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1 Um Feminismo Materialista e Possível (parte) Christine Delphy A primeira edição do Feminist Review (janeiro de 1979) continha uma crítica ao meu trabalho por duas sociólogas inglesas, Michèle Barrett e Mary McIntosh. Eu respondi a essas três questões depois e procurei mostrar, primeiro, as várias maneiras pelas quais elas mal interpretaram o que eu havia escrito; segundo, o que eu penso que os interesses da crítica feminista devem ser; e terceiro, e mais importante, as várias formas em que Barrett e McIntosh fundamentalmente compreendem mal o marxismo. Não é necessária nessa coleção incluir a primeira parte do artigo, vez que a coleção em si mesma tem os artigos relevantes disponíveis em inglês, mas as últimas duas partes são significativas porque expõem a muito difundida esquizofrenia teórica da Esquerda sobre a questão da opressão das mulheres. A análise contraditória que Barrett e McIntosh produzem é devido a, eu acredito, um desejo desesperado de continuar a eximir os homens de responsabilidade pela opressão das mulheres. Marxismo mal entendido: abusado e usado O artigo de Barrett e McIntosh repousa sobre um conjunto de atitudes que são comuns em cículos intelectuais: 1. Uma atitude religiosa sobre os escritos de Marx. 2. Uma afirmação de que o marxismo constitui um todo que alguém deve pegar ou largar. 3. Uma confusão entre o método materialista, usado pela primeira vez por Marx, e a análise do capitalismo que ele fez o utilizando; ou melhor, a redução do primeiro ao segundo. 4. Um confusão, voluntariamente perpetuada, entre essas duas coisas e a interpretação que os setores “marxistas” fazem da sociedade contemporânea; e

Fe Um Feminismo Materialista é Possível Parte Christine Delphy

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    Um Feminismo Materialista e Poss vel (parte) Christine Delphy

    A primeira edio do Feminist Review (janeiro de 1979) continha uma crtica ao meu

    trabalho por duas socilogas inglesas, Michle Barrett e Mary McIntosh. Eu respondi a essas

    trs questes depois e procurei mostrar, primeiro, as vrias maneiras pelas quais elas mal

    interpretaram o que eu havia escrito; segundo, o que eu penso que os interesses da crtica

    feminista devem ser; e terceiro, e mais importante, as vrias formas em que Barrett e

    McIntosh fundamentalmente compreendem mal o marxismo. No necessria nessa coleo

    incluir a primeira parte do artigo, vez que a coleo em si mesma tem os artigos relevantes

    disponveis em ingls, mas as ltimas duas partes so significativas porque expem a muito

    difundida esquizofrenia terica da Esquerda sobre a questo da opresso das mulheres. A

    anlise contraditria que Barrett e McIntosh produzem devido a, eu acredito, um desejo

    desesperado de continuar a eximir os homens de responsabilidade pela opresso das

    mulheres.

    Marxismo mal entendido: abusado e usado

    O artigo de Barrett e McIntosh repousa sobre um conjunto de atitudes que so comuns

    em cculos intelectuais:

    1. Uma atitude religiosa sobre os escritos de Marx.

    2. Uma afirmao de que o marxismo constitui um todo que algum deve pegar ou

    largar.

    3. Uma confuso entre o mtodo materialista, usado pela primeira vez por Marx, e a

    anlise do capitalismo que ele fez o utilizando; ou melhor, a reduo do primeiro

    ao segundo.

    4. Um confuso, voluntariamente perpetuada, entre essas duas coisas e a

    interpretao que os setores marxistas fazem da sociedade contempornea; e

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    5. Uma apresentao dessa tripla confuso como o todo (a ser pegado ou largado) do

    marxismo, que , por sua vez, no somente apresentado como uma cincia, mas

    como A Cincia, tendo todas as caractersticas dessa essncia pura: em particular,

    neutralidade e universalidade.

    A atitude religiosa constri Marx como um objeto de estudo em si mesmo.

