23
FACULDADE TEOLÓGICA BATISTA DE BRASÍLIA O PASTORADO E A VIDA PASTORAL NILSON PEREIRA DE MOURA Brasília DF

FACULDADE TEOLÓGICA BATISTA DE BRASÍLIA O … · redobrada santificação e dedicação a Deus. Sem abnegação, nem por uma hora ele poderá servir a Deus. (BAXTER, 1989, p.35)

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: FACULDADE TEOLÓGICA BATISTA DE BRASÍLIA O … · redobrada santificação e dedicação a Deus. Sem abnegação, nem por uma hora ele poderá servir a Deus. (BAXTER, 1989, p.35)

FACULDADE TEOLÓGICA BATISTA DE BRASÍLIA

O PASTORADO E A VIDA PASTORAL

NILSON PEREIRA DE MOURA

Brasília – DF

Page 2: FACULDADE TEOLÓGICA BATISTA DE BRASÍLIA O … · redobrada santificação e dedicação a Deus. Sem abnegação, nem por uma hora ele poderá servir a Deus. (BAXTER, 1989, p.35)

NILSON PEREIRA DE MOURA

O PASTORADO E A VIDA PASTORAL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao

Curso de Bacharel em Teologia da Faculdade

Teológica Batista de Brasília, como requisito parcial

para obtenção do grau de Bacharel em Teologia.

Orientador: Prof. Dr. Allan Pereira de Amorim

Brasília – DF

Page 3: FACULDADE TEOLÓGICA BATISTA DE BRASÍLIA O … · redobrada santificação e dedicação a Deus. Sem abnegação, nem por uma hora ele poderá servir a Deus. (BAXTER, 1989, p.35)

NILSON PEREIRA DE MOURA

O PASTORADO E A VIDA PASTORAL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao

Curso de Bacharel em Teologia da Faculdade

Teológica Batista de Brasília, como requisito parcial

para obtenção do grau de Bacharel em Teologia.

Orientador: Prof. Dr. Allan Pereira de Amorim.

Brasília – DF, dezembro de 2015

Page 4: FACULDADE TEOLÓGICA BATISTA DE BRASÍLIA O … · redobrada santificação e dedicação a Deus. Sem abnegação, nem por uma hora ele poderá servir a Deus. (BAXTER, 1989, p.35)

Aprovado pelos membros da banca examinadora em 12/02/2016, com menção 9.5 (nove

ponto cinco).

Banca Examinadora:

______________________________________________________________________

Prof. Dr. Allan Pereira de Amorim (Presidente)

______________________________________________________________________

Prof. Esp. Rogério Moreira Junior (Examinador)

Page 5: FACULDADE TEOLÓGICA BATISTA DE BRASÍLIA O … · redobrada santificação e dedicação a Deus. Sem abnegação, nem por uma hora ele poderá servir a Deus. (BAXTER, 1989, p.35)

5

O PASTORADO E A VIDA PASTORAL

NILSON PEREIRA DE MOURA1

RESUMO:

Este trabalho de Conclusão do Curso em Bacharel em Teologia desenvolverá o tema o

Pastorado e a Vida Pastoral aprovada por Deus. Contemplará os pressupostos para o chamado

pastoral, não apenas para ser um “profissional religioso”, mas um pastor segundo o coração

de Deus. Para isso, será necessário preparo acadêmico e espiritual, o caráter ilibado e

abnegado, uma vida devocional de leitura e meditação na Palavra de Deus. São qualificações

mínimas para quem deseja a excelente função do pastoreio do rebanho de Deus. Rebanho que

Ele adquiriu com derramamento de sangue do Senhor Jesus Cristo.

PALAVRAS-CHAVE: Pastor Aprovado. Oração. Devocional. Preparo. Família.

INTRODUÇÃO

O pastorado e a vida pastoral precisam ser tratados com muito cuidado, por serem

assuntos de suma importância para a vida em nossos dias tão conturbados pela ideia da pós-

modernidade que tem colocado o pastor como algo “desnecessário” para vida espiritual das

pessoas nessa nova sociedade. Essa visão pós-moderna tem substituído os pastores por outros

modelos e métodos de mentoria espiritual. As pessoas tem buscado uma “espiritualidade” sem

o compromisso. Espiritualidade individualizada, utilitarista, sem se importar com seu

próximo, ou seja, procuram uma vida espiritual apenas do ponto de vista do indivíduo e da

relação com Deus em função das benesses recebidas.

Além disso, há pastores que vivem os mesmo problemas de parte dessa sociedade,

pois também têm construído suas próprias “ilhas” para se protegerem do mundo e dos colegas

de pastorado por julgarem o outro uma ameaça. Essa visão se torna míope por desconsiderar o

papel relevante do pastor como um mentor espiritual.

1 Aluno da Faculdade Teológica Batista de Brasília. Pastor Batista, membro da PIBSobradinho-DF.

Page 6: FACULDADE TEOLÓGICA BATISTA DE BRASÍLIA O … · redobrada santificação e dedicação a Deus. Sem abnegação, nem por uma hora ele poderá servir a Deus. (BAXTER, 1989, p.35)

6

Os fundamentos para o tema serão conhecidos ao longo do desenvolvimento deste

trabalho. Dentre estes destacam-se as ideias contidas na introdução de justificativa da

publicação do livro O Pastor Aprovado, de Richard Baxter, em que James M. Houston afirma:

“Para o cristão, a Bíblia é o texto básico para leitura espiritual. Todas as outras leituras

devocionais são secundárias e jamais deverão substituir as Escrituras” (BAXTER, 1989, p.8).

O assunto a ser abordado tem como inspiração principal a Sagrada Escritura, a

motivação complementar do livro de Baxter (1989), o Pastorado Aprovado e da perícope da

carta de 2 Tm 2.15-16, em que o apóstolo Paulo, exorta o pastor Timóteo com beleza, ternura

e firmeza:

Procure apresentar-se a Deus aprovado, como obreiro que não tem do que se

envergonhar e que maneja corretamente a palavra da verdade. Evite as

conversas inúteis e profanas, pois os que se dão a isso prosseguem cada vez

mais para a impiedade. (2 TIMÓTEO, NVI, p. 953).

Os princípios delineados acima pelo apóstolo Paulo para o bom exercício da função

pastoral bem como da própria vida ministerial pode ser enumerados em: Primeiro, apresentar-

se a Deus aprovado; segundo, não ter nada do que se envergonhar; terceiro, manejar, utilizar

corretamente a palavra da verdade; e quarto, evitar conversas inúteis e profanas.

