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7/31/2019 Favela x Identidade cultural: A relao do designer e a formao de uma identidade cultural em produtos resultan
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UNIVERSIDADE FUMEC
FACULDADE DE ENGENHARIA E ARQUITERTURA FEA
Favela x Identidade cultural:
A relao do designer e a formao de uma identidade cultural em produtos resultantes
de oficinas de capacitao em design e artesanato.
Luiz Claudio Lagares Izidio
Belo Horizonte
2011
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Luiz Claudio Lagares Izidio
Favela x Identidade cultural:
A relao do designer e a formao de uma identidade cultural em produtos resultantes
de oficinas de capacitao em design e artesanato.
Artigo cientfico apresentado Faculdade de
Engenharia e Arquitetura da UniversidadeFUMEC, pelo aluno Luiz Cludio Lagares Izidio,
6 perodo do curso de Design Grfico, como
resultado parcial da participao na Pesquisa
Desenvolvimento de Tecnologia Social para
Realizao de Projetos de Capacitao em
Artesanato e Design tendo o Projeto ASAS como
Estudo de Caso, sob orientao da Prof. NatachaRena.
Belo Horizonte
2011
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RESUMO
O presente artigo trata de uma anlise de aes realizadas por designers em projetos decapacitao em artesanato e design e, conseqentemente suas influncias na vida cultural dascomunidades beneficiadas e na formao da identidade cultural dos produtos por eleselaborados. Tudo isso tendo como base experincias adquiridas pela participao na pesquisaDesenvolvimento de Tecnologia Social para realizao de projetos de capacitao emartesanato e design tendo o Projeto ASAS_Aglomeradas como estudo de caso. Este projetofaz parte do programa extenso da Universidade FUMEC ASAS_Artesanto Solidrio noAglomerado da Serra, sob a coordenao da Prof. Natacha Rena desde 2007. O objetivo destapesquisa criar diretrizes metodolgicas reaplicveis especificas para projetos de capacitaoem artesanato e design com atuao em comunidades em estado de vulnerabilidade social,
para o desenvolvimento de metodologias reaplicveis em projetos sociais.
ABSTRACT
This article deals with an analysis of actions performed by designers on projects for trainingin crafts and design, and consequently their influence on the cultural life of the beneficiarycommunities and training in the cultural identity of the products they elaborados. Tudo thisbased on experiences by participation in Social Research Technology Development to carry
out training projects in craft and design have ASAS_Aglomeradas Project as a case study.This project is part of the extension program of the University Outreach in FUMECASAS_Artesanto Particleboard Sierra, under the direction of Prof. Natacha Rena from2007.O research objective is to create replicable methodological guidelines for specifictraining projects in craft and design with expertise in communities in a state of socialvulnerability, to develop replicable methodologies for social projects.
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Sumrio
1. Apresentao............................................................................................................5
2. Identidade Hibrida e Mutantes.................................................................................6
3. A cultura reconfigurada e a capacitao em artesanato ..........................................8
4. A fragmentao ps-moderna e o territrio da favela .............................................10
5. Projeto Asas e sua relao com a identidade cultural da favela .............................14
6. Resultados ...............................................................................................................22
6.1. Primeira Coleo do ASAS: Natureza na Favela .................................................22
6.2. Segunda Coleo do ASAS: Territrios Aglomerados .........................................24
7. Tabela de indicadores avaliativos .............................................................................258. Concluso ..................................................................................................................28
9. Bibliografia................................................................................................................ 30
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1. Apresentao
O presente artigo tem como objetivo, uma anlise de aes realizadas por designers em
projetos de capacitao em artesanato e design e, conseqentemente suas influncias na vida
cultural das comunidades beneficiadas e na formao da identidade cultural dos produtos por
eles elaborados. Tal reflexo feita sob a luz de tericos e autores como Nestor Canclini,
Eduardo Barroso, Paola Berenstein, Michel Maffesoli, Stuart Hall dentre outros. Como
forma de obter uma melhor compreenso das questes que envolvem essas aes e
entendimento do territrio da favela, ser feita tambm uma breve anlise do
desenvolvimento e dos resultados obtidos da pesquisa realizada tendo como estudo de caso o
Projeto ASAS_aglomeradas, parte do Programa ASAS_Artesanato, programa de extenso da
Universidade FUMEC, com sede no Aglomerado da Serra, localizado na regional centro sulde Belo Horizonte, Minas Gerais. O objetivo geral desta pesquisa, na qual fao parte como
aluno bolsista, a investigao do processo criativo coletivo e colaborativo realizado durante
trs anos junto s artess, as aes de trabalho giram em torno da capacitao destes
beneficirios por alunos e professores, que resultaram na produo de duas colees de
produtos (Natureza na Favela e TerritriosAglomerados) e na formalizao de um grupo
produtivo local. Como no existem metodologias publicadas e conhecidas destes
procedimentos colaborativos desenvolvidos por designers ao atuar em comunidades,acredita-se que papel da universidade registrar, organizar, analisar e desenvolver
informaes que possam construir novas tecnologias sociais que auxiliem em projetos de
gerao de renda e empoderamento de comunidades em estado de vulnerabilidade social. A
expectativa deste trabalho gerar uma lista de diretrizes de avaliao que sirvam de
referncia para futuras iniciativas, baseadas nas caractersticas e nos procedimentos,
positivos e negativos, identificados. Estas diretrizes sero referncia para o resultado final de
pesquisa que ter uma tabela contendo eixos temticos associados MACROINDICADORES e indicadores especficos de avaliao.
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2. Identidades Hibridas e Mutantes
A identidade de um povo a unio de diversos fatores que atuam diretamente sobre elementos
que conformam sua cultura, histria, smbolos, representaes e instituies.
Segundo HALL (2006) esses sentidos esto todos no saber e na memria de uma nao. Esta
identidade um conjunto mutante de referncias, em transformao, e quanto maior este
movimento de mutao, maior ser a capacidade de sobrevivncia e de renovao de uma
nao. Em tempos de ps-modernidade entende-se a questo da identidade como um
momento em que a identidade do sujeito comea a se fragmentar e que o indivduo torna-se
parte do ambiente no qual ele vive, ciente de que no existe um centro fixo e estvel, mas que
pelo contrrio ele parte de um todo que mvel, formado por transformaes contnuas eque ele reflete essas transformaes dos sistemas culturais que o rodeia. Portanto, na
contemporaneidade, a formao da identidade em um indivduo acontece no s de maneira
inata, e um processo em constante formao parte dela surge atravs da forma que somos
vistos pelas outras pessoas e como elas tiram significados de nossas diferenas e
individualidades, alm das transformaes que no temos controles sobre elas. 1 Portanto
quando se fala de identidade, no tratamos apenas com aquilo que j nascemos ou j
adquirimos de maneira inata, mas, tambm, de tudo aquilo que foi formado e transformado nointerior da representao do mundo no qual vivemos. Por isso muito importante considerar
os processos dinmicos da inter-culturalidade,processos que so caractersticos das sociedades
hbridas, capazes de relacionar, apropriar, combinar e transformar elementos diversos de
origens diferentes.
