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1 Universidade Federal do Rio de Janeiro Centro de Ciências da Saúde Faculdade de Medicina Curso de Pós-graduação em Endocrinologia FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO CLEMENTINO FRAGA FILHO – UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO HUCFF / UFRJ Priscilla Gil 2006

FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

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Page 1: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

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Universidade Federal do Rio de Janeiro Centro de Ciências da Saúde

Faculdade de Medicina Curso de Pós-graduação em Endocrinologia

FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS

DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO CLEMENTINO

FRAGA FILHO – UNIVERSIDADE FEDERAL DO

RIO DE JANEIRO

HUCFF / UFRJ

Priscilla Gil

2006

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FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS

DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO CLEMENTINO

FRAGA FILHO – UNIVERSIDADE FEDERAL DO

RIO DE JANEIRO

HUCFF / UFRJ

PRISCILLA GIL

Rio de Janeiro

Março, 2006

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO APRESENTADA AO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA, DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO, COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS À OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM MEDICINA (ENDOCRINOLOGIA).

Orientadora: Profa. Alice Helena Dutra Violante

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FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

UNIVERSITÁRIO CLEMENTINO FRAGA FILHO –

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

HUCFF / UFRJ

PRISCILLA GIL

Orientadora: Profa. Alice Helena Dutra Violante

Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação / Corpo Docente da

Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) como parte dos

requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Medicina (Endocrinologia).

Aprovada por:

----------------------------------------------

Presidente da banca

---------------------------------------------- Prof.

----------------------------------------------- Prof.

RIO DE JANEIRO

Março, 2006

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Gil, Priscilla

Feocromocitoma – Perfil dos 27 anos do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho – Universidade Federal do Rio de Janeiro HUCFF/UFRJ / Priscilla Gil. – Rio de Janeiro: UFRJ / Faculdade de Medicina, 2006. xvii, f. ; 31 cm

Orientador: Alice Helena Dutra Violante

Dissertação (mestrado) -- UFRJ, Faculdade de Medicina, Programa de Pós-graduação em Endocrinologia, 2006.

Referências bibliográficas: f. -

1.Feocromocitoma 2. Tumor adrenal 3. paragangliomas 4.Catecolaminas 5. Metanefrinas 6. Adrenalectomia 7. Endocrinologia - Tese. I. Violante, Alice Helena Dutra. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Medicina, Programa de Pós-graduação em Endocrinologia. III. Título.

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AGRADECIMENTOS

• Agradeço ao Leonardo, meu marido, pela sua compreensão e todo seu amor;

• aos meus pais por todo suporte e ajuda diariamente dispensados e pelo seu amor

incondicional;

• ao meu irmão, o melhor presente que Deus me deu;

• à professora Alice Violante, minha orientadora, por esses dois anos de

convivência, amizade e principalmente por sua dedicação à orientação, dia-a-dia,

desta dissertação;

• ao professor Mário Vaisman, chefe do serviço de Endocrinologia do

HUCFF/UFRJ, exemplo de dedicação e profissionalismo.

• à Dra Helen Pessoni, ex-residente do serviço de cirurgia do HUCFF, pela ajuda

na revisão dos prontuários;

• a todos os professores da disciplina de Endocrinologia da UFRJ pelo

aprendizado obtido e incentivo durante esses dois anos.

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LISTA DE ABREVIATURAS:

- AADC: descarboxilase de aminoácido aromático

- ACTH: hormônio adrenocorticotrófico

- APUD: precursor amino de captação e descarboxilação

- B: benigno

- B: beta-bloqueador

- Bilat: bilateral

- Catec. Plasm: catecolamina plasmática

- Catec. Urin: catecolamina urinária

- CEP: Comitê de Ética em Pesquisas

- CID-10: classificação estatística internacional de doenças e problemas

relacionados à saúde – décima edição

- CMT-F: carcinoma medular de tireóide familiar

- COLS: colaboradores

- COMT: Catecolamina-O-metiltransferase

- COX 2: ciclo-oxigenase 2

- CP: catecolaminas plasmáticas

- DA: dopamina

- DDBH: dopamina-beta-hidroxilase

- DM: diabetes mellitus

- DP: desvio padrão

- DPTA: diaminetriaminepentacetato

- ECG: eletrocardiograma

- Espor: esporádico

- F: fenoxibenzamina

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- Fam: familiar

- FC/PG: feocromocitoma/paraganglioma

- FC: feocromocitomas

- FDG: 18fluordeoxiglicose

- FV: fibrilação ventricular

- GDNF: fator neurotrófico derivado da glia

- GFR∝: receptor do fator neurotrófico derivado da glia

- H: horas

- HAS: hipertensão arterial sistêmica

- Hipert: hipertensão

- HPLC: cromatografia líquida de alta performance

- HU: Hounsfield Units

- HUCFF-UFRJ: Hospital Universitário Clementino Fraga Filho da

Universidade Federal do Rio de Janeiro

- ID: idade

- IECA: inibidores da enzima de conversão de angiotensina-aldosterona

- LOH: perda de heterozigose

- M: maligno

- Malig: malignidade

- Manipul: manipulação

- MAO: monoamino oxidase

- MAPA: monitoração da pressão arterial ambulatorial

- Metanef. Plasm: metanefrina plasmática

- Metanef. Urin: metanefrina urinária

- MIBG: meta-iodo-benzil-guanidina

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- N: número de pacientes

- NEM: neoplasias endócrinas múltiplas

- NF: neurofibromatose

- NIH: Instituto Nacional de Saúde

- P: prazosin,

- PAM: pressão arterial média

- Par: paroxismos

- PC: poucos pacientes

- PCR: parada cardio-respiratória

- PET: tomografia com emissão de pósitrons

- PG: paragânglio, paraganglioma

- PNMT: fenil-etanolamina-N-metil-transferase

- PO: pós-operatório

- POI: pós-operatório imediato

- POR: pós-operatório recente

- POT: pós-operatório tardio

- PTH: paratormônio

- PVC: pressão venosa central

- RM: ressonância magnética

- SDH: subunidades da succinato desidrogenase

- SNS: sistema nervoso simpático

- TC: tomografia computadorizada

- TH: tirosina-hidroxilase

- UM: metanefrinas urinárias

- US: ultrassom

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- VEGF: fator de crescimento de endotélio vascular

- VHL: Von Hippel Lindau

- VIP: polipeptídeo intestinal vasoativo

- VMA: ácido-vanil-mandélico

- Vol: volume

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ÍNDICE:

Página

1. Introdução 1

2. Revisão bibliográfica 3

2.1. Anatomia e embriologia e sistema simpático-adrenal 3

2.2. Fisiologia da medula adrenal e sistema nervoso simpático-adrenal 6

2.3. Síntese de catecolaminas 11

2.4. Metabolização das catecolaminas 12

2.5. Feocromocitoma: manifestações clínicas 13

2.6. Síndromes genéticas associadas a FC 17

2.6.1. Feocromocitoma e neoplasia endócrina múltipla 19

2.6.2.Feocromocitoma e neurofibromatose (NFL) 20

2.6.3.Feocromocitoma associado a von hippel-lindau (VHL) 20

2.6.4.Paragangliomas e a família da succinato-desidrogenase 23

2.7. Diagnóstico 24

2.7.1. Diagnóstico laboratorial: 25

2.7.2. Diagnóstico por imagem dos feocromocitomas 34

2.8. Tratamento: 41

2.8.1.Exames pré-operatórios para o risco cirúrgico: 41

2.8.2. Preparo pré-opertatório (alfa-bloqueio): 42

2.8.3. Manejo anestésico per-operatório: 44

2.8.4 Manejo cirúrgico: 47

Page 11: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

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2.8.5. Alterações metabólicas e necessidade do uso do corticóide 49

2.8.6. Seguimento pós-operatório: 50

2.8.7. Diferenciação do fc benigno do maligno: 51

3. Objetivos: 53

3.1. Objetivo primário: 53

3.2. Objetivo secundário: 53

4. Pacientes e métodos: 53

4.1 Análise retrospectiva: 53

4.2. Critério de inclusão: 54

4.3. Critérios de exclusão 54

4.4. Banco de dados e variáveis estudadas 55

4.5. Análise prospectiva 57

4.6. Análise estatística: 58

5. Resultados: 58

6. Discussão: 78

7. Conclusões: 93

8. Referências bibliográficas 95

9. Anexos 101

9.1 Protocolo de coleta de dados 101

9.2 Tabela descritiva dos casos 105

Page 12: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

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LISTA DE FIGURAS:

FIGURA PÁGINA

Figura 1: Origem embriológica das adrenais e sistema simpático-adrenal 4

Figura 2: Esquematização da ação tecidual das catecolaminas 10

Figura 3: Esquematização da síntese e metabolização das catecolaminas 12

Figura 4: Algoritmo segundo bravo e cols, 2002 28

Figura 5: Algoritmo diagnóstico, segundo karel pacak, NIH, 2004 28

Figura 6: Algoritmo diagnóstico segundo sawka e cols (mayo clinic), 2003 29

Figura 7: Imagem de ressonância magnética 37

Figura 8: Imagem com meta-iodo-benzil-guanidina 40

Figura 9: Adrenalectomia bilateral, com tumor amarelo pardacento visto em ambas adrenais

49

Figura 10: Prevalência dos sintomas apresentados ao diagnóstico 59

Figura 11: Número de sintomas apresentados pelos pacientes 60

Figura 12: Número de pacientes com catecolaminas ou metanefrinas aumentadas

62

Figura 13: Dosagem laboratorial de 18 pacientes 62

Figura 14. Complicações per e pós-operatórias 68

Figura 15: Distribuição de nossos casos quanto a alguns aspectos clínicos. 77

Figura 16. Evolução dos 22 casos 77

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LISTA DE GRÁFICOS:

GRÁFICO PÁGINA

Gráfico 1. Comparação dos volumes tumorais (em cm3) em relação aos resultados positivos ou negativos do US.

65

Gráfico 2. Idade da cirurgia segundo as complicações cirúrgicas. 72

Page 14: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

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LISTA DE TABELAS

TABELA PÁGINA

Tabela 1: Efeito causado pelo estímulo do receptor alfa ou beta-adrenérgico em cada tecido ou órgão

8

Tabela 2: Comparação entre os efeitos da adrenalina e noradrenalina no homem.9

Tabela 3. Medicações que podem precipitar uma crise hipertensiva em pacientes com FC

14

Tabela 4: Correlação da idade média de apresentação do FC com as síndromes genéticas mais comuns

18

Tabela 5: Valores de sensibilidade e especificidade das diversas dosagens de catecolaminas e seus metabólitos, de acordo com três diferentes autores

28

Tabela 6: Drogas que podem gerar falso-positivo nas dosagens plasmáticas e urinárias das catecolaminas e seus metabólitos

32

Tabela 7: Análise estatística do número de sintomas 60

Tabela 8. Exames laboratoriais realizados, prevalência de exames positivos (alterados)

63

Tabela 9: Correlação do volume tumoral com a positividade do US. 64

Tabela 10: Drogas utilizadas no preparo cirúrgico 65

Tabela11: Análise descritiva das variáveis numéricas tempo e dose de drogas para o total da amostra

67

Tabela 12. Acesso cirúrgico e suas freqüências 68

Tabela13: Correlação do número de sintomas com presença ou ausência de hipertensão na manipulação tumoral

69

Tabela 14. Análise estatística do volume tumoral. 69

Tabela 15: Análise estatística do maior diâmetro tumoral. 70

Tabela 16. Análise estatística da idade da cirurgia, correlacionando-a com as complicações ocorridas

71

Tabela 17: Pacientes com evolução para óbito 74

Tabela 18. Análise estatística entre o preparo pré-operatório com drogas versus complicações.

75

Tabela 19. Análise descritiva de algumas variáveis numéricas (idade, volume, diâmetro, tempo de follow up e número de sintomas) para o total da amostra.

76

Page 15: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

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Tabela 20. Comparação da casuística do HUCFF com outros autores em relação à presença de HAS

79

Tabela 21. Comparação dos sintomas apresentados em nossa casuística com o estudo paulista de Pereira e cols

80

Tabela 22. Comparação do estudo no HUCFF com outros autores, em relação a variáveis como: Idade, sexo (MxF), presença de paroxismos, HAS, bilateralidade, PG, malignidade, classificação de esporádico X Familiar e diâmetro tumoral

84

Tabela 23: Comparação das complicações deste estudo (HUCFF) com Plouin e cols, 2001

88

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RESUMO

FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO CLEMENTINO FRAGA FILHO –

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO HUCFF / UFRJ

PRISCILLA GIL

ORIENTADORA: PROFª. ALICE HELENA DUTRA VIOLANTE

Introdução: Feocromocitoma (FC), tumor produtor de catecolaminas, principalmente da adrenal. Causa hipertensão secundária, com alta morbidade. Diagnóstico requer diversos exames, mas com possibilidade de cura pela adrenalectomia. Objetivos: Descrever o perfil dos pacientes com FC do HUCFF/UFRJ no período de 1978 à 2005. Casuística e Metodologia: Revisão de 116 prontuários com CID de massa adrenal, hiperfunção adrenomedular, hipertensão secundária, e laudos histopatológicos adrenais. Identificamos 22 casos, analisando idade ao diagnóstico, apresentação clínica, diagnóstico laboratorial e por imagem, preparo cirúrgico, ato operatório e complicações per e pós-operatórias, histopatologia do tumor e seguimento pós-operatório. Resultados: Idade de apresentação dos 7 aos 65 anos, média de 38,32±18,47 anos, predominando mulheres , 16 casos (72%). Clínica florida (média de 6 sintomas) e os pacientes com paroxismos (45,5%) com tendência a maior número de sintomas. Mais comuns: cefaléia (15 casos), hipertensão sustentada e palpitações (13 casos), sudorese e emagrecimento (12 casos), Predomínio da hipertensão sustentada sobre paroxística (59% vs 31%) e 2 normotensos. Maior diâmetro tumoral de 2,5 a 12,5 cm, média de 6,9 ± 2,45 cm. Dosagem de catecolaminas e metanefrinas plasmáticas e/ou urinárias normais em 5 casos. Adrenalina urinária foi o exame mais freqüentemente positivo (87,5%). Diagnóstico de imagem por US e/ou TC e o funcional com MIBG. Preparo pré-operatório feito com alfa-bloqueadores, média de 36,5 dias de uso. Complicações cirúrgicas mais freqüentes no per ou no POI: hipertensão à manipulação do tumor e hipotensão à retirada do mesmo. Preparo pré-operatório com drogas evidenciou menor incidência de complicações. Acesso cirúrgico predominante foi laparotomia. Quanto mais tempo decorrido da cirurgia, maior a hipertensão à manipulação do tumor e maior a hipotensão à retirada do mesmo. Predomínio de casos benignos (77%), de localização adrenal (86%) e esporádicos (82%). Conclusões: FC tem apresentação clínica variada com diagnóstico sendo aperfeiçoado. Preparo pré-operatório deve objetivar sinais de bloqueio catecolaminérgico, previnindo complicações hemodiâmicas. Sucesso cirúrgico ocorreu na maioria dos casos, com baixa incidência de óbito no pós-operatório imediato. Palavras-chave: Feocromocitoma, tumor adrenal, paragangliomas, catecolaminas, metanefrinas,

adrenalectomia

ABSTRACT

Page 17: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

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“PHEOCHROMOCYTOMA – PROFILE OF 27 YEARS - ” HOSPITAL UNIVERSITÁRIO CLEMENTINO FRAGA FILHO –

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO HUCFF / UFRJ

PRISCILLA GIL

ORIENTADORA: PROFª. ALICE HELENA DUTRA VIOLANTE

“Abstract” da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em

Medicina, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à

obtenção do título de Mestre em Medicina (Endocrinologia).

