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& Ciência Reedição ampliada do livro “Fé e Ciência” (Editora Chabad, 1980), com inclusão de cartas da edição em espanhol “Cuestiones de Fe y Ciencia” (Editora Kehot Lubavitch Sudamericana, 2005) 2ª edição S. Paulo, 2014 B”H

Fe e Ciencia

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fe e ciencia

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  • F & Cincia

    Reedio ampliada do livro F e Cincia (Editora Chabad, 1980), com incluso de cartas da edio em espanhol Cuestiones de Fe y Ciencia (Editora Kehot Lubavitch Sudamericana, 2005)

    2 edioS. Paulo, 2014

    BH

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  • Ttulo original do Hebraico: EMUN UMAD

    Editado por: Machon Lubavitch, Kfar Chabad, 5737 (1977)

    Traduzido para o portugus por: Editora Chabad, S. Paulo, 5740 (1980) 1 edio

    A sequncia das cartas nesta publicao segue a edio do livro CUESTIONES DE FE Y CIENCIA da Editora Kehot Lubavich Sudamericana, edio 2005 (5765) com a expressa autorizao do diretor-geral Choni Grunblatt.

    Traduo do espanhol: Solange C. Porto

    Superviso: Dov Pomeroy

    Reviso: Dorothea Piratininga, Miriam Pomeroy e Solange C. Porto

    Diagramao: Betina Hakim e Marcelo de Souza Morise

    Capa: Betina Hakim

    ISBN: 978-85-64297-01-2

    Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida sem permisso por escrito da editora.

    Todos os direitos reservados a:

    Associao Israelita de Beneficncia Beit Chabad do BrasilRua Melo Alves, 58001417-010 S. Paulo-SP, BrasilTel.: (11) 3081-3081 / [email protected]

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  • Vitacon participaes

    Em memria de

    Biniamin ben Avraham zlShmuel ben Ben Tzion zl

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  • SUMRIO

    Prefcio ...................................................................................... 8

    O que Chabad-Lubavitch? .......................................................... 11

    Quadro Dinstico ....................................................................... 13

    O Lubavitcher Rebe .................................................................. 15

    Chabad-Lubavitch na Terra Santa ................................................ 22

    Introduo Edio em Hebraico ............................................ 29

    Captulo I F

    1. A Prova da Existncia do Criador ......................................... 37

    2. Continuao Carta Anterior .............................................. 45

    3. Reino de Sacerdotes e uma Nao Sagrada ......................... 48

    4. O Argumento Falta de F No Passa de Fantasia ............. 51

    5. A Preocupao do Homem com a Falta de F a Prova para a Sua F! ....................................................................... 53

    6. F com Simplicidade ou Pesquisa e Investigao ................... 54

    7. A Natureza: Prova para a F Simples ................................ 55

    8. Fundamento da Justia .......................................................... 57

    Captulo II CONHECIMENTO PRVIO E LIVRE-ARBTRIO

    9. O Prvio Conhecimento de Dus Daquilo que o Homem Far No Contradiz o Seu Livre-Arbtrio .......................... 61

    10. Sobre o Mesmo Tema Livre-Arbtrio .............................. 63

    11. O Conhecimento de Dus No Um Conhecimento Geral; O Livre-Arbtrio do Homem No Ilusrio ......... 64

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  • 12. O Prvio Conhecimento de Dus No Obriga o Homem s Suas Aes ...................................................................... 68

    13. Continuao do Assunto Anterior ...................................... 70

    Captulo III A TOR

    14. O Segredo da Nossa Sobrevivncia .................................... 73

    15. Tor Celestial e Povo Judeu ................................................. 76

    16. Toda a Obra de Dus para Seu Louvor, e Tambm o Perverso Foi Criado para o Dia do Castigo ................... 83

    17. Finalidade da Vida A Tor e Seus Mandamentos ........... 84

    18. A Tor Tor da Vida ........................................................ 89

    19. A Tor: Instruo para a Vida ............................................ 91

    20. A Tor, Para Qu ................................................................ 94

    21. Na Cincia Moderna Existe Somente o Princpio da Probabilidade. Na Tor, Verdade Absoluta .................. 96

    22. Continuao da Carta Anterior .......................................... 101

    23. No H Conflito entre F e Cincia .................................. 104

    24. A Alma e o Corpo ............................................................... 107

    25. A Medicina a Servio da Tor e dos Mandamentos ........... 109

    26. Ele H de Curar ................................................................. 112

    27. Confiana em Dus Melhorar o Estado de Sade ............. 112

    28. Tor e Mandamentos Condio para a Cura .................. 113

    29. Tor e Geometria ................................................................ 115

    Captulo IV A RELIGIO JUDAICA

    30. O Povo Judeu Est Ligado Tor. E a Tor, ao Todo-Poderoso .................................................................... 119

    31. Dus Procura o Homem? ..................................................... 121

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  • 32. A Verdade da Religio Judaica Diante das Outras Religies . 122

    33. A Natureza das Provas sobre a Necessidade do Cumprimento da Tor e dos Mandamentos ...................... 125

    34. A Verdade do Judasmo da Tor Diante das Doutrinas Falsas ................................................................................... 127

    35. Verdade e Soluo de Concesses So Dois Opostos ........ 128

    36. Levianos ou Hereges Diante da Tor .......................... 131

    37. Os Irresolutos .......................................................................... 133

    38. O Rabino Mandatrio que No Altera a Sua Misso ...... 136

    39. Pureza e Contedo na Mensagem Rabnica ...................... 140

    40. Interpretaes da Tor para Harmoniz-la com a Cincia .. 143

    41. O Significado do Descanso do Shabat .................................. 147

    42. No H Homem Livre Seno Aquele que se Ocupa da Tor ................................................................................ 148

    43. No Responda a um Tolo ................................................... 151

    44. Dilogo Ecumnico Negativo por Princpio .................... 151

    45. Desgraas que Afligem o Homem Qual a Sua Explicao ........................................................................... 158

    46. O Entendimento do Homem Perante a Tragdia .............. 161

    47. Os Atos da Providncia Divina ........................................... 163

    Captulo V A IDADE DO UNIVERSO

    48. As Provas Cientficas que No So Cientficas ................ 167

    49. Continuao do Mesmo Tema ........................................... 176

    50. Sob Outra Perspectiva ........................................................ 183

    51. A Teoria da Evoluo .......................................................... 185

    52. Suposies Erigidas sobre Fundamentos Frgeis ................ 191

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  • 53. Mais sobre o Mesmo Tema ................................................. 192

    54. Durao do Mundo: Seis Mil Anos .................................... 197

    Captulo VI CORPOS CELESTES

    55. O Movimento do Sol .......................................................... 200

    56. Adendo ao Assunto ............................................................. 201

    57. Quanto Mede o Sol? ........................................................... 202

    58. A Terra e o Sol: Quem Gira ao Redor de Quem? .............. 203

    59. Os Cus Pertencem a Dus, e a Terra Ele Deu aos Filhos do Homem ......................................................................... 204

    APNDICE Pronunciamentos e Entrevistas Particulares

    O Holocausto ........................................................................... 208

    Techiat Hametim A Ressurreio dos Mortos ............................ 220

    Audincia Privada com um Professor ....................................... 235

    Audincia Privada com um Grupo de Cientistas ...................... 245

    A Lei de Pascal e o Fluido da Vida ........................................... 259

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  • 8 F e CinCia

    PREFCIO*

    Os adeptos do Movimento Chabad-Lubavitch esto bem familia-rizados com as ideias de nosso lder, mestre e Rebe de Lubavitch sobre a universalidade da Tor e a verdade absoluta que nela se encontra. Por meio de seus inmeros pronunciamentos, palestras, cartas e entrevistas, cada qual uma lio revestida de santidade, o Rebe, vem nos motivando a intensificar o estudo da Tor e o cum-primento das mitsvot, num trabalho de preparao, tanto individu-al quanto coletiva, para a revelao do Mashiach, que conduzir a cada um de ns e toda humanidade Gueul Shlem, a Redeno Total. Com a aproximao do ltimo Yud Shevat (o dcimo dia do ms de Shevat), do ano de 5740, em que se comemora o 30 ani-versrio de falecimento do Rebe Anterior, Rabi Yossef Yitschak Schneersohn, de abenoada memria, ao mesmo tempo em que celebramos os 30 anos de liderana do nosso atual Rebe, Rabi Menachem Mendel Schneerson, sentimos o desejo de prestar as homenagens que a magnitude dessas datas e das personalidades em questo despertam no mundo judaico.

    Esse desejo encontrou expresso natural na traduo de cartas

    * Reproduo do prefcio da edio original em portugus, 1980

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  • 9e ensinamentos do Rebe que compem a presente edio, traduzi-da do original em hebraico editado pelo Machon Lubavitch de Kfar Chabad, em Israel.

    Acrescentamos tambm uma sinopse do significado do Movi-mento Chabad, assim como uma breve biografia do nosso Rebe.

    Sabamos que a melhor homenagem que poderamos prestar, tanto ao Rebe quanto ao seu antecessor, de abenoada memria, seria a difuso de seus ensinamentos, de modo a colaborar de for-ma efetiva na preparao do mundo para a revelao de Mashiach.

    Tnhamos perfeita conscincia das dificuldades que a tarefa apresentava. A par das profundas diferenas de estrutura lingusti-ca do lashon hakodesh, a lngua sagrada, em relao lngua portu-guesa, seria muito difcil traduzir, em linguagem acessvel ao leitor comum, as palavras do Rebe, que so a expresso de incomparvel soma de conhecimento, entendimento e sabedoria da Tor, impos-sveis de ser transmitidos numa simples traduo.

    Alm disso, a elegncia de estilo e beleza de expresso que re-vestem as palavras do Rebe no poderiam ser alcanadas neste tra-balho de traduo.

    Decidimos, porm, enfrentar a tarefa, respaldados no conceito pregado pelos nossos mestres de Lubavitch de que quando se trata de um trabalho com intenes elevadas, gueit men lechatchile ariber todas as dificuldades sero superadas , e isto tem sido, ao longo dos anos, a mola impulsionadora do trabalho dos adeptos do Mo-vimento Chabad, caracterizando sua eficincia e sucesso.

    Sem falsa modstia, mas com profunda humildade, reconhece-mos de antemo as deficincias que esta edio apresenta.

    Embora tenhamos feito uma traduo livre, procuramos man-ter, tanto quanto possvel, fidelidade s palavras do texto original, ainda que sacrificando o estilo literrio da traduo e at mesmo a sintaxe.

    Portanto, todos os defeitos aqui encontrados devem ser atribu-dos apenas e exclusivamente aos tradutores. Todas as qualidades devem ser reconhecidas como reflexo das incomparveis virtudes

    PreFCio

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  • 10 F e CinCia

    de nosso santo Rebe. As expresses entre colchetes indicam acrscimos ao texto origi-

    nal feitos pelos tradutores, visando proporcionar ao leitor um me-lhor entendimento. Com o mesmo objetivo, acrescentamos algu-mas notas ao p da pgina, indicadas por asteriscos.

