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Felipe Sales Mariotto
A Festa
1ª Edição
2014
Felipe Sales Mariotto
A Festa
A FESTA
SALES MARIOTTO, Felipe.
1ª Edição – 1.000
Fevereiro de 2014
Arte da Capa
Asè Criações Editoriais
Imagens da Capa
© CanStockPhoto / Andres / jannoon028
Revisão e Diagramação
Asè Criações Editoriais
2014 © Felipe Sales Mariotto
Todos os direitos reservados.
É proibida a reprodução deste livro com fins comerciais sem prévia autorização do
autor.
Este livro, apesar de citar diversos locais, marcas e afins,
que realmente existem, é uma obra de ficção, inspirado, todavia,
em isolados acontecimentos reais que em nada se relacionam
com tais entidades.
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CAPÍTULO 1
Hoje não tinha peso na consciência por não ir à
academia. Richard acordou disposto a desfilar seu corpo pela
orla de Ipanema, o metro quadrado com mais gente bonita em
todo o mundo. Passavam das nove horas quando acordou.
Abriu a cortina para mirar o céu. Ele estava mais azul que
nunca! Pulou da cama, encaixou o iphone nas caixas de som do
banheiro e, ao som de David Gueta, mais alto que de costume,
tomou um banho para despertar. O som alto, é claro, era para
facilitar com que Ítalo, seu atual namorado, levantasse mais
rápido.
Chegaram na praia às dez, no mesmo posto nove de
sempre. No caminho do apartamento à orla, Ítalo já havia
telefonado para Bella e Pablo. Ele não gostava muito de sair a
dois, achava meio monótono. Richard já sabendo disso, nem
questionou.
Quando os dois andavam no sentido das cadeiras de
praia, já podiam sentir rostos se virando para admirá-los.
Trabalhavam como modelo, assim como os outros amigos que
estavam para chegar, e, mesmo já acostumados a chamar
atenção, nada mais prazeroso que alimentar o ego.
Apesar desse vislumbre de “centro das atenções” ser
diário, Richard sentia uma pontada de ciúmes não declarado
por Ítalo. Era a primeira vez que realmente gostava de alguém,
e encontrava-se independente para demonstrar isso. Sentia-se
livre, com seu dinheiro e seu canto. Mas amar o belo, ele sabia,
era bastante complicado.
“Olha quem vem vindo ali! Pedro veio também, que
milagre!”, Richard apontou para o calçadão.
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Mais três beldades a usar as areias de Ipanema como
passarela. Todos os cinco eram lindos, quase uma pintura da
natureza. Era raro irem à praia nesse horário, afinal tinham de
cuidar da pele. Outros olhares, nada discretos, flechavam os
cinco, agora reunidos.
“Pedro, que boa surpresa te ver. Pensei que não
gostasse mais da gente.” Ironizou Ítalo.
Pedro era namorado de Isabelle, ou Bella, apelido nada
mais condizente com sua beleza. Ele era moreno claro, de
peitoral avantajado, cabelos encaracolados, lábios carnudos e
grandes olhos negros. Típico menino do Rio, como diria
Caetano Veloso. Ela, por sua vez, era uma boneca de porcelana
com vida. Pálida, porém com lábios bem vermelhos. Olhos
azuis e longos cabelos castanhos claros. Um olhar meigo e uma
fala quase angelical, encantadora...
“Que nada!”, respondeu em poucas palavras Pedro.
“Fala, galerinha feinha! Esse sol todo e vocês na praia?
Vampiros não gostam de sol. Quantos tubos de protetor já
gastaram?”, abraçando Ítalo e Richard, na altura do pescoço,
sorriu Pablo.
“Vai dizer que vocês não são vampiros também?”,
interveio Richard.
O mar estava cristalino, e a praia lotada. A refrescância
proporcionada por essa água na pele suada de um dia quente,
era algo indescritível. No auge dos seus vinte e poucos anos,
eles exalavam saúde e sedução. Muitas vezes a ideia de uma
carreira passageira passava pela mente deles, algo que o tempo
faria questão de destruir, com rugas e manchas, mas todos,
exceto Pedro, aparentavam não estar se preocupando com isso.
Viviam o agora. Isso era tudo que eles tinham.
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“Pessoal, acho que vou fazer uma faculdade. Acho não,
vou fazer, já até me matriculei.”. Pedro falou, quase
desabafando.
Ítalo: “Pra que isso, meu amigo? Você não vai ter tempo
de curtir essa vida... Essa juventude!”.
Pablo: “Assino em baixo. Deixa esse negócio para
depois, meu filho. Para quando você tiver todo enrugadinho e
com a bunda murcha”.
Bella, retirando os óculos escuros e mordendo uma de
suas hastes: “Eu disse isso para ele. Não sei por que tanta
ansiedade. Nem como juiz vai receber a grana que a gente
ganha”.
