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283 Contribuições da soCiologia fenomenológiCa de alfred sChutz para a ComuniCação 1 Camila GarCia KielinG Correio Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul Porto Alegre, RIo Grande do Sul, Brasil Email: [email protected]. 1 Artigo publicado, com modificações, nos Anais do XI Congresso de Ciências da Comuni- cação na Região Sul.

Fenomenologia e Tipificação

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Tipificação.

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    Contribuies da soCiologia fenomenolgiCa de alfred sChutz para a ComuniCao1

    Camila GarCia KielinG CorreioPontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul

    Porto Alegre, RIo Grande do Sul, BrasilEmail: [email protected].

    1 Artigo publicado, com modificaes, nos Anais do XI Congresso de Cincias da Comuni-cao na Regio Sul.

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    Contribuies da soCioloGia fenomenolGiCa de alfred sChutz para a ComuniCao

    Resumo: Este artigo introduz alguns conceitos da sociologia fenomenolgi-ca de Alfred Schutz (1899-1959) e relaciona-os com o campo da Comunica-o, tomando como base a obra A Teoria da Comunicao de Alfred Schutz, de Joo Carlos Correia (2005). Essa matriz terica interessa-se pelas relaes entre a conscincia humana e a definio da realidade atravs da produo e da partilha intersubjetiva de significados. Nesse sentido, os meios de co-municao atuam como mediadores, revelando, corroborando ou questio-nando as relevncias e tipificaes presentes na sociedade.Palavras-chave: Alfred Schutz; Comunicao; Fenomenologia; Jornalismo

    aportaCiones de la soCioloGa fenomenolGiCa de alfred sChutz para la ComuniCaCin

    Resumen: Este artculo presenta algunos conceptos de la sociologa feno-menolgica de Alfred Schutz (1899-1959) y los relaciona con el campo de la comunicacin, basada en el libro La Teora de la Comunicacin de Alfred Schutz, de Joo Carlos Correia (2005). Este marco terico se interesa por la relacin entre la conciencia humana y la definicin de la realidad a travs de la produccin y el intercambio de significados intersubjetivos. En este senti-do, los medios de comunicacin actan como mediadores, revelando, con-firmando o cuestionando las relevancias y las tipificaciones en la sociedad.Palabras clave: Alfred Schutz; Comunicacin; Fenomenologa; Periodismo

    Contributions of phenomenoloGiCal soCioloGy of alfred sChutz to CommuniCation

    Abstract: This paper introduces concepts of the phenomenological socio-logy of Alfred Schutz (1899-1959) and relates it to the field of communica-tions, based on the book The Communication Theory of Alfred Schutz, of Joo Carlos Correia (2005). This theoretical framework aims the understan-ding of the relations between human consciousness and reality, through the production and sharing of intersubjective meanings. In this sense, media acts as mediators, revealing, confirming or questioning the relevances and typifications in society. Keywords: Alfred Schutz; Communication; Phenomenology; Journalism

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    1 alguns dados biogrfiCos

    Alfred Schutz no foi um acadmico convencional. Somente dedicou-se de forma exclusiva a essa atividade a partir de 1956, aos 57 anos. Viveu gran-de parte de sua vida como funcionrio de um banco em Nova York, e im-possvel desvincular esse dado do valor atribudo vida cotidiana em seus pressupostos tericos.

    O estudioso portugus Joo Carlos Correia (2005), autor da nica obra em lngua portuguesa dedicada abordagem fenomenolgica schutziana da comunicao, informa que o autor nasceu em Viena, na ustria, em 1899. Judeu, cresceu em um ambiente de homens de negcios bem-sucedidos e teve uma educao slida, incluindo o estudo de latim, grego e apreciao literria e musical. Aos 17 anos, aps concluir os estudos secundrios, ser-viu na Diviso de Artilharia do Exrcito Austraco, durante a Primeira Guerra Mundial. A experincia do front teria grande influncia em seus textos, ao lado da atuao no mundo dos negcios.

    Aps o servio militar, Schutz voltou aos estudos. No nvel superior, dedi-cou-se Filosofia, Direito, Sociologia e Economia. Logo aps, iniciou a carreira nos negcios, com a posio de Secretrio Executivo da Associao dos Ban-queiros Austracos. Grande parte da influncia em seu pensamento advm da frequncia no Crculo de Ludwig von Mises, um dos numerosos crculos vienen-ses que reuniam intelectuais para promover discusses interdisciplinares. Foi atravs desses debates que Schutz entrou em contato com as obras de Henri Bergson e de Edmund Husserl, com os quais manteve longa correspondncia.

