suas buscas. Ela tem uma função concreta de incentivo à leitura
e pesquisa ao aluno. É lá que o leitor pode encontrar aquilo que precisa para
se transformar num cidadão sujeito de seu conhecimento, com senso crítico.
Nela se pode constituir o saber intelectual necessário ao desenvolvimento
científico, um dos objetivos da escola.
É um recurso que deve acrescentar ao fazer pedagógico e não somente
um simples ser um complemento descartável dentro da escola. A parceria
entre o psicopedagogo, o corpo docente e os alunos pode permitir uma
dinâmica que estimule a formação de idéias e que leve ao gosto pela leitura
aos seus freqüentadores. Pode ser encarada como centro da escola, pois leva
ao mundo da fantasia, do encantamento, do saber e da imaginação além de
ser um apoio fundamental no trabalho do corpo docente, como fonte de apoio
à pesquisa nos trabalhos escolares. É lá que o aluno responde a uma dúvida
que surge num determinado instante.
Pode ser espaço onde o professor em formação continuada encontra
complemento aos seus estudos, bem como os funcionários e membros da
comunidade. Os professores ao usarem a biblioteca servem de modelo ao
23
aluno e podem ser coadjuvantes na pesquisa colaborando nas dificuldades
que ele possa apresentar, ajudando-o a solucionar problemas, respondendo
perguntas e dando ajuda para soluções.
A biblioteca, por outro lado, deve estar permanentemente aberta aos
alunos, pois não se formam bons leitores se não existem os textos para leitura
ou lugares onde busquem as informações. O objetivo da escola deve ser de
formar leitores competentes para que se desenvolvam na acumulação de
conhecimento e na interpretação de textos e do mundo a sua volta. Mas, está
claro que o aprendizado não se faz apenas com a vontade de quem é
mediador do conhecimento, de forma impositiva ou de quem faz parte do meio
familiar:
“O processo de formação de leitores não se dará nunca de uma
maneira imperativa, ao contrário, ele se constrói na medida em que
todos podem se situar enquanto leitores e escritores, ativos e
pensantes. E os saberes sobre os textos, por sua vez, nunca se dão
sem eles, o que acontece é exatamente o oposto: saber sobre os
textos é saber com os textos: lendo, pensando, dialogando com eles”.
(In: www.diretoriabarretos.pro.br – Consulta em 18.07.2009).
Mas como se dá o encantamento de uma criança com a leitura? Em
dado momento de sua vida ela passa a descobrir um mundo novo, o da
fantasia, em que passa a pedir explicações para tudo o que vê e ouve. É a
fase dos por quês. Tudo o que ela quer saber, mesmo que aparentemente não
queira saber, ela pergunta, questiona. Se houver um espaço de diálogo entre o
adulto, o pai ou a mãe, o professor ou o bibliotecário, e se lhes é oferecida a
busca num mundo de sonhos que a literatura permite, é quase sempre uma
certeza de que a criança se encantará com o que vai encontrar. A escola,
então, tem a obrigação de garantir a continuação e a manutenção desse
encantamento, pois só assim garantirá que no futuro esta criança será uma
leitora capaz de ler o mundo, interpretá-lo, reconstruí-lo por si só e tornar-se
uma pessoa consciente de seus deveres e obrigações como sujeito ativo na
sociedade, construtor e partícipe de um mundo melhor:
24
[...] O mais importante é a leitura acrescentar novas visões de mundo,
novas experiências e informações à bagagem do leitor. O objetivo da
leitura na escola é fazer com que os alunos compreendam um texto e
possam optar, de forma consciente, por um outro texto, em função de
seus próprios interesses” (PEREIRA, 2006, p. 22).
Ouvir e ler histórias é entrar em um mundo encantador, cheio ou não de
mistérios e surpresas, mas sempre muito interessante, curioso, que diverte e
ensina. É na relação lúdica e prazerosa da criança com a obra literária que
temos uma das possibilidades de formação do leitor em potencial. É também
na exploração da fantasia e da imaginação que se instiga a criatividade e se
fortalece a interação entre texto e leitor:
“Saber ler é uma exigência das sociedades modernas. Há, contudo,
uma importante diferença entre saber ler e a prática efetiva da leitura.
Se a habilidade de leitura é uma necessidade pragmática e permite a
realização inclusive de atividades básicas, como deslocar-se de um
ponto a outro, fazer compras e realizar tarefas cotidianas, entre
outras ações, a prática da leitura é importante instrumento para o
exercício da cidadania e para a participação social. Foi para estimular
isso que, em 13 de maio de 1992, através do Decreto Presidencial nº
519, instituiu-se o PROLER (Programa Nacional de Incentivo à
Leitura), vinculado à Fundação Biblioteca Nacional, órgão do
Ministério da Cultura. O Decreto nº 4.819, de 16 de agosto de 2003,
que aprovou o novo Estatuto da FBN, veio fortalecer os objetivos do
Programa”. (In: http://www.amigosdolivro.com.br/
lermais_materias.php?cd_materias=3442 - Consulta 19.07.09).
O ato da leitura é uma das atividades humanas mais interessantes, que
permite desde tenra idade aprofundar o gosto pela leitura e a compreensão do
papel que exercemos no mundo, desde que a façamos em comum acordo com
os que devem ler, exercendo democraticamente o direito de escolha de todos
aqueles que desejam aprender, apesar de todos os entraves que se antepõem
a esse processo, conforme podemos depreender da leitura abaixo:
25
“Ler pode ser uma ferramenta importante para que as crianças e os
jovens possam compreender e entender melhor o mundo em que
vivem, para que possam viver melhor nesse mundo. Há muitas
possibilidades de utilização concreta do mundo da biblioteca nas
escolas - desde que estejam direcionadas para uma utilização
agradável [...] O problema é que os rituais de iniciação aos neófitos
não parecem agradar [...] talvez venha desse desencontro de
expectativas que a linguagem pela qual se costuma falar do ensino e
da literatura destile o amargor e o desencanto de prestação de
contas, deveres, tarefas e obrigações [...]”. (LAJOLO, 2006, p. 12):
A leitura não pode ser simplesmente uma atividade obrigatória, que obedeça a uma determinação formal que será avaliada, deverá seguir as
regras normativas da escola e do professor, para que desencadeie
obrigatoriamente em uma escrita culta, que siga os rigores gramaticais. A
leitura além de ser uma atividade lúdica, deve estar em acordo com a vontade
do agente que lê:
[...] “A leitura só se torna livre quando se respeita, ao menos em
movimentos iniciais do aprendizado, o prazer ou a aversão de cada
leitor em relação a cada livro. Ou seja, quando não se obriga toda
uma classe à leitura de um mesmo livro, com justificativa de que tal
livro é apropriado para a faixa etária daqueles alunos [...]”. (Idem, p.
