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______________________________________________________________________________ NUTRIR GERAIS, Ipatinga, v. 5, n. 8, p. 740-754, fev./jul. 2011.
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FATORES DE RISCO E PREVALÊNCIA DE CONSTIPAÇÃO INTESTINAL EM
GRADUANDOS DO CURSO DE NUTRIÇÃO DE UM CENTRO UNIVERSITÁRIO
DE MINAS GERAIS
FACTORS OF RISK AND PREVALENCE OF CONSTIPATION INTESTINAL IN
UNDERGRADUATE OF THE COURSE OF NUTRITION OF A UNIVERSITY
CENTER OF MINAS GERAIS
CLARA REGINA DE SOUZA BRAZ
Graduanda em Nutrição pelo Centro Universitário do Leste de Minas Gerais - Unileste-MG
E-mail: [email protected]
NILMA MARIA VARGAS LESSA
Docente do Curso de Nutrição do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais - Unileste-
MG
E-mail: [email protected]
RESUMO
A constipação intestinal apresenta definições variáveis e acomete principalmente mulheres,
idosos, gestantes e crianças. Outro grupo suscetível é o de universitários: devido ao estilo de
vida moderno optam por refeições rápidas, pobres em fibras, propiciando constipação
funcional. O objetivo do estudo foi determinar a prevalência e os fatores de risco para
constipação em graduandos de um curso de Nutrição. Para coletar dados utilizou-se
questionário contendo questões socioeconômicas, fatores de risco associados e Critérios de
Roma III. Aplicou-se teste qui-quadrado para investigar a associação entre prevalência de
constipação e tempo de curso, adotando nível de significância p ≤ 0,05. A prevalência de
constipação funcional foi 22,5%, sendo todas mulheres. Dos fatores de risco investigados nos
constipados, verificou-se: 77,78% relataram dificuldade para evacuar fora de casa, 33,33%
consumiam alimentos ricos em fibras diariamente, 77,78% declararam ingestão ≤ 7 copos de
água/dia, sendo que, esses constituíram os mais relevantes. Não houve associação entre
prevalência de constipação e períodos inicias/finais do curso (p ≥ 0,05). Conclui-se existir
baixa prevalência de constipação comparada a outros estudos. Ressalta-se a necessidade, de
orientar os estudantes a adotarem hábitos saudáveis como ingerir mais fibras, líquidos,
respeitar o reflexo de evacuação e da realização de novos estudos para investigar o
conhecimento desse grupo quanto à constipação.
Palavras-chave: constipação intestinal, universitários, refeições rápidas.
ABSTRACT
Constipation present variable definitions and affects mainly women, elderly, pregnant
women, children. Another susceptible group is university students, due to modern lifestyle
choose for quick meals, low in fiber, bringing on functional constipation. The objective of the
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present study was to determine prevalence and risk factors for constipation on undergraduate
in a Nutrition course. The data collection was through a questionnaire containing
socioeconomic questions, risk factors and Rome III criteria for constipation. We applied chi-
square test to investigate the association between the prevalence of constipation and time
course, with a p ≤ 0,05 (statistical) significance level. The prevalence of functional
constipation was 22.5%, all women. On the investigated risk factors in constipated: 77.78%
reported difficulty in evacuating away from home, 33.33% consumed fiber-rich diet daily,
77.78% reported intake of ≤ 7 cups water/day, being these constituted the more relevant.
There was no association between prevalence of constipation on beginning and end periods of
the course (p ≥ 0.05). We conclude there is a low prevalence of constipation comparing with
other studies. It is to highlight the necessity of orienting the students to adopt healthy habits
such as eating more fiber, liquids, respected the reflex the evacuation and new studies to
investigate the knowledge of this group regarding constipation.
Key words: constipation, university students, quick meals.
INTRODUÇÃO
Nos dias atuais as competências atribuídas ao homem nos seus campos de trabalho,
escolar e familiar têm causado interferência em sua qualidade de vida, como por exemplo,
falta de horários estabelecidos para as refeições e tempo disponível para a prática de
exercícios físicos (LACERDA; PACHECO, 2006). Ao mesmo tempo é observada uma
mudança nos hábitos alimentares da população, onde se percebe um aumento no consumo de
produtos refinados, industrializados com baixo teor de fibras alimentares, contidas em
alimentos como cereais integrais, frutas, verduras e hortaliças. Esta mudança tem propiciado o
aumento da incidência das “doenças de civilização”, sendo a constipação intestinal uma delas
(ANDRE; RODRIGUEZ; MORAES-FILHO, 2000).
