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Relações Familiares e Toxicodependência 1
Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra
Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação
da Universidade de Coimbra
relações familiares e toxicodependência
Reprodução de “Several Circles (Einige Kreise)” de Vasily Kandinsky © (January- February 1926. Oil on canvas, 55 1/4 x 55 3/8 inches. Solomon R. Guggenheim Museum)
Joana Margarida Correia Rebelo Coimbra 2008
Relações Familiares e Toxicodependência
Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra
2
Dissertação de Mestrado em Psicologia, Especialização em Avaliação Psicológica pela Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, sob orientação da Professora Doutora Maria Madalena Santos Torres Veiga Carvalho Lourenço.
Relações Familiares e Toxicodependência
Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra
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As famílias dos toxicodependentes não são necessariamente
disfuncionais, são sistemas complexos e sofrem, apresentam
dificuldades comunicacionais e não conseguem descobrir os seus
próprios recursos para crescer (Relvas, 1998).
Relações Familiares e Toxicodependência
Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra
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Resumo
O contínuo estudo e interesse na área da psicologia da família, transformações ao longo do ciclo vital, relacionamento entre os seus membros e com os que os rodeiam, associa-se ao desenvolvimento de novos instrumentos de investigação psicológica, numa contínua busca por uma maior compreensão destes fenómenos. O presente estudo apresenta as propriedades psicométricas de uma versão traduzida da mais recente escala de avaliação das relações familiares de Olson, Gorall & Tiesel (2006) a FACES IV, aplicando no entanto os factores encontrados na versão americana, num estudo em que participaram 284 sujeitos, pertencentes a 66 famílias em cada uma das duas tipologias familiares – com e sem elemento toxicodependente (cada família composta por dois elementos). O objectivo de estudo centrou-se sobre as diferenças nas relações familiares, procurando perceber a influência da tipologia familiar e características dos indivíduos da amostra no nível da coesão, flexibilidade, comunicação e satisfação familiar (subescalas da FACES IV). Embora as conclusões vão de encontro às hipóteses formuladas, sendo confirmadas por diversos autores em investigações envolvendo o mesmo tipo de variáveis, confirmamos que a versão americana não traduz a realidade portuguesa, devendo esta escala ser aferida para a população portuguesa, para maior fiabilidade dos dados em estudos semelhantes ao que apresentamos. Palavras-chave: Família; Ciclo vital, Toxicidade, Relações familiares, FACES IV.
Abstract The continuous study and interest in the family psychology area, changes during the life cicle, relationship between the family membres and the ones around them, associates itself to the development of new psicological investigation instruments, in a continuous search for greater understanding of these phenomena. This study presents the psychometric properties of a translated version of the latest scale of assessment of family relationships from Olson, Gorall & Tiesel (2006) the FACES IV, however applying the factors found in the American version, in a study involving 284 subjects who participated, belonging to 66 families in each of the two family types - with and without addict element (each family composed of two elements). The purpose of study focused on differences in family relationships, seeking understand the influence of family types and characteristics of individuals in the sample level of cohesion, flexibility, communication and family satisfaction (subscales of FACES IV). Although the findings meet the assumptions made, and confirmed by several authors in investigations involving the same type of variables, confirmed that the American version does not reflect the reality Portuguese, this scale should be measured for the population to greater reliability of data on studies similar to that present. Keywords: Family; life cycle, Toxicit.y, family relations, FACES IV.
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Agradecimentos A concretização deste trabalho só foi possível com o apoio de várias pessoas.
Embora tenha consciência de que o acto aqui expresso encerra o risco de eventuais
esquecimentos, não seria justo deixar passar em claro a minha manifestação de agradecimento
para com essas mesmas pessoas.
Assim, e em primeiro lugar, gostaria de agradecer à orientadora de todo o trabalho, Prof.
Doutora Madalena Lourenço, a sua inteira disponibilidade, o constante acompanhamento e
cooperação, e as suas sugestões ao longo da investigação, que se revelaram fundamentais, para
além da força, confiança e carinho que permanentemente me transmitiu.
Aos meus pais, à minha irmã Luisa e ao meu namorado Zé, que incansavelmente estiveram ao
meu lado em todos os momentos, com toda a força e convicção de que seria capaz de fazer um
bom trabalho. Bem como aos bons amigos como a Sara, o Crespo, a Inês, a Lili, a Cá que me
ajudaram em momentos de maior ansiedade, preocupação, desânimo. Ainda aos colegas de
trabalho que sempre acreditaram e me deram força, espaço e tempo para me dedicar ao
mestrado que culmina com esta tese, como o José Ricardo, a Elsa, a Marta, a Sofia, a D. Clara.
A Todos um grande MUITO OBRIGADA.
Um agradecimento especial ao Rui, cuja ajuda foi preciosa, com todo o seu conhecimento de
nível mais técnico, tanto no SPSS como no acompanhamento e monitorização, mas também a
segurança e calma que permanentemente transmitiu.
Um obrigado a todos os que prontamente responderam ao questionário, se disponibilizaram a
ceder o seu tempo, bem como às instituições e seus técnicos que comigo colaboraram como a C.
T. CRATO, C. S. S. Projecto Homem, Clínica do Outeiro, C. T. do Norte Ponte da Pedra, C. T.
S. Francisco de Assis – Domus Fraternitas, Clínica RAN, C. T. Sempre a Crescer, C. T, António
Lopez Aragón, C. T. Sol por Hoje, C. T. Casa Grande e Centro Comunitário Espaço Aberto,
ART, Projecto Convívios Fraternos, C. T. R12, Comunidade Vida e Paz e Ass. A Minha Casa.
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Resumo ............................................................................................................................. 4
Agradecimentos .................................................................................................................. 5
Índice
Introdução .................................................................................................................... 10
A. Enquadramento Teórico ............................................................................................. 12
Capítulo I. A família como sistema ..................................................................................12
1. Tipologias familiares
2. Estrutura, funcionamento e desenvolvimento
3. Coesão, flexibilidade, satisfação e comunicação familiares
Capítulo II. Famílias com elemento toxicodependente ......................................................24
1. Toxicidade
1.1 Breve contextualização do fenómeno em Portugal
2. Toxicidade e família
Capítulo III. FACES IV .................................................................................................... 39
1. FACES IV versão original
1.1. Modelo Circumplexo
1.2. Análise factorial da FACES IV
1.3. Fidelidade das escalas
1.4. Correlação entre as escalas FACES IV e as escalas de validação
1.5. Análise discriminativa
1.6. Seis tipos familiares baseados na FACES IV
1.6.1. Descrição dos seis tipos de famílias
1.6.2. Nível de funcionamento dos seis tipos familiares
1.6.3. Rácios de pontuações para os seis tipos familiares
1.6.4. Famílias equilibradas versus famílias caoticamente desligadas
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B. Estudo Empírico .......................................................................................................... 53
1. Percurso metodológico
1.1. Instrumentos utilizados
1.1.1. QSD – Questionários Sociodemográfico
1.1.2. FACES IV
1.2. Variáveis
1.3. Modelo Conceptual
1.4. Procedimentos
1.5. Procedimento estatístico
2. Qualidades psicométricas da versão traduzida da FACES IV ................................ 59
2.1. Sensibilidade
2.2. Validade
2.3. Fidelidade
3. Relações familiares e toxicodependência ..................................................................64
3.1. Características da amostra
3.2. Análise inferencial
Capítulo IV. Discussão dos resultados .............................................................................. 87
Capítulo V. Conclusões .................................................................................................... 93
Referências Bibliográficas ............................................................................................... 95
ANEXOS
Anexo I: FACES IV (versão original) .................................................................. 103
Anexo II: Questionário Sociodemográfico e FACES IV (Protocolo adaptado). .. 106
Anexo III: Tabelas de cotação da FACES IV. ...................................................... 112
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Índice de Tabelas e Figuras Tabela 1: Análise factorial de todos os itens da FACES IV(adaptado de Olson, Gorall e Tiesel, 2006, 10).
Tabela 2: Fidelidade de Alpha na FACES IV e Escalas de Validação (adaptado de Olson, Gorall e Tiesel, 2006,
13).
Tabela 3: Matriz de correlação das escalas familiares (adaptado de Olson, Gorall e Tiesel, 2006, 14).
Tabela 4: Análise Discriminativa das famílias problemáticas e não problemáticas (adaptado de Olson, Gorall e
Tiesel, 2006, 15).
Tabela 5: Pontuações de validação para os seis tipos familiares (adaptado de Olson, Gorall, 2006, 9).
Tabela 6: Seis tipos familiares – Rácio de Coesão, Rácio de Flexibilidade e Rácio Total Circumplexo (adaptado de
Olson, Gorall, 2006, 11).
Tabela 7: Perguntas correspondentes a cada subescala da FACES IV (versão adaptada de Olson, Gorall, 2006).
Tabela 8: Grelha de cotação da FACES IV para a definição das pontuações nas suas subescalas (adaptada de Olson,
Gorall, 2006).
Tabela 9: Grelha de transformação dos resultados brutos das subescalas da FACEI em resultados padronizados
(adaptada de Olson, Gorall, 2006).
Tabela 10: Análise do coeficiente de Simetria e curtose da amostra.
Tabela 11: Análise factorial da nossa amostra, factores 1 a 7.
Tabela 12: Análise factorial da nossa amostra, factores 8 a 15.
Tabela 13: Resultados do alpha de Cronbach para a amostra da população em estudo.
Tabela 14: Cruzamento de variáveis independentes género, idade e habilitações literárias, com variáveis
independentes mediadoras (4 elementos das duas tipologias familiares).
Tabela 15: Teste do Qui Quadrado para a variável Idade.
Tabela 16: Teste do Qui quadrado para a variável sexo.
Tabela 17: Cruzamento de variáveis independentes estado civil e situação profissional, com variáveis
independentes mediadoras (4 elementos das duas tipologias familiares).
Tabela 18: Cruzamento de variáveis independentes com quem vive, lugar ocupado no seio da família e
problemas de saúde, com variáveis independentes mediadoras (4 elementos das duas tipologias familiares).
Tabela 19: Cruzamento das variáveis independentes substância de início de consumo e idade de início de consumo.
Tabela 20: Cruzamento das variáveis independentes substância de início de consumo e tempo de consumo.
Tabela 21: Médias na comparação entre tipologia familiar, obtidas em cada subescala e rácios da FACES IV.
Tabela 22: Comparação de médias entre amostras independentes para cada um dos factores da FACES IV mediante
os factores encontrados na escala americana, através do teste t para amostras independentes.
Tabela 23: Médias na comparação entre sexo feminino e masculino, obtidas em cada subescala e rácios da FACES
IV.
Tabela 24: Estatísticas obtidas pelo teste t para amostras independentes, para comparação das diferenças entre
médias, para a variável sexo em cada subescala e rácios da FACES IV.
Tabela 25: Estatísticas obtidas pelo teste Kruskal-Wallis, para comparação entre as idades, no que respeita às
médias obtidas em cada subescala e rácios da FACES IV.
Tabela 26: Teste de Tamhane, para comparação múltipla entre médias segundo a faixa etária do inquirido.
Tabela 27: Estatísticas obtidas pelo teste Kruskal-Wallis, para comparação entre as idades, no que respeita às
médias obtidas em cada subescala e rácios da FACES IV.
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Tabela 28: Teste de Tamhane, para comparação múltipla entre médias segundo a profissão do inquirido.
Tabela 29: Estatísticas obtidas pelo teste Kruskal-Wallis, para comparação entre a escolaridade, no que respeita
às médias obtidas em cada subescala e rácios da FACES IV.
Tabela 30: Teste de Tamhane, para comparação múltipla entre médias segundo a escolaridade do inquirido
Tabela 31: Estatísticas obtidas pelo teste Kruskal-Wallis, para comparação entre a situação profissional, no que
respeita às médias obtidas em cada subescala e rácios da FACES IV.
Tabela 32: Teste de Tamhane, para comparação múltipla entre médias segundo a situação profissional do
inquirido.
Tabela 33: Estatísticas obtidas pelo teste Kruskal-Wallis, para comparação entre as doenças de que padecem os
sujeitos, no que respeita às médias obtidas em cada subescala e rácios da FACES IV
Tabela 34: Teste de Tamhane, para comparação múltipla entre médias segundo as doenças de que padecem os
sujeitos.
Tabela 35: Estatísticas obtidas pelo teste Kruskal-Wallis, para comparação entre o estado civil dos sujeitos, no
que respeita às médias obtidas em cada subescala e rácios da FACES IV.
Tabela 36: Teste de Tamhane, para comparação múltipla entre médias segundo o estado civil dos sujeitos.
Tabela 37: Estatísticas obtidas pelo teste Kruskal-Wallis, para comparação entre com quem vivem os sujeitos, no
que respeita às médias obtidas em cada subescala e rácios da FACES IV.
Tabela 38: Teste de Tamhane, para comparação múltipla entre médias segundo com quem vivem os sujeitos.
Tabela 39: Estatísticas obtidas pelo teste Kruskal-Wallis, para comparação entre estrutura da sua família, no que
respeita às médias obtidas em cada subescala e rácios da FACES IV.
Tabela 40: Teste de Tamhane, para comparação múltipla entre médias segundo estrutura da família dos
inquiridos.
Tabela 41: Estatísticas obtidas pelo teste Kruskal-Wallis, para comparação entre lugar que ocupa no seio da
família, no que respeita às médias obtidas em cada subescala e rácios da FACES IV.
Tabela 42: Teste de Tamhane, para comparação múltipla entre médias segundo lugar que ocupa no seio da
família.
Figura 1: Perfil da FACES IV: seis tipos familiares (adaptada de Olson, Gorall, 2006,7).
Figura 2: Modelo Circumplexo e Pontuações da FACES IV(adaptada de Olson, Gorall, 2006,5).
Figura 3: Perfil da FACES IV: Equilibradas versus Caoticamente Desligadas (adaptada de Olson, Gorall, 2006,13).
Figura 4: Modelo Conceptual, base do presente estudo, contemplando a verificação da influência das variáveis
independentes e independentes mediadoras, nas variáveis dependentes.
Figura 5: Comparação das médias das subescalas da FACES IV, nas duas tipologias familiares (famílias com e
sem elemento toxicodependente).
Figura 6: Comparação das médias das subescalas da FACES IV, nas duas tipologias familiares.
Figura 7: Médias obtidas no “Nível de emaranhamento da relação familiar”, segundo a faixa etária dos inquiridos
Figura 8: Médias obtidas nas subescalas da FACES IV segundo a profissão dos inquiridos.
Figura 9: Médias observadas por factor de análise, segundo a escolaridade.
Figura 10: Médias observadas por factor de análise, segundo o estado civil.
Figura 11: Médias observadas por factor de análise, segundo o lugar ocupado pelo sujeito no seio da sua família.
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Introdução
Este estudo surge no âmbito do Mestrado em Psicologia, especialização em Avaliação
Psicológica pela Faculdade de Psicologia e de Ciências de Educação da Universidade de
Coimbra, em que procuramos perceber a relação entre o funcionamento e relacionamento das
famílias em diferentes tipologias familiares.
Relativamente ao desenvolvimento familiar, Relvas (2000) refere que este passa pela
mudança da família enquanto grupo e em cada um dos seus membros, ao nível funcional,
interaccional e estrutural, de modo que os ciclos por que as famílias fluem e as mudanças
operadas em cada um deles permitem uma transformação e organização dentro do seu seio. Para
perceber o funcionamento familiar é importante compreender-se o ciclo em que a família se
encontra, as circunstâncias em que vive e os acontecimentos marcantes, quer em termos de
grupo, quer individualmente, pois são processos que influenciam e fazem com que o
funcionamento familiar esteja em constante mutação, oscilando entre extremos e o equilíbrio.
Neste seguimento, o principal objectivo que norteou a nossa investigação foi perceber se a
tipologia familiar (com ou sem elemento toxicodependente), bem como características
sociodemograficas e familiares (idade, sexo, habilitações literárias, profissão, situação face ao
emprego, número de filhos, estrutura familiar, lugar que ocupa no seio da família e problemas
de saúde), se correlacionam ou influenciam a forma de funcionamento e relacionamento
familiar, usando a FACES IV – Escala de Avaliação da Adaptabilidade e Coesão Familiar (nas
dimensões que esta avalia, tais como coesão, flexibilidade, comunicação e satisfação).
Optámos por esta escala pois um dos primeiros sucessos no desenvolvimento de escalas
capazes de avaliar o sistema familiar originou-se no grupo de pesquisa coordenado por Olson,
denominadas FACES: Family Adaptability and Cohesion Evaluation Scales (Olson, Portner, &
Bell, 1982; Olson, Portner, & Lavee, 1985; Olson, Sprenkle, & Russel, 1979). De acordo com
este modelo teórico, a combinação de dois construtos – coesão (separação versus ligação) e
flexibilidade (qualidade e expressão da liderança e organização) – teria uma relação curvilinear
com o modo de funcionamento da família.
A pertinência de mais uma investigação acerca da problemática da dependência e família,
passa pela novidade deste instrumento, em cujo aperfeiçoamento os autores trabalharam mais de
uma década, nascendo assim um novo conjunto de seis escalas de avaliação da família para
efeitos de pesquisa e uso clínico que avaliam as dimensões da coesão e da flexibilidade, sendo
que as escalas, desenvolvidas na última pesquisa dos seus autores, medem separadamente
características equilibradas e desequilibradas dentro das famílias (Olson & Gorall, 2003).
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Este estudo mostra-se pioneiro na utilização desta escala, iniciando a autora do trabalho aqui
apresentado pela sua tradução (seguindo os trâmites requeridos) e aplicação, procurando
verificar se esta poderia medir fielmente o funcionamento familiar no contexto português. Foi
aplicado um inquérito por questionário (composto por um Questionários Sócio-Demográfico e a
Escala FACES IV traduzida para português) a uma amostra com duas tipologias familiares: 66
famílias com elemento toxicodependente e 66 famílias sem elemento toxicodependente (cada
família é composta por dois elementos, num total de 284 sujeitos). Encontrámos diferenças
entre ambas as tipologias familiares em todas as escalas, no entanto sem significância
estatística, sendo este o início do que o estudo vem trazer de novo. Pois embora se possa
mencionar o facto da reduzida dimensão da amostra, a grande questão passa pela incessante
vontade dos investigadores obterem uma correspondência fiel ao nível dos factores encontrados
e uma relevante significância estatística para uma escala aferida para uma população que em
tanto diverge da portuguesa, com toda a sua contextualização, cultura, princípios, valores e
tipologia familiar característicos. Uma vez que em vez dos cinco factores encontrados na análise
factorial da versão americana, encontrámos uma boa capacidade discriminativa com quinze
factores para a população portuguesa, o que requereria a criação de um instrumento adaptado às
características da população portuguesa. Temos ainda a hipótese (que não é nova, mas surge de
forma crescente) de cada vez se atenuarem mais as diferenças entre estas tipologias familiares.
Por fim, resta manifestar o quão gratificante foi este trabalho e ao mesmo tempo um
estímulo para lançarmos um novo olhar para a problemática da toxicodependência e levar por
diante o aprofundamento que se impôs. Alguns autores consideram que as teorias sistémicas,
sobre a família, serão um novo contributo para a nova conceptualização da problemática
“toxicodependência”, já que concedem pistas, explicativas e compreensivas, para a
complexidade deste fenómeno.
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A. ENQUADRAMENTO TEÓRICO
Capítulo I – A Família como Sistema
Um dos conceitos centrais de todo o nosso trabalho passa pela definição de família, que se
revela como a instituição fundamental do desenvolvimento humano, já que funciona como
padrão de referência para a vida de cada um.
Várias são as definições que podemos encontrar de “família”. Contudo, nota-se nessas
definições a orientação conceptual que é defina pelos diversos autores. Neste sentido, Sampaio e
Gameiro (1992, p.9) definem família como “um sistema, um conjunto de elementos ligados por
um conjunto de relações, em contínua relação com o exterior, que mantém o seu equilíbrio ao
longo de um processo de desenvolvimento percorrido através de estádios de evolução
diversificados”. Numa outra linha de orientação conceptual, Menezes (1989, p.53) percepciona
a família como uma “Instituição social, contexto de primordial importância no desenvolvimento
do ser humano, núcleo por excelência, da vinculação, da coesão e interdependência mútua,
promotora de sentimentos de separação e autonomia”.
O conceito de família tem-se modificado ao longo dos tempos (Menezes, 1989) e é neste
sentido que se fala do ciclo vital da família como um conjunto de estádios que demarcam
transformações que ocorrem no seio da mesma (Relvas, 1996).
O desenvolvimento familiar reporta-se à mudança da família enquanto grupo, bem como às
mudanças nos seus membros, ao nível funcional, interaccional e estrutural. Assim, é importante
identificar as sequências de transformações na organização da família, ciclo vital, de acordo
com o cumprimento de tarefas bem definidas, que vão caracterizar as etapas desse ciclo. Estas
tarefas relacionam-se, por sua vez, com as características individuais dos elementos da família, e
com a pressão social para o desempenho adequado das tarefas essenciais à continuidade
funcional do sistema familiar. Neste sentido, a família deve resolver com sucesso a criação de
um sentimento de pertença ao grupo e a individuação/autonomização dos seus elementos
(Relvas, 2000).
Olson e colaboradores (1983) definem sete estádios, usados nos seus estudos da família,
partindo do Modelo Circumplexo.
- No primeiro estádio fazem alusão a casais jovens sem filhos, em que as preocupações do
casal respeitam à reformulação e negociação dos objectivos individuais e do casal, e estilos de
vida mutuamente aceites. No entanto, estas famílias ainda não encontraram as necessidades e
exigências dos filhos pequenos.
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- Num segundo estádio, enquadram-se famílias com crianças pequenas e em idade pré-
-escolar. As famílias são idênticas neste estádio, pois as crianças passam a maior parte das horas
acordados em casa, e a família é orientada para o seu crescimento e nutrição. Os pais são as
fontes primárias de informação e controlo e a família é vista como centrada na criança.
- No terceiro estádio encontram-se as famílias com crianças em idade escolar, em que a
família é vista como estando focalizada na educação e socialização da criança. Aqui, a criança
mais velha tem entre seis e doze anos.
- Num quarto estádio, as famílias com adolescentes preocupam-se em preparar os seus
adolescentes para serem “lançados” de casa, existindo exigências consideráveis.
- No estádio cinco encontramos famílias lançadoras, ou seja, os adolescentes estão a deixar
a casa para estabelecer identidades e papéis fora da unidade familiar. Os papéis parentais e as
regras estão a mudar e a família é ocupada com a autonomização bem sucedida dos seus filhos.
- Num sexto estádio, são definidas as famílias como de ninho vazio, em que os filhos
abandonam o seu “ninho”, a casa dos seus pais. Os pais ainda mantêm algumas regras formais,
mas a família é largamente orientada para as necessidades do casal, estabelecendo
relacionamentos mais diferenciados com filhos e netos.
- Por fim, no sétimo estádio encontram-se as famílias na reforma, que completaram
largamente o crescimento e supervisão dos filhos. Concluíram as suas maiores contribuições na
carreira e estão ocupados com a manutenção do casal, assim como com os relacionamentos com
a família alargada e amigos.
Relvas (2000) refere que o grande objectivo da conceptualização do ciclo vital da família é
mostrar a relevância das relações humanas familiares contínuas, centrando-se na evolução
temporal das interacções (entre membros da família entre si, com outros e outras estruturas
sociais), fundamental para diagnosticar e planear a intervenção. A não consideração destes
aspectos (aplicação numa perspectiva simplista e linear) proporciona um estudo repartido e
descontínuo da vida familiar. A família torna-se crucial no desenvolvimento do ser humano por
duas razões: em primeiro lugar, porque não podemos pensar viver sem uma família (mesmo que
esta não seja a de origem); em segundo lugar, porque é a família que determina as primeiras
relações sociais e as primeiras aprendizagens que realizamos acerca das pessoas, das situações e
das nossas capacidades individuais, aquisições estas, que exercem grande influência na
construção da nossa personalidade (Sprinthall & Collins, 1994).
A partir dos anos 50, quando reflectimos sobre o sistema “família” e intervenção,temos que
falar da “terapia familiar” e do modelo sistémico. Este modelo surge nos E.U.A. num contexto
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de mudança de paradigma, do pensamento analítico ao pensamento sistémico, inerente à
complexidade (Morin, 1992). Falamos de um modelo que tem como ideia central que é “preciso
reunir para compreender”, acentuando o estudo das relações e interacções, em que a causalidade
se torna circular. Em consequência do corolário sistémico da totalidade, o indivíduo e o meio
evoluem em simultâneo e mudam reciprocamente, tornando a importância do contexto mais
clara, em que a noção de co-evolução é determinante (Bateson, 1987). No estudo da interacção
surge a teoria ecossistémica da comunicação, com um novo conceito de doença mental, em que
o sintoma é visto como um comportamento (comunicacional) lógico, coerente e com uma
função no contexto em que aparece (in Watzlawick et al., 1972; Marc & Picard, 1984). A
disfuncionalidade deve-se aos movimentos homeostáticos, que o “todo” utiliza tendo como
objectivo a sua manutenção (in Jackson, 1957; Palazzoli et al., 1978).
Por volta de 1950 inicia-se em Palo Alto o estudo da comunicação humana numa
perspectiva pragmática (in Watzlawick et al., 1972; Marc & Picard, 1984); em 1959 é fundado o
Mental Research Institute (MRI), primeiro centro da costa oeste consagrado à investigação,
formação de terapeutas e prática de trabalho clínico com famílias. A revista Family Process é
outro marco desta evolução, surgindo em 1961, e é a primeira publicação unicamente sobre
terapia familiar. Ao longo da década de 60, Salvador Minuchin e Murray Bowen, entre outros,
desenvolveram e apresentaram os seus próprios modelos sistémicos de compreensão e
intervenção familiares. Em 1967, Plazzoli funda em Milão o primeiro centro de terapia familiar
da Europa (Relvas, 1999). Passados dez anos, a terapia familiar sistémica chega a Portugal, e a
evolução que se passava noutros países foi influenciando o que aqui se fazia (Relvas, 2002).
A história da psicopatologia numa perspectiva sistémica passa por uma ruptura com o
paradigma individualista e analítico, em voga até metade do século. Em seguida desenvolve-se e
diversifica-se, a partir dos modelos criados pelas várias escolas de terapia familiar, estendendo-
-se, no final desta fase, à compreensão/explicação de outros sistemas. Nas últimas décadas, há
uma renovação da base construtiva e construcionista social, e a tónica é colocada no terapeuta e
na sua auto-referência (Relvas & Alarcão, 2001).
Os fundadores da Sociedade Portuguesa de Terapia Familiar associaram-se e procuraram
contactos com grandes mestres da perspectiva. Entretanto, Daniel Sampaio e José Gameiro
escreveram o primeiro livro sobre “terapia familiar” (com este mesmo título) (Sampaio &
Gameiro, 1985). E, “hoje em dia em Portugal, tentando olhar para o futuro, procuramos
(re)descobrir, através de uma visão sistémica, a ligação (possível) entre (…) saber-fazer/saber-
-pensar/saber-ser, nos vários contextos (possíveis) onde a nossa presença possa ser útil ou
benéfica” (Relvas, 2002, 21).
Relações Familiares e Toxicodependência
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1. Tipologias familiares
Sendo o conceito “família” crucial neste trabalho, importa compreendê-la nas suas
diferentes estruturas e configurações, respondendo às tensões que possam surgir, de acordo com
essas condições que detêm. Neste sentido, importa referir os diversos tipos de famílias com que
nos podemos deparar de acordo com Minuchin e Fishman (1990):
- Família ‘pas de deux’, onde reside uma relação simbiótica de dois elementos;
- De três gerações, em que coexistem várias gerações de forma concomitante;
- Com suporte ou com filho parental, que integra um elemento que toma sobre si funções de
criação dos demais;
- Acordeão, com um elemento que está ausente por longos períodos de tempo;
- Flutuante, quando a família está constantemente a mudar de domicílio;
- Hóspede ou adaptativa, que acolhe temporariamente um membro da mesma;
- Reconstituída, quando um padrasto é incluído na unidade da família;
- Com um fantasma, onde um elemento da família desaparece, morre ou se ausenta;
- Descontrolada, onde se enfatiza a existência de problemas na hierarquia familiar, da
implementação de funções e na proximidade dos membros; e
- Psicossomática, em que há uma superprotecção, fusão ou união excessiva entre os
membros da família.
Malpique (1997) e Alarcão (2000) falam de famílias que abrangem vários elementos, como
a família nuclear, composta por elementos unidos por laços afectivos e biológicos e realizam
actividades comuns; a extensa, com um conjunto de (des)ascendentes, e colaterais do grupo da
família nuclear; a de origem, com o grupo familiar original de cada um dos cônjuges; e a
monoparental, com apenas um dos cônjuges.
Olson e Gorall (2006) providenciam uma nova tipologia de famílias para o estudo e análise
das relações familiares, sistematizada no instrumento FACES IV – Family adaptability and
Cohesion Scales (composto por seis escalas que medem as relações familiares), e no Modelo
Circumplexo, em que identificam seis tipos de famílias:
- Equilibradas, caracterizadas por elevado funcionamento saudável, e baixo nível de
funcionamento problemático. Hipoteticamente, estas famílias lidam bem com os elementos
stressores do dia-a-dia, e com as mudanças relacionais na família ao longo do tempo.
- Rigidamente equilibradas, com níveis elevados de aproximação emocional e rigidez.
Hipoteticamente estas famílias funcionam bem a maioria das vezes, dado o seu nível de
proximidade; no entanto, podem ter dificuldades em realizar as mudanças requeridas pela
situação ou mudanças ao nível do desenvolvimento, devido à sua elevada rigidez.
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16
- Médias, por hipótese estas famílias funcionariam bem, não apresentando níveis extremos
de factores de força e protecção, nem de factores de risco.
- Flexivelmente desequilibradas, famílias, à partida, a indicar um funcionamento
problemático; no entanto, como demonstram níveis elevados de flexibilidade, teriam as
competências para alterar alguns níveis problemáticos quando necessário. Este é o tipo de
famílias considerado pelos autores como sendo o mais difícil de caracterizar.
- Caoticamente desligadas, têm por hipótese corresponder a famílias problemáticas, com
base numa falha de proximidade emocional e níveis baixos de flexibilidade, o que
demonstra uma grande dificuldade em promover mudanças.
- Desequilibradas, é o espelho exacto (imagem oposta) das famílias equilibradas e são as
mais problemáticas em termos de funcionamento, com grandes lacunas nos factores força e
protecção. São as mais prováveis de encontrar em terapia.
No entanto, Ausloos concorda com a ideia de Haley ao afirmar que “Não existe um tipo de
família que produza um tipo de paciente, mas produz-se numa família, em certo estádio, uma
perturbação seguida de uma intervenção externa que ocasiona um comportamento sintomático
num ou em vários dos seus membros” (Haley, cit.. in Ausloos, 1981, p.192).
