EXTRAÇÃO, PURIFICAÇÃO PARCIAL E CARACTERIZAÇÃO DE LECTINAS DE SEMENTES DE Crotalaria juncea

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    627Alocao de recursos (carboidratos) no desenvolvimento

    Revista rvore, Viosa-MG, v.34, n.4, p.627-635, 2010

    ALOCAO DE RECURSOS (CARBOIDRATOS) NO DESENVOLVIMENTO

    INICIAL DE PLNTULAS DE Schizolobium parahyba (Vell.) S.F. Blake(FABACEAE - CAESALPINIOIDEAE)1

    Emanuela Wehmuth Alves Weidlich2, Rosete Pescador3e Alexandre Uhlmann4

    RESUMO Utilizou-seSchizolobium parahyba,objetivando analisar a alocao dos teores de acares solveistotais e de reserva (amido) e biomassas no desenvolvimento das plntulas. Aps a quebra de dormncia, 200sementes foram semeadas em substrato composto por casca de arroz carbonizada e areia. Em cada coletaforam utilizadas 10 amostras para dosagem de acares solveis totais e amido e 10 para mensurao das massasfrescas e secas (MS e MF) no 7, 14, 21, 28, 35 e 42 dia aps a germinao (DAG). As sementes apresentaram94,5% de germinao. Os acares solveis totais esto em maiores quantidades nas razes, hipoctilo e epictilos.Os cotildones apresentaram maiores teores de amido, j que este um rgo de reserva. O aumento da MF

    diretamente proporcional ao incremento de acares solveis e amido nas estruturas analisadas. As relaesde biomassa e teores de acares solveis totais e amido encontrados ressaltaram a mobilizao dos compostosde reserva dos cotildones nas outras partes da planta, medida que a reduo da biomassa e de acares doscotildones reflete o aumento na produo de biomassa de epictilos, hipoctilos e razes da plntula.

    Palavras-chave: Alocao de recursos, Carboidratos e Amido.

    RESOURCE ALLOCATION (CARBOHYDRATES) IN THE INICIAL

    DEVELOPMENT OF SEEDLINGS OF Schizolobium parahyba (Vell .) S.F. Blacke

    (FABACEAE - CAESALPINIOIDEAE)

    ABSTRACT The al location of resources in Schizolobium parahybawas analyzed measuring the totalsoluble sugars, starch levels and biomass . After breaking dormancy, 200 seeds were sown in substrate

    composed of rice rind and sand (1:1). Ten seedlings were collected to measure the soluble sugar and

    starch level and ten were used to measure the fresh biomass (MF) and dry biomass (MS) on the 7, 14,

    21, 28, 35 and 42 days after germination (DAG). The seeds showed a 94.5% germination rate. The total

    soluble sugar levels were greater in roots, stems and epicotyls. The cotyledons had the greatest starch

    level because they are the store organs of this plant. The increase of MF is directly proportional to the

    increment of total soluble sugars and. The relation between biomass, total soluble sugar and starch have

    shown the mobilization of the store from cotyledons to the other structures of the plant while the reduction

    of biomass and sugars of cotyledons result in an increase of biomass i n epicotyls, stems and roots of

    the seedling.

    Keywords: Allocation of resources, Carbohydrates and Starch.

    1Recebido em 14.04.2008 e aceito para publicao em 02.03.2010.2Programa de Ps Graduao em Engenharia Florestal na Universidade Federal do Paran, UFPR, Brasil. E-mail:.3Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC, Brasil.4Embrapa Florestas, EMBRAPA, Brasil.

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    1. INTRODUO

    O destino das populaes vegetais est relacionadocom os eventos que ocorrem com seus indivduos noincio de suas vidas (GRUBB, 1977).

    Para que os organismos utilizem os recursosdisponveis na natureza de forma otimizada, sonecessrias mudanas adaptativas na sua formae funo. Para isso alocam recursos de forma variada,efetuando trocas, pois, enquanto os recursos estosendo alocados para uma estrutura, eles no estodisponveis para outra. Esses mecanismos variam

    para cada esp cie e dep end em da s con di e s

    disponveis no ambiente. Os organismos tm comoobjetivo principal produzir geraes bem-sucedidas,por tan to os est g io s ini cia is de um a pla nt a s oextremamente importantes para o seu sucessoreprodutivo (RICKLEFS, 2003).