A pergunta a ser feita é: quais seriam as qualidades para essa aprovação? O próprio

Paulo em (1 Tm 3.1-7 || Tito 1.6-9) elabora o perfil para o exercício da função pastoral em sua

época, perfil esse que se aplica atualmente. Desta forma, este trabalho buscará fundamentar a

orientação de que o pastor deve ser irrepreensível, “boa reputação”; marido de uma só mulher,

ou seja, não bígamo; moderado; sensato; respeitável “caráter reto e integro”, [...] “hospitaleiro

e apto para ensinar; não deve ser apegado ao vinho e nem violento, mas amável; pacífico e

não apegado ao dinheiro”, ou seja, não ser ganancioso; administrar bem sua família com

dignidade para poder ser espelho para sua igreja; não ser recém-convertido e ser de boa

reputação com os de fora da igreja. Portanto, o texto compromete-se a justificar porque essas

qualificações são indispensáveis àquele que deseja a excelência do pastorear. O primeiro

ponto da recomendação do apóstolo Paulo logo chama a atenção, porque ele afirma que o

pastor deve apresentar-se aprovado diante de Deus.

O Pr. Jaziel G. Martins, em Manual do Pastor e da Igreja afirma: “a pessoa adquire as

qualificações acima de três maneiras: pelo dom natural, pela graça de Deus e pela preparação

ao ministério da palavra” (MARTINS, 2002, p.56).

Page 7: FACULDADE TEOLÓGICA BATISTA DE BRASÍLIA O … · redobrada santificação e dedicação a Deus. Sem abnegação, nem por uma hora ele poderá servir a Deus. (BAXTER, 1989, p.35)

7

Em linhas gerais, também serão abordadas as onze qualidades prévias para quem

deseja ocupar a função pastoral. Essas qualidades objetivas devem ser uma constante na vida

de todo cristão, mas em especial, e de forma contínua na vida daquele que exerce o pastorado

do rebanho de Deus. Cabe ressaltar que o Pastor Hernandes Dias Lopes afirma: “A vida do

ministro é a vida do seu ministério. O pastorado não é uma plataforma de privilégios, mas um

campo de serviço; não uma feira de vaidades, mas lugar de trabalho humilde e abnegado”

(LOPES, 2008, p.36).

A partir dessa realidade, é preciso enxergar o pastorado e a vida pastoral como um

espelho para o mundo. O que deve ser visto mais especificamente quanto ao seu caráter, ao

seu preparo, à sua vida devocional, quanto aos perigos a serem vencidos pelo pastor e à sua

vida familiar, pois sendo assim a vida pastoral será aprovada por Deus.

Este trabalho propõe traçar alguns aspectos indispensáveis ao pastorado e à vida

pastoral e tratar do porque da importância do pastorado e vida pastoral na sociedade e na

igreja de Cristo em nossa época.

O artigo será composto de quatro partes, destacando respectivamente, o caráter

adequado do pastor, o preparo necessário ao exercício dessa missão, aspectos pertinentes a

sua vida devocional, os perigos e desafios a ele apresentados, subdivididas em vocação,

ganância e instabilidade emocional e fundamentação teológica. Por fim, a conclusão do

trabalho sem a intenção de esgotar tão vasto e instigante tema que é o ministério pastoral.

Após a escolha do tema, o autor procurou fundamentar seus pressupostos na

metodologia de pesquisa de revisão bibliográfica. Utilizando os títulos e autores elencados a

seguir. O Pastor Aprovado, modelo de Ministério e Crescimento Espiritual, de Richard

Baxter; A Bíblia na Versão Internacional; Poder pela Oração, de E.M. Bounds; Práticas

Devocionais – exercícios de Sobrevivências e Plenitude Espiritual, de Elben César; A

Celebração da Disciplina: caminho do crescimento espiritual e a Liberdade da simplicidade –

encontrando a simplicidade num mundo complexo, de Richard Foster; A arte de pastorear, de

David Hansen; A oração: caminho para quem busca a amizade com Deus, James Houston;

De: Pastor, A: Pastor. Princípios para ser um pastor segundo o coração de Deus, de Hernandes

Dias Lopes. Manual do Pastor e da Igreja; dentre outros.

A partir dessa base bibliográfica qualitativa serão exploradas as nuanças do

pensamento sobre pastorado e a vida pastoral.

Page 8: FACULDADE TEOLÓGICA BATISTA DE BRASÍLIA O … · redobrada santificação e dedicação a Deus. Sem abnegação, nem por uma hora ele poderá servir a Deus. (BAXTER, 1989, p.35)

8

1. O CARÁTER DO PASTOR

Em relação ao caráter do Pastor, Richard Baxter, em seu livro, o Pastor Aprovado,

(Baxter, 1989), escreveu sobre o axioma: “de ser e de agir” para consolidar o caráter da pessoa

do pastor. Ele afirma: “A abnegação é essencial” (BAXTER, 1989, p.35). O pastor deve

realizar o seu ministério pastoral “exclusivamente para Deus e pela salvação do Seu povo”.

Esta abnegação é muito importante para o desenvolvimento e amadurecimento do caráter do

pastor. Baxter afirma ainda:

O interesse próprio é uma escolha infeliz e contraproducente. Assim a

abnegação, a autonegação, é absolutamente necessária a todo cristão. Mas é

duplamente necessária ao ministro do evangelho, porque é seu dever ter

redobrada santificação e dedicação a Deus. Sem abnegação, nem por uma

hora ele poderá servir a Deus. (BAXTER, 1989, p.35)

Ao escrever sobre a abnegação e a autonegação Richard Baxter (1989) tem em mente

tratar da pureza, motivos e da intenção para o exercício da função pastoral. O motivo e a

intenção devem ser o exclusivo serviço a Deus e aos que poderão ser salvos por intermédio da

vida e do ministério pastoral. A partir da verdadeira motivação e intenção para o exercício do

pastorado é que o autor mencionado orienta sobre vida pastoral. Ele fala da diligência, esforço

e do trabalho duro do pastor afirmando:

A obra do ministério deve ser realizada com muita diligência e esforço, pois

ela é de infinita importância para os outros e para nós mesmos. Nossa tarefa

é livrar-nos e os outros da tentação, dominar o diabo, destruir o seu reino e

edificar o reino de Deus. É nosso dever ajudar outros a alcançar a glória

eterna. (BAXTER, 1989, p.36)

O que Baxter (1989) propõe é que os pastores “ponham em prática o que pregam”;

ou seja, no pastorado e na vida pessoal é preciso viver o que se prega e pregar o que se vive. É

necessário ter esta dimensão espiritual. Para Baxter, “Ensinar Cristo ao nosso povo é ensinar

tudo”. (BAXTER, 1989, p. 37-8). Esses valores devem fazer parte do caráter daquele que

almeja o pastorado como obra santa de Deus. Daí a necessidade de seu preparo para o

ministério.

