78
FACULDADES INTEGRADAS DO BRASIL UNIBRASIL Patricia de Castro Thais Travençoli da Luz Futebolistas: vídeo documentário sobre a representação da mulher no futebol CURITIBA 2014

FACULDADES INTEGRADAS DO BRASIL UNIBRASIL · RESUMO Este trabalho tem ... 4.4. A invisibilidade da mulher no esporte ... A desigualdade dos gêneros ainda é um grande obstáculo

  • Upload
    phamdan

  • View
    218

  • Download
    1

Embed Size (px)

Citation preview

FACULDADES INTEGRADAS DO BRASIL – UNIBRASIL

Patricia de Castro Thais Travençoli da Luz

Futebolistas: vídeo documentário sobre a representação

da mulher no futebol

CURITIBA

2014

FACULDADES INTEGRADAS DO BRASIL – UNIBRASIL

Patricia de Castro Thais Travençoli da Luz

Futebolistas: vídeo documentário sobre a representação da

mulher no futebol

Trabalho de conclusão de curso apresentado como requisito parcial para a obtenção de grau de Bacharel em Jornalismo à Escola de Comunicação das Faculdades Integradas do Brasil, sob orientação do professor mestre Hendryo André.

CURITIBA

2014

DEDICATÓRIA

Dedica-se este trabalho a todas as mulheres

que lutam e acreditam no futebol feminino.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, que me fez escolher esta profissão e me deu forças para

chegar até aqui. Aos meus pais, Inez e Joaquim, pelo amor incondicional e por

acreditaram na minha escolha. Aos meus irmãos, Renato e Ricardo, pelo

cuidado e por me apoiarem desde o início da faculdade. À minha cunhada,

Priscila, pelo carinho e pelo incentivo durante o desenvolvimento deste

trabalho. Ao meu sobrinho e afilhado, Théo, que mesmo pequeno, me ensinou

o quanto um sorriso faz bem à alma. À minha amiga e companheira de TCC,

Patricia, pela paciência e por caminhar ao meu lado desde o Ensino

Fundamental. Ao meu namorado, Maikon, pelo companheirismo, amor

indescritível e por estar presente nos momentos de fraqueza e felicidade.

Obrigada por acreditarem neste sonho. Eu amo vocês.

Thais Travençoli

Primeiramente agradeço a Deus por sempre estar ao meu lado em todos os

momentos. A toda a minha família, em especial aos meus pais Vanira e João

que sempre estiveram presentes para me apoiar. Ao meu namorado Alisson,

que permaneceu ao meu lado disponibilizando do seu conhecimento para

enriquecer o nosso trabalho. E a minha amiga e companheira de TCC, Thais,

que contribuiu muito para realização deste projeto.

Patricia Castro

Agradecemos a todos os professores que contribuíram para nossa formação,

em especial ao nosso orientador Hendryo André, pela dedicação, paciência,

pelas horas de orientação e por acreditar neste trabalho desde o início.

Agradecemos também ao time de futebol feminino de Colombo, pela atenção e

por contribuírem para a realização deste produto. Ao amigo Denis Barbosa,

pelo incentivo e por acreditar na cobertura jornalística de esportes amadores.

Ao amigo Rafael Passos, pelo apoio e por nos ensinar a editar. A todos, nosso

muito obrigada. Sem vocês não seria possível.

Nós

“O rei de amanhã pode ser uma rainha.

E então? E se as mulheres conseguirem

fazer isso mais bem feito?

Como é que ficaremos?”

(Eugênio Bucci)

RESUMO

Este trabalho tem como objetivo criar uma reflexão a respeito da imagem da mulher no esporte, principalmente no futebol. Por meio de uma análise de conteúdo quantitativa este estudo pretende entender como a mulher é tratada na mídia esportiva. A partir desta pesquisa foi realizado um vídeo documentário na tentativa de expor a realidade do futebol feminino no Brasil. O principal objetivo deste trabalho é criar uma discussão sobre como a mulher é tratada na mídia esportiva, além de colaborar para uma mudança de comportamento da sociedade.

PALAVRAS-CHAVE: Vídeo documentário; futebol feminino; relações de gênero.

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 8

2. TEMA E PROBLEMA ........................................................................................................ 8

2.1. A mulher no esporte ..................................................................................................... 8

2.2. O progresso da mulher no esporte ............................................................................. 13

2.3. O futebol no Brasil ....................................................................................................... 15

2.4. Sociedade Beneficente Recreativa Colombo Futebol Clube ....................................... 20

3. OBJETIVOS ...................................................................................................................... 21

3.1. Objetivo geral .............................................................................................................. 22

3.2. Objetivos específicos ................................................................................................... 22

4. JUSTIFICATIVA ............................................................................................................... 22

4.1. A mulher atleta nos âmbitos sociais ........................................................................... 23

4.2. Cobertura jornalística .................................................................................................. 24

4.4. A invisibilidade da mulher no esporte......................................................................... 27

5. REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................................. 28

5.1. A comunicação ............................................................................................................ 28

5.2. O papel do jornalismo ................................................................................................. 29

5.3. A identidade cultural ................................................................................................... 32

5.4. Produção documentária e teoria culturológica .......................................................... 35

6. METODOLOGIA DE PESQUISA .................................................................................. 39

6.1. Investigação e história ................................................................................................. 39

6.2. Análise de conteúdo .................................................................................................... 41

6.3 A representação da mulher no programa Globo Esporte, do Paraná .......................... 44

7. DELIMITAÇÃO DO PRODUTO ..................................................................................... 54

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 57

9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................. 59

10. CRONOGRAMA ........................................................................................................... 62

ANEXOS .................................................................................................................................... 63

APÊNDICE ................................................................................................................................ 65

8

1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho busca compreender a participação da mulher no

esporte, especificamente, no futebol. Primeiro buscou-se estudar como a

mulher se inseriu no esporte e conquistou espaço. Depois foi necessária uma

breve apresentação da origem do futebol, que chegou ao Brasil no século XIX

e se tornou o principal esporte do país. No início do século XX as mulheres

começam a praticar a modalidade no Brasil e aos poucos foram quebrando

barreiras sociais e culturais. No entanto, apesar dos avanços da mulher no

esporte, ainda há o preconceito e a falta de incentivo à prática do futebol

feminino no Brasil.

Outro ponto abordado neste estudo é a cobertura da mídia esportiva

em assuntos relacionados à mulher no esporte. O espaço para divulgação de

notícias voltadas às atletas ainda é pequeno.

Tendo em vista a necessidade de uma reflexão social do papel da

mulher no esporte e também uma mudança de comportamento por parte da

mídia esportiva, este trabalho propõe a realização de uma análise de conteúdo

quantitativa e qualitativa do programa Globo Esporte, no Paraná. Acredita-se

que por meio deste estudo é possível entender como a mulher atleta é

retratada no meio social e no jornalismo esportivo.

Por meio da produção de um vídeo documentário, este trabalho busca

apresentar aspectos da realidade do futebol feminino. Além disso, pretende-se

levantar uma discussão da igualdade de direitos no esporte.

2. TEMA E PROBLEMA

2.1. A mulher no esporte

Indiferente da sexualidade, o esporte se tornou uma forma de

expressão de bem estar e liberdade. Principalmente para as mulheres que não

tinham oportunidades em nenhuma área social. É bom ressaltar também que

esse espaço na área esportiva conquistado pela mulher é limitado. A mulher é

9

vista com um símbolo sexual tanto pela mídia quanto culturalmente (SIMÕES,

CONCEIÇÃO, NERY, 2004).

Mudanças sociais ocorreram com o passar dos anos e, principalmente,

o comportamento das mulheres que se tornou mais independente encarando

os preconceitos culturais. É claro que muitas destas mudanças se devem ao

feminismo que se sobressaiu diante dos conflitos. O discurso inserido na

sociedade de que a mulher é frágil, carregada de emoções e sentimentos já

está na essência cultural. Essas emoções atribuídas somente às mulheres

justificam por muitas vezes a sua má atuação no esporte. Ou seja, a “Natureza

Feminina” (SIMÕES, CONCEIÇÃO, NERY, 2004).

De acordo com Simões, Conceição e Nery, pode-se dizer que o mito de

que a mulher não seria capaz de realizar determinados esportes se acaba com

a inserção dessas atletas no âmbito esportivo. A necessidade de vencer os

obstáculos esportivos para mostrar sua capacidade física e psicológica fez com

que a mulher buscasse de qualquer maneira resultados positivos na área

esportiva. “A necessidade de vencer para obter status social mobiliza

ansiedades e angústias – diante delas, o comportamento seria colocado à

prova em suas emoções, sentimentos, assertividade e violência” (SIMÕES;

CONCEIÇÃO; NERY, 2004, p. 74).

A mulher vem conquistando espaço no esporte, quebrando as barreiras

sociais do preconceito e se inserindo em atividades esportivas que há pouco

tempo eram praticadas somente por homens. De acordo com Vasquez (apud

SIMÕES, 2004), em algumas culturas há 3.500 a.C – muitas mulheres

participavam de atividades esportivas tendo espaço e valorização nesta área.

O que podemos notar com este exemplo é que com o passar dos anos o

esporte entre as mulheres sofreu mutações de retrocessos e avanços

(SIMÕES, 2004).

A mulher conseguiu construir o seu espaço na área esportiva apenas

na metade do século XX (ALONSO apud SIMÕES 2002). Segundo o autor, a

vontade de se inserir na sociedade para obter mais notoriedade, não somente

em questões esportivas, foi o que ocasionou o progresso da mulher em

diversos setores da sociedade.

As atividades realizadas por essas atletas rompem a teoria

conservadora de que a mulher é frágil, sedentária e doméstica. Pelo contrário,

10

inserida no esporte, ela busca novos ideais interagindo, trazendo emoções,

sentimentos, prazer e qualidade de vida. Sentimentos que antes estavam

reprimidos e que agora estão livres (ibid).

Nos últimos 25 anos, as mulheres conseguiram detonar as muralhas da segregação e discriminação que definitivamente defendiam a exclusão delas por inúmeras razões, que vão desde a eterna superioridade masculina até as diversas formas de pensar as mulheres como desportistas e atletas de alto nível. Enquanto no passado, o ser mulher desportista/atleta preocupava o poder institucionalizado (educacional, religioso, político), hoje elas invadem todas as áreas dos esportes tradicionais e dos radicais (SIMÕES, 2004, p. 30).

Atualmente, o homem consegue se inserir em todas as áreas

esportivas. Sendo assim, o esporte se torna uma esfera conhecida como

“masculina”. O homem assume um papel de predominância no esporte. “A

mulher foi considerada usurpadora de um espaço consagrado ao usufruto

masculino” (KNIJNIK, SOUZA, 2004, p. 198).

A mulher está conquistando espaço no esporte a passos lentos.

Entretanto, ganha mais espaço assumindo altas posições no esporte onde

antes não era possível. “Não houve, no esporte, um movimento feminino,

menos ainda feminista, pela equalização do gênero, devido à ausência de um

movimento contestador das esportistas brasileiras” (KNIJNIK; SOUZA, 2004, p.

198).

A desigualdade dos gêneros ainda é um grande obstáculo em pleno

século XXI. Segundo Freitas (apud SIMÕES, 2004), as esportistas ainda são

por muitas vezes ignoradas ou representadas como símbolos sexuais pela

mídia contemporânea. Um exemplo que o autor relata é quando a ex-jogadora

de basquete brasileira Hortência virou notícia após posar nua em uma revista

masculina quando ainda jogava.

O esporte já está integrado em nossa sociedade há muitos anos e a

mulher busca notoriedade e valor nesta área. O fato é que essa procura por

reconhecimento no esporte não surtiu muito efeito visto que a desigualdade

entre os gêneros ainda predomina.

(...) as mulheres não conseguem receber o mesmo tratamento dado aos homens, tendo em vista a criação de

11

padrões sociais em que as conquistas masculinas são mais valorizadas do que as femininas, tanto pela televisão quanto pelos meios de comunicação como um todo (SIMÕES, 2004, p. 38).

Pressupõe-se que entre alguns esportes praticados pelas mulheres a

desvalorização surte um efeito maior, como por exemplo, no futebol, tema de

estudo deste trabalho.

A mídia contemporânea vem priorizando a visibilidade dos atletas

masculinos por acreditar que o receptor se interessa mais por esportes que

envolvam homens do que mulheres. Isso resulta numa desigualdade de

gêneros, criando-se um “muro” de diferenças entre homens e mulheres no

esporte.

A participação ou relutância feminina para entrar no esporte reflete a indissociabilidade entre mulher/esporte e sociedade machista – constituída de valores sociais e culturais além das crenças e crendices que incorporam elementos de instrumentalidade e expressividade andrógena, que seria um perfil ligado à participação das mulheres no mundo dos esportes institucionalizados (SIMÕES, 2004, p. 38).

O desejo da mulher em buscar reconhecimento e sucesso trouxe certo

desconforto aos atletas masculinos, ao passo em que elas ganharam um

espaço social. Ainda que esse espaço seja pequeno, pode-se dizer então que

a grande dificuldade da mulher no esporte é de se estabilizar com notoriedade.

(SIMÕES, 2004). No meio esportivo, a conduta da mulher tem que surtir

sempre elevados padrões de desempenhos como força e habilidade.

Características essas que são estabelecidas por seus grupos.

O problema é que a mulher se comporta de acordo com as estereotipias das práticas socioesportivas e esportivas competitivas. Exemplo disso é quando as mulheres usam fitas nos cabelos e/ ou meias de determinada cor, geralmente todas seguem esse movimento (...) essa estereotipia é considerada masculinizada (SIMÕES, 2004, p. 40).

Pressupõe-se então que mulher tem que se adequar aos padrões que

são estabelecidos a ela nos âmbitos esportivos para que haja visibilidade sobre

si. Porém, nem todas as atletas conseguem traçar tais metas a que são

solicitadas. Conforme Simões (2004), pode-se dizer então que para se obter

mais notoriedade no esporte se exige muito mais da mulher que do homem.

12

A mulher no esporte é o resultado de seu desempenho progressista

social que se moldou ao longo dos séculos. Tarefas que anteriormente eram

feitas somente por homens, hoje já podem ser feitas pelas mulheres que, por

meio do esporte, apresentam socialmente as suas subjetividades.

O universo esportivo, portanto, representaria um cenário propício para as mulheres expressarem suas subjetividades, espontaneidades, movimentos, sentimentos e emoções – despertando a vitalidade feminina em relação ao significado que legitima a sua participação tanto no mundo social com no mundo dos esportes (SIMÕES, 2004, p. 41).

Por muito tempo foi negado o direito da mulher de ter um espaço no

esporte. Até hoje as dificuldades prevalecem, todavia, bem menos que antes.

O homem acreditava que a mulher no esporte se masculinizaria por isso não

aceitava que o sexo oposto entrasse nesta área. Durante muitos anos essa

ideia prevaleceu na sociedade e os resquícios deste ideal ainda são

idealizados por muitos (Ibid.).

As conquistas das mulheres em diversos âmbitos sociais vêm

ocorrendo com frequência com o passar dos tempos. E no esporte não podia

ser diferente. “O chamado sexo frágil tornou-se ativo, passando a ocupar os

últimos espaços típicos da resistência patriarcal” (Ibid.).

Os esportes definidos como “masculinos” agora são ocupados também

pelas atletas femininas que se moldam plenamente a todas as modalidades

esportivas. Áreas essas que contribuem para a modificação do cenário social e

cultural (Ibid.).

É possível dizer que o início embrionário da mulher no esporte se dá

desde os tempos da Grécia antiga na origem das Olimpíadas em 776 a. C. Um

exemplo sobre o fato, de acordo com Ferrando (apud SIMÕES; CONCEIÇÃO;

NERY, 2004), foi Calipátira, a primeira mulher da história no esporte.