Nas diversas classificações de tipos de famílias, Relvas (1999) destaca as interaccionais e
estruturais, sendo a mais conhecida elaborada por Salvador Minuchin (1990), colocando as
famílias disfuncionais em extremos opostos, definindo-as como “emaranhadas” e
“desmembradas”, sendo a família “emaranhada” caracterizada por um relacionamento centrado
nela própria, defendendo a unidade em prol da individualização. Nelas existem papéis rígidos e
sintomas por vezes psicossomáticos e é frequente um dos pais encontrar-se numa posição
hierárquica baixa (one down) e as fronteiras entre gerações e indivíduos serem difusas e mal
definidas, opostas à fronteira exterior geralmente rígida. São, assim, sistemas fechados e
isolados no que respeita ao contacto com o meio. No outro oposto, as famílias “desmembradas”
são excessivamente abertas, com um relacionamento que se afasta do centro da família, em que
tentam expulsar demasiado cedo os seus membros para a vida em sociedade, sem os munir de
competências adaptativas consistentes (pelo que a entrada das crianças na vida social se torna
conflitual). Os papéis parentais apesar de uma aparente rigidez são instáveis, e os sintomas são
frequentemente de carácter psicossocial (delinquência, prostituição, gravidez precoce…),
centrando em si a atenção do resto da família.
Nos resultados das suas investigações, Minuchin revela, ainda, que encontra estes dois tipos
de família em estratos socio-económicos muito baixos, transparecendo a ideia de se tratar de
uma questão cultural, nomeadamente da cultura organizacional de cada família.
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17
Na Teoria de Bowen (in Relvas, 1999, p.55) “a família emaranhada aproxima-se da família
definida pela fusão emocional, i.e., com um «Eu Familiar indiferenciado», enquanto a
desmembrada corresponderia ao sistema e cutt-off.
Guy Ausloos (1981, p.190) propõe uma tipologia que acrescenta o aspecto estrutural,
alargando o conceito de homeostase. Parte, assim, do princípio que a estabilidade homeostática
do sistema é constituída pela tendência para a mudança (morfogénese) e pela tendência para a
manutenção (morfostase), sendo o equilíbrio resultante da tensão entre as tendências opostas.
Assim, a noção de estabilidade dirige-se para um resultado, sendo a tendência um meio de o
atingir. Ausloos (idem, p.195) defende que um desequilíbrio nestas tendências tanto pode
conduzir à patologia, como à «normalização», o que permite dizer que o “aparecimento de uma
perturbação se associa ao grau de activação de uma das tendências, tanto quanto à adequação
dessa activação à situação problemática, “sendo a situação problemática percebida como o que
induz aos movimentos de equilíbrio (homeostase). Distingue então quatro tipos de famílias:
- Sistemas familiares flutuantes (movimento de fraca amplitude num sistema perto do
equilíbrio) ou com interacções flexíveis (mobilidade estrutural em termos de modalidades de
comportamento, bem como rígidas e caóticas) (famílias ditas normais);
- Sistemas familiares convergentes (evoluções diferenciáveis em função do reforço das
ligações entre o subsistema) ou com interacções rígidas (famílias nas quais em certas
condições surge um membro psicótico);
- Sistemas familiares divergentes (evoluções diferenciáveis em função do relaxamento das
ligações entre o subsistema) ou com interacções caóticas (nestas famílias surgem
essencialmente problemas de comportamento);
- Sistemas familiares alternantes ou pendulares. Famílias que alternam entre sistemas
convergentes e divergentes, de acordo com as situações, podendo referir-se como exemplo
grande parte das famílias com toxicómanos.
Beavers (in Relvas, 1999, p.59) defende um modelo que segue essencialmente uma «linha»
da patologia à saúde, a que corresponde um gráfico em flecha com duas dimensões, em cujos
cruzamentos assistimos à progressão das tendências psicopatológicas/sintomatológicas
(descendendo) até à saúde mental. Este modelo é organizado em três grandes níveis: 1) de
famílias na base da flecha, extremamente confusas ou caóticas, com limites precários e
hierarquia inexistente, 2) famílias extremamente autoritárias e 3) mais extremo, com famílias
mais flexíveis e adaptativas. O autor manifesta alguma preocupação no que respeita ao processo
evolutivo das famílias, procurando perceber ou antever a direcção da mudança.
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2. Estrutura, funcionamento e desenvolvimento da família
Da mesma forma se torna crucial neste trabalho a compreensão da estrutura, funcionamento
e desenvolvimento familiar, percebendo alguns destes conceitos através de um conjunto de
relações verbais e não verbais, a que Minuchin (1990) designa de “padrões transaccionais”, que
definem as trocas cognitivas, comportamentais e afectivas que se estabelecem com os seus
membros, bem como os seus papéis individuais. Estas relações estabelecem-se de acordo com o
subsistema onde se inserem e, por isso, podemos falar de quatro subsistemas familiares
(Minuchin & Fishman, 1990; Alarcão, 2000):
- O individual, respeitante ao indivíduo na sua individualidade;
- O conjugal, referente à relação entre marido e mulher;
- O parental, que se constitui como a relação pais-filhos existente, ocupando os adultos
funções executivas;
- E o fraternal, decorrente da relação entre os irmãos.
Em cada um destes subsistemas existem funções e tarefas que se encontram intimamente
relacionadas e os diversos elementos dos mesmos podem pertencer, ao mesmo tempo, a mais do
que um subsistema ao longo da sua vida, mostrando uma capacidade adaptativa e sendo
fundamental a inscrição de limites ou fronteiras (Alarcão, 2000).
Toda a vida pressupõe um princípio, um meio e um fim e na família este tipo de evolução é
designado de ‘ciclo vital da família’ (Alarcão, 2000). Este ciclo diz respeito a uma “sequência
previsível de transformações na organização familiar, em função de tarefas bem definidas que
caracterizam as suas etapas” (Relvas, 1996, p.16).
Fleming (1996, p.22) considera que a família deve desenvolver-se e crescer como se fosse
um organismo vivo, mudando à medida que os seus membros mudam, uma vez que “uma
família que se fixa em padrões rígidos e perenes e não é capaz de se adaptar a novas
necessidades ou exigências do desenvolvimento psicológico dos seus membros é como uma
‘camisa de forças’ que pode esmagar a individualidade de cada um e criar condições para a
eclosão de perturbação mental num ou mais membros”.
Da investigação realizada, Minuchin e Fishman, (1990) propõem-se alguns padrões de
interacção familiar que são particularmente rígidos e que funcionam como inibidores das
mudanças que devem naturalmente ocorrer no seio familiar. Exemplos destes padrões são:
- A fusão (tendência para dois membros da família se misturarem, não ficando claro os
limites entre os mesmos),
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- A triangulação (quando há uma relação estável intergeracional na maior parte das vezes,
ligada com o facto de um dos progenitores estar aliado ao filho e coligado contra o outro
progenitor).
- E a aliança entre os pais (quando esta é exagerada ou inexistente).
Minuchin (1990) reconhece quatro situações indutoras de pressão no seio familiar: (1)
problemas particulares; (2) períodos de transição do ciclo vital; (3) contacto de um membro da
família com a fonte externa de pressão; (4) contacto da família com uma fonte externa de
pressão. A família deverá ser capaz de desencadear mecanismos próprios, que lhe permitem
lidar e ultrapassar estas condicionantes no seu desenvolvimento.
Segundo Steinglass (1978), o significado de “todo” e relações interdependentes é o que
distingue a teoria dos sistemas das outras teorias, sendo assim importante referir os limites, os
subsistemas, as regras da família, a causalidade circular e a homeostase na compreensão do todo
(família) e do seu funcionamento (Thombs, 1999).
Os limites existem então para distinguir os elementos pertencentes ao sistema familiar dos
que não pertencem, assim como caracterizam a qualidade das relações entre o sistema e o meio
e a troca de informação com outros sistemas (Pearlman, 1998). As barreiras ou limites podem ir
de muito difusas a muito rígidas, estando o equilíbrio nos limites claros, que permitem a
individualidade dos indivíduos, mantendo, no entanto, a intimidade. As barreiras difusas
existem em relacionamentos de super envolvimento, em que as famílias não permitem que os
adolescentes se individualizem, o que leva muitos deles a manifestações de revolta pelo abuso
de álcool e drogas (Lawson, Peterson & Lawson, 1983).
A interacção dos vários subsistemas e hierarquias contribuem, também, para a organização
do sistema familiar. Nas famílias disfuncionais, os subsistemas permanecem estáticos e as
crianças/adolescentes assumem papéis inapropriados, como por exemplo os dos pais (Lawson et
al., 1983). As regras pelas quais o sistema se organiza são implícit.as, mais que explícit.as, e
vão definir as condutas apropriadas dentro do sistema.
Quando nos remetemos para famílias quimicamente dependentes, percebemos que contêm
algumas particularidades, existindo regras típicas, como o facto de ser proibido falar
abertamente sobre o abuso de substâncias (Deutsch, 1982); o existir “não sinto, não confio, não
falo”; a raiva só pode ser expressa quando o dependente está a consumir (Lawson et al., 1983);
“só me sinto confortável em expressar a minha afectividade depois de ter consumido”.
Na teoria dos sistemas a causalidade circular é enfatizada, ou seja, as relações entre
elementos de um sistema são influenciadas pelo feedback transmitido, não se tratando de uma
causalidade linear (Pearlman, 1988).
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De acordo com Stanton (1980), a homeostase numa família com um dependente químico,
existe com um equilíbrio patológico, em que os membros não dependentes, investem
emocionalmente no membro dependente, mantendo a sua adicção (Pearlman, 1988). O abuso de
químicos desempenha um papel fundamental na manutenção do equilíbrio da família. O
consumo mantém a família num equilíbrio embora patológico, mas relativamente estável, em
que estas famílias optam por um nível baixo de desconforto, mantendo o consumo, de forma a
evitar situações mais dolorosas.
Em suma, podemos dizer que a família não é uma estrutura rígida, mas vai-se moldando, ao
longo do ciclo vital, às novas situações e contingências que se lhe deparam, de forma a
proporcionar a sua adaptação e consequente homeostasia, sendo as diferenças na sua
estruturação, interacção e comunicação o que permite diferenciar os tipos de famílias.
3. Coesão, flexibilidade, satisfação e comunicação familiares1
Entre outros conceitos importantes na definição de famílias e relações familiares é
fundamental referir o Modelo Circumplexo, atendendo aos estudos e instrumentos que suporta,
e os quatro conceitos principais em que assenta: Coesão, Flexibilidade, Comunicação e
Satisfação
A Coesão familiar é definida como a barreira emocional que os membros da família têm
face uns aos outros. No Modelo Circumplexo, conceitos como ligação emocional, barreiras,
coligação, tempo, espaço, amigos, tomada de decisão, interesses, recriação, são usados como
medidas de diagnóstico e análise desta dimensão. A coesão centra-se em como os sistemas
oscilam entre separação versus ligação.
Podemos encontrar cinco níveis de coesão: desligada/desconectada (extremamente baixa);
de certo ponto ligada (baixa a moderada); ligada (moderada); muito ligada (moderada a alta);
emaranhada/altamente ligada (muito elevada). Os três intermédios estão associados a um
óptimo funcionamento familiar e os extremos (desligada e emaranhada) são vistos geralmente
como problemáticos para relações após um certo período de tempo.
Na área equilibrada da Coesão no modelo Circumplexo, as famílias são capazes de alcançar
o equilíbrio, moderando entre a separação e a ligação. Os indivíduos são capazes de ser
independentes e em simultâneo conectados com as suas famílias, e tendem a ser mais funcionais
no decorrer do ciclo de vida. Uma relação de certo ponto ligada, tem algum desligamento
emocional e o tempo isolado é mais importante; no entanto, há algum tempo em conjunto,
tomadas de decisão em conjunto e apoio. Apenas algumas actividades e interesses são
1 Para a construção deste ponto da dissertação baseamo-nos no estudo empírico realizado por Olson e Gorall (2003).
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partilhados, embora poucos. Uma relação ligada é caracterizada pelo maior nível de equilíbrio
entre ligação e separação. Uma relação muito ligada tem um proximidade emocional e lealdade
à relação. Há uma ênfase no “estar junto”, o tempo junto é mais importante que o tempo
sozinho. Não há apenas amigos separados, mas também amigos partilhados pelo casal ou
família. Os interesses partilhados são comuns em actividades separadas.
As famílias que comparecem em terapia tendem a posicionar-se num dos extremos ou áreas
de desequilíbrio, áreas de extrema separação ou ligação. Num dos extremos, quando há níveis
elevados de emaranhamento, há um enorme consenso/proximidade emocional no seio da família
e uma diminuta independência. Num outro extremo, sistema desligado, cada elemento da
família “trata da sua vida”, com níveis de ligação e comprometimento muito precários para com
a família.
Os níveis desequilibrados de coesão encontram-se nos extremos, quer seja extremamente
baixo (desligado) ou extremamente elevado (emaranhado). Uma relação desligada demonstra,
frequentemente, separação emocional. Há um envolvimento escasso entre os membros da
família e uma grande separação pessoal e independência. Os indivíduos fazem as suas próprias
tarefas, predomina um tempo, espaço e interesses separados, em que os membros são incapazes
de se apoiar uns aos outros e solucionar problemas em conjunto. Numa relação emaranhada há
um montante extremo de proximidade emocional, e é exigida lealdade. Os indivíduos são
extremamente dependentes de, e reactivos para, uns com os outros. Há uma falha de separação
pessoal e é permitida muito pouca privacidade. A energia dos diversos elementos é focada quase
em exclusividade para dentro da família, sendo raros os amigos individuais exteriores, assim
como os interesses.
Resumindo, níveis de coesão extremamente elevados (emaranhados) ou baixos (desligados)
tendem a ser problemáticos para os indivíduos e para o desenvolvimento de relacionamentos a
longo curso. Por outro lado, relações com níveis moderados tendem a oscilar entre a separação e
aproximação de forma mais funcional. Apesar de não haver em absoluto um nível ideal para um
relacionamento, muitos serão problemáticos se funcionarem nos extremos por longos períodos
de tempo. Também é esperado que os sistemas de casal e familiar oscilem entre os vários níveis
ao longo do tempo.
A Flexibilidade (definição revista) é definida como a qualidade e expressão da liderança e
organização, relação de papéis, relação de regras e negociações. Conceitos específicos
contemplam a liderança (controlo e disciplina) e estilos de negociação, atendendo à forma como
o sistema oscila entre a estabilidade e mudança.
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Os cinco níveis da flexibilidade variam entre rígido/inflexível (extremamente baixo), um
tanto flexível (baixo a moderado), flexível (moderado), muito flexível (moderado a elevado), e
caótico/excessivamente flexível (elevado). Aqui é hipotetizado que níveis centrais ou
equilibrados de flexibilidade (um tanto flexível, flexível e muito flexível) conduzem a um melhor
funcionamento familiar que dos extremos (rígido e caótico), sendo estes representativos de
famílias mais problemáticas ao longo do seu ciclo vital.
Basicamente, a flexibilidade focaliza-se na mudança operada no âmbito da liderança, papéis
e regras, numa família. As aplicações prévias da teoria sistémica da família enfatizavam a
rigidez da família e a sua tendência para manter o seu status quo. Subsequentemente, foi
percepcionada a importância do potencial para a mudança e a flexibilidade dos sistemas (Olson
& Olson, 2000). As famílias e os casais precisam de ambas - estabilidade e mudança -, pois a
capacidade de mudar, quando apropriada, é uma das características que distingue famílias
funcionais de famílias disfuncionais.
Os sistemas familiares flexivelmente equilibrados são capazes de gerir ambas: a estabilidade
e a mudança. Uma relação um tanto flexível tende a ter uma liderança com características
democráticas, incluindo as crianças em algumas negociações. Os papéis estão estáveis, com
alguma partilha de papéis, e as regras são firmemente implantadas, com poucas mudanças. Uma
relação flexível é caracterizada por uma liderança igualitária, com uma abordagem democrática
nas tomadas de decisão. As negociações são abertas, incluindo activamente os filhos. Os papéis
são partilhados e há uma mudança fluida quando é necessário. As regras podem ser alteradas e
são apropriadas à idade. Uma relação muito flexível tem uma tendência para a mudança
frequente na liderança e regras. Estas últimas são muito flexíveis e ajustadas prontamente
quando há uma necessidade para a mudança. Famílias desequilibradas tendem a estar em
extremos de muita estabilidade (rigidez) ou de muita mudança (caótica). Numa relação rígida
um indivíduo é responsável e é altamente controlador; as negociações são limitadas, sendo a
maior parte das decisões impostas pelo líder. Os papéis são estritamente definidos e as regras
são inalteráveis. Uma relação caótica tem uma liderança errática ou limitada, e as decisões são
tomadas impulsivamente e não devidamente reflectidas. Os papéis são pouco nítidos e
frequentemente deslocam-se de indivíduo para indivíduo.
Em suma, tal como acontece com os níveis de coesão, os níveis de flexibilidade
extremamente elevados (caótico) e extremamente baixos (rígido) tendem a ser problemáticos
para os indivíduos e para o desenvolvimento de relacionamentos a longo termo. Por outro lado,
relacionamentos com níveis moderados (estruturado e flexível) são capazes de oscilar entre
mudança e estabilidade de forma mais funcional.
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A Comunicação é a terceira dimensão no Modelo Circumplexo, e apela às competências
comunicacionais positivas, utilizadas no casal ou sistema familiar. A dimensão facilitadora é
considerada crítica no auxílio às famílias a alterar os níveis de coesão e flexibilidade. O uso de
qualidades comunicacionais positivas permite às famílias alterarem os seus níveis de coesão e
flexibilidade, de modo a responder às exigências desenvolvimentais ou situacionais.
A comunicação familiar (focada na família enquanto grupo), é medida atendendo às suas
capacidades de escrita, fala, auto divulgação (partilhar sentimentos sobre si e relação com
outros), transparência, continuidade do discurso (manter-se num tema/tópico), respeito e
consideração (aspectos afectivos da comunicação). As habilidades de escuta incluem empatia e
escuta atenta e as habilidades ao nível do discurso/fala contemplam falar por si próprio e não em
nome dos outros e pelos outros.
Diversos estudos, investigando as habilidades de comunicação e resolução de problemas nas
famílias, mostraram que sistemas equilibrados ao nível da coesão e flexibilidade tendem a ter
uma boa comunicação entre si, enquanto sistemas desequilibrados nesta dimensão tendem a ter
uma pobre comunicação.
A satisfação, por seu lado, é definida como o grau de felicidade sentido pelos membros da
família, e preenchidos uns com os outros. A definição operacional inclui três dimensões
relacionadas ao Modelo Circumplexo coesão, flexibilidade e comunicação. Por isso, os itens na
escala de satisfação vão medir esta dimensão nas restantes três.
A hipótese base do Modelo Circumplexo é de que as famílias equilibradas estarão mais
satisfeitas com o seu sistema do que as famílias desequilibradas. Consequentemente, as famílias
com níveis elevados de satisfação familiar terão uma comunicação familiar significativamente
melhor do que as famílias com níveis baixos de satisfação.
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Capítulo II – Família com elemento toxicodependente
1. Toxicidade
O termo “droga” é bastante vago e equívoco, levando a que se confundam expressões como
“uso”, “abuso” e “dependência” (Carvalho, 1989). Fernandes (1998) define droga como um
conjunto de substâncias químicas que são introduzidas voluntariamente no organismo, com a
finalidade de modificar as condições psíquicas provocadas por uma situação de dependência.
O “uso de drogas” refere-se ao consumo, quase nunca continuado, de determinada droga. O
indivíduo consome-a esporadicamente quando quer e esta não lhe produz problemas de saúde
nem sociais (Carvalho, 1989).
No DSM-IV2 (American Psychological Association - APA), (1996, p.186) reconhece-se que
o “abuso de substâncias é um padrão desadaptativo de utilização da substância manifestado por
consequências adversas, recorrentes e significativas, relacionadas com a utilização repetida das
substâncias”. Ainda no DSM-IV (idem, 180) se refere que a dependência de “substâncias é um
conjunto de sintomas cognitivos, comportamentais e fisiológicos indicativos de que o sujeito
continua a utilizar a substância apesar dos problemas significativos relacionados com esta.”
De acordo com a definição da Organização Mundial de Saúde, de 1969, a
toxicodependência é “um estado psíquico e às vezes físico, resultante da interacção entre um
organismo vivo e uma substância que se caracteriza por modificações do comportamento e por
outras reacções que compreendem sempre um impulso para consumir de modo contínuo ou
periódico, a fim de obter os seus efeitos psíquicos e por vezes para evitar o mal-estar devido à
privação. Este pode ou não acompanhar-se de tolerância e um mesmo indivíduo pode estar
dependente de várias drogas” (cit.. in Fernandes, 1990, p.13).
Segundo Patrício (1997, 45), a dependência que pode ser, psicológica e/ou física, indica a
necessidade tão intensa de consumir uma substância que, se não for satisfeita, se traduzirá por
fortes perturbações físicas e ou/emocionais, em que está sempre presente uma perda de controlo
no consumo do produto, ou seja, o indivíduo tem a sensação de não poder passar sem a
substância.
Alguns estudos cit.ados por Carvalho (1989), mostram o impacto que a droga tem no
indivíduo e no meio que o rodeia, traduzindo que o consumo de droga se encontra positivamente
relacionado com o rendimento escolar do indivíduo e, igual correlação positiva entre o consumo
de drogas e o envolvimento do indivíduo em actividades delinquentes e anti-sociais.
2 DSM-IV – Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais, da Associação Psiquiátrica Americana (tradução portuguesa, da IV edição).
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1.1 Breve contextualização do fenómeno em Portugal
Segundo Fernandes (1990, 1998), o mercado da droga estabelece-se nos chamados
“territórios psicotrópicos”, locais já marcados por uma forte estigmatização social, na medida
em que albergam populações com graves carências, aos quais se deslocam diariamente, os
consumidores, à procura da sua dose (diária).
Segundo Fernandes (1990), em Portugal, os primeiros contactos com drogas ilegais
começam no final dos anos 60 e efectuam-se em ambientes restritos. Em 1971 começam a
aparecer os primeiros cartazes anti-droga: campanha “Droga-Loucura-Morte” (Fernandes,
1990).
Após a Revolução de 25 de Abril de 1974, e até ao fim da década de 70, dá-se o regresso
maciço dos ex-colonos a Portugal. Este foi um período de certa banalização do consumo de
drogas – haxixe e cannabis – pela facilidade com que entravam em Portugal. No entanto a nossa
sociedade não parecia dar conta desta vulgarização do consumo. A atenção parecia estar mais
virada para os acontecimentos políticos e para o problema relacionado com o acréscimo da mão-
-de-obra e dos desalojados.
A segunda campanha anti-droga, denominada “Flagelo da Liamba”, surge em 1976,
desajustada da extensão real do consumo de psicoactivos.
Face ao aumento real do consumo, o I Governo Institucional cria o Centro de Estudos e
Profilaxia da Droga (CEPD) e o Centro de Investigação e Controlo da Droga, sendo a questão
da droga equacionada em termos de doença e de delinquência.
Por volta dos anos 80 “desenvolve-se o mercado negro em torno da heroína” (Fernandes,
1990), mais lucrativo que as drogas anteriores e que fez inúmeros dependentes.
É, então, neste contexto político-social que surge o Decreto-Lei n.º 430/83 de 13 de
Dezembro, sob a influência da Convenção sobre as substâncias psicotrópicas, à qual Portugal
aderiu em 1979. Esta Convenção veio considerar a “desadequação de exercer direito de punir
sobre os utentes de psicotrópicos (…) sem que a mesma seja acompanhada de medidas
terapêuticas de cura pós-cura, de reinserção e readaptação social” (Poiares, 2000, p.13).
A população toxicodependente alterou-se: longe da imagem de “junkie”, trata-se agora de
indivíduos casados, com família, com domicílio, inseridos nas famílias de origem e com
ocupação profissional.
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2. Toxicidade e Família
Muitos têm sido os estudos que procuram analisar o papel da família na génese, manutenção
e tratamento do abuso de drogas. A maioria dos estudos mostra que as relações “positivas”
desencorajam o consumo de substâncias psicoactivas, enquanto a instabilidade familiar e o
divórcio podem promover esse mesmo consumo (Lawrence & Vellerman, 1974).
Já se aceitou a toxicodependência como um problema de desenvolvimento psicológico
iniciado na infância precoce, pelo que era indiscutível o papel desempenhado pelos factores
familiares, de tal forma, que Ganger e Shugart (1996) (in Fleming, 1996) se referiram à
toxicodependência como uma “doença familiogénica”. Num outro sentido, Rosenberg (1971,
cit.. in Fleming, 1996, p.66) diz-nos que “a dependência de droga não é só uma manifestação de
uma perturbação adolescente da personalidade mas é também sintomática de um problema
familiar mais vasto”.
Ainda nesta linha, considera-se que o consumo de droga poderá dar ao toxicodependente
uma imagem de ‘pseudo-individuação’ (Fleming, 1996), ou seja, dá-lhe a ilusão que se encontra
autonomizado e independente dos pais, mantendo-o, concomitantemente ligado, dependente e
fiel à família.
Weidman (1983) diz-nos que o consumidor de drogas é alguém que, desde a infância, nunca
se separou dos pais, mantendo uma relação simbiótica dependente, nunca tendo sido encorajada
a sua individuação na família.
Face ao exposto, a questão que norteia a investigação da família do toxicodependente, recai
na procura de elementos que a permitam diferenciar de outras famílias. Várias investigações têm
sido levadas a cabo, cada uma delas enfatizando determinado aspecto que se considera
diferenciador deste tipo de famílias (Fleming, 1996).
Pensou-se que um elemento diferenciador seria o nível socio-económico da família. Os
estudos preconizados evidenciam tendências divergentes e, por isso, pouco conclusivas. Em
França, Fréjaville, Davidson e Choquet (1977) mostram que a maior parte dos consumidores
regulares de droga pertencem ao extracto da população inactiva. Outros estudos (Pritchard,
Fielding, Choudry, & Cox, 1986) mostram a existência de correlações significativas entre a taxa
elevada de desemprego do pai e o consumo de drogas. Em Portugal estudos antigos,
preconizados por Amaral Dias (1980) e Fleming e Vaz (1981), evidenciam maior taxa de
consumo nos grupos socio-económicos mais elevados.
Outro elemento diferenciador considerado diz respeito à distorção do anel familiar, ou seja,
ao impacto da morte e da separação de membros da família. Estudos mostram (e.g. Amaral
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Dias, 1980) que a perda de um ou mais elementos da família (por morte ou separação) se
encontra frequentemente na história de vida de um consumidor. Fleming e Vaz (1981) e
Fleming e colaboradores (1988), demonstram que os adolescentes que revelaram maior contacto
com drogas ilícit.as eram aqueles cujos um ou ambos os pais estavam ausentes, por morte ou
separação. Rosch (1988) também encontrou nas famílias de toxicómanos uma taxa de
separação/divórcio superior à população em geral e, num outro achado, concorda com Angel
(1983), no respeitante ao número de pais e mães de toxicómanos que usam e abusam do álcool e
dos psicotropos, como sendo muito significativos: 15% dos pais abusam do álcool e 29% das
mães abusam de psicotropos.
A qualidade dos laços afectivos tem sido elemento considerado, já que a ausência destes
poderá desencadear um vácuo e isolamento entre os elementos da família (Fleming, 1996).
Relativamente à coesão familiar, vários autores defendem ser fraca e os membros pouco
valorizados e reconhecidos (Cannon, 1976). Vários estudos mostram que os indivíduos
utilizadores de marijuana possuem uma percepção de menor envolvimento afectivo com os seus
pais, do que os não utilizadores (Brook et al., 1981). Por sua vez, Graeven e Shaefer (1978)
mostram que os utilizadores de heroína relatam menos intimidade com os seus pais e mais lutas
entre eles.
Na revisão feita por Jurich e colaboradores (1985), que contemplaram famílias de
consumidores, os autores denotam uma falta de proximidade afectiva e de “mútua rejeição”,
esta última acentuada pela falta de competência parental no exercício dos seus papéis, por
imaturidade ou incapacidade de se adaptar a situações novas. A investigação e a teoria da
vinculação sugerem que os modelos internos da vinculação, do controlo percebido e das
orientações autónomas podem exacerbar ou proteger as reacções dos indivíduos face a
acontecimentos potencialmente ansiógenos.
Estes factores protectores poderão ser considerados como resilientes. Cichetti e Garmezy
(1993) sublinham que o grau de resiliência de um indivíduo é considerado uma função de
factores e processos protectores internos e externos. Neste âmbito, o estudo da vinculação nos
comportamentos aditivos envolve uma atenção sobre os factores que poderão, de alguma forma,
proteger o indivíduo do risco da toxicodependência. Sob o ponto de vista dinâmico, os
consumos aditivos visam proteger o indivíduo contra ameaças do mundo externo, contra a
instabilidade e a desorganização da vida emocional (Ribeiro, 1998), já que pode ser visto como
uma tentativa de reforçar as suas defesas contra as vivências da fragilidade do self.
Como tal, a necessidade de estabelecer vínculos afectivos no seio da família é a primeira
relação onde tudo ganha sentido. Assim, Soares (1992) considera que pais disponíveis e
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carinhosos contribuíam para a formação de um padrão seguro, sendo esta necessidade intrínseca
o motor do desenvolvimento da identidade e do auto-conhecimento da criança. Também
Guedeney e Guedeney (2004) realçam a importância da transmissão intergeracional dos
vínculos entre pais e filhos, e questionam a necessidade de se inovar na clínica da primeira
infância.
Já Bowlby (1998) argumentava, na sua teoria, que os padrões de vinculação se transmitem
mais ou menos fielmente de geração em geração, uma vez que as crianças tendem
involuntariamente a identificar-se com os pais e, portanto, quando se tornam pais adoptam os
padrões que tiveram experiência na infância. A formação de estilos e aptidões parentais
concretas devia desempenhar um papel crucial no desenvolvimento de factores de protecção
contra a toxicodependência, mesmo na primeira infância (Burkhart, 2000).
A qualidade de vinculação é um factor importante na vida do toxicodependente, uma vez
que o desapego afectivo do indivíduo, face às infrutíferas tentativas de ‘reconciliação afectiva’
com a figura significativa, acaba por ser extensível a todos os objectos do meio, junto dos quais
o indivíduo poderia encontrar uma relação satisfatória. No entanto, a sua extrema sensibilidade
relativamente a todo o sistema de conflito ambivalente leva-o a procurar pessoas ou actividades
às quais possa aderir, sem que estabeleça, contudo, uma ligação afectiva verdadeira (Farate,
2000).
Duncan Stanton e colaboradores (1982) concluem, numa revisão da literatura, que a maior
parte dos trabalhos sobre a toxicomania masculina refere a existência de famílias em que a mãe
está envolvida com o jovem numa relação hiperprotectora, permissiva e aglutinada, enquanto o
pai estaria ausente, seria fraco e não envolvido na relação com o filho. Bravo e colaboradores
(1982, p.167-182) concordam com esta caracterização: “Geralmente o progenitor super-
envolvido e indulgente é do sexo oposto ao do toxicómano e verificam-se frequentemente
situações de incesto manifesto”. Se nos anos 70 os pais tinham estes papéis e implicações na
dinâmica familiar, de há uns 20 anos para cá, segundo a teoria dos sistemas familiares, cada
membro afecta e é afectado pelos outros, assumindo a noção de causalidade uma dimensão
circular (Angel & Angel, 2005).
Os resultados destas investigações sugerem um denominador comum, que é a existência de
fracos laços entre o sistema parental e os filhos consumidores. Inúmeros estudos mostraram a
influência de variáveis ligadas ao meio familiar no consumo de drogas na adolescência, sendo a
confiança nos pais (correlação negativa) e o progresso na escola (correlação negativa) os
factores altamente correlacionados com o uso de drogas. A vinculação aos pais ou as relações de
confiança no seio da família surgem como factores dissuasivos do consumo de drogas,
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29
demonstrando que a estabilidade e bom ambiente familiar, o diálogo entre pais e filhos, são
alguns factores de protecção eficazes relativamente ao consumo de drogas (Angel & Angel,
2005).