O preparo ministerial levará o pastor aprovado por Deus a focalizar no conteúdo

essencial da Palavra de Deus. Baxter (1989) afirma que a mensagem deve focar no que é

essencial, ou seja, “Os pontos essenciais são comuns e óbvios. São com as coisas supérfluas

que desperdiçamos tempo, trabalhando por elas e lamentando que não as conseguimos

Page 9: FACULDADE TEOLÓGICA BATISTA DE BRASÍLIA O … · redobrada santificação e dedicação a Deus. Sem abnegação, nem por uma hora ele poderá servir a Deus. (BAXTER, 1989, p.35)

9

realizar” (BAXTER, 1989, p. 38), corrobora com a opinião de Baxter, a exortação do apóstolo

Paulo a Timóteo, o pastor da igreja de Éfeso:

Na presença de Deus e de Cristo Jesus, que há de julgar os vivos e os mortos

por sua manifestação e por seu Reino, eu exorto solenemente: Pregue a

palavra, esteja preparado a tempo e fora de tempo, repreenda, corrija, exorte

com toda a paciência e doutrina. Pois virá o tempo em que não suportarão a

sã doutrina; ao contrário, sentido coceira nos ouvidos, juntarão mestres para

si mesmos, segundo os seus próprios desejos. (2 TIMÓTEO, NVI, p. 954)

Para Baxter (1989) é a pregação da Palavra que faz a transformação e o

amadurecimento do caráter do pastor aprovado diante de Deus e das pessoas que estão sob sua

mentoria espiritual. São palavras que nos incomoda e também nos acomoda no Reino de

Deus. É a Palavra verdadeira, a sã doutrina que combatem os falsos mestres e os que têm

coceiras nos ouvidos e andam segundo os próprios desejos.

2. O PREPARO DO PASTOR

O preparo do pastor é de suma importância tendo em vista o que vem ocorrendo no

mundo “evangélico”. Devemos preferir a denominação “protestante” para diferenciar quem

são os verdadeiros dos falsos protestantes. As palavras evangélicos e protestantes vêm entre

as aspas, pois atualmente há grande dificuldade em mensurar quem é quem nesse mundo

hiperdenominacional. Essa “babel” religiosa está ligada à falta de preparo da liderança

pastoral. Há ainda de se considerar, entretanto, que todo protestante é um evangélico, mas

nem todo evangélico é um protestante. O protestante é aquele com sólidas raízes históricas

advindas da Reforma.

O escritor e pastor Hernandes Dias Lopes escrevendo sobre o preparo pastoral

afirma:

O pastor é um estudioso. Deve ser um erudito. Precisa conhecer a Palavra,

alimentar-se da palavra e pregar a palavra [...] Precisamos apresentar-nos

como obreiros aprovados. Precisamos realizar o ministério com um padrão

de excelência. Pastor também precisa ter um vasto conhecimento geral.

Precisa ser um pastor atualizado. Precisa ler o texto e o contexto. Ler a

Bíblia e ler o povo. Tem de ter a Bíblia em uma mão, e o jornal na outra. O

pastor não poder ser um alienado. Precisa ser um profundo conhecedor da

época. (LOPES, 2008, p.45-6)

Page 10: FACULDADE TEOLÓGICA BATISTA DE BRASÍLIA O … · redobrada santificação e dedicação a Deus. Sem abnegação, nem por uma hora ele poderá servir a Deus. (BAXTER, 1989, p.35)

10

Assim é essencial a formação, o preparo acadêmico e espiritual para o exercício da

função pastoral. A falta de preparo e a falta de moral pode fomentar a proliferação de pastores

despreparados para o ministério. Daí, o Pastor Seiji Kikuti escrevendo sobre o assunto2

afirma:

Algumas habilidades e até mesmo dons, talentos naturais podem ser

interpretadas como um "sinal" de que alguém tenha um chamado Pastoral.

Mas temos que ter muito cuidado com isso. O fato de alguém saber falar em

público, ter presença de palco, saber usar as palavras e fazer lindas

pregações, não torna esta pessoa um Pastor. (KIKUTI, postado, 2/12/2014)

Coopera com afirmação acima o que diz Hernandes Dias Lopes: “A maior crise que

a nação atravessa não é econômica nem social, mas moral. Estamos vivendo uma crise de

integridade”. (LOPES, 2008, p.47). Ao falar sobre a crise moral da nação, o autor tem em

mente a crise que atravessa também as instituições religiosas representadas por seus

“pastores” em crise moral, acadêmica, emocional e espiritual. Daí a necessidade de preparo

dos pastores em todas as áreas da vida.

O pastor e escritor Edward Mckendree Bounds (1835-1913) em seu livro, o Poder

pela Oração. Ao tratar do preparo do pastor, afirma: “Uma boca santificada faz-se com

oração, com muitas orações”. (BOUNDS, 2010, p.51-2). Esse assunto deve ser considerado

para além do preparo acadêmico. Bounds (2010) escreveu: “É preciso preparar o coração”.

Levando-nos a concordar com Bounds (2010) que é importantíssimo investir no preparo do

seu coração, pois existem pastores mais preocupados com seu preparo intelectual do que com

o preparo do espiritual do coração. Ele afirma que para se preparar o coração é necessário que

o pastor seja um homem de oração:

A oração faz do pregador um pregador que prega com o coração. A oração

põe o coração do pregador no sermão do pregador; a oração põe o sermão do

pregador no coração do pregador. Coração faz o pregador. Grande é o

coração dos grandes pregadores. [...] Um coração preparado é bem melhor

que um sermão preparado. Um coração preparado criará um sermão

preparado. (BOUNDS, 2010, p.51-2)

Evidentemente, o autor não está dizendo que não é preciso o preparo acadêmico,

intelectual, mas que muitos têm substituído o preparo espiritual, moral pela formação apenas

da mente e não do coração e da alma. Diante dessa realidade Bounds afirma:

2 http://serpastore.blogspot.com.br

Page 11: FACULDADE TEOLÓGICA BATISTA DE BRASÍLIA O … · redobrada santificação e dedicação a Deus. Sem abnegação, nem por uma hora ele poderá servir a Deus. (BAXTER, 1989, p.35)

11

De nada adianta dizer que os pregadores estudam demais. Alguns não

estudam nada; outros não estudam o suficiente. Inúmeros deles não estudam

a maneira correta para se mostrarem obreiros aprovados por Deus. Mas o

que muito nos falta não é a cultura da mente, mas a cultura do coração;

nosso defeito deprimente não é falta de conhecimento, e sim a falta de

santidade. (BOUNDS, 2010, p.52)

Na opinião de E.M. Bounds, o preparo cultural e espiritual do pastor depende

exclusivamente da revelação divina, ele afirma:

A revelação de Deus não precisa da luz do espírito humano, o lustro e o

vigor da cultura humana, o brilhantismos do pensamento humano, a força do

cérebro humano para enfeitá-la ou fazê-la executar; de ato, exige a

simplicidade, a docilidade, a humildade e a fé do coração de uma criança.

(BOUNDS, 2010, p.53)

O autor E.M. Bounds justifica sua preocupação: “nossa grande necessidade é

preparar o coração”, ele afirma:

Não estamos afirmando que os homens não devem pensar nem usar o

intelecto, mas emprega melhor o intelecto aquele que melhor cultiva o

coração. Não estamos dizendo que os pregadores não devem ser estudiosos,

mas estamos dizendo que o grande estudo deles deve ser a Bíblia, e estuda

melhor a Bíblia aquele que guarda o coração com diligência. (BOUNDS,

2010, p.53), (negrito do autor)

Além da maturidade espiritual a partir do coração, a revelação também se faz

fundamental. Bounds (2010) apenas reafirma o que Jesus Cristo já havia dito aos seus

discípulos quando falou que a revelação é uma ação especial de Deus. Ele, no diálogo com

seus discípulos a respeito de quem o povo, pensava que ele fosse e em relação ao que Simão

Pedro afirmou sobre quem é Jesus: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”. (Mateus 16.16,

NVI; p. 782). Jesus sentenciou: “Feliz é você, Simão filho de Jonas, porque isto não lhe foi

revelado por carne ou sangue, mas meu Pai que está nos céus”. (MATEUS 16.16-7, NVI, p.