Naquela época era lei que as mulheres casadas não pudessem nem

assistir os jogos esportivos. Entretanto, segundo Ferrando (apud SIMÕES;

CONCEIÇÃO; NERY, 2004), Calipátira se escondeu com uma túnica para

participar de um torneio esportivo da época e acabou ganhando a competição.

Ao ser descoberta, muitas regras da competição foram mudadas fazendo com

que a mulher se destinasse em apenas cumprir o papel familiar de mãe.

13

A história tem indicado que as mulheres desportistas, embora sendo discriminadas, conseguiram ascender e conquistar o pódio olímpico. A conquista é uma abordagem sem barreiras nem limites, que torna impotentes quaisquer tipos de restrições ao comportamento das mulheres em busca de resultados, à medida que foram quebrando paradigmas e tornado- se mais influentes, sustentando padrões de comportamento que envolve até mesmo a transgressão das leis da sociedade (SIMÕES; CONCEIÇÃO; NERY, 2004, p. 69).

2.2. O progresso da mulher no esporte

Na era Moderna, em Atenas, nos Jogos Olímpicos de 1896, a mulher

foi proibida de participar das competições. Atualmente, as atletas

“conquistaram resultados cada vez mais expressivos, e hoje a mulher atleta

carrega consigo um significado que rende uma série de questionamentos

intrigantes. Algumas veem o esporte de rendimento como um modelo provedor

de ascensão social, de status e de provável fonte de emancipação financeira”

(SIMÕES; CORTEZ; CONCEIÇÃO, 2004, p. 133). Para se inserir na sociedade

e ser aceita culturalmente, a mulher tem que se aperfeiçoar de uma forma

aceitável em muitos fatores como citam Simões, Cortez e Conceição:

É oportuno lembrar que elas são manipuladas, exploradas, despersonalizadas e alienadas com os mais diferentes tipos de treinamento, não escapando sequer do uso de produtos farmacológicos – por isso abrem mão do que se convencionou chamar de feminino, estético, ternura, obediência em troca de assertividade, agressividade e métodos de procedimento que as levem ao topo da hierarquia do mundo esportivo (SIMÕES; CORTEZ; CONCEIÇÃO, 2004, p.134).

As regras no meio esportivo são estabelecidas para que a mulher

possa se inserir no esporte. Essas regras são aceitas por muitas atletas sem

questionamento. De acordo com os autores, há um processo de conformismo

de muitas mulheres nesse meio. Já a atleta que não aceita certas regras

estabelecidas, por sua vez, é afastada do meio esportivo ou se destaca na

mídia pela sua singularidade.

Existem muitos fatores na sociedade que explicam a desigualdade dos

gêneros. Uma das explicações seria a questão científica, pois de acordo com

14

análises da ciência, a mulher geneticamente é mais frágil que o homem em

questões de força, por isso que a atleta feminina não se igualaria ao homem.

Outro fator levantado seriam as questões hormonais da mulher, que afetaria o

seu desempenho como atleta (Ibid.).

Questões como essas são levantadas frequentemente pela sociedade.

A mulher atleta tenta se reerguer diante de sua desvalorização no meio

esportivo que é o reflexo social, não somente da contemporaneidade, mas sim,

dos primórdios dos tempos (Ibid.).

Os comportamentos sociais apresentados acima só legitimam a

desigualdade dos gêneros (Ibid.). Cabe como o exemplo o tema discutido neste

trabalho sobre o futebol feminino, no qual a mulher se iguala ao homem em

questões físicas e psicológicas. Entretanto, pelo fato do futebol ser

culturalmente reconhecido como um esporte “masculino”, a atleta encontra

dificuldades em sua inserção no esporte e a difícil tarefa de conquistar

reconhecimento e visibilidade perante a sociedade e a mídia.

A vontade de buscar novos desafios é um dos quesitos para a inserção

da mulher no esporte. Provar à sociedade que ela é capaz de realizar as

mesmas tarefas que os homens se tornou um objetivo. Ou seja, por meio do

esporte a mulher visa que as desigualdades dos gêneros diminuam (Ibid.).

O esporte faz parte da cultura de diversos povos. Podemos dizer que o

esporte desperta na população o interesse, a paixão e um estilo de vida. Sendo

assim, o esporte possui uma longa história que foi crescendo com o passar dos

anos (GOELLNER, 2004).

A mulher no Brasil iniciou suas práticas esportivas em 26 de junho de

1932, quando a delegação brasileira com 82 atletas desembarcou em Los

Angeles, nos Estados Unidos, para participar da sua primeira Olimpíada. Até

então, as mulheres no Brasil não haviam participado da competição, nem de

nenhuma área esportiva. Foi a partir deste momento que a mulher começou a

inserir neste meio esportivo em busca de um espaço. O século XX foi o

pontapé inicial para a mulher no esporte. “A partir da segunda metade do

século XX, modalidades como vôlei, basquete, natação, tênis e atletismo

tornam-se cada vez mais praticadas, possibilitando que a participação das

mulheres nas competições nacionais e internacionais tivesse, também, um

significado avanço” (GOELLNER, 2004, p. 369).

15

Nos anos de 1980 e 1990 as mulheres começaram a ganhar mais

espaço. Modalidades que anteriormente eram consideradas masculinas como,

por exemplo, o futebol de campo, começam a ser praticadas pelas mulheres

(GOELLNER, 2004).

O futebol – principal modalidade esportiva praticada pelo país – exemplifica bem essa situação. O número de mulheres brasileiras que hoje pratica futebol em clubes e áreas de lazer aumentou se comparado à década anterior; os campeonatos regionais proliferam a cada momento. Porém, não há um número considerável de mulheres nas comissões técnicas dos clubes de futebol feminino, nem no nível administrativo das entidades que reagem esse esporte (GOELLNER, 2004, p. 370).

Para estudar a participação da mulher no futebol, tema de estudo deste

trabalho, é importante conhecermos como esse esporte chegou ao Brasil e se

tornou parte da cultura brasileira.

2.3. O futebol no Brasil

O futebol teve origem na Inglaterra por volta do século XVIII e era

praticado por estudantes da elite inglesa. Segundo Souza (1996), as escolas

transformaram alguns passatempos populares em exercícios corporais da elite.

Além de uma ocupação para os jovens, o futebol era um meio de ensiná-los a

ter caráter.

O amadorismo no futebol europeu daquela época foi uma dimensão de uma filosofia aristocrática, que, apesar de torná-lo uma atividade tão desinteressada quanto, digamos, a arte, seria mais conveniente à formação de futuros líderes, devido ao seu aspecto de moldar o caráter e inculcar a vontade de vencer (SOUZA, 1996, p. 14).

No Brasil, a prática do futebol surgiu no final do século XIX. Conforme

Souza (1996), o esporte era praticado por funcionários ingleses e pelos filhos

da classe privilegiada que viajava à Europa. O brasileiro Charles Muller marcou

esta fase da história do futebol no Brasil quando, em 1984, trouxe duas bolas e

um manual com regras, depois de um período de estudos na Inglaterra. Muller

ficou conhecido então como o “pai do futebol brasileiro”, segundo Souza

(1996), expressão que por si só o remete como um esporte genuinamente

16

masculino. “Nenhum esporte gozou, em tempo algum, de tanta popularidade no

Brasil como o futebol. Qualquer cidade brasileira, grande ou pequena, possui

nos campos de futebol um referencial em sua paisagem” (SOUZA, 1996, p.16).

O futebol passa a ser visto então como espetáculo e parte da cultura popular.

Os jogadores profissionais e amadores, que representem alguma coletividade quando jogam futebol, são os sujeitos e atores do espetáculo, ou seja, eles são os participantes diretos; enquanto os torcedores, via identificação obtida com os jogadores, tornam-se também sujeitos simbólicos do espetáculo, ou dele participam indiretamente (SOUZA, 1996, p. 25).

DaMatta (1982) faz uma comparação do futebol com aspectos do

universo humano. Segundo o autor, vivemos em campos de futebol e estamos

norteados por regras. Estamos rodeados de pessoas que estão contra nós,

mas também há pessoas que vestem a “mesma camisa”. Mas neste campo de

futebol da vida, como é chamado pelo autor, existe ainda “figuras intocáveis a

quem devemos obediência e respeito, pois detêm o poder de fazer cumprir um

conjunto de regras impessoais que se aplicam a todos” (DAMATTA, 1982, p.

14). Nas palavras do autor, discutir futebol seria argumentar sobre os

problemas e lances da vida:

Este nosso jogo sempre termina um dia, ao passo que o jogo continua. As regras delimitam ações e tempo e, assim fazendo, abrem, paradoxalmente, o jogo para a eternidade. É precisamente o instante em que a regra não pode ser cumprida ou que ela foi levada às últimas consequências, o momento mágico que imortalizamos (DAMATTA, 1982, p. 15)

DaMatta (1982) buscou entender porque o futebol tornou-se um

esporte de massa no Brasil. Primeiro é preciso compreender que “o jogo está

na sociedade tanto quanto a sociedade no jogo” (DAMATTA, 1982, p. 16). É a

própria sociedade que faz o futebol um aliado na busca de melhorias para a

população. O autor acredita que há “outro jogo que se passa na vida real,

jogado pela população brasileira, na sua constante busca de mudança para

seu destino” (DAMATTA, 1982, p. 26). E continua:

O futebol permite exprimir no caso brasileiro o importante conflito entre destino impessoal e vontade individual. Sendo assim, são muitos os jogos de futebol que, no Brasil,

17

permitem sua leitura enquanto paradigmas de um combate entre forças coletivas e impessoais (do destino) e as vontades individuais que buscam escapar do ciclo da derrota e da pobreza (DAMATTA, 1982, p. 27).

No Brasil, o futebol e a política chamam praticantes (Ibid.). Algumas

expressões aparecem tanto no futebol quanto na política. Uma delas, citada

pelo autor, é “ter jogo de cintura”. Trata-se de uma pessoa que sabe lidar com

alguma situação sem sair perdendo. O autor ainda classifica essa expressão

como malandragem, que seria uma forma de defesa marcante do brasileiro.

O bom jogador de futebol e o político sagaz sabem que a regra de ouro do universo social brasileiro consiste precisamente em saber sair-se bem. Em poder safar-se nas situações difíceis, fazendo isso com alta dose de dissimulação e elegância, de modo que os outros venham a pensar que para o jogador tudo estava muito fácil (DAMATTA, 1982, p. 28).

O futebol passa a ser estudado então como sendo capaz de provocar

dramatizações no mundo (DAMATTA, 1982). O futebol não serve apenas para

ser visto, ele também serve para colocar em foco os temas da sociedade.

DaMatta vê a experiência de uma união de um país com o futebol como

positivo quando “ela permite à massa destituída ter o sentimento de totalidade

nacional, do valor do povo representado pelos seus ídolos e, mais importante

que tudo isso, da vitória plena e merecida” (DAMATTA, 1982, p. 35).

Mas nesse esporte, que até aqui se mostrou ser pacífico, começamos

a encontrar aspectos conflitantes como o machismo e a violência. Neves (apud

DAMATTA, 1982) cita a frase “futebol é coisa pra homem” e diz que se a frase

enfraqueceu hoje com a presença feminina nas arquibancadas, ainda é válida

para os atletas. Com esse pensamento, o jogador não deve ter medo do

adversário fisicamente. Ele deve agir quando for agredido e não se abater com

uma derrota.

Segundo Neves (ibid.), a violência é legitimada pela torcida. Um

exemplo é quando ocorrem faltas violentas contra uma equipe e a torcida pede

para revidar. Outro ponto de violência no futebol é o conflito entre torcedores

de times adversários. Além disso (ibid.), também lembra que as vaias a atletas,

comissão técnica e arbitragem são um ato de violência.

18

Esta (a torcida) tende a negar a maioria dos valores das regras e os mais evidentes símbolos do poder, sem, contudo, deixar de ser atingida pelos traços ideológicos relativos às representações do indivíduo – e sua ascensão social num regime suposto democrático; sem ficar alheia às definições possíveis do espaço e tempo do jogo; sem se manter imune às representações nacionalistas, populistas e paternalistas que envolvam – como ideologia da permanência a mais importante (e também a mais contínua) manifestação de massas do Brasil de hoje: o futebol (NEVES apud DAMATTA, 1982, p. 57).

A mulher no futebol

Começamos agora a estudar a história das mulheres no futebol,

espaço eminentemente masculino. Vale citar aqui o estudo de Franzini (2005),

que procurou analisar a presença das mulheres dentro e fora de campo. De

acordo com o Franzini, os valores embutidos no futebol estabelecem limites

que mesmo não estando claros “devem ser observados para a perfeita

manutenção da „ordem‟, ou da „lógica‟, que se atribui ao jogo que nele se

espera ver confirmada” (FRANZINI, 2005, p. 02). Segundo o autor, a entrada

das mulheres em campo altera tal ordem e as reações “daí decorrentes

expressam muito bem as relações de gênero presentes em cada sociedade:

quanto mais machista, ou sexista, ela for, mais exacerbadas as suas réplicas”

(Ibid.).

Vale citar aqui o pensamento de Simões (2004), de que ainda existe na

sociedade a ideia de que os homens são o sexo dominante. Tabu esse que

ainda não foi quebrado pelas mulheres, que vem lutando por um espaço ao

longo dos séculos XX e XXI, inclusive na área esportiva, momento em que

rompe com identidades sociais e culturais, integrando-se em setores que eram,

e que ainda são, por muitas vezes, ditados como masculino. “Graças a essas

outras conquistas, as mulheres estão criando valores sociais e culturais que

modificam ou se opõem aos diferentes modelos dominados patriarcais”

(SIMÕES, 2004, p. 37).

A ideologia de que o homem é superior à mulher em questões físicas,

biológicas e psicológicas, segundo Simões, vêm sendo construída pela

sociedade ao longo dos anos e isso acaba criando a ideia da masculinização

da atleta feminina.

19

Franzini (2005) traz algumas referências do futebol feminino em seu

estudo. O autor cita Witter, que contextualiza o início da modalidade no país:

No Brasil, o primeiro jogo de futebol feminino de que se tem notícia foi disputado em 1913, entre times dos bairros da Cantareira e do Tremembé, de São Paulo. Cercado de preconceitos o esporte não chegou a se firmar entre as mulheres, mas a partir de 1981 formaram-se várias equipes femininas em clubes como São Paulo, Guarani, América e outros (Witter apud FRANZINI, 2005, p.317).

Na Europa, o futebol feminino alcançou muito mais sucesso do que no

Brasil entre o final da década de 1910 e o início dos anos 1920 (FRANZINI,

2005). Segundo Franzini, durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) os

homens trocaram os campos de futebol pelas batalhas, assim coube às

mulheres formarem equipes e montarem jogos beneficentes para arrecadar

fundos para ajudar os soldados que estavam na guerra. Na França, o futebol

feminino ficou em ascensão um pouco mais de tempo do que na Inglaterra.

Esteve em destaque até 1926 (FRANZINI, 2005). No entanto, com o fim da

guerra, a realidade do futebol feminino mudou. “Esses times entraram em

choque com os interesses dos supostos donos do jogo, e logo as mulheres

viram-se mais uma vez segregadas às arquibancadas” (FRANZINI, 2005, p.

317).

Durante a formação das primeiras equipes de futebol feminino no Brasil

o preconceito não estava ligado diretamente ao fato das mulheres praticarem o

esporte, mas sim à subversão de papéis que era promovida pelas mulheres,

visto que elas estariam ingressando num espaço masculino. A mulher deveria

contribuir com o fortalecimento da nação gerando filhos saudáveis e para isso

deveria cuidar da própria saúde (FRANZINI, 2005). Praticar o futebol poderia

afetar a saúde delas. A participação feminina neste esporte começa a ser vista

então como um interesse do Estado.