Stanton e Todd (1982), por outro lado, consideram que a dependência à droga pode
funcionar como um mecanismo estabilizador quando a homeostasia familiar se encontra em
ruptura. Outros estudos têm vindo a confirmar esta suposição (Reilly, 1975; Weidman, 1983;
Leyine, 1985) partindo da hipótese de que a função da toxicodependência é proteger o laço
marital, pois os conflitos do casal são evitados, quando a atenção se centra no comportamento
“incompetente” e “doente” do filho toxicodependente.
Os conflitos familiares são entendidos na relação entre os pais, pela autoridade; em termos
intergeracionais dos pais com os seus próprios pais, sendo que o motivo é o filho, ponto onde se
vão fixar e desenvolver os conflitos (Angel & Angel, 2005). Segundo os autores, estes pais
manifestam uma enorme incapacidade de se posicionarem como pais e o filho é
instrumentalizado nestas situações. Na origem de tudo isto são encontradas, muitas vezes,
carências afectivas sofridas pelos pais, daí surgir a sua vulnerabilidade e necessidade de
protecção, que vai aumentar a tendência conflitual. Assim, torna-se impossível a autonomização
do filho adolescente, pois este tornou-se um instrumento necessário aos pais para exprimir a sua
posição na estrutura familiar. O jovem pode, desta forma, procurar os consumos de droga como
uma solução para o seu sofrimento, aquele consumo, por sua vez vai transformar-se no motivo
do conflito e vai permitir ao jovem fazer-se reconhecer como uma pessoa. Esta situação ainda
pode funcionar como auxílio à não fragmentação da família, uma vez que esta se junta para lutar
em torno do problema do toxicómano.
Outro aspecto, ainda, diz respeito ao padrão de comunicação utilizado no seio da família.
Algumas investigações têm vindo a mostrar que as falhas na capacidade de comunicação entre
os membros se afiguram um aspecto disfuncional. Os adolescentes consumidores sentem que os
pais bloqueiam a comunicação e os pais negam esta falha para evitar ouvir coisas negativas ou
desagradáveis (Jurich, Polson, Jurich & Bates, 1985).
Stanton e Todd (1982) constatam que as famílias dos consumidores de heroína apresentam
papéis familiares rígidos e estereotipados, bem como padrões de comunicação mais rígidos.
Kirschenbaum, Leonoff e Maliano (1974) descrevem os padrões de comunicação e interacção
característicos de famílias de toxicodependentes, dos quais constam grandes níveis de conflito,
como estilo autoritário dos pais, falta de intimidade, crítica frequente ao filho, isolamento
emocional, falta de prazer na relação. A depressão é também frequente, assim como a tensão, a
coligação dos pais contra o jovem e os conflitos sexuais na díade parental (Ferros, 2003).
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Relativamente a fenómenos de co-dependência3, estes manifestam-se mais frequentemente
em sistemas rígidos, sendo esta rigidez sinalizada por uma recusa de autonomização do jovem
de sair do estado de adolescente e procurar ligações exogâmicas. Qualquer processo de
individuação é sentido como ameaçador da homeostasia familiar. Nas famílias mais flexíveis, o
processo terapêutico efectua-se em torno de conflitos de adolescência, insucessos escolares,
estados depressivos, que revelam sofrimento familiar. São flutuantes, modificam-se e
rearranjam-se as coligações entre pais e filhos. Os sistemas familiares rígidos caracterizam-se
pelo não questionamento acerca do seu modo de funcionamento, pela fraca adesão à estratégia
terapêutica proposta, por famílias que se apresentam de forma enredada, sem distâncias
intergeracionais, e pelo comportamento adolescentes dos pais a rivalizar com os próprios filhos,
tentando colocar os terapeutas na posição de “avós” e procurando nestes ajuda nas tomadas de
decisão respeitantes aos filhos (Angel & Angel, 2005).
Nesta sequência, ainda, são considerados os estilos de educação preconizados no seio
familiar, como potenciadores ou inibidores de comportamentos de consumo. Jurich e
colaboradores (1985) mostram a disfuncionalidade de uma disciplina inconsistente, quer seja
por parca definição das regras, quer pela rigidez de limites de comportamento ou, ainda, pela
utilização de práticas educativas que privilegiam estilo de educação ‘autoritários’ ou ‘laissez
faire’. Os mesmos autores mostram, igualmente, a importância e o efeito de modelagem dos
pais para filhos: os pais fogem às situações de stress, refugiando-se no álcool ou drogas, doença
física ou mental, veiculando modelos de evitamento de responsabilidade para os seus filhos.
De uma forma geral, se os filhos transgridem as normas – através da violência, delinquência,
consumos de produtos ilícit.os – é porque não conseguiram interiorizar a lei parental, pelo facto
destas normas não funcionarem no círculo familiar, sendo constantemente desrespeitadas pelo
meio envolvente no seu registo social e familiar (Angel & Angel, 2005).
Um último aspecto tido em conta prende-se com a personalidade dos pais e estilo de relação
que é preconizado no seio da família. Alguns estudos referidos por Fleming, (2006), mostram
que os pais dos consumidores apresentam, na grande maioria, dificuldade em compreender os
afectos e sentem ter um casamento infeliz, onde a mãe se mostra ambivalente para com o seu
filho consumidor e o pai é, fundamentalmente, passivo. Nota-se, ainda, um envolvimento
excessivo entre a mãe e o filho, que poderá ter como objectivo compensar a relação pobre entre
o casal (Fleming, 1996).
3 “Aparente perseverança com que alguns familiares, normalmente cônjuges e companheiros(as), se dedicam aos parentes com problemas de dependência, alcoolismo, jogo patológico ou outro transtorno grave da personalidade.” http://virtualpsy.locaweb.com.br/index.php?art=392&sec=34 Psiqweb (01.06.2006)
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Por outro lado, o consumo de drogas nos jovens está directamente relacionado com o facto
de os pais consumirem ou não drogas e a frequência com que o fazem (Weiner, 1995).
A literatura demonstra que o beber excessivo por parte dos pais, e o vínculo familiar são
determinantes no consumo de álcool dos adolescentes (Kuntshe & Kuendig, 2006). O vínculo
familiar é definido como o sentimento de proximidade e intimidade de uns para com os outros
(filhos para com os pais) e reflecte-se na monitorização percebida, na comunicação, no
envolvimento e nas actividades realizadas em conjunto na família, que tem mostrado
repetidamente uma relação negativa com os consumos de álcool pelo adolescente (Bahr et al.,
1995; Vakalahi et al., 2001; Kuntshe & Kuendig, 2006). Há ainda uma expectativa em que os
adolescentes que percepcionem os seus pais como bebedores excessivos, bebam mais
frequentemente e se embebedem mais regularmente que os seus pares que não tenham essa
percepção (Smith et al., 1999; White et al., 2000; cit... in Kuntshe & Kuendig, 2006). Masten e
Powell (2003, cit.. in Kuntshe & Kuendig, 2006) referem o vínculo familiar como um indicador
de qualidade parental, aparentemente um mecanismo potencialmente poderoso no
desenvolvimento ou fortalecimento de recursos e competências adaptativas. Zhang, Welt,
Wiekzorek (1999) observaram que o consumo de álcool por parte dos adolescentes diminui com
o aumento do vínculo familiar, mesmo que a família demonstre níveis elevados de consumo de
álcool. No entanto, nenhuma relação foi encontrada em famílias com níveis baixos de
consumos. Os autores concluíram que um elevado nível de vinculação familiar contrabalança os
efeitos negativos do beber excessivo por parte dos pais.
Efectivamente, em alguns estudos (Gorsuch & Butler, 1976; Kandel, Kesseler, Margulies,
1978; Barret, 1990; Johnson, 1996; citados por Beman, 1995) é sugerido que em famílias onde o
uso de drogas é elevado e onde se verificam disfunções familiares, os indivíduos têm mais
probabilidade de se envolverem com esta substância.
Van der Vorst e colaboradores, (2006, in Chassin & Handley, 2006), num estudo
longitudinal afirmam não ter encontrado ligação parental como prospectiva e preditora de
hábitos de bebida ou como moderador do efeito do controlo parental no comportamento de
beber por parte do adolescente. Isto é surpreendente atendendo a que, teoricamente, a ligação
parental deveria aumentar o poder das mensagens de sociabilização parentais, pois as crianças
seguramente ligadas acreditam que os pais os conduzirão apropriadamente e são mais receptivas
ao controlo parental (Grusec & Goodnow, 1994; Grusec et al., 2000, in Chassin & Handley,
2006). Noutros estudos longitudinais, o suporte parental e coesão familiar servia como factor
atenuador dos efeitos de fumar e beber dos pais nos mesmos comportamentos nos filhos
(Doherty & Allen, 1994; Urberg et al., 2005, in Chassin and Handley, 2006). Andrews, Hops e
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Duncan (1997, in Chassin and Handley, 2006) verificaram que um relacionamento positivo com
os pais fortalecia o efeito do consumo de substâncias por parte dos pais e no consumo de
substâncias por parte dos adolescentes (com algumas combinações de idade e género). No
entanto, a ligação parental ou envolvimento aos pais pode reduzir a exposição ou o impacto do
uso de drogas pelos pares no consumo por parte do adolescente (Darling & Cumsille, 2003;
Marshal & Chassin, 2000, in Chassin e Handley, 2006). Portanto, quer a influência da ligação
dos pais sobre os consumos do adolescente seja positiva, quer seja negativa, dependerá do
próprio consumo dos pais, das suas mensagens de socialização, das influências dos pares e das
características individuais da criança. Patock-Peckham e Morgan-Lopez (2006, in Chassin e
Handley, 2006), demonstram que a influência da família continua a predizer o comportamento
de beber mesmo na passagem a adultos. Sugerem ainda que estes efeitos contínuos se devem,
em parte, às influências parentais no desenvolvimento da auto-regulação (impulsividade). É
uma ligação notória entre as influências familiares e o risco disposicional para o abuso de
substâncias.
Ainda comparado com o abuso do álcool, o abuso das drogas tende a ser mais fortemente
relacionado com o baixo controlo do comportamento (desinibição, McGue et al., 1999);
impulsividade e baixos valores de amabilidade (Chassin et al., 2004, cit. in, Chassin et al.,
2006). No entanto, o abuso de álcool, na ausência de abuso de drogas, tende a estar mais
fortemente relacionado com a emocionalidade negativa (McGue et al., 1999, in, Chassin et al.,
2006) e com o neuroticismo (Chassin et al., 2004, in, Chassin et al., 2006). Estes últimos
autores descobriram que a impulsividade servia de mediadora entre o alcoolismo parental e a
dependência de drogas, com ou sem dependência de álcool, mas sem ligação ao consumo de
álcool por parte dos pais à dependência de álcool por si só.
Relativamente às interacções familiares horizontais, inicialmente exploradas por Coleman
(1979, in Angel & Angel, 2005), é referida a importância do subsistema familiar constituído
pela fratria. Pesquisas clínicas demonstraram que os irmãos de cocainómanos e heroinómanos
são mais frequentemente alcoólicos ou toxicómanos do que os do grupo de controlo. Existe
ainda, neste subsistema familiar, uma forte prevalência de patologias psiquiátricas graves nos
irmãos de toxicómanos. Isto remete-nos para a noção de “contágio” familiar das perturbações
psicopatológicas, elegendo a fratria como alvo prioritário da prevenção primária (Angel &
Angel, 2005).
A este respeito, Tarter e Schneider (1976, in Lawson, 1992) identificaram catorze variáveis
que influenciam a iniciação, continuação e interrupção do consumo de drogas, entre as quais
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encontram algumas variáveis familiares, nomeadamente a quantidade/hábitos de consumo, a
atitude da família face às drogas e pais demasiadamente autoritários ou protectores.
Chabrol (1992) defende que alguns factores familiares podem estar na origem do consumo
de drogas: o uso de drogas pelos membros da família, atitudes dos pais face às drogas, a
existência de psicopatologias parentais, situações familiares, relações conjugais, relações
familiares, tipo de educação, e maus-tratos familiares.
Graham (1996) refere que nos últimos dez anos a pesquisa sobre factores preditivos do
abuso de drogas revelou que vários factores pessoais, sociais e ambientais podem prever o início
e a manutenção do uso de substância ilícit.as. O National Institute of Drug Abuse (NIDA, 2002)
apontou como factores de risco o ambiente familiar caótico, particularmente aqueles cujos pais
abusam de substâncias ou sofrem de doenças mentais; parentalidade ineficaz; falha na relação
pais-filhos; comportamento inadequado na escola (agressivo versus passivo); insucesso escolar;
fracas capacidades sociais; pares desviantes; percepção de aprovação do consumo de drogas na
família, no trabalho, na escola, nos pares e no ambiente comunitário. A importância do papel
dos pares no início e manutenção dos consumos de drogas está também documentada em
diversos estudos de investigação (Kandel & Andrews, 1987; Bailey & Hubbard, 1991; Aziz &
Shah, 1994; Adrados, 1995).
Num estudo de Frazão e colaboradores (2005) foram encontrados diversos factores
familiares preditivos do abuso de drogas como a existência de relacionamentos conflituosos
entre alguns membros da família (durante a infância/adolescência dos entrevistados),
principalmente entre os pais, irmãos, e entre pais e avós; a existência de violência verbal e física
entre o casal, em que por vezes o entrevistador era envolvido; bem como em situações de
divórcio/separação do casal. Segundo Ferros (2003), em famílias monoparentais ou de
recasamento, a mobilidade residencial aumenta e o esforço económico é superior, pelo que a
supervisão e suporte parental diminuem, potencializando-se a probabilidade de consumo
(Hoffman, 1985). A ausência física ou psicológica do pai e a falta de envolvimento dos pais na
vida dos filhos foram identificadas como geradoras de sentimentos de falta de protecção, de
atenção e controlo, bem como de desresponsabilização dos pais para com a educação dos filhos,
tendo servido o consumo de drogas para chamar a atenção dos pais. No estudo de Frazão e
colaboradores (2005, p.16), “As famílias, por um lado, caracterizavam-se por terem limites
difusos, variando entre a liberdade e rigidez excessiva, tendo dificuldade em definir limites e
regras; por outro lado, exercendo o seu papel com excesso de regras e rigidez”.
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Segundo Ferros (2003), alguns jovens de famílias com pais e irmãos consumidores são
testemunhas passivas desde a infância e descrevem os consumos como algo normal, tratando-se
de um comportamento modelado e associado a sentimentos de pertença.
Relativamente a eventos significativos, Ferros (2003) refere a mobilidade residencial como
prejudicial no estabelecimento e manutenção de laços sociais e comunitários, contribuindo para
o isolamento e marginalização social com risco de aproximação a pares marginais.
Murphy (1984, in Fleming, 1996) descreve dois tipos básicos de famílias disfuncionais onde
haveria probabilidade de ocorrência de comportamentos de consumo: (1) sistema familiar
dominante/submissivo (onde o controlo é assumido pelos pais, havendo crianças pouco
afectuosas, inibidas, com mínima proximidade, deixando-lhes pouco espaço para a sua
individualidade) e (2) sistema familiar conflitual crónico (onde os pais disputam abertamente o
poder, pelo que cada decisão torna-se inevitavelmente numa luta pelo controlo).
Em estudos desenvolvidos em famílias de toxicodependentes constata-se que estas se
relacionam através de um mecanismo que envolve pai, mãe e o filho toxicodependente, num
triângulo designado de “perverso”4 (Fleming, 1996). Ainda nesta linha de pensamento, Farate
(2000) considera que o gesto adictivo não é considerado uma manobra de rejeição interna do
afecto e de tudo aquilo que ele implica e é, por isso, um arranjo relacional perverso.
Pinheiro e colaboradores, (2006) encontraram grande percepção da existência de
mecanismos e triangulação entre três elementos da tríade familiar, indicando um grande risco de
disfuncionamento ao longo da proximidade emocional. Emaranhamento, fusão interoperacional
e triangulação são as três dimensões que numericamente contextualizam esta disfunção. Neste
seguimento foi encontrada uma disfunção familiar específica: as partições hierárquicas e de
poder não são claras, em que uma pode encontrar alianças intergeracionais que leva à formação
de fronteiras difusas, trazendo dificuldades no eixo emocional de proximidade-distância, mas
também no eixo da dominação-submissão, bem como nas dimensões da intimidação
interoperacional. Como postulado por Bowen (1978, cit. in Pinheiro et al, 2006) a relação
triangular entre pais e criança constitui uma unidade estrutural que contribui para a
determinação da autonomia individual. Separação e individuação pode ser arriscado e perigoso
para a homeostasia familiar, e ter um filho adicto à cocaína pode ser fundamental para a
4 Haley descreve “triângulo perverso” como “um disfuncionamento familiar específico (…) onde a hierarquia e a repartição do poder são confusas, conduzindo a inversões de posição relativamente às fronteiras intergeracionais” (Miermot, 1987, cit. in Fleming 1996, 76). Haley (1976, cit. in Fleming 1996) refere que as características deste triângulo são o facto das pessoas que nele interagem não serem todas da mesma geração, existindo transgressões na hierarquia estabelecida entre gerações. No processo de interacção, duas pessoas de gerações diferentes formam uma coligação (união de duas pessoas contra uma terceira), contra o seu próprio par ou cônjuge. Por fim, a coligação entre as duas pessoas é denegada desde que alguém procure revelá-la, ela está presente no plano de comunicação, mas índices metacomunicativos mascaram a sua importância e escondem a sua existência.
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manutenção (embora patológica) da coligação familiar (Friedman et al., 1987; Hoffman, 1981;
Mackensen e Cottone, 1992, & in Pinheiro et al., 2006).
Não são poucas as evidências que justificam o sublinhar das práticas parentais como
importantes na compreensão da etiologia do uso de substâncias aditivas na adolescência. Um
dos comportamentos parentais contra o uso de substâncias aditivas é o suporte (Needle, Glynn
& Needle, 1983; Simons & Robertson, 1989), que inclui o orgulho, encorajamento,
manifestação de afecto físico, acompanhamento, demonstração de aprovação, amor e aceitação
(Barnes, 1990).
Adlaf e Ivis (1996) mostram que as relações e interacções no seio da família têm um grande
impacto no uso de drogas, sendo os factores de risco familiar (i) os conflitos na família, (ii) uma
disciplina parental muito permissiva, severa ou inconsistente, (iii) uma fraca vinculação
parental, (iv) situações de violência conjugal ou familiar, (v) consumo de drogas pelos pais e/ou
irmãos e a presença nos pais de psicopatologia.
Para Clayton, um factor de risco é definido como um atributo individual, uma condição
substancial ou um ambiente ou contexto que incrementam a probabilidade do abuso de
substâncias psicoactivas. Um factor de protecção é aquele atributo individual, condição
situacional, ambiente ou contexto que reduz a probabilidade de tais circunstâncias (in Mejía
Motta, 1998). Para Kandel (1978) um dos principais factores protectores é o afecto e a
proximidade aos pais, especialmente à mãe, mais que o controlo da conduta e a adesão ao grupo
social convencional (in Mejía Motta, 1998).
Entre os predictores do abuso de drogas nos adolescentes encontram-se factores como o
grau de intimidade de relação com os pais (Brook et al., 1977, 1978), o volume da relação
(Gursuch & Butler, 1976) e a reacção ao controlo parental (Kandel et al., 1978) (in Motta,
1998).
Para Ledaer e Jackson (1992), a consistência, responsabilidade e segurança nas relações
familiares facilitam o desenvolvimento dos indivíduos sãos dentro do grupo, trazendo-lhes
estabilidade, previsibilidade nas reacções e consequências de diferentes comportamentos e
situações, sensações de entendimento e controlo do meio em que se vive e transparência nas
responsabilidades que cada um dos indivíduos desempenha na sua família (in Mejía Motta,
1998).
O estado de saúde física e psicológica do indivíduo encontra-se determinado, em grande
medida, pelas condições da realidade social que o rodeiam. Sendo a família o círculo social no
qual se dá maior número de relações de carácter afectivo e o principal contexto de
aprendizagem de um indivíduo, é possível afirmar que o comportamento deste depende, em
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grande medida, do bom funcionamento da situação familiar (Cusinato, 1992, in Mejía Motta,
1998).
Segundo Umbarger (1983), na família começa-se a construir uma série de significados que
vão ter influência sobre a maneira como o indivíduo interpreta a realidade. Ou seja, no consumo
de substâncias psicoactivas, a família pode ser o primeiro meio onde se geram formas de actuar
e entender a realidade, por isso, ao estudar a família, podem-se explicar muitos dos
comportamentos dos seus membros (in Mejía Motta, 1998).
Para Recio e colaboradores (1991), existe uma alta correlação entre o consumo de
substâncias psicoactivas e insatisfação nos jovens, face às relações familiares. A qualidade da
relação do adolescente com os seus pais é o factor protector mais eficaz contra o consumo de
drogas (in Motta, 1998).
De acordo com a Teoria Sistémica, “a família é considerada como o sistema relacional
primário no processo de individuação, crescimento e mudança do indivíduo, imerso no seio do
processo de individuação, crescimento e mudança de todo o sistema familiar” (Malagoli, 1983,
in Motta, 1998), processos esses que podem ser bloqueados.
A família organiza-se em torno dos consumos de uma forma em que a “cegueira familiar5”
mantém a homeostasia, não havendo grandes flutuações do sistema e não tendo este de se
deparar com algo que vem desequilibrar ou desorganizá-lo. A família usa o segredo tanto no seu
seio, como com o meio exterior, nomeadamente com o terapeuta, de forma a paralisar a história
familiar, ao mesmo tempo que impede a evolução da própria família (Alarcão, 2000).
Relativamente à evolução do consumo de drogas, Frazão e colaboradores (2005) referem
diversos factores com influência na manutenção e impulsionamento do comportamento adictivo.
Tais factores são um casamento precoce, não preparado e planeado, em que face ao seu
insucesso os consumos adquirem novas proporções. Da mesma forma que ao observar a
repetição do “modelo familiar” ao longo das gerações no que respeita à parentalidade e
conjugalidade, os padrões são recorrentes, certos autores explicam este mecanismo de
transmissão intergeracional por um processo e identificação. Segundo Faimberg, cit.ado por
Prieur (1999), esta identificação (que só se conheceu pela memória dos outros) é possível por
um processo denominado pelo autor de “visão telescópica geracional familiar”, exprimindo a
experiência de ver, quer de perto, quer de longe, o que pertenceu aos antepassados.
Os relacionamentos amorosos, vivência destes com uma componente de dependência
afectiva muito grande (possessividade, obsessão, compulsão para a morte se perde o
companheiro), relacionamentos que envolvem violência verbal e física, desilusões amorosas que
5 Este termo designa a incapacidade de um familiar de um toxicómano dar uma interpretação coerente às mudanças que ocorrem face a uma situação de dependência (Angel & Angel, 2005).
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levam os sujeitos a sentir insegurança e falta de confiança nos outros, bem como interrupções
voluntárias da gravidez e dependência de sexo (relacionamentos extraconjugais) foram factores
encontrados por Frazão e colaborares (2005) como potenciadores dos consumos.
No que remete à personalidade, Frazão e colaboradores (1995) encontraram factores como a
forma de lidar com o corpo e identidade sexual. Segal (1983), por sua vez, refere a importância
de construtos da personalidade que podem ser chamados rebeldia, procura de autonomia,
liberalismo, vontade de ter novas experiências e luta pela independência. Num estudo deste
autor, que pretendeu perceber quais as variáveis da personalidade que distinguiam jovens que
consomem dos que não consomem drogas, sendo preponderante nos jovens consumidores a
“procura de autonomia”, o “deixar-se ir”, “impulsividade, arriscar”, “não procurar e
aparentemente necessitar de aprovação social”, “não conformismo” e “tendência para a
extroversão”.
Para Duterte e colaboradores (2003) existem muitos grupos de jovens e subculturas que
idealizam o que vai contra a norma, principalmente se isso reflectir as suas percepções da sua
própria identidade.
Outro grupo de factores foi o que se relacionou com problemas associados à sexualidade
como a identidade sexual, iniciação da vida sexual, dificuldades em lidar com o próprio corpo,
violação sexual. Ainda relativamente à identidade, Frazão e colaboradores (2005) referem o
auto-conceito, a existência de uma baixa auto-estima, o sentimento de diferença, a insegurança,
a não-aceitação de si mesmo, a carência afectiva, o abandono, a solidão, a incompreensão, a
dificuldade de estabelecer amizades, como situações para as quais, os entrevistados afirmam ter
usando a droga como factor de integração.
Neste contexto, Duterte e colaboradores (2003) referem a associação entre o uso e abuso de
drogas e a depressão feita em inúmeros estudos, em que viver com uma visão fatalista da vida
poderá ter sido uma forma dos participantes, no seu estudo, darem significado e excit.ação às
suas vidas; de sentirem que se não causam impacte na vida, provavelmente poderão causar
impacte na morte.
Num estudo de Elkins e colaboradores (2006), as perturbações em criança envolvendo baixo
controlo comportamental, desordem de conduta, desordem oposicional desafiante, desordem de
hiperactividade ou défice de atenção, mostraram associações preditivas com um contexto
precoce de problemas com bebida (antes dos 15 anos; McGue et al., 2001, in Elkins et al. 2006),
níveis elevados de uso de substâncias na adolescência (Molina & Pelham, 2001, in Elkins et al.
2006), desenvolvimento de problemas com substâncias durante a adolescência (Boyle, et al.,
1992; Disney et al. 1999; King et al., 2004; in Elkins et al. 2006), bem como uso e abuso de
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38
substâncias em jovens adultos (Chassin et al., 1999, in Elkins et al. 2006). Indicadores da
personalidade de baixo controlo comportamental e impulsividade também mostraram predizer o
contexto do uso de substâncias e o seu crescimento e escalada para abuso patológico de
substâncias. Num estudo prospectivo, a procura de novidade com onze anos de idade, funcionou
como preditor para o abuso de álcool em jovens adultos (Cloninger et al.,1988, in Elkins et al.
2006).
Em síntese, podemos analisar alguns elementos da estrutura e do funcionamento da família
que integra um elemento toxicodependente e que nos permite ‘categorizar’ o setting familiar do
toxicodependente.
Em termos estruturais, encontramos fronteiras ou limites pouco claros entre os subsistemas
familiares, inversão da hierarquia familiar, ausência de ligação afectiva ou distante na díade pai-
-filho, existência de coligação entre um dos progenitores e o filho toxicodependente em
oposição ao outro progenitor (Fleming, 1996).
A nível de funcionamento, encontramos alcoolismo ou abuso de drogas nos pais, separação
precoce do meio familiar e incapacidade de resolução do luto, antecedentes psiquiátricos nos
pais, grandes conflitos intrafamiliares, problemas conjugais graves, padrões de comunicação
fracos ou ausentes, laços afectivos negativos, ausentes ou inexistentes (Fleming, 1996).
As famílias dos toxicodependentes não são necessariamente disfuncionais, são sistemas
complexos, apresentando dificuldades comunicacionais e não conseguindo descobrir os seus
próprios recursos para crescer (Relvas, 1998).
O tóxico tem assim um valor funcional para o sistema familiar, pois a droga faz
aparecer/desaparecer o que se quer mostrar ou esconder. A droga manifesta um valor
comunicacional que se pode descrever a nível semântico (o que é que o consumo significa para
cada um), a nível sintáctico (o que é ou não suportado pela família), e a nível pragmático
(implicações do comportamento adictivo) (Ausloos, 1981a). A função “sintomática” da
toxicodependência, nestas famílias, tem a ver com a separação/autonomização e a deslealdade
ao grupo que ela pode significar. O consumo do tóxico na adolescência contribui para o
evitamento (da família ou jovem) do cumprimento das tarefas desenvolvimentais desta fase e o
ciclo normativo não segue o caminho esperado (Relvas, 1998).
Apesar de conseguirmos encontrar alguns elementos de estrutura e funcionamento que
caracterizam a família com elementos toxicodependentes, devemos ter parcimónia na sua
categorização, já que muitos destes elementos são coincidentes com certas culturas existentes
(Gameiro, 1994).
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39
Capítulo III. FACES IV
A revisão bibliográfica efectuada a propósito desta problemática permitiu-nos apurar o
seguinte:
- Olson e Killorin (1984) encontraram diferenças significativas entre famílias dependentes e
famílias não dependentes, em que as primeiras tinham níveis mais elevados de famílias
extremas. Nos seus estudos, 21% de famílias dependentes eram de tipos extremos e 32% eram
equilibradas, enquanto apenas 4% das famílias não dependentes eram de tipos extremos e 65%
eram equilibradas.
- McGoldrick e Carter (1984) afirmam que em cada fase de vida, os membros da família
detêm papéis diferentes e complexos, logo, as transições para uma nova fase constituem-se
como desafios às definições feitas uns dos outros, o que implica uma nova circulação de
informação dentro da família, introduzindo diferenças na identidade de cada um, para que esta
se adapte.
- Barnes, Banerjee e Farrell (1995) mencionam o grau de coesão familiar como mediador
dos efeitos de uma situação de stress crónico no adolescente. Observaram que a evolução do
stress, mudanças de comportamento e consumo de álcool em adolescentes filhos de pais
alcoólicos, se apresentam mais frequentemente em famílias com baixa coesão e diminuem
quando a coesão aumenta.
- Bahr (1979) afirma que quanto maior for o apego à família menor é a probabilidade de
condutas desviantes.
- Westley e Epstein (1969) verificaram, num estudo com oitenta e oito famílias no Canadá,
usando o Modelo Circumplexo para medir a coesão e adaptabilidade, que a qualidade da
harmonia entre marido-mulher era crítica para a saúde emocional do adolescente; que crianças
com lares onde a mãe ou pai é “dominado” têm mais problemas emocionais e menos
forças/resistência a crises/problemas; e que famílias que encorajassem a autonomia, tinham
adolescentes significativamente mais saudáveis emocionalmente.
- Minuchin (1974) enfatizou a importância do contínuo entre desligado e enredado
(dimensão coesão) e da adaptação familiar. Indica que enquanto as famílias tendem para
subsistemas desligados ou enredados em momentos do ciclo vital familiar (como por exemplo
uma relação enredada entre a mãe e uma criança), os subsistemas deveriam mover-se em
direcção do desligamento à medida que a criança cresce. No entanto, os sistemas que continuam
a funcionar nos extremos desta dimensão apresentam-se frequentemente com problemas.
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40
- Matlack e colaboradores, (1994) usaram a escala FACES III num estudo, e a coesão
familiar foi definida por dois extremos. Alta coesão familiar parecia produzir uma super
identificação com a família resultando numa extrema integração. No outro extremo da escala
estava o desligamento, caracterizando a baixa integração. Um equilíbrio entre a estrutura e a
flexibilidade foi encontrado na origem de um óptimo funcionamento familiar, enquanto os
extremos de rigidez e caos determinaram um declínio no funcionamento familiar.
- Schill e colaboradores, (1991) concluíram que uma personalidade auto-derrotista estava
ligada ao ambiente familiar com falta de coesão.
1. FACES IV versão original
FACES IV é a versão a mais recente da avaliação de auto-diagnóstico desenhada para medir
a coesão e a flexibilidade da família, por David Olson e colegas (Olson, Gorall & Tiesel, 2006).