    Os movimentos de Hitler na Europa, em especial a anexao da ustria pela Alemanha, em 13 de maro de 1938, influenciam a carreira acadmica e de negcios de Schutz, que se exilou primeiro em Paris, e depois em Nova York, onde aportou em 1939. Nos Estados Unidos, torna-se cofundador da International Phenomenological Society e funda a revista Philosophy and Phe-nomenological Research, onde publica diversos textos, mais tarde editados sob o ttulo Collected papers. Participa da organizao do Departamento de Filosofia da New School of Social Research e, como j comentamos, apenas em 1956 passa a dedicar-se com exclusividade vida acadmica. Infelizmen-te, essa entrega dura pouco, com o falecimento de Schutz em maio de 1959. Sua mais importante obra, The structures of the life-world, foi finalizada pelo discpulo Thomas Luckmann e publicada postumamente, em dois volumes, datados de 1973 e 1984.

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    Assim, a trajetria de Schutz resume-se, nas palavras de Husserl, a ban-queiro de dia e fenomenlogo de noite (CORREIA, 2005, p. 31). Seu cami-nho biogrfico tem especial significado se coadunado com suas perspectivas tericas, onde o repertrio de conhecimentos adquiridos pelos indivduos ganha importante significado em suas relaes com o mundo da vida:

    [...] Este contato com o mundo do trabalho exterior academia e com as preocupaes cotidianas aguou o seu engenho descritivo e a sua excelente relao com o mundo prtico da cotidianidade, tornando ao mesmo tempo seus ensaios extremamente acess-veis e criativos para alm de extremamente rigorosos na funda-mentao terica (CORREIA, 2005, p. 31).

    A prpria forma de produzir de Schutz diz muito sobre sua posio como intelectual: sua obra majoritariamente constituda por textos curtos, en-saios independentes. Trata-se de uma produo fragmentada, caracterstica que pode ser explicada pelo curto tempo disponvel para os estudos, j que o cargo ocupado no banco exigia dedicao integral (WAGNER, 1979). Outro trao distintivo da produo de Schutz diz respeito ao intenso dilogo que ele estabeleceu com outros autores, como Husserl e Bergson, atravs da troca de correspondncias.

    2 a soCiabilidade na obra de sChutz

    Schutz incorpora o mundo da vida cotidiana na investigao sociolgica. Traz como objeto de estudo o mbito da sociabilidade, ou seja, o conjunto de relaes interpessoais e atitudes pessoais que, ainda que dependam de padres adquiridos, so pragmaticamente reproduzidas ou modificadas na vida quotidiana (CORREIA, 2005, p. 12). Nesse sentido, o autor parte da constatao de que a realidade construda socialmente atravs do conhe-cimento, ou seja, das diferentes atribuies de sentido que os seres huma-nos desenvolvem em determinados contextos.

    Berger e Luckmann (1991), autores que partem dos pressupostos teri-cos de Schutz para desenvolver sua Sociologia do Conhecimento, na obra A construo social da realidade, definem de forma bastante sinttica (mas efi-ciente) os conceitos de realidade e conhecimento, de forma que, como eles mesmos pretendem no livro, possamos tambm neste artigo dispensar as aspas nesses termos. A explicao necessria justamente pelo carter

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    de senso comum que invade os conceitos: o conhecimento e a realidade no podem ser os mesmos para o pesquisador social e o homem comum. A reali-dade constitui uma qualidade pertencente a fenmenos que reconhecemos terem um ser independente de nossa prpria volio (no podemos desejar que no existam) e o conhecimento a certeza de que fenmenos so-ciais so reais e possuem caractersticas especficas (p. 11).

    Em um exemplo bastante prosaico, isso explica porque no procuramos no mapa a localizao de nossa casa a cada vez que queremos nos dirigir a ela. Nossa casa uma realidade, e o conhecimento que temos sobre ela permite que nos desloquemos at l todos os dias, sem questionamentos.

    Tornando a questo mais complexa, o interesse sociolgico pela relao entre a realidade e o conhecimento justifica-se pela sua relatividade social: o que real para um monge tibetano pode no ser real para um homem de negcios americano (BERGER; LUCKMANN, 1991, p. 13). Ou seja: existem agrupamentos de noes de realidade e de conhecimento em contextos so-ciais especficos, que podem ser analisados sociologicamente.

    Fica claro, a partir de Schutz, que a intersubjetividade um elemento essencial na construo social dos sentidos. Correia (2005) explica que a comunicao [...] desempenha um papel estruturante nas manifestaes concretas de sociabilidade (p. 15-16). Os meios de comunicao aparecem, ento, como mediadores das subjetividades, atuando de forma contunden-te na construo da realidade, ao iluminar determinadas relevncias e afir-mar ou questionar as tipificaes presentes no mundo da vida, como vere-mos a seguir, com o aprofundamento desses conceitos.