    Marxologistas, como seu nome indica, esto interessados em Marx enquanto Marx. Eles

    perdem de vista do porqu Marx importante; ou melhor, eles invertem a ordem de

    prioridades. Eles julgam Marx no em termos de polticas, mas julgam polticas em termos de

    Marx. Esta atitude talmdica pode, primeira vista, parecer contraditria s interpretaes

    muito variadas a ser encontradas entre os diferentes setores marxistas (algo no ruim em si

    mesmo) e o fato de que suas anlises, todas supostamente marxistas, divergem

    radicalmente entre eles mesmos. Mas, na realidade, a reverncia pela missiva de Marx, a

    constituio disso na referncia ltima, semi-divina, o dogma da infalibilidade, serve para

    construir a autoridade com a qual os marxistas posteriores, quem quer que eles sejam,

    adornam a si mesmos. O recurso do argumento da autoridade eu estou certo porque eu sou

    um Marxista no de jeito nenhum particular de marxistas, mas isso no faz disso mais

    perdovel.

    O marxismo erigido como o valor dos valores e visto no somente acima das lutas,

    mas fora delas. A ltima perverso, e aquela que alm disso muito difundida, aquela de

    que as pessoas ento vem julgar a real opresso, e mesmo a prpria existncia da opresso, de

    acordo se ou no corresponde ao marxismo, e no o marxismo de acordo com se ou no

    pertinente ou no real opresso. Essa perverso no , claro, um simples desvio do

    intelecto, desprovido de significado poltico. Para enfatizar uma revolta, como uma revoluo

    de mulheres, somente aquilo que consistente com suas interpretaes do marxismo permite

    as pessoas eventualmente a decidir que uma revolta invlida ou sem importncia (o que

    importa ser um marxista, no fazer uma revoluo).

    Na medida em que essas duas atitudes relacionadas encarnam o marxismo hoje,

    mais do que compreensvel que a maioria dos oprimidos, incluindo a maioria das feministas,

    se recusem a se chamar marxistas. Assim como eles, saliento aquelas coisas no marxismo

    que so consistentes com a revolta das mulheres. No irei derramar uma lgrima pelo

    marxismo se ele tem que ser abandonado porque ele visto como sendo intil em analisar a

    opresso. Essa a uma diferena essencial entre minha abordagem daquela de Barrett e

    McIntosh porque a mim me parece que o sentido mesmo do marxismo repousa em sua

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    utilidade poltica. Pessoas que no possuem um interesse poltico especfico que no so

    parte de um grupo oprimido desviaram esse significado fazendo do marxismo um objeto em

    si mesmo. Ou melhor, assim o fazendo, eles revelaram que no so politicamente engajados.

    Mas o que isso significa? Isso sequer possvel? Nada est fora do campo da poltica: algum

    est simplesmente de um lado ou do outro. Se voc no est do lado do oprimido, voc est

    no outro lado; e a sua abordagem intelectual mostrar isso.

    Marxismo e as polticas do conhecimento

    Subordinar validade poltica verdade terica um procedimento tipicamente

    reacionrio (e, ainda, um que contrrio ao esprito do marxismo). A verdade terica seja

    qual verdade terica possa ser simplesmente no existe. De onde uma teoria extrai sua

    verdade? No que ela pode ser mais ou menos verdadeira que outra teoria, se no naquilo que

    ela serve a uma classe; de que verdadeira ou falsa de um ponto de vista poltico, de uma

    dada posio na luta de classes (no sentido amplo)? A que verdade absoluta algum pode

    se referir a decretar uma teoria correta sem fazer referncia luta de classes? Eu no sei; ou

    melhor, eu sei muito bem. Essa verdade absoluta o que a cincia burguesa finge possuir; e

    precisamente essa pretenso que o materialismo esvaziou. Marx denunciou precisamente isso

    em dizer que toda a produo intelectual produto de uma prtica e situao reais. A Cincia,

    com letra maiscula, no existe, e o que existe deve ser chamado de cincia burguesa.

    portanto estranho ver alguns marxistas (como Louis Althusser) restaurando a

    noo de Cincia e reivindicando uma verdade absoluta, mas dessa vez para o marxismo.

    Esse status simplesmente no compatvel com a prpria teoria o marxismo para a qual

    reivindicada, pelo menos na medida em que o marxismo no rompe com a abordagem que o

    engendrou o materialismo. Mas mais do que contraditrio, inquietante, porque a

    pretenso universalidade, ao absoluto, precisamente a marca dos produtos intelectuais

    vindo de posies dominantes. Somente dominantes alegam estar acima do mle, e eles

    devem alegar assim o ser, uma vez que todo seu conhecimento, sua Cincia, tenta clamar que

    esse mle no existe; ou de uma maneira secundria a negar a luta de classes. Disto,

    parece que qualquer reivindicao universalidade, ao conhecimento no importe o qu,

    esconde uma perspectiva dominante (do grupo dominante em qualquer antagonismo inter-

    grupo que est em jogo, e varia de caso a caso).

