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EXTRAÇÃO MINERAL DE AREIAS E SEUS IMPACTOS NA TERRITORIALIDADE SOCIOAMBIENTAL: O CASO DE FEIRA DE SANTANA – BA
Adson dos Santos1
RESUMO O processo de extração mineral vem se tornando um grande vetor de crescimento econômico no Brasil, e com isso suas consequências se tornam cada vez mais visíveis. O município de Feira de Santana- BA, segunda maior cidade do estado, não poderia ficar imune a este fenômeno. Este trabalho tem como finalidade a reflexão e a malsinação sobre a atividade mineradora de extração de areia em Feira de Santana e seus consequentes impactos socioambientais ao território. Com o crescente desenvolvimento urbano a construção civil vem se destacando. Com isso, a extração mineral de areia se faz indispensável. Porém, com essa extração ocorrem os impactos ambientais provenientes desta ação. Este trabalho tem como finalidade comprovar a degradação ambiental e social provocada pela extração de areia e a falta de fiscalização por parte do poder público municipal. O referido trabalho foi desenvolvido com construção de mapas temáticos físicos através de geoprocessamento e de visitações aos locais de extração onde foi feita uma analise dos dados e um questionário oral com arrendadores locais. Aonde, se chegou à conclusão, que os impactos provocados pela extração são evidentes e os órgãos competentes não conseguem fiscalizar as áreas de extração mineral de areias e tampouco os mineradores cumprem com seu papel de recuperar as áreas por eles degradas e com isso continuasse a impactar o ambiente local. Palavras-chave: Extração mineral. Impactoambiental. Geoprocessamento. Territorialidade. 1 INTRODUÇÃO
A busca pela expansão econômica tem causado o comprometimento dos recursos
ambientais no que se refere ao seu uso e exploração de forma predatória e alienada com o
futuro desses recursos. A extração mineral é uma atividade crescente que causa diversos
impactos ambientais nos locais onde elas são desenvolvidas, como também pode afetar
localidades próximas por conta da ausência de fiscalização das áreas de extração. A
degradação ambiental está associada a essa atividade econômica provocando consequências
tanto ao homem quanto aos geossistemas. Entretanto, sua importância econômica como fonte
de recursos, os quais apresentam uma demanda crescente do mercado, bem como gerando
empregos, e de serem uma fonte de renda alternativa para os proprietários rurais é
significante, favorecendo a prática dessa atividade de forma irregular e ilegal.
1 Mestrando em Planejamento Territorial pela Universidade Estadual de Feira de Santana-BA.
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Os pequenos proprietários rurais se tornam refém das suas necessidades econômicas,
com isso, perdem autonomia territorial para os agendes exploradores de areias. Para Raffestin
(1993) o território é produto dos atores sociais, do Estado ao indivíduo, passando por todas as
organizações, pequenas ou grandes. São esses atores que produzem o território, composto por
malhas, nós e redes, partindo da realidade inicial dada que é o espaço, passando a implantação
de novos recortes e ligações. Dessa maneira, para o autor, a malha, também denominada
tessitura é (...) a projeção de um sistema de limites ou fronteiras, mais ou menos funcionalizadas (...). A tessitura é sempre um enquadramento do poder ou de um poder. A escala da tessitura determina a escala dos poderes. Há poderes que podem intervir em todas as escalas e aquelas que estão limitadas às escalas dadas. Finalmente, a tessitura exprime a área de exercício dos poderes ou a área de capacidade dos poderes (RAFFESTIN, 1993, p.154).
A busca pelo desenvolvimento urbano leva os agendes desenvolvedores à exploração
mineral dos seus agregados minerais, que basicamente são: areia, pedra britada e cascalhos –
são as substâncias mais consumidas no mundo. O termo “agregado para a construção civil” é
empregado no Brasil para identificar um segmento do setor mineral que produz matéria-prima
mineral bruta ou beneficiada de uso imediato na indústria da construção civil (IBRAM, 2011).