A constipação intestinal pode ser de origem orgânica sendo secundária a alguma
doença como, por exemplo, neoplasias obstrutivas, hipotireoidismo, diabetes (AMBROGINI
JÚNIOR; MISZPUTEN, 2002) ou ainda a alguma doença que impeça o movimento do
conteúdo intestinal (GUYTON; HALL, 1997). E, de origem funcional, relacionada a fatores
como maus hábitos alimentares, sedentarismo e inibição do reflexo de evacuação
(AMBROGINI JÚNIOR; MISZPUTEN, 2002).
Wannmacher (2005) comenta que a constipação intestinal apresenta definições
variáveis tanto entre profissionais de saúde quanto entre pacientes. Para Trisóglio et al.
(2010), a constipação é uma doença polissintomática com manifestações que podem interferir
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sobre funções colônicas e anorretais. Segundo Rodriguez, Sá e Moraes-Filho (2008), a
obstipação não é propriamente uma enfermidade, mas um sintoma muito frequente que exige
adequada investigação para estabelecimento do diagnóstico. Como critério para definição de
constipação tem-se utilizado os “Critérios de Roma” (COLLETE; ARAÚJO; MADRUGA,
2010). Dentre eles há os Critérios de Roma III, pelos quais é possível classificar o indivíduo
como constipado e, são utilizados para definir constipação intestinal quando essa não é
originada por causas orgânicas (RODRIGUEZ; DANTAS JÚNIOR; MORAES-FILHO,
2009).
Wannmacher (2005) comenta em seu trabalho uma revisão sistemática com adultos
da América do Norte, onde se encontrou média de 14,8% da ocorrência de constipação com
maior predominância em mulheres e indivíduos acima de 65 anos de idade. Segundo
Kawaguti et al. (2008), outro grupo em que o transtorno é muito frequente e comum é o de
gestantes. Pereira et al. (2009) descrevem que também é comum casos do distúrbio em
crianças e, cerca de 90 a 95% deles, estão relacionados a constipação de origem do tipo
funcional.
Outro público que tem sido acometido pelo problema é o universitário. Segundo
Jaime et al. (2009), o estilo de vida moderno e a ocorrência de fatores característicos do meio
acadêmico (stress, horários desregulados para realizar as refeições) podem contribuir para que
esses indivíduos omitam suas refeições ou as substituam por lanches rápidos e práticos,
pobres em fibras.
Levando em conta as considerações acima, acredita-se que a investigação da
prevalência do distúrbio em universitários do curso de Nutrição permitirá uma reflexão sobre
a constipação nesse grupo. Ora visto que os alunos estudam sobre o assunto, é de se esperar
que o conhecimento adquirido quanto a alimentação e aos hábitos que previnam e/ou tratem a
constipação sejam utilizados. Dessa forma, o presente trabalho teve como objetivo determinar
os fatores de risco e a prevalência de constipação intestinal em graduandos do curso de
Nutrição.
MATERIAL E MÉTODOS
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Realizou-se um estudo do tipo transversal, com caráter descritivo e quantitativo, cuja
amostra englobou todos os estudantes matriculados no primeiro semestre do ano de 2011, no
curso de Nutrição, de um centro universitário no leste de Minas Gerais.
Foi utilizado um questionário como instrumento para a coleta de dados adaptado dos
autores Souza e Berto (2006), Jaime et al. (2009) e Collete, Araújo e Madruga (2010). Este
instrumento contém questões objetivas relacionadas ao nível socioeconômico, fatores
associados com o transtorno, tais como: hábitos alimentares, comportamentais e sedentarismo
e os Critérios de Roma III para a classificação dos sujeitos quanto à constipação.
A coleta de dados ocorreu durante o mês de fevereiro do ano de 2011 e procedeu-se
em um centro universitário de Minas Gerais, no curso de Nutrição, durante os horários de
aula, mediante autorização do professor presente em sala. Os alunos foram informados sobre
o objetivo do trabalho e receberam o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, conforme
regulamenta a Resolução N° 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS). Aqueles que se
recusaram em assinar este termo e/ou deixaram o questionário incompleto foram excluídos da
amostra. Como critério de inclusão foi adicionado ao estudo todos os estudantes do curso de
Nutrição matriculados no primeiro semestre do ano de 2011.