Introduction: Pheochromocytomas (PC) are catecholamine-secreting tumors mostly situated in adrenal medulla, a cause of secundary hypertension with greated morbidity. The diagnostic is not easy, but a possible curable disease that has to be persecuty. Aims: Describe all cases with PC referred to our unit (HUCFF-UFRJ) between 1978 and 2005. Patients and Methods: Study of 116 patients with adrenal tumors, adrenomedular hiperfunction, secundary hypertension and histopathologic findings. In the 22 cases founded were studied age, clinical symptoms, laboratory and radiologic diagnostics, pre-operatory drugs, cirurgic complications, histologic findings and follow up. Results: Age 7 to 65 years old, average 38,32±18,47, mostly women (72%). Average number of adrenergic symptoms was six and 45,5% had spels. Most common: headache (15 cases), sustained hytertension and palpitations (13 cases), sweat and weight lost (12 cases). That was more sustained hypertension than paroxismal (59%vs 31%). Two cases of normotension. The tumor size was 2,5 to 12,5cm, average 6,9±2,45cm. Urinary and/or plasma catecholamine was normal in 5 cases and urinary epinephrine was the most positive laboratory exam (87,5%). Radiologic diagnostic was by US or CT and the MIBG. The pre-operatory was made with alpha adrentergic receptor antagonists, about 36,5 days of use. The most common surgical complication was important variation in the blood pressure during manipulation of tumor. Use of drugs in the pre-operation showed complications. Open laparotomy was most common surgical way. Once later the surgical procedure, more blood pressure complication occured. Benign cases: 77%, adrenal localization: 86%, sporadics cases: 82%. Conclusions: Multiple clinical presentation can be find in PC and the investigation have improved. The adrenergic state must be solved with drugs in the pre-operatory state to prevent hemodinamic complications. Surgery cure was achived in most cases, with low mortality. Key words: Pheochomocytoma, adrenal tumor, paraganglioma, catecholamine, metanephrine, adrenalectomy

INTRODUÇÃO:

Page 18: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

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Feocromocitomas (FC) são tumores de origem neuroectodérmica de células

cromafins, que se caracterizam pela produção, armazenamento, metabolização e

secreção de catecolaminas, gerando quadro clínico variável e inespecífico, tendo como

manifestação mais típica episódios de paroxismos de hipertensão arterial sistêmica

(HAS) associados a outros sintomas adrenérgicos (palpitação, tremores, sudorese,

cefaléia, palidez, entre outros). A importância do estudo dos FC decorre do fato de ser

uma causa curável de hipertensão arterial, principalmente quando acomete uma

população mais jovem.

A estimativa da prevalência mundial da HAS gira em torno de um bilhão de

indivíduos e aproximadamente 7,1 milhões de mortes por ano são atribuídas à HAS,

dados do sétimo Joint National Committee of high blood pressure.(1) A grande maioria

dos casos corresponde à HAS essencial, e apenas 1 em cada 400 a 800 hipertensos

terão FC (2).

Apesar de ser uma patologia rara (1,5 a 2: 100.000) (3), o diagnóstico deste

tumor neuroendócrino é de grande importância devido a grande morbidade gerada pela

HAS descompensada e as doenças crônicas associadas (retinopatia, cardiopatia, doença

coronariana, insuficiência renal crônica, vasculopatias periféricas) e alto risco de

complicações potencialmente fatais com alta mortalidade (4 vezes maior que a

população geral) (4). Atualmente pode-se obter, a partir de seu diagnóstico e retirada do

tumor, possibilidade de cura na maioria dos casos.

Os FC se localizam, em sua maior parte, na medula adrenal, porém 9 a 23% dos

casos podem ter origem em tecido cromafim extra-adrenal, neuroectodérmico (5,6),

sendo chamados então de paragangliomas (PG). Os locais mais comuns de PG são:

Órgão de Zuckerckland, cadeia simpática para-aórtica, mesentérica, celíaca,

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19

paraespinhal, além de bexiga, corpos carotídeos e raramente base do crânio e cordão

espermático.

Na maioria das vezes os FC são únicos, esporádicos e benignos, mas podem ter

apresentação bilateral e serem malignos em 10 a 13% (7), principalmente quando em

associação com síndromes genéticas familiares (variando de 10 a 25%), entre elas as

neoplasias endócrinas múltiplas (NEM) o que traz grande morbi-mortalidade a esses

casos.

As síndromes de NEM são uma doença autossômica dominante,

tradicionalmente divididas em tipo 1 e tipo 2, com subtipos 2A e 2B. Os FC, em geral,

não fazem parte da NEM tipo 1, mas são componentes da tipo 2A (junto ao carcinoma

medular de tireóide e adenoma de paratireóide) e 2B (FC associado à carcinoma

medular de tireóide e neuromas de mucosa).

Outras associações de FC com doenças genéticas incluem a doença de Von

Hippel Lindau (VHL) e Neurofibromatose (NF), além de outras síndromes genéticas

mais recentemente descobertas que compreendem PG familiares onde é encontrada

mutação germinativa do complexo mitocondrial da subunidade D da succinil-

desidrogenase (SDHD).

A variabilidade do quadro clínico traz dificuldades ao diagnóstico, sendo o FC

uma patologia que imita muitas outras, desde distúrbios psiquiátricos, síndromes

coronarianas agudas, até outros tumores abdominais. Sendo assim, o diagnóstico do FC

exige a associação do quadro clínico a um conjunto de exames laboratoriais e de

imagem sendo, às vezes, necessário várias coletas em momentos diferentes para se obter

êxito pois, ao contrário da maioria das patologias, o FC não tem um marcador

diagnóstico, tornando sua identificação um desafio. Nas séries mais antigas (8) até 40%

dos FC não eram diagnosticados até serem descobertos em necrópsias, hoje o

Page 20: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

20

diagnóstico está otimizado em vista de exames laboratoriais e de imagem muito mais

precisos.

De grande importância também é o momento do preparo pré-operatório

objetivando um bom controle alfa-adrenérgico, essencial durante a adrenalectomia .

Após a retirada do tumor, é imprescindível acompanhamento pós-operatório, tendo em

vista o risco de recidiva do tumor e retorno dos sintomas.

O levantamento dos casos do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho da

Universidade Federal do Rio de Janeiro (HUCFF-UFRJ) nesses 27 anos nos faz

perceber as mudanças nas técnicas laboratoriais, de métodos de imagem, métodos de

preparo pré-operatório, métodos cirúrgicos e complicações per e pós-operatórias;

evidenciando a evolução no diagnóstico e manejo terapêutico desta complexa patologia.

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA:

2.1. ANATOMIA E EMBRIOLOGIA E SISTEMA SIMPÁTICO-ADRENAL:

A medula da adrenal e o Sistema Nervoso Simpático (SNS) originam-se da

crista neural, migrando ventralmente com as células que vão constituir os gânglios

simpáticos.

Na 6a semana de vida do embrião, um grupo de células mesodérmicas celômicas

se condensam como um pequeno grupo de células acidófilas formando o precursor do

córtex adrenal. Na 7a semana, este grupo celular é invadido por células neurogênicas

ectodérmicas (simpatogônias) que migram da crista neural, formando os primórdios da

medula adrenal. (9)

Figura 1: Origem embriológica das adrenais e sistema simpático-adrenal (10)

Page 21: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

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Figura 1 - Adaptada do livro: The Ciba Collection of medical Illustrations. The suprarenal glands. Netter F.H., editor.. Volume 4: Endocrine System and Selected Metabolic Diseases. Third edition. Ciba Pharmaceutical Company, 1974. p.77-107

Durante o 3° e 4° mês de vida do feto as adrenais excedem os rins em tamanho e

com 1 ano de vida alcançam seu peso adulto, com a relação de 1:28 (adrenal/rim). Ao

nascimento ainda existem massas para-medulares próximas à adrenal, involuindo na

infância.

A adrenal está localizada no pólo superior de cada um dos rins, o comprimento e

a largura variam de 2 a 3 cm, a espessura de 4 a 6 mm e o peso médio é de 5 a 7g. (9) A

adrenal direita está localizada próxima à veia cava e ao fígado e a esquerda tem forma

de meia-lua e se encontra antero-medialmente ao rim. Ambas se encontram ao nível da

12a vértebra torácica e estão no espaço retro-peritoneal, abaixo do diagragma. A rica

irrigação da adrenal direita é proveniente diretamente da aorta e de ramos da artéria

esplênica, intercostal e diafragmática. Já a esquerda tem sua irrigação da artéria renal

esquerda.

Page 22: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

22

Ao corte macroscópico a superfície da glândula é marrom e distinguível da

cortical amarela que a recobre. Sua superfície é envolvida por tecido areolar contendo

muita gordura e intimamente recoberta por uma fina cápsula fibrosa. A adrenal é

composta de córtex e medula, com anatomia e funções distintas.

O córtex possui três camadas (glomerular, fasciculada e reticular), com função

glicocorticóide, mineralocorticóide e produção androgênica. Já a porção medular que

ocupa 8 a 10% da glândula é extremamente vascularizada e consta de grandes células

cromafins dispostas em redes.(9) As células, irregularmente poliédricas, têm um

citoplasma com grânulos delicados responsáveis pela secreção de adrenalina, substância

que se cora em castanho pelo ácido crômico (quando utilizado o método hematoxilina-

eosina), gerando a nomenclatura de células cromafins ou células feocrômicas. Muitas

das pequenas massas de células cromafins persistem através da vida e recebem o nome

de paragânglios ou corpos cromafins, que são, na verdade, pequenos grupos de células

cromafins ligados a gânglios do tronco simpático, podendo estar presentes em diversos

locais do SNS: Pescoço (gânglios cervicais), mediastino posterior, ao longo da aorta, no

órgão de Zuckerkandl (para-aórtico), na pelve, na bexiga, plexo celíaco, renal,

hipogástico, carotídeo e adjacente à adrenal. Quando células cromafins destes locais se

tornam neoplásicas, passam a ser chamadas de PG funcionais. (9)

À semelhança do sistema simpático-adrenal, outros tecidos no organismo

também têm sua origem embrionária na crista neural. São exemplos disso tecidos

nervosos, melanócitos e a maioria das células que pertencem ao chamado sistema

APUD.

Pearse, em 1970, denominou sistema APUD um conjunto de células que tem

características citoquímicas e ultra-estruturais semelhantes: São capazes de captar

aminas e precursores de aminas e de descarboxilar esses compostos (Amine Precursor

Page 23: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

23

Uptake and Decarboxylation-APUD).(11,12) Esses mecanismos bioquímicos tornam

essas células potencialmente capazes de sintetizar uma variedade enorme de aminas

biogênicas (dopamina, noradrenalina, adrenalina, histamina, melatonina) e peptídeos

(ACTH, hormônio liberador de melanócitos, endorfinas, encefalinas, polipeptídeo

intestinal vasoativo-VIP, calcitonina, hormônio paratiróideo, etc). As células

pertencentes ao sistema APUD se distribuem difusamente no organismo, mais

freqüentemente em glândulas endócrinas, mas também em outros órgãos. Seus locais

mais freqüentes são: Hipófise anterior, células parafoliculares da tiróide, ilhotas do

pâncreas, paratireóides, células argentafins do tubo gastrintestinal e da árvore

brônquica, medula adrenal e paragânglios. A relação embriológica e funcional que o

sistema cromafim guarda com essa grande variedade de tecidos explica a associação de

FC com outras patologias endócrinas e não-endócrinas. Nas síndromes familiares de

neoplasias endócrinas múltiplas (NEM) pode ocorrer em associação a carcinoma

medular de tireóide e hiperparatireoidismo (NEM2A) ou carcinoma medular de tireóide

e neuromas múltiplos de mucosa (NEM 2B). A inclusão do sistema cromafim no

complexo APUD explica também a produção hormonal ectópica que pode ocorrer em

casos de FC.

2.2. FISIOLOGIA DA MEDULA ADRENAL E SISTEMA NERVOSO

SIMPÁTICO-ADRENAL:

A medula adrenal e o SNS fazem parte de uma unidade anatômica e funcional,

com origem comum na crista neural, chamada sistema simpático-adrenal.

O sistema nervoso simpático participa de forma vital na regulação homeostática

de uma ampla variedade de funções, tais como freqüência cardíaca, força de contração

cardíaca, tonus vasomotor, pressão arterial, metabolismo de carboidratos, entre outros.

Page 24: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

24

Em condições normais ocorre estimulação deste em resposta à atividade física, ao

estresse psicológico, a reações alérgicas, e outras situações de atenção máxima, com

conseqüente liberação de noradrenalina (também conhecida como norepinefrina) pelos

gânglios simpáticos, enquanto a medula adrenal colabora com o aumento das

concentrações de adrenalina (epinefrina), noradrenalina e dopamina.

A partir de então ocorrem diversas ações, através dos receptores alfa e beta

adrenérgicos: Ação excitatória periférica sobre músculo liso dos vasos sanguíneos

(vasoconstricção), inibição de outros músculos lisos como os da parede intestinal e

brônquios; ação excitatória cardíaca, com aumento da freqüência cardíaca e da força de

contração (receptor beta); aumento da pressão arterial (receptor alfa); ação metabólica,

com aumento da glicogenólise hepática e liberação de ácidos graxos livres do tecido

adiposo; ações na modulação da secreção de insulina; ações sobre o sistema nervoso

central, como estimulação respiratória, aumento do estado de vigília; ações pré-

sinápticas, que resultam em inibição ou facilitação de neurotransmissores, como

noradrenalina e acetilcolina. (13)

Os tipos de receptores teciduais e suas ações podem ser visto na tabela 1. As

ações da adrenalina e noradrenalina podem ser visualizadas na tabela 2 e figura 2.

Tabela 1: Efeito causado pelo estímulo do receptor alfa ou beta-adrenérgico em cada

tecido ou órgão

Tecido ou órgão Receptor Efeito

Miocárdio beta 1 Aumento da força e velocidade de contração

Page 25: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

25

Vasos sanguíneos alfa Vasoconstricção

Vasos sanguíneos beta2 Vasodilatação

Rim beta Liberação de renina

Glândulas sudoríparas

(palmares e plantares)

alfa Estimula sudorese

Bronquíolos beta2 Dilatação

Útero alfa Contração

Intestino alfa e beta Diminui motilidade e aumenta tônus esfincteriano

Pâncreas alfa Diminui liberação de insulina

Diminui liberação de glucagon

Pâncreas beta Aumenta liberação de insulina

Aumenta liberação de glucagon

Fígado beta Estimula glicogenólise

Tecido adiposo beta Estimula lipólise

Maioria dos tecidos beta Estimula calorigênese

Tabela 2: Comparação entre os efeitos da adrenalina e noradrenalina no homem

Adrenalina Noradrenalina

Freqüência cardíaca + -

Volume sistólico ++ ++

Page 26: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

26

Arritmias ++++ ++++

Fluxo sanguíneo coronário ++ ++

Pressão sistólica +++ +++

Resistência periférica total - ++

Fluxo sanguíneo muscular +++ -

Fluxo sanguíneo cutâneo -- --

Fluxo sanguíneo renal - -

Consumo de oxigênio ++ +

Glicemia +++ +

Respiração + +

+ significa aumento e – significa redução; o número de cruzes e traços significa a intensidade. Adaptada do livro Goodman and Gilman. As bases farmacológicas da terapêutica, oitava edição, 1990. (13)

Figura 2: Esquematização da Ação Tecidual das Catecolaminas

Page 27: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

27

Figura 2 - Adaptada do livro: The Ciba Collection of medical Illustrations. The suprarenal glands. Netter F.H., editor. Volume 4: Endocrine System and Selected Metabolic Diseases. Third edition. Ciba Pharmaceutical Company, 1974. p.77-107

2.3. SÍNTESE DAS CATECOLAMINAS:

As catecolaminas são formadas a partir do aminoácido tirosina por um processo

de hidroxilação e descarboxilação (figura1) que ocorre em todos os tecidos

neuroendócrinos (células APUD, conforme já citado). A maioria das reações é

citoplasmática, exceto pela hidroxilação da dopamina para noradrenalina, a qual ocorre

nas vesículas secretórias. O fator limitador na biossíntese das catecolaminas é a

Page 28: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

28

conversão da tirosina à 3,4-dihidroxifenilanina (DOPA) pela enzima tirosina-hidroxilase

(TH). Essa reação requer tirosina como substrato, além de oxigênio e ferro como co-

fatores. A TH é expressa apenas nos tecidos neuronais de produção de catecolaminas e é

regulada por diversos fatores como, por exemplo, o aporte de aminoácidos ou drogas

antagonistas. A liberação de catecolaminas pelos grânulos secretores ocorre em resposta

ao estímulo, com o respectivo aumento intracelular dos níveis de catecolaminas gerando

supressão da TH.

Após a formação da dopa, a descarboxilase de aminoácido aromático (AADC)

cataliza a descarboxilação da dopa para dopamina, um processo que pode ocorrer em

qualquer célula APUD no qual a dopa esteja presente. A dopamina é ativamente

transportada para vesículas para ser hidroxilada à noradrenalina pela enzima dopamina-

beta-hidroxilase (DBH).

Todas essas reações ocorrem tanto nos neurônios periféricos do sistema nervoso

simpático quanto nas células cromafins da medula adrenal. Porém, a conversão de

noradrenalina à adrenalina apenas ocorre no citoplasma da medula adrenal, pois exige a

existência da enzima fenil-etanolamina-N-metil-transferase (PNMT), que apenas está

presente neste local. Somente então a adrenalina é transportada de volta às vesículas de

armazenamento. Na medula adrenal normal, 80% das catecolaminas formadas é

adrenalina.

