149
Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração – CPPA Mestrado Profissional em Gestão Empresarial - MPGE Sammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção e comercialização da Arte Figurativa do Mestre Vitalino: um estudo etnográfico sobre artesãos do Alto do Moura em Caruaru-PE Recife, 2015

Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

  • Upload
    vannhu

  • View
    217

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil

Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração – CPPA

Mestrado Profissional em Gestão Empresarial - MPGE

Sammara de Lima Cordeiro

Sentimentos e significados do processo de produção e comercialização da Arte Figurativa do Mestre Vitalino: um estudo etnográfico sobre artesãos do Alto do Moura

em Caruaru-PE

Recife, 2015

Page 2: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil

Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração – CPPA

Mestrado Profissional em Gestão Empresarial - MPGE

CLASSIFICAÇÃO DE ACESSO A DISSERTAÇÕES

Considerando a natureza das informações e compromissos assumidos com suas fontes, o acesso a monografias do Mestrado de Administração do Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração da Faculdade Boa Viagem é definido em três graus:

- "Grau 1": livre (sem prejuízo das referências ordinárias em citações diretas e indiretas);

- "Grau 2": com vedação a cópias, no todo ou em parte, sendo, em consequência, restrita a consulta em ambientes de biblioteca com saída controlada;

- "Grau 3": apenas com autorização expressa do autor, por escrito, devendo, por isso, o texto, se confiado a bibliotecas que assegurem a restrição, ser mantido em local sob chave ou custódia.

A classificação desta dissertação se encontra, abaixo, definida por seu autor.

Solicita-se aos depositários e usuários sua fiel observância, a fim de que se preservem as condições éticas e operacionais da pesquisa científica na área de Administração.

Título da dissertação: Sentimentos e significados do processo de produção e comercialização da Arte Figurativa do Mestre Vitalino: um estudo etnográfico sobre artesãos do Alto do Moura em Caruaru-PE

Autora: Sammara de Lima Cordeiro

Data da aprovação: 18/06/2015

Classificação, conforme especificação acima:

Grau 1

Grau 2

Grau 3

Recife, 18 de Junho de 2015

Sammara de Lima Cordeiro

X

Page 3: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

Sammara de Lima Cordeiro

Sentimentos e significados do processo de produção e comercialização da Arte Figurativa do Mestre Vitalino: um estudo etnográfico sobre artesãos do Alto do Moura

em Caruaru-PE

Dissertação apresentada como requisito complementar para obtenção do grau de Mestre em Gestão Empresarial do Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração – CPPA da Faculdade Boa Viagem - DeVry Brasil, sob a orientação da Profa. Dra. Maria Auxiliadora Diniz de Sá.

Recife, 2015

Page 4: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

Catalogação na fonte -

Biblioteca da Faculdade Boa Viagem - DeVry, Recife/PE

C794a Cordeiro, Sammara de Lima. Sentimentos e significados do processo de produção e comercialização da arte figurativa do Mestre Vitalino: um estudo etnográfico sobre artesãos do Alto do Moura em Caruaru - PE / Sammara de Lima Cordeiro – Recife: FBV | DeVry, 2015. 147 f. : il.

Orientador(a): Maria Auxiliadora Diniz De Sá.

Dissertação (Mestrado) Gestão Empresarial -- Faculdade Boa Viagem | Devry. Inclui apêndice.

1.Arte figurativa. 2. Mestre Vitalino. 3. Cultura popular. I.

Título. DISS 658[15.2]

Ficha catalográfica elaborada pelo setor de processamento técnico da Biblioteca da FBV | DeVry

Page 5: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil

Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração – CPPA

Mestrado Profissional em Gestão Empresarial – MPGE

Sentimentos e Significados do Processo de Produção e Comercialização da Arte Figurativa do Mestre Vitalino: Um Estudo Etnográfico sobre Artesãos do Alto do

Moura em Caruaru-PE

Sammara de Lima Cordeiro

Dissertação submetida ao corpo docente do Mestrado Profissional em Gestão Empresarial do Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração – CPPA da Faculdade Boa Viagem –

DeVry Brasil e aprovada em 18 de Junho de 2015.

Banca Examinadora:

__________________________________________________________________________________ Maria Auxiliadora Diniz de Sá, Doutora, Faculdade Boa Viagem – FBV (Orientadora). __________________________________________________________________________________ Luís Carvalheira de Mendonça, Doutor, Universidade Católica de Pernambuco (Examinador Externo). __________________________________________________________________________________ Lúcia Maria Barbosa de Oliveira, Ph.D., Faculdade Boa Viagem – FBV (Examinadora Interno).

Page 6: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

Aos que dominam a arte de fazer bonecos, aos artesãos do Alto do Moura que, por suas mãos, expressam a poesia, a beleza da arte, a essência da vida e sua paixão através da simplicidade do barro. Transformando sua narrativa de vida a expressão mais singela do seu povo.

Dedico

Page 7: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

AGRADECIMENTOS

À minha orientadora, Professora Maria Auxiliadora Diniz de Sá, sensível, ética e apaixonada por sua profissão, que me ensinou e orientou com suas correções e sabedoria. Por seu direcionamento, por não tolher, em momento algum, minha liberdade de pensamento. Pessoa a quem devo todo o apoio para a conclusão desse trabalho.

À Professora Lúcia Maria Barbosa de Oliveira e ao Professor Luís Carvalheira de Mendonça por compartilharem experiências, apontando novos rumos para esta pesquisa.

Ao meu esposo Josimar Farias Cordeiro, amigo de todas as horas, obrigada pelo respeito, pela atenção e pelo amor. Obrigada por estar sempre ao meu lado, me indicando o melhor caminho e apoiando-me na busca dos meus sonhos.

Aos meus filhos, Ana Luiza Cordeiro Ramos, Sammir Farias de Lima Cordeiro e Sammia Maria Farias de Lima Cordeiro, por serem filhos maravilhosos, compartilhando comigo todas as dificuldades, as ausências e carências; obrigada, Deus, pelo presente que me deste nessa vida: meus FILHOS.

Aos meus pais, Tiago Cordeiro de Melo e Maria Eliete de Lima Cordeiro, pelos valores inseridos em minha essência, pelos ensinamentos de toda uma vida.

Aos meus irmãos Sheilla Cordeiro Mota, Allan Jorge de Lima Cordeiro e Nayara de Lima Cordeiro, que sempre estiveram ao meu lado; em especial, Sheilla, por suas orientações sobre o mundo acadêmico e sobre a vida.

À minha cunhada linda Joana Darc Costa Cordeiro, pessoa linda que amo como irmã, possuidora de valores únicos.

À minha concunhada Amanda Freitas Basílio que me recebeu em sua casa todos os finais de semana, por meses, sempre me aguardando com palavras de carinho e sincera amizade; e à Joyce, sobrinha linda que fazia um cuscuz delicioso para a tia.

Aos meus sobrinhos(as) Sofia, Katharina, Joyce, Julia, Laura, Arthur, Otávio e Guilherme, pelo carinho que sempre demonstram.

À Valdenice Maria da Silva, minha ajudante fiel, cujo trabalho competente, amor e respeito aos meus filhos me fizeram conseguir chegar à conclusão dessa trajetória.

Às amigas Kilma Galindo, Julia, Luciana e Patrícia Lapa pela diversão, pelas conversas na estrada, pelas risadas que transformavam os momentos de dificuldades em horas de lazer. Obrigada pela presença constante.

Aos meus alunos pela inspiração, pelo respeito e estimulo na concretização desse sonho.

Page 8: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

Aos artesãos do Alto do Moura, em especial à família de Zé Caboclo, meus sinceros agradecimentos e respeito, pois, sem eles, esse trabalho seria apenas um sonho e não uma realização.

Page 9: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

"Era mais importante que eu aprendesse a usar as minhas mãos do que a minha cabeça. Na minha terra, as mãos produzem comida, a cabeça só produz confusão”.

Mestre Vitalino

Page 10: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

RESUMO

O artesanato é uma prática que pode ser observada sob o ponto de vista histórico, econômico,

social e cultural. Seu desenvolvimento se traduz como fonte de riqueza e renda, além do

expressivo valor cultural que dele surge. O artesanato, sob o ponto de vista da Arte Figurativa

do Mestre Vitalino, assume uma nova conjuntura, atrelando em seu arcabouço, valores,

sentimentos e significados inerentes a esse tipo de arte. Neste sentido, este trabalho foi

realizado com o objetivo de verificar quais sentimentos e significados são percebidos por

artesãos do Alto do Moura, em Caruaru-PE, no processo de produção e comercialização da

Arte Figurativa do Mestre Vitalino. Adotou-se uma abordagem qualitativa, utilizando-se do

método etnográfico. Para a coleta dos dados primários, foram feitas 14 entrevistas por pauta e

observação direta não participante, sendo estas realizadas junto aos artesãos da família de Zé

Cabloco, discípulo direto de Mestre Vitalino. A observação se deu de forma aleatória, ao

passo dos acontecimentos. As informações obtidas foram tratadas por meio da Análise de

Conteúdo (BARDIN, 1977). Os resultados obtidos demonstram que a Arte Figurativa do Alto

do Moura e o Mestre Vitalino são fontes de admiração por parte desses artesãos que parecem

ter sentimentos de afinco e realização pelo desenvolvimento de sua obra. Quanto ao

significado dessa produção e comercialização, ele se traduz em termos de sobrevivência e

reconhecimento do artista que são. Finalmente, no que se refere à oportunidade, produzir e

comercializar essa arte representa, para esses artesãos, uma continuidade dessa tradição,

mesmo que isto represente uma luta perante a ordem do mercado: importante se faz garantir a

sua sobrevivência com o passar das gerações.

Palavras-chave: Arte Figurativa. Mestre Vitalino. Cultura popular.

.

Page 11: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

ABSTRACT

The craft is a practice that can be seen from a historical, economic, social and cultural point of

view. Its development translates as a source of wealth and income, in addition to the

significant cultural value that it arises. The craft from the point of view of the Master Vitalino

Figurative Art, takes on a new juncture, tying in its framework, values, feelings and meanings

inherent in this type of art. Thus, this study was conducted in order to verify what feelings and

meanings are perceived by artisans of the Alto do Moura, in Caruaru-PE, in the production

process and marketing of Figurative Art of Mestre Vitalino. A qualitative approach was

adopted, using the ethnographic method. To collect the primary data, they were made 14

interviews by staff and direct non-participant observation, which are held with the artisans of

the family of Joe Cabloco, direct disciple of Master Vitalino. Observation was made

randomly, while the events. The information obtained was processed through Content

Analysis (Bardin, 1977). The results demonstrate that the High Figurative art Moura and the

Mestre Vitalino are admiration sources by these artisans seem to have hard feelings of

accomplishment and the development of his work. As for the significance of production and

marketing, it translates in terms of survival and recognition of the artist they are. Finally,

when it comes to opportunity, produce and market this art is for these artisans a continuation

of this tradition, even if it represents a struggle before the market order: important to make

ensure their survival over generations.

Keywords: Figurative Art. Mestre Vitalino. Popular culture.

Page 12: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

LISTA DE IMAGENS

Imagem 1 – Mestre Vitalino e família 41

Imagem 2 - Distância entre Alto do Moura e centro de Caruaru 42

Imagem 3 – Mestre Vitalino extraindo o barro 43

Imagem 4 – Mestre Vitalino modelando o barro 46

Imagem 5 – Ferramentas utilizadas por Mestre Vitalino 47

Imagem 6 – Os Retirantes 49

Imagem 7 – Lampião 50

Imagem 8 – Cangaceiro a cavalo 51

Imagem 9 - Cangaceiro 51

Imagem 10 – Delegacia de polícia 51

Imagem 11 - Cangaceiros 51

Imagem 12 – Emboscada 51

Imagem 13 - Retirantes 51

Imagem 14 – Enterro na roça 52

Imagem 15 – Noivos a cavalo 52

Imagem 16 - Dentista 52

Imagem 17 – Médicos e paciente 52

Imagem 18 – Agricultor trabaiando na roça 52

Imagem 19 – Vitalino e seus filhos fazendo bonecos 53

Imagem 20 - Engraxate 53

Imagem 21 – Boi 53

Imagem 22 – Casa de farinha 53

Page 13: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

Imagem 23 - Ordenha 53

Imagem 24 – Cachorro com Teju 54

Imagem 25 – Ceia 54

Imagem 26 – Cambiteiro 54

Imagem 27 - Tropeiro 54

Imagem 28 – Homem tirando leite 55

Imagem 29 – Carro de boi 55

Imagem 30 – Violeiros 55

Imagem 31 – Entrada do alto do Moura 66

Imagem 32 - Primeiros passos com o barro – Filho de Mestre Vitalino 89

Imagem 33 - Parque de diversões do Alto do Moura - I 100

Imagem 34 - Parque de diversões do Alto do Moura - II 100

Page 14: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

LISTA DE FOTOS

Foto 1 - Ambiente comercial da artesã - Maria do Socorro Rodrigues da Silva 75

Foto 2 e 3 - Ambiente de produção do artesão - José Fábio Nogueira da Silva 76

Foto 4 - Momento da produção, artesã - Carmélia Rodrigues da Silva 77

Foto 5 - Reprodução de peças do Mestre Vitalino 92

Foto 6 - Antônio Rodrigues da Silva- artesão 102

Foto 7 - Maria do Socorro Rodrigues da Silva - artesã 102

Foto 8 - Marliete Rodrigues da Silva – artesã 103

Foto 9 - Horácio Rodrigues da Silva – artesão 107

Foto 10 - Helena Rodrigues da Silva – artesã 108

Foto 11 - Marliete Rodrigues da Silva – artesã 108

Foto 12 - Paulo Rodrigues da Silva – artesão 109

Foto 13 - Emerson Nogueira da Silva – artesão 110

Foto 14 - Maria do Socorro Rodrigues da Silva – artesã 114

Foto 15 - Horácio Rodrigues da Silva – artesão 115

Foto 16 - Antônio Rodrigues da Silva- artesão 116

Page 15: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Resumo das características da pesquisa 62

Figura 2 - Desenho das etapas da pesquisa 64

Figura 3 - Representação gráfica da família pesquisada 73

Page 16: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

IPHAN Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

FENEART Feira Nacional de Negócios do Artesanato

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

UNESCO Organização das Nações Unidas para Educação a Ciência e a Cultura

Page 17: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

LISTA DE QUADROS E TABELAS

Quadro 1 - Decomposição de signos em seu significante e significado 57

Quadro 2 - Representativo das categorias e subcategorias 80

Quadro 3 - Classificação por artesão pesquisado 81

Tabela 1 - Posição decrescente das subcategorias mais relevantes 83

Page 18: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Resultado geral por categorias 84

Gráfico 2 - Resultado da categoria - Admiração 86

Gráfico 3 - Resultado da categoria - Sentimentos 98

Gráfico 4 - Resultado da categoria - Significados 106

Gráfico 5 - Resultado da categoria - Oportunidade 113

Page 19: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

LISTA DE APÊNDICES

Apêndice A - Ficha de observação não participativa 132

Apêndice B – Roteiro básico de entrevista por pauta 133

Apêndice C - Categorização e subcategorização 134

Apêndice D - Percentual das unidades de significados 145

Apêndice E - Levantamento do perfil socioeconômico 146

Page 20: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

SUMÁRIO

RESUMO

ABSTRACT

LISTA DE IMAGENS

LISTA DE FOTOS

LISTA DE FIGURAS

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

LISTA DE QUADROS E TABELAS

LISTA DE GRÁFICOS

I - INTRODUÇÃO -------------------------------------------------------------------------- 20 1.1 Contextualização do problema -------------------------------------------------------- 20 1.2 Objetivos da pesquisa ------------------------------------------------------------------ 24 1.2.1 Objetivo geral ------------------------------------------------------------------------- 24 1.2.2 Objetivos específicos ----------------------------------------------------------------- 25 1.3 Justificativas da pesquisa --------------------------------------------------------------- 25 1.3.1 Justificativa teórica ------------------------------------------------------------------- 25 1.3.2 Justificativa prática ------------------------------------------------------------------- 26 II - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA --------------------------------------------------- 28 2.1 Um olhar através da cultura ------------------------------------------------------------ 28 2.1.1 Cultura popular e artesanato --------------------------------------------------------- 33 2.2 Vitalino Pereira dos Santos e a Arte Figurativa ------------------------------------- 37 2.2.1 Arte Figurativa do Mestre Vitalino ------------------------------------------------- 46 2.2.2 Mestre Vitalino e sua obra ----------------------------------------------------------- 48 2.3 Sentimentos e significados de artesãos ----------------------------------------------- 54 III - METODOLOGIA DA PESQUISA ------------------------------------------------ 60 3.1 Características da pesquisa ------------------------------------------------------------- 60 3.2 Desenho da pesquisa -------------------------------------------------------------------- 62 3.3 Lócus da pesquisa ----------------------------------------------------------------------- 64 3.4 Sujeitos da pesquisa --------------------------------------------------------------------- 67 3.5 Técnicas de coleta dos dados ---------------------------------------------------------- 73 3.6 Processo de coleta dos dados ---------------------------------------------------------- 74 3.7 Limites e limitações da pesquisa ------------------------------------------------------ 78 3.7.1 Limites da pesquisa ------------------------------------------------------------------- 78 3.7.2 Limitação da pesquisa ---------------------------------------------------------------- 79 3.8 Técnica de análise dos dados ---------------------------------------------------------- 79

Page 21: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

IV - ANÁLISE DOS DADOS -------------------------------------------------------------- 82 4.1 Categoria – Admiração ----------------------------------------------------------------- 83 4.1.1 Subcategorias: origem, exemplo e aprendizagem -------------------------------- 83 4.1.1.1 Subcategoria: aprendizagem ----------------------------------------------------- 84 4.1.1.2 Subcategoria: exemplo ------------------------------------------------------------ 89 4.1.1.3 Subcategoria: origem -------------------------------------------------------------- 94 4.2 Categoria – Sentimentos --------------------------------------------------------------- 96 4.2.1 Subcategorias: afinco e realização -------------------------------------------------- 96 4.2.1.1 Subcategorias: afinco-------------------------------------------------------------- 97 4.2.1.2 Subcategoria: realização---------------------------------------------------------- 100 4.3 Categoria – Significados --------------------------------------------------------------- 104 4.3.1 Subcategorias: sobrevivência e reconhecimento ---------------------------------- 104 4.3.1.1 Subcategoria: sobrevivência------------------------------------------------------- 105 4.3.1.2 Subcategoria: reconhecimento --------------------------------------------------- 110 4.4 Categoria – oportunidade -------------------------------------------------------------- 111 4.4.1 Subcategorias: continuidade positiva e negativa --------------------------------- 112 4.4.2 Subcategorias: valorização e inovação -------------------------------------------- 117 V - CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ------------------------------------------ 119 5.1 Recomendações --------------------------------------------------------------------------- 123 5.1.1 Recomendações de novos estudos --------------------------------------------------- 123 5.1.2 Recomendações de melhoria para o processo de produção e comercialização da Arte Figurativa do Mestre Vitalino

124

5.2 Melhorias estruturais --------------------------------------------------------------------- 124 5.2.1 Quanto à aprendizagem ---------------------------------------------------------------- 124 5.2.2 Quanto à valorização do artesão------------------------------------------------------ 125 REFERÊNCIAS ----------------------------------------------------------------------------- 126 APÊNDICES ---------------------------------------------------------------------------------- 131

Apêndice A: Ficha de observação não participativa 132

Apêndice B: Roteiro básico de entrevista por pauta 133

Apêndice C: Categorização e subcategorização 134

Apêndice D: Valores das unidades de significados 145

Apêndice E: Levantamento do perfil socioeconômico 146

Page 22: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

21

I

___________________________________________________________________________

INTRODUÇÃO

Este capítulo traz, inicialmente, uma contextualização sobre os aspectos que possam

inferir no desenvolvimento da Arte Figurativa junto aos artesãos do Alto do Moura em

Caruaru – PE. Após o delineamento do presente estudo, apresenta-se o problema de pesquisa

e, em sequência, os objetivos e as justificativas deste trabalho.

1.1 Contextualização do problema

A cidade de Caruaru localiza-se na mesorregião Agreste Pernambucano, microrregião

Vale do Ipojuca e é tradicionalmente reconhecida como referência da cultura popular, pela

existência da Feira de Caruaru, lugar de encontros culturais significativos, sendo estes a

expressão viva da cultura local. Também é conhecida como o centro de convergência entre

cordelistas, tocadores de pífanos, artesãos do barro, da madeira, das ferragens, entre outros,

tornando esse um espaço ideal para venderem seus produtos e mostrarem sua arte

(BAPTISTA, 2006). O mesmo autor afirma que a feira projeta o artista, levando seu trabalho

para o Brasil e para o mundo. Esse ambiente, “[...] tornou-se, pouco a pouco, um grande

cenário aonde os criadores populares vieram mostrar sua criatividade artística e seus produtos,

divulgá-los, vendê-los e, da Feira, se irradiaram para o Brasil e para o Exterior” (BAPTISTA,

2006, p. 67). Diante deste cenário, a Feira de Caruaru ocupa um espaço bastante significativo

para o desenvolvimento dessa Cidade. A Feira de Caruaru fica localizada no Parque 18 de

Maio, considerada pelo IPHAN1 - como um Bem Cultural, na categoria lugares, como sendo

um ambiente de memória, de continuidade de saberes, de produtos e expressões artísticas

tradicionais.

1 IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional\ REG. N.01450.002945\2006-24\ Data do Registro: 20 Dez. 2006. Reavaliação acontece a cada 10 anos.<www.iphan.gov.br> Acesso em 28 Mar. 2015.

Page 23: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

22

A Feira de Caruaru agrega diversas outras feiras em suas proximidades: Feira de

Artesanato - referência comercial para se escoar a produção dos artesãos do Alto do Moura e

das regiões circunvizinhas; da Sulanca – representativa em termos de comercialização; livre;

de importados; de frutas e verduras, dentre outras.

O Alto do Moura, local igualmente importante para a cultura dessa cidade, localiza-se

a 7 km do seu centro comercial; seu nome reporta-se ao antigo proprietário português,

chamado Moura “[...] dono das terras circundantes, que mostram algumas elevações

geográficas. Assim, as pessoas se referem ao lugar como o Alto do Moura” (BAPTISTA

2006, p. 20).

O ambiente trata-se de um espaço representativo de manifestações da cultura popular,

desde longas datas; a sua expressão tem origem na cerâmica figurativa e na sua arte.

Inicialmente, a produção do barro acontecia em pequenas olarias de propriedade familiar, que

produziam, basicamente, louças de uso doméstico. Era uma atividade peculiar à figura

feminina, cabendo aos homens a função de colocar as peças no forno e, depois, no lombo do

cavalo para conduzi-las à feira (2010).

Segundo esse mesmo autor, ao longo do tempo, a relação próxima entre mães e filhos

favoreceu-lhes o aprendizado do manuseio do barro; assim, as crianças modelavam bichinhos

e brinquedos que eram vendidos juntamente com a produção dos pais.

Nesse contexto, surgiu Vitalino Pereira dos Santos, nascido em 1909, em Ribeira dos

Campos, distrito do Município de Caruaru - PE. Desde cedo demonstrou habilidade ao

manusear o barro e aos seis anos de idade já aproveitava as sobras de argila2 deixadas por sua

mãe, para criar figuras de pequenos animais. Sua produção também era vendida na feira de

Caruaru juntamente com os itens produzidos por sua mãe (COIMBRA, 2010).

Em 1946, Vitalino estava casado e já tinha seis filhos, quando saiu de Ribeira dos

Campos para morar no Alto do Moura, integrando-se, assim, ao cotidiano dos artesãos desse

local. Sua inserção nessa comunidade foi relevante, pois logo chamou a atenção pela maneira

como manuseava o barro. Sua característica principal era os bonecos isolados ou em pequenos

2 Argila – “As argilas são rochas de origem sedimentar, resultantes da alteração e decomposição de rochas silicadas”. Na natureza podem ser encontradas em situação de relativa pureza ou associadas a diversos materiais. Também são chamadas de barro (SILVA, 2010 p. 6).

Page 24: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

23

agrupamentos. Essa nova dimensão na produção do artesanato, naquele momento, causou

uma transformação na forma de produzir da comunidade artesã, onde antes a elaboração de

peças estava direcionada à produção de utensílios domésticos, passa então a admirar a arte

que reproduzia cenas singelas do cotidiano, surgindo com isso a Arte Figurativa no Alto do

Moura (COIMBRA, 2010).

O dom, aliado à sua simplicidade e vocação para ensinar a todos que se interessassem

pela sua arte, fez com a que a permanência de Vitalino produzisse uma verdadeira revolução

naquele meio, levando-o, inclusive, a criar uma escola, que mais tarde teria vários seguidores

(MARTINS, 2012).

Esse mesmo autor afirma que foram esses seguidores ou discípulos do Mestre Vitalino

que, reproduzindo a Arte Figurativa por meio do barro, deram continuidade ao legado deixado

por ele. Atualmente, eles são identificados como artesãos de primeira, segunda e terceira

geração, caracterizados em função de sua origem. Aqueles da primeira geração aprenderam

pelas mãos de seu idealizador, já aqueles da segunda e terceira geração aprenderam a arte com

os artesãos da primeira geração.

Na construção desse universo, o estimulo, a solidariedade e a colaboração entre os

artesãos também foram deixados como ensinamentos pelo Mestre Vitalino; também o

sentimento de troca de experiências, de reprodução de uma tradição que estimula novas

invenções e oportunidades (MARTINS, 2012).

Nesse contexto, pode-se observar a importância do estudo da cultura para o

desenvolvimento do artesanato no Alto do Moura. Barreto (2003, p.43) descreve que ela

“constitui elemento vital não apenas para alicerçar alternativas econômicas e sociais, mas

especialmente, para a manutenção da memória de um povo”.

Para corroborar com o assunto, Meneses (1996, p.88) declara que a “cultura é uma

condição de produção e reprodução da sociedade, não externa aos sujeitos sociais, mas

onipresente, incorpora-se à vida social”. Dessa forma, cultura significa gerenciar o coletivo de

forma imaginária, defendendo a continuidade dos aspectos culturais em favor da identidade de

um grupo, a qual nada mais é do que a necessidade de construir e reconstruir seu universo

através dos tempos, se modernizando se recriando, sem perder suas origens.

Page 25: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

24

Quando se trata de cultura popular, entende-se ser todo processo de democratização

entre todos os homens, independentemente da raça, credo, cor, classe, profissão e origem;

assim, fazer cultura popular é, antes de tudo, um ato de amor (MACIEL, 1978, p.143).

No cerne dessa questão, a democratização da cultura é vivenciada por seus artesãos, no

Alto do Moura. Atualmente, nessa comunidade, percebem-se duas correntes: a primeira,

denominada tradicional, que resistindo às imposições estabelecidas pelo mercado, permanece

em constante processo de inovação, garantindo, assim, o desenvolvimento de novas peças e

agregando valor à sua imagem. Tem-se projetado no mercado e ganho prêmios em feiras de

representação social, como é o caso da FENEARTE3.

Já a segunda corrente absorve a influência da demanda do mercado, produz em

quantidade e guarda sempre as mesmas características em cada peça artesanal, não

contribuindo, assim, para o desenvolvimento e a continuidade da Arte Figurativa do Alto do

Moura. Essa geração produz as chamadas “dondocas” ou “africanas”, que são bonecas feitas

de barro com características regionais, que segundo Martins (2012), estão concentradas nas

mãos da reconhecida terceira geração, embora não exclusivamente.

Essa demanda de mercado é fonte de preocupação entre os artesãos da primeira

geração, sobretudo por ser considerada uma ameaça à continuidade da arte tradicional do

local, que desde sempre vinha sendo responsável pelo fluxo comercial no Alto do Moura;

também pelo fato de que essa produção pode ser considerada em série, ou seja , não passando

pelo processo de criação, fato este que, segundo os tradicionais, não se caracteriza como arte.

Esse duelo entre os artesãos não somente tem dividido a comunidade em duas esferas:

os tradicionais e os artesãos de terceira geração (MARTINS, 2012), mas também se secciona

em termos de sentimento e significados do trabalho: identificar a interação do artesão com o

barro e depois com a arte a que produz, faz parte de uma realidade cultural da qual o primeiro

grupo pertence.

3 FENEARTE – Feira Nacional de Negócios do Artesanato, em 2012 chegou a sua 13ª edição, como sendo a maior da América Latina. Estima-se um público de 312 mil pessoas, ocupando uma área de 29.000 m², com 800 estandes e mais de 5.000 expositores vindo dos 26 estados brasileiros e de 40 países. A feira é muito importante para os artesãos, pois é durante evento que eles têm a oportunidade de mostrar seu trabalho e de movimentar financeiramente sua arte. http://www.artesanatodepernambuco.pe.gov.br/. Acesso em: 27 de março de 2015.

Page 26: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

25

Sabe-se que o trabalho normalmente deve gerar nos indivíduos sentimentos e

significados únicos, por ser ele capaz de favorecer uma relação de transformação (TOLFO e

PICCININI 2007). Neste sentido e de maneira específica, aos que produzem arte, certamente

devem-se atribuir características distintas quanto ao seu produto, às suas técnicas, à sua forma

de comercialização e, até mesmo, aos seus sentimentos e significados sobre cada peça

construída.

Assim, sendo o Alto do Moura um espaço de contemplação da cultura popular, onde a

criação, produção e comercialização da arte figurativa acontecem, pode-se imaginar, em

termos de sentimentos e significados, como se comportam os artesãos de primeira linha,

exatamente aqueles que produzem arte por tradição e referência cultural. Neste sentido, surge

a seguinte questão para esta pesquisa: quais sentimentos e significados são percebidos por

artesãos do Alto do Moura, em Caruaru – PE, no processo de produção e comercialização da

Arte Figurativa do Mestre Vitalino?

Para responder a essa questão, na seção seguinte estão estabelecidos os objetivos

gerais e específicos desta pesquisa.

1.2 Objetivos da pesquisa

Depois de delineado o problema do presente estudo, apresentam-se os objetivos geral

e específicos, na intenção de chegar às respostas aos questionamentos propostos.

1.2.1 Objetivo geral

Verificar quais sentimentos e significados são percebidos por artesãos do Alto do

Moura, em Caruaru-PE, no processo de produção e comercialização da Arte Figurativa do

Mestre Vitalino.

Page 27: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

26

1.2.2 Objetivos específicos

I. Analisar a importância da Arte Figurativa do Mestre Vitalino, para os artesãos do

Alto do Moura, em Caruaru – PE.