    As reservas das sementes, sendo as principaisos carboidratos, l ipdeos e protenas, estorelacionadas com a manuteno e desenvolvimentodo embrio at a formao da plntula. Podemfuncionar como fonte de energia para manter os

    processos metablicos e como fonte de matria paraa estruturao de tecidos vegetais que garantiro

    a formao de uma plntula (KERBAUY, 2004;BUCKERIDGE et al., 2004a).

    As plantas so aptas a produzir acares oriundosda fotossntese, tendo tambm alto potencial de modificarseu desenvolvimento em resposta disponibilidadedesses acares (TREVISAN et al., 2003; GIBSON, 2003).Portanto, a maior parte do carbono fixado na fotossntese utilizado para formao de carboidratos, principalmentesacarose e amido, que fornecem energia para a respiraoe esqueletos de carbono para sintetizar outras molculas(KERBAUY, 2004).

    Em trabalho comEuphorbia heterophylla, Sudae Giorgini (2000) encontraram inicialmente grande biomassae teores de acares solveis no endosperma (tecidode reserva), seguido da reduo de ambos, enquantoocorreu aumento de biomassa e acares solveis nosembries.Anteriormente, Buckeridge e Dietrich (1996)descreveram em Sesbania marginatadiminuio das

    biomassas nos endospermas ao longo do desenvolvimentoda semente e incio da germinao, mostrando que osrgos de reserva acumulam carbono para posteriormentedistribuir para as demais partes da plntula.

    No processo de germinao e desenvolvimento

    de plntulas, a distribuio de recursos complexa.Assim, o objetivo deste trabalho foi analisarfisiologicamente a alocao de recursos ao longo dodesenvolvimento inicial de plntulas de S. parahyba,correlacionando as suas biomassas nas diferentesfases de desenvolvimento com a quantidade decarboidratos solveis totais e de reserva em cada umade suas partes (cotildones, hipoctilos, epictilose razes). Dessa forma, procurou-se obter dadosfisiolgicos que auxiliem a compreenso dodesenvolvimento dessa espcie pioneira.

    2. MATERIAL E MTODOS2.1. Descrio da espcie e montagem do experimento

    S. parahyba caracterstica da Floresta OmbrfilaDensa, principalmente na plancie aluvial e incio deencostas. espcie pioneira e ocorre em abundnciaem florestas secundrias, especialmente em clareiras.Sua ocorrncia natural do sul da Bahia ao Rio Grandedo Sul e em pases da Amrica Central. S. Parahyba uma rvore semicaduciflia, com 10 a 25 m de alturae 30 a 60 cm de DAP (dimetros altura do peito).Tem copa ampla, ramificao cimosa, folhas alternas,

    compostas e bipinadas. Possui flores grandes e vistosas,de ptalas amarelas, reunidas em racemos. Tem comovetor principal de polinizao as abelhas. Suas sementesso lisas e oblongo-achatadas, com tegumento duroe envolta por mesoendocarpo alado.Quando emcondies ambientais e de cultivo adequadas, umadas espcies de mais rpido crescimento nas RegiesSul e Sudeste. A madeira pode ser usada em obras internasde construo civil e na produo de objetos, sendoindicada tembm para fabricao de polpa e papel defibra curta (CARVALHO, 1994).

    As sementes foram coletadas em Blumenau,SC, em uma rea urbana nas proximidades do campus Ida Universidade Regional de Blumenau. Aps acoleta foi realizada a quebra de dormncia atravsde escarificao mecnica (CARVALHO, 1994).Utilizaram-se 200 sementes de Schizolobiumparahy ba em experimento montado no dia 4 deoutubro de 2006. Foram depositadas, individualmente,em tubetes plsticos de 35 cm3, em substratocomposto por casca de arroz carbonizada e are ia(1:1) e mantidos em casa de vegetao.

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    2.2. Coleta das amostras para dosagem e tomada de

    medidas de biomassa e morfometriaA coleta de amostras representadas por plntulas

    para dosagem de acares solveis totais, de reserva(amido) e biomassa (massas fresca e seca MF e MS)foi feita aos 7, 14, 21, 28, 35 e 42 dias aps a germinao(DAG), contados a partir do aparecimento de radcula.Foram coletadas 20 amostras por data de coleta. Dessas,10 amostras foram utilizadas para a mensurao da MF(realizada logo aps a coleta), sendo a raiz, hipoctilo,epictilos (acima dos cotildones e folhas) e cotildonessegmentados e pesados individualmente, bem comoanalisados os dados morfomtricos (comprimento dohipoctilo e raiz) e mantidos em estufa, durante 24 h

    (ou at alcanar massa constante) a 60 C e pesadasnovamente, obtendo-se, ento, a MS. Nas demais 10amostras foram mensuradas a MF, congeladas emnitrognio lquido e mantidas sob refrigerao at otrmino das coletas. Estas foram utilizadas posteriormente

    para mensurao dos carboidratos.