Adrenalina (ou epinefrina) é sintetizada e armazenada na medula da adrenal e

liberada para circulação sistêmica. Noradrenalina é sintetizada e armazenada nos nervos

periféricos do sistema simpático (cadeias ganglionares cervical, esplâncnica, celíaca,

mesentérica, pélvica, carotídea, entre outras) e também na adrenal.

Figura 3: Esquematização da Síntese e Metabolização das Catecolaminas

Tirosina TH

Page 29: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

29

Dopa AADC Dopamina DBH PNMT Noradrenalina adrenalina

COMT Ácido dihidroximandélico COMT Normetanefrina COMT metanefrina

MAO MAO Ácido-vanil-mandélico Legenda: AADC: descarboxilase de amino-ácido aromático TH: tirosina-hidroxilase DBH: dopamina-beta-hidroxilase PNMT: fenil-etanolamina-N-metil-transferase COMT:catecol-O-metiltransferase MAO: monoamino oxidase

2.4. METABOLIZAÇÃO DAS CATECOLAMINAS

As catecolaminas são metabolizadas até produtos biologicamente inativos por

processos de oxidação e metilação. São responsáveis pela metabolização das

catecolaminas duas enzimas: A Catecolamina-O-metiltransferase (COMT) e a

Monoamino oxidase (MAO). A COMT está presente em diversos tecidos,

principalmente fígado e rins, sendo responsável pela conversão da adrenalina e

noradrenalina à metanefrina e normetanefrina, respectivamente. Essas últimas são então

convertidas pela MAO (enzima mitocondrial presente em vários tecidos) à ácido-vanil-

mandélico (VMA) por desaminação oxidativa. A MAO também faz a oxidação da

adrenalina e noradrenalina à 3,4-dihidroximandélico, o qual é convertido pela COMT à

Page 30: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

30

VMA. A atuação da MAO tem grande importância na regulação do metabolismo de

noradrenalina, adrenalina e dopamina. (14)

2.5. FEOCROMOCITOMA: MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS

Além da HAS, a tríade clássica do FC é composta por cefaléia, palpitação e

sudorese, sendo que até 90% dos pacientes podem apresentar pelo menos dois desses

sintomas.

A HAS é a manifestação clínica mais típica, ocorrendo em 50% dos casos como

HAS sustentada, em 1/3 dos casos como HAS paroxística e existem ainda casos de

tumores que não geram hipertensão (menos de 5%). (15) A grande maioria dos FC

secreta predominantemente noradrenalina, apresentando-se nesses casos com HAS

sustentada. Os paroxismos geralmente são provocados por secreções episódicas de

dopamina e adrenalina.

Os pacientes com FC geralmente apresentam crises paroxísticas com os

sintomas da tríade mais HAS, associados ou não a outros sintomas adrenérgicos. As

crises têm duração variável, podendo ser de 15 minutos a vários dias, tendo vários

fatores precipitantes, com uma variação interpessoal. Entre esses fatores está a

ansiedade, labilidade emocional, decúbito lateral esquerdo, palpação abdominal, uso de

diversas medicações que podem favorecer a liberação de catecolaminas (tabela 3),

parto, cirurgias, indução anestésicas, uso de beta-bloqueadores. O excesso de

catecolaminas provoca aumento da resistência periférica causando hipertensão, sendo a

freqüência cardíaca variável. O débito cardíaco mantém-se normal devido à contração

vascular com diminuição do volume efetivo.

Tabela 3. Medicações que Podem Precipitar uma Crise Hipertensiva em Pacientes com FC

Page 31: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

31

Classificação Medicação

Opiáceos Morfina

Fentanil

Antagonistas dopaminérgicos Metoclopramida

Droperidol

Bloqueadores da recaptação de catecolaminas Cocaína

Anti-depressivos tricíclicos

Aminas simpaticomiméticas Anfetaminas

Tiramina

Descongestionantes

Agentes anestésicos Atracurium

Pancurônio

Hormônios Glucagon

ACTH

Outras drogas Fenotiazidas

Histamina

Contrastes iodados

Devido à vasoconstrição crônica, causada pelos receptores adrenérgicos

constantemente ocupados por catecolaminas em excesso, pode ocorrer down-regulation

dos receptores, ou seja, dessensibilização devido ao excesso de catecolaminas. Isso

pode gerar hipotensão postural, uma manifestação comum dos FC. A labilidade da

pressão arterial é devido a vários fatores: liberação episódica de catecolaminas, redução

dos reflexos simpáticos, depleção volumétrica (contração vascular), além de produção

pelo tumor de hormônios vasodilatadores como prostaglandinas e adrenomedulina. (16)

Esses mecanismos também podem explicar os pacientes que são normotensos, apesar de

apresentarem altos níveis de catecolaminas.

Manifestações cardiovasculares podem ocorrer em 20 a 30% dos casos (9), entre

elas: Cardiomiopatia dilatada, hipertrofia concêntrica de ventrículo esquerdo, miocardite

Page 32: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

32

por infiltração de células inflamatórias, síndrome coronariana aguda com infarto agudo

do miocárdio ou acidente isquêmico ou hemorrágico cerebral associados ao quadro de

hipertensão refratária, arritmias supra-ventriculares e ventriculares geradas também por

estado adrenérgico exacerbado.

Além da HAS, outros sintomas adrenérgicos são muito freqüentes e

extremamente variáveis, entre eles: cefaléia, palpitação e sudorese (tríade), além de

rubor, palidez, tremores, angina, náuseas, fenômeno de Raynaud, livedo reticular,

intolerância à glicose ou Diabetes Mellitus e perda de peso (20% dos casos). (9) Todas

estas são manifestações relacionados ao excesso de catecolaminas, além de poder haver

também sintomas por efeito de massa (dor abdominal por crescimento tumoral). Como

as manifestações clínicas do excesso de catecolaminas são extremamente inespecíficas,

a presença do FC pode vir a imitar diversas doenças, entre elas: Síndromes psiquiátricas

(síndrome conversiva, síndrome do pânico, distúrbio de ansiedade), síndrome

coronariana aguda, infecções agudas, hipoglicemia, hipertireoidismo, síndrome

climatérica, enxaqueca, uso de drogas, além do sintoma de dor abdominal (embora não

muito comum) podendo simular qualquer patologia intra-abdominal.

Frente ao avanço das técnicas radiológicas, atualmente tem-se diagnosticado

massas adrenais em pacientes assintomáticos submetidos a um exame de imagem por

outro motivo que não doença de adrenal. Neste caso classifica-se essa lesão como

incidentaloma. No estudo de Ferreira e cols, 2005, foram encontradas 101 (2,5%) lesões

de adrenais incidentais em 3382 pacientes submetidos à TC, sendo apenas 2,4% destas

relativas a FC. (17)

Todos os incidentalomas adrenais devem ser investigados para a possibilidade

de FC, seguindo um dos algoritmos diagnósticos (adiante) normalmente usado para

Page 33: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

33

investigação de FC. Assim, evita-se que uma massa adrenal que possa ser FC venha a

ser operada sem preparo adequado.

Outra apresentação clínica menos típica dos FC é associação à síndromes

genéticas. Nesse caso pode se apresentar inicialmente como um caso de carcinoma

medular de tireóide, fazendo parte da NEM 2A, ou associado a neuromas mucosos na

NEM 2B, ou com história familiar de FC (FC familiar isolado), ou associado a angioma

de retina, cerebelar e outros tumores apresentados na síndrome de Von-Hippel-Linda;

ou junto à neurofibromatose, apresentando manchas café-com-leite. Também pode

ocorrer como massa cervical, nesse caso podendo ser um tumor glômico (PG),

recentemente descobertos como causados pela mutação na unidade succinil-

desidrogenase do complexo-mitocondrial. Em todos esses casos genéticos, há uma

tendência a apresentação em idades mais precoces, sendo o diagnóstico dos familiares

também portadores da síndrome genética de grande importância.

A maioria dos FC é benigno, esporádico (90%) e unilateral, mas deve-se ter

atenção às idades mais precoces, onde então podem ser bilaterais em 10% a 35% das

vezes, (18) malignos (10% a 13%) (19) e, quando se trata de PG, a incidência de

malignidade pode chegar a 15 a 35% (20). Quanto à associação com doença genética,

pode ocorrer em 10 a 25% dos casos principalmente nas idades mais jovens.

(21,22,23,7) Em crianças, 30 a 43% dos FC podem ser multifocais e extra-adrenais e 26

a 35% possam ser malignos. (24)

Quanto se trata de FC esporádico, após a adrenalectomia, o risco de recorrência

em 10 anos é de 2%, enquanto em 15 anos, 7% e 9% após 20 anos de cirurgia.

Existe uma grande dificuldade na distinção do FC benigno do maligno. Pode-se

afirmar tratar-se de caso de malignidade quando há metástase à distância, sendo os

locais mais acometidos: Metástases ósseas, em linfonodos regionais, fígado e pulmão.

Page 34: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

34

(20) Quanto a critérios histopatológicos, não há definição correta, acreditando-se ter

uma maior chance de malignidade aqueles com maior anaplasia, com invasão de

cápsula e vasos, com adesão a estruturas vizinhas, com linfonodos acometidos. (25)

2.6. SÍNDROMES GENÉTICAS ASSOCIADAS A FC

Classicamente, o FC pode fazer parte de três síndromes clínicas: A neoplasia

endócrina múltipla tipo 2 (NEM 2), a síndrome de Von Hippel-Lindau (VHL) e

neurofibromatose tipo 1. Recentemente, a partir do ano 2000, foram descritas novas

alterações moleculares capazes de causar PG associados ou não a FC de adrenal. São

estas as mutações nas subunidades succinato desidrogenase B, C e D (SDHB, SDHC e

SDHD) do complexo mitocondrial II que estão associadas a 70% dos PG familiares de

cabeça e pescoço, conhecido como tumor glômico. (23,26)

Outra forma incomum de ocorrência é o FC familiar isolado, quando o tumor

ocorre em mais de um indivíduo da mesma família, porém sem estigmas e sinais

clínicos das doenças genéticas classicamente associadas (VHL, NF1, NEM 2A). Esses

casos estão sendo estudados, mas ainda não se tem um gen responsável, acreditando-se

que a maioria seja, na verdade, uma forma de apresentação frustra da síndrome de VHL

ou NEM2. A apresentação clínica do FC hereditário diferencia-se do esporádico pela

idade média menor nos pacientes com VHL e PG ou mutação no gen da

succinildesidrogenase; intermediária nos pacientes com NEM2 e maior nos pacientes

com FC não sindrômico ou esporádicos (visualizado na tabela 4).

Tabela 4: Correlação da Idade Média de Apresentação do FC com as Síndromes

Genéticas mais Comuns (27)

Síndrome genética Média de idade (em anos)

Page 35: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

35

VHL 18,3

SDHB 25,6

SDHD 28,7

NEM 2 36,4

FC esporádicos 43,9

Os FC esporádicos têm sido estudados quanto à sua origem genética e alguns

trabalhos demonstraram um baixo número ou mesmo ausência de mutações somáticas

nos diversos grupos analisados. (7,28,29,30,31) Eventualmente pode estar relacionado a

perda de heterozigose no cromossomo 1 e 22, à mutação do gen SDHD, ou do gen

supressor de tumor p53, (7,32) ou à deleções do gen p16, inibidor do ciclo celular. Há

trabalhos mostrando que até 8% dos FC esporádicos na verdade apresentam mutação no

gen VHL e até 10 a 20% podem ter mutação RET. (21) Até então, os mecanismos

genéticos responsáveis pelo fenótipo tumoral esporádico ainda não foram elucidados,

sendo questionado o valor do rastreio genético neste grupo de pacientes.

A partir do momento que o paciente tem o diagnóstico de FC, é necessário

procurar indícios clínicos de alguma possível síndrome genética associada, para

diferenciar se estamos lidando com um caso esporádico ou familiar, devendo ser tomada

a conduta adequada para cada caso.

2.6.1. FEOCROMOCITOMA E NEOPLASIA ENDÓCRINA MÚLTIPLA

As NEM 2 englobam três síndromes clínicas: NEM 2A, NEM2B e carcinoma

medular de tireóide familiar (CMT-F). A NEM 2A pode se apresentar com carcinoma

Page 36: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

36

medular de tireóide (95%), FC em 30 a 50% dos casos, hiperparatireoidismo devido à

hiperplasia ou adenoma das paratireóides (20 a 30%); enquanto na NEM 2B podem

estar presentes carcinoma medular (90%), FC (45%), neurinomas mucosos do trato

gastro-intestinal (ganglioneuromas) em 100% dos casos e hábito marfanóide (65%).(33)

O CMT-F se caracteriza pela exclusiva presença de hiperplasia ou carcinoma de células

C parafoliculares da tireóide (carcinoma medular), em pelo menos dois indivíduos

consangüíneos em primeiro grau, sem outros componentes clínicos. As NEM 2 tem sua

origem genética na mutação constitutiva do protooncogene RET, localizado no

cromossoma 10q11, que codifica um receptor com atividade tirosina-quinase. A

ativação do RET se faz através de um complexo composto por uma molécula ligante

chamada glial neurotrophic derived factor (GDNF), ou seja, fator neurotrófico derivado

de células gliais e por um co-receptor GFR∝, formando um complexo RET/GRFGDNF,

que ativa o receptor e transmite o sinal intracelular. Uma vez que ocorre uma mutação

no RET, o receptor fica constitutivamente ativado (autofosforilação independente da

ação do ligante), desenvolvendo a multiplicação ativa celular. A maioria das mutações

do RET é do tipo missense, ou seja, há substituição do aminoácido original, sendo as

mais comuns na NEM2A nos códons 609, 611, 618, 620 e 634 (esta última mais

freqüente, correspondendo entre 80 a 85% dos casos de NEM 2A). Na NEM 2B, as

mais comuns são nos códons 918 e 883. Existe ainda um pequeno número de pacientes

com NEM 2 onde não se detecta mutação no RET. Esses pacientes provavelmente têm

mutação na região intrônica, áreas que não são incluídas nos métodos tradicionais de

triagem de mutação.

Atualmente, indica-se para todos os pacientes com NEM 2 pesquisa genética da

mutação RET, além de tireoidectomia total associada a esvaziamento ganglionar desses

pacientes, que também precisam ser rastreados para FC e hiperplasia/adenoma de

Page 37: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

37

paratireóide. Em caso de haver mutação no RET, o estudo genético de seus ascendentes

e descendentes também se faz necessário.

2.6.2. FEOCROMOCITOMA E NEUROFIBROMATOSE (NF1)

Uma baixa percentagem (0,1 a 5,7%) de pacientes com neurofibromatose de von

Recklinghausen (NF) apresenta FC associado e o comportamento destes casos

geralmente é de FC solitário (80% dos casos), enquanto FC bilateral pode ser visto mais

frequentemente nas outras doenças genéticas. (14,34,35,36)

A origem genética da NF é uma mutação inativadora no gen da

neurofibromatose 1 (NF1), um gen supressor tumoral localizado no cromossomo 17,

codificador de uma proteína, neurofibromina. A ausência da neurofibromina resulta em

perda do mecanismo de regulação negativa do RAS, culminando com um estado de

proliferação celular sem controle.(37) Como a NF é uma doença polimórfica, com

extensa variação clínica dentro de um mesmo grupo familiar, não está claramente

estabelecido se a presença de FC em um indivíduo afetado determina um aumento no

risco de recorrência familiar do tumor em portadores de mutação no NF1. (7,38)

2.6.3. FEOCROMOCITOMA ASSOCIADO A VON HIPPEL-LINDAU (VHL)

VHL é uma doença genética por herança autossômica dominante, com uma

prevalência na população geral de 2-3 casos para cada 100.000 pessoas. A mutação

herdada irá predispor o indivíduo e seus familiares a diversos tipos tumorais, como FC,

hemangioblastoma cerebelar e retiniano, carcinoma renal (de células claras) além de

cistos renais, pancreáticos e de epidídimo. Trinta por cento dos pacientes com VHL

podem apresentar FC que, nesses casos, aparecem em idade mais precoce, com

tendência a serem bilaterais.

Page 38: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

38

Atualmente divide-se a síndrome de VHL em 4 grupos: Grupo 1 não apresenta

FC, grupo 2A com FC e hemangioblastomas mas com baixo risco para carcinoma renal,

grupo 2B com FC, hemangioblastomas e alto risco para carcinoma renal e grupo 2C

apenas com FC. (39)

O gen supressor tumoral responsável pela doença de VHL foi clonado no

cromossomo 3p25-p26. Diversos mecanismos genéticos podem estar envolvidos na

evolução da síndrome, sendo o mais classicamente conhecido uma mutação germinativa

do tipo missense, em um dos alelos, com conseqüente instabilidade genética do genoma,

gerando mutação somática do alelo remanescente, com perda da função daquele gen de

supressão tumoral (VHL). Este mecanismo é chamado do duplo golpe de Knudson,

responsável pela perda de heterozigose (LOH). Porém já se conhecem outros

mecanismos, e de acordo com a alteração genética, haverá o desenvolvimento de

determinado fenótipo. Esses mecanismos alternativos, que não por perda de

heterozigose são: por ganho de função, efeito dominante negativo, efeito da dose do

gen, ligação com a fibronectina e outros como a hipermetilação da citosina/guanidina.