II. Identificar sentimentos percebidos por artesãos do Alto do Moura, em Caruaru –

PE, no processo de produção e comercialização da Arte Figurativa do Mestre

Vitalino.

III. Levantar significados percebidos por artesãos do Alto do Moura, em Caruaru –

PE, no processo de produção e comercialização da Arte Figurativa do Mestre

Vitalino.

IV. Investigar oportunidades de crescimento profissional percebidas por artesãos do

Alto do Moura, em Caruaru – PE, no processo de produção e comercialização da

Arte Figurativa do Mestre Vitalino.

1.3 Justificativa da pesquisa

1.3.1 Justificativas teóricas

Verifica-se que o estudo sobre cultura e cultura popular, na comunidade do Alto do

Moura, em Caruaru – PE, converteu-se em um tema de estudo, na medida em que serão

publicados resultados desta pesquisa, referentes, em primeiro lugar, aos valores, sentimentos e

significados de artesãos, até então desconhecidos pela sociedade local e nacional; em

segundo, ao processo de produção e comercialização da Arte Figurativa do Mestre Vitalino,

atualmente também conhecido internacionalmente, desde que algumas de suas peças foram

expostas no Museu do Louvre, em Paris, na França.

Alguns autores como Thompson, 1995; Sampaio, 2003; Sasaki, 2006, Canclini, 1983;

entre outros, consideram a cultura um bem precioso de um povo; neste sentido, se considera o

Brasil como um país rico, por possuir diversas manifestações culturais, sejam elas

Page 28: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

27

concernentes à dança, às artes, à literatura, ao cinema, ao teatro, à televisão, dentre outros.

Sendo assim, este trabalho vem ressaltar um dos acervos culturais deste país.

Finalmente, ressalta-se, ainda, que este trabalho pode contribuir também para a

divulgação de elementos culturais nordestinos, em tempo de globalização, quando se sabe que

uma das características do povo brasileiro é valorizar aspectos materiais e imateriais

provenientes de outros povos, fenômeno esse conhecido por ‘estrangeirismo’.

Sendo assim, Reis (2007) reforça o desenvolvimento de estudos desta natureza, ao

afirmar que a cultura local torna-se importante por sustentar valores que não podem ser

esquecidos; do contrário, poderá existir o empobrecimento da cultura popular.

Lamentavelmente, percebe-se a falta de interesse em investir, preservar e divulgar a

cultura popular, não somente por parte de instituições governamentais, mas também de

particulares, diferentemente do que normalmente acontece em países desenvolvidos (SODRÉ,

1976). Nesse caso, trabalhos científicos, como este, podem alertar a sociedade contra o culto

ao estrangeirismo.

Outra análise que justifica esse estudo refere-se à produção de conhecimentos sobre

sentimentos e significados do trabalho, por tratar-se de um tema pouco pesquisado, segundo o

levantamento de referências aqui efetuado; mais ainda: por tratar da arte e das relações

comerciais dessa comunidade estudada, avaliando em termos de perspectivas de futuro ou

continuidade, em uma perspectiva de projeção profissional para gerações atuais e futuras.

Da mesma forma, pode-se confirmar que, em se tratando dos temas: cultura e Arte

Figurativa do Mestre Vitalino, sentimentos e significados da produção e comercialização, não

se encontrou qualquer referência científica; sendo assim, este trabalho vem colaborar com a

academia, no sentido de gerar conhecimentos dessa ordem.

1.3.2 Justificativa prática

No plano prático – benefício para a comunidade pesquisada, porque a partir desta

pesquisa podem emergir, como consequência, a elaboração de estratégias ou ações em favor

Page 29: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

28

das práticas artesanais da comunidade em estudo, além disso, contribuir para a perpetuação da

arte figurativa especificamente.

Historicamente, o processo de aprendizagem é repassado através das gerações, esse

processo pode sofrer consequentes desgastes pela falta de incentivos socioculturais. Sabendo-

se que a cultura está inteiramente ligada ao grupo na qual está inserida, o estudo sobre estes

aspectos possui relevância social, podendo conduzir a apontamentos ou indicadores que

impulsionam a proteção ao patrimônio cultural, além de gerar emprego e renda à comunidade

na qual está inserida.

Por fim, justifica-se o presente trabalho, pelo fato de buscar investigar sentimentos e

significados percebidos por artesãos do Alto do Moura, em Caruaru-PE. Consequentemente, o

estudo da cultura dessa comunidade pode contribuir para o desenvolvimento social e

econômico dessa comunidade, no sentido de entender os valores e sentimentos como

elementos adjacentes à produção e valorização econômica e produtiva, que são aspectos

associados à perpetuação dessas práticas artesanais do ponto de vista da manutenção

econômica das famílias que ali atuam.

A abordagem prática se faz pela oportunidade de colaborar com a comunidade

estudada, fazendo com que a mesma tome conhecimento sobre os aspectos relevantes do

processo de produção e comercialização das peças artesanais, no que tange a continuidade do

trabalho, ficando propício o estabelecimento de estratégias ou ações, para o desenvolvimento

de oportunidades ao setor.

Como diagnóstico se verifica a cultura do artesanato local, integrando alguns setores

produtivos, tais como: o comércio e o turismo. Sendo este um fator que favorece a

comunidade local pelo fluxo de turistas que existe, incentivando o consumo dos produtos

regionais locais.

O incentivo a esse tipo de cultura gera renda e riqueza para as comunidades que

sobrevivem desse tipo de atividade, conforme afirma Yúdice (2004, p.31), a cultura “pode

gerar renda através do turismo, do artesanato, e de outros empreendimentos culturais”. Desta

forma, observam-se aspectos de desenvolvimento sustentável, uma vez que permite que a

comunidade local possa se desenvolver a partir de seus próprios recursos, sem a necessidade

extrema de aportar recursos externos para isso.

Page 30: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

29

II

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Este capítulo apresenta as temáticas que irão dar sustentação teórica ao presente

estudo. Em sua primeira seção, estão reunidos conceitos que tratam sobre cultura e a cultura

popular. Na segunda seção, serão abordados aspectos fundamentais para a pesquisa, sendo

estes o Mestre Vitalino e a Arte Figurativa. Já na terceira seção, serão trazidos aspectos

inerentes aos sentimentos e significados de artesãos.

2.1 Um olhar através da Cultura

Ao se discutir o tema desta abordagem que versa sobre um olhar através da cultura,

busca-se analisar os contextos que dizem respeito ao âmbito desta dissertação. Com isso,

coloca-se que não se pretende encerrar a discussão sobre cultura, e sim alinhar o entendimento

sobre a questão, buscando enriquecer as referências que fornecem a base desta pesquisa.

Também se constitui como foco deste capítulo a variação temática que trata sobre cultura

popular do ponto de vista de sua representatividade, enquanto expressão artística, objeto

relativo ao estudo desta dissertação.

A palavra cultura possui a origem etimológica que remonta ao verbo latino colere que,

na Roma antiga, está diretamente ligado ao trabalho agrícola e ao cultivo da terra. O termo

evoluiu ainda na própria Roma, passando à ideia de cultivo da natureza humana (SANTOS,

1983).

A partir do século XVI, a palavra cultura é utilizada para o desenvolvimento humano,

ou seja, para o cultivo da mente humana, todavia, a utilização do termo sem associações se dá

apenas no século XVIII, com a palavra de origem francesa cultur, incorporada ao alemão

como kultur (THOMPSON, 1995). Esta evolução também foi observada por Laraia (2009),

quando afirma em suas pesquisas que, no final do século XVIII, na Germânia, usava-se o

Page 31: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

30

termo Kultur ao referir-se aos aspectos espirituais de uma comunidade, enquanto que a

palavra francesa civilisation referia-se às realizações materiais de um povo (LARAIA, 2009).

O conceito de cultura que mais apresenta destaque no final do século XVIII e princípio

do século XIX foi desenvolvido principalmente por filósofos alemães e pode ser visto como

concepção clássica do termo. Segundo Thompson (1995, p. 170), “Cultura é o processo de

desenvolvimento e enobrecimento das faculdades humanas, um processo facilitado pela

assimilação de trabalhos acadêmicos e artísticos ligados ao caráter progressista da era

moderna”.

Edward Tylor sintetiza o conceito na palavra em inglês culture, a qual corresponde a

aspectos sociais da espécie humana, alterando seu foco para as crenças, costumes, artes, leis,

moral, capacidade e hábito. Essa dimensão fornecida por Tylor marca o caráter de

aprendizagem, surgindo, assim, o conceito formal ou científico de cultura. Edward Tylor

(1917, apud LARAIA, 2007) é o primeiro a conceituar o termo cultura no sentido

antropológico, isto é, “a reconstituição da história de povos ou regiões particulares e a

comparação da vida social de diferentes povos, cujo desenvolvimento segue as mesmas leis”

(LARAIA, 2007, p. 35).

De acordo com Thompson (1995, p. 173), a concepção descritiva de cultura pode ser

definida como: “O conjunto de crenças, costumes, ideias e valores, bem como os artefatos,

objetos e instrumentos materiais, que são adquiridos pelos indivíduos enquanto membros de

um grupo ou sociedade”.

O conceito de cultura possui muitas definições que variam conforme seus autores e

seus contextos. Contudo, é importante colocar que alguns aspectos que a caracterizam

definem a relação existente entre o indivíduo e sua linguagem, representando a capacidade

que o homem possui de aprender e relacionar as coisas de seu cotidiano ou de sua

historicidade. Assim, cita Schein (2009, p. 8), ao dizer que “Nesse sentido a cultura está para

o grupo como a personalidade ou caráter está para o indivíduo”.

Dessa forma, cada organização social possui a sua própria cultura, fazendo surgir uma

grande variedade de culturas. Existem mais de 150 definições sobre cultura levantadas até

hoje de acordo com (SODRÉ, 1988). Considerando tal fato, pode-se afirmar que o tema

promove muitas discussões e polêmicas entre os estudiosos da questão.

Page 32: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

31

Esse pensamento foi contemplado por Schein (op. cit., p. 7):

A cultura como conceito tem uma história longa e diversificada. Ela tem sido usada pelos advogados como uma palavra para indicar sofisticação, como quando dizemos que alguém é muito “culto”. Tem sido usado pelos antropólogos para referir-se aos costumes que as sociedades desenvolvem no curso de sua história. Nas últimas décadas, tem sido usada por alguns pesquisadores organizacionais e gerentes, para se referir ao clima e às práticas que as organizações desenvolvem ao lidar com as pessoas, ou aos valores expostos e ao credo de uma organização.

A cultura proposta possui um sentido diversificado, sendo absorvido pelos indivíduos

de acordo com o aprendizado o qual os indivíduos se propõem conhecer. Dessa forma, a

cultura apresenta-se em constante evolução, criando novos grupos que criam novas culturas

(SCHEIN, 2009). Assim, a cultura pode ser considerada algo inovador pela sua capacidade de

evoluir e conquistar novos grupos. De acordo com Schein (2009, p. 8), “[...] cultura como

conceito é uma abstração, mas suas consequências comportamentais e atitudinais são, de fato,

muito concretas”.

Santos (1996) afirma que a produção cultural, independente de seu meio de expressão,

ocorre através da ação humana sobre as coisas ou obras, de modo individual ou coletivo, em

um determinado espaço de tempo. Contudo, pode-se afirmar que a produção cultural, seja ela

geral ou específica, caracteriza a realidade social por meio de manifestações populares e/ou

eruditas. A cultura popular se reporta aos valores provenientes do povo, sendo os traços

assimilados por meio do convívio social, ou seja, os costumes, hábitos, comportamentos e

saberes que se transmitem de geração para geração; enquanto a cultura erudita aparece

intimamente ligada à arte, sugerindo um aspecto nobre no conceito de cultura. O mesmo autor

chama atenção quando afirma que:

Cultura diz respeito à humanidade como um todo e ao mesmo tempo a cada um dos povos, nações, sociedades e grupos humanos. Quando se considera as culturas particulares que existem ou existiram, logo se constata a grande variação delas (SANTOS, 1996, p. 3).

Page 33: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

32

Sendo assim, torna-se possível entender cultura como uma derivação de um conjunto

comum de preocupações que pode ser localizada em duas concepções básicas coerentes com a

visão do autor supracitado: sua primeira remete a todos os aspectos de uma realidade social, e

a segunda se refere especificamente ao conhecimento, às ideias e crenças de um povo,

portanto, toda produção cultural se dá através da ação humana sobre coisas ou obras

realizadas pelo homem, individualmente ou em grupo, em um determinado espaço-tempo.

Desse modo, podemos entender, em um sentido mais amplo, que a produção cultural, de

forma global ou regional, caracteriza a realidade social.

Em ciências sociais, a Cultura também é definida como um conjunto de ideias,

comportamentos, símbolos e práticas sociais aprendidos de geração em geração, através da

vida em sociedade e podendo ser considerada como uma variante da herança social da

humanidade (BRANDÃO, 2009). Quanto à herança social da humanidade, cita Brandão,

quando descreve a cultura quanto a seus costumes.

Culturas são panelas de barro ou de alumínio, mas também receitas de culinária e sistemas sociais indicando como as pessoas de um grupo devem proceder quando comem. São vestimentas de palha ou de pano acompanhadas de preceitos e princípios sobre modos de se vestir em diferentes situações sociais e rituais. São mapas simbólicos que guiam participantes de um mundo social entre seus espaços e momentos. Nossos corpos, atos e gestos são visíveis como expressões de nossos comportamentos. Mas o sentido do que fazemos ao agir em interações com os outros somente é compreensível mediante as culturas de que fazemos parte (BRANDÃO, 2009, p. 719).

De acordo com Sampaio (2003), a percepção sobre cultura que vigora na atualidade é

aquilo que os homens criam, dá sentidos, atribuem uma identidade, compreendem e

transformam de acordo com a sua realidade. Enquanto na opinião de Sasaki (2006), a cultura

possui intensidade e está diretamente ligada ao mote social, sendo assim, só há cultura porque

existe sociedade e vice-versa.

A cultura perpassa por um estudo semiótico que envolve signos, símbolos e significados produzidos pelas relações sociais. Ela é pública e o homem não tem como escapar dela. É como se ele ficasse amarrado a uma teia tecida por ele próprio e que, se conseguir soltar-se, estará sujeito a sanções sociais (SASAKI, op. cit., p. 147).

Page 34: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

33

O mecanismo adaptativo pode ser considerado pelas ciências sociais a principal

característica da cultura. Esta característica explicaria o fato de que os indivíduos têm que

responder ao meio de acordo com a sua mudança de hábitos. A perspectiva sobre cultura

desenvolvida por Levy Strauss aponta que cultura é:

Um sistema simbólico que é uma criação acumulativa da mente humana. O seu trabalho tem sido o de descobrir na estruturação dos domínios culturais – mito, arte, parentesco e linguagem – os princípios da mente que geram essas elaborações culturais (LEVY STRAUSS, 1976 apud LARAIA, 1986, p. 62).

Considerando a abordagem do autor supracitado, no que tange à cultura como um

sistema simbólico, observa-se a afirmativa de Spinola (2006) que corrobora com ideia de

cultura como algo “multissignificado”. O termo possui relação com o conceito sobre cultura

apresentado pelo campo antropológico, quando a cultura se concebe de forma mais ampla,

interagindo com toda e qualquer criação humana, real ou simbólica e que também expressa o

modo de vida em meio às expressões artísticas e midiáticas.

Nesse contexto, considera a cultura também como um mecanismo cumulativo pela

qual as modificações são trazidas por uma geração e passam à geração seguinte, construindo

um processo, transformando, perdendo e incorporando outros aspetos com o objetivo de

melhorar a convivência entre as gerações. Pode-se dizer que, à medida que as referências de

um passado afloram, fazem surgir conceitos que conduzem à ideia de resistência e inovação,

nesse sentido, surgem as tradições e os costumes. Segundo Hobsbawm (1984, p. 10):

O objetivo e a característica das “tradições”, inclusive das inventadas, é a invariabilidade. O passado real ou forjado a que elas se referem impõe praticas fixas (normalmente formalizadas), tais como a repetição O “costume”, nas sociedades tradicionais, tem a dupla função motor e volante. Não impede as inovações e pode mudar até certo ponto, embora evidentemente seja tolhido pela exigência de que deve parecer compatível ou idêntico ao procedente.

Page 35: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

34

A esfera da cultura é um domínio dos símbolos, estes, por sua vez, têm a capacidade

de apreender e relacionar as coisas. Neste sentido, o homem é um animal simbólico e a

linguagem uma das ferramentas imprescindíveis que define sua humanidade. Não existe,

portanto, sociedade sem cultura, da mesma maneira que linguagem e sociedade são

interdependentes. Os universos simbólicos “nomeiam” as coisas, relacionam as pessoas,

constituem-se em visões de mundo (ORTIZ, 2007).

Com base nos conceitos sobre cultura e sua relação com a sociedade, apresenta-se a

seguir o tema adjacente a este, que é a cultura popular e o artesanato como manifestações da

expressão participativa e ativa do povo.

2.1.1 Cultura popular e o artesanato

Ao analisar aspectos que circundam a cultura popular e sua inserção nas comunidades,

não se pode deixar de preconizar a distinção que é feita entre cultura erudita e cultura popular.

Essa dicotomia foi bastante analisada em outros tempos, quando a cultura erudita com sua

homogeneidade era apresentada como sendo uma cultura letrada, cultura acadêmica ou

cultura dominante; ao passo que a cultura popular com sua heterogeneidade recebeu em outras

épocas e ainda recebe nomes como: antiguidade, tradições, folclore, cultura primitiva, cultura

iletrada, cultura subalterna, entre outras denominações. Ao se reconhecer essa distinção,

entende-se que o fato se dá pelo reconhecimento dos desníveis sociais (BRANDÃO, 2009).

Martins (2012), em sua pesquisa, quando entrevista Severino Vitalino, filho do Mestre

Vitalino, verifica a reconstrução de fatos de sua infância e da convivência com seu pai

enquanto artista, o mesmo relembra aspectos quanto à estrutura econômica e social da época.

Este relato insere-se na fase do desenvolvimento da Arte Figurativa junta à comunidade do

Alto do Moura. Diante das observações contidas nas descrições, percebe-se que a cultura do

local se desenvolveu em paralelo à notória desigualdade social, conforme descreve o autor

sobre o relato do artesão: “Meu pai não sabia ler e nem escreve. Mais ele via uma cena na rua

e ia dormir pensando naquela peça. Ele via um carro de boi e fazia, ele via um cara

trabalhando na roça, um retirante, e fazia [...] Sem escrever, sem saber nada, ele pensava e

fazia” (MARTINS, 2012 p.109). Diante deste relato, percebe-se que a degradante visão dada

Page 36: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

35

ao homem e sua submissão são questões muito presentes nas obras produzidas. Dessa forma,

Mestre Vitalino contribuiu para o desenvolvimento da cultura local, colaborando também com

o desenvolvimento da cultura popular, sendo esta expressa através do artesanato.

Quando se pensa em cultura popular, pode-se falar em identidade e na relação do

indivíduo consigo mesmo, com os outros e no contexto no qual está inserido. Essa relação

dinâmica diferencia o indivíduo e sua cultura em detrimento das demais culturas, tal como

observado por Santos (2004, p. 237) quando afirma:

A cultura popular tem raízes na terra em que se vive, simboliza o homem e seu entorno, encarna a vontade de enfrentar o futuro sem romper com o lugar, e de ali obter a continuidade, através da mudança. Seu quadro e seu limite são as relações profundas que se estabelecem entre o homem e o seu meio, mas seu alcance é o mundo.

Nesse contexto, entende-se que o indivíduo inserido em sua comunidade não rompe

com o grupo, mas sim enfrenta o futuro em conjunto. A cultura popular aí inserida pode ser

analisada assumindo uma postura política, e é com base nessa reflexão que se podem observar

aspectos relevantes ao estudo do tema, tais como: tradição e transformação. Temas

aparentemente opostos, mas que dentro do contexto se completam. Para corroborar com o

assunto, cita-se Canclini quando afirma:

[...] a especificidade das culturas populares não deriva apenas do fato de que a sua apropriação daquilo que a sociedade possui seja menor e diferente; deriva também do fato de que o povo produz no trabalho e na vida formas específicas de representação, reprodução e reelaboração simbólica de suas relações sociais. [...] O povo realiza estes processos compartilhando as condições gerais de produção, circulação do sistema em que vive [...] Portanto, as culturas populares são construídas em dois espaços: a) as práticas profissionais familiares, comunicacionais e de todo tipo através dos quais o sistema capitalista organiza a vida de todos os seus membros; b) as práticas e formas de pensamento que os setores populares criam para si próprios, mediante os quais concebem e expressam a sua realidade, o seu lugar subordinado na produção, na circulação e no consumo [...] Existem culturas em movimento, em processos contínuos de criação, interação, recriação, hibridização (CANCLINI, 1983, p. 43).

Page 37: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

36

Dessa forma, a cultura popular é todo processo de democratização da cultura visando

neutralizar a distância e o desnível entre as duas culturas por meio dos homens,

independentemente de raças, credo, cor, classe, profissão, origem, entre outros (MACIEL,

1978).

Assim, a cultura popular surgiu como um conjunto de ideias e práticas inovadoras que

integram os homens e suas interações pessoais. Das várias culturas que emergem no contexto

social, a cultura popular vem ganhando força e respaldo, conseguindo se sobrepor até à

cultura de massas, sendo isto decorrente da globalização, baseada no território, no trabalho e

no cotidiano. Suas formas típicas se dão devido aos baixos níveis de técnica, de capital e de

organização (SANTOS, 2001). De acordo com o mesmo autor, a cultura de massa não tem, ao

contrário da cultura popular, força para fixar-se.

Neste contexto de cultura popular em destaque, inclui-se o artesanato como uma das

formas de manifestação popular. O artesanato possui uma grande força na construção da

identidade local, fazendo os grupos parte dessa identidade, definindo-os ou situando-os no

conjunto social (CUCHE, 1999).

Na tentativa de conceituar o artesanato, existe a pesquisa da educadora Maria Sônia

Madureira de Pinho, que identificou em seu artigo “Produtos artesanais e mercados turísticos”

(2002, p. 171-172), três tipologias de artesanato contemporâneas, que são: o “artesanato

popular genuíno”, que se pode falar em qualidade, identidade e mercado consumidor; os

“trabalhos manuais”, cuja mão de obra se apresenta menos qualificada, visando apenas a uma

fonte de renda e, por fim, o “industrianato”, em que o produto artesanal é alvo do processo de

massificação e “souvenirização”. Os três segmentos artesanais apresentados pela autora são

operacionalizados em seu trabalho de consultoria junto a diversos grupos de artesãos no

Brasil. De acordo com Lima, o processo de produção do artesanato é construído da seguinte

forma:

No mundo contemporâneo existe uma enorme gama de objetos que podemos definir como artesanato. São produtos do fazer humano em que o emprego de equipamentos e máquina, quando e se ocorre, é subsidiário à vontade de seu criador que, para fazê-lo utiliza basicamente as mãos. Nesse sentido diríamos que o objeto artesanal é definido por uma dupla condição: primeiro, o fato de que seu processo de produção é em essência manual. São as mãos que executam basicamente todo o trabalho. Segundo: a liberdade do artesão para definir o ritmo de produção, a matéria-prima e a tecnologia que irá empregar, a forma que pretende dar ao objeto, produto de sua criação, de seu saber, de sua cultura. A maior ou menor inserção desses elementos no

Page 38: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

37

processo produtivo e o modo como o artesão se posiciona na rede de relações sociais que se estabelece no interior da sociedade em que vive irão determinar diferentes artesanatos (LIMA, 2005, p. 1-2).

Dessa forma, pode-se considerar que a diferença entre um produto artesanal e outro

industrial está em termos de método e foco. O artesanato nasce de um conjunto de

conhecimentos construídos por diferentes povos ao longo de muitas gerações. As gerações,

quando orientadas para sucessão da arte, geram manutenção da identidade local e carregam

consigo uma expressão cultural única inerente à sua comunidade. Dessa forma, pode-se dizer

que o povo constrói sua própria cultura, ele preserva suas criações traduzidas de vivências do

cotidiano, representando simbolicamente em suas criações. Essa cultura projeta-se através da

cultura popular. Diante do apresentado, cita-se Estevam (1978, p. 41):

A cultura popular somente é totalidade quando se transforma em um processo que permita a livre expansão desta complexa rede em que se articulam, em interseções ricas e variadas, motivos subjetivos e possibilidades objetivas, propósitos de grupos e paixões individuais, meios disponíveis e finalidades ambicionadas. [...] Em uma palavra, a cultura popular deve ser a expressão cultural da luta política das massas, entendendo-se por essa luta algo que é feito por homens concretos, ao longo de suas vidas concretas.

Outro aspecto a ser chamada a atenção seria a atuante presença dos jovens

contemporâneos, que utilizam a música como manifestação de sua cultura, a exemplo de

grupos de hip-hop, que expressam através de suas músicas diversos problemas sociais

vivenciados pelas comunidades nas quais estão inseridos. Para corroborar com essa linha de

pensamento, cita-se Honneth (2003, apud, ALVES, 2009, p. 47):

As expressões culturais têm sido as formas mais presentes da participação política. Os hoppers, por exemplo, recriam formas de apropriação simbólica, de seu mundo, sobre os quais atuam, objetivando uma ação política efetiva na sua luta pelo reconhecimento bem como pela distribuição. O elemento que liga esses jovens seja nos guetos, americanos seja nas favelas brasileiras, está na leitura que eles produzem da exclusão social enfrentada por eles, nos guetos e ou nas favelas. É ai que se acentua o caráter da participação política desses jovens. É isso o que vai estabelecer o recorte que essas manifestações

Page 39: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

38

culturais vão apresentar. Isso traduz o sentido da expressão muito repetida por jovens participantes do hip-hop: “periferia é periferia em qualquer lugar”. Estas expressões / representações culturais não estão presentes apenas nas formas discursivas, mas também nos estilos próprios destes jovens, destacando-se a forma de vestir a musicalidade e atitudes que vão de encontro aos modelos convencionais de sua época.

Assim como a luta pode ser expressa através da música, ela também pode surgir

através da Arte Figurativa. Representações de conflitos presentes na vida do sertão

nordestino, suas lutas e conflitos são sentidas e reproduzidas. Estas expressões e sentimentos

transformam-se em arte.

Segundo relato de Horácio Rodrigues da Silva, artesão do Alto do Moura, conforme

citado por Martins (2012, p. 129), quando diz que “Através do nosso trabalho, podemos

expressar nossos sentimentos, o sentir da nossa realidade, da nossa cultura nordestina”.

Quando práticas são constantemente vivenciadas por um grupo, estas podem refletir de

maneira singular na cultura local. Desta forma, estando o homem inserido nesse contexto,

poderá sofrer a influência dessa cultura que passa a ser determinante. Trabalhando esta

abordagem dentro do contexto da Arte Figurativa, todos esses aspectos de expressão da

realidade seguem contextualizadas nas obras dos diversos representantes desta arte, realidade

esta que define os movimentos sociais como determinante para se analisar a cultura do Alto

do Moura sob a ótica da cultura popular.

Na sessão seguinte, serão apresentados os principais elementos que compõem a Arte

do Mestre Vitalino, pautada pela literatura. Ele é considerado o representante da arte

figurativa e precursor de sua escola onde, em sua essência, expressa a vida do sertanejo

através da arte. Também serão apresentados conceitos sobre a Arte Figurativa.

2.2 Vitalino Pereira dos Santos e a Arte Figurativa

Nasce em 10 de junho de 1909, no sítio Campos, um povoado existente nas

proximidades da Vila do Alto do Moura, em Caruaru-PE, Vitalino Pereira do Santos. Seu pai,

homem simples do campo, Marcelino Pereira dos Santos, tinha a agricultura como atividade

Page 40: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

39

principal para o sustento de sua família. Sua mãe, Josefa Maria dos Santos, artesã, produzia

louças de barro ou cerâmica utilitária; essas peças destinavam-se à utilização para fins

domésticos e sua produção era comercializada em feiras locais.

A produção das louças era feita a partir do barro extraído da zona ribeirinha do Rio

Ipojuca, essa extração era de responsabilidade das mulheres bem como a produção das louças

para fins domésticos. Essa atividade comumente desenvolvida pelas mulheres tornava-se

prática constante nas famílias locais, onde os homens dedicavam-se à produção agrícola e as

mulheres trabalhavam na produção artesanal das louças. Nesse contexto, insere-se Vitalino

Pereira dos Santos que, ainda criança, fazia uso do barro para produzir seus próprios

brinquedos. Vitalino não extraia o barro, ele utilizava as sobras deixadas por sua mãe. Seu

primeiro contato com a cultura material elaborada foi aos seis anos de idade, quando produziu

sua primeira obra “Um Caçador de Gato Maracajá” (RIBEIRO, 1972).

Quando criança, Vitalino Pereira dos Santos não conheceu a educação formal, pois,

devido às dificuldades do trajeto, crianças de sua época não chegavam a frequentar a escola,

tornando a educação algo indiferente para a comunidade local. Por isso, os filhos

permaneciam ligados às suas mães que, devido a sua posição social, tinham como principal

função os afazeres domésticos, a manutenção familiar e, por conseguinte, conviviam

diretamente com seus filhos. Foi nesse contexto que Vitalino Pereira dos Santos conheceu o

barro como matéria-prima para explorar sua criatividade, que, por sua qualidade e expressão,

começava a atrair a atenção dos primeiros admiradores de sua arte.

Aos seis anos de idade, acompanhava sua mãe na comercialização das louças na feira

de Caruaru. Esta feira tornava-se um ambiente mais atrativo à visitação pela diversidade de

produtos comercializados; e o pequeno menino, ainda chamado de Vitalino, consegue vender

sua primeira peça a um turista de Recife, que admirado com a singeleza da peça, faz

encomenda para a semana seguinte. Vitalino então inicia sua produção tendo em vista a

comercialização. Nesse período, suas principais peças giravam em torno da confecção de

bichinhos ou animais que faziam parte de seu cotidiano. Sua produção chamou a atenção de

seu pai e família, que viu nas peças uma oportunidade de torná-la uma atividade produtiva e

remunerada.

Vitalino inicia então sua jornada como criador de uma arte que expressava valores

sociais, intrínsecos apenas a seu povo, apresentando como principal temática o cotidiano, as

Page 41: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

40

lutas e a superação do povo nordestino. Porém, apenas a partir de seus vinte e um anos de

idade é que Vitalino inicia a produção utilizando-se de figuras humanas e suas expressões

mais singelas (RIBEIRO, 1972). Mestre Vitalino, em um de seus relatos, descreve:

Tinha muito soldado aqui em Caruaru e eu achei bonito aquela revolta da Paraíba [...] Eu nunca tinha visto aquele exercito e achei bonito. Bati a mão no barro e fiz os grupo de soldado e trouxe pra feira [...] (RIBEIRO, 1972, p. 09).