Esse setor sofre pouco impacto de crises externas e internas o que o torna muito atrativo aos
investimentos econômicos (IBRAM, 2011). Atualmente, com a expansão da construção civil,
além dos altos investimentos em infra-estrutura para sediar a Copa de 2014 e as Olimpíadas
de 2016 só irá manter o crescimento da demanda desses agregados (areia, brita, argila,
cascalho). Segundo o IBRAM (2011), cada quilômetro de estrada pavimentada consome
9.800 toneladas, uma casa popular de 50m2, consome 68 toneladas, enquanto em edifícios,
para cada 1.000m2, são consumidas 1.360 toneladas.
Os recursos em agregados para a indústria da construção civil são abundantes no
Brasil e na Bahia. Em geral, o grande centro consumidor encontra-se em regiões
geologicamente favoráveis à existência de reservas de boa qualidade. Na Bahia, 70,0% da
areia é produzida em areais e leitos de rio e 30,0% nas várzeas.
Os agregados da construção civil caracterizam-se pelo seu baixo valor agregado e
grandes volumes produzidos. No estado da Bahia, o transporte corresponde a 2/3 do preço
final do produto, o que implica na necessidade de sua produção ocorrer o mais próximo
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possível do mercado consumidor, sendo os maiores deles Salvador, Feira de Santana e Vitória
da Conquista (BAHIA, 2008).
No município de Feira de Santana (BA), nos últimos anos, com a crescente expansão
imobiliária, através da construção de condomínios fechados, os empreendimentos da “Minha
Casa, Minha Vida” ou outros imóveis, decorrente da facilidade de financiamento da casa
própria, gerou uma grande demanda de agregados, principalmente de areias.
Este trabalho tem como finalidade identificar algumas áreas de exploração das
atividades de mineração de areia e cascalho em Feira e Santana- BA e avaliar os seus
potenciais impactos ambientais, bem como, a configuração da territorialidade
socioambiental.
1.1 ÁREA DE ESTUDO
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010) o
município de Feira de Santana possui 556.642 habitantes e uma extensão territorial de
1.337,993 km² (Figura 1). Sua sede administrativa está a aproximadamente 109 km da capital
baiana, Salvador. Feira de Santana é o principal centro urbano, político, educacional,
tecnológico, econômico, imobiliário, industrial e comercial do interior da Bahia e um dos
principais do Nordeste, exercendo influência sobre centenas de municípios do estado. Além
de maior, é também a principal e mais influente cidade do interior do Nordeste.
Entre os fatores que levaram a escolha dessa área como base de estudos, destacam-se:
A cidade de Feira de Santana está em um processo de crescimento urbano
acelerado, com isso, o consumo de areias foi bastante intensificado;
Os processos de extrações empregados no município são similares aos que são
empregados na maior parte do país;
As atividades de extração, principalmente irregulares, de areias ocorrem há muitos
anos;
As transformações causadas no meio ambiente das regiões exploradas podem
trazer sérios transtornos para as comunidades locais;
Os danos ambientais causados pela exploração causam impactos sociais aos
territórios explorados.
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1.2 A EXPLORAÇÃO MINERAL DE AGREGADOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL
Os agregados da construção civil, (areia e brita), são os insumos minerais mais
consumidos no mundo (VALVERDE, 2001), sendo que sua produção corresponde a cerca da
metade do consumo mundial de minerais (PENNA, 2010). Serna (2010) considera o setor de
agregados o segmento da indústria mineral que comporta o maior número de empresas e
trabalhadores e o único a existir em todos os estados brasileiros. As reservas desses materiais
podem ser consideradas abundantes, no entanto, o acesso a elas depende de fatores como a
legislação ambiental restritiva, a expansão urbana, e a distância, pois uma jazida de boa
qualidade que pode estar localizada distante demais do mercado consumidor, o que torna
inviável sua exploração devido ao elevado custo de transporte (BAREA, 2013).
Figura 1 – localização da área de estudo.