Esta versão é baseada nos estudos principais de Judy Tiesel e Dean Gorall que foram
projectados para melhorar a adequabilidade da avaliação e medir no global as dimensões do
modelo Circumplexo, capturando a relação curvilínea hipotética com o funcionamento da
família.
Foram realizados mais de mil e duzentos artigos e dissertações publicados, usando uma
versão FACES e o Modelo Circumplexo do Sistema Marital e Familiar (Kouneski, 2002, in
Olson & Gorall, 2006). O modelo estimulou também a discussão e o debate a respeito do
funcionamento familiar de forma geral, e os conceitos da coesão e da flexibilidade de forma
mais específica. A medição do modelo incluiu as escalas de auto-avaliação da Adaptabilidade e
Coesão familiares (FACES I, II e III) e a Escala Clínica Observacional de Avaliação (CRS)
(Olson, 2000, 1993; Olson, Russell, & Sprenkle, 1989; Olson, Sprenkle, & Russell, 1979;
Thomas & Olson, 1993, in Olson & Gorall, 2006) que são utilizadas para avaliar o modelo.
1.1 Modelo Circumplexo
No Modelo Circumplexo a coesão é definida como a ligação emocional que os membros da
família têm uns pelos outros. Indicadores específicos do nível de coesão, presentes num dado
sistema familiar, inclui ligações emocionais, limites, coligações, tempo, espaço, amigos, tomada
de decisão, interesses e recreação. A flexibilidade revista é definida segundo Olson e Gorall
(2006) como “a qualidade e expressão da liderança e organização, relacionamento de papéis,
regras e negociações.” Os indicadores específicos do nível de flexibilidade presentes no sistema
familiar incluem liderança (controlo e disciplina), estilos negociais, relacionamento de regras e
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papéis. Esta definição conceptual de flexibilidade é revista para reflectir mais correctamente o
que está a ser (e foi no passado) medido pelas escalas da flexibilidade em ambas – FACES IV e
Clinical Rating Scale (CRS). A terceira dimensão do Modelo Circumplexo, a comunicação, é
definida como competências comunicacionais positivas utilizadas no sistema de casal e familiar.
É uma dimensão facilitadora e é através do uso de competências de comunicação de forma
positiva que os casais e as famílias alteram os seus níveis de coesão e flexibilidade.
A hipótese central do modelo é que cada uma das dimensões, coesão e flexibilidade, tem
uma relação curvilínea com o funcionamento familiar (os valores extremos em cada dimensão
estão associados a funcionamentos familiares problemáticos, enquanto os níveis moderados
estão relacionados com o funcionamento familiar saudável), enquanto a dimensão comunicação
tem uma relação positiva linear com o funcionamento familiar (quanto maior for a comunicação
familiar melhor o funcionamento da mesma, e vice-versa).
Com base em críticas feitas ao modelo ao longo dos anos, foram feitas alterações nas
definições conceptuais e operacionais das dimensões coesão e flexibilidade, bem como no
instrumento de auto-diagnóstico FACES.
1.2 Análise Factorial da Escala FACES IV
A estrutura factorial hipotética para os itens que suportariam a estrutura proposta pelo
Modelo Circumplexo é composta por quatro factores. Nesta estrutura factorial, os valores da
dimensão coesão elevados e baixos iriam estar em pólos opostos de cada factor, a coesão
equilibrada seria representada por um segundo factor, flexibilidade com valores elevados e
baixos constantes em pólos opostos faria parte do terceiro factor, e a flexibilidade equilibrada
seria representada por um último e quarto factor. Os resultados da análise factorial de
probabilidade máxima com rotação oblíqua, incluindo todos os itens designados para abranger
os alcances globais das dimensões coesão e flexibilidade, estão contidos na Tabela 1.
A rotação oblíqua foi escolhida devido a resultados prévios, demonstrando correlações entre
escalas designadas para abranger regiões específicas das dimensões coesão e flexibilidade
(Craddock, 2001; Franklin, Streeter, & Springer; 2001; Tiesel, 1994, in Olson & Gorall, 2006).
A matriz padrão da rotação oblíqua foi analisada em todas as análises factoriais, conforme
sugerido por Klein (1994, in Olson & Gorall, 2006) de modo a alcançar factores cujas
correlações entre os mesmos estão presentes.
Na análise factorial existiam originalmente oitenta e quatro itens. Foram revelados sete
factores com valores superiores a 1, no teste utilizado para números dos factores a manter-se.
Uma análise do scree plot para a análise factorial mostrou desnivelamento após cinco factores,
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42
ficando o número de factores limitado a cinco. Os itens com valores abaixo de .30 e os que
cruzam foram removidos. O número de itens foi limitado a sete e este foi o número máximo
aceitável de itens para a escala emaranhada e foi desejado que tivesse um número uniforme de
itens para cada escala. Os itens de valores mais baixos remanescentes foram então removidos,
de modo a formar escalas uniformes de sete itens.
Tabela 1: Análise factorial de todos os itens da FACES IV (adaptado de Olson, Gorall e Tiesel, 2006,p.10)
Como podemos observar na Tabela 1, as percentagens de variância cotadas para cada um
dos cinco factores, foram as seguintes: factor 1 – 27%; factor 2 – 11%, factor 3 – 7%, factor 4 –
4%, e factor 5 – 4%. A distribuição de frequência para cada item foi examinada de modo a
assegurar a variabilidade apropriada em resposta a cada item, devido ao “fraseio” extremo de
Item Factor I Coesão/ Desligado
Factor II Rígido
Factor III Caótico
Factor IV Flexibilidade
Factor V Emaranhado
Coesão 1 -.84 Coesão 2 -.77 Coesão 3 -.73 Desligado 1 .72 Coesão 4 -.72 Desligado 2 .67 Desligado 3 .64 Coesão 5 -.63 Coesão 6 -.61 Desligado 4 .60 Desligado 5 .55 Coesão 7 -.53 Desligado 6 .52 Desligado 7 .47 Rígido 1 .83 Rígido 2 .74 Rígido 3 .63 Rígido 4 .63 Rígido 5 .58 Rígido 6 .54 Rígido 7 .51 Caótico 1 .69 Caótico 2 .69 Caótico 3 .68 Caótico 4 .67 Caótico 5 .63 Caótico 6 .59 Caótico 7 .43 Flexibilidade 1 .65 Flexibilidade 2 .63 Flexibilidade 3 .62 Flexibilidade 4 .53 Flexibilidade 5 .51 Flexibilidade 6 .49 Flexibilidade 7 .48 Emaranhado 1 .68 Emaranhado 2 -.58 Emaranhado 3 -.56 Emaranhado 4 -.54 Emaranhado 5 .52 Emaranhado 6 -.50 Emaranhado 7 -.50
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diversos itens. Nenhum item teve mais de 80% de índice de resposta para uma resposta de uma
só opção.
As escalas desenvolvidas para formar o instrumento FACES IV corresponderam
directamente a quatro destes cinco factores. A excepção foi o factor 1, que contém itens que
abrangem coesão elevada e muito baixa, tendo este sido dividido em duas escalas baseadas nos
itens positivos e negativos deste factor. As escalas foram rotuladas segundo os aspectos da
coesão e flexibilidade que foram concebidas para abranger. As escalas emaranhada, coesão e
desligada foram desenhadas para abranger níveis de coesão elevados, moderados e baixos,
respectivamente; as escalas caótica, flexível e rígida foram desenhadas para abranger valores de
flexibilidade elevada, moderada e baixa, respectivamente.
1.3 Fidelidade das Escalas
Uma análise da fiabilidade do Alpha de Cronbach foi conduzida para examinar a
consistência interna das seis escalas. A análise da fiabilidade do Alpha para a validação das
escalas é incluída com finalidades comparativas. A fiabilidade das seis escalas da FACES IV é
como segue: desligado =.87, emaranhado = .77, =.83 rígido, = .85 caótico, coesão equilibrada =
.89, flexibilidade equilibrada = .80. Assim a fiabilidade é aceitável para finalidades de pesquisa,
e talvez para a aplicação a indivíduos com outros pontos da informação disponíveis. A análise
de fiabilidade do Alpha de Cronbach também foi utilizada para as escalas de validação variando
entre .91 e .93.
Tabela 2: Fidelidade de Alpha na FACES IV e Escalas de Validação (adaptado de Olson, Gorall & Tiesel, 2006,
p.13)
Escala Alpha de Cronbach
Escalas da FACES IV --
Desiquilibradas --
Desligada .87
Emaranhada .77
Rígida .83
Caótica .85
Equilibradas --
Coesão equilibrada .89
Flexibilidade equilibrada .80
Escalas Validadas --
Satisfação Familiar 93
SFI .93
FAD .91
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1.4 Correlação entre as Escalas da FACES IV e as Escalas de validação
A maioria das correlações entre as escalas e com escalas de validação são significativas (ver
tabela 2). Entretanto, há determinados pares de relacionamentos de escalas que são excluídos
devido às suas correlações particularmente grandes ou pequenas. Os relacionamentos
hallmarked, pelas suas correlações abrangentes, incluem aqueles que se situam entre as escalas
da FACES IV da coesão/desligada (-.80), da coesão/flexibilidade (.60), do caos/desligadas (.59),
do caos/coesão (- .53), e desligadas/flexibilidade (.50). Os relacionamentos hallmarked, pelas
suas correlações baixas ou próximas de zero, são emaranhadas/desligadas (.26),
enredadas/coesão (- .14), flexibilidade/rígido (- .11), e caos/rígido (.12).
Tabela 3: Matriz de correlação das escalas familiares (adaptado de Olson, Gorall & Tiesel, 2006,p.14)
Escala I. II. III. IV. V. VI. IX. X. XI.
I. Desligada 1
II. Coesão -.80** 1
III. Emaranhada .26** -.14** 1
IV. Rígida .28** -.14** .38** 1
V. Flaxibilidade -.50** .60** .02 -.16** 1
VI. Caos .59** -.53** .36** .19** -.30** 1
IX. SFI -.81** .88** -.16** -.12** .68** -.62** 1
X. FAD (1) -.82** .85** -.27** -.20** .63** -.63** .90** 1
XI. Satisfação familiar -.73** .80** -.17** -.12** .66** -.58** .86** .84** 1
** Correlação significativa quando p < .01 (1) a pontuação do FAD foi revertida para simplificar interpretação, valores mais altos indicam melhor funcionamento.
Encontraram-se correlações relativamente elevadas entre as escalas da FACES IV e as
escalas da validação de SFI – Familiar Satisfaction Inventory, FAD – Family Assessment
Device e de Satisfação familiar à excepção das escalas rígidas e emaranhadas, que tiveram
correlações relativamente baixas com todas as escalas restantes (ver a tabela 3). A tendência
geral entre as escalas da FACES IV e as escalas da validação, é que as primeiras, projectadas
para medir as regiões moderadas ou saudáveis da coesão e da flexibilidade (coesão equilibrada e
flexibilidade equilibrada), tiveram grandes correlações positivas com as escalas de validação
(entre .63 e .88), quando as escalas da FACES projectadas para medir os extremos elevados e
baixos do funcionamento familiar (emaranhado, desligados, caos, rígidos) tiveram grandes
correlações negativas com as escalas de validação (entre -.58 e -.82, excluindo emaranhado e
rígido).
A pontuação da escala FAD foi invertida para facilitar a interpretação, para que os valores
mais elevados sejam interpretados como menos problemáticos, ou seja, o oposto das
interpretações mais usuais das escalas.
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45
Tabela 4: Análise Discriminativa das famílias problemáticas e não problemáticas (adaptado de Olson, Gorall &
Tiesel, 2006, p.15)
Escala Topo vs Fundo 50% em SFI e FAD
Topo vs Fundo 40% em SFI e FAD
Topo vs Fundo 50% na Satisfação familiar
Topo vs Fundo 40% na Satisfação familiar
N para cada grupo Topo = 199 Fundo = 192 Removidos = 76
Topo = 142 Fundo = 149 Removidos =178
Topo = 231 Fundo = 228 Removidos = 10
Topo = 211 Fundo = 177 Removidos = 81
Escalas desiquilibradas - - - - Desligada 86 89 76 82 Caótica 80 85 60 77 Emaranhada 64 65 53 61 Rígida 54 55 51 52
Escalas Equilibradas - - - - Coesão 89 94 80 87 Flexibilidade 74 80 72 76
Seis escalas juntas 94 99 84 87 Valores das dimensões - - - -
Rácio Coesão 87 91 75 79 Rácio Flexibilidade 78 86 75 77 Rácio Total 85 91 80 83
Escalas de Validação - - - - SFI # # 82 86 FAD # # 82 87 Satisfação Familiar 88 93 # #
# Não reportado pois os grupos para a análise discriminativa são baseados nas mês escalas.
1.5 Análise discriminativa
Para determinar a habilidade das escalas da FACES IV de discriminar entre sistemas
familiar sem famílias problemáticas e não problemáticas, foi realizada uma análise
discriminativa para as escalas e validação da FACES IV (ver tabela 4). Os resultados são
indicados para cada uma das seis escalas introduzidas como discriminados individualmente,
independentes dos grupos de famílias problemáticas/não problemáticas, bem como para uma
análise onde as seis escalas são introduzidas juntas como variável independente.
Uma vez que este estudo não teve quaisquer grupos clínicos/não-clínicos ou
problemáticos/saudáveis pré-determinados, a amostra foi dividida em grupos problemáticos/não
problemáticos baseados em diversos critérios. Os agrupamentos para a análise discriminativa
foram baseados nas cotações dos sujeitos em instrumentos familiares previamente estabelecidos
como medidas válidas do funcionamento familiar. Se os indivíduos marcassem acima de 50%
no SFI e abaixo de 50% no FAD (onde as pontuações baixas são indicativas de uma maior
saúde) seriam atribuídos ao grupo das famílias não problemáticas. Se fosse ao contrário seriam
atribuídos ao grupo das famílias problemáticas. Os resultados para a análise discriminativa
baseada neste método de agrupamento estão listados na coluna 1 na tabela 4. Os grupos
problemáticos/não problemáticos foram criados também com base nos respondentes com
valores acima (os mais saudáveis) versus abaixo (mais problemáticos) 40% no SFI e no FAD
(coluna 2, tabela 4). Os grupos similares problemáticos/não problemáticos foram criados usando
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46
o elevado contra o baixo em intervalos de 50 e 40%, baseados nas pontuações individuais no
Inventário de Satisfação Familiar (SFI) (colunas 3-4 na tabela 4). O método de agrupamento
problemático/não problemático resultou na grande habilidade das escalas em discriminar
pontuações elevadas contra baixas de 40% em escalas de validação do método do FAD e do
SFI. A escala de colocação correcta foi de 55% a 94%, com média para as escalas das FACES
IV de 78%. Estes resultados devem ser interpretados com cuidado, dado a natureza restritiva dos
agrupamentos problemáticos/não problemáticos.
1.6 Seis tipos familiares baseados na FACESIV
De forma a determinar se há padrões a ocorrer naturalmente na descrição dos sistemas
familiares ao longo das seis escalas da FACES IV, foi feita uma análise Cluster. Foi realizada a
análise de Cluster médias de K (Pereira, 2006) relevante para amostras inferiores a 200. Uma
limitação da análise de Cluster tem a ver com o facto de existirem apenas guias de orientação
gerais relativamente ao número de clusters a obter de qualquer análise. O número final de
clusters é definido manualmente, estando sob o controlo do investigador. A análise de cluster
foi conduzida usando pontuações percentuais para cada uma das seis escalas para cobrir
assuntos diferindo entre si de variabilidade e curtose das subescalas (ver figura 1). Após
diversas análises usando múltiplos critérios, um grupo de clusters com seis subescalas foi
finalmente escolhido. O número escolhido foi baseado no facto de que havia ainda um
suficiente número de casos presentes para cada cluster, de modo a serem significativos.
Também quando o número de clusters foi aumentado para sete, o cluster adicional foi um
cluster sombra com valores virtualmente idênticos a um cluster previamente existente.
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47
Figura 1: Perfil da FACES IV: seis tipos familiares (adaptado Olson & Gorall, 2006,p.7)
1.6.1 Descrição dos seis tipos de família
Olson e Gorall (2006) providenciam uma nova tipologia de famílias para o estudo e análise
das relações familiares, sistematizada no instrumento FACES IV, e no Modelo Circumplexo,
em que identificam seis tipos de famílias.
Os seis tipos e família variam do mais saudável e feliz para o mais problemático e não
saudável: equilibrada, rigidamente coesa, mediana, flexibilidade desequilibrada, caoticamente
desligada e desequilibrada (ver figura 1). O desenvolvimento dos seis tipos de famílias baseados
nas pontuações das escalas providencia uma nova tipologia familiar para o estudo e análise das
relações familiares. A versão anterior do modelo Circumplexo permite uma análise das famílias
que podem ser categorizadas como equilibradas, desiquilibradas e medianas. Esta nova tipologia
irá permitir uma comparação dos seis tipos de família, atendendo a uma grande variedade de
critérios e variáveis. Famílias individuais podem ser comparadas com estes seis tipos familiares
e a análise pode ser feita relacionada com outras características destes seis tipos familiares.
- Equilibradas, caracterizadas por um elevado funcionamento saudável e baixo nível de
funcionamento problemático. Hipoteticamente, estas famílias lidam bem com os elementos
stressores do dia-a-dia e com as mudanças relacionais na família ao longo do tempo.
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- Rigidamente equilibradas, com níveis elevados de aproximação emocional e rigidez.
Hipoteticamente, estas famílias funcionam bem a maioria das vezes, dado o seu nível de
proximidade; no entanto, podem ter dificuldades em realizar as mudanças requeridas pela
situação ou mudanças ao nível do desenvolvimento, devido à sua levada rigidez.
- Médias, por hipótese, estas famílias funcionariam bem, não apresentando níveis extremos
de factores de força e protecção, nem de factores de risco.
- Flexivelmente desequilibradas, famílias, à partida, a indicar um funcionamento
problemático; no entanto, como demonstram níveis elevados de flexibilidade, teriam as
competências para alterar alguns níveis problemáticos quando necessário. Este é o tipo de
famílias considerado pelos autores como sendo o mais difícil de caracterizar.
- Caoticamente desligadas, têm por hipótese corresponder a famílias problemáticas baseado
numa falha de proximidade emocional e níveis baixos de flexibilidade, o que demonstra uma
grande dificuldade em promover mudanças.
- Desequilibradas, são o espelho exacto das famílias equilibradas (oposto), caracterizadas
por pontuações elevadas nas quatro escalas desequilibradas e baixas pontuações nas duas
escalas equilibradas. São hipotetisadas como sendo as famílias mais problemáticas em
termos gerais de funcionamento, com grandes lacunas nos factores força e protecção. São as
mais prováveis de encontrar em terapia.
1.6.2 Nível de funcionamento dos seis tipos familiares
Numa tentativa de avaliar a validade dos tipos familiares desenvolvidos através da análise
de cluster, foi realizada uma análise de variância com análise tendência linear. A análise
examinou as pontuações tendenciais para as escalas de validação – self report family inventory
(SFI) Family assessment Device (FAD) e a Family Satisfaction Scale (FSS). Os resultados
indicaram uma tendência linear significativa quando as pontuações estão ordenadas “do mais
saudável para o mais problemático” baseados no nível de saúde ou problema (do equilíbrio para
o desequilíbrio (ver Tabela 5). A tendência linear, valor F, é consideravelmente maior que a
simples ANOVA entre grupos de valor F, indicando uma tendência linear presente nas
pontuações das escalas de validação quando comparando clusters. A presença de tendências
lineares suporta a contenção de que há de facto diferenças nos níveis de funcionamento ao longo
dos seis tipos familiares desenvolvidos. As diferenças nas escalas de validação espelham o
previsto baseado nas descrições dos tipos familiares sublinhados acima. Os tipos familiares
equilibrados foram mais funcionais no SFI, FAD e tinham os valores da satisfação familiar mais
altos (FSS), comparados com os tipos familiares desequilibrados.
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Tabela 5: Pontuações de validação para os seis tipos familiares (adaptado de Olson & Gorall, 2006,p.9)
Escalas de validação
Equilibrada n=99
Rigidamente eqibilbradas
n=103
Médias
n=72
Flexivelmente desiquilibrada
N=50
Caóticamente desligada
n=63
Desiquilibrada
n=57
Entre grupos
F
Termo Linear
F SFI 74.9 71.2 65.9 59 48 46 171.6* 828.7* (4.7)a (5.6) (6) (8.1) (10.2) (12.9) FAD** 15.8 18.6 21.5 29.1 32.5 35.5 139.8* 680.1* (3) (3.6) (4.4) (6.8) (7.6) (9.7)
43.6 41.4 37.4 34.1 28.3 25.8 112* 545.9* Satisfação familiat (4.2) (4.3) (5.3) (5.9) (7.3) (8.1) Desvios-padrão contidos entre parêntesis. * p < .001 ** Pontuações mais baixas indicam um funcionamento mais saudável
1.6.3 Rácio de pontuações para os seis tipos familiares
O rácio de coesão e flexibilidade e os rácios de pontuação totais do Modelo Circumplexo
foram calculados para cada um dos seis tipos familiares. Quanto mais os valores do rácio se
distanciam positivamente do valor 1 mais saudável é o sistema familiar, e quanto mais os
valores do rácio se distanciam negativamente do 1 mais problemático é o sistema familiar.
O rácio de cotação da coesão foi calculado dividindo o valor coesão pela média dos valores
das escalas desligada e emaranhada. O rácio de cotação da flexibilidade foi calculado dividindo
o valor flexibilidade pela média dos valores das escalas rígida e caótica. O rácio Circumplexo
total é designado como um sumário das características de equilíbrio familiar (saúde) e de
desequilíbrio (problema) num só valor. Este foi calculado pela divisão da média das escalas
equilibradas (coesão e flexibilidade) pelas desequilibradas (rígida, emaranhada, caótica e
desligada). Quanto mais alto o valor do rácio, mais equilibrado era o sistema familiar.
As descobertas vão no seguimento do que vem sendo dito, em que o tipo familiar
equilibrado tem o rácio mais elevado de 2,5, sendo definido como o mais “mutável”, seguido
pelo rigidamente balanceado com um rácio de 1,3; o desequilibrado, com um rácio de 0.24, e
caoticamente desligado, com um rácio de .38, foram os tipos menos saudáveis. O mediano,
como o próprio nome indica, encontrou-se entre estes dois extremos e teve um rácio perto de 1;
estando o desequilibrado flexível mais no desequilibrado com um rácio de .75. A validade
destes rácios é também suportada pelo facto de que estes valores são muito congruentes com os
de outras escalas de validação, como a SFI, FAD e FSS, presentes na tabela 5. Como com as
escalas de validação, há um decréscimo linear no rácio, quando nos movemos dos tipos
familiares equilibrados para os desequilibrados.
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50
Figura 2: Modelo Circumplexo e Pontuações da FACES IV (adaptado de Olson & Gorall, 2006,p. 5)
Uma das vantagens rácio de pontuação equilibrado/desequilibrado é a de providenciar uma
abordagem metodológica para avaliar a curvilinearidade da coesão e flexibilidade, como
podemos compreender pela figura 2. Quanto mais os valores do rácio se distanciam
positivamente do 1, mais equilibrado é o sistema. Contrariamente, quanto mais os valores do
rácio se distanciam negativamente do 1, mais desequilibrado é o sistema. Este rácio de
pontuação permite uma sumarização das áreas relativas às forças e problemáticas num só valor,
evitando, assim, algumas das complexidades das pontuações dos seis valores.
Tabela 6: Seis tipos familiares – Rácio de Coesão, Rácio de Flexibilidade e Rácio Total Circumplexo (adaptado de
Olson & Gorall, 2006,p.11)
Tipologia Familiar Rácio de Coesão (1) Rácio de Flexibilidade (2)
Rácio Circumplexo
Total (3)
Coesão equilibrada
Desligado Emaranhado
Rácio de Coesão
Flexibilidade Equilibrada
Rígifo Caótico
Rácio de Flexibilidade
Equilibrado 83 27/38 2.6 80 35/33 2.4 2.5 Rigidamente equilibrado
72 39/58 1.5 57 76/38 1 1.3
Mediano 47 55/53 .87 47 28/45 .77 .82 Flexivelmente desequilibrado
38 76/44 .63 68 74/81 .87 .75
Caoticamente desligado
18 81/44 .29 25 28/79 .47 .38
Desequilibrado 18 83/69 .24 19 81/75 .24 .24 (1) Rácio de Coesão = Coesão equilibrada / (Desligado + Emaranhado / 2) (2) Rácio de Flçaxibilidade = Flexibilidade equilibrada / (Rígido + Caótico / 2) (3) Rácio Circumplexo Total = Rácio de Coesão + Rácio de Flexibilidade / 2 ou (Coesão equilibrada + Flexibilidade equilibrada / 2) / (Desligado + Emaranhado + Rígido + Caótico / 4)
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1.6.4 Famílias equilibradas versus famílias caoticamente desligadas
Foram traçados dois tipos familiares contrastantes (representados na figura 3), que contém
os tipos familiares equilibrado e caoticamente desligado, que são traçados no perfil da FACES
IV. O tipo equilibrado tem valores elevados na coesão e flexibilidade equilibradas e baixa
pontuação nas restantes quatro desequilibradas. Contrastando, o tipo caoticamente desligado
tem básicos valores na coesão e flexibilidade equilibradas e valores elevados nas restantes
quatro desiquilibradas. Um novo sistema de cotação de perfil foi desenvolvido baseado nas seis
escalas da FACES IV. Este sistema permite que as pontuações das escalas sejam interpretadas
como avaliações separadas dos diferentes aspectos do funcionamento familiar. Ao mesmo
tempo, também permite a compilação e comparação destes valores para qualquer família.
Acreditam que quanto mais detalhada for a perspectiva oferecida pelo sistema de cotação do
perfil, mais útil será em ambiente clínico ajudando a guiar o trabalho terapêutico. Em conjunto
com este sistema de cotação do perfil, pode ser traçado um perfil familiar contra os seis tipos
familiares (da análise de cluster já discutida). Este sistema de cotação de perfil oferece uma
avaliação mais compreensiva e complexa do funcionamento familiar do que as versões das duas
escalas (coesão e flexibilidade) anteriores do instrumento FACES.
Figura 3: Perfil da FACES IV: Equilibradas versus Caoticamente Desligadas (adaptado de Olson & Gorall,
2006,p.12)
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52
A Faces IV permitiu alcançar muitos dos objectivos para a revisão do instrumento. A análise
de cluster foi conduzida a revelar seis tipos familiares baseados nas seis escalas familiares
desenvolvidas. Para além de providenciar uma base de comparação de dados familiares
individuais, o desenvolvimento destes seis tipos familiares baseados em pontuações da escala
providencia uma nova tipologia familiar para o estudo e análise das relações familiares. Os
autores acreditam que o resultado final é de um instrumento que será útil em ambos os campos,
da clínica e pesquisa. As hipótese testam que as famílias equilibradas são mais saudáveis e
funcionais que os sistemas familiares desequilibrados, através das seis escalas e dos valores dos
rácios.
Os clínicos quererão explorar as escalas individualmente, usando a especificidade oferecida
pela combinação das escalas equilibradas e desequilibradas para auxiliar a planear, seguir e
avaliar a terapia que realizam com as famílias.
A versão anterior do Modelo Circumplexo permitiu uma análise das famílias que podiam ser
categorizadas como equilibradas, desequilibradas ou medianas. Esta nova tipologia permite a
comparação de seis tipos familiares diferentes, atendendo a uma vasta variedade de critérios e
variáveis.
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53
B. ESTUDO EMPÍRICO
1. PERCURSO METODOLÓGICO
1.1 Instrumentos utilizados (QSD e FACES IV)
Para a recolha de dados para o nosso estudo recorremos a dois instrumentos, um
questionário sócio demográfico, e uma tradução para português da escala americana FACES IV.
1.1.1 QUESTIONÁRIO SOCIO-DEMOGRÁFICO (QSD)
O Questionário Socio-demográfico teve como objectivo caracterizar os sujeitos da amostra,
recolhendo os seus dados biográficos, no que respeita à faixa etária, habilitações literárias,
situação face a emprego, representados na Parte I do questionário, enquanto a história dos
consumos para os sujeitos toxicodependentes está compreendida na Parte II.
Os QSD aplicados são ligeiramente diferentes para os sujeitos toxicodependentes e para os
restantes sujeitos, sendo comum aos dois: uma breve explicação da confidencialidade dos dados,
instruções e data de preenchimento e identificação por número (para haver identificação com o
familiar correspondente). O QSD é composto, na primeira parte, de recolha de dados
biográficos, por 16 perguntas (igual para todos os sujeitos da amostra), a segunda parte existente
apenas nos QSD dos sujeitos toxicodependentes e remete para história dos consumos através de
sete questões (ver Anexo II).
1.1.2 FACES IV versão traduzida
Atendendo ao que pretendemos estudar, optámos pela utilização da escala FACES IV, cuja
versão original com todas as suas características apresentámos anteriormente. No entanto para
que pudesse ser aplicada à população portuguesa procedemos à tradução da mesma seguindo
todos os requisitos para que esta tivesse credibilidade e validade.6
Esta última versão (IV) da FACES é constituída por sessenta e dois itens, sendo que as
subescalas equilibradas coesão e flexibilidade, e as subescalas desiquilibradas desligada,
emaranhada, caótica e rígida são cada uma composta por sete itens; as subescalas comunicação
e satisfação contêm dez itens cada. Na tabela que se segue observamos quais as questões
correspondentes a cada subescala. 6 Entretanto tivemos conhecimento, no curo da redacção deste trabalho de investigação, da existência de uma outra versão portuguesa da FACES IV, realizada por Rolim, Rodrigues, Coelho e Lopes (2005,2006). Com essa mesma versão Rui Sá (2008) realizou um estudo exploratório para a população portuguesa. Sabemos também que na Universidade do Minho se tem realizado algum trabalho com a FACES IV, nomeadamente sob a orientação da Doutora Graça Pereira. Contudo, não temos conhecimento de publicações ou outros documentos escritos escritos já concluidos resultado desse trabalho.
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Tabela 7: Perguntas correspondentes a cada subescala da FACES IV (versão adaptada Olson & Gorall, 2006).