O futebol feminino, portanto, só poderia mesmo representar um “desvio de conduta” inadmissível aos olhos do Estado Novo e da sociedade brasileira, pois abria possibilidades outras além daquelas consagradas pelo estereótipo da “rainha do lar”, que incensava a “boa mãe” e a “boa esposa” (de preferência seguindo os padrões hollywoodianos de beleza), principalmente, restrita ao espaço doméstico (FRANZINI, 2005, p.321).

20

Segundo Franzini, em 1940 até a Subdivisão de Medicina

Especializada recomendava que fosse feito uma campanha mostrando os

malefícios causados pelo futebol para que as mulheres deixassem de praticar o

esporte. A campanha não aconteceu, mas contribuiu para a interferência dos

poderes públicos. Em abril de 1941, o decreto-lei 3.199 (artigo 54), proibia a

prática de futebol pelas mulheres: “Às mulheres não se permitirá a prática de

desportos incompatíveis com as condições de sua natureza, devendo, para

este feito, o Conselho Nacional de Desportos baixar as necessárias instruções

às entidades desportivas do país” (BRASIL, 1941).

De acordo com Franzini (2005), o Conselho Nacional de Desportos

definia quais os esportes que poderiam ser praticados por mulheres. Além

disso, a Divisão de Educação Física do Ministério da Educação e Saúde

recomendava alguns esportes para o público feminino. Entre as modalidades

estavam tênis, voleibol, natação e ciclismo (FRANZINI, 2005). Na opinião de

Franzini não houve sensibilidade para compreender a entrada das mulheres no

futebol.

A relação tolerada das mulheres com o futebol funcionava assim como metáfora de sua posição na sociedade brasileira da época, já que nesta seu papel não era muito diferente de ficar nos reservados da assistência, vendo os homens “construírem a nação” (FRANZINI, 2005, p. 325).

Depois da crise no futebol feminino vivida nos anos 1940, no Brasil a

modalidade seguiu com manifestações dispersas ao longo dos anos

(FRANZINI, 2005). No início da ditadura militar (1964-1985), o Conselho

Nacional de Desportos chegou a proibir as mulheres a praticarem futebol, tanto

no campo de grama, como na praia e nas quadras de salão. A proibição só foi

revogada por volta de 1980, quando surgiu a criação de departamentos de

futebol feminino em vários clubes do país (FRANZINI, 2005). No entanto,

apesar da evolução nos últimos anos, as mulheres ainda buscam a valorização

dentro das quatro linhas.

2.4. Sociedade Beneficente Recreativa Colombo Futebol Clube

21

Depois de uma breve contextualização das relações de gênero no

futebol brasileiro, passamos a conhecer a história do clube de futebol feminino

de Colombo.

Pressupõe-se que os clubes de futebol feminino do Brasil enfrentam

dificuldades semelhantes. A proposta deste trabalho é produzir um vídeo

documentário para entender a realidade deste esporte sob o olhar das atletas

do clube de futebol feminino de Colombo. Para isso, é importante uma breve

apresentação do clube.

De acordo com o técnico Alexandro Teodoro1, a Sociedade

Beneficente Recreativa Colombo Futebol Clube foi fundada em 20 de setembro

de 1947, com sede no município de Colombo, na Região Metropolitana de

Curitiba (PR). Em 1998 surgiu a primeira equipe de futebol feminino do Clube.

Hoje 35 atletas integram o elenco. Todas jogam sem receber salários

ou benefícios. É importante lembrar que a equipe de Colombo não realiza

treinos frequentemente devido ao envolvimento das atletas com outras

atividades, como trabalho e estudos. Muitas vezes as jogadoras se encontram

apenas no dia das partidas.

A equipe de Colombo já participou das seguintes competições:

-Campeonato Metropolitano de Futebol Feminino 2000, 2005, 2012 e

2013

- Campeonato Paranaense de Futebol Feminino 2003 e 2012

- Copa Sul-Brasileira de Futebol Feminino 2002 e 2003

Como apresentado, as atletas de Colombo jogam sem receber nenhum

benefício. Diante do cenário do futebol feminino no Brasil e da condição das

jogadores de Colombo pretende-se responder a seguinte questão: O que faz

com que atletas de futebol feminino tenham motivação para jogar diante da

desvalorização deste esporte?

3. OBJETIVOS

1 Entrevista realizada no dia 15 de setembro de 2013, na final entre Quitandinha e Colombo, durante o

Campeonato Metropolitano de futebol feminino.

22

3.1. Objetivo geral

- Expor, a partir da produção de um vídeo documentário, aspectos da realidade

do futebol feminino sob a ótica do clube de futebol feminino de Colombo.

3.2. Objetivos específicos

- Mostrar a realidade social do futebol feminino (reconhecimento e

profissionalização).

- Analisar como o tema é tratado pela mídia.

- Levantar a discussão de igualdade de direitos no campo do esporte.

4. JUSTIFICATIVA

A escolha do tema se dá por acreditar que o futebol feminino não tem

visibilidade na sociedade. Por acreditar também que por meio deste trabalho é

possível diminuir o preconceito. Mediante uma análise de conteúdo quantitativa

pretende-se avaliar um programa de esportes de grande audiência na televisão

local para entender como o tema é hegemonicamente tratado na mídia. O

produto vídeo documentário foi utilizado por entender que a imagem é a melhor

forma de apresentar o futebol feminino e suas particularidades como cita

Nichols:

A estrutura institucional do documentário suprime grande parte da complexidade da relação entre representação e realidade, e também adquire uma clareza ou simplicidade que deixa subtendido que os documentários têm acesso e verdadeiro ao real. Isso funciona como um dos principais atrativos do gênero (NICHOLS, 2010. p. 51).

O documentário é um produto histórico. De acordo com Nichols (2010),

o vídeo documentário consegue transparecer o mundo por meio de suas

técnicas auditivas e visuais. Desta forma o documentário representa muito bem

os fatos da mesma forma que um advogado representa os interesses de seu

cliente, conforme Nichols.

23

O documentário por sua vez discute um assunto mais singularizado de

seu ator social, aborda aquilo que não é discutido, fala sobre o que não é

questionado nos meios sociais e midiáticos. É um produto que tem um intuito

social e que não é estético como um filme ficcional (NICHOLS, 2010).

4.1. A mulher atleta nos âmbitos sociais

Com o passar dos anos a mulher no esporte começa a conquistar seu

espaço quebrando barreiras da discriminação social. O equilíbrio entre os

gêneros ainda pouco existe nesta área em que o homem é ditado ainda como

superior. Entretanto, a mulher consegue a cada dia afirmar sua independência

e conquista (SIMÕES; CONCEIÇÃO; NERY, 2004).

É notável que o enfraquecimento da mulher no esporte seja devido a

fatores sociais e econômicos. É visível também que pouco é investido na

esfera feminina e muito na masculina. Podemos citar como exemplo o futebol

de campo, no qual segundo matéria2 do site Globo Esporte, publicada no dia

15 de setembro de 2013, o atleta de futebol masculino Cristiano Ronaldo,

renovou contrato com o time espanhol Real Madri e ganhará R$ € 51 milhões

por ano, fora o valor das campanhas publicitárias milionárias realizadas pelo

atleta. Por outro lado, em uma comparação, o site UOL publicou uma matéria3

no dia 16 de setembro de 2013, informando que a Caixa Econômica Federal

patrocinará o futebol feminino na tentativa de que o esporte se reerga já que há

falta de patrocínio aos times de futebol feminino.

Com esses exemplos citados é possível notar as diferenças sociais e

econômicas entre os gêneros. Porém, não fosse a determinação destas atletas

muito provavelmente as mulheres não estariam inseridas no meio esportivo.

Tal realidade criou uma situação em que tudo está inquieto, porque nada é impossível para as mulheres, que se agregam superando e reivindicando espaços, desenhado trajetórias e superando seus próprios limites. Um exemplo claro dessa situação está presente na luta de boxe, no judô, no futebol de campo, dentre outras atividades esportivas destinadas a sociedade de consumo (SIMÕES; CONCEIÇÃO; NERY, 2004, p. 77).

2 Ver anexo 1

3 Ver anexo 2

24

Seguindo o pensamento dos autores, de que nada é impossível para as

mulheres no esporte, passamos a estudar o papel da mídia na divulgação de notícias

relacionadas à mulher atleta.

4.2. Cobertura jornalística

Bueno (2005) estudou alguns equívocos do jornalismo esportivo

brasileiro. O autor lembra que o futebol é um esporte de multidões no Brasil,

mas há uma grande diferença no tempo e espaço dedicado a outros esportes

na mídia. Ele se lembra do vôlei, do basquete e do futebol de salão, que são

muito praticados no país, mas não recebem a mesma atenção dos meios de

comunicação. A partir da análise de Bueno (2005) podemos acrescentar o

futebol feminino como um das modalidades esquecidas pela mídia.

Em geral, a mídia só contempla determinados esportes no instante das grades competições internacionais (as Olimpíadas e os Jogos Pan-americanos), penalizando os que deles se ocupam com dedicação, quase sempre solitários ou empreendedores. De maneira egoísta e mesquinha, só reconhece os vencedores (os medalhistas), relegando os demais ao esquecimento, deixando de cumprir o seu papel de estimular as novas vocações e de valorizar o espírito de competição (BUENO, 2005, p. 21).

Estudar a mulher no esporte é também contribuir para o jornalismo

esportivo. Na televisão encontramos diversos tipos de programas com foco no

esporte, mas o número de modalidades exibidas é cada vez maior, segundo

Camargo (2005). É preciso ter uma postura mais crítica diante deste meio de

comunicação.

Mesmo com a ascensão do esporte na mídia televisiva, percebemos que o número de modalidades esportivas levadas ao ar pela televisão brasileira na programação diária é cada vez mais reduzido, e dificilmente se chegará a dez modalidades fora dos grandes eventos como as Olimpíadas (CAMARGO, 2005, p. 31).

Com este trabalho é possível entender como a mídia esportiva ainda

precisa evoluir. Aos jornalistas e estudantes de jornalismo cabe uma reflexão

sobre o papel da mulher no mundo esportivo.

25

As universidades, os meios de comunicação e as entidades que promovem e financiam o esporte em nosso país devem assumir, integralmente, a sua função de elevar a qualidade da informação jornalística associada ao esporte. Se não dermos uma sacudida nesse time, vai ser difícil virar o jogo. Já é tempo de nos livrarmos dos dirigentes, marqueteiros e jornalistas pernas-de-pau (BUENO, 2005, p. 25).

4.3. A relação de gênero na mídia

Pressupõe-se que até mesmo antes da globalização midiática a

sociedade já separava homens e mulheres para cumprirem devidos papéis

sociais. No esporte isso também não foi diferente. A mulher sempre sofreu

limitações para se inserir no esporte e quando conseguiu teve que aceitar as

normas impostas pela sociedade (KNIJNIK; SOUZA, 2004).

Com o surgimento das mídias, o esporte se tornou um dos principais

assuntos discutidos, fator que contribuiu para sua popularização. No início do

século XX e XXI, o esporte ganha mais espaço, notoriedade e o contexto da

mulher neste meio muda também (KNIJNIK; SOUZA, 2004).

Com o início da globalização midiática, assuntos sobre questões de

gênero são mais discutidos na sociedade e a mulher consegue ganhar outro

conceito do que anteriormente tinha. Porém, esse espaço ainda está em um

progresso vertiginoso (KNIJNIK; SOUZA, 2004). “Não estamos aqui afirmando

que as mídias criam diretamente as representações sociais. Estas já existem

na sociedade; são frutos dos processos interativos e comunicacionais dos

grupos sociais” (KNIJNIK, SOUZA, 2004, p. 195).

O esporte é um dos assuntos mais comentados na sociedade. E só é

assim porque a mídia realiza sua cobertura jornalística a todo o momento

levando mais informações ao receptor. A disputa por um espaço nos

programas de TV, rádio, jornal impresso e web é muito grande. Existem

expectativas do espectador referentes à mulher no esporte. A ideia de que

modalidades como futebol e hóquei devem ser realizadas por homens, e nado

sincronizado e ginástica artística devem ser praticados por mulheres é uma das

expectativas do receptor (KNIJNIK; SOUZA, 2004).

Já a atleta que passa por cima desses conceitos sociais já

estabelecidos sofre a dificuldade de reconhecimento e visibilidade como citam

os autores Knijnik e Souza. “Como resultado dessa representação social,

26

mulheres que praticam esportes considerados masculinos têm de enfrentar

estereótipos de gênero, combatendo a crença de que a participação nesses

esportes é menos valiosa que a dos homens” (KNIJNIK; SOUZA, 2004, p. 199).

Os autores Knijnik e Souza, analisaram algumas revistas sobre a

representação da mulher no esporte na mídia, entre os anos de 1998 a 2000.

Entre elas, vale citar uma reportagem sobre a ginástica olímpica. Aqui segue

um trecho: “Svetlena tem 21 anos, boca carnuda, olhar de veludo, perigoso, e

pernas de modelo. O corte de cabelo à la garçonne, repartido no meio, e a

linguagem do corpo sugerem uma sensualidade contida, pronta para irromper.

Foi a única a seduzir fotógrafos do mundo inteiro” (Veja, 04/10/2000, p. 169).

Nesse caso, podemos entender que o esporte praticado por homens é considerado normal e universal, enquanto o esporte praticado por mulheres, anormal. Os comentários relacionados às atletas utilizam termos infantis e quase sempre são chamadas pelo primeiro nome; já os homens são tratados com termos adultos e pelo sobrenome. Essa linguagem constrói e legitima a superioridade dos homens no esporte (KNIJNIK; SOUZA, 2004, p. 201).

Entende-se neste caso que a mulher é representada na mídia

primeiramente por seus atributos pessoais como, por exemplo, olhos, boca,

cabelo, roupa e unha. O seu desempenho atlético é diminuído. Já os homens

são representados pela força, desempenho e atitude no esporte (KNIJNIK,

SOUZA, 2004).

Na continuação da pesquisa realizada pelos autores, que analisaram a

representação da mulher no esporte na mídia entre os anos de 1998 a 2000, os

autores ressaltam também outro trecho de uma matéria jornalística, em que a

Federação Paulista de Futebol preferiu as atletas mais bonitas às jogadoras

habilidosas:

No lugar dos cabelos ralos, longos rabos-de-cavalo. Dos calções masculinos, shorts minúsculos. Da cara limpa, a maquiagem. Em seu campeonato feminino, que começará em 7 de outubro, a Federação Paulista de Futebol vê a beleza como requisito fundamental para selecionar as meninas que disputarão a competição [...] Conforme as regras do Paulista, a meia Sissi, principal jogadora da história do futebol feminino brasileiro, não teria vez no torneio. Sissi tem cabelos raspados (Folha de S.Paulo, 16 set. 2001, p. D5).

27

Pode-se dizer que o atleta masculino adquire uma condição de forte e

herói, tornando-se um exemplo de vida e carreira. Suas características são

bem mais detalhadas do que das atletas femininas pela mídia. As reportagens

retratam que o homem é capaz de cumprir seus deveres, superar obstáculos,

como por exemplo, uma lesão na perna. Ou seja, se sobressair das

dificuldades (KNIJNIK; SOUZA, 2004). A mulher assume o papel de relevância

esportiva de importância menor. Segundo os autores, as atletas femininas são

menos valorizadas do que em esportes realizados por atletas masculinos.

4.4. A invisibilidade da mulher no esporte

A submissão da mulher está praticamente em todas as etnias ou

grupos sociais. O pensamento de que a mulher perderia sua feminilidade

diante de esportes que utilizassem a força física, ainda existe nos meios sociais

(ROMERO, 2004).