Fonte: IGBE, 2013
No período de 2002 a 2006, o setor de agregados sofreu forte impacto derivado da
elevação de custos de produção, tendo sido registrada uma inflação setorial de 120% na
Bahia. Como reflexo, poucos investimentos foram feitos para substituição de equipamentos e
melhorias de processos objetivando a atualização tecnológica (racionalização para aumento de
produtividade), a melhoria de qualidade de produtos e a preservação ambiental (BAHIA,
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2008). A partir de 2005, ocorreu um aumento da demanda setorial decorrente principalmente
a expansão das obras rodoviárias e de infraestrutura urbanas. Como exemplo da expansão do
setor imobiliário, podemos citar a expansão deste em Feira de Santana, no período
compreendido entre 2000 e 2010: entre 2000 e 2005, houve um crescimento de 162%
relativamente ao período compreendido entre 1995 e 2000. Já entre 2005 e 2010, esse aumento foi
de 202%, em relação ao quinquênio precedente (SANTOS, 2012).
Em relação à areia, os grandes depósitos, situam-se em quatro contextos geológicos
distintos. Sendo eles:
O leito de rios – destacando-se os depósitos existentes no rio Pojuca e Subaé As planícies fluviais, com especial destaque para o Rio Pojuca;
A cobertura sedimentar, correspondente ao Tabuleiro de Feira de Santana,
com acumulações arenosas, em particular nos distritos de Tiquaruçu, Jaíba,
Maria Quitéria e Jaguará (Figura 2);
Os depósitos arenosos de acumulação das planícies lagunares (lagoas) de
Feira de Santana (Figura 3 e 4).
Figura 2 – Composição da cobertura sedimentar do Tabuleiro de Feira de Santana. Sucessão de fases de aporte de material arenoso e decantação do material Fonte: BRASIL,1985
Figura 3 – Fases de preenchimento das depressões (lagoas) sobre os Tabuleiros de Feira de Santana (BA)
Fonte: BRASIL, 1985
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Figura 4 – Sistema hidrológico do município de Feira de Santana (a), apresentando a relação hídrica entre as lagoas e o sistema de drenagem (b) Detalhe na lagoa da Tabua e da Lagoa da Pindoba 1.3 IMPACTOS AMBIENTAIS PROVOCADOS PELA EXPLORAÇÃO MINERAL
A exploração mineral por si mesma é uma atividade não sustentável, ou seja, o que foi
extraído nunca mais será reposto, e existem procedimentos que têm que ser utilizados para
minimizar o impacto ambiental da atividade, como cobertura vegetal, preservação de cursos
d'água e da paisagem cênica, manutenção da flora e da fauna da região, controle sobre
poluição sonora e disposição de rejeitos, etc.
Os efeitos ambientais estão associados, de modo geral, às diversas fases de exploração
dos bens minerais, como à abertura da cava, (retirada da vegetação, escavações,
movimentação de terra e modificação da paisagem local), ao uso de explosivos no desmonte
de rocha (sobre pressão atmosférica, vibração do terreno, ultra lançamento de fragmentos,
fumos, gases, poeira, ruído), ao transporte e beneficiamento do minério (geração de poeira e
ruído), afetando os meios como água, solo e ar, além da população local.
Podemos, de forma geral, enumerar os impactos ambientais decorrentes da mineração
de agregados para construção civil, em particular as areias, nos seguintes itens:
Alterações dos cursos d'água;
Aumento do teor do material sedimentado em suspensão, promovendo assoreamento,Desmatamento;
Descaracterização do relevo;
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Formação das cavas;
Assoreamento de cursos d'água, presentes;
Destruição de áreas de preservação permanente;
Destruição da flora e fauna.
Alteração do meio atmosférico (aumento da quantidade de poeira em suspensão no
ar);
Alteração dos processos geológicos (erosão, voçorocas, hidrogeologia), entre outros.
Buest Neto (2006) explica em seus estudos que a atividade de exploração é, por
natureza, causadora de impactos ambientais. Muitas vezes, tais impactos, são decorrentes da
exploração desordenada das jazidas, causando graves problemas ambientais, principalmente
na extração de areia de rios, com aumento da vazão e aceleração do processo de erosão. Em
decorrência disso, a atual legislação vem obrigando os produtores a utilizarem novas técnicas
de gerenciamento e de extração ou, em alguns casos, ocorrem a interdição de jazidas que não
atendem às exigências, o que faz com que se procurem alternativas para a substituição desse
material (BAREA, 2013).