108)
Por outro lado, vale acrescentar que os Parâmetros Curriculares
Nacionais não se descuidam de propor um currículo escolar que aponte as
diretrizes voltadas ao trabalho pedagógico, “com o objetivo de levar crianças e
jovens a dominarem conhecimentos e desenvolverem habilidades e atitudes de
que necessitem para crescerem como cidadãos plenamente reconhecidos e
conscientes de seus direitos e seus deveres. (CAMPELLO, 2003, p. 9).
Uma criança somente se sentirá motivada a desenvolver suas leituras se
suas expectativas não forem frustradas. O papel da burocracia educacional é
garantir, então, que os meios necessários à manutenção de uma busca
26
incessante ao mundo da leitura sejam efetivamente oferecidos durante a
permanência na escola. Ao leitor infantil e juvenil é fundamental que se lhe
ofereçam os materiais de que necessita para suas pesquisas e para suas
leituras sem o compromisso formal das disciplinas escolares. “O exercício da
cidadania só é possível se se garantir à pessoa o acesso aos saberes
elaborados socialmente” (Idem). Para que isso ocorra “devem ser oferecidos
os instrumentos para o desenvolvimento da socialização e da cidadania
democrática” (Ibidem).
Se os recursos informacionais necessários à leitura e à pesquisa
estiverem disponíveis na biblioteca escolar, “irão se constituir num rico
manancial para propiciar o desenvolvimento de conhecimentos, habilidades e
atitudes necessárias para viver e conviver na sociedade de informações”.
(Ibidem, p. 10).
A infância é um momento fundamental na vida das pessoas. É lá que
serão formadas as bases que determinarão muitas características das pessoas
adultas. É nela, então, que se deve iniciar a formação do futuro leitor. Nessa
fase devem-se criar as condições para que se desperte o prazer pela leitura.
“A infância é uma fase extremamente lúdica da vida e [...] nesse momento da
existência humana, a gente faz a festa é com uma boa história bem contada”.
(MACHADO, 2002, p. 13).
Na literatura infanto-juvenil hoje em dia há um sem-número de livros
atraentes para garantir o prazer de ler entre nossos novos leitores. Os
profissionais da educação devem ficar atentos, assim, ao que prescrevem aos
seus pupilos tendo o cuidado de não lhes oferecer à leitura uma obra que lhe
traumatize e o prejudique em seu processo de desenvolvimento intelectual. Na
leitura podemos encontrar:
Um elemento divertido, de entretenimento, em acompanhar uma
história engraçada, emocionante ou cheia de peripécias [...] Há muito
mais que isso (nas leituras) [...] é o gosto pela imersão no
27
desconhecido, pelo conhecimento do outro, pela exploração da
diversidade. A satisfação de se deixar transportar para outro tempo e
outro espaço, viver uma outra vida com experiências diferentes do
quotidiano [...] nos permitem um certo distanciamento e acabam nos
ajudando a entender melhor o sentido de nossas próprias
experiências [...] Essa dupla capacidade de nos carregar para outros
mundos e, paralelamente, nos propiciar uma intensa vivência
enriquecedora é a garantia de um dos grandes prazeres de uma boa
leitura [...] Outra coisa muito prazerosa que encontramos num bom
livro é o prazer da decifração [...] algo tão forte [...] (ibidem, pp.
19/20).
“É por isso que o professor que pretende levar seus alunos à proficiência
leitora precisa empenhar-se em fornecer variadas oportunidades [...] provocar
situações diversas” [...] (PEREIRA, 2006, p. 21), despertando no aluno as
possibilidades de descobertas que estão distribuídas pelos livros oferecidos
pela biblioteca. Se isso for oferecido no período inicial da aprendizagem,
especificamente nos primeiros anos do ensino fundamental, certamente o
aluno permanecerá amigo dos livros e terá uma facilidade maior na
assimilação dos elementos necessários à sua formação educacional e
intelectual. Dessa forma poderá com autonomia descobrir os caminhos que o
levarão a uma vida cidadã e se tornará um indivíduo ativo no conjunto da
sociedade.
28
CAPÍTULO III A BIBLIOTECA NO APOIO AO TRABALHO DO
PSICOPEDAGOGO
“Quem lê, vê mais; quem lê, sonha mais; quem lê, decide melhor;
quem lê, governa melhor; quem lê, escreve melhor. Poucos são os
atos que valorizamos e que praticamos que não possam ser
melhorados com mais leitura”.
(In: www2.fcsh.unl.pt/docentes/cceia/lerescrever.htm - Consulta em
19.07.2009).
O conhecimento tem uma forte presença em qualquer que seja a
projeção que se faça para o futuro. Por isso há um consenso de que o
desenvolvimento de um país está absolutamente voltado à qualidade da sua
educação. Dentro dos campos psicológico e pedagógico tem-se por definição
de aprendizagem uma mudança de comportamento resultante do treino ou da
experiência adquirida. Pode se dizer que a aprendizagem e o ensino possuem
o mesmo sentido ou identidade. Para os psicólogos elas podem ser muitas
vezes definidas como uma mudança relativamente duradoura no
comportamento, induzida pela experiência, mas ao mesmo tempo dizem que
aprender é uma atividade que ocorre dentro de um organismo e que não pode
ser diretamente observada. A responsabilidade de cada profissional na área da
educação é muito grande em relação ao aprendizado, pois a educação é a
base para que se alcancem todos os objetivos planejados. É de fundamental
importância que o educador esteja consciente da importância de sua profissão,
pois esta pode fazer com que as pessoas construam seus sonhos, reavaliem
suas perspectivas de vida, participem na formação de um grupo de cidadãos
honestos, comprometidos com o desenvolvimento da sociedade. Ser professor
nos dias de hoje é viver intensamente o seu tempo, é saber conviver com
todas as culturas sem excluir ninguém, é dialogar, é trocar idéias, ter
sensibilidade para o que acontece no mundo, ter sensibilidade diante dos
momentos frágeis de nossas vidas. É impossível imaginar um futuro para a
humanidade sem educadores, pois estes não só transformam a informação em
29
conhecimento e em consciência crítica, mas também seres humanos
melhores. A realidade dos professores no Brasil é muito crítica, pois esses não
são valorizados como deveriam realmente ser; por outro lado, a sociedade em
geral vive, infelizmente, ainda, os problemas da fome, da marginalidade, da
falta de moradias e de saneamento básico etc. Com tanta desigualdade, a
educação não é posta em primeiro plano, fazendo com que esses problemas
não tenham fim. A escola infantil deve estar pronta para influir na formação dos
educandos para que esses adquiram um maior nível de intelectualidade, pois é
exatamente na fase inicial de seu aprendizado que a criança inicia seus
primeiros passos para a educação e que ela desenvolve a sua formação, onde
vai sendo forjada a sua identidade, sua personalidade e seu caráter; é
extremamente importante que sejam percebidos e resolvidos todos os conflitos
que surgirem nesses alunos para que futuramente suas dificuldades não lhes
causem um dano muito grande em suas vidas. Hoje o número de crianças com
problemas psicológicos nas escolas é muito amplo; por causa disso é
necessário que haja um trabalho envolvendo a psicopedagogia, sendo esta
uma ciência que associa a pedagogia à psicologia, o profissional dessa área, o
psicopedagogo, tem por intuito ajudar crianças e adolescentes a superarem
suas dificuldades na aprendizagem com o “uso de técnicas educacionais
atrativas e prazerosas, como brincadeiras, jogos, histórias, mímicas e
desenhos que resultam numa melhora admirável da aprendizagem”. (In:
www//pt.oboulo.com/a-psicopedagogia-e-a-atuação-do-psicopedagogo-20619.html – Consulta
em 17.07.2009)
A práxis psicopedagógica é entendida como o conhecimento dos
processos de aprendizagem nos seus aspectos cognitivos, emocionais e
corporais. Pressupõe também a atuação tanto no processo normal do
aprendizado como na percepção de dificuldades (diagnóstico) e na
interferência no planejamento das instituições e no trabalho de re-educação
(terapia psicopedagógica).