Conforme trazido anteriormente, a produção da louça ficava sob a responsabilidade

das mulheres; aos homens era conferida a função do trabalho na agricultura. Vitalino sentia-se

obrigado, por sua posição enquanto homem, a inserir-se no universo exclusivamente

masculino, atendendo, então, às imposições paternais.

Vitalino casa-se aos 22 anos com Joana Maria da Conceição, tendo 16 filhos, destes,

apenas seis sobreviveram às doenças que afetavam as crianças dessa época (RIBEIRO,1972).

Imagem 1: Mestre Vitalino e sua família, Caruaru- PE

Fotografia: Pierre Verger, 1947 4·

4 Disponível em: <http://www.obrasilcoms.com.br/2014/07/mestre-vitalino-por-pierre-verger>. Acesso em: 04 Mai. 2015.

Page 42: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

41

Só então quando casado, assume sua vocação como artesão, buscando no barro a

subsistência de sua família (RIBEIRO, 1972). Vitalino, agora pai e provedor do sustento de

sua família, inicia sua produção dos “bonecos de barro”, comercializando-os na feira de

Caruaru, local de encontros dos produtores locais. De acordo com Martins (2012, p. 106):

Caruaru, a segunda mais desenvolvida cidade do estado, é conhecida pelas intensas atividades da indústria – principalmente a de confecção -, de comércio e, principalmente, da arte popular figurativa do Brasil, de que é o berço. No inicio da década de 1940, a feira da cidade, sempre as quartas e aos sábados, foi um grande polo de atração, que exercia não apenas uma função econômica, mas também social e cultural.

A feira torna-se um ambiente de visitação turística por sua diversidade, assumindo já

em 1945 a posição de maior feira do estado de Pernambuco. Barbalho (1974, p. 194) descreve

a feira de Caruaru de forma caricaturada da seguinte maneira:

Nela existe fartura quase em excesso – de frutas, verduras, carnes (...) de farinhas, de feijões os mais variados, de matutos caricaturais , de cachaceiros divertidos, de doidos mansos, de mulheres boazudas, de bolos-de-goma (...) de ervas medicinais, de passarinhos engaiolados, do diabo a quatro, pois não (...) E tem tudo mesmo que a gente quer, inclusive arame esticado, reproduzindo som de violino, coisa tão estrambótica que, um dia, deixou um turista made in USA entre maravilhado e de queixo caído a mirar e remirar a geringonça, sem entender patavinas.

Ainda em Ribeira dos Campos, Vitalino passou a produzir bonecos isolados ou em

agrupamentos, sempre representando cenas do cotidiano. Segundo Coimbra (2010, p. 60),

Vitalino, “Com essa transformação, criava uma nova dimensão para o manuseio do barro: não

mais o brinquedo ou o objeto utilitário, mas o comentário e a descrição da vida regional, em

forma de escultura”. Vitalino chega ao Alto do Moura com sua família em 1946; sua escolha

teve como principal motivação a proximidade com a feira de Caruaru, local onde escoava sua

produção.

Page 43: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

42

A imagem 2 (dois), faz referência à distância percorrida entre o Alto do Moura e o

centro comercial de Caruaru, sendo o Alto do Moura um bairro localizado a cerca de 5,3 km

do centro da cidade. O trajeto entre o bairro onde se concentram os artesãos e o centro

comercial é de 1h5min, este é o curso sempre refeito pelos artesãos no intuito da

comercialização de suas peças.

Imagem 2: Distância entre o Alto do Moura e o centro de Caruaru - PE

Fonte: Google Maps5

O município de Caruaru, por sua vez, um dos mais importantes municípios do Vale do

Ipojuca, se localiza a aproximadamente 123 km de Recife e possui cerc4 habitantes, destes,

278.098 na zona urbana e 36.856 na zona rural (IBGE, 2010)6. O Alto do Moura abriga

atualmente um dos núcleos artesanais mais importantes do país.

É preciso ressaltar a importância da proximidade da comunidade artesã com a bacia do

Rio Ipojuca, de onde é extraída a matéria-prima para produção das peças.

A imagem 3 (três) evidencia a forma como era extraído o barro (argila) para produção

das peças artesanais.

5 Disponível em: <https://www.google.com.br/maps>. Acesso em: 10 Mar. 2015. 6Disponível em: <www.ibge.gov.br>. Acesso em: 10 Mar. 2015.

Page 44: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

43

Imagem 3: Mestre Vitalino extraindo barro, Caruaru - PE

Foto: Pierre Verger, 1947.

Fotografia: Pierre Verger, 19477

Chegando ao Alto do Moura, Vitalino, com sua experiência na modelagem dos

bonecos de barro, provocou uma verdadeira revolução no local, fazendo de sua arte algo a ser

seguido, criando assim uma escola com diversos seguidores, tais como: Zé Cabloco, Manuel

Eudócio, Zé Rodrigues, Luiz Antônio, Manoel Antonio, reproduzindo, através do barro,

acontecimentos do cotidiano, cenas folclóricas, a vida e os fatos da região (MARTINS, 2012).

Vitalino figura até então sem grande projeção artística, comercializando sua arte ainda

na feira de Caruaru, ambiente que atraía não só turistas em busca de regalias comercias, mas

também intelectuais e artistas ávidos por novas descobertas. Nesse ambiente, Vitalino

conhece Augusto Rodrigues, um recifense residente no Rio de Janeiro, desenhista de grande

talento artístico; ilustrador e caricaturista dos principais jornais do país de 1934 até 1960

(RIBEIRO, 1972).

Augusto Rodrigues passa a conhecer as obras de Vitalino e, dessa amizade, Vitalino

Pereira dos Santos, agora conhecido como Mestre Vitalino, começa a se projetar como

talentoso Artista Popular. Essa projetação inicia-se com sua participação em uma Exposição

de Cerâmica Popular Pernambucana, em 1947, organizada por Augusto Rodrigues e Joaquim

Cardoso, no Rio de Janeiro; rompendo, assim, as fronteiras que limitavam Mestre Vitalino

7Disponível em: <http://www.obrasilcoms.com.br/2014/07/mestre-vitalino-por-pierre-verger/>. Acesso em: 04 Mai. 2015.

Page 45: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

44

como Artesão local, passando a ser considerado grande ceramista da Arte Figurativa e

alcançando projeção a nível mundial (MARTINS, 2012). Sobre essa projeção, cita-se Lima

(2001, p. 67), quando relata:

Dessa forma, atraídos pelo trabalho do artista, começavam a chegar até Vitalino, em Caruaru, os colecionadores, os turistas e os intermediários interessados em adquirir suas peças, aumentando assim, sobremaneira, as possibilidades de comercialização da sua arte.

No contexto das Artes e da Cultura Popular Brasileira, a cerâmica produzida através

de barro ganha relevante destaque, pois envolvia uma técnica própria, representada de

múltiplas formas, que em sua essência traduzia a realidade das mais diversas regiões do país.

Falar de arte significa vivenciar tradições e acompanhar o desenvolvimento social e

econômico de uma comunidade, pois a arte se transforma a partir das expressões da

comunidade em que ela está inserida, surgindo o anseio de criar que, segundo Almeida (1980,

p. 54), “a necessidade de criar é inerente ao homem. Ela acontece naturalmente e não pode ser

detida”.

Assim, surgem as relações do sujeito com o mundo através da arte, passando por

gerações, agregando valores e costumes a um grupo. Nesse contexto, surgem os artesãos que

expressam a arte através das suas próprias mãos. Para descrever a relação do homem com a

arte, cita-se (op. cit, p. 55):

[...] a sua relação é visceral com o mundo que o rodeia torna-o parte viva do seu ambiente. Sem frequentar academias, ele mesmo forma seu gosto e sensibilidade pelo labor das mãos. E tudo isso é um saber proveniente da necessidade, e é deste saber que os ceramistas urbanos tiram seu oficio.

Essa relação foi percebida e reproduzida por Vitalino, artista popular do cenário local,

que se destacou na história da cerâmica figurativa de Caruaru por criar uma nova forma de

pensar a cerâmica figurativa, dando formas, contornos e vida aos bonecos de barro.

A mudança de Vitalino para o Alto do Moura, em 1946, foi de fundamental

importância para o desenvolvimento da Arte Figurativa na região, pela proximidade do local

Page 46: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

45

com a feira de Caruaru, local este de comercialização e divulgação da arte. Coimbra (2010, p.

60) chama atenção quando relata, “Na feira de Caruaru, a “banca” de Vitalino funcionava não

só como local de exposição e venda de seus bonecos, mas também como ponto de encontro

dos compadres e admiradores da novidade de seu trabalho”.

Vitalino começa a ser admirado por seu trabalho e, principalmente, por sua maneira de

interpretar o cotidiano do povo nordestino através da arte, adquirindo admiração e

colaboração de muitos, em especial de sua vizinhança que já manuseava a cerâmica

figurativa.

Vi Vitalino trabalhando, ai eu fui chegando ia pra casa dele, ele morava ali onde é o museu hoje... a casinha dele (...) ai comecei a olha, olhando eles trabaia, trabaiando ele e os filhos, tudo sentado no chão (...) Ai pegava um bolinho de barro, levava de casa, chegava Ia começava olhando eles fazerem aqueles bonequinho, eu olhando pra vê se fazia do mesmo jeito, pra vê se aprendia a faze do mesmo jeito (JOSÉ apud LIMA, 2001, p. 81).

Mestre Vitalino morre em 1962, deixando seu legado através de suas obras e de seus

discípulos, definindo, assim, o núcleo de artistas populares de Caruaru, ficando estes,

responsáveis pela produção e comercialização da Arte Figurativa do barro produzida na

Região. Os hoje denominados Artesãos tradicionais divulgam a obra do Mestre através de

suas peças; alguns reproduzindo o legado deixado pelo Mestre Vitalino, outros reinventando

as peças já produzidas e, o mais importante, produzindo algo inédito dentro da temática

figurativa.

Nessas peças inéditas, eles recriam cenas do cotidiano atual, trazendo para o figurativo

do regional, elementos urbanos ou fatos e acontecimentos novos, nacionais e internacionais.

Conservando características específicas dos bonecos chamados de profissionais, sendo estes

médicos, dentistas, advogados, professores que foram iniciados pelo Mestre Vitalino; a esse

elenco se juntam novos profissionais: o funcionário da companhia de eletricidade, o soldado

namorando a moça de minissaia, conjunto de jogadores de futebol. Mesmo com essa nova

forma de recriar o cotidiano, é marcante a presença temática deixada por Vitalino

(COIMBRA, 2010).

A técnica para construir os bonecos, a forma de amassar o barro e o instrumental ainda

continua o mesmo. A (imagem 4) faz referência à forma ou técnica para se amassar o barro.

Page 47: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

46

Na sequência (imagem 5), são demonstrados os instrumentos utilizados na produção das peças

artesanais.

Imagem 4: Mestre Vitalino modelando o barro, Caruaru - PE

Fotografia: Pierre Verger, 19478

Imagem 05: Ferramentas utilizadas por Mestre Vitalino, Caruaru - PE

Fotografia: Pierre Verger, 19479

8Disponível em:<http://www.obrasilcoms.com.br/2014/07/mestre-vitalino-por-pierre-verger/>Acesso em: 04 Mai. 2015.

Page 48: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

47

Mestre Vitalino marcou a vida e o cotidiano dos moradores do Alto do Moura e

deixou um legado que vem agregando gerações, todos encontram-se inseridos no contexto da

Arte Figurativa.

Sou filho de mestre Vitalino e comecei a trabalhar em 1957. Ele foi o criador da arte figurativa do Brasil. Eu me dediquei à mesma profissão e estou hoje aqui trabalhando. Sou pai de treze filhos e 25 netos. Toda família continua trabalhando, mostrando o que o mestre Vitalino representou para o nosso Brasil (MARTINS 2012, p. 109).

Mestre Vitalino deixou um legado de grande importância para os moradores do Alto

do Moura, em Caruaru - PE. A criação, produção e comercialização da Arte Figurativa no

Alto do Moura recebe até hoje a influência do nome Mestre Vitalino. Diversas famílias

produzem arte no Alto do Moura, algumas dessas famílias estão ligadas diretamente ao

Mestre Vitalino, por terem sido discípulos diretos do Mestre, garantindo, assim, a

continuidade de sua Arte.

Para colaborar com esse pensamento, Coimbra (2010, p. 62) chama atenção em sua

observação: “Se, por um lado, se torna praticamente impossível identificar o trabalho de cada

artista sem o seu carimbo na peça, por outro, seus bonecos inconfundíveis, representam, em

qualquer lugar, a cerâmica de Caruaru”. Essa forma única de recriar a arte fica bem definida

pelos artesãos que, apesar de possuírem características próprias de acordo com suas aptidões,

demonstram dentro dessa singularidade as características de uma arte própria da comunidade.

2.2.1 Arte Figurativa do Mestre Vitalino

Os ceramistas populares confeccionam suas obras a partir do simples barro, retratando

situações de um contexto social em que estão inseridos. A arte figurativa associa-se a essa

prática quando, em sua essência, pode ser definida como algo que representa, de qualquer

9 Disponível em: <http://www.obrasilcoms.com.br/2014/07/mestre-vitalino-por-pierre-verger/>. Acesso em: 04 Mai. 2015.

Page 49: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

48

forma, alterada ou distorcida, coisas perceptíveis no mundo visível. Essa forma de perceber o

mundo pode ser contemplada no estereótipo cultural, quando conduz ao imaginário reflexivo

e é colocada em prática na elaboração das peças, possuindo grande representatividade, e

tornando-se, registros preciosos sobre o cotidiano de um povo, de quem são e como vivem.

Um dos temas explorados por Mestre Vitalino é a imagem dos retirantes. Betiol (2007, p. 28)

chama a atenção para o seguinte aspecto:

[...] Mestre Vitalino, a qual retrata de forma peculiar os que têm sede no sertão e buscam outros lugares para a sobrevivência, discutindo, assim, numa forma simples de narrativa complexa, a política, a sociedade, as formas culturais, a economia, a geografia física, entre tantos outros elementos apresentados no mesmo tema.

“Os Retirantes” é uma das peças mais consagradas de sua obra por representar a

família do sertão que foge da seca. A Arte Figurativa de Mestre Vitalino possui características

próprias tanto em relação à forma, quanto à técnica. Sua observação ou visão de mundo

contextualiza-se em suas obras.

Imagem 6: Os “Retirantes” de Mestre

Fonte: Página do Templo Cultural Delfos10

10 Disponível em: <http://www.elfikurten.com.br/ > Reprodução fotográfica Anibal Sciarrett. Acesso: 24 Mar. 2015.

Page 50: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

49

Segundo a visão de Betiol (apud AGUILAR, 2000, p. 32), “a linguagem em cerâmica

de Mestre Vitalino adquire o ângulo de inflexão máxima em seu mundo próprio, uma vez que

seus primeiros clientes habitam o agreste e o sertão”. Ainda de acordo com Betiol (2007, p.

32):

A linguagem simples que aparece nas peças de barro da cerâmica popular figurativa brasileira adquire um sentido complexo quando se utilizam referências do contexto em que estes indivíduos estão inseridos para a realização dessa produção. Desconexos, não podem ser traduzidos e menos ainda compreendidos em sua plenitude. O que poderá trazer referências para um entendimento do tema elaborado na cerâmica é o conjunto de elementos significativos que pertence ao produtor e ao local em que estão inseridos. É necessária a pesquisa, que contextualiza sujeito e obra no seu universo “local”, permeados de significados, para que a cerâmica popular figurativa possa ser compreendida também como uma produção de representação histórica, [...].

2.2.2 Mestre Vitalino e sua obra

A criatividade, simplicidade e expressão cultural reverenciada nas obras do Mestre

Vitalino o tornava único em sua época. A simplicidade de suas peças, atraía intelectuais

ávidos por interpretar as mensagens de suas peças, o que o levou a alcançar reconhecimento

dentro e fora do país. De acordo Severino Vitalino, filho de Mestre Vitalino, o artista deixou

um legado de 108 obras (cf. MARTINS, 2012).

De acordo com o mesmo autor, grande parte dos trabalhos do Mestre Vitalino, refere-

se a ritos de passagem: o nascimento, o casamento, a morte. Fazem parte também de seu

repertório imagens que remetem ao lendário do povo nordestino; a ordem e o crime no sertão

brasileiro também estão presentes. Aspectos sociais são de grande destaque em sua obra.

Também são retratadas as profissões, sendo notória a distinção entre atividade masculina e

feminina.

São alguns exemplos: Casamento no Mato, O Noivo e a Noiva, Noivos a Cavalo,

Enterro no Carro de Boi, O vaqueiro que Virou Cachorro, O Diabo atentando o Bêbado,

Cangaceiro, O Soldado com o Bêbado, Lampião a Cavalo, Maria Bonita e Corisco, Violeiros,

Médicos e Pacientes, Agricultor Trabaiando na Roça, Vitalino Cavando Barro, Vitalino

Page 51: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

50

Queimando a Loiça e Vitalino e Manuel Carregando a Loiça, entre outras. Observam-se as

ilustrações a seguir:

11 Disponível em: <http://www.elfikurten.com.br/>Reprodução fotográfica: sem autoria. Acervo Museu de História e Arte do Estado do Rio de Janeiro/RJ. Acesso em: 24 Mar. 2015. 12 Disponível em: <http://www.elfikurten.com.br/>Reprodução fotográfica: sem autoria. Acervo do Museu do Barro - Espaço Zé Caboclo, Caruaru - PE. Acesso em: 24 Mar. 2015. 13 Disponível em: <http://www.elfikurten.com.br/>Reprodução fotográfica: sem autoria. Acervo do Museu do Barro - Espaço Zé Caboclo, Caruaru - PE. Acesso em: 24 Mar. 2015. 14 Disponível em:<http://www.museucasadopontal.com.br/> Reprodução Fotográfica: Sem autoria. Acervo: Casa do Pontal. Acesso em: 23 Mar. 2015.

Obra Nome da obra Fonte

Imagem7: Lampião11

Fonte: Página do Templo Cultural Delfos

Imagem 8: Cangaceiro a cavalo12

Fonte: Página do Templo Cultural Delfos

Imagem 9: Cangaceiro13

Fonte: Página do Templo Cultural Delfos

Imagem 10: Delegacia de polícia14

Fonte: Página do Museu Casa do Pontal

Page 52: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

51

15 Disponível em: <http://www.museucasadopontal.com.br/> Reprodução Fotográfica: Sem autoria. Acervo: Casa do Pontal. Acesso em: 23 Mar. 2015. 16Disponível em: <http://artepopularbrasil.blogspot. com.br> Reprodução fotográfica: Soraia /Evandro Carneiro. Acervo: Arte popular do Brasil. Acesso em: 23 Mar. 2015. 17 Disponível em: <http://www.museucasadopontal.com.br/> Reprodução Fotográfica: Sem autoria. Acervo: Casa do Pontal. Acesso em: 23 Mar. 2015. 18 Disponível em: <http://artepopularbrasil.blogspot. com.br > Reprodução fotográfica: Soraia /Evandro Carneiro. Acervo: Arte popular do Brasil. Acesso em: 23 Mar. 2015.

Imagem 11: Cangaceiros15

Fonte: Página Museu Casa do Pontal

Imagem 12: Emboscada16

Fonte: Página Arte Popular do Brasil

Imagem 13: Retirantes

Fonte: Página do Templo Cultural Delfos

Imagem 14: Enterro na roça17

Fonte: Página do Museu Casa do Pontal

Imagem 15: Noivos a cavalo18

Fonte: Página Arte Popular do

Brasil

Page 53: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

52

19 Disponível em: <http://www.museucasadopontal.com.br/> Reprodução Fotográfica: Sem autoria. Acervo: Casa do Pontal. Acesso em: 23 Mar. 2015. 20 Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural> Reprodução fotográfica: Rômulo Fialdina. Acervo: Enciclopédia Itaú Cultural. Acesso em: 23 Mar. 2015. 21 Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural> Reprodução fotográfica: sem autoria. Acervo: Enciclopédia Itaú Cultural. Acesso em: 23 Mar. 2015. 22 Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural> Reprodução fotográfica: Nelson Kon. Acervo: Enciclopédia Itaú Cultural. Acesso em: 23 Mar. 2015. 23 Disponível em: <http://www.museucasadopontal.com.br/> Reprodução Fotográfica: Sem autoria. Acervo: Casa do Pontal. Acesso em: 23 Mar. 2015.

Imagem 16: Dentista 19

Fonte: Página do Museu Casa do Pontal

Imagem 17: Médicos e paciente20

Fonte: Enciclopédia Itaú Cultural

Imagem 18: Agricultor trabaiando na roça21

Fonte: Enciclopédia Itaú Cultural

Imagem 19: Vitalino e filho fazendo bonecos 22

Fonte: Enciclopédia Itaú Cultural

Imagem 20: Engraxate23

Fonte: Fonte: Página do Museu Casa do Pontal

Page 54: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

53

24Disponível em: <http://www.elfikurten.com.br/> Reprodução fotográfica: sem autoria. Acervo Museu de História e Arte do Estado do Rio de Janeiro/RJ. Acesso em: 24 Mar. 2015. 25 Disponível em: <http://www.elfikurten.com.br/> Reprodução fotográfica: sem autoria. Acervo Museu de História e Arte do Estado do Rio de Janeiro/RJ Acesso em: 24 Mar. 2015. 26 Disponível em: <http://www.museucasadopontal.com.br/> Reprodução Fotográfica: Sem autoria. Acervo: Casa do Pontal. Acesso em: 23 Mar. 2015. 27Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural> Reprodução fotográfica: Rômulo Fialdini. Acervo: Enciclopédia Itaú Cultural. Acesso em: 23 Mar. 2015.

Imagem 21: Boi24

Fonte: Página do Templo Cultural Delfos

Imagem 22: Casa de farinha25

Fonte: Página do Templo Cultural Delfos

Imagem 23: Ordenha26

Fonte: Fonte: Página do Museu Casa do Pontal

Imagem 24: Cachorro com teju27

Fonte: Enciclopédia Itaú Cultural

Page 55: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

54

28 Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural> Reprodução fotográfica: Cícero Rodrigues. Acervo: Enciclopédia Itaú Cultural. Acesso em: 23 Mar. 2015. 29 Disponível em: <http://artepopularbrasil.blogspot. com.br> Reprodução fotográfica: sem autoria. Acervo: Museu Homem do Nordeste. Acesso em: 23 Mar. 2015. 30 Disponível em: <http://artepopularbrasil.blogspot. com.br> Reprodução fotográfica: sem autoria. Acervo: Museu Homem do Nordeste. Acesso em: 23 Mar. 2015. 31 Disponível em: <http://artepopularbrasil.blogspot. com.br> Reprodução fotográfica: sem autoria. Acervo: Museu Homem do Nordeste. Acesso em: 23 Mar. 2015.

Imagem 25: Ceia28

Fonte: Enciclopédia Itaú Cultural

Imagem 26: Cambiteiro29

Fonte: Página Arte Popular do Brasil

Imagem 27: Tropeiro30

Fonte: Página Arte Popular do Brasil

Imagem 28: Homem tirando leite31

Fonte: Página Arte Popular do Brasil

Page 56: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

55

Suas obras apresentam temas contextualizados, todos dentro do imaginário do povo

nordestino, sendo notório em suas peças, as expressões, os gestos, a postura corporal, dentre

outros elementos que podem ser observados nas obras anteriormente mostradas.

Passe-se, na sequência, a conhecer algumas teorias sobre sentimentos e significados

que deram sustentação a esse trabalho.

2.3 Sentimentos e significados de artesãos

Sentimentos fazem parte do intangível, do subjetivo, do imaginário. O homem pode

declarar seus sentimentos através de suas experiências, de suas expectativas, de seus desejos.

A arte enquanto essência, também faz parte do imaginário, imaginário não do homem comum,

mas sim do artista. Essa relação apresenta-se de forma distinta, quando observado o que é

produzido pelo homem e o que é produzido pelo artista. O que o homem produz através da

indústria, vai para o lixo; já o que o artista reproduz do seu imaginário chega ao museu.

Nesse processo de produção, surgem sentimentos que divergem quanto aos seus

objetivos, sendo necessária a compreensão que a produção industrial e a produção artística,

32 Disponível em: <http://artepopularbrasil.blogspot. com.br> Reprodução fotográfica: sem autoria. Acervo: Museu Homem do Nordeste. Acesso em: 23 Mar. 2015. 33 Disponível em: <http://www.elfikurten.com.br/>Reprodução fotográfica: sem autoria. Acervo Museu de História e Arte do Estado do Rio de Janeiro/RJ Acesso em: 24 Mar. 2015.

Imagem 29: Carro de boi32

Fonte: Página Arte Popular do Brasil

Imagem 30: Violeiros33

Fonte: Página do Templo Cultural Delfos

Page 57: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

56

não se relacionam, apesar de existirem entre eles um sujeito em comum, o “homem”, passível

de sentimentos. Sendo os sentimentos objeto de análise deste estudo, a analogia apresentada

sugere que o homem comum não será observado, e sim o artista, enquanto multiplicador dos

sentimentos, através de sua obra; sabendo que o artista expressa, manifesta e reproduz suas

ideias através de sua arte.

Todo indivíduo carrega consigo padrões de pensamento, de sentimentos e de atitudes,

resultantes de um aprendizado contínuo desde a infância. Depois que esses padrões se

instalam na mente, se faz necessário desaprender, antes de aprender algo diferente. Fazendo

uma analogia ao processo de aquisição desses padrões com o processo de programação de

computadores, utiliza-se o termo programação mental para identificá-lo. Os programas

mentais variam tanto quanto os ambientes sociais onde são adquiridos. Essa programação

mental se inicia na família e continua na vida, no bairro, na escola, nas organizações e na

comunidade, e é usualmente designada pelo termo cultura (HOFSTEDE, 1980).

Existe a distinção entre dois usos alternativos do termo cultura: um, no sentido restrito,

referindo-se a “refinamento da mente” ou “civilização”, relacionado com artes, literatura e

educação. O outro, baseado na Antropologia Social, que engloba padrões de pensamento,

sentimentos e ações da programação mental (HOFSTEDE, 1980). Nesse sentido, podemos

citar uma observação feita por Horácio Rodrigues da Silva, filho mais novo de Zé Cabloco

que, por sua vez, foi discípulo de Mestre Vitalino: “Através de nosso trabalho, podemos

expressar nossos sentimentos, o sentir da nossa realidade, da nossa cultura nordestina”

(MARTINS, 2012, p.131).

Neste sentido, adicionam-se as palavras de Diettrich quando afirma: “por traduzirem

sentimentos e comportamentos, os objetos artesanais podem ser vistos como mensagens

transmissoras de informações, características e sinais de determinado povo ou grupo”

(DIETTRICH, 2006, p. 53).

Traduzir sentimentos de artesão em processo de produção e comercialização é pensar

em um contexto social, onde os ideais de uns se mesclam aos ideais de muitos, surgindo assim

um grupo coeso, passando a ser capaz de manifestar seus sentimentos em conjunto. Essa

interação entre o grupo e o indivíduo permite explorar capacidades, proporcionando o

crescimento e a evolução, tanto do indivíduo, quanto do grupo a que se insere. Para Ferreira

Neto & Garcia (1987, p. 9):

Page 58: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

57

[...] sempre que em determinado espaço geográfico os indivíduos se conhecem, possuem interesses comuns, analisam juntos seus problemas e põem em comum os seus recursos para resolvê-los, podemos afirmar seguramente que aí existe uma comunidade. [...] Comunidade é, por conseguinte, reunião total de idéias, interesses e recursos, em determinado espaço geográfico em que pessoas interagem buscando soluções dos seus problemas para a realização do bem comum.

Utilizando as palavras do autor e, por conseguinte, seu pensamento, pode-se dizer que

a convivência em comunidade garante a reunião de ideias, integrando as pessoas em um

mesmo espaço. Esse pensamento reflete a realidade vivida na comunidade do Alto do Moura,

onde os artesãos se harmonizam, conseguindo, assim, garantir a sobrevivência da Arte

Figurativa, podendo também usufruir desta, como fonte garantidora da sobrevivência

financeira de toda a comunidade voltada à produção artesanal, o que torna a arte fonte de

contínuo trabalho. Corroborando com esse pensamento, cita-se Martins (2012, p. 19):

O Alto do Moura é enaltecido por Marliete Rodrigues da Silva, artesã, como um dos melhores lugares para se viver. Ela ressalta o caráter comunitário da vida local, a proximidade das casas dos artistas, a amizade entre eles e a troca de experiências – valores e práticas que vêm sendo cultivados desde a época do Mestre Vitalino.

A junção entre a satisfação em produzir arte e o prazer de se viver em harmonia com

sua comunidade constrói a união perfeita para o bom desempenho do trabalho. Dessa junção,

surgem sentimentos, podendo estes ser representados através de variáveis pessoais, bem como

variáveis inseridas no ambiente em que o sujeito exerce sua atividade, nascendo dessa forma a

ideia de trabalho. Sobre o trabalho, Codo (1997, p. 26) afirma que ele pressupõe “[...] uma

relação de dupla transformação entre o homem e a natureza, geradora de significado”.

Para dar embasamento teórico ao tema significados, a proposta que se apresenta é a de

analisá-lo através de uma ciência denominada Semiótica, que é a teoria geral do estudo dos

signos, e que, por sua vez, torna-se representação subjetiva de quem a interpreta. Santaella

(2007, p. 58) apresenta um conceito de signo onde afirma que, “signo é tudo aquilo que

proporciona uma relação tripla entre o objeto (fato), interpretante (entendimento que alguém

abstrai do fato) e o representâmen (corpo do signo em si)”. Um segundo conceito que pode ser

Page 59: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

58

explorado é o de Pereira (2009) quando conduz sua compreensão demonstrando que o signo

se constitui de dois lados ou sobre dois aspectos, afirmando que ele é algo que se vê, se ouve e

que se sente, ou seja, os signos são perceptíveis. O mesmo autor afirma que o aspecto sensível

do signo chama-se significante e que o aspecto semântico é denominado de significado.