Os impactos ambientais decorrentes da extração de areia podem ser identificados
principalmente com relação ao solo, como por exemplo: perda de cobertura vegetal, o que
intensifica os processos erosivos e de lixiviação, compactação dos solos devido à presença de
maquinário pesado para o transporte do material, entre outros. Por conta da localização dos
locais de extração e da ineficiência da fiscalização, os pontos de extração crescem e com eles
os impactos se estendem podendo influenciar na vida da população que reside próximo aos
locais de extração. Com isso, as ações de fiscalização e monitoramento não são eficazes
devido à falta de meios de localizar as referidas áreas.
2 REFERENCIAL 2.1 A MINERAÇÃO E A EXPLORAÇÃO DAS AREIAS
Atualmente a sociedade mundial vive um momento crítico em relação à questão
ambiental, pois o modelo social-econômico seguido visa apenas o lucro máximo em
detrimento do bem-estar da sociedade. Os recursos naturais têm sido tratados nas últimas
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décadas apenas como matéria-prima para o processo produtivo.
Para Furman, mineração é o termo utilizado para a extração e beneficiamento de
minerais que se encontram em estado natural sólidos (carvão), líquidos (petróleo bruto) e
gasosos (gás natural). Numa visão mais abrangente, inclui a exploração de minas subterrâneas
e a céu aberto, pedreiras e poços, e todos os processos complementares para beneficiar e
preparar minérios e outros materiais brutos para que sejam comercializados.
As atividades de extração mineral são de grande importância para o desenvolvimento
social, mas são responsáveis por impactos muitas vezes irreversíveis sobre o meio ambiente
(BRANDT, 1998). Para realizar extração de minerais é preciso que se faça o registro de
licenciamento, o minerador solicita uma licença, que pode ter um prazo determinado ou
indeterminado. A área máxima não poderá ultrapassar 50 (cinqüenta) hectares. Com o
mapeamento dessas áreas de extração e consequentemente sua utilização, acredita- se
minimizar as extrações clandestinas.
O termo areia tem também a conotação granulométrica – é um material granular solto,
não coesivo, constituído de partículas de dimensão 0,06 a 2,0 mm. A definição da ABNT para
uso em engenharia civil é: solo constituído por grãos minerais cuja maioria aparente tem
diâmetro entre 0,05 e 4,8 mm, caracterizando-se pela sua textura, compacidade e forma dos
grãos. A areia pode ser subdividida em:
areia grossa (-2,0mm +1,2mm)
areia média (-1,2mm +0,42mm)
areia fina (-0,42mm +0, 074 mm)
Para exploração de areais, se faz necessária autorização prévia para exploração
mineral ao órgão competente, que é o DNPM (Departamento Mineral de Produção Mineral).
Onde, o minerador deverá solicitar o Registro de Extração ao Diretor Geral do referido órgão.
As substâncias minerais de emprego imediato na construção civil passíveis de aproveitamento
são as seguintes:
a) areia, cascalho e saibro, quando utilizados “in natura” na construção civil e no
preparo de agregado e argamassas;
b) material sílico- argiloso, cascalho e saibro empregados como material de
empréstimo;
c) rochas, quando aparelhadas para paralelepípedos, guias, sarjetas, moirões ou lajes
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para calçamento;
d) rochas, quando britadas, para uso imediato na construção civil.
Na construção civil, o principal uso da areia é como agregado para concreto,
argamassa, filtros, abrasivos, artefatos de concretos e pré-fabricados, bases de pavimentos de
concreto e asfalto, dentre outros.
A areia é quase sempre comercializada na forma como é extraída, passando, na
maioria das vezes, apenas por grelhas fixas que separam as frações mais grossas (cascalho,
pelotas, concreções) e eventuais sujeiras (matéria orgânica, folhas, troncos), e por uma
simples lavagem para retirada de argila.
