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FEDERALISMO NO BRASIL Prof. Ângelo Marcos Queiróz Prates Temas de aula: Introdução geral ao federalismo; A escolha do federalismo; As unidades constitutivas; Dividindo poderes: quem faz o que e como?

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FEDERALISMO NO BRASIL Prof. Ângelo Marcos Queiróz Prates

Temas de aula:

• Introdução geral ao federalismo;

• A escolha do federalismo;

• As unidades constitutivas;

• Dividindo poderes: quem faz o que e como?

Na esfera política do chamado Federalismo nos deparamos com as seguintes questões:

• Quais os tipos de Estado?

(necessidade de organização social; unitário e descentralizado)

• O que são Estados Federais e seus processos de formação?

(federalismos por agregação/segregação)

• Quais os princípios caracterizadores do federalismo?

(competências)

O federalismo apresenta cada vez maior importância no mundo, com cada vez mais países assumindo essa modalidade de organização político-social. Nesse contexto é possível elencar que:

• 28 países que abrangem mais de 40% da população mundial, se autoproclamam federativos ou são amplamente considerados como tal;

• Quase todas as democracias de grande extensão territorial ou muito populosas são federações;

• Com a democratização países latino-americanos se tornam cada vez mais federais (casos de Brasil, Argentina e México);

• Muitos estados unitários passaram ao longo das últimas décadas se transformando em estados federais, tais como Bélgica, Etiópia e Espanha (notadamente, países com histórico profundo de divisões político-sociais);

• O federalismo foi adotado em áreas de pós-conflito, como: Bósnia, Iraque, Sudão e África do Sul. Atualmente está sendo considerada sua implementação no Sri Lanka e no Nepal;

• A União Européia apresenta diversas características de uma federação.

O federalismo se apresenta em diversos contextos político-econômico:

• Se apresenta em países muito grandes (Índia) ou muito pequenos (Suíça);

• Em países ricos e pobres • Com população homogênea ou diversificada; Em resumo, os arranjos institucionais internos

variam profundamente em cada federação. Nesse contexto, há federações profundamente centralizadas, com forte concentração do poder no governo central, ou federações bastante descentralizadas, com elevada autonomia às suas unidades constitutivas.

Em algumas federações há forte sobreposição de poderes entre os entes federados e o governo central, ao passo que em outros casos essa separação é bastante nítida.

No campo da organização política, pode-se assumir o Parlamentarismo ou o Presidencialismo com instituições congressuais, adotando-se um sistema de representação proporcional ou majoritário.

Embora de forma geral as federações sejam harmônicas e estáveis, há federações profundamente instáveis (Rússia).

De forma, geral não há um modelo único de federalismo, e é essa multiplicidade de formatos que garante o ponto forte dos modelos federativos.

CARACTERÍSTICAS COMUNS AO FEDERALISMO: Apesar das profundas diferenças que possam existir em

termos de formato do federalismo podemos identificar algumas características inerentes ao federalismo. Quais sejam:

• Mínimo de dois níveis de governo; • Uma Constituição escrita; • Uma Constituição que atribua formalmente

competência legislativa, inclusive fiscal, aos níveis existentes de governo e lhes assegura autonomia genuína;

• Com frequência há a ocorrência das chamadas câmaras altas (senado federal, no caso do Brasil), que garanta representação das unidades federadas no processo de decisão.

• Procedimentos para a decisão de disputas constitucionais entre os níveis de governo (geralmente tribunais, no caso do Brasil, o STF e o STJ);

• Um conjunto de processos e instituições para facilitar ou conduzir as relações entre governos.

De forma geral, o único elemento essencial em qualquer federação é a presença de no mínimo duas ordens de governo constitucionalmente constituídas, cada qual dotada de genuína autonomia uma em relação à outra e responsáveis perante os respectivos eleitores.

Normalmente o federalismo pressupõe democracia e Estado de Direito, uma vez que os regimes não democráticos, de um modo geral não aceitam a autonomia dos entes constitutivos.

Nem todos os 28 países listados satisfazem plenamente os requisitos citados como essenciais à uma federação. Alguns são mais outros menos descentralizados. Entretanto, o que importa é se existe alguma base de autonomia entre os diferentes entes constituintes da federação.