    No terreno da sociabilidade, ocorre uma negociao entre os indivduos atravs do processo comunicativo, que permite que os sujeitos entrem em contato com os pensamentos uns dos outros, mas no de forma completa. Assim, a comunicao, de forma bastante frequente, tambm produz estra-nhezas, plano to importante quanto o do entendimento na produo de significados, segundo a teoria de Schutz:

    A comunicao implica a constituio de universos de significado comuns onde possvel compreender e sermos compreendidos graas a um processo de gerao recproca de expectativas no de-curso da qual construmos uma idia partilhada de realidade (COR-REIA, 2005, p. 16).

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    Assim como torna possvel esses universos de significados comuns e a coeso da noo de realidade no tecido social, veremos que a comunica-o tambm oportuniza o questionamento e o tensionamento do que tido como comum ou natural na vida cotidiana.

    A atitude natural, o mundo da vida e seus significados

    importante entender o lugar onde ocorre a experincia, dada sua cen-tralidade na formao da conscincia. Para Husserl, um dos principais te-ricos que embasaram o pensamento de Schutz, esse lugar o mundo da vida, ou Lebenswelt. Trata-se da vida cotidiana, do modo como percebemos, interpretamos e agimos no mundo em que nos encontramos. aquilo que est dado e sobre o qual a dvida est suspensa; o entendimento comum e adequado daquilo que nos cerca (CORREIA, 2005, p. 34).

    O mtodo proposto por Husserl, para entender os fenmenos, tem como ponto de partida as experincias do ser humano. Para ele, a consci-ncia humana est sempre ligada a um objeto, material ou no. A constru-o desses objetos intencional, e se d na sntese dos diferentes olhares lanados pelos indivduos a eles, os quais so posteriormente relembrados de forma generalizada, tipificada (WAGNER, 1979). Assim, o mtodo feno-menolgico de Husserl sugere a reflexo sobre a conscincia, num proce-dimento chamado reduo fenomenolgica epoch onde o mundo da vida cotidiana colocado entre parnteses. Isso significa atingir o momento de conscincia anterior ao mundo que sempre foi assim, importando para o pesquisador como se d a construo dos significados. Desta forma seria possvel chegar ao eidos, ou seja, essncia dos fenmenos. Correia (2005) explica o processo da seguinte forma:

    pelo mtodo da reduo fenomenolgica, suspendendo a cren-a do investigador na existncia factual do mundo externo, que possvel revelar os atos intencionais pelos quais os fenmenos so constitudos na conscincia. [...]

    Graas epoch, o sujeito livra-se de seu entrave mais ntimo e secreto, a considerao do mundo como um pr-dado, alcanan-do absoluta autonomia em relao ao mundo e conscincia que dele possui (p. 35).

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    Trata-se, ento, de colocar entre parnteses o conhecimento prtico do mundo, os pressupostos das cincias e a existncia dos outros e de mim mesmo. Assim, no lugar de se regressar s coisas, regressa-se correlao entre a conscincia e as coisas. Em ltima anlise, interessa ao fenomenlo-go a construo dos significados.

    A anlise da atitude natural e do mundo da vida diz respeito socialidade, ao mundo dos homens que atribuem significado aos objetos e s aes que praticam. No plano cientfico, essa viso fundamenta uma Cincia Social com-preensiva, que tenta superar a relao sujeito-objeto que ocupa a histria do pensamento desde Descartes e do mundo quantificado da cincia moderna.

    Schutz parte de onde parou Husserl: da anlise do plano mundano, de-bruando-se em especial sobre a comunicao, a intersubjetividade e a so-ciabilidade. O fio condutor de seu pensamento a relao entre a conscin-cia e o mundo; e a forma que vivemos o mundo atravs da atitude natural:

    O mundo da vida cotidiana significar o mundo intersubjetivo que existia muito antes do nosso nascimento, vivenciado e interpreta-do por outros, nossos predecessores, como um mundo organiza-do. Ele se d agora nossa experincia e interpretao. Toda in-terpretao desse mundo se baseia num estoque de experincias anteriores dele, as nossas prprias experincias e aquelas que nos so transmitidas por nossos pais e professores, as quais, na forma de conhecimento mo, funcionam como um cdigo de refern-cia (SCHUTZ, 1979, p. 72).