Essa práxis faz vivenciar e construir projetos, buscando operar na
prática clínica individual e grupal. Desenvolvendo projetos institucionais,
principalmente aqueles relacionados à escola. Aprimorando a percepção de si
30
mesmo e do outro, enquanto ser individual, social e cultural e no seu papel de
psicopedagogo.
Nas vias institucionais, a Psicopedagogia vem atuando com muito
sucesso nas diversas instituições, sejam escolas, hospitais e empresas.
Seu papel é analisar e assinalar os fatores que favorecem, intervém ou
prejudicam uma boa aprendizagem em uma instituição. Propõe e ajuda no
desenvolvimento dos projetos favoráveis a mudanças, também
profilaticamente.
A aprendizagem deve ser olhada como a atividade de indivíduos ou
grupos humanos que, mediante a incorporação de informações e o
desenvolvimento de experiências, promovem modificações estáveis na
personalidade e na dinâmica grupal as quais revertem no manejo instrumental
da realidade.
“A habilidade para transitar com competência entre inúmeros tipos de
textos e para buscar informações de que se necessita é adquirida com a
prática e com a orientação do professor” (PEREIRA, 2006, p. 21). Esta deve
ser uma referência destacada no trabalho do psicopedagogo, para que ao
aluno sejam oferecidas as condições necessárias ao seu aprimoramento
intelectual.
O trabalho do psicopedagogo se dá numa situação de relação entre
pessoas. Não é uma relação qualquer, mas um encontro entre educador e
educando, em que o psicopedagogo precisa assumir sua função de educador,
numa postura que se traduz em interesse pessoal e humano, que permite o
desabrochar das energias criadoras, trazendo de dentro do educando
capacidades e possibilidades muitas vezes desconhecidas dele mesmo e
incentivando-o a procurar seu próprio caminho e a caminhar com seus próprios
pés:
31
“O objetivo do psicopedagogo é, portanto, o de conduzir a criança ou
adolescente, o adulto ou a instituição a reinserir-se, reciclar-se numa
escolaridade normal e saudável, de acordo com as possibilidades e
interesses dela”. (In: www.superane.com.br/psicopedagogia.php -
Consulta em 18.07.2009).
O trabalho do psicopedagogo, no entanto, somente surtirá efeito se
houver um apoio dinâmico e permanente entre os diversos âmbitos do setor
educativo. Entre os professores, os pedagogos, os funcionários
administrativos, a direção escolar e até nas esferas mais elevadas dos poderes
municipais, estaduais e federais. No âmbito do governo federal existem vários
projetos de incentivo à leitura que estão em andamento. Pode parecer que
estamos diante de um fenômeno de mobilização social em que o livro começa
a ter um valor até então inexistente.
Entre os projetos em andamento, podemos destacar Leitura para
Todos que está em sintonia com a Política Nacional do Livro e com
programas lançados pelo Governo Federal como Fome de Livro e Plano
Nacional do Livro e o Projeto de leitura Letras de Luz, em parceria com a
iniciativa privada.
Ao criar esses pólos de incentivo cultural para a implementação a baixo
custo, os projetos beneficiam as comunidades e incentivam o hábito da leitura.
Uma pesquisa foi encomendada pelo Instituto Pró-Livro e executada
pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope) e coordenada
pelo Observatório do Livro e da Leitura (OLL). O estudo foi aplicado em 5.012
pessoas em 311 municípios de todo o país de 29 de novembro de 2007 a 14
de dezembro do mesmo ano. O método adotado para definir o leitor ou não-
leitor foi a declaração do entrevistado de ter lido ao menos um livro nos últimos
três meses.
A pesquisa constatou que 55% da população são leitores e que 45% dos
entrevistados foram classificados como não-leitores. A pesquisa apontou
também que o brasileiro lê, em média, 4,7 livros por ano. Em algumas regiões
32
o número é ainda maior, como é o caso do Sul, onde foi apurado que são lidos
5,5 livros por habitante ao ano. No Sudeste o número foi de 4,9, no Centro-
Oeste 4,5, no Nordeste 4,2 e no Norte 3,9. A pesquisa confirmou também que
as mulheres lêem mais que os homens, 5,3 contra 4,1 livros por ano. (In.
WWW.cultura.gov.br/site/2008/05/ Consulta 17.7.2009).
Existem muitos programas em andamento de apoio às bibliotecas no
plano governamental, principalmente nos dois últimos governos federais.
Alguns deles atuam de forma isolada, mas outros são desenvolvidos a partir
dos órgãos públicos em cooperação e recebem ancoragem da lei.
Através de pesquisas sobre a leitura e o acesso aos livros no Brasil,
constata-se o quanto a leitura ainda é deixada numa posição de pouco
destaque conforme podemos constatar ao ler o quadro da pesquisa do Projeto
Fome de Livro abaixo:
RETRATOS DA LEITURA NO BRASIL
Das 26 milhões de pessoas acima de 14 anos que dizem ter o hábito de ler, 47% tem,
no máximo, 10 livros em casa
A compra per capita anual de livros não-didáticos no Brasil é de 0,66%
por adulto alfabetizado.
61% dos brasileiros adultos alfabetizados têm muito pouco ou nenhum contato
com os livros.