Culturalmente, o homem sempre se manteve hierarquicamente acima

da mulher e as diferenças entre os sexos se tornaram motivo de pretexto para

que essa posição se mantivesse. Um exemplo foi a proibição da mulher no

início dos Jogos Olímpicos (ROMERO, 2004).

Os conceitos midiáticos sobre o homem refletidos ao receptor são de

um atleta forte, bem sucedido, independente, autoritário e entre outras

atribuições positivas. Já a mulher é representada como responsável, vaidosa,

meiga, atraente, alegre e espontânea. Ou seja, padrões sociais são

estabelecidos e perfis de ambos os sexos são construídos (ibid).

”No caso específico dos jogos Pan–Americanos, os homens são estampados

comemorando abraçados ou abraçando um (a) companheiro (a), sorridentes e

felizes com os resultados. As mulheres, porém, são exibidas chorando, de

alegria ou de tristeza” (ROMERO, 2004, p.242).

Percebe-se que a mídia reflete o que ainda está impregnado em nossa

sociedade, o preconceito da mulher no esporte. A visão midiática limita-se em

visualizar a mulher pelo viés sexual e não por suas habilidades.

2

28

5. REFERENCIAL TEÓRICO

5.1. A comunicação

Antes de iniciarmos uma pesquisa em jornalismo é importante

delinearmos uma concepção de comunicação. Segundo Martino (2001), o

significado de comunicação pode ser expresso de maneira simples por meio do

termo comum “+ ação”, que significa “ação em comum”. O autor acredita que

esta ação não está ligada a coisas materiais, mas sim ao mesmo objeto de

consciência em comum. Sendo assim, o termo comunicação “refere-se ao

processo de compartilhar um mesmo objeto de consciência, ele exprime a

relação entre consciências” (MARTINO, 2001, p. 14).

Já a informação pode ser ativada desde que uma consciência venha

resgatá-la (MARTINO, 2001). Desta forma, o autor acredita que a consciência

interpreta os traços materiais para depois reconstituir uma mensagem:

O termo informação se refere à parte propriamente material, ou melhor, se refere à organização dos traços materiais por uma consciência, enquanto que o termo comunicação exprime a totalidade do processo que coloca em relação duas (ou mais) consciências (MARTINO, 2001, p. 15).

Por meio da comunicação é possível ter algo em comum, um mesmo

objeto de consciência (MARTINO, 2001). Segundo Martino, desta maneira a

informação é considerada parte do processo de comunicação ou um sinônimo

dele. Então “não temos comunicação sem informação, e, por outro lado, não

temos informação senão em vista da possibilidade dela se tornar comunicação”

(MARTINO, 2001, p. 18).

Comunicar tem o sentido de tornar similar e simultânea as afecções presentes em duas ou mais consciências. Comunicar é simular a consciência de outrem, tornar comum (participar) um mesmo objeto mental (sensação, pensamento, desejo, afeto) (MARTINO, 2001, p. 23).

França (2005) faz outra reflexão sobre o papel da comunicação como

objeto. Quando falamos em comunicação, o senso comum já nos faz pensar

em objetos que estão em nossa frente. Objetos que podemos ver, ouvir e sentir

(FRANÇA, 2001). Todavia, para a autora, “o objeto da comunicação não são os

29

objetos „comunicativos‟ do mundo, mas uma forma de identificá-los, de falar

deles – ou de construí-los conceitualmente” (FRANÇA, 2001, p. 42). A ideia é

que quando falamos em objeto da comunicação é preciso pensar nos objetos

que a comunicação constrói e não em objetos disponíveis no mundo.

Desde os primeiros dias de vida aprendemos a nos comunicar e

conhecer novos modelos comunicativos. Os usos constantes dos meios de

comunicação os tornam objetos familiares e parte da sociedade (FRANÇA,

2001). “Falamos deles, de seus conteúdos, do desempenho dos personagens

que os habitam; dominamos, em certa medida, seu funcionamento; dirigimo-

lhes críticas” (FRANÇA, 2001, p. 44).

Segundo França (2001), tudo isso é conhecimento vivo e traz riquezas

para o nosso cotidiano, entretanto, esse conhecimento tem limites que o

conhecimento científico busca ultrapassar por meio de métodos e técnicas de

pesquisa.

Digamos que as formas intuitivas de apreensão, o senso comum, constroem o conhecimento possível, imediato; o conhecimento necessário em face das situações vividas, conjugando aspectos de experiências anteriores e a criatividade ativada pelo novo (FRANÇA, 2001, p. 44).

Já a ciência é menos imediata e estaria comprometida com a busca

permanente do conhecimento aprofundado e sistemático da realidade

(FRANÇA 2001). Porém não podemos esquecer, conforme França, que a

ciência é um fenômeno social que também está sujeito a erros. Muitas vezes

ela não ultrapassa o senso comum. Ainda assim, a autora alerta que se a

pesquisa mantém uma permanente autocrítica dos métodos e dos resultados

“constitui sem dúvida o caminho mais profícuo para uma maior compreensão

da realidade – que é o ponto de partida e de retorno de toda reflexão”

(FRANÇA, 2001, p. 45).

5.2. O papel do jornalismo

O jornalismo compõe-se de histórias da vida real contadas mediante a

profissionais da comunicação da área jornalística. O jornalismo é uma

enciclopédia diária na qual são abordados diversos assuntos de interesse

30

público e relevância social (TRAQUINA, 2005). “Os jornalistas responderiam

prontamente, como define a ideologia profissional desta comunidade, que o

jornalismo é a realidade” (TRAQUINA, 2005, p. 19).

A atividade se torna diferenciada da ficção porque é um produto real.

Aborda acontecimentos verídicos de cunho social importante. O personagem

traz consigo uma visão de mundo que é apresentada por meio do jornalismo

revelando visões mais singularizadas de um assunto, conforme Traquina.

Pressupõe-se que o jornalismo é a arte de captar o real despertando interesse

público sobre um fato. “Poder-se-ia dizer que os jornalistas são modernos

contadores de „estórias‟ da sociedade contemporânea, parte de uma tradição”

(ibid).

Criatividade intelectual define um jornalista como também a

responsabilidade da publicação de uma matéria em qualquer segmento

jornalístico. Os jornalistas são favoráveis à liberdade de expressão e autonomia

em sua criação e publicação de matérias. “O jornalismo historicamente desde o

século XIX chamado o „Quarto Poder‟, talvez porque séculos de domínio

autocrático e por vezes despótico criaram um legado de desconfiança, suspeita

e medo em relação ao poder político” (TRAQUINA, 2005, p. 23).

Os jornalistas são parte da notícia. Investigam, apuram, questionam e

pesquisam. “Os jornalistas são participantes ativos na definição e construção

das notícias, e, por consequência, na construção da realidade” (ibid).

O jornalismo é uma profissão crítica por parte da sociedade. Erros não

são aceitáveis neste meio comunicacional, que torna esta profissão um desafio

diário ao profissional que a exerce. Com o passar dos anos, o jornalismo se

tornou um negócio, uma fonte econômica na qual muitas notícias são

vinculadas mediante interesses políticos e econômicos. Todavia, o jornalismo

consegue ainda se sobressair diante desses empecilhos mantendo seu

compromisso com a sociedade (TRAQUINA, 2005).

O jornalismo contemporâneo iniciou o seu progresso nos primórdios do

século XIX. Os jornais começaram a crescer e as oportunidades de trabalho

também.

A vertiginosa expansão dos jornais no século XIX permitiu a criação de novos empregos neles; um número crescente de pessoas dedica-se integralmente a uma atividade que,

31

durante décadas do século XIX, ganhou um novo objetivo – fornecer informação e não propaganda. Este novo paradigma será a luz que viu nascer valores que ainda hoje são identificados com o jornalismo: a notícia, a procura da verdade, a independência, a objetividade, e uma noção de serviço ao público – uma constelação de ideias que da forma a uma visão do “pólo intelectual” do campo jornalístico (TRAQUINA, 2005, p. 34).

Com o passar dos anos o trabalho jornalístico foi se moldando e

desempenhando o papel de serviço social para a população. A busca do

jornalista pela notícia cresceu assim como a vontade em trazer ao receptor

notícias verídicas de relevância social, proximidade e até mesmo a busca pelo

furo de reportagem (ibid).

A curiosidade jornalística sobre a apuração dos fatos se inicia na

década de 1970 e a ideia de construção de notícia também. Naquela época a

teoria do espelho estava começando a se enfraquecer e já que se discutiam

possíveis distorções da realidade no jornalismo. Na mesma época o

pensamento jornalístico, centrado na teoria do espelho, foi se desfazendo. A

ideia de total imparcialidade, apresentação do fato de uma forma inteiramente

fiel foi desconstruída. Surgem então as teorias construcionistas. “O filão de

investigação que concebe as notícias como construção rejeita as notícias como

espelho por diversas razões. Em primeiro lugar, argumenta que é impossível

estabelecer uma distinção radical entre a realidade e os media noticiosos que

devem „refletir‟ essa realidade, porque as notícias ajudam a construir a própria

realidade” (TRAQUNA, 2005, p. 168).

Pode-se dizer que as teorias construcionistas obtêm bases mais firmes

em questão de notícia. Um vídeo documentário sobre a representação da

mulher no futebol, tema deste trabalho, pode ser um exemplo de construção

jornalística. Desde a escolha do tema até sua produção, cabe somente ao

jornalista realizar sua construção do fato. Cada jornalista tem suas

subjetividades que diferencia seu produto jornalístico dos demais, isso não

quer dizer que será um conteúdo sem relevância social ou sem veracidade,

mas sim um conteúdo feito de escolhas e planejado. Ou seja, construído a

partir de pesquisa, apuração e informação.

De acordo com Traquina, a imparcialidade jornalística é um quesito

impossível diante da representação dos fatos, pois cada profissional da

32

comunicação enxerga a notícia de um jeito. Entretanto, a construção de um

fato é o mais próximo da realidade que podemos chegar.

5.3. A identidade cultural

É a partir do conceito de identidade Cultural proposto por Hall (2003),

que passamos a refletir sobre em que medida a mulher ao se inserir no

esporte, neste caso, no futebol, rompe com uma determinada identidade já

estabelecida pela sociedade. Segundo Hall (2003), o que vem acontecendo

nos últimos tempos é a rápida destruição de estilos específicos para a

transformação de algo novo. “A „transformação cultural‟ é um eufemismo para o

processo pelo qual algumas formas e práticas culturais são expulsas do centro

da vida popular e ativamente marginalizadas” (HALL, 2003, p.248). A

sociedade é frequentemente um objeto de mudanças, mas é importante

lembrar que ela resiste a essas alterações mesmo com elas persistindo ao

longo dos anos. Isso se deve as diferentes relações estabelecidas uns com os

outros. Essa transformação também faz parte de um processo de reeducação

da sociedade (Ibid.).

As tradições populares dos trabalhadores pobres e das classes

populares do século XVIII, na Inglaterra, hoje parecem toleradas. Já que foi

inserida uma nova identidade inglesa. A história do que Hall chama de

“sociedade refinada” ganhou o acréscimo da história de um povo turbulento e

ingovernável.

Mas mesmo que formalmente essas tenham sido as culturas da gente de "fora das muralhas", distante da sociedade politica e do triangulo do poder, elas nunca de fato estiveram fora do campo mais amplo das forças sociais e das relações culturais. Elas não apenas pressionavam constantemente a "sociedade"; mas estavam vinculadas a ela através de inúmeras tradições e práticas (HALL, 2003, p. 249)

De acordo com Hall a transformação na cultura das classes populares

que ocorreu entre 1880 e 1920 foi um dos principais obstáculos que se

interpõem à periodização da cultura popular. Neste período não houve apenas

mudança nas relações de força, mas uma reformulação também na luta

política. Muito do que entendemos hoje por cultura popular “tradicional” surgiu a

33

partir daquele período. Já no final do século XVIII e começo do século XX há

um novo tipo de imprensa, que consegue audiência em massa da classe

trabalhadora. “Isso exigiu um reorganização geral da base de capital e da

estrutura da indústria cultural; o atrelamento a uma nova tecnologia e a novos

processos de trabalho; o estabelecimento de novas formas de distribuição, que

operavam através dos novos mercados culturais de massa” (HALL, 2003, p.

251). Um dos efeitos principais dessa nova imprensa é a mudança das

relações políticas e culturais entre as classes. Segundo Hall, é possível notar

isso ainda hoje.

Uma imprensa popular, que quanto mais se encolhe mais se torna estridente e virulenta; organizada pelo capital "para" as classes trabalhadoras; contudo, com raízes profundas e influentes na cultura e na linguagem do "Joao ninguém", "da gente"; com poder suficiente para representar para si mesma esta classe da forma mais tradicionalista. Esta e uma fatia da historia da "cultura popular" que vale a pena elucidar (HALL, 2003, p. 251)

Hall também estudou o termo “popular”, que pode ter diversos

significados. Mas ao senso comum “popular” trata-se daquilo que a massa

consome e é associada à manipulação. O autor é contra este significado e

apresenta duas importantes justificativas. Em um primeiro momento, Hall

acredita que, se no século XX um grande número de pessoas consomem

produtos culturais da moderna indústria cultural, então um número fundamental

de trabalhadores deve estar entre esses receptores.

Ora, se as formas e relações das quais depende a participação nesse tipo de cultura comercialmente fornecida são puramente manipuláveis e aviltantes, então as pessoas que consonem e apreciam esses produtos devem ser, elas próprias, aviltadas por essas atividades ou viver em um permanente estado de "falsa consciência". Devem ser uns "tolos culturais" que não sabem que estão sendo nutridos por um tipo atualizado de opio do povo (HALL, 2003, p. 253)

Em segundo lugar, o autor acredita que é possível entender essa

questão deixando de se atentar ao aspecto manipulador da cultura comercial

popular. Hall diz que isso pode ser uma cultura “alternativa” e não que a classe

trabalhadora seja enganada pela indústria cultural. Mas pensar assim seria

34

deixar de lado a relação de poder cultural, entre o dominante e o subordinado.

“Quero afirmar o contrário, que não existe uma “cultura popular” íntegra,

autêntica e autônoma, situada fora do campo de força das relações de poder e

de dominação culturais” (HALL, 2003, p.254)

As indústrias culturais têm o poder de remodelar aquilo que

representam. A partir da repetição e seleção, são capazes de impor e implantar

definições de nós mesmos de maneira a ajustá-la às descrições da cultura

dominante (Hall, 2003). Para o autor, há uma luta desigual por parte da cultura

dominante quando busca desorganizar ou reorganizar a cultura popular.

A segunda definição de “popular” segundo Hall, é a que classifica

cultura popular como todas as coisas que o povo faz. Primeiro, o autor diz que

se pensarmos que tudo que o povo faz é popular, também temos que entender

que há uma lista infinita de coisas e também não podemos juntar em uma única

categoria.

Em outras palavras, o principio estruturador do “popular” neste sentido são as tensões e oposições entre aquilo que pertence ao domínio central da elite ou da cultura dominante, e à cultura da “periferia”. É essa oposição que constantemente estrutura o domínio da cultura e da categoria do “popular” e do “não-popular” (HALL, 2003, p. 256)

Já a terceira definição do termo popular para Hall, é a que “considera,

em qualquer época, as formas e atividades cujas raízes se situam nas

condições sociais e matérias de classes específicas; que estiveram

incorporadas nas tradições e práticas populares” (HALL, 2003, p.257). No

entanto, para o autor, o que importa não são os objetos culturais, mas as

relações culturais. Ou seja, o que conta é a luta de classes.