"A identidade surge no tanto da plenitude da identidadeque j est dentro de ns como indivduos, mas de uma
falta de inteireza que preenchida a partir de nossoexterior, pelas formas atravs das quais ns imaginamosser vistos por outros." (HALL, 2006, p.39).
A fragmentao do territrio algo a ser levado em conta na formao desse novo pensar
sobre a formao da identidade, pois a interconectividade, possvel na ps-modernidade, nos
leva a entender o espao-tempo de maneira nova, o tempo e o espao so coordenadas bsicas
para nossa representao. Assim nasce a noo de multiterritorialidade, identificada por uma
1 Hall, Stuart. A identidade cultural na ps-modernidade.- 11.ed. - Rio de Janeiro: DP&A, 2006
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desterritorializao que no apenas a perda ou o desaparecimento dos territrios, mais a
discusso acerca da complexidade dos processos de (re)territorializao em que estamos
envolvidos, graas s ps-modernidade, construindo territrios muito mais mltiplos ou, de
forma mais adequada, tornando muito mais complexa nossa multiterritorialidade. A
territorialidade, alm de incorporar uma dimenso estritamente poltica, diz respeito tambm
s relaes econmicas e culturais, pois est intimamente ligada ao modo como as pessoas
utilizam a terra, como elas prprias se organizam no espao e como elas do significado ao
lugar. 2
A identidade est diretamente afetada por esse sentido de representao a partir do momento
que percebemos o mundo por uma nova tica, no qual, ele menor e as distncias maiscurtas, isso nos leva a um imediatismo com relao vida, ou seja, nossas aes refletem
quase que instantaneamente o mundo global e universal que vivemos, pois sabemos que
podemos compartilhar algo que acontece em nosso entorno com pessoas situadas em lugares
bem distantes, praticamente em tempo real, ou seja, o lugar permanece fixo, porm o espao
pode ser cruzado rapidamente. Nesse sentido, percebe-se o nascimento de uma viso mais
plural com relao formao da identidade cultural de uma regio de um grupo, de um povo.
Segundo BARROSSO (1999):
uma viso mais plural, abrangente e generosa daquiloque possa ser a identidade cultural, cujo interesseextrapola o carter acadmico na medida em que serecebe que este poderia ser um dos antdotos contra aexacerbao do nacionalismo, que quando levado aoextremo transforma-se em patologia social e violnciasem propsito, como tem sido um fato recorrente emtoda a histria (BARROSO, 1999, p6).
Para MAFFESOLI (2001), a formao da identidade passou a ser uma escolha pessoal, onde
cada indivduo escolhe estilos de vida a que deve pertencer, atitudes a tomar, aspiraes e
modismos que querem seguir, reconfigurando a sociedade e criando novas tribos urbanas.
A ps-modernidade est se constituindo em torno da idia de enraizamento dinmico, a partir
de uma vagabundagem existencial que se desenrola a partir do oco, da "sede do infinito" e do
desejo de outro lugar. Sendo assim ela se caracterizaria, entre outras coisas, pela volta de
2 HAESBAERT, R. 1994. O mito da desterritorializao e as regies-rede. Anaisdo V Congresso Brasileiro de Geografia. Curitiba: AGB, pp. 206-214.
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determinados arcasmos, entre os quais o nomadismo, que seria justamente essa volta de
valores ligada ao agora, criando uma nova identidade. "Trata-se de uma tendncia geral de
uma poca que, por uma volta cclica dos valores esquecidos se liga a uma contemplao
daquilo que ." (MAFFESOLI, 2001, p. 28).
Diante disso e dentro da perspectiva de ao em um projeto de capacitao em artesanato e
design, deve-se estimular que os beneficirios redirecionem o olhar para dentro de si mesmo e
de seu prprio territrio, buscando em sua prpria cultura material e iconogrfica as bases
para a criao de novos produtos, fortalecendo assim a identidade cultural dos objetos
gerados, uma vez que seu olhar pouco contaminado por modismos, oferecendo assim idias
novas e despojadas de vcios e referncias exgenas.3
3. A cultura reconfigurada e a capacitao em artesanato
Essa cultura reconfigurada permite uma nova viso no que diz respeito busca de uma
identidade e entendimento do seu prprio territrio, como referncia pessoal que contm um
universo iconogrfico no qual o arteso e o designer podem mergulhar, no s no passado,
mas no presente.
Com relao ao do designer e sua influncia na formao de uma identidade cultural,
mesmo que mestia, das comunidades envolvidas em projetos capacitao em artesanato e
design, est no fato dele ser um agente multiplicador e ou ampliador da realidade vivida por
essas pessoas.
Essas aes de capacitao em artesanato e design, em geral, envolvem objetivos como ofortalecimento de uma identidade que reforce o territrio e deixe clara a relao entre os
beneficirios e o seu contexto cotidiano. Isso surge atravs de oficinas e aulas tericas, onde
so apresentados contedos e conceitos dos quais, muitas vezes, os beneficirios nunca
tiveram contato antes e isto, usualmente, vem atrelado a metodologias que tornem o olhar dos
envolvidos mais atentos para sua prpria realidade. Esse tipo de estratgia faz com que a
3 _______. Design, identidade cultural e artesanato: para Primeira Jornada
Ibero-americana de Design no Artesanato. Disponvel em http:
www.eduardobarroso.com.br-c
http://www.eduardobarroso.com.br-c/http://www.eduardobarroso.com.br-c/http://www.eduardobarroso.com.br-c/7/31/2019 Favela x Identidade cultural: A relao do designer e a formao de uma identidade cultural em produtos resultan
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carga cultural do participante do projeto se amplie ressituando-o em um lugar de escolhas, no
qual ele pode aceitar ou no esses conhecimentos e inseri-los em seu dia-a-dia, gerando assim
um fortalecimento da sua noo de territrio e de valorizao do meio em que vive, fazendo
esse conhecimento reverberar em suas criaes e no desenvolvimento dos produtos. Alm
desta aplicao direta no produto que vai gerar um alto valor agregado, h um reforo nos
processos de aumento de auto-estima, j que os artesos passam a enxergar qualidades
positivas e singulares no seu cotidiano. Porm no so apenas os beneficiados que ganham
essa ampliao de estmulos culturais, o designer tambm ganha (e muito) com essa
influncia de um territrio novo no qual ele est trabalhando, podemos dizer at mesmo que o
designer ganha mais com esta experincia, pois tem como resignificar melhor esses estmulos
para utiliz-los como referncias para suas criaes e trabalhos alem de se envolver comprocessos culturais totalmente diferentes do seu. Desta maneira, o que poderamos dizer de
um produto bem desenvolvido carregado de significados culturais relevantes, seria um
produto que trs caractersticas do territrio dos beneficirios, porm resignificadas atravs da
ao dos designers.