782). A formação e preparo do pastor carece da revelação especial de Deus e do preparo

acadêmico na formação intelectual daquele que almeja a função nobre do pastorado do

rebanho de Deus. Ele (Deus) deseja que seu rebanho seja pastoreado conforme a sua vontade

expressa pelo presbítero Pedro, quando ele ordena:

Pastoreiem o rebanho de Deus que está aos seus cuidados. Olhem por ele,

não por obrigação, mas de livre vontade, como Deus quer. Não façam isso

por ganância, mas com o desejo de servir. Não ajam como dominadores dos

Page 12: FACULDADE TEOLÓGICA BATISTA DE BRASÍLIA O … · redobrada santificação e dedicação a Deus. Sem abnegação, nem por uma hora ele poderá servir a Deus. (BAXTER, 1989, p.35)

12

que lhes foram confiados, mas como exemplos para o rebanho. (1 PEDRO

5.3-5, NVI, p. 973)

Portanto, Jesus Cristo, o apóstolo Paulo e o presbítero Pedro concordam que a

condição sine qua non para o perfeito conhecimento e preparado para a vida ministerial tem

sua origem na vontade reveladora de Deus.

É preciso concordar que nos dias atuais, como nos dias dos apóstolos e também nos

dias de E. M. Bounds, estamos carecendo de homens aprovados por Deus que se dediquem à

sua formação intelectual e espiritual para perceber que a revelação de Deus é superior à

“revelação” puramente humana.

Conclui-se que E.M Bounds quer nos ensinar que o preparo intelectual, moral e

espiritual deve estar afinado com um coração que busca a Deus na beleza de sua Santidade

com dedicação acadêmica e espiritual.

O próprio Mestre Jesus escolheu 12 discípulos para estarem com Ele e serem

preparados para a missão mais importante em baixo do céu. Segundo Jesus Cristo: “salvar o

que havia se perdido” (LUCAS 19.10, NVI, p. 1951). Ele passa três anos ou mais ensinando

de forma teórica e prática a arte do pastoreio. No evangelho de Marcos, o primeiro dos

escritos relatando o ministério pastoral de Jesus é dito:

Jesus subiu a um monte e chamou a si aqueles que ele quis, os quais vieram

para junto dele. Escolheu doze, designando-os apóstolos, para que

estivessem com ele, os enviasse a pregar e tivessem autoridade para expulsar

demônios. Estes são os doze que ele escolheu: Simão, aquém deu o nome de

Pedro; Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, aos quais deu o nome de

Boanerges, que significa “filho do trovão”; André; Filipe; Bartolomeu;

Mateus; Tomé; Tiago, filho de Alfeu; Tadeu; Simão, o Zelote; e Judas

Iscariotes, que o traiu. (MARCOS 3.13-19, NVI, p. 798)

O mesmo relato é tratado pelo evangelista Lucas que diz: “Num daqueles dias, saiu

Jesus para o monte a fim de orar, e passou a noite orando a Deus. Ao amanhecer, chamou seus

discípulos e escolheu doze deles, a quem também designou apóstolos” (LUCAS 6.12-13,

NVI, p. 823). A escolha dos seus discípulos [alunos] foi precedida de muita oração e

dependência de Deus. Essa foi a maior e melhor escola [faculdade] que alguém poderia

estudar para ser [pastor aprovado] pelo Senhor. (destaque meu).

Logo, para essa entrega de coração e alma ao Senhor, único Deus, se faz necessário

que aquele que deseja ser um pastor aprovado busque ter uma vida de devoção, a exemplo do

Mestre Jesus Cristo, pois mesmo sendo o Filho de Deus procurou desenvolver uma vida de

dependência e devoção ao Pai celestial.

Page 13: FACULDADE TEOLÓGICA BATISTA DE BRASÍLIA O … · redobrada santificação e dedicação a Deus. Sem abnegação, nem por uma hora ele poderá servir a Deus. (BAXTER, 1989, p.35)

13

3. A VIDA DEVOCIONAL DO PASTOR

O Apostolo Paulo entendeu que para o desenvolvimento da vida devocional do

Pastor é necessário ter em mente três aspectos: a leitura da Palavra, a meditação e a oração

como prática diária. O apóstolo Paulo escrevendo ao pastor Timóteo que se encontrava em

Éfeso, aconselha-o para exercer bem seu ministério pastoral uma vida de devoção que

contemplasse esses três aspectos:

[...] mas seja um exemplo para os fiéis na palavra, no procedimento, no

amor, na fé e na pureza. Até a minha chegada, dedique-se à leitura pública

da Escritura, à exortação e ao ensino. Não negligencie o dom que lhe foi

dado por mensagem profética com imposição de mão dos presbíteros. Seja

diligente nessas coisas; dedique-se inteiramente a elas, para que todos vejam

o teu progresso. Atente bem para a sua própria vida e para a doutrina,

perseverando nesses deveres, pois, agindo assim, você salvará tanto a si

mesmo quanto aos que o ouvem. (1 Timóteo 4.12b-16, NVI, p.950)

Nesta orientação do apóstolo, pode ser percebida a sua preocupação com a vida

devocional de Timóteo, o jovem pastor. Ele pede: “não seja desprezado por ser jovem”, mas

seja um exemplo para os “fiéis na palavra, no procedimento, no amor, na fé, e na pureza” para

demonstrar uma vida devocional digna a ser seguida. O pastor Timóteo deveria ser dedicado à

Escritura, à exortação e ao ensino, sem negligenciar e sem esquecer que recebeu um dom de

Deus. Ele tem responsabilidade perante Deus e perante aqueles que o confiaram a Deus pela

imposição de mãos. Ele precisa meditar sobre o que Paulo está lhe dizendo. Para ser dedicado

à Escritura, entende-se que é necessário dedicar tempo à meditação sobre o que foi lido. Em

Celebração da Disciplina Richard Foster dedica um capítulo sobre a disciplina da meditação.

Ele ensina: “Enquanto o estudo das Escrituras gira em torno da exegese, a meditação procura

internalizar a passagem e torná-la pessoal. A Palavra escrita torna-se viva dirigida a você”

(FOSTER, 1988, p.61).