A síndrome de VHL tipo 1 ocorre pelo mecanismo clássico de perda de função, já a

tipo 2A e 2B pode ocorrer por ganho ou perda de função enquanto 2C somente por

ganho de função. No caso de ganho de função ocorre a troca de um aminoácido que leva

a uma proteína VHL que se liga a outras proteínas; imaginando que a proteína VHL seja

uma chave, nesse caso haverá outra chave, preenchendo outra fechadura que abrirá

novas portas (caminhos funcionais). No efeito dominante negativo, a proteína mutada

influencia negativamente a atividade da proteína original (formada pelo alelo não

mutado). O outro mecanismo seria o efeito dose do gen, quando células diferentes

podem ter limiares diferentes para níveis de proteínas que determinam sua proliferação,

divisão, apoptose. Nesse caso, a perda de 50% da proteína normal VHL pode induzir a

Page 39: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

39

proliferação das células da medula adrenal em FC, entretanto não ser suficiente para

outros processos de tumorigênese. (39)

A importância do diagnóstico precoce do portador da mutação se dá pela chance

de acompanhar esse indivíduo, com exames de imagem e estudo genético, para

diagnóstico precoce dos tumores que poderiam possivelmente vir a serem

desenvolvidos.

A freqüência de associação de FC esporádicos com mutação VHL é

extremamente baixa, (7,22,29,30,40) exceto no grupo de Newmann, da região da

Floresta Negra onde possivelmente ocorre um “efeito fundador”. (27) Em 2002,

Newmann com seu grupo de Freiburg (Alemanha), observou uma alta freqüência de FC

hereditário em um grupo de pacientes moradores desta região, com características

clínicas de FC aparentemente esporádicos (não sindrômico, não familiar). Entre os 271

pacientes estudados, foi encontrada mutação em 24% dos casos, sendo 11% mutação

VHL, 5% mutação no RET e 8% mutação na subunidade SDHD e SDHB do complexo

mitocondrial II. A partir deste estudo, este grupo vem indicando rotineiramente a

pesquisa genética de todos os pacientes com FC, na busca de mutações no RET,

mutação VHL e mutações SDHD e SDHB. Porém a estatística destes autores não condiz

com os inúmeros outros trabalhos (7,21,22,23,28,29,30,40) nos quais, entre os

pacientes com FC esporádico, é encontrada mutação germinativa apenas de 1 a 5%.

Então, considera-se que o que ocorre no grupo de Newmann exista um “efeito

fundador” que tenha ocorrido naquelas famílias da região, já que na região da Floresta

Negra da Alemanha exista pelo menos 15 famílias com esse tipo de mutação, o que não

condiz nem mesmo com trabalhos de outras áreas do país, como o de Hiltrud Brauch e

cols, 1997, que estudou famílias em Munique. (40)

Page 40: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

40

A presença de mutações genéticas está mais presente do que se acreditava no

passado, até devido às melhores técnicas de pesquisa genética disponíveis atualmente,

mas provavelmente não alcança essa estatística relatada por Newman na maioria dos

lugares. Concluindo-se, não há estudos até o momento que comprovem a necessidade de

investigação de todos os pacientes com FC esporádicos, não havendo ainda custo-

benefício para tal investigação, devendo esta ser obrigatória apenas para os casos com

características sindrômicas e familiares e em nível de pesquisa.

2.6.4. PARAGANGLIOMAS E A FAMÍLIA DA SUCCINATO-DESIDROGENASE

A síndrome feocromocitoma/paraganglioma (FC/PG) é caracterizada pela presença

de PG, que pode estar bioquimicamente silencioso ou funcional (com secreção de

catecolaminas), associados ou não a FC de adrenal. (23,27,41) Recentemente, foi

descoberta a origem desta síndrome: Mutações germinativas nas subunidades

SDHB,SDHD e menos freqüentemente SDHC do complexo mitocondrial II. Essas

mutações são responsáveis por 70% dos PG familiares de cabeça e pescoço e talvez por

8% dos PG de cabeça e pescoço aparentemente esporádicos, se for considerado o grupo

de Newmann, (27) com o efeito fundador da Floresta Negra, dado este não concordante

com outros autores como Sarah R. Mc Whinney e cols (2004).(23) A succinato

desidrogenase (SDH) ou complexo mitocondrial II consiste das subunidades SDHB,

SDHC e SDHA. Esse complexo é codificado por genes nucleares, tendo função

importante no ciclo de Krebs. (23,27) Mutações germinativas em qualquer subunidade

deste complexo, desestruturam sua formação, reduzindo a atividade enzimática. Esta

ausência funcional, principalmente da SDHD que ocorre nos PG, pode levar a um

estado crônico de hipóxia, capaz de desencadear respostas proliferativas do tecido alvo.

Até o momento, mais de 40 mutações germinativas nas SDHB, SDHC e SDHA foram

Page 41: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

41

descritas; todas mutações intragênicas, sendo Sarah R. Mc Whinney e cols, em 2004, os

primeiros a descrever grandes deleções e rearranjos em algum dos genes da SDH. (23)

2.7. DIAGNÓSTICO

O diagnóstico de FC tem um nível alto de complexidade, devido à ausência de

um marcador tumoral próprio, exigindo uma associação de dados clínicos, exames

laboratoriais e de imagem, podendo necessitar de diversas coletas, suspensão de drogas,

dieta específica, testes de estímulo e supressão, e até internação para se alcançar o

diagnóstico preciso.

Diante da suspeita clínica, faz-se o diagnóstico em duas etapas: Inicialmente

confirmação da produção do excesso de catecolaminas pelo tumor através da dosagem

laboratorial de catecolaminas e seus metabólitos. A segunda etapa é a de localização do

tumor responsável pela produção catecolaminérgica.

Pacientes com suspeita clínica de FC devem ser imediatamente submetidos aos

exames laboratoriais e seguir um dos algoritmos diagnósticos (ver adiante). Mas há

também situações clínicas, onde o rastreio do FC é fundamental:

- Pacientes com HAS em idades extremas (suspeita de HAS secundária);

- HAS refratária;

- Sintomas de paroxismos;

- Incidentalomas de adrenal (todos);

- História familiar de FC, NEM, VHL, NF, tumor glômico, carcinoma medular

de tireóide;

- Severa HAS ou hipotensão à indução anestésica, cirurgia ou parto;

- HAS em pacientes com lesões cutâneas compatíveis com NF (manchas café-

com-leite ou neurofibromas) ou portadores de outros tumores das NEM ou VHL.

Page 42: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

42

2.7.1. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL:

Sendo o FC um tumor funcional produtor de catecolaminas em excesso, este

estoque de catecolaminas não consegue ser devidamente armazenado, gerando grande

quantidade deste hormônio na circulação periférica, o que pode ser identificado na

coleta de catecolaminas plasmáticas e/ou urinárias e de seus metabólitos. Porém, a

produção catecolaminérgica do tumor é muito variável, além da meia-vida destas serem

muito curta, havendo maior sucesso no diagnóstico se a dosagem for realizada durante

as crises de paroxismo e HAS, podendo ser necessário 2 a 3 coletas de catecolaminas

para se obter o diagnóstico, além de haver cruzamento importante entre os valores de

pacientes com FC e indivíduos normais; esse problema de baixa especificidade poderia

ser contornado elevando-se o limite superior da normalidade, mas quando isso é feito a

sensibilidade do método cai de forma considerável. (42,43)

Além disso, como as catecolaminas são produzidas pela medula adrenal e

também pelos nervos simpáticos, níveis altos de catecolaminas não são específicos de

FC e podem indicar apenas atividade aumentada do sistema nervoso simpático. A

elevação das catecolaminas e/ou seus metabólitos na urina de 24 horas ou no plasma em

duas a três vezes o valor de referência aumenta a suspeita do diagnóstico. Como as

catecolaminas têm essa secreção episódica, enquanto as metanefrinas são produzidas

continuamente nas vesículas de armazenamento presentes no citoplasma das células

tumorais (44), estas vem sendo mais utilizadas, como o provável exame com maior

sensibilidade diagnóstica.

Houve uma evolução progressiva nos métodos laboratoriais para a dosagem das

catecolaminas e de seus metabólitos, urinários e plasmáticos sendo, atualmente, a

maioria dos exames realizados por cromatografia líquida de alta performance (HPLC) o

Page 43: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

43

que traz uma maior precisão aos métodos. Ainda não existe total consenso de qual deve

ser o primeiro exame realizado, nem qual o melhor algoritmo laboratorial a ser seguido.

Bravo e cols, 2002 (6,45,46) orientam como primeiros exames dosagens

plasmáticas das catecolaminas associada às dosagens urinárias das metanefrinas totais,

sendo o diagnóstico feito da seguinte forma:

- Catecolaminas plasmáticas ≥2.000pg/ml e metanefrinas urinárias

≥1,8mcg/mgCr/24h confirmam o diagnóstico;

- Catecolaminas plasmáticas entre 1.000 e 2.000pg/ml e metanefrinas urinárias

entre 1,3 e 1,8 mcg/ mgCr/24h devem motivar o teste da clonidina para confirmação ou

exclusão diagnóstica;

- Catecolaminas plasmáticas <1.000pg/ml e metanefrinas urinárias

<1,3mcg/mgCr/24h, mas persistindo a suspeita clínica, podem motivar o teste do

glucagon para confirmação ou exclusão diagnóstica.

Bravo e cols, 2002 também chamam atenção para o fato de que níveis normais

de catecolaminas na vigência de sintomas sugestivos ou hipertensão arterial excluem o

diagnóstico de FC, mas que níveis basais normais em pacientes assintomáticos não

excluem esse diagnóstico. (6) O algoritmo de diagnóstico, segundo Bravo e cols,

encontra-se na figura 3.

A sensibilidade e especificidade de cada exame variam muito nos estudos, ainda

não havendo um ranking, ou seja, uma classificação quanto aos melhores exames

existentes. Atualmente tem-se em consenso apenas que a dosagem de metanefrina

plasmática é o exame de maior sensibilidade, mesmo quando comparado a dois exames

laboratoriais associados.

Segundo Lenders, Karel Pacak e cols, com um estudo multicêntrico do Instituto

Nacional de Saúde (NIH) publicado em 2002 (47), envolvendo 214 pacientes com FC, o

Page 44: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

44

ranking de sensibilidade e especificidade mostrou que as metanefrinas plasmáticas

livres foram o exame de maior sensibilidade (99%), seguida da metanefrina urinária

fracionada (97%). Quanto á especificidade, o VMA mostrou-se alcançar 95%, seguido

das metanefrinas urinárias totais (93%), conforme mostra a tabela 5. Esses autores

preconizam que a dosagem de metanefrinas plasmáticas livres seja o primeiro exame no

algoritmo diagnóstico, conforme mostra a figura 4.

Outro grande estudo, da Mayo Clinic, de Sawka e cols, 2003 (48,49), com 147

pacientes com FC, também obteve as metanefrinas plasmáticas livres como o exame de

maior sensibilidade, embora haja a desvantagem da baixa especificidade (88%),

podendo gerar alguns casos de falso-positivo (também visto no estudo do NIH). O

estudo da Mayo Clinic orienta a dosagem das metanefrinas plasmáticas livres como

primeiro exame laboratorial, principalmente nos casos de alto risco de FC: Pacientes

com síndromes familiares genéticas, incidentalomas com aspecto radiológico de FC, nos

pacientes mais jovens. É orientado que no caso de FC aparentemente esporádico

(maioria dos casos), principalmente naqueles com idades maiores, seja feito a coleta de

urina de 24 horas com dosagem de metanefrinas totais e fracionadas e catecolaminas

urinárias livres, havendo obtenção de sensibilidade adequada sem correr o risco da obter

muitos falso-positivos entre esses pacientes.

Tabela 5: Valores de Sensibilidade e Especificidade das Diversas Dosagens de

Catecolaminas e seus Metabólitos, de Acordo com três Diferentes Autores.

Autores N Sensibilidade Especificidade

NHI-Lenders e cols.

(multicêntrico), 2002

214 Metanefrinas plasmáticas 99%

Metanefrinas urinárias fracionadas 97%

VMA 95%

Metanef. Urin. Total 93%

Page 45: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

45

(47) Catecolaminas urinárias 86%

Catecolaminas plasmáticas 84%

Metanefrinas urinárias Total 77%

VMA 64%

Metanef. Plasm. 88%

Catec. Urin. 88%

Catec. Plasm. 81%

Metanef. Urin. Fracionadas 69%

Bravo e cols, 2002,

(45)

109 Metanefrinas plasmáticas 100%

Catecolaminas plasmáticas 93%

Metanefrina total urinária 93%

Noradrenalina e adrenalina urinária 86%

VMA 59%

Catec. plasm.+ metanef. urin.total 97,3%

Sawka e cols (Mayo

clinic), 2003 (48,49)

147 Metanefrinas plasmáticas 96%

Metanef. urin. Totais + catec. Urin. 87,5%

Catecol. Urinárias >99%

Metanefrinas urinárias 99%

Metanef. urin. +Catec. Urin 98%

Normetanefrinas urinárias 87%

Guller e cols, 2006

(50)

152 Normetanefrina urinária total 96,9%

Noradrenalina plaquetária 93,8%

N = Número de pacientes com feocromocitoma estudados.

Figura 4: Algoritmo Segundo Bravo e cols, 2002 (6,45,46)

Suspeita clínica de FC: Dosar catecolaminas plasmáticas (CP) e Metanefrinas urinárias (UM) (esta última com valores de referência em mcg/mg de creatinina em 24 horas)

CP > 2000 pg/ml CP 1000 - 2000pg/ml CP<1000pg/ml UM > 1,8 UM 1,3 – 1,8 UM <1,3 CONFIRMA TESTE DA CLONIDINA TESTE DO GLUCAGON

Figura 5: Algoritmo diagnóstico, segundo Karel Pacak, NIH, 2004 (44)

SUSPEITA CLÍNICA DE FC Normetanefrina plasmática

Muito alta Alta Normal

Page 46: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

46

Figura 6: Algoritmo Diagnóstico Segundo Sawka e cols (Mayo clinic), 2003 (48,49) Pacientes com alto risco para FC: Massa adrenal vascular, síndromes genéticas familiares, idades precoces, incidentaloma com características de FC na imagem

Pacientes com baixo risco de FC: HAS mal controlada, paroxismos, incidentaloma com características de adenoma, maiores idades

SUSPEITA CLÍNICA DE FC

DIAGNÓSTICO DE FC EXCLUÍDO FC Teste de supressão com clonidina

Normal

EXCLUÍDO FC

Anormal

Imagem anatômica (TC/RM)

Com massa abdominal

Sem massa abdominal

Imagem funcional MIBG ou PET + TC/RM de corpo inteiro

Figura adaptada de Hypertension 2004:43;907-910; Goldstein DS, Eisenhofer G. Flynn JÁ, Pacak K. (44)

Imagem funcional MIBG ou PET

Page 47: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

47

Um exame laboratorial que vem voltando nos dias de hoje a ser estudado é a

dosagem plaquetária de catecolaminas. Chegou a ser usado na década de 80 e 90

(51,52), porém foi deixado em segundo plano. A sua utilização é explicada porque os

densos grânulos plaquetários concentram estoques de adrenalina e noradrenalina e a

resposta de ascensão das catecolaminas plaquetárias a agentes farmacológicos sugere

que as plaquetas tendem a agir como um modelo de neurônio simpático, com níveis de

catecolaminas que refletem ao de uma fenda sináptica. Ainda está sendo estudado se os

níveis de catecolaminas plaquetários podem vir a serem menos influenciados por

flutuações agudas como hipoglicemia ou estados de stress do que as catecolaminas

urinárias ou plasmáticas. (51)

O estudo de Guller e cols, 2006 (50) estudou um total de 152 pacientes, desde

1970, e encontrou como teste laboratorial mais sensível a dosagem urinária de

normetanefrinas (96,9%), seguido de noradrenalina plaquetária (93,8%), como mostra a

tabela 5. Quando avaliado em associação a cintilografia com meta-iodo-benzil-

guanidina (MIBG) com I131, obteve que o exame mais sensível (100% de

Primeiro exame: METANEFRINAS PLASMÁTICAS LIVRES

Primeiro exame: URINA DE 24 HORAS COM DOSAGEM DE METANEFRINAS e CATECOLAMINAS

Page 48: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

48

sensibilidade) foi noradrenalina plaquetária associado ao MIBG e em segundo lugar,

com 97,1% de sensibilidade, noradrenalina plasmática associado ao MIBG, seguido de

noradrenalina urinária associado ao MIBG (95,3%).