    Mas Barrett e McIntosh apresentam como uma crtica o fato de que:

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    claro atravs de seu trabalho que a posio terica de Delphy est relacionada

    de maneira prxima sua posio poltica, e de fato ela argumentou que uma

    indispensvel outra.

    Elas ento sugerem no somente que sua posio terica no est relacionada com sua

    posio poltica, mas alm disso que isso algo positivo: aquela teoria pode ser independente

    da posio social e/ou poltica que algum ocupa, e de que assim deveria ser. Nesse artigo

    que elas citam (veja p. 211), eu digo que a teoria no deve ser independente da poltica, mas

    de que, de qualquer forma, no pode ser, ainda que deva querer ser. Ao faz-lo, no estou

    somente reafirmando o que foi dito em outro lugar por outros tantos autores, comeando por

    Marx, e que a base para a abordagem materialista. Todo o conhecimento o produto de

    uma condio histrica, quer saiba-se disso ou no. A ideia de uma cincia neutra de uma

    teoria que no est relacionada com uma posio social/poltica no em si mesma uma

    ideia neutra; no vem de uma ausncia de uma posio socio-poltica, vez que tal ausncia

    inconcebvel. A ideia de que o conhecimento no possui uma base na posio social de seus

    produtores , ao contrrio, o produto de uma posio social precisa: a posio de dominao.

    Assim, quanto Barrett e McIntosh veem o enraizamento de uma teoria em uma

    posio poltica como uma fraqueza, elas revelam, ao mesmo tempo, que adotam uma noo

    de conhecimento e, por isso, do marxismo, que no somente profundamente anti-marxista,

    mas acima de tudo, profundamente reacionria e, por isso, antifeminista. Duas das mais srias

    implicaes polticas prticas dessa situao, que so invisveis em seu artigo, so as de que,

    por um lado, justifica elas no revelarem a posio poltica a partir da qual falam, e por outro,

    implica que as pessoas, que no as oprimidas tericos, cientistas podem falar sobre a

    opresso. Essa postura est diretamente relacionada ao contedo reacionrio da posio

    poltica que esto escondendo.

    Ns vimos que a reificao-deificao de Marx serve para construir a autoridade a

    partir da qual a imposio das teses marxistas ento argumentada. Isso simplesmente

    uma forma de evadir da discusso: de dispensar, ou pensar que algum est dispensando, com

    a necessidade de provar a coerncia interna de um argumento, chamando-o de um princpio

    de autoridade. Isso justificadamente horroriza feministas e outros , e isso os distancia do

    marxismo.

    Marxismo e a anlise do capitalismo

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    Existem muitas teses marxistas. Elas todas tem, no entanto, um ponto em comum:

    todos os partidos e escolas diferentes que se chamam marxistas hoje concordam em

    perpetuar, ao abrigo da autoridade que seus estudos talmdicos conferiram sobre Marx o

    homem, uma confuso imperdovel entre os princpios do materialismo e a anlise que Marx

    fez do modo de produo capitalista (e que, por sua vez, eles intrepretaram liberalmente e

    diversamente). Embora imperdovel, essa reduo do primeiro ao ltimo hoje to difundida

    que muitos marxistas e muitos outros pensam que o capitalismo inventou a

    explorao, que o capitalismo explorao, e de que a explorao capitalismo. Aqui, mais

    uma vez, no somente uma questo de simples erro ou ignorncia acontecendo por

    acaso. Esse erro possui um significado poltico que o feminismo claramente reconheceu:

    ele faz o antagonismo entre os proletariados e os capitalistas que uma das possveis

    formas de explorao em um conflito principal quando quer que ela exista; no modelo para

    toda a opresso; e, finalmente, da prpria definio de explorao. Isso evidente quando

    marxistas dizem:

    1. Ou que o feminismo no pode usar o marxismo: nenhum conceito de relaes de

    produo desenvolvido sobre o modelo de Marxismo... Inclui a necessidade de

    diviso sexual (Diana Adlam (1979) em uma publicao do The Main Enemy);

    2. Ou que a explorao das mulheres no existe uma vez que o marxismo indiferente

    diviso sexual (Mark Cousins (1978) em m/f).