Seria possvel avanar mais no conhecimento da culturae do popular se abandonasse a preocupao sanitria emdistinguir o que teriam a arte e o artesanato de puro e nocontaminado e se os estudssemos a partir das incertezasque provocam seus cruzamentos. Assim como a anlisedas artes cultas requer livrar-se da pretenso deautonomia absoluta do campo e dos objetos, o exame dasculturas populares exige desfazer-se da suposio de queseu espao prprio so comunidades indgenasautossuficientes, isoladas dos agentes modernos que hojeconstituem tanto quanto suas tradies: as indstriasculturais, o turismo, as relaes econmicas e polticas
com o mercado nacional e transnacional de benssimblicos. (CANCLINI, 1998, p.245)
Atravs dessas influncias de territrio e de identidade cultural revelada atravs de um novo
olhar que o processo criativo vai ganhando fora e corpo, traduzindo o modo de ser e viver
dos participantes do projeto. importante lembrar que, na hora de ao e interferncia no
trabalho dos artesos pelos designers, que esse procedimento que envolve uma busca de
referncia no prprio territrio nunca deve ocorrer com metodologias verticais, como se os
artesos fossem meros executores de ao. Pelo contrario, os artesos devem ser parteintegrante do processo de criao, fabricao, distribuio e gerenciamento do processo. Essa
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nova estrutura de trabalho faz parte de uma viso multidisciplinar e colaborativa, onde a
autoria no apenas do designer, mas sim de todos envolvidos no processo, sendo assim um
exemplo claro de processo coletivo colaborativo. os designers deveriam se abstrair da nsia
de protagonismo e do desejo narcisista de passar posteridade como fazedores de objetos de
adorao. (BARROSO,1999:p28). A convergncia de princpio e de unidade que a
interveno do designer deve gerar dentro de um projeto de capacitao em artesanato, essa
mais uma possibilidade de importncia relevante sobre a qual se constri uma identidade forte
para os produtos artesanais. Por isso faz-se necessrio entendermos um pouco mais sobre a
construo e a lgica de funcionamento do territrio chamado favela, para compreender como
este territrio informal no qual o projeto ASAS est inserido, influncia na metodologia do
trabalho de capacitao em artesanato.
4. A fragmentao ps-moderna e o territrio da favela
Essa viso fragmentaria do mundo, percebida na ps-modernidade, trs tona alguns
conceitos trabalhados por Paola Berenstein Jacques em seu livro Esttica da Ginga, no qual
ela apresenta a formao do territrio da favela tendo como paralelo obra de Hlio Oiticica.Nele ela nos apresenta os conceitos de fragmento e labirinto evidenciando o contexto da
cidade informal.
Atravs desses conceitos ela nos apresenta a esttica prpria que a favela possui. Como visto
anteriormente o entendimento do seu entorno parte da formao da identidade cultural de
um indivduo que ali habita. Prope-se aqui o entendimento do territrio da favela como
forma de fortalecer a criao da identidade cultural dos moradores das favelas e participantesde projetos de capacitao em artesanato e design. O desdobramento do territrio faz-se
necessrio para que cada indivduo conhea e perceba o seu entorno a fim de resignificar e
sentir-se parte desse ambiente.
Para entender melhor o territrio da favela partimos da hiptese que a favela possuiu uma
esttica prpria, que se estrutura de forma venacular. Conceder status esttico favela nos
ajuda a entender o seu dispositivo prprio de construo.Elas possuem uma identidade
espacial singular e ao mesmo tempo fazem parte da cidade e da paisagem urbana de muitos
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pases em desenvolvimento.
O princpio de fragmento com relao ao espao da favela est intimamente ligado forma
com que ela construda e pensada. O fragmento parte formadora das habitaes dos
moradores da favela, e essas so construdas a partir de tticas de sobrevivncia e uma esttica
da necessidade.4
Os barracos so construdos por fragmentos de restos de matrias de construo, madeiras e
lates, apanhados e ou achados no entorno da cidade. Assim cada morador o prprio
construtor e projetista de sua habitao, que so modificadas de acordo com a necessidade
ditadas pelo acaso sendo por isso o fragmento o agente principal de ao do acaso e daausncia de planejamento estratgico.
importante salientar que o principal ponto dessa esttica da necessidade fragmentaria e o
fato de no possuir um projeto de estruturao finalizado com incio, meio e fim, mais sim um
projeto de forma continua a partir de uma inteligncia coletiva que pode ser modificado e
deve ser a cada ao do acaso na formatao. Neste sentido a construo do ambiente da
favela pode ser vista como anloga bricolagem estando ligado idia de acaso eincompletude.
O bricoleur ao contrrio do homem de artes, jamais vaidiretamente a um objetivo ou em direo totalidade: eleage segundo uma prtica fragmentria, dando voltas econtornos, numa atividade no planificada e emprica.(JACQUES, 2001, p.25)
Assim como o processo de formao e criao do ambiente da favela contnuo a ao dodesigner para a capacitao em artesanato e design, em grupos ou projetos ligados favela
devem seguir o mesmo pensar.O trabalho com artesanato de referncia cultural* com
moradores, grupos e ou projetos relacionados a moradores de comunidades deve refletir o
4 JACQUES, P. B. A esttica da ginga: a arquitetura das favelas atravs da obra de Hlio Oiticica.
Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2001.
* Este termo foi retirado do Programa SEBRAE de Artesanato que o termo de referncia de aes
relacionadas ao segmento de artesanato. Artesanato de Referncia Cultural so produtos cuja caracterstica a incorporao de elementos culturais tradicionais da regio que so produzidos. So, em geral, resultantes deuma interveno planejada de artistas e designers, em parceria com os artesos, com o objetivo dediversificar os produtos, porm preservando seu trao cultural mais representativos.
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pensamento de formao do espao ao redor, a idia do fragmento deve estar no processo de
planejamento das aes dos designer e outros profissionais envolvidos nesse processo.
O planejamento no pode ser enquadrado (engessado), ele deve ser malevel, capaz de ser
modificado conforme as necessidades o decorrer das aes , portanto, o processo deve ser
contnuo e passvel de mudanas e adaptaes no decorrer do tempo de durao das
atividades, j que o prprio ambiente e a vida das pessoas refletem esse modo de ser.