Alguns países procuram evitar o termo federal, em razão de suas conotações simbólicas ou históricas. Nesse cenário destaca-se: Índia (Governo da União), Espanha (Estado), África do Sul (Governo Nacional), e a Austrália (Commonwealth). Em ambos os casos, embora mude o nome, as responsabilidades são as mesmas do mais comumente chamado governo central ou federal.

Nos sistemas confederados, o governo central é uma ficção legal criada pelas unidades constitutivas. Nos sistemas unitários, os governos regionais são criações legais das instituições centrais. Nos sistemas federados, cada esfera de governo tem sua própria existência constitucional autônoma. Alguns países unitários são mais descentralizados, na prática, que certas federações.

As duas federações mais antigas do mundo – EUA e Suíça – constituíram-se inicialmente como confederações. Porém tais regimes se mostraram instáveis e frágeis.

A União Européia apresenta características de confederação e de federação, porém trata-se de uma experiência única atualmente.

Outros exemplos de confederação seriam: Benelux (Bélgica, Holanda e Luxemburgo), o Caricom (todos os países caribenhos), e os Emirados Árabes Unidos (constituído por 7 principados, dos quais destacam-se Dubai e Abu Dahbi).

A maioria dos países têm sistema unitário de governo, muito embora possuam em sua maioria estruturas administrativas regionais (ex.: subprefeituras na cidade de São Paulo).

Nesses casos, há em muitos países as chamdas províncias ou regiões, com governos independentes eleitos, mas cujos poderes dependem essencialmente do governo central.

Dentre esses regimes unitários delegados destacam-se: • Colômbia; • Itália; • Japão; • França; • Perú; • Reino Unido; • Indonésia Nesses países acima, há entretanto claros movimentos no

sentido de conceder maior autonomia aos entes subnacionais. No caso particular do Reino Unido, o governo central de Londres, restituiu volume substancial de poderes ao Parlamento da Escócia, sobretudo em assuntos como educação, saúde, e assuntos locais.

Consideram-se como federações hoje no mundo: África do Sul, Alemanha, Argentina, Austrália, Áustria, Belau, Bélgica, Bósnia-Herzegovina, Brasil, Comores, Canadá, Emirados Árabes Unidos, Espanha, Estados Unidos, Etiópia, Índia, Iraque, Maláisa, México, Micronésia, Nigéria, Paquistão, República Democrática do Congo, Rússia, St Kitts e Nevis, Sudão, Suíça e Venezuela.

A Escolha do Federalismo:

As federações surgiram em diferentes circunstâncias, cada qual como resultado de opções políticas ou de razões históricas. O federalismo geralmente é a opção dotada para congregar em um novo país unidades até então separadas, ou para reorganizar um país até então unitário. Pode ainda resultar desses dois processos.

Todas as federações evoluem ao longo do tempo. Algumas sofreram, formalmente, grandes alterações constitucionais, ao passo que outras incorporaram mudanças de vulto, a despeito de Constituições muito estáveis. Fatores como a criação de novas unidades constitutivas, urbanização, grandes mudanças demográficas e econômicas, novas tecnologias, acontecimentos políticos relevantes de âmbito interno ou global e a experiência democrática têm sido determinantes no traçado da experiência das federações.

Assim, no que se refere à evolução as federações podemos observar que: a mais antiga federação, os EUA, têm a mesma Constituição há mais de 200 anos (sua criação é de 1787) e fez à ela somente 27 emendas. A Índia emendou a Constituição 94 vezes em 60 anos. O Brasil já teve sete Constituições diferentes desde sua independência. O México teve seis e a Venezuela 26 Constituições!

O fato é que nem o federalismo é sempre o melhor sistema, nem tampouco há versão ideal de federalismo. O federalismo parece apropriado, particularmente, às democracias muito populosas ou de grande extensão territorial ou, ainda, que apresentem contigentes populacionais acentuadamente diversificados e regionalmente concentrados. No decorrer do tempo, o federalismo demanda que parte significativa da população mantenha um sentimento de identidade com o país e também que as comunidades políticas estejam motivas e engajadas em nível regional.