Os Critérios de Roma III utilizados na pesquisa para classificar o sujeito como
constipado, caracterizam o quadro de constipação intestinal quando esse apresentar dois ou
mais dos seguintes sintomas, no período dos últimos três meses, (esforço evacuatório, fezes
duras ou em cíbalos, sensação de evacuação incompleta, sensação de bloqueio anorretal,
necessidade de manobras manuais facilitadoras e frequência de evacuações inferior a três
vezes por semana) com início das manifestações em pelo menos 25% das evacuações em no
mínimo seis meses antes do diagnóstico (TRISÓGLIO et al., 2010).
Para apresentação dos dados foi adotada a estatística descritiva, sendo utilizado o
programa Microsoft Office Excell® 2007 e a estatística inferencial, através do programa
BIOestat®, por meio do teste do qui-quadrado, para comparar a prevalência de constipação
intestinal na população dos períodos iniciais do curso (estabelecidos no estudo como aqueles
compreeendidos entre o 1° ao 4° períodos) e períodos finais (estabelecidos no estudo como
aqueles compreendidos entre o 5° ao 8° períodos). Como nível de significância utilizou-se p ≤
0,05.
Buscou-se dividir a população dessa forma, para investigar se haveria diferença
estatística significante entre a prevalência do transtorno à medida que o estudante adquire
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conhecimentos sobre o assunto. Pressupõe-se que, durante os períodos finais, há um maior
esclarecimento quanto às causas que levam ao surgimento de constipação intestinal assim
como são discutidas medidas que previnam e/ou tratem o distúrbio.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
1. Caracterização da população estudada
Foram entrevistados 47 indivíduos e, desses foram excluídos sete, pelo fato de terem
deixado o questionário incompleto e/ou recusado em assinar o termo de consentimento livre e
esclarecido. Portanto, foram incluídos 40 ao estudo, sendo que, 36 (90%) eram do sexo
feminino e quatro (10%) do sexo masculino (Tabela 1).
Tabela 1 - Caracterização sócio-demográfica e econômica de todos os indivíduos incluídos a ao estudo
2011.
Fonte: dados da pesquisa.
A maioria dos participantes (85%) tinha idade compreendida entre 18-30 anos, 65%
relataram residir junto aos pais e/ou outros parentes, 45% referiram possuir uma renda
Variável N° de indivíduos Percentual
Sexo
Masculino 04 10%
Feminino 36 90%
Idade (anos)
18-30 34 85%
30-40 04 10%
> 40 02 05%
Reside junto a(os)
Pais/Outros parentes 26 65%
Esposa e/ou filhos 05 12,5%
Amigos 06 15%
Outros 01 2,5%
Sozinho 02 05%
Renda Familiar
< 5 Salários Mínimos 16 40%
5-10 Salários Mínimos 18 45%
10-15 Salários Mínimos 06 15%
> 15 Salários Mínimos 00 00%
Ocupação Profissional
Sim 18 45%
Não 22 55%
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familiar entre 5 a 10 salários mínimos e 45% declararam ter uma ocupação profissional
(Tabela 1).
Cota e Miranda (2006) investigaram a associação entre constipação intestinal e estilo
de vida em estudantes universitários e também obtiveram a maior parte de sua amostra
composta pelo gênero feminino e, quanto à faixa etária, compreendeu indivíduos jovens, com
idade entre 18 e 24 anos. Com relação às variáveis sexo, idade e renda familiar, Rodriguez,
Dantas Júnior e Moraes-Filho (2009) comentam que a constipação ocorre com maior
frequência em indivíduos com idade superior a 40 anos, sendo mais prevalente em indivíduos
do sexo feminino e mais comum em famílias de baixa renda.
2. Prevalência de Constipação Intestinal Funcional
A prevalência de constipação intestinal funcional nos entrevistados foi de 22,5%
(Figura 1), sendo que todos os constipados foram do sexo feminino.
Figura 1 - Prevalência de Constipação Intestinal Funcional na população estudada segundo os Critérios de Roma
III.
Constipados
Não Constipados
Trisóglio et al. (2010) utilizando os Critérios de Roma III, encontraram uma
prevalência de 35% de constipação intestinal entre estudantes de medicina, com maior
ocorrência em indivíduos do sexo feminino. Em um estudo realizado por Collete, Araújo e
Madruga (2010), também utilizando os mesmos critérios, encontrou-se uma prevalência de
26,9% do transtorno entre os moradores do perímetro urbano de Pelotas - região Sul do
Brasil, sendo mais frequente nas mulheres. Cota e Miranda (2006) comentam que há dados
22,5%
77,5%
Fonte: dados da pesquisa.