    Este livro publicado com o consentimento e as bnos do Rebe, que em referncia a esta obra honrou-nos com as seguintes palavras, dirigidas a ns de viva voz:

    Saibam os cientistas que a cincia no contradiz a F, e que, afinal, a F se sobrepe cincia.

    Se lograrmos xito na misso a qual nos propusemos, fazendo com que as ideias do Rebe de Lubavitch penetrem na mente e no corao do leitor, estaremos plenamente recompensados. Seja a vontade de Dus que, iluminados pelos ensinamentos do Rebe, possamos todos juntos, em breve, receber a revelao de Mashiach, que nos conduzir rapidamente Redeno Total.

    Os tradutores

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  • 11

    O QUE CHABAD-LUBAVITCH?

    Fundado pelo Baal Shem Tov* h dois sculos e meio, o Chassi-dismo espalhou-se rapidamente pelo mundo judaico. O Baal Shem Tov ensinava que o Judasmo e a Tor so propriedades de todos os judeus; que cada um, independentemente de seu status e de suas qualidades pessoais, est perfeitamente capacitado a servir a Dus. A devoo, enfatizava ele, vital para uma vida plena e o poten-cial religioso da devoo incalculvel. Deleite e entusiasmo no cumprimentos dos desejos de Dus, calor e afeto no relacionamento com os outros estas se tornaram as marcas de identificao do Chassidismo.

    O Chassidismo Chabad-Lubavitch um sistema de filosofia reli-giosa judaica que ensina a compreenso e o reconhecimento do Criador pela ampliao das trs qualidades intelectuais: Chochm (sabedoria), Bin (entendimento) e Daat (conhecimento). O acrsti-co dessas trs palavras hebraicas forma a palavra Chabad.

    Enquanto a f e a crena em Dus constituem o fundamento de nossa religio, Chabad-Lubavitch frisa o estudo intelectual e a com-preenso de verdades religiosas por todos, cada um segundo o seu nvel intelectual, para criar uma aproximao com o Servio Divi-no, tanto na mente quanto no corao.

    Embora o Chassidismo Chabad-Lubavitch seja um sistema que

    *Rabi Yisrael Ben Eliezer (veja Quadro Dinstico p.13)

    o que Chabad-LubavitCh?

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  • 12 F e CinCia

    atinge os mistrios mais profundos da Criao, ele utiliza ampla-mente ilustraes e exemplos da experincia, a fim de se tornar compreensvel mesmo para aqueles menos dotados do poder de pensamento terico e abstrato.

    A virtude dessa filosofia chassdica que ela no se esgota com ensinamentos tericos. Ela motiva e induz aqueles que a estudam a traduzir seu conhecimento intelectual em aes prticas, levan do-os a um nvel mais alto de sentimento e ao religiosa, inspirados pelo conhecimento e apreciao intelectual das verdades bsicas que Chabad-Lubavitch expe.

    O Chassidismo Chabad-Lubavitch , portanto, um guia prtico para todos os judeus, em todos os caminhos da vida, mostrando--lhes como enriquecer sua experincia religiosa pelo desenvolvi-mento dos atributos, tanto da mente quanto do corao, por meio do esforo concentrado que provm de sua perfeita harmonia.

    Mas os lderes do Chassidismo Chabad-Lubavitch no se preo-cupavam apenas com o nvel espiritual de seu povo. Juntamente com sua grande influncia no campo espiritual, eles dedicavam sua ateno s condies gerais da comunidade judaica, motivados por seu ilimitado Ahavat Yisrael, que uma das molas mestras do siste-ma chassdico. Amar um irmo judeu significa am-lo de maneira completa e incondicional. Assim, o trabalho desses lderes tinha um propsito duplo melhorar as condies materiais de seu povo bem como seu padro espiritual.

    Lubavitch, A Cidade do Amor, era uma pequena cidade no condado de Mohilev, na Rssia Branca. Tornou-se o lar dos lderes do Movimento Chabad-Lubavitch em 1814, quando Rabi Dovber*, filho e sucessor de Rabi Shneur Zalman* se estabeleceu ali. Por mais de um sculo (at 1916) e durante quatro geraes de lderes Cha-bad-Lubavitch, ela permaneceu como o centro do Movimento. Assim, os lderes de Chabad-Lubavitch tornaram-se conhecidos como Luba-vitcher Rebes, e seus chassidim, como Lubavitcher Chassidim.

    * Veja Quadro Dinstico p. 13.

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  • 13

    QUADRO DINSTICO

    Fundador do Movimento ChassdicoRabi Yisrael Ben Eliezer o Baal Shem Tov 18 de Elul 5458 (1698) 6 de Sivan 5520 (1760)

    SucessorRabi Dovber, o Maguid de Mezeritch ? 19 de Kislv 5533 (1772)

    Fundador de Chabad Rabi Shneur Zalman de Liadi 18 de Elul 5505 (1745) 24 de Tevet 5573 (1812)

    Segunda Gerao de Chabad Rabi Dovber (Filho de Rabi Shneur Zalman) 9 de Kislv 5534 (1773) 9 de Kislv 5588 (1827)

    Terceira Gerao de Chabad Rabi Menachem Mendel (Genro de Rabi Dovber; neto de Rabi Shneur Zalman) 29 de Elul 5549 (1789) 13 de Nissan 5626 (1866)

    quadro dinstiCo

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  • 14 F e CinCia

    Quarta Gerao de Chabad Rabi Shmuel (Filho de Rabi Menachem Mendel) 2 de Iyar 5594 (1834) 13 de Tishrei 5643 (1882)

    Quinta Gerao de Chabad Rabi Sholom Dovber (Filho de Rabi Shmuel) 20 de Cheshvan 5621 (1860) 2 de Nissan 5680 (1920)

    Sexta Gerao de Chabad Rabi Yossef Yitschac Schneerson (Filho de Rabi Sholom Dovber) 12 de Tamuz 5640 (1880) 10 de Shevat 5710 (1950)

    Stima Gerao de Chabad Rabi Menachem Mendel Schneerson (Sexto em linha paternal direta de Rabi Menachem Mendel;

    genro de Rabi Yossef Yitschac) 11 de Nissan 5662 (1902) 3 de Tamuz 5754 (1994)

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  • 15

    O LUBAVITCHER REBE

    Breve Biografia

    Rabi Menachem Mendel Schneerson, o stimo Rebe de Luba-vitch, tem sido descrito como a mais extraordinria personalidade judaica de nosso tempo.

    Para as dezenas de milhares de seus chassidim e centenas de mi-lhares de simpatizantes e admiradores ao redor do mundo, ele o Rebe, a figura contempornea predominante no Judasmo e, indubitavelmente, mais do que qualquer outra, a personalidade particularmente responsvel por ativar a conscincia e o despertar espiritual do mundo judaico.

    Nesses anos, como lder mundial do Movimento Chabad-Luba-vitch, ele implementou macios programas educacionais, sociais e de reabilitao, que despertaram nas massas judias uma conscin-cia e um retorno ao verdadeiro Judasmo da Tor.

    De Melbourne a Londres, de Casablanca a Los Angeles, pelas vrias escolas Lubavitch, Casas de Chabad, centros juvenis e diver-sas instituies e atividades estabelecidas e mantidas pelos esforos

    o LubavitCher rebe

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  • 16 F e CinCia

    do Rebe, inmeros judeus perdidos encontram seu caminho de volta para casa.

    Sua esfera de influncia h muito transcendeu a comunidade chassdica e atualmente penetra profundamente na corrente prin-cipal da vida judaica. Hoje em dia, h poucos judeus cultos no mundo que no estejam familiarizados com suas ideias e pronun-ciamentos, que ele transmite em audincias privadas, correspon-dncias, artigos publicados, palestras e discursos pblicos periodi-camente proferidos na sede mundial de Lubavitch, em Nova York.

    O Rebe, frequentemente, designa algumas noites para audin-cias privadas, conhecidas como Yechidut. Nessas noites especiais, lderes judeus, rabinos, homens de negcio, donas de casa, funcio-nrios governamentais, estudantes e pessoas de todas as espcies do mundo inteiro apresentam-se a ele com problemas vitais ou vm para receber seu conselho e bno.

    Farbrenguens, reunies nas quais o Rebe pronuncia um discurso pblico, so realizados durante festas e ocasies especiais. Aqui, novamente, em meio a milhares de chassidim assistindo ao farbren-guen, encontram-se professores, escritores, artistas, funcionrios de vrios escales do governo, profissionais, homens de negcio e hip-pies cabeludos.

    Quando o Rebe fala em dias comuns da semana, seu pronun-ciamento transmitido ao vivo para os centros Chabad ao redor do mundo por um sistema especial de comunicao, atingindo ins-tantaneamente milhares de ouvintes localizados virtualmente em todas as partes do globo.

    O contedo de seus discursos varia de observaes e anlises profundas das mltiplas interpretaes ensejadas pela vastido da Tor at assuntos atuais que afetam a qualidade e a continuidade do Judasmo; sobre a necessidade de cada indivduo de observar as mitsvot; sobre a necessidade de cada judeu dedicar diariamente um tempo ao estudo da Tor. Ele tem constantemente clamado por uma intensificao do trabalho de difuso, para estimular a conscincia judaica entre os jovens alienados e famlias assimiladas

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  • 17

    em todas as partes do mundo. Amor ao prximo e uma preocupa-o genuna com o bem-estar material e espiritual, sem considerar posio ou antecedentes, so os principais conceitos da filosofia Chabad-Lubavitch.

    At hoje, foram publicados quinze volumes de selees dos pro-nunciamentos pblicos do Rebe, e material para mais volumes vem sendo preparado para publicao.

    Rabi Menachem Mendel Schneerson o stimo na linhagem dinstica dos lderes de Lubavitch. O movimento Chabad-Lubavitch foi fundado no sculo 18 por Rabi Shneur Zalman de Liadi (1745-1812), autor da obra bsica da filosofia de Chabad o Tanya e do Shulchan Aruch o Cdigo das Leis Judaicas.

    Nascido em 1902, no 11. dia de Nissan do ano 5662 do calen-drio judaico, em Nikolaev, Rssia, o Rebe filho do renomado cabalista e erudito do Talmud, Rabi Levi Yitschac Schneerson, e bisneto do terceiro Rebe de Lubavitch, o seu homnimo, Rabi Me-nachem Mendel, conhecido como Tsemach Tsedek. Aos cinco anos, ele mudou-se com seus pais para a cidade ucraniana de Yekatrinis-lav, hoje Dnepropetrovsk, onde seu pai foi nomeado Rabino-Chefe.

    Desde a tenra infncia, demonstrou uma prodigiosa acuidade mental, e cedo precisou deixar o cheder porque estava muito mais adiantado que seus colegas de classe. Seu pai teve de contratar pro-fessores particulares para ele.