Quadro 1: Decomposição de signos em seu significante e significado

Significante Significado

Na Natureza Nuvens escuras Vai chover

No Trânsito Sinal vermelho Pare

No corpo humano Febre Está doente

No local do crime Móveis quebrados Houve luta

Na ilha deserta Ruína de casa Já foi habitada

Fonte: adaptado de Pereira (2009, p. 45)

O quadro 1 reproduz a origem, o que este significa e qual o seu significado. Todas as

situações trazidas no quadro fazem referência à existência do observador no instante de sua

observação, sendo esta subjetiva (PEREIRA, 2009). Essa existência pressupõe uma

concepção simbólica de cultura voltada aos seres humanos; logo, essa cultura, quando voltada

à dignidade do homem no âmbito social, sofre algumas influências quanto a seus sentimentos

e ao que estes significam. Quando se fala em dignidade do homem, fala-se em trabalho, pois

este representa para o homem, em diversas culturas, o que é correto, o que é digno; o homem

que labora é visto como um elemento que contribui para sociedade e a sociedade o retribui

sob a forma de reconhecimento. No trabalho, o homem integra a sociedade, comunica-se,

partilha experiências. O significado do trabalho torna-se subjetivo, pois depende do indivíduo

que o conduz.

Se o homem reconhecer o trabalho somente como algo obrigatório e necessário à sobrevivência e aquisição deixa de perceber esse mesmo trabalho como a categoria integradora pela qual pode criar e reconhecer-se enquanto indivíduo e ser social. O homem alienado, tornar-se apenas produtor e consumidor de capital, deixando de buscar sua identidade nas atividades que executa. Deixa, então, de atribuir significados e sentidos positivos ao seu fazer (TOLFO E PICCININI, 2007, p. 45).

Page 60: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

59

Para os artesãos, o significado das peças artesanais é construído por meio do processo

no qual ele faz parte, desde o material utilizado, as ferramentas, a técnica, a pintura. Esse

significado vai muito além da peça pronta em si, envolve um contexto, um cotidiano, uma

cultura. Cada etapa do trabalho tem seus significados, pois envolve a vida de seu criador, seu

conhecimento e sua compreensão sobre o que está sendo produzido; dessa forma, pode-se

dizer que ele está ligado afetivamente à cultura, ao artesanato. Assim, quando o artesão

confecciona a figura do retirante, esta cena está presente em sua vida, no seu cotidiano, possui

um significado para ele e para a localidade a que pertence. Essa imagem representa sua

história de vida, sua história de luta. Dificilmente um artesão produziria uma peça que não

fizesse parte da realidade dele, por esse motivo, peças artesanais são únicas e pertencentes a

seu local de origem (FERREIRA, 2001). Para contribuir, cita-se Thompson:

O padrão de significados incorporados nas formas simbólicas, que inclui ações, manifestações verbais e objetos significativos de vários tipos, em virtude dos quais os indivíduos comunicam-se entre si e partilham suas experiências, concepções e crenças. (THOMPSON, 1995, p. 176, grifo do autor).

O tema também é entendido por Tolfo e Piccinini (2007, p. 39):

O significado refere-se às representações que o sujeito tem de sua atividade, assim como o valor que lhe atribui. A orientação é sua inclinação para o trabalho, o que ele busca e o que guia suas ações. E a coerência é a harmonia ou o equilíbrio que ele espera de sua relação com o trabalho.

Utilizando a definição de Tolfo e Piccinini (2007), conforme o trecho supracitado,

pode-se entender que a atividade desenvolvida no Alto do Moura possui uma relação de

harmonia entre o artesão, o trabalho e a arte. Para tornar esse pensamento relevante, cita-se

Martins (2012, p.147), quando descreve que “A arte é uma coisa que mexe com meus

sentimentos. Você ter o poder de criar e inovar, fazer alguma coisa diferente, alguma coisa

nova, alguma coisa que chame a atenção de alguém”. Dessa forma, o desenvolvimento de

uma atividade em comunidade contribui para o surgimento de sentimentos e significados que

Page 61: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

60

surgem a partir dessas relações, o que significa associar variáveis que se interligam no intuito

de colaborar com o desenvolvimento social, cultural e econômico em que está inserido.

O capítulo subsequente trata da metodologia adotada para esta pesquisa.

Page 62: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

61

III

___________________________________________________________________________

METODOLOGIA DA PESQUISA

Neste capítulo, são apresentados os procedimentos a serem utilizados para a

investigação do objetivo proposto nesta pesquisa, a qual visa verificar quais sentimentos e

significados são percebidos por artesãos do Alto do Moura, em Caruaru - PE, no processo de

produção e comercialização da Arte Figurativa do Mestre Vitalino.

3.1 Características da Pesquisa

Nesta pesquisa, utilizou-se o método qualitativo que, segundo Minayo (1996, p. 46),

“trabalha com o universo de significados, motivações, aspirações, crenças, valores e atitudes,

o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos

que não podem ser reduzidos à operacionalização de variável”.

Para Richardson (1999, p. 80), “os estudos que empregam metodologia qualitativa

podem descrever a complexidade de determinado problema, analisar a interação de certas

variáveis, compreender e classificar processos dinâmicos vividos por grupos sociais”. Ainda

em suas conclusões, ressalta que podem “contribuir no processo de mudança de determinado

grupo e possibilitar, em maior nível de profundidade, o entendimento das particularidades do

comportamento dos indivíduos”. O tema é assim também entendido por Merriam (1998, p. 5):

“é um conceito [...], o qual ajuda a entender e explicar o significado do fenômeno social com

a menor quebra possível do ambiente natural”. Sendo assim, entende-se por pesquisa

qualitativa um estudo complexo, de natureza social, sendo necessária a observação das

interações sociais.

Todo o levantamento de dados para realização desta pesquisa teve como método o

etnográfico. Este consiste em levantar todos os dados possíveis sobre uma determinada

Page 63: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

62

comunidade, tendo como objetivo conhecer seu estilo de vida, sua cultura, entre outros

aspectos observáveis. Definida por Malinowski (1984, p.18), “a etnografia é a ciência em que

o relato honesto de todos os dados se faz mais necessário que em qualquer outra”. Nesse

contexto, vale citar Rocha (1985, p. 31), quando afirma que “fazer etnografia significa

descrever de forma densa um fato da vida social”. Dessa forma, fazer etnografia significa

observar o outro em sua essência.

O estudo etnográfico utilizado nesta pesquisa teve como embasamento teórico a

definição de Baztán (1995, p. 3), o qual afirma que a etnografia trata “do estudo descritivo

(“graphos”) da cultura (“ethnos”) de uma comunidade”. De acordo com esse autor, o fazer

etnográfico exige o cumprimento de quatro etapas, a saber: a delimitação do campo a ser

investigado; a pesquisa de material documental; a investigação em campo, a observação,

entrevistas, registro dos dados; a saída de campo para a produção do texto etnográfico

(BAZTÁN, 1995).

Esse método de pesquisa foi escolhido tendo em vista a necessidade de conhecer a

cultura popular inserida na comunidade do Alto do Moura, em Caruaru-PE, com o objetivo de

identificar aspectos referentes à Arte Figurativa do Mestre Vitalino, no Alto do Moura, em

Caruaru-PE, bem como pela necessidade de conhecer e registrar a realidade do artesão sobre a

produção e comercialização da Arte Figurativa na comunidade, resgatando as tradições e as

manifestações populares em sua arte.

Este trabalho possui um caráter descritivo e exploratório; descritivo, pois tem a

intenção de descrever os resultados da pesquisa, sem interferir nos mesmos. Para Gil (2010), a

pesquisa descritiva tem como objetivo principal descrever características de uma determinada

população ou fenômeno e estabelecer a relação entre eles. Andrade (2002) destaca que a

pesquisa descritiva preocupa-se em observar fatos, registrá-los e analisá-los, classificá-los e

interpretá-los sem que o pesquisador interfira neles. A pesquisa descritiva tenta responder

questões, tais como: quem, o quê, quando, onde e, algumas vezes, como (COOPER;

SCHINDLER 2003).

Pesquisas deste tipo também podem ser classificadas como exploratórias, pois, por

meio delas, será conhecida com maior profundidade a sua temática central, tornando claro o

objetivo, podendo assim construir questões importantes para consecução de suas conclusões.

Esse pensamento foi completado por Gil (2010), quando enfatiza que a pesquisa exploratória

Page 64: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

63

tem como objetivo proporcionar uma visão geral acerca de um determinado fato, sendo

realizado, sobretudo, quando o tema é pouco explorado. Nesse sentido, explorar significa

construir um conhecimento com características específicas até então não conhecidas.

A figura 1, a seguir, apresenta uma diagramação sobre as características da pesquisa.

Figura 1: Resumo das características da pesquisa.

Fonte: elaborado pelo autor (2015)

3.2 Desenho da pesquisa

Para execução do desenho da pesquisa, seguiu-se a orientação de Gil (2010) sobre suas

etapas, tendo como ênfase a pesquisa etnográfica, na qual o autor assume uma visão holística.

Segundo o mesmo autor, é difícil estabelecer um esquema fiel, um passo a passo a ser

seguindo, por se tratar de um período significativo de pesquisa. No entanto, ele sugere um

esquema lógico, como o que serviu de base para o presente estudo.

Ainda no desenho da pesquisa, dividiu-se a mesma em etapas, não deixando de

ressaltar a importância do levantamento bibliográfico que fez parte de sua fase inicial.

Segundo Gil (2010), numa pesquisa exploratória, é cabível o levantamento bibliográfico, bem

como as entrevistas direcionadas ao público-alvo da pesquisa. Para a revisão bibliográfica, foi

selecionado um amplo material sobre o tema, além de dissertações e teses existentes sobre o

Page 65: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

64

assunto. Essa busca foi feita com “palavras-chave” como cultura, artesanato, sentimentos e

significados. Em sequência, as etapas da pesquisa:

1. A primeira etapa foi contemplada com a formulação do problema de pesquisa, quando foi

selecionado e delimitado o assunto sobre o qual versa o presente estudo. O tema para a

pesquisa surgiu como consequência de um interesse pessoal da pesquisadora, unindo os

constructos Cultura, Cultura Popular, Arte Figurativa, Mestre Vitalino, Sentimentos e

Significados.

2. A segunda etapa teve como referência a construção dos objetivos da pesquisa, dando

suporte ao problema da pesquisa, sendo este responsável por identificar sentimentos,

levantar significados e investigar oportunidades de crescimento em função dos artesãos do

Alto do Moura, em Caruaru - PE.

3. A terceira etapa surgiu como consequência da primeira e da segunda, quando foram

definidos o problema da pesquisa e seus objetivos. A partir dessa definição, pode-se

caracterizar a pesquisa, definida como uma pesquisa etnográfica, a partir de sua

abordagem, de seu método e sua técnica, conforme mostrados na (Figura 1).

4. A quarta etapa foi reservada para a construção ou elaboração dos instrumentos de coleta

de dados, tanto o da observação direta não participante, quanto o da entrevista por pauta.

5. A quinta etapa foi composta pela coleta de dados bibliográficos em livros, dissertações,

artigos, sites. Está presente também nesta etapa a observação direta não participante.

6. A sexta etapa teve como motivação a seleção dos sujeitos da pesquisa.

7. A sétima etapa consistiu na coleta de dados e organização dos dados coletados, com

objetivo de proceder a análise, interpretação e consolidação das mensagens obtidas,

proporcionando a exatidão na análise dos dados.

8. A oitava etapa é composta pela finalização da dissertação, com a interpretação, discussão

e conclusão acerca dos resultados obtidos. Na etapa finalizada da dissertação, procedeu-se

Page 66: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

65

a interpretação da autora e a consequente discussão e conclusão acerca dos resultados

encontrados.

A figura 2 apresenta a diagramação de todas as fases apresentadas:

Figura 2: Desenho das etapas da pesquisa

Fonte: elaborado pela autora, adaptado de Gil (2010, p. 127)

A figura 2 possibilita uma visão qualitativa do processo desenvolvido na pesquisa.

Passa-se na sequência a tratar do lócus da pesquisa.

3.3 Lócus da pesquisa

O lócus principal deste estudo deu-se em torno da Arte Figurativa do Alto do Moura.

Poucos são os estudos com essa temática, na verdade, a maioria das pesquisas recai sobre a

figura do Mestre Vitalino, percussor dessa Arte. Neste caso, esta pesquisa vem valorizar os

demais artesãos, pela continuidade da obra.

Page 67: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

66

A Arte Figurativa encontra no Mestre Vitalino o idealizador de um estilo próprio, que

se caracteriza pela reconstrução de cenas do cotidiano do povo nordestino. Ela se desenvolveu

no Alto do Moura, localizado na cidade de Caruaru - PE, denominado pela UNESCO

(Organização das Nações Unidas para Educação a Ciência e a Cultura) de “O maior centro de

Arte Figurativa da América Latina”. A atribuição desse título, mesmo sem comprovação

documental, levou essa comunidade a atravessar as fronteiras da cidade de Caruaru-PE,

chegando a ser conhecida e reverenciada mundialmente.

O Alto do Moura trata-se de uma comunidade que possui características inerentes ao

local, sendo a produção do artesanato oriundo do barro extraído na própria região. O

Artesanato produzido nesse local chama a atenção por sua expressividade, representação,

forma, cores e sutileza.

Imagem 31: Entrada do Alto do Moura

Fonte: Extraído do Livro: Feira de Caruaru: Inventário Nacional de Referência Cultural (2006). Sem registro de autoria da foto.

A imagem 31 representa a entrada do Alto do Moura. Sendo este um objeto de

observação por parte de quem visita o Alto do Moura, tanto por suas dimensões como

também por trazer em sua estrutura informações alusivas à qualidade do local enquanto

referência na Arte Figurativa. Observa-se também a figura do Mestre Vitalino bem como a de

Page 68: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

67

Mestre Galdino, sendo este uma figura de grande representação artística, porém não apresenta

relevância a este estudo.

Outro atrativo para as peças é a presença marcante do Mestre Vitalino nas

características centrais das obras, tendo sido ele o idealizador de um estilo próprio, que

reconstruía cenas do cotidiano do povo nordestino. Esta arte caracterizou-se como Arte

Figurativa, atravessando as fronteiras da cidade de Caruaru-PE, tornando a pequena

comunidade do Alto do Moura conhecida mundialmente.

O espaço agrega famílias de artesãos que, do barro, geram renda e sustendo para a sua

comunidade. Estes se concentram em suas moradias e nos seus estabelecimentos comerciais

(SILVA, 2010). No local, se extrai o barro, matéria-prima para a produção da Arte. As peças

são confeccionadas artesanalmente e comercializadas nos inúmeros ateliês da comunidade e

parte da produção também é escoada para a Feira de Caruaru, em espaço reservado, chamado

de feira de artesanato, local específico para comercialização das peças.

Esta lógica constitui-se como um conjunto de grande potencial para a produção da

cultura popular do local. Faz-se necessário compreender que essas peças têm como matéria-

prima o barro, sendo produzida na própria comunidade e conhecida como Arte Figurativa, por

se tratar de imagens que narram o cotidiano. O que é diferente da cerâmica utilitária, que se

produz artesanalmente, e é de uso doméstico, como as panelas, os jarros, as gamelas, os vasos,

entre outros.

O Alto do Moura destaca-se também pela presença do legado deixado pelo Mestre

Vitalino, ceramista conhecido nacional e internacionalmente por seus bonecos de barro. O

bairro fica localizado a 7 km do centro comercial da cidade de Caruaru-PE. O nome dado ao

Alto do Moura, de acordo com Baptista (2006, p. 20) “[...] se deve, segundo moradores, à

presença de um português chamado Moura, dono das terras circundantes, que mostram

algumas elevações geográficas. Assim, as pessoas se referem ao lugar como o Alto do

Moura”.

Na entrada da comunidade, existe uma grande fachada que faz alusão à produção local

que, por sua imponência, chama atenção, pois a magia encontra-se ao atravessá-la. Mitos,

imagens e representações elaboradas em cada canto da comunidade, considerada um grande

espaço de manifestação da cultura popular, que com suas peças constrói a imagem do homem

Page 69: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

68

nordestino em suas mais diversas formas. Na construção desse imaginário, pode-se citar

Medeiros (2006, p. 20), ao dizer que: “A beleza desses produtos é tão grande, que atrai

inúmeros visitantes, entre brasileiros e estrangeiros”. Fazendo parte de uma cultura

denominada de cultura nacional que de acordo com Mendonça e Mendonça ( 2000, p. 30)

[...]Gilberto Freyre, Sérgio Buarque , Darcy e da Matta o que se procura decifrar e decodificar os nossos símbolos, nossos ritos, mitos e heróis, tais como o caráter cordial do homem brasileiro, a feijoada o futebol, o carnaval, o jeitinho, o sincretismo religioso, e outras representações da pratica social[...]”.

Diante do exposto, no próximo tópico, passa-se a tratar dos sujeitos da pesquisa.

3.4 Sujeitos da pesquisa

Dando ênfase à estrutura desta pesquisa, foram consultados os artesãos descentes de

Zé Cabloco, discípulo direto do Mestre Vitalino. Eles foram observados, em sua maioria, no

local onde produzem e vendem suas peças, ou seja, em alguns casos, em seus próprios ateliês,

os quais estão localizados na comunidade do Alto do Moura.

Os sujeitos da pesquisa são chamados de artesãos ou mestres, sujeitos que elaboram

peças artesanais a partir do barro. Sua criação transforma-se em Arte Figurativa, produto que

faz parte da tradição e da cultura local. Os Artesãos estão reunidos no Alto do Moura em sua

totalidade.

Os artesãos do Alto do Moura estão concentrados em famílias, as quais fazem parte da

história da cerâmica figurativa de Caruaru-PE. A valorização da arte na sua forma tradicional

teve sua origem na figura do seu idealizador, o Mestre Vitalino. As famílias descritas abaixo

foram distribuídas de acordo com sua origem, podendo os artesãos descritos pertencerem à

primeira, à segunda e/ou à terceira geração, todas tendo como origem os ensinamentos do

Mestre Vitalino.

Família 1: Família de Severino Vitalino

• Severino Vitalino, filho e discípulo direto de Mestre Vitalino, aprendeu com o pai a arte de

manusear o barro. Começou suas atividades em 1957, transformando o barro em arte,

Page 70: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

69

reproduz as peças criadas pelo Mestre Vitalino, sendo 108 o total de peças reproduzida por

Severino Vitalino. Para Martins (2012, p.109), “O pai aparece como figura central, que

norteia não só sua vida e da sua família como também a de toda comunidade do Alto do

Moura”.

• Elias Vitalino, neto mais velho de Mestre Vitalino. Sua produção está voltada para as

figuras regionais e pertence à linha tradicional de artesãos. Quanto à sua produção: “Faço casa

de farinha, o engenho, o vaqueiro levando o boi, tirando leite da vaca, carga de cana, um

cavalinho com uma carga, cozinheiros, todos regionais” (cf. MARTINS, 2012, p. 112).

• Vitalino Neto, neto de Mestre Vitalino, vive exclusivamente da arte, carrega o nome do

Mestre Vitalino, fato este que considera um privilégio. Martins (2012, p.114) assim o

descreve:

Artista experiente, consciente de seu lugar e da importância da arte que defende com paixão, Vitalino Neto já participou das principais feiras do Brasil, em cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Porto Alegre e Brasília. Além disso, ele ministra oficinas de arte popular e garante, com isso, a transmissão do legado de Mestre Vitalino.

Família 2: Família de Zé Caboclo

• Zé Caboclo, um dos primeiros discípulos do Mestre Vitalino, transmitiu seu conhecimento

a seus filhos e estes a seus descendentes, que hoje vivem da Arte Figurativa. Suas observações

valorizam o legado deixado por Zé Caboclo Martins (op. cit. 2012, p. 126).

• Marliete Rodrigues da Silva, filha de Zé Caboclo, defende os valores do seu pai e que faz

parte da origem da Arte Figurativa do Alto do Moura, juntos com outros discípulos, todos

muito próximos a Mestre Vitalino. Zé Caboclo sempre se preocupou em envolver a família

Page 71: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

70

em todo o processo de trabalho, tornando-se um excelente professor, transmitindo sua

sabedoria a seus filhos (cf. MARTINS, 2012, p.126).

• Socorro Rodrigues da Silva, filha de Zé Caboclo, segunda filha de Zé Caboclo, defende o

legado deixado pelo pai e comunga junto com os irmãos, com os descendentes diretos de

Vitalino, com Manuel Eudócio e com Luiz Antônio a defesa pela criação e manutenção da

Arte Figurativa (op. cit. 2012).

• Thaís Rodrigues (neta de Socorro), artesã da nova geração, porém convicta em levar a

tradição da família de Zé Caboclo. Apesar de muito jovem, seus trabalhos são

comercializados por seus tios na feira de Caruaru. Sua inspiração vem do cotidiano, do dia a

dia, das profissões das pessoas: “Não vou deixar minhas raízes” (cf. MARTINS, 2012, p.

121).

• Carmélia Rodrigues da Silva, filha de Zé Caboclo, nasceu em 1956, artesã tradicional,

valoriza as figuras regionais e expressa esses valores através de suas peças. Os temas que

mais aborda são as figuras religiosas, sempre se voltando ao regionalismo (MARTINS, 2012,

p. 126).

• Emerson Nogueira da Silva (filho de Carmélia) e neto de Zé Caboclo, nascido em 1976,

vive da arte, valoriza a arte através do legado deixado pelo avô. Artesão tradicional, suas

peças possuem características marcantes; caricaturas de pessoas com traços regionais.

Emerson comenta: “E, brincando, descobri que tenho talento. Tenho a arte no sangue, pela

cultura que recebi dos meus pais” (cf. MARTINS, 2012, p. 125).

• Antônio Rodrigues da Silva, nascido em 1951, filho de Zé Caboclo, artesão tradicional,

preocupa-se em preservar os costumes através de suas peças, constrói peças com identidade

Page 72: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

71

regional e também figuras de animais, estes também numa abordagem regional. Antônio

descreve: “A gente se preocupa em preservar os costumes, o cotidiano, o tradicional, a

maneira como Vitalino começou” (cf. MARTINS, 2012, p. 125).

• Amanda Paes Rodrigues (filha de Antônio) e neta de Zé Caboclo, artesã de terceira

geração e tradicional, aprendeu muito cedo a trabalhar com o barro, suas peças representam o

cotidiano das mulheres trabalhando dentro do contexto regional.

• Horácio Rodrigues da Silva, filho mais novo de Zé Caboclo, artesão tradicional, valoriza

a cultura regional através de suas peças.

[...] continuei seguindo a arte de meu pai. Sempre observando o trabalho dos meus irmãos, do próprio meu pai também e continuei levando a arte em frente, fazendo novos tipos e sempre me preocupando em retratar a realidade aqui da região Nordeste (cf. MARTINS, 2012, p. 126).

• Paulo Rodrigues da Silva, nascido em 1950, é o filho mais velho de Zé Caboclo, artesão

tradicional, produz figuras e temas característicos da região. Paulo relata: “E hoje continuo a

arte que meu pai deixou. Foi uma grande herança e nós sobrevivemos dela” (cf. MARTINS

2012, p. 133).

Família 3: Família de Manuel Eudócio

• Manuel Eudócio, nascido em 1931, discípulo direto de Mestre Vitalino, a quem considera

grande companheiro, que lhe permitiu entrar no mundo da Arte Figurativa. Tido como grande

representante da arte brasileira, cria uma grande diversidade de figuras de barro; artesão

tradicional, valoriza a cultura nordestina através de sua arte (MARTINS, 2012).

Page 73: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

72

• Luiz Carlos, filho de Manuel Eudócio, nascido em 1958, artesão tradicional, tem como

mestre seu pai, a quem considera grande artista. As instruções e os ensinamentos recebeu de

seu pai, e também valoriza a cultura nordestina através de sua arte (op.cit, 2012).

• José Silvano, filho de Manuel Eudócio, nascido em 1959, aprendeu com o pai o manuseio

do barro, artesão dividido entre o tradicional e o comercial. Peças de sua autoria possuem

temas regionais (op.cit, 2012).

• Ademilson Rodrigues, filho de Manuel Eudócio, nascido em 1964, segue o mesmo estilo

tradicional do pai, o qual lhe passou todo o ensinamento (op.cit, 2012).

Família 4: Família de Luiz Antônio da Silva

• Luiz Antônio da Silva, discípulo direto de Mestre Vitalino, artesão tradicional, assumiu

juntamente com os discípulos diretos do Mestre Vitalino a responsabilidade de dar

prosseguimento à obra deixada pelo Mestre. Luiz Antônio relata: “A comunidade já mexia

com barro e passou a se interessar mais, e Vitalino deixou a arte implantada na comunidade”

(cf. MARTINS, 2012, p. 151).

• Leonaldo do Nascimento Silva, artesão tradicional, aprendeu com o pai a manusear o

barro, dando origem a suas peças que expressam o cotidiano do povo nordestino: retirantes,

bandas de pífano e trio nordestino fazem parte de seu repertório. Orgulha-se por viver

exclusivamente da arte. Leonaldo reflete: “Tudo que tenho é dom que Deus deu de fazer os

bonecos de barro” (cf. MARTINS, 2012, p. 151).

Page 74: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

73

• Leonildo do Nascimento Silva, filho de Luiz Antonio, aprendeu com seu pai a dominar a

arte do barro, artesão profissional, possui um estilo bem parecido com o de seu irmão

Leonaldo. Admira a figura do Mestre Vitalino. Leonildo relata: “Eu me lembro da história do

meu pai sobre o Mestre Vitalino: “Venha pra cá Luiz. Aqui é para todo mundo, para todo

mundo sobreviver do artesanato” (cf. MARTINS, 2012, p. 151).

Família 5: Família de Manuel Galdino

• Manuel Galdino, discípulo direto de Mestre Vitalino, passou a seu filho o que sabia sobre

arte figurativa (MARTINS, 2012).

• Joel Galdino, filho de Manuel Galdino, hoje trabalha exclusivamente com o barro, dando

continuidade ao trabalho do pai, replicando as obras deixadas por ele (MARTINS, 2012).

Para a seleção dos respondentes foi escolhida uma das famílias acima citadas. A

família tomada como referência para a pesquisa tem como origem a figura de Zé Caboclo,

artesão discípulo direto de Mestre Vitalino.

O fácil acesso aos respondentes foi utilizado como um dos critérios para esta seleção

dos sujeitos, bem como o número expressivo de artesãos na família, além da forte

representatividade social da família junto à comunidade do Alto do Moura.

Quanto ao critério utilizado, cita-se Gil (2010, p. 128) quando afirma: “o que interessa

é que seja capaz de fornecer informações que enriqueçam o trabalho e a pesquisa”. Sendo

assim, segue na figura 3 a representação da família pesquisada.

Page 75: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

74

Figura 3: Representação gráfica da família pesquisada

Fonte: dados da pesquisa, 2015.

3.5 Técnicas de coleta dos dados

Nesta pesquisa, utilizou-se como técnica de coleta de dados: a entrevista por pauta, a

observação direta não participante, fotos, vídeos e imagens. De acordo com Lakatos e

Marconi (2003), essa é a etapa em que se aplicam os instrumentos elaborados e as técnicas

selecionadas, a fim de se efetuar a coleta dos dados previstos. Desta forma, são utilizadas

fontes primárias para a coleta de dados.

Documentos como dados, conforme Godoy (1995): trata-se de uma técnica confiável,

tendo em vista que os dados coletados possibilitaram a validação das informações obtidas. Gil

(2010) considera que a pesquisa documental deve basear-se em documentos que não sofreram

análise ou que podem ser reelaborados de acordo com os objetivos a serem alcançados com a

pesquisa. Assim, foram utilizados os documentos disponíveis de acordo com sua

acessibilidade, sendo estes: documentos oficiais, reportagens de jornal, cartas, diários, filmes,

fotografias, gravações e relatórios de pesquisa.

Não são artesãos

Não são artesãos

Apenas pintura

Não é artesã

Page 76: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

75

A entrevista por pauta, a mais flexível de todas as técnicas (GIL, 1999), apresenta uma

estruturação coerente com os objetivos que a pesquisa deseja alcançar e deixa o entrevistado

falar livremente. A entrevista utilizada nesta pesquisa foi estruturada, atendendo aos objetivos

específicos já identificados (apêndice B).

A entrevista por pauta apresenta certo grau de estruturação, já que se guia por uma relação de pontos de interesse que o entrevistador vai explorando ao longo de seu curso [...]. O entrevistador faz poucas perguntas diretas e deixa o entrevistado falar livremente à medida que se refere às pautas assinaladas (p. 120).

Uma terceira técnica utilizada na pesquisa foi a observação não participante, sem

interferir no cotidiano do grupo analisado. A estrutura utilizada está representada no (apêndice

A). Coerente com essa visão, é interessante citar Prodanov (2013, p. 105), quando afirma que:

O pesquisador toma contato com o grupo ou a realidade estudada, mas sem integrar se a ela: permanece de fora. Presencia o fato, mas não participa dele; não se deixa envolver pelas situações; faz mais o papel de espectador. Isso, porém, não quer dizer que a observação não seja consciente, dirigida, ordenada para um fim determinado.

Finalmente, foram utilizadas fotos, vídeos e imagens, que contribuíram com detalhes,

expressões e valores quase sempre não perceptíveis em uma leitura. Segundo Bauer e Gaskell

(2000), o vídeo tem a função de registro de dados, de ações humanas em que sua observação

complexa é difícil de ser descrita.

3.6 Processo de coleta de dados

Inicialmente, estabeleceram-se critérios para a escolha da família pesquisada, sendo

estes: ter sido artesão de 1ª Geração de discípulo de Mestre Vitalino; o acesso aos

respondentes; e o número expressivo de artesãos na família. Após várias observações,

decidiu-se estudar a família de Zé Caboclo, discípulo direto de Mestre Vitalino, considerando

que estes dispõem de conhecimento acerca da Cultura local. No intuito da obtenção de

Page 77: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

76

respostas conclusivas, fez-se necessária a presença da pesquisadora nas dependências físicas

dos ateliês (espaço de produção e comercialização da Arte), bem como nas residências dos

sujeitos pesquisados, onde se produz as peças.

O acesso aos sujeitos pesquisados, bem como aos ambientes (produção e

comercialização), foram facilitados por Patrícia Maria da Silva, artesã, e nora de Socorro

Rodrigues da Silva, artesã e filha de Zé Cabloco. A facilitadora sempre se mostrou solícita a

contribuir com a pesquisa, indicando aspectos relevantes à compreensão do objetivo geral em

análise.