6,5 milhões de pessoas das camadas mais pobres da população dizem não ter
nenhuma condição de adquirir um livro
De cada 10 não-leitores, 7 têm baixo poder aquisitivo
73% dos livros estão concentrados nas mãos de apenas 16% da população
O Brasil possui 1.500 livrarias (o ideal seriam 10.000)
Não existem livrarias em 89% dos municípios brasileiros
(In: http://www.cinform.ufba.br/v_anais/palestras/fomedelivro.doc 18.07.2009)
Depreende-se do quadro que quanto maior o nível de formação
educacional e de renda, maior o consumo de material de leitura, o que pode
ser o referencial que faz a diferença na qualidade de vida das pessoas.
No entanto, é mais que evidente que existem muitas propostas para
solucionar os problemas, mas entre as propostas e suas concretizações há um
imenso abismo que deve ser transposto pelos responsáveis pela educação
33
brasileira. Merece ser citado, apenas como referência, com mais detalhes, o
Programa Fome de Livro. Um ambicioso plano constituído por um conjunto de
ações, projetos e programas que podem ser agrupados a partir de três eixos
principais, que se integram àqueles outros empreendidos pela Fundação
Biblioteca Nacional na Área do Livro e no Apoio à Criação e aos Direitos do
Autor. Dentre essas ações empreendidas podemos destacar as seguintes
propostas:
Democratização do acesso ao livro – acesso gratuito ao livro em rede de
bibliotecas públicas presente em todos os municípios brasileiros com acervo
básico mínimo de literatura e literatura infanto-juvenil (universal, nacional e
regional) livros técnicos, obras de referência e outras formas de informação
(jornais, revistas, Internet, etc.). Proliferação dos centros de inclusão digital,
livrarias e campanhas de distribuição de livros e distribuição do livro gratuito
através de programas governamentais de aquisição de livros e outros não-
governamentais.
Fomento à leitura – formação permanente de educadores-leitores e
outros mediadores da leitura e ações de estímulo à leitura junto a grupos
sociais tradicionalmente excluídos (índios, portadores de deficiências,
comunidades negras, etc. e incentivo para aproximar escritores e leitores).
Valorização do livro – campanhas permanentes e pontuais nos meios de
comunicação de massa (televisão, rádio, jornal, revistas, Internet, etc.) para
fortalecer o valor simbólico do livro e da leitura no imaginário coletivo com
testemunhais de formadores de opinião e campanhas de leitura de livros.
Dentre as estratégias e tipos de ações que deveriam ser empreendidas
pelo programa referenciado podemos destacar as ações que visam a
democratização do acesso ao livro juntamente com o fomento à leitura e a
valorização do livro: a implantação de novas bibliotecas públicas (em hospitais,
áreas rurais, escolas, Igrejas, clubes de serviço, ônibus circulantes, barcos
etc.); fortalecimento da rede atual de bibliotecas públicas (monitoramento e
34
controle, atualização de acervos); ações para conquistar novos espaços para
leitura (leitura em parques, centros comerciais, aeroportos, estações de metrô,
trem e ônibus, leitura em hospitais, asilos, penitenciárias, praças e consultórios
pediátricos, leitura com crianças de rua, no trabalho...); distribuição de livros
gratuitos às escolas através de programas do MEC, tais como o Programa
Nacional Biblioteca na Escola, instituído em 1997 e o PNLD, projetos de
educação para a cidadania com livros – meio ambiente, trabalho, juventude;
ações para melhorar o acesso ao livro e outras formas de leitura, feiras do
livro, campanhas das livrarias, editoras e outros pontos de venda. Edições em
Braile, objetivando atender aos deficientes visuais. Projetos editoriais com
jornais e revistas. Campanhas de doações de livros; capacitação para leitura
(capacitação de educadores, bibliotecários e mediadores da leitura). Projetos
especiais junto a universidades e centros de formação de professores.
Formação de professores com estratégia de fomento da leitura e de
estudantes que se preparam para o magistério em literatura infanto-juvenil;
projetos de estímulo à leitura (maratonas da leitura, leitura diária na escola,
clubes de leitura, mediadores de leitura e contadores de histórias,
performances poéticas, rodas literárias e murais, oficinas de criação literária
para crianças e jovens, encontro com autores e feiras de livros); apoio à
pesquisa científica (diagnósticos sobre a situação da leitura e criação de
mediadores da leitura no Brasil e nas escolas). Além disso, estudos sobre
bibliotecas e livrarias e pesquisas sobre hábitos de leitura e consumo de livros.
Pode-se acrescentar, ainda, a formação de base de conhecimento sobre
experiências inovadoras e bem sucedidas com leitura; prêmios e
reconhecimento às melhores práticas (concursos de contos e redações nas
escolas), concursos sobre experiências inovadoras na promoção da leitura,
prêmios para ações de fomento à leitura na escola); ações de apoio do setor
privado (criação de grupos de leitura em empresas e formação de alianças
estratégicas e redes de apoio à leitura). Sugestões e dicas sobre livros para os
funcionários. Oferecer manuais sobre como formar clubes de leitura nos locais
de trabalho. Patrocinar ações que utilizam livros e a leitura. Formar um fundo
pró-leitura pelas editoras, livrarias, gráficas e fornecedores de papel; propor
ações para converter a leitura em política pública (formulação de políticas
35
nacional, estaduais e municipais). Criação de leis do livro federal, estaduais e
municipais. Realizar fóruns, congressos, seminários e jornadas para propor
agendas sobre o livro e a leitura. Incentivar pesquisas e estudos sobre políticas
públicas do livro, leitura e biblioteca pública; ações para criar consciência sobre
o valor social da leitura (campanhas com testemunhais de formadores de
opinião sobre livro e leitura). Editar e divulgar cadernos e suplementos
especiais sobre o livro e a leitura. Publicar histórias de leitura e dicas de
personalidades e pessoas anônimas da comunidade sobre livros. Criar
programas permanentes e especiais na TV e rádio e presença do livro e da
leitura na televisão, no rádio e no cinema.
O Programa Fome de Livro é um projeto integrado à política pública de
leitura e biblioteca pública que tem como objetivo central assegurar e
democratizar o acesso ao livro e à leitura a toda a sociedade, a partir da
compreensão do valor da leitura e da escrita como instrumento indispensável
para que as pessoas possam desenvolver plenamente suas capacidades
humanas, exercer seus direitos, participar efetivamente da sociedade,
melhorar seu nível educativo, fortalecer os valores democráticos, criar e
conhecer os valores e modos de pensar de outras pessoas e culturas e ter
acesso ao conhecimento e à herança cultural da humanidade mediante a
palavra escrita.