    2.3. Extrao e quantificao dos carboidratossolveis totais

    Das amostras coletadas e mantidas sob refrigerao,macerou-se 0,5 g de material oriundo de vrias amostrasde plntulas germinadas no mesmo tempo de coleta.Em seguida, foram submetidas a fervura em etanol 80%a 100 C em banho-maria, durante 5 min, por trs vezes(extrao tripla). Os extratos foram centrifugados trsvezes a 3.000 rpm, por 10 min, e filtrados em microfibrade vidro. Obtiveram-se, ento, 22 extraes alcolicas:quatro extraes para os tempos de coleta de 7, 14, 21e 28 dias e trs para os tempos de coleta de 35 e 42dias (os cotildones no estavam mais presentes). Oresduo slido foi mantido em refrigerao e,

    posteriormente, utilizado para quantificao de amido.

    A quantificao de acares solveis totais foi feitaatravs de anlise colorimtrica, utilizando-se o mtododo fenol-sulfrico (DUBOIS et al., 1956), com leitura

    em espectrofotmetro a 490 nm de absorbncia, sendoa determinao feita para cada uma das partes das plntulase tempo de coleta, com trs repeties para cada extrao.

    2.4. Extrao e quantificao do amido (carboidratos dereserva)

    Ao resduo slido adicionaram-se 1 mL de guadeionizada, esfriada em banho-de-gelo, e 1,3 mL de cido

    perclrico 52%, ambos mantidos por 15 min. Em seguida,foram adicionados mais 2 mL de gua deionizada, ecentrifugou-se a 1.500 rpm por 15 min, e filtrou-se o extrato

    em microfibra de vidro. Para o resduo slido foi realizado

    o mesmo procedimento com metade dos reagentes,depositando a extrao juntamente com a primeira fraoe ajustando o volume com gua deionizada para 10 mL.

    A quantificao de amido foi feita da mesma formaque na extrao de acar.

    2.6.Anlise dos dados

    Para cada parmetro medido - comprimento de raize parte area, MF e MS das partes das plntulas,quantidade de acares (carboidratos) solveis totaise quantidade de amido (carboidratos de reserva) - foiobtida uma mdia em cada perodo de coleta. Nas

    biomassas calculadas, aplicou-se Anlise da Varincia(post hocTukey-Kramer). Nas mdias das leituras dosteores de acares foi calculado o desvio-padro. Paracorrelacionar os valores de MF com os teores de acaressolveis totais e amido, foi feita a regresso entre estes.

    3. RESULTADOS E DISCUSSO

    3.1. Germinao

    As sementes germinaram, considerando-se oaparecimento de radcula, entre o 5 e 10 dia aps a semeadura,apresentando rpida germinao e desenvolvimento de

    plntulas, uma caracterstica de espcies pioneiras, cujopercentual foi de 94,5% de germinao, conforme mostradona figura 1. O comprimento das razes variou entre 12e 14 cm e as alturas dos hipoctilos, entre 12 e 17 cmde comprimento, concordando com Richter et al. (1974),que afirmaram serS. parahybaespcie de rpido crescimento(Figuras 1 e 2).

    Germinao

    8,5

    19

    24,5

    21

    14,5

    6

    0,5 0,5

    5,5

    0

    10

    20

    30

    9/out 10/out 11/out 12/out 13/out 14/out 15/out 12/nov no

    germ.

    Tempo (dias de germinao)

    Porcentagem

    desementes

    germin

    adas(%)

    Figura 1 Percentual de sementes deS. parahybagerminadasao longo dos dias aps a semeadura.

    Figure 1 Percentage of seed germination during the days

    after sowing.