Foto 1: Ambiente comercial da artesã - Maria do Socorro Rodrigues da Silva –

Ateliê Dona Celestina

Fonte: dados da pesquisa, 2015

Observando a foto 1, pode-se perceber toda a estrutura comercial, composta por

prateleiras, peças à venda, maquineta de cartão de crédito e balcão. Neste ambiente, a artesã

produz e comercializa suas peças, bem como peças de artesãos da comunidade, em especial

da sua família.

O ateliê apresenta-se como um ambiente comercial, cujas instalações são de

propriedade de Maria do Socorro Rodrigues da Silva, artesã, tendo sido inaugurado no ano de

2014.

Page 78: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

77

Foto 2 e 3: Ambiente de produção do artesão - José Fábio Nogueira da Silva

Residência do artesão

Fonte: dados da pesquisa, 2015

Observando as fotos 2 e 3, pode-se perceber que não se trata de um ambiente

comercial, mas sim de um ambiente para a produção das peças. O forno demonstrado pelo

artesão é um dos itens da produção, sendo este utilizado para a queima das peças.

Como dito anteriormente, na pesquisa etnográfica vários procedimentos são utilizados,

porém os fundamentais são a observação e a entrevista. Sabe-se da importância e relevância

da observação na pesquisa etnográfica, não obstante a essa relevância, encontra-se a

entrevista, é provável que grande parte dos dados relevantes da pesquisa seja extraída através

da entrevista (GIL, 2010).

Antes da aplicação definitiva dos instrumentos de coleta de dados, foi aplicado um

pré-teste com a artesã Patrícia Maria da Silva (nora de Maria do Socorro Rodrigues da Silva -

artesã). Esta foi uma etapa importante, uma vez que possibilitou pequenos ajustes no roteiro

proposto para a presente pesquisa. Levantamento do perfil socioeconômico (APÊNDICE E), e

entrevista por pauta (APÊNDICE B). Quanto à observação não participante, foi criado um

modelo (APÊNDICE A) para anotações aleatórias em paralelo aos acontecimentos. Os fatos

foram observados de forma não sequenciada.

A pesquisa, incluindo os aspectos de levantamento socioeconômico, entrevista por

pauta e a observação direta não participante, foi realizada entre os dias 15 de abril de 2015 e

07 de maio de 2015; sendo esta, de acordo com a disponibilidade dos respondentes.

Page 79: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

78

O levantamento do perfil socioeconômico, a entrevista por pauta, e a observação direta

não participante, realizaram-se no momento da produção e comercialização da Arte

Figurativa, no intuito de construir observações a repeito da importância do Mestre Vitalino, os

sentimentos e significados da produção e comercialização dessa arte. Sendo observadas

também as perspectivas de futuro do artesão quanto à atividade em destaque na pesquisa.

Foto 4: Momento da produção, artesã - Carmélia Rodrigues da Silva

Fonte: dados da pesquisa, 2015

Sobre a análise de documentos, constatou-se poucas informações. Algumas

informações foram retiradas em sites (imagens), Associações de apoio ao artesão, vídeos

(busca na internet). Documentos em busca da historicidade da Arte Figurativa não foram

resgatados nesta pesquisa.

Coleta de Dados 1 – Levantamento do Perfil Socioeconômico.

Os indivíduos foram contactados, e, por conseguinte, agendados os encontros em seus

domicílios e/ou ateliês, acontecendo estes em horários adequados à visitação. Nos encontros,

foram realizadas anotações referentes aos dados gerais dos pesquisados. A nomenclatura AP

(artesão pesquisado) foi utilizada como código de referência ao entrevistado.

Page 80: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

79

Coleta de Dados 2: Entrevista por pauta

O procedimento de abordagem com os pesquisados seguiu a mesma rotina utilizada na

coleta de dados 1, isto é, os indivíduos foram contactados e agendados os encontros em

horários adequados à visitação aos seus domicílios e/ou ateliês. Nos encontros, foram

realizadas anotações referentes aos dados gerais dos pesquisados e sintetizados em suas

transcrições.

3.7 Limites e limitações da pesquisa

3.7.1 Limites da pesquisa

Mudanças vêm ocorrendo com a produção do artesanato no Alto do Moura. À medida

que o município cresce, sua dinâmica comercial cresce junto, e o artesanato faz parte dessa

dinâmica, por ter conquistado reconhecimento dentro e fora do país. Dessa forma, os

trabalhos figurativos do Alto do Moura sofreram interferências diversas, mudando também

sua referência estética tradicional. Esta pesquisa limita-se ao estudo da Arte Figurativa do

Mestre Vitalino, considerada pelos artesãos como produção tradicional. Além disso, os

objetivos deste estudo limitam-se a verificar quais sentimentos e significados são percebidos

por artesãos do Alto do Moura, em Caruaru-PE, no processo de produção e comercialização

da Arte Figurativa do Mestre Vitalino. Assim, tal objetivo limita-se a verificar a produção e

comercialização dos artesãos tradicionais que respondem como autores de obras voltadas para

a Arte Figurativa, não fazendo parte deste cenário, os artesãos que produzem peças em série.

A abrangência da pesquisa delimita-se ao estudo dos sentimentos e significados do

artesão tradicional, por conseguinte, não foram averiguados os demais artesãos para que se

propusesse uma comparação dos sentimentos e significados.

Page 81: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

80

3.7.2 Limitação da pesquisa

Inicialmente, encontraram-se dificuldades quanto aos sujeitos desta pesquisa, tendo

em vista que sua formação inicial seria pesquisar os artesãos que produzem a Arte Figurativa.

Limitações foram encontradas quanto à participação de artesãos da primeira geração. Sendo

assim, a seleção de uma família atuante e tradicional apresentou-se como melhor opção a ser

pesquisada, família puramente tradicional, seguidores do legado deixado pelo idealizador da

Arte Figurativa do Mestre Vitalino. Outro obstáculo encontrado foi a impossibilidade de

acesso a documentos históricos que trazem uma abordagem sobre o tema. Contudo, essa

limitação não trouxe prejuízo a esta pesquisa. Levando-se em consideração que, em momento

algum, pode se realizar um levantamento histórico aprofundado, e sim verificar sentimentos e

significados. Mesmo nos deparando com a carência de documentos, recorreu-se a sites

capazes de fornecer imagens relevantes à pesquisa.

3.8 Técnica de análise de dados

São vários os aspectos relevantes na análise de dados, sendo este um dos pontos

centrais da pesquisa qualitativa, processo que tem início com a coleta de dados, e seu término

com a redação da última frase de seu relatório (GIL, 2010). Para a análise de dados, utilizou-

se a técnica de análise de conteúdo. Segundo Vergara (2005, p. 15), “a análise de conteúdo é

considerada uma técnica para tratamento de dados que visa identificar o que está sendo dito a

respeito de determinado tema”. Para contribuir com a abordagem, Bardin (1977, p. 31) diz

que:

Análise das comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição dos conteúdos das mensagens indicadoras que permitam a interferência de conhecimentos relativos às condições de produção, recepção, variáveis inferidas dessas mensagens.

Page 82: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

81

A fase denominada leitura de material, torna-se uma fase de preparação para a análise

dos dados levantados. De acordo com Gil (2010, p. 131), “Todo o material escrito, como

notas de campo e transcrições de entrevistas, deve ser lido várias vezes [...] esse procedimento

é importante para tornar o pesquisador familiarizado com as informações obtidas”. Após essa

preparação e leitura exaustiva do material levantado, prossegue-se a fase de categorização dos

significados, pois, ainda de acordo com o autor, as “[...] categorias constituem importantes

componentes de pesquisa, sua compreensão torna-se necessário para a construção de um

modelo explicador da realidade” (GIL, 2010, p. 131). Categorizar significa isolar e, em

seguida, agrupar os elementos (VERGARA, 2005). Para esta definição, o quadro 2 demonstra

as categorias analisadas em pesquisa, para que seja feita uma análise desses elementos

agrupados e descritos como categorias e subcategorias.

Quadro 2: Representativo das categorias e subcategorias

Categorias Subcategoria Subcategoria Subcategoria Subcategoria Subcategoria

Admiração Origem Exemplo Aprendizagem - -

Sentimentos Realização Afinco - - -

Significados Reconhecimento Sobrevivência - - -

Oportunidades Continuidade

positiva

Continuidade

negativa

Valorização Inovação -

Fonte: dados da pesquisa, 2015

Quanto à estrutura, os entrevistados (artesãos da família de Zé Caboclo) são

caracterizados no final de suas falas pelas letras AP (artesão pesquisado); acompanhando esta

nomenclatura, existe a representação numérica quanto à posição do AP em cada entrevista 01,

02, 03, 04 e, assim, sucessivamente, até a 14ª posição. Dessa forma, o código AP01 refere-se

ao artesão pesquisado 01, assim como o AP14 refere-se ao artesão pesquisado 14. A

classificação indicada no quadro 3, refere-se à posição do sujeito participante na pesquisa.

Page 83: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

82

Quadro 3 – Classificação por artesão pesquisado

Classificação Nome do artesão pesquisado

AP1 Helena Rodrigues da Silva

AP2 Antônio Rodrigues da Silva

AP3 Maria do Socorro Rodrigues da Silva

AP4 Carmélia Rodrigues da Silva

AP5 Marliete Rodrigues da Silva

AP6 Paulo Rodrigues da Silva

AP7 Horácio Rodrigues da Silva

AP8 Emerson Nogueira da Silva

AP9 Maria Simone Nogueira da Silva

AP10 Evandro Paes Rodrigues

AP11 José Fábio Nogueira da Silva

AP12 Hamilton Paes Rodrigues

AP13 Olga Nogueira da Silva

AP14 Bruno Rodrigues da Silva

Fonte: dados da pesquisa, 2015

Os dados foram lidos de forma exaustiva e, posteriormente, realizados alguns recortes

das falas transcritas. Essas transcrições atenderam fielmente às gravações colhidas nas

entrevistas por pauta.

Ilustrações foram apresentadas quando pertinentes, sendo estas para melhor ilustrar ou

favorecer a compreensão do leitor. Ressaltando-se que as fotos aqui apresentadas podem

desempenhar tanto um caráter de análise, como também meramente ilustrativo.

Por este trabalho tratar-se de uma pesquisa etnográfica, Gil (2010, p. 127), “Os dados

obtidos [...], precisam ser colocados numa perspectiva ampla para que assumam significado”.

Segue, na sequência, a análise e a discussão acerca dos dados coletados.

Page 84: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

83

IV

___________________________________________________________________________

ANÁLISE DE DADOS

Para esta etapa, apresentam-se as observações e os resultados da pesquisa realizada

junto aos artesãos do Alto do Moura, em Caruaru – PE, acerca dos sentimentos e significados

desses artesãos na produção e comercialização da Arte Figurativa do Mestre Vitalino.

Para melhor compreensão por parte do leitor, foram apresentados conteúdos das falas

dos sujeitos analisados, suas categorias e subcategorias, sendo as subcategorias responsáveis

por construir uma divisão qualitativa quanto à forma de analisar os discursos. Sendo assim, o

presente estudo tem como foco analítico os artesãos no processo de produção e

comercialização da Arte Figurativa.

Após a realização das análises, sequencia-se com as considerações finais do estudo.

Foram totalizadas na pesquisa 226 unidades de significação; estas foram identificadas no

intuito de responder o objetivo central desta pesquisa. Em seguida, foram distribuídas em

quatro categorias (admiração, sentimentos, significados e oportunidades34), de acordo com as

frequências identificadas na análise.

Gráfico 1: Resultado geral por categoria

Fonte: dados da pesquisa, 2015

34 Admiração – sentimento agradável que se apodera do ânimo ao ver extraordinário, bela e inesperada. Sentimento – ato ou efeito sentir. Significado – significação; sentido; acepção. Oportunidade – caminho, futuro, perspectiva. Disponível em: <http://www.dicionarioaoaurelio.com>. Acesso em: 22 Jul. 2015.

Page 85: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

84

Tabela 1 - Demonstra de forma decrescente as subcategorias mais comentadas na

pesquisa.

Tabela 1: Posição decrescente das subcategorias mais relevantes

Posição Subcategoria Unidades

1 Aprendizagem 38

2 Exemplo 32

3 Afinco 25

4 Sobrevivência 25

5 Origem 22

6 Continuidade positiva 18

7 Continuidade negativa 17

8 Reconhecimento 16

9 Realização 16

10 Inovação 9

11 Valorização 5

Total 226

Fonte: dados da pesquisa, 2015

4.1 Categoria – Admiração

4.1.1 Subcategorias: origem, exemplo e aprendizagem.

Para a categoria admiração, a mais citada na pesquisa, foram consideradas unidades de

significação que correspondem à importância do Mestre Vitalino junto aos artesãos e à

comunidade do Alto do Moura, em Caruaru - PE. Sendo estas voltadas à valorização da arte

figurativa e à presença do Mestre Vitalino no ambiente de produção e comercialização dessa

arte, sendo elas a origem, o exemplo e o aprendizado.

Page 86: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

85

É interessante relatar que a maioria das unidades de significação trazem expressões,

como: “o principal”, “a origem”, “o pioneiro”, “criar a arte”, “através dele”,

“referência”, “idealizador”, “legado”, “começo”, “o mais importante”, “humildade”,

“simplicidade”, “exemplo”, ”companheirismo”, “generoso”, “humildade”, “generoso”,

“aprendi com meu pai”, “quando criança”, “comecei fazendo cavalinhos”, “vendo meu

pai”, “vendo minha mãe”, “comecei aos 6 anos”, entre outras unidades.

Para a categoria admiração, foram localizadas 92 unidades de significação que

correspondem à importância do Mestre Vitalino, tanto para os artesãos do Alto do Moura

como também para toda a comunidade local e para o processo de aprendizagem entre os

artesãos.

Gráfico 2: Resultado da categoria admiração

Fonte: dados da pesquisa, 2015

Valores referentes foram extraídos com base no montante pesquisado, sendo a

subcategoria aprendizagem a de maior frequência, perfazendo um total de 41,30 % do total

da categoria admiração.

4.1.1.1 Subcategoria: aprendizagem

Para esta subcategoria, identifica-se o processo de construção que é herdado dos pais

para os filhos, conforme citado pelos pesquisados. Observam-se alguns recortes das falas,

Page 87: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

86

contendo unidades de significação relevantes e estando estes em consonância com o processo

de aprendizagem tido pelo Mestre Vitalino. As partes identificadas foram descritas em

negrito.

[...] eu aprendi com minha mãe, ela fazia, e eu aprendi vendo ela fazendo (AP01). [...] meu pai fazia bonecos e eu fazia também (AP01).

[...] meus filhos aprenderam me vendo trabalhar (AP02).

[...] com 6 anos, eu via meu pai e minha mãe trabalhando, eu já pegava no barro, pra fazer brinquedinhos, mais já no intuito de vender né, pra arranjar dinheiro (AP03).

[...] eu aprendi com meu pai quando criança, papai trabalhando e a gente lá, do lado dele! (AP04).

[...] eu aprendi vendo meu pai trabalhar, ele deixava a gente bem à vontade. Não exigiu que a gente tivesse que aprender (AP05). Vendo mamãe fazer (Dona Celestina) que fazia panelinhas, e viveu a vida toda fazendo um jogo de panelinhas (AP05). [...] vendo os dois trabalhando, papai e mamãe ai eu aprendi. Ai veio Helena (irmã), que também começou muito cedo, e a Socorro e a Carmélia (irmãs), então tive toda influência (AP05).

[...] aprendi vendo meu pai trabalhar, comecei fazendo uns cavalinhos de barro, peças de brinquedo, até vendia na feira, daí comecei modelando os bonequinhos, até hoje, eu continuo na arte do barro! (AP06).

[...] 9 anos foi idade que eu comecei a mexer com barro, observando minha mãe trabalhar! (AP07).

[...] eu desde criança via minha mãe trabalhando, minha tia, e eu ia brincando ia aprendendo (AP08). [...] meu avô ensinou aos filhos, ele era agricultor mais ensinou, dando incentivo aos filhos dele (AP08).

[...] eu aprendi com minha mãe e com minhas tias Socorro e Marliete (AP09). [...] eu já ensinei a minha filha Samara (AP09).

[...] eu aprendi vendo meu pai, observando. Lá pegando o barro e fazendo, brincando né! (AP10). [...] ensinei a meus filhos, mais só pra eles brincarem (AP10).

[...] eu aprendi a trabalhar com minha mãe, ela me chamava pra sentar perto dela (AP11).

[...] aprendi com meu pai, e meus tios, que ficam trabalhando aqui no ateliê e a gente desde pequenininho ficava mexendo no barro (AP14).

Page 88: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

87

Quanto às observações sobre o processo de aprendizado, foi identificado que não se

trata de um processo formal, mas sim de um processo de sucessão do saber, sendo repassado,

na maioria das vezes, dos pais para os filhos, nessa ordem, conforme abordado anteriormente.

Durante o processo de observação, pôde-se perceber a responsabilidade da família na

promoção do conhecimento artístico. A valorização inicial é atribuída à necessidade de

aprender o manuseio do barro na expectativa do próprio auxílio financeiro. A falta de

expectativas com relação à frequência das crianças na educação tradicional foi, durante

muitos anos, um fator de grande dificuldade para os moradores da comunidade, tendo em

vista a falta de acesso à escola e a dificuldade de transporte. Estes fatores influenciaram até a

terceira geração de artesãos. Muitos frequentaram uma escola na própria comunidade, com

possibilidade de formação apenas até a conclusão do ensino fundamental. Todas essas

dificuldades fizeram com que as crianças se dedicassem ao aprendizado da Arte Figurativa.

Este cenário já não se apresenta nos dias atuais, sendo a educação formal objeto de grande

relevância para os artesãos.

Sobre esse aspecto, Maria do Socorro Rodrigues da Silva, artesã, filha de Zé Cabloco,

comenta:

Estudar era muito difícil, estudamos aqui mesmo no Alto do Moura em uma escolinha que só era até a quarta série. Mamãe aprendeu a escrever o nome antes de morrer, aprendeu mais já com muita dificuldade doentinha mal consegui fechar as mãos para segurar o lápis, mais ela aprendeu e ficou muito feliz. Eu tenho um irmão que conseguiu se formar. Papai só deixava ele ir pra rua estudar, era muito esquisito e perigoso pra mulher naquele tempo. Eu e minhas irmãs começamos logo a trabalhar com o barro por que não tínhamos onde estudar, ai fomos melhorando, começou a vender nossas pecinhas e a escola deixou de ser importante. Casamos, formamos nossa família tudo com o barro, nossa escola foi o barro. Hoje estudar é muito fácil e todos os jovens aqui no Alto do Moura frequentam as escolas, vão para o IF (Instituto Federal) que fica aqui próximo e assim vão levando.

Conforme abordado anteriormente, o processo também recebe influência da família;

observou-se essa influência no processo de pesquisa:

[...] eu ensinei a algumas sobrinhas, e as minhas irmãs, quando elas eram pequenininhas! (AP01).

[...] já ensinei a minha netinha Thais, que hoje em dia trabalha, e tem outra netinha a Maria Fernanda (AP03). [...] e algumas das irmãs pedem uma

Page 89: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

88

orientação de uma coisa ou outra (AP03). [...] Como também já aprendi com minha irmã Marliete, [...] a gente fica trocando informações (AP03).

[...] também aprendi com meus irmãos mais velhos, já que sou o mais novo, ai eu fui observando, observando, e fazendo até que hoje permaneço na arte do barro (AP07).

Durante a pesquisa, foi observado que o processo se inicia na infância e está

inteiramente voltado à necessidade de construir seus próprios brinquedos, assim como fazia

Mestre Vitalino. De acordo com Martins (2012), Mestre Vitalino aproveitava as sobras do

barro da produção de sua mãe para construir seus próprios brinquedos.

Dados referentes ao início da atividade como artesão foram colhidos no levantamento

socioeconômico (APÊNDICE E). Sendo a média de idade entre os respondentes 9 (nove) anos

de idade.

Imagem 32: Primeiros passos com o barro – filho de Mestre Vitalino

Foto: Pierre Verger, 194735

A afirmativa supracitada encontra-se representada pela imagem 32, onde observa-se a

figura do filho do Mestre Vitalino, manipulando barro como brincadeira, na tentativa de

recriar peças que são reproduzidas em sua comunidade. 35 Disponível em: <http://www.obrasilcoms.com.br/2014/07/mestre-vitalino-por-pierre-verger/>. Acesso em: 04 Mai. 2015.

Page 90: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

89

Recortes construídos a partir da pesquisa chamam atenção quanto à manutenção do

processo de aprendizagem que se traduz em legado deixado pelos pais, bem como quanto ao

processo de criatividade inerente ao artesão; sendo este uma criatividade que surge na infância

e que se fundamenta na construção do universo lúdico infantil.

[...] comecei aos 6 anos a brincar com o barro, fazendo os brinquedos pra brincar e comecei logo a vender pra ganhar dinheiro (AP05).

[...] brincava de fazer cavalinho e levava a brincadeira a sério, fazia fazenda pra brincar, carrinho (AP08).

Outro fator relevante a ser observado, ainda sobre o processo de aprendizagem, é o

valor dado por parte dos artesãos em multiplicar seus conhecimentos, não só para seus

familiares, mas também com todos que tiverem interesse em aprender. Seguem recortes da

pesquisa nos quais se podem observar os aspectos mencionados.

[...] eu fico muito contente quando vejo as pessoas quererem alguma explicação minha né! Como é pra fazer a cabeça do boneco, que é o mais difícil (AP03). [...] muitas vezes as pessoas pedem orientação minha, ai eu fico contente! (AP03) [...] quero que as pessoas aprendam a fazer (AP03).

[...] eu já ensinei a várias pessoas, inclusive a uma amiga que não tinha profissão e trabalhava na roça e ela aprendeu! Hoje em dia ela é artesã e faz qualquer tipo de louça, todo mundo consegue aprender (AP04).

[...] eu já dei cursos na Fundação Cultura aqui em Caruaru, em Recife; uma oficina de Artes no museu do folclore; em colégios também de Recife e Caruaru (AP07).

[...] um pouco jovem eu comecei a ensinar. Ensinei em muitas escolas até fora do estado, eu vi que tava ganhando dinheiro e me animei (AP08).

Através da entrevista por pauta, do levantamento socioeconômico e da observação não

participante, pode-se perceber que o trajeto do artesão inicia-se logo na infância e que todo o

processo de aprendizagem é conduzido por seus pais e/ou familiares. Outro fator relevante a

esse processo é o fato de que são as brincadeiras que levam as crianças ao ato de produzir

Page 91: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

90

seus próprios brinquedos, construindo habilidades que serão aperfeiçoadas no decorrer de

suas vidas.

A família assume um papel importante nesse processo, que é o de dar suporte no

desenvolvimento das habilidades inerentes ao artesão. Outro fato de relevância a ser

observado é o baixo nível de escolaridade percebido através do levantamento

socioeconômico, isto é, grande parte dos artesãos concluiu apenas o ensino fundamental. As

gerações que mais sofreram impacto com essa falta de escolaridade foram as 1ª, 2ª e 3ª

gerações, por existirem fatores econômicos, sociais e naturais que os impediam de estudar,

elevando, assim, as expectativas quanto à Arte figurativa como fonte garantidora de recursos

financeiros para sua sobrevivência e, consequentemente, manutenção financeira da família.

As gerações que surgem após a terceira geração, estão tendo acesso à escolaridade, à

profissionalização e à qualificação superior. Esse desenvolvimento profissional da quarta

geração conduz o cenário aprendizado a sinais alarmantes no que tange à continuidade da

arte; sabendo-se de que a quarta geração se profissionaliza e atribui pouco ou nenhum

interesse à continuidade da arte. Essa falta de interesse foi excessivamente levantada pelos

sujeitos da pesquisa.

4.1.1.2 Subcategoria: exemplo

Conforme já mencionando em análise, a categoria admiração obteve o maior nível de

frequência, perfazendo um percentual de 40,71% do total da amostra, sendo a subcategoria

exemplo a segunda de maior frequência, com o montante de 34,78 % do total da categoria

admiração.

Todos esses aspectos surgiram de maneira espontânea nas falas dos respondentes.

Dessa forma, analisa-se o resultado como sendo o Mestre Vitalino uma grande referência

dentro do Alto do Moura, na cidade de Caruaru e por que não falar de sua importância para

Pernambuco e para o Brasil? Seu exemplo de vida torna-se um fator de admiração para os

artesãos do local, para a cidade de Caruaru, para Pernambuco e para o Brasil. Ele como sendo

Page 92: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

91

um exemplo de humildade, companheirismo, simplicidade, entre outros aspectos, passou a ser

uma pessoa admirada como um “mito”.

Valmiré Demenon, historiador e pesquisador de Cultura Popular, comenta sobre o

exemplo de Mestre Vitalino em um documentário sobre o artista36.

O Vitalino ele traduz o espírito do verdadeiro artista popular. Ele não se considera artista. Ele tinha aquilo como o seu oficio. Um oficio que dava sustento para sua família. Ele não se via como mestre que sempre foi, sempre deve ser reverenciado como tal, ele tinha um desprendimento, de absorver e de passar também.

Os exemplos percebidos durante o processo de pesquisa foram distribuídos

observando-se aspectos relevantes quanto ao valor dado à figura do Mestre Vitalino. Sua

personalidade, o artista, e sua colaboração são os exemplos mais perceptíveis. Demonstram-se

alguns recortes das falas, contendo unidades de significação relevantes, estando estas em

consonância com o exemplo deixado pelo Mestre Vitalino. As partes mais relevantes

identificadas foram descritas em negrito para melhor identificá-las.

Quanto a sua personalidade:

[...] ele era uma pessoa simples! (AP02). [...] Não tinha ambição! (AP02). [...] Esse foi um exemplo que ele deixou de humildade (AP02). [...] de companheirismo né! (AP02). [...] Ele deu uma lição de cidadania (AP02).

[...] uma pessoa muito solidária (AP03).

[...] Ele deixou um exemplo muito bonito (AP05). [...] muito humano (AP05). [...] foi uma pessoa muito solidária (AP05). [...] de uma simplicidade incrível! (AP05). [...] ele sabia ser amigo das pessoas [...] ele sabia dar valor as pessoa [...] ele sabia dar valor as pessoas (AP05). [...] uma pessoa muito simples (AP05). [...] com uma inteligência daquelas né! (AP05 ) [...] fazia tanta coisa bonita, com tanta expressão (AP05). [...] ele tinha uma amizade muito grande com todo mundo, principalmente com

36 Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=FqW2ZTuP0rk> Acesso em: 12 Mai. 2015.

Page 93: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

92

papai. Eles sempre conversavam a respeito do trabalho, sobre a vida. A amizade era tanta, que a família do Mestre Vitalino e a nossa permanece com grande amizade (AP05). [...] eu tenho que seguir o exemplo lindo que papai deixou, que Mestre Vitalino deixou, que minha mãe deixou, por que eles eram muito esforçados com a Arte (AP05).

[...] ele foi um homem muito generoso (AP06).

Mestre Vitalino sempre foi esse mito, essa pessoa fantástica que tem seu reconhecimento. E deve está sempre na memória de toda essa gente (AP08).

Através da entrevista por pauta e das observações feitas, pudemos perceber que

aspectos relacionados à personalidade de Mestre Vitalino tornaram-se referência junto à

comunidade de artesão do Alto do Moura. O exemplo deixado pelo Mestre o fez ser

reverenciado por sua personalidade. Sua simplicidade, generosidade e sinceridade são

lembradas constantemente no processo de pesquisa. Estas características inerentes à

personalidade do Mestre Vitalino construíram um ambiente de grande harmonia e colaboração

entre os artesãos da atualidade. Sobre isso, Marliete Rodrigues da Silva, artesã, filha de Zé

Cabloco, comenta:

Papai era muito amigo de Mestre Vitalino, eles tinham uma relação de muita amizade. Papai comentava como ele era uma pessoa boa, generosa, companheira. Que adorava ensinar, pois todos tinham condições de aprender. Eles conversavam muito, trocavam ideia a respeito da vida, da família do trabalho. Ele era uma pessoa muito amiga.

Helena Rodrigues da Silva, artesã, filha de Zé Cabloco, também comenta:

Todos os artesãos daqui do Alto do Moura se espelham no Mestre Vitalino, no exemplo que ele deixou. Uma pessoa muito boa, que não foi egoísta, ele ajudou a todas as famílias daqui.

Quanto ao artista:

[...] ele deixou um exemplo muito lindo, além de ter sido um grande artista, que criou tanta coisa. Muitas cenas lindas do dia a dia. Quando eu vejo o trabalho dele, no museu do barro em Caruaru, eu fico encantada (AP05). [...] fazia tanta coisa bonita, com tanta expressão (AP05).

[...] ele criou essa escola de arte que sempre retratou através das peças o cotidiano de nossa região (AP07). Mestre Vitalino foi assim, uma grande

Page 94: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

93

referência para nossa arte (AP07). [...] ele criou cerca de 119 peças, tudo inspirado no cotidiano nordestino (AP07).

Mestre Vitalino sempre foi reverenciado por sua obra, pela forma como trazia a

expressão em suas obras. Ele conseguia plasmar sentimentos, aspectos regionais, a felicidade,

o respeito, tudo isso através de suas peças. Observa-se que alguns artesãos o consideram um

artista completo, por ter a capacidade de perceber situações e de conseguir representá-las de

forma única, mesmo sendo uma pessoa tão simples e com uma inteligência admirável. Suas

peças são objeto de reprodução pelos mais diversos artesãos do Alto do Moura; esta

observação tem como referência a existência de temas construídos pelo Mestre Vitalino ainda

sendo comercializados nos mais diversos ateliês da comunidade. São exemplos de obras

reproduzidas: Lampião, Lampião e Maria Bonita, Noivos a Cavalo, peças de grande

representação e de autoria do Mestre Vitalino.

A foto 5 representa um exemplo da reprodução e comercialização de peças do legado

deixado pelo Mestre Vitalino.

Foto 5: Reprodução de peças do Mestre Vitalino

Fonte: dados da pesquisa, 2015

Sobre isso, Maria do Socorro Rodrigues da Silva, artesã, filha de Zé Cabloco,

comenta: “As pessoas procuram muito as peças do Mestre Vitalino, a gente sempre tem que

Page 95: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

94

ter pra vender”. Seu senso de colaboração também se apresentou como outro aspecto

relevante na subcategoria exemplo.

Quanto à sua colaboração:

[...] foram perguntar a ele se ele queria que registrasse o trabalho dele pra ninguém copiar, então ele disse que “não queria, pois todo mundo precisa viver” (AP02).