Um planejamento de aes fragmentado pode muitas vezes parecer uma desordem ou uma
falta do prprio planejamento, porm ele apenas uma ordem bem mais complexa, cuja
complexidade formada de descontinuidades com intervalos de continuidades. O fragmentoesta sempre em movimento este movimento contnuo que faz-nos ter a idia de que ele
indeterminado e inacabado.
Os fragmentos so separadamente inacabados; o queeles tm de incompleto, de insuficientes, trabalho dadecepo, sua deriva, o sinal de que, nem unificveis,nem consistentes, ele se deixam separar por marcas somas quais o pensamento, ao declinar e ao se declinar,imagina conjuntos furtivos que, ficticiamente, abrem efecham a ausncia de conjunto, mas, definitivamentefascinado, no pra, sempre mantido pela viglia nuncainterrompida. Da a impossibilidade de dizer que tenhahavido intervalo, pois os fragmentos, destinados em parteao branco que os separa, encontram nessa distncia no oque os termina, mas o que os prolongar, o que j osprolongou, fazendo-os persistir por sua incompletude,sempre prontos a se deixar trabalhar pela razoincansvel, em vez de permanecer a palavra deposta,
deixada de lado, o segredo sem segredo que nenhumaelaborao consegue preencher. (BLANCHOT, 1980,p.96).
Este estado inacabado e de desordem necessrio porque a fora do fragmento est
precisamente nas suas potencialidades provocativas. O fragmento semeia a dvida, ele pode
ser um pedao, uma etapa ou o todo. O fragmento no caso da formao do espao da favela
plenamente auto-referente, ele reflete o espao em que as pessoas vivem, refletem a
identidade da favela e de seus habitantes. A identidade permanece sempre incompleta, est
sempre em processo, sempre sendo formada. (HALL, 2006, p.38). Nesse sentido os projetos
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de artesanato e design tambm devem ser auto-referentes, em todas as sua etapas de
realizao.
O projetar implica tambm, na maioria dos casos, umplanejamento, uma racionalizao, em outros termos,uma repetio do mesmo. No caso da favela, isso impossvel, pois no se pode bricolar duas vezes domesmo jeito. (JACQUES, 2001, p.56)
O fragmento deve ser utilizado tanto de maneira individual ou coletivamente em atividades de
planejamento de aes, criao e execuo, ele que vai fortalecer a identidade cultural do
artesanato urbano (artesanato de referncia cultural, usado e produzido na cidade
contempornea e se torna o diferencial das peas produzidas por esses artesos). Pensar no
fragmento como parte integrante de um processo de capacitao em artesanato e design faz
com que o acaso esteja presente nas etapas de produo dos produtos e este certamente
refletir de maneira mais adequada o ambiente da favela, e praticamente de maneira nica, j
que o fragmento no pode ser replicado ou refeito da mesma forma.
O entendimento do labirinto vem a partir da construo fragmentria dos barracos da favela
que vo dando formas a emaranhados de casas, vielas e becos, assim formasse o labirinto.
Portanto ele formado a partir do movimento de construo do prprio espao da favela, o
labirinto tem o movimento como princpio bsico de formao e este o responsvel pela
vertigem e o no entendimento do espao por quem no da favela.
um espao efetivamente labirntico, tal o emaranhado dos caminhos internos, e, ainda,
como no h sinalizao, placas, nomes ou nmeros, qualquer pessoa de fora, ali,se perde
facilmente. (JACQUES, 2001,p.65). O labirinto da favela complexo no e fixo, est sempre
sendo feito, como um tecido malevel que segue o movimento dos corpos que o criam e noh um autor nico, ele feito de maneira coletiva e colaborativa, cada morador responsvel
por acrescentar um fragmento em suas construes, que s vezes se embolam umas nas
outras.
Assim, como no fragmento, o mais importante no a forma ou o fragmento em si, e sim a
fragmentao, quebra, diviso que esse provoca. O labirinto segue o mesmo pensamento, o
importante no a forma que ele vai tomando e sim o estado que ele provoca, um estadolabirntico (desorientao) constante que faz sempre necessria a busca de novos caminhos ou
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formas diferentes de passar pelo mesmo lugar. Segundo Deleuze, o labirinto no mais o
caminho onde a pessoa se perde; o caminho que retorna 5. A idia principal est sobretudo
na experincia de penetrar no labirinto.
O estado labirntico segue a lgica da fragmentao, espontaneidade, reflete uma situao de
transformao,subjetivao criao de um prprio movimento, tempo e espao. Ele
juntamente com o fragmento o que sustenta a identidade cultural da favela, pois alm de ser
parte integrante dela, cria o movimento e a ginga necessria para se adaptar as mudanas do
espao tempo da favela, que diferente do ritmo da cidade formal, pois improvisado e
formado a partir de uma necessidade sem planejamento prvio.
O entendimento desse territrio complexo que permite aes mais eficazes para o
gerenciamento de projetos de capacitao em artesanato e design, visto que ele oferece uma
lgica prpria de funcionamento. Quando esse territrio fortalecido tanto por parte da
equipe executora, quando pelos beneficirios, o empedramento algo que acontece
paralelamente, j que as pessoas vo tomando noo do ambiente que vivem e como ele
funciona, facilitando a aceitao e a reafirmao de suas caractersticas culturais e identitrias.
Essa relao fica clara nas aes do Programa Asas_Aglomeradas, projeto de extenso daUniversidade Fumec, sob a coordenao da professora Natacha Rena desde 2007. Logo a
seguir apresento minhas experincias cerca desde projeto.
5. Projeto Asas e sua relao com a identidade cultural da favela
Participo de um projeto de pesquisa DESENVOLVIMENTO DE TECNOLOGIA SOCIALPARA REALIZAO DE PROJETOS DE CAPACITAO EM ARTESANATO E DESIGN
TENDOO PROJETO ASAS COMO ESTUDO DE CASO, que averigua os projetos de
extenso do ncleo produtivo ASAS_aglomeradas desenvolvendo diretrizes para gerar
tecnologia social. O foco debruar sobre as aes dos projetos, atravs da pesquisa e de
anlise de dados, a fim de criar diretrizes metodolgicas para o desenvolvimento de projetos
5 DELEUZE, GILLES, Mystre d'Ariane selon Nietzsche, in critique etclinique, Paris, Les ditions de Minuit, 1993, p.132.(T.d.a.)