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    3.2. Biomassa

    A Tabela 1 mostra que as MFs das razes no foramsignificativamente diferentes entre o 35 e o 42 DAG,

    porm diferiram dos demais tempos, com aumento debiomassa principalmente a partir do 28 DAG. Com relaoas MFs dos hipoctilos, estas apresentaram diferenassignificativas entre o 14 e o 21 DAG e tambm entreo 14 e o 35 DAG, no apresentando diferenas entreos demais perodos, como pode ser observado na tabela 1.J nos epictilos as MFs diferiram em quase todosos tempos verificados, mostrando, portanto, que ocrescimento dessa estrutura aumentou gradativamentede forma significativa (Tabela 1). Por ltimo, as MF

    dos cotildones apresentaram valores significativamentediferentes apenas quando comparados com os valoresverificados no 28 DAG nos demais tempos de avaliao,

    porm, mostrando grande reduo na biomassa doscotildones aps o 14 DAG (Tabela 1).

    Com relao varivel MS das razes de S. parahyba,estas apresentaram diferenas significativas quandocomparadas com os resultados obtidos no 7, 14 e

    42 DAG, mostrando aumento na biomassa ao longo do

    desenvolvimento (Tabela 2). J a MS dos epictilosaumentou ao longo do desenvolvimento do vegetal,mostrando diferenas de biomassas significativas entreo 7, 21 e 35 DAG (Tabela 2). Ainda conforme a Tabela2, as MSs dos hipoctilos apresentaram poucas diferenassignificativas entre si, apenas entre o 7 e o 42 DAG.A MS nos cotildones apresentou maior diferena entreo 7 e 14 DAG, reduzindo significativamente no 28 DAG.

    Os cotildones caram a partir do 35 DAG.Apresentaram maiores valores de MS e MF nos

    pr imei ro s es tgi os de cr es ci ment o da plntula,apresentando biomassas inversamente proporcionais

    s das outras partes dessa, reduzindo-as medidaque as das outras partes aumentaram. Esses resultadoseram esperados, j que os cotildones so tecidosde reserva, que inicialmente sustentam a plntula.Concordam com os resultados verificados por Corteet al. (2006) na germinao de sementes de Caesalpiniapeltophoroides, pertencente mesma famlia da espcieestudada neste trabalho, nas quais a biomassa dos

    Tempo MF razes MF hipoctilos MF epictilos MF cotildones(dias aps germinao)

    7 0,0463 c 0,0969 c 0,0211 d 0,4625 a14 0,0712 bc 0,1229 bc 0,1996 cd 0,2090 b21 0,1251 abc 0,1188 bc 0,3669 c 0,2000 b28 0,2488 ab 0,1695 ab 0,4295 bc 0,0420 c35 0,2365 ab 0,1607 abc 0,6249 ab42 0,2925 a 0,1918 a 0,8047 ab

    Tabela 2 Massas secas (MS) das razes, hipoctilos, epictilos e cotildones (g) de S. parahybano 7, 14, 21, 28, 35e 42 dia aps a germinao.

    Table 2 Dry b iomass o f roots, stems, epicoty ls and co tyledons (g ) of S. parahybain the 7th, 14 th, 21 st, 28th, 35 th, and

    42nd after germination.

    Mdias seguidas de mesma letra na vertical no diferem entre si, pelo teste de Tukey-Kramer (0,05).

    Tempo MF razes MF hipoctilos MF epictilos MF cotildones(dias aps germinao)

    7 0,3907 d 1,2301 ab 0,1530 e 2,0997 a14 0,8103 cd 1,4038 a 1,3684 d 2,1265 a21 1,0465 bc 1,0993 b 1,6081 d 1,8381 a28 1,4042 b 1,1927 ab 2,3990 c 0,8759 b35 2,0100 a 1,0901 b 3,1856 b42 2,0468 a 1,2056 ab 4,1848 a

    Tabela 1 Massas frescas (MF) das razes, hipoctilos, epictilos e cotildones (g) de S. parahybano 7, 14, 21, 28,35 e 42 dia aps a germinao.

    Table 1 Fresh biomass of roots, stems, epicotyls and cotyledons (g) of S. parahybain 7, 14, 21, 28, 35 and 42 days

    after germination.

    Mdias seguidas de mesma letra na vertical no diferem entre si, pelo teste de Tukey-Kramer (0,05%).

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    cotildones nos primeiros dias de avaliao foram

    as maiores, seguida da reduo das biomassas eposter ior queda dos coti ldones medida que asreservas foram exauridas.