Federalismo pressupõe Democracia e Estado de Direito, a ausência desses fatores em sua experiência histórica fez com que muitos países fracassassem na constituição de seus regimes federados, sobretudo os países pós comunistas e alguns pós colonialistas.

Também as fragilidades do governo central e desequilíbrios econômicos entre diferentes regiões levaram a tais fracassos.

Identidades locais ou regionais de caráter forte também podem levar a separação ou secessão em determinadas situações. Como exemplo, Cingapura, que se desgarrou da Malásia.

No que se refere à chamada geometria política das federações, essas podem possuir em muitos casos apenas duas unidades constitutivas (no caso brasileiro, seriam os Estados), porém há casos em que existem mais de 80 entes federados.

Nesse aspecto deve-se salientar que o poder e competência de cada unidade federada pode variar muito independentemente do tamanho territorial ou populacional dessas unidades.

Conforme a geometria dessas federações elas podem possuir maior ou menor capacidade de dinamismo governamental ou dinâmica política.

A população das federações pode variar de mais de 1 bilhão na Índia a apenas 46 mil em St. Kitts e Nevis (São Cristóvão e Nevis, localizado no Caribe-AL).

De igual forma, as populações das unidades constituintes de uma federação podem variar imensamente (mesmo a mais populosa unidade federada de um país pode ser maior que muitos outros países. Uttar Pradesh, na Índia, possui 160 milhões de habitantes. Já Evenki, na Rússia têm apenas 14 mil habitantes.

Essa “deformidade” nas federações além de afetar a capacidade de governabilidade também pode acarretar em muitos casos maior ou menor centralização do poder no governo central, o que ocorre, sobretudo quando o número de unidades constitutivas é muito grande.

Em termos de tamanho do número de unidades constitutivas de uma federação, as maiores seriam os EUA com 50 estados, e a Rússia, com 86 estados e regiões autônomas. Nesses países, as maiores unidades constitutivas são Califórnia nos EUA, e Moscou na Rússia. Ainda assim, a Califórnia dos EUA concentra 12% da população norte americana, e Moscou na Rússia concentra apenas 7% da população total russa.

De outra parte, a província de Buenos Aires concentra 38% da população argentina; Ontário, 39% da população do Canadá; e Nova Gales do Sul, 34% da população australiana.

Contudo, evidencia-se em muitos casos que federações com poucas unidades constitutivas acabam por geras sérios conflitos políticos levando em muitos casos a movimentos separatistas

As federações com mais baixa quantidade de unidades constitutivas seriam:

• St Kills e Nevis, com duas unidades; • Bósnia-Herzegovina, com duas unidades; • Comores (costa africana), três unidades; • Micronésia, com quatro unidades; • Bélgica, com três estados/regiões (Flandres a

maior e mais desenvolvida, Valônia e Buxelas); • Paquistão, com quatro unidades; De forma geral, contudo, a maior parte das

federações se enquadra entre 6 (Austrália) e 31 (México) unidades constitutivas (estados/regiões)

No que se refere à hierarquia das unidades constitutivas de uma federação, não existe uma regra clara podendo haver desde estados ou províncias, com maior ou menor autonomia político-administrativa. Em algumas federações (caso do Brasil), os municípios também são tidos como um terceiro nível de unidade constitutiva de uma federação.

Nesse cenário destaca-se a Rússia que possui uma complexa variedade de divisões subnacionais: repúblicas, regiões (oblasts), territórios (krais), áreas autônomas (orkrugs) e cidades federais. Porém atualmente todas gozam dos mesmos direitos e deveres (Putin)

No que se refere aos municípios, alguns países como Brasil, Índia, México e África do Sul, concederam aos entes municipais grande status como ente federado, passando à esses entes uma série de obrigações e competências, porém ainda de menor importância comparado aos estados onde se situam.

Outro aspecto tão importante quanto ao tamanho das unidades constitutivas de uma federação é a diversidade social (não econômica)dessas unidades.

Nesse aspecto, a preponderância de um idioma dominante pode garantir maior estabilidade à federação. Argentina, Austrália, Brasil, Alemanha, México e EUA apresentam claramente uma dominância linguística e uma divisão étnica e religiosa relativamente estável.