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em capacitao em artesanato e design que seja replicvel. Tendo como objetivo a gerao de
renda, agregao de valor ao produto numa perspectiva contempornea da insero entre
design e artesanato urbano, utilizando o conceito de Design Social, esta pesquisa pretende
basicamente avaliar os processos realizados e seus resultados a partir dos indicadores
genricos para projetos de captao em artesanato de qualquer natureza no intuito de gerar
novos indicadores especficos para projetos socioambientais em artesanato e design. De incio
foi realizada uma reviso literria a respeito do tema, para se conhecer o que h de textos e
referncias desde trabalho no Brasil e no mundo,a partir de ento tivemos subsdio para criar
uma metodologia a ser aplicada na pesquisa.
O mtodo utilizado para captao de dados foi o uso de questionrios que foram feitos combase em eixos temticos levantados na reviso bibliogrfica como importantes para o bom
desenvolvimento de um projeto de capacitao em artesanato e design. Os eixos temticos
escolhidos foram:
Criao colaborativa: as metodologias de criao so realizadas de forma coletiva onde cada
participante tem autonomia de contribuir com suas idias livremente, o resultado passa de
autoral para colaborativo, todos so criadores.
Territrio e identidade: levado em considerao aspectos referentes ao territrio em que osbeneficirios vivem e seu repertrio cultural.
Autonomia: todo esse processo de capacitao gera autonomia e liberdade de ao aos
beneficirios, fortalecendo a autoconfiana dele prprio e da comunidade.
Economia Solidaria: Aes para um incremento de renda e um possvel desenvolvimento de
uma rede produtiva levando a formao de uma associao. Tambm esclarecimentos sobre o
processo de gesto do processo de produo distribuio e precificao dos produtos.
Sustentabilidade: aplicao dos conceitos relacionados a esse tema no que diz respeito criao, produo e reutilizao de matrias primas.
Apresento e comento alguns resultados que traduzem a identificao dos beneficirios pelos
processos de criao colaborativa e o fortalecimento do territrio e conseqentemente da
identidade cultural.
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Grfico 1_ Grfico resultante das entrevistas feitas com osbeneficirios do projeto ASAS_Aglomeradas.
Grfico 2_ Grfico resultante das entrevistas feitas com osbeneficirios do projeto ASAS_Aglomeradas.
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Grfico 3_ Grfico resultante das entrevistas feitas com osbeneficirios do projeto ASAS_Aglomeradas.
A grande maioria dos beneficirios entrevistados consideraram que o processo coletivo de
criao funcionou (93%), mostrando assim uma identificao com essa metodologia de
trabalho, da mesma forma que a produo coletiva dos produtos (80%), e confirmando o bom
funcionamento dessa metodologia 93% considerou que gosta mais de produzir de maneira
colaborativa do que individualmente.
Grfico 4_ Grfico resultante das entrevistas feitas com osbeneficirios do projeto ASAS_Aglomeradas.
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O territrio e a identidade cultural mostram-se fortalecidos com os resultados desse grfico
pois quase a totalidade dos beneficirios consideram que a valorizao da cultura do lugar
onde eles vivem e pelo qual eles se reconhecem valorizada nas oficinas e no
desenvolvimento do projeto.
Outros resultados que devem ser considerados so os referentes s aulas tericas, pois nesse
momento onde o beneficirio tem a oportunidade de conhecer uma nova viso de mundo que
talvez muitas vezes ele no teriam se no fosse esse momento.
Grfico 5_ Grfico resultante das entrevistas feitas com osbeneficirios do projeto ASAS_Aglomeradas.
O resultado mais uma vez positivo pois 86% considera que as aulas tericas funcionaram.
Gostaria de ressaltar a importncia do processo de criao colaborativa, pois essa metodologia
se tornou um marco para o desenvolvimento dos produtos, pois desde quando ela comeou a
ser utilizada possvel notar um crescimento na identidade dos produtos produzidos pelos
beneficirios.
Essa prtica faz com que os beneficirios sintam-se mais inseridos no processo de criao j
que todos tm plena abertura e liberdade para dar sugestes e interferir na criao, assim o
produto final no mrito de um nico autor e sim de vrios sendo colaborativo e coletivo,
desta forma cada beneficirio se reconhece no produto final.
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Fig. 01_Oficina de criao colaborativa e coletiva
Fig.02 _Produtos resultantes do processo de criao colaborativa e coletiva.
Desde o seu incio, o projeto Asas_aglomeradas tem tido aes relevantes no que diz ao
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entendimento do territrio da favela, seja atravs de leituras e anlise critica de textos por
parte dos alunos bolsistas, seja atravs de oficinas que favorecessem o entendimento do
territrio da favela para os beneficirios. O objetivo dessas aes era fazer com que os
produtos gerados tivessem caractersticas especificas e iconogrficas do territrio.
Outro diferencial e que desde o incio foi preocupao de refletir o lugar onde os
beneficirios vivem e no produto final isso fica claro, pode-se observar isto na fala de uma das
beneficiaras em entrevista feita no processo de captao de dados por parte da pesquisa.
Entrevistador- Voc acha importante que as
caractersticas do aglomerado apaream no produtofinal?Shirley Nossa ! isso muito importante, identidade !isso tem que acontecer, tem que acontecer. Eu acho quecada dia que passa os produtos, alis desde o comeo osnossos produtos nunca tiveram a cara de asfalto, sabe ! asestampas nunca tiveram, NE ! sempre foi coisa dafavela! Tem a identidade da favela.Os bordadosprincipalmente sabe cada um de um jeito, e o mesmo tipode ponto, mais cada ponto sai de um jeito.1
possvel perceber que a identidade uma preocupao no desenvolvimento do produto, h a
compreenso de que essas caractersticas estando presentes no produto final iro agregar valor
e posicionar melhor o produto no mercado, sendo esse o diferencial de produtos
desenvolvidos por projetos que envolvem artesos de comunidades em vulnerabilidade social.
Essas entrevistas ainda mostram resultados positivos de outras aes do projeto tais como
processos de criao coletivos e colaborativos:
Entrevistador - Voc gosta do produto individual, criadoapenas por voc sem a ajuda ou colaborao de outrapessoa?Shirley Com a colaborao de outras pessoas, prefiroem conjunto.Entrevistador Porque voc prefere em conjunto?Shirley - Por causa da diversidade das pessoas, pelaformao de cada um, maneira de pensar, eu acho que otrabalho vai ficando muito mais interessante.2
1 Dados retirados de entrevistas feitas durante a fase de captao de dados para a pesquisa dedesenvolvimento de metodologia para projetos de capacitao em artesanato e design, com baseno projeto Asas_Aglomeradas, projeto de extenso da Universidade FUMEC.