    Esse conhecimento mo constitui um repertrio e, assim como a redu-o fenomenolgica, a atitude natural consiste em um processo de reduo. Trata-se da suspenso da dvida sobre uma realidade que preponderante sobre todas as outras:

    A certeza de que o mundo existe antes de mim e que vai continu-ar de eu sair sustenta a histria dos meus predecessores, a intera-o com meus contemporneos e consociados e os projetos que os afetaro e aos meus sucessores. A atitude natural trabalha com a certeza dos agentes quanto a uma realidade exterior a todas as subjetividades, tomando como dado o mundo existente e suas leis. S assim os agentes podem reproduzir, rotineiramente, as condi-es dessa realidade, que apreendida a partir do conhecimento de receitas e comportamentos, entendidos de um modo que permite assegurar a continuidade da ordem social (CORREIA, 2005, p. 38).

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    A epoch da atitude natural ocorre no mundo da vida, no cotidiano, onde os interesses so predominantemente do campo da ao, da pragmtica. Ou seja: no passamos o tempo todo questionando as nossas aes; grande parte delas est no terreno do evidente, do espontneo, de forma eminen-temente prtica. Schutz (1979) divide o mundo social em quatro submun-dos, de acordo com a experincia partilhada de tempo e espao:

    mundo dos consociados (Umwelt): o mundo em que compartilhamos tempo e espao com os outros, com a proximidade do face a face, criando, entre pessoas que se reconhecem como semelhantes, um relacionamento de Ns, com orientao-para-o-tu;

    mundo dos contemporneos (Mitwelt): Trata-se da orientao-para-eles, onde no h uma experimentao direta ou imediata de nossos con-temporneos. Esse mundo usa recursos de tipificao e caracterizado pelo anonimato;

    mundo dos predecessores (Vorwelt): o passado, acabado e feito, fixo e determinado;

    mundo dos sucessores (Folgewelt): futuro, totalmente indeterminvel.

    Conforme vamos nos afastando do Umwelt, as relaes tornam-se cada vez mais distantes, annimas e inacessveis experincia. Por isso, criamos processos de tipificao (grosso modo, generalizaes) para caracterizar nossos semelhantes. Em nossa conscincia, sintetizamos nossas interpreta-es das experincias pessoais e alheias para estabelecer relaes de fami-liaridade ou estranheza com o mundo.

    Assim, passado, presente e futuro se misturam no mundo da vida. Para Schutz, o corpo como um marco zero de coordenadas que permitem a orien-tao dos indivduos no mundo e que definem os conhecimentos que esto ao seu alcance ou potencialmente ao seu alcance. A estrutura espacial relaciona-se com a dimenso temporal da conscincia: o mundo ao meu alcance a face presente da corrente da conscincia; o mundo que pode ser recuperado de modo a estar de novo ao meu alcance a memria; o mundo que pode efe-tivamente vir a estar ao meu alcance a expectativa (CORREIA, 2005, p. 60).

    A atitude natural , portanto, baseada num conhecimento no mundo da vida, organizado pelas experincias partilhadas com contemporneos e predecessores e na projeo de nossos sucessores. Ao mesmo tempo, adi-ciona Schutz, a realidade cotidiana atravessada por outras realidades, pro-vncias de significado, e isso ocorre atravs da troca de experincias e da

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    transcendncia dos limites daquilo que julgamos real. Para alm daquilo que est prontamente ao nosso alcance, esto os espaos potenciais, possveis de serem alcanados. As mltiplas realidades relacionam-se com a possibi-lidade de transcender a quotidianidade atravs de smbolos (SCHUTZ e LUCKMANN apud CORREIA, 2005, p. 46).

    Assim, as provncias de significado no so estanques. Da mesma for-ma que os sujeitos dividem o que lhes parece semelhante, os elementos estrangeiros, marginais, atuam nessas provncias como um questionamento eminente de forma que [...] cada provncia de significado outra coisa no seno um domnio de crenas vlidas enquanto os sujeitos as partilharem (CORREIA, 2005, p. 48). tambm no terreno da sociabilidade e da comu-nicao que ocorre a transformao da vida cotidiana, do que dado como certo, rotineiro. Na fenomenologia social, o contato intersubjetivo, ou a co-municao, pr-requisito para toda a experincia humana imediata no mundo da vida (p. 50), o que faz com que o entendimento do prprio eu dependa da relao com os outros indivduos.

    No caso do discurso, do uso de palavras, a observao genuna do outro s se d quando possvel relacionar o discurso com uma indicao sobre as experincias subjetivas de quem fala, ou seja, com o que o outro quer dizer. Assim, Schutz, ao complementar a teoria husserliana de intersubjetividade, afirma que s podemos entender as intenes do outro atravs de dados do cotidiano, e no do que isso representa para essa pessoa subjetivamente em uma esfera transcendental.

    Ao adentrar nas formas mais remotas e annimas de interao subjetiva, Schutz aproxima a sua sociologia fenomenolgica da Comunicao Social. Nesse sentido, os conceitos de relevncia e tipificao so essenciais ao enten-dimento do conhecimento comum que est presente no discurso miditico.

