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Experiência de Luzia e Jailson: Uma enxurrada de descobertas
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Ano 7 • nº1055
Julho/2013
Jacaré dos
Homens
Uma nova descoberta a cada dia. Assim te sido
a vida na casa da família de Sandra Laurentino
da Silva e Jailson Francisco da Silva. Primeiro
Jailson descobriu que sua vida teria que ser ali,
no Povoado Baixas, município de Jacaré dos
Homens. Ele percebeu isso porque seus pais
foram embora, seus irmãos também. Ele
próprio chegou a ir.
“Ele não se acostumou com a vida de lá, conta
Sandra, ele sempre gostou de plantar, de viver
dentro do mato”. Foi ao encontro da família quando ainda era adolescente, voltou e
nunca mais pensou em ir embora de novo. Construiu sua família. Casou-se com Sandra,
que na comunidade é conhecida como Luzia e hoje tem quatro filhos. Os meninos Jailton
e Rian e as pequenas Suíla e Ingrid.
Com a natureza, Jailson descobriu que para se viver no Semiárido a gente tem que ter
diversidade. “Ele faz de tudo, conta Luzia, planta, trabalha como pedreiro, pintor,
eletricista”. Tudo para não ter que deixar o lugar que gosta tanto.
Mesmo assim Jailson descobriu que, depois de três anos de seca e pelo menos por uns
dias ele teria que deixar sua terra de novo. Mas antes de ter que ir, a família teve uma
conquista. Eles conseguiram uma cisterna-enxurrada.
Com a cisterna-enxurrada, novas descobertas. O plantio que ficava no quintal podia ser
maior. Podia se mais diversificado. Podia até ser vendido. E foi, e está sendo. E com a
viagem de Jailson, que cuidava da produção, foi a vez de Luzia iniciar sua fase de
descobertas.
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Realização Apoio
Jailson viajou em Junho de 2013 e pretende voltar até o final deste mesmo ano. Sua
volta só irá enriquecer aquilo que sua família tão bem aprendeu com ele e que tem
praticado agora.
E assim com a viagem temporária de Jailson, com a conquista da cisterna-enxurrada
e com a ampliação da produção, Luzia e sua família vêm descobrindo o verdadeiro
sentido de produzir em família. “Mesmo longe ele ajuda, sempre que liga pergunta
do plantio. Ele pergunta de cada planta, se estamos aguando, tudo”, conta Luzia.
Agora tem mais participação. Cresceu a produção e a família tem até para vender.
Ainda é pouco, mas é um complemento que irá aumentar. A família se alimenta
melhor. Tem coisas que já não precisa mais comprar, tudo isso ajuda.
É isso que Luzia espera com a volta de Jailson, que a família permaneça unida,
produzindo. Que eles possam tirar da terra tudo que a família precisa. Trabalhando
juntos, para que ele não mais precise viajar, não tenha mais que deixar sua produção
e sua terra que tanto gosta. Para que a família continue se descobrindo e
descobrindo no seu local cada dia mais riquezas e oportunidades.
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
““Eu sempre via ele cuidar das plantas, mas nunca tinha feito”, confessa Luzia. “Sempre foi tudo muito corrido. Levantar cedo, cuidar da casa, deixar os meninos na escola, ir buscar, quando se vê já passou, a manhã, o dia”. Completa Luzia, falando da rotina antes de ter mais uma função, cuidar do plantio que Jailson começou antes de ir.
“Agora eu estou aprendendo, e fazendo o
que via ele fazer. Estou aprendendo a
plantar e cuidando do que já tinha”. Mas,
o mais importante para Luzia é perceber
que ela também pode produzir.
Ela também pode cuidar da sua família.
Luzia está descobrindo que sua função
vai além de ensinar seus filhos a tomar
banho, ou se vestir, ou limpar a casa. Ela
também pode cuidar da sua casa, do seu
quintal, da sua terra.
O quintal sempre teve muita produção.
Jailson sempre plantou coentro, quiabo,
tomate e aguava com a água encanada
mesmo. Aprendeu, em um programa de
televisão, a fazer o canteiro com a lona
por baixo da terra e com isso
economizava água. Também planta
fruteiras. Maracujá, coco, manga,
banana, limão. Poucos pés, o suficiente
para a família e para vender um pouco na
comunidade mesmo, pois o quintal é
pequeno.
A família não tem terra. Para plantar, usa
7 tarefas de terra que são da mãe de
Jailson. Além do quintal, mantém o
roçado de feijão e milho, durante o
inverno. Ao redor da cisterna- enxurrada,
plantam coentro, cebolinha, tomate, feijão de corda, macaxeira, abóbora, milho e
quiabo.
Articulação Semiárido Brasileiro – Alagoas
Mas as descobertas não param por aí. Jailton,
de 13 anos, também despertou para a nova
fase da sua família. Frequenta a escola, brinca
e ainda ajuda a mãe.
Ajuda no plantio, aguagem e colheita das
hortaliças. “Mas a parte que ele gosta mais é
de vender”, brinca a mãe.
Jailton entrega boa parte da produção de
coentro na vizinhança. Mas muitos vão até a
casa da família comprar, principalmente
coentro e quiabo.
Chegaram a vender ainda na feira de um
povoado vizinho, mas, segundo Luzia, não
compensava, pois tinha que pagar um
transporte que saía muito caro.
O adolescente descobre, observando os pais,
o convívio com a produção e aplicação de
boas práticas. Já diz todo orgulhoso que
aprendeu com o pai receitas naturais para
espantar insetos e adubar a terra.
Assim como algumas práticas como
cobertura morta, irrigação com materiais
alternativos, entre outras.
“Para espantar as pragas, conta Jailton, meu
pai ensinou a fazer uma receita que mistura
fumo de rolo, álcool e água. Mistura tudo,
deixa descansar por um tempo e coloca na
planta”. Conta ainda que seu pai aprendeu
essa e outras receitas durante o curso que
participou quando a cisterna estava sendo
construída.