2 Dados retirados de entrevistas feitas durante a fase de captao de dados para a pesquisa de
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Outra forma de se ter o empoderamento e valorizar cada ao exercida pelos participantes do
processo de criao e produo do produto, uma alternativa pra isso talvez seja a criao
coletiva colaborativa. Nesse tipo de estratgia cada beneficirio e
co-participante e criador do produto final. Com relao ao empoderamento e identidade
cultural:
No ASAS pude aprimorar meus conhecimentos sobreredes sociais, voluntariado educativo e cidadaniaElisngela Maria de Jesus3
O Projeto me trouxe um novo olhar dentro daperspectiva do design artesanal, ou seja, o artesanato que
fao hoje tem outro conceito. Tornei-me uma pessoamais ponderada e confiante. (...) Assim meus trabalhosforam tendo uma forma mais prtica e objetiva. Omelhor de tudo que surgiu novamente a vontade devoltar a estudar. Schirley Maria Araujo4
J foram lanadas 2 colees de produtos gerados atravs dessa metodologia, estas so:
desenvolvimento de metodologia para projetos de capacitao em artesanato e design, com baseno projeto Asas_Aglomeradas, projeto de extenso da Universidade FUMEC.
3 RENA, Natacha [org.]. Territrios aglomerados. Belo Horizonte: Ed. FUMEC Faculdade de
Engenharia e Arquitetura, 2010.
4 RENA, Natacha [org.]. Territrios aglomerados. Belo Horizonte: Ed. FUMEC Faculdade de
Engenharia e Arquitetura, 2010.
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6. Resultados
6.1. Primeira Coleo do ASAS: Natureza na Favela
Coleo inspirada nos muros e cercas da favela
Fig.03_ Produtos da coleo natureza da favela,coleo inspirada nos muros e cercas da favela
Coleo inspirada em personagens da favela e nas formas das casas e becos
Fig.04_ Produtos da coleo natureza da favela.
Coleo inspirada em personagens da favela e nas formas das casas e becos
Coleo Inspirada na aglomerao de barracos e rvores no morro
Fig.05_ Produtos da coleo natureza da favela.
Coleo inspirada em personagens da favela e nas formas das casas e becos
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Luminrias inspiradas nos gatos da favela
Fig.06_ Produtos da coleo natureza da favela.
Inspiradas nos gatos da favela.
Coleo inspirada nos gansos que vivem no asfalto
Fig.07_ Produtos da coleo natureza da favela.
Coleo inspirada nos gansos que vivem no asfalto
Coleo inspirada no Coco - babo
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Fig.08_ Produtos da coleo natureza da favela.
Coleo inspirada no Coco - babo
6.2. Segunda Coleo do ASAS: Territrios Aglomerados
Com o intuito de estabelecer processos sustentveis de gerao de renda, professores e alunos
trabalharam juntos na capacitao do grupo de artess da favela com oficinas de costura,
estamparia, encadernao, bordado e fotografia pinhole. As artess que produziram a coleointitulada TERRITRIOS AGLOMERADOS so do ncleo produtivo que compe o Projeto
ASAS (www.projetoasas.org) e se chama AGLOMERADAS. Este ncleo formado por 7
artess que trabalham com estamparia, costura, encadernao e fotografia na criao de
objetos que refletem a realidade cotidiana da favela.Esta coleo TERRITRIOS
AGLOMERADOS, cuja fora expressiva resultado de uma metodologia especfica focada
em processos colaborativos de criao e produo, revela a singularidades coletiva do grupo.
Os produtos foram criados a partir de processos criativos envolvendo uma pesquisa realizadacom referncias iconogrficas coletadas na prpria favela. O valor agregado dos produtos
surge tambm das tcnicas diversas (estampas em mata borro, bordados e encadernao
manual) tornando evidente a complexidade das imagens estampadas, que refletem as
bricolagens e a desordem labirntica tpicas da cidade informal.
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Fig.09_ Produtos da coleo Territrios Aglomerados.
Alm desses resultados que so visveis no produto, a pesquisa vem desenvolvendotecnologia social, atravs da formulao de uma tabela de indicadores avaliativos especifica
para projetos de capacitao em artesanato e design, podendo assim avaliar de maneira
quantitativa e qualitativa o sucesso e ou o fracasso das aes realizadas durante o processo
baseada nos resultados esperados de cada uma delas.
7. Tabela de indicadores avaliativos
A criao desta tabela est sendo feita a partir das entrevistas realizadas com os beneficirios,
onde foram feitas perguntas relativas aos eixos temticos j apresentados anteriormente. Aps
a anlise destas entrevistas foram levantados possveis indicadores especficos e ento eles
foram reunidos em macro indicadores, tornando a tabela bem ampla com relao aos aspectos
avaliativos, podendo assim ser reaplicada a qualquer projeto de capacitao em design e
artesanato, em qualquer regio do Brasil e ou do mundo.
Exponho aqui os resultados referentes criao colaborativa e territrio e identidade que j
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obtivemos.
EixosTemticos
Fonte de Informao daPesquisa
Fala IndicatriaIndicadorEspecfico
Macro indicador
Benef ic iar io 1
E voc acha que o s processos colet ivos
colaboram indiv idualmente na sua
cr iat iv idade e aprendizado?_Adriele: Tem me ajudado bastante, nem scom a criatividade mas tambm eu to bemmais comunicativa.
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Benef ic iar io 3
Voc gosta do pro duto indiv idual cr iado
apenas por voc ou com a co laborao de
outras pessoas?
_Mercedes: Eu gostava muito do sbado, quea gente fazia um trabalho assim, todomundo junto, n? Era legal demais.Benef ic iar io 4
Voc gosta do pro duto indiv idual, cr iado
apenas por voc sem a a juda ou
co laborao de out ra pessoa?
Shirley Com a colaborao de outraspessoas, prefiro em conjunto.Ent rev is tador Porque voc prefere emconjunto?Shirley - Por causa da diversidade das
pessoas, pela formao de cada um, maneirade pensar, eu acho que o trabalho vai
Benef ic iar io1
"Tem me ajudado bastante, nem scom a criatividade mas tambm eu to
bem mais comunicativa."Benef ic iar io 3
"Eu gostava muito do sbado, que agente fazia um trabalho assim, todomundo junto, n? Era legal demais."Beneficiario 4"Com a colaborao de outraspessoas, prefiro em conjunto."
Por causa da diversidade daspessoas,(...)eu acho que o trabalhovai ficando muito mais interessante.
Importncia daCriao Colaborativa
Consolidao dePrticas
Colaborativas
Benef ic iar io 2E voc pre fere desenhar soz inha, ou
a lgum te a judando e in ter fer indo no seu
desenho?
Eva: No, eu preferia eu sozinha mesmo,n? Porque uma coisa minha, do jeito queeu fao, n? Que as vezes eu fao a carinhae um olho a vem algum e faz o olho de umoutro jeito. E tem um bonequinho at queeles gostaram muito dele, que eu fiz elecomo se fosse o meu pai, sabe? Ento eufao ele, quando eu olho pros lugar, praspessoas que eu conheo, .... gente na rua,mas s o rosto mesmo de gente queconheo mesmo. Ento eu sei quem que .