    Ainda criana, j se manifestavam nele os sentimentos de pro-funda abnegao e amor ao prximo. Certa vez, sua me recordou que quando tinha nove anos ele mergulhou no Mar Negro para salvar a vida de outro menino que tinha cado do convs de um navio ali ancorado.

    Na poca de seu Bar-Mitsv, o Rebe j era considerado um ilui, um prodgio na Tor.

    As pessoas que assistem aos farbrenguens do Rebe hoje em dia saem espantadas com a quantidade e a qualidade da erudio que dele flui, hora aps hora, sem o auxlio de nenhum texto ou ano-taes. Conta-se que boa parte de seu vasto conhecimento foi ad-

    o LubavitCher rebe

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  • 18 F e CinCia

    quirida em sua juventude, estudando solitariamente em seu quarto em Yekatrinislav.

    O Rebe encontrou o Rebe de Lubavitch anterior, Rabi Yossef Yitschac Schneersohn, em Rostov, Rssia, no ano de 1923. Qua-tro anos mais tarde, Rabi Yossef Yitschac foi sentenciado morte pelos bolchevistas, em consequncia de seu trabalho de difuso do Judasmo por toda a Rssia, mas foi libertado milagrosamente aps a interveno de estadistas estrangeiros, incluindo o presidente dos Estados Unidos, Herbert Hoover. Ento, estabeleceu-se com sua famlia em Riga, e, mais tarde, em Varsvia. Em 1929, Rabi Me-nachem Mendel casou-se com a segunda filha de Rabi Yossef Yits-chac, Rebetsin Chaya Mushka, em Varsvia.

    Foi, ento, estudar na Universidade de Berlim, e depois em Paris. Em 1941 emigrou para os Estados Unidos. Seu sogro, que che-

    gara aos Estados Unidos um ano antes, indicou-o como Presidente do Comit Executivo da recm-fundada organizao, que inclua o Merkos LInyonei Chinuch, ramificao educacional do Movimento Lubavitch, a Machn Yisrael, servio organizacional do Movimento dedicado ao bem-estar social dos judeus, e a Kehot Publication Society, a editora de Lubavitch.

    Da em diante, o Rebe comeou a escrever suas anotaes sobre vrios tratados chassdicos e cabalsticos, assim como uma ampla s-rie de responsas sobre assuntos de Tor.

    No vero de 1944, recebeu a notcia do falecimento de seu pai numa cidade longnqua do Casaquisto, Rssia Central. O ex-lio de Rabi Levi Yitschac comeara em 1939, quando foi preso em Yekatrinislav, pela N.K.V.D., por difundir o Judasmo entre seu povo. Esse singular erudito cabalista foi tirado de sua casa, aprisio-nado e exilado por cinco anos numa pequena cidade, Chili, onde morreu aos 66 anos. Uma biografia do pai do Rebe acabou de ser editada em Israel pela Kehot Publication.

    A me do Rebe, Rebetsin Chana Schneerson, que tinha acom-panhado seu marido, conseguiu produzir tinta extrada de ervas co-lhidas nos campos, a fim de que seu marido pudesse continuar seus

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    escritos, mesmo estando preso. Inacessveis durante muitos anos, providencialmente esses manuscritos chegaram finalmente s mos do Rebe, e deles j foram publicados, at agora, cinco volumes.

    Aps a Segunda Guerra Mundial, Rebetsin Chana foi para a Frana, onde, em 1947, encontrou-se com seu filho, que a levou para os Estados Unidos (essa foi a ltima vez que o Rebe deixou Nova York). Ela viveu junto dele, no Brooklyn, at seu falecimento, em 1964.

    Aps o falecimento de Rabi Yossef Yitschac, em 1950 10 de Shevat, 5710 seu genro, Rabi Menachem Mendel, ascendeu relu-tantemente liderana do movimento florescente, e logo as insti-tuies e atividades de Lubavitch assumiram novas dimenses.

    A filosofia extensiva de Chabad, a propagao da Palavra Divina sob o lema Ufaratsta e voc se espalhar para Oeste e para o Leste, para o Norte e para o Sul (Gnesis XXVIII:14) foi conver-tida em ao; Centros Lubavitch e Casas de Chabad (Beit Chabad) foram abertas em dezenas de cidades dos Estados Unidos.

    No exterior, Centros Lubavitch foram estabelecidos ou expandi-dos na Argentina, Austrlia, Blgica, Brasil, Venezuela, Inglaterra, Esccia, Frana, Holanda, Itlia, Alemanha Ocidental, frica do Norte e frica do Sul, assim como no Canad e em outras reas.

    Milhares de jovens devem ao Rebe aquele que pode ter sido o seu primeiro encontro com o Judasmo, que lhes proporcionou sin-ceridade, desafio intelectual e gratificao emocional na tradio de seus antepassados. Foi a preocupao do Rebe que ligou Chabad s universidades, onde se encontra o verdadeiro desafio. Hoje em dia, existem aproximadamente cem Casas de Chabad servindo s comu-nidades que vivem nos campi universitrios como uma casa longe de casa , alm de haver, ao redor do mundo, aulas para instruo de adultos e aconselhamento, interveno em casos de crise e servi-os e programas para o Shabat e Festas Religiosas. Foi Chabad quem se colocou na linha de frente para a salvao de nossa juventude da ameaa de grupos missionrios nos campi de hoje.

    Essas instituies controlam a pulsao da vida judaica ao redor

    o LubavitCher rebe

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    do globo e contribuem para a sua sade espiritual e estabilidade. Elas se reportam sede mundial de Lubavitch, em Nova York, a fim de que o Rebe fique constantemente informado sobre o que est acontecendo com a vida judaica ao redor do mundo.

    Foi o Rebe quem assumiu o papel de lder, ocupando-se com a onda de emigrao sovitica e assegurando o futuro material e espiritual dos imigrantes russos. Chabad est presente quando eles chegam, cumprimentando-os em sua prpria lngua e ajudando-os a se ajustarem a uma nova vida como judeus num pas livre.

    Milhes de cpias de livros e publicaes de interesse judaico, impressos em vrias lnguas, como hebraico, diche, ingls, espa-nhol, francs, italiano, portugus e outras, esto continuamente nas impressoras das editoras de Lubavitch. Uma grande biblioteca de literatura judaica, publicada em russo pelas editoras de Lubavitch em Nova York e Israel, tornou-se uma ajuda indispensvel aos mi-lhares de recm-chegados imigrantes russos que no tm fluncia em nenhuma outra lngua.

    O Rebe criou um Jewish Peace Corps. Parte desse programa en-volve centenas de estudantes de Lubavitch, mais velhos, que pas-sam suas frias de vero visitando centenas de comunidades, para manter contato com as populaes judias, levando-lhes tefilin, livros e inspirao religiosa.

    Em 1953, o Rebe fundou a Organizao Feminina Lubavitch, e em 1955, a Organizao Juvenil Lubavitch. O resultado uma con-vergncia constante de jovens aos Centros de Lubavitch. Essas ati-vidades ocasionaram o retorno de milhares de judeus ao Judas mo.

    Instituies especiais de Lubavitch foram estabelecidas ao redor do mundo, fornecendo servios educacionais para pessoas indife-rentes ao Judasmo e principiantes tardios homens e mulheres que, de outro modo, seriam incapazes de cursar a yeshiv convencio-nal ou escola de moas.

    Sempre que um problema inusitado surgia diante do povo ju-deu, o Rebe se empenhava em cuidar dele. Sob sua orientao, foi fundado o nico programa de combate s drogas nos Estados

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    Unidos dedicado juventude judaica, com um posicionamento di-nmico de reabilitao.

    Motivado pelo profundo amor ao seu povo, o Rebe no hesitou em utilizar uma tecnologia moderna e meios de comunicao ins-tantneos e globais para levar o antigo, porm eterno, caminho da Tor daVerdade para os judeus, em todos os lugares.

    Assim, frequentemente, as palestras pblicas do Rebe podem ser ouvidas em todos os cantos do mundo, por transmisses inter-nacionais, por via telefnica, e so ouvidas pelos seus milhares de adeptos e simpatizantes onde quer que se encontrem. Esse tem sido tambm um meio eficiente de fazer chegar sua palavra de ordem aos seus emissrios espalhados por todos os rinces da terra, de modo a agilizar a execuo das campanhas do Rebe em prol do Judasmo.

    Neste sentido, ultimamente, o Rebe vem enfatizando a neces-sidade da educao da nova gerao. Ouvimos frequentemente o Rebe dizer: No devemos descansar at que seja assegurada a cada criana judia uma educao judaica adequada.

    Para o chassid e o estudioso da Tor, para os lderes comunitrios e o intelectual, para o profissional e o operrio, para as pessoas co-muns e os hippies, o Rebe personifica as grandes qualidades de lide-rana com as quais os judeus foram graciosamente dotados atravs de sua histria; ele que, com profunda humildade, compreenso e compaixo, se relaciona com todos eles, com cada um de acordo com seu esprito individual.

    o LubavitCher rebe

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    CHABAD-LUBAVITCH NA TERRA SANTA

    O modo dinmico de o Rebe tratar os problemas do Judasmo em seus vrios mbitos deixou sua marca impressa no mundo ju-daico. Ele tem sido extremamente sensvel aos problemas de Israel e necessidade de uma tomada de posio sincera e calorosa para trazer o Judasmo aos defensores valentes do lar nacional judaico. Por intermdio do maior centro de Chabad, Kfar Chabad, e por meio da rede de estabelecimentos e instituies Chabad em Israel, o Rebe tem trazido conforto e sentido aos milhares de israelenses que sorriem afetuosamente ao ouvir o termo Chabad.

    Para eles, Chabad significa Bar-Mitsv coletivo para rfos de guerra, presentes de Purim e Chanuc numa trincheira nas colinas do Golan, escolas para crianas de todas as origens ou um ofcio ensinado numa escola vocacional Chabad, que lhes proporciona dignidade como cidados produtivos de Israel.

    Kfar Chabad, a colnia de Lubavitch perto de Tel-Aviv, trans-formou-se num centro educacional nico para milhares de jo-vens judeus.

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    Alm de suas yeshivot para estudantes de todas as idades, ela ofe-rece diversos tipos de treinamento vocacional, como tipografia, marcenaria, mecnica, laminao de metais e agricultura. Existem instituies separadas para rapazes e moas. H tambm um gran-de centro de absoro que auxilia milhares de novos imigrantes. Adjacente a Kfar Chabad, h uma Cidade de Moas, que o lar de 1.500 jovens. L, elas recebem um completo treinamento religioso e vocacional, desde o primrio at o colgio e seminrio.

    H vrios anos, o Rebe fundou, a cerca de 16 quilmetros ao sul de Rechovot, um novo estabelecimento Lubavitch, Nachalat Har Chabad, onde foram abrigadas mais de trezentas famlias russas. As escolas so providas de instrutores de Lubavitch que falam russo.

    Uma nova comunidade Lubavitch est sendo construda pelo Rebe em Safed, a antiga cidade ao norte da Galileia. Vrias insti-tuies educacionais Lubavitch esto ali funcionando, e alojamen-tos esto em construo para atender a centenas de novas famlias. O Rebe enviou famlias Lubavitch dos Estados Unidos para residir naquela localidade.