Como objetivos específicos do programa: zerar o número de cidades
brasileiras sem bibliotecas (pelo menos uma biblioteca pública por cidade);
articulação dos níveis federal, estadual e municipal de governo na política de
leitura do País; dinamizar e apoiar bibliotecas existentes para que funcionem
como centros geradores de cultura; integrar o Sistema Nacional de Bibliotecas
Públicas/MINC e o Sistema de Bibliotecas Escolares do MEC; integrar e
potencializar os esforços para fomento à leitura do poder público, sociedade e
empresas; fortalecer o papel da biblioteca pública como espaço privilegiado
para a formação de leitores; aumentar os atuais índices de leitura do País;
fortalecer o valor da leitura e da escrita para o desenvolvimento pessoal e
social; contribuir para reduzir o número de analfabetos funcionais; converter a
36
leitura em uma política de Estado prioritária; melhorar o acesso aos livros
especialmente entre as populações excluídas ou em situações de risco.
37
CAPÍTULO IV A BIBLIOTECA NOS PROJETOS POLÍTICO-
PEDAGÓGICO DAS ESCOLAS E DE GOVERNO A leitura tem aspectos importantes como desenvolvimento da linguagem
e da parte intelectual humana. Deve-se acrescentar que ela é prevista na
Constituição brasileira. Através da Lei nº 10.753, de 30 de outubro de 2003,
publicada pelo Diário Oficial da União de 31.10.2003, que “institui a Política
Nacional do Livro”, pode-se depreender que, como acessório importante, o
Estado brasileiro lhe faz a defesa, propondo uma política nacional do livro,
assegurando ao cidadão o pleno direito de acesso e uso do livro, conforme
anexo no final desta monografia.
A leitura pode induzir ao aprendizado e a confrontação crítica do texto e
das idéias do autor. As crianças que são incentivadas à leitura podem se tornar
leitores constantes, eficazes e eficientes. A leitura prazerosa desenvolve o
gosto pela leitura, motivando a busca de novas escritas e textos.
Entre as ações motivacionais no campo interno da biblioteca, os
responsáveis pela política pedagógica da escola podem incentivar projetos
como “A hora do conto”, exibição de marionetes, exposição de livros, leitura
oral, propaganda de livros recém adquiridos, elaborar lista de livros lidos pelos
alunos, dos alunos mais assíduos etc. Por outro lado é muito bem vinda a
prática de incentivar a freqüência pelos pais, o que não só universaliza o uso
do livro mas também induz à leitura indiretamente em seus filhos.
A leitura está presente em diversos lugares. Desde o laboratório de
informática, a sala de aula, e é uma prática fundamental para o
desenvolvimento intelectual das crianças. A prática da leitura pode levar o
aluno ao conhecimento através do material contido nas escolas para trabalhar
os textos sugeridos pelos professores, pesquisas e até mesmo a leitura
apenas como lazer.
38
Uma das principais causas do elevado índice de analfabetismo funcional
e também das dificuldades generalizadas para compreensão da informação
escrita localiza-se, segundo os especialistas, na crônica falta de contato com a
leitura, sobretudo entre as populações mais pobres (como se depreende da
leitura do quadro da página 32 – Retratos da Leitura no Brasil). Como os
investimentos no combate ao analfabetismo têm sido crescentes nos últimos
anos, isso equivale a dizer que ao mesmo tempo em que milhões de
brasileiros ingressam a cada ano na categoria de leitores em potencial, outros
milhões saem por outra porta – a porta do analfabetismo funcional. Assim, um
formidável conjunto de esforços, energia e investimentos públicos e privados e
da sociedade acabam simplesmente se convertendo em um daqueles casos
típicos de ineficácia da ação pública.
Não é por outra razão que em avaliações internacionais sobre a
compreensão leitora os brasileiros aparecem invariavelmente em situação
literalmente vexatória. Foi o que mostrou, por exemplo, o estudo do Projeto
Pisa, da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico
(OCDE) (In: http://www.oei.es/noticias/spip.php?article1490), que investigou o nível
de conhecimento de estudantes com até 15 anos de idade e matriculados em
escolas públicas e privadas de 32 países. No exame que exigia a identificação
e recuperação de informações, interpretação e reflexão, a partir de situações
cotidianas e de um conjunto de questões a serem respondidas de acordo com
os textos apresentados, os brasileiros ficaram em um nada honroso último
lugar.
Os prejuízos são de toda ordem e altamente danosos em todos os
sentidos. A baixa leitura não só influi negativamente no desenvolvimento
pessoal e profissional das pessoas como também, e até por isso, contribui
decisivamente para ampliar o gigantesco fosso social existente em países
como o Brasil, promovendo mais exclusão social e menos cidadania. Afinal, o
exercício pleno da cidadania requer algumas condições básicas. E, em geral,
pessoas que sequer conseguem dominar plenamente as habilidades da leitura
e da escrita, com dificuldades de acesso às informações e para compreendê-
39
las e interpretá-las, muito provavelmente também não terão como fazer valer
seus mais elementares direitos de cidadão. “A capacidade de se comunicar e
interagir, por exemplo, é uma condição básica para assegurar a diversidade
cultural de um povo. Sem resolver essas questões, decididamente não se
constrói uma nação integrada e inclusiva”.
(In: http://www.cinform.ufba.br/v_anais/palestras/fomedelivro.doc - Consulta em
18.07.2009).
Os profissionais que atuam diretamente com a biblioteca, juntamente
com as ações estimuladas dos psicopedagogos, pedagogos, corpo docente,
podem contribuir na construção do projeto político pedagógico da escola.
O projeto político-pedagógico é construído por todos os que fazem parte
da escola. Precisa ser pensado, construído em grupo, aplicado ao longo do
ano, alterado se necessário, reconstruído, ressignificado cotidianamente. O
responsável pela biblioteca deve participar ativamente destacando sua
importância dentro do ambiente escolar, para que se verifique a forma como a
leitura está sendo inserida no projeto, apresentando idéias. O Projeto da
escola deve organizar o trabalho escolar de modo que supere os conflitos,
tentando eliminar as relações de competitividade, corporativa e autoritária,
rompendo a rotina, diminuindo a hierarquização burocrática, procurando
preservar a totalidade, visto como um guia de trabalho, buscando melhorar
aquilo que não deu certo em outros momentos, melhorando a convivência
entre os atores escolares, com práticas pedagógicas planejadas e
organizadas:
“O projeto representa a oportunidade de a direção, a coordenação
pedagógica, os professores e a comunidade, tomarem sua escola
nas mãos, definir seu papel estratégico na educação das crianças e
jovens, organizar suas ações, visando a atingir os objetivos que se
propõem. É o ordenador, o norteador da vida escolar [...] Pensar em
Projeto Político Pedagógico para qualquer escola pressupõe que os
educadores tenham um espaço onde possam se manifestar, que o
processo da escola e suas experiências acumuladas sejam refletidas
40
no texto. Que haja uma definição anterior sobre qual a concepção de
Projeto Político Pedagógico será utilizada pelo grupo". (In: J. C.
Libâneo–www.vicenteoficina.blogstop.com/2007/12/o-projeto-político-
pedagógico-o-projeto.html – Consulta em 19.07.2009).
