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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO CURSO DE MESTRADO EM EDUCAÇÃO Fabiana Tavares dos Santos Silva EDUCAÇÃO NÃO INCLUSIVA: A TRAJETÓRIA DAS BARREIRAS ATITUDINAIS NAS DISSERTAÇÕES DE EDUCAÇÃO DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO (PPGE/UFPE) RECIFE 2012

Fabiana Tavares dos Santos Silva...atencioso e companheiro, e a professora Maria Lúcia, a quem sou grata pelo carinho e destaco o empenho em compreender o conceito e a prática da

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

    CENTRO DE EDUCAÇÃO

    PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

    CURSO DE MESTRADO EM EDUCAÇÃO

    Fabiana Tavares dos Santos Silva

    EDUCAÇÃO NÃO INCLUSIVA: A TRAJETÓRIA DAS BARREIRAS

    ATITUDINAIS NAS DISSERTAÇÕES DE EDUCAÇÃO DO

    PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO (PPGE/UFPE)

    RECIFE

    2012

  • 2

    Fabiana Tavares dos Santos Silva

    EDUCAÇÃO NÃO INCLUSIVA: A TRAJETÓRIA DAS BARREIRAS

    ATITUDINAIS NAS DISSERTAÇÕES DE EDUCAÇÃO DO

    PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO (PPGE/UFPE)

    Dissertação apresentada à Universidade Federal de Pernambuco – UFPE, para obtenção do título de Mestre em Educação, junto ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação. Linha de Pesquisa: Didática de Conteúdos Específicos, Sub-área de Educação Inclusiva.

    Orientador: Prof. Dr. Francisco José de Lima

    RECIFE 2012

  • Catalogação na fonte

    Bibliotecária Andréia Alcântara, CRB-4/1460

    S586e Silva, Fabiana Tavares dos Santos. Educação não inclusiva: a trajetória das barreiras atitudinais nas

    dissertações de educação do programa de pós-graduação em educação

    (PPGE/UFPE) / Fabiana Tavares dos Santos Silva. – Recife: O autor,

    2012.

    595 f. : il. ; 30 cm.

    Orientador: Francisco José de Lima.

    Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Pernambuco, CE.

    Programa de Pós-graduação em Educação, 2012. Inclui bibliografia, Apêndices e Anexos.

    1. Educação inclusiva. 2. Educação especial. 3. Pessoa com deficiência. 4. Barreira atitudinal. 5. UFPE - Pós-graduação. I. Lima,

    Francisco José de. II. Título.

    CDD 371.9 (22. ed.) UFPE (CE2012-69)

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

    CENTRO DE EDUCAÇÃO

    PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

    CURSO DE MESTRADO EM EDUCAÇÃO

    EDUCAÇÃO NÃO INCLUSIVA: A TRAJETÓRIA DAS

    BARREIRAS ATITUDINAIS NAS DISSERTAÇÕES DE

    EDUCAÇÃO DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM

    EDUCAÇÃO (PPGE/UFPE)

    COMISSÃO EXAMINADORA:

    _____________________________________

    Profº. Dr. Francisco José de Lima

    1° Examinador /Presidente

    _____________________________________

    Profº. Dr. Paulo Ernesto Antonelli

    2° Examinador

    _____________________________________

    Profª. Drª. Lícia de Souza Leão Maia

    3ª Examinadora

    _____________________________________

    Profª. Drª. Tereza Luiza de França

    4ª Examinadora

    Recife, 25 de junho de 2012.

  • 3

    DEDICATÓRIA

    Dedico esta produção acadêmica a minha família e aos

    meus amigos, por terem compartilhado sonhos e objetivos

    formativos, por terem acreditado em meus passos, bem como

    por acompanharem a minha evolução como pessoa humana,

    como profissional, como cientista social; por terem confiado na

    minha capacidade e, simplesmente, por sempre me amarem!

    À todas as pessoas que , num ato de coragem,

    (cons)ciência e amor, assumem suas vidas e a atitude de

    conduzi-las, sob a filosofia da inclusão.

  • 4

    AGRADECIMENTOS

    Este trabalho não é um trabalho solitário, aqui há muitas vozes e cada uma

    delas, certamente, evoca muitas outras que possibilitaram reflexões, construção e

    socialização de saberes, experiências vitais neste itinerário.

    Agradecer , pois, aos interlocutores aqui nomeados ou ocultos, é abrir a porta

    do reconhecimento de que a felicidade, os sonhos, o alcance de objetivos só é

    possível porque os tenho por perto. Então, primeiramente agradeço a Deus e aos

    anjos guardiões. A Ele por me conceder o dom da vida e a oportunidade de

    conviver com todos os interlocutores deste percurso existencial e de formação

    científica. Aos amigos invisíveis pela energia tonificadora do bem, da humanização,

    do progresso e da ciência.

    Agradeço também a vocês, Elizabete e Cid, meus pais, razão primeira da

    minha existência; a João, meu grande companheiro; a Tiaguinho, motivo da minha

    alegria, dos meus sonhos; a Cinthia e a Josinaldo, meus queridos irmãos, agradeço

    pela paciência, pela compreensão, por participarem das minhas angústias,

    expectativas, tristezas e confianças; desânimos e esperanças , enfim por todos os

    momentos em que vocês estiveram ao meu lado incondicionalmente nesta

    trajetória. Obrigada pelo amor!

    À Carmem Regina, Nega, minha prima querida, com quem venho traçando

    tantos caminhos alternativos para a comunicação.

    À extensão da minha família, meus amigos: Dodó, Ana Deborah, Hugo, Malu,

    Gil, Vivi, Dalva, Graci, Mariano, Leila, Liliana, Andreza, Anderson, Lauricéia, Lívia,

    Ednea, Cynthia, Zezinha, Clarissa, Jenisson, Giovana Casé, Carlisson, Guga,

    Ricardo, Aleide, Fernanda, Fátima Soares, Arlete e Samuel obrigada por

    compartilhar os momentos de crescimento, de riso e de dor.

    À Ana Rosa Aroucha, pessoa linda, inclusivista, grande incentivadora deste

    percurso formativo, agradeço por suas palavras e ações de apoio constantes,

    muitas das quais me levaram a descobrir competências que eu não reconhecia em

    mim.

  • 5

    À amiga Cleide Maior , agradeço pelas lições de vida e o amor fraterno que

    me dedicou nos momentos difíceis do adolescer ao tempo de agora.

    À Alexsandra Karla, minha irmã, meu orgulho, por ter lido com tanta atenção

    estes escritos e discutido aspectos linguísticos e da ordem do Direito.

    À Sheila pelo companheirismo, carinho, incentivo, por todas as aulas de

    inglês, pela revisão dos textos que escrevi em língua estrangeira. Agradeço também

    ao professor, tradutor e amigo Severino Assis pela revisão do abstract deste

    trabalho.

    À Giovanna Vera Cruz e a Emmanuel Davisson por sempre acreditarem e

    compartilharem dos meus sonhos em fazer da escola um espaço de vida e em

    fazer das nossas vidas uma grande escola.

    À Serafim, Betânea e Morgana que, estando à frente de várias ações da

    GRE Mata Centro, sempre trouxeram alternativas laborais as quais fizeram

    possível o meu percurso formativo.

    À Fátima Amorim por estar presente neste itinerário, fornecendo com amor e

    agudez no olhar, as perguntas certas, as informações precisas, nos momentos

    exatos em que eu me emaranhei nesta pesquisa.

    Ao Dr° Alcides Cardoso, Drª Monique de Assis, Drª Ediclayne, Drº Alvaro

    Badaró e a Patrícia Mendes por me ajudarem a cuidar do corpo físico e a

    compreender que ele também precisa de um tempo de atenção e cuidado.

    Aos amigos do Centro de Estudos Inclusivos: Patrícia Pordeus, Roberto,

    Paulo, Ernani, Rosângela Gera e Fábio Adiron pela oportunidade de,

    presencialmente ou à distância, estudarmos juntos, ampliarmos o campo de

    compreensão acerca da inclusão.

    Aos colegas da turma de mestrado 28 A que contribuíram com questões que

    levaram ao desenvolvimento de muitos dos conceitos que estão expressos nesta

    dissertação. Em especial agradeço a Jeysa, Fabiana, Márcia, Cinthia, Elaine e a

    Edla pelas tantas perguntas formuladas sobre o objeto desta pesquisa.

  • 6

    À Roseane, Rosana, Marizete, Helena, Analice e Sandra por compreenderem

    a minha ausência nas muitas atividades sistematizadas no curso de Pedagogia da

    Universidade Federal Rural de Pernambuco (Ead- UFRPE), o que se deu ora em

    função das minhas limitações físicas, ora em função das atividades formativas.

    Aos meus alunos da Escola Estadual Cardeal Roncalli, das Faculdades

    Integradas da Vitória de Santo Antão, da Universidade Federal Rural de

    Pernambuco e da Faculdade Joaquim Nabuco, pela troca de conhecimentos em

    nossos encontros, pela compreensão nos momentos em que precisei me ausentar,

    pelas tantas perguntas que me fazem repensar o conceito e a prática da inclusão.

    Aos meus alunos da sala de leitura da Escola Recanto Infantil ( Vitória de

    Santo Antão), aos professores, a Eliane Mércia e a Ana Siqueira pelo apoio, por

    compreender as tantas vezes em que coloquei a minha formação em primeiro

    plano e me ausentei das atividades docentes.

    Aos alunos das Classes de Projetos Especiais ( Escola Recanto Infantil/

    Recife – PE) por terem despertado em mim o desejo de buscar qualificação

    profissional, conhecimentos para oferecer a eles um trabalho de qualidade

    equiparado às experiências formativas disponibilizadas a toda a turma. À Adriana,

    Inês Pires, Ingdore Elke, Saulo, Fátima Moraes e a todos os que buscam

    compreender como ensinar a toda a turma.

    À Adenio e a equipe da ADN Consultoria Pedagógica pela parceria,

    incentivo, amizade e por difundir, em situações formativas de professores, a ideia

    de que continuamente aprendemos a ser professores inclusivos.