Em federações onde essa disparidade é mais acentuada podem ocorrer severos casos de insurgência e movimentos separatistas. Nesse cenário destacam-se:

• Suíça: 3 idiomas; • Índia: estados divididos segundo características religiosas e

linguísticas (1956 e 1966); • Canadá: o Quebec concentra a população de fala francesa

(plebiscito no Quebec em 1995 definiu que continuaria como parte integrante do Canadá);

• Etiópia: estados separados pela etnia; • Espanha: o federalismo permitiu o ressurgimento de

rivalidades históricas (bascos e catalães); • Bélgica: dois estados claramente diferenciados por língua e

cultura; • Nigéria: os 36 estados estão subdivididos por etnia, religião

e língua; • Rússia: embora a língua e a etnia russa prevaleçam há

regiões com forte predominância étnica distinta. Ex: Chechênia, Daguestão e Inguchétia (muçulmanos)

DIVIDINDO PODERES: O QUE E A QUEM CABE DETERMINADAS POLÍTCAS?

Há dois modelos distintos no que tange à distribuição de poderes nas federações: o dual e o integrado.

No Modelo Dual (Clássico) costuma-se atribuir jurisdição distinta para cada ordem de governo, que, então, administra seus próprios programas e presta os respectivos serviços.

No Modelo Integrado, muitas das competências são compartilhadas, cabendo geralmente às unidades constitutivas a administração de programas ou o cumprimento de legislação definidos em nível central.

Em todas as Constituições dualistas há áreas de competência legislativa comum ou conjunta e concorrente.

Nas Constituições Integralistas como a da Alemanha, a maioria das matérias é de competência concorrente, isto é, por exemplo a defesa nacional é de competência do governo central, já saúde, educação, meio ambiente possuem legislação geral estabelecida pelo governo central, mas podem ser suplementadas pelos estados.

Nesse cenário pode-se dizer que: Canadá, Brasil e os EUA são federações dualistas. A Alemanha, Áustria, África do Sul e Espanha são notoriamente integralistas. A Índia e a Suíça apresentam característica mista.

Normalmente, a distribuição de competência legislativa, inclusive na área fiscal, encontra-se estabelecida pela Constituição de cada país. Contudo, algumas federações possibilitam que os entes sub-nacionais possam legislar (em acordo com a legislação federal) alguns temas.

Todas as federações têm dispositivos constitucionais relativos à alocação de poderes entre o governo central e as unidades constitutivas (Estados).

Nos EUA a Constituição Federal têm somente 18 artigos. Nesse quadro os estados podem legislar desde que não entrem em conflito com a Constituição Federal (caso ocorra a Suprema Corte pode decidir)

Deforma geral podemos identificar padrões típicos de poderes nas federações, os principais seriam:

a) Moeda: sempre federal;

b) Defesa: sempre federal;

c) Implementação de Tratados: quase sempre federal;

d) Comércio Exterior: geralmente federal;

e) Comércio Interestadual: geralmente federal;

f) Comércio Intraestadual: geralmente estados, províncias;

g) Infraestrutura física de grande porte: geralmente federal;

h) Educação primária/secundária: geralmente estados;

i) Equalização de renda: federal, concorrente ou compartilhada;

j) Previdência e seguridade social: concorrente, conjunta, compartilhada ou federal;

k) Saúde: geralmente estados ou federal, compartilhada; L) Meio Ambiente: geralmente conjunta ou concorrente; M) Sistema judiciário: geralmente conjunta ou

concorrente; N) Agricultura: sem padrão definido; O) Recursos minerais: sem padrão definido; P) Polícia: geralmente compartilhada: Q) Imposto de Renda: geralmente conjunta, partilhada ou

concorrente, por vezes federal; R) Impostos alfandegários/consumo/serviços: quase

sempre federal, por vezes concorrente. Olhando para todas essas características como elas se

encaixariam no Brasil?

Não é possível, a rigor, se estabelecer uma regra mágica no que tange à distribuição de competências e de poderes nas federações. Cada qual possui sua história, características sociais e econômicas, políticas, etc.

Em algumas federações há bem mais descentralização do que em outras, o que é denominado de ASSIMETRIA. Quanto maior for essa assimetria, decorrentes de fatores políticos, econômicos, religiosos, entre outros, maiores são as dificuldades na administração federativa.