Outro aspecto da vida devocional que precisa ser considerado em continuidade à

meditação, é a vida de oração do Pastor. No livro o Poder pela Oração, E. M. Bounds

escreveu que os primeiros apóstolos: “conheciam a necessidade e valor da oração para o

ministério”. Ele traz à memória o episódio relatado em Atos 6.1-6, quando surge o problema

de ordem eclesiástica, ou seja, administrativo, entre duas classes de judias: as de fala hebraica

e as de fala grega. Destaca-se a importância da oração e da Palavra, nos versos 2b-4, é dito:

Page 14: FACULDADE TEOLÓGICA BATISTA DE BRASÍLIA O … · redobrada santificação e dedicação a Deus. Sem abnegação, nem por uma hora ele poderá servir a Deus. (BAXTER, 1989, p.35)

14

Não é certo negligenciarmos o ministério da Palavra de Deus, a fim de servir

às mesas. Irmãos, escolham entre vocês sete homens de bom testemunho,

cheios do Espírito Santo e de sabedoria. Passaremos a eles essa tarefa e nos

dedicaremos à oração e ao ministério da Palavra. (ATOS 6.2b-4, NVI, p.

875) (Grifo meu)

Nestas palavras dos apóstolos do Senhor é dada a verdadeira importância da oração

na vida do Pastor, pois este, tendo o espírito voltado para a oração poderá levar a Igreja a

seguir seu exemplo de dedicação à oração e meditação na Palavra. Corrobora com essa

afirmação, o que disse E. M. Bounds:

A oração apostólica era tão árdua, laboriosa e imperativa quanto à pregação

apostólica. Eles oravam poderosamente dia e noite para levar seu povo às

mais altas regiões da fé e da santidade. Oravam ainda mais poderosamente

para se manterem nessa elevada altitude espiritual. (BOUNDS, 2010, p.72)

O Senhor Jesus ao tratar da necessidade da oração na vida de seus discípulos deixa

claro que para um bom ministério pastoral, os discípulos Dele deveriam ser homens dedicados

à oração como forma de manter a intimidade com Deus, o Pai. O Mestre Jesus passa a ensiná-

los a prática da oração, dizendo-lhes:

E quando vocês orarem, não sejam como os hipócritas. Eles gostam de ficar

orando em pé nas sinagogas e nas esquinas, a fim de serem vistos pelos

outros. Eu lhes asseguro que eles já receberam sua plena recompensa. Mas

quando você orar, vá para seu quarto, feche a porta e ore a seu Pai, que está

em secreto. Então seu Pai, que vê em secreto, o recompensará. E quando

orarem, não fiquem sempre repetindo a mesma coisa, como fazem os

pagãos. Eles pensam que por muito falarem serão ouvidos. Não sejam iguais

a eles, porque o seu Pai sabe do que vocês precisam, antes mesmo de o

pedirem. Vocês, orem assim: Pai nosso, que estás nos céus! Santificado seja

o teu nome. Venha o teu Reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como

nos céus. Dá-nos hoje o nosso pão de cada dia. Perdoa as nossas dívidas,

assim como perdoamos aso nossos devedores. E não nos deixes cair em

tentação, mas livra-nos do mal [maligno], porque teu e o Reino, o poder e a

glória para sempre. Amém. (MATEUS 6.5-13, NVI, p. 771)

Os pastores quando discipulados pelo Senhor Jesus também precisam ter a

sensibilidade e a humildade de total dependência de Deus, o Pai, sabendo que Ele é Senhor

dos céus e da terra e que sempre suprirá suas necessidades, antes mesmo que os peçam, pois

Ele é rico em misericórdia.

Em outra ocasião, Jesus vai além das expectativas dos seus discípulos quando pede

que eles fiquem com Ele no seu mais profundo sofrimento e na maior expressão de sua

humanidade. Ele os leva até o Monte das Oliveiras e apenas pede que eles o acompanhem em

Page 15: FACULDADE TEOLÓGICA BATISTA DE BRASÍLIA O … · redobrada santificação e dedicação a Deus. Sem abnegação, nem por uma hora ele poderá servir a Deus. (BAXTER, 1989, p.35)

15

um momento de completa dependência do seu Pai enquanto homem preparado para o

calvário. Ele pede apenas que eles vigiem e ore para não entrarem em tentação:

Como de costume, Jesus foi para o monte das Oliveiras, e os seus discípulos

o seguiram. Chegando ao lugar, ele lhes disse: “Orem para que vocês não

caiam em tentação”. Ele se afastou deles a uma pequena distância, ajoelhou-

se e começou a orar: “Pai, se queres, afasta de mim este cálice; contudo, não

seja feita a minha vontade, mas a tua”. Apareceu-lhe então um anjo do céu

que o fortalecia. Estando angustiado, ele orou ainda mais intensamente; e o

seu suor era como gotas de sangue que caiam no chão. Quando se levantou

da oração e voltou aos discípulos, encontrou-os dormindo, dominados pela

tristeza [cansaço]. Por que estão dormindo? Perguntou-lhes. Levantem-se e

orem para que vocês não caiam em tentação. (LUCAS 22.39-45, NVI, p.

843)

A oração deve ocupar lugar central no pastorado e na vida privada do pastor

comprovando sua inteira dependência de Deus para enfrentamento do maligno e de todas as

intempéries do ministério pastoral. O pastor precisa alinhar sua vida de estudo, pregação e

meditação ao exercício de sua sublime função de ser pastor do rebando de Deus comprado

com o sangue precioso de seu Filho Jesus Cristo, o Supremo Pastor aprovado desde a

fundação do mundo para a salvação da humanidade. David Hansen ao escrever sobre a

importância da oração aponta o caminho a ser seguido pelos pastores que estão prontos a

interceder por seu rebanho e de forma especial, por sua família, ele afirma:

O pastor precisa ser advogado a favor da congregação e pleitear com Deus,

fortemente, em favor dos amados. Muitos pastores temem orar dessa

maneira, porque temem que isso os faça parecer arrogantes, como se eles

mesmos não precisassem de perdão ou do derramamento do Espirito Santo.

Mas se a congregação conhece a humildade e amor do pastor, eles aceitarão

a oração intercessora como sendo o elemento mais terno e humilde da oração

pastoral. (HANSEN, 2001, p.122-3)

A dimensão da oração pastoral é a de apresentar as variadas necessidades do seu

rebanho diante do trono da graça de Deus, em nome de Jesus, por iluminação do Espírito

Santo que também intercede juntamente com o pastor perante Deus Pai. O pastor deve ser

aquele que estuda, prega, medita e intercede por meio da oração.