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científicos que afirmam que a constipação intestinal é três vezes maior em mulheres do que
em homens. Collete, Araújo e Madruga (2010) descrevem que as alterações hormonais nas
mulheres durante a fase lútea do ciclo menstrual - onde há um aumento dos níveis de
estrogênio- têm associação com um tempo de trânsito intestinal mais lento. Cota e Miranda
(2006) afirmam que indivíduos do sexo feminino requerem uma menor demanda energética e,
portanto, tendem a ingerir uma menor quantidade de alimentos e fibras podendo este fato
estar associado à constipação intestinal, visto que, este nutriente proporciona benefícios ao
funcionamento do intestino.
3. Fatores de Risco relacionados ao surgimento de Constipação Intestinal
Segundo Ambrogini Júnior e Miszputen (2002), a constipação intestinal de origem
funcional está relacionada a fatores como maus hábitos alimentares, sedentarismo, inibição do
reflexo de evacuação, dentre outros hábitos comportamentais inadequados.
3.1 Fatores Comportamentais
De acordo com as variáveis comportamentais investigadas através do questionário
utilizado no estudo, observou-se que 33,34% dos indivíduos constipados relataram fazer uso
de algum método laxativo (incluindo medicamento e chás), 77,78% referiram não conseguir
evacuar fora de casa, 55,55% disseram não haver história de constipação intestinal na família
e 100% apontaram não apresentar nenhuma doença que altere o funcionamento do intestino
(Tabela 2).
Observou-se que os resultados obtidos neste estudo para o uso de algum método
laxativo, 33,34% (Tabela 2), se aproximam do encontrado pelos autores Collete, Aráujo e
Madruga (2010) que identificaram o correspondente a 36% em sua amostra total de
constipados. Segundo Andre, Rodriguez e Moraes-Filho (2000), o uso de medidas dietéticas e
comportamentais como forma de recuperar o funcionamento adequado do intestino não
promove efeito imediato, já que exige mudanças de hábitos e para tal é necessário tempo
suficiente e esforço do indivíduo para alcance dos resultados. Porém, o uso crônico de
medicamentos, principalmente o de laxantes à base de estimulantes químicos, como os
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derivados do polifenol, pode lesar os plexos mioentéricos do cólon resultando em uma
dismotilidade colônica.
Tabela 2 - Prevalência de fatores de risco comportamentais relacionados à Constipação Intestinal em indivíduos
constipados, 2011.
Variáveis Percentual
Sim Não
Uso de algum método laxativo 33,34% 66,66%
(medicamento, chás)
Consegue evacuar fora de casa 22,22% 77,78%
Há história de Constipação Intestinal 44,45% 55,55%
na família
Há presença de alguma doença que alte- 0% 100%
-re o funcionamento intestinal
Com relação à dificuldade de evacuar fora de casa, Cota e Miranda (2006) observaram
que 85% dos constipados possuem esta dificuldade. No presente estudo encontrou-se um
valor inferior ao encontrado pelos autores mencionados acima, 77,78% (Tabela 2) e, apesar de
menor, torna-se expressivo para o estudo por englobar maior parte dos indivíduos constipados
da amostra. Cota e Miranda (2006) descrevem que a não obediência ao reflexo da evacuação
dificulta o restabelecimento da resposta adequada ao reflexo gastrocólico e, portanto, é
necessário orientar os indivíduos constipados a mudarem este comportamento.
No que se refere à presença de história de constipação intestinal na família, um menor
percentual de indivíduos constipados, 44,45% (Tabela 2) declararam ocorrência do transtorno
entre seus familiares. Em seu estudo, Jaime et al. (2009) observaram um maior percentual de
indivíduos constipados (55,7%) com apresentação de história familiar de constipação.
Quanto à presença de doenças que alteram o funcionamento do intestino não houve
nenhum relato descrito (Tabela 2). Pode-se confirmar que a constipação intestinal avaliada no
presente estudo não é de origem orgânica, pois, segundo Ambrogini Júnior e Miszputen
(2002), essa é secundária a alguma doença como neoplasias obstrutivas, hipotireoidismo,
diabetes.
3.2 Alimentação
Fonte: dados da pesquisa.