    À escritora Helena Parente Cunha e a professora Maria Goretti , ambas da

    Universidade Estadual da Paraíba, pela atenção dispensada, pelo incentivo e pela

    sensibilidade com que me acolheram.

    À Gilberlande Pereira, Jonas Cabral, Jaqueline Barbosa, Renata Jatobá,

    Simone Lindolfo, José Ricardo por acreditarem em meus projetos, pelo incentivo

    para que minha atuação, nos cursos de licenciatura, bacharelado e/ou nos cursos

    de especialização das FAINTVISA, fosse constantemente marcada pela

    cumplicidade, ciência, humanização e construção conjunta.

  • 7

    À Romeu Kazumi Sassaki pela atenção, pelos textos partilhados, pelas

    contribuições na leitura atenta dos termos definicionais desta pesquisa, por mostrar

    com o exemplo de vida como se dá a prática da inclusão.

    Em especial, agradeço ao professor Francisco Lima por ter me acolhido como

    orientanda e por não ter medido esforços para me apoiar em todos os momentos

    deste percurso. Sou grata pela leitura atenta do trabalho, pelas contribuições,

    questionamentos, disponibilidade, generosidade, parceria, incentivo e pela confiança

    imensurável. Desse tempo compartilhado, guardarei com carinho nossa interlocução

    constante, a amizade, bem como a relação de confiança que construímos nesses

    anos. Obrigada, professor, por compartilhar a crença de que a Inclusão/a Educação

    se faz por mim, por você, por cada pai, mãe, criança, jovem, adulto, por cada ator

    socioeducacional, enfim, por todos nós, para todos nós.

    Agradeço também à coordenação do PPGE/UFPE e aos professores Alice

    Botler, Artur Moraes, Katia Melo, Flávio Brayner, Daniel Rodrigues, sempre

    atencioso e companheiro, e a professora Maria Lúcia, a quem sou grata pelo

    carinho e destaco o empenho em compreender o conceito e a prática da inclusão.

    Aos funcionários do PPGE, em especial, a Rebeca, a Shirley e a Morgana,

    por contribuírem fornecendo a matéria-prima para muitas das reflexões aqui

    socializadas. E a minha amiga Janeide, bibliotecária do CE/UFPE, por ter, num ato

    terno, me ajudado a fazer o levantamento e as cópias dos trabalhos analisados

    nesta dissertação.

    Às professoras Tícia Ferro (UFPE) e Lúcia Martins (UFRN) pelas leituras

    sugeridas, pelas contribuições fornecidas na qualificação do projeto desta pesquisa.

    Aos professores Paulo Antonelli (UFOP), Lícia Maia ( UFPE) e Tereza França

    (UFPE) pela leitura atenta, reflexiva, colaborativa deste trabalho socializada na

    etapa da defesa da dissertação.

    Enfim, obrigada a todos os que contribuíram para que a discusão, o estudo, a

    vivência da inclusão fosse, aos poucos, se tornando consequência do caminho que

    escolhi. Nesse trajeto vejo a transformação que iniciei há muito, mas que, de modo

    especial, compartilho no itinerário deste trabalho.

  • 8

    The Road Not Taken

    TWO roads diverged in a yellow wood,

    And sorry I could not travel both

    And be one traveler, long I stood

    And looked down one as far as I could

    To where it bent in the undergrowth;

    Then took the other, as just as fair,

    And having perhaps the better claim,

    Because it was grassy and wanted wear;

    Though as for that the passing there

    Had worn them really about the same,

    And both that morning equally lay

    In leaves no step had trodden black.

    Oh, I kept the first for another day!

    Yet knowing how way leads on to way,

    I doubted if I should ever come back.

    I shall be telling this with a sigh

    Somewhere ages and ages hence:

    Two roads diverged in a wood, and I—

    I took the one less traveled by,

    And that has made all the difference.

    Robert Frost (1920)

  • 9

    Se quer seguir-me, narro-lhe; não uma aventura,

    Mas a experiência, a que me induziram,

    alternadamente,séries de raciocínios e intuições.

    Tomou-me tempo, desânimos, esforços [dedicação,

    muito estudo, interlocuções].

    Dela me prezo,

    sem vangloriar-me. (João Guimarães Rosa)

  • 10

    RESUMO TAVARES, Fabiana S.S. Educação Não Inclusiva: a trajetória das barreiras atitudinais nas dissertações de educação do Programa de Pós-graduação em Educação (PPGE/UFPE). 2012. 595f. Dissertação. Programa de Pós-Graduação em Educação. Universidade Federal de Pernambuco. Recife, 2012.

    Historicamente a sociedade tem gerado, mantido e fortalecido barreiras atitudinais contra as pessoas com deficiência. Esse processo se dá por meio de ações, omissões e linguagens produzidos ao longo da história humana, resultando no desrespeito ou impedimento aos direitos dessas pessoas, limitando-as ou incapacitando-as para o exercício de direitos e deveres sociais. A universidade, enquanto componente dessa sociedade, não está imune a esse processo, uma vez que, por meio do discurso científico, reproduz/difunde barreiras sociais, as remove e mesmo produz novas barreiras atitudinais. Nesta pesquisa se investiga como as barreiras atitudinais aparecem no discurso das dissertações de mestrado sobre educação especial defendidas no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Pernambuco (PPGE/UFPE), no período de 1978 a 2002; bem como se discute o efeito das barreiras atitudinais no entendimento da sociedade para com as pessoas com deficiência. A análise das barreiras atitudinais existentes no discurso dissertativo é fundamentada na teoria da análise do discurso de Pêcheux, bem como, na teoria da inclusão social/educacional e mais especificamente no estudo sobre as barreiras atitudinais e sua taxonomia. A metodologia empregada, no presente estudo de cunho qualitativo e documental, é a da teoria do discurso. O procedimento de pesquisa utilizado inclui a construção de categorias das barreiras atitudinais e a interrogação do discurso das dissertações, em seus diferentes elementos: título/tema; análise de dados, referencial teórico, considerações finais/conclusão e referências. Mapeia a produção e a difusão de dissertações sobre educação especial no PPGE/UFPE (1978 a 2002). Lista um conjunto de barreiras atitudinais existentes nessas dissertações. Revela como e onde as barreiras atitudinais, presentes nos discursos científicos, são disseminadas, atingem a pessoa com deficiência e influenciam a sociedade, em relação àquelas pessoas. Conclui que esse processo se dá (des)percebidamente, entre outros aspectos, em função dos trabalhos não estarem situados em uma área ou linha de pesquisa em que a inclusão seja a tônica. Mostra que o discurso científico produzido no PPGE/UFPE (1978 a 2002) é, em alguns momentos, vanguardista em relação à efetivação da educação inclusiva, mas que contundentemente se tornou responsável pela tonificação de barreiras atitudinais que prejudicam a construção da identidade social e individual da pessoa com deficiência: as barreiras atitudinais de substantivação e de adjetivação com suas diferentes manifestações percebidas por meio de designações como: fronteiriço, anormal moral, atrasado pedagógico etc. utilizadas no discurso das dissertações e resultantes/estimuladoras da leitura incapacitante que a sociedade imputa às pessoas com deficiência. Defende que a pesquisa sobre as pesquisas em educação especial/educação inclusiva é um percurso valoroso porque dele pode surgir as bases para a transformação que contemple na prática da universidade o direito de todos a educação de qualidade. Por fim, sugere que a universidade esteja mais atenta aos discursos que produz, estimule a produção de pesquisas sobre educação inclusiva, promova, através da Ciência e das práticas atitudinais, a conscientização necessária à inclusão.

    Palavras-chaves: Pessoa com deficiência. Barreira atitudinal. Discurso. Dissertação de mestrado.

  • 11

    ABSTRACT

    TAVARES, Fabiana S.S. Not-inclusive education: the trajectory of the attitudinal

    barriers dissertations in education program of postgraduate education (PPGE /

    UFPE). 2012. 595. Thesis (Master). Education Center. Federal University of

    Pernambuco, Pernambuco, 2012.

    Society has traditionally created, maintained and reinforced attitudinal barriers against people with disability. This process occurs through actions, omissions and through language, and causes people with disability to façade impairment or incapacitation that is not related to their disabilities. That impedes them from profiting from social rights. The university, as part of this society, is not immune to this process of incapacitating those people, for by means of scientific discourses it reproduces / disseminates social barriers. However, it can also remove them and even produce new attitudinal barriers. This research has investigated how the attitudinal barriers appear in the discourse of dissertations defended on special education in the Graduate Program in Education of the Federal University of Pernambuco (PPGE / UFPE) in the period 1978 to 2002, and discusses the effect of attitudinal barriers in society’s way of thinking about people with disabilities. The analysis of the attitudinal barriers was based upon the theory of speech analysis of Pecheux, as well as on the study of the attitudinal barriers and their taxonomy. The methodology used in this study was the qualitative and documentary research. The procedure used in this study included the construction of categories of the attitudinal barriers and the interrogation of the dissertation speech in its different elements: title / theme, data analysis, theoretical reference, final considerations / conclusion and references. Maps the production and dissemination of papers on special education in PPGE / UFPE (1978-2002). A list of attitudinal barriers extracted from those dissertations shows the understanding of the researches about people with disability. It also reveals how and where attitudinal barriers, present in scientific speech, are widespread, affecting people with disability and influence the society in relation to those people. It concludes that the amount of attitudinal barriers found on the works studied is due to the fact that those works were not advised by professors of the area of inclusive education. Finally, it suggests that the university should be more attentive to the discourse that it produces, and should stimulate the production of research on inclusive education; promoting awareness through science necessary to the practice of inclusion.

    Keywords: People with disabilities. Attitudinal barrier. Speech. Master's thesis

  • 12

    LISTA DE TERMOS DEFINICIONAIS

    Para efeito da leitura deste trabalho, devem ser considerados os seguintes

    termos definicionais:

    AÇÃO: Ação é a manifestação de atitudes, é a atuação frente às pessoas com

    deficiência.