Outro exemplo que alinha a pregação da Palavra à oração encontra-se em Efésios

capítulos: 2.15-23 || 3.14-21:

Por essa razão, desde que ouvi falar da fé que vocês têm no Senhor Jesus e

do amor que demonstram para com todos os santos, não deixo de dar graças

por vocês, mencionando-os nas minhas orações. Peço que o Deus de nosso

Page 16: FACULDADE TEOLÓGICA BATISTA DE BRASÍLIA O … · redobrada santificação e dedicação a Deus. Sem abnegação, nem por uma hora ele poderá servir a Deus. (BAXTER, 1989, p.35)

16

Senhor Jesus Cristo, o glorioso Pai, lhes dê espírito de sabedoria e de

revelação, no pleno conhecimento dele. Oro também para que os olhos do

coração de vocês sejam iluminados, a fim de que vocês conheçam a

esperança para a qual ele os chamou, as riquezas da gloriosa herança dele

nos santos. [...] Por essa razão, dobro meus joelhos perante o Pai, de quem

toda família nos céus e na terra recebe o nome, para que, segundo as

riquezas da sua glória, vos conceda que sejais interiormente fortalecidos com

poder pelo seu Espírito. E que Cristo habite pela fé em vosso coração, a fim

de que, arraigados e fundamentados em amor, vos seja possível

compreender, juntamente com todos os santos, a largura, o comprimento, a

altura e a profundidade desse amor, e assim conhecer esse amor de Cristo,

que excede todo o entendimento, para que sejais preenchidos até a plenitude

de Deus. Àquele que é poderoso para fazer bem todas as coisas, além do que

pedimos ou pensamos, pelo poder que age em nós, a ele seja a glória na

igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para todo o sempre. Amém.

(EFÉSIOS, 2002, NVI, p. 936-7)

São duas orações profundas que podem ser extraídas dos textos mencionados acima,

em que Paulo nos ensina na primeira oração, a pedir para que o rebanho tenha “espírito de

sabedoria e revelação no conhecimento dele, (de Deus)” e na segunda, a pedir que o rebanho

seja “fortalecido com poder pelo Espírito Santo” e “que Cristo habite pela fé no coração” das

ovelhas com a finalidade de serem “arraigadas e fundamentadas em amor” e possam

compreender o que Deus fez incluindo os nãos judeus na família de Deus.

O pastor deve ter em mente a dimensão da oração por si mesmo e por todo o rebanho

a ele confiado; como é declarado em Atos 20.28: “Cuidem de vocês mesmo e de todo o

rebanho sobre o qual o Espírito Santo os colocou como bispos, para pastorearem a igreja de

Deus, que ele comprou com o seu próprio sangue”. Essa é uma realidade que precisa ocupar a

vida do pastor e a vida da sua igreja.

O pastor E.M. Bounds discorrendo sobre essa necessidade primordial que é a oração

parece clamar quando escreveu:

Uma boca santificada faz-se com oração, com muita oração; uma boca

intrépida faz-se com oração, com muita oração. A igreja e o mundo, Deus e

o céu, devem muito à boca de Paulo; a boca de Paulo deve seu poder à

oração [...] A oração faz do pregador [pastor] um pregador [pastor] que

prega com o coração. A oração põe o coração do pregador [pastor] no

sermão do pregador [pastor]; a oração põe o sermão do pregador [pastor]

no coração do pregador [pastor]. (BOUNDS, 2010, p.51). (acréscimos meu)

Pode-se compreender dos ensinos de Jesus, das palavras do apóstolo Paulo e do que

pensa Bounds sobre a oração dependente exclusiva de Deus que qualquer pastor por mais

preparado que esteja do ponto de vista humano naufragará se não desenvolver um espírito

carente e dependente da oração como forma de diálogo com o Pai das luzes.

Page 17: FACULDADE TEOLÓGICA BATISTA DE BRASÍLIA O … · redobrada santificação e dedicação a Deus. Sem abnegação, nem por uma hora ele poderá servir a Deus. (BAXTER, 1989, p.35)

17

4. VENCENDO OS PERIGOS DO PASTORADO

Ao tratar dos desafios e perigos enfrentados pelos ministros de Deus, serão

destacados apenas alguns aspectos mais relevantes para que o Pastor seja um vencedor.

Vencedor, mas não um super-homem da fé e da moral, pois se assim fosse seria muito fácil

vencer os perigos e obstáculos a serem enfrentados no exercício da função pastoral. Neste

tópico serão usados alguns conceitos de Hernandes Dias Lopes (LOPES, 2008, p. 11-34),

quando ele trata do tema com muita propriedade. Assim ao tomá-lo como modelo, seremos

enriquecidos do ponto de vista do conhecimento e da espiritualidade. Não será uma cópia do

trabalho do autor epigrafado, apenas serão considerados os pontos avaliados de maior

importância para o propósito deste trabalho, os quais serão abordados a seguir.

4.1 A VOCAÇÃO MINISTERIAL

Em várias áreas do conhecimento e do trabalho humano se valoriza o aspecto do

“talento” e do “conhecimento” para o exercício de qualquer profissão, entretanto, o pastorado

não poderá ser visto apenas do ponto de vista profissional – uma espécie de “técnico da fé”,

mas também como um importante ingrediente da verdadeira crença da presença cristã em

cada coração, ou seja, o pastorado deverá ser exercido como uma vocação de Deus.

Hernandes Lopes afirmou: “a vocação é a consciência de estar no lugar certo, fazendo a coisa

certa”. Lopes acrescenta: “Há muitos pastores que jamais foram chamados por Deus para o

ministério. Eles são voluntários, mas não vocacionados. Entraram pelos portais do ministério

por influências externas, e não por um chamado interno e eficaz do Espirito Santo”. (LOPES,

2008, p.14).

Desse modo, há muitos “pastores” exercendo a função pastoral sem a convicção do

seu chamado para o ministério pastoral, considerando que entraram nesta sublime função por

iniciativa própria e preparo próprio, mas sem jamais ter ouvido o chamado de Deus. Entram

para o ministério pastoral somente porque muitas outras portas profissionais se fecharam para

ele. Então julgam que Deus está chamando para ser pastor. Hernandes Dias Lopes afirma

ainda: “vocação é quando você tem todas as outras portas abertas, mas só consegue enxergar a

porta do ministério. Vocação é como algemas invisíveis” (LOPES, 2008, p.16).

A vocação para o ministério deverá ser sempre avaliada e medida diante dos homens

e diante de Deus para que se tenha a certeza que não se está enganado quanto ao chamado

Page 18: FACULDADE TEOLÓGICA BATISTA DE BRASÍLIA O … · redobrada santificação e dedicação a Deus. Sem abnegação, nem por uma hora ele poderá servir a Deus. (BAXTER, 1989, p.35)

18

para tão nobre função de representar Deus diante das pessoas e representar as pessoas diante

de Deus.

4.2 A GANÂNCIA PASTORAL

Esse é um problema sério nos dias atuais. Atualmente sem muito esforço pode ser

notado que há muitos aventureiros abrindo “igrejas” como se fosse uma empresa ou na pior

das hipóteses como “bares” em qualquer esquina ou avenida. Hernandes Lopes escreve algo

que ao ler dói o coração e a alma. Ele diz que: “Há pastores que organizam igrejas como uma

empresa particular, onde prevalece o nepotismo. Transformam o púlpito em balcão, o

evangelho em um produto, o templo em uma praça de negócios, e os crentes em

consumidores”. (LOPES, 2008, p.17).