Por fim, segundo o autor o termo “popular” indica um relacionamento

deslocado entre a cultura e as classes. “A cultura dos oprimidos, das classes

excluídas: esta é a área à qual o termo „popular‟ nos remete” (HALL, 2003,

p.262). O lado oposto é o do poder cultural, da classe dominante. O autor

chama isso de terreno de luta cultural, que são as forças populares versus o

bloco do poder. Na verdade, Hall acredita que as pessoas não são “tolos

culturais” e que são capazes de reconhecer como uma classe é representada.

35

Seguindo o pensamento de Hall é possível compreender que quando a

mulher aparece em programas esportivos com a imagem de exemplo de

superação, os receptores são capazes de entender que o gênero feminino é

representado de uma forma inferior. Também, a partir do estudo de Hall, é

possível entender que ao se inserir no esporte, especificamente no futebol, a

mulher quebra um padrão já estabelecido pela sociedade e cria algo novo.

Essa transformação de estilos também acontece na própria mídia esportiva,

quando a mulher conquista espaço nesta área por meio de suas próprias

habilidades, criando assim uma nova identidade.

5.4. Produção documentária e teoria culturológica

Outra importante referência para este trabalho é a teoria culturológica.

A principal característica desta teoria é “o estudo da cultura de massa,

distinguindo os seus elementos antropológicos mais relevantes e a relação

entre o consumidor e o objeto de consumo” (WOLF, 2003, p. 100).

A cultura de massa constitui, com efeito, o único terreno de troca e de comunicação para a classe que está a surgir, ou seja, a nova camada de assalariados que, progressivamente, vai englobando franjas cada vez mais vastas das classes anteriores. Para lá das diferenciações (de prestígio, hierarquia, convenções, etc.) (WOLF, 2003, p. 103).

Segundo Wolf (2003), a partir destes valores é que a cultura de massa

coloca a comunicação em diferentes categorias sociais. Segundo ele, “tendo

por base e sendo portadora de uma ética consumo, a lei fundamental da

cultura de massa é a do mercado e a sua dinâmica resulta do diálogo contínuo

entre produção e o consumo” (WOLF, 2003, p.103). Os principais conteúdos da

cultura de massa, conforme Wolf, são aqueles voltados às necessidades

privadas. Assim, a cultura de massa se torna um autoconsumo da vida das

pessoas.

A cultura de massa é a moderna religião da salvação terrena que contém em si as potencialidades e os limites do seu próprio desenvolvimento: por outro lado, aponta o caminho que, necessariamente, toda sociedade de consumo seguirá mas, por outro, é vulnerável a todos os movimentos

36

colectivos que são portadores de exigências meta-individuais e espirituais (WOLF, 2003, p. 104)

Podemos concluir a partir do estudo de Wolf que a cultura de massa é

voltada para interesses mercadológicos. Sendo assim, os meios de

comunicação mostram aquilo que gera consumo. Outras culturas não

encontram espaço nos meios de comunicação, é o caso do futebol feminino,

tema de estudo deste trabalho e que ainda busca reconhecimento por parte da

sociedade.

Pierre Bourdieu também buscou estudar os discursos exibidos na TV.

Vale citar aqui a análise do autor sobre a cobertura jornalística nos Jogos

Olímpicos. Segundo Bourdieu (1997), ninguém vê que as Olimpíadas são um

espetáculo olímpico de fato. Cada televisão dá mais espaço a determinados

atletas ou determinadas práticas esportivas de acordo com a capacidade

destes de satisfazer o orgulho nacional (BOURDIEU, 1997). “A representação

televisiva, embora apareça como um simples registro, transforma a competição

esportiva entre atletas originários de todo o universo em um confronto entre os

campeões (no sentido de combatentes devidamente delegados) de diferentes

nações” (BOURDIEU, 1997, p.124).

Para entender esse discurso televisivo nos Jogos Olímpicos, Bourdieu

(1997) diz que é preciso analisar, além da construção do evento e das

competições, também a produção da imagem das Olimpíadas na televisão, que

segundo ele: “Enquanto suporte de spots publicitários, torna-se um produto

comercial que obedece a lógica do mercado e, portanto, deve ser concebido de

maneira a atingir e prender o mais duradouramente possível o público mais

amplo possível” (BOURDIEU, 1997, p.124). Então, de acordo com Bourdieu, as

Olimpíadas se submetem ao que gera audiência nos países economicamente

dominantes. “Daí decorre, por exemplo, que o peso relativo de diferentes

esportes nas organizações esportivas internacionais tende a depender cada

vez mais de seu sucesso televisual e dos lucros econômicos correlatos”

(BOURDIEU, 1997, p.125).

Um exemplo apresentado pelo autor é que nos Jogos Olímpicos de

Seul, em 1988, os horários das finais da prova de atletismo foram agendados

de forma que as provas acontecessem no horário de maior audiência no

começo da noite nos Estados Unidos.

37

Da mesma maneira que, na produção artística, a atividade diretamente visível do artista mascara a ação de todos os agentes, críticos, diretores de galeria, conservadores de museu, etc., que, em e por sua concorrência, colaboram para produzir o sentido e o valor da obra de arte e, mais profundamente, a crença no valor da arte e do artista que está no fundamento de todo o jogo artístico (BOURDIEU, 1997, p. 127).

O vídeo documentário foge desse caráter mercadológico, visto que o

diretor leva o espectador a um mundo construído por ele e não pela vontade do

mercado, que se preocupa com o capital, como mostrado anteriormente. Os

equipamentos tecnológicos atuais nos permitem avançar em questões de

produção de um produto. Porém, cabe somente a quem o produz trazer

autenticidade na construção do vídeo. O documentário aguça o espectador a

discutir e refletir assuntos sobre outro ângulo. Esse é o objetivo, mostrar o que

não é visto, sair do clichê. Esse é um dos pontos fortes de um documentário já

que cada produção e produto têm sua subjetividade (NICHOLS, 2010).

De acordo com Nichols (2010), para o desenvolvimento de um

documentário existem diversas formas de produção. Um delas é quando o

diretor é substituído por uma voz, que também é chamada “voz de deus”. Outra

opção é quando o diretor fala por meio da câmera. Os atores ou atores sociais

apresentam ao espectador visões de um fato de singular. A ideia é que o

público tenha a sensação de que essa esteja falando com ele. Segundo

Nichols, os documentaristas criam grandes expectativas sobre a produção do

documentário. Seu interesse não é a ficção, mas sim a representação do real

de um mundo histórico. De acordo com o Nichols, podemos considerar o

documentário como testemunho da realidade.

O produto documental se molda ao passo da percepção de seu diretor.

Se a ideia de quem o produz muda, o documentário também muda. Todo

documentário segue um gênero onde é classificado. Existem características

que distinguem o documentário de filmes ficcionais, como por exemplo, a voz

de deus, trilhas sem pausas, entrevistas, comentários, imagens ilustrativas e

explicativas, além de outros fatores (NICHOLS, 2010).

O filme começa propondo um problema ou tópico; em seguida, transmite alguma informação sobre o histórico desse tópico e prossegue com um exame de gravidade ou

38

complexidade atual do assunto. Essa apresentação, então, leva a uma recomendação ou solução conclusiva, que o expectador é estimado a endossar ou adotar como sua (NICHOLS, 2010. p. 54).

Existem subjetividades em cada documentário capazes de torná-lo

único. Quesitos como a história abordada e as montagens realizadas no

produto. São informações reais e de relevância ao público, que resultam em

bases fortes de argumentação para que o tema abordado se torne um bom

documentário.

Um produto é realizado com base em assuntos reais e histórias de

valores sociais. O vídeo documentário oferece um ponto de vista diferente ao

espectador sem alterações antiéticas, como por exemplo, o comportamento

habitual de seu personagem. A solicitação de modificações nestas tarefas

poderia acarretar a não autenticidade do produto. A preocupação com esses

detalhes é crucial para que o vídeo documentário seja totalmente ético,

respeitando os seus personagens (Ibid.).

No vídeo documentário a ética é uma das questões mais importantes

para a produção documental. Comentários e julgamentos ofensivos exibidos no

material documental não fazem parte do cronograma de produção. A conduta

de quem o faz é de grande relevância para que haja respeito tanto com

personagem quanto com espectador (Ibid.).

O documentário pode ser estruturado de diversas formas, não existe

um padrão determinado. A escolha da estrutura documental pode-se inovar,

não há regras. A liberdade para a produção é um desafio de quem o produz

(Ibid.).

Os documentários não adotam um conjunto fixo de técnicas, não tratam de apenas um conjunto de questões, não apresentam um conjunto de formas ou estilos. Nem todos documentários exibem um conjunto único de características comuns. A prática do documentário é uma arena onde as coisas mudam (NICHOLS, 2010, p. 48).

Com base nas questões levantadas por Nichols acredita-se que o

vídeo documentário é a melhor forma para apresentar ao espectador o atual

cenário do futebol feminino. É importante que o receptor conheça mais sobre a

mulher no futebol, reflita sobre o assunto e renove suas ideias com relação à

presença dela neste esporte.

39

O vídeo documentário é um meio de transmissão da realidade. Quando

se fala em documentário ao público, tem se a percepção de um produto que vai

abordar algo relevante e não ficcional. Sendo assim, grandes expectativas são

criadas diante de um produto documental. O documentário é o mais próximo da

realidade, um ponto de vista único elaborado por meio de sons e imagens,

tendo autenticidade. Um tratamento criativo da realidade (NICHOLS, 2010).

“Como público, ao assistir a documentários, estamos especialmente atentos às

formas pelas quais som e imagem testemunham a aparência e o som do

mundo que compartilhamos” (NICHOLS, 2010, p. 65).

Segundo Lins e Mesquita (2008), a relação do documentário com a

mídia se tornou fundamental deste o início dos anos 1990. De acordo com as

autoras, coube ao documentário se voltar para grupos urbanos que eram

praticamente invisíveis, já que nos anos anteriores ao regime militar as

imagens da televisão mostravam imagens estáveis. Mas no fim dos anos 1980,

temas antes só vistos em documentários ganham visibilidade na produção

jornalística. Para a Lins e Mesquita, a imagem está se tornando um meio de

legitimação. “As imagens são frágeis, impuras, insuficientes para falar do real,

mas é justamente com todas as precariedades, a partir de todas as lacunas,

que é possível trabalhar com elas” (LINS; MESQUITA, 2008, p. 82).

6. METODOLOGIA DE PESQUISA

6.1. Investigação e história

O campo de estudos em jornalismo tem profunda ligação com a história

(ROMANCINI, 2008). De acordo com o autor, “não são apenas os historiadores

que recorrem a jornais para elaborar suas narrativas (e jornalistas que utilizam

o conhecimento histórico), mas os jornalistas têm, por vezes, papel importante

e ao mesmo tempo polêmico na elaboração da chamada „história imediata‟”

(ROMANCINI, 2008, p. 24). Antes de iniciarmos uma pesquisa, vale aqui uma

reflexão sobre este campo do jornalismo.

40

Segundo Romancini (2008) é a partir da segunda metade do século

XIX que começa uma atividade de pesquisa sobre jornalismo no Brasil com

historiadores ligados aos Institutos Históricos e Geográficos (IHGs). Alguns

autores como Alfredo de Carvalho e Afonso de Freitas criam levantamentos

sobre jornais para elaborarem a história da imprensa no Brasil (ROMANCINI,

2008, p. 31). Mas de acordo com o autor, esse estudo não se configurou como

uma linha de pesquisa. “É possível que o esgotamento do modelo dos IHGs

tenha colaborado para a descontinuidade dessa historiografia tradicional:

descritiva, relatorial, cronologista e preocupada com o levantamento de

documentação sobre e dos jornais” (ROMANCINI, 2008, p. 31).

A história passaria a ser trabalhada então nas universidades e mais

tarde colocariam o estudo da história do jornalismo em outro patamar

(ROMANCINI, 2008).

O conjunto dos trabalhos posteriores à produção da história positivista constitui-se, pois, de estudos relativamente isolados – embora por vezes de excelente qualidade –, comparado a um modelo ideal de trabalho cumulativo e mais orgânico a respeito da história da imprensa e do jornalismo (ROMANCINI, 2008, p. 33)

É a partir dos anos 1970 que a historiografia acadêmica se intensifica e

vários trabalhos passam a ser publicados e apontam para “a continuidade de

linhas tradicionais na pesquisa histórica com o jornalismo e, depois uma

ampliação do leque de temas” (ROMANCINI, 2008, p. 37). Segundo o autor,

todos estes trabalhos tinham preocupação com padrões científicos.

O tradicional fôlego investigativo dos jornalistas, sua capacidade de estabelecer boas intenções pessoais com fontes de informação, preocupação com a clareza na produção textual são algumas qualidades que podem e devem ser “levadas” de um campo para o outro, mas existe um investimento necessário em formação em pesquisa científica, em termos do estudo de métodos e teorias da Comunicação, História etc. (ROMANCINI, 2008, p. 40).

Romancini acredita que é preciso expor com clareza as fontes quando

um pesquisador do campo da comunicação pretende utilizar reconstruções

históricas. Isso deve ser feito para que outros pesquisadores consultem o

estudo.

41

A lógica de que “tudo é História” – e portanto legitima-se qualquer abordagem, todo tipo de “resgate”, todas as formas e abordagens narrativas: o biografismo, a ficção história etc. – tem contrapartida na noção de que, se isso é verdade, nem tudo é conhecimento histórico (ou comunicacional) (ROMANCINI, 2008, p. 41).

Seguindo o pensamento de Romancini, de que jornalistas, assim como

historiadores, são capazes de investigar e desvendar vários temas, passamos

a conhecer um método de pesquisa importante no jornalismo e que foi aplicado

neste trabalho, a análise de conteúdo.

6.2. Análise de conteúdo

A análise de conteúdos é um método das ciências humanas e sociais

destinado à investigação de fenômenos simbólicos por meio de técnicas de

pesquisa (FONSECA, 2008). Vale citar aqui Herscovitz (2008), que diz que, se

um dia parte da humanidade desaparecesse, a análise de conteúdo da mídia

seria um dos métodos mais eficientes para rastrear uma civilização. Isso

porque a análise de conteúdo tem a capacidade de fazer conclusões sobre o

que ficou gravado, fato que a relaciona com o campo da história, conforme

relatado no item anterior. Segundo Herscovitz (2008), esse método de

pesquisa é muito importante para o jornalismo e pode ser utilizado para

detectar tendências e modelos na análise de critérios de noticiabilidade,

enquadramentos e agendamentos.

Serve também para descrever e classificar produtos, gêneros e formatos jornalísticos, para avaliar características da produção de indivíduos, grupos e organizações, para identificar elementos típicos, exemplos representativos e discrepâncias e para comparar o conteúdo jornalístico de diferentes mídias em diferentes culturas (HERSCOVITZ, 2008, p. 123).

Quando analisamos a frequência de situações que acontecem na mídia

é possível comparar o conteúdo que é transmitido (HERSCOVITZ, 2008).

Conforme a autora, por meio da análise de conteúdos é possível entender

sobre quem produz e quem recebe a notícia. Já para Bauer (2002), a análise

de conteúdo “permite reconstruir indicadores e cosmovisões, valores, atitudes,

opiniões, preconceitos e estereótipos e compará-los entre comunidades”

42

(BAUER, 2002, p. 192). Entre as vantagens da análise de conteúdos, segundo

Bauer está que ela faz o uso principalmente de dados brutos que acontecem

naturalmente, lida com grandes quantidades de dados e é capaz de oferecer

um conjunto de procedimentos maduros e bem documentados.

A análise de conteúdos da mídia surgiu em 1927, com Harold Lasswell,

um dos fundadores dos estudos de comunicação nos Estados Unidos. No

entanto é importante lembrar que esse método já era aplicado em outras áreas

das ciências sociais, principalmente na sociologia (HERSCOVITZ, 2008).