Vários cuidados devem ser tomados na coleta dos exames laboratoriais, entre

eles uma dieta específica com restrição de fenóis e produtos como derivados

anfetamínicos durante, pelo menos, cinco dias antes da coleta. Orienta-se não ingerir:

baunilha, cafeína, chocolate, banana, refrigerantes, frutas cítricas, queijos, vinhos e

qualquer bebida alcoólica. Deve-se coletar a urina em frasco âmbar, com ácido

clorídrico a 6% (a ser fornecido pelo laboratório), sendo a urina armazenada em

geladeira; deve-se dosar creatinina urinária para avaliar se amostra foi coletada

corretamente. Para a coleta sanguínea faz-se a veno-punção 30 minutos antes da coleta,

mantendo um scalp salinizado, com o paciente em repouso por 30 minutos. As drogas

em uso devem ser suspensas, quando possível, por duas semanas, principalmente

paracetamol (eleva metanefrinas plasmáticas), benzodiazepínicos, inibidores da MAO

(elevam catecolaminas e metanefrinas e reduzem VMA), anti-depressivos tricíclicos,

anti-hipertensivos (principalmente beta-bloqueadores, clonidina),

clofibrato,descongestionantes nasais e derivados anfetamínicos (aumetam metanefrinas

urinárias), contrastes iodados, entre outros. A tabela 6 mostra o efeito do uso de

medicações nas dosagens de catecolaminas e seus metabólitos.

Tabela 6. Drogas que Podem Gerar Falso-positivo nas Dosagens Plasmáticas e

Urinárias das Catecolaminas e seus Metabólitos (adaptada de Eisenhofer e cols.), 2004

(53)

Noradrenalina Adrenalina Metanefrina Normetanef.

Antidepressivos tricíclicos +++ - +++ -

Alfa-bloqueadores não seletivos +++ - +++ -

Page 49: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

49

(fenoxibenzamina)

Alfa-bloqueadores seletivos

(prazosin, doxazosin)

+ - - -

Beta-bloqueadores + + + +

Antagonista do canal de cálcio + + - -

Vasodilatadores (hidralazina, isosorbida) + - desconhecido desconhecido

Inibidor da monoamino-oxidase - - +++ +++

Simpaticomiméticos ++ ++ ++ ++

Estimulantes (cafeína, chá, nicotina,

aminofilina

++ ++ desconhecido desconhecido

Miscelânias (levodopa, carbidopa, cocaína) ++ ++ desconhecido desconhecido

+++, bastante elevado ++, moderadamente elevado + discretamente elevado - pouco ou nenhum aumento

Para controle da pressão arterial durante a investigação diagnóstica, os

bloqueadores de canal de cálcio podem ser usados, principalmente os diidropiridínicos

de curta ação e bloqueadores alfa1 específicos, pois interferem menos nos ensaios de

catecolaminas.

Mesmo sendo a metodologia HPLC bastante precisa no diagnóstico, deve-se

lembrar que muitos fatores podem vir a falsificar o exame, como as drogas, estresse,

infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral, insuficiência cardíaca, hipóxia,

hipoglicemia, acidose, causando elevação das catecolaminas (falso-positivo).

Embora o FC seja um tumor na maioria das vezes produtor de catecolaminas, ele

pode produzir outros hormônios, aminas e peptídeos. Em função de todos esses fatos,

nenhum teste bioquímico tem acurácia de 100% no diagnóstico de FC. Na grande

Page 50: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

50

maioria dos casos as dosagens de catecolaminas e seus metabólitos são suficientes para

o diagnóstico. Em raras situações, é necessário recorrer aos testes de supressão ou

estímulo. (6) O teste de supressão mais utilizado é o da clonidina o qual detecta a

produção autônoma tumoral de catecolaminas. A clonidina é um agonista alfa 2

adrenérgico, que atua no sistema nervoso central, bloqueando o tônus simpático e,

conseqüentemente, diminuindo a liberação de catecolaminas pelo SNS e reduzindo a

pressão arterial. Está indicado nos casos de pacientes com HAS, níveis de catecolaminas

pouco elevadas e com diagnóstico duvidoso. Faz-se a dosagem de catecolaminas basal,

1 e 2 horas após a ingestão de 0,3mg de clonidina. No paciente sem tumor, ocorre

diminuição das catecolaminas plasmáticas para níveis inferiores a 500 pg/ml (queda de

mais de 50%) além de queda da pressão arterial. (45) Já nos FC, devido a produção

autônoma de catecolaminas sofrer pouca influência do sistema nervoso central, não

ocorre a redução dos níveis de noradrenalina plasmática, embora até possa ocorrer a

queda da pressão arterial. Um teste menos utilizado é o teste provocativo com glucagon.

Ele estimula a produção tumoral de catecolaminas, embora não atue de forma

significativa na liberação normal de destas. Dosam-se catecolaminas basal, após 1, 2 e 3

minutos do glucagon (1mg IV). Nos FC ocorre grande elevação de catecolaminas,

acima de 2.000pg/ml. (54) Esse teste deve ser usado preferencialmente em pacientes

com pressão arterial normal, níveis de catecolaminas normais ou pouco alterados, mas

quadro clínico muito sugestivo de FC. Deve-se monitorar os níveis tensionais durante

todo o teste e eventualmente intervem-se com drogas hipotensivas endovenosas,

podendo-se também fazer uso de bloqueadores de cálcio previamente ao teste, evitando

excessivos aumentos pressóricos, com pouca interferência nas dosagens séricas.

Page 51: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

51

A determinação sérica de cromogranina A também pode ser feita no sangue, tendo em

vista que o FC pode produzi-la em excesso. Sua sensibilidade chega a 86%, mas é

pouco específica e muito influenciada pela função renal. (6)

Raramente utilizado, devido à evolução dos exames laboratoriais, é a arteriografia

ou amostra plasmática diretamente da veia adrenal, ficando restrita aos pouquíssimos

casos onde dados clínicos e bioquímicos apontarem para FC, apesar de técnicas não

invasivas falharem na sua localização.

2.7.2. DIAGNÓSTICO POR IMAGEM DOS FEOCROMOCITOMAS

Ainda não há consenso em relação ao diagnóstico por imagem no FC. Joseph

K.T.Lee e cols, 2004 (55) referem ser a tomografia computadorizada (TC) o melhor

método diagnóstico para avaliação de doenças das adrenais, alcançando uma acurácia de

90% no rastreio de suas massas tumorais; enquanto Karel Pacak e cols, 2004 (56),

exigem pelo menos duas modalidades de imagem para se obter diagnóstico, podendo ser

inicialmente uma tomografia ou ressonância nuclear magnética (RM) e posteriormente

uma imagem funcional, como cintilografia ou mesmo tomografia com emissão de

pósitrons (PET) quando necessário. (56)

a) IMAGENS ANATÔMICAS:

Na investigação do local onde está localizado o FC, deve ser feito inicialmente o

exame de imagem do abdome, já que 90% destes são adrenais. Tanto tomografia

computadorizada (TC) quanto ressonância magnética (RM) localizam o FC com alta

sensibilidade, porém perdem em especificidade. Dificilmente se utiliza ultrassom (US),

devido à dificuldade de obter imagens da adrenal com este método, devido à posição

retroperitoneal da glândula, obtendo-se baixa sensibilidade (60 a 89%), devendo ficar

Page 52: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

52

reservado em pacientes que não podem se submeter à radiação, como crianças e

gestantes. (56)

Já em relação à TC, imagens com FC com até 5 mm podem ser obtidos, (55,56)

principalmente se for feito cortes de 2 a 5 mm (sendo os de 5mm mais usuais); sabendo-

se que a maioria dos FC tem em torno de 3 cm, a sensibilidade do exame é alta.

Ao se avaliar a homogeneidade das imagens à TC, FC pequenos (de 1 a 2 cm)

tendem a ser mais homogêneos, enquanto os maiores que 3 cm são heterogêneos devido

a possíveis áreas hemorrágicas ou de necrose em seu interior. A necrose central pode ser

tão extensa que pode até mesmo simular imagem cística. (57) Quanto à densidade, esta

pode ser utilizada para diferenciar FC de adenomas. Enquanto os primeiros têm alta

densidade comparada ao fígado alcançando 40 a 50 Hounsfield Units (HU), por não

apresentarem nenhuma quantidade de gordura em seu interior, os adenomas geralmente

têm densidade semelhante à água (-10 a +10), sendo improvável que uma imagem com

densidade maior que 10 seja um adenoma, nesse caso devendo ser investigada a

possibilidade de metástases para adrenal. Korobkin e cols e Boland e cols, 2002 (57,58),

após compilarem 10 artigos, definiram que pode-se tomar como 10 HU o limiar no

diagnóstico de adenoma, com sensibilidade de 71% e especificidade de 98%,

concluindo que 98% das massas adrenais homogêneas com densidade de 10 HU ou

menos, serão benignos (a maioria adenomas), enquanto 29% dos adenomas irão ter

densidade maior que 10 HU e serão indistinguíveis da maioria das imagens de não

adenomas incluindo metástases. Em casos inconclusivos pode-se utilizar contraste para

maiores esclarecimentos, ficando o mesmo contra-indicado apenas naqueles casos de

evidências recentes de grandes episódios hipertensivos, ou no caso do paciente não estar

com um bloqueio adrenérgico adequado.(55) Deve ser considerado que o contraste

iodado endovenoso pode aumentar catecolaminas plasmáticas, mas dificilmente causa

Page 53: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

53

crises sintomáticas hipertensivas. (55,59) Os FC mostram captação uniforme após o

contraste podendo, nos casos com hemorragia ou necrose, ter uma captação mais

heterogênea, evidenciando, nesses casos, massas tumorais maiores.

As vantagens da TC na localização do FC são o custo moderado e a alta

sensibilidade, variando entre 85 e 94%, (56) com especificidade de 92% se o tumor está

localizado em adrenal. A sensibilidade para detecção de FC extra-adrenal, metastático

ou recorrente é em torno de 90% antes da cirurgia. Esses dados são do estudo de Ioannis

Ilias e Karel Pacak de 2004. (56) A TC mostra as estruturas circujacentes ao tumor,

permitindo uma exata localização do tumor. Em poucos pacientes com FC a TC pode

ser negativa ou duvidosa enquanto a RM pode ser positiva, mas esses casos são raros.

Bravo e cols (2004) (60) concluem que a TC e RM tem ambas sensibilidades em torno

de 98 a 100%. Nos casos em que a TC localiza o tumor (a maioria) não há necessidade

de RM; Ioannis Ilias e Karel Pacak, 2004 (56) orientam ainda realizar exame de imagem

funcional, com intuito de confirmar que o tumor é realmente FC e para descartar

metástases, sendo então realizado estes exame para todos os pacientes com diagnóstico

de FC antes da cirurgia.

Quanto à RM, o FC pode ser prontamente detectado, com sensibilidade girando

em torno de 100%, porque esses tumores têm vários centímetros de diâmetro. Quanto

aos pequenos, eles geralmente são homogêneos e isointenso ao músculo e iso ou

hipointenso ao fígado em T1 e marcadamente hiperintenso à gordura em T2 (sinal

hiperintenso) devido a sua rica vascularização. Quando eles crescem e desenvolvem

necrose central, a imagem pode ter área central hiperintensa, tanto em T1 quanto em T2.

Característico dos FC, devido à ausência de gordura no tumor, é que não há decréscimo

de sinal nas fases de imagem oposta, diferentemente do adenoma e imagens

metastáticas. Outra peculiaridade dos FC é a impregnação exuberante e persistente do

Page 54: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

54

gadolíneo injetado, sendo chamado de wash out tardio, obtendo-se menos que 30% de

resíduo de contraste em 10 minutos. (55) Enquanto nos adenomas, ocorre wash out

maior que 60% na maioria dos casos. (58)

Os PG podem gerar imagens semelhantes às descritas, sendo a RM superior à

TC nesses casos, (55) devendo ser observado também o corte coronal, para detecção de

PG para-aórtico e de retroperitôneo. Quanto à especificidade da RM em excluir FC,

estudos variam de 50 a 100%. (56) As vantagens do uso da RM sobre a TC se referem à

não necessidade do bloqueio adrenérgico, pois o contraste de gadolíneo não causa

liberação de catecolaminas, e à ausência de radiação, sendo assim a RM é o exame de

preferência em gestantes, crianças, doenças metastáticas e em pacientes com história

prévia de alergia a contraste.

Figura 7: Imagem de Ressonância Magnética

Observar lesão expansiva em adrenal direita, medindo 2,5 cm no maior eixo. Presença de sinal hipointenso na ponderação T1, heterogênea (figura à esquerda). Sinal hiperintenso em T2 (figura da direita)

b) IMAGENS FUNCIONAIS:

Vários tipos diferentes de exames funcionais são possíveis hoje para diagnóstico e

localização do FC. O mais utilizado é a cintilografia com meta-iodo-benzio-guanidina

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55

(MIBG), mas também existe a possibilidade de fazer tomografia com emissão de

pósitrons (PET) com diversos outros marcadores.

A indicação da realização do exame funcional varia de acordo com os autores. É

consenso que seja feito nos casos no qual haja diagnóstico bioquímico, mas sem

visualização do tumor na TC ou RM e também nos casos com tumor maior de 5 cm,

pelo maior risco de malignidade.(61) Outros casos que o exame funcional é de grande

importância são nos casos com história familiar de FC, onde se suspeita de origem

genética, com possíveis focos extra-adrenais produtores de catecolaminas; quando há

possibilidade de envolvimento de outras glândulas como nas NEM; além de pacientes

menores de 20 anos também por terem maior risco de doença multifocal. (45)

Vários autores como Karel Pacak, 2004 (56) e Bravo e cols, 2002 (45) orientam

a realização do exame funcional para todos os casos, mesmos os que tiveram tumor

localizado na TC ou RM no intuito de comprovar a produção de catecolaminas por

aquele tumor encontrado, além de afastar metástases ou presença de outros focos de FC

ou PG funcionais. Essa é a tendência no momento, indicação de dois exames, o primeiro

anatômico (TC ou RM) e o segundo funcional, para todos os pacientes com suspeita

diagnóstica de FC.

Atualmente o exame funcional mais realizado para pesquisa de FC é o MIBG,

que por sua semelhança estrutural com a noradrenalina é captado e concentrado nas

vesículas adrenérgicas e, após a administração do iodo marcado (131I ou 123I) o

mapeamento irá demonstrar imagens em áreas onde houver grande concentração de

vesículas adrenérgicas; fornecendo além do dado anatômico, outro funcional. (42,43) O

marcador que é mais usado na realização do MIBG é o 123I, por ter uma maior

sensibilidade, além de menor carga de irradiação do que o 131I.

Page 56: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

56

O MIBG tem alta especificidade (95 a 100%), porém sua sensibilidade varia de

77 a 90%, (56) ocorrendo alguns casos negativos, como pode ocorrer com tumores

malignos que perdem sua capacidade de diferenciação e deixam de captar o MIBG, ou

nos casos com extensas áreas de necrose. Nos casos negativos pode-se partir para outros

exames funcionais como as tomografias com emissão de pósitron (PET) que podem ser

feitas com diferentes agentes marcadores: 18fluordeoxiglicose (FDG), 11C-

hidroxiefedrina, [18F]dopa e 6-[18F]dopamina (DA).

A [18F]FDG pode ser usada na suspeita de FC maligno, pois os tumores

malignos apresentam aumento no metabolismo da glicose, podendo acumular mais

avidamente a glicose marcada do que os tumores benignos. Sendo assim, a [18F]FDG é

útil para localizar tumores desdiferenciados e/ ou com rápido crescimento. Porém deve

ser tomado cuidado, pois todas as células de rápida metabolização captam mais glicose,

permanecendo a [18F]FDG não específica para FC, não devendo ser o estudo inicial. A

[18F]dopa é outro marcador que pode ser usado, pois a adrenal normal não capta

[18F]dopa, diferentemente dos tumores. Quanto à [18F]DA por ser mais específica para

FC que outras aminas como dopa, deve ser preferida, porém tem a desvantagem da

pouca disponibilidade nos centros de estudo, além do alto custo.

As vantagens da realização de PET sobre a cintilografia com MIBG são: Menor

dose total acumulativa de radiação, ausência da necessidade de bloquear a captação na

tireóide, obtenção de imagens imediatamente após o exame.

A cintilografia com octreotide marcado com 123I ou

[111In]diaminetriaminepentacetato (DPTA), mais conhecida como octreoscan, pode ser

usada em pacientes com FC, já que os tumores neuroendócrinos podem expressar

receptores somatostatínicos do tipo 1,2 e 5. Porém, infecções, inflamações

(principalmente artrite), e cirurgias recentes podem gerar falso-positivo, devido à

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57

possibilidade da presença de receptores somatostatínicos em tecidos e sítios inflamados.