A extração de minerais em grande quantidade promove o surgimento de áreas
degradadas que não se integram ao desenvolvimento regional. Em longo prazo espera-se que
a natureza se encarregue de devolver as condições ecológicas locais (SILVA, 1988).
Segundo Lima (2003, p. 114), a acelerada intervenção humana na natureza, os
desequilíbrios ecológicos e a degradação da qualidade de vida são temas por demais em
destaque. Os problemas ecológicos e de pobreza são resultados do modelo de
desenvolvimento adotado, sendo essencial a busca de um estilo de desenvolvimento desejável
à preservação da vida no Planeta.
Ou seja, os aspectos voltados à degradação dos solos estão diretamente relacionados
com o tipo de uso e a responsabilidade que se tem de fazer a utilização dos recursos naturais,
neste caso o solo, de maneira responsável. Alguns resultados da extração mineral a céu aberto
é a degradação do solo empobrecendo-o e provocando alterações na morfologia dos mesmos
favorecendo ao desenvolvimento de ravinas ou até mesmo as voçorocas.
Nesse cenário, portanto, emerge a necessidade de se estabelecer um novo paradigma
de desenvolvimento menos agressivo ambientalmente, de tal forma que se obtenha uma
convivência mais harmoniosa entre as atividades humanas e os processos naturais, sem que
isso venha ameaçar as condições de sustentabilidade dos ecossistemas e a manutenção da
própria espécie humana. O desenvolvimento ecologicamente equilibrado é apresentado como
uma forma de conciliar o desenvolvimento da sociedade e ao mesmo tempo preservar o meio
ambiente. Para SIRVINSKAS (2005, p.06) “essa conciliação será possível com a utilização
racional dos recursos naturais, sem, contudo, causar poluição ao meio ambiente”.
Sendo assim, ao direito ambiental cabe disciplinar todo e qualquer comportamento em
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relação à natureza, sendo este entendido como o conjunto de princípios e regras destinados à
proteção do meio ambiente, compreendendo medidas administrativas e judiciais, com a
reparação econômica e financeira dos danos causados à natureza e aos ecossistemas, de
maneira geral.
Assim, defende-se que o direito ambiental é um sistema, posto que seus elementos,
além de interagir entre si, se comunicam com as demais áreas do conhecimento. Nesta
relação, compete ao Direito Ambiental regular às relações da sociedade com seu entorno,
disciplinando a relação homem-natureza.
2.2 IMPACTOS AMBIENTAIS
No contexto que vem sendo discutido neste trabalho, pode-se observar que o impacto
relacionado à extração de areia no município de Feira de Santana pode ser responsável por
parte dos impactos ambientais relacionados à degradação dos rios, lagoas e dos solos. Isto
também possui repercussões negativas no âmbito da economia do município. Assim pretende-
se através dos resultados obtidos nesta pesquisa identificar as áreas onde há a presença de
extração de areia por meio de mapeamento e técnicas de geoprocessamento, bem como
sugerir meios de mitigar os impactos presentes na área de estudo
Segundo Araujo (2007), o processo de degradação ambiental, envolve a redução dos
potenciais recursos renováveis por uma combinação de processos agindo sobre a terra. Esta
pode ocorrer devido a fatores naturais ou por ação antrópica diretamente sobre o terreno ou de
forma indireta por motivos climáticos induzidos pelo homem. Neste contexto, a modernização
das técnicas de observação e monitoramento da terra entre outros fatores são ferramentas
atualmente indispensáveis à tomada de decisões voltadas à preservação.
Conforme Romeiro (2001), o monitoramento e a avaliação de impactos ambientais,
bem como sua contabilização econômica, são hoje uma exigência da sociedade para todos os
setores de atividade econômica e em todos os níveis de escala espacial. Existe a preocupação
crescente em saber até que ponto tais impactos compromete a preservação de equilíbrios
socioambientais fundamentais, preocupação que se traduz na necessidade de elaboração de
indicadores de sustentabilidade.