A análise de conteúdos se consagrou como um método eficiente de

pesquisa na metade do século XX com os trabalhos de Klaus Krippendorff e de

Robert Weber (HERSCOVITZ, 2008). Mas neste mesmo período também

surgem criticas a este método, quando a análise passa a ser considerada

superficial por muitos críticos. No entanto, Herscovitz explica que “a

característica híbrida da análise de conteúdo – pode ser vista como um método

que reúne elementos quantitativos e qualitativos – coloca-a num gueto

metodológico de onde ela sai reforçada e não enfraquecida, como defendem

alguns críticos” (HERSCOVITZ, 2008, p. 125).

É importante lembrar que, segundo a autora, outros métodos também

foram alvo de críticas. Entre eles estão a enquete, a entrevista longa e o grupo

de foco. No entanto, Herscovitz (2008) faz uma reflexão sobre as criticas. “Não

existe método de pesquisa perfeito, mas todo aquele que é bem construído e

bem conduzido tem mais chances de responder às hipóteses propostas em

estudos científicos do que outros” (HERSCOVITZ, 2008, p. 125).

Os pesquisadores que utilizam a análise de conteúdo são como detetives em busca de pistas que desvendem os significados aparentes e/ou implícitos dos signos e das narrativas jornalísticas, expondo tendências, conflitos, interesses, ambigüidades ou ideologias presentes nos materiais examinados (HERSCOVITZ, 2008, p. 127).

Neste sentido, de desvendar as narrativas jornalísticas, que o presente

trabalho elaborou uma pesquisa de conteúdo quantitativa e qualitativa para

entender como a mulher é tratada na mídia esportiva. Antes de tudo, é

importante conhecermos as diferenças entre pesquisa quantitativa e qualitativa.

Segundo Bauer, Gaskell e Allum (2002), a pesquisa quantitativa lida com

números e usa modelos estatísticos para explicar dados. Já a pesquisa

43

qualitativa evita números e lida com interpretações das realidades sociais. Os

autores acreditam que não há quantificação sem qualificação. Antes de

qualquer frequência ou porcentual, as atividades sociais devem ser

distinguidas. O pesquisador precisa ter uma noção das distinções qualitativas

entre categorias sociais (BAUER, GASKELL, ALLUM, 2002).

Se não há quantificação sem qualificação, também não há análise

estatística sem interpretação, já que os dados não falam tudo que precisamos

para desenvolver uma pesquisa. No entanto, os autores alertam para a escolha

das informações. Se colocarmos informações sem relevância para serem

analisadas, teremos estatísticas irrelevantes. “A vantagem didática e prática da

pesquisa numérica é sua clareza de procedimentos e seu elaborado discurso

de qualidade no processo de investigação” (BAUER, GASKELL, ALLUM, 2002,

p. 27).

Por acreditar na eficiência da análise de conteúdo, a pesquisa

metodológica deste trabalho foi realizada por meio da técnica da semana

artificial proposta por Bauer (2002). A amostra seleciona cada dia de uma

semana diferente. Entretanto, esta técnica pode se expandir também para uma

quinzena ou mês artificial. Neste trabalho, foi utilizado o mês artificial, no qual

cada semana será a analisada de um mês distinto. “Para que serve esta

estratégia? Para obter-se uma amostra variada, com distribuição equitativa e

contendo o mínimo possível de distorções” (HERSCOVITZ, 2008, p. 131).

Neste trabalho foi analisada a primeira semana do mês de agosto, a

segunda semana de setembro, a terceira semana de outubro e última semana

de novembro de 2013. Tal pesquisa foi aplicada por meio de uma análise do

programa televisivo Globo Esporte, da Rede Globo de televisão, maior

emissora do Brasil4. O estudo foi feito no programa exibido no estado do

Paraná.

Primeiramente, foram definidas as questões5 sobre o que analisar no

programa. Na pergunta “tipo de reportagem” foram selecionadas as seguintes

categorias: nota coberta, quando uma notícia é apresentada com imagens e

com narração off do apresentador. Nota pelada: notícia formada apenas de

texto lido pelo apresentador sem imagens. Stand-up: quando o repórter fala

4 Caprino; Santos (2012)

5 Ver apêndice

44

uma notícia gravada no local do fato. Link ao vivo: possui as mesmas

características do stand-up, com a diferença de ser ao vivo. (REZENDE, 2000).

Reportagem: considerada uma narrativa com personagens, ação e descrições

de ambiente (SODRÉ e FERRARI, 1986). Reportagem especial: aprofunda

mais um assunto. Faz uma análise minuciosa de algo que está repercutindo.

Um tema pouco discutido ou um furo de reportagem são possíveis ideias para

a realização de uma reportagem especial (CARVALHO, DIAMANTE,

BRUNEIRA e UTSCH, 2010). A partir destas categorias a proposta é descobrir

em que tipo de produção jornalística a mulher mais aparece no programa.

Na pergunta “tempo da peça jornalística” buscou-se descobrir quanto

tempo de programa é dedicado a assuntos relacionados à mulher no esporte. A

questão “número de entrevistados” foi criada para que mais tarde fosse

possível desvendar quantas mulheres são entrevistadas ao longo do programa.

Outra questão importante do questionário é definir se a mulher aparece como

fonte primária ou secundária em uma peça jornalística. Entende-se por fontes

primárias “aquelas em que o jornalista se baseia para colher o essencial de

uma matéria; fornecem fatos, versões e números” (LAGE, 2003, p. 65-66). Já

as fontes secundárias “são consultadas para a preparação de uma pauta ou

construção das premissas genéricas ou contextos ambientais” (LAGE, 2003, p.

66).

Também se buscou descobrir em que bloco a peça jornalística foi

veiculada, para analisar a importância da notícia dentro do programa.

Buscando identificar o alcance geográfico das notícias relacionadas à mulher

no esporte, criou-se também uma questão para descobrir a origem da notícia,

classificadas como regional, nacional e internacional. Outro objetivo foi

responder de que assunto tratava a peça jornalística, para descobrir em quais

temas a mulher estava inserida. Por fim, foi fundamental a criação de uma

categoria para identificar de que gênero se tratava a peça jornalística.

6.3 A representação da mulher no programa Globo Esporte, do Paraná

Foram analisados o total de 24 programas Globo Esporte no estado

Paraná, cada um com média de tempo entre 20 e 24 minutos. Durante o mês

artificial 261 peças jornalísticas foram exibidas, destas, 241 tratavam do gênero

45

masculino, enquanto que 10 eram relacionadas ao gênero feminino. Já o

número de produções jornalísticas que tratavam de ambos os gêneros não

passaram de 10 peças, como mostra o Gráfico I:

GRÁFICO I:

Com relação ao assunto da peça jornalística, como mostra o Gráfico II,

a pesquisa aponta que o programa trata predominantemente de futebol. Dos

261 produtos analisados, 191 tratavam de futebol. Os outros temas que se

destacaram, mas que não chegaram ao número expressivo como o futebol

foram o vôlei com 11 peças jornalísticas, o automobilismo com 10 e o tênis com

9. É importante destacar que nestas modalidades o predomínio também é

masculino. Dos 191 produtos jornalísticos voltados ao futebol, apenas 1 tratava

do gênero feminino, enquanto que 190 eram masculinos. Na modalidade vôlei

os números também mostram o predomínio do homem neste esporte. Das 11

peças analisadas, 9 falavam do gênero masculino, enquanto que apenas 1 do

46

feminino e 1 sobre ambos os gêneros. No automobilismo, das 10 peças

analisadas, todas eram masculinas. Já na modalidade Tênis, das 9 produções

analisadas, 7 eram voltadas ao gênero masculino enquanto que 2 falavam da

mulher neste esporte.

GRÁFICO II:

Os dados também mostram os tipos de reportagens exibidos no

programa Globo Esporte durante a análise. A reportagem é o principal produto

do programa, foram 139 peças, como mostra a Tabela I. Mas é importante

ressaltar o predomínio é masculino. Das 139 reportagens, 130 eram voltadas

ao homem no esporte, enquanto que apenas 4 eram relacionadas à mulher.

Outro predomínio está na nota coberta, foram 82 peças, destas 76 falavam do

gênero masculino e somente 2 do feminino. Em algumas peças o gênero

feminino não chegou a aparecer, é o caso do link ao vivo, em que foram 9

exibições, todas masculinas. No stand-up o número de exibições chegou a 6,

47

mas nenhum estava relacionada à mulher. Sobre a nota pelada, os dados

mostram que das 10 peças exibidas, 9 eram masculinas e 1 tratava de ambos

os gêneros. Com relação à reportagem especial a mulher aparece mais vezes

do que nos outros produtos, como apresentados, mas ainda há desigualdade.

Das 15 peças especiais, 11 falavam do homem e 4 da mulher.

TABELA I:

Tipo de reportagem: * Gênero

Gênero Total

Ambos Feminino Masculino

Tipo de reportagem:

Link ao vivo 0 0 9 9

Nota coberta 4 2 76 82

Nota pelada 1 0 9 10

Reportagem 5 4 130 139

Reportagem especial 0 4 11 15

Stand-up 0 0 6 6

Total 10 10 241 261

Quando se fala em tempo da peça jornalística, os produtos voltados à

mulher são de predomínio de tempo entre 1 e 2 minutos, no entanto, quando

comparado ao gênero masculino, é possível notar a desigualdade, já que do

total de 90 exibições entre 1 e 2 minutos, 83 referem-se ao homem e apenas 3

à mulher. Nas produções entre 2 e 3 minutos os dados também são

desproporcionais. No total de 56 peças, 55 tratavam do gênero masculino e

apenas 1 do feminino. A variação também está nas peças entre 3 a 4 minutos,

visto que das 22 produções com este tempo, 20 eram masculinas e somente 2

femininas, como mostra a Tabela II:

48

TABELA II:

Tempo da peça jornalística * Gênero

Gênero Total

Ambos Feminino Masculino

Tempo da peça jornalística:

Até 1 minuto 2 2 42 46

Entre 1 e 2 minutos 4 3 83 90

Entre 2 a 3 minutos 0 1 55 56

Entre 3 a 4 minutos 0 2 20 22

Mais de 4 minutos 0 2 6 8

Menos de 30 segundos 4 0 35 39

Total 10 10 241 261

Na análise das fontes, os dados mostram que das 261 peças

jornalísticas, 235 não apareciam mulheres como fontes. Quando aparecia, era

como fonte secundária chegando ao total de 15 peças. Já nas exibições como

fonte primária, a mulher apareceu em 11 peças, como mostra a Tabela III:

TABELA III:

Com relação as fontes, a mulher aparece como * Dos entrevistados, quantos são mulheres

Dos entrevistados, quantos são mulheres: Total

Dois 4

entrevistados

Acima de 5

entrevistados

Apenas 1

entrevistado

Nenhum

Fonte primária 3 1 1 6 0 11

Fonte secundária 2 0 0 13 0 15

Não aparece 0 0 0 0 235 235

Total 5 1 1 19 235 261

A pesquisa também mostra, conforme Tabela IV, que a maioria das

peças jornalísticas do programa são exibidas no primeiro bloco. Do total 261

produções, 136 foram exibidas na primeira parte do programa. É possível notar

que as peças voltadas ao gênero feminino são exibidas predominantemente no

primeiro bloco, no entanto, os valores ainda são desproporcionais, já que das

49

136 exibições de primeiro bloco, 126 tratavam do gênero masculino, 5 do

feminino e 5 de ambos os gêneros.

TABELA IV:

Em que bloco a peça jornalística foi veiculada? * Gênero

Gênero Total

Ambos Feminino Masculino

Em que bloco a peça

jornalística foi veiculada?

01) bloco 5 5 126 136

02) bloco 5 3 80 88

03) bloco 0 2 35 37

Total 10 10 241 261

A pesquisa também mostra que as matérias relacionadas à mulher são

predominantemente de origem nacional, porém, os dados são desiguais

quando comparados ao masculino, visto que das 114 peças de origem

nacional, 102 eram masculinas, 8 femininas e 4 de ambos os gêneros. É

importante destacar também que a mulher tem pouco espaço nas notícias de

origem regional. Das 108 peças locais, 104 falavam do homem, apenas 1 da

mulher e 3 travam de ambos os gêneros. Com relação às notícias

internacionais, do total de 39 peças, 35 davam destaque ao homem, apenas 1

destacava a mulher e 3 tratavam dos dois gêneros, como mostra a Tabela V:

TABELA V:

A notícia tem origem * Gênero

Gênero Total

Ambos Feminino Masculino

A notícia tem origem:

Internacional 3 1 35 39

Nacional 4 8 102 114

Regional 3 1 104 108

Total 10 10 241 261

Foi necessária também uma análise da abordagem dada nas 10 peças

jornalísticas que tratavam do gênero feminino. Antes de estudar cada peça, foi

50

necessário atentar-se para a cabeça de reportagem, texto lido pelo

apresentador antes de chamar a notícia. No dia 06 de agosto foi exibida uma

reportagem entre 1 e 2 minutos com o tema ginástica. A cabeça da matéria já

deixava claro o que era o assunto principal, a chegada do técnico

Alexander Alessandrov no comando da seleção brasileira feminina de

Ginástica: “Vamos a ginástica feminina do Brasil, que tem um novo

comandante e ele é russo”.

As primeiras imagens não mostram ginastas, mas sim o treinador, que

fala sobre o que acha do Brasil. A partir disso, há imagens das ginastas

treinando, enquanto o técnico observa. O foco no treinador fica ainda mais

claro na passagem do repórter: “É sob a vigilância desse par de olhos verdes

que estará a ginástica olímpica do Brasil pelos próximos três anos. O ciclo das

Olimpíadas do Rio de Janeiro”.

A reportagem também explica que o currículo foi um dos principais

requisitos para a contratação do novo treinador e deixa claro que ele é

fundamental para o sucesso das ginastas: “O treinador é responsável por 15

medalhas olímpicas. Foi cria de Alessandrov uma das maiores ginastas da

atualidade, a russa Aliya Mustafina”. Podemos dizer que, a partir dessa frase,

a reportagem coloca o treinador como principal responsável pelo desempenho

positivo das ginastas, deixando em segundo plano o trabalho realizado por

elas.

Apesar da peça jornalística tratar de uma modalidade feminina, apenas

uma mulher é entrevistada, a atleta Lorrane dos Santos, que em depoimento

reforça ainda mais o foco da reportagem no treinador. “A gente tem que estar

sempre mostrando pra ele o que a gente é capaz de fazer”. Desta forma,

podemos dizer que a matéria coloca a mulher como submissa ao homem.

Outra reportagem que tratou do gênero feminino foi exibida no dia 08

de agosto, também com o tema ginástica e com tempo entre 1 e 2 minutos.

Nesta matéria o tema central foi a cobertura do programa Globo Esporte ao

longo dos anos na ginástica brasileira, diferente do que foi apresentado na

cabeça da reportagem: “O Globo Esporte traz uma história feita de muito

51

sucesso, muito suor, muita técnica e muitas conquistas. Visitamos o centro de

excelência de ginástica em Curitiba, um celeiro de atletas de alto nível.

A matéria afirma que o Globo Esporte sempre acompanhou o trabalho

das ginastas do Brasil e esteve presente em grandes competições. Há várias

imagens de arquivo, que intercalam com uma sonora da ginasta Daiane dos

Santos exibida anos atrás. Por fim, a matéria mostra imagens do centro de

excelência de ginástica em Curitiba e faz um convite ao telespectador para

assistir a reportagem especial sobre ginástica, que será exibida no dia

seguinte.

No dia 09 de agosto é exibida uma reportagem sobre ginástica,

conforme anunciado no programa anterior, com mais de 4 minutos de duração.