    Uma grande rede de instituies educacionais diversificadas surge em todo o pas.

    Depois da Guerra dos Seis Dias, quando a Cidade Velha de Jerusalm foi libertada, a nica sinagoga encontrada intacta foi a Sinagoga Lubavitch, conhecida como o Tsemach Tsedek Shul, que ali foi fundada por Rabi Menachem Mendel de Lubavitch, o hom-nimo e ancestral do Rebe, h aproximadamente um sculo e meio. O Rebe fez com que esse lugar fosse restaurado, e hoje ele usado diariamente para estudo e oraes.

    Entre os temas a que o Rebe tem se dedicado recentemente en-contra-se a questo de quem judeu. O Rebe tem se pronuncia-do, forte e claramente, no sentido de que seja realizada a emenda necessria a uma lei israelense, que tem sido a causa do registro de no-judeus como judeus nos documentos de imigrao israelense. A lei existente deixa de especificar que as converses para o Judas-mo devem estar de acordo com a Halach (Lei Judaica). O Rebe v

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    na lei existente o perigo de assimilao inconsciente dos judeus em Israel e na dispora, e uma situao ameaadora de deturpao, em que seria impossvel discernir quem e quem no judeu. Ele tem insistido enfaticamente para que a lei seja emendada, a fim de elucidar claramente que apenas as converses de acordo com a Halach so vlidas.

    A campanha mundial de tefilin do Rebe, inaugurada durante a Guerra dos Seis Dias, tem feito milhares de judeus voltarem a cumprir essa importante mitsv.

    Aps a Guerra dos Seis Dias e, novamente, aps a Guerra de Yom Kipur, quando Israel e os judeus de todo o mundo contavam as suas perdas, o Rebe deu ordens para que seus seguidores ajudassem as vivas e os rfos dos heris tombados. Assim, formou-se um clube nacional que se rene regularmente em Kfar Chabad e em outras localidades nas Festas e ocasies especiais. Todo ano, uma celebrao de Bar-Mitsv comunitria para os rfos realizada em Kfar Chabad e assistida por milhares de convidados, dignatrios religiosos e autoridades governamentais e militares. Cada menino recebe um par de tefilin como presente pessoal do Rebe. Essas cele-braes tornaram-se acontecimentos nacionais em Israel.

    Dois grossos volumes, intitulados Challenge (Desafio), que descre-vem as instituies e atividades de Lubavitch em vrias partes do mundo, foram publicados recentemente pela Fundao Lubavitch de Londres. O segundo volume trata inteiramente das atividades Lubavitch em Israel, comeando com o Alter Rebe, Rabi Shneur Zalman de Liadi, e suas atividades em apoio aos judeus da Terra Santa no sculo 18.

    Campanha das Mitsvot

    Em todas as ocasies possveis, o Rebe insiste numa difuso maior da Campanha das Mitsvot entre os judeus, lanada por ele em anos recentes para estimular o cumprimento de certos precei-tos fundamentais. Com a observncia dessas dez mitsvot especficas,

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    o indivduo e a famlia experimentaro um relacionamento mais profundo e significativo com a sua herana judaica. So elas:

    1. AHAVAT YISRAEL Amar o seu irmo judeu Hilel (um dos maiores sbios da Mishn) explicou que o amor ao

    prximo e os estgios de desenvolvimento pessoal necessrios para que esse amor seja genuno so fundamentais para a observncia judaica. A campanha de Ahavat Yisrael procura influenciar cada in-divduo de modo que seus pensamentos, palavras e aes sejam permeados por interesse e sensibilidade reais pelo bem-estar do seu irmo judeu.

    2. CHINUCH Educao pela Tor A campanha de educao pela Tor quer envolver cada uma e

    todas as crianas judias num programa educacional que lhes en-sine o que significa viver como judeu. Igualmente, os adultos so encorajados a se inscreverem em grupos de estudo e seminrios, de acordo com o seu meio e conhecimento.

    3. ESTUDO DA TOR Todos os dias, todas as noites Rabi Shneur Zalman, o fundador do movimento Chabad-Luba-

    vitch, explicou que o estudo da Tor deve estar fixado no s no tempo, mas tambm na alma, de modo que se transforme no ponto em torno do qual gira todo o espectro da vida cotidiana.

    4. TEFILIN A colocao diria por homens maiores de 13 anos A Tor descreve o tefilin como um sinal, uma afirmao pblica

    de envolvimento judaico. Ao colocar tefilin todos os dias (exceto Shabat e Yom Tov), o indivduo d expresso aos seus sentimentos bsicos de identificao judaica e sua importncia para ele. Os tefilin so colocados no brao, frente ao corao, e sobre a cabea. Isto significa a ligao dos poderes emocionais e intelectuais do indivduo com o servio a Dus. As tiras, que estendem-se do brao para a mo e da cabea para as pernas, significam a transmisso da

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    energia intelectual e emocional para as mos e para os ps, simbo-lizando ao e movimento.

    5. MEZUZ O Sinal judaico Uma mezuz designa uma casa ou um recinto fechado como sen-

    do judaico. um claro sinal da natureza do ambiente. Ela deve estar no batente direito da porta de cada quarto ou sala. Nossos sbios dizem que o nome Divino S-H-A-D-A-I do lado externo de cada me-zuz tambm significa que o Todo-Poderoso o Guardio de Por-tas de Israel. Explicando, a mezuz protege o lar e os seus ocupantes.

    Numa mezuz, o que est dentro o que conta. Deve haver um pergaminho com os dois primeiros pargrafos do Shem escritos por um escriba profissional. Infelizmente, diversas mezuzot impres-sas ou impropriamente escritas inundaram o mercado. Alm disso, muitas mezuzot originariamente boas j se desgastaram ou racha-ram em consequncia da idade e do mau tempo. Deve-se procurar uma autoridade competente para verificar todas as mezuzot.

    6. TSEDAC Fazer caridade todos os dias da semana Tsedac, embora comumente traduzida como caridade, literal-

    mente significa retido ou justia. A simples palavra caridade implica numa atitude condescendente doar mesmo a quem no seja merecedor. Tsedac muda essa perspectiva. A pessoa d, im-buda de um senso de responsabilidade, sabendo que o que possui tambm uma caridade de Dus. A campanha de tsedac pede um aumento das doaes. Manter uma caixa de tsedac em lugar visvel serve como um lembrete constante para pratic-la frequentemente, todos os dias da semana.

    7. POSSE DE LIVROS SAGRADOS JUDAICOS O ambiente ensina. O que algum tem no seu lar ajuda a de-

    terminar que tipo de lar ser aquele. Com livros sagrados judaicos ostensivamente expostos em casa, os seus moradores, bem como os seus amigos, ficaro estimulados a us-los. Sua simples presena faz

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    recordar o seu contedo e a importncia dos valores judaicos. Na-turalmente, quanto mais livros, tanto melhor. Entretanto, a cam-panha sugere no mnimo um Chumash (os cinco livros de Moiss, tambm denominado Pentateuco), um Tehilim (um livro de Salmos) e um Sidur (livro de oraes).

    8. ACENDER VELAS DE SHABAT E DAS FESTAS A luz um assunto que tocou a imaginao de poetas, cientis-

    tas e psiclogos. Porque a sua natureza to diferente das outras entidades materiais, ela muitas vezes usada para descrever in-trospeco espiritual. O Shabat um dia de luz, um dia com um padro e uma orientao de valores muito especiais. O acender das velas de Shabat introduz e inspira esse estado de percepo. A responsabilidade em acender as velas e induzir essa mudana de perspectiva pertence mulher. ela que d as boas-vindas do lar Rainha Shabat. Meninas desde a idade de trs anos so encora-jadas a acender a sua prpria vela, tanto como um instrumento de envolvimento bem como parte de sua educao. As velas de Shabat so acesas 20 minutos antes do pr-do-sol.

    9. KASHRUT As leis dietticas judaicas Consumir alimentos kasher traz para o lar, num nvel muito bsi-

    co e fundamental, uma identificao com o Judasmo de cada um. Enquanto o envolvimento judaico se limita prece, ao estudo ou mesmo a atos rituais especficos, no h prova de que ele permeie o eu real da pessoa. Quando o judeu come da maneira prescrita, o seu Judasmo no apenas algo metafsico, mas uma parte e par-cela do seu prprio ser. A observncia da kashrut consiste em comer somente alimentos kasher tanto em casa como fora dela. Consiste tambm em no ingerir laticnios e carnes juntos e em manter lou-a, talheres e utenslios separados para carne e laticnios.

    10. TAHARAT HAMISHPACH Pureza familiar Casamento e sexualidade so tratados com muito cuidado pela

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    tradio judaica. No coincidncia que em lares constitudos com conscincia da Tor a taxa de divrcios seja muito inferior mdia geral. Taharat Hamishpach, as atitudes e prticas para uma vida conjugal feliz, ajudam a desenvolver comunicao e amor ge-nunos entre marido e mulher, e a trazer para o mundo filhos sau-dveis e amorosos.

    O estudo pormenorizado das leis de Pureza Familiar , por sua prpria natureza, complexo e deve ser orientado por pessoas de reconhecida competncia.

    Os Mitsva Tanks, veculos de mitsv de Lubavitch, ou tanques ju-daicos de combate assimilao, como so frequentemente cha-mados pelo Rebe e que parecem encontrar-se em todos os lugares ao mesmo tempo, tornaram-se cena familiar nas comunidades ur-banas e suburbanas atravs das Amricas, Europa, pases africanos, Austrlia, Israel etc.

    Eles esto sempre em movimento para lembrar os judeus da observncia de uma festa religiosa em particular, para dar-lhes a oportunidade de praticar uma mitsv e para incentiv-los a entrar em contato com sua herana judaica.

    Num mundo despedaado, com falta de sentido espiritual e de-sencanto, o Rebe, por intermdio da campanha das mitsvot e de sua firme e lcida liderana, fez de Lubavitch uma ncora, um pilar de luz e esperana, com o qual os judeus de todas as classes e idades podem se identificar.

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    INTRODUO EDIO EM HEBRAICO*

    -i-

    O primeiro mandamento que o Eterno, nosso Dus, ordenou a todo o povo de Israel quando estavam diante do Monte Sinai, e que constitui o mandamento da f, a proclamao: Eu Sou o Senhor, teu Dus, ... Diz o Rambam**: A base fundamental e pilar das cincias saber que existe uma Causa Primeira, e esta d existncia a tudo o que existe e a todos os seres dos cus e da terra, e que aquilo que h entre eles no passou a existir seno pela ver-dade da Sua Existncia.

    Em uma das cartas, j tratei longamente do esclarecimento des-ta questo; de que precisamos nos ocupar do entendimento dessa f com uma explicao racional, pois a isto [Rambam] se refere

    * Para maior fidelidade ao texto original, os nomes prprios, assim como algumas pala-vras e expresses caractersticas, no foram adaptados nem traduzidos para o portugus. Foi feita apenas a sua transliterao, conforme a pronncia em hebraico, grifada em itlico, atribuindo-se ao ch a pronncia do rr em portugus.