Coesão Equilibrada 1. Os membros da família estão envolvidos nas vidas uns dos outros. 7. Os membros da família sentem-se muito próximos uns dos outros. 13. Os membros da família apoiam-se uns aos outros, durante tempos difíceis. 19. Os membros da família consultam outros membros da família em decisões importantes. 25. Os membros da família gostam de passar algum do seu tempo livre uns com os outros. 31. Apesar dos membros da família terem interesses individuais ainda participam nas actividades da família. 37. A nossa família é equilibrada ao nível da separação e aproximação. Flexibilidade Equilibrada 2. A nossa família tenta novas formas de lidar com os problemas. 8.Os pais partilham igualmente a liderança na nossa família. 14. A disciplina é justa na nossa família. 20. A minha família é capaz de se ajustar a mudanças quando é necessário. 26. Nós alternamos as responsabilidades domésticas, de pessoa para pessoa. 32. Nós temos regras e papéis claros, na nossa família. 39. Os membros da família agem principalmente de forma independente. Escala Desequilibrada Desligada 3. Nós damo-nos melhor com pessoas fora da nossa família do que de dentro. 9. Os membros da família parecem evitar o contacto uns com os outros quando estão em casa. 15. Os membros da família sabem muito pouco acerca dos amigos dos outros membros da família. 21. Os membros da família estão por sua conta quando há um problema a ser resolvido. 27. A nossa família raramente faz coisas juntas. 33. Os membros da família raramente dependem uns dos outros. 39. Os membros da família agem principalmente de forma independente. Escala Desequilibrada Emaranhada 4. Nós passamos tempo demais juntos. 10. Os membros da família sentem-se pressionados para passar a maior parte do tempo livre juntos. 16. Os membros da família estão demasiado dependentes uns dos outros. 22. Os membros da família têm pouca necessidade de amigos fora da família. 28. Nós sentimo-nos demasiado ligados uns aos outros. 34. Na nossa família ressentimo-nos quando alguém faz coisas fora da família. 40. Os membros da família sentem-se culpados quando querem passar tempo afastados da família. Escala Desequilibrada Rígida 5. Há consequências rígidas para a quebra de regras na nossa família. 11. Existem consequências claras quando um membro da família faz algo de errado. 17. A nossa família tem uma regra para quase todas as situações possíveis. 23. A nossa família é altamente organizada. 29. A nossa família fica frustrada quando há uma mudança nos nossos planos ou rotinas. 35. É importante seguir as regras na nossa família. 41. Uma vez tomada uma decisão é muito difícil modificar essa decisão. Escala Desequilibrada Caótica 6. Nós nunca 12. É difícil saber quem é o líder na nossa família. 18. É difícil levar a cabo as coisas na nossa família. 24. Não é claro quem é responsável pelas coisas (pequena tarefa, actividades) na nossa família. 30. Não há liderança na nossa família. 36. A nossa família não tem consciência de quem faz as diversas tarefas domésticas. 42. A nossa família sente-se sempre sobre pressão e desorganizada. Escala do nível de Comunicação 43. Os membros da família estão satisfeitos com a forma de comunicar uns com os outros. 44. Os membros da família são muito bons ouvintes. 45. Os membros da família exprimem afecto uns pelos outros. 46. Os membros da família são capazes de pedir uns aos outros o que querem. 47. Os membros da família conseguem calmamente discutir os problemas uns com os outros. 48. Os membros da família discutem as suas ideias e convicções uns com os outros. 49. Quando membros da família fazem perguntas uns aos outros recebem respostas honestas. 50. Os membros da família tentam compreender os sentimentos uns dos outros. 51. Quando zangados, os membros da família raramente dizem coisas negativas sobre cada um dos outros. 52. Os membros da família expressam os seus verdadeiros sentimentos uns aos outros.
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Escala do nível de Satisfação 53. O grau de proximidade entre os membros da família. 54. A capacidade da família em lidar com o stress. 55. A capacidade da família em ser flexível. 56. A capacidade da família em partilhar experiências positivas. 57. A qualidade de comunicação entre os membros da família. 58. A capacidade da família para resolver conflitos. 59. A quantidade de tempo que passam em conjunto, como uma família. 60. A forma como os problemas são discutidos. 61. A justiça das críticas na família. 62. A preocupação dos membros da família uns com os outros.
Para melhor compreender a cotação das diferentes subescalas (A. Coesão; B. Flexibilidade;
C. Desligada; D. Emaranhada; E. Rígida; F. Caótica), apresentamos as tabelas 8 e 9, com as
grelhas para a cotação e instruções sistematizadas.
Tabela 8: Grelha de cotação da FACES IV para a definição das pontuações nas suas subescalas (versão adaptada
Olson & Gorall, 2006).
Grelha de Cotação da FACES IV 1.__ 2. __ 3. __ 4. __ 5. __ 6. __ 7. __ 8. __ 9. __ 10. __ 11. __ 12. __ 13__ 14. __ 15. __ 16. __ 17. __ 18. __ 19. __ 20. __ 21. __ 22. __ 23. __ 24. __ 25. __ 26. __ 27. __ 28. __ 29. __ 30. __ 31. __ 32. __ 33. __ 34. __ 35. __ 36. __
Coe
são
e Fl
exib
ilida
de
37.__ 38. __ 39.__ 40. __ 41. __ 42. __ Total A___ B___ C___ D___ E___ F__
43.__ 44.__ 45.__ 46.__ 47.__ 48.__ Comunicação
49.__ 50.__ 51.__ 52.__ 53.__ 54.__ 55.__ 56.__ 57.__ 58.__
Satisfação 59.__ 60.__ 61.__ 62.__
Colocar o valor de cada resposta no número correspondente. Somar na vertical obtendo o valor de A, B, C, D E, F, G. (subescalas da FACESIV). Somar todos os valores das escalas comunicação e satisfação. Somatório de valores da P.1 a P.52 1. Discordo; 2. Fortemente Discordo 3. Não concordo nem discordo 4. Concordo; 5. Concordo Fortemente Somatório de valores da P.53 a P.62 1. Muito Descontente; 2. Um tanto Descontente 3. Geralmente Satisfeito; 4. Muito Satisfeito 5. Extremamente Satisfeito
Devemos somar os valor das respostas correspondentes às perguntas pertencentes a cada
subescala e recorrer às tabelas constantes no Anexo III, para a conversão dos valores brutos em
valores percentuais.
Tabela 9: Grelha de transformação dos resultados brutos das subescalas da FACES IV em resultados padronizados
(versão adaptada Olson & Gorall, 2006).
Resultado bruto da escala Percentis Resultado bruto da escala Percentis
__________ A converte para ______ % __________ D converte para ______ %
__________ B converte para ______ % __________ E converte para ______ %
__________ C converte para ______ % __________ F converte para ______ %
Por fim, para a obtenção dos rácios da Coesão, Flexibilidade e Total da escala FACES IV,
podemos utilizar as seguintes fórmulas:
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Rácio de Coesão = Coesão equilibrada/ (Desligada+emaranhada/2)
Rácio de Flexibilidade = Flexibilidade equilibrada/(desligada+emaranhada/2)
Rácio Total Circumplexo = Rácio da Coesão + Rácio da Flexibilidade / 2.
1.2 Variáveis
No seguimento da escolha do instrumento surge a identificação das variáveis, tendo sido
identificadas como variáveis independentes: os tipos de família, com e sem elemento
toxicodependente e variáveis independentes mediadoras, tais como sexo, idade, estado civil,
escolaridade, profissão, situação face ao emprego, estrutura familiar, número de filhos, lugar
que ocupa no seio da família, com quem vive, quais os problemas de saúde, idade de início de
consumo, as substâncias inicialmente consumidas e as de eleição, bem como o tempo de
consumo e o de tratamento.
As variáveis dependentes são compostas pelas dimensões da FACES IV, contendo as
subescalas equilibradas coesão e flexibilidade, as subescalas desequilibradas desligada,
emaranhada, rígida, caótica e ainda as subescalas satisfação e comunicação. De acordo com a
versão original da escala FACES IV, os valores extremos traduzem um desequilíbrio familiar e
os valores moderados um equilíbrio familiar a nível das duas dimensões coesão e flexibilidade
(Olson, 1981).
1.3 Modelo Conceptual
Figura 4: Modelo Conceptual, das relações entre as variáveis do estudo empírico.
- Escala Equilibrada Coesão
- Escala Equilibrada Flexibilidade
- Escala Desequilibrada Desligada
- Escala Desequilibrada Emaranhada
- Escala Desequilibrada Rígida
- Escala Desequilibrada Caótica
- Escala Comunicação
- Escala Satisfação
- Escala Faces VI Total
Variáveis Dependentes – FACES IV
- Família Com elemento Toxicodependente - Família Sem elemento Toxicodependente
Variáveis Independentes
Variáveis Independentes (mediadoras)
- Sexo - Idade - Escolaridade/Habilitações Literárias - Profissão - Situação face ao emprego - Número de filhos - Estrutura da família - Lugar que ocupa no seio a família - Problemas de saúde - Historial de consumo e tratamentos
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Através do Modelo Conceptual procuramos definir as nossas hipóteses, tentando perceber se
as variáveis independentes teriam ou não alguma influência nas variáveis dependentes. Ou seja,
se a tipologia familiar, bem como as características individuais ao nível do sexo, escolaridade,
profissão, estrutura familiar, entre outras, influenciariam o relacionamento familiar medido pela
FACES IV.
1.4 Procedimentos
Com base no Modelo Conceptual, foi nossa opção ministrar um protocolo (com base num
instrumento de avaliação americano traduzido para português), recorrendo assim a uma técnica
de investigação quantitativa, de administração indirecta, no nosso caso em particular. O
inquérito foi ministrado num primeiro grupo a sessenta e seis sujeitos jovens e adultos
actualmente em tratamento, sem estar sob o efeito de substâncias alteradoras do estado de
consciência, internados em clínicas de recuperação de toxicodependentes e alcoólicos (num total
de vinte clínicas de norte a sul do país) e a um familiar de cada sujeito, perfazendo um total de
cento e trinta e dois inquiridos. A aplicação do inquérito foi feita indirectamente, dado que os
protocolos foram enviados por correio entre Fevereiro e Março de 2007 para as diversas
clínicas, após contacto telefónico com o psicólogo ou responsável terapêutico pelo grupo, em
que foram dadas todas as instruções de preenchimento e selecção da amostra. Foi solicitado
ainda que os respondentes tivessem idades superiores a doze anos, se encontrassem no seu
estado normal de consciência e fosse fácil o acesso a um familiar de modo a cruzar a
informação e percepcionar a dinâmica familiar. Foram recepcionados os protocolos entre Março
e Maio de 2007.
Num segundo grupo, foram entregues questionários a sessenta e seis sujeitos sem historial
de adicção (no seu percurso ou no percurso de um familiar) e a pelo menos um familiar seu,
obtendo assim a perspectiva de sessenta e seis famílias (por cada família respondem dois
elementos) sem historial de consumos. A entrega a esse segundo grupo incidiu maioritariamente
em sujeitos da rede laboral, familiar e de amigos da autora do trabalho que aqui é apresentado e
seus respectivos círculos, tendo estes sido entregues e recepcionados entre Fevereiro e Maio de
2007.
Os protocolos e respectivas instruções para cada um dos grupos foram ligeiramente
diferentes, não constando no segundo grupo as questões referentes ao historial de consumos,
uma vez que tal situação não se aplica àquelas pessoas. As instruções foram adaptadas para cada
grupo, atendendo ainda ao facto de que num primeiro grupo foram formados técnicos acerca das
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58
instruções a dar aos sujeitos que iriam responder ao questionário, e num segundo grupo todas as
informações deviam constar nas instruções, dada a inexistência de um elemento orientador junto
de cada inquirido.
No presente estudo, a amostra é aleatória simples, seleccionada randomicamente, já que
todos os sujeitos, supostamente, tiveram igual oportunidade de nela se integrar. Foi apenas
definida uma única condição, que se traduziu na necessidade em serem inquiridos apenas
sujeitos com idade superior a doze anos e no seu estado normal de consciência, sem influência
de substâncias alteradoras do mesmo.
1.5 Procedimento estatístico
Tendo em conta as variáveis definidas na presente investigação, foi realizado através do
Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), análise das qualidades psicométricas:
sensibilidade, permitindo verificar a dispersão de itens e variabilidade através de medidas de
tendência central como a média e coeficientes de simetria e curtose, que permitem ver o
achatamento e enviesamento; validade, através da análise factorial é verificada a força da
escala, que permite uma comparação com a versão original americana da FACES IV; fidelidade,
obtendo valores de consistência interna através do Alpha de Cronbach, correlação item total e se
item excluído.
Foram também feitas análises descritivas das diversas características da amostra e a relação
entre cada uma delas e o tipo de família (com e sem elemento toxicodependente). Por fim,
foram realizadas análises correlacionais através do Kruskall-Wallis e Post-hoc Tamhane. Os
resultados do teste Kruskall-Wallis são utilizados para comparar a diferença entre a média de
cada uma das dimensões da escala FACES IV em cada tipologia familiar, com as diferentes
características da família como a idade, sexo, habilitações literárias, profissão, estrutura da
família, etc. (que atingem uma significância estatística com valores inferiores a 0,05), o que vai
permitir explicar as diferenças nas diversas dimensões da escala.
Foram feitas as análises estatísticas tendo por base a nossa amostra. No entanto, os factores
da escala FACES IV usados, nas diferentes análises, foram os factores encontrados na versão
americana, com os dados da amostra do nosso estudo.
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59
2. QUALIDADES PSICOMÉTRICAS
Procedemos á avaliação das qualidades psicométricas da FACES IV na nossa amostra.
2.1 Sensibilidade7
Para analisar a sensibilidade do instrumento optou-se pela comparação de médias, a sua
variabilidade e dispersão de itens (Média, Desvio Padrão, Máximo e Mínimo), de modo a
conferir ao instrumento a capacidade para discriminar os sujeitos.
Tabela 10: Análise do coeficiente de Simetria e Curtose da amostra.
Simetria Curtose N Mínimo Máximo Média D.P. Variância Estats Erro Valor Estats Erro Valor
Nível da coesão familiar 256 10 95 50,57 22,536 507,885 -,067 ,152 -,4407 -,949 ,303 -3,13
Nível de flexibilidade 249 10 96 52,24 15,838 250,847 -,382 ,154 -2,48 ,121 ,307 ,394
Nível d desligamento da família 249 12 75 30,57 11,646 135,625 ,807 ,154 5,24 ,797 ,307 2,596
Nível de interligação emaranhada da família 243 13 64 34,13 11,305 127,806 ,779 ,156 5,058 ,534 ,311 1,717
Nível de Rigidez das relações na família 252 16 90 39,02 14,129 199,617 ,818 ,153 5,346 ,126 ,306 ,4117
Nível de uma relação caótica na família 248 13 75 31,34 12,387 153,439 1,160 ,155 7,48 1,212 ,308 3,935
Nível da Comunicação entre os elementos da família 256 10 99 53,43 23,948 573,485 -,241 ,152 -
1,585 -,877 ,303 -2,894
Nível da satisfação no seio da família 255 10 99 37,55 24,828 616,414 ,816 ,153 5,333 -,369 ,304 -
1,213
Rácio do nível de coesão familiar 231 1 3 1,56 ,430 ,185 ,831 ,160 5,19 ,910 ,319 2,852
Rácio do nível de flexibilidade familiar 231 1 3 1,29 ,293 ,086 1,469 ,160 9,18 10,15
3 ,319 31,82
Rácio total do nível familiar 212 1 3 1,44 ,323 ,104 ,425 ,167 2.544 ,363 ,333 1,09
Valid N (listwise) 205
A amostra manifesta valores maioritariamente superiores a 2 no que respeita à simetria,
demonstrando uma distribuição assimétrica. Relativamente à curtose, cinco subescalas da
FACES IV apresentam valores superiores a 2, sendo uma distribuição achatada enviesada,
outras cinco subescalas apresentam valores inferiores a 2, o que representa uma distribuição
mesocúrtica, e uma subescala é achatada com valores inferiores a -2 (tabela 10).
2.2 Validade8
7 Pela análise do coeficiente de simetria (enviesamento à direita ou esquerda mediante o valor obtido dividindo o valor estatístico pelo erro), se o valor for inferior a 2 significa que a distribuição é simétrica, pertencendo a um intervalo de confiança de 95%; se o valor for superior a 2, significa uma distribuição assimétrica, não pertencendo ao intervalo de confiança mencionado. Por fim, a curtose representa o grau de achatamento em relação à curva normal, à esquerda/negativo ou à direita/positivo, em que se os valores foram abaixo de -2 é uma distribuição achatada, enviesada à esquerda ou platicúrtica; se o valor for inferior a 2, denomina-se de mesocúrtica; se valor superior a 2, estamos perante uma distribuição achatada ou leptocúrtica. 8 Nos questionários e inventários, os itens não se encontram formulados no sentido de diferenciar os sujeitos de acordo com a suas dificuldades, pelo contrário, solicita-se que os sujeitos respondam a todos os itens, afirmando que não existem boas nem
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60
A validade interna ou poder discriminativo refere-se ao grau em que determinado item se
diferencia no mesmo sentido do teste global. O poder discriminativo é um coeficiente que pode
variar entre -1,0 e +1,0. Um coeficiente negativo significa que são os sujeitos com pior
desempenho no teste global que melhor realizam o item em causa (situação inversa da que é
esperada dos itens de um teste).
Podemos verificar na validade de uma escala a nitidez da sua estrutura factorial, por quantos
factores e itens é composta e se possui outliers que devem ser eliminados pela decomposição
factorial da escala.
Uma estrutura factorial nítida é indiciada quando, em cada factor, os coeficientes de
correlação dos itens são altos com o próprio factor e em geral baixas ou opostas a outros
factores. Um dos métodos utilizados para a análise factorial é o “método de componentes
principais com rotação varimax”.
más respostas. O cálculo do índice e discriminação dos itens nestas escalas (Likert) é feito correlacionando a pontuação do item e a nota total da escala ou subescala a que pertence (Reliability Analysis – SPSS). Aos valores mais elevados, de poder discriminativo, associam-se coeficientes mais elevados de fidelidade, pois vão no sentido da homogeneidade da prova.
A validade externa, consiste na relação que existe entre as respostas dos sujeitos a um item e o seu desempenho numa outra situação que não o próprio teste (variável critério). Múltiplos critérios podem ser utilizados dependendo muitas vezes da sua disponibilidade na prática, ou, eventualmente, de outras provas já existentes e bem apreciadas. Dado que a construção de uma prova envolve diversas aplicações e amostras, alguns autores defendem a realização de estudos cross-validação de resultados como forma de garantir a sua posterior generalização. As questões de validade das medidas psicossociais podem entender-se como um processo contínuo de apreciação da qualidade da informação recolhida, de acordo com o momento, o grupo e o contexto das próprias investigações. A validade interna relaciona-se com a consistência e homogeneidade, enquanto a externa se liga mais à prática com maior poder preditivo. Assim sendo, os melhores itens a incluir numa prova são os que apresentam níveis mais elevados de ambos os coeficientes; no entanto, nem sempre existe coincidência entre ambos.
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Tabela 11: Análise factorial da nossa amostra, factores 1 a 7.
Componentes Itens
F1 F2 F3 F4 F5 F6 F7
48. Os membros da família discutem as suas ideias e convicções uns com os outros. ,713 49. Quando membros da família fazem perguntas uns aos outros recebem respostas honestas. ,713
46. Os membros da família são capazes de pedir uns aos outros o que querem. ,688 43. Os membros da família estão satisfeitos com a forma de comunicar uns com os outros. ,685 52. Os membros da família expressam os seus verdadeiros sentimentos uns aos outros. ,675 45. Os membros da família exprimem afecto uns pelos outros. ,669 44. Os membros da família são muito bons ouvintes. ,668 50. Os membros da família tentam compreender os sentimentos uns dos outros. ,664 37. A nossa família é equilibrada ao nível da separação e aproximação. ,522 47. Os membros da família conseguem calmamente discutir os problemas uns com os outros. ,518
23. A nossa família é altamente organizada. ,436 42. A nossa família sente-se sempre sobre pressão e desorganizada. -,425 7. Os membros da família sentem-se muito próximos uns dos outros. ,415 2. A nossa família tenta novas formas de lidar com os problemas. ,381 8.Os pais partilham igualmente a liderança na nossa família. ,378 55. A capacidade da família em ser flexível. ,779 61. A justiça das críticas na família. ,767 54. A capacidade da família em lidar com o stress. ,743 60. A forma como os problemas são discutidos. ,691 58. A capacidade da família para resolver conflitos. ,629 57. A qualidade de comunicação entre os membros da família. ,604 53. O grau de proximidade entre os membros da família. ,575 56. A capacidade da família em partilhar experiências positivas. ,558 51. Quando zangados, os membros da família raramente dizem coisas negativas sobre cada um dos outros. ,517
59. A quantidade de tempo que passam em conjunto, como uma família. ,456 62. A preocupação dos membros da família uns com os outros. ,429 17. A nossa família tem uma regra para quase todas as situações possíveis. ,765 32. Nós temos regras e papéis claros, na nossa família. ,631 11. Existem consequências claras quando um membro da família faz algo de errado. ,587 35. É importante seguir as regras na nossa família. ,553 1. Os membros da família estão envolvidos nas vidas uns dos outros. -,558 5. Há consequências rígidas para a quebra de regras na nossa família. ,549 18. É difícil levar a cabo as coisas na nossa família. ,510 21. Os membros da família estão por sua conta quando há um problema a ser resolvido. ,508 33. Os membros da família raramente dependem uns dos outros. ,486 ,459 6. Nós nunca parecemos ficar organizados na nossa família. ,472 25. Os membros da família gostam de passar algum do seu tempo livre uns com os outros. ,605 27. A nossa família raramente faz coisas juntas. -,590 31. Apesar dos membros da família terem interesses individuais ainda participam nas actividades da família. ,761
9. Os membros da família parecem evitar o contacto uns com os outros quando estão em casa. -,416
Alpha Cronbach ,875 ,926 ,646 ,417 -1,469 -,922 - Média 53,01 35,91 12,14 20,44 6,16 5,80 - Desvio-padrão 8,082 7,824 2,634 2,625 ,980 ,963 -
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Tabela 12: Análise factorial da nossa amostra, factores 8 a 15.
Componentes Itens
F8 F9 F10 F11 F12 F13 F14 F15
24. Não é claro quem é responsável pelas coisas (pequena tarefa, actividades) na nossa família. ,011
36. A nossa família não tem consciência de quem faz as diversas tarefas domésticas. ,352
39. Os membros da família agem principalmente de forma independente. -,072 22. Os membros da família têm pouca necessidade de amigos fora da família. -,06 34. Na nossa família ressentimo-nos quando alguém faz coisas fora da família. ,368
28. Nós sentimo-nos demasiado ligados uns aos outros. ,059 16. Os membros da família estão demasiado dependentes uns dos outros. ,043 29. A nossa família fica frustrada quando há uma mudança nos nossos planos ou rotinas. ,047
41. Uma vez tomada uma decisão é muito difícil modificar essa decisão. -,129 40. Os membros da família sentem-se culpados quando querem passar tempo afastados da família. -,209
30. Não há liderança na nossa família. ,748 19. Os membros da família consultam outros membros da família em decisões importantes. ,692
10. Os membros da família sentem-se pressionados para passar a maior parte do tempo livre juntos. ,538
15. Os membros da família sabem muito pouco acerca dos amigos dos outros membros da família. ,759
3. Nós damo-nos melhor com pessoas fora da nossa família do que de dentro. ,430 14. A disciplina é justa na nossa família. ,803 20. A minha família é capaz de se ajustar a mudanças quando é necessário. -,502 38. Quando os problemas surgem nós acomodamo-nos. ,576 Alpha Cronbach ,476 ,414 ,473 ,395 ,126 ,362 -,157 - Média 7,70 8,07 6,40 13,36 5,66 5,36 7,57 - Desvio-padrão 1,968 1,954 1,671 2,567 1,337 1,555 2,542 -
No que se refere à validade de constructo da escala, obtivemos uma estrutura factorial
composta por quinze factores e cinquenta e nove itens (tabelas 11 e 12). O primeiro factor
denominado “Comunicação” é constituído por quinze itens, com uma capacidade discriminativa
moderadamente alta, sendo o Alpha de Cronbach (a=.875); o segundo factor “Satisfação” é
constituído por onze itens e possui uma capacidade discriminativa alta (p=.926); o terceiro
factor “Rigidez/Regras” é composto por quatro itens e possui uma capacidade discriminativa
aceitável (p=.646); o factor 4, inicialmente composto por sete itens, não possui capacidade
discriminativa suficiente (p=.156); após retirado o item 13, sobe ligeiramente o valor de alpha
(a=.417) mas não atinge níveis estatisticamente significativos. Os factores 5 e 6, composto cada
um por dois itens, possuem valores de alpha negativos (p=-1.469) e (p=-.922) respectivamente.
Os factores 7 e 15 compostos cada um por um item não possuem capacidade discriminativa. Os
restantes factores não possuem capacidade discriminativa suficiente, estando todos valores de
alpha muito baixos (p<.5). Mesmo retirando no factor 9, o item 26, em que o alpha sobe de ,398
para ,414 não alcança valores de significância estatística, da mesma forma que ao retirar do
factor 11 o item 12, o alpha apenas sobe de ,375 para ,395. A percentagem acumulada de
variância explicada pelos quinze factores atinge 65,906% (>59%). Com base nestes resultados,
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podemos afirmar que a escala apresenta uma validade de constructo suficiente para assumir a
estrutura definida nos estudos originais da versão americana da FACES IV.
Assim cada constructo (factor) aparece como um constructo multidimensional constituído
por diversos itens. Comparando com a versão original da escala FACES IV, composta por cinco
factores, obtivemos com significância apenas três factores, o que explica 27,8% de variância
explicada da escala.
2.3 Fidelidade9
A Fidelidade do instrumento, ou seja, a qualidade psicométrica que implica que um
instrumento meça bem o que pretende medir (Pinto, 1990), é a forma de análise de consistência
interna através do procedimento estatístico Alpha de Cronbach, em que são seleccionados os
itens da escala com maior consistência interna.
Tabela 13: Resultados do alpha de Cronbach para a amostra da população em estudo.
Alpha Cronbach
Alpha Cronbach em itens estandardizados N Média Variância D.P. N
,792 ,818 62 192,92 266,320 16,319 62
Na nossa amostra podemos afirmar que a escala tem uma capacidade discriminativa bastante
aceitável (Alpha=,792), e os itens associados à escala tem suficiente capacidade discriminativa,
conforme se pode verificar na tabela 13.
9 Se o Alpha de Cronbach se encontra entre ,61 e ,73 considera-se que a escala tem uma capacidade discriminativa aceitável; se se encontra perto de ,81 bastante aceitável; quando se encontra em ,89 moderadamente alta e por fim maior ou igual a ,90 a escala possui uma capacidade discriminativa alta. Ou seja, a capacidade discriminativa é insuficiente se inferior a ,60, em que a análise dos resultados leva-nos a equacionar que os itens associado a esta escala não têm suficiente capacidade discriminativa. Quando superior a ,60 diz-se que os resultados nos levam a equacionar que os itens associados à escala têm suficiente capacidade discriminativa, aliada a uma estrutura factorial clara e coerente.
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3. RELAÇÕES FAMILIARES E TOXICODEPENDÊNCIA
3.1 Características da amostra
Tabela 14: Cruzamento de variáveis independentes género, idade e habilitações literárias, com variáveis
independentes mediadoras (quatro elementos das duas tipologias familiares)
PI10 toxicodependente
Familiar e PI toxicodependente
Elemento não toxicodependente1
Elemento não toxicodependente2 Total Variáveis
N % N % N % N % N % Masculino 60 90.9 20 32.3 21 31.8 21 31.8 122 46.9 Feminino 6 9.1 42 67.7 45 68.2 45 68.2 138 53.1 Género
Total 66 100 62 100 66 100 66 100 260 100 12-20 A 1 1.6 4 6.7 11 17.5 8 12.5 24 9.7 21-30 A 24 39.3 9 15 22 34.9 22 34.4 77 31 31-41 A 29 47.5 13 21.7 13 20.6 16 25 71 28.6 42-55 A 7 11.5 18 30 12 19 14 21.9 51 20.6
56 e mais A 0 0 16 26.7 5 7.9 4 6.3 25 10.1
Idade
Total 61 100 60 100 63 100 64 100 248 100 1º ciclo 9 14.5 16 25.4 12 18.5 6 9.2 43 16.9 2º ciclo 12 19.4 12 19 6 9.2 7 10.8 37 14.5 3ºciclo 23 37.1 10 15.9 10 15.4 18 27.7 61 23.9
Ensino secundário 13 21 15 23.8 17 26.2 11 16.9 56 22 Bacharelato 1 1.6 3 4.8 3 4.6 5 7.7 12 4.7 Licenciatura 3 4.8 7 11.1 14 21.5 17 26.2 41 16.1
PG, Mestrado, MBA, Doutora/ 1 1.6 0 0 3 4.6 1 1.5 5 2
Hab
ilita
ções
Lite
rária
s
Total 62 100 63 100 65 100 65 100 255 100
Foram realizados cruzamentos entre as variáveis independentes sexo, idade e habilitações
literárias com os quatro elementos representantes das duas tipologias familiares, de modo a
perceber se há associação entre as variáveis (tabela 14).
A nossa amostra é composta por 284 sujeitos, 142 pertencentes a famílias com elemento
toxicodependente e 142 sem elemento toxicodependente.
Relativamente à distribuição da amostra por sexo, 53,1% da amostra é do sexo feminino
(138 sujeitos) e 46,9% da amostra (122 sujeitos) é do sexo masculino, 1,5% da amostra não
respondeu. A maioria dos elementos toxicodependentes são do sexo masculino 90,9% (60
sujeitos).
A faixa etária com maior densidade é a de 21-30 anos, com 77 sujeitos (31%), seguida da de
31-41 anos, com 71 sujeitos (28,6%), com 51 sujeitos (20,6%) na faixa de 42-55 anos. As faixas
com menor afluência são a de 12-20 anos, com 24 sujeitos (9,7%), e a de 56 e mais anos com 25
sujeitos (10,1%). Os elementos toxicodependentes residem essencialmente nas faixas etárias 31-
-41 anos e 21-30 anos; os familiares de elementos toxicodependentes situam-se
maioritariamente nas faixas etárias 42-55 anos e 56 e mais anos.
10 Paciente Identificado (PI) - Portador do sintoma ou paciente “oficial”, tal como é identificado pela família e contextos psiquiátricos clássicos (Relvas, 1999, 161).
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Verifica-se que 37,1% dos elementos toxicodependentes possuem o 3º ciclo, 19,4%
possuem 2º ciclo e 21% o ensino secundário; os seus familiares possuem maioritariamente a 4ª
classe (25,4%), tendo os elementos não toxicodependentes escolaridades médias mais elevadas,
26,2% dos “elementos1” possuem ensino secundário e 21,5% licenciatura; dos “elementos2”
27,7% possuem 3º ciclo e 26.2% possuem licenciatura.
Tabela 15: Teste do Qui Quadrado para a variável Idade Tabela 16: Teste do Qui quadrado para a variável sexo
Teste de Qui Quadrado Idade Valor df p (bi caudal) Pearson Chi-Square 55,218(a) 12 ,000 Likelihood Ratio 58,019 12 ,000 Linear-by-Linear Association 1,238 1 ,266
N of Valid Cases 248 a 0 células (,0%) esperaram cotar menos de 5. A cotação minima esperada é de 5,81.
Teste de Qui Quadrado sexo Valor df p (bi caudal) Pearson Chi-Square 68,718(a) 3 ,000Likelihood Ratio 76,138 3 ,000Linear-by-Linear Association 42,233 1 ,000
N of Valid Cases 260 a 0 células (,0%) esperaram cotar menos de 5. A cotação minima esperada é de 29,09.
Para nos certificarmos da associação entre as variáveis que acabamos de descrever,
recorremos ao teste do Qui Quadrado. Em termos das análises de significância através deste
teste apenas se reuniram condições para a sua aplicabilidade relativamente às variáveis idade
(tabela 15) e sexo (tabela 16), com valores de significância <,001 em ambas, o que nos leva a
crer que há uma associação entre as variáveis de forma significativa. Contrariamente às variáveis
analisadas, para a variável habilitações literárias não foi possível a aplicabilidade do teste Qui
Quadrado, não estando reunidas as condições necessárias à sua aplicabilidade.