Algumas federações para minimizar esse cenário de forte assimetria entre o governo central e as unidades sub-nacionais, costumam dar maior peso à representação das unidades constituintes nas instituições centrais (caso do Senado, no Brasil)

Essas assimetrias são por vezes resolvidas via tribunais, medidas de exceção, emendas constitucionais, acordos políticos e eleições.

Podemos ainda definir as federações quanto à sua formação e organização do modo como segue adiante

O Processo de formação do Estado Federal Segundo Ferreira Filho apud Conti (2004, p. 6), os principais processos

de formação do Estado Federal ocorrem por agregação e segregação. a) Federalismos por agregação – Este ocorre do resultado da união de Estados já existentes que se sobrepõem ao Estado novo abrindo mão de suas soberanias. Como exemplo os autores destacam os Estados Unidos, a Alemanha e a Suíça. b) Federalismo por segregação – Diferentemente do anterior, este ocorre quando, por decorrência de razões políticas, a Federação é resultante da descentralização de um Estado unitário pré-existente, dando origem a novos entes dotados de autonomia política sem, no entanto, perderem a vinculação central, dotada da soberania federativa. Como exemplo, os autores destacam o Brasil.

O Federalismo encontra-se também dividido em espécies classificadas como “dual ou dualista”, cooperativo, de integração e de equilíbrio simétrico ou assimétrico. Vejamos, a seguir, mais detalhes sobre cada um deles.

Dual ou dualista:

Conhecido por Federalismo original ou clássico, o dual ou dualista caracteriza-se pela existência de duas esferas de poder claramente distintas. Com atribuições e competências próprias que, na horizontal, atrela-se a uma previsão de tributos próprios, sem a necessária coordenação e/ou harmonização das atividades exercidas por cada um dos poderes.

Simétrico:

Considerando-se que cada ente possui as suas próprias características devidas às diferenças regionais, não é aconselhável que se trate os entes de forma igualitária, pois, assim procedendo não estaríamos buscando o equilíbrio desejado. Prevalece aqui aquela máxima de se tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais. Neste caso o Federalismo do tipo simétrico não é aconselhável.

Cooperativo:

Diferentemente do dualista, o Federalismo cooperativo caracteriza-se pela necessidade de os Estados trabalharem harmonicamente em conjunto com o governo central na busca de soluções para os problemas do país. Faz-se presentes os aspectos da união, aliança, cooperação e solidariedade, sendo uma constante as concessões de ajudas do poder central para os entes federados.

Integração:

Quanto ao Federalismo de integração, tem-se o sistema federado com objetivo de alcançar maior eficiência na captação e alocação de recursos, não se podendo, entretanto, admitir a intervenção demasiada do poder central na autonomia dos Estados-membros para evitar a destruição da própria Federação.

Assimétrico:

O Federalismo de equilíbrio assimétrico, apesar de difícil aplicação, devido exatamente às desigualdades regionais, apresenta-se com maior flexibilidade para permitir a realização de planos, programas e projetos conjuntos entre as diversas esferas, sob a coordenação do poder central, razão pela qual o orçamento público, principalmente o de longo prazo, quando de sua elaboração deve contemplar o que chamamos de prioridades regionais.

FEDERALISMO

POLÍTICA ECONOMIA

ARRANJOS INSTITUCIONAIS

DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL

Dinheiro e Poderes Fiscais

As definições sobre a geração, partilha e desembolso de recursos são de fundamental importância, tanto política quanto economicamente, para o desempenho dos sistemas federais, ou seja: quem arrecada os impostos? Sobre quem? Como e em que gasta?

Nesse sentido, a forma de geração e gasto das receitas podem ser diretamente influenciada pela saúde econômica da federação.

Pode-se identificar dois principais formatos de geração e gasto:

a) Incentivos fiscais e outros estados: renúncia fiscal, pode atrair investimentos para locais ineficientes, perda de receita;

b) A geração de receita (impostos, taxas, contribuições, dívida, emissão monetária) e os gastos governamentais: afetam o nível total da atividade econômica (sejam as políticas expansionistas ou contracionistas)

Existem princípios que norteiam a eficaz repartição da competência entre os níveis de governo para auferir receitas nas federações. Na prática, porém, verifica-se enorme variação, sobretudo em decorrência das distinções entre arranjos institucionais (forma de organização da federação), meios de obtenção dos recursos, histórico e cultura política dos países.