    ACESSIBILIDADE: “É o conjunto de medidas apropriadas para assegurar às

    pessoas com deficiência o acesso, em igualdade de oportunidades com as demais

    pessoas, ao meio físico, ao transporte, à informação e à comunicação, inclusive aos

    sistemas e tecnologias da informação e comunicação, bem como a outros serviços e

    instalações abertos ao público ou de uso público, tanto na zona urbana como na

    rural”. (ONU, CONVENÇÃO SOBRE OS DIREITOS DAS PESSOAS COM

    DEFICIÊNCIA, 2006, Artigo 9º, §1; BRASIL, DECRETO LEGISLATIVO nº 186/08,

    DECRETO nº 6.949/09).

    ADAPTAÇÃO RAZOÁVEL: “Significa as modificações e os ajustes necessários e

    adequados que não acarretem ônus desproporcional ou indevido, quando requeridos

    em cada caso, a fim de assegurar que as pessoas com deficiência possam gozar ou

    exercer, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, todos os direitos

    humanos e liberdades fundamentais.” (ONU, CONVENÇÃO SOBRE OS DIREITOS

    DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA, 2006, Artigo 2º; BRASIL, DECRETO

    LEGISLATIVO nº 186/08, DECRETO nº 6.949/09).

    ATITUDE: A atitude é um processo inter e intrapessoal, o qual envolve três

    dimensões: a cognição, a afetividade e o comportamento e é fortemente influenciado

    por predisposições genéticas e elementos fenotípicos oriundos dos discursos

    construídos, disponíveis ou nutridos pela sociedade. (PEREIRA, 2002)

    AUTONOMIA: “É a condição de domínio no ambiente físico e social, preservando ao

    máximo a privacidade e a dignidade da pessoa que a exerce”. (SASSAKI, 2006, p.

    35).

    BARREIRAS ATITUDINAIS: As barreiras atitudinais são barreiras sociais geradas,

    mantidas, fortalecidas por meio de ações, omissões e linguagem produzidos ao

  • 13

    longo da história humana, num processo tridimensional o qual envolve cognições,

    afetos e ações contra a pessoa com deficiência ou quaisquer grupos em situação de

    vulnerabilidade, resultando no desrespeito ou impedimento aos direitos dessas

    pessoas, limitando-as ou incapacitando-as para o exercício de direitos e deveres

    sociais: são abstratas para quem as produz e concretas para quem sofre seus

    efeitos. (LIMA; TAVARES, 2007).

    COMPONENTE COGNITIVO DA BARREIRA ATITUDINAL: O plano cognitivo de

    uma barreira atitudinal está relacionado a alguma representação cognitiva negativa

    de uma pessoa ou grupo de pessoas com deficiência. Tal representação pode

    estear-se em crenças/ em um ou mais modelos estereotipados de compreensão da

    deficiência e da pessoa que a possui. Esses modelos são produzidos através de

    sistemas simbólicos, fabricados no discurso, por meio da marcação, valoração ou

    desprestígio das diferenças constitutivas da pessoa humana.

    COMPONENTE AFETIVO DA BARREIRA ATITUDINAL: A vertente afetiva da

    barreira atitudinal está estritamente relacionada à cognição e corresponde ao

    segmento emocional presente nos obstáculos sociais, ou seja, a sentimentos

    instigados pela leitura que se faz da existência, das potencialidades e da presença

    real ou fictícia de indivíduos com deficiência.

    COMPONENTE SOCIAL DA BARREIRA ATITUDINAL: A dimensão social ou

    comportamental da barreira atitudinal combina as cognições e os afetos que se

    edificam em torno da leitura racional e emocional que a sociedade dispõe sobre as

    pessoas com deficiência. Esse componente da barreira social significa, pois, uma

    tendência, uma predisposição a ação, uma intencionalidade do comportamento ou a

    ação efetiva da prática discriminatória, deteriorante da efetivação dos direitos

    humanos e sociais por pessoas com deficiência.

    COMPORTAMENTO: Comportamento é a manifestação da atitude.

    CONDUTA: Conduta é o modo como um comportamento é conduzido.

    DEFICIÊNCIA: A deficiência é um conceito em evolução e “resulta da interação

    entre pessoas com deficiência e as barreiras devidas às atitudes e ao ambiente que

    impedem a plena e efetiva participação dessas pessoas na sociedade em igualdade

  • 14

    de oportunidades com as demais pessoas”. (ONU, CONVENÇÃO SOBRE OS

    DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA, 2006, Preâmbulo, letra ”e”;

    BRASIL, DECRETO LEGISLATIVO nº 186/08, DECRETO nº 6.949/09).

    DESENHO UNIVERSAL: Significa a concepção de produtos, ambientes, programas

    e serviços a serem usados, até onde for possível, por todas as pessoas, sem

    necessidade de adaptação ou projeto específico. O desenho universal não excluirá

    as ajudas técnicas para grupos específicos de pessoas com deficiência, quando

    necessárias. (ONU, CONVENÇÃO SOBRE OS DIREITOS DAS PESSOAS COM

    DEFICIÊNCIA, 2006, Artigo 2º; BRASIL, DECRETO LEGISLATIVO nº 186/08,

    DECRETO nº 6.949/09).

    DISCRIMINAÇÃO: A discriminação é um comportamento manifesto que reflete

    modelos de interpretação equivocados em relação à existência e às potencialidades

    da pessoa com deficiência e reflete afetos negativos a ela dispensados. O

    comportamento discriminatório contra as pessoas com deficiência consiste em

    “qualquer diferenciação, exclusão ou restrição baseada em deficiência, com o

    propósito ou efeito de impedir ou impossibilitar o reconhecimento, o gozo ou o

    exercício, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, de todos os

    direitos humanos e liberdades fundamentais nos âmbitos político, econômico, social,

    cultural, civil ou qualquer outro. Abrange todas as formas de discriminação, inclusive

    a recusa de adaptação razoável”. (ONU, CONVENÇÃO SOBRE OS DIREITOS DAS

    PESSOAS COM DEFICIÊNCIA, 2006, Artigo 2º; BRASIL, DECRETO LEGISLATIVO

    nº 186/08, DECRETO nº 6.949/09).

    DISCURSO: O discurso é uma prática linguística posta em funcionamento por

    interlocutores que produzem sentidos num contexto histórico-social. (PÊCHEUX,

    1975; 1983).

    DISCURSO CIENTÍFICO: O discurso científico é aquele que surge vinculado a

    formações discursivas que primam pela apresentação, compreensão e

    desenvolvimento do conhecimento científico, ou seja, armazena informações,

    enuncia postulados discutíveis e busca desenvolver e difundir o conhecimento

    científico/acadêmico.

  • 15

    DISSERTAÇÃO DE MESTRADO: As dissertações de mestrado são textos

    argumentativos contingenciados por uma necessidade científica/acadêmica. Nesta

    pesquisa, são compreendidas como veículos do discurso científico, os quais

    difundem conhecimentos históricos à respeito das pessoas com deficiência,

    apresentam, descrevem e/ou transformam experiências/vivências atuais dessas

    pessoas em conhecimento científico e constroem novos

    conhecimentos/entendimentos sobre essas pessoas e as questões que as

    envolvem.

    DIREITOS SOCIAIS: Os direitos sociais são os que visam à garantia da igualdade

    material. São direitos que têm a finalidade de, com sua concretização, permitir aos

    indivíduos a possibilidade não somente de subsistência, mas de inserção plena na

    vida em sociedade. (GALINDO, 2009, p. 21). “São direitos sociais a educação, a

    saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência

    social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados”, na

    forma da Constituição Brasileira.” (BRASIL, CONSTITUIÇÃO FEDERAL, Cf. EC n°

    64, de 2010).

    EDUCAÇÃO ESPECIAL: Educação que surgiu em instituições especializadas e

    depois foi sustentada em salas especiais de escolas regulares em que se

    mantinham/se mantêm as crianças com deficiência apartando-as de seus pares sem

    deficiência. Essa educação em espaços “especiais”/segregados foi/é praticada em

    função da manutenção de barreiras atitudinais, ou seja, entre outros aspectos, da

    maléfica redução das potencialidades dos alunos com deficiência às supostas

    limitações trazidas pela deficiência.

    EDUCAÇÃO INCLUSIVA: A Educação contingenciada pelo respeito às

    idiossincrasias de todos os membros da escola, pela celebração das diferenças,

    pela igualdade e equidade de oportunidades formativas, pela ótica de que a

    formação é direito indisponível de todas as crianças e adolescentes, pelo contínuo

    progresso esteado nas Ciências, na Lei, na Humanização e na Tecnologia para a

    promoção da transformação de cada integrante da comunidade intra e extraescolar

    com vistas à eliminação de barreiras atitudinais e a consequente manutenção da

    transformação de uma sociedade acolhedora, respeitosa ao gênero humano.

  • 16

    EMPODERAMENTO: “Processo pelo qual uma pessoa, ou um grupo de pessoas,

    usa o seu poder pessoal inerente à sua condição – por exemplo: deficiência, gênero,

    idade, cor – para fazer escolhas e tomar decisões, assumindo assim o controle de

    sua vida”. (SASSAKI, 2006, p.37).

    ESTEREÓTIPOS: Estereótipos são generalizações rígidas construídas e mantidas

    pela sociedade a respeito da deficiência e da pessoa com deficiência.

    ESTIGMA: Estigma é processo metonímico social em que se faz referência a um

    atributo depreciativo da pessoa em detrimento do todo.

    EQUIPARAÇÃO DE OPORTUNIDADES: “Significa o processo através do qual os

    diversos sistemas da sociedade e do ambiente, tais como serviços, atividades,

    informações e documentação, são tornados disponíveis para todos, particularmente

    para pessoas com deficiência.” (ONU, NORMAS SOBRE A EQUIPARAÇÃO DE

    OPORTUNIDADES PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA, 1996, §24).