Mais uma vez o programa deixa claro o foco nas coberturas feitas nesta

modalidade, como mostra a cabeça da reportagem: “A nossa reportagem de

abertura, de comemoração de trinta e cinco anos de Globo Esporte, muitos

deles dedicados a cobertura de nossas meninas da ginástica. Nós

acompanhamos o crescimento delas e agora um resumo emocionante pra

você”.

A reportagem fala sobre a trajetória de algumas atletas que treinaram

em Curitiba e que se destacaram na ginástica brasileira, como Camila Comin,

Daiane dos Santos, Lais Souza e Lorrane dos Santos. A matéria trabalha com

imagens de arquivo, mostrando a carreira de sucesso de cada uma delas e

relembrando trechos de reportagens antigas exibidas pelo Globo Esporte. De

maneira geral, o programa se auto promove com a reportagem quando

relembra as coberturas feitas na modalidade e faz com que a própria atleta fale

da influência do programa no sucesso deste esporte.

No dia seguinte, 10 de agosto, foi exibida uma reportagem sobre tênis

feminino, com tempo entre 1 e 2 minutos. Nesta matéria não houve cabeça, já

que a reportagem foi ao ar logo após o intervalo. Mais uma vez o tema voltou-

se ao trabalho do programa Globo Esporte na cobertura de uma modalidade.

Na reportagem a tenista Gisele Miró parabeniza o programa pelo aniversário de

35 anos e relembra reportagens feitas pelo Globo Esporte ao longo da carreira

da atleta. Ora, neste dia o programa dedicou um determinado tempo para tratar

52

de uma modalidade feminina, neste caso, o tênis. O problema é que o tênis

feminino e o trabalho feito por Gisele Miró não foram o foco da reportagem,

mas sim as coberturas feitas pelo Globo Esporte, deixando claro que a atleta

conseguiu ter visibilidade por meio do próprio programa. Um exemplo é que no

fim da matéria Gisele Miró pede para relembrar uma das reportagens

produzidas pelo Globo Esporte que marcaram a sua carreira.

Em 09 de setembro a mulher teve espaço no programa mais uma vez

com a modalidade tênis. A notícia foi por meio de uma nota coberta com tempo

de aproximadamente 1 minuto. O assunto era a final do Aberto de Tênis dos

Estados Unidos, quando Serena Wlliiams venceu Vitória Azarenka e sagrou-se

campeã. Nesta peça jornalística a atenção está voltada para a final do torneio.

Mas cabe a nós uma reflexão sobre o surgimento da notícia no programa,

quando avaliamos que o tênis feminino ganha espaço neste dia, mas é

importante lembrar que se trata de uma final de campeonato e que a tenista

Serena Williams, considerada uma das melhores tenistas do mundo é a

campeã. A questão que se propõe refletir é que se não fosse uma final de

campeonato ou se a tenista Serena Williams não estivesse presente a notícia

seria exibida.

No dia 12 de setembro foi ao ar uma reportagem especial sobre

Handebol, com tempo acima de quatro minutos. A cabeça da matéria diz: “O

técnico da seleção brasileira de Handebol está de olho nas atletas que

participam de jogos escolares, entre elas a Ana Carolina, uma menina do Rio

de Janeiro, que já enfrentou dificuldades enormes na vida e encontrou no

Handebol um jeito de virar esse jogo”. Já na cabeça da reportagem é possível

notar que a atleta é colocada como uma pessoa frágil e que busca superação

por meio do esporte. Na matéria é possível notar também que o Handebol fica

em segundo plano na vida da atleta e que entrar em uma faculdade para cursar

direito é algo mais concreto. Ou seja, a reportagem coloca o Handebol como o

incentivo para os estudos e não como profissão. Apesar da reportagem

destacar uma modalidade feminina, das cinco fontes entrevistadas, apenas

duas eram mulheres. Neste caso, além da sonora com a personagem, a

matéria trouxe uma entrevista com uma atleta de seleção com o intuito de

motivar a jovem. No último off do repórter ele reforça a ideia de que o Handebol

53

pode ser um auxílio na vida da atleta e não uma profissão: “Carol acredita,

confia, treina e estuda, ela sabe que carreira de atleta termina cedo e faz

planos, mas a advocacia é um sonho para depois de um sonho, Rio 2016”.

Reforça também o papel do Handebol como superação na vida: “Desde que o

Handebol entrou na vida da Carol ela aprendeu que vencer na vida é muito

mais do que o resultado de um jogo”.

Outra reportagem especial do gênero feminino foi exibida no dia 14 de

setembro. A peça teve duração entre três a quatro minutos, com o tema Vôlei.

A matéria conta a história de Gabriela Braga Guimarães, uma revelação do

Vôlei feminino. Já na cabeça a apresentadora passa a mensagem de que a

atleta conquistou espaço por ter o apoio dos dois principais treinadores do país

e não por sua capacidade como jogadora. “Com vocês um talento das quadras.

Revelação do time do Rio de Janeiro e da seleção brasileira, a queridinha dos

dois principais treinadores do país”. É importante lembrar que todas as

entrevistas destacavam as habilidades da atleta e que das mais de cinco

fontes, apenas duas eram mulheres.

Outra peça voltada a uma modalidade feminina foi ao ar no dia 14 de

outubro com o tema Punhobol. Tratava-se de uma nota coberta, de até um

minuto. A notícia destacava que as atletas do Clube Duque de Caxias, de

Curitiba, conquistaram pela terceira vez o titulo do mundial feminino de clubes.

Neste caso podemos notar que a modalidade feminina Punhobol virou notícia

porque se tratava de uma conquista de título mundial.

No dia 15 de outubro o Globo Esporte exibiu uma reportagem sobre

uma menina que joga futebol com meninos. A cabeça da matéria já coloca a

presença feminina no futebol como algo inusitado: “E olha essa, uma menina

de Mato Grosso, craque do time dela e das seleções brasileiras de base. Ela é

a camisa dez do time e joga diariamente na equipe de meninos”. Além de

abordar o fato de uma menina de destacar no meio de meninos jogando

futebol, a reportagem fala da carreira da jovem atleta, que já chegou a seleção

brasileira de base. Neste caso, a mulher ganha espaço no programa porque

jogava entre homens e não por suas conquistas pessoais.

54

A peça jornalística do dia 19 de outubro foi uma reportagem especial

sobre surf, com tempo entre 3 a 4 minutos. Logo na cabeça da matéria os

aspectos físicos da atleta são ressaltados: “Verão tem tudo a ver com esta

surfista modelo. Ou seria modelo de surfista. O Globo Esporte acompanha

Bruna Schimtt desde quando ainda era gatinha loira nas ondas de Matinhos.

Bruna cresceu no esporte, cresceu na atitude, vamos viajar com ela”. Ao longo

da reportagem são exibidas imagens da surfista destacando a beleza da atleta.

Também nesta matéria o programa se promove mais uma vez quando a

surfista lembra de reportagens produzidas pelo Globo Esporte no inicio da

carreira. A surfista também reforça o quanto o programa é importante para a

modalidade, tirando o foco da reportagem sobre suas habilidades e colocando

destaque no próprio programa. De maneira geral a reportagem foca na vida

pessoal da atleta e não no seu trabalho como sufista.

Com base nas dez peças analisadas, podemos concluir que a mulher

só apareceu no programa porque teve conquistas em algumas modalidades.

Também concluímos que na maior parte das matérias o foco na mulher

enquanto atleta se desvia para outros assuntos. Podemos citar como exemplos

a reportagem de Ginástica do dia oito de agosto, a matéria com a tenista Gisele

Miró no dia dez de agosto e a reportagem com a surfista Bruna Schimtt no dia

19 de outubro. Nestas peças o programa Globo Esporte se colocou como

fundamental para a visibilidade da mulher no esporte. Outro exemplo é a

matéria sobre ginástica do dia seis de agosto, em que o técnico

Alexander Alessandrov se torna o foco da notícia. Sobre os enquadramentos,

apenas a reportagem sobre a surfista Bruna Schimtt trazia planos que

remetiam à sexualidade da mulher.

7. DELIMITAÇÃO DO PRODUTO

Para a produção do vídeo documentário Futebolistas foram realizadas

entrevistas com cinco jogadoras do clube de futebol feminino de Colombo, com

o técnico Alexandro Teodoro, além de Renata Costa, jogadora do time FC

Kubanochka, da Rússia e com passagens pela seleção brasileira. A proposta é

mostrar a estrutura destas atletas no clube, os desafios para a prática deste

55

esporte, o apoio que recebem, a profissionalização e o que faz com que elas

continuem a praticar a modalidade mesmo diante do preconceito e da falta de

visibilidade na mídia, conforme roteiro6.

A denominação Futebolistas como título do vídeo documentário se deu

por acreditar que o nome representa o desejo de igualdade de gêneros neste

esporte, já que a palavra Futebolista significa jogador ou jogadora de futebol.

Em um primeiro momento a proposta do nome seria “As Futebolistas”, mas

após uma reflexão, foi possível entender que a partir da colocação do “As”

estaríamos criando uma divisão dos gêneros, quando na verdade a proposta

do produto é levantar a discussão de direitos no futebol. Ora, se vídeo

documentário fosse sobre o futebol masculino seria necessário denominarmos

a produção de “Os futebolistas”? A partir desta reflexão e pelo desejo das

autoras de trabalhar com apenas um nome a escolha se deu por “Futebolistas”.

A trilha utilizada foi Futebol e Mulher, da Banda pernambucana Eddie.

A escolha da música de seu a partir da identificação do produto com a letra,

que trata diretamente da relação entre a mulher e o futebol.

Com relação às imagens, foram registrados oito jogos do time de

Colombo. A proposta foi mostrar como é a preparação das atletas e a realidade

vivida por elas em campo. É importante lembrar que nestas partidas foram

registradas também imagens de bastidores como momentos de

confraternização das atletas, preparação antes de entrar em campo,

comemoração e planos de detalhe.

Os entrevistados foram selecionados a partir da convivência com as

atletas e o técnico durante as gravações de jogos. Estas jogadoras e o

treinador aprovaram a proposta do vídeo documentário e se dispuseram a

gravar, acreditando que a produção pode contribuir para maior visibilidade no

futebol feminino. Já a ideia de entrevistar a volante Renata Costa surgiu a partir

da notícia de que a jogadora estaria presente no jogo entre Colombo e Assaí,

time de futebol feminino fundado pela atleta na cidade de Assaí, no Paraná.

As entrevistas com Lisiane Linhares Nunes, Mariana Augusta Santiago,

Sara Rodrigues da Veiga, Alexandre Teodoro e Bruna Oliveira Rosa foram

feitas em uma quadra de futsal, onde as atletas treinam. A entrevista com

6 Ver apêndice

56

Bianca Cristine Bonifácio foi gravada na casa da jogadora, já que Bianca tinha

medalhas, troféus e camisas de clubes por onde jogou e estava disposta a

gravar estes detalhes. Já a entrevista com Renata Costa foi realizada no jogo

Colombo x Assaí, como já citado acima.

É importante lembrar que as atletas do clube de Colombo não recebem

salários para jogar, diferente da jogadora Renata Costa, que recebe benefícios

e se dedica apenas ao futebol. Pretende-se mostrar que apesar das diferentes

vivências destas atletas no futebol, as dificuldades são semelhantes quando se

pensa em valorização por parte da sociedade e da mídia.

O vídeo documentário tem duração de 20 minutos e não tem voz off.

Os personagens que vão conduzir a narrativa. Com a proposta de que este

produto seja veiculado em programas de TV, a ideia foi criar um ápice no filme,

pensando em um possível intervalo comercial e para despertar curiosidade no

telespectador. O momento selecionado para intervalo é quando a atleta

Mariana Augusta Santiago explica porque não conseguiu se tornar uma

jogadora profissional, visto que a partir deste tema o filme começará a discutir

sobre a profissionalização no futebol e o preconceito.

A autenticidade no vídeo documentário é crucial para que o produto

apresente ao receptor o fato da forma mais fiel possível. É claro que esta

produção vai passar por diversas fases de edição e produção. Processo esse,

que faz parte da realização de um documentário. O intuito é filtrar ao

espectador o melhor conteúdo possível chegando o mais próximo do real

(NICHOLS, 2010).

De acordo com Nichols para a produção de um documentário, existem

diversas formas de produção. Um delas é quando os atores ou atores sociais

apresentam ao espectador visões de um fato de singular. A ideia é que o

público tenha a sensação de que o personagem esteja falando com ele.

Segundo Nichols, os documentaristas criam grandes expectativas sobre a

produção do documentário. Seu interesse não é a ficção, mas sim a

representação do real. De acordo com o autor, podemos considerar o

documentário como testemunho da realidade.

Com relação ao estilo do produto, o vídeo documentário foi produzido

baseado no modo reflexivo. Os documentários reflexivos nos pedem para que

57

o vejamos como ele é, falando não só do mundo histórico mais também sobre

diversos problemas.

Assim como o modo observativo do documentário depende da ausência aparente ou da não intervenção do cineasta nos acontecimentos filmados, o documentário em geral depende do descaso do espectador por sua situação real, diante da tela do cinema, interpretando um filme, em favor de um acesso imaginário aos acontecimentos mostrados na tela, como se apenas esses acontecimentos exigissem interpretação, e não o filme (NICHOLS, 2010. Pág 163)

O público-alvo do vídeo documentário será atletas de futebol feminino,

mulheres praticantes de outros esportes, comunicadores (jornalistas esportivos

e estudantes de comunicação), simpatizantes do esporte, além de pessoas que

não conhecem o futebol feminino. A proposta é que esse produto também seja

veiculado em programas televisivos

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Desde o início deste trabalho nos surpreendemos com o envolvimento

das atletas de Colombo com o futebol. Cada jogo é especial para estas

mulheres, que definitivamente, jogam por amor e acreditam na

profissionalização deste esporte. A escolha do tema deste estudo se deu pela

afinidade das autoras com o futebol e também por acreditar que é preciso uma

reflexão e uma mudança de comportamento quando se pensa em mulher no

esporte e na mídia esportiva.

Não se pode negar que a presença feminina no esporte cresceu nos

últimos anos, no entanto, ainda é preciso um avanço dos órgãos esportivos e

da mídia para que a mulher seja, de fato, valorizada não só no futebol, mas em

todas as modalidades.

Acredita-se que por meio deste trabalho é possível contribuir para que

o futebol feminino seja visto de outro ângulo. O vídeo documentário, resultado

deste estudo, poderá atingir muitas pessoas, criando um pensamento crítico

sobre o tema. Portanto, a produção deste produto pode ser o pontapé inicial

para o progresso do futebol feminino na mídia. Já que, seguindo o pensamento

de Eugênio Bucci, “o rei de amanhã pode ser uma rainha. E então? E se as

58

mulheres conseguirem fazer isso mais bem feito? Como é que ficaremos?

Ouço dizer que é cada vez maior o contingente das alunas do sexo feminino

em escolinhas de futebol. A onda vai pegar” (BUCCI, 2000, p. 69).

Pode-se dizer também, que por meio deste estudo existirá uma

contribuição para o jornalismo esportivo paranaense, tendo em vista que a

partir da pesquisa metodológica deste trabalho foi possível identificar que a

mulher ainda não conquistou seu espaço na mídia esportiva. Por fim, com este

estudo foi possível contribuir para a valorização do futebol feminino, além de

uma reflexão do papel da mulher no esporte e no jornalismo esportivo.