[...] ele trabalhava junto com meu pai, que era Zé Caboclo, e tinha muita gente que dizia. “Vitalino, já estão copiando seu trabalho”, e ele dizia, “ ah deixa, não tem importância, todo mundo precisa de viver” (AP03).

[...] ele sabia que as pessoas também precisavam trabalhar (AP05). [...] não teve ciúmes quando as pessoas começavam a copiar a Arte dele (AP05). [...] ele apoiou! (AP05) [...] Ele disse que todo mundo precisava sobreviver! (AP05)

[...] na época do Mestre Vitalino uma pessoa chegou pra ele querendo que ele registrasse a arte dele, e ele disse que não queria (AP06). [...] ele sentia-se muito feliz quando via outra pessoa fazer também (AP06).

Esta é uma passagem bastante citada na vida de Mestre Vitalino, sendo percebida

através da observação direta, bem como através da entrevista realizada, uma vez que

incentivado a patentear o estilo de arte para que ninguém copiasse seu estilo, sua reposta

negativa até hoje é reverenciada como exemplo. Seu senso de colaboração entre as pessoas da

comunidade e sua personalidade solidária tornaram-no, a cada dia, independente das gerações,

uma pessoa a ser lembrada como um mito.

Emerson Nogueira da Silva, artesão, e neto de Zé Cabloco, comenta: “Mestre Vitalino

foi tão importante para nosso povo quanto Padre Cícero, Lampião ou Luiz Gonzaga para o

Nordeste”.

Page 96: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

95

4.1.1.3 Subcategoria: origem

Finalizando a categoria admiração, analisa-se a subcategoria origem, a terceira de

maior frequência, perfazendo um total de 23,91% do total da categoria admiração.

No Alto do Moura sempre existiu a produção da cerâmica. As famílias sobreviviam

em parte da produção agrícola, sendo a agricultura uma responsabilidade do homem. Já para

as mulheres, era atribuída a responsabilidade de conduzir sua família e de produzir peças de

utilidade doméstica. Nesse contexto, surge Vitalino, com uma nova forma de trabalhar com o

barro. Sua característica principal era a de expressar ou plasmar através de suas peças cenas

do cotidiano do povo nordestino, agregando valor à comunidade do Alto do Moura. Mestre

Vitalino ensinou a Arte Figurativa a alguns discípulos e estes constituíram famílias que

repassaram seus conhecimentos no processo de sucessão do saber (arte). A falta de

oportunidade na comunidade fez com que as pessoas começassem a aprender a arte e dela

sobrevivessem, gerando, assim, a consequente manutenção financeira de suas famílias. A

comunidade do Alto do Moura passou a se projetar e a crescer, chegando às atuais dimensões.

E foi através da figura do Mestre Vitalino, desenvolvendo sua arte, que ainda hoje esta arte

leva oportunidade e geração de renda a grande maioria das famílias que vivem no Alto do

Moura.

Mestre Vitalino foi muito, muito importante, porque deu vida aqui ao Alto do Moura (AP01) [...] é a origem da arte aqui (AP01).

Mestre Vitalino pra mim é o pioneiro, o principal que incentivou os outros a seguir a arte (AP02).

Mestre Vitalino pra mim foi uma coisa muito importante, por que nos continuamos com sua arte (AP04).

A história do Mestre Vitalino pra mim é de grande importância, porque foi ele que teve a ideia de criar a Arte Figurativa (AP05).

O Mestre Vitalino para mim foi tudo na Arte, porque foi através dele que continuamos nessa arte maravilhosa (AP06).

[...] foi à pessoa que foi o idealizador da Arte Figurativa (AP07) [...] deixou assim um legado muito grande para todos os artesãos (AP07).

Page 97: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

96

O Mestre Vitalino foi muito importante, por que foi ele que iniciou a arte do barro a aqui em Caruaru (AP08). [...] e hoje a gente vê tantos artesãos que tem a arte como profissão, tudo isso através da cultura que iniciou com Mestre Vitalino (AP08).

Mestre Vitalino foi muito importante, foi o primeiro artesão né! (AP09) [...] ele que começou (AP09). [...] ele é a origem (AP09).

[...] a importância é que pra mim ele é o começo de tudo. Se não tivesse existido ele, talvez não tivesse outro né! (AP10)

Eu acho que o Mestre Vitalino foi muito importante mesmo, foi o primeiro né! (AP11). [...] começou todo mundo a trabalhar por causa dele (AP11). [...] foi o guia de todos os artesãos do Alto do Moura (AP11). [...] ele deixou um legado para muita gente (AP11).

Mestre Vitalino foi o começo de tudo, juntamente com meu avô Zé Caboclo, eles deixaram muitas peças (AP13).

Pra mim ele foi o pioneiro (AP14). [...] dele ter partido a arte, o inicio da arte (AP14). [...] dele também partiu o começo da visibilidade, fora daqui do estado (AP14).

Henrique de Vasconcelos Cruz – Museólogo no Museu Homem do Nordeste –, narra

no documentário Mestre Vitalino:37 “É por ele ter sido o primeiro a ter esse reconhecimento

individual, um dos primeiros, ou seja, o barro deixou de ser uma arte folclórica, uma arte do

povo, e passa a ser a arte de Vitalino Pereira dos Santos”.

Vitalino se faz presente do Alto do Moura, em Caruaru – PE, a Paris, no Museu do

Louvre38, onde algumas de suas peças encontram-se expostas, tais como o “Caçador de Gato

Maracajá” e o “Boi de Vitalino”. Sua importância se dá pelo fato de ter sido o idealizador da

Arte Figurativa, representando em suas obras a cultura, a vida, o sofrimento e as conquistas

do povo nordestino.

Nesse ambiente, percebe-se a cultura erudita e a cultura popular dividindo o mesmo

espaço; logo, uma conquista de tal importância não se torna irrelevante, devendo ser citada na

pesquisa. O Mestre Vitalino é a origem, o idealizador, a pessoa que deu vida ao Alto do

Moura, o começo, o início. Um simples homem que se consagra como Artista Popular de

37 <https://www.youtube.com/watch?v=FqW2ZTuP0rk> Acesso em: 12 Mai. 2015. 38 Pesquisa realizada em 26 de maio de 2015 < WWW.onordeste.com/enciclopediaNordeste. Museu do Louvre, um dos museus mais bem frequentados do mundo, fica localizado em Paris. O museu possui obras como a Vênus de Milo, a Monalisa de Leonardo Da Vinci. São 60 mil metros quadrados de área; neste espaço é possível observar um acervo com inúmeras obras e culturas do mundo inteiro.

Page 98: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

97

renome internacional. Este aspecto reforça o resultado da pesquisa como sendo a categoria

admiração a mais comentada dentre as demais categorias citadas na pesquisa.

4.2 Categoria – Sentimentos

4.2.1 Subcategorias: afinco e realização

Para a categoria sentimentos, foram localizadas 44 unidades de significação que

correspondem a sentimentos de artesãos no processo de produção e comercialização da arte

figurativa do Mestre Vitalino. Esta categoria foi a terceira mais citada na pesquisa, com o

percentual de 19,47% do total da pesquisa.

Para esta categoria, foram identificadas 2 (duas) subcategorias. Essa divisão é

necessária para garantir uma melhor análise dos dados colhidos, sendo estas as subcategorias:

o afinco e a realização.

Gráfico 3: Resultado da categoria sentimentos

Fonte: dados da pesquisa, 2015

Page 99: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

98

4.2.1.1 Subcategoria: afinco

Valores referentes foram extraídos com base no montante pesquisado, sendo a

subcategoria afinco a de maior frequência na categoria sentimentos, perfazendo um total de

56,82% da categoria analisada. Neste caso, assume a posição de terceira subcategoria com

maior frequência na pesquisa.

É interessante relatar que a maioria das unidades de significação trazem expressões

como: “dom do trabalho”, “gosto de trabalhar”, “me sinto realizado”, “realização”, “sente

aquela pena”, “pena de vender”, “tem carinho”, “aprende a amar”, “adoro tudo que faço”,

entre outras unidades.

Em seguida, apresenta-se a subcategoria realização, com 43,18% da frequência na

categoria sentimentos.

Sentimentos como efeito de sentir algo por alguém ou por alguma coisa (material)

assume um sentido conotativo pela forte carga de afetividade e expressividade demonstrada

no processo de pesquisa, nas falas, nos sorrisos e nas lágrimas. Sentimentos como afinco e

realização foram percebidos facilmente, inclusive, por meio de observação.

Sobre isso, Maria do Socorro Rodrigues da Silva comenta:

Em um evento na Fenearte, levei uma peça que tinha uma cena incrível [admiração], era um Parque de Diversões em miniatura. Minhas peças são miniaturas que lembram as brincadeiras de criança. Era a coisa mais linda [entusiasmo] o Parque de Diversões, você conseguia ver a maçã do amor na mão da menina [admiração]. Então veio um cliente, se interessou pela peça e comprou [tristeza]. Eu não queria vender, por que a gente acaba amando como um filho [silêncio]...[lágrima], a gente se apega a elas. Mais a gente precisa, é disso que vivemos, é da arte que a gente vive. Mais eu acabei ficando feliz, porque ela foi pra outro estado e agora meu nome está fora do Pernambuco com essa peça tão linda.

As imagens 33 e 34, a seguir, exemplificam essa peça a que Maria do Socorro, artesã,

faz referência em suas falas:

Page 100: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

99

Imagem 33: Parque de diversões do Alto do Moura I

Fonte: dados da pesquisa, 2015

Imagem 34: Parque de diversões do Alto do Moura II

Fonte: dados da pesquisa, 2015

Os sentimentos demonstrados por Maria do Socorro, artesã, filha de Zé Caboclo, dada

a importância de sua origem, trazem consigo um senso de apego ou de afinco. Não apenas

Page 101: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

100

Maria do Socorro, mas também outros artesãos entrevistados, quase que na totalidade,

demonstraram sentimentos por suas obras. A relação criador-obra gera nos artesãos um

sentimento de posse que sofre uma ruptura no momento em que a peça é comercializada. O

artesão Emerson Nogueira da Silva, em uma de suas falas, assim comenta: “Tem peça que a

gente tem como filho”.

Essa ruptura do artesão com sua obra pode ser comparada ao vínculo mãe e feto, que

só é quebrado quando é cortado o cordão umbilical. O filho nasce, cresce, conhece o mundo e,

por um processo social e natural, se separa de sua mãe. No contexto da arte, o artesão, quando

finaliza sua obra, separa-se dela por um processo comercial. O vínculo mãe e filho, artesão e

obra, pode ser observado através de uma relação visceral.

Seguem alguns recortes contendo unidades de significado, abordando a subcategoria

afinco.

[...] todas não, mais tem peça que a gente vende e sente pena de vender (AP02). [...] a gente queria ficar com aquela peça ali, porque achou que ficou perfeita, principalmente quando é uma de criação nova (AP02). [...] ai tem um momento que a gente cria a peça, vende e depois fica com pena (AP02). [...] aí penso eu deveria ter ficado com ela, é como se fosse um membro da família (AP02).

[...] quando eu faço uma peça, principalmente uma nova, que eu crio, eu faço com aquele gosto, querendo fazer do melhor que eu posso, ai depois que eu faço, é ótimo vender, mais eu fico com um dô de vender né! (AP03). [...] eu digo, Deus eu fiz eu gostei, mais ai a gente tem que vender né! É disso que a gente vive (AP03).

Tem hora que a gente sente aquela pena (AP04). [...] era pra eu ir guardando, pra ter uma coleção (AP04). [...] muita coisa que eu faço tá na lembrança (AP04).

Eu vendo por que é preciso (AP05). Eu sinto pena de vender (AP05). [...] eu passo o tempo todo fazendo com muito carinho, amor e muito cuidado, ai quando acaba dá vontade de ficar com tudinho e juntar, juntar, juntar (AP05).

[...] tem peça que a gente tem como filho né! Mais por outro lado a gente precisa e também (AP08). [...] tem o carinho (AP08).

[...] quando eu pinto às vezes eu tenho pena de vender (AP09).

[...] quando eles estão pintadinhos bem bonitinhos nem vontade de vender dá (AP10). [...] fico triste pra vender e alegre quando vendo (AP10).

Page 102: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

101

[...] eu fiz um boi grandão, aquele bichão. Quando ficou pronto, eu tirei até foto. Aí eu dei um beijo nele e disse vai com DEUS! (AP11). [...] a gente vai fazendo, quando a gente vê pronto, acha bonito, ai a gente aprende a amar aquela peça (AP11).

A gente vende porque precisa (AP12). [...] eu mandei uma peça pra FENEART, mais fiquei torcendo pra não vender, a gente fica com pena de vender (AP12). [...] eu não vendi e levei ela pra casa e ela está lá na minha sala! (AP12). [...] eu fiz um projeto pra fazer uma peça de Vitalino e a gente se apega ao trabalho (AP12).

[...] eu adoro todas as peças que eu faço (AP13) [...] eu sempre deixo umas peças guardadas em casa, porque algumas peças eu não consigo vender (AP13).

Na abordagem feita por meio da entrevista por pauta, surgem referências aos

sentimentos que se tornam essenciais à análise da categoria sentimentos e subcategoria afinco.

Um dos aspectos mais citados nas falas é o fato de sentirem zelo, pena ou apego das/pelas

peças produzidas e, possivelmente, comercializadas. Outro fator relevante e também citado

nos recortes é que as peças transformam-se em membros da família.

O carinho, o amor, a alegria, todos esses sentimentos surgem na produção e

propriedade das peças; sendo que, quando comercializadas, surgem sentimentos como: a

tristeza, a pena, o apego. Porém, quando comercializadas, vem a felicidade, tendo em vista

que essa comercialização garante a sobrevivência da família, surgindo, assim, a realização, ou

seja, a subcategoria realização, tal como se segue na próxima análise.

4.2.1.2 Subcategoria: realização

Os dados analisados foram extraídos com base no montante pesquisado, totalizando

43,18%, posicionando-se como a segunda subcategoria da categoria sentimentos. Esta ocupa

9ª posição no total das subcategorias da pesquisa (tabela 1), apresentando 16 unidades de

significação que, em termos de quantidade, apresenta a mesma posição que a subcategoria

reconhecimento, estando esta inserida na categoria significados, ambas com 7,08% da

pesquisa.

Page 103: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

102

Essa subcategoria agrupa elementos que correspondem à demonstração de sentimentos

no que tange à realização, fazendo uma inferência no aspecto produção e comercialização da

Arte Figurativa do Mestre Vitalino. Nas falas e/ou recortes, buscou-se retirar aspectos que se

reportem a esse processo, bem como o sentimento de realização que surge como consequência

destes. Seguem-se alguns recortes das falas contendo unidades de significação relevantes.

A gente fica muito feliz quando eu produzo e vendo (AP01).

[...] é chegar uma pessoa admirar e comprar (AP02).

[...] agradeço todo dia a Deus por ter me dado esse dom pra trabalhar (AP03). [...] eu tenho todo prazer de levar o nosso trabalho, pra fazer demonstração, para que as pessoas conheçam né! Gosto muito! (AP03). [...] eu me sinto muito a vontade, eu gosto de trabalhar (AP03).

[...] por outro lado eu vejo que to vendendo e as pessoas que me procuram, compram por que dão valor (AP05). [...] querem ter o trabalho em casa (AP05). [...] alguém vai levar pra ter em casa e ficar obervando, vai fazer muito bem, pra pessoa que vai tá com meu trabalho em casa (AP05). [...] é a gente fazer a coisa com amor, com carinho, com gosto, e é isso, me realizar na criatividade (AP05).

Eu me sinto realizado com mais uma obra de arte, principalmente quando faço uma peça pra FENEART na época de concurso que tem lá na feira (AP06). [...] eu me sinto realizado o tempo todo na vida (AP06).

Quando a ideia que a gente tem gera inspiração, e a gente faz uma peça que é bem aceita pelo publico, então, a gente se sente assim realizado! (AP07).

[...] mais assim, a gente trabalha e eu fico muito feliz quando faço (AP09).

[...] quando a gente termina a gente pensa, meu Deus eu consegui fazer essa peça (AP14). [...] ai é quando você se senti realizado (AP14). [...] a gente vê uma cena ai termina criando uma obra de arte (AP14). O significado que vem é o de realização (AP14).

Observou-se durante o processo da entrevista que os respondentes apresentavam

atitudes que conotavam realização. Sobre isso, Marliete Rodrigues da Silva, artesã, comenta:

Eu sou muito realizada no que faço, sou realizada na arte, quando viajo para divulgar minhas obras e a arte do Alto do Moura, eu fico muito feliz. Quando as pessoas compram minhas peças, levam pra casa e ficam admirando, isso me realiza como artesã.

Page 104: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

103

Foto 6: Antônio Rodrigues da Silva, artesão

Fonte: dados da pesquisa, 2015

Antônio Rodrigues da Silva, artesão, filho de Zé Cabloco, 63 anos, iniciou sua

atividade como artesão aos 15 anos, afirma que se realiza na contemplação de sua arte. “Me

sinto realizado por admirarem contemplarem suas peças”. Essa realização encontra-se

expressa na foto 5 onde observa-se a contemplação da obra por seu autor.

Foto 7: Maria do Socorro Rodrigues da Silva, artesã

Fonte: dados da pesquisa, 2015

Page 105: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

104

Maria do Socorro Rodrigues da Silva, filha de Zé Cabloco, 60 anos, iniciou sua

atividade como artesã aos 6 anos, afirma que se realiza por reproduzir brincadeiras de sua

infância e poder demonstrar sua arte em feiras e eventos.

Foto 8: Marliete Rodrigues da Silva, artesã

Fonte: dada pesquisa, 2015

Marliete Rodrigues da Silva, artesã, filha de Zé Cabloco, 57 anos, iniciou sua

atividade como artesã aos 6 anos, afirma que se realiza pela valorização que é dada as suas

peças e na contemplação de sua obra.

A realização como ato ou efeito de realizar ou de concretizar algo na vida dos

artesãos do Alto do Moura apresentou-se na pesquisa como fator de destaque ou de elevada

representatividade, apesar de sua posição no contexto dos resultados. Partindo do princípio de

que a realização surge como um fator posterior a vários eventos, sendo estes inerentes ao

aprendizado, à construção do imaginário, à valorização dos mitos ou de suas referências, e

estando condicionada à satisfação, seja ela pessoal ou profissional, que se concretiza na

produção e na comercialização da referida arte.

Aspecto responsável pela construção desse sentimento nasce na contemplação da arte.

Para alguns, o despontar dessa realização advém de Deus, que o enviou à terra com um dom

capaz de reproduzir a arte. A realização também acontece quando se projeta a Arte Figurativa

Page 106: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

105

fora do Alto do Moura. Outro fator também aparente no surgimento da realização é o fato de

se viver da arte, garantindo a manutenção financeira da família. Independente do contexto que

se conquiste a realização, esta surge sempre como fator inerente à existência do artesão no

âmbito social ao qual pertence. Sua projeção como artesão surge como fator que motiva a

produção e a comercialização da arte; sendo assim, a realização torna-se um elemento

emocional condicionante e motivador para a continuidade da Arte Figurativa do Mestre

Vitalino na comunidade artesã do Alto do Moura, em Caruaru-PE.

4.3 Categoria - Significados

4.3.1Subcategorias: Sobrevivência e reconhecimento

Para a categoria significados, a 4ª (quarta) mais citada na pesquisa, foram consideradas

unidades de significação que correspondem aos significados da produção e comercialização

da Arte Figurativa do Mestre Vitalino para os Artesãos do Alto do Moura, em Caruaru – PE.

Para a categoria significados, foram localizadas 41 unidades de significação, que equivalem a

18,14% do total da pesquisa.

Gráfico 4: Resultado da categoria significados

Fonte: dados da pesquisa, 2015

Page 107: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

106

Valores referentes foram extraídos com base no montante pesquisado, sendo a

subcategoria sobrevivência a quarta subcategoria mais comentada na pesquisa, apresentando

um percentual de 11,06%, sendo este referente a 25 unidades de significação.

Torna-se interessante relatar que a maioria das unidades de significação traz consigo

expressões como: “meio de vida”, “sobrevivendo”, “divertido”, “sobreviver”, “significa

tudo”, “reconhecimento”, “referência”, “ganhar dinheiro”, “gratidão”, “necessidade”, “encher

a barriga”.

4.3.1.1 Subcategoria: sobrevivência

A resistência, enfrentar, escapar ou atravessar situações adversas, encerra-se na análise

dessa subcategoria. A temática sobrevivência, dada a sua importância para a pesquisa ou sua

contribuição, torna-se um aspecto fundamental, tendo em vista que 100% (cem) dos sujeitos

pesquisados consideram o significado da produção e comercialização da Arte Figurativa como

sobrevivência fator único ou também como sobrevivência fator agregado. Seguem-se alguns

recortes das falas contendo unidades de significação relevantes.

[...] todo mundo aqui sobrevive da arte, foi através do Mestre Vitalino que as pessoas trabalham (AP01).

[...] é nosso meio de vida (AP02). [...] a gente tá sobrevivendo disso aí, ao mesmo tempo se divertindo né! (AP02).

[...] ele foi uma pessoa que foi muito, muito especial para todos nós, os artesãos, porque é até hoje do quê vivemos (AP03). [...] sobrevivência, que realmente é (AP03). [...] que criem novas peças isso é importante (AP03).

[...] eu criei os meus filhos, e me mantenho até hoje e graças a Deus da pra sobreviver (AP04). Pra mim é sobrevivência, por que a gente vende, pra sobreviver, pra resolver as coisas (AP04).

[...] comecei a ajudar em casa, nas despesas. Não só eu mais também todos os meus irmãos! (AP05). Eu sei que é uma sobrevivência, que preciso do dinheiro (AP05).

Pra mim significa tudo, por que é o único trabalho, eu sobrevivi dele, a esposa ajuda também, fazendo pintura, acabamento (AP06).

Page 108: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

107

A arte significa pra mim, principalmente a nossa sobrevivência (AP07).

[...] e o importante é isso, além das condições de sobrevivência (AP08). Pode ser sobrevivência, mas não é só sobrevivência por que se for só isso a gente não pega amor (AP08).

Pra mim produzir significa ganhar dinheiro né! (AP09). [...] pra mim significa trabalho (AP09).

[...] tenho um sentimento de gratidão por ele ter existido e ter dado essa oportunidade para o bairro todo (AP10). [...] vendo pela necessidade (AP10).

[...] preciso vender, tenho que colocar feira dentro de casa, tenho que encher a barriga dos guri (AP11).

[...] sobrevivência (AP12). [...] mais pra mim significa trabalho, por que do que a gente vive (AP12).

[...] Significa meu trabalho (AP13). [...] significa o sustento da minha família (AP13).

[...] por que você sabe que dalí você tá tirando o seu sustendo (AP14). [...] dá para você se manter (AP14).

O fator sobrevivência foi amplamente lembrado na entrevista por pauta. Porém, foi

durante o processo de observação que o item sobrevivência tornou-se um ponto chave para o

encerramento dessa discussão (sobrevivência). Através de informações colhidas junto aos

artesãos, pode-se perceber que, em média, 800 famílias sobrevivem da produção artesanal no

Alto do Moura. Toda essa produção torna-se fator determinante para caracterizar a

comunidade como referência no segmento. Essa produção artesanal teve sua origem na olaria,

produção que garantia a sobrevivência das famílias do Alto do Moura, sendo isto anterior à

chegada do Mestre Vitalino.

O Alto do Moura elevou-se como o maior Centro de Arte Figurativa das Américas

após a contribuição de Mestre Vitalino e de seus discípulos, passando a ser a produção do

artesanato o principal produto comercial da comunidade.

No processo de pesquisa, percebeu-se que grande parte da população artesã,

independente da idade, do sexo ou de sua formação, depende direta ou indiretamente da

produção artesanal. São várias as atividades que podem ser desenvolvidas com base na

produção local, citam-se algumas: extração do barro, amassar o barro, vender o barro,

Page 109: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

108

produção das peças, pintura, embalagem, queima ou apenas comércio. Todas essas atividades

garantem a subsistência das 800 famílias.

A educação formal apresentou-se como algo de pouco acesso para a primeira, segunda

e terceira gerações. As dificuldades, a distância entre o trajeto Alto do Moura e centro de

Caruaru onde se localizavam a maioria das escolas, eram as principais causas, como também

grande parte das crianças, jovens e adultos auxiliava na produção artesanal para garantir o

sustendo da sua família. A educação não era prioridade, a prioridade sempre foi produzir o

artesanato para dele sobreviver. Essa distância entre a educação formal e a fonte garantidora

de recursos financeiros fez com que muitos artesãos sobrevivessem apenas do barro. Este é

um aspecto muito importante, tendo em vista que, nos dias atuais, a educação formal se torna

acessível a todos e o barro não é mais a única fonte de sobrevivência, logo, isto se torna um

aspecto negativo para a continuidade da arte. Todos esses aspectos foram reafirmados pelos

recortes apresentados.

Foto 9: Horácio Rodrigues da Silva, artesão

Fonte: dados da pesquisa, 2015

Horácio Rodrigues da Silva, artesão, filho de Zé Cabloco, 49 anos, iniciou sua

atividade como artesão aos 9 anos, afirma que: “A arte significa pra mim, principalmente a

nossa sobrevivência”. Sua sobrevivência e a das pessoas que dependem de sua arte. Horácio,

apesar de sua formação acadêmica (Superior completo), atua como artesão, sua única fonte de

renda.

Page 110: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

109

Foto 10: Helena Rodrigues da Silva, artesã

Fonte: dados da pesquisa, 2015

Helena Rodrigues da Silva, artesã, filha de Zé Cabloco, 67 anos, iniciou sua atividade

como artesã aos 8 anos, afirma que: “A arte é nosso meio de vida”. A artesã comenta que a

arte foi durante toda sua vida a única fonte de renda.

Foto 11: Marliete Rodrigues da Silva, artesã

Fonte: dados da pesquisa, 2015

Page 111: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

110

Marliete Rodrigues da Silva, artesã, filha de Zé Cabloco, iniciou suas atividades como

artesã aos 6 anos de idade, afirma que: “Eu comecei a ajudar em casa, nas despesas. Não só

eu mais também todos os meus irmãos”. A artesã comenta que desde muito pequena

auxiliava financeiramente seus pais, e que a arte para ela, além de ser a realização de sua vida,

foi uma forma de garantir sua sobrevivência. E que esse trabalho lhe gerou oportunidades de

conhecer lugares e pessoas. A mesma afirma que quando conhece lugares novos, ela está

divulgando tanto o nome dela como artista/artesã, como também levando o nome do Alto do

Moura para o mundo.

Foto 12: Paulo Rodrigues da Silva, artesão

Fonte: dados da pesquisa, 2015

Paulo Rodrigues da Silva, artesão, filho de Zé Cabloco, iniciou suas atividades como

artesão aos 18 anos, afirma que: “Pra mim significa tudo, por que é o único trabalho, eu

sobrevivo dele, a esposa ajuda também, fazendo pintura, acabamento”.

O artesão dedicou sua vida ao trabalho com arte figurativa, o mesmo comentou que

suas conquistas tiveram como origem a arte que desenvolve. Em tom de arrependimento, o

mesmo comenta que poderia ter conquistado mais e se estruturado melhor, porém não o fez.

Contudo, a arte garante a sua sobrevivência e de sua família.

Page 112: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

111

Foto 13: Emerson Nogueira da Silva

Fonte: dados da pesquisa, 2015.

Emerson Nogueira da Silva, artesão, filho da artesã Carmélia Rodrigues da Silva e

neto de Zé Cabloco, iniciou suas atividades como artesão aos 10 anos de idade, o mesmo

afirma que: “A arte significa pra mim trabalho”.

Toda sua vida foi dedicada à manutenção da Arte Figurativa, o mesmo afirma que a

arte significa trabalho, e que não se vê envolvido em outra atividade a não ser desenvolvendo

projetos que divulguem a importância da Arte Figurativa para a cultura.

4.3.1.1 Subcategoria: reconhecimento

O reconhecimento surge da admiração por algo ou por alguém. Essa subcategoria

surge de maneira espontânea nas falas dos entrevistados. Apresentou um total de 39,02% da

categoria significados. Esse reconhecimento insere-se no contexto da valorização da

profissão, bem como no da valorização das obras produzidas. Fica evidente através de suas

falas e também pelo processo de observação que o maior desejo dos artesãos é a necessidade

do reconhecimento da profissão no intuito de garantir um futuro mais tranquilo para eles.

Page 113: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

112

Citam-se, a seguir, alguns recortes que fazem referência a esta análise.

[...] significa reconhecimento do trabalho né! (AP02). [...] é chegar uma pessoa admirar e comprar (AP02).

Significa divulgar meu trabalho porque divulgo meu trabalho no mundo, como já fiz trabalhos para vários estados, já vendi muito para vários países, pessoas que vem aqui me procurar (AP05). [...] eu já estive fora vendendo em outros países, como Portugal, França, Buenos Aires. E pra mim foi muito importante observar que as pessoas valorizam muito meu trabalho lá fora né! (AP05). [...] essa parte de vender é muito importante por isso, saber que meu trabalho tá divulgando a história da arte do alto do Moura e levando não só meu trabalho mais o Alto do Moura (AP05). [...] qualquer lugar que você veja o trabalho do Alto do Moura, você conhece que é do Alto do Moura, por que ele tem uma característica própria, tanto na expressão do trabalho, quanto no colorido que é bem ativo, bem alegre é uma marca (AP05).

[...] com alguns trabalhos desses ganhei até menção honrosa, nunca ganhei prêmio, mais ganhei menção honrosa que já é muita coisa (AP06).

[...] procurar sempre melhorar, fazer um produto com boa qualidade para que tenha boa aceitação (AP07). Apesar de fazer parte de uma família tradicional, mais eu quero ter meu nome reconhecido, como foi o do meu pai, como é o da minha irmã Marliete, que já está bem famosa com seu trabalho (AP07). [...] eu quero ser visto como artesão de referência na Arte Figurativa! (AP07)

[...] ser reconhecido nacionalmente (AP08). [...] a gente fica orgulhoso, sabendo que a peça vai pra fora do estado ou até pra fora do país (AP08). [...] isso é muito bom porque o nome do artista vai para outro lugar (AP08). [...] para mim significa reconhecimento no sentido de dar continuidade a educação dada pelo pais (AP08). [...] ser reconhecido, a gente vê essa primeira geração como: Manoel Eudócio, Luiz Antonio, todos reconhecidos (AP08).

[...] quando uma pessoa pergunta de onde você tirou essa peça, elogiando (AP14).