Além disso, a grande metabolização renal do octreotide faz que pequenos tumores peri-

renais não sejam vizualizados. Poucos trabalhos que compararam [123I]MIBG e

[131I]MIBG com octreoscan, (56,62) não acharam ser o octreoscan eficaz nos casos de

FC suspeitos de benignidade, sendo negativo na maioria dos casos (66 a 75% dos FC

benignos). Já FC malignos e metástases são melhores detectados com Octreoscan do

que com [123I]MIBG (87% vs 57%). (62)

Em resumo, na suspeita de FC maligno (inclusive tumores maiores que 5 cm) ou

quando não se confirmou a localização do tumor na TC ou RM, é mandatório a

realização do exame funcional. Excetuando-se esses casos, pode-se optar ou não por

realizar o exame funcional, que tem a intenção de caracterizar a produção de

catecolaminas por aquele tumor, além de descartar definitivamente possíveis

metástases. O exame de escolha é o MIBG com 123 I, que em casos negativos pode ser

seguido do PET com 18Fdopa; caso este também seja negativo, pode-se usar o 18FDG

ou octreoscan.

Figura 8: Imagem com Meta-iodo-

benzil-guanidina, mostrando captação

bilateral em ambas adrenais em uma

criança com 7 anos com FC familiar

2.8. TRATAMENTO:

2.8.1. EXAMES PRÉ-OPERATÓRIOS PARA O RISCO CIRÚRGICO:

Page 58: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

58

Todos os pacientes que serão submetidos ao tratamento cirúrgico devem fazer

uma avaliação cardíaca minuciosa. Através da história clínica obtém-se informações

para avaliar se o paciente deverá ser submetido a outros testes cardiológicos como

eletrocardiograma (ECG), ecocardiograma, teste de esforço, holter, monitoração da

pressão arterial ambulatorial (MAPA), entre outros.

Distúrbios de condução descobertos no ECG são muito comuns nos pacientes

com FC, como QRS de maior amplitude, ondas R anormais, alterações no segmento ST

e onda T, prolongamento de QT, (63) e outros achados de hipertrofia ventricular. A

ressecção cirúrgica do tumor reverte a maioria desses achados em torno de uma semana

do pós-opertatório. (64) O ecocardiograma tem grande importância na avaliação da

cardiomiopatia hipertrófica e na sua evolução para dilatação ventricular. A maioria dos

pacientes com FC tem uma massa cardíaca normal (80%), mas fatores como a duração e

severidade da hipertensão, níveis de catecolaminas, níveis tensionais, hereditariedade,

podem vir a precipitar a hipertrofia ventricular associada ao FC. (65)

Muito raramente pode haver a presença de FC intra-cardíaco, o que pode se

detectado no ecocardiograma, aderido ao miocárdio, mas sua ressecção está associada à

altíssima morbidade e mortalidade. (66)

A maioria dos pacientes tem HAS, devendo estar com seus níveis tensionais

adequadamente controlados nos dias que antecedem a cirurgia, sendo especialmente o

preparo com alfa-agonista de grande importância.

2.8.2. PREPARO PRÉ-OPERTATÓRIO (ALFA-BLOQUEIO):

Page 59: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

59

A mortalidade per-operatória vem decrescendo intensamente nos últimos anos,

de 13% a 45% para 0% a 3% devido a vários fatores, entre eles a conscientização da

importância do adequado pré-operatório e do aprendizado de que esses pacientes se

apresentam cronicamente com depleção de volume (devido à vasoconstrição crônica) e

necessitam de alfa-bloqueador para inibir a liberação adrenérgica durante a manipulação

do tumor e estresse cirúrgico, além de efeito de drogas anestésicas. O modo do preparo

pré-operatório tem grande importância porque pode definir como será o per-operatório

deste paciente, embora alguns autores como Boutros e Bravo, 1990 ainda acreditem que

o uso de alfa-bloqueador não traga diferença em complicações do ato cirúrgico. (67)

A droga de escolha para bloqueio alfa-adrenérgico é o Prazosin, uma droga alfa1

antagonista competitivo seletivo, de curta duração, que não produz taquicardia reflexa,

de fácil ajuste na posologia, devido a sua curta meia-via (2 a 3 horas), o que facilita o

efeito da última dose na noite da véspera da cirurgia, evitando-se a hipotensão que

ocorre após a retirada do tumor. A posologia usual de início é 1mg 3 a 4 vezes ao dia,

sendo aumentado progressivamente, chegando muitas vezes doses de até 30 mg ao dia.

Outra droga com efeito alfa-bloqueador é a Fenoxibenzamina. Age como

bloqueador adrenérgico não específico alfa1 e alfa2, não competitivo e de ação

prolongada. Devido a sua longa meia-vida, tem como efeito colateral hipotensão após a

retirada do tumor, devendo ser suspensa 48 horas antes do ato cirúrgico, podendo

provocar também taquicardia reflexa, além de ter um custo mais elevado do que o

prazosin. A dose habitual é de 30mg/dia, podendo em crianças ser usado inicialmente

0,25 à 1,0mg/kg/dia, com aumento progressivo da dose. (68)

Doxazosin (bloqueador alfa-adrenérgico) é uma droga menos usual, devido a sua

longa ação, com riscos de hipotensão no pós-operatório, com dose habitual de 1 a 16 mg

uma vez ao dia. Também outro bloqueador alfa-adrenérgico, o terazosin, pode ser

Page 60: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

60

usado, embora mais raramente. Além destes pode ser útil no controle de pressão arterial

no pré-operatório de FC a metirosina, um inibidor da síntese de catecolaminas que atua

inibindo a enzima tirosina-hidroxilase, pouco utilizado atualmente. (69)

Bloqueadores dos canais de cálcio podem ser usados com segurança em

pacientes hipertensos e até naqueles normotensos com paroxismos esporádicos de

hipertensão, por não produzirem hipotensão postural nem excessiva hipotensão, além de

prevenir o espasmo coronariano dependente de catecolaminas. (70) Eles têm sua ação

dificultando o influxo de cálcio para dentro da célula de músculo liso vascular,

impedindo a vasoconstricção, embora não atuem na liberação de catecolaminas pelo

tumor. A dose usual de nifedipina é de 30 a 90 mg/dia. (70)

O paciente pode ser preparado com o bloqueio alfa-adrenérgico em nível

domiciliar ou durante internação, quando se trata de hipertensão de mais difícil controle.

É importante contato contínuo do endocrinologista com o anestesista, e este poderá

acompanhar o paciente em diversas visitas pré-anestésicas, observando os critérios de

alfa-bloqueio adequado descritos por Roizen e cols em 1987: (71)

- Não deve haver pressão arterial maior que 160x90 mmHg nas 24h que

precedem a cirurgia;

- Necessidade de haver hipotensão ortostática;

- ECG livre de alterações de ST e T por no mínimo 1 semana;

- Não deve haver mais de uma extra-sistole ventricular por um período de 5

minutos

O bloqueio beta-adrenérgico não é feito usualmente, devendo ficar reservada

para os pacientes que mantém taquiarritmias ao ECG, apesar de níveis tensionais já

devidamente controlada. Somente pode ser iniciado após o bloqueio alfa adequado, pois

a ação de vasodilatação dos receptores beta2 não pode ser suprimida até que os

Page 61: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

61

receptores alfa (constrictores) estejam bloqueados. Os beta-bloqueadores têm maior

valor durante o ato cirúrgico, prevenindo e tratando as taquiarritmias provocadas à

manipulação do tumor.

Outra droga que pode ser usada no preparo pré-operatório é a metirosina, um

inibidor da tirosina-hidroxilase, que inibe a síntese de catecolaminas.Também podem

ser acrescentadas outras drogas anti-hipertensivas como bloqueador do canal de cálcio,

bloqueadores de angiotensina, inibidores da enzima de conversão de angiotensina-

aldosterona (IECA), entre outras drogas anti-hipertensivas, até se obter o controle

adequado dos níveis tensionais.

Quanto à expansão volumétrica no pré-operatório, o que se conclui hoje é que

mantenhamos o paciente normo-hidratado, evitando a depleção volêmica normalmente

presente devido a ação crônica de vasoconstricção das catecolaminas circulantes em

excesso. A expansão volêmica do pré-operatório gerada pela normo-hidratação

associada ao bloqueio alfa pode ser percebida na discreta queda de hematócrito

acompanhado nas consultas ambulatoriais.

O uso de benzodiazepínicos na véspera da cirurgia é importante para reduzir a

ansiedade gerada pelo ato cirúrgico, podendo ser usado regularmente.

2.8.3. MANEJO ANESTÉSICO PER-OPERATÓRIO:

A anestesia no portador de FC deve conjugar técnicas e/ou drogas que

amorteçam ou não determinem estimulação simpática. Assim, a avaliação dos

parâmetros hemodinâmicos é fundamental, sobretudo a pressão arterial e o “status”

volêmico. Inicialmente a monitoração deve ser não invasiva, com cardioscópio,

oximetria digital e pressão não invasiva. Segue-se, imediatamente antes da indução

anestésica, o cateterismo arterial para a mensuração contínua da pressão arterial média

Page 62: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

62

(PAM). Intensas flutuações hemodinâmicas são previsíveis e não se restringem à

manipulação cirúrgica do tumor, surgindo devido às manobras de laringoscopia e

intubação, incisão cirúrgica na pele, ou mesmo posicionamento do paciente. A pronta

detecção através da PAM permite sua profilaxia ou tratamento medicamentoso. Em

outro extremo, a potencial vasoplegia que se segue à extirpação do tumor, será também

imediatamente reconhecida e tratada.

O acesso venoso profundo é imprescindível por permitir monitorar o volume

circulante, através da pressão venosa central (PVC) além de administrar drogas

vasoativas. Cateteres de lúmens múltiplos são úteis para manter vias independentes para

diferentes tipos de fármacos. Amiúde a abordagem venosa central é feita com o paciente

já anestesiado já que a manipulação pode servir de estímulo para liberação de

catecolaminas pelo stress gerado. O cateter de artéria pulmonar fica restrito a situações

onde haja miocardiopatia manifesta ou naqueles que mesmo sem disfunção cardíaca

apresente discrepância entre as pressões de enchimento direita e esquerda. Na casuística

de Prys-Roberts apenas 1 paciente numa série de 50, utilizou o cateter de artéria

pulmonar de Swan-Ganz.(2)

Inúmeras técnicas anestésicas foram propostas e empregadas para a ressecção do

FC, porém é aceito que o fator fundamental para um resultado positivo é o controle da

atividade adrenérgica no pré-operatório. Roizen em 1987 postulou critérios específicos

para a caracterização do alfa bloqueio ideal, descritos anteriormente. (71)

Dentre os anestésicos inalatórios, o halotano, por sua capacidade de sensibilizar

o miocárdio às catecolaminas levando a arritmias, é evitado. Os demais são empregados

indistintamente com resultados equivalentes. Por sua marcada estabilidade

cardiovascular os opióides têm sido preferidos como droga analgésica na condução da

anestesia. Derivados sintéticos, como o fentanil, alfentanil ou, mais modernamente o

Page 63: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

63

remifentanil, não determinam liberação de histamina como a morfina nem estímulo

simpático como a meperidina, aumentando a segurança das técnicas de anestesia

venosa. Da mesma forma, a hipnose, seja na indução ou na condução da anestesia,

ganhou no propofol, um agente que produz vasodilatação periférica sem taquicardia

reflexa e rápido despertar, um importante aliado para o manuseio seguro destes

pacientes. Como contra-indicação somente a quetamina por sua capacidade de liberar

catecolaminas dos terminais simpáticos levando a hipertensão arterial.

Os bloqueadores neuromusculares aminoesteroidais (pancurônio, vecurônio e

rocurônio) causam relaxamento muscular sem liberação de histamina após sua

administração, (72) enquanto o atracúrio, principalmente se injetado rapidamente, leva

ao aumento da histamina sérica.(73) Outro derivado benzilisoquinolínico, o cisatracúrio,

não interfere com os seus níveis. Elevadas concentrações de histamina induzem a

liberação de catecolaminas nos terminais simpáticos, daí evitarem-se drogas com estas

características.

Um dos objetivos do tratamento com bloqueadores alfa-adrenérgicos é a

reparação do volume circulante. Os episódios de hipotensão serão mais intensos e

freqüentes quando o preparo tiver sido falho e a cirurgia precipitada. O aumento súbito

da capacitância venosa que ocorre no per-operatório é gerada por vários fatores: Queda

da concentração sérica de catecolaminas após a extirpação do tumor secretante, efeitos

do bloqueio alfa-adrenérgico e ainda às drogas vasodilatadoras eventualmente usadas,

tudo isso potencializa a queda da pressão arterial. A expansão volêmica com cristalóides

e colóides deve ser perseguida desde o início da cirurgia, tendo como parâmetro pressão

venosa central ou a capilar pulmonar. (74) O controle da hipotensão efetivamente

mostrou-se ser um fator de redução de mortalidade operatória.

2.8.4 MANEJO CIRÚRGICO:

Page 64: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

64

Três pontos são de grande importância no manejo cirúrgico: O primeiro é a

experiência da equipe, tanto de anestesia quanto cirúrgica e a escolha da melhor técnica

cirúrgica para cada caso, principalmente a decisão quanto à laparotomia aberta

convencional ou laparoscópica; o segundo é que o toque do cirurgião seja delicado, pois

a manipulação do tumor deve ser mínima e precisa, para gerar menor liberação de

catecolaminas; o terceiro se deve à questão da comunicação entre cirurgião e

anestesista, principalmente após a ligadura das veias supra-renais, quando há súbita

interrupção do fluxo de catecolaminas para a periferia, ocorrendo choque vasoplégico

por intenso aumento da capacitância venosa, sendo necessário início imediato da

infusão de aminas vasoativas em via venosa exclusiva, além da rápida expansão

volêmica.

O acesso cirúrgico vai depender da clínica do paciente. Autores como Werbel,

1995, (75) assim como no tratado de cirurgia Sabiston e cols, 2001, (76) orientam que

casos de FC familiares devem ser operados com técnica convencional, com incisão

trans-abdominal para melhor visualização de ambas as adrenais, e de possíveis PG e

metástases que podem estar presentes.(75,76)

Casos de FC isolados podem ser submetidos tanto à técnica laparoscópica

quanto à via convencional, neste último caso, aquela com incisão em flanco é preferida,

já que fornece uma boa exposição da adrenal a ser abordada, com pouca perda

sanguínea.

A via laparoscópica para cirurgias de adrenalectomia ganhou credibilidade desde

1992 com Gardner e cols, (77) sendo atualmente a via de escolha na maioria dos casos.

O Instituto Nacional de Saúde – State-of-the-science- postula que tumores adrenais

(funcionais ou não) menores que 4 cm sejam preferencialmente operados por

laparoscopia devido a pequena probabilidade de serem malignos; tumores maiores de 6

Page 65: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

65

cm sejam tratados com adrenalectomia aberta, devido ao maior risco de malignidade; já

os tumores entre 4 e 6 cm, com características clínicas de benignidade, podem ser

submetidos à laparoscopia, com conversão para aberta casos haja alguma sugestão de

invasão durante o ato operatório. Essa avaliação do Instituto Nacional de Saúde é válida

para qualquer tumor adrenal, funcionante ou não.

Segundo Wihfield e cols, 1998, no FC a via laparoscópica é a via de escolha em

tumores menores que 6 cm, (78) já Karel Pacak e cols, 2005 preconizam seu uso em

tumores de até 9 cm. (61) Castilho e cols, 2000, (79) defendem que tumores em adrenal

esquerda de até 10 cm podem ser operados via laparoscópica, enquanto na adrenal

direita, devido à proximidade com a veia cava, o limite estabelecido para laparoscopia

seja de 6 cm, para a maioria dos casos. Percebe-se a variedade de opiniões de acordo

com a experiência de cada cirurgião, ainda não havendo um consenso em relação ao

limite do tamanho para laparoscopia do FC.

As vantagens da laparoscopia são: Menor labilidade hemodinâmica no per-

operatório, menor liberação de catecolaminas, menor dor no pós-operatõrio, menor

tempo de internação, menores complicações na incisão cirúrgica, além de ser o meio

cirúrgico mais eficaz em grávidas e em pacientes descompensados do ponto de vista

cardiológico. (79,80,81,82,83,84,85,86)

Atualmente estuda-se a monitoração da pressão intra-abdominal no ato

operatório da laparoscopia. Em um pequeno grupo de 9 pacientes, Sood e cols, 2006

(83) mostraram que baixas pressões intra-abdominais de 8 a 10 mm Hg durante a

ressecção laparoscópica do FC produz menor variação hemodinâmica e menor elevação

de catecolaminas do que as pressões convencionais (14 a 16 mmHg).