    Relevncia e tipificao: conceitos-chave para a comunicao

    De forma simplificada, as tipificaes constituem as generalizaes usa-das na vida cotidiana como facilitadoras e simplificadoras do pensamento e das aes. So um acervo de conhecimento sedimentado cotidianamente atravs das experincias e do convvio social e que serve para viver e inter-pretar esse mundo. Correia (2005) explica:

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    Na tipificao, os objetos do mundo social esto constitudos den-tro de um marco de familiaridade e de reconhecimento proporcio-nados por um repertrio de conhecimentos disponveis cuja ori-gem sobretudo social. o que habitualmente Schutz designou de acervo de conhecimentos disponveis (p. 92).

    As tipificaes partem do pressuposto de que h uma ordem garantida, ou seja, que o mundo existe e faz sentido, podendo ser explicado por esse con-junto de conhecimentos disponveis. Ao lado da atitude natural, as tipificaes consagram a ordem social, numa esfera eminentemente relacionada prtica, e s rotinas. A crena nessa espcie de permanncia, o sempre foi assim, tam-bm o que orienta o modo como lidamos com o extraordinrio, o inesperado.

    Schutz questiona, ento, como possvel fazer cincia com base nas construes do senso comum. E nesse ponto que o autor defende a fun-dao da tipificao cientfica, a noo de tipo ideal, com base na vida coti-diana. Os tipos ideais constituem uma sntese cientfica, uma padronizao, uma cristalizao que ordena o estudo dos fenmenos sociais. Apoiado em Weber, Schutz situa esse esforo no sentido de um tratamento objetivo de realidades dotadas de significados subjetivos, onde o cientista assume o pa-pel de observador desinteressado, comparvel ao processo de aprendizado do estrangeiro, quando chega a uma cidade desconhecida, ou com o vetera-no de guerra que regressa para casa:

    O estranho... torna-se em essncia o homem que tem de colocar em questo praticamente tudo aquilo que parece inquestionvel para os membros do grupo do qual se aproximou.

    Para ele, o padro cultural do novo grupo no tem a autoridade de um sistema comprovado de receitas, e isso, se por nenhum ou-tro motivo, porque ele no participa da tradio histrica vivida atravs da qual o grupo se formou (SCHUTZ, 1979, p. 87).

    Assim, a figura do estranho ou do estrangeiro aparece na obra de Schutz como uma metfora do comportamento do pesquisador, no momento em que atribui sentido a processos de atribuio de sentido. O autor faz um paralelo entre o fazer cientfico do socilogo com a atividade de um cart-grafo que, no lugar de dados matemticos, usa os relatos dos moradores

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    da cidade para desenhar seu mapa (CORREIA, 2005, p. 95-97). O olhar do observador desinteressado torna-se possvel atravs dos tipos ideais, para os quais Schutz define quatro princpios aplicveis:

    1) Relevncia: diz que o problema selecionado pelo pesquisador cria, ele mesmo, um esquema de conceitos e tipos a serem utilizados. Ou seja: o pro-blema de pesquisa pede determinada organizao terica;

    2) Consistncia lgica: refere-se validade objetiva do objeto de estudo, que deve ser claro e ntido como a lgica formal;

    3) Interpretao subjetiva: o momento hermenutico, onde o cientista dever imaginar como construir um modelo de pensamento individual que lhe permita construir um conhecimento objetivo e verificvel de uma estrutura de significado subjetivo (CORREIA, 2005, p. 98). Aqui, h a indicao de que o pesquisador dever realizar o exerccio de despir-se de sua situao biogrfica ou, reconhecendo a impossibilidade de tal tarefa, aplicar o questionamento das tipificaes como regra: o que tido como sendo da maior relevncia num nvel passa a ser relativamente irrelevante noutro nvel (p. 98);

    4) Adequao: pretende a aproximao entre as construes cientfi-cas feitas sobre o objeto de pesquisa e as construes do agir cotidiano. preciso que o cientista se faa entender pelos seus contemporneos, ou seja: mesmo que se refira a algo distante no sentido histrico, social, moral ou econmico, deve buscar a compreenso, tematizao e explicitao dos contextos da experincia dos atores (CORREIA, 2005, p. 99).

    importante entender que as tipificaes esto submetidas socialmente sua relevncia, ou seja, orientao dos interesses e da ateno dos sujei-tos a um determinado assunto. A relevncia diz respeito ateno seleti-va pela qual estabelecemos os problemas a serem solucionados pelo nosso pensamento e os objetivos a serem atingidos pelas nossas aes (SCHUTZ apud CORREIA, 2005, p. 100). A orientao do olhar dos agentes sociais est relacionada com as tradies, com os costumes e, desta forma, a relevncia desempenha diferentes e importantes funes, como: determinar os fatos que devem ser tratados como semelhantes; funcionar como orientao e ajudar a construir um universo discursivo comum; favorecer e facilitar as inte-raes humanas. Mesmo derivando das relaes intersubjetivas, a relevncia nem sempre espontnea, podendo tambm ser imposta ou motivada.