Benef ic iar io 2"No, eu preferia eu sozinha mesmo,n? Porque uma coisa minha, do
jeito que eu fao, n? Que as vezeseu fao a carinha e um olho a vemalgum e faz o olho de um outro
jeito." Sentimento de PossePela Autoria do
Produto
Benef ic iar io 2
E voc fa lou que, por ex emplo de as
pessoas a judarem, mudando a lgumas
coisas no desenho, isso acontecia muito no
ASAS, n? Por ex emplo assim, nas of ic inas
de desenho, de c r iao sempre t inha uma
coisa que todo mundo faz ia junto , n?Eva: No, at hoje no meu eles nomudaram nada no. Ficaram tudo do mesmo
jeito...Entrevistador : E voc acha que se
mudasse voc no i r ia gos tar?
Eva: No iria me importat no, no iria meimportar.
Benef ic iar io 2
"Ent rev is tador : E voc acha que semudasse voc no iria gostar?Eva: No iria me importar no, noiria me importar."
Consolidao doGrupo
Benef ic iar io 3
E voc acha que o s processos colet ivos
colaboram indiv idualmente na sua
cr iat iv idade e aprendizado?
_Mercedes: Eu acho, porque cada um tem oseu modo de criar, n? Ento junta aquiloque a gente sabe, com o que outra pessoasabe d uma contribuio bem boa, n?Entrevistador: E voc se sente preparada pracriar os produtos sozinha?Mercedes: Ah, sozinha me parece que no...eu precisava de uma pessoa meacompanhando.Benef ic iar io 4 -
Voc acha que os processos colet ivos
colaboram indiv idualmente na sua
cr iat iv idade e aprendizado?
Shirley - sim.Ent rev is tador - de que forma?Shirley de forma artstica, de forma, napostura de cada um, na forma de pensar nocomportamento individual de cada um.
Benef ic iar io 3
"Eu acho, porque cada um tem o seumodo de criar, n? Ento junta aquiloque a gente sabe, com o que outrapessoa sabe d uma contribuio bemboa, n?"Benef ic iar io 4
de forma artsti ca, de forma, napostura de cada um, na forma depensar no comportamento individualde
Estabelecimentos deProcessos Criativos
Melhoria daQualidade dos
Produtos
CriaoColaborativa
Empoderamento
Tabela 01 _ Tabela de indicadores especificos para avaliao, com eixo temtico de criaocolaborativa, para projetos de capacitao em artesanato e design, desenvolvida pela pesquisa
DESENVOLVIMENTO DE TECNOLOGIA SOCIAL PARA REALIZAO DEPROJETOS DE CAPACITAO EM ARTESANATO E DESIGN TENDOO PROJETO
ASAS COMO ESTUDO DE CASO
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EixosTemticos
Fonte de Informao daPesquisa
Fala IndicatriaIndicadorEspecfico
Macro indicador
Territrio /Identidade
Beneficiario 1
Qual era a sua viso da favela antes de
par t ic ipar do p ro j e to e qua l agora?
Talita: A sua viso assim... , como que vocvia assim, olugar?
_Adriele: Ah, bem eu no conhecia bem afavela, direito... eu ficava mais , no meucantinho aqui... com o ASAS eu toconhecendo mais o lugar eu to vendo queno era que eu pensava...
_Talita: E o que que voc pensava?_Adriele: Sinceramente eu morria de medode ir pro lado do cafezal que eles falavamem horrores e a com o projeto que a gente, deu uma caminhada eu vi que no temnada a ver, que no o que eles dizem...Beneficiario 3 o
que mais voc acha que voc aprendeu
nesse tempo que voc este ve no ASAS?
Eva: Aprendi a por os pontos no bordado.Elas me ensinaram a fazer bordado. Atsilkar mesmo, isso a eu aprendi, mas pramim pegar assim.... Silk eu sei fazer, masno tenho ainda aquela firmeza nas mos,porque sinto muito dor nos mos vou terat que fazer cirurgia, ento eu no consigofirmar pra fazer.
"com o ASAS eu to conhecendo mais olugar eu to vendo que no era que eupensava(...)com o projeto que a gente, deu uma caminhada eu vi que notem nada a ver, que no o que elesdizem...""Elas me ensinaram a fazer bordado.At silkar "
me encontrei aqui dentro e vi es sacoisa magica das pessoas de podercriar.
projeto em sim ele me alertou paraeu ver outros pontos que eu no via, Alterao do Olhar
Sobre o Territrio
Dimenso Poltica eAfetiva Sobre o
Territrio
Benef iciar io 1E voc acha im por t an t e que as
c ar a ct e r s t ic as d o a g lo m e r ad o a p ar e a m
de a lguma fo rma nos p rodutos?_Adriele: o que eu acho?_Talita: No produto ou na produo, na carados produtos...
_Luiz: , isso, por exemplo caractersticas dafavela.
_Talita: Igual eu, sabe aquelas estampasque foram todas baseadas num, ..., no queacontece no cotidiano das favelas
_Adriele: Eu acho assim, eu acho legalporque most ra um outro lado da favela,porque o pessoal digamos assim que morano asfalto como dizem, pensa que na favelas tem bandido. E com o projeto ns tamosmost rando que no s isso que tem nasfavelas.. .B en ef icia r io 3 Vo c a ch a im p or t an t e q ue
as car act e r ist icas do ag lom er ado
apar eam de algum a f or ma nosprodutos?Por qu?
Eva: Acho, eu acho isso importante. Portantoeu queria, at dei a idia a elas de fazer t ipouma fe ira. Na rua a li do coi sa, do grupo a li .Ou ento l dentro l na quadra, fazer uma
"Eu acho assim, eu acho legal porquemostra um outro lado da favela,porque o pessoal digamos assim quemora no asfalto como dizem, pensaque na favela s tem bandido. E como projeto ns tamos mostrando queno s isso que tem nas favelas...""Acho, eu acho issoimportante.(...)fazer uma feira ali econvidar assim as mocas e os rapazespra ver, como que esto fazendo, equem quiser comprar .""Muito importante, isso uma coisaque eu acho que um acontecimento,eu acho lindo! (...)Representa sim,voc v l que elas fazem aquelasescadas, n? Eu vi muita coisa boaali, fazendo aquelas escadas, aquiloassim dos postes de luz."