Page 66: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

66

No caso de tumores bilaterais, atualmente pode-se optar por adrenalectomia

laparoscópica subtotal, a qual poupa-se o córtex, evitando-se a necessidade da reposição

crônica de corticóide. (61)

Quando estamos lidando com casos suspeitamente malignos, após a

adrenalectomia com a retirada de possíveis focos de malignidade, o tratamento do FC

maligno é paliativo, na intenção de controlar os sintomas, com alfa e beta bloqueador

associado a outros anti-hipertensivos. Infelizmente, o tratamento com quimioterápicos

tem pouca resposta. Também pode ser tentada radioterapia para metástases ósseas e

embolização tumoral quando a excisão das metástases não é possível.

Figura 9: Adrenalectomia Bilateral, com Tumor Amarelo Pardacento Visto em Ambas Adrenais

2.8.5. ALTERAÇÕES METABÓLICAS E NECESSIDADE DO USO DO CORTICÓIDE

Alterações na glicemia são complicações freqüentes na adrenalectomia. A

hiperglicemia pode ocorrer devido ao excesso de catecolaminas gerando aumento de

glicogenólise e mobilização de ácidos graxos livres, em até 60% dos pacientes. Embora

a maioria dos casos seja resolvida espontaneamente com a retirada do tumor, pode ser

necessário o uso da insulina. (87) Com o hiperinsulinismo gerado pelo excesso de

Page 67: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

67

catecolaminas, na ausência destas (após a retirada do tumor) pode ocorrer hipoglicemia,

mostrando ser necessário o controle frequente da glicemia capilar no per e pós-

operatório.

Nos casos de realização de adrenalectomia biltateral, é primordial o uso de

glicocorticóide no ato da cirurgia (metilprednisolona ou hidrocortisona). Por mais dois

dias seguintes mantém-se o glicocorticóide intra-venoso, passando-se para prednisona

oral associado à fludrocortisona no terceiro dia de pós-operatório. A insuficiência

adrenal que ocorre no pós-operatório imediato da adrenalectomia bilateral é uma

condição de risco imediato de vida e seu tratamento não pode ser postergado. Almeja-se

uma reposição mais fisiológica possível. Parâmetros clínicos como hipotensão

ortostática, dosagens de potássio e bem estar geral são acompanhados para ajuste da

dose. O paciente deve ser orientado quanto à necessidade de ajuste da dose do

glicocorticóide em situações de estress para evitar uma possível crise adrenal, sendo

fornecido a este um cartão de identificação que deve seguir junto a ele, com as

orientações em caso de crise adrenal.

2.8.6. SEGUIMENTO PÓS-OPERATÓRIO:

Após a adrenalectomia, os níveis de catecolaminas normalmente retornam aos

valores basais após duas semanas, podendo haver a manutenção da hipertensão nos

primeiros dias em até 50% dos pacientes em virtude dos estoques de catecolaminas

ainda armazenados. (74)

A permanência da HAS pode ter várias causas: Excesso de fluido, retorno dos

reflexos autonômicos, presença de metástases residuais não abordadas, presença de

tumor na adrenal contra-lateral, hipertensão essencial primária associada, ou clipagem

de artéria renal, inadvertidamente, durante o procedimento cirúrgico. (88) Em um

Page 68: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

68

estudo da clínica Mayo de 1990, 20% dos pacientes apresentaram HAS persistente no

pós-operatório.(89) Um estudo de Karel Pacak de 2003 (90) mostrou manutenção tardia

de HAS em 27% a 38% dos pacientes operados. Na grande maioria destes casos trata-se

de HAS essencial (primária) devendo haver re-introdução das drogas hipertensivas para

eficaz controle da pressão arterial e redução de morbi-mortalidade.

Nos casos de persistência de HAS após adrenalectomia pode haver necessidade

de drogas anti-hipertensivas de manutenção, para tratamento da HAS essencial (maioria

dos casos).

Preconiza-se a monitoração dos pacientes com dosagens periódicas de

catecolaminas e metanefrinas urinárias e/ou catecolaminas plasmáticas por toda a vida.

A primeira coleta pode ser realizada com 6 semanas de pós-operatório e após 6 meses

de cirurgia, posteriormente anual. Deve-se lembrar também do screening de todos os

familiares dos pacientes (ascendentes e descendentes diretos) com FC bilateral ou com

algum estigma genético.

2.8.7. DIFERENCIAÇÃO DO FC BENIGNO DO MALIGNO:

FC malignos são raros, ocorrendo em 3% a 26% dos casos. (91) Estão

geralmente associados à doenças genéticas, ou a idades mais precoces. As metástases

podem ocorrer por via linfática ou hematogênica, e os locais mais comuns são

linfonodos, ossos, pulmão e fígado. Os FC malignos têm crescimento muito lento,

podendo não ser identificados por muitos anos. A sobrevida em 5 anos é de 23% a 44%,

comparado à 97% em 5 anos dos FC benignos. (89,92,93,94)

Definir histopatolologicamente se o tumor operado é benigno ou maligno é uma

tarefa muito difícil. Para se ter certeza de malignidade, somente quando há invasão de

sítios que normalmente não tem tecidos cromafins, caracterizando metástases à

Page 69: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

69

distância, porém, existem aspectos histopatológicos que sugerem malignidade sendo,

nesses casos, imprescindível um seguimento clínico mais rigoroso.

Caracteristicamente, os FC se apresentam tanto nas adrenais quanto em locais

extra-adrenais como grandes aglomerados de células cromafins, com padrão de

distribuição celular alveolar ou trabecular, sendo raros os cordões celulares, geralmente

com a presença de citoplasmas com grânulos neurosecretórios, podendo haver também

pseudoinclusões nucleares. Algumas características que normalmente são típicas de

malignidade como hipercromasia, figuras de mitoses e pleomorfismos podem estar

presentes tanto nos FC benignos quanto nos malignos, não podendo ser usados para

diferenciá-los. Padrões que estão associados à malignidade são necrose, invasão

vascular e extensa invasão capsular. Os tumores que não apresentam metástases, mas

que têm pelo menos um critério de suspeita (necrose confluente, mais de 5 mitoses por

campo , invasão capsular ou vasculares) são considerados borderline, devendo ser

seguidos mais de perto. (94)

Atualmente, estudam-se também outros marcadores para malignidade, entre eles

o Ki-67 e Mib-1 que são marcadores de atividade proliferativa, além de estudo do RNA

do tumor, com pesquisa de atividade de telomerase, que sugere malignidade. Outros

novos marcadores: Perda da capacidade de expressar subunidade beta B da

inibina/ativina, maior expressão de fator de crescimento de endotélio vascular (VEGF) e

overexpression de ciclo-oxigenase 2 (COX-2) também estão sendo estudados nos FC

malignos.

Nos casos de FC inoperáveis ou metastáticos pode-se fazer a terapia com 131I no

caso dos mesmos serem captantes de iodo. A remissão parcial ou completa pode ser

obtida em 24 a 45% dos pacientes, segundo Sisson e cols., 2002.(95) Quanto ao uso de

Octreotide marcado nos casos mais diferenciados no qual não há captação pelo iodo,

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70

existe pequena experiência. (96) Casos sem captação no MIBG ou com evolução

rapidamente progressiva de metástases (apesar de captação pelo MIBG), pode-se usar

quimioterapia com ciclofosfamida, vincristina e dacarbazina, com resposta parcial ou

completa em 57% dos casos. (97)

3. OBJETIVOS:

3.1. OBJETIVO PRIMÁRIO:

Descrever o perfil dos pacientes com Feocromocitoma do Hospital Universitário

Clementino Fraga Filho-HUCFF-da Universidade Federal do Rio de Janeiro-UFRJ, no

período de 1978 a 2005.

3.2. OBJETIVO SECUNDÁRIO:

• Identificar manifestações clínicas mais comuns

• Analisar critérios diagnósticos laboratoriais e por imagem

• Avaliar o preparo pré-operatório correlacionando com complicações

cirúrgicas ocorridas

4. PACIENTES E MÉTODOS:

4.1 ANÁLISE RETROSPECTIVA: Foi realizada a revisão de todos os prontuários desde 1978 à 2005 identificados na

Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde –

décima edição (CID-10) como: Massa adrenal, hiperfunção adrenomedular (E27.5),

transtornos não-especificados da adrenal (CIDE27.9), HAS secundária (CID I15.8) e

distúrbio hormonal não especificado (CID E34.9). Também foram revisados os registros

da Anatomia Patológica, no material registrado como paragânglio, medula adrenal e

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71

glândula adrenal; além das anotações de registros de internação na enfermaria de

endocrinologia e dos registros anestésico-cirúrgicos de FC. O total de 116 prontuários

foi analisado e os diagnósticos mais freqüentes estão listados abaixo:

• FC em 22 pacientes,

• Síndrome de Cushing (23 pacientes),

• Insuficiência adrenal (9 pacientes),

• Hipertensão arterial sistêmica essencial (10 pacientes),

• Hiperplasia adenomatosa (2 pacientes),

• Carcinoma adrenal (1 paciente),

• Hiperaldosteronismo primário (1 paciente),

• Outros diagnósticos não referentes à doença adrenal em 48 prontuários.

Entre esses, os 10 pacientes classificados como HAS secundária, os quais

nenhum era FC. Quatorze pacientes tinham distúrbio hormonal não

especificado, sendo a grande maioria tumores hipofisários-hipotalâmicos

e nenhum FC encontrado.

4.2. CRITÉRIO DE INCLUSÃO:

Pacientes de qualquer idade e sexo com diagnóstico clínico e histopatológico de FC.

4.3. CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO:

Pacientes com massa adrenal ou transtornos não-especificados da adrenal ou

distúrbio hormonal não especificado, diagnosticados posteriormente como síndrome de

Cushing, hiperaldosteronismo primário, hiperplasia, doença micronodular, ou outras

lesões não-funcionantes de adrenal, inclusive carcinoma; pacientes com HAS

secundária por outras causas que não FC.

Page 72: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

72

4.4. BANCO DE DADOS E VARIÁVEIS ESTUDADAS

Para cada um dos 22 pacientes com FC foi confeccionada uma ficha (anexo 1) e

montado um banco de dados (anexo 2) incluindo: Idade ao diagnóstico, sexo,

apresentação clínica dos sintomas, presença de paroxismos (qualquer sintoma

adrenérgico, que apareça subitamente com resolução espontânea), medicações usadas,

fatores precipitantes das crises, níveis de catecolaminas e metanefrinas urinárias e

catecolaminas plasmáticas, imagens realizadas (US,TC,RM,MIBG), associação com

síndromes genéticas (NEM2A, FC familiar, PG), presença de bilateralidade e

malignidade, tempo de preparo cirúrgico, drogas utilizadas no preparo cirúrgico,

tamanho e volume tumoral, acesso cirúrgico, complicações per-operatórias como

hipertensão na manipulação do tumor, hipotensão à retirada da massa e laceração

vascular), ocorrência de óbito além do acompanhamento no pós-operatório (tempo de

follow-up, seguimento ambulatorial, número de coletas de catecolaminas e HAS

residual em consultas subsequentes).

Quanto aos exames laboratoriais realizados, todos foram pelo método HPLC

(cromatografia líquida de alta eficiência). Foram considerados alterados os exames que

apresentavam qualquer variação em relação ao valor de referência e normais os que se

encontravam dentro do valor de referência do laboratório.

Os seguintes exames de imagem foram considerados no diagnóstico anatômico:

Ultrassom (US) de abdome: Positivos os que evidenciavam lesão em topografia de

adrenal. Aqueles com lesão em outros órgãos (cauda de pâncreas ou rim) ou sem lesão

visível foram consideradas negativos. Tomografia Computadorizada de abdome (TC) e

Ressonância magnética de abdome (RM): Positivas quando imagem compatível com

tumor em localização de adrenal ou em locais compatíveis com PG.

Page 73: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

73

Para cálculo do volume tumoral foi utilizada a fórmula de Di Chiro e Nelson:

Altura x comprimento x largura x 0,52 (π/6). (H4) Também foi usado o maior diâmetro

do tumor nos cálculos estatísticos.

Cintilografias com meta-iodo-benzil-guanidina (MIBG) - Todas realizadas no

HUCFF, com I123 ou I131, tendo o paciente tomado xarope com iodeto de potássio por

três dias anteriormente ao exame, para bloquear a captação pela tireóide. As imagens

foram feitas 2, 4,6 e 24h após a injeção do contraste.

Quando o diagnóstico de tumor de células cromafins era feito ao

histopatológico, em local que não as adrenais, estes foram considerados PG.

Foram considerados FC associados à síndrome genética os pacientes com NEM,

com FC familiar e com síndrome de Carney (síndrome hereditária com manchas

cutâneas, mixomas e tumores endócrinos).

O preparo pré-operatório foi avaliado em: Tempo de uso do Prazosin (tempo de

P), dose do prazosin (dose de P); o mesmo sendo feito para fenoxibenzamina (F) e

betabloqueador (B).

As complicações foram consideradas do pós-operatório imediato (POI) quando

ocorriam em menos de 24 horas do ato cirúrgico, pós-operatório recente (POR) quando

em menos de 30 dias e pós-operatório tardio (POT) quando mais de 30 dias da cirurgia.

As complicações per e pós-operatórias avaliadas foram: Crises hipertensivas à

manipulação do tumor, hipotensão à retirada do tumor, laceração vascular, alterações na

glicemia, atelectasias, insuficiência respiratória e hematoma em ferida operatória.

Quanto aos critérios para classificar os casos como maligno, utilizamos:

Anaplasia com infiltração da cápsula ou de vasos, linfonodos acometidos (confirmados

no histopatológico), metástases à distância, tumor irressecável com aderência à

estruturas vizinhas, massa aderida e sem planos de clivagem, e recidiva de doença em

Page 74: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

74

adrenal que havia sido ressecada, ou em outros sítios. Não houve como diferenciar

clinicamente, no pós-operatório do FC maligno, entre recidiva de doença e metástases,

sendo considerado ambos os casos como malignos.

Tempo de follow up se refere ao tempo de seguimento clínico no ambulatório de

endocrinologia após a cirurgia. A princípio, são marcadas consultas anuais, com coleta

de catecolaminas, variando a freqüência da coleta com a adesão de cada paciente. A

variável “coleta de catecolaminas” presente na tabela no anexo 2 traz esse significado

(quantas vezes as catecolaminas foram dosadas no seguimento ambulatorial do pós-

operatório).

Foi utilizado o termo “idade da cirurgia” se referindo ao tempo passado desde

que o paciente foi submetido à adrenalectomia até dezembro de 2005, em meses.

Quanto maior esse número, mais antiga a cirurgia.

4.5. ANÁLISE PROSPECTIVA

A partir do início de nosso estudo e da aprovação do mesmo pelo Comitê de

Ética em Pesquisas (CEP)- faculdade de medicina / HUCFF- UFRJ - passamos a

acompanhar e identificar os pacientes que foram atendidos no Serviço de

Endocrinologia ou de Cirurgia Endócrina com suspeita clínica de FC nas várias etapas

de diagnóstico.

Foram acompanhados 9 pacientes, todos eles colheram urina de 24h com

dosagem de catecolaminas e metanefrinas, porém apenas um confirmou FC (atualmente

em preparo pré-operatório com alfa-bloqueador).

Tivemos um caso de síndrome carcinóide, um adenoma cortical, um

incidentaloma, três HAS primária e dois ainda em seguimento diagnóstico.

Page 75: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

75

4.6. ANÁLISE ESTATÍSTICA:

A análise estatística foi realizada pelos seguintes métodos:

a) Para comparação das variáveis quantitativas (numéricas) entre dois grupos foi

utilizado o teste não-paramétrico de Mann-Whitney;

b) O coeficiente de correlação de Spearman (rs) foi usado para avaliar o grau de

associação entre duas variáveis quantitativas. Com ele pode-se medir o grau de

associação entre duas variáveis numéricas. Este coeficiente varia de -1 a 1, quanto mais

próximo estiver de 1 ou -1, mais forte é a associação, quanto mais próximo estiver de

zero, mais fraca é a relação entre as duas variáveis.

c) Para comparação de variáveis qualitativas (categóricas) entre dois grupos foi

aplicado o teste exato de Fisher.

Foram aplicados testes não-paramétricos, pois as variáveis não apresentaram

distribuição normal (Gaussiana) devido à dispersão dos dados e a falta de simetria da

distribuição.

O critério de determinação de significância adotado foi o nível de 5%, ou seja,

quando o valor de p do teste estatístico for menor ou igual a 0,05, então existe

significância estatística.

Este estudo foi aprovado pelo cep com o número 144/05.