Os impactos ambientais são alterações que podem ser de ordem positiva ou negativa
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em um ambiente. Ambos causam modificações, porém, com a utilização dos recursos naturais
associados ao lucro econômico, a relevância que é dada às precauções para a conservação do
meio ambiente é ínfima diante dos impactos ambientais de ordem negativa. De acordo com a
resolução Conama n° 1/86, art. 1°, o impacto ambiental é definido como qualquer alteração
das propriedades físicas, químicas ou biológicas do meio ambiente, causada por qualquer
forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas, que direta ou indiretamente
afetem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; as atividades sociais e econômicas;
as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; a qualidade dos recursos ambientais.
2.3 GEOPROCESSAMENTO
Objetivando maior controle e eficácia no monitoramento e conhecimento de
informações pertinentes sobre as áreas que passam por impactos ambientais e degradação,
tem-se utilizado o geoprocessamento como alternativa para a efetivação de estudos de cunho
ambiental.
De acordo com Silva e Zaidan (2007), o geoprocessamento pode ser definido como
uma tecnologia, isto é, um conjunto de conceitos, métodos e técnicas. Os referidos autores
mencionam que a utilização da computação eletrônica (geoprocessamento) causou um
desenvolvimento enorme e absolutamente desejável para o campo dos estudos ambientais.
Assim, este trabalho fará uso do Geoprocessamento com ferramenta para alcançar os
objetivos propostos.
3 MATERIAIS E MÉTODOS
A pesquisa foi realizada em diferentes etapas, onde inicialmente foi realizado:
levantamento de dados primários;
pesquisa bibliográfica;
produção cartográfica;
visita de campo.
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Levantamentos de dados são importantes para o desenvolvimento do trabalho, uma
vez que a partir da seleção bibliográfica e cartográfica teve início a construção do referencial
teórico que foi o alicerce da pesquisa. Após esta etapa ocorreu à elaboração do Banco de
Dados, que segundo Silva (2003), consiste em uma coleção de dados inter-relacionados e tem
por objetivo fundamental fornecer uma visão abstrata dos dados escondendo do usuário os
detalhes de como os mesmos são armazenados e mantidos. Desta maneira a elaboração de um
BD forneceu a otimização na utilização dos dados nele armazenados além de oferecer
proteção aos mesmos gerando uma organização criteriosa dos dados. Essa organização condiz
com a utilização do Sistema de Informações Geográficas – SIG, que segundo Felgueiras e
Câmara (1993) facilitam a realização de análises complexas, através da integração de dados
de diversas fontes e da criação de um banco de dados geocodificado. Os mesmos autores
enfatizam que um banco de dados geográfico permite adquirir, armazenar, combinar, analisar
e recuperar informações codificadas espacialmente.
Para realização das atividades foi utilizado como suporte o banco de dados do SIG-
BA, para a confecção do mapa de localização da cidade de Feira de Santana. Os mapas,
Geomorfológico e Litológico foram produzidos através da base cartográfica do CPRM. Os
respectivos mapas foram gerados a partir do software ARCGIS 9.3. Foram realizadas visitas a
locais de extração, onde foram retiradas fotos das atividades mineradoras de extração de
areias.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
O município de Feira de Santana é constituído litologicamente por dois grandes
conjuntos litológicos (Figura 2): o Embasamento Cristalino Pré-cambriano, formado por
granitóides, granulitos e migmatitos, e a unidade de cobertura sedimentar (Tércio -
Quaternária) formada por areias e argilas variegadas, com níveis conglomeráticos. (Almeida,
1992).
Como pode ser observado na figura 5, na maior parte do município predomina a
presença do Gnaisse granulítico, o arenito também representa parte considerável do
município. Em menor expressividade encontram-se o sienito e o monzogranito.
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Figura 5 – Geologia da área de estudo Fonte: Elaborado pelo autor
Geomorfologicamente o município está compartimentado em três superfícies
denominadas cimeira, intermediária e inferior, como pode ser observado na figura 6. A
primeira corresponde regionalmente aos Tabuleiros Interioranos, individualizados no
Pediplano Sertanejo, sendo localmente denominado Tabuleiro de Feira de Santana; as
demais compõem a superfície exumada, localmente subdividida em função da escala e da
história evolutiva por apresentar dois níveis de nascentes distintos (Almeida, 1992).