É lamentável ver como muitos estão transformando “casas de orações” em casas de

ladrões e oportunistas em nome não de Deus, mas na verdade, casa da ganância humana. É

lamentável que o projeto de Deus para sua igreja como lugar de libertação, de cura, de vida

tenha se tornado lugar de escárnio para os homens e para o Diabo e seus anjos. Corrobora

com essa lamentação o que Dias Lopes afirma:

Hoje estamos assistindo ao fenômeno do mercadejamento da fé. Pastores e

mais pastores estão se desvinculando da estrutura eclesiástica e rompendo

com suas denominações para criar ministérios particulares, em que o líder se

torna o dono da igreja. A igreja passa a ser uma propriedade particular do

pastor. O ministério da igreja torna-se um governo dinástico, em que a

esposa é ordenada, e os filhos são sucessores imediatos. (LOPES, 2008,

p.18)

São muitos os chamados “ministérios particulares” em que se criam falsas igrejas, as

quais passam a ser fonte de rendimentos para os seus “pastores” e para toda a “família

pastoral”. Criam-se verdadeiros feudos eclesiásticos justificados por visões ministeriais

particulares. É lamentável.

4.3 INSTABILIDADE EMOCIONAL

Esse é um assunto que muitos pastores, em perigo ou sob elevado risco psicológico,

procuram empurrar para debaixo dos tapetes pastorais: A instabilidade emocional deveria ser

tratada em nível mais profundo antes que tais pastores viessem a assumir qualquer

compromisso com o pastorado, pois é a instabilidade emocional que leva muitos ministros de

Page 19: FACULDADE TEOLÓGICA BATISTA DE BRASÍLIA O … · redobrada santificação e dedicação a Deus. Sem abnegação, nem por uma hora ele poderá servir a Deus. (BAXTER, 1989, p.35)

19

Deus a caírem em pecados. Segundo o Pastor Hernandes Lopes, os pastores sob estresse e em

instabilidade emocional deveriam: “estar sendo pastoreados, mas estão pastoreando”. Ele

ainda afirma: “Um pastor sem equilíbrio emocional pode trazer grandes prejuízos para si, para

sua família e para igreja” (LOPES, 2008, p.18).

Essa é uma realidade que é vista todos os dias, basta estar atentos aos noticiários, seja

no meio eclesiástico ou da grande mídia. O pastor precisa ser um homem bem resolvido e

bem tratado do ponto de vista do equilíbrio emocional e psíquico para bem exercer sua função

pastoral, para não viver o tempo todo com medo de cair nas garras do maligno ou mesmo nas

suas próprias garras. Nem sempre o pastor é levado à queda por pura tentação do Diabo. Ele

em muitos casos pode cair por falta de equilíbrio emocional e por falta de domínio próprio ou

autoconfiança.

O apóstolo Tiago, o irmão do Senhor, afirma que “Cada um, porém, é tentado pelo

próprio mau desejo, sendo por este arrastado e seduzido” (TIAGO 1.14, NVI, p. 967), e o

pastor Hernandes Dias Lopes constata:

Mais de 50% das pessoas que entram em um gabinete pastoral são do sexo

feminino, e mais de 50% dos assuntos tratados estão ligados à vida

sentimental e sexual. Um pastor emocionalmente vulnerável pode envolver-

se emocionalmente com suas consulentes ou deixar-se envolver por elas. Há

um amontoado de pastores que perderam o ministério dentro de um gabinete

pastoral. (LOPES, 2008, p.19)

Esse fato é de suma importância para a vida pastoral, pois nesse ponto ele precisa ser

um pastor aprovado por Deus e pelas pessoas que circundam seu ministério pastoral. São

tentações externas e tentações internas agindo no íntimo e nas emoções do pastor.

4.4 FUNDAMENTOS TEOLÓGICOS

Esse é um fator de muita relevância para o exercício da função pastoral, o seu

preparo teológico com fundamentos seguros à luz da Escritura Sagrada, pois, se sua teologia,

do ponto de vista bíblico estiver sem esses fundamentos, o pastor terá grande dificuldade no

exercício pastoral. Poderá ser levado de um lado para outro por todo vento de doutrina como

afirmou apóstolo Paulo:

O propósito é que não sejamos mais como crianças, levados de um lado para

outro pelas ondas, nem jogados para cá e para lá por todo vento de doutrina e

pela astúcia e esperteza de homens que induzem ao erro. Antes, seguindo a

Page 20: FACULDADE TEOLÓGICA BATISTA DE BRASÍLIA O … · redobrada santificação e dedicação a Deus. Sem abnegação, nem por uma hora ele poderá servir a Deus. (BAXTER, 1989, p.35)

20

verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo.

(EFÉSIOS 4.14-5, NVI, p. 937)

Essa ausência de fundamentação teológica tem levado muitos pastores a pregarem

uma mensagem esvaziada do verdadeiro evangelho pregado por Jesus Cristo e por seus

primeiros apóstolos. Hernandes Dias Lopes afirma: “vemos prosperar nessa terra uma igreja

que se diz evangélica, mas que não tem evangelho. Prega sobre prosperidade, e não sobre

salvação. Fala de tesouros e riquezas na terra e não de tesouros no céu”. (LOPES, 2008, p.22).

Esses pregadores dizem acreditar na Bíblia como única regra de fé e prática, mas não

acreditando na totalidade das Escrituras como fonte inerrante da Palavra de Deus. Hernandes

Lopes sobre esse tópico afirma:

Dizem crer na Bíblia, mas, ao mesmo tempo, são evolucionistas [...] dizem

estar servindo a Deus, mas negam a inspiração das Escrituras [...] O

liberalismo deve ser abandonado, se o que queremos é uma igreja sólida na

palavra, piedosa e comprometida com a obra missionária. Não há antídotos

para uma igreja que abandona a sã doutrina e nada de braços dados com o

liberalismo. (LOPES, 2008, p.24)

Ao concluir esse tópico sobre os perigos enfrentados pelos pastores no exercício da

função pastoral, faz-se necessário trazer o ponto de vista do pastor Hernandes Dias Lopes, em

que ele sumariza:

Há muitos pastores que já estão sangrando, com a vida arrebentada. Há

muitos obreiros que já perderam a sensibilidade espiritual e o temor a Deus.

Estão vivendo na prática de pecado e, ao mesmo tempo, pregando,

ministrando a ceia e aconselhando os aflitos. São hipócritas que tentam curar

outros enquanto deviam estar buscando cura para si mesmos. [...] É tempo de

a igreja orar pelos pastores! É tempo de os pastores botarem a boca no pó e

clamarem a Deus por uma visitação do céu e um tempo de restauração.

(LOPES, 2008, p.34)

Evidentemente não foram abordados todos os perigos e desafios a que pastores

enfrentam no dia-a-dia da vida pastoral. Esses exemplos apenas servem como alerta e como

meios para levar pastores a buscarem uma vida de maior dependência de Deus. Dependência

que pode ser fortalecida por meio da leitura da Palavra, da meditação e da oração constante.