E, finalmente Richard: “Deixa ele. Deve ter seus
motivos... Vocês vivem se metendo na vida dos outros. Mas diz
aí, Pedrão, para que vai fazer a faculdade? Ainda se lembra de
alguma coisa da escola?”
Pedro “Cara, acho tudo que fazemos muito vazio.
Gosto da grana, é claro. Não vou ser hipócrita. Mas quero mais.
Quero usar minha massa cinzenta. O que está dentro também,
não apenas a embalagem!”
Todos riram.
Ítalo, piscando: “Falou bonito, hein Pedrão!”.
Já estavam na praia há três horas e a fome deu seu
alarde, assim como as bochechas de Bella, já bem rosadas. Iriam
se encontrar à noite, na boate Baronetti.
Contra o gosto de Ítalo e Pablo, resolveram ir embora.
Pablo, Bella e Pedro para o apartamento que dividiam na rua
Joana Angélica. E Richard e Ítalo para a Farme de Amoedo,
onde iriam almoçar uns tacos no mexicano Rota 66, e depois
voltariam para casa.
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Não demorou muito para estarem na king size do
quarto deles. O calor de corpos pós-praia e a juventude,
explodiram em desejo, numa tarde carioca. Nem terminaram o
banho e, mesmo molhados, caíram na cama, com tanta
agressividade, que pareciam brigar. Os lençóis já estavam no
chão do quarto, junto com as sungas. O ar condicionado em 16
graus não impedia o suor, nem o barulho dos gemidos de
Richard, a cada forte estocada de Ítalo. Há uma semana não
transavam, e a excitação veio com tudo nesta tarde.
Ítalo abraçou Richard com tanta força na hora do
orgasmo, que deixou um vermelhão no braço do namorado.
Adormeceram um quase sobre o outro. Os compridos e
louros cabelos de Ítalo cobriam a mancha, cor café com leite,
em forma de um torto coração, no antebraço de Richard. Os
dois assim, pelados, com corpos esculturais, um sobre o outro,
dormindo no novo colchão branco, pareciam uma pintura
digna de uma galeria de arte.
Cinco horas depois, novamente Richard acorda antes de
Ítalo. Está revigorado. Volta ao banho e dessa vez sem ligar o
som, vagarosamente relaxa sob a água morna. Vai à cozinha e
traz um café com bolo para acordar o namorado. O dia
mostrava-se perfeito, como há tempos não acontecia, pelas
constantes discussões entre eles, mesmo pelos menores
motivos.
Richard olha o relógio, já são quase dez da noite. Esse
final de semana seria de curtição. No próximo, estariam
participando de uma semana de moda na Marina da Glória,
onde muitos patrocinadores e empresários do ramo estariam
presentes, o que sempre é uma vitrine. Durante a semana
evitaria o álcool, malharia muito e faria dieta. Hoje e amanhã,
meteria o pé na lama!
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Começou a se arrumar. A cera no cabelo preto
arrepiado, a calça jeans bem justa e a camisa social da marca
Reserva realçando sua musculatura definida, não fariam feio.
Usou maquiagem para esconder as olheiras.
No outro banheiro, Ítalo prendia o cabelo. Usava uns
óculos pretos mais para realçar seus olhos azuis do que para
corrigir algum problema de vista. Vestia um jeans desbotado e
uma camisa polo preta.
A imagem era o cartão de visita deles. Precisavam disso.
Aguardavam a carona dos amigos, que moravam tão perto deles
quanto da boate, mas iriam de BMW X1 laranja, dado pelo pai
de Pablo há alguns meses, justamente com o intuito do impacto
ao chegarem.
Caía uma garoa, contrastando com o restante do dia,
quando pararam na frente da boate e entregaram o carro a um
manobrista. Algumas pessoas se aglomeravam na entrada, como
se esperassem uma autorização para entrar ou tivessem sido
barradas. Eles, sem a menor cerimônia, cumprimentaram o
segurança e avançaram, sob os olhares disfarçadamente
espantados de algumas pessoas. O segurança alegou que tinham
nome na lista, o que não era verdade.
O espaço era pequeno e estava lotado.
Pablo: “Vamos tomar uma rodada só para animar? Você
quer o quê, Pedrão, leite mesmo?”
Pedro: “Vai se foder! Pede um energético para mim...”
Praticamente o espaço se abria para que Pablo e Bella
chegassem ao bar, sem um mísero pedido de licença.
Todos gostavam de beber muito, exceto Pedro. Não
que ele não tentasse gostar, mas realmente o paladar do álcool
era algo não bem aceito por seu corpo. Era só ingerir um pouco
que logo vinha uma dor de cabeça de desanimar.
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Bella: “Tá animadinho hoje, hein! Viu o passarinho
verde?” Rindo para Richard.
Ele respondeu sem palavras, mas com uma risadinha de
canto de boca característica.