Sob esta ótica, o projeto político-pedagógico apresenta algumas
características que lhe adicionam luz própria, valendo destacar o texto abaixo
sobre inovações no projeto escolar:
a) É um movimento de luta em prol da democratização da
escola que não esconde as dificuldades e os pessimismos da
realidade educacional, mas não se deixa levar por esta,
procurando enfrentar o futuro com esperança em busca de
novas possibilidades e novos compromissos. É um movimento
constante para orientar a reflexão e ação da escola.
b) Está voltado para a inclusão a fim de atender a diversidade
de alunos, sejam quais forem sua procedência social,
necessidades e expectativas educacionais; projeta-se em uma
utopia cheia de incertezas ao comprometer-se com os desafios
do tratamento das desigualdades educacionais e do êxito e
fracasso escolar.
c) Por ser coletivo e integrador, o projeto, quando elaborado,
executado e avaliado, requer o desenvolvimento de um clima
de confiança que favoreça o diálogo, a cooperação, a
negociação e o direito das pessoas de intervirem na tomada de
decisões que afetam a vida da instituição educativa e de
comprometerem-se com a ação. O projeto não é apenas
perpassado por sentimentos, emoções e valores. Um processo
de construção coletiva fundada no princípio da gestão
democrática reúne diferentes vozes, dando margem para a
construção da hegemonia da vontade comum. A gestão
democrática nada tem a ver com a proposta burocrática,
41
fragmentada e excludente; ao contrário, a construção coletiva
do projeto político-pedagógico inovador procura ultrapassar as
práticas sociais alicerçadas na exclusão, na discriminação, que
inviabilizam a construção histórico-social dos sujeitos.
d) Há um vínculo muito estreito entre autonomia e projeto
político-pedagógico. A autonomia possui o sentido sociopolítico
e está voltada para o delineamento da identidade institucional.
A identidade representa a substância de uma nova organização
do trabalho pedagógico. A autonomia anula a dependência e
assegura a definição de critérios para a vida escolar e
acadêmica. Autonomia e gestão democrática fazem parte da
especificidade do processo pedagógico.
e) A legitimidade de um projeto político-pedagógico está
estreitamente ligada ao grau e ao tipo de participação de todos
os envolvidos com o processo educativo, o que requer
continuidade de ações.
f) Configura unicidade e coerência ao processo educativo, deixa
claro que a preocupação com o trabalho pedagógico enfatiza
não só a especificidade metodológica e técnica, mas volta-se
também para as questões mais amplas, ou seja, a das relações
da instituição educativa com o contexto social.
Construir o projeto político-pedagógico para a instituição
educativa significa enfrentar o desafio da inovação
emancipatória ou edificante, tanto na forma de organizar o
processo de trabalho pedagógico como na gestão que é
exercida pelos interessados, o que implica o repensar da
estrutura de poder.
A instituição educativa não é apenas uma instituição que
reproduz relações sociais e valores dominantes, mas é também
uma instituição de confronto, de resistência e proposição de
42
inovações. A inovação educativa deve produzir rupturas e, sob
essa ótica, ela procura romper com a clássica cisão entre
concepção e execução, uma divisão própria da organização do
trabalho fragmentado. (In: WWW//vicenterisi.googlepages.com)
In:Caderno Cades – Vol. 23, nº.61- Campinas – 2003: Inovações e
projeto político-pedagógico: uma relação regulatória ou
emancipatória? Autora: Ilma Passos Alencastro Veiga – Consulta em
19.07.2009)
É preciso, então, destacar no projeto político-pedagógico uma
perspectiva de identidade no exercício da autonomia das escolas. Os inúmeros
problemas educacionais e o verdadeiro papel da educação formal são motivos
de ampla discussão na sociedade contemporânea. Urge empreender um
esforço coletivo para vencer as barreiras e entraves que inviabilizam a
construção de uma escola pública que eduque de fato para o exercício pleno
da cidadania e seja instrumento real de transformação social, espaço em que
se aprenda a aprender, a conviver e a ser com e para os outros, contrapondo-
se ao atual modelo gerador de desigualdades e exclusão social que impera
nas políticas educacionais de inspiração neoliberal.
“O projeto político-pedagógico pode contribuir para estabelecer novos
paradigmas de gestão e de práticas pedagógicas que levem a
instituição escolar a transgredir a chamada "educação tradicional",
cujo conteudismo de inspiração positivista está longe de
corresponder às necessidades e aos anseios de todos os que
participam do cotidiano escolar. (In:HTTP//vicenterisi.google.com –
texto-PPPIdentidadeAutonomia-Salmaso.mht. Consulta em 19.12.09).
Segundo o MANIFESTO IFLA/UNESCO/BIBLIOTECA ESCOLAR
(2002), publicado no Site da Associação de Leitura Brasileira:
“a missão da biblioteca escolar é promover serviços que apóiem o
ensino e aprendizado da comunidade escolar, oferecendo-lhes a
possibilidade de se tornarem usuários críticos da informação em
todos os formatos e meios. Enquanto isso, a difusão da leitura
43
depende de uma política de leitura desenvolvida no país, de
preferência na escola, onde se determinam as diretrizes de ensino,
os currículos e necessidades das bibliotecas escolares”. (In:
http://www.cole.educacao.ws/resumos_det.php?resumo=936 –
Consulta em 17.12.2009).
Portanto, é fundamental que a biblioteca escolar disponibilize um acervo
que atenda aos interesses e necessidades dos docentes e discentes e que os
serviços da biblioteca escolar estejam integrados ao Projeto Político
Pedagógico (PPP) da escola para a sua efetividade na promoção do processo
educacional de qualidade tanto requerida pela população brasileira.
44
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diz-se que o brasileiro não gosta de ler, mas uma pesquisa “Retrato da
Leitura no Brasil”, em 2000, com uma população acima de 14 anos afirma que
“[...] 62% deles gostam de ler” (BERENBLUN, 2006).
O presente estudo direcionou-se para a busca do conhecimento da atual
situação das bibliotecas em nossas escolas e as suas necessidades mais
urgentes e a relação necessária com os projetos dessas escolas e o trabalho
do psicopedagogo, privilegiando as possibilidades de transformá-la em lugar
próprio para a leitura e o aprendizado prazerosos. É inegável que a educação
no Brasil tem passado por uma crise sem igual em sua história. A conjuntura
atual de nossas escolas não pode ser analisada sem levar em conta outros
fatores que a afetam direta ou indiretamente. São muitos problemas e
dificuldades que se acumulam ao longo dos anos. Problemas que vão desde a
desestruturação familiar e a perda de referência de nossos jovens até o
processo de globalização da economia que faz com que a rapidez das
informações e o excesso delas criem situações em que nossos jovens ao invés
de articularem essa infinitude de informações de forma positiva, tornam-se
cada dia mais desnorteados. Se a família é o porto seguro em que seus
membros encontram seus rumos, formam seus valores, desenvolvem suas
potencialidades e dão seus primeiros passos na educação e formação
humana, sabemos, no entanto que, cada dia mais, percebemos nossos jovens
mais distantes, desocupados, as mentes a viajar viagens estranhas, sob o alto
risco de caminharem por estradas perigosas. Há uma grande perda diária de
membros das famílias para o mundo obscuro das ruas.