    Segundo Buckeridge et al. (2004b), espcies pioneirasem geral possuem abundncia no nmero de sementese geralmente pouca reserva, apresentam dormncia,cotildones fotossintetizantes e necessidade de luz

    para germinao. A planta no seu desenvolvimentoinicial alocou mais recursos para o desenvolvimentodos cotildones, garantindo as demandas energticasiniciais das plntulas. S. parahybarepresenta umaespcie pioneira e possui tais caractersticas, entre

    elas os cotildones fotossintetizantes. Dessa forma,os cotildones apresentam similaridade s folhas, comcolorao verde, e iniciam rapidamente o processo defotossntese desencadeado pelo processo de germinaoe desenvolvimento.

    Em estudos realizados por Carvalho (2005), coma mesma espcie em questo foi encontrado acmuloexpressivo de acares solveis totais em plntulassubmetidas deficincia hdrica. Esse acmulo servede reserva de carbono para a imediata retomada decrescimento, assim que ocorre o balano hdricoapropriado.

    Diante do exposto, os cotildones de S. parahybarealizam processos fotossintticos, concentrando carbononeles, a fim de que este possua reservas em sua estrutura,

    para posterior alocao para as demais partes da plantaque iro se desenvolver. Ento, nos momentos iniciaisda germinao, as reservas de carbono permitem asuplementao de energia necessria para o metabolismocelular (BUCKERIDGE et al., 2004b).

    As MS e MF apresentaram as maiores mdiasnos epictilos a partir do 21 DAG (Tabelas 1 e 2). Estesresultados concordam novamente com Corte et al. (2006),

    cujos autores observaram aumento dos epictilos deC. peltophoroides entre o 5 e o 35 dia aps asemeadura. Esse aumento de biomassa nos epictiloscoincide com a reduo de biomassa nos cotildones,fato que possivelmente demonstra que nessa fase a

    planta est alocando substncias de reserva para osepictilos, j que a planta precisa desenvolver essaestrutura fotossintetizante para tornar-se autotrfica.Sassaki e Felipe (apud CORTE et al.,2006) tambmobtiveram resultados semelhantes, nos quais verificaramgrande dependncia no desenvolvimento deDalbergia

    miscolobiumem relao s reservas de cotildones

    at o 20 dia aps a germinao, quando, ento, comeoua expanso foliar.

    Durante o desenvolvimento de plntulas ocorrea mobilizao de reservas para a formao de novasestruturas celulares, porm estas reservas energticasno so provenientes apenas dos cotildones, j queno desenvolvimento da plntula os epictilos sedesenvolvem com rapidez, havendo provavelmentecontribuio de fotoassimilados provindos das folhas(CORTE et al., 2006). Com o desenvolvimento dosepictilos, as folhas agora so as maiores responsveis

    pela fotossntese, fato que justifica o aumento de

    biomassa nessa estrutura, j que o CO2capturado nesseprocesso permite que a plntula capte carbono parasua estrutura.

    No desenvolvimento de S. parahyba, o hipoctilocresce at determinado tamanho, e aps isso a estruturaque mais aumenta o epictilo, formando, juntos, a

    parte area da plntula. Apesar de apresentar algumasdiferenas significativas de biomassa nos hipoctilos,esses apresentaram lento incremento no desenvolvimento(Tabela 2). O epictilo a estrutura composta pelasfolhas, e estas que possibilitam, alm da absoro etransporte de gua, a absoro de luz e trocas gasosas,

    principalmente para fixao do CO2. As folhas possuem

    tecidos fotossintticos onde esto presentes osestmatos, responsveis pela maior parte das trocasgasosas realizadas pelas folhas (KERBAUY, 2004). Porser nas folhas que ocorre mais fotossntese, o epictilodesenvolve-se muito mais do que o hipoctilo, fatoesse mostrado pelas biomassas pouco alteradas para

    7 dias 14 dias 21 dias 28 dias 35 dias 42 dias

    Figura 2 Plntulas de S. parahyba ao longos dos temposde coleta (7, 14, 21, 28, 35 , 42 DAG).

    Figure 2 Seedlings of S. parahyba over the days (7th, 14th,

    21 st, 28th, 35 th, 42ndDAG).

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    essa estrutura neste trabalho. Pedrinho et al. (2004)

    encontraram resultados semelhantes analisando plntulasde soja, que apresentaram maiores MS nas folhas ehipoctilos em comparao com as razes.