Muita gente os paquerava, mesmo Isabelle, que estava
acompanhada, sem que Pedro desse a mínima para os outros,
pois já estava acostumado com isso. Bastava, entretanto, alguém
tentar uma aproximação maior, que o tempo fechava e seria
confusão na certa. Ele confiava nos amigos para que o
ajudassem a olhar por ela. Exceção para ele, o Ítalo. E sempre
ajudavam, visto que não era muito adepto das noitadas, ao
contrário da namorada, que gostava de se divertir até
amanhecer.
Sentaram os cinco em um sofá rosa, para descansar um
pouco as pernas. Na verdade, os seis. Pablo já estava
acompanhado de uma linda loira. O camarote fora reservado
por ela e algumas amigas, que não se importaram em ceder o
espaço para os novos convidados por um tempo. Foi só ela dar
uma palavrinha na orelha do segurança e pronto, resolvido.
Sempre estava na companhia de lindas mulheres e, por
vezes, de alguns homens também. Para ele, o que importava era
o tesão do momento. Como dizia: “sinto tesão pelo ser
humano!”.
Todos já tinham bebido bastante. A música eletrônica e
house faziam a vez dessa noite. Quando ia para seu quinto sex
on the beach, Isabelle deixou o copo na bancada e, totalmente
desequilibrada, andou se escorando nos outros, até o banheiro.
Pedro com cara de poucos amigos aguardava na porta e, assim
que ela saiu, após cerca de quinze minutos de muitos vômitos e
ânsias repetidas, ele a chamou para ir embora. Só frequentava
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mesmo esses lugares por ela e porque tinha de dar as caras por
motivo da profissão.
Ela, é claro, disse que estava tudo bem. Era porque não
tinha comido. Mas não queria ir embora.
Pedro: “Bella, não tá vendo o seu estado? Você não está
bem, meu amor. Olha só, já são quase três horas... Se você
continuar aqui, você vai ficar pior. Vai dar vexame.”
Bella: “Então você está preocupado em eu dar ou não
vexame? Se estou bem ou não, pouco importa!”
Pedro: “Não é isso meu amor... Vamos embora,
vamos?”
Bella: “Não preciso que ninguém tome conta da minha
vida não. Depois volto com os meninos para casa. Vai, vai
dormir... Já passou muito da hora do neném da mamãe ir para a
cama...”
Com um olhar flamejante, saiu de perto dela. Pediu a
Richard, já que Pablo havia sumido com a médica loira, que
ficasse de olho e a trouxesse de volta. Com a cabeça quente,
pagou sua conta e voltou a pé para casa.
Ela retornou e nem perguntou de Pedro. Sabia que
tinha extrapolado um pouco com ele, mas definitivamente não
gostava de ser mandada. Essa liberdade conquistada há dois
anos, não tinha preço.
Vendo que Bella já tinha passado mal, Richard começou
a maneirar um pouco na bebida também. Ítalo estava de papo
com o barman, antigo conhecido dele. Só sorrisos de ambas as
partes. Pareciam estar falando de alguém. Richard acreditou que
fosse dele; e era.
Ítalo: “Sabe o que é, ele fica muito no meu pé. Gosto
dele, de verdade, mas é muito ciumento”.
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Rafael, o barman: “Também, com alguém assim como
você, até eu...” E chamando ele mais para perto... “E quando
vamos repetir a dose?”
Richard não via mais Bella, estava camuflada na
multidão. Preocupava-se com outra situação.
Chamou Ítalo, de longe e ele respondeu com um “Já
vou!”. Não esperou nem trinta segundos e se instalou ao lado
dele no bar, exato momento que o barman saiu de perto para
atender um cliente.
Richard: “Ítalo, você conhece esse cara? Por que tanto
risinho assim? Vamos ficar do outro lado. Bella não está bem.”
Ítalo: “Só me faltava essa. O namoradinho intelectual
dela não dá conta de tomar conta e eu que vou perder minha
noite fazendo o serviço de babá?”
Já aumentando o tom de voz, falando bem próximo do
ouvido de Ítalo: “Estou te pedindo para vir comigo para o
outro lado. Vamos aproveitar a música. Olha só, tá tocando Te
Sento, que você gosta...”
Ítalo: “E para que falar assim comigo? Tá com ciúmes
do Rafa...?”
Richard: “Rafa, quem é Rafa, o barman? Você o
conhece?”.
Ítalo, sem papas na língua, respondeu: “Foi um caso que
tive antes de te conhecer... Ouviu que eu disse? Antes de te
conhecer!”
Foi o estopim para estragar a noite de Richard, que
ficou praticamente mudo até a hora de ir embora, enquanto
Ítalo dançava exageradamente agora ao som de outra música.
Quando olhou para o lado esquerdo, viu Bella
adormecida, quase caída no sofá. Foi até ela, que estava toda
vomitada. “Meu Deus, para que tanta produção?”, Richard