Nossa isso e muito importante, identidade isso tem que acontecer,
tem que acontecer. Eu acho que cadadia que passa os produtos alias desdeo comeo os nossos produtos nuncateve cara de asfalto
Representao doTerritrio no Produto
E o que voc acha dos pr odut os ser em
p r od uz id os a qu i e v en did os e m lo j as , . ..
consideradas chiques assim?
_Adriele: Ah, eu acho bem interessante,porque como se fosse uma uni fi cao dedois mundos completamente diferentes n?Eu acho bem interessante...
E assim , o que que voc acha de os
pr odut os ser em vendidos em lo j as
consideradas chiques?
Eva: olha isso ai, eu gostaria de dizer que...,ass im, bem, mas tambm, mas que i ssofosse vendido aqui ! Mas no com o mesmopreo que eles vendem l embaixo, n?Ent r ev ist ador : Mas voc acha que os
pr odut os pr oduzidos po r e las assim ,
t er ia m a ce it a o p ela s p esso as a qu i d a
fave la?
Eva: Uai, t eri a sim, principalmente asbolsas, ... aqueles paninhos de por prato,aquelas luvas, seria sim..3 . E o q ue v oc a ch a d os p ro du to s s er em
p r od uz id os a qu i e v en did os e m lo j as , . ..
consideradas chiques assim?_Mercedes: Eu acho importante criado aqui evender, porque tem que vender num lugar
"Ah, eu acho bem interessante,porque como se fosse umaunificao de dois mundoscompletamente diferentes n? Eu achobem interessante...""olha isso ai, eu gostaria de dizerque..., assim, bem, mas tambm,mas que isso fosse vendido aqui! Masno com o mesmo preo que elesvendem l embaixo, n?""Eu acho importante criado aqui evender, porque tem que vender numlugar assim... como que fala... nocentro, n? "
bom, e muito bom colocar osnossos produtos nessas lojas, mais euacho que importante tambm comunidade adquirir, sabe conhecer osprodutos
Identificao Com osProdutos Gerados
Empoderamento
Tabela 01 _ Tabela de indicadores especificos para avaliao, com eixo temtico de Territrioe Identidade, para projetos de capacitao em artesanato e design, desenvolvida pela pesquisa
DESENVOLVIMENTO DE TECNOLOGIA SOCIAL PARA REALIZAO DEPROJETOS DE CAPACITAO EM ARTESANATO E DESIGN TENDOO PROJETO
ASAS COMO ESTUDO DE CASO
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Esses so breves relatos de resultados significativos j levantados por essa pesquisa. Porem
ainda h muito que fazer e reas de atuaes a serem concertadas ou reformuladas para que
seja alcanado um xito maior, e esse o principal objetivo desta pesquisa, j que no existem
metodologias publicadas e conhecidas de procedimentos coletivos e colaborativos em
artesanato e design.
8. Concluso
A experincia do mundo no desprovida de referncias e atravs dela que formamos nossa
identidade e nos relacionamos com o mundo que nos cerca, dando significado e
resignificando cada informao que nos passada por algum ou por alguma situao.No ambiente da favela isso no diferente talvez o que muda e a ordem que no e linear e sim
fragmentria e labirntica.
atravs desses fragmentos e por essa ordem aleatria que as pessoas se comunicam e tiram
significado daquilo que vivem e expernciam na favela. Entender essa lgica territorial fator
primordial para quem quer se envolver em projetos de capacitao em artesanato e design em
aglomerados, vilas e ou favelas.
Ter planejamentos mais maleveis e aes menos engessadas so atitudes importantes para
gerar uma identidade forte que reflita o territrio da favela e gerar um empoderamento dos
beneficirios do projeto.Criar um campo de negociao que reflita o encontro entre os
designers que habitam a cidade formal e a comunidade que habita uma cidade totalmente
informal.
A pesquisa DESENVOLVIMENTO DE TECNOLOGIA SOCIAL PARA REALIZAO DE
PROJETOS DE CAPACITAO EM ARTESANATO E DESIGN TENDOO PROJETO
ASAS COMO ESTUDO DE CASO, tem conseguido bons resultados. Em um primeiro
momento foram levantados dados a fim de se obter conhecimento da aceitao, por parte dos
beneficirios, da metodologia utilizadas e se havia ocorrido avanos no que diz respeito s
aes de criao colaborativas, autonomia e reconfigurao da cultura por meio de um
fortalecimento do territrio e ampliao da identidade cultural dos beneficirios. Num
segundo momento estamos no processo de desenvolvimento do nosso principal objetivo que
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a criao de uma tabela de indicadores avaliativos especficos para projetos de artesanato e
design, que possa ser utilizada como uma metodologia de avaliao a fim de ser reaplicada
por qualquer instituio e ou designer que queira trabalhar com projetos de capacitao em
artesanato e design, gerando assim tecnologia social. J no que diz respeito aos profissionais
envolvidos nesse processo de capacitao em artesanato e design, importante ressaltar que
necessrio rever o incentivo que os leva a essa ao, o profissional tem que estar disposto a
deixar de lado a carter autoral, para desenvolver estratgias de negociao e troca de
conhecimento, atravs de um processo coletivo colaborativo, onde a assinatura e de toda a
equipe e no apenas de um profissional, visto que os produtos produzidos nesse processo
reflete uma subjetividade coletiva de realidades sociais, culturais e econmicas diversas.
Acredito que o Programa ASAS est no caminho certo para o desenvolvimento de tecnologia
social, pois tem desenvolvido um trabalho que contm os quesitos necessrios para o
desenvolvimento de conjunto de tcnicas e procedimentos de organizao coletiva que trazem
solues para a incluso social e a melhoria de vida dos beneficirios envolvidos nos seus
projetos.
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Belo Horizonte : Autntica, 2002.
HALL, Stuart. A identidade cultural na ps-modernidade.- 11.ed. - Rio de Janeiro: DP&A,
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HAESBAERT, R. 1994. O mito da desterritorializao e as regies-rede.Anais
do V Congresso Brasileiro de Geografia. Curitiba: AGB, pp. 206-214.
JACQUES, P. B. A esttica da ginga: a arquitetura das favelas atravs da obra de Hlio
Oiticica. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2001.
MAFFESOLI, Michel, 1944. Sobre o nomandismo: Vagabundagens ps-modernas /
Traduo de Marcos de castro Rio de Janeiro: Record. 2001.
_______. Design, identidade cultural e artesanato: para Primeira Jornada Ibero-americana
de Design no Artesanato. Disponvel em http:www.eduardobarroso.com.br-c
RENA, Natacha [org.]. Territrios aglomerados. Belo Horizonte: Ed. FUMEC Faculdade
de Engenharia e Arquitetura, 2010.
http://www.eduardobarroso.com.br-c/http://www.eduardobarroso.com.br-c/http://www.eduardobarroso.com.br-c/