    EXCLUDÊNCIA: A excludência ou os mecanismos de excludência pode(podem) ser

    compreendida(compreendidos) como maneira(s) teórica(s), abstrata(s), ostensiva(s),

    real(reais), contundente(s) da manutenção de fatores pela sociedade/pela escola

    para fazer valer a exclusão social/educacional das pessoas com deficiência ou de

    quaisquer outros grupos em situação de vulnerabilidade que sejam, na impune

    prática de barreiras atitudinais, massificados, afastados, eliminados, retirados,

    desviados , impedidos de participar, postos de lado, não admitidos, omitidos,

    expulsos, postos de fora, privados, rejeitados, orientados para uma trajetória que

    os desvaloriza no interior de uma hierarquia rígida construída num contexto

    social/educacional o qual os aparta do todo considerado hígido e produtivo.

    GENERALIZAÇÃO: Generalização é o processo em que se homogeneízam

    pessoas, estereotipicizando-as, em razão de um atributo, como representantes de

    um tipo de comportamento, competência ou modo de viver.

    GENERICIDADE HUMANA: A genericidade humana ou o pertencimento ao gênero

    humano é a concepção de que a ontogênese humana realiza-se, para além de sua

    atividade biológica-vital, nas ações do indivíduo sobre o mundo e no mundo. Esse

    conceito demarca a distinção entre espécie humana e gênero humano, atribuindo a

  • 17

    segunda condição a aspectos de produção eminentemente social, a interação e a

    tomada pelo homem de seu lugar na sociedade. (DUARTE, 1993).

    IDENTIDADE: A identidade é construída continuamente através de práticas

    sociodiscursivas, marcadas simbolicamente em relação a outras identidades (a

    alteridade) e envolve dois processos que se retroalimentam: a construção da

    identidade social (o que a sociedade ajuíza sobre o sujeito) e a construção da

    identidade pessoal (o que o sujeito acha de si e o que realmente ele o é).

    IGUALDADE DE CONDIÇÕES E OPORTUNIDADES: É o princípio segundo o qual

    as pessoas com deficiência usufruem as mesmas condições e oportunidades com

    as demais pessoas, ou seja, nos mesmos espaços comuns destinados a todos os

    cidadãos. (ONU, NORMAS SOBRE A EQUIPARAÇÃO DE OPORTUNIDADES

    PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA, 1993; CONVENÇÃO SOBRE OS DIREITOS

    DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA, 2006). “A inserção nos serviços destinados ao

    público geral é o processo pelo qual governos e outros agentes intervenientes

    asseguram que pessoas com deficiência participem igualmente com outras pessoas

    em qualquer atividade e serviço destinados ao público geral, tais como os serviços

    sociais, de educação, de saúde e de emprego.” (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA

    SAÚDE, RELATÓRIO MUNDIAL SOBRE DEFICIÊNCIA, 2011, Capítulo 9,

    Recomendação 1).

    INCLUSÃO SOCIAL/EDUCACIONAL: A inclusão social/educacional é o processo

    pelo qual, numa atitude cônscia, ética e desprovida de barreiras atitudinais, a

    sociedade/a escola busca transformar-se continuamente para receber não apenas

    as pessoas com deficiência, mas a todos os seus membros, valorizando-os por suas

    competências e garantindo que essas sejam potencializadas através das

    acessibilidades.

    INCLUSIVISTA: “Algo ou alguém que defende a inclusão, fala sobre a inclusão,

    escreve sobre inclusão. Exemplos de "algo": bandeira inclusivista, filme inclusivista,

    livro inclusivista, campanha inclusivista, lei inclusivista, tese inclusivista etc.

    Exemplos de "alguém": João é inclusivista, grupo de pessoas inclusivistas, professor

    inclusivista, jovens inclusivistas, família inclusivista etc.” (SASSAKI, 2012).

  • 18

    INCLUSIVO/INCLUSIVA: “Algo ou alguém que pratica a inclusão, age

    inclusivamente, tem procedimentos compatíveis com a filosofia da inclusão.

    Exemplos de "algo": sistema educacional inclusivo, escola inclusiva, empresa

    inclusiva, metodologia inclusiva, jogos recreativos inclusivos etc.

    Exemplos de "alguém": Maria é inclusiva, família inclusiva, grupo de pessoas

    inclusivas, amigos inclusivos etc. Algumas pessoas são inclusivistas e inclusivas

    ao mesmo tempo, ou seja, lutam pelo paradigma da inclusão e simultaneamente

    praticam os princípios da inclusão.” (SASSAKI, 2012).

    INDEPENDÊNCIA: “É a faculdade de decidir sem depender de outras pessoas, tais

    como: membros da família, profissionais especializados ou professores.” (SASSAKI,

    2006, p.35)

    INTEGRAÇÃO SOCIAL/EDUCACIONAL: O processo de integração

    social/educacional consiste na inserção das pessoas com deficiência em contextos

    sociais/educacionais como resultado de um esforço unilateral dessas pessoas, ou

    seja, da demonstração de que são capazes de viver na e com a sociedade, de

    serem independentes e produtivas.

    INTERAÇÃO: A interação é uma cena que envolve dois ou mais indivíduos os quais

    exercem influência recíproca. (LAPLANE, 2000)

    INTERATIVIDADE: A interatividade é o salto teórico e metodológico da interação,

    situado no âmbito do ensino, e que é regulada de acordo com o conjunto de normas

    e regras as quais determinam dizeres e fazeres na estrutura de participação que

    preside a atividade conjunta de professor e alunos. (COLL, 2004).

    MODELOS DE COMPREENSÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA: Os modelos de

    interpretação sobre a existência e potencialidades das pessoas com deficiência são

    teorias surgidas, ao largo da história, para explicar a existência da deficiência e

    justificar os processos sociais decorrentes da manutenção de tais explicações que

    vão desde o entendimento de que a deficiência é um modo de a pessoa purgar suas

    falhas à interpretação mais atual que, sob a égide da inclusão, defende que a

    deficiência é uma característica da pessoa humana.

  • 19

    PESSOA COM DEFICIÊNCIA: “Pessoas com deficiência são aquelas que têm

    impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os

    quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e

    efetiva na sociedade em igualdades de condições com as demais pessoas.” (ONU,

    CONVENÇÃO SOBRE OS DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA, 2006;

    BRASIL, DECRETO LEGISLATIVO nº 186/08, DECRETO nº 6.949/09).

    PESSOA HUMANA: O termo pessoa humana é utilizado para conferir o atributo de

    pessoa a indivíduos que antes tinham socialmente negado o pertencimento ao

    gênero humano. (LIMA, 2006).

    PRECONCEITO: O preconceito é uma atitude negativa cujo poder e força advém do

    conjunto de ideias genéricas, pré-estabelecidas e mantidas na e pela sociedade, na

    dimensão dos afetos, contra a pessoa com deficiência.

    REPRESENTAÇÕES SOCIAIS: As Representações Sociais surgem no cotidiano e

    estão ligadas ao senso comum. Elas são sistemas de valores, crenças e práticas

    que se cristalizam em discursos, gestos e interações para cumprir a função de

    prescrever ou de tornar os eventos sociais e/ou a realidade em si convencional e

    compreensível. (MOSCOVICI, 1978; 2003). As representações sociais podem

    sustentar as contribuições do senso comum na manutenção das barreiras

    atitudinais, fazem isso quando estão esteadas em consensos negativos em relação

    às pessoas com deficiência e assumem a função de incitar e orientar atitudes frente

    a essas pessoas.

    TIPIFICAÇÃO: O processo de tipificação é constituído por esquemas em que as

    pessoas estabelecem a relação eu versus outros, e nessa construção perceptiva são

    instituídas as interações sociais, as atitudes e os comportamentos.

  • 20

    LISTA DE ILUSTRAÇÕES

    Mapa 1 - A difusão do trabalho: “Educação para Todos: a prática e o

    discurso”.........................................................................................................

    445

    Mapa 2- A difusão do trabalho: “Aluno portador de deficiência: problema

    médico-pedagógico ou conquista da cidadania? A Educação especial em

    Pernambuco” ................................................................................................

    448

    Mapa 3- A difusão do trabalho: “Ser diferente numa sociedade

    massificada – um estudo sobre a política de integração do portador de

    deficiência”....................................................................................................

    449

    Mapa 4- A difusão do trabalho: “Expressões e silêncios dos discursos

    cidadania-deficiência mental. Uma abordagem histórico-discursiva do

    Plano Estadual de Educação – PE – 1988/1991”.........................................

    450

    Mapa 5- A difusão do trabalho: “Quando as (in)certezas e as esperanças

    se (des)encontram: um estudo das representações sociais dos

    professores sobre educação especial na rede estadual de

    ensino”..........................................................................................................

    452

  • 21

    LISTA DE QUADROS

    QUADRO I- Temáticas abordadas nas dissertações produzidas no

    período de 1978 a 2002 no PPGE/UFPE..................................................

    347

    QUADRO II- Os autores mais lidos nas dissertações sobre educação

    especial, produzidas no período de 1978 a 2002 no PPGE/UFPE..........

    359

    QUADRO III - As obras mais referenciadas nas dissertações sobre

    educação especial, produzidas no período de 1978 a 2002 no

    PPGE/UFPE..............................................................................................

    362

    QUADRO IV – Nomenclaturas utilizadas nas dissertações para fazer

    referência à pessoa com deficiência........................................................

    369

    QUADRO V– Taxonomia das barreiras atitudinais .................................

    421

    QUADRO VI- Sumarização da trajetória das barreiras atitudinais nas

    dissertações de mestrado do PPGE/UFPE..............................................

    433

  • 22

    LISTA DE GRÁFICOS

    GRÁFICO I: Dissertações sobre temas diversos versus Dissertações

    sobre Educação Especial produzidas no PPGE/UFPE (1978 a 2011)........

    343

    GRÁFICO II- Percentual de estudiosos da inclusão presentes no

    referencial teórico das dissertações............................................................