Tabela 17: Cruzamento de variáveis independentes estado civil e situação profissional, com variáveis
independentes mediadoras (quatro elementos das duas tipologias familiares)
PI toxicodependente
Familiar e PI toxicodependente
Elemento não toxicodependente1
Elemento não toxicodependente2 Total Variáveis
N % N % N % N % N % Solteiro 39 59.1 14 21.2 27 4.9 26 39.4 106 40.2
1ºcasamento 10 15.2 33 50 34 51.5 33 50 110 41.7 União de facto 3 4.5 5 7.6 3 4.5 3 4.5 14 5.3
Separado 3 4.5 2 3 0 0 0 0 5 1.9 Divorciado 11 16.7 7 10.6 1 1.5 3 4.5 22 8.3
Viúvo 0 0 5 7.6 1 1.5 1 1.5 7 2.7 Esta
do c
ivil
Total 66 100 66 100 66 100 66 100 264 100 E conta própria 3 5.3 7 12.5 6 12 2 3.6 18 8.3
E conta de outrem 22 38.6 22 39.3 31 62 40 72.7 115 52.8 Desempregado 31 54.4 9 16.1 8 16 9 16.4 57 26.1
Reformado 0 0 16 28.6 4 8 3 5.5 23 10.6 Pensionista 1 1.8 2 3.6 1 2 1 1.8 5 2.3 Si
tuaç
ão
prof
issi
onal
Total 57 100 56 100 50 100 55 100 218 100
Foram realizados cruzamentos entre as variáveis independentes situação profissional e estado
civil com os quatro elementos representantes das duas tipologias familiares, de modo a perceber
se há associação entre as variáveis (tabela 17).
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É possível verificar que 41,7% dos sujeitos da amostra são casados, primeiro casamento,
40,6% são solteiros e 8,3% são divorciados, havendo 14 elementos em união de facto, 5
separados e 7 viúvos. Os elementos toxicodependentes, relativamente ao estado civil, são
maioritariamente solteiros (59,1%), seguindo-se os divorciados (16,7%), encontrando-se os
restantes elementos familiares maioritariamente no 1º casamento; 21.1% dos familiares de
elemento toxicodependente (51,5%), dos elementos não toxicodependentes1 e 39.4% dos
elementos não toxicodependentes2.
Procedeu-se, ainda, ao cruzamento da profissão com a tipologia familiar, no entanto não se
obtendo qualquer resultado cujo significado estatístico seja passível de aqui ser apresentado.
54,4% dos elementos toxicodependentes encontram-se desempregados, 39,3 % dos seus
familiares respondentes estão empregados por conta de outrem. No que respeita às famílias sem
elemento toxicodependente, 62% dos elementos1 trabalham por conta de outrem, da mesma
forma que 72,7% dos elementos2.
63,5 % dos elementos toxicodependentes afirmam viver com os pais e apenas 14,5% vivem
sozinhos. Nas famílias sem elemento toxicodependente, verificamos que, quer nos elementos1,
quer nos elementos2, 41,3% afirma viver com parceiro e filhos, havendo ainda lugar para uma
percentagem elevada que viva com os pais (49,9 % para os elementos1 e 33,3% para os
elementos2).
Em termos das análises de significância através do teste do Qui Quadrado, nenhuma variável
(situação profissional e estado civil) reuniu as condições necessárias para a sua aplicabilidade, o
que nos leva a crer que não há uma associação com significância estatística entre as variáveis.
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Tabela 18: Cruzamento de variáveis independentes com quem vive, lugar ocupado no seio da família e problemas de
saúde, com variáveis independentes mediadoras (quatro elementos das duas tipologias familiares)
PI toxicodependente
Familiar e PI toxicodependente
Elemento não toxicodependente1
Elemento não toxicodependente2 Total Variáveis
N % N % N % N % N % Sozinho 9 14.3 4 6.3 2 3.2 5 7.9 20 7.9
Com Pais 40 63.5 11 17.2 22 34.9 21 33.3 94 37.2 Com parceiro 3 4.8 16 25 8 12.7 7 11.1 34 13.4 Com outros 2 3.2 1 1.6 2 3.2 3 4.8 8 3.2 Com filhos 1 1.6 9 14.1 3 4.8 1 1.6 14 5.5
Com parceiro e filhos
8 12.7 23 35.9 26 41.3 26 41.3 83 32.8
Com
que
m v
ive
Total 55 100 41 100 37 100 37 100 170 100 Pai 15 23.1 12 18.8 12 18.5 14 21.2 53 20.4 Mãe 2 3.1 32 50 20 30.8 19 28.8 73 28.1
1º filho 21 32.3 15 21.0 20 30.8 24 36.4 79 30.4 2ºfilho 19 29.2 5 7.8 8 12.3 4 6.1 36 13.8
3º ou + filho 6 9.2 1 1.6 5 7.7 5 7.6 17 6.5 Outro (tio, avós) 2 3.1 0 0 0 0 0 0 2 .8
Lugar ocupado no seio
da família
Total 63 100 65 100 65 100 66 100 258 100 Quistos, hérnias 0 0 1 11.1 3 33.3 2 22.2 6 12.2
Problemas cardíacos
0 0 0 0 2 22.2 1 11.1 3 6.1
Problemas digestivos/úlceras
0 0 0 0 2 22.2 2 22.2 4 8.2
Problemas tiróide/diabetes
0 0 1 11.1 1 11.1 2 22.2 4 8.2
Bronquite, asma, alergias
0 0 0 0 1 11.1 2 22.2 3 6.1
Problemas do sistema nervoso
1 4.5 2 22.2 0 0 0 0 3 6.1
DST 20 90.9 3 33.3 0 0 0 0 23 46.9 Reumatismo 1 4.5 2 22.2 0 0 0 0 3 6.1
Prob
lem
as d
e sa
úde
Total 22 100 9 100 9 100 9 100 49 100
Foram realizados cruzamentos entre as variáveis independentes com quem vive, lugar
ocupado no seio da família e problemas de saúde com os quatro elementos representantes das
duas tipologias familiares, de modo a perceber se há associação entre as variáveis (tabela 18).
Procedeu-se ainda ao cruzamento do número de filhos com a tipologia familiar, no entanto
não se obtendo qualquer resultado cujo significado estatístico seja passível de aqui ser
apresentado. Relativamente à estrutura da família, em todos os elementos familiares se
verificou uma percentagem elevada dos que afirmam ter dois pais biológicos, no entanto 18,2
% dos elementos toxicodependentes tem apenas um dos pais e 19,4 % dos familiares de
elemento toxicodependente afirmam ter também um dos pais na estrutura familiar.
No que respeita ao lugar ocupado no seio da família, 32,3% dos elementos
toxicodependentes ocupam o lugar de primeiro filho, 50% dos seus familiares respondentes
ocupa o lugar de mãe e nas famílias sem elemento toxicodependente 30,8% dos elementos1
ocupam o lugar de mãe e outros 30,8% o lugar de primeiro filho, ocupando 28,8% dos
elementos2 o lugar de mãe e 36,4% o lugar de primeiro filho.
Por fim, relativamente a problemas de saúde, verificamos que 90,9% dos elementos
toxicodependentes sofrem de doenças sexualmente transmissíveis, da mesma forma que 33,3%
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68dos seus familiares respondentes. Estes padecem ainda de problemas no sistema nervoso
(22,2%) e reumatismo (22,2%). 33,3% dos elementos1 das famílias não toxicodependentes
referem problemas de quistos e hérnias, bem como 22,2% de problemas cardíacos e 22,2% de
problemas digestivos. Dos elementos2, 22,2% queixam-se de quistos e hérnias bem como de
problemas digestivos (22,2%), problemas de tiróide/diabetes (22,2%) e bronquite, asma,
alergias (22,2%).
Para nos certificarmos da associação entre as variáveis que acabamos de descrever,
recorremos ao teste do Qui Quadrado. Em termos das análises de significância através deste
teste, nenhuma variável (com quem vive, lugar ocupado no seio da família e problemas de
saúde) reuniu as condições necessárias para a sua aplicabilidade, o que nos leva a crer que não
há uma associação com significância estatística entre as variáveis.
Tabela 19: Cruzamento das variáveis independentes substância de início de consumo e idade de início de consumo.
10-13 anos 14-16 anos 17.20 anos 21-40 anos Total Idade de inicio de consumo N % N % N % N % N %
Haxixe 2 28.6 16 47.1 6 35.3 0 0 24 37.5 Álcool 1 14.3 1 2.9 0 0 0 0 2 3.1
Haxixe e álcool 2 28.6 5 14.7 1 5.9 0 0 8 12.5 Heroína 0 0 0 0 1 5.9 3 50.0 4 6.3 Cocaína 0 0 0 0 1 5.9 2 33.3 3 4.7
Haxixe, heroína, cocaína 2 28.6 11 32.4 8 47.1 0 0 21 32.8
Álcool, heroína e cocaína 0 0 1 2.9 0 0 1 16.7 2 3.1 Su
bstâ
ncia
inic
ial d
e C
onsu
mo
Total 7 100 34 100 17 100 6 100 64 100
Foi feito, ainda, o cruzamento das variáveis independentes substância de início de
consumo e idade de início de consumo, de modo a perceber se há associação entre o tipo de
substância consumida mediante a idade de início de consumo (tabela 19).
Relativamente aos consumos dos elementos toxicodependentes, 28,6% dos que iniciaram
os seus consumos entre os 10-13 anos experimentaram primeiramente haxixe, outros 28,6%
afirma ter iniciado com haxixe e álcool e ainda 28,6% refere ter começado com cocaína,
heroína e haxixe. Dos que iniciaram entre os 14-16 anos, 47,1% refere ter inicialmente
experimentado haxixe e entre os que iniciaram os consumos entre 17-20 anos, 47,1%
afirmam que haxixe, heroína e cocaína foram as drogas iniciais. Por fim, 50% dos que
iniciaram os seus consumos entre os 21-40 anos afirmam que o primeiro contacto foi com a
heroína.
Para nos certificarmos da associação entre as variáveis que acabamos de descrever,
recorremos ao teste do Qui Quadrado. No entanto, em termos das análises de significância as
variáveis analisadas não reuniram as condições necessárias para a aplicabilidade do teste, o
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69que nos leva a crer que não há uma associação com significância estatística entre as
variáveis.
Tabela 20: Cruzamento das variáveis independentes substância de início de consumo e tempo de consumo.
1-5 anos 6-10 anos 11-15 anos 16-30 anos Total Tempo de consumo N % N % N % N % N %
Haxixe 3 33.3 10 52.6 6 30 4 36.4 23 39 Álcool 0 0 1 5.3 1 5 0 0 2 3.4
Haxixe e álcool 0 0 3 15,8 4 20 1 9.1 8 13.6 Heroína 1 11.1 0 0 1 5 2 18.2 4 6.8 Cocaína 0 0 1 5.3 1 5 0 0 2 3.4
Haxixe, heroína, cocaína 5 55.6 2 10.5 7 35 4 36.4 18 30.5
Álcool, heroína e cocaína 0 0 2 10.5 0 0 0 0 2 3.4 Su
bstâ
ncia
inic
ial
Total 9 100 19 100 20 100 11 100 59 100
Cruzando as variáveis independentes substância de início de consumo e tempo de consumo,
de modo a perceber se há associação entre o tipo de substância consumida inicialmente e o
tempo de consumo, verificamos os resultados presentes na tabela 20.
Ou seja, dos indivíduos que consumiram entre 1-5 anos, 55,6% tiveram os seus inícios com
haxixe, heroína e cocaína. Daqueles em que o tempo de consumo foi 6-10 anos, 52,6% iniciou
com haxixe. 35% dos que consumiram de 11- 15 anos tiveram os primeiros contactos com
haxixe, heroína e cocaína. Finalmente, 36,4% dos indivíduos cujo tempo de consumo foi de
16-30 anos tiveram o haxixe como substância de consumo inicial, outros 36,4 afirmam que o
primeiro contacto foi com haxixe, heroína e cocaína.
Para nos certificarmos da associação entre as variáveis que acabamos de descrever,
recorremos ao teste do Qui Quadrado. Em termos das análises de significância as variáveis
analisadas não reuniram as condições necessárias para a aplicabilidade do teste, o que nos leva
a crer que não há uma associação com significância estatística entre as variáveis.
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703.2 Análise Inferencial
Tabela 21: Médias na comparação entre tipologia familiar, obtidas em cada subescala e rácios da FACES IV.
Tipologia familiar N Média Desvio-Padrão Erro standardizado da média
Família com elemento toxicodependente 129 44,05 22,618 1,991
Nível de coesão familiar Família sem elemento toxicodependente 127 57,20 20,500 1,819
Família com elemento toxicodependente 124 49,55 17,881 1,606 Nível de flexibilidade
familiar Família sem elemento toxicodependente 125 54,92 13,041 1,166
Família com elemento toxicodependente 123 34,44 12,127 1,093 Nível de desligamento
familiar Família sem elemento toxicodependente 126 26,79 9,820 ,875
Família com elemento toxicodependente 119 36,12 11,969 1,097 Nível de interligação
emaranhada da família Família sem elemento toxicodependente 124 32,22 10,321 ,927
Família com elemento toxicodependente 129 40,26 16,175 1,424 Nível de Rigidez das
relações na família Família sem elemento toxicodependente 123 37,73 11,528 1,039
Família com elemento toxicodependente 127 34,62 13,590 1,206
Nível de caos familiar Família sem elemento toxicodependente 121 27,89 9,925 ,902
Família com elemento toxicodependente 131 45,00 22,458 1,962 Nível de comunicação
familiar Família sem elemento toxicodependente 125 62,26 22,293 1,994
Família com elemento toxicodependente 128 27,77 19,242 1,701 Nível de satisfação
familiar Família sem elemento toxicodependente 127 47,39 25,974 2,305
Família com elemento toxicodependente 113 1,40 ,347 ,033 Rácio do nível de coesão
familiar Família sem elemento toxicodependente 118 1,71 ,445 ,041
Família com elemento toxicodependente 117 1,22 ,283 ,026 Rácio do nível de
flexibilidade familiar Família sem elemento toxicodependente 114 1,37 ,283 ,026
Família com elemento toxicodependente 106 1,31 ,298 ,029 Rácio total do nível
familiar Família sem elemento toxicodependente 106 1,56 ,301 ,029
Tabela 22: Comparação de médias entre amostras independentes para cada um dos factores da FACES IV mediante
os factores encontrados na escala americana, através do teste t para amostras independentes.
Teste de Levene para Variâncias iguais Teste t para médias iguais
F Sig. t df p (bi
caudal) Diferença de médias
Diferença do erro padrão
95% Intervalo de confiança da diferença
Mais baixo
Mais elevado
Mais baixo
Mais elevado
Mais baixo
Mais elevado Mais baixo
Mais elevado Mais baixo
Nível da coesão familiar
Assumidas variâncias iguais 1,877 ,172 -4,875 254 ,000 -13,158 2,699 -18,474 -7,843Nível de flexibilidade
Assumidas variâncias diferentes 14,077 ,000 -2,707 224,926 ,007 -5,372 1,985 -9,283 -1,461
Nível d desligamento
Assumidas variâncias iguais 1,020 ,313 5,473 247 ,000 7,645 1,397 4,894 10,397Nivel emaranhado
Assumidas variâncias iguais 3,759 ,054 2,724 241 ,007 3,900 1,432 1,079 6,721Assumidas variâncias iguais 21,054 ,000 1,420 250 ,157 2,524 1,777 -,976 6,024Nível de
Rigidez Assumidas variâncias diferentes 1,432 231,715 ,154 2,524 1,763 -,950 5,998
Nível de caos Assumidas variâncias diferentes 6,886 ,009 4,468 230,660 ,000 6,729 1,506 3,762 9,697
Nível da Comunicação
Assumidas variâncias iguais 2,031 ,155 -6,167 254 ,000 -17,256 2,798 -22,766 -11,746Nível da satisfação
Assumidas variâncias diferentes 25,624 ,000 -6,850 232,256 ,000 -19,620 2,864 -25,264 -13,977
Rácio do nível de coesão
Assumidas variâncias iguais 3,296 ,071 -6,020 229 ,000 -,317 ,053 -,421 -,213Rácio do nível de flexibilidade
Assumidas variâncias iguais 1,479 ,225 -4,177 229 ,000 -,155 ,037 -,229 -,082Rácio total Assumidas variâncias iguais ,103 ,749 -5,891 210 ,000 -,243 ,041 -,324 -,161
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71
Tivemos como objectivo comparar as diferenças de médias entre amostras independentes
em cada um dos factores, para sustermos se as diferenças entre as médias são significativas
através do Independent Sample T Test (ou teste t para amostras independentes) (tabelas 21 e
22). Este teste é precedido pelo Teste de Levene, que nos permite perceber qual o valor do teste
t a analisar e, consequentemente, a hipótese a aceitar. Assim sendo, podemos verificar que há
diferenças estatísticas altamente significativas entre as médias de famílias com e sem PI
toxicodependente nas escalas desequilibrada desligada (t=5,473 e sig<.001); desequilibrada
caótica (t=4.435 e sig<.001); escala de comunicação (t=-6.168 e sig<.001), escala de
satisfação (t=-6.858 e sig<.001); rácio do nível de coesão (t=-6.020 e sig<.001), rácio de
flexibilidade (t-4.177 e sig<.001); rácio familiar total (t=-5.891 e sig<.001); e diferenças
estatisticamente significativas nas subescalas nível de coesão (t=-4,875 e sig=,007), nível de
flexibilidade (t=-2.707 e sig=.007) e subescala emaranhada (t=2.724 e sig=.007). Por outro
lado verificamos que não há diferenças significativas entre as médias das duas tipologias
familiares, na escala desequilibrada rígida (com t=1.432 e sig=.154).
Figura 5: Comparação das médias das subescalas da FACES IV, nas duas tipologias familiares (famílias com e
sem elemento toxicodependente)
Nível da satisfaçã no
seio da família
Nível da Comunicação
entre os elementos da
família
Nível de uma relação caótica
na família
Nível de Rigidez das relações na
família
Nivel de interligação
emaranhada da família
Nível d desligamento
da família
nível de flexibilidade
nível da coesão familiar
70
60
50
40
30
20
48,9
63,3
27,7
37,4
32,4
25,5
56,359,5
Nas figuras 5 e 6 podemos verificar os resultados que acima referimos relativamente às
diferenças encontradas nos factores em análise entre as duas tipologias familiares, com e sem
elemento toxicodependente. Os factores nos quais as diferenças se acentuam entre as duas
tipologias familiares são o nível de coesão, comunicação e satisfação familiar, onde a família
sem elemento toxicodependente apresenta, em qualquer uma delas, valores superiores ou seja
mais adaptados.
Família sem PI
Toxicodependente
Família com PI Toxicodependente
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72
Figura 6: Comparação das médias das subescalas da FACES IV, nas duas tipologias familiares
familia sem elemento toxicodependente
familia com elemento toxicodependente
Mea
n70
60
50
40
30
20
Nível da satisfaçã no seio da família
Nível da Comunicação entre os elementos da família
Nível de uma relação caótica na família
Nível de Rigidez das relações na família
Nivel de interligação emaranhada da família
Nível d desligamento da família
nível de flexibilidadenível da coesão familiar
Quisemos verificar as diferenças entre as médias da nossa amostra em cada uma das
subescalas e rácios da FACES IV, segundo o sexo dos nossos inquiridos. Sendo o sexo uma
variável dicotómica, optámos pela análise do teste t para amostras independentes. Tabela 23: Médias na comparação entre sexo feminino e masculino, obtidas em cada subescala e rácios da FACES IV
Sexo do inquirido N Média Desvio padrão Erro standardizado da média
Masculino 118 48,97 22,886 2,107 Nível de coesão familiar
Feminino 134 52,19 22,449 1,939 Masculino 116 53,25 16,926 1,572 Nível de flexibilidade
familiar Feminino 129 51,57 14,850 1,307 Masculino 116 31,99 11,316 1,051 Nível de desligamento
familiar Feminino 130 29,14 11,867 1,041 Masculino 112 35,38 11,484 1,085 Nível de interligação
emaranhada da família Feminino 127 32,50 10,652 ,945 Masculino 118 41,97 15,355 1,414 Nível de Rigidez das
relações na família Feminino 131 35,82 11,842 1,035 Masculino 117 31,76 11,261 1,041
Nível de caos familiar Feminino 128 30,52 12,905 1,141 Masculino 119 51,91 23,276 2,134 Nível de comunicação
familiar feminino 133 54,86 24,679 2,140 masculino 120 35,23 23,026 2,102 Nível de satisfação familiar feminino 131 39,79 26,434 2,310
masculino 107 1,49 ,403 ,039 Rácio do nível de coesão familiar feminino 121 1,63 ,445 ,040
masculino 110 1,26 ,255 ,024 Rácio do nível de flexibilidade familiar feminino 119 1,33 ,316 ,029
masculino 101 1,38 ,294 ,029 Rácio total do nível familiar feminino 109 1,50 ,336 ,032
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73Tabela 24: Estatísticas obtidas pelo teste t para amostras independentes, para comparação das diferenças entre
médias, para a variável sexo em cada subescala e rácios da FACES IV
Teste de Levene para variâncias iguais Teste t para médias iguais
F Sig. t df
p (bi caudal)
Diferença de
médias
Diferença do erro padrão
95% Intervalo de confiança da
diferença
Mais baixo
Mais elevado
Mais baixo
Mais eleva
do Mais baixo
Mais elevado
Mais baixo
Mais elevado
Mais baixo
Nível da coesão
Assumidas variâncias iguais ,003 ,956 -1,123 250 ,262 -3,212 2,860 -8,845 2,421
nível de flexibilidade
Assumidas variâncias iguais 2,274 ,133 ,830 243 ,408 1,684 2,030 -2,315 5,683
Nível de desligamento
Assumidas variâncias iguais ,349 ,555 1,924 244 ,056 2,853 1,483 -,068 5,774
Nivel emaranhada
Assumidas variâncias iguais ,687 ,408 2,010 237 ,046 2,879 1,432 ,057 5,701
Nível de Rigidez
Assumidas variâncias diferentes
21,422 ,000 3,511 219,302 ,001 6,150 1,752 2,698 9,603
Nível de caos Assumidas variâncias iguais 2,413 ,122 ,796 243 ,427 1,237 1,554 -1,823 4,298
Nível da Comunicação
Assumidas variâncias iguais ,207 ,650 -,975 250 ,330 -2,957 3,032 -8,928 3,014
Nível da satisfação
Assumidas variâncias diferentes
7,536 ,006 -1,461 248,384 ,145 -4,561 3,123 -10,712 1,589
Rácio do nível de coesão
Assumidas variâncias iguais 1,069 ,302 -2,383 226 ,018 -,135 ,057 -,246 -,023
Rácio do nível de
flexibilidade familiar
Assumidas variâncias iguais
1,256 ,264 -1,878 227 ,062 -,072 ,038 -,147 ,004
Rácio total Assumidas variâncias iguais 1,179 ,279 -2,646 208 ,009 -,116 ,044 -,202 -,029
Segundo a leitura dos resultados obtidos pelo teste t para amostras independentes (tabelas
23 e 24), verificamos que existem diferenças nas médias das subescalas emaranhada (p=.047),
rácio do nível de coesão familiar (p=.017), rácio total do nível familiar (p=.008), e diferenças
altamente significativas na subescala rígida (p<.001), querendo isto dizer que o facto de ser do
sexo feminino ou masculino manifesta uma diferente influência nas subescalas acima referidas,
sendo sempre os valores das médias superiores no sexo feminino. Não há, porém, influência,
com significância estatística, da variável sexo relativamente às restantes subescalas.
Foi também nossa intenção apurar diferenças entre as características dos sujeitos da
amostra no que respeita às médias obtidas em cada um dos factores em análise, para o que
recorremos ao teste One-way Anova. Todavia, a aplicabilidade deste teste depende de algumas
condições, como a normalidade da distribuição e a homogeneidade de variâncias. Para o
primeiro caso, utilizámos o teste Kolmogorov-Smirnov. O nível de significância obtido foi
inferior a 0,001, levando-nos a considerar que não estamos perante uma distribuição normal.
No segundo caso, o teste de homogeneidade de variâncias mostrou também que existem
diferenças a esse nível. Perante este cenário, conclui-se que não estão reunidas as condições
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74para a realização do teste One-way Anova, optando-se, com efeito, pelo teste não paramétrico
alternativo de Kruskal-Wallis.
Tabela 25: Estatísticas obtidas pelo teste Kruskal-Wallis, para comparação entre as idades, no que respeita às
médias obtidas em cada subescala e rácios da FACES IV
Nível da
coesão familiar
Nível de
flexibilidade
familiar
Nível d desliga
mento na relação familiar
Nível de emaranhamento na relação familiar
Nível de Rigidez
na relação familiar
Nível de caos
na relação familiar
Nível de Comuni cação
Familiar
Nível da satisfação familiar
Rácio da
coesão familiar
Rácio da
flexibilidade
familiar
Rácio total do
nível familiar
Qui quadrado 2,083 3,205 1,469 10,545 3,649 1,995 6,801 6,916 4,585 5,553 6,192
df 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4
p ,720 ,524 ,832 ,032 ,456 ,737 ,147 ,140 ,333 ,235 ,185 a Teste de Kruskal Wallis b Variável agrupada: idade agrupada em classes
Através desse teste, cujos resultados se apresentam na tabela 25, concluímos que apenas no
“Nível de emaranhamento da relação familiar” existe pelo menos uma faixa etária com média
significativamente diferente da dos restantes grupos, dado que o nível de significância obtido
foi de 0,032. Em todos os restantes factores da nossa análise, os resultados obtidos levam-nos a
afirmar que as diferenças existentes entre as médias dos restantes grupos etários não são
estatisticamente significativas.
Tabela 26: Teste de Tamhane, para comparação múltipla entre médias segundo a faixa etária do inquirido
95% Intervalo de confiança V. Dependente
FACES IV Idade (i) Idade (j) Diferença
entre médias (i-j)
D.P. p Limite mínimo
Limite máximo
31-41 anos 12-20 anos 6,258 2,311 ,084 -,44 12,96 21-30 anos 5,636 2,113 ,083 -,38 11,66 42-55 anos 7,780 2,145 ,004 1,65 13,91 56 e + anos 5,130 2,381 ,304 -1,81 12,07
42-55 anos 12-20 anos -1,523 2,148 ,999 -7,81 4,76 21-30 anos -2,144 1,934 ,957 -7,67 3,38 31-41 anos -7,780 2,145 ,004 -13,91 -1,65
Escala desequilibrada
EMARANHADA
56 e + anos -2,650 2,223 ,935 -9,20 3,90
Para percebemos a que nível se situam as diferenças observadas no “Nível de
emaranhamento da relação familiar”, procedemos às comparações post hoc, designadamente ao
teste de Tamhane (tabela 26). A evidência estatística enunciada por este teste, que efectua
comparações múltiplas entre as diferentes faixas etárias, permite-nos concluir que as diferenças
com significância estatística estão entre os sujeitos de 31-41 anos e os de 42-55 anos, com a
média daqueles a ser superior à destes (com um nível de significância de 0,004). Por outras
palavras, no “Nível de emaranhamento da relação familiar”, o nível de emaranhamento nas
faixas etárias 31-41 anos é superior ao dos sujeitos das faixas etárias 42-55 anos, não se
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75verificando qualquer outra diferença entre médias digna de registo, tal como podemos ainda
visualizar na figura 7.
Figura 7: Médias obtidas no “Nível de emaranhamento da relação familiar”, segundo a faixa etária dos inquiridos.
idade agrupada em classes56 e mais anos42-55anos31-41anos21-30anos12-20anos
Mea
n N
ivel
de
inte
rliga
ção
emar
anha
da d
a fa
míli
a
40
30
20
10
0
Na mesma linha analítica, aprofundamos a influência que a existência de uma determinada
profissão exerce no panorama que traçamos atrás, ou seja, nas diferenças (ou igualdade) de
médias verificadas de acordo com a idade dos inquiridos. O teste One-way Anova foi
novamente o utilizado, para o que testamos a normalidade da distribuição e a homogeneidade
de variâncias. Contudo, tal como já havia acontecido na análise anterior, estas condições não se
verificaram, pelo que o teste de Kurskal-Wallis foi, mais uma vez, a solução recorrente.
Tabela 27: Estatísticas obtidas pelo teste Kruskal-Wallis, para comparação entre as idades, no que respeita às
médias obtidas em cada subescala e rácios da FACES IV
Nível da
coesão familia
r
Nível de
flexibilidade
familiar
Nível de desliga
mento na relação familiar
Nível de emaranha mento na relação familiar
Nível de Rigidez
na relação familiar
Nível de caos
na relação familia
r
Nível de Comuni
cação Familiar
Nível da satisfaçã
o familiar
Rácio da
coesão familia
r
Rácio da
flexibilidade
familiar
Rácio total do
nível familiar
Qui quadrado 21,392 11,275 27,269 17,128 8,998 26,572 31,567 27,671 32,924 18,120 26,970
df 12 12 12 12 12 12 12 12 12 12 12 p ,045 ,506 ,007 ,145 ,703 ,009 ,002 ,006 ,001 ,112 ,008
A interpretação do teste (tabela 27) leva-nos a afirmar que a existência de diversas
profissões nos sujeitos da amostra origina, em diversas subescalas da FACES IV, diferenças na
relação familiar. Essas diferenças só são significativas no nível de coesão (p=.045), nível de
desligamento familiar (p=.007), nível de caos (p=.009), nível de comunicação (p=.002), nível
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76de satisfação (p=.006), rácio de coesão familiar (p=.001) e rácio total do nível familiar
(p=.008).
Tabela 28: Teste de Tamhane, para comparação múltipla entre médias segundo a profissão do inquirido.
95% Intervalo de confiança V. Dependente
FACES IV Profissão (i) Profissão (j) Diferença
entre médias (i-j)
D.P. p Limite mínimo
Limite máximo
Operários, Artífices e Trabs Similares 21,727 4,850 ,016 2,35 41,10 Nível de Coesão
Familiar
Agricultores e Trabalhadores
Qualificados da Agricultura e
Pescas Trabalhadores Não
Qualificados 18,926 4,161 ,009 2,83 35,03 QSips Admins
Public, Dirigentes e Q. Sups Empresa
Trabalhadores Não Qualificados -13,716 3,075 ,005 -25,09 -2,34 Desligamento
familiar Esp Profissões
Intelectuais e Científicas
Trabalhadores Não Qualificados -10,775 2,643 ,017 -20,56 -,99
Trabalhadores Não Qualificados 28,486 5,483 ,000 8,44 48,53 QSips Admins
Public, Dirigentes e Q. Sups Empresa Sem profissão 31,753 5,639 ,000 10,68 52,82
Trabalhadores Não Qualificados 27,286 4,839 ,012 4,55 50,02
Nível de comunicação
Agricultores e Trabs Qualific Agric e Pescas Sem profissão 30,553 5,015 ,007 6,81 54,29
Operadores Instals Máquinas e Trabs
Montagem 31,533 7,452 ,040 ,80 62,27 Nível de
satisfação Familiar
QSips Admins Public, Dirigentes e Q. Sups Empresa Trabalhadores Não
Qualificados 27,843 6,384 ,010 3,70 51,99 QSips Admins
Public, Dirigentes e Q. Sups Empresa
Trabalhadores Não Qualificados ,611 ,131 ,009 ,09 1,13
Agricultores e Trabs Qualific Agric e Pescas
Trabalhadores Não Qualificados ,243 ,051 ,005 ,04 ,44
Rácio de coesão familiar
Trabalhadores Não
Qualificados Estudante -,398 ,087 ,003 -,72 -,08
Afigura-se, pois, importante detectar a que níveis se dão essas diferenças, para o que
recorremos novamente ao teste de Tamhane. Uma das diferenças observadas dá-se entre
“Quadros Superiores da Administração Publica, Dirigentes e Quadros Superiores de Empresa”
e “Trabalhadores não Qualificados”. Estas diferenças são observadas em quase todos os
factores da nossa análise, com a média dos primeiros a ser sempre superior ao dos segundos.