    ** Sigla do nome Rabi Mosh Ben Maimon, conhecido como Maimnides (1135 1204), sbio, filsofo, codificador e jurista.

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    com a expresso saber, e no com a expresso crer. Quan-do ele diz saber, isto tambm demonstra que possvel saber e conhecer esse assunto com percepo racional, e todo aquele que percebe e entende aquilo que possvel saber e entender fortalece a sua f em Dus, que est acima do limite da percepo, pois esta a verdadeira essncia da f. (Kuntras Limud HaChassidut, de Rabi Yossef Yitschak*, de abenoada memria, pp.16/17).

    Todo judeu acredita em Dus. A questo no est ligada s suas aptides e sua inteligncia, pois a f est acima do saber e da percepo.

    A virtude da f que est enraizada na alma de cada judeu to grande que sua expresso sobrepuja todas as outras manifestaes da alma todas estas so revelaes e extenses da alma aparen-temente separadas dela, enquanto a f est gravada na essncia da alma, e todo aquele que, Dus no o permita, toca e fere a f, est ferindo o ncleo da alma; portanto, at mesmo o mais levia-no [dos homens] e os pecadores no seio de Israel, na maioria dos casos, sacrificam suas vidas pela santificao do Nome de Dus e suportam as piores torturas para abster-se de negar o Dus nico, mesmo quando so iletrados e ignorantes e no conhecem a gran-deza de Dus. [Pois] por menor que seja o conhecimento que pos-suam, eles no se aprofundam nisto, e no se sacrificam em razo de qualquer conhecimento e da contemplao de Dus. Mas [eles se sacrificam] sem nenhum conhecimento e reflexo, como se ape-nas fosse totalmente impossvel negar o Dus nico sem qualquer razo, argumento ou motivo(Tanya, final do cap. XVIII).

    Portanto, verificamos que a f no equivalente ao conhecimen-to e ao saber, pois o saber limitado, e a f de nvel infinito. No se engane, leitor; no pretendemos com estas palavras diminuir a imagem e o valor da razo. Quando avaliamos e comparamos o seu mrito com as atividades e as foras da alma, que esto abaixo dela, ento verificamos a sua grandeza e extraordinria importncia.

    * Veja Quadro Dinstico p.13

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    Todo indivduo sensato, ao raciocinar e se aprofundar em qual-quer tema cientfico, abrange com seu intelecto o objeto de seu raciocnio, sendo tambm envolvido e abrangido por este; ou seja, o abrangente e o abrangido so como um s, o que indica uma as-sociao entre ambos. Com relao s coisas materiais, no existe nenhuma unio como essa.

    Contudo, diante da f, isto ainda pouco.

    -ii-

    O [nosso] saber e entendimento da Divindade so grandes e importantes no Servio a Dus, e apesar de a f encontrar-se em um grau superior, o mrito de entender a Divindade maior e mais elevado. Assim tambm nos foi ordenado: E sabers hoje, e levars ao teu corao que o Senhor Dus.

    E ainda foi dito: Conhece o Dus do teu patriarca. E duas vezes ao dia ns testemunhamos: Ouve, Israel, o Se-

    nhor nosso Dus, o Senhor Um ouvir refere-se a entendi-mento (veja Bereshit, 41:15 e 42:23).

    Assim tambm a deciso legal do Rambam, [que constitui] norma de ao, de que o mandamento saber que existe uma Causa Primeira..., e no nos foi ordenado crer. Alm disso, ali consta que o conhecimento disso um mandamento de ao, conforme est escrito, Eu Sou o Senhor, teu Dus.

    Tudo o que foi mencionado significa que, alm da f, devemos tambm entender e conhecer Dus tanto quanto possvel. claro que o conhecimento possvel da Divindade apenas um conheci-mento da Sua Existncia, e no de Sua Essncia.

    O conhecimento e o entendimento da Divindade alm de eno-brecer a mente e o corao e habilit-los como instrumentos dignos de receber a luz e a emanao Divina tambm so o portal e a chave para o servio do corao, que a prece; despertam o sen-timento Divino do corao judeu, de amor e temor a Dus, que se manifestam no cumprimento dos seiscentos e treze mandamentos

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    e nas boas aes. Apesar de os caminhos da f se elevarem a grandes alturas,

    exatamente por este motivo que ela, do alto, envolve o homem, e enquanto no for realizada uma ao especfica para revelar e exteriorizar a f, ela no se ajustar vida prtica.

    Nossos Sbios, de santa e abenoada memria, j disseram: O ladro, antes de roubar, pede ajuda ao Misericordioso ... (Berachot 63a, conforme a verso do Ein Yaakov). Ou seja, apesar de acreditar que o Misericordioso ouve a sua prece, ainda assim ele rouba, con-trariando a Vontade de Dus.

    Por isso, o homem tem o dever de conduzir a f sabedoria [chochm], ao entendimento [bin] e ao conhecimento [daat] no c-rebro, e deste, ao corao, com amor e temor a Dus, e do corao, prtica atravs do pensamento, palavra e ao.

    -iii-

    No h semelhana entre uma sabedoria e outra. A mais elevada e pura a Sabedoria Divina a Sabedoria da

    Tor , pois esta a Vossa sabedoria e entendimento aos olhos dos povos, diz o versculo. assim quanto interioridade da Tor [parte no revelada da Tor] , a pesquisa de Dus que abre os portais dos templos da sabedoria e do entendimento para que sai-bamos e reconheamos, numa concepo intelectual, Aquele que disse e [por Sua Assertiva] o mundo se fez, e isto um guia para cada judeu servir a Dus com seu intelecto e seu corao. assim tambm quanto exterioridade da Tor [parte revelada da Tor] a Sabedoria e a Vontade do Todo-Poderoso que se desprendeu e desceu para revestir-se em coisas materiais, a fim de indicar ao homem o que ele deve fazer neste mundo. O ponto comum entre elas [interioridade e exterioridade] que ambas so consideradas Sabedoria Divina.

    Abaixo da Sabedoria Divina encontram-se a sabedoria e o in-telecto humano, que se ocupam de coisas existentes no mundo,

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    questes da natureza e do mundo presente; estas, se por um lado no implicam, por si s, em proibio, tambm no se revestem de santidade, e, eventualmente, se no forem utilizadas para um ob-jetivo positivo de santidade podem servir como portal de entrada para coisas ms e impuras.

    Porm, aprendemos que a sabedoria pode ser utilizada em fun-o das necessidades positivas do homem, em consonncia com a santidade.

    Num plano ainda mais baixo, no existindo outro inferior a ele, est a chamada sabedoria que no nada seno tolice, ou seja, heresia e negao da Divina Providncia e das profecias, e abso-lutamente proibido ler e olhar [essas heresias] at mesmo ocasio-nalmente, ou aprender delas qualquer conceito moral ou de temor a Dus (Shulchan Aruch do Alter Rebe*, Leis de Estudo da Tor, cap. III, art. 7), da mesma forma que proibido usufruir da idolatria, mesmo que a inteno seja em nome dos Cus [elevada]. Falaram os sbios: Aquele que l livros profanos no tem quinho no Mun-do Vindouro (Mishn, incio do cap. Chelek), porque esta sabedo-ria um mal absoluto, uma mentira inconsistente que no con-tm nenhum bem, e, portanto, no proporciona proveito positivo.

    O homem deve ocupar-se sempre da sabedoria da Tor, que a Verdade vinculada Sabedoria e Vontade do Todo-Poderoso, e desse modo se unir a Dus que outorgou a Tor. J foi dito no santo Zohar**: Trs laos esto ligados entre si o povo de Israel, a Tor e o Todo-Poderoso. Israel est ligado Tor, e a Tor, ao Todo-Po de roso.

    Todas essas cincias, e aquelas complementares a elas, como a medicina e outras, encontram-se na sabedoria da Tor que o ornamento das cincias e a coroa de sua majestade , algumas ordenadamente explcitas e outras subentendidas na Tor e trans-

    *Como conhecido entre os Chassidim de Lubavitch, Rabi Shneur Zalman de Liadi (veja Quadro Dinstico p. 13).

    **Zohar O Livro do Esplendor, obra bsica da Cabal, de autoria de Rabi Shimon Bar Yochai (meados do sculo 11).

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    mitidas pela tradio oral de uma pessoa a outra por intermdio dos grandes sbios de Israel, que so os portadores da tradio, e os seus portadores de gerao em gerao; e em cada gerao os sbios principais escrevem a sua interpretao num livro, para explicar as palavras e a sabedoria da Tor conforme a qualidade dos talentos dos homens de sua gerao (Memrias de Rabi Yossef Yitschak Schneersohn, de abenoada memria, 2 parte, p. 430).

    * * *

    Nosso justo lder, mestre e Rebe de Lubavitch, nos beneficia com sua bondade e ensina nossa gerao, uma gerao decadente, os caminhos do Servio a Dus, revelando os segredos da Sabedoria Divina de um modo que cada judeu tenha a possibilidade e o aces-so aos tesouros da Tor e da sabedoria.

    Para este fim ele tambm se utiliza das cincias fsicas e naturais, fazendo delas um instrumento e ferramenta para a revelao e ex-plicao da f Divina, tambm na medida do intelecto humano, a fim de construir para Ele, Bendito seja, uma morada aqui embaixo.

    Isto se reflete nas cartas contidas nesta edio, que se constituem numa pequena parte do grande nmero de cartas do Rebe sobre esses assuntos.

    Cumpre notar que muitas das cartas aqui editadas foram origi-nariamente escritas em ingls, e procuramos traduzi-las de modo fiel ao seu texto original. Contudo, quem pode discernir os er-ros? Uma vez verificado que um determinado assunto no foi devidamente entendido, ou que no conseguimos traduzi-lo com exatido, pedimos perdo aos leitores e teremos satisfao em re-ceber suas observaes.

    Para facilitar ao leitor, dividimos as cartas em seis captulos, cada um deles contendo cartas sobre um determinado assunto; no entanto, claro que por vezes uma carta inclui diversos assuntos, e, nesse caso, classificamos a carta de acordo com o tema principal.

    No final, acrescentamos um apndice, que inclui a traduo de

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    trechos dos santos pronunciamentos que o Rebe proferiu em diver-sas ocasies e onde abordou tambm os mencionados assuntos. Do mesmo modo, acrescentamos tradues de entrevistas particulares que diversos cientistas tiveram com o Rebe sobre os mesmos temas de que trata esta edio, e achamos correto acrescent-los ao pre-sente trabalho para completar o quadro.

    Seja a Vontade de Dus que possamos todos, como uma s pes-soa, aprender e ensinar, observar e cumprir a Vontade de nosso Pai Celestial, e que cresa o conhecimento no mago de Israel, e se propaguem as fontes da Chassidut, atingindo o exterior, at que se cumpra a profecia, E a terra ficar repleta do conhecimento de Dus como as guas que preenchem o leito dos mares, com a Re-deno verdadeira e total, atravs da vinda do nosso justo Mashiach, brevemente em nossos dias, Amm.