59

9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BUENO, Wilson da Costa. Chutando prá Fora: Os equívocos do Jornalismo Esportivo Brasileiro. In: MARQUES, J. C.; CARVALHO, S.; CAMARGO, V. R. T (Org.). Comunicação e esporte: tendências. Santa Maria: Pallotti, 2005. BRASIL. Decreto-lei 3.199, de 14 de abril de 1941. Estabelece as bases de organização dos desportos em todo o país. Diário Oficial da União, Rio de Janeiro, RJ, 16 abr. 1941. BOURDIEU, Pierre. Sobre a televisão. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1997. BAUER, Martin W.; GASKELL, George; ALLUM, Nicholas C. Qualidade, quantidade e interesses do conhecimento: evitando confusões. In: BAUER, Martin W.; GASKELL, George. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático. 2 ed. Petrópolis: Vozes, 2002. BUCCI, Eugênio. Brasil em tempo de TV. São Paulo: Boitempo, 2000. CAMARGO, Vera Regina Toledo. O comunicador e o educador esportivo: novos paradigmas para o jornalismo esportivo. In: MARQUES, J. C.; CARVALHO, S.; CAMARGO, V. R. T (Org.). Comunicação e esporte: tendências. Santa Maria: Pallotti, 2005. CAPRINO, Mônica P.; SANTOS, Marli. Alfabetização midiática e conteúdo gerado pelo usuário no telejornalismo. Comunicação e Sociedade. v. 34, n.1, p. 109-130, jul./dez. 2012. CARVALHO Alexandre, DIAMANTE Fabio, BRUNEIRA Thiago, UTSCH Sérgio. Reportagem na TV: como fazer, Como produzir, Como editar. Reportagem especial: o que é? Editora Contexto. São Paulo: 2010, p. 21-29. DAMATTA, Roberto. Esporte na sociedade: um ensaio sobre o futebol brasileiro. In: DAMATTA, Roberto. Universo do futebol: esporte e sociedade brasileira. Rio de Janeiro: Pinakothere, 1982. FRANÇA, Vera Veiga. O objeto da comunicação: a comunicação como objeto. In:. Hohlfeldt, Antonio; Martino, Luiz; França, Vera. Veiga. Teorias da Comunicação: Conceitos, Escolas e Tendências. Petrópolis: Vozes, 2001. FRANZINI, Fábio. Futebol é “coisa pra macho”? Pequeno esboço para uma história das mulheres no país do futebol. Revista Brasileira de História. São Paulo, V. 25, nº 50, 2005. FREITAS, Sidinéia Gomes. Atletas, Opinião Pública, Porta-Vozes. In: SIMÕES, Antônio Carlos, KNIJNIK, Jorge Dorfman. O Mundo Psicosocial da Mulher no Esporte: comportamento, gênero, desempenho. São Paulo: Editora Aleph, 2004.

60

HALL, Stuar . Da Diáspora: identidades e Mediações Culturais. Belo Horizonte: Editora UFMG; Brasília: Representações da UNESCO no Brasil, 2003.

HERSCOVITZ, H. G. Análise de Conteúdo em jornalismo. In: LAGO, C.; BENETTI, M. (Org.). Metodologia de pesquisa em jornalismo. 1.ed. Petrópolis: Vozes, 2007.

GOELLNER Silvana Vilodre. Mulher e Esporte no Brasil: fragmento de uma história generificada. In: SIMÕES, Antônio Carlos, KNIJNIK, Jorge Dorfman. O Mundo Psicosocial da Mulher no Esporte: comportamento, gênero, desempenho. São Paulo: Editora Aleph, 2004. JOHNSON Richard. O que é, afinal, estudos culturais? Belo Horizonte: Editora Autêntica, 2000, p. 09-131. KNIJNIK Jorge Dorfman e SOUZA Juliana Sturmer Soares. Diferentes e Desiguais: relações de gênero na mídia esportiva brasileira. O mundo psicossocial da mulher do esporte: Comportamento, Gênero, Desempenho in SIMÕES Antônio Carlos e KNIJNIK Jorge Dorfman, 2004. Editora Alep. p. 193-212. LAGE, Nilson. A reportagem: Teoria e técnica de entrevista e pesquisa jornalística. Rio de Janeiro: Record, 2003. LINS, Consuelo e MESQUITA, Cláudia. Filmar o Real: sobre o documentário brasileiro contemporâneo. Rio de Janeiro, Zahar, 2008. MARTINO, Luiz C. De qual comunicação estamos falando?. In:. Hohlfeldt, Antonio; Martino, Luiz; França, Vera. Veiga. Teorias da Comunicação: Conceitos, Escolas e Tendências. Petrópolis. Vozes, 2001. NICHOLS, Bill. Introdução ao documentário. São Paulo, Editora Papirus, 2010. NEVES, Luiz Felipe Baeta. Na zona do Agrião: sobre algumas mensagens ideológicas do futebol. In: DAMATTA, Roberto (org.). Universo do futebol: esporte e sociedade brasileira. Rio de Janeiro: Pinakothere, 1982. REZENDE, Guilherme Jorge de. Telejornalismo no Brasil: um perfil editorial. São Paulo: Summus, 2000. ROMANCINI, Richard. História e jornalismo: reflexões sobre campos de pesquisa. In: BENETTI, Márcia; LAGO, Cláudia. Métodos de pesquisa em jornalismo. Rio de Janeiro: Vozes, 2008. ROMERO Elaine. A (in) Visibilidade da Mulher Atleta no Jornalismo Esportivo do Rio de Janeiro. O mundo psicossocial da mulher do esporte:

61

Comportamento, Gênero, Desempenho in SIMÕES Antônio Carlos; KNIJNIK Jorge Dorfman. São Paulo: Editora Alep, 2004. p. 215-252. SOUZA Marcos Alves de. A “nação em chuteiras” raça e masculinidade no futebol brasileiro. 1996. Dissertação (mestrado) - Departamento de Antropologia da Universidade de Brasília. SODRÉ, Muniz. FERRARI, Maria Helena. Técnica de Reportagem: Notas sobre a narrativa jornalística. São Paulo: Summus, 1986. SIMÕES, Antonio Carlos; CONCEIÇÃO, Paulo Feliz Marcelino; NERY, Maria aparecida da Câmara. Mulher, Esporte, Sexo e Hipocrisia. In: SIMÕES, Antonio Carlos; KNIJNIK, Jorge Dorfman (org.). O mundo psicossocial da mulher no esporte: comportamento, gênero, desempenho. São Paulo: Aleph, 2004. SIMÕES, Antonio Carlos. O Universo das Mulheres nas Práticas Sociais e Esportivas. In: SIMÕES, Antônio Carlos, KNIJNIK, Jorge Dorfman. O Mundo Psicosocial da Mulher no Esporte. Comportamento, Gênero, Desempenho. São Paulo, 2004. Editora Aleph.

SIMÕES Antônio Carlos, CORTEZ José Alberto Aguilar e CONCEIÇÃO Paulo Felix Marcelino. Mulher e Esporte de Competição e de Rendimento: as várias fases do social, do biológico e do psicológico.O mundo psicossocial da mulher do esporte. Comportamento, Gênero, Desempenho in SIMÕES Antônio Carlos e KNIJNIK Jorge Dorfman, 2004. Editora Alep. p.133-152. SCHULMAN Norma. O Centre for Contemporary Cultural Studies da Universidade de Birmingham: uma história intelectual. O que é, a final, Estudos Culturais? Belo Horizonte: Editora Autêntica, 2000, p. 169-217. TRAQUINA, Nelson. Teorias do Jornalismo: porque as notícias são como são. 2 ed. Florianópolis: Insular, 2005. WITTER, J. S. Breve História do Futebol Brasileiro. In: História do Futebol no Brasil. São Paulo: FTD, 1996, p.21. WOLF, Mauro. Teorias da comunicação. Lisboa: Presença, 2003.

62

10. CRONOGRAMA

ATIVIDADES Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul

Análise dos dados metodológicos x x

Período de gravação de entrevistas x x

Decupagem das gravações x x x

Edição X

x x

Finalização da fundamentação teórica x x x

Protocolo final x

Banca X

63

ANEXOS

Anexo 01

64

Anexo 02

65

APÊNDICE

Questões para a análise de conteúdo do programa Globo Esporte:

- Avaliador

- Data de veiculação do programa

- Tempo de duração do programa

- Tipo de reportagem

- Tempo da peça jornalística

- Número de entrevistados

- Dos entrevistados, quantos são mulheres

- Com relação as fonte, a mulher aparece como

- Em que bloco a peça jornalística foi veiculada

- Assunto da peça jornalística

- Qual a origem da notícia (regional, nacional, internacional)

- Gênero

66

ROTEIRO DOCUMENTÁRIO

Título do projeto: Futebolistas

Formato: Documentário

Direção / Produção: Patrícia Castro e Thais Travençoli

Edição: Patricia Castro e Thais Travençoli

Finalização: Drica Agnis

1. Declaração inicial.

Futebolistas relata a história de cinco mulheres que jogam futebol com

um único sentimento em comum, o amor pela modalidade. O

documentário levanta discussões como o preconceito com a mulher no

esporte, a falta de visibilidade na mídia e a valorização do futebol

feminino no Brasil. A partir de relatos de atletas do time de futebol

feminino de Colombo, no Paraná, Futebolistas promove uma reflexão

sobre o espaço da mulher no futebol.

2. Breve apresentação do assunto.

Por meio de entrevistas com cinco atletas do time de futebol feminino de

Colombo, Bianca, Mariana, Sara, Bruna e Lisiane, o vídeo documentário

propõe um debate entre as jogadoras, que contam as experiências no

futebol e as dificuldades vividas por elas. O documentário também conta

com a participação do técnico do time de Colombo, Alexandre, que fala da

realidade da equipe.

Bianca, de 22 anos, mesmo sofrendo de epilepsia e sem o apoio da mãe,

sonha em ser jogadora profissional e chegar à seleção brasileira. Das

entrevistadas, Bianca é a única que acredita que o futebol pode ser um dia

a sua profissão. O enredo também traz a visão de Renata Costa, volante do

FC Kubanochka, da Rússia, com passagens pela seleção brasileira, que

comenta sobre os desafios enfrentados por ela na modalidade e sobre o

futuro do futebol feminino no país.

67

3. Estratégias de abordagem, estrutura e estilo.

As gravações foram feitas durante os jogos disputados pela equipe de

Colombo no Campeonato Metropolitano e Campeonato Paranaense de 2013.

Além do registro das atletas durante os jogos, foram feitas imagens de detalhes

de chuteiras, bolas, gramado e medalhas. Cinco entrevistas foram realizadas

em uma quadra de futebol de salão, onde as atletas treinam. A entrevista com

a jogadora Bianca foi feita na casa da atleta e o depoimento de Renata Costa

foi registrado em campo, quando o time da atleta enfrentou a equipe de

Colombo. No vídeo documentário as jogadoras falam sobre o que o futebol

representa para elas, como começaram a jogar, como é a união do time de

Colombo, a falta de apoio ao futebol feminino, a relação com a família, a

invisibilidade na mídia e o preconceito.

4. Cenas

Cena 1: ((Sobe BG)) Imagens do time de Colombo (bandeira, cenas de

jogo e gol)

Cena 2: Vinheta de abertura

Cena 3: Imagens de momentos de emoção (grito motivacional, entrada

em campo e comemoração da conquista de titulo)

Cena 4: Atletas falam o que o futebol representa para elas (Sara,

Lisiane, Mariana e Bianca)

Cena 5: Imagens de apoio (cenas de jogos)

Cena 6: Atletas falam como começaram a jogar (Bruna, Lisiane, Sara e

Bianca)

Cena 7: Bianca fala dos clubes por onde passou

Cena 8: Sara fala como chegou ao time de Colombo (alternando com

imagem do estádio de Colombo e imagem de jogo)

Cena 9: Entra tela com informações sobre time de Colombo

Cena 10: Oração das atletas antes do jogo (áudio aberto)

Cena 11: Técnico Alex comenta sobre a união do time (alternando com

imagens de entrevista e trabalhando em campo)

Cena 12: Imagens de apoio (cenas de jogo)

68

Cena 13: Lisiane fala sobre a relação das atletas do time (alternando

com imagens de comemoração das jogadoras)

Cena 14: Sara fala da amizade com as atletas (alternando com imagem

de união)

Cena 15: Alex fala sobre a falta de apoio ao time de Colombo

(alternando com imagens do treinador em campo)

Cena 16: Jogadoras falam sobre a falta de apoio ao futebol feminino

(Bruna, Sara, Bianca e Lisiane)

Cena 17: Imagem atletas cantando hino nacional (abre áudio)

Cena 18: Bianca fala sobre a falta de salários

Cena 19: Bianca explica que joga por amor ao esporte

Cena 20: Bianca comenta sobre as lesões no futebol

Cena 21: Imagens de apoio (cenas atletas em campo)

Cena 22: Atletas falam sobre o apoio da família (Lisiane, Mariana, Sara

e Bianca)

Cena 23: Bianca fala que quer mostrar para a mãe que futebol é

profissão.

Cena 24: Bianca comenta sobre as premiações que conquistou com o

futebol

Cena 25: Imagens troféu e medalhas de Bianca

Cena 26: Atletas falam sobre suas profissões (Bruna, Mariana, Lisiane e

Sara)

Cena 27: Mariana explica porque não chegou a ser uma jogadora

profissional

Cena 28: Alex fala que há jogadoras com capacidade de chegar a

seleção

Cena 29: Sara diz que o futebol é um esporte para ela e não profissão

Cena 30: Imagens de apoio (cenas de jogo e detalhes)

Cena 31: Atletas falam sobre a desvalorização do futebol feminino no

Brasil (Mariana e Sara)

Cena 32: Jogadoras falam sobe a falta de visibilidade na mídia (Lisiane,

Sara e Bianca)

Cena 33: Atletas falam sobre o preconceito (Lisiane, Bianca e Sara)

69

Cena 34: Jogadoras explicam como lidam com o preconceito (Bianca e

Sara)

Cena 35: Imagens de apoio (cenas de jogo)

Cena 36: Bianca fala sobre a admiração pela seleção brasileira e o

sonho de um dia conquistar uma posição na equipe profissional

Cena 37: Renata Costa fala sobre o que é o futebol feminino para ela

(alternando com imagens de apoio da atleta em campo)

Cena 38: Entra tela com informações sobre Renata Costa

Cena 39: Renata Costa fala sobre as dificuldades e conquistas no

futebol

Cena 40: Bianca fala sobre o amor pelo futebol

Cena 41: Imagens de apoio (cenas de jogo)

Cena 42: Bianca fala sobre seu futuro no futebol (Divisão de tela)

((Sobe créditos e BG))

5. Cronograma de filmagem.

18 de agosto a 28 de

novembro - 2013

22 de fevereiro a 08

de março - 2014

22 de março a 16 de

maio – 2014

Primeira etapa de

filmagens: gravação

de jogos

Segunda etapa de

filmagens: gravação

de entrevistas

Edição e finalização

70

6. Orçamento.

Descrição Quantidade Valor

Unitário

Valor Total

Fitas mini DV 11 R$ 12,00 R$ 132,00

Gasolina/Transporte 11 R$ 15,00 R$ 165,00

Microfone Lapela 1 R$ 159,00 R$ 159,00

Arte Gráfica 1 R$ 200,00 R$ 200,00

Capa / DVD 5 R$ 1,00 R$ 5,00

Mídia / DVD 8 R$ 1,20 R$ 9,60

Impressão / Capa

DVD

5 R$ 2,50 R$ 12,50

Impressão / DVD 8 R$ 4,70 R$ 37,60

Total

R$ 720,70

7. Público-alvo.

Atletas do futebol feminino, mulheres praticantes de outros esportes,

comunicadores (jornalistas esportivos e estudantes de comunicação) e

simpatizantes do esporte.

8. Fontes

Lisiane Linhares Nunes

Bianca Cristine Bonifácio

Mariana Augusta Santiago

Sara Rodrigues da Veiga

Alexandre Teodoro

Renata Costa

Bruna Oliveira Rosa

71

72

73

74

75

76

77

78