    363

  • 23

    LISTA DE ABREVIAÇÕES E SIGLAS

    ABNT- Associação Brasileira de Normas Técnicas

    ABPEE -Associação Brasileira de Pesquisadores em Educação Especial

    AE- Aluno excepcional

    APAE- Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais

    CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

    CCSA/UFPE - Centro de Ciências Sociais Aplicadas/ Universidade Federal de

    Pernambuco

    CDPD- Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência

    CE- Centro de Educação

    CEI- Centro de Estudos Inclusivos

    CENESP- Centro Nacional de Educação Especial

    CNE- Conselho Nacional de Educação

    CPE- Classes de Projetos Especiais

    DIPE - Divisão de Programas Escolares

    DRE- Diretoria Regional de Ensino

    EAD- Educação à Distância

    E.E.- Educação Especial

    ECLAE – Encontro de Ciências da Linguagem

    FAINTVISA - Faculdades Integradas da Vitória de Santo Antão

    GRE Mata Centro – Gerência Regional de Educação da Mata Centro

    IES- Instituição de Ensino Superior

  • 24

    LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação

    MEC - Ministério da Educação e Cultura

    OIT - Organização Internacional do Trabalho

    ONU- Organização das Nações Unidas

    P.E.E - Plano Estadual de Educação

    PIC - Programa de Iniciação Científica

    PPGE- Programa de Pós-graduação em Educação

    PPGEEs – Programa de Pós-gradação em Educação Especial

    PPGs - Programas de Pós-graduação

    PUC-RS- Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul

    PUC-SP - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

    RBTV- Revista Brasileira de Tradução Visual

    SBPC- Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência

    SEESP – Secretaria de Educação Especial

    SENAC- Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial

    TA- Tecnologia Assistiva

    TDH- Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade

    TIC- Tecnologias de Informação e Comunicação

    UEPB - Universidade Estadual da Paraíba

    UFES – Universidade Federal do Espírito Santo

    UFJF- Universidade Federal de Juiz de Fora

    UFPE- Universidade Federal de Pernambuco

    UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro

  • 25

    UFRN- Universidade Federal do Rio Grande do Norte

    UFRPE- Universidade Federal Rural de Pernambuco

    UFSC- Universidade Federal de Santa Catarina

    UFSCar- Universidade Federal de São Carlos

    UFSM – Universidade Federal de Santa Maria

    UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação e a Cultura

    UNESP- Universidade Estadual Paulista

    UNICAMP- Universidade Estadual de Campinas

    UPE - Universidade de Pernambuco

    USP- Universidade de São Paulo

  • 26

    SUMÁRIO

    RESUMO

    ABSTRACT

    LISTA DE TERMOS DEFINICIONAIS

    LISTA DE ILUSTRAÇÕES

    LISTA DE QUADROS

    LISTA DE GRÁFICOS

    LISTA DE ABREVIAÇÕES E SIGLAS

    PROÊMIO- Apontamentos e memórias: quando a história individual

    se entretece com a coletiva e motiva o estudo sobre as barreiras

    atitudinais..................................................................................................

    33

    INTRODUÇÃO - O verbo tece as barreiras atitudinais ......................... 89

    Justificativa ................................................................................................ 95

    Objetivos..................................................................................................... 98

    Organização do trabalho............................................................................ 99

    CAPÍTULO 1: BARREIRA ATITUDINAL: gênese, conceituação e

    taxonomia.............................................................................................. ...

    101

    1- Atitudes diante das pessoas com deficiência: construindo a taxonomia

    108

    1.1- Componente cognitivo das atitudes............................................... 110

    1.2- Componente afetivo das atitudes...................................................

    111

    1.3- Componente comportamental das atitudes....................................

    113

    1.4- Preconceito..................................................................................... 118

  • 27

    1.5- Discriminação................................................................................

    119

    1.6- Taxonomia das barreiras atitudinais...............................................

    122

    1.6.1- Barreira Atitudinal de Substantivação.............................................. 123

    1.6.2 – Barreira Atitudinal de Adjetivação ou de Rotulação...................... 125

    1.6.3- Barreira Atitudinal de Propagação................................................... 126

    1.6.4- Barreira Atitudinal de Estereótipos................................................... 127

    1.6.5 – Barreira Atitudinal de Generalização............................................. 128

    1.6.6- Barreira Atitudinal de Padronização................................................. 129

    1.6.7- Barreira Atitudinal de Particularização............................................. 130

    1.6.8- Barreira Atitudinal de Rejeição........................................................ 131

    1.6.9- Barreira Atitudinal de Negação........................................................ 132

    1.6.10- Barreira Atitudinal de Ignorância................................................... 133

    1.6.11- Barreira Atitudinal de Medo............................................................ 134

    1.6.12- Barreira Atitudinal de Baixa Expectativa ou de Subestimação..... 134

    1.6.13- Barreira Atitudinal de Inferiorização da deficiência....................... 135

    1.6.14- Barreira Atitudinal de Menos Valia................................................ 136

    1.6.15 - Barreira Atitudinal de Adoração do Herói ou de Superestimação. 136

    1.6.16- Barreira Atitudinal de Exaltação do Modelo................................... 138

    1.6.17- Barreira Atitudinal de Compensação............................................. 138

    1.6.18 – Barreira Atitudinal de Dó ou de Pena.......................................... 139

    1.6.19- Barreira Atitudinal de Superproteção ........................................... 139

    CAPÍTULO 2: A eliminação das barreiras atitudinais: contribuições

    do discurso da legislação......................................................................

    141

    2.1- A erradicação de barreiras atitudinais através do fortalecimento do

    marco legal: análise de documentos internacionais.................................

    143

  • 28

    2.1.1- Declaração Universal dos Direitos Humanos (ONU, 1948) ............ 145

    2.1.2- Declaração Universal dos Direitos da Criança (UNICEF - 20 de

    novembro de 1959)....................................................................................

    146

    2.1.3 - Convenção relativa à Luta contra a Discriminação no campo do

    Ensino (UNESCO, 1960) .........................................................................

    149

    2.1.4- Declaração dos Direitos das Pessoas Deficientes (1975).............. 150

    2.1.5 - Declaração de Sundberg (UNESCO, 1981) .................................. 152

    2.1.6 - Convenção dos Direitos das Crianças (ONU,1989) .................... 157

    2.1.7 - Declaração Mundial sobre Educação para Todos ( ONU,1990)..... 159

    2.1.8- A Declaração de Salamanca (UNESCO, 1994) ............................ 163

    2.1.9- Declaração de Washington (ONU, 1999) ...................................... . 166

    2.1.10 - Convenção Interamericana para eliminação de todas as formas

    de discriminação contra os portadores de deficiência (1999) .................

    168

    2.1.11 - Declaração de Dakar (2000) ...................................................... 169

    2.1.12-- Declaração de Madri (2002) ...................................................... 171

    2.1.13- Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência

    (doravante CDPD) e seu Protocolo Facultativo (ONU, 2006)...................

    174

    2.2- A erradicação de barreiras atitudinais através do fortalecimento do

    marco legal: análise de documentos nacionais........................................

    179

    2.2.1- Lei nº 4024/61 .............................................................................. 181

    2.2.2 - Lei nº 5.692 / 71............................................................................. 184

    2.2.3- Constituição Federal (1988) ........................................................... 185

    2.2.4- Lei 7853/89 .................................................................................... 186

    2.2.5- Estatuto da Criança e do Adolescente (13 de julho de 1990) ........ 187

    2.2.6- Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (20 de dezembro

    de 1996)....................................................................................................

    188

    2.2.7 - Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação

    Básica - CNE / CEB Nº 17/2001 ...............................................................

    190

    2.2.8-. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva

    daEducação Inclusiva (MEC/SEESP / Portaria nº948/2007)....................

  • 29

    192

    2.2.9-. Decreto nº 186/2008 .................................................................... 194

    CAPÍTULO 3: A pesquisa sobre Educação da pessoa com

    deficiência: contextualizando a produção científica no PPGE/ UFPE.

    197

    3.1- A pesquisa sobre as pesquisas no contexto nacional ............................. 201

    3.2 - A pesquisa sobre Educação Especial/Educação Inclusiva no

    Brasil..........................................................................................................

    208

    3.3- A pesquisa sobre as pesquisas no PPGE/UFPE............................... 212

    3.4- A pesquisa sobre as pesquisas em Educação Especial/ Educação

    Inclusiva no PPGE/UFPE..........................................................................

    213

    3.5- A pesquisa sobre Educação Especial/ Educação Inclusiva no

    PPGE/UFPE...............................................................................................

    214

    CAPÍTULO 4: Análise do discurso: um suporte para o estudo das

    barreiras atitudinais ................................................................................

    216

    4.1- Análise do discurso: origem e filiações teóricas ............................... 217

    4.2- Algumas conceituações basilares a análise do discurso .................. 220

    4.2.1- Linguagem e língua ........................................................................ 220

    4.2.2- Discurso e texto.............................................................................. 220

    4.2.3- Formação discursiva....................................................................... 221

    4.2.4- Condições de produção, interdiscurso e intertexto......................... 222

    4.2.5- Sentido, silêncio, sujeito e ideologia .............................................. 223

    4.3- Discurso, poder e constituição de identidade.................................... 224

    4.4- A análise do discurso como base para o estudo das barreiras atitudinais e as barreiras atitudinais como ferramenta para a análise do discurso.....................................................................................................

    229

  • 30

    CAPÍTULO 5: Percurso metodológico ................................................... 234

    5.1- Caracterização da Pesquisa ............................................................. 237

    5.1.1- Caracterização da pesquisa quanto à natureza das fontes

    utilizadas ..................................................................................................

    237

    5.1.2- Caracterização da pesquisa quanto aos objetivos......................... 238

    5.2- Corpus discursivo ............................................................................ 239

    5.3- Técnicas de Coleta de dados ........................................................... 239

    5.3.1- Observação indireta ....................................................................... 240

    5.3.2- Análise documental ...................................................................... 241

    5.4- Procedimentos de análise dos dados ............................................... 243

    CAPÍTULO 6: O itinerário das barreiras atitudinais: um registro nas

    dissertações do PPGE/UFPE .................................................................

    246

    6.1- Educação Especial: objetivos, área de concentração e linhas de

    pesquisa no PPGE/UFPE .........................................................................