    Ambos aqui confundem o marxismo o mtodo com a anlise marxista do capitalismo

    uma das aplicaes possveis desse mtodo.

    Os conceitos usados pela anlise marxista da explorao capitalista (ou Capital, para

    simplificar) no podem na realidade explicar a explorao das mulheres, pela mesma razo

    que no podem explicar a explorao de servos, escravos, ou servos contratados, ou

    prisioneiros em campos de trabalho, ou arrendatrios africanos. Pela simples razo de que os

    conceitos usados para explicar a explorao por salrios e isso que o assunto do Capital

    no podem explicar a explorao dos no remunerados. Mas os conceitos usados na anlise

    do capitalismo no so o todo do pensamento marxista. Ao contrrio, eles so em si mesmos

    derivados de conceitos mais gerais. Como, de outro modo, teria Marx sido capaz de analisar

    modos de produo e explorao no-capitalista, tais como a escravido e o feudalismo? Os

    conceitos de classe e explorao no vem do estudo do capitalismo; ao contrrio, eles pr-

    existem a ele, autorizam ele, e so a origem da noo do capitalismo em seu sentido marxista,

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    ou seja, como um particular sistema de explorao. Esses conceitos mais gerais classe e

    explorao no somente de nenhum modo requerem que as divises sexuais sejam

    ignoradas mas, ao contrrio, so eminentemente teis em explic-las. E aqui eu quero dizer

    explicar no sentido forte: no somente em descrev-las, no em descrever somente o que

    ocorre depois que a diviso existe, mas em explicar sua gnese.

    Esses conceitos so os conceitos-chave do materialismo em que eu vejo duas bases.

    Para mim, a primeira base do materialismo de que ele uma teoria da histria, uma onde a

    histria escrita em termos da dominao de grupos sociais um pelo outro. A dominao

    possui em seu motivo ltimo a explorao. Esse postulado explica e explicado pela segunda

    base do materialismo: o postulado de que o modo em que a vida materialmente produzida e

    reproduzida a base da organizao de todas as sociedades, por isso, fundamental tanto

    num nvel individual quanto coletivo.

    Marxismo e opresso das mulheres

    O marxismo , com toda evidncia, materialista. Nesse sentido, pode ser usado pelo

    feminismo. Na medida em que o materialismo se preocupa com a opresso e, inversamente,

    se aceitamos que comear da opresso define entre outras coisas uma abordagem materialista,

    uma cincia feminista tender inevitavelmetne a uma teoria materialista da histria. Para

    mim, o materialismo no uma ferramenta possvel, entre outras, para os grupos oprimidos;

    ele a ferramenta precisamente na medida em que a nica teoria da histria pela qual a

    opresso a realidade fundamental, o ponto de partida.

    Isso tem sido escondido ao longo dos anos pelas pessoas que sem apropriaram do

    marxismo e, assim o fazendo, no somente reduziram o materialismo anlise do modo de

    produo capitalista apenas, mas ainda esvaziaram o prprio materialismo dessa anlise

    porque eles fizeram dele uma anlise acadmica entre outras, e em competio com outras

    em seus mritos acadmicos isoladamente. Eles portanto verteram o significado profundo

    que impulsiona a anlise marxista e que a distingue como uma abordagem mais alm do seu

    contedo a explicao e a luta contra a opresso. portanto claro que o no-

    reconhecimento da diviso sexual na anlise do Capital de nenhuma forma impede a

    aplicao de conceitos materialistas opresso das mulheres. Porm, esse no-

    reconhecimento coloca um problema no para as mulheres, mas para a anlise do modo de

    produo capitalista. Na verdade no tanto uma questo de no-reconhecimento, como de

    no-problematizao. A anlise que Marx fez da explorao remunerada no , como Mark

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    Cousins finge, indiferente diviso dos sexos ou, de qualquer maneira, no assim no

    sentido que Cousins (e outros) entendem. Eles pensam que na anlise do capital, as posies

    descritas ou as classes constitudas pela anlise (capitalistas e trabalhadores) podem ser

    indiferentemente ocupadas por homens ou mulheres. O fato de que esto sobretudo ocupadas

    por homens visto como um fator externo, e um que no remove nada da validade da anlise.