    Ne st e es tu do , o cre sc im ent o da s ra ze spossivelmente foi reduzido pelo tamanho dos tubetesonde as sementes foram semeadas. Esse um fatorque no permite discutir com segurana sobre odesenvolvimento dessas estruturas. Porm, emcondies naturais os sistemas radiculares possivelmenteapresentariam pouco desenvolvimento nos estgiosiniciais, porque a plntula, de forma geral, investe maisem parte area, pois precisa desenvolver essas estruturas

    para obter rpido crescimento. Nos estgios iniciaisde desenvolvimento, as plntulas se desenvolvem tendocomo fonte de carbono, alm das reservas cotiledonares,a fotossntese (BUCKERIDGE et al., 2004a). A plntula

    precisa investir em estruturas que assimilem carbono,ou seja, que faam fotossntese para garantir a suacondio autotrfica.

    3.3. Teores de Acares Solveis Totais e Acares deReserva (amido)

    Na Figura, 3 mostram-se as concentraes deacares solveis totais em partes de plntulas de S.

    parahyba. As razes e hipoctilos apresentaram teoresde acares solveis totais diferindo do 7 ao 21 DAG.A partir do 28 DAG ocorreu aumento gradual dos teoresde acares, especialmente nos hipoctilos e epictilos(Figura 3).

    No 14, 21 e 28 DAG, as maiores quantidadesde acar se fizeram presentes nos epictilos (Figura 3).Isso provavelmente se deveu ao fato de que, a partirdessa fase de desenvolvimento, alocao dos recursosno mais proveniente apenas dos cotildones, mastambm das demais partes da plntula que realizamfotossntese. Por essa razo, a plntula investe nos

    epictilos, de onde recebem os fotoassimilados ricosem energia, tornando-a autotrfica. Isso se justifica,

    pois folhas imaturas retm grande parte de carbonopara sntese de seus constituintes celulares, podendoinclusive importar carbono de outras partes da planta(KERBAUY, 2004). As partes das plntulas que estoem crescimento possuem altos teores de acaressolveis totais, pois a planta precisa desses compostosde carbono para desenvolver suas estruturas edesenvolver as plntulas. Por S. parahybaser espcie

    pi on eira , suas pl tu las pr eci sam de r pi dodesenvolvimento, para tanto alocam acares solveisem maiores concentraes durante essa fase.

    O aumento dos teores dos acares solveistotais nos epictilos coincidiu com a reduo daquantidade de acares dos cotildones, conformemostrado na Figura 3, corroborando o fato de que nos

    primeiro dias de crescimento a fotossntese pode serrealizada pelos cotildones e, em seguida, pelosepictilos. Esses teores concordam com os valoresde biomassa.

    Na Figura 4, mostram-se as concentraes de amidonas partes de plntulas de S. Parahyba. Houve grandemobilizao do amido cotiledonar no 7 e 14 DAG.

    Os cotildones apresentaram altas concentraesde amido quando comparados com as das demais partesdas plantas, representando, ento, os valores elevadosde biomassa encontrados nessas estruturas (Figura4 e Tabela 1).

    Com mesma tendncia verificada nos teores deacares solveis totais, o aumento nos teores de amidonos hipoctilos e epictilos coincidiu com a reduoda quantidade de amido nos cotildones (Figura 4).Isso auxilia novamente na compreenso de que,inicialmente, as reservas de amido nos cotildonesso necessrias para fornecer recursos para a plntulaque ir se desenvolver, seguido de maior alocao deamido para epictilos ao longo do desenvolvimentoda parte area em geral.

    Acares Solveis Totais

    0

    10

    20

    30

    7 14 21 28 35 42

    Tempo - dias aps germinao

    TeoresAcares

    SolveisTotais(mg/gMF)

    razes

    caules

    epictilos

    cotildones

    Figura 3 Teores de acares solveis totais em mg/gMF,no 7,14, 21, 28, 35 e 42 dias aps a germinao,em razes, hipoctilos, epictilos e cotildonesde S. parahyba.

    Figure 3 Total soluble sugar levels in mg/g of fresh biomass

    during the 7th, 14th, 21st, 28th, 35th, and 42ndDAG

    in roots, stems, epicotyls and cotyledons of S.

    parahyba.