    A variabilidade do sistema de relevncias tem importantes efeitos para a teoria da comunicao, dado que o mundo da vida, como vimos, um mun-do de significados intersubjetivamente partilhados, onde a linguagem atua

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    como sistema de tipificao:

    A comunicao entre os sujeitos se d no mundo da vida cotidiana e o processo de criao de significados baseia-se na memria das experincias. No cruzamento ou na comunicao entre essas me-mrias possvel transcender o mundo mais prximo de mim e vi-sitar outras provncias de significado. Mas isso no se d de forma fcil, clara ou direta. Apesar de constituir um elemento essencial da sociabilidade, Schutz no deixou nunca de ter em conta que a co-municao plenamente bem sucedida impossvel e que h sempre uma margem da vida privada do outro que me inacessvel e trans-cende as minhas experincias possveis (CORREIA, 2005, p. 106).

    Os processos intersubjetivos, incluindo a a Comunicao, para Schutz, desempenham um duplo papel, ou seja: promovem a coeso social, ao dar sentido ao mundo da vida cotidiana e, ao mesmo tempo, proporcionam a transcendncia das experincias, mesmo em face de sua imponderabilidade, falncia, ou incompletude. A transcendncia pode se dar de formas mais sim-ples, como na transposio de fronteiras espaciais (uma viagem, por exem-plo), ou mais complexas, como o sonho, o xtase, a experincia religiosa ou a proximidade da morte. importante ressaltar a diferena conceitual que Schutz consolida entre a intersubjetividade e a comunicao: [...] a intersub-jetividade prioritria em relao comunicao (CORREIA, 2005, p. 110). De modo que nem toda ao dotada de significado comunicativa, pois a comunicao marcada pela intencionalidade. A ao comunicativa espera, mais do que ser compreendida, produzir um determinado efeito no receptor.

    Assim, a palavra tem uma face fantasmagrica, pois refere e torna pos-svel o intercmbio das experincia interiores, mas as capta em si, de forma pura. No terreno da comunicao, essa caracterstica da linguagem est re-lacionada com a dificuldade de que o receptor entenda exatamente aquilo que o emissor quis dizer, pois:

    O que se comparte um significado lingustico e no uma experi-ncia, de tal modo que se origina uma possvel discrepncia entre o sentido que lhe d o que a pronuncia e o sentido alcanado por aquele que interpreta. A linguagem surge deste modo como um conjunto de tipificaes socialmente aceites, de acordo com um sistema de relevncia (CORREIA, 2005, p. 114-115).

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    As prprias palavras constituem uma pr-interpretao do mundo que pretendem referir: A linguagem constri o mundo na sua tipicalidade sen-do por isso o meio tipificador por excelncia atravs do qual se transmite o conhecimento socialmente relevante (CORREIA, 2005, p. 115).

    Os sistemas de relevncias e tipificaes, num dado momento histrico, so uma herana social que desempenha funes importantes, como: de-terminar os fatos e as situaes que devem ser tratados como homogneos; transformar as aes individuais em papis sociais tpicos ( aquilo que se espera de um homem de negcios ou de um monge); funcionar como um cdigo de interpretao e orientao dos indivduos em um determinado grupo, assim como um universo de discurso comum, para fins de compreen-so mtua; garantir a prpria perpetuao do sistema, atravs dos diversos meios de controle social; e, finalmente, dar origem aos sistemas de tipifica-es e relevncias individuais, colocando os problemas particulares no con-texto dos problemas do grupo (SCHUTZ, 1979, p. 119-120).

    Fica clara, portanto, a importncia dos sistemas de relevncia e tipifica-o nos postulados tericos de Alfred Schutz. atravs do contato inter-subjetivo que se d a ligao dos indivduos com a realidade j construda e, portanto, linguagem e comunicao esto no cerne da sociabilidade. A atividade dos meios de comunicao um dos elementos de ligao entre os indivduos e suas experincias, onde se manifestam e/ou criam-se as tipi-ficaes e as relevncias, j que eles influem decisivamente nos processos pelos quais qualquer corpo de conhecimento chega a ser socialmente esta-belecido como realidade (BERGER e LUCKMANN, 1991, p. 13-14).