    327

    6.1.1- Os objetivos do PPGE/UFPE: qual o lugar da pesquisa voltada à

    educação para todos?..............................................................................

    328

    6.1.2- Área de concentração e linhas de pesquisa no PPGE/UFPE: qual

    o lugar da pesquisa voltada a educação para todos? ...........................

    331

    6.2- As dissertações de mestrado do PPGE/UFPE: análise dos temas e

    dos títulos das pesquisas ........................................................................

    345

    6.3- As dissertações de mestrado do PPGE/UFPE: análise do

    referencial teórico utilizado de 1978 a 2002 ............................................

    357

    6.4- Designações utilizadas para fazer referência às pessoas com

    deficiência: o que revelam as substantivações e adjetivações registradas

    nas dissertações? ....................................................................................

    367

  • 31

    CONSIDERAÇÕES FINAIS - A trajetória somos nós mesmos ............

    417

    REFERÊNCIAS ........................................................................................

    462

    APÊNDICE A –

    CD contendo textos veiculados na internet, os quais estão presentes no

    referencial teórico desta dissertação, e o trabalho em formato PDF .....

    499

    ANEXOS

    A- Portfólio de reunião presencial do Centro de Estudos Inclusivos

    em 02 de fevereiro de 2007.............................................................

    500

    B- Portfólio de reunião presencial do Centro de Estudos Inclusivos

    em 08 de fevereiro de 2007............................................................

    503

    C- Mensagem do professor Francisco Lima ao Centro de Estudos

    Inclusivos em 08 de fevereiro de 2012............................................

    510

    D- Entrevista com Gilberto Di Pierro (Giba), concedida a Revista

    Pais & Filhos, em janeiro de 2007.................................................

    515

    E- Seleção de mestrado 2009 - Inscrições indeferidas / PPGE-

    UFPE..............................................................................................

    522

    F- Fotografias da dissertação de mestrado de Freitas e Costa (1990) 523

    G- Listagem das dissertações defendidas no PPGE/UFPE

    (1978-2011).....................................................................................

    524

    H- Declaração do PPGE informando os editais de mestrado

    disponíveis para consulta................................................................

    590

    I- Resumo da dissertação “Educação para Todos: a prática e o

    discurso” (BACELAR, 1988)...........................................................

    591

  • 32

    J- Resumo da dissertação “Aluno portador de deficiência: problema

    médico-pedagógico ou conquista da cidadania? - A Educação

    especial em Pernambuco”. (ROSA,1990)......................................

    592

    K- Resumo da dissertação “Ser diferente numa sociedade

    massificada – um estudo sobre a política de integração do

    portador de deficiência” (NERY,1996)............................................

    593

    L- Resumo da dissertação “Expressões e silêncios dos discursos

    cidadania-deficiência mental. Uma abordagem histórico-

    discursiva do “Plano Estadual de Educação – PE – 1988/1991”

    (MOREIRA,1997)............................................................................

    594

    M- Resumo da dissertação “Quando as (in)certezas e as esperanças

    se (des)encontram: um estudo das representações sociais dos

    professores sobre educação especial na rede estadual de

    ensino” (BAZANTE, 2002).............................................................

    595

  • 33

    Proêmio Apontamentos e memórias: quando a história

    individual se entretece com a coletiva e

    motiva o estudo sobre as barreiras atitudinais

    “[...] E foi assim mesmo que Maria fez: de manhã

    cedinho saía de arco e flor pra passear. Desembarcava no

    andaime, pulava pro corredor comprido, às vezes abria uma

    porta só, às vezes duas ou três, variava o jeito de acostumar.

    E acostumou: o medo de abrir porta foi embora; até mesmo a

    porta cinzenta, até a porta vermelha! Escancarava todas elas,

    olhava cada canto, olhava tudo que tinha pra ver.

    Até que um dia, quando Maria ia andando pelo corredor,

    pensando “quem sabe no fim do ano eu arrumo de ir pra

    Bahia”, de repente, parou de olho arregalado: ué!! Que porta

    nova era aquela?

    Era uma porta diferente de tamanho e de feitio, diferente

    de pintura também: parecia que estavam experimentando a

    cor: tinha uma porção de pinceladas, cada uma de uma tinta.

    Maria abriu a porta bem de leve e bem devagar. Mas sem

    medo. [...]” (BOJUNGA, L. Corda bamba. 2009, p. 140).

    A nossa história individual é marcada por várias portas. Em algum momento

    da minha vida comecei a abrir ética, fraterna e cientificamente a porta de entrada

    para a construção da mentalidade inclusiva/inclusivista, para a prática de atitudes

    positivas diante da diversidade humana e para o contexto e tema desta pesquisa.

    Nestas páginas, cada pessoa que faz parte da minha história trouxe uma

    pincelada à porta que redescubro a cada nuança descortinada da inclusão

    social/educacional. Quando tive medo, nem sempre houve quem me mostrasse

    como andar na corda bamba.

    Este texto revela, pois, mais que o conteúdo a ser desvelado na abertura de

    cada porta que me constitui, é um caminho de registro de memória que reflete como

    esta pesquisa compõe a porta que estou por abrir: a da trajetória das barreiras

    atitudinais no discurso das pesquisas efetivadas no Programa de Pós-Graduação

    em Educação, da Universidade Federal de Pernambuco.

  • 34

    Neste caminhar, considero valiosas as palavras de Severino (2007, p.245):

    A história particular de cada um de nós se entretece numa história mais envolvente da nossa coletividade. É assim que é importante ressaltar as fontes e as marcas das influências sofridas, das trocas realizadas com outras pessoas ou com as situações culturais.

    Das palavras deste estudioso, traduzo que a experiência formativa e laboral

    do pesquisador também reflete os altos e baixos da história da comunidade humana,

    revela como nascem os nossos anseios laborais, nossa filosofia de vida, nossas

    atitudes e as situações-problemas que nos movem em busca das respostas

    científicas.

    A contingência deste proêmio

    Para este estudo, as dissertações de mestrado são compreendidas como

    veículos do discurso científico, os quais difundem conhecimentos históricos à

    respeito das pessoas com deficiência, apresentam, descrevem e/ou transformam

    experiências/vivências atuais dessas pessoas em conhecimento científico e

    constroem novos conhecimentos/entendimentos sobre essas pessoas e as questões

    que as envolvem.

    Nesse processo, os documentos dissertativos podem reproduzir/difundir

    barreiras atitudinais, removê-las e mesmo produzir novas barreiras. Como as teses e

    dissertações são, em si, os documentos que exprimem a construção de seus

    autores e estes são os que formam e são formados pela academia, são também

    produtores ou reprodutores dessas barreiras na medida em que são a ponte entre a

    universidade e a sociedade. Portanto, são, ao mesmo tempo, construtores e

    construídos por ambas.

    A fim de mostrar que neste processo também os pesquisadores das barreiras

    atitudinais estão envolvidos, que são formados e formandos daquele processo, no

    texto a seguir apresento minha trajetória, também como uma ilustração de que a

    universidade/ a sociedade que produz e reproduz barreiras atitudinais pode também

    removê-las e construir em seus membros um promotor de uma sociedade menos

    excludente e atenta para a remoção das barreiras atitudinais.

  • 35

    Assim a apresentação desta trajetória individual pretende mais do que ser um

    memorial de minha motivação, ser um retrato coletivo dos diversos eus da e na

    sociedade acadêmica ou não.

    Em outras palavras, em função do próprio tema desta dissertação, apresento

    aqui não apenas um currículo vitae narrativizado, na primeira pessoa do discurso,

    consoante as diretrizes fornecidas por Passergi (2008), mas a minha trajetória

    acadêmica sem, contudo, esmaecer o meu percurso existencial como um todo

    indivisível. Para elaborar este texto, levei em conta as condições, as situações e as

    contingências que envolveram o desenvolvimento dos meus trabalhos aqui

    expostos, resgatei apontamentos de aulas, e-mails enviados ou recebidos em

    ambiente formativo virtual, portfólios de reuniões presenciais em grupos de estudos,

    das aulas no curso de mestrado etc. Enfim, objetivei socializar a trajetória formativa

    que percorri antes e após ingressar no curso de pós-graduação do Centro de

    Educação da Universidade Federal de Pernambuco.

    No decorrer do texto, destaco os elementos correlacionados com o tema que

    tenho desenvolvido nos meus estudos no curso de mestrado. Além de considerar

    este espaço textual um trabalho autoavaliativo, acredito que ele será um instrumento

    confessional das minhas possibilidades e satisfação em concretizar mais esta etapa

    formativa.

    A pesquisa não é neutra, isolada em si própria, mas é também resultada

    daquilo que é o pesquisador, com seus olhares, sua ética, sua moral e seus desejos,

    apresento-me como a pesquisadora cuja história pregressa sustenta , constrói e

    direciona a minha leitura de mundo e, portanto, deste mundo que é a pesquisa. É

    daqui que venho e é por aqui que vou.

    Assim, socializo o percurso de construção de conceitos basilares da filosofia

    da inclusão, a consequente mudança na minha prática pedagógica, a socialização

    de saberes com professores em formação inicial e continuada. Transcrevo

    integralmente alguns e-mails, páginas de portfólios, cartas de intenção e registro de

    diálogos que sinalizam como as contribuições do Centro de Estudos Inclusivos

    (Doravante, CEI) foram relevantes no processo de constituição da pesquisadora, da

    educadora que tenho buscado ser a cada nova experiência formativa/laboral, pois

  • 36

    foram nas reuniões do CEI, que solidifiquei o desejo de continuar os estudos acerca

    da inclusão no curso de mestrado.

    Inicio, portanto, trazendo alguns retratos da minha trajetória no início da

    escolarização, das atividades formativas e laborais; prossigo, comentando o

    processo de compreensão dos constructos teóricos da educação inclusiva e da

    percepção/erradicação das barreiras atitudinais.