Utilizando um outro olhar para analisar o quadro que se afigura,
compreendemos que existe uma preocupação de alguns setores mais
comprometidos com a educação popular para que os velhos problemas sejam
sanados. Mas há uma dificuldade muito grande para que se programem
políticas de apoio ao processo de aprendizagem. São várias as saídas. São
vários os problemas e barreiras que se interpõem nessa disputa. Mas é
45
necessário que o poder público - e os profissionais responsáveis por direcionar
as trilhas e servirem de modelo aos nossos jovens - estejam imbuídos dessa
responsabilidade em oferecer condições de saneamento aos problemas que
afetam diretamente a vida educacional de nosso país.
Não basta, não resta dúvida, que se ofereça uma biblioteca bem
instalada em cada uma das escolas brasileiras. Isso não é suficiente para
resolver nossas dificuldades de leitura e interpretação. É de conhecimento de
todos que existe uma forte concorrência contrária às as ações de
aprendizagem na escola; ações que muitas vezes se perdem no descrédito
que se deu, durante muito tempo, aos valores da educação e aos profissionais
que nela atuam. Essa concorrência se caracteriza através do apelo exagerado
que se dá a uma sociedade extremamente preocupada com o consumo de
produtos quase sempre inúteis ou dispensáveis. Dentre esses produtos
concorrenciais com o processo educativo podemos relacionar as novas
ferramentas de comunicação via computadores, a Internet, os canais de
comunicação como MSN e Orkut e os jogos eletrônicos. Além destes,
concorrem para dificultar o incentivo à leitura e para o empobrecimento
intelectual de nossa juventude, os meios de comunicação irresponsáveis com
o que divulgam e um sem número de equipamentos eletrônicos e aparelhos
celulares de mil funções. Essas tecnologias avançadas e as técnicas cada vez
mais criativas são usadas para atrair as pessoas a esse mundo que, muitas
vezes, é vazio de sentido e que muito pouco acrescenta à vida das pessoas,
desviando-as de uma verdadeira preparação de seus futuros.
Existem, entretanto, outras fontes de concorrência com a educação:
podemos citar o mundo paralelo das ruas. Muitos jovens, sem atividade
durante o dia, em condições de risco devido a problemas familiares ou
situação econômica desfavorável, ficam à mercê de um mercado ilícito que os
afasta das escolas e dos livros e os leva quase sempre um uma situação de
perigo, quase sempre enveredando num caminho sem volta.
46
Apesar dessas dificuldades que encontramos para a realização dos
projetos que pretendem fazer avançar a educação, é necessário realizar
atividades integralizadoras a partir das ações criativas dos professores e do
corpo técnico das escolas. Estes são o maior elo motivador da aprendizagem e
da leitura das crianças, juntamente com as influências familiares, na escola.
Portanto, apesar de tantas barreiras, deve haver uma procura por estímulos e
incentivos de hábitos saudáveis de leitura e do uso de bibliotecas escolares; os
profissionais da pedagogia devem estar atentos à criação de condições que
facilitem o uso delas e para que se favoreça o estímulo aos alunos numa
utilização eficaz; deve-se, então, mostrar a todos os integrantes das escolas, a
importância da leitura na formação de um cidadão. Assim sendo, a biblioteca
poderia passar a ser uma forte aliada nesse processo de ligação entre alunos
e professores, tornando-se uma importante ferramenta de ensino e
aprendizagem. Ainda mais, é importante que em seu funcionamento a
biblioteca esteja sempre aberta, em horário integral, facilitando o acesso a
todos. O pedagogo, o profissional da psicopedagogia e os professores devem
estar atentos para o uso desta importante ferramenta de ensino-aprendizagem,
não se preocupando apenas com o formalismo tradicional quando se pede que
se leia visando atender a uma exigência da língua portuguesa, mas tomando a
avaliação da leitura apenas como uma das possibilidades de chegar ao
conhecimento, como meio facilitador.
O hábito da leitura deve ser estimulado a partir dos primeiros anos de
vida escolar, não somente nas escolas, mas também nas famílias. Porém é
impossível negar que a maioria das escolas infelizmente ainda não possui uma
biblioteca em tempo integral, de boa qualidade, com material atualizado e
moderno. A conscientização do hábito da leitura é uma das maiores
ferramentas para ajudar na melhoria da capacidade intelectual e na formação
educacional de nossos educandos. E para que o hábito de leitura entre nossas
crianças mais carentes tenha impulso é necessário um amplo programa que
viabilize a leitura nas escolas. O governo federal tem tido um relativo sucesso
em projetos de apoio à leitura pelo Brasil afora, tais como o Proler, o Projeto
Fome de Ler, o Projeto Fome de Livro, o Projeto Letras de Luz entre outros. É
47
importante destacar, também, os projetos de empresas privadas - que podem
muito bem colaborar com essas iniciativas. Não podemos esquecer, reiterando
essa idéia, de considerar que existe uma longa e profícua discussão a respeito
da leitura - tão requisitada numa sociedade democrática, que parece voltar a
destacar o papel dos profissionais da educação na formação de cidadãos
competentes e habilitados que possam entender o mundo em que vivem a
partir de um simples ato de vontade: a leitura.
48
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49
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seminário nacional sobre bibliotecas escolares, 1982. Brasília. Anais. Brasília.
INL/UNB, 1982.
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ANEXO 1
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA,
Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
CAPÍTULO I DA POLÍTICA NACIONAL DO LIVRO
DIRETRIZES GERAIS
Art. 1o Esta Lei institui a Política Nacional do Livro, mediante as seguintes diretrizes:
I - assegurar ao cidadão o pleno exercício do direito de acesso e uso do livro;
II - o livro é o meio principal e insubstituível da difusão da cultura e transmissão do conhecimento, do fomento à pesquisa social e científica, da conservação do patrimônio nacional, da transformação e aperfeiçoamento social e da melhoria da qualidade de vida;
III - fomentar e apoiar a produção, a edição, a difusão, a distribuição e a comercialização do livro;
IV - estimular a produção intelectual dos escritores e autores brasileiros, tanto de obras científicas como culturais;
V - promover e incentivar o hábito da leitura;
VI - propiciar os meios para fazer do Brasil um grande centro editorial;
VII - competir no mercado internacional de livros, ampliando a exportação de livros nacionais;
VIII - apoiar a livre circulação do livro no País;
IX - capacitar a população para o uso do livro como fator fundamental para seu progresso econômico, político, social e promover a justa distribuição do saber e da renda;
X - instalar e ampliar no País livrarias, bibliotecas e pontos de venda de livro;
XI - propiciar aos autores, editores, distribuidores e livreiros as condições necessárias ao cumprimento do disposto nesta Lei;
XII - assegurar às pessoas com deficiência visual o acesso à leitura.