Por conseguinte, existe evidência estatística que nos permite afirmar que os sujeitos com
categoria profissional “Quadros Superiores da Administração Publica, Dirigentes e Quadros
Superiores de Empresa” têm níveis inferiores de desligamento, superiores de comunicação,
satisfação e rácio de coesão que os “Trabalhadores não Qualificados” (com níveis de
significância de 0,005; <,001; 0,010; 0,009 respectivamente pela ordem dos factores
apresentada na tabela 28).
Encontramos ainda diferenças altamente significativas entre “Quadros Superiores da
Administração Publica, Dirigentes e Quadros Superiores de Empresa” e “Sujeitos sem
Profissão” (p<,001) no nível de comunicação familiar.
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77A evidência estatística gerada pelo teste de Tamhane aponta ainda para diferenças entre
“Agricultores e Trabalhadores Qualificados da Agricultura e Pescas” e “Trabalhadores Não
Qualificados” (p=,009), entre os primeiros e “Operários, Artífices e Trabalhadores Similares”
(p=,016), tendo a primeira categoria mencionada médias muito superiores às restantes duas,
significando níveis de coesão familiar superiores.
A nível da Comunicação familiar, a categoria profissional “Agricultores e Trabalhadores
Qualificados da Agricultura e Pescas” manifesta diferenças significativas, com médias
superiores às categorias “Trabalhadores Não Qualificados” (p=,012) e “Sem Profissão”
(p=,007).
Relativamente ao rácio de Coesão Familiar os “Agricultores e Trabalhadores Qualificados
da Agricultura e Pescas” revelam níveis superiores ao nível do factor em análise com
diferenças estatísticas relativamente aos “Trabalhadores Não Qualificados” (p=,005).
Figura 8: Médias obtidas nas subescalas da FACES IV segundo a profissão dos inquiridos.
fi d i i id
Trabalhadores Não Qualificados
Quadros Superiores da Administração Pública, Dirigentes e Quadros
Superiores de Empresa
Operadores de Instalações e Máquinas e
Trabalhadores da Montagem
Especialistas das Profissões Intelectuais e
Científicas
Agricultores e Trabalhadores Qualificados da
Agricultura e Pescas
80
70
60
50
40
30
20
33,4
38,7
45,5
23,3
20,2
27,5
36
38,5
53,5
40,4
52,9
59,7
39,6
42
49,2
67,5
55
70,4
29,4
25,7
28,2
37,4
28,2
33,5
27 26,6
23,7
44,8
55,659,8
41,2
46,7
38,3
60
54,4
57,7
Nível da satisfaçã no seio da família
Nível da Comunicação entre os elementos da família
Nível d desligamento da família
nível da coesão familiar
Nível da satisfaçã no seio da família
Nível da Comunicação entre os elementos da família
Nível d desligamento da família
nível da coesão familiar
A figura 8 compara as médias das subescalas da FACES IV em função da profissão dos
inquiridos, ajudando-nos a perceber o que acabamos de afirmar.
Méd
ia
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78 Tabela 29: Estatísticas obtidas pelo teste Kruskal-Wallis, para comparação entre a escolaridade, no que respeita às
médias obtidas em cada subescala e rácios da FACES IV.
Nível da
coesão familia
r
Nível de
flexibilidade
familiar
Nível d desligamento na relação familiar
Nível de emaranhamento na relação familiar
Nível de Rigidez
na relação familiar
Nível de caos
na relação familia
r
Nível de Comunic
ação Familiar
Nível da satisfaçã
o familiar
Rácio da
coesão familia
r
Rácio da
flexibilidade
familiar
Rácio total do
nível familiar
Qui quadrado 13,603 4,475 28,660 23,650 8,894 30,407 7,189 20,138 31,913 23,970 27,093
df 6 6 6 6 6 6 6 6 6 6 6 p ,034 ,613 ,000 ,001 ,180 ,000 ,304 ,003 ,000 ,001 ,000
Para conseguirmos aferir a diferença entre as médias nos diferentes factores em análise, em
função da escolaridade, recorremos, uma vez mais, ao teste One-way Anova. Ao verificarmos
as condições para a sua realização, concluímos novamente pela ausência de normalidade da
distribuição. Por conseguinte, foi efectuado o teste Kruskal-Wallis, que assevera diferenças
significativas entre as médias de diversos graus escolares com Licenciatura, em diversas
subescalas da FACES IV, como podemos verificar na tabela 29.
Tabela 30: Teste de Tamhane, para comparação múltipla entre médias segundo a escolaridade do inquirido.
95% Interv. de confiança V. Dependente FACES IV Escolaridade (i) Escolaridade (j)
Diferença entre médias
(i-j) D.P. p Limite
mínimo Limite
máximo Nível de Coesão
Familiar 2ºciclo Lic. 16,867 4,930 ,021 -32,35 -1,39
1º ciclo Lic. 9,895 2,267 ,001 2,74 17,05 2ºciclo Lic. 10,630 2,331 ,001 3,26 18,00 3ºciclo Lic. 9,988 1,929 ,000 3,98 15,99
Desligamento familiar
E. Secund. Lic. 8,200 2,150 ,005 1,50 14,90 Nível de
Emaranhamento 3º ciclo Lic 8,511 2,358 ,011 1,12 15,91
Bach. 12,868 2,556 ,000 4,67 21,06 1º ciclo Lic. 8,866 2,576 ,021 ,75 16,98 Bach. 15,131 2,648 ,000 6,57 23,69 2º ciclo Lic. 11,128 2,667 ,002 2,64 19,61
3º ciclo Bach. 10,730 2,188 ,000 3,69 17,77
Nível de Caos Familiar
E. Secund. Bach. 9,193 9,193 ,070 ,002 2,48 1º ciclo 2ºciclo 15,065 4,339 ,020 1,34 28,79
3ºciclo -16,045 3,801 ,001 -27,90 -4,19 E. Secund. -15,891 4,118 ,005 -28,79 -2,99
Nível de satisfação Familiar 2ºciclo
Lic. -24,211 4,805 ,000 -39,45 -8,97 1º ciclo Lic. -,453 ,106 ,001 -,79 -,12 2º ciclo Lic. -,526 ,100 ,000 -,84 -,21 3º ciclo Lic. -,437 ,092 ,000 -,73 -,14
Rácio de coesão familiar
E. Secund. Lic. -,347 ,094 ,010 -,64 -,05 1º ciclo Lic. -,193 ,059 ,035 -,38 -,01 Rácio de
flexibilidade familiar 2ºciclo Lic. -,204 ,062 ,034 -,40 -,01
1º ciclo Lic. -,318 ,079 ,003 -,57 -,07 2ºciclo Lic. -,325 ,078 ,002 -,57 -,08 Rácio familiar
total 3º ciclo Lic. -,258 ,066 ,005 -,47 -,05
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79Mais uma vez recorremos às comparações post hoc – nomeadamente ao teste de Tamhane
– para deciframos a que nível se situam as diferenças observadas nas subescalas Nível de
Coesão Familiar, Desligamento familiar, Nível de Emaranhamento Familiar, Nível de Caos,
Nível de satisfação familiar, Rácio de coesão familiar, Rácio de flexibilidade familiar, Rácio
familiar total no 1º, 2º, 3º ciclo e licenciatura (tabela 30).
Neste caso, a evidência estatística informa-nos que as diferenças com significância
estatística estão entre licenciatura e 2º ciclo (p=.021) no factor coesão familiar, sendo os
primeiros mais coesos. Por um lado, ao nível do desligamento familiar, apresentam valores
mais elevados o ensino secundário, 3º ciclo, 1º e 2º ciclos, comparados com a licenciatura
(p=,005,p<,001,p<,001 ,p<,001 respectivamente) (tabela 30). Quanto ao factor emaranhamento
familiar, o 3º ciclo apresenta valores médios mais elevados do que a licenciatura com uma
significância de .011. No factor caos familiar, comparando o bacharelato e licenciatura com o
1º, 2º, 3º ciclos e ensino secundário, as duas primeiras apresentam valores médios inferiores.
Sujeitos com 1º ciclo, com o 3º ciclo, ensino secundário e Licenciatura manifestam maior
satisfação familiar do que com o 2º (p=,020, p=.001, p=.005 e p<.001, respectivamente).
Encontramos significância estatística quando comparamos licenciatura com 2º e 3º ciclo
(p<.001), significando que sujeitos com licenciatura, manifestam rácios de coesão mais
adaptados.
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80Figura 9: Médias observadas por factor de análise, segundo a escolaridade.
l id d d i i id
PG, mestrado, MBA,
Doutoramento
LicenciaturaBacharelatoensino secundário
3ºciclo2ºciclo1ºciclo
70
60
50
40
30
20
36,2
49,450,9
38,438
23,7
38
33,2
25,8
21
30,5
30,7
36
33,8
30,229,730,331,9
37,3
39,1
36,6
32,6
21,6
2730
30,831,432,5
47,6
61,8
55,654,6
53
45,8
48
Nível da satisfação no seio da família
Nível de uma relação caótica na família
Nivel de interligação emaranhada da família
Nível de desligamento da família
Nível da coesão familiar
Nível da satisfação no seio da família
Nível de uma relação caótica na família
Nivel de interligação emaranhada da família
Nível de desligamento da família
Nível da coesão familiar
A leitura gráfica, dada pela figura 9, mostra claramente que as médias observadas
aumentam em simultâneo com o aumento da escolaridade nos factores satisfação e coesão
familiar, ao mesmo tempo que os valores do desligamento, emaranhada e caos diminuem
conforme aumenta a escolaridade.
Com a realização deste teste é, pois, possível atestar que a capacidade comunicativa e de
satisfação familiar dos sujeitos é maior quando estes têm níveis de escolaridade mais elevados.
Tabela 31: Estatísticas obtidas pelo teste Kruskal-Wallis, para comparação entre a situação profissional, no que
respeita às médias obtidas em cada subescala e rácios da FACES IV.
Nível da
coesão familiar
Nível de
flexibilidade
familiar
Nível d desligame
nto na relação familiar
Nível de emaranham
ento na relação familiar
Nível de Rigidez
na relação familiar
Nível de caos
na relação familiar
Nível de Comunic
ação Familiar
Nível da satisfação familiar
Rácio da
coesão familiar
Rácio da
flexibilidade
familiar
Rácio total do
nível familiar
Qui quadrado 4,528 4,341 3,557 2,395 2,048 4,851 10,151 2,213 2,172 2,476 1,697
df 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 p ,339 ,362 ,469 ,664 ,727 ,303 ,038 ,697 ,704 ,649 ,791
Para conseguirmos aferir a diferença entre as médias nos diferentes factores em análise, em
função da situação profissional dos sujeitos, recorremos, uma vez mais, ao teste One-way
Méd
ia
Relações Familiares e Toxicodependência
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81Anova. Ao verificarmos as condições para a sua realização, concluímos novamente pela
ausência de normalidade da distribuição. Por conseguinte, foi efectuado o teste Kruskal-Wallis,
(tabela 31) onde tentamos perceber se existem diferenças de tendência central entre a situação
profissional dos sujeitos e os vários factores em análise. Pela tabela 31, podemos observar na
Comunicação familiar, um nível de significância de .038, o que evidencia a diferença
estatística de médias, ou seja, pelo facto dos sujeitos estarem empregados (por conta de outrem,
por conta própria) ou desempregados influencia ao factor comunicação familiar.
Tabela 32: Teste de Tamhane, para comparação múltipla entre médias segundo a situação profissional do
inquirido.
95% Interv. de confiança V. Dependente
FACES IV Situação
profissional (i) Situação
profissional (j)
Diferença entre
médias (i-j) D.P. p
Limite mínimo
Limite máximo
Nível de Comunicação
Familiar
Emp. Conta de outrem Desempregado 12,528 4,079 .026 ,89 24,17
Mais uma vez recorremos às comparações post hoc – nomeadamente ao teste de Tamhane
– para deciframos a que nível se situam as diferenças observadas na subescalas Comunicação
familiar na situação profissional dos sujeitos (tabela 32), tendo-se, neste caso, verificado que os
sujeitos empregados por conta de outrem manifestam níveis de comunicação superiores
relativamente aos sujeitos desempregados (p=.026).
Tabela 33: Estatísticas obtidas pelo teste Kruskal-Wallis, para comparação entre as doenças de que padecem os
sujeitos, no que respeita às médias obtidas em cada subescala e rácios da FACES IV.
Nível da
coesão familiar
Nível de
flexibilidade
familiar
Nível d desligame
nto na relação familiar
Nível de emaranham
ento na relação familiar
Nível de Rigidez
na relação familiar
Nível de caos
na relação familiar
Nível de Comunic
ação Familiar
Nível da satisfaçã
o familiar
Rácio da
coesão familiar
Rácio da
flexibilidade
familiar
Rácio total do
nível familiar
Qui quadrado 4,905 8,448 9,039 6,940 8,543 6,881 15,082 23,172 4,889 2,795 3,778
df 7 7 7 7 7 7 7 7 7 7 7 p ,672 ,295 ,250 ,435 ,287 ,441 ,035 ,002 ,674 ,903 ,805
Para aferir a diferença entre as médias nos diferentes factores em análise, em função das
doenças de que padecem os sujeitos, recorremos, uma vez mais, ao teste One-way Anova. Ao
verificarmos as condições para a sua realização, concluímos novamente pela ausência de
normalidade da distribuição. Por conseguinte, foi efectuado o teste Kruskal-Wallis, para
investigar a existência de alguma diferença estatística de médias entre as doenças de que
padecem os sujeitos da amostra e os factores em análise. Pela tabela 33, podemos observar que
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82essas diferenças existem na comunicação e satisfação familiares com níveis de significância de
p=.035 e p=.002, respectivamente.
Tabela 34: Teste de Tamhane, para comparação múltipla entre médias segundo as doenças de que padecem os
sujeitos
95% Intervalo de confiança V. Dependente
FACES IV Problemas de saúde (i)
Problemas de saúde (j)
Diferença entre
médias (i-j) D.P. p
Limite mínimo
Limite máximo
Nível de Satisfação Familiar
Problemas cardíacos DST 50,493 3,351 ,001 29,83 71,16
Recorrendo às comparações post hoc – teste de Tamhane – para deciframos a que nível se
situam as diferenças observadas na subescala Nível de satisfação Familiar, percebemos que
estas diferenças se encontram entre os problemas cardíacos e as DST (p=,001), tendo as
segundas uma maior influência na satisfação familiar, indiciado por valores médios.
Tabela 35: Estatísticas obtidas pelo teste Kruskal-Wallis, para comparação entre o estado civil dos sujeitos, no que
respeita às médias obtidas em cada subescala e rácios da FACES IV.
Nível da
coesão familiar
Nível de
flexibilidade
familiar
Nível d desligamento na relação familiar
Nível de emaranham
ento na relação familiar
Nível de Rigidez
na relação familiar
Nível de caos
na relação familiar
Nível de Comunic
ação Familiar
Nível da satisfação familiar
Rácio da
coesão familia
r
Rácio da
flexibilidade
familiar
Rácio total do
nível familiar
Chi-Square 6,121 3,223 16,340 7,348 15,423 6,161 7,642 8,881 15,862 8,145 14,983
df 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 p ,295 ,666 ,006 ,196 ,009 ,291 ,177 ,114 ,007 ,148 ,010
Mais uma vez, na tentativa de aferir a diferença entre as médias nos diferentes factores em
análise, em função do estado civil dos sujeitos, recorremos, ao teste One-way Anova. Ao
verificarmos as condições para a sua realização, concluímos novamente pela ausência de
normalidade da distribuição. Por conseguinte, foi efectuado o teste Kruskal-Wallis, podendo
perceber que as diferenças estatísticas de médias, no que respeita ao estado civil dos sujeitos da
amostra, são positivas ao nível do desligamento familiar (p=,006), rigidez (p=,009), rácio de
coesão familiar (p=.007) e total (p=.010) (tabela 35).
Tabela 36: Teste de Tamhane, para comparação múltipla entre médias segundo o estado civil dos sujeitos.
95% Interv. confiança V. Dependente FACES IV estado civil (i) estado civil (j)
Diferença entre
médias (i-j) D.P. p Limite
mínimo Limite
máximo
Solteiro Divorciado ,246 ,073 ,029 ,02 ,48 Rácio de Coesão Familiar 1º Casamento Divorciado ,356 ,079 ,001 ,11 ,60
Solteiro Separado ,355 ,048 ,001 ,16 ,55 Separado ,403 ,053 ,000 ,21 ,60 Rácio Familiar
Total 1º Casamento Divorciado ,255 ,070 ,017 ,03 ,48
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83Através do teste de Tamhane, verificamos que as diferenças podem ser observadas na
subescala rácio coesão familiar entre solteiros e divorciados (p=.029), e primeiro casamento e
divorciados (p=.001), em que os primeiros têm médias superiores no rácio de coesão familiar
que os segundos. Percebemos ainda diferenças entre solteiros e separados (p=.001), primeiro
casamento e separado com diferenças de médias altamente significativa (<.001) e entre
primeiro casamento e divorciado (.017), obtendo, mais uma vez, os solteiros e os que se
encontram num primeiro casamento, valores médios superiores, ao nível do rácio familiar total,
aos restantes (tabela 36).
Figura 10: Médias observadas por factor de análise, segundo o estado civil.
viúvodivorciadoseparadounião de facto1ºcasamentosolteiro
1,8
1,6
1,4
1,2
1
1,55
1,229
1,08
1,427
1,483
1,435
1,791
1,291
1,111
1,517
1,647
1,556
Rácio familiar total
Rácio do nivel de coesão familiar
Rácio familiar total
Rácio do nivel de coesão familiar
A figura 10, vem confirmar os resultados acima mencionados, sendo de fácil leitura que os
indivíduos solteiros e os que se situam num primeiro casamento dispõem de valores médios
superiores, em ambos os factores em análise, do que ao sujeitos que se encontram separados e
divorciados.
Méd
ia
Relações Familiares e Toxicodependência
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84Tabela 37: Estatísticas obtidas pelo teste Kruskal-Wallis, para comparação entre com quem vivem os sujeitos, no
que respeita às médias obtidas em cada subescala e rácios da FACES IV.
Nível da
coesão familiar
Nível de
flexibilidade
familiar
Nível d desligamento na relação familiar
Nível de emaranham
ento na relação familiar
Nível de Rigidez
na relação familiar
Nível de caos
na relação familiar
Nível de Comunic
ação Familiar
Nível da satisfaçã
o familiar
Rácio da
coesão familia
r
Rácio da
flexibilidade
familiar
Rácio total do
nível familiar
Qui quadrado 10,008 5,464 11,507 2,788 5,750 8,660 6,479 11,437 14,255 4,775 11,061
df 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 p ,075 ,362 ,042 ,733 ,331 ,123 ,262 ,043 ,014 ,444 ,050
Uma vez mais, na tentativa de aferir a diferença entre as médias nos diferentes factores em
análise, em função de com quem vivem os sujeitos, recorremos, ao teste One-way Anova. Ao
verificarmos as condições para a sua realização, concluímos novamente pela ausência de
normalidade da distribuição. Por conseguinte, foi efectuado o teste Kruskal-Wallis, que nos
permitiu verificar que a variável “com quem vive o indivíduo”, manifesta diferenças
significativas entre médias ao nível do desligamento, satisfação e rácio total familiar (p=.042,
p=.043, p=.014 e p=.050 respectivamente) (tabela 37).
Tabela 38: Teste de Tamhane, para comparação múltipla entre médias segundo com quem vivem os sujeitos
95% Intervalo de confiança V. Dependente
FACES IV com quem
vive (i) com quem
vive (j)
Diferença entre
médias (i-j) D.P. p
Limite mínimo
Limite máximo
Nível de Satisfação Familiar
Sozinho Com pais -17,006 5,109 ,030 -33,03 -,98
Para deciframos a que nível se situam as diferenças observadas na subescala Nível de
satisfação familiar, recorremos ao teste post hoc Tamhane, percebendo que é entre os sujeitos
que moram sozinhos e os que moram com os pais que encontramos valores estatisticamente
significativos (p=.030), estando familiarmente mais satisfeitos os que vivem com os pais
(valores médios de 90 versus 20) (tabela 38).
Tabela 39: Estatísticas obtidas pelo teste Kruskal-Wallis, para comparação entre estrutura da sua família, no que
respeita às médias obtidas em cada subescala e rácios da FACES IV.
Nível da
coesão familiar
Nível de
flexibilidade
familiar
Nível d desligame
nto na relação familiar
Nível de emaranhamento na relação familiar
Nível de Rigidez
na relação familiar
Nível de caos familia
r
Nível de Comunic
ação Familiar
Nível da satisfação familiar
Rácio da
coesão familiar
Rácio da
flexibilidade
familiar
Rácio total do
nível familiar
Qui quadrado 2,130 4,474 6,317 13,629 6,980 10,961 ,832 3,084 3,873 7,487 4,149
df 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 p ,546 ,215 ,097 ,003 ,073 ,012 ,842 ,379 ,276 ,058 ,246
Relações Familiares e Toxicodependência
Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra
85Na tentativa de aferir a diferença entre as médias nos diferentes factores em análise, em
função da estrutura familiar dos sujeitos, recorremos, ao teste One-way Anova. Ao verificarmos
as condições para a sua realização, concluímos novamente pela ausência de normalidade da
distribuição. Por conseguinte, foi efectuado o teste Kruskal-Wallis, através do qual verificamos
que a estrutura familiar manifesta maior influência ao nível do emaranhamento e caos familiar
(p=.003 e p=.012 respectivamente).
Tabela 40: Teste de Tamhane, para comparação múltipla entre médias segundo estrutura da família dos inquiridos.
95% Intervalo de confiança V. Dependente
FACES IV
Estrutura da sua família
(i)
Estrutura da sua família
(j)
Diferença entre
médias (i-j) D.P. p
Limite mínimo
Limite máximo
Nível Familiar Emaranhado
Dois pais (padrastos)
Apenas um dos pais 14,138 2,394 ,000 21,20 7,08
Para deciframos a que nível se situam as diferenças observadas nas subescalas Nível de
emaranhamento e caos familiar, recorremos ao teste post hoc Tamhane, em que as diferenças
são estatisticamente significativas (p<.001) ao nível de emaranhamento familiar, entre famílias
cuja estrutura familiar é composta por dois pais (padrastos) e famílias com apenas um dos pais
(valores médios de 29 versus 2), tendo as primeiras maior influência sobre o nível de
emaranhamento familiar.
Tabela 41: Estatísticas obtidas pelo teste Kruskal-Wallis, para comparação entre lugar que ocupa no seio da
família, no que respeita às médias obtidas em cada subescala e rácios da FACES IV.
Nível da
coesão familiar
Nível de
flexibilidade
familiar
Nível d desligame
nto na relação familiar
Nível de emaranham
ento na relação familiar
Nível de Rigidez
na relação familiar
Nível de caos
na relação familia
r
Nível de Comunic
ação Familiar
Nível da satisfaçã
o familiar
Rácio da
coesão familiar
Rácio da
flexibilidade
familiar
Rácio total do
nível familiar
Chi-Square 3,615 5,856 9,190 5,465 10,487 13,915 8,558 13,454 7,113 4,646 4,925 df 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 p ,606 ,320 ,102 ,362 ,063 ,016 ,128 ,019 ,212 ,461 ,425
Tentando novamente aferir a diferença entre as médias nos diferentes factores em análise,
em função do lugar que os sujeitos ocupam no seio da família, recorremos, ao teste One-way
Anova. Verificámos as condições para a sua realização, tendo concluido novamente pela
ausência de normalidade da distribuição. Recorremos ao teste Kruskal-Wallis, salientando que
o lugar ocupado pelo sujeito, no seio da sua família, manifesta diferenças significativas entre
médias nas subescalas relativas ao nível de caos e nível satisfação familiar (p=.016 e p=.019
respectivamente).
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86 Tabela 42: Teste de Tamhane, comparação múltipla entre médias segundo lugar que ocupa no seio da família.
95% Intervalo de confiança V. Dependente
FACES IV
Lugar que ocupa no seio da
família (i)
Lugar que ocupa no seio da
família (j)
Diferença entre
médias (i-j) D.P. p
Limite mínimo
Limite máximo
Pai Outro 28,833 3,688 ,000 16,86 40,80 Mãe Outro 24,077 3,382 ,000 12,91 35,24
1º Filho Outro 31,097 3,263 ,000 20,18 42,01 2º Filho Outro 19,071 4,370 ,002 5,05 33,09
Nível de Satisfação Familiar
3º e mais Filho Outro 19,967 5,341 ,029 1,41 38,52
Recorremos ao teste post hoc Tamhane, e percebemos que as principais diferenças
encontradas são ao nível da satisfação familiar, em que verificamos diferenças altamente
significativas (p<.001) entre a posição de pai, mãe e primeiro filho face à posição de “outro”
(tio, avó, etc), e diferenças entre segundo, terceiro e mais filho face à posição de “outro”
(p=.002 e p=.029 respectivamente). O facto de ocupar o lugar de outro no seio familiar,
representa um factor de menor satisfação familiar do que ocupar o lugar de pai, mãe ou filhos,
funcionando estes como factores de protecção familiar ao nível da satisfação.
Figura 11: Médias observadas por factor de análise, segundo o lugar ocupado pelo sujeito no seio da sua família.
outro (tio, avó, etc)
3º ou mais filho
2ºfilho1ºfilhomãepai
50
40
30
20
10
11,5
28,4
30,9
42,6
36,2
41,1
45
35,5
32,7
27,7
33,6
30,3
Nível da satisfaçã no seio da família
Nível de uma relação caótica na família
Nível da satisfaçã no seio da família
Nível de uma relação caótica na família
A figura 11 vem confirmar os resultados acima mencionados, sendo fácil verificar, através
da linha azul, a satisfação familiar mediante o lugar ocupado no seio familiar, manifestando
valores médios mais elevados o pai, mãe e filhos do que o lugar “outro” no seio familiar.
Méd
ia
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87
Capítulo IV – Discussão dos Resultados
A versão final da FACES IV é baseada quase numa década de pesquisa e é a mais recente
de uma série de desenvolvimentos dos instrumentos das FACES, que remontam há quase 25
anos. Observamos o desenvolvimento das escalas com vista a alcançar os aspectos
equilibrados e desequilibrados do funcionamento familiar como um avanço no
desenvolvimento do instrumento e na avaliação da família no geral. Foi desenvolvido um novo
conjunto de seis escalas de avaliação da família para efeitos de pesquisa e uso clínico que
avaliassem as dimensões da coesão e da flexibilidade. A criação do rácio das pontuações
equilibradas e desequilibradas é uma ferramenta poderosa que fornece também uma maneira
de avaliar a Curvilinearidade (hipótese central do Modelo Circumplexo, que sustenta a
escala).A escala tem níveis de confiabilidade que a configuram apropriada para a pesquisa e a
avaliação da família, na população americana para a qual foi aferida.
Nesse sentido, no nosso estudo, procurámos medir a validade de constructo da tradução da
nossa escala aplicada à nossa amostra, tendo verificado uma estrutura factorial de quinze
factores, que corresponderia a uma percentagem acumulada de variância explicada de 65,9%;
no entanto, apenas obtivemos significância estatística em três factores, o que passou a explicar
27,8% da variância da escala (< 59%). Relativamente à fidelidade, a nossa escala apresenta um
alpha de Cronbach de .792, o que demonstra uma capacidade discriminativa aceitável da
mesma (quando remetida para os quinze factores inicialmente encontrados).
Em termos de caracterização da nossa amostra, a maior parte dos sujeitos
toxicodependentes (90.9%) são do sexo masculino, situando-se essencialmente nas faixas
etárias dos 21 a 41 anos, sendo as restantes categorias familiares maioritariamente do sexo
feminino. Ainda a maior parte dos sujeitos toxicodependentes afirma viver com os pais, e os
seus familiares afirmam viver com parceiro e filhos maioritariamente. O que vem de encontro
ao que afirmam Stanton e colaboradores (1982) que referem que pelo menos dois terços dos
heroinómanos do sexo masculino (que constitui 75 a 85% da população toxicodependente)
com pelo menos 35 anos vive com a família e a maior parte dos restantes (80 a 85%) mantém
ligações com as figuras parentais. Apesar de não ser possível traçar um perfil desta tipologia
familiar, existem características comuns que permitem apontar algumas modalidades de
interacção familiar e compreender de forma mais clara a grande resistência à mudança que
tendem a apresentar (Stanton et al., 1982). Angel e Angel (2005), realçam a enorme
incapacidade dos pais em se posicionarem como pais, tornando-se impossível a autonomização
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88do filho adolescente, pois este tornou-se um instrumento necessário aos pais para exprimir a
sua posição na estrutura familiar. Pinheiro e colaboradores (2006), por sua vez, encontraram
grande percepção da existência de mecanismos e triangulação entre três elementos da tríade
familiar, indicando um grande risco de disfuncionamento ao longo da proximidade emocional.
Stanton e Todd (1982) consideram, assim, que a dependência à droga pode funcionar como um
mecanismo estabilizador quando a homeostasia familiar se encontra em ruptura. Outros
estudos têm vindo a confirmar esta suposição (Reilly, 1975; Weidman, 1983; Leyine, 1985).
Weidman (1983) diz-nos ainda que o consumidor de drogas é alguém que, desde a infância,
nunca se separou dos pais, mantendo uma relação simbiótica dependente, nunca tendo sido
encorajada a sua individuação na família.
Outro resultado saliente no nosso estudo foi o facto dos sujeitos toxicodependentes
possuírem essencialmente o 3º ciclo e ensino secundário, tendo metade dos elementos de
famílias sem elemento toxicodependente licenciatura, ou seja, os primeiros apresentam níveis
de escolaridade inferiores. Neste seguimento, estudos mostraram a influência de variáveis
ligadas ao meio familiar no consumo de drogas na adolescência, sendo o progresso na escola
(correlação negativa) os factores altamente correlacionados com o uso de drogas (Angel &
Angel, 2005).
Relativamente ao estado civil, a maioria dos toxicodependentes da nossa amostra é
“solteiro”, e uma percentagem significativa de “divorciados” encontrando-se os seus familiares
bem como os elementos da família sem elemento toxicodependente maioritariamente num
primeiro casamento. Rosh (1988) encontrou nas famílias de toxicómanos uma taxa de
divórcios e separações superior à população geral, da mesma forma que Sousa e colaboradores
(cit. in Gameiro, 1993).
No que remete à estrutura familiar, a maior parte das famílias com ou sem elemento
toxicodependente afirma ter dois pais biológicos, mas uma percentagem das famílias com
elemento toxicodependente afirma ter apenas um dos pais, o que vai de encontro à observação
de Fleming (Figueiredo et al., 1988) em que a proporção de sujeitos que consomem droga é
significativamente maior nas situações de ausência de um ou ambos os pais por falecimento.
Remetendo para a situação profissional, a maioria dos toxicodependentes encontra-se
desempregada, contrariamente aos seus familiares e aos elementos da família sem elemento
toxicodependente que se encontram reformados, empregados por conta de outrem e alguns, por
conta própria. Corroborando esta informação, em França, Fréjaville, Davidson e Choquet
(1977) mostram que a maior parte dos consumidores regulares de droga pertencem ao extracto
da população inactiva. Por outro lado, Pritchard, Fielding, Choudry e Cox (1986) mostram a
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89existência de correlações significativas entre a taxa elevada de desemprego do pai e o consumo
de drogas.