    Isso implica que os ltimos seriam os mesmos caso as classes fossem constitudas em partes

    iguais por mulheres e homens. Mas isso falso: a anlise do modo de produo capitalista

    indiferente diviso sexual no sentido de que o fato de que as posies no poderiam ser

    ocupadas indiferentemente por homens ou mulheres no sequer percebido como um

    problema. Sua teoria indiferente ao problema, certamente, mas no sentido oposto: toma a

    diviso sexual como dada, a reconhece e a integra: baseada nela.

    Por isso, a abordagem materialista no pode se satisfazer em adicionar a anlise

    materialista da opresso das mulheres anlise da opresso dos trabalhadores feita por Marx,

    e marxistas posteriores. Os dois no podem ser simplesmente adicionados juntos, uma vez

    que o primeiro necessariamente modifica o segundo. O feminismo necessariamente modifica

    o marxismo de diversas maneiras: primeiro, porque impossvel para ele aceitar a reduo

    do marxismo somente anlise do capital; segundo, uma vez que a luta entre trabalhadores e

    capitalistas no a nica luta, esse antagonismo no pode mais ser tomado como a nica

    dinmica da sociedade; e terceiro, porque tambm modifica a anlise do capital de dentro. O

    reconhecimento da existncia do patriarcado ou, para aqueles que ficam chocados com esse

    termo, da diviso sexual (que ningum pode negar e que, para mim, uma e a mesma coisa)

    torna evidente que a classe trabalhadora descrita por marxistas e caracterizadas por eles

    como teoricamente assexual profunda e verdadeiramente sexuada, e no somente numa

    maneira emprica e contingente. totalmente comprometida com somente a parte masculina

    da classe trabalhadora. Todos os conceitos usados por Marx, e ento pelos outros, tomam

    como uma definio estrutural e terica da condio dos trabalhadores a poro do trabalhor

    homem. Mulheres trabalhadoras so invisveis, esto ausentes da anlise do mercado de

    trabalho por um lado, e seu trabalho domstico e sua explorao tomada como dada em

    outra. Portanto, no somente a reduo do marxismo anlise do capital, mas o prprio

    contedo de sua anlise, o faz impossvel de aplicar esse marxismo opresso das mulheres.

    Mas, ainda mais, tendo em conta a opresso das mulheres que o que quer dizer ser uma

    feminista faz, ou deveria fazer, impossvel de aceitar essa anlise mesmo quanto se trata do

    capital.

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    Traduo Maria da Silva www.materialfeminista.milharal.org

    Dois objetivos: a extenso dos princpios do marxismo (ou seja, do materialismo)

    anlise da opresso das mulheres, e uma crtica da anlise do capital de um ponto de vista do

    que se adquiriu na anlise feminista, o que deveria definir uma abordagem feminista

    marxista ou marxista feminista, se as palavras tm algum significado. Mas a prpria

    possibilidade de tal abordagem que Barrett e McIntosh tentam negar (ou melhor, impedir) ao

    afirmar que sua concepo de marxismo a nica, e em alegando, alm disso, que eu estaria

    me contradizendo se eu tentasse no meu uso do marxismo fazer aquilo que eu digo que

    impossvel: abstrair conceitos tcnicos de seu contexto reacionrio. Notando, de

    passagem, que elas aqui qualificam o marxismo como um contexto reacionrio, eu

    mantenho que isso verdadeiro sobre todas as teorias gerais da sociedade ou humanidade que

    possumos. Abordagens gerais do mundo, quer sejam antropolgicas, sociolgicas ou

    psicoanalticas, tomam a opresso das mulheres como dada, so incapazes de explic-la, e

    acima de tudo, so incapazes de ajudar a derrub-la. Isso se aplica igualmente ao marxismo

    como Barrett e McIntosh o compreendem (ou seja, anlise convencional do Capital); e de

    que seria ilusrio pretender chegar em diferentes resultados com as mesmas ferramentas

    conceituais abundamente provado pelo fracasso do debate do trabalho domstico. Isto

    de fato porque eu no uso essa anlise e porque eu julgo que elas no deveriam a usar

    tambm. Mas isso no verdadeiro do materialismo como um mtodo, e isso porque uma

    abordagem feminista materialista no somente possvel, mas tambm necessria, seja o que

    for que possam falar.

    Fonte:

    DELPHY, Christine. A materialist feminism is possible. In: Close to Home: A Materialist

    Analysis of Womens Opression. Great Britain: The University of Massachusetts Press, 1984.

    p. 154-161.