Alguns defendem a minimização da possibilidade da competição fiscal entre entes federados como forma de influenciar investimentos e pessoas.

Assim, defendem que os entes federados deveriam ter poderes limitados sobre os contribuintes e bases tributáveis móveis (IR, ICMS, etc)

De qualquer forma, é impossível se estabelecer uma alocação eficiente do ponto de vista da divisão tributária.

A competição excessiva, contudo, tributária entre entes federados poderia levar a uma espiral descendente de receitas de determinadas bases e necessidade de recomposição tributária em cima de outras bases tributáveis. Porém algum grau de competição é considerada saudável.

Muitos outros aspectos são considerados, mas conclui-se que a distribuição mais adequada de competência tributária acarretaria:

a) Vantagens na responsabilização de cada governo federado – quanto poder o ente federado dispor para auferir suas próprias receitas, mais responsável e suscetível a controle será pelos eleitores.

b) Questões envolvendo equidade: espera-se maior esforço fiscal e serviços menos razoáveis pelos entes mais empobrecidos, ou estes entes devem ser auxiliados por meio de transferências?

c) Vantagens administrativas na centralização de certos tipos de arrecadação de receita, mesmo que a base tributária pertença aos entes federados.

Algumas federações são ricas em recursos naturais os quais podem gerar muita riqueza e receita, especialmente a partir do petróleo, gás natural, diamantes e metais preciosos (ouro e prata).

Ocorre que tais recursos estão localizados de forma bastante heterogênea no território, levando a crescentes tensões federativas (ex recente: divisão dos royalties do petróleo no Brasil).

Geralmente esses recursos são pertencentes ao governo federal ou aos estados produtores, ou eventualmente em regime de compartilhamento.

Há muita controvérsia sobre quem arrecada os impostos originários desses recursos e como deve ser realizada sua distribuição.

Alguns exemplos: a) Nigéria: o governo central arrecada e posteriormente

faz transferências aos estados, como base nos princípios da equidade e derivação (mais fatia para os estados produtores);

b) Rússia: o governo federal centraliza toda a arrecadação de royalties e impostos de exportação e repassa pequena parcela aos estados produtores;

c) Canadá: Alberta (maior produtora) detém a propriedade sobre seus recursos naturais. O governo federal perdeu o poder de cobrar impostos de exportação sobre a exploração desses recursos;

d) EUA: a maior parte dos recursos pertencem aos estados ou a particulares, mas há grandes reservas do governo nos estados do oeste e Alasca.

De forma geral, os governos federais concentram grande parte do controle e propriedade dos recursos naturais e das receitas deles derivadas.

Já no que refere-se a participação do governo federal em relação às receitas totais temos que:

a) Canadá e Suíça: 45%;

b) EUA: 54%;

c) Alemanha, Áustria, Austrália, Bélgica, Brasil, Espanha e Índia: entre 60% e 75%;

d) África do Sul, Argentina, Malásia, México, Nigéria (98%), Rússia e Venezuela (97%): mais de 80%;

e) Na União Européia: que não é uma federação stritu sensu, o governo central (Bruxelas) arrecada menos de 2%.

No que se refere à distribuição do gasto entre as ordens de governo as federações variam muito quanto ao montante de gasto feito diretamente, seja pelo governo central, pelos estados ou pelos municípios.

Em algumas federações o governo central implementa a maioria dos programas e políticas públicas, em outras essas tarefas são fortemente descentralizadas aos entes sub-nacionais. Essa característica depende fundamentalmente dos arranjos constitucionais existentes, além de fatores históricos, culturais e políticas.

Em todas as federações o governo federal gera mais receita do que necessita gastar diretamente. Por isso, faz transferências fiscais aos estados e municípios.