    * * *

    Esta edio foi concluda em comemorao a Yud Shevat, dia do falecimento do Rebe Anterior, de abenoada memria, e tambm o dia em que nosso lder, mestre e Rebe aceitou a liderana.

    Com isto, juntamente com todo o povo de Israel, do fundo de nossos coraes, enviamos ao nosso lder, mestre e Rebe as nossas bnos para que o Todo-Poderoso fortalea sua sade e prolon-gue seus dias e anos no bem e na doura ; que ele trave a bata-lha de Dus e seja vitorioso; que lidere todo Israel em geral, e seus chassidim em particular, com muito sucesso e, de fato, em breve, nos conduza ntegros nossa terra.

    Shevat, 5737Editora Machon Lubavitch, Kfar Chabad

    introduo edio em hebraiCo

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    CAPTULO I

    CAPTULO I F

    1. A Prova da Existncia do Criador ......................................... 37

    2. Continuao Carta Anterior .............................................. 45

    3. Reino de Sacerdotes e uma Nao Sagrada ......................... 48

    4. O Argumento Falta de F No Passa de Fantasia ............. 51

    5. A Preocupao do Homem com a Falta de F a Prova para a Sua F! ....................................................................... 53

    6. F com Simplicidade ou Pesquisa e Investigao ................... 54

    7. A Natureza: Prova para a F Simples ................................ 55

    8. Fundamento da Justia .......................................................... 57

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    1. a prova da existnCia do Criador

    BH*

    25 de Iyar, 5719 Saudao e bno!Confirmo o recebimento de sua carta, anexa pergunta for-

    mulada pelos jovens; tenha a bondade de solicitar o perdo deles pelo atraso em minha resposta, em virtude dos mltiplos afazeres, particularmente nos dias e semanas que antecedem e sucedem a Festa de Pessach.

    Obviamente, no que se refere essncia da pergunta, impos-svel respond-la de modo conciso em uma carta; portanto, sou forado a limitar a resposta aos pontos principais. Mas minha es-perana que em alguns pontos de minha carta possa ser acres-centado um esclarecimento espontneo, baseado nas explicaes constantes de nossa Tor e especialmente nos livros de Chassidut.

    Da mesma forma, fica claro e evidente que se em minha carta forem encontrados tpicos que no expliquem suficientemente as questes, estou sempre disposto a responder a perguntas suplemen-tares, ou at a questes mais profundas, e esclarecer contradies, procurando respond-las com o melhor de meus conhecimentos.

    Respondendo pergunta: Existir uma forma pela qual ns, cticos, possamos conven-

    cer-nos da verdadeira existncia de Dus, de forma clara, sem ne-nhuma vacilao e possibilidade de dvida?

    De um modo geral, existem perguntas aparentemente simples e que, primeira vista, se referem a assuntos simples, e por esta ra-zo so formuladas com termos tambm simples e comuns; apesar disto, justamente estas perguntas exigem um cuidado especial, e os seus termos demandam uma interpretao precisa especialmen-te uma questo da qual muitos se ocuparam durante centenas e

    * Abreviatura da expresso Baruch Hashem, Bendito seja Dus, com a qual tradicional-mente se inicia qualquer texto.

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    milhares de anos, em ambientes amplos e diversos, tornando invi-vel que todos eles tenham intenes iguais quanto ao seu contedo, em todos os seus detalhes. Por esta razo, regra que aquele que formula uma questo desta natureza explique a sua linguagem e defina as expresses das quais se utiliza.

    Assim tambm no que se refere pergunta em que pedi-da uma prova da verdadeira existncia do Criador; os assuntos existncia, e do mesmo modo, prova, relativos a algo exis-tente constituem conceitos nebulosos, especialmente em razo da frequncia com que so utilizados, a comear de um menino e chegando at o pesquisador, que minucioso e preciso em todos os seus assuntos e eles [os jovens] no esclareceram sua opinio sobre o assunto.

    Explicando melhor: h quem diga que no mundo de um me-nino, existncia e comprovao de existncia apenas algo que ele pode apalpar com as mos. Para um cego, por exemplo, a exis-tncia de cores e tonalidades negada por si mesma, e ele precisa basear-se num terceiro que lhe diga ver essas cores!

    E num grau mais desenvolvido, todos concordam decidida e certamente que toda ao implica na existncia de uma causa e fonte para essa ao, e, assim, quando vemos tais aes, eis que elas so provas da existncia da fora ativa, apesar de no existir nisto [uma] prova direta e, aparentemente, permanecer lugar para dvida. Um exemplo que ressalta isto a existncia da fora eltri-ca: o homem possuidor de sentidos e o seu sentido da viso torna verdadeira a existncia das cores, da mesma forma que o sentido da audio confirma a existncia do som, e assim por diante. Estas so consideradas como provas finais e diretas, mas o ser humano no tem sensibilidade de viso da fora eltrica, seno quando v seus efeitos, ou seja, quando um fio se aquece, ou quando o medidor eltrico oscila etc.; ento, ele decide que existe uma fora que se chama eltrica que ele jamais ver , e esta a causa e o impulso dos fenmenos mencionados. E isto tambm considera-do como prova definitiva. Da mesma forma ocorre no que se refere

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    fora magntica etc. Utilizei-me do exemplo supra porque toda a existncia da eletricidade universalmente aceita, sem qualquer sombra de dvida.

    E no apenas de forma to simples, mas tambm num plano ainda mais complexo, aceita-se agora, definitivamente, o ponto de vista de que a cada ao corresponde um agente causador exis-tente, mesmo que isto seja oposto ao raciocnio. Por exemplo: a existncia da fora da gravidade, cuja prova o movimento de objetos concretos, em que no se v nenhuma causa para esses movimentos e por isso se aceita como existente a fora da gravida-de apesar da existncia de uma fora assim, a distncia do objeto e a ausncia de um intermedirio entre eles um assunto que o raciocnio sadio no pode admitir. Porm, j estamos acostumados com esse conceito desde os anos da infncia, e ele repetido nos livros de estudo, at que se tornou algo simples, acima do campo da dvida e da indeciso.

    A experincia para demonstrar a fora da gravidade pela in-termediao de uma matria tnue, chamada ter, torna neces-srio que este intermedirio [o ter] tenha tantas caractersticas opostas e paradoxais a ponto de ser ainda mais contestado do que a possibilidade de ao a distncia sem nenhum intermedirio. impossvel que exista absurdo maior que este. No sei a que ramo das cincias se dedicam os jovens que apresentaram a pergunta acima, e se eles se ocupam das cincias supostamente chamadas de exatas; porm, justamente no campo dessas cincias foi inovado nos ltimos tempos mais um assunto totalmente incompreensvel para o entendimento sadio, mas que, apesar disto, foi acolhido por todos os mestres das cincias exatas como uma realidade e um fe-nmeno concreto. O assunto praticamente adquiriu veracidade tambm junto maioria das pessoas, apesar de no ser absoluta-mente inteligvel de modo racional. Declara-se que a matria no outra coisa seno uma forma especfica de energia, e que possvel transformar matria em energia e energia em matria. Absoluta-mente, no h lugar para isto no plano do raciocnio. O que ocor-

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    re que assistimos a fenmenos que no tm explicao, e se for aceito o conceito acima, eles tornar-se-o explicados. Isto consi-derado como prova cientfica, acolhida em quase todos os lugares como prova esclarecedora, sem nenhuma vacilao e possibilidade de dvida utilizando a linguagem da pergunta formulada pelos jovens , apesar de o assunto ser, do ponto de vista racional, um absurdo total.

    J que na formulao da pergunta no est claro, de nenhum modo, o que seria acolhido como prova da verdadeira existncia de Dus, de forma clara, sem dvidas etc., presumo que eles acolhero um meio de prova tal como o que eles acolhem no que se refere ao seu comportamento na vida diria.

    Partindo desta presuno, entende-se que existe uma prova des-se gnero sobre a existncia do Criador e no apenas uma, mas diversas provas. Porm, conforme j mencionado, isto no ser questionado, mesmo que sejamos compelidos a dizer que essa exis-tncia no racionalmente compreensvel, ou at mesmo que ela antirracional. Pois, como foi dito, o ser humano, que pensa e se concentra no que se passa ao seu redor com o objetivo de esclare-cer os fenmenos, aceita que isto no determinado, em absolu-to, pela razo (intelecto).

    O processo da prova, ou das provas, em questo idntico ao de todas as provas feitas nas cincias exatas; e mais ainda, idntico ao das provas que prevalecem na vida diria de cada um de ns.

    Todo aquele que analisa suas aes ao permanecer em sua casa, ou ao andar pelo caminho, ou ao deitar-se e, ao levantar-se, ad-mitir sem acanhamento que um homem no exige de si mesmo autoanalisar o fundamento de cada uma das aes que pratica, ou de seu comportamento; porm, ele aceita o testemunho de outras pessoas que examinaram o assunto. Apenas quando existe a dvi-da de que talvez esses testemunhos sejam falsos, ou de que a teste-munha estava influenciada por motivos subjetivos ou objetivos, ou de que ela no estava na plena posse de suas faculdades mentais e teve a percepo dos fatos sob uma forma deturpada, ou algo se-

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    melhante, ento outros testemunhos so exigidos. E quanto mais se multiplicar o nmero de testemunhos, e quanto mais diversos eles forem com relao sua posio e situao e aos grupos a que per-tencem, j que tudo isto afasta a possibilidade de fraude etc., tanto mais se fortalecer a prova, com caracterstica de prova cientfica e definitiva. Com base nisto, o indivduo e a coletividade praticam diversas atividades, de forma cotidiana e rotineira, com um senti-mento de segurana absoluta de que a coisa verdadeira e firme.

    Assim tambm ocorre com o tema em questo: O acontecimento da Outorga da Tor no Monte Sinai foi cor-

    roborado, gerao aps gerao, como um fato que ocorreu na presena de 600 mil pessoas, os homens adultos, sem incluir as crianas; e se fossem includas [na contagem] as mulheres, bem como os homens acima dos 60 anos etc., eis que totalizariam al-guns milhes de indivduos egressos do Egito, cujos olhos viram claramente [o que ocorreu no Sinai]. Este no um testemunho limitado a um profeta, ou a um visionrio, ou a uma audincia pri-vada. Esse testemunho foi transmitido de pais para filhos, gerao aps gerao, e todos concordam que no houve interrupo nesta tradio, desde aquela poca at hoje, e jamais o nmero de teste-munhas foi menor do que mais de 600 mil pessoas cujas ideias no so semelhantes umas das outras etc. Tambm, depois que foram dispersas pelos quatro cantos do mundo, todas as verses do evento [da Outorga da Tor] que chegam at ns coincidem em todos os pormenores. Existe testemunho mais fiel e preciso do que este?