    3 a fenomenologia soCial e a ComuniCao

    Vimos que a relevncia atua como um dispositivo pelo qual se elege o que importante para um grupo ou sistema social (CORREIA, 2005, p. 126-127) e que a partilha de significados entre indivduos determinante nas suas aes. A atuao dos meios de comunicao importante em ambos os aspectos, ou seja, na definio dos assuntos relevantes para a agenda pblica e tambm para a consolidao ou para o questionamento dos significados partilhados.

    Nesse sentido, cabe perguntar o que transforma fatos em notcias re-levantes, ou de onde surge o sistema de relevncias dado nos meios de co-municao. Correia (2005) apoia-se no conceito de valor-notcia1 para afir-

    1 Conceito oriundo das teorias de news making, centradas na questo da produo das

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    mar que os elementos que tornam um fato ou uma informao dignos de ocuparem o espao miditico [...] refletem a interseco entre o sistema de relevncias vigente na redao, no grupo profissional e no mundo da vida em que esto inseridos (2005, p. 128), alm das limitaes impostas pela organizao do trabalho jornalstico, as restries oramentrias e a interao com a audincia. Assim, entendemos que a relao entre a mdia e a relevncia no se d simplesmente na escolha das notcias, mas na forma como sua redao ajuda a determinar ou reforar o que importante.

    Nesse processo, a mdia age no terreno das tipificaes, reforando ou questionando as generalizaes construdas atravs da experincia e que definem a apreciao que fazemos de determinadas partes do mundo da vida. A informao midiatizada amplia a potencialidade daquilo que nos possvel experimentar, mas, em um primeiro momento, todas essas infor-maes so submetidas ao que j se sabe, ou seja, a um conhecimento pr-vio que j nos familiar:

    As tipificaes so a forma que a atitude natural do mundo da vida tem de lidar com a erupo generalizada da novidade. So o modo de estabelecer regularidades num mundo ameaado pela contingncia. So a forma de assegurar que possvel lidar com o mundo como at a. Obviamente que o ator, no mundo social, pa-rece menosprezar tal contingncia, tal novidade, tal estranheza. Age [...] como se o mundo lhe surgisse como uma evidncia tida por adquirida. Na realidade, o mundo da vida paradoxal. Como Schutz adivinha, um mundo pode ser instvel, marcado pela acele-rao das diferenas, pela erupo de acontecimentos permanen-tes. Porm, aos olhos dos agentes que o integram, as tipificaes permitem lidar com essas mudanas de um modo que lhes parece evidente. Nesse sentido, at acontecimentos como a morte so tipificados de um modo que lhes permite serem absorvidos pela viso relativamente natural do mundo que faz parte da vida coti-diana (CORREIA, 2005, p. 131).

    Esse processo revela um aspecto bastante interessante da produo de notcias, j que, de forma geral, como verificou Bourdieu (1997), a mdia trata cotidianamente do extracotidiano e, para que isso acontea, h uma parcela de construo, de produo de sentido, que relaciona o que considerado ex-traordinrio com a ordem natural do mundo da vida, tal como considerada nas

    notcias e trabalhadas por diversos autores. Correia cita Nelson Traquina como referncia.

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    diferentes condies de produo jornalstica. Assim, a noo de objetividade fica abalada, pois a realidade no pode ser separada da forma como interpre-tada pelo campo jornalstico, tomando emprestada a concepo bourdiana.

    As tipificaes envolvem tambm questes prticas de ordem espao-temporal, como a periodicidade do veculo e os limites de espao (toques, minutos), de forma que a informao midiatizada est sujeita a todo um quadro de tipos e relevncias tidos como aceitveis socialmente, seja na ex-perincia individual dos jornalistas, seja nos diversos fatores que influenciam o processo de produo. produzida uma orientao discursiva que cerceia a descrio da realidade, adequando-a ao veculo e comunidade onde ele est inserido. Explica Correia (2005):

    Os jornalistas so elementos essenciais na construo de imagens que s tem sentido insertas numa histria exemplar em que cola-boram todas as formas institucionais de narradores e o prprio p-blico. A estrutura subjacente acaba por percorrer formas diversas de relato de modo a proporcionar a adeso ou a repulsa. As ima-gens funcionam como os arqutipos que se usam para criar esse relato, inserindo-o de modo articulado no conjunto de narrativas dominantes numa dada cultura. De acordo com esta estratgia, a sociedade cria imagens negativas e positivas mas inscreve-as na concepo relativamente natural da comunidade. O risco o de que, deste modo, se desencadeie uma operao coletiva de natu-ralizao do que cultural que acentue a vocao alegadamente universal dos valores e vises transmitidos, omitindo os elemen-tos conflituais e contraditrios (CORREIA, 2005, p. 134).