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CAPÍTULO IV DA DIFUSÃO DO LIVRO
Art. 13. Cabe ao Poder Executivo criar e executar projetos de acesso ao livro e incentivo à leitura, ampliar os já existentes e implementar, isoladamente ou em parcerias públicas ou privadas, as seguintes ações em âmbito nacional:
I - criar parcerias, públicas ou privadas, para o desenvolvimento de programas de incentivo à leitura, com a participação de entidades públicas e privadas;
II - estimular a criação e execução de projetos voltados para o estímulo e a consolidação do hábito de leitura, mediante:
a) revisão e ampliação do processo de alfabetização e leitura de textos de literatura nas escolas;
b) introdução da hora de leitura diária nas escolas;
c) exigência pelos sistemas de ensino, para efeito de autorização de escolas, de acervo mínimo de livros para as bibliotecas escolares;
III - instituir programas, em bases regulares, para a exportação e venda de livros brasileiros em feiras e eventos internacionais;
IV - estabelecer tarifa postal preferencial, reduzida, para o livro brasileiro;
V - criar cursos de capacitação do trabalho editorial, gráfico e livreiro em todo o território nacional.
CAPÍTULO V DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 16. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios consignarão, em seus respectivos orçamentos, verbas às bibliotecas para sua manutenção e aquisição de livros.
Art. 17. A inserção de rubrica orçamentária pelo Poder Executivo para financiamento da modernização e expansão do sistema bibliotecário e de programas de incentivo à leitura será feita por meio do Fundo Nacional de Cultura.
Art. 18. Com a finalidade de controlar os bens patrimoniais das bibliotecas públicas, o livro não é considerado material permanente.
Art. 19. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 30 de outubro de 2003; 182o da Independência e 115o da República.
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LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
Márcio Thomaz Bastos
Antonio Palocci Filho
Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Jaques Wagner
Márcio Fortes de Almeida
Guido Mantega
Miro Teixeira
Ricardo José Ribeiro Berzoini
Gilberto Gil
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ANEXO 2
Manifesto da UNESCO
Origens do Manifesto 1976: a Comissão Australiana da UNESCO promoveu um seminário sobre planejamento e Desenvolvimento de Bibliotecas Escolares. Uma das recomendações desse seminário refreia a preparação de um “Manifesto das Bibliotecas escolares” semelhante ao “Manifesto das Bibliotecas Públicas” da UNESCO. 1978: a Comissão australiana da UNESCO envia um esboço preliminar deste documento, preparado pela Associação Australiana de Bibliotecas Escolares, ao Secretariado da UNESCO. 1980: esta questão foi discutida no Encontro da Secção de Bibliotecas Escolares da IFLA (International Federation of Library Associations), em Manila, recebendo apoio e aprovação unânimes. Em novembro deste ano, a UNESCO confirma o Manifesto como seu documento oficial. MANIFESTO DA UNESCO SOBRE MEDIATECAS ESCOLARES A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura foi fundada para promover a paz e a felicidade, agindo sobre o espírito dos homens e das mulheres. O presente Manifesto proclama que os serviços das mediatecas escolares são essenciais para uma efetiva educação de todas as crianças e adolescentes, e que a educação é um agente vital na manutenção da paz e do entendimento entre povos e nações. Serviço de mediatecas escolares Um efetivo serviço de mediatecas escolares é essencial para o cumprimento do projeto educativo de escola e uma componente necessária do conjunto de serviços de bibliotecas. Um serviço eficaz de mediateca escolar deverá: - dar apoio constante ao programa de ensino e aprendizagem e propiciar mudanças na educação; - assegurar um máximo acesso a uma gama de recursos e serviços tão vastos quanto possível; - fornecer aos estudantes as capacidades básicas para obter e usar a máxima diversidade de recursos e de serviços; - habituá-los à utilização das bibliotecas, para divertimento, informação e educação contínua; Para alcançar esses objetivos, a mediateca escolar necessita de: -pessoal com qualificações profissionais quer em biblioteconomia quer em educação, assistido por pessoal de apoio em número suficiente; -coleções adequadas de materiais selecionados, impressos e audiovisuais; -espaço adequado para organizar estes recursos, de modo a assegurar o acesso fácil aos serviços e a sua utilização racional.
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Os serviços da mediateca deverão proporcionar: - Uma grande variedade de materiais impressos e audiovisuais. Estes materiais precisam de ser avaliados, selecionados, adquiridos e organizados para uso, de acordo com os procedimentos reconhecidos para facilitar o acesso, assegurar a utilização e evitar a desnecessária duplicação de materiais. A palavra impressa tem sido tradicionalmente aceite registrar e comunicar conhecimentos, idéias e informação. Livros, jornais e revistas continuam a ser os recursos mais importantes das bibliotecas escolares. Contudo a tecnologia criou novas formas de registro que fazem parte, cada vez mais, do acervo da biblioteca. Estas formas incluem a impressão em formatos reduzidos para armazenagem e transporte, filmes, dispositivos, discos, fitas magnéticas, objetos de multimédia; - Materiais que sirvam as necessidades específicas quer das crianças superdotadas quer das que revelem lentidão na aprendizagem, bem como de outras com situações diferenciadas; - Instalações, equipamento e materiais para trabalho individual e para trabalho em grupo; - Oportunidades para a satisfação pessoal, o divertimento e o estímulo da imaginação; - Recursos para encorajar a pesquisa e o desenvolvimento de técnicas de estudo; - Materiais para aperfeiçoamento profissional dos professores e para a seleção e produção de recursos que apóiem o desenvolvimento curricular, a programação e a avaliação do currículo. Partilhando recursos Este manifesto reconhece como essencial o envolvimento de toda a comunidade no planejamento do conjunto de serviços de bibliotecas. Tal envolvimento deveria beneficiar todos os grupos envolvidos. O seu principal objetivo é satisfazer as necessidades dos estudantes e professores; contudo, a mediateca escolar deve ser considerada como um elemento da rede de bibliotecas que pode contribuir para o serviço global das bibliotecas da comunidade, de acordo com os recursos que dispõe. CARROL, F. Leverne, e BEILKE, P. F. Guidelines for planning and Organization of School Library Media Centre. Paris: UNESCO, 1979.