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Outro fator relacionado ao surgimento de constipação intestinal funcional é o baixo
consumo e frequência de ingestão de alimentos ricos em fibras alimentares como frutas,
verduras, legumes, alimentos integrais, os quais, segundo descrevem Cota e Miranda (2006),
têm ação de prevenir a ocorrência de constipação intestinal. Observou-se que 33,33% dos
indivíduos constipados consumiam alimentos fontes de fibras de 1 a 2 vezes por dia e 44,45%
possuíam ingestão de 1 a 2 vezes por semana, ao passo que, no grupo dos não constipados,
48,39% referiram um consumo de 1 a 2 vezes por dia e apenas 9,68% declararam ingestão de
1 a 2 vezes por semana (Figura 2).
33,33
48,39
44,45
9,68
22,22
38,71
0
3,22
0 00
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
Constipados
Não Constipados
Jaime et al. (2009) não encontraram associação significativa entre prevalência de
constipação e consumo de alimentos fontes de fibras, visto que, dos indivíduos constipados e
não constipados de sua amostra, 37,97% e 43,8% respectivamente, referiram uma frequência
de ingestão desses alimentos de 1 a 2 vezes por dia, enquanto 16,46% e 17,72%,
respectivamente, relataram uma frequência de 1 a 2 vezes por semana.
Em média, recomenda-se uma ingestão de fibras de 30 gramas/dia (BRASIL, 2004).
Em ambos os estudos, o atual e o em que se estabeleceu comparação de dados, notou-se que
Raramente 1-2 vezes/ semana
3-4 vezes/ semana
1-2 vezes/dia
Nunca
%
Figura 2 - Frequência de consumo de alimentos ricos em fibras como frutas, verduras, legumes e alimentos
integrais em indivíduos constipados e não constipados, 2011.
Fonte: dados da pesquisa.
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indivíduos não constipados relataram uma maior frequência de ingestão de fibras por dia do
que os constipados, o que ressalta a função auxiliar do nutriente ao desempenho intestinal.
Abreu et al. (2008) descrevem que as fibras solúveis têm propriedades de estimular o
metabolismo e o trofismo intestinal, retardam o esvaziamento gástrico e propiciam aumento
da saciedade enquanto as fibras insolúveis promovem aumento da massa e maciez fecal,
aumento na frequência de evacuação, efeito mecânico no trato gastrointestinal e, portanto,
reduzem a constipação.
Cota e Miranda (2006) descrevem que juntamente ao consumo de fibras alimentares
deve-se ter uma ingestão hídrica adequada, pois, fibras solúveis absorvem água. Detectou-se
no presente estudo um maior percentual de ingestão de água, equivalente a oito ou mais copos
por dia, no grupo de indivíduos não constipados, 41,94% (Figura 3).
33,33
16,13
44,45
38,71
22,22
41,94
0
3,22
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45 Constipados
Não Constipados
Ao se considerar uma ingestão menor ou igual a sete copos de água por dia, ou seja, ao
somar os percentuais encontrados em cada grupo para as frequências de 1-3copos/dia e 4-7
copos/dia, verifica-se que indivíduos constipados apresentam maiores percentuais de ingestão
abaixo ou igual a 7 copos de água por dia, 77,78%, do que os não constipados, 54,84%
(Figura 3).
1-3 copos/dia
4-7 copos/dia
> 8 copos/dia
Não bebe água
%
Figura 3 - Frequência de ingestão de água em indivíduos constipados e não-constipados, 2011.
Fonte: dados da pesquisa.
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No estudo de Jaime et al. (2009), ao estabelecerem associação entre a ingestão de
líquidos e surgimento de constipação intestinal funcional, não encontraram diferença
estatística significante e observaram que, dos indivíduos constipados e não constipados,
84,81% e 80,17%, respectivamente, possuíam uma ingestão inferior a sete copos de água por
dia. Complementando, estes autores descrevem que é recomendada uma ingestão de pelo
menos oito copos por dia de líquidos, como água e sucos, por exemplo, pois têm papel no
peso e maciez das fezes, além de contribuir para o aumento do número de reflexos
gastrocólicos e proporcionar uma lubrificação intestinal.
Outro fator relacionado ao surgimento de constipação intestinal funcional é a omissão
de refeições (COTA; MIRANDA, 2006). Neste estudo a maioria dos indivíduos constipados
(66,66%) e a maioria dos não constipados (74,19%) relataram realizar quatro ou mais
refeições por dia (Figura 4).
Figura 4 - Número de refeições diárias dos indivíduos constipados e não constipados, 2011.
22,23
0
11,11
25,81
66,66
74,19
0
10
20
30
40
50
60
70
80
2 refeições/dia 3 refeições/dia 4 ou mais
refeições/dia
Constipados
Não Constipados
Cota e Miranda (2006) não encontraram associação significativa entre omissão de
refeições e desenvolvimento de constipação intestinal funcional, sendo que, em sua amostra,
também grande parte dos indivíduos constipados (55%) realizavam quatro ou mais refeições
diárias.