    H uma segunda prova, tambm baseada na premissa acima, de que quando se v aes e fenmenos e suas respectivas conse-quncias, isto determina o processo de ao, at mesmo num lugar em que existe receio de prejuzo e perda etc. E a prova: quando vemos um assunto ordenado, que inclui diversas partes ordenadas e harmonizadas, com coincidncia e coordenao precisas; partes que no tm controle umas sobre as outras, conclui-se disto, com segurana absoluta, que existe uma fora extrnseca a elas, que o elo entre todas as partes. O prprio fato de ligar e unificar as partes

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    prova que ela [a fora extrnseca] maior e mais forte do que as prprias partes, e as controla.

    A comparao para isto: quando se entra numa fbrica onde o trabalho totalmente automatizado e no se v l nenhuma pessoa, no se cogitar, em absoluto, que no existe em algum lugar um grande tcnico que envolve com a mente todas as mquinas e suas peas e as controla, que as compe e as unifica com o centro das operaes etc. E quanto mais ausente a mo humana na fbrica mencionada, e quanto mais ela funcionar de forma automtica, maior o testemunho acerca da grandiosidade e do poder do tcnico.

    Se as coisas so assim no que se refere a uma fbrica quando se trata de algo contado em centenas, ou milhares, ou at dezenas de milhares de componentes , mais ainda em relao quele que concentra o seu pensamento no nosso mundo na matria de madeira ou de pedra, ou no vegetal, ou no animal, e suprfluo falar na estrutura do corpo humano e, na linguagem das nossas Escrituras Sagradas, De minha carne terei a viso [de Dus] , especialmente conforme a explicao cientfica dos nossos dias, de que cada coisa composta de bilhes de tomos, e cada tomo possui vrias e vrias partes ainda menores, e que aparentemente deveria reinar entre elas confuso e desordem totais e incompa-rveis, mas que, apesar disto, verifica-se a existncia de uma or-dem e harmonia milagrosas entre as partes menores e maiores, e uma harmonia entre as partes do mundo pequeno (microcosmo) e as partes do mundo grande (macrocosmos) etc. Obviamente, sem qualquer sombra de dvida, existe em algum lugar um tcnico responsvel por tudo isto.

    Que fique entendido que no desconheo a teoria notria de que tudo isto dirigido de acordo com as leis da natureza, mas acho desnecessrio frisar que esse um conceito sem qualquer con-tedo de esclarecimento, mas [que constitui somente] uma descri-o cmoda da situao existente, ou seja, que os assuntos da na-tureza so conduzidos conforme ordens definidas. Mas dizer que a lei da natureza existe per se, de modo independente, e que essa

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    existncia governa toda a Criao, e que h milhares de existncias como essas tantas quanto so as leis da natureza , , portanto, um absurdo enorme, e nem sequer um s cientista que se ocupe com esse campo dir isto. A teoria mencionada, conforme foi dito, no outra coisa seno uma expresso cmoda e concisa para des-crever a situao, para que no haja necessidade de repetir, a cada passo, uma descrio extensa das situaes supostamente mais sim-ples que existem. Mas essa teoria simplesmente no explica nada e incua.

    Quanto ao principal, como j disse, presumo que os jovens so-licitem uma prova de acordo com a qual ho de viver suas vidas no que se refere ao na prtica, e a dita prova , muitas vezes, mais forte do que todas aquelas provas e demonstraes de acordo com as quais se comportam diariamente. O que h de mais sim-ples para ns do que, quando vamos dormir noite, preparar tudo para quando nos levantarmos pela manh apesar de no haver nenhuma razo para dizer que no dia seguinte, pela manh, o sol brilhar novamente, e que todos os assuntos da natureza se condu-ziro conforme se conduziram ontem e anteontem. Contudo, j que o mundo se conduz como de costume, j h alguns dias e anos, certamente essas leis governaro tambm o amanh e o depois de amanh. E com base nisto fazemos um esforo e aplicao con-centrada, a fim de nos preparar para o comportamento no dia se-guinte pela manh; e tudo isto no tem fundamento na razo, a no ser que haja um Senhor sobre esta cidade.

    Conforme foi dito acima, possvel alongar-se mais e mais sobre tudo o que foi mencionado e elucidar mais ainda alguns dos pontos abordados. Mas a minha esperana de que isto tambm seja o bastante, proporcionando suficiente material para o pensamento e concluses no sentido de que enganam-se aqueles que dizem que precisamos procurar provas para a existncia do Criador, ao passo que a existncia da criao, por si s, est acima de qualquer d-vida, enquanto o que ocorre o oposto. Pelo contrrio, de acordo com os resultados mais recentes da cincia no que se refere exis-

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    tncia da Criao e de que maneira descrev-la, existe campo para dvidas maiores. particularmente assim nos dias de hoje, quando multiplicam-se as contradies entre as concluses de uma cincia e de outra, em diversos campos, alm da dvida cientfica maior, essencial e bsica: Quem poder afirmar que a impresso nos meus olhos ou ouvidos, ou no crebro, de um modo geral, tem alguma ligao com o que existe [na realidade] fora dos sentidos e da razo humana? No assim, porm, no que se refere ao Cria-dor ou, em outras palavras, ao Agente que acionou e organizou toda a Criao. Pois no h diferena se existe algo fora de mim mesmo ou apenas aparncia de existncia, j que a primeira noo do homem sadio conforme a qual ele vive toda a sua vida de que para tudo que existe no seu mundo, e de que ele tem conheci-mento, h uma causa acionadora de dentro ou de fora.

    Outra observao que devo acrescentar que, no raramente, a natureza humana tem dificuldade em acolher uma prova simples, justamente em razo de sua simplicidade. Mas minha esperana de que as coisas no sejam assim quando se trata dos jovens que formularam a pergunta, pois o princpio referido no tem seu fun-damento na razo, e tambm no influencia o comportamento da ao prtica, como se percebe visivelmente. Uma das bases de nos-sa f no Criador e Condutor do universo, na revelao do Monte Sinai e na aceitao da Tor e de seus mandamentos de que o principal a ao na prtica.

    Terei satisfao em saber das reaes a tudo o que foi dito aci-ma, e, como declarado na carta anexa a esta, minha esperana de que sentiro plena liberdade de exprimir sua opinio, mesmo em relao aos pontos em que discordem daquilo que foi escrito acima.

    Com respeito e bno,

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    2. Continuao Carta anterior BH

    18 de Sivan, 5719 Saudao e bno! Em continuao minha carta-resposta sua conhecida per-

    gunta: Existir uma fora por meio da qual ns, cticos, possamos nos convencer da verdadeira existncia de Dus, de forma clara, sem nenhuma vacilao e possibilidade de dvida?

    Acho necessrio acrescentar as prximas linhas, pela razo que ser explicada. Em minha resposta anterior condensei minhas pa-lavras de acordo com os termos da pergunta: ...convencer... de forma clara, sem nenhuma vacilao...etc., o que indica que dese-javam uma resposta ligada ao entendimento e percepo.

    claro que este posicionamento me intranquilizou por duas ra-zes principais: 1) No ser humano em geral, o sentimento e a con-firmao de suas intuies so mais determinantes do que as con-cluses a que um homem chega pelo raciocnio; 2) Num homem judeu, em particular, cujo raciocnio no nada seno a roupagem da alma, conforme Rabenu Hazaken*, autor do Tanya e do Shulchan Aruch, e a alma verdadeiramente uma parte da Divindade nas alturas que se inclina para ela, e no necessariamente atravs do raciocnio , sua fora [da alma] mais bela. E eis que vemos con-cretamente que, na alma, o sentimento mais ativo que a razo.

    Apesar disto, como afirmei, no quis tocar neste assunto em mi-nha primeira carta em razo da forma pela qual a questo foi apre-sentada, e principalmente porque no quis deixar margem para que se pensasse que o contedo da carta, tal como est [redigida], no suficiente, ou que possvel neg-lo com o raciocnio etc. E, por esta razo, venho agora com esta continuao em separado.

    suprfluo enfatizar que eu julgo os que formularam a pergun-ta no contexto dos hbitos dos judeus e judias, os quais acreditam na verdade da justia e da retido, seja qual for a forma pela qual

    * O mesmo que Alter Rebe. (Veja nota p. 33)

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    optem no campo do raciocnio. Essa crena tem foras tais a ponto de implicar em sacrifcios, e at mesmo sacrifcios em suas vidas particulares, em nome da justia e da retido, e com o objetivo de propiciar ajuda ao prximo. Especialmente quando essa ajuda no visa apenas a um indivduo, mas a uma coletividade, de forma quantitativa e qualitativamente maior.

    Portanto, ao colocar de lado as restries e limitaes dos ter-mos da pergunta, permito-me dirigir-me a eles como um homem que fala ao seu semelhante:

    Percebo de sua carta-pergunta que so jovens, pelo menos ainda jovens em energia juvenil, e se ao menos chegaram a reconhecer que preciso agir assim e promover uma mudana em suas vidas, de um extremo a outro, so jovens tambm neste particular de que tm fora para rebelar-se contra o conceito da maioria.

    Certamente no lhes desconhecido na anlise do mundo presente o que se passou com nosso povo nos ltimos anos, nos tempos do Holocausto e dos decretos persecutrios, em que alguns milhes dos filhos do nosso povo foram exterminados nos anos das ltimas guerras, e, por outro lado, acrescentaram-se algumas novas tarefas que absolutamente inexistiam at ento, ou que existiam apenas numa medida limitada.

    Mais um ponto que a desorientao e confuso mentais no apenas no diminuram em nossa poca, mas pelo contrrio, tor-naram-se mais fortes, de um modo assustador, at chegar ao ponto em que a escurido chamada de luz, e o amargo, de doce, devido a uma teimosia extremada que forou milhares e dezenas de mi-lhares a aceitar a escurido como se fosse luz, e o amargo como se fosse doce!

    Nessa hora, o apelo profundo dirigido ao ntimo da alma de cada um e de cada uma : permanecer na primeira linha dos ativis-tas que cumprem suas tarefas, no apenas conforme sua obrigao particular, mas tambm como reforos que preenchem as melho-res e mais ativas foras do nosso povo, que foram abatidas pelo extermnio no apenas para negar a inverso dos valores de um

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    extremo ao outro, conforme j foi dito, mas tambm para propagar os valores eternos do nosso povo judeu, do modo mais decidido, com coragem e fora juvenil, at que cada um e cada uma sirvam como fasca para elevar a chama da luz da alma de cada indivduo em seu meio. Ser este o momento para debates intelectuais? En-quanto isto, perdem-se um dia e uma semana e um ms e um ano, uma perda que no se recupera, e perdem-se oportunidades que no retornam! Se essa exigncia dirigida a cada um, com razo ainda maior ela dirigida juventude e aos jovens, pois vemos concretamente que no que se refere nova gerao a gerao jovem e a juventude , palavras de alerta e entusiasmo vindas de pessoas de sua idade, jovens como ele, tm eficcia muito maior do que palavras de um homem idoso, e, alm disso, sero acolhidas com maior vontade.