Page 21: FACULDADE TEOLÓGICA BATISTA DE BRASÍLIA O … · redobrada santificação e dedicação a Deus. Sem abnegação, nem por uma hora ele poderá servir a Deus. (BAXTER, 1989, p.35)

21

5. A VIDA FAMILIAR DO PASTOR

Por último, como fator a ser abordado no presente estudo, mas não menos

importante, é o aspecto relacionado à vida familiar do pastor. Essa ênfase na relação familiar é

muitas vezes é negligenciada em função das muitas atividades que a maioria dos pastores

assume diante de uma religiosidade escravizante, onde a instituição passa a ter mais valor do

que vida em família. O Pastor Hernandes Dias Lopes, corrobora com esse tópico dizendo:

“Há lares quebrados, há pastores em crise no casamento. Há famílias pastorais arrebentadas

emocionalmente”. (LOPES, 2008, p.59).

É um contrassenso, pois a própria Bíblia afirma que o bispo, o pastor deve ser um

exímio conselheiro familiar, um exímio administrador da família quando diz em 1 Tm 3.4-5:

“Ele deve governar bem sua família, tendo os filhos sujeitos a ele, com toda dignidade. Pois,

se alguém não sabe governar sua própria família, como poderá cuidar da Igreja de Deus?”.

O pastor não deve encarar seu pastorado de forma leviana nem tratar das coisas

familiares sob um pressuposto equivocado e em segundo plano. Sua conduta e atenção devem

ser exemplos tanto para o rebanho quanto para sua própria família.

É de extrema relevância na vida do pastor aprovado por Deus a preocupação com os

membros de sua família, em especial por seus filhos e sua esposa, conforme se constata

quando o pastor David Hasen (2001) afirma:

Os pais [pastores] cristãos oram por todos os aspectos das vidas de seus

filhos. Oram por sua saúde e por sucesso em sua escola e carreira. Se o filho

está doente, oram com urgência por cura. Se o filho ou filha é candidato a

uma bolsa de estudos ou promoção no serviço, eles oram para que a receba.

Os pais [pastores] não tem que ser neutros para orar. Os pais [pastores]

oram, para que seus filhos sigam Cristo. Oram, para que os pecados dos

filhos sejam perdoados. Oram, para que Deus tenha misericórdia dos filhos.

Oram pelo desenvolvimento do caráter deles. (p.120-1) (acréscimos meu)

Em relação à esposa o pastor deverá ser responsável e desenvolver o amor tendo

como pano de fundo a teologia constante na orientação do apóstolo Paulo em que orienta aos

esposos que amem suas esposas se espelhando em nosso Senhor Jesus Cristo. Ele afirmou:

Maridos, ame cada um a sua mulher, assim como Cristo amou a igreja e

entregou-se por ela para santificá-la, tendo-a purificado pelo lavar da água

mediante a palavra, e para apresenta-la a si mesmo como igreja gloriosa, sem

mancha nem ruga ou coisa semelhante, mas santa e inculpável. Da mesma

forma, os maridos devem amar cada uma a sua mulher como a seu próprio

Page 22: FACULDADE TEOLÓGICA BATISTA DE BRASÍLIA O … · redobrada santificação e dedicação a Deus. Sem abnegação, nem por uma hora ele poderá servir a Deus. (BAXTER, 1989, p.35)

22

corpo. Quem ama sua mulher, ama a si mesmo. (EFÉSIOS 5.25-28, NVI, p.

938)

É uma responsabilidade que Deus dá a todos os homens, mas de forma mais

profunda ao pastor e marido, porque seus familiares também fazem parte do rebanho de Deus,

que Ele a comprou com próprio sangue.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O pastorado e uma vida pastoral aprovada por Deus com certeza deverá ser

contemplada com os pressupostos delineados neste trabalho, porque o pastor não é chamado

para ser apenas um “profissional religioso”, mas para ser um pastor segundo o coração de

Deus, tendo uma vida exemplar no que diz respeito ao preparo acadêmico e espiritual, ao

caráter ilibado e abnegado, a uma vida devocional de leitura da Palavra e meditação na

mesma, enfrentando os perigos ligados ao exercício pastoral com muita oração e ter uma vida

familiar sob a orientação de Deus.

Estas são qualificações mínimas para quem deseja a excelente, mas desafiadora

função de ser pastor do rebanho de Deus que por meio do Senhor Jesus Cristo ele adquiriu e

sob a égide do Espírito Santo confiou aos seus pastores para cuidar e alimentar como

aprovados de Deus e que não tem do que se envergonhar.

Pastores de fato são considerados apenas aqueles que atuam segundo o coração e

vontade de Deus. Entendendo que é o próprio Deus quem define o perfil para os seus

escolhidos ao pastorado. Ele disse: “Então eu lhes darei governantes [pastores] conforme a

minha vontade [o meu coração], que os dirigirão com sabedoria e com entendimento”, se essa

é a realidade para o exercício da função pastoral cabe a todo aquele que almeja essa função

nobre estar sempre se avaliando diante de Deus, que diligentemente define o perfil do pastor

para julgar se ele está sendo aprovado por Deus na condução do se rebanho.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BAXTER, Richard. O Pastor Aprovado: modelo de ministério e crescimento espiritual. São

Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1989.

BÍBLIA Sagrada: Nova versão internacional. São Paulo: Vida, 2002.

BOUNDS, E. M.. O poder pela oração. São Paulo: Vida, 2010.

Page 23: FACULDADE TEOLÓGICA BATISTA DE BRASÍLIA O … · redobrada santificação e dedicação a Deus. Sem abnegação, nem por uma hora ele poderá servir a Deus. (BAXTER, 1989, p.35)

23

CÉSAR, Elben M. Lenz. Práticas Devocionais: exercícios de sobrevivência e plenitude

Espiritual. Viçosa: Últimato Ltda., 2005.

FOSTER, Richard J. A celebração da disciplina: o caminho do crescimento espiritual. 2. ed.

São Paulo: Vida, 2007.

_____________. Richard J. A liberdade da simplicidade: encontrando a simplicidade num

mundo complexo. 2. ed. São Paulo: Vida, 2008.

HANSEN, David. A arte de pastorear. São Paulo: Shedd, 2001.

HOUSTON, James M. A oração: caminho para quem busca a amizade com Deus.

Brasília: Palavra, 2009.

KEMP, Jaime. Pastores ainda em Perigo: ajuda para pastor, esperança para a igreja. São

Paulo; Sepal, 1996.

_____________. Jaime. Pastores em Perigo: ajuda para pastor, esperança para a igreja. 2. ed.

São Paulo: Sepal, 1996.

LOPES, Hernandes Dias. De: Pastor. A: Pastor: princípios para ser um pastor segundo o

coração de Deus. São Paulo: Hagnos, 2008.

MARTINS, Jaziel Guerreiro. Manual do Pastor e da Igreja. Curitiba: A.D. Santos Editora,

2002.

MURRAY, Andrew. Com Cristo na Escola da Oração.São Paulo: Editora Clássicos, 2009.

PERTERSON, Eugene; DAWN, Marva J. O pastor desnecessário: redescobrindo o

chamado. Rio de Janeiro: Textus, 2001.

POIRIER, Alfred. O pastor pacificador: um guia bíblico para a solução de conflitos na

Igreja. São Paulo: Vida Nova, 2011.