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    Revista rvore, Viosa-MG, v.34, n.4, p.627-635, 2010

    A assimilao de carbono o resultado do balanode trocas de CO

    2que as plantas realizam. Essa

    assimilao no depende somente da intensidade dastrocas gasosas, como tambm da proporo entre amassa dos rgos fotossinteticamente ativos e tecidosno fotossinteticamente ativos e da proporo entreos perodos favorveis e desfavorveis para a assimilao.A proporo de massa verde fotossinteticamente ativa,em relao massa total, depende da forma de crescimentodo vegetal, das modificaes durante o desenvolvimentoe da influncia dos fatores ambientais (LARCHER, 2000).Os acares solveis totais observados nos hipoctilose epictilos da espcie estudada no so oriundosnecessariamente somente da hidrlise do amido, mastambm da fotossntese que essas estruturas areasem desenvolvimento j esto realizando.

    Comparando as Figuras 3 e 4, possvel observarque ocorreram maiores concentraes de amido noscotildones, enquanto nas demais partes das plntulasos acares solveis totais estiveram em maioresconcentraes. O amido representa as biomassasdos rgos de reserva, e os acares oriundos desua quebra so alocados para as demais partes da

    planta como carboidrato na forma de acares solveistotais. Segundo Buckeridge et al. (2004b), o amido sintetizado nas folhas durante o dia, a pa rtir dafixao fotossinttica de carbono, e mobilizado paraos outros tecidos, seja de crescimento ou de reserva.O amido hidrolisado nos tecidos que o acumulam.Portanto, a reduo da quantidade de amido umaconsequncia da atividade da amilase que o degrada,

    sendo acompanhado por aumento da quantidade de

    acares solveis (FILHO, 2001). Esses resultadosconcordam com aqueles verificados por Corte et al.(2006), que encontraram pequenas concentraesde amido nas sementes de Caesalpiniapeltophoroides,e tambm com Machado et al. (1989),que obtiveram menores teores de amido quandocomparados com os teores de acares solveis totaisem folhas de Theobroma cacao. Trabalhos comVeratrum album relataram maiores biomassas e teoresde acares e amido nas razes e nos hipoctilos(KLEIJN et al., 2005).

    O aumento nos teores de acares solveis totais

    mostrou correlao com o aumento de MF nos epictilos(R2 = 0,95; P

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    634 WEIDLICH, E.W.A et al.

    Revista rvore, Viosa-MG, v.34, n.4, p.627-635, 2010

    j possuem altos teores de amido como reserva e que

    os outros compostos de carbono j comeam a seralocados para o eixo hipoctilo-radcula. Perin et al.(2004) observaram que as reservas das sementes demaior tamanho so utilizadas no desenvolvimento inicialdas plntulas, que mais vigoroso do que em plntulasoriundas de sementes pequenas, as quais podemcompensar o menor crescimento inicial em estgios

    posteriores de crescimento. Portanto, possivelmenteexiste tendncia de disponibilidade de acares solveistotais em zonas de crescimento. Em S. parahyba,talcaracterstica tem importncia pelo fato de ser espcie

    pioneira. Precisa de rpido crescimento, e para tanto

    aloca acares solveis para as partes da planta, comofoi encontrado neste estudo.

    4. CONCLUSO

    As relaes de biomassa e teores de acaressolveis totais e amido encontrados neste trabalhoressaltam a mobilizao dos compostos de reserva (amido)e a alocao desses recursos dos cotildones paraas outras partes da planta, medida que a diminuioda biomassa e acares dos cotildones reflete noaumento da produo de biomassa de epictilos,hipoctilos e razes da plntula.

    O aumento da MF diretamente proporcional aoincremento de acares solveis e amido nas estruturasanalisadas. Os acares solveis e o amido so fontesde energia para a plntula. O primeiro est presenteem maior quantidade nas razes, hipoctilos e epictilosda espcie estudada do que o amido, apresentando,

    portanto, acares prontamente assimilveis, importantespara o estabelecimento das plntulas. Porm, o amido o que representa os maiores teores nos cotildonesnos estgios iniciais, justificando ser esse um tecidode reserva. O amido quando quebrado fornece vazo

    para a disponibilidade dessa fonte de energia para asdemais partes da plntula.

    Os acares solveis encontrados nos epictilose hipoctilos, alm de serem alocados dos cotildonesatravs da hidrlise do amido, so oriundos dafotossntese que essas partes da plntula rea lizam.

    Os altos teores de acares solveis alocadospara epictilos so necessrios para suprir ademanda de rpido crescimento de S. parahybacomo espcie pioneira.

    6. REFERNCIAS

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