Focando os problemas de saúde dos sujeitos na nossa amostra, verificamos que a maior
parte dos sujeitos toxicodependentes (90%) apresentam doenças sexualmente transmissíveis e
33% dos seus familiares também, manifestando, ainda, 22% problemas do sistema nervoso.
Neste contexto, Duterte e colaboradores (2003) referem que a associação entre o uso e abuso
de drogas e a depressão foi feita em inúmeros estudos. Na mesma medida em que, de acordo
com a teoria dos sistemas familiares, cada membro afecta e é afectado pelos outros, assumindo
a noção de causalidade uma dimensão circular, não ficando a família indiferente à situação dos
consumos (Angel & Angel, 2005).
Referindo-nos ao historial de consumos, alguns sujeitos da nossa amostra iniciaram os seus
consumos entre os 10-13 anos, outros entre os 14-16 anos, ainda entre os 17-20 anos e, por fim,
entre os 21 e 40 anos, começando os mais novos essencialmente por haxixe e álcool e estes
últimos pela cocaína. Estudos explicam o consumo do tóxico na adolescência como um
contributo para o evitamento (da família ou jovem) do cumprimento das tarefas
desenvolvimentais desta fase sendo que o ciclo normativo não segue o caminho esperado
(Relvas, 1998). Frazão e colaboradores (2005) relacionam o uso de droga como factor de
interacção perante a existência de uma baixa auto-estima, sentimento de diferença,
insegurança, não-aceitação de si mesmo, carência afectiva, abandono, solidão, incompreensão,
dificuldade de estabelecer amizades.
Comparando agora as diferentes formas de relacionamento entre as duas tipologias
familiares verificamos, no nosso estudo, que famílias sem elemento toxicodependente
apresentam valores mais adaptados de coesão e flexibilidade, indo de encontro a diversos
estudos anteriores, nomeadamente de Olson e Killorin (1984), que encontraram diferenças
significativas, com uma maior percentagem de famílias dependentes de tipos extremos do que
as famílias não dependentes, tendo estas últimas maiores percentagens de níveis equilibrados.
Minuchin (1974) defende que à medida que há alterações no ciclo vital, nomeadamente quando
uma criança cresce, os subsistemas deveriam mover-se em direcção ao desligamento. No
entanto, sistemas que continuam a funcionar nos extremos desta dimensão frequentemente se
apresentam com problemas. Da mesma forma que corroborando o que encontrámos
relativamente à coesão familiar, Cannon (1976) defende ser fraca em famílias com elementos
toxicodependentes, e os membros pouco valorizados e reconhecidos, ainda Barnes, Banerjee e
Farrell (1995) observam que a evolução do stress, mudanças de comportamento e consumo de
álcool em adolescentes filhos de pais alcoólicos, se apresentam mais frequentemente em
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90famílias com baixa coesão, e diminuem quando a coesão aumenta. Bahr (1979) afirma que
quanto maior for o apego à família, menor é a probabilidade de condutas desviantes. Westley e
Epstein (1969) verificaram, ainda, que as famílias que encorajavam a autonomia tinham
adolescentes significativamente mais saudáveis emocionalmente. Schill e colaboradores (1991)
encontraram ligada ao ambiente familiar com falta de coesão, uma personalidade auto
derrotista e foi ainda referida a estabilidade e bom ambiente familiar, o diálogo entre pais e
filhos, como alguns factores de protecção eficazes relativamente ao consumo de drogas (Angel
& Angel, 2005).
Da mesma forma que no nosso estudo encontrámos em famílias sem elemento
toxicodependente valores mais baixos de desligamento, emaranhamento, rigidez e caos,
Matlack e colaboradores (1994) defendem que um equilíbrio entre a estrutura e a flexibilidade
foi encontrado na origem de um óptimo funcionamento familiar, enquanto que os extremos de
rigidez e caos determinaram um declínio no funcionamento familiar. Também o National
Institute of Drug Abuse (NIDA, 2002) apontou como factores de risco o ambiente familiar
caótico. Relativamente à rigidez, um estudo de Frazão e colaboradores (2005) refere que as
famílias se caracterizavam, por um lado, por terem limites difusos e por outro, exercendo o seu
papel com excesso de regras e rigidez, e Stanton e Todd (1982) constatam que as famílias dos
consumidores de heroína apresentam papéis familiares rígidos e estereotipados, bem como
padrões de comunicação mais rígidos. Neste seguimento, Angel e Angel (2005) referem que os
sistemas familiares rígidos se caracterizam pelo não questionamento acerca do seu modo de
funcionamento, fraca adesão à estratégia terapêutica proposta, as famílias apresentam-se de
forma enredada, sem distâncias intergeracionais. Por sua vez Jurich e colaboradores (1985)
mostram a disfuncionalidade de uma disciplina inconsistente, pela parca definição das regras,
ou pela rigidez de limites de comportamento ou, ainda, pela utilização de práticas educativas
que privilegiam estilo de educação ‘autoritários’ ou ‘laissez faire’.
Verificámos, ainda, no nosso estudo, que famílias sem elemento toxicodependente
apresentam valores mais adaptados de comunicação e satisfação, verificando alguns autores
que a monitorização percebida, comunicação, envolvimento e actividades realizadas em
conjunto na família, têm mostrado repetidamente uma relação negativa com os consumos de
álcool pelo adolescente (Bahr et al.,1995; Vakalahi et al., 2001; Kuntshe & Kuendig, 2006).
Algumas investigações têm vindo a mostrar que falhas na capacidade de comunicação entre os
membros é um aspecto disfuncional. Adolescentes consumidores sentem que os pais
bloqueiam a comunicação e, os pais negam esta falha para evitar ouvir coisas negativas ou
desagradáveis (Jurich, Polon, Jurich, & Bates, 1985). Kirschenbaum, Leonoff e Maliano (1974)
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91descrevem, ainda, os padrões de comunicação e interacção característicos de famílias de
toxicodependentes, constando de grandes níveis de conflito, estilo autoritário dos pais, falta de
intimidade, crítica frequente ao filho, isolamento emocional, falta de prazer na relação. Para
Recio e colaboradores (1991), a insatisfação nos jovens, face às relações familiares, tem uma
alta correlação com o consumo de substâncias psicoactivas, sendo a qualidade da relação do
adolescente com os seus pais o factor protector mais eficaz contra o consumo de drogas (in
Motta, 1998). Chabrol (1992), por sua vez, defende que alguns factores familiares podem estar
na origem do consumo de drogas, nomeadamente as situações familiares, relações conjugais,
relações familiares, tipo de educação, os maus-tratos familiares, entre outras.
Pela análise de todos os elementos teórico-práticos apresentados, constatamos uma relação
intrínseca destes elementos, ou seja, verificamos diferenças nas relações entre as famílias em
ambas as tipologias familiares, no entanto sem significância estatística, por diversos factores:
- pela dimensão e limitações da amostra,
- pelo número de factores (15) encontrados na análise factorial para a nossa amostra com
uma percentagem significativa de variância explicada face aos (5) encontrados para a
população americana para descrever as relações familiares,
- pelas alterações que vêm surgindo nas relações no seio das famílias ao longo de gerações,
que vêm acompanhando o evoluir dos tempos, tecnologias, de uma sociedade em crescente
stress, consumo e falta de tempo,
- ainda pelas cada vez mais ténues linhas entre o funcional e o disfuncional, posicionando-
-se as relações e os relacionamentos a cada passo mais nos extremos. Atendendo a que estamos
num permanente contínuo ao longo do ciclo vital, onde surgem ambos os momentos de acerto
e desacerto, verificam-se, ao longo do tempo, mais escassos os momentos em equilíbrio.
Pudemos já observar indícios desta evolução num estudo longitudinal de Van der Vorst,
Engels, Meeus, Dekivíc e Vermulst (2006, in Chassin & Handley, 2006) que afirmam não ter
encontrado a ligação parental como prospectiva preditora de hábitos de bebida ou como
moderadora do efeito do controlo parental no comportamento de beber por parte do adolescente.
Isto é surpreendente atendendo a que, teoricamente, a ligação parental deveria aumentar o poder
das mensagens de sociabilização parentais, pois crianças seguramente ligadas confiam que os
pais os conduzirão apropriadamente e são mais receptivas ao controlo parental (Grusec &
Goodnow, 1994; Grusec et al., 2000, in Chassin & Handley, 2006).
Também Alarcão (2000, p.57) referindo Minuchin (1979), relativamente à tipologia
estrutural familiar, afirma que “as famílias podem ser escalonadas num contínuo que vai de um
pólo emaranhado (fronteiras difusas) a um pólo desmembrado (fronteiras rígidas). Ainda,
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92Minuchin (1979, in Alarcão, 2000) salienta que não existem diferenças qualitativas entre famílias
funcionais e disfuncionais, passando estas por períodos de maior emaranhamento ou
desmembramento mediante a sua forma de adaptação às etapas do ciclo vital, aos diferentes tipos
de limites verificados no seio de uma mesma família entre os vários elementos, atendendo ao
contexto cultural em que as famílias se inserem, da mesma forma que à história familiar,
atendendo sempre ao aspecto dinâmico desta tão complexa estrutura que é a familiar.
Remetendo agora para futuras investigações, para os autores da versão original, esta deve
examinar se a estrutura factorial, fidelidades, habilidades discriminativas do instrumento
FACES podem ser replicadas. É recomendado pelos mesmos, que análises futuras às estruturas
factoriais utilizem o modelo estrutural equacional como uma técnica factorial confirmatória da
apresentada na pesquisa presente. Também sugerem que as escalas desenvolvidas sejam
utilizadas com grupos de sujeitos clínicos e não clínicos para testar em maior profundidade a
habilidade discriminativa das mesmas. Há ainda planos de recolha de dados para usos futuros
da escala, pelos autores da escala, de modo a desenvolver um grupo de controlo mais
representativo.
Apesar das suas actuais limitações, esta última versão (IV) da Escala FACES é muito mais
refinada que as anteriores versões da FACES (I, II e III), com maior poder diferenciador e
discriminativo dos diferentes posicionamentos das famílias no enquadramento do seu
funcionamento e relações. É uma versão de simples aplicação, sendo um bom instrumento para
a aferição da coesão e flexibilidade familiar, devendo ser aferido para a população portuguesa,
a fim de permitir uma maior significância dos resultados obtidos e maior cientificidade dos
mesmos quer no âmbito da investigação quer na sua utilização na clínica.
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93
Capítulo V – Conclusões
Chegados a esta fase do trabalho, importa reter as principais conclusões a que chegámos,
após a análise e discussão dos resultados, feitos nos capítulos anteriores. Ao conceptualizar a
íntima relação entre família, relação intra familiar (coesão, flexibilidade, comunicação e
satisfação) em famílias com e sem elemento toxicodependente, surge este trabalho.
- Verificamos que, na sua maioria, os sujeitos toxicodependentes são do sexo masculino,
maioritariamente entre 21 e 41 anos, incidindo os seus familiares na faixa dos 56 e mais anos.
Os sujeitos toxicodependentes são na sua maioria solteiros e divorciados, vivendo grande parte
deles com os pais. Os seus elementos familiares e os elementos familiares sem sujeito
toxicodependente encontram-se mais frequentemente num primeiro casamento, vivendo
principalmente com parceiro e filhos. Os sujeitos solteiros e num primeiro casamento revelam
valores mais adaptados ao nível do rácio de coesão e rácio total familiar do que os sujeitos
separados e divorciados.
- Relativamente à escolaridade, as famílias com sujeito toxicodependente tendem a apresentar
níveis mais baixos do que as famílias sem elemento toxicodependente. Os níveis de satisfação
e coesão familiar aumentam à medida que a escolaridade aumenta, por outro lado diminuem os
níveis de caos, desligamento e emaranhamento familiar. Encontrámos ainda maiores taxas de
desemprego em elementos toxicodependentes do que nos restantes elementos da amostra,
estando ainda relacionado com os níveis de comunicação, sendo estes inferiores para sujeitos
desempregados.
- Ao abordar a questão da saúde, é notória a elevada percentagem de elementos
toxicodependentes que sofrem de doenças sexualmente transmissíveis, padecendo também os
seus familiares desta patologia bem como de problemas do sistema nervoso e reumatismo. Os
sujeitos padecentes de doenças sexualmente transmissíveis manifestam níveis inferiores de
satisfação familiar.
- No que remete para o lugar ocupado no seio da família, entendemos como factores
protectores ao nível da satisfação familiar, o facto de ocupar a posição de pai, mãe, ou filho.
- Pela análise de todos os elementos teórico-práticos apresentados, constatamos uma relação
intrínseca destes elementos, ou seja, verificámos diferenças nas relações familiares entre ambas
as tipologias familiares, no entanto sem significância estatística, por diversos factores
nomeadamente pelas características e dimensão da nossa amostra.
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94- Outro conjunto de resultados do nosso estudo, mostra-nos que o instrumento utilizado
(FACES IV) possui sensibilidade na discriminação dos sujeitos e boa consistência interna para
a escala na sua globalidade. No entanto, estes resultados espelham um conjunto de quinze
factores a que chegámos através da análise factorial de componentes principais para a nossa
amostra. Devemos aqui realçar o facto de tal não acontecer quando aplicado à realidade
americana,
- Embora os resultados encontrados no nosso estudo vão de encontro aos referidos por outras
investigações, persistem alguns handicaps que se prendem com a utilização parcial do
instrumento. É verdade que a FACES recebeu críticas relacionadas com o facto de ignorar as
peculiaridades existentes nas relações de cada díade ou subsistema (Cole & Jordan, 1989)
como, por exemplo, numa situação na qual uma filha percebe os seus relacionamentos com a
mãe (díade filha-mãe) e com o pai (díade filha-pai) como coesos e, ao mesmo tempo, note uma
baixa coesão entre os pais (díade pai-mãe). Neste caso, ao responder à FACES, o filho terá que
dar pontuações médias para toda a família, colocando em segundo plano as diferenças
existentes no relacionamento de cada díade em separado, diminuindo assim o poder da escala
em conhecer especificidades da família (Teodoro, 2005, in Teodoro, 2006).
- Do ponto de vista clínico, considera-se que a toxicodependência aponta para a necessidade de
se implementar uma abordagem sistémica nos programas de tratamento e, mais
especificamente, as terapias familiares, em complementaridade com outras abordagens
terapêuticas. O modelo terapêutico que mais se adequa, segundo Fleming (1996) é baseado na
escuta e na compreensão da pessoa na sua individualidade, numa intervenção de longa duração
e visando alterações na sua personalidade.
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ANEXOS
Anexo I: FACES IV (versão original)
Anexo II: Questionário Sociodemográfico e FACES IV (Protocolo adaptado).
Anexo III: Tabelas de cotação da FACES IV.
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Anexo I: FACES IV (versão original)
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FACES IV Questionnaire
Directions to Family Members: 1. All family members over the age 12 can complete FACES IV. 2. Family members should complete the instrument independently, not consulting or discussing their responses until they have been completed. 3. Fill in the corresponding number in the space on the provided answer sheet.
1 2 3 4 5 Strongly Disagree
Generally Disagree Undecided Generally
Agree Strongly
Agree 1. Family members are involved in each others lives. 2. Our family tries new ways of dealing with problems. 3. We get along better with people outside our family than inside. 4. We spend too much time together. 5. There are strict consequences for breaking the rules in our family. 6. We never seem to get organized in our family. 7. Family members feel very close to each other. 8. Parents equally share leadership in our family. 9. Family members seem to avoid contact with each other when at home. 10. Family members feel pressured to spend most free time together. 11. There are clear consequences when a family member does something wrong. 12. It is hard to know who the leader is in our family. 13. Family members are supportive of each other during difficult times. 14. Discipline is fair in our family. 15. Family members know very little about the friends of other family members. 16. Family members are too dependent on each other. 17. Our family has a rule for almost every possible situation. 18. Things do not get done in our family. 19. Family members consult other family members on important decisions. 20. My family is able to adjust to change when necessary. 21. Family members are on their own when there is a problem to be solved. 22. Family members have little need for friends outside the family. 23. Our family is highly organized. 24. It is unclear who is responsible for things (chores, activities) in our family. 25. Family members like to spend some of their free time with each other. 26. We shift household responsibilities from person to person. 27. Our family seldom does things together. 28. We feel too connected to each other. 29. Our family becomes frustrated when there is a change in our plans or routines. 30. There is no leadership in our family.
1 2 3 4 5 Strongly Disagree
Generally Disagree Undecided Generally
Agree Strongly
Agree
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10531. Although family members have individual interests, they still participant in family activities. 32. We have clear rules and roles in our family. 33. Family members seldom depend on each other. 34. We resent family members doing things outside the family. 35. It is important to follow the rules in our family. 36. Our family has a hard time keeping track of who does various household tasks. 37. Our family has a good balance of separateness and closeness. 38. When problems arise, we compromise. 39. Family members mainly operate independently. 40. Family members feel guilty if they want to spend time away from the family. 41. Once a decision is made, it is very difficult to modify that decision. 42. Our family feels hectic and disorganized. 43. Family members are satisfied with how they communicate with each other. 44. Family members are very good listeners. 45. Family members express affection to each other. 46. Family members are able to ask each other for what they want. 47. Family members can calmly discuss problems with each other. 48. Family members discuss their ideas and beliefs with each other. 49. When family members ask questions of each other, they get honest answers. 50. Family members try to understand each other’s feelings 51. When angry, family members seldom say negative things about each other. 52. Family members express their true feelings to each other.
1 2 3 4 5 Very
Dissatisfied Somewhat Dissatisfied
Generally Satisfied
Very Satisfied
Extremely Satisfied
How satisfied are you with: 53. The degree of closeness between family members. 54. Your family’s ability to cope with stress. 55. Your family’s ability to be flexible. 56. Your family’s ability to share positive experiences. 57. The quality of communication between family members. 58. Your family’s ability to resolve conflicts. 59. The amount of time you spend together as a family. 60. The way problems are discussed. 61. The fairness of criticism in your family. 62. Family members concern for each other.
Thank you for Your Cooperation!
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Anexo II: Questionário Sociodemográfico e FACES IV (Protocolo adaptado).
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Toda a informação recolhida através deste questionário é confidencial, não escreva o seu nome, ou algo que o identifique em parte nenhuma das folhas.
QUESTIONÁRIO DE CARACTERIZAÇÃO SOCIODEMOGRÁFICA (FAMÍLIA)
Data do preenchimento: ____/____/______
DADOS BIOGRÁFICOS
Identificação por número (igual à do familiar) __________ Nacionalidade Sexo: F___ M____ Idade ______ anos Local de residência Profissão: 0. Membros das forças armadas 1. Quadros Superiores da Administração Pública, Dirigentes e
Quadros Superiores de Empresa
2. Especialistas das Profissões Intelectuais e Científicas
3. Técnicos e Profissionais de Nível Intermédio
4. Pessoal Administrativo e Similares
5. Pessoal dos Serviços e Vendedores 6. Agricultores e Trabalhadores Qualificados da Agricultura e
Pescas
7. Operários, Artífices e Trabalhadores Similares 8. Operadores de Instalações e Máquinas e Trabalhadores da
Montagem
9. Trabalhadores Não Qualificados
10. Estudante
11. Doméstica
12. Sem profissão
Escolaridade/Educação: 1ºciclo (1ª a 4ª classe)
2ºciclo (5º e 6º)
3ºciclo (7º, 8º e 9º)
Secundário (10º, 11º, 12º)
Bacharelato
Licenciatura
Pós graduação/Mestrado
Doutoramento Situação profissional (profissão principal) Empregado(a) por conta própria
Empregado(a) por conta de outrem
Desempregado(a)
Reformado(a)
Pensionista
Problema(s) de saúde/doença(s)?_____ Qual ou quais? ________________________________________ _______________________________________________________________________________________ Estado civil: Solteiro
Casado É uma primeira relação de casal?
União de facto Sim Não
Separado
Divorciado
Viúvo
Tem filhos? ____ Quantos?____ De que idades?___anos; ____anos; ____anos; ____ anos; _____ anos.
Com quem vive: Sozinho
Com pais
Com parceiro/a
Com outros
Com filho(s)
Com parceiro/a e filho(s)
USE A SITUAÇÃO DA FAMÍLIA ACTUAL PARA RESPONDER. Qual a estrutura da sua família? Dois pais (biológicos)
Dois pais (padrastos)
Dois pais (adoptivos)
Dois pais (do mesmo sexo)
Apenas um dos pais
Que lugar ocupa no seio da sua família? Pai
Mãe
1º filho
2º filho
3º ou mais filho
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108Toda a informação recolhida através deste questionário é confidencial, não escreva o seu nome, ou algo que o identifique em parte nenhuma das folhas.
QUESTIONÁRIO DE CARACTERIZAÇÃO SOCIODEMOGRÁFICA (DEPENDENTE) Data do preenchimento: ____/____/______
DADOS BIOGRÁFICOS Identificação do sujeito (4 dígitos) __________ Nacionalidade Sexo: F___ M____ Idade ______ anos Local de residência Profissão:
0. Membros das forças armadas 1. Quadros Superiores da Administração Pública, Dirigentes e Quadros Superiores
de Empresa
2. Especialistas das Profissões Intelectuais e Científicas
3. Técnicos e Profissionais de Nível Intermédio
4. Pessoal Administrativo e Similares
5. Pessoal dos Serviços e Vendedores
6. Agricultores e Trabalhadores Qualificados da Agricultura e Pescas
7. Operários, Artífices e Trabalhadores Similares
8. Operadores de Instalações e Máquinas e Trabalhadores da Montagem
9. Trabalhadores Não Qualificados
10. Estudante
11. Doméstica
12. Sem profissão
Escolaridade/Educação:
1ºciclo (1ª a 4ª classe)
2ºciclo (5º e 6º)
3ºciclo (7º, 8º e 9º)
Secundário (10º, 11º, 12º)
Bacharelato
Licenciatura
Pós graduação/Mestrado
Doutoramento Situação profissional (profissão principal)
Empregado(a) por conta própria
Empregado(a) por conta de outrem
Desempregado(a)
Reformado(a)
Pensionista
Problema(s) de saúde/doença(s)?______ Qual ou quais? __________________ Problemas com a justiça? Sim__ Não __ Estado civil:
Solteiro
Casado É uma primeira relação de casal?
União de facto Sim Não
Separado
Divorciado
Viúvo
Tem filhos? ____ Quantos?____ De que idades?___anos; ____anos; ____anos; ____ anos; _____ anos.
Com quem vive:
Sozinho
Com pais
Com parceiro/a
Com outros
Com filho(s)
Com parceiro/a e filho(s)
Use a situação da família actual para responder. Se não tem, use a da família de origem. Qual a estrutura da sua família?
Dois pais (biológicos)
Dois pais (padrastos)
Dois pais (adoptivos)
Dois pais (do mesmo sexo)
Apenas um dos pais
Que lugar ocupa no seio da sua família?
Pai
Mãe
1º filho
2º filho
3º ou mais filho HISTÓRIA DE CONSUMOS Idade de início de consumos? _________ anos. Substâncias consumidas inicialmente? _______________; _______________; __________________; ______________.
Qual é a sua substância de eleição? ____ ___________________________________ Que consome há ____________ anos.
Quantas desintoxicações já realizou? ________________
Quantos tratamentos em comunidade terapêutica? _______________________
Há quanto tempo se encontra neste tratamento? _____dias, ______meses ______ anos
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109Agradeço a sua colaboração para este estudo, no âmbito da minha Tese de Mestrado, pela Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, acerca das Relações Familiares. Os Questionários devem ser preenchidos um por si e outro por um elemento da sua família.
Toda a informação recolhida através deste questionário é confidencial. Não escreva o seu nome, ou algo que o identifique em parte nenhuma das folhas. Atribuímos um número/código igual ao seu questionário e ao do seu familiar para que ambos os questionários correspondam à mesma família.
Inteiramente ao vosso dispor para qualquer esclarecimento. Joana Rebelo (T:938284807)
QUESTIONÁRIO DE CARACTERIZAÇÃO SOCIODEMOGRÁFICA DADOS BIOGRÁFICOS Data do preenchimento: ____/____/______ Identificação por número (igual à do familiar) __________ Sexo: F___ M____
Nacionalidade Idade ______ anos
Local de residência Profissão: 0. Membros das forças armadas 1. Quadros Superiores da Administração Pública, Dirigentes e
Quadros Superiores de Empresa
2. Especialistas das Profissões Intelectuais e Científicas
3. Técnicos e Profissionais de Nível Intermédio
4. Pessoal Administrativo e Similares
5. Pessoal dos Serviços e Vendedores 6. Agricultores e Trabalhadores Qualificados da Agricultura e
Pescas
7. Operários, Artífices e Trabalhadores Similares 8. Operadores de Instalações e Máquinas e Trabalhadores da
Montagem
9. Trabalhadores Não Qualificados
10. Estudante
11. Doméstica
12. Sem profissão
Escolaridade/Educação: 1ºciclo (1ª a 4ª classe)
2ºciclo (5º e 6º)
3ºciclo (7º, 8º e 9º)
Secundário (10º, 11º, 12º)
Bacharelato
Licenciatura
Pós graduação/Mestrado
Doutoramento Situação profissional (profissão principal) Empregado(a) por conta própria
Empregado(a) por conta de outrem
Desempregado(a)
Reformado(a)
Pensionista Problema(s) de saúde/doença(s)?_____ Qual ou quais? ________________________________________ Estado civil: Solteiro
Casado É uma primeira relação de casal?
União de facto Sim Não
Separado
Divorciado
Viúvo
Com quem vive: Sozinho
Com pais
Com parceiro/a
Com outros
Com filho(s)
Com parceiro/a e filho(s)
Tem filhos? ____ Quantos?____ De que idades?___anos; ____anos; ____anos; ____ anos; ____ anos.
USE A SITUAÇÃO DA FAMÍLIA ACTUAL PARA RESPONDER. Qual a estrutura da sua família? Dois pais (biológicos)
Dois pais (padrastos)
Dois pais (adoptivos)
Dois pais (do mesmo sexo)
Apenas um dos pais
Que lugar ocupa no seio da sua família? Pai
Mãe
1º filho
2º filho
3º ou mais filho
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FACES IV
Versão original:Gorall, Tiesel & Olson, 2004, 2006 Versão portuguesa: Rebelo, 2007
Indicações para os elementos da família: 1. Todos os elementos da família com idade superior a 12 anos podem completar o
questionário. 2. Os elementos da família devem completar o questionário de forma independente, sem
consultar ou discutir as suas respostas, até que o questionário esteja completo. 3. Escolha (assinalando com um X) a opção para cada afirmação que melhor corresponda ao
que acontece na sua família.
Discordo Fortemente Discordo Não concordo
nem discordo Concordo Concordo Fortemente
1. Os membros da família estão envolvidos nas vidas uns dos outros.
2. A nossa família tenta novas formas de lidar com os problemas.
3. Nós damo-nos melhor com pessoas fora da nossa família do que de dentro.
4. Nós passamos tempo demais juntos. 5. Há consequências rígidas para a quebra de regras na nossa família.
6. Nós nunca parecemos ficar organizados na nossa família. 7. Os membros da família sentem-se muito próximos uns dos outros.
8.Os pais partilham igualmente a liderança na nossa família. 9. Os membros da família parecem evitar o contacto uns com os outros quando estão em casa.
10. Os membros da família sentem-se pressionados para passar a maior parte do tempo livre juntos.
11. Existem consequências claras quando um membro da família faz algo de errado.
12. É difícil saber quem é o líder na nossa família. 13. Os membros da família apoiam-se uns aos outros, durante tempos difíceis.
14. A disciplina é justa na nossa família. 15. Os membros da família sabem muito pouco acerca dos amigos dos outros membros da família.
16. Os membros da família estão demasiado dependentes uns dos outros.
17. A nossa família tem uma regra para quase todas as situações possíveis.
18. É difícil levar a cabo as coisas na nossa família. 19. Os membros da família consultam outros membros da família em decisões importantes.
20. A minha família é capaz de se ajustar a mudanças quando é necessário.
21. Os membros da família estão por sua conta quando há um problema a ser resolvido.
22. Os membros da família têm pouca necessidade de amigos fora da família.
23. A nossa família é altamente organizada. 24. Não é claro quem é responsável pelas coisas (pequena tarefa, actividades) na nossa família.
25. Os membros da família gostam de passar algum do seu tempo livre uns com os outros.
26. Nós alternamos as responsabilidades domésticas, de pessoa para pessoa.
27. A nossa família raramente faz coisas juntas. 28. Nós sentimo-nos demasiado ligados uns aos outros.
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Discordo Fortemente Discordo Não concordo
nem discordo Concordo Concordo Fortemente
29. A nossa família fica frustrada quando há uma mudança nos nossos planos ou rotinas.
30. Não há liderança na nossa família. 31. Apesar dos membros da família terem interesses individuais ainda participam nas actividades da família.
32. Nós temos regras e papéis claros, na nossa família. 33. Os membros da família raramente dependem uns dos outros.
34. Na nossa família ressentimo-nos quando alguém faz coisas fora da família.
35. É importante seguir as regras na nossa família. 36. A nossa família não tem consciência de quem faz as diversas tarefas domésticas.
37. A nossa família é equilibrada ao nível da separação e aproximação.
38. Quando os problemas surgem nós acomodamo- -nos.
39. Os membros da família agem principalmente de forma independente.
40. Os membros da família sentem-se culpados quando querem passar tempo afastados da família.
41. Uma vez tomada uma decisão é muito difícil modificar essa decisão.
42. A nossa família sente-se sempre sobre pressão e desorganizada.
43. Os membros da família estão satisfeitos com a forma de comunicar uns com os outros.
44. Os membros da família são muito bons ouvintes. 45. Os membros da família exprimem afecto uns pelos outros.
46. Os membros da família são capazes de pedir uns aos outros o que querem.
47. Os membros da família conseguem calmamente discutir os problemas uns com os outros.
48. Os membros da família discutem as suas ideias e convicções uns com os outros.
49. Quando membros da família fazem perguntas uns aos outros recebem respostas honestas.
50. Os membros da família tentam compreender os sentimentos uns dos outros.
51. Quando zangados, os membros da família raramente dizem coisas negativas sobre cada um dos outros.
52. Os membros da família expressam os seus verdadeiros sentimentos uns aos outros.
Quão satisfeito(a) está(s) com: Muito Descontente
Um tanto Descontente
Geralmente Satisfeito
Muito Satisfeito
Extremamente Satisfeito
53. O grau de proximidade entre os membros da família. 54. A capacidade da família em lidar com o stress. 55. A capacidade da família em ser flexível. 56. A capacidade da família em partilhar experiências positivas.
57. A qualidade de comunicação entre os membros da família.
58. A capacidade da família para resolver conflitos. 59. A quantidade de tempo que passam em conjunto, como uma família.
60. A forma como os problemas são discutidos. 61. A justiça das críticas na família. 62. A preocupação dos membros da família uns com os outros.
Escala traduzida e adaptada cokm autorização dos autores (www.lifeinnovation.com). Para obter mais informações sobre a versão portuguesa contactar [email protected].
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Anexo III: Tabelas de cotação da FACES IV.
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Tabelas de conversão de resultados brutos das escalas equilibradas em
resultados percentuais.
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Tabelas de conversão de resultados brutos das escalas equilibradas em resultados percentuais.
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