    1- Retratos da minha biografia

    Sou natural de Recife, capital de Pernambuco. Nasci nos anos 80. Sou a filha

    mais velha do casal Elizabete Tavares e Cid da Silva. Em 1987, recebi o maior

    presente que eles poderiam trazer-me: uma irmã, linda, morena, cabelos negros

    como a noite, Cinthia. Dezenove anos depois, meus pais adotaram Josinaldo, é o

    irmão que qualquer pessoa gostaria de ter.

    Meu pai era operário e tinha uma árdua jornada de trabalho noturna. Durante

    o dia, enquanto ele dormia, precisávamos permanecer em silêncio, escrevendo

    palavras no ar. Minha mãe, muito jovem, parecia embalar as bonecas de porcelana.

    Cinthia e eu iniciamos a vida estudantil em duas escolas: uma particular e uma

    pública. Gostávamos dos espaços, apenas achávamos estranha a palmatória,

    apesar de ela nunca ter nos maculado as mãos.

    Veio uma fase mais tranquila, agora já na cidade de Vitória de Santo Antão.

    Estudei durante sete anos na escola estadual Polivalente José Joaquim da Silva

    Filho. Nesta escola, tínhamos uma avaliação bem meritocrática, com premiações

    para os alunos que se destacavam.

    Hoje, percebo o quanto aquela dinâmica formativa nutria barreiras atitudinais

    de substantivação, de adjetivação, de baixa expectativa, de inferiorização e de

    menos valia, pois muitos colegas sofriam os resultados da chancela da

    incapacidade, estavam no processo e eram produto do fracasso escolar. Salas

    lotadas e filas crescentes de alunos negros ou com deficiência ou residentes na

    zona rural e falantes de variações desprestigiadas , entre outros, estavam na

    centralidade desse processo de rejeição da escola.

  • 37

    Nessa época, entre as letras da ciência eu sempre estava fincada, estudando

    nos cantinhos da escola e nos esconderijos da minha casa. Recebia medalhas todo

    fim de ano. Já na 5ª série, quando os professores precisavam se ausentar da sala

    ou faltar pediam que eu “passasse” o conteúdo para a turma e o mais estranho é

    que meus colegas paravam para ouvir e diziam aprender, diziam que eu explicava

    de um jeito fácil. Esses episódios, para mim prenhes de sentido, nada mais eram

    que o que Coll et. al. (1995) chamam de tutoria (1995).

    Nesse período, fiz da casa dos meus bisavós, Regina e Severino, uma

    escola. A criançada ia entrando escondidinho e de repente a casa adormecida já

    estava cheia de vida. Imaginem quem era a professora! A docência sempre esteve

    entranhada em minha hipoderme. Essa vivência me faz concordar plenamente com

    o Tardif (2006) quando ele afirma que o professor é o único profissional que vive

    mergulhado em seu ambiente de trabalho antes de se fazer profissional da

    educação. Vivi este processo.

    Quando conclui a 8ª série, a diretora da escola, Vera Marinho, e o professor

    de matemática, Neildo, buscaram oportunizar-me o ingresso em uma escola

    particular de status na cidade. Para que as coisas fossem justas, eles disseram que

    compararam as médias dos alunos que cursavam a 8ª série em 1994, verificando os

    primeiros lugares por sala, por turno e procuraram verificar que aluno atingira as

    mais altas médias das 11 turmas.

    Na festividade de conclusão desta etapa escolar, tive uma enorme surpresa:

    fui convidada a ir para uma nova escola. Recebi coleções de livros de literatura,

    materiais escolares, palavras-diamante e os olhares ternos, cúmplices e

    emocionados da minha família.

    Agora, numa escola particular onde a etiqueta da indumentária era o

    passaporte para a interação eu não tinha quase amigos. Até que saíram os

    resultados dos primeiros exames. Lá era bem acirrada a busca pelo primeiro lugar

    por unidade de trabalho. O destaque para o teatro, para a matemática, a física e a

    química e as letras continuava sendo atribuído ao meu desempenho. Ministrei aulas

    particulares aos colegas, comecei a trabalhar na escola aos domingos. Depois,

    decidi cursar o magistério.

  • 38

    No curso de magistério, encontrei a arte da Pedagogia. Conheci o professor e

    artista plástico João Francisco, pessoa sensível, grande companheiro, com quem

    me casei anos depois.

    Minha dedicação à ciência despertou a atenção de professores e da gestão

    da Escola de Magistério. Eles começaram a me indicar para trabalhar em algumas

    escolas, mas eu tinha apenas dezesseis anos, ninguém podia me aceitar. Aos

    dezessete, com o ensino médio concluído, comecei a trabalhar na escola Estação

    Contato. Foram quatro anos de dedicação e muito trabalho. Eu compunha paródias

    para as festividades, trabalhava com teatro, construía grandes painéis, montava

    coreografias, revisitava o plano de ensino de outras professoras. Era trabalho

    intenso. A escola teve seus momentos de grande reconhecimento social e eu me

    sentia realizada. Mas comecei a desejar outros espaços, outros desafios, outros

    ares, abriram-se outras portas. Comecei a trabalhar em outras escolas, mesmo sem

    licenciatura, era muito fácil conseguir inserção no mercado de trabalho: lecionei

    história, geografia, matemática, português, literatura, artes. Resolvi aterrissar.

    Comecei o curso de licenciatura em Letras, precisava escolher um caminho.

    Continuei lecionando durante o dia e estudando a noite.

    2- A graduação, o ingresso na pesquisa acadêmica e a atuação na

    formação de professores

    O percurso inicial da minha atuação pedagógica, marcado pela confusão a

    que outros docentes mais desmotivados provocava, hoje me faz relembrar do

    que Tardif (2006, p. 103) explica sobre a configuração de saberes docentes:

    [...] um professor ‘não pensa somente com a cabeça’, mas ‘com a vida’, com o que foi, com o que viveu, em termos de lastro de certezas. Em suma, ele pensa a partir de sua historia de vida não somente intelectual, no sentido rigoroso do termo, mas também emocional, afetiva, pessoal e interpessoal.

    Na graduação, encontrei os constructos que me ajudaram a pensar a sala de

    aula como espaço onde a história emocional, afetiva, pessoal e interpessoal dos

    alunos emergia nos momentos em que os conteúdos conceituais eram os mais

    trabalhados.

  • 39

    Nas Faculdades Integradas da Vitória de Santo Antão, no primeiro período

    do curso de licenciatura em Letras, encontrei a professora Gilberlande Pereira,

    pessoa que investiu atenção para orientar meus primeiros passos na pesquisa

    acadêmica. Sob a cuidadosa orientação dela comecei a fazer parte do Programa de

    Iniciação Científica (PIC – FAINTVISA), a trabalhar como monitora na faculdade, a

    desenvolver, junto a minha grande amiga-irmã Alexsandra Karla, o projeto: “Estudo

    da ambiguidade discursiva em textos publicitários nacionais”. Fui simplesmente

    enlaçada pela linguística, foi paixão a primeira leitura nesse campo de estudos. Até

    esqueci a minha obsessão pela matemática, física e química.

    Gil, carinhosa e firme, orientou Alê e eu a participarmos do II ECLAE –

    Encontro de Ciências da Linguagem (2003), em João Pessoa/PB. Inscrevemos,

    então, o trabalho “Estratégias de Leitura e Produção Textual: o caso da ambiguidade

    discursiva em textos publicitários nacionais”. Nessa comunicação oral

    apresentamos uma análise parcial dos resultados obtidos na pesquisa efetivada no

    PIC.

    A experiência no II ECLAE foi ímpar: primeiro congresso, primeira pesquisa,

    primeiro contato com renomados pesquisadores na área da linguagem e o incentivo

    de outros tantos estudiosos que assistiram/participaram das apresentações trazendo

    contribuições.

    O olhar cúmplice da minha querida orientadora, minha mãe científica, como

    ela costuma se nominar, foi a maior energia que precisei para seguir com

    determinação. A sistematização, a agudez no olhar, o estudo do discurso por traz

    do discurso, o fascínio pela língua e pela linguística foram, através do

    direcionamento de Gilberlande, cristalizando-se em procedimentos de estudo e de

    pesquisa.

    Esses primeiros trabalhos foram crisálidas que cresceram e desabrocharam

    ao longo do curso de Letras e das atividades formativas e laborais que ocorreram

    concomitantes. Cheguei ao 2º período do curso, fascinada pela leitura, pela

    linguística e desafiada pelo latim, pela teoria da literatura; entre as reticências de

    Clarice Lispector, sob as diretrizes da inesquecível Jacineide Travassos, estive

    emaranhada na teoria da literatura, de tal sorte que os trabalhos que eu

    apresentara eram prestigiados por alunos que já estavam em períodos mais

    avançados.

  • 40

    Num desses seminários, conheci o amigo Alberto, ele dizia que admirava a

    arte da palavra e da simplicidade. Beto e eu passamos a discutir e a produzir

    literatura, fazíamos viagens no tempo, nas artes, nas letras. A escrita era uma

    prática necessária, inquietante, jorrava entre os meus dedos, por entre os meus

    poros. Eu nem imaginara que alguns anos depois, estaria naquela mesma sala

    orientando alunos do curso de licenciatura em Letras a perceberem a natureza

    insubordinada das palavras.

    Chegando ao 2º ano do curso, conheci Hugo Monteiro. Ele trouxe não

    apenas uma perspectiva ampla do entendimento do que é a leitura, a escritura, a

    literatura, mas do que é a pessoa humana que produz e é produzida na e pela

    linguagem. Hugo, após algumas aulas, chamou-me para trabalhar num projeto

    com formação docente.

    Novamente eu estava de frente a uma nova porta, um convite para trabalhar

    com uma das pessoas que mais admiro, era muita responsabilidade. Pensei:

    trabalhar com formação docente, como? Eu ainda estou na graduação. E a escola?

    Tive receio de não conseguir. A timidez era grande. Mas aceitei o convite

    para trabalhar num projeto de leiturização, no município do Cabo de Santo

    Agostinho. Hugo foi meu professor, é meu amigo, desde que o conheci tenho aberto

    portas a partir dos ensinamentos que ele me traz.