Figura 6 – Geomorfologia da área de estudo. Fonte: Elaborado pelo autor
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Com relação aos tipos de solos, os que predominam na região são os argissolos
vermelho amarelo distrófico, bem como os planossolos. O latossolo, por sua vez só ocorre
na porção nordeste do município como pode observar na figura 7.
O município de Feira de Santana, em termos ambientais possui diversas variáveis que
tornam o seu ambiente um tanto que frágil e necessitado de estudos que busquem agregar
novas informações sobre as questões ambientais. Como foi mencionado anteriormente entre
os tipos de solos que fazem parte da região de estudo estão os planossolos, estes de acordo
com a Embrapa (2012) ocorrem tipicamente em áreas de cotas baixas, planas a suavemente
onduladas. São, geralmente, pouco profundos, com horizonte superficial de cores claras e
textura arenosa ou média. Os argissolos por sua vez são solos de textura média a arenosa,
havendo diferenciação marcante entre os horizontes A, B e C. São solos relativamente férteis
e que são indicados às atividades agropastoris.
Figura 7 – Tipos de solos da área de estudo
Fonte: Elaborado pelo autor
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Desta maneira, ao observar-se os processos de extração mineral, qualquer que seja a
sua espécie, fica claro que esta atividade gera impactos tanto de ordem ambiental quanto em
termos sociais e econômicos. A atividade mineradora possui como uma de suas características
a rigidez locacional, ou seja, existe uma dependência pela área de onde é retirado o material
minerado. A mineração de areia, por sua vez, ocorre em locais onde houve a deposição de
material sedimentar erodido ao longo de eras geológicas. Geralmente, estes locais estão
próximos a vales ou leitos de rios (ANNIBELLI; FILHO, 2012). A principal problemática é
que estas áreas de extração acabam coincidindo com locais onde há a presença de mata ciliar
que são consideradas áreas de preservação permanente.
As atividades de mineração geralmente necessitam de grande utilização de água, o que
favorece a ocupação e extração ser localizadas próximas aos rios. No município de Feira de
Santana existe uma diversidade de impactos ambientais de ordem negativa, muitos destes
relacionado ao uso e manejo inadequado dos solos e recursos naturais. Assim, a atividade de
extração de areia no município acaba por intensificar os processos de degradação ambiental
que de acordo com Sánchez (2008) a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente define
degradação ambiental como sendo a “alteração adversa das características do meio ambiente”
(art. 3°, inciso II). Desta maneira a extração mineral e a criação de areais no município em
questão causam degradação das águas de lagoas e rios presentes na área de estudo, bem como
alterações significativas nos solos dos locais onde estão locadas as mineradoras.
A prática de extração de areias em Feira de Santana é bastante comum e
indiscriminada, o crescente desenvolvimento imobiliário da cidade é um grande fomentador
de tal atividade, porém, a preocupação em recuperar as áreas que sofreram extração não é
comum. Isso, devido à falta de preparo e conhecimento dos exploradores, bem como a
ineficácia de fiscalização por parte do poder publico. A resolução do CONAMA 369/2006
autorizou o uso, em se tratando de mineração de areia, por considerá-la de interesse social. No
entanto a mineração de areia acaba gerando inúmeros impactos sócio-econômico-ambientais,
alguns positivos, outros muito negativos. Para exploração de areais, se faz necessária
autorização prévia para exploração mineral ao órgão competente, que é o DNPM
(Departamento Mineral de Produção Mineral). A mineração deve ser realizada tendo como
princípio o uso racional.
Diante desta perspectiva os impactos ambientais relacionados com a extração de areias
16
são visíveis. Como mencionado anteriormente há diversos impactos no município em estudo,
conforme a Figura 8.
Figura 8 – Cava de areia em atividade recente na Comunidade Tanquinho, Feira de Santana-
BA Fonte: Próprio autor, 2013
Logo, as áreas de leito de rio ou de lagoas onde possivelmente é desenvolvida a
extração de areia, e segundo a resolução do CONAMA, são Áreas de Proteção Permanente,
possuem uma fragilidade ainda maior decorrente da retirada de material de seu sistema.