    No meu desejo aqui, como foi dito, entrar no [terreno da] prova racional de quais so os valores eternos do nosso povo ju-deu, e de quais so as novas tarefas que surgiram, pois acredito que cada um e cada uma [os jovens] os reconhecero se abrirem um livro de Histria Judaica, que se prolonga sem interrupo h milhares de anos, embebida de sangue e decretos inigualveis, e das mais difceis experincias, que no foram equiparadas, nem mesmo em medida infinitamente menor, por nenhum outro povo ou cultura. Se eles [os jovens] se concentrarem na Histria Judaica, encontraro uma nica espcie de valores que foram preservados no decorrer de todas as geraes e que perduram at agora sem sofrer nenhuma mudana. No se coloca aqui a questo de provas racionais, pois os fatos, bem como as aes e eventos ocorridos, so um testemunho evidentemente irrefutvel de que nem a lngua falada, as roupas, a cultura, o modus vivendi aparente e o regime pol-tico ou econmico so valores eternos e permanentes, j que todos estes [fatores] certamente se alteraram de uma poca para outra e de um pas para outro. O que permanece constante e duradouro, sem alteraes, em todos os lugares e em todos os tempos, a Tor da Vida e os mandamentos prticos da vida diria, pois eles so a

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    perpetuidade imutvel de Israel que no ser negada. Seja a Vontade de Dus que estas linhas, poucas em quantida-

    de, despertem neles as foras interiores que se encontram na alma existente no ntimo de cada judeu, para lev-los ao prtica de modo constante e crescente. E, se existe necessidade de recompen-sa, seguramente a satisfao ntima ser a sua maior recompensa; mas, certamente, o Criador e Condutor do universo lhes dar a recompensa tambm nos seus assuntos particulares, a cada um e a cada uma conforme sua situao e necessidade.

    Com respeito e bno para boas notcias.

    3. reino de saCerdotes e uma nao sagrada BH

    13 de Iyar, 5732Saudao e bno! ... pela presente, acuso o recebimento de sua carta, em que

    transmite a boa notcia de seu restabelecimento e retorno ao traba-lho. Apesar de eu solicitar e receber notcias a seu respeito por nos-sos amigos em comum, especialmente de nosso amigo ..., mesmo assim [isto] no como receber uma notcia direta.

    E j que sempre h lugar para um acrscimo no Bem, pois a fonte do Bem o Infinito, Bendito seja, que tambm seja a Vontade [dEle] que a sua recuperao seja efetivamente total. E certamente o senhor aproveitar os seus talentos em benefcio da coletividade, com maior vigor, e o mrito da coletividade lhe servir de apoio.

    Conforme o hbito do povo judeu, que se alegra com a opor-tunidade de um trocadilho, j que sua profisso no ramo das comunicaes, seja a Vontade [de Dus] que o senhor contribua generosamente com a sua parte para conectar as parcelas do povo judeu, sobre as quais escreve em sua carta, que necessitam de apro-ximao e intercomunicao as diferentes comunidades, a po-pulao veterana e os novos imigrantes, os profanos* e os religio-

    * Designao que vem sendo utilizada para pessoas no-praticantes da religio.

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    sos. Se a natureza de qualquer pessoa enrgica a obriga a utilizar sua energia, mais ainda [isto ocorre] nos setores com os quais ela se preocupa, conforme assinalou em sua carta, e com expresso mais aguada, eles esto em nossa alma [o assunto nos afeta profundamente].

    Este o momento para que eu me atenha expresso em sua carta, repetida em diversos lugares uma expresso que sempre desperta a minha surpresa; refiro-me anttese profano e religio-so, pois o conceito de profano tem como oposto o conceito de santo. No tenho em vista somente a preciso quanto gram-tica lingustica, mas especialmente a preciso quanto ao conte do. Baseado na origem desta palavra em nosso idioma, a lngua sagra-da (em nossa Tor, a Tor escrita e sua interpretao na Lei Oral, at os dias de hoje), a expresso comum dias profanos e dia santo Shabat. Disto se entende tambm o significado de que nas crenas, opinies e concepes do mundo etc., no h qualquer diferena entre os dias profanos e o dia santo Shabat , seno apenas no comportamento dos dias profanos na linguagem tal-mdica, trabalhos profanos e no comportamento no dia que santo, destinado verdadeira paz de esprito e interrupo de trabalhos materiais, e, mais ainda, de trabalhos grosseiros, quando ento o ser humano automaticamente santifica o seu tempo para assuntos espirituais e para a vida espiritual de um modo geral.

    Alegrei-me ao perceber que o senhor englobou todos os trs referidos segmentos [da sociedade] em conjunto, o que tambm minha concepo, pois assim como a diferena entre as comu-nidades artificial e causada por condies exteriores e por isso afeta apenas a parte exterior da vida, mas no altera o seu interior e essncia , da mesma forma, tambm assim no que se refere populao veterana e aos novos imigrantes. E [para mim] simples que assim ocorra tambm quanto quilo que o senhor chamou de profanos e religiosos.

    Eis que todos admitem e ultimamente tambm os que se en-contram frente do governo (no debate sobre Religio e o Estado

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    no partido trabalhista) a necessidade da religio para a sobre-vivncia do povo judeu em todos os tempos, e tambm nos dias de hoje. Apesar de que, naquela ocasio, foram pronunciadas algumas palavras speras contra as pessoas religiosas, no esta a novidade do referido debate, mas sim o reconhecimento primordial da neces-sidade da religio para a sobrevivncia do povo judeu e para a so-brevivncia da Terra de Israel; e, se at mesmo o partido trabalhista o admite, certamente todos os outros partidos tm a mesma opinio.

    Mais um ponto sobre o assunto, que j foi dito e repetido mui-tas vezes: para um homem religioso, comportar-se como profano contrrio sua conscincia, o que no ocorre com um homem pro-fano ao comportar-se como homem religioso, pois isto vai apenas contra a sua comodidade. Mais ainda, e isto tambm fundamen-tal, quando existem divergncias de opinio entre um partido que tem a maioria no Parlamento e um partido que est em minoria, no existe perigo para o partido majoritrio em fazer concesses maiores do que pretendia, pois isto no afeta a sua posio (como partido da maioria), o que no ocorre com o partido minoritrio, cuja indulgncia poder provocar a sua queda etc.

    Confesso que, na verdade, o que est escrito acima no o as-pecto principal do meu posicionamento, especialmente em minhas relaes com o senhor. O fundamental que creio que cada ho-mem judeu e cada mulher judia so pessoas crentes, filhos de pes-soas crentes na linguagem dos nossos sbios, de abenoada me-mria. Porm, como foi dito, por razes secundrias e externas, uma parte deles observa os mandamentos em todos os seus deta-lhes, e uma parte, por enquanto, observa os mandamentos apenas parcialmente. At mesmo aquele que enfatiza cumprir somente os mandamentos cuja base racional e que concernem s relaes entre o homem e seu semelhante etc., no momento do cumprimen-to deste mandamento a pessoa subitamente sente em sua alma que este o seu elo com seu pai, com seu av e com seu bisav; essa a sua ligao com todo o nosso povo judeu, seja qual for o lugar em que se encontre, desde sempre, a comear pela libertao do Egito

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    e sua presena no Monte Sinai, quando, ento, Dus tomou para si um povo do seio de outro povo, com provas, sinais e milagres, e lhes proclamou: E sereis para Mim um tesouro dentre todos os povos, e Vs sereis para Mim um reino de sacerdotes e um povo sagrado. E assim como o homem no governa sua essncia a no ser no que se refere ao, palavra e ao pensamento, que so as roupagens externas da alma , da mesma forma ocorre no que se refere ao nosso povo, sobre quem foi proclamado desde o dia de sua sada do Egito, pelo Criador do universo, que ele um povo sagrado. Esta comunicao, esta declarao, esta proclamao re-fere-se no apenas ao povo inteiro como um todo, mas tambm a cada um individualmente.

    Em outras palavras, no creio que exista algum dentre os filhos e filhas do povo de Israel que seja profano, no sentido em que a palavra utilizada no presente, ou seja, de existncia profana, pois ele um filho e uma parte de um povo sagrado. Porm, existem alguns dentre eles que se ocupam de assuntos sagrados, e h ainda os que se ocupam, conforme a conhecida expresso, do profano purificado em santificao.

    Alonguei-me mais do que pretendia no incio, mas a expresso utilizada em sua carta encorajou-me a tanto. E em linguagem figu-rada, seja a Vontade [de Dus] que tambm o que est escrito aci-ma contribua para o fortalecimento da comunicao entre todas as partes de nosso povo judeu, que , na verdade, um povo nico sobre a terra.

    Com bno.

    4. o argumento falta de f no passa de fantasia

    BH

    15 de Av, 5720 Saudao e bno! ... e na observao geral no que se refere ao seu livro, em mi-

    nha carta-resposta s pessoas de seu grupo aparentemente no foi

    questes de F

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    salientada tanto quanto necessrio a minha concepo sobre o as-sunto; a essncia da linha de pensamento utilizada em minha res-posta s perguntas que ento me formularam e, do mesmo modo, s questes que aparecem em seu referido livro, de que absoluta-mente no verdade que eles no tm f. Isto se parece, por exem-plo, com algum que diz no acreditar na comida e na bebida, e, mesmo assim, come e bebe trs vezes ao dia. A prova para tanto que natural ao homem acolher de modo definitivo concluses cujo crdito mnimo diante dos postulados de certas correntes filosficas e nem preciso dizer, em relao ao princpio da F Judaica e viver conforme essas concluses, at mesmo em relao a questes que se encontram na fronteira dos riscos pessoais (por exemplo, viagens areas); muito pelo contrrio, [o homem] consi-dera cada um que no se conduz do mesmo modo como um anor-mal, algum margem da sociedade. Disto se deduz simplesmente que concluses como essas, cujas provas so veementes em mui-tos casos, mais do que as referidas [concluses] , certamente so acolhidas e determinam todo o comportamento das pessoas. No existe qualquer motivo de espanto quando fulano se ilude dizendo que no cr ao meditarmos nas consequncias que ele deduz dessa iluso, que, em relao maioria [das pessoas], implica na elimi-nao de restries, seja no que se refere a afastar-se do mal, seja no que se refere a fazer o bem. Disto entende-se a causa da referi-da iluso, que serve para tornar sua vida mais fcil, eximi-lo do cumprimento dos mandamentos positivos e negativos e deixar que viva sua vida sem qualquer freio.

    Obviamente, o que foi dito ocorre no incio do desvio do cami-nho, mas aps algum tempo nesse comportamento, conforme do carter do homem, o hbito se transforma em natureza, tanto no que se refere ao comportamento quanto no que se refere fantasia, pois de tanto repetir incessantemente a si mesmo que no cr, ele torna-se bem-sucedido e se autossugestiona. E a prova de que isto no nada seno autossugesto que quando ocorre um aconteci-mento assustador, que causa uma fissura em suas camadas exterio-

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