    Hugo organizou um grupo de estudos, Neelij – Núcleo de Estudos da Leitura

    e da Literatura Infanto-Juvenil, no qual participavam Palove, Poliane, Mariano, eu e

    vez ou outra algum convidado. Esse grupo de inesquecíveis amigos e de

    profissionais sérios também trabalhava no projeto de leiturização. Primeiro,

    participamos do projeto assessorando o Hugo nas ações que ele elaborava e

    efetivava para os momentos de formação continuada dos professores das quatro

    regionais do Cabo de Santo Agostinho. Depois, sob as orientações dele,

    começamos a visitar as escolas e a efetivar os encontros.

    Nas reuniões do Neelij conheci a transdisciplinaridade, a ludicidade, a

    criticidade, a fases e faces da literatura infanto-juvenil. Registrava as aprendizagens,

    as questões, as reflexões num caderno verde. Hugo sempre nos ouvia com atenção,

    tínhamos liberdade para criar, construir, partilhar; abraçamos a meta de ler o maior

    número possível de livros literários por semana e de pensar caminhos, a partir da

    literatura infanto-juvenil, para auxiliar as professoras a utilizar os constructos teóricos

    das estratégias de leitura, da teoria do scaffolding (GRAVES & GRAVES, 1995;

  • 41

    SOLÉ, 1998), da transdisciplinaridade na elaboração de planos de trabalho que

    primavam pela leiturização dos alunos.

    Nos encontros com professores inseridos no projeto de leiturização, trazia a

    minha prática pedagógica para exemplificar o que dizia a teoria. Muitos professores

    abraçaram o projeto, demonstravam interesse, compromisso, responsabilidade,

    criatividade, desejo de aprender e traziam suas frustrações, diziam-se sozinhos.

    Como frutos desse trabalho, tínhamos professores engajados no objetivo de

    possibilitar a alfabetização e o letramento dos alunos através da arte da palavra, a

    literatura. Para socializar os tantos projetos e sessões de leitura efetivados pelos

    professores, Hugo, a secretaria de Educação do Cabo e a ONG PLAN Internacional

    do Brasil organizaram o 1º Simpósio sobre Educação e Leitura no município do

    Cabo de Santo Agostinho, no período de 03 a 07 de novembro de 2003.

    Naquela ocasião, participei pela primeira vez de uma mesa de debates, fazia

    aquela expressão de que estava tudo no mais absoluto controle, mas a timidez dos

    primeiros cinco segundos e o desejo de dizer tudo que eu vivera na efetivação do

    projeto me faziam transpirar. Abordei o tema “Poesia para crianças: o brincar com

    a linguagem”. Nesse evento conheci as autoras Eliana Yunes e Lenice Gomes.

    Lembro-me da Eliana afirmando que “só aprendemos as coisas que são filtradas

    pelo coração, aprendemos DE COR aquilo que nos toca a alma”. Lenice, por sua

    vez, fisgava a atenção de todos com uma contação de histórias e me despertou o

    desejo de também tomar a palavra e espalhar histórias no ar.

    Nesse mesmo período, a FAINTVISA organizava a 1ª Semana de Estudos

    Integrados (18 a 21 de novembro de 2003), eu participei apresentando trabalhos na

    modalidade de comunicação individual, com o tema “Poesia para Crianças - um

    diálogo entre a teoria e a prática” e na modalidade de comunicação coordenada,

    com o trabalho “O texto Publicitário nacional – Uma análise das ambiguidades”. A

    professora Gilberlande Pereira tinha assumido a coordenação do curso de Letras.

    Na faculdade, Hugo, Gil, Maria Lúcia, Jacineide, Zezinha, Verônica Campos

    começaram a me incentivar a começar a estudar para fazer o curso de mestrado.

    Uma confusão: cada um me estimulava a seguir uma área: Linguística, Teoria

    Literária, Educação.

  • 42

    Maria Lúcia começou a me acompanhar, solicitando atividades extras de

    leitura, fichamentos e a construção de um possível objeto de pesquisa. Malu e eu

    nos tornamos amigas-irmãs.

    O ano de 2004 foi então um ano de muitas mudanças: eu comecei a trabalhar

    na escola Recanto, em Recife, continuava no projeto de leiturização, era monitora da

    disciplina “Leitura e Produção Textual”, ministrada por Hugo, participava no Neelij,

    do PIC - FAINTVISA como monitora da professora Gilberlande. Doação de mente,

    de corpo e de espírito às atividades formativas e laborais.

    Na Escola Recanto comecei a trabalhar em salas regulares, experienciava

    toda a liberdade de conduzir o trabalho pedagógico consoante as diretrizes da

    pedagogia freinetiana. Foram quatro inesquecíveis anos de trabalho, interrompidos

    quando ingressei como professora na escola pública, período em que já tinha sofrido

    o processo de desconstrução proposto pela filosofia da inclusão. Eu vivia o conflito

    de quem estava aprendendo a ver, a vivenciar o difícil processo da auto e da hetero-

    avaliação de atitudes.

    3- O dia em que o dardo da zarabatana inclusivista me atingiu

    Em agosto de 2004, fui convidada a começar a trabalhar em salas especiais

    numa escola particular. Fiquei tão embaraçada. Por onde começar? Fui à biblioteca

    da faculdade FAINTVISA, pedi autorização para levar alguns livros para casa, no

    acervo Cesar Coll et. al. (1995), Julie Dockrell e John McShane (2000). Li tudo o que

    eu podia sobre deficiência. Decidi que trabalharia apenas com sessões de leitura e

    verificaria o que os alunos conseguiam construir a partir de textos literários.

    Ao chegar à escola, na segunda-feira pela manhã, afirmei:

    - Pronto! Após as aulas do turno da manhã, mostro para vocês o que planejei para esta primeira semana de aulas na CPE. Li muito sobre deficiência; síndrome de down, autismo e outras. Também li sobre dificuldades de aprendizagem. - Fabiana, você só precisa compreender seus alunos, como pessoas que estão aqui para aprender, construir conhecimento. Você vai ver. Você vai gostar. Não fique aflita. Nós temos certeza que dará certo. Na verdade o que você precisa é conhecer bem a sua disciplina, os conteúdos e você, sensível como é, saberá como agir.

  • 43

    Tudo parecia perfeito. Os alunos integrados, alguns já inseridos nas salas

    regulares. Eu achava que Freinet estava feliz e eu tranquila. Os alunos foram me

    ajudando a delinear os caminhos formativos. A maioria das famílias eram parceiras

    no processo e a escola me deixava autônoma para caminhar com o grupo.

    No dia 1º de junho de 2005, Tiago Vinícius, meu filho, nasceu, eu estava

    plenamente vivendo o mais encantador, mágico, abençoado, singular momento da

    minha existência. Já não tinha mais condições de trabalhar no município do Cabo.

    O Neelij cessou as reuniões. Eu havia concluído a graduação. E assim que meu

    bebê completou um ano ingressei na pós-graduação lato sensu em Literatura

    Infanto-Juvenil, na Faculdade Frassinetti do Recife, esse era o caminho sugerido por

    Hugo, era um caminho que aguçava a minha sensibilidade, o meu desejo de me

    emaranhar por entre as letras e descobrir o porquê de elas encantarem o Tiago, os

    meus alunos e a mim. Eu estava agora entrando num corredor com muitas portas.

    No dia 30/08/2005, às 10h da manhã, a convite do professor Hugo Monteiro,

    meu orientador e amigo, estive no Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem

    Comercial) do Recife para ministrar uma palestra. Aquela experiência

    desestruturou as bases das minhas certezas. Senti-me como que atingida pelo

    dardo de uma zarabatana, meio atordoada, respondi às perguntas feitas pela Lívia,

    mas as respostas já não me convenciam. Passei dias reprisando aquelas perguntas.

    As capacitações promovidas pela escola não as respondiam. Eu estava desconfiada

    dos efeitos do meu trabalho. Transcrevo, na íntegra, parte da palestra. Hoje consigo

    perceber como, através do discurso, difundi e vivifiquei barreiras atitudinais que

    justificavam a existência de salas especiais:

    - [...] Propomos a discussão sobre o que é avaliação, como avaliar, o que avaliar, qual a função da avaliação e para atingir, mesmo que de modo sucinto tais questões, comentaremos um projeto que está sendo vivenciado nas classes de projetos especiais. Estas classes são constituídas apenas por alunos especiais, as metodologias empreendidas neste processo ancoram-se na pedagogia freinetiana. Então, o projeto “Portfólio: avaliação por meio de múltiplas lentes” tem promovido a interface entre avaliação e aprendizagem tanto para nós, professores, quanto para os alunos especiais, pois neste processo o portfólio, em formato de diário dialogado, tem servido para promover a aprendizagem desses alunos e sinalizam para o professor se o percurso metodológico tem sido satisfatório, se tem oportunizado a construção de aprendizagens. [...] - Mas, professora, desculpe-me! Bom dia, sou Lívia Guedes, supervisora do Senac, preciso fazer-lhe uma pergunta: a senhora fala da perspectiva da

  • 44

    educação especial ou da educação inclusiva? Quais são os fundamentos que norteiam o trabalho com estes alunos? Como e por que eles são agrupados em classes especiais? - Bem, a escola, como lhes disse, propõe que efetivemos um trabalho baseado nos princípios da escola nova, especificamente na teoria de Celestin Freinet. Então, ao nível das posturas pedagógicas, o movimento Freinetiano considera os alunos como sujeitos, todos diferentes, e não apenas como alunos passíveis de um tratamento uniforme. Assim, quando um aluno está em dificuldade, o professor deve tratar a dificuldade pela diferenciação do ensino, antes de qualquer pedido de intervenção da rede de ajuda (psicóloga, etc.). A escola oferece este trabalho desde 1996. É uma proposta denominada Classes de Projetos Especiais (CPE), a qual busca propiciar as condições adequadas para que o fazer pedagógico favoreça o desenvolvimento potencial de cada aluno na perspectiva de sua interação com a sociedade, da historicidade destes alunos, dos temas pelos quais eles se interessam, das ha