4.4 Categoria – Oportunidade

Para a categoria oportunidade, foram localizadas 49 unidades de significação, que

correspondem às oportunidades de crescimento e de valorização profissional dos artesãos em

processo de produção e comercialização da Arte Figurativa do Mestre Vitalino no Alto do

Moura, em Caruaru – PE.

Page 114: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

113

Esta categoria é a segunda mais citada na pesquisa, com o total de 21,68% do total

dos sujeitos da pesquisa. Para a referida categoria, foram identificadas 4 (quatro)

subcategorias: Continuidade positiva, continuidade negativa, valorização e inovação. Essa

divisão é responsável por garantir uma melhor análise dos dados levantados.

Gráfico 5: Resultado da categoria oportunidade

Fonte: dados da pesquisa, 2015

Valores referentes ao Gráfico 2 foram extraídos com base no montante da pesquisa.

Torna-se interessante relatar que a maioria das unidades de significação trazem expressões

como: “continuidade”, “não morra”, “incentivar”, “disseminar”, “não incentivo”,

“raízes”, “referências”, “inovação”, “criar”, “inspiração”.

4.4.1 Subcategorias: continuidade positiva e negativa

A subcategoria continuidade positiva apresentou 36,73% da categoria oportunidade,

possuindo valores que agregam condições imperativas na geração de oportunidade do Alto do

Moura. Essa continuidade constrói valores e ideias que, quando processadas de forma

assertiva, gera nos artesãos uma realidade quanto ao ser e ao dever ser no processo de

Page 115: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

114

continuidade positiva. Observam-se alguns recortes, contendo unidades de significação

relevantes a pesquisa.

Eu pretendo continuar trabalhando com arte (AP01). [...] ele chegou aqui no final dos anos 40, depois dele, veio Zé caboclo, veio Manuel Eudócio, os outros todos, e hoje parece que tem mais de 800 artesão aqui no Alto do Moura (AP01).

[...] incentivando os filhos os netos, para dar continuidade, para que não morra nossa arte (AP03). [...] eu acredito que a gente tem que dar continuidade (AP03). [...] e que os mais jovens dê continuidade, pra que nunca acabe (AP03).

[...] eu quero continuar trabalhando e ter minha freguesia, as minhas encomendinhas, sempre colocar um trabalho lá na lojinha de Socorro (irmã). Marliete (irmã) tem loja, e ainda tem a que ficou dos meus pais (AP04).

[...] eu procuro ajudar no que posso, e incentivar é comigo mesmo! (AP05). [...] eu me vejo com a mesma vontade de trabalhar, com essa mesma ansiedade de trabalhar, de aprender mais (AP05). [...] eu penso que quando ensino eu tô plantando uma raiz, que nunca vai morrer (AP05). [...] nos temos a responsabilidade de dar continuidade, pra não ficar só com a gente, e sim deixar para o futuro (AP05).

No futuro acho que estarei realizado (AP06).

[...] é uma oportunidade de disseminar nossa cultura, para que no futuro não venha a acabar (AP07).

[...] eu acho ensinar muito importante, pois gera continuidade da arte, essa arte vem dos meus pais, dos meus avós, é uma cultura (AP08). [...] devemos dar continuidade a cultura, para que não deixe a arte morrer também (AP08).

No futuro eu pretendo trabalhar mais, aprender outros tipos de peças e continuar trabalhando no barro (AP13). [...] ensinar a meu filho também (AP13).

[...] posso até trabalhar com outra coisa, arrumar algum emprego, mais o barro eu não pretendo deixar (AP14). [...] eu pretendo trabalhar com o barro, como eu vi minha família toda trabalhando e vivendo do barro (AP14).

Não se pode falar de continuidade positiva de forma etnocêntrica, assim como

percebido na pesquisa. A continuidade positiva advém de expectativas, partindo estas do

indivíduo como homem, artesão e inserido na comunidade; logo, tais aspectos surgem da sua

participação social, nutrindo no indivíduo, enquanto artesão, o desejo de continuar na arte.

Como consequência, surge a responsabilidade de proporcionar continuidade à arte para que

Page 116: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

115

esta não venha a morrer, ou seja, a esperança nas futuras gerações, no desejo de incentivar

para que todos se tornem colaboradores, na vontade de disseminar a cultura e na necessidade

de ensinar aos filhos.

Foto 14: Maria do Socorro Rodrigues da Silva, artesã

Fonte: dados da pesquisa, 2015

Maria do Socorro Rodrigues da Silva, artesã, sempre incentiva os filhos e netos a

darem continuidade à arte para que esta não venha a se acabar.

Foto 15: Horácio Rodrigues da Silva, artesão

Fonte: dados da pesquisa, 2015

Page 117: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

116

Horácio Rodrigues da Silva, artesão, afirma que: “Trabalhar com a Arte Figurativa é

uma oportunidade de disseminar nossa cultura, para que no futuro não venha acabar”.

Durante o processo de entrevista e observações, pode-se perceber que o processo de

continuidade está totalmente ligado às gerações, tidas como responsáveis por disseminar a

arte através dos tempos, seja no aspecto positivo ou negativo. Os recortes mencionados

anteriormente trazem aspectos positivos quanto à continuidade. No que tange aos aspectos

negativos, segue-se os fragmentos abaixo:

[...] eu aprendi vendo meu pai trabalhar, apesar dele não incentivar a gente (AP02). [...] não tendo condições de estudar pra se formar, a maioria, então optamos por seguir a mesma arte de meu pai (AP02). [...] mais eu não incentivo meus filhos não (AP02). Eu não tenho muita perspectiva como artesão. Daqui pra frente (AP02). [...] a gente não tem profissão reconhecida (AP02). [...] o que eu vejo é chegar o final da idade e não ter uma vida segura, uma segurança pra dar conforto à família (AP02). [...] a arte não está oferecendo muitas condições (AP02). [...] tô continuando assim, mais sem muita esperança em continuar (AP02). Eu espero que melhore (AP02).

[...] tem que existir uma força, um incentivo do governo, para ser reconhecido o trabalho (AP08).

[...] é prazeroso, é meu trabalho, mais falta muito reconhecimento por parte do governo (AP10). Minha perspectiva para o futuro é pouca, porque se houvesse reconhecimento da profissão por parte do governo, mais não legaliza, só fica na promessa (AP10). [...] se eu tivesse certeza de que no futuro fosse legalizar pra eu me aposentar, entre outras vantagens, eu acho que o interesse era bem maior (AP10). [...] eu me vejo nessa corda bamba, entre o trabalho na indústria e no artesanato (AP10).

[...] e eu não posso valorizar muito o trabalho pela concorrência (AP12). Eu pretendo tá fazendo alguma coisa pra não depender só do artesanato (AP12). [...] continuar sendo artesão, não deixo o artesanato, mais não quero depender somente dele não (AP12).

Os recortes demonstram os aspectos da continuidade negativa com 34,69% do total da

categoria oportunidade, valor que reflete sua relevância para pesquisa. Esta continuidade

negativa não parte do egoísmo humano inerente ao artesão, mas sim da falta de incentivo por

parte dos órgãos fomentadores da cultura. A falta de incentivo causa desestímulo nos artesãos

que, como consequência, passam a não encorajar as futuras gerações na continuidade da arte,

Page 118: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

117

essa falta de estímulo recai até mesmo sobre eles próprios, sua permanência na arte se dá

apenas pela necessidade.

A falta de reconhecimento da profissão causa insegurança quanto ao futuro. Eles

passam a não incentivar mais seus filhos, pois não veem perspectiva de mudança para o

cenário atual. Pode existir o desejo de continuar na arte, porém, não depender apenas dela.

Dessa forma, o processo de continuidade se torna negativo, uma vez que a sucessão de fatores

como a falta de incentivo por parte dos órgãos públicos, associado à oferta profissional para

as gerações futuras, pode está conduzindo a Arte Figurativa do Mestre Vitalino a um processo

de estagnação.

Foto 16: Antônio Rodrigues da Silva, artesão

Fonte: dados da pesquisa, 2015

Antônio Rodrigues da Silva, artesão, afirma quanto à continuidade que: “Aprendi com

meu pai, mais não incentivo meus filhos, a falta de reconhecimento da profissão me deixa

inseguro quanto ao futuro. Espero que melhore, mais não tenho muita esperança”. O

artesão não apresenta muita perspectiva quanto a Arte Figurativa, porém reconhece que ela

garante sua manutenção financeira, apesar de admitir que não passa a seus filhos a arte que

aprendeu com seu pai, por não ver perspectiva de reconhecimento enquanto profissão e que

está vendo seus filhos trilharem seus caminhos por trajetórias diferentes das suas.

Page 119: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

118

4.4.2 Subcategoria – valorização e inovação

O termo valorização possui um alcance imperativo na construção dessa pesquisa,

tendo em vista significar, em sua essência, o reconhecimento; e sendo o reconhecimento

objeto de desejo dos artesãos do Alto do Moura, este torna-se um fator de motivação na vida

dos artesãos. A valorização é entendida como um conjunto de qualidades intrínsecas que

agrega valor ou reconhecimento, sendo este valor conferido a uma pessoa ou a um grupo de

pessoas.

A valorização foi inserida na pesquisa de forma espontânea, através das falas dos

sujeitos pesquisados, e atingiu um percentual de 10,20% dentro da categoria oportunidade.

Seguem-se recortes das falas contendo unidades de significação relativas à valorização.

[...] pra gente que segue a linha tradicional como ele fazia, porque já tem

muita coisa que veio de fora (AP02). [...] eu considero artesão artista, aquele

que faz de tudo né! (AP02) [...] principalmente se ele se preocupar com o

cotidiano, com os costumes, com o folclore! (AP02)

[...] então a gente se preocupa com essas raízes (AP07) [...] e sempre a

gente tá preocupado em seguir essa Linha, para não fugir das raízes, para

não perder as referencias (AP07).

[...] no futuro eu queria que o lugar que a gente vende nossa arte fique

melhor, porque agora tá parado (AP09).

Durante o processo de pesquisa, pôde-se perceber que a valorização aflora da

necessidade de enriquecer e valorizar o artista que atua na linha tradicional, isto é, os que se

preocupam com as raízes que representam o cotidiano, os costumes, o folclore. Nesse

contexto do artesão tradicional, surge o processo de inovação com 18,37% no total da

categoria oportunidade. O termo inovação encontra-se atrelado à valorização, por se tratar de

umas das características do artesão tradicional, ou seja, o artesão que realmente cria suas

Page 120: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

119

peças dentro do contexto da Arte Figurativa. A inovação existe apenas para esse tipo de

artesão, pois consegue inovar dentro do entrecho do imaginário figurativo. Para colaborar

com essa afirmativa, seguem-se recortes das entrevistas.

[...] todo ano a gente tem um momento assim de inspiração, inspiração para participar do salão de Arte da Fenearte (AP02). [...] então é hora da gente botar a mente pra funcionar, pra criar coisas novas (AP02).

[...] eu fico sempre incentivando, porque a gente não vai poder ficar pra sempre, fazendo uma coisa só (Ap03). [...] tem que inovar, e eu fico muito feliz, das pessoas tá com interesse e também tá fazendo(AP03). [...] sempre inovando (AP03).

[...] eu vivo assim, sempre pensando em descobrir coisas novas, para criar coisas novas (AP05). [...] sempre pensando em criar mais alguma coisa, (AP05).

[...] a Arte do Barro é infinita e sempre tem alguma coisa pra criar (AP06).

A necessidade de inovar surge da valorização do artesão. A participação destes em

feiras e eventos do setor faz com que ele esteja sempre pensando à frente, testando seus

limites enquanto criador de sua obra. Essa necessidade de sempre produzir algo novo é

inerente ao artesão por fazer parte de seu imaginário, de sua criação, de seu legado.

Os aspectos que surgem no escopo da análise remetem à fundamentação teórica como

base, por trazer, em seus resultados, aspectos intangíveis, porém conclusivos à pesquisa. Com

isso, na seção seguinte, passa-se à conclusão desta pesquisa.

Page 121: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

120

V

___________________________________________________________________________

CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

Este trabalho teve como objetivo geral verificar quais sentimentos e significados são

percebidos por artesãos do Alto do Moura, em Caruaru-PE, no processo de produção e

comercialização da Arte Figurativa do Mestre Vitalino. Em sua consecução, apregoaram-se os

objetivos específicos: Analisar a importância da Arte Figurativa do Mestre Vitalino para os

artesãos do Alto do Moura em Caruaru-PE; Identificar sentimentos percebidos por artesãos do

Alto do Moura, em Caruaru-PE, no processo de produção e comercialização da Arte

Figurativa do Mestre Vitalino; Levantar significados percebidos por artesãos do Alto do

Moura, em Caruaru-PE, no processo de produção e comercialização da Arte Figurativa do

Mestre Vitalino e Investigar oportunidades de crescimento profissional percebidos por

artesãos do Alto do Moura, em Caruaru-PE, no processo de produção e comercialização da

Arte Figurativa do Mestre Vitalino. Dessa forma, ao longo deste trabalho, foram realizadas

discussões sobre sentimentos e significados de artesão em processo de produção e

comercialização da Arte Figurativa na comunidade do Alto do Moura em Caruaru-PE.

Assim, foi possível estabelecer algumas relações entre a situação da Arte Figurativa no

Alto do Moura e os sentimentos e significados que surgem a partir da produção e

comercialização dessa Arte. Também foi possível reunir elementos capazes de fornecer

respostas à questão que norteou este trabalho, a saber: quais sentimentos e significados são

percebidos por artesãos do Alto do Moura, em Caruaru-PE, no processo de produção e

comercialização da Arte Figurativa do Mestre Vitalino?

Para obtenção desta resposta, foi desenvolvido um planejamento no intuito de se

chegar aos resultados finais. Por isso, buscou-se no referencial teórico a contribuição de

autores que discutem a temática dos sentimentos e significados e sua relação com a cultura

local.

Na discussão sobre um olhar através da cultura, trazendo aspectos da cultura e cultura

popular, assumiu-se interpretações feitas por Thompson, Edward Tylor, Laraia, Canclini,

Page 122: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

121

entre outros. Diversas abordagens foram levantadas em torno da figura do Mestre Vitalino e

sua contribuição para a Arte Figurativa. Abordou-se, ainda, sobre sentimentos e significados

de artesão em processo de produção e comercialização da Arte Figurativa. A fundamentação

teórica, em justaposição com a realidade pesquisada, culminou na necessidade de uma

pesquisa etnográfica. Outra forma de pesquisa não seria viável dada a importância ou a

necessidade de adentrar na comunidade local, acompanhar as expectativas, as frustrações, os

momentos de felicidade e de realizações dos sujeitos pesquisados no processo de produção e

comercialização da Arte Figurativa.

No período do processo de pesquisa percebeu-se que o Alto do Moura é um ambiente

ou uma organização social viva, onde as pessoas interagem de forma harmoniosa, sempre

pautadas na tradição, no respeito e nas relações sociais e culturais estabelecidas entre os

artesãos e o meio. Assim, observou-se que o processo de produção e comercialização da Arte

Figurativa sofre influência direta ou indireta destas relações. Nesse sentido, a perspectiva

social e cultural identificada nas relações sociais possibilitou a visão necessária ao alcance dos

objetivos propostos.

Dessa forma, em resposta aos objetivos propostos, surgiu a admiração pelo Mestre

Vitalino que se apresentou na pesquisa como um “herói”, dada a importância dos resultados

obtidos, sendo a ordem de relevância desses resultados a admiração, os sentimentos, os

significados e a oportunidade. A admiração está baseada na aprendizagem, no exemplo e na

origem. A oportunidade teve como fator relevante a continuidade positiva e negativa, a

valorização e a inovação. Os sentimentos foram pautados na realização e no afinco. E os

significados no reconhecimento e na sobrevivência. Logo, essas conclusões foram

posicionadas atendendo os objetivos da pesquisa.

A categoria admiração, como sendo a mais citada na pesquisa, foi distribuída em 3

(três) subcategorias, com o objetivo de facilitar a leitura e a compreensão por parte do leitor.

Essa categoria possui características únicas que demonstram o respeito pelo processo de

aprendizagem conduzido pelos artesãos e o respeito ao Mestre Vitalino, tanto pelo exemplo

deixado por ele como também por sua obra. Outro fator relevante é a ligação ou associação da

origem, do princípio de tudo, à imagem do Mestre Vitalino.

A aprendizagem surge nesse arcabouço como sendo a subcategoria mais valorizada da

pesquisa; esta se trata do processo de construção do saber e se mostrou como sendo herdada

Page 123: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

122

dos pais para os filhos. Esse processo de sucessão existe desde o início da Arte Figurativa no

Alto do Moura até os atuais dias, em uma relação de descendência e atravessando gerações.

Outro fator relevante nesse processo é sua condição inicial, pois surge, na maioria das vezes,

ainda na infância, fato este que leva as crianças a produzirem seus próprios brinquedos,

construindo habilidades que serão aperfeiçoadas no decorrer de suas vidas.

O exemplo de vida deixado pelo Mestre Vitalino o transformou em “mito” para os

artesãos do Alto do Moura, pois passou a ser reverenciado por sua personalidade de doação e

de respeito ao próximo. Sua arte tornou-se objeto de contemplação por parte dos artesãos pela

singularidade de seus temas. Quando se fala em Mestre Vitalino, surge a necessidade de

condicioná-lo à origem, ao princípio, ao idealizador. Dessa forma, se pode reconstruir tais

observações, afirmando que o Mestre Vitalino, como sendo um “mito”, possuía um caráter

marcante no que tange à solidariedade, sendo responsável por transformar uma atividade

laboral em arte, e tornando-se a origem, o princípio de todo o desenvolvimento da

comunidade como centro da Arte Figurativa.

A categoria sentimentos, como sendo a terceira categoria mais citada na pesquisa, foi

distribuída em 2 (duas) subcategorias. Essa justaposição teve como objetivo facilitar a leitura

e a compreensão por parte do leitor. Esta categoria assumiu um lugar de destaque na pesquisa

por levar em sua estrutura sentimentos como o afinco e a realização, sentimentos que

emergem do processo de produção e comercialização da Arte Figurativa.

O afinco, sentimento de apego, de cuidado, de zelo, surge como fonte de admiração

para o artesão. A afinidade originada na produção conduz o criador e sua obra a um vínculo

repleto de afetividade; vínculo este que só é quebrado quando a peça é comercializada. Essa

comercialização gera sentimentos opostos, a exemplo da tristeza pela separação e da

felicidade pela conquista da comercialização. E a realização surge condicionada à satisfação,

seja ela pessoal ou profissional, que se concretiza na produção e na comercialização dessa

arte.

A categoria significados apresentou-se como a categoria de menor relevância na

pesquisa e foi distribuída em 2 (duas) subcategorias, o reconhecimento e a sobrevivência.

Tendo em vista aspectos observados nas análises, o reconhecimento surge da necessidade da

formalização profissional, no intuito de garantir um futuro considerado pelos artesãos como

Page 124: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

123

uma suposta tranquilidade. O reconhecimento também advém do seu trabalho, da valorização

do autor e de sua obra.

Um segundo aspecto observado foi a sobrevivência. A produção artesanal sempre foi

vista na comunidade como meio para obtenção do sustento financeiro das famílias. Durante

muito tempo, a comunidade não teve acesso à educação formal, fazendo com que a única

forma de aprendizagem oferecida às crianças fosse a de aprender, com o auxílio de seus pais

e/ou de familiares, a arte de fazer bonecos. Até a terceira geração, observa-se esse cenário.

Hoje, com as mudanças econômicas e sociais que ocorrem no país, a educação passou a fazer

parte do cotidiano das gerações atuais. Esse processo vem atingindo tais gerações, fazendo

com que a arte do barro não seja mais a única opção de sobrevivência, mas sim uma forma de

agregar uma renda às mais diversas famílias.

A categoria oportunidade, como sendo a segunda categoria mais citada na pesquisa,

foi distribuída em 4 (quatro) subcategorias. A oportunidade foi subcategorizada como

continuidade positiva, continuidade negativa, valorização e inovação. O processo de

continuidade está totalmente ligado às gerações, estas responsáveis por disseminar a arte

através dos tempos. Seja no aspecto positivo e/ou negativo, apresentaram na pesquisa a

mesma relevância, estando o positivo na perspectiva da continuidade, da sucessão no

incentivo à projeção da arte; já a continuidade negativa surge como uma negativa ao processo

de continuidade, apresentando características como a falta de incentivo à profissão e a falta de

reconhecimento, tornando este outro aspecto relevante na continuidade negativa. Percebe-se

que a valorização aflora da necessidade de enriquecer e valorizar o artista que atua na linha

tradicional, aqueles que se preocupa com as raízes, que representam o cotidiano, os costumes,

o folclore. Assim, entendemos que a inovação existe apenas para esse tipo de artesão, pois

este consegue inovar dentro do entrecho, do imaginário figurativo.

Tendo em vista os aspectos observados, concluímos que os sentimentos e significados

produzidos pela produção e comercialização da Arte Figurativa do Mestre Vitalino surgem

em decorrência de um processo de admiração ao idealizador desta arte. Essa admiração

resulta na oportunidade dada aos artesãos do Alto do Moura, oportunidade esta capaz de

garantir a sobrevivência financeira de muitas famílias, que fazem do artesanato o seu trabalho,

a sua fonte de renda, o sustento financeiro de sua família.

Page 125: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

124

Nesse contexto, surge a necessidade de valorização, que emerge da posição que o

artesão ocupa sendo este uma referência a ser admirado. Em contrapartida, essa referência

apenas se conquista quando o artesão tradicional tem a capacidade de inovar constantemente

suas peças, garantido, assim, a manutenção dessa arte.

A inovação através das peças gera aos diversos artesãos um sentimento de posse por

suas obras, sentimentos como zelo, apego e amor, estes surgem quando se finaliza a peça. Já

inerente a essa produção, surge a comercialização, em que se desperta outros sentimentos, tais

como a tristeza que nasce quando o criador se separa de sua obra; porém, no momento da

finalização do processo comercial, surge a realização pela conquista financeira, base de sua

manutenção financeira.

Nessa perspectiva, o artesão desabrocha para a arte ainda na infância, e as conquistas

durante seu processo de aprendizagem o conduzem à fase adulta. Contudo, o cenário que se

apresenta na atualidade não é capaz de agregar novos aprendizes, podendo o processo de

continuidade está em fase de ser interrompido.

Por fim, o distanciamento entre a arte e a educação formal é percebido claramente na

forma de pensar de Mestre Vitalino, quando afirmou: “Era mais importante que eu aprendesse

a usar as minhas mãos do que a minha cabeça. Na minha terra, as mãos produzem comida, a

cabeça só produz confusão”.

5.1 Recomendações

5.1.1 Recomendações de novos estudos

Este estudo não se tornar um produto acabado, nem esgota a discussão sobre a

temática, mas sua finalidade é se tornar o ponto de partida para novos debates. Sendo assim,

com as conclusões alcançadas neste estudo e a partir das deficiências que puderam ser

percebidas durante o processo de pesquisa, propõem-se algumas sugestões para a realização

de novas produções cientificas, a saber:

Page 126: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

125

• Realizar um comparativo dos sentimentos e significados de artesãos em

processo de produção e comercialização, comparativo este entre artesãos

tradicionais e artesãos que produzem o artesanato em série;

• Ampliar a investigação sobre a aprendizagem da Arte Figurativa, tendo em

vista o pouco ou nenhum incentivo quanto à projeção dessa arte para as futuras

gerações;

• Reforçar os conceitos básicos de Arte Figurativa como elemento cultural

indispensável para o desenvolvimento da sociedade.

5.1.2 Recomendações de melhoria para processo de produção e comercialização da Arte

Figurativa do Mestre Vitalino

Diante dos resultados desta pesquisa, emitem-se sugestões que possivelmente possam

ser adotadas, caso haja interesse, a saber: Promover a Arte Figurativa do Alto do Moura

através de políticas públicas condizentes com as necessidades da comunidade.

5.2 Melhorias estruturais

5.2.1 Quanto à aprendizagem

• Investimento na área educacional, promovendo cursos de capacitação para os

artesãos (educação para adultos; vendas; atendimento ao cliente; fluxo de

caixa; custos, entre outros);

• Cursos para jovens artesãos (construção do universo artístico);

• Desenvolver projetos de melhorias para o processo de produção e

comercialização da Arte Figurativa do Mestre Vitalino.

Page 127: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

126

5.2.2 Quanto à valorização do artesão:

• Revitalização da estrutura física da comunidade (ruas, calçadas, banheiros

públicos; lixeiras), padronização dos ateliês, entre outros aspectos físicos;

• Construção de um museu capaz de suportar obras de todos os artesãos que

trabalham com a Arte Figurativa, tendo em vista que no Alto do Moura não

existe esse espaço, existindo apenas um espaço de contemplação para vida e

obra do Mestre Vitalino;

• Promover Feiras e eventos, disseminando a valorização da Arte Figurativa do

Mestre Vitalino;

• Oferecer Teatro e Cinema Popular, dividindo o mesmo espaço, sendo este

capaz de promover a cultura e o turismo local.

Page 128: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

127

REFERÊNCIAS

___________________________________________________________________________

ALMEIDA, M. R. A obra realiza-se com a arte. In: Artsanato Brasileiro. Fundação Nacional de Arte. Rio de Janeiro: FUNARTE, 1980.

ALVES, Adjair. O Rap é uma guerra e eu sou gladiador: um estudo etnográfico sobre as práticas sociais dos jovens hoppers e suas representações sobre a violência e a criminalidade/ Adjair Alves. – Recife: o autor, 2008.

ANDRADE, Ana Maria; CAVALCANTI, Virginia Pereira (Coord.). Imaginário Pernambucano: design, cultura, inclusão social e desenvolvimento sustentável. Recife: Ed. Governo do Estado, 2006.

ANDRADE, Maria Margarida de. Como preparar trabalhos para cursos de pós-graduação: noções práticas. 5. Ed. São Paulo: Atlas, 2002.

BAPTISTA, M. L. Feira de Caruaru: Inventário Nacional de Referência Cultural. Caruaru-PE, 2006.

BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977.

BARBALHO, Nelson. Caruaru de Vila a Cidade: Subsídios para a história do Ahreste pernambucano. Biblioteca Pernambucana de História Municipal, Recife, 1980. p. 26.

BARRETO, Margarita. Turismo e Legado Cultural: as possibilidades de planejamento. 4. Ed. Campinas, SP: Papirus, 2003, p. 43.

BAUER, M. W; GASKELL, G. Pesquisa qualitativa com texto: imagem e som: um manual prático. Tradução de Pedrinho A. Guareschi, Petrópolis -RJ: Vozes, 2000.

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Cultura rebelde: escritos sobre a educação popular ontem e agora / Carlos Rodrigues Brandão e Raiane Assumpção – São Paulo: Editora e Livraria Instituto Paulo Freire, 2009. (Educação popular).

BAZTÁN, A. A. Etnografia: metodologia cualitativa em la investigacion sociocultural. Barcelona: Editorial Boixareu Universitaria Marcombo, 1995.

BETIOL, Carmen Fabiana. Ensino e aprendizagem na cerâmica popular figurativa: a experiência de Taubaté / Carmen Fabiana Betiol. Campinas, SP: [s.n.], 2007, p. 28.

CANCLINI, N. G. As Culturas populares no capitalismo. São Paulo: Brasiliense, 1983.

CODO, W. (1997). Um diagnóstico do trabalho (em busca do prazer). In: TAMAYO, A. BORGES-ANDRADE, J. & CODO, W. (Eds.). Trabalho, organizações e cultura (pp. 21-40). São Paulo, SP: Cooperativa de Autores Associados.

Page 129: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

128

COOPER, Chris et. Ali. Turismo: princípios e prática. Tradução de Roberto Cataldo Costa. 2 ed. Porto Alegre: Bookmam, 2001.

COIMBRA, S. R; ALBUQUERQUE, F. M.; DUARTE, M. L. O Reinado da lua: escultores populares do Nordeste. Recife: Caleidoscópio, 2010.

CUCHE, Denys. A Noção de Cultura nas Ciências Sociais. Bauru: EDUSC, 1999.

CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à teoria geral da administração: uma visão abrangente da moderna administração das organizações. 7. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003.

DIETTRICH, Luciana Correia. Associação três-lagoense de artesanato: a comunidade e suas potencialidades para o turismo e desenvolvimento local, 2006. Dissertação (Mestrado Acadêmico em Desenvolvimento Local). 93 p. UCDB - CAMPO GRANDE – MS, Campo Grande, 2006.

ESTEVAM, C. A Questão da cultura popular. In: FÁVERO, O. (Org.) Cultura popular e educação popular: memória dos anos sessenta. Rio de Janeiro: Graal, 1978, p. 41.

FERREIRA NETO, A; GARCIA, S. Desenvolvimento comunitário. Rio de Janeiro: Bloch, 1987.

GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999.

________. Como elaborar projetos de pesquisa. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1989.

________. Como elaborar projetos de pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2010.

GODOY, A. S. Introdução à pesquisa qualitativa e suas possibilidades. Revista de Administração de Empresas. São Paulo, v. 35, n.2, mar \ abr. 1995.

Hobsbawm, Eric (1984a). “Introdução: A Invenção das Tradições”, In: E. Hobsbawm & T. Ranger (Orgs.). A invenção das tradições. Rio de Janeiro: Paz e Terra.

HOFSTEDE, M.. This paper was originally published as Jones, M, Hofstede – Culturally questionable?, Oxford Business & Economics Conference. Oxford, UK, 24-26 June, 2007. Disponível em http://ro.uow.edu.au/cgi/viewcontent.cgi?article=1389&context=commpapers. Acesso em: 05 Ago. 2014.

IPHAN, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional Patrimônio Material. Disponível em: <http:// www.iphan.gov.br>. Acesso em: 28 Mar. 2015.

JOVCHELOVITCH, Sandra; BAUER, Martin W. Entrevista narrativa. In: BAUER, M. W. GASKELL, G. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som. Tradução: Pedrinho Guareschi. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.

LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de Metodologia Científica. 5 ed. – São Paulo: Atlas 2003.

Page 130: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

129

LARAIA, R. B. Cultura: um conceito antropológico. 21. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007, p.35.

LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 23. Ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2009.

LÉVI-STRAUSS, Claude. Antropologia estrutural. 5. ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1996.

LIMA, Sandra Ferreira. lnvenção e tradição: um olhar plural sobre a arte figurativa do Alto do Moura I Sandra Ferreira de Lima. - Campinas, SP: [s.n.], 2001.

LIMA, Ricardo Gomes. Artesanato de tradição: cinco pontos em discussão. In: Olhares itinerantes: reflexões sobre artesanato e consumo da tradição. São Paulo: Central Arte Sol, 2005. p. 13-26.