Outros fatores como a poluição das águas do município, uso inadequado do solo entre
outros são aspectos negativos do ambiente. Ou seja, existe uma carência de estudos que se
voltem à recuperação e conservação ambiental de áreas degradadas por extração de areias no
município de Feira de Santana.
As atividades mineradoras no município se reproduzem de forma bastante cruel, os
mineradores de areias usam as áreas a serem coletas em curtos períodos de tempo e em
localidades de difícil acesso, essa pratica de abandonar os locais de extração ainda em
potencial se deve a necessidade de fugir das fiscalizações. Como as áreas exploradas
geralmente são alugadas por determinados períodos os mesmos retiram suas maquinas e
partem para novos destinos. Deixando para trás o rastro de destruição por eles praticado. A
figura 9 demonstra isso claramente.
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Figura 9 – Areal abandonado na Comunidade Tanquinho, Feira de Santana- BA Fonte: Próprio autor, 2013
Todos esses fatores também possuem repercussão social e afetam diretamente a vida
da população. Desta maneira este trabalho também propõe ações voltadas à mitigação dos
impactos ambientais da área de estudo, a fim de recuperar o ambiente e melhorar a qualidade
de vida da população que reside ou mantém laços de dependência econômica com as áreas
afetadas pelos impactos mencionados anteriormente.
É nessa perspectiva definida como campo de forças que se estabelecem as relações
entre os agendes exploradores que arrendam as terras a serem exploradas e os demais atores
que pertencem a esse território ocupado, influenciados direta ou indiretamente pelas
necessidades econômicas. Nesta perspectiva, pode-se falar que se estabelece uma
territorialidade social, que abarca o território enquanto espaço ocupado por diversos atores
sociais em disputa. Estas disputas têm faces distintas, isto é, em certos momentos apresentam-
se mais como disputas por poder, por visibilidade, em outros, por espaço físico (terra), por
resíduos etc.
5 CONCLUSÃO
A degradação ambiental é visivelmente um problema também de cunho social. Ao se
caracterizar processos físicos, como degradação ambiental, deve-se levar em consideração
critérios sociais que relacione o ambiente e seu uso. Guerra & Cunha (1996) indicam que à
medida que a degradação ambiental se acelera e se amplia espacialmente numa determinada
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área que esteja sendo ocupada e explorada pelo homem, a sua produtividade tende a diminuir,
a menos que o homem invista no sentido de recuperar essas áreas.
Neste sentido, torna-se perceptível que o processo de degradação ambiental que ocorre
no município de Feira de Santana, nos locais de extração de areias advém do desenvolvimento
da atividade mineradora em questão. O processo de perda de cobertura vegetal do solo,
alterações no desenvolvimento do solo, bem como o comprometimento da qualidade da água
dos rios localizados próximos das áreas de extração.
Não há como parar a exploração mineral uma vez que seus produtos são de grande
importância para a sociedade. O grande desafio é explorá-los com responsabilidade e
sustentabilidade, sem degradar o meio ambiente, ou ao menos minimizar estes impactos. E,
para que isso ocorra é preciso haver uma conscientização do empreendedor de que é
perfeitamente possível o desenvolvimento da mineração dentro de um conceito de
sustentabilidade onde o mínimo de agressão ao ecossistema e o melhor aproveitamento dos
recursos minerais são a base para prevenir futuras penalizações dos órgãos competentes,
melhorar seu desempenho ambiental e garantir um meio ambiente ecologicamente equilibrado
para todos.
No enfretamento de poderes, por parte das categorias sociais, na busca da efetivação
de seus objetivos, o detentor do capital sempre levará vantagens sobre o menos favorecido, e
o que se percebe ao final deste trabalho que nesta situação não seria diferente. Os danos
socioambientais observados configuram uma verdadeira agressão ao lugar, e assim, fica
evidente aos arrendadores que a topofilia tem mais valor que os proventos.
REFERÊNCIAS
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