A importância dessas transferências varia muito de federação para federação, em alguns casos esse repasse é de fundamental importância para a sobrevivência dos entes sub-nacionais (caso da ampla maioria dos municípios brasileiros);

Exemplos de participação das transferências do governo central na receita total dos estados:

a) EUA: 13%; b) Canadá e Suíça: 26%; c) Rússia: 23%; d) Malásia: 30%; e) Alemanha: 44%; f) Austrália e Índia: 46%; g) Espanha: 73%; h) Bélgica: 68%; i) África do Sul, Nigéria e México: mais de 87%. A diferença entre o gasto dos estados e suas próprias

receitas constituem-se no chamado desequilíbrio fiscal vertical (verical fiscal gap)

DESEQUILÍBRIO FISCAL E EQUALIZAÇÃO:

Há uma profunda diferença entre a riqueza dos diferentes estados que compõem uma federação na grande maioria dos casos. A maior parte das federações lidam com essa situação via transferências diretas de recursos em maior volume para os estados mais pobres do arranjo. Há ainda uma enorme variedade de princípios utilizados para nortear essas transferências.

EQUALIZAÇÃO X DERIVAÇÃO:

O principal instrumento norteador dessas transferências constituem-se em princípios de equalização da renda, ou seja, tenta-se equiparar os recursos dos estados.

Outro princípio é o da derivação, isto é, o estado origem da receita deve ser beneficiado no momento da transferência dessa receita tributária. Esse princípio prevalece muito no caso das receitas oriundas de recursos naturais.

Outro problema associado ao debate da equalização versus derivação consiste na existência ou não de condicionalidades às transferências efetuadas pelo governo federal, isto é, se há ou não transferências de recursos carimbados, onde o gasto de uma receita de transferência só pode ser gasto na política pública a ele associado.

Normalmente os programas de equalização proporcionam repasses incondicionais.

Em muitos casos os estados frequentemente são contrários aos repasses condicionais. E o são por algumas razões como:

a) As condicionalidades do governo central podem impor diretrizes em áreas que seriam de competência exclusiva do estado;

b) Podem-se gerar distorções nas prioridades dos estados;

c) O governo pode abolir ou reduzir as transferências deixando expectativas nas populações locais, que devem ser respondidas pelo estado;

d) Repasses podem favorecer aliados políticos.

Instituições governamentais centrais:

Importância e tipos de instituições centrais

Em uma federação, as instituições políticas – legislativas, executivas, administrativas e partidárias – em nível central contribuem para definir-lhe a configuração e o caráter. Os arranjos institucionais dos entes federados e os do governo central costumam ser do mesmo tipo.

As instituições e práticas formais e informais do governo central podem ser:

a) Parlamentaristas ou Presidencialistas;

b) Conferir considerável peso às representações regionais;

c) Utilizar sistemas eleitorais majoritários ou proporcionais;

d) Possuir um partido político dominante, dois partidos que se alternam, ou múltiplos partidos de poderes distintos;

e) Adotar política cultural partidária do tipo “o vencedor leva o total dos votos”, ou baseada no consenso, com governos e mecanismos decisórios de base ampla.

SISTEMAS PARLAMENTARISTAS, PRESIDENCIALISTAS E MISTOS

No parlamentarismo as relações intergovernamentais são caracterizados por um “federalismo executivo”. O Gabinete é formado por membros do legislativo e precisa contar com a confiança da câmara baixa para se manter no poder.

Já no presidencialismo, o presidente é leito pela população e escolhe os membros de seu governo (ministros). Esses membros não necessitam da confiança do legislativo para permanecer no cargo.

Temais relacionados:

- Câmaras altas e representação territorial;

- Princípios de representação;

- Poderes das câmaras altas (Senado);

- Partidos políticos;

Bases legais do federalismo:

“Uma efetiva governança federativa precisa basear-se em uma Constituição escrita e do Estado de Direito. A Constituição estabelece o arcabouço fundamental e os princípios norteadores da federação. Uma Constituição também pode tornar-se simbolicamente importante na promoção de unidade ou divergência no país. As Constituições variam muito quanto a aspectos como extensão, especificamente a acessibilidade”.

Arbitragem Constitucional:

A existência de duas ou mais ordens de governo independentes em uma federação cria a demanda por um árbitro constitucional, capaz de resolver os conflitos em torno das respectivas competências. Esse papel geralmente é confiado aos tribunais (STF, no Brasil, Suprema Corte, nos EUA, etc.)