%
Fonte: dados da pesquisa.
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Estes autores comentam que é importante fracionar as refeições ao longo do dia e não
deixar de realizá-las em horários regulares, visto que, o volume inadequado de alimentos para
formar o bolo fecal, pode diminuir o número de reflexos gastrocólicos e desestimular o
peristaltismo intestinal.
3.3 Sedentarismo
Segundo Lacerda e Pacheco (2006), o homem em decorrência das competências a que
lhe são atribuídas nos dias atuais, tem tido sua qualidade de vida afetada como, por exemplo,
não dispondo de tempo para a prática de atividade física. Detectou-se no presente estudo que
44,45% dos indivíduos constipados não praticavam exercícios físicos enquanto que no grupo
dos indivíduos não constipados, 70,97% declararam não realizar nenhuma atividade.
Em seu trabalho, Cota e Miranda (2006) encontraram um relato superior ao
encontrado no presente estudo, onde observaram que dos indivíduos constipados, 65% não
praticavam nenhuma atividade física. Rodriguez, Dantas Júnior e Moraes-Filho (2009)
comentam que não existem evidências científicas do papel da atividade física para a melhora
do quadro de constipação. Mas, conforme descrito por Cota e Miranda (2006), o exercício
físico promove motilidade intestinal, mudanças hormonais, melhora do tônus muscular da
musculatura pélvica e abdominal, auxiliando a eliminação das fezes após esforço. E, além
disso, o gasto energético que se tem com a prática do exercício, faz com que haja um aumento
da ingestão de calorias e, por consequência, do consumo de alimentos fontes de fibras.
4. Associação entre prevalência de constipação intestinal e período em curso
Estudantes universitários, especificamente do curso de Nutrição, ao longo de sua
trajetória acadêmica, isto é, desde os períodos iniciais aos finais da graduação, adquirem um
conhecimento técnico e científico sobre alimentação-saúde-adoecimento. Portanto, o fato
deste estudo abranger indivíduos de períodos tanto iniciais (considerados aqui como aqueles
compreendidos do 1° ao 4° períodos) e finais (considerados como aqueles compreendidos do
5° ao 8° período), que têm possibilidades de aquisição de conhecimentos diferenciados,
devido ao tempo que estão no curso, conduziu-se a divisão da população em dois grupos.
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Dessa forma investigar-se-ia a existência de associação entre prevalência de constipação e o
tempo de curso.
Partiu-se do pressuposto que durante os períodos finais haveria um maior
esclarecimento quanto às causas que levam ao surgimento de constipação, bem como são
discutidas medidas que previnam e/ou tratem o distúrbio, e assim, é de se esperar que a
prevalência seja menor se comparada com a dos estudantes dos períodos iniciais. Porém,
neste estudo, não houve associação estatisticamente significante entre a prevalência de
constipação e períodos (iniciais e finais) do curso (p ≥ 0,05). Isso provavelmente deve-se, ao
fato de que, independente do período em curso, os estudantes têm facilidade para acesso a
informações científicas sobre o tema.
CONCLUSÃO
Verifica-se que a prevalência de constipação encontrada foi baixa, em relação a outros
estudos que utilizaram os mesmos critérios diagnósticos, sendo predominante no sexo
feminino. Referente aos fatores de risco investigados relacionados ao transtorno em
indivíduos constipados, os mais relevantes foram o não cumprimento do reflexo de evacuação
em ambientes fora de casa, o relato de baixa frequência de ingestão de fibras e de água por
dia. Estes achados requerem uma atenção especial, pois podem agravar a constipação, sendo
necessário orientar esses indivíduos a adotarem hábitos saudáveis tais como ter uma
alimentação equilibrada com quantidades de fibras adequada, ingerir mais líquidos, praticar
algum exercício físico, obedecer ao reflexo de evacuação, a fim de auxiliá-los na prevenção e
tratamento da constipação.
Não houve associação entre prevalência de constipação e períodos do curso (iniciais e
finais). Portanto são necessários novos estudos para investigar o conhecimento que os
estudantes têm quanto à constipação (suas causas, prevenção, tratamento) e se esse
conhecimento pode influenciar no distúrbio.
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Recebido em: 03/06/2011
Revisado em: 01/08/2011
Aprovado em: 10/08/2011