    Desta forma, os jornais e jornalistas reforam as relevncias e tipificaes tidas como dominantes; ocorre uma correspondncia entre as rotinas profis-sionais e a atitude natural. Porm, muito do que dado como a priori na m-dia pode ser questionado, tensionado, posto em dvida. Chegamos, assim, a um dos pontos mais interessantes da atividade jornalstica: a objetividade.

    Como o pesquisador, o jornalista faz parte do mundo que observa e in-terpreta. Os prprios eventos que ele noticia j so, eles mesmos, constru-es da realidade. O desafio evitar que a proximidade com o senso comum se transforme em conformismo. A esta dificuldade metodolgica, a abor-dagem fenomenolgica schutziana responde com a afirmao do ponto de vista subjetivo, ou seja, com a incorporao do jornalista como observador, mas tambm agente do processo social. Esta situao propicia ao profissio-

  • Contribuies da soCiologia fenomenolgiCa de alfred sChutz para a ComuniCao

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    nal a possibilidade de conhecer outros mbitos de significado:

    Ao ganhar conscincia do seu estatuto de observador e partici-pante, o resultado poder ser a possibilidade de o jornalista se tor-nar ainda mais observador, desenvolvendo a confiana a suspeita (num sentido positivo), mais atento situao complicada que re-sulta da sua posio peculiar (CORREIA, 2005, p. 139).

    A interao entre provncias de significado no se d sem conflitos, de-sentendimentos ou falhas de comunicao, tanto no plano individual quan-to no coletivo. As contradies de uma provncia de significado s se tornam aparentes no contato com o estrangeiro, onde a posio natural perante o mundo questionada e provocada reflexo. As relaes polticas, por exemplo, pressupem o eminente contato entre diferentes, de forma que o dissenso e o desentendimento sempre estaro presentes. Nesse caso, a for-ma como um grupo se v (suas autotipificaes) entram em choque com as heterotipificaes de outrem, de forma a surgir antagonismo ou confronto. Esse encontro tambm pode gerar reflexo, relativizao e entendimento. Isso se manifesta tambm no espao miditico: as situaes comunicativas da vida cotidiana no so idnticas s do espao pblico e a interao entre elas um elemento essencial de sobressalto e contingncia, de introduo da estranheza e de questionamento da identidade (CORREIA, 2005, p. 147).

    4 Consideraes

    Dada a impossibilidade de reconstituir a experincia atravs da reflexo, como assinalou Schutz, cabe-nos, como pesquisadores da rea da Comuni-cao, buscar desenhar o melhor mapa possvel para o territrio de nosso objeto, com as ferramentas metodolgicas escolhidas. Nesse sentido, a So-ciologia Fenomenolgica de Alfred Schutz encarada como uma tentativa radical de ir alm das mais simples pressuposies bsicas, questionando a prpria ideia de conhecimento, dirigindo-se s prprias coisas, aos fenme-nos e s formas como eles nos aparecem (CORREIA, 2005):

    A concepo fenomenolgica implica, assim, a existncia de um determinado mtodo que se traduz na adoo de uma certa ati-tude. Pretende- se que o fenomenlogo enfrente o seu objeto de estudo com uma particular disposio da conscincia, com uma atitude caracterstica e com um modo particular de questionar sua relao com o objeto (p. 43).

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    Mesmo situando o pesquisador como elemento do real e utilizando a salvaguarda do ponto de vista subjetivo que a sociologia fenomenolgica permite, importante ressaltar que, como mtodo, ela no est entrinchei-rada no individualismo ou no conformismo; ao contrrio, pretende valorizar o conhecimento cotidiano expresso nos meios de comunicao como uma rica manifestao da construo de sentido em sua mais profunda polisse-mia, na fortuna dos estranhamentos e da impossibilidade que faz do fen-meno comunicativo um dos mais ricos para a pesquisa social.

    refernCias

    BERGER, Peter; LUCKMANN, Thomas. A construo social da realidade. Petrpolis: Vo-zes, 1991.

    BOURDIEU, Pierre. Sobre a televiso. Rio de Janeiro: Zahar, 1997.

    CORREIA, Joo Carlos. A teoria da comunicao de Alfred Schutz. Lisboa: Horizonte, 2005.

    MAFFESOLI, Michel. O conhecimento comum: Introduo sociologia compreensiva. Porto Alegre: Sulina, 2007.

    SCHUTZ, Alfred. Fenomenologia e relaes sociais. Rio de Janeiro: Zahar, 1979. WAGNER, Helmut. A abordagem fenomenolgica da sociologia. In: SCHUTZ, Alfred. Fenomenolo-gia e relaes sociais. Rio de Janeiro: Zahar, 1979.

    Camila Garcia Kieling

    Doutoranda no Programa de Ps-Graduao em Comunica-o Social da Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul (Porto Alegre, RS, Brasil). Mestre em Comunicao pela mesma instituio.

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