MACIEL, J. Fundamentos teóricos do sistema Paulo Freire de educação. In: FÁVERO, O. (Org.) Cultura popular e educação popular: memória dos anos sessenta. Rio de Janeiro: Graal, 1978.

MALINOWSKI, Bronislaw. Argonautas do Pacífico Ocidental. São Paulo: Abril Cultural, 1984, p. 18.

MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Fundamentos de metodologia científica. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2003.

MENDONÇA, Luís Carvalheira de Mendonça, João Hélio. IMIP Identidade, missão trajetória /Luís Carvalheira de, João Hélio de Mendonça. Recife: Bagaço, 2000. 272 p. il.

MERRIAM, S. Qualitative research and case study applications in education. San Francisco: Jossey-Bass, 1998.

MARTINS, F.(coord). Nova fase da lua: escultores populares de Pernambuco. Recife: Caleidoscópio, 2012.

MENESES, Ulpiano T. Bezerra. Os “Usos Culturais” da Cultura – Contribuição para uma abordagem crítica das práticas e políticas culturais. In: TURISMO – Espaço, paisagem e cultura. São Paulo: Hucitec, 1996, p. 88.

MINAYO, M. C. de S. (Org.). Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. 19. ed. Petrópolis: Vozes, 1996, p. 46.

MOESCH, Marutschka. A produção do saber turístico. São Paulo: Contexto, 2000, p. 09.

ORTIZ, R. Mundialização e cultura. São Paulo: Brasiliense, 2007.

PEREIRA, José Haroldo. Curso básico de teoria da comunicação / José Haroldo Pereira – Rio de Janeiro: Quartet, 5 ed. 2009.

Page 131: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

130

PINHO, Maria Sonia Madureira de. Produtos artesanais e mercado turístico. In: MURTHA, S. M.; ALBANO, C. (Org.). Interpretar o patrimônio: um exercício do olhar. Belo Horizonte: UFMG; Território Brasilis, 2002. p. 169-180.

PRODANOV, Cleber Cristiano. Metodologia do trabalho científico [recurso eletrônico]: métodos e técnicas da pesquisa e do trabalho acadêmico / Cleber Cristiano Prodanov, Ernani Cesar de Freitas. – 2. ed. – Novo Hamburgo: Feevale, 2013.

REIS, Ana Carla Fonseca. Economia da cultura e desenvolvimento sustentável: caleidoscópio da cultura. São Paulo: Manole, 2007, p. 220.

RIBEIRO, Renné. Vitalino, um ceramista popular do nordeste. Recife: FUNDAJ. 2ͣ. ed. 1972.

RICHARDSON, Roberto Jarry. Pesquisa Social: métodos e técnicas. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1999.

ROCHA, Everardo. Magia e capitalismo: um estudo antropológico da publicidade. São Paulo: Brasiliense, 1985, p. 31.

SANTAELLA, Lúcia. O que é semiótica. São Paulo. Brasiliense. 2007, p. 58.

SAMPAIO, Helena. A experiência do artesanato solidário. In: Unesco (Org.). Políticas Culturais para o desenvolvimento: Uma base de dados para a cultura. UNESCO, Brasília, 2003.

SANTOS, José Luiz. O que é Cultura. São Paulo: Brasiliense, 1983 (Coleção Primeiros Passos).

________. O que é cultura. 16. Ed. São Paulo: Brasiliense, 1996, p. 3.

SANTOS, Milton. A natureza do espaço. São Paulo: EDUSP, 2004, p.237.

SASAKI, Karen. Turismo e Sustentabilidade: a experiência do artesanato de palha de Porto de Sauípe – BA. Salvador: Sathyarte, 2006.

________. Turismo e Sustentabilidade: a experiência do artesanato de palha de Porto de Sauípe – BA. Salvador: Sathyarte, 2006, p. 147.

SILVA, Laudenor Pereira. Esgotamento das jazidas de argila no Alto do Moura – Caruaru – PE. Fim do artesanato de Vitalino? In: Anais do XVI Encontro Nacional de Geógrafos. Porto Alegre: 2010.

SODRÉ, Muniz. A verdade seduzida: por um conceito de cultura no Brasil. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1988.

SCHEIN, Edgar. Cultura organizacional e liderança. São Paulo: Editora Altas, 2009.

Page 132: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

131

SPINOLA, Carolina de Andrade. O ecoturismo, o desenvolvimento local e a conservação da natureza em espaços naturais protegidos: objetivos conflitantes. Revista de Desenvolvimento Econômico – RDE. Salvador, v. 13, p. 50-59, 2006.

TOLFO, S.R.; PICCININI, V. Sentidos e significados do trabalho: explorando conceitos, variáveis e estudos empíricos brasileiros, 2007. Psicologia & Sociedade; 19, Edição Especial 1: 38, 2007.

TOLFO, S.R.; PICCININI, V. Sentidos e significados do trabalho: explorando conceitos, variáveis e estudos empíricos brasileiros. (2007). In: CODO, W. (1997). Um diagnóstico do trabalho (em busca do prazer). In A. Tamayo, J. Borges-Andrade & W. Codo (Eds.), Trabalho, organizações e cultura. São Paulo, SP: Cooperativa de Autores Associados, 2007, p.39.

THOMPSON, John B. Ideologia e Cultura Moderna: teoria social crítica na era dos meios de comunicação de massa. Petrópolis: Vozes, 1995.

VERGARA, Sylvia Constant. Métodos de pesquisa em administração. São Paulo: Atlas, 2005.

YÚDICE, George. A conveniência da Cultura: usos da cultura na era Global. Belo Horizonte, UFMG, 2004, p. 31.

Page 133: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

132

APÊNDICES

___________________________________________________________________________

Page 134: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

133

APÊNDICE A

Técnica Observação direta não participante

Perfil do

Observado:

Circunstâncias:

Data/Local / Hora :

Duração:

Anotações:_____________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

Categorias

Sentimentos Significados Perspectivas futuras

Page 135: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

134

APÊNDICE B

Roteiro básico de entrevista por pauta

Objetivo Específico 1 - Importância do Mestre Vitalino

1. Para você, quem foi o Mestre Vitalino e qual a importância dele para a Arte Figurativa e para

os Artesãos do Alto do Moura?

2. Com quem você aprendeu a trabalhar com o barro? Como foi que você começou e o que você

sente por dar continuidade ao trabalho do Mestre Vitalino?

Objetivo Específico 2 – Sentimentos na produção e comercialização

3. Como você se sente sendo artesão?

4. O que você sente quando produz uma peça?

5. Quando você vende as peças produzidas. Quais são seus sentimentos por comercializar?

Objetivo Específico 3 – Significados da produção e comercialização

6. Então o que significa pra você ser artesão?

7. E o que significa pra você produzir uma peça?

8. E o que significa pra você, vender uma peça?

Objetivo Específico 4 – Perspectivas de futuro

9. Quais suas perspectivas para o futuro enquanto artesão?

Page 136: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

135

APÊNDICE C

Categoria1 – Admiração

Subcategorias: origem, exemplo e aprendizado

Origem Exemplo Aprendizado

Mestre Vitalino foi muito, muito importante, porque deu vida aqui ao Alto do Moura

(AP01).

[...] é a origem da arte aqui (AP01).

Mestre Vitalino pra mim, é o pioneiro, o principal que incentivou os outros a seguir a arte (AP02).

Mestre Vitalino pra mim foi uma coisa muito importante, por que nos continuamos (AP04).

A história do Mestre Vitalino pra mim é de grande importância, porque foi ele que teve a ideia de criar a Arte Figurativa (AP05).

O Mestre Vitalino para mim foi tudo na Arte, porque foi através dele que continuamos nessa arte maravilhosa (AP06).

[...] foi a pessoa que foi o idealizador da Arte

[...] todos os artesãos se espelham no Mestre Vitalino, no exemplo que ele deixou (AP02).

[...] ele era uma pessoa simples! (AP02).

[...] Não tinha ambição! (AP02).

[...] foram perguntar a ele se ele queria que registrasse o trabalho dele pra ninguém copiar, então ele disse que “não queria, pois todo mundo precisa viver” (AP02).

[...] Esse foi um exemplo que ele deixou de humildade (AP02).

[...] de companheirismo né! (AP02).

[...] Ele deu uma lição de cidadania (AP02).

[...] uma pessoa muito solidária (AP03).

[...] ele trabalhava junto com meu pai, que era Zé Caboclo, e tinha muita gente que dizia. “ Vitalino, já estão copiando seu trabalho”, e ele dizia, “ ah deixa, não tem importância, todo mundo precisa de viver” (AP03).

[...] eu aprendi com minha mãe, ela fazia, e eu aprendi vendo ela fazendo (AP01).

[...] meu pai fazia bonecos e eu fazia também (AP01).

[...] eu ensinei a algumas sobrinhas e as minhas irmãs quando elas eram pequenininhas! (AP01)

[...] eu já dei algumas aulas, já ensinei a algumas pessoas (AP02)

[...] meus filhos aprenderam me vendo trabalhar (AP02)

[...] com 6 anos, eu via meu pai e minha mãe trabalhando, eu já pegava no barro, pra fazer brinquedinhos, mais já no intuito de vender né, pra arranjar dinheiro (AP03).

[...] já ensinei a minha netinha Thais que hoje em dia trabalha, e tem outra a

Page 137: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

136

Figurativa (AP07)

[...] deixou assim um legado muito grande para todos os artesãos (AP07).

O Mestre Vitalino foi muito importante, por que foi ele que iniciou a arte do barro a aqui em Caruaru (AP08).

[...] e hoje a gente vê tantos artesãos que tem a arte como profissão, tudo isso através da cultura que iniciou com Mestre Vitalino (AP08).

Mestre Vitalino foi muito importante, foi o primeiro artesão né!(AP09)

[...] ele que começou (AP09).

[...] ele é a origem (AP09).

[...] a importância é que pra mim ele é o começo de tudo. Se não tivesse existido ele, talvez não tivesse outro né! (AP10)

Eu acho que o Mestre Vitalino foi muito importante mesmo, foi o primeiro né! (AP11).

[...] a gente começou todo mundo a trabalhar por causa dele (AP11).

[...] foi o guia de todos os artesãos do Alto do Moura (AP11).

[...] ele deixou um legado para muita gente (AP11).

Mestre Vitalino foi o começo de tudo, juntamente com meu avô Zé Caboclo, eles deixaram muitas peças (AP13).

[...] Ele deixou um exemplo muito bonito (AP05).

[...] muito humano (AP05).

[...] foi uma pessoa muito solidária (AP05).

[...] de uma simplicidade incrível! (AP05).

[...] ele sabia ser amigo das pessoas (AP05).

[...] ele sabia dar valor as pessoas (AP05).

[...] ele sabia que as pessoas também precisavam trabalhar (AP05).

[...] não teve ciúmes quando as pessoas começavam a copiar a Arte dele (AP05).

[...] ele apoiou! (AP05)

[...] Ele disse que todo mundo precisava sobreviver! (AP05)

[...] ele deixou um exemplo muito lindo, além de ter sido um grande artista, que criou tanta coisa. Muitas cenas lindas do dia a dia. Quando eu vejo o trabalho dele, no museu do barro em Caruaru, eu fico encantada (AP05).

[...] uma pessoa muito simples (AP05).

[...] com uma inteligência daquelas né! (AP05)

[...] fazia tanta coisa bonita, com tanta expressão (AP05).

[...] ele tinha uma amizade muito grande com todo mundo principalmente com papai. Eles sempre

Maria Fernanda (AP03).

[...] E algumas das irmãs pedem uma orientação de uma coisa ou outra (AP03).

[...] Como também já aprendi com minha irmã Marliete, que tem algumas coisas que a gente fica trocando informações (AP03).

[...] eu fico muito contente quando vejo quando as pessoas querem alguma explicação minha né! Como é pra fazer a cabeça do boneco, que é o mais difícil (AP03).

[...] muitas vezes as pessoas pedem orientação minha, ai eu fico contente! (AP03)

[...] quero que as pessoas aprendam a fazer (AP03)

[...] eu aprendi com meu pai quando criança, papai trabalhando e a agente la do lado dele (AP04).

[...] comecei fazendo cavalinhos, ai quando adolescente começamos a fazer os bonequinhos (AP04).

[...] eu já ensinei a várias pessoas, inclusive a uma amiga que não tinha profissão e trabalhava na roça e ela aprendeu! Hoje em dia ela é artesã e faz qualquer tipo de louça (AP04).

[...] eu aprendi vendo meu pai trabalhar, ele deixava a gente bem à vontade. Não exigiu que a gente tivesse que aprender (AP05).

Vendo mamãe fazer (Dona Celestina) que fazia panelinhas, e viveu a vida

Page 138: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

137

Pra mim ele foi o pioneiro (AP14).

Dele ter partido a arte, o inicio da arte (AP14).

[...] dele também partiu o começo da visibilidade, fora daqui do estado (AP14).

conversavam a respeito do trabalho, sobre a vida. A amizade era tanta, que a família do Mestre Vitalino e a nossa permanece numa grande amizade (AP05).

[...] eu tenho que seguir o exemplo lindo que papai deixou, que Mestre Vitalino deixou, que minha mãe deixou, por que eles eram muito esforçados com a Arte (AP05).

[...] na época do Mestre Vitalino uma pessoa chegou pra ele querendo que ele registrasse a arte dele, e ele disse que não queria (AP06).

[...] ele foi um homem muito generoso (AP06).

[...] ele sentia-se muito feliz quando via outra pessoa fazer também (AP06).

Mestre Vitalino foi assim, uma grande referência para nossa arte (AP07).

[...] ele criou essa escola de arte que sempre retratou através das peças o cotidiano de nossa região (AP07).

[...] ele criou cerca de 119 peças, tudo inspirado no cotidiano nordestino (AP07).

Mestre Vitalino sempre foi esse mito, essa pessoa fantástica que tem seu reconhecimento. E deve está sempre da memória de toda essa gente (AP08).

toda fazendo um jogo de panelinhas (AP05).

[...] vendo os dois trabalhando, papai e mamãe ai eu aprendi. Ai veio Helena (irmã), que também começou muito cedo, e a socorro e a carmélia (irmãs), então tive toda influência (AP05).

[...] comecei aos 6 anos a brincar com o barro, fazendo os brinquedos pra brincar, e comecei logo a vender pra ganhar dinheiro (AP05).

[...] eu já fiz muitos trabalhos em oficinas, em colégios. Por um período dei aula de Artes, e aqui no Alto do Moura, as pessoas, meus parentes, meus sobrinhos (AP05).

[...] aprendi vendo meu pai trabalhar comecei fazendo uns cavalinhos de barro, peças de brinquedo, até vendia na feira, daí comecei modelando os bonequinhos, até hoje, eu continuo na arte do barro! (AP06)

[...] eu já ensinei, dei aula em Alagoas em uma associação de crianças que tá junto cm a Suiça, e em oficinas também, nas feiras que participo, como foi no Rio de Janeiro (AP06).

[...] não ensinei a meus filhos (AP06).

[...] 9 anos foi que eu comecei a mexer com barro, observando minha mãe trabalhar! (AP07)

[...] também aprendi com meus irmãos mais velhos, já que sou o mais novo, ai eu fui

Page 139: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

138

observando, observando, e fazendo até que hoje permaneço na arte do barro (AP07).

[...] eu já dei cursos na Fundação Cultura aqui em Caruaru, em Recife, uma oficina de Artes no museu do folclore, em colégios também de Recife e Caruaru (AP07).

[...] eu desde criança via minha mãe trabalhando, minha tia, e eu ia brincando ia aprendendo (AP08).

[...] brincava de fazer cavalinho e levava a brincadeira a sério, fazia fazenda pra brincar, carrinho (AP08).

[...] um pouco jovem eu comecei a ensinar. Ensinei em muitas escolas até fora do estado, eu vi que tava ganhando dinheiro e me animei (AP08).

[...] meu avô ensinou aos filhos, ele era agricultor mais ensinou, dando incentivo aos filhos dele (AP08).

[...] eu aprendi com minha mãe e com minhas tias Socorro e Marliete (AP09).

[...] eu já ensinei a minha filha Samara (AP09).

[...] eu aprendi vendo meu pai, observando. La pegando o barro e fazendo, brincando né! (AP10)

[...] ensinei a meus filhos mais só pra eles brincar (AP10).

[...] eu aprendi a trabalhar com minha mãe, ela me chamava pra sentar perto dele

Page 140: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

139

(AP11).

[...] já ensinei em uma escola e também a meu filho (AP11).

[...] aprendi com minha mãe, com minhas primas. Aprendi a pintar com o vizinho (AP13).

[...] ensinei a meus vizinhos (AP13).

[...] aprendi com meu pai, e meus tios, que trabalhando fica trabalhando aqui no ateliê e a gente desde pequenininho ficava mexendo no barro (AP14).

Categoria 2 – Sentimentos

Subcategorias: realização e afinco Realização Afinco

A gente fica muito feliz quando eu produzo e vendo (AP01).

[...] é chegar uma pessoa admirar e comprar (AP02).

[...] agradeço todo dia a Deus por ter me dado esse dom pra trabalhar (AP03).

[...] eu tenho todo prazer de levar o nosso trabalho, pra fazer demonstração, para que as pessoas conheçam né! Gosto muito! (AP03)

[...] eu me sinto muito a vontade, eu gosto de trabalhar (AP03).

[...] todas não, mais tem peça que a gente vende e sente pena de vender (AP02)

[...] a gente queria ficar com aquela peça ali, porque achou que ficou perfeita, principalmente quando é uma de criação nova (AP02)

[...] ai tem um momento que a gente cria a peça, vende e depois fica com pena (AP02).

[...] aí penso eu deveria ter ficado com ela, é como se fosse um membro da família (AP02).

[...] quando eu faço uma peça, principalmente uma nova, que eu crio, eu faço com aquele gosto, querendo fazer do melhor que eu posso,

Page 141: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

140

[...] por outro lado eu vejo que to vendendo e as pessoas que me procuram, compram por que dão valor (AP05).

[...] querem ter o trabalho em casa (AP05).

[...] alguém vai levar pra ter em casa e ficar obervando, vai fazer muito bem, pra pessoa que vai tá com meu trabalho em casa (AP05).

[...] é a gente fazer a coisa com amor, com carinho, com gosto, e é isso, me realizar na criatividade (AP05).

Eu me sinto realizado com mais uma obra de arte, principalmente quando faço uma peça pra FENEART na época de concurso que tem lá na feira (AP06).

[...] eu me sinto realizado o tempo todo na vida (AP06).

Quando a ideia que a gente tem gera inspiração, e a gente faz uma peça que é bem aceita pelo publico, então, a gente se sente assim realizado! (AP07).

[...] trabalho com meu esposo, e fico realizada! (AP09).

[...] mais assim, a gente trabalha e eu fico muito feliz quando faço (AP09).

[...] quando a gente termina a gente pensa, meu Deus eu consegui fazer essa peça (AP14).

[...] ai é quando você se senti realizado (AP14).

[...] a gente vê uma cena ai

ai depois que eu faço, é ótimo vender, mais eu fico com um dô de vender né! (AP03)

[...] eu digo, Deus eu fiz eu gostei, mais ai a gente tem que vender né! É disso que a gente vive (AP03).

Tem hora que a gente sente aquela pena (AP04).

[...] era pra eu ir guardando, pra ter uma coleção (AP04).

[...] muita coisa que eu faço tá na lembrança (AP04).

Eu vendo por que é preciso (AP05).

eu sinto pena de vender (AP05).

[...] eu passo o tempo todo fazendo com muito carinho, amor e muito cuidado, ai quando acaba dá vontade de ficar com tudinho e juntar, juntar, juntar (AP05).

[...] tem peça que a gente tem como filho né! Mais por outro lado a gente precisa e também (AP08).

[...] tem o carinho (AP08).

[...] quando eu pinto às vezes eu tenho pena de vender (AP09).

[...] é como um filho (AP09)

[...] quando eles estão pintadinhos bem bonitinhos nem vontade de vender dá (AP10).

[...] fico triste pra vender e alegre quando vendo (AP10).

[...] eu fiz um boi grandão,

Page 142: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

141

termina criando uma obra de arte (AP14).

O significado que vem é o de realização (AP14)

aquele bichão. Quando ficou pronto, eu tirei até foto. Aí eu dei um beijo nele e disse vai com DEUS! (AP11)

[...] a gente vai fazendo, quando a gente vê pronto, acha bonito, ai a gente aprende a amar aquela peça (AP11).

A gente vende porque precisa (AP12).

[...] eu mandei uma peça pra FENEART, mais fiquei torcendo pra não vender, a gente fica com pena de vender (AP12).

[...] eu não vendi e levei ela pra casa e ela está lá na minha sala! (AP12)

[...] eu fiz um projeto pra fazer uma peça de Vitalino e a gente se apega ao trabalho (AP12).

[...] eu adoro todas as peças que eu faço (AP13)

[...] eu sempre deixo umas peças guardadas em casa, porque algumas peças eu não consigo vender (AP13).

Categoria 3- Significados

Subcategorias: reconhecimento e sobrevivência Reconhecimento Sobrevivência

[...] significa reconhecimento do trabalho né! (AP02)

[...] é chegar uma pessoa admirar e comprar (AP02).

Significa divulgar meu trabalho porque divulgo meu trabalho no mundo, como já fiz trabalhos para vários estados, já vendi muito para vários países, pessoas que vem aqui me

[...] foi através do Mestre Vitalino que as pessoas trabalham (AP01).

[...] é nosso meio de vida (AP02).

[...] a gente tá sobrevivendo disso aí, ao mesmo tempo se divertindo né! (AP02)

[...] ele foi uma pessoa que foi muito, muito

Page 143: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

142

procurar (AP05).

[...] eu já estive fora vendendo em outros países, como Portugal, França, Buenos Aires. E pra mim foi muito importante observar que as pessoas valorizam muito meu trabalho lá fora né! (AP05)

[...] essa parte de vender é muito importante por isso, saber que meu trabalho tá divulgando a história da arte do alto do Moura e levando não só meu trabalho mais o Alto do Moura (AP05).

[...] qualquer lugar que você veja o trabalho do Alto do Moura, você conhece que é do Alto do Moura, por que ele tem uma característica própria, tanto na expressão do trabalho, quanto no colorido que é bem ativo, bem alegre é uma marca (AP05).

[...] com alguns trabalhos desses ganhei até menção honrosa, nunca ganhei prêmio, mais ganhei menção honrosa que já é muita coisa (AP06).

[...] procurar sempre melhorar, fazer um produto com boa qualidade para que tenha boa aceitação (AP07).

Apesar de fazer parte de uma família tradicional, mais eu quero ter meu nome reconhecido, como foi o do meu pai, como é o da minha irmã Marliete, que já está bem famosa com seu trabalho (AP07).

[...] eu quero ser visto como artesão de referência na Arte Figurativa! (AP07).

[...] ser reconhecido nacionalmente (AP08).

[...] a gente fica orgulhoso, sabendo que a peça vai pra fora do estado ou até pra fora do país (AP08).

[...] isso é muito bom porque o nome do artista vai para outro lugar (AP08).

[...] para mim significa reconhecimento no sentido de dar continuidade a educação dada pelo pais (AP08).

[...] ser reconhecido, a gente vê essa primeira geração como: Manoel Eudócio, Luiz

especial para todos nós, os artesãos, porque é até hoje do quê vivemos (AP03).

[...] sobrevivência, que realmente é (AP03).

[...] que criem novas peças isso é importante (AP03).

[...] eu criei os meus filhos, e me mantenho até hoje e graças a Deus da pra mim sobreviver (AP04).

Pra mim é sobrevivência por que a gente vende, pra sobreviver, pra resolver as coisas (AP04).

[...] comecei a ajudar em casa, nas despesas. Não só eu mais também todos os meus irmãos! (AP05).

Eu sei que é uma sobrevivência, que preciso do dinheiro (AP05).

Pra mim significa tudo, por que é o único trabalho, eu sobrevivi dele, a esposa ajuda também, fazendo pintura, acabamento (AP06).

A arte significa pra mim, principalmente a nossa sobrevivência (AP07).

[...] e o importante é isso, além das condições de sobrevivência (AP08).

Pode ser sobrevivência, mais não é só sobrevivência por que se for só isso a gente não pega amor (AP08).

Pra mim produzir significa ganhar dinheiro né! (AP09).

[...] pra mim significa trabalho (AP09).

[...] tenho um sentimento de gratidão por ele ter existido e ter dado essa oportunidade para o bairro todo (AP10).

[...] vendo pela necessidade (AP10).

Page 144: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

143

Antonio, todos reconhecidos (AP08).

[...] quando uma pessoa pergunta de onde você tirou essa peça, lhe elogiando (AP14).

[...] preciso vender, tenho que colocar feira dentro de casa, tenho que encher a barriga dos guri (AP11).

[...] sobrevivência (AP12).

[...] mais pra mim significa trabalho, por que do que a gente vive (AP12).

[...] Significa meu trabalho (AP13).

[...] significa o sustento da minha família (AP13).

[...] por que você sabe que dalí, você tá tirando o seu sustendo (AP14).

[...] dá para você se manter (AP14).

Categoria 4 – Oportunidade

Subcategorias: continuidade, valorização e inovação Continuidade positiva Continuidade negativa Valorização Inovação

Eu pretendo continuar trabalhando com arte (AP01).

[...] ele chegou aqui no final dos anos 40, depois dele, veio Zé caboclo, veio Manuel Eudócio, os outros todos, e hoje parece que tem mais de 800 artesão aqui no Alto do Moura (AP01).

[...] incentivando os filhos os netos, para dar continuidade, para que não morra nossa arte (AP03).

[...] eu acredito que a gente tem que dar continuidade (AP03).

[...] eu aprendi vendo meu pai trabalhar, apesar dele não incentivar a gente (AP02).

[...] não tendo condições de estudar pra se formar, a maioria, então optamos por seguir a mesma arte de meu pai (AP02).

[...] mais eu não incentivo meus filhos não (AP02).

Eu não tenho muita perspectiva como artesão. Daqui pra frente (AP02).

[...] pra gente que segue a linha tradicional como ele fazia, porque já tem muita coisa que veio de fora (AP02).

[...] eu considero artesão artista, aquele que faz de tudo né! (AP02).

[...] principalmente se ele se preocupar com o cotidiano, com os costumes, com o folclore! (AP02).

[...] então a gente se preocupa com essas raízes (AP07).

[...] e sempre a gente tá

[...] todo ano a gente tem um momento assim de inspiração, inspiração para participar do salão de Arte da Fenearte (AP02).

[...] então é hora da gente botar a mente pra funcionar, pra criar coisas novas (AP02).

[...] eu fico sempre incentivando, porque a gente não vai poder ficar pra sempre, fazendo uma coisa só (AP03).

Page 145: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

144

[...] e que os mais jovens dê continuidade, pra que nunca acabe (AP03).

[...] eu quero continuar trabalhando e ter minha freguesia, as minhas encomendinhas, sempre colocar um trabalho lá na lojinha de Socorro (irmã). Marliete (irmã) tem loja, e ainda tem a que ficou dos meus pais (AP04).

[...] eu procuro ajudar no que posso, e incentivar é comigo mesmo! (AP05).

[...] eu me vejo com a mesma vontade de trabalhar, com essa mesma ansiedade de trabalhar, de aprender mais (AP05).

[...] eu penso que quando ensino eu tô plantando uma raiz, que nunca vai morrer (AP05).

[...] nos temos a responsabilidade de dar continuidade, pra não ficar só com a gente, e sim deixar para o futuro (AP05).

No futuro acho que estarei realizado (AP06).

[...] é uma oportunidade de disseminar nossa cultura, para que no futuro não venha a

[...] a gente não tem profissão reconhecida (AP02).

[...] o que eu vejo é chegar o final da idade e não ter uma vida segura, uma segurança pra dar conforto à família (AP02).

[...] a arte não está oferecendo muitas condições (AP02).

[...] tô continuando assim, mais sem muita esperança em continuar (AP02).

Eu espero que melhore (AP02).

[...] tem que existir uma força, um incentivo do governo, para ser reconhecido o trabalho (AP08).

[...] é prazeroso, é meu trabalho, mais falta muito reconhecimento por parte do governo (AP10).

Minha perspectiva para o futuro é pouca, porque se houvesse reconhecimento da profissão por parte do governo, mais não legaliza, só fica na

preocupado em seguir essa Linha, para não fugir das raízes, para não perder as referencias (AP07).

[...] no futuro eu queria que o lugar que a gente vende nossa arte fique melhor, porque agora tá parado (AP09).

[...] tem que inovar, e eu fico muito feliz, das pessoas tá com interesse e também tá fazendo (AP03).

[...] sempre inovando (AP03).

[...] eu vivo assim, sempre pensando em descobrir coisas novas, para criar coisas novas (AP05).

[...] sempre pensando em criar mais alguma coisa, (AP05).

[...] a Arte do Barro é infinita e sempre tem alguma coisa pra criar (AP06).

Page 146: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

145

acabar (AP07).

[...] eu acho ensinar muito importante, pois gera continuidade da arte, essa arte vem dos meus pais, dos meus avós, é uma cultura (AP08).

[...] devemos dar continuidade a cultura, para que não deixe a arte morrer também (AP08).

No futuro eu pretendo trabalhar mais, aprender outros tipos de peças e continuar trabalhando no barro (AP13).

[...] ensinar a meu filho também (AP13).

[...] posso até trabalhar com outra coisa, arrumar algum emprego, mais o barro eu não pretendo deixar (AP14).

[...] eu pretendo trabalhar com o barro, como eu vi minha família toda trabalhando e vivendo do barro (AP14).

promessa (AP10).

[...] se eu tivesse certeza de que no futuro fosse legalizar pra eu me aposentar, entre outras vantagens, eu acho que o interesse era bem maior (AP10).

[...] eu me vejo nessa corda bamba, entre o trabalho na indústria e no artesanato (AP10).

[...] e eu não posso valorizar muito o trabalho pela concorrência (AP12).

Eu pretendo tá fazendo alguma coisa pra não depender só do artesanato (AP12).

[...] continuar sendo artesão, não deixo o artesanato, mais não quero depender somente dele não (AP12).

Page 147: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

146

APÊNDICE D

Valores por unidade de significação

Page 148: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

147

APÊNDICE E

Page 149: Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil Centro de …imagens.devrybrasil.edu.br/.../SAMMARA-DE-LIMA-CORDEIRO.pdfSammara de Lima Cordeiro Sentimentos e significados do processo de produção

148

APÊNDICE F