5. RESULTADOS:

A partir de um número final de 22 pacientes operados, 16 (72%) foram do sexo

feminino e 6 (27%) masculino.

Houve variação de idade de 7 a 65 anos, com pico de incidência, na quinta década

de vida. A média da idade foi 38,32 (±18,47) anos.

Page 76: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

76

O tempo entre o início dos sintomas e diagnóstico variou de zero à 7 anos, com a

média de 1,8 anos.

A presença de paroxismos foi observada em 10 casos (45,5%). Vinte dos 22

pacientes (90%) apresentavam síndrome adrenérgica (HAS com ou sem outros

sintomas). Destes 13 (59%) com HAS sustentada e 7 (31%) paroxística, havendo 2

pacientes que não apresentavam qualquer síndrome hipertensiva.

Os 2 pacientes normotensos foram: BEF, feminina, com 53 anos, com

paroxismos de cefaléia, sudorese, palpitações e náuseas, diagnosticado devido a

aumento de catecolaminas urinárias e imagem positiva à TC. ISM, masculino, 14 anos,

apresentava palidez e vômitos e já havia sido operado por abdome agudo em outro

nosocômio onde foi diagnosticado FC (incidentaloma). Foi re-operado no HUCFF

devido à persistência dos sintomas gastro-intestinais.

O sintoma mais comum foi cefaléia (15 pacientes), seguido de HAS sustentada,

palpitações (ambos com 13 casos), sudorese e emagrecimento (ambos em 12 casos).

Sintomas gastro-intestinais também foram freqüentes como náuseas (9casos), vômitos

(8), e dor abdominal (8). HAS paroxística foi vista em apenas 7 casos.

Figura 10. Prevalência dos Sintomas Apresentados ao Diagnóstico

1513 13 12 12

9 8 8 7 6

0

5

10

15

20

número de pacientes

Sintomas ao diagnóstico cefaléia

HAS sustentada

palpitações

sudorese

emagrecimento

naúseas

vômitos

dor abdominal

HAS paroxística

hiperglicemia/DM

Page 77: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

77

Na nossa casuística os pacientes foram muito sintomáticos, apresentando de 3 a

12 sintomas, com uma média de 6,18 ± 2,44 (desvio padrão - D.P.) e mediana de 6

sintomas. 22,7% apresentavam 6 sintomas e 18,2% apresentavam 7 sintomas. A grande

maioria dos pacientes tinham, no mínimo 3 sintomas, o que pode ser visto na figura 11.

Figura 11: Número de Sintomas Apresentados pelos Pacientes

A correlação do número de sintomas apresentados com o tipo de tumor (benigno

ou maligno) pode ser visualizada na tabela 7.

Tabela 7. Análise Estatística do Número de Sintomas

Variáveis categoria n Média* D.P.* Mediana* Mínimo* Máximo* p valor

Tumor Benigno 17 6,18 2,19 6 3 11 0,63

Maligno 5 6,20 3,49 6 3 12

Paroxismos Sim 10 7,00 2,16 7 4 11 0,071

Não 12 5,50 2,54 5,5 3 12

Correlação do número de sintomas apresentados com o tipo de tumor (benigno X maligno) ou com a presença de paroxismos. D.P: desvio padrão, n: número de pacientes, *:dos sintomas apresentados

0

1

2

3

4

5

6

três quatro cinco seis sete oito nove onze doze

Número de diferentes sintomas

mer

o d

e p

acie

nte

s

Page 78: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

78

Os pacientes foram divididos em dois grupos, o primeiro com tumores benignos

(n=17), nos quais a média de sintomas foi de 6,18 ±2,19 e mediana de 6 sintomas. No

segundo grupo, com tumores malignos (n=5), a média do número de sintomas foi

6,20±3,49 e mediana 6 sintomas, mostrando semelhança ao primeiro grupo, sem

diferença estatística (p valor de 0,63). Esses resultados demonstram não existir relação

significativa entre o número de sintomas com o tipo de tumor (p valor de 0,63).

Após dividir os pacientes em um grupo com paroxismos e outro sem

paroxismos, encontra-se que no primeiro grupo (n=10) a média de sintomas foi de 7 ±

2,16 e mediana de 7 sintomas. Enquanto no segundo grupo a média de sintomas foi de

5,50 ± 2,54 e mediana de 5,5 sintomas. Mostra-se então que não há relação significativa

entre o número de sintomas e a presença ou não dos paroxismos (p=0,071), embora

possa ser percebida uma tendência do grupo de pacientes com paroxismos apresentar

maior número de sintomas que o grupo sem paroxismos.

Em relação à suspeita diagnóstica pré-operatória, 18 tinham suspeita de FC,

enquanto 4 pacientes não tinham essa hipótese, entre eles: Paciente J.C.O investigava

suspeita de linfoma; I.N.G. investigava possível tumor renal; N.D.G. suspeitava-se de

carcinoma adrenal devido à catecolaminas urinárias, assim como VMA negativos; e

M.I.B.L. também sem suspeita de FC.

Quatro pacientes não realizaram qualquer exame laboratorial (J.C.O-suspeita de

linfoma; I.N.G. –suspeita de tumor renal, I.S.M.-já operado por FC em outro hospital,

sendo recidiva no HUCFF)- e M.I.B.L. O diagnóstico laboratorial foi feito em 13 casos

(dos 18 pacientes que colheram catecolaminas), sendo em 5 casos os exames

laboratoriais normais (3 pacientes com catecolaminas urinárias e VMA normais, um

apenas com VMA normal e outro com catecolaminas, metanefrinas urinárias e VMA

normais).

Page 79: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

79

Figura 12: Número de pacientes com catecolaminas ou metanefrinas aumentadas

Figura 13: Dosagem laboratorial de 18 pacientes

Legenda: AVM: Ácido vanil-mandélico; CU: Catecolaminas urinárias; UM: Metanefrinas urinárias; CP: catecolaminas plasmáticas

72%

28%

exames laboratorias alterados n=13 exames laboratorias normais n=5

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

AVM/C

U

AVM/C

U/U

MAVM

CU/U

M CU

AVM/C

U/U

M/C

P

AVM/C

P

Núm

ero

de p

acie

nte

s

Page 80: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

80

Dentre os exames realizados com maior freqüência, aquele que mais se mostrou

alterado na casuística estudada foram dosagens urinárias de adrenalina (87,5%), seguido

da noradrenalina urinária (62,5%). Todas as adrenalinas plasmáticas dosadas foram

positivas, mas apenas em 3 pacientes elas foram dosadas. Entretanto, todas as

noradrenalinas plasmáticas foram negativas (também apenas 3 dosagens).

Tabela 8. Exames Laboratoriais Realizados, Prevalência de Exames Positivos (alterados)

n Alterado Normal Percentual de exames

alterados

VMA 16 8 8 50%

Dopamina urinária 9 2 7 22,2%

Noradrenalina urinária 8 5 3 62,5%

Adrenalina urinária 8 7 1 87,5%

Catecolaminas totais urinárias 8 3 5 37,5%

Metanefrinas urinárias 6 1 5 16,7%

Normetanefrinas urinárias 6 2 4 33,3%

Metanefrinas totais urinárias 3 0 3 0

Adrenalina plasmática 3 3 0 100%

Noradrenalina plasmática 3 0 3 0

Dopamina plasmática 3 1 2 33,3%

N: número de exames realizados, alterado = exame positivo

Foram realizados 17 US, sendo 10 positivas (58,8%). Vinte e uma TC (sendo

vinte positivas e 1 com imagem renal – considerada negativa), 7 MIBG (todas positivas)

e 1RM positiva.

Page 81: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

81

A maioria dos US mostrava massa em topografia adrenal (10 casos); em

topografia de pólo superior de rim houve 3 casos; em cauda de pâncreas 1 caso e

próximo ao hilo renal também 1 caso. Esses 5 últimos US descritos foram considerados

negativos, já que não mostravam massa em região de adrenais, além destes, houve mais

2 US que não encontraram qualquer imagem alterada (totalizando 7 US negativos em

pacientes com FC). Já as TC mostravam massa em adrenal (17 casos), PG (3 casos) e

pólo superior de rim (1), esta última sendo considerada negativa.

Nos 2 casos de FC bilateral que tivemos, os diagnósticos topográficos foram

feitos tanto no US quanto na TC, pois ambos evidenciavam massa bilateral.

Dezoito tumores tiveram medidas em 3 dimensões, propiciando a avaliação do

tamanho tumoral, que foi feito pelo maior diâmetro (em cm) e pelo volume (cm3). O

maior diâmetro variou de 2,5 a 12,5 cm, com média de 6,97 ± 2,45, com mediana de

6,75. Quando avaliado o volume, esse variou de 8,1 a 299,5 cm3, com média de 108,84

±90,01 e mediana de 76,4 cm3.

O grupo de pacientes com US positivo apresentou volume tumoral mediano

significativamente maior que o grupo com US negativo (p=0,045), o que pode ser

observado comparando as médias e medianas entre os grupos, indicando que quanto

maior o tumor mais fácil sua detecção pelo US.

Tabela 9: Correlação do volume tumoral com a positividade do US.

Variáveis N Média* D.P.* Mediana* Mínimo* Máximo* p valor

US positivo

7 145,3 103,8 101,9 43,7 299,5 0,045

US negativo 6 55,6 60,3 29,3 8,1 163,8

N: número de pacientes, D.P: desvio padrão, POI: pós-operatório imediato *do volume tumoral

Page 82: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

82

Gráfico 1. Comparação dos Volumes Tumorais (em cm3) em Relação aos Resultados

Positivos ou Negativos do US.

US positiva US negativa0

50

100

150

200

250

300

350

Vo

lum

e T

um

ora

l (c

m3 )

p = 0,045

O preparo pré-operatório foi realizado em 15 pacientes, sendo a maioria feita

com prazosin (5 pacientes) ou prazosin e beta-bloqueador (5 pacientes), 2 com

associação de prozosin e beta-bloqueadores além de fenoxibenzamina, 2 com prazosin e

fenoxibenzamina e um apenas fenoxibenzamina.

Tabela 10: Drogas Utilizadas no Preparo Cirúrgico

Drogas n (com preparo pré-operatório, n= 15)

Somente prazosin 5

Prazosin+ beta-bloqueador 5

Prazosin +fenoxibenzaimina 2

Prazosin+fenoxibenzamina+beta-bloqueador 2

Somente fenoxibenzamina 1

P: prazosin, F:fenoxibenzamina, B: Beta-bloqueador, DP: desvio padrão, n: número de pacientes, ID: idade

Fizeram uso do alfa-bloqueador quase todos aqueles que tiveram suspeita pré-

operatória de FC. Apenas 7 pacientes não tiveram qualquer preparo com drogas alfa-

Page 83: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

83

bloqueadoras, principalmente nas cirurgias mais antigas e aqueles em que não se pensou

em FC. Entre eles:

- Paciente APC (1983): Teve dosagens de catecolaminas normais, apesar de TC

mostrando imagem adrenal. Descobriu-se ser um caso de FC maligno, irressecável,

evoluindo pra óbito após 14 anos de cirurgia;

- Paciente JCO (1986): Não fez coleta de catecolaminas, apesar de TC

mostrando imagem adrenal. Foi operado com diagnóstico de linfoma, evoluindo em

taquicardia ventricular na cirurgia, com óbito em 10h de POI;

- Paciente MJSB (1991): Suspeita clínica e laboratoral de FC, mas seu preparo

com prazosin foi muito irregular;

- Paciente IL (1989): Houve apenas uma dosagem de AVM aumentada 3 vezes.

Havia imagem positiva na TC. Foi operada em insuficiência cardíaca descompensada,

pois a HAS estava trazendo grande morbidade. Evoluiu com hipotensão refratária na

retirada do tumor e óbito em 7 horas de POI;

- Paciente NDG (1996): Dosagens de catecolaminas urinárias e VMA normais.

Operada com a hipótese de adenocarcinoma adrenal. Hipertensão na manipulação

cirúrgica, mas não houve maiores complicações;

- Paciente ING (2000): Sem dosagens de catecolaminas. TC mostrava massa

adrenal. Relatos de diagnóstico feito na cirurgia. Apenas hipotensão no POI, com boa

recuperação posterior;

- Paciente ISM (2004): Proveniente de outro hospital já com diagnóstico e já

operado uma vez. Recidiva operada no HUCFF, sem complicações, sem follow up

posterior.

Page 84: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

84

A tabela 11 mostra o perfil do uso das drogas no preparo pré-operatório.

Tabela11: Análise Descritiva das Variáveis Numéricas Tempo e Dose de Drogas para o

Total da Amostra.

Variável n Média D.P. Mediana Mínimo Máximo

Tempo P (dias) 14 36,50 16,46 35,5 9 75

Dose P (mg) 14 11,36 6,79 10 4 24

Tempo F (dias) 5 24,80 20,14 19 10 60

Dose F (mg) 5 30 12,25 30 10 40

Tempo B (dias) 7 18,86 14,81 18 4 41

Dose B (mg) 7 165,71 70,91 120 80 240

N: número de pacientes, D.P: desvio padrão, P: prazosin, F:fenoxibenzamina, B: Beta-bloqueador O preparo pré-operatório com prazosin foi feito em média por 36,5 dias, sendo

necessário em média 11,36 ± 6,79mg para um preparo eficaz.

O tempo de uso de fenoxibenzamina foi menor, sendo em média 24,80± 20,14 dias,

com dose variando de 10 à 40 mg, com média de 30mg/dia. O menor tempo de uso foi

com beta-bloqueador (18,86± 14,81) com dose média de 165,70 ± 70,91 mg/dia.

Através da avaliação da associação entre o maior diâmetro tumoral com algumas

variáveis numéricas de interesse, observa-se que não existe correlação significativa do

tamanho do tumor (maior diâmetro tumoral) com a dose de Prazosin (rs = 0,327; p =

0,32; n = 11), nem com o tempo de uso de Prazosin (rs = 0,018; p = 0,95; n = 11).

Também não foi observada associação significativa com o número de sintomas (rs =

0,142; p = 0,57; n = 18). Assim sendo, o tamanho tumoral (maior diâmetro) não prediz

o tempo de preparo no pré-operatório nem as doses das drogas que são utilizadas, nem

tão pouco se correlaciona ao número maior ou menor de sintomas apresentados.

Page 85: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

85

O acesso cirúrgico mais freqüente foi a incisão mediana transumbilical realizada

em 54,5% das cirurgias (12 casos). Vide tabela 12.

Tabela 12. Acesso Cirúrgico e suas Frequências

Frequência Percentual

Mediana transumbilical 12 54,5

Mediana Supra-Umbilical 2 9,1

Subcostal direita e esquerda 2 9,1

Subcostal direita 2 9,1

Subcostal direita alargada 1 4,5

Lombotomia 1 4,5

Transversal umbilical 1 4,5

Laparoscopia 1 4,5

As complicações cirúrgicas e suas prevalências estão a seguir: Figura 14.

Complicações Per e Pós-operatórias

21%

21%

17%

10%

7%

5%

5%

2%

10%2%

hipertensão na manipulação (9)

Hipotensão à retirada (9)

hipotensão no POI (7)

óbitos (4)

Arritmias cardíacas (3)

Alteração da glicemia (2)

Atelectasia (2)

Insuficiência respiratória (1)

laceração vascular (4)

Hematoma de ferida operatória (1)

Page 86: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

86

Estudando a interação entre o número de sintomas e a presença da complicação

cirúrgica hipertensão na manipulação, observa-se que não há correlação significativa ao

nível de 5% entre o número de sintomas e a presença da complicação estudada

(p=0,63), o que pode ser observado na tabela 13.

Então, ter mais sintomas não significa que o tumor seja benigno ou maligno,

nem significa maior hipertensão no per-operatório.

Tabela13: Correlação do Número de Sintomas com Presença ou Ausência

Hipertensão na Manipulação Tumoral

Variável N Média * D.P.* Mediana* Mínimo* Máximo* p valor

Com hipert. na manipulação 9 6,56 2,24 6 4 12 0,63

Sem hipert. na manipulação 13 5,92 2,63 6 3 11

D.P: desvio padrão, n: número de pacientes, hipert.: Hipertensão *do número de sintomas

A avaliação de relação entre o volume tumoral com algumas variáveis de

interesse encontra-se na tabela 14.

Tabela 14. Análise Estatística do Volume Tumoral.

Variáveis categoria N Média* D.P.* Mediana* Mínimo* Máximo* p valor

US Positiva 7 145,3 103,8 101,9 43,7 299,5 0,045

Negativa 6 55,6 60,3 29,3 8,1 163,8

Paroxismos Sim 9 101,9 63,6 93,6 18,7 187,5 0,82

Não 9 115,8 114,3 65,5 8,1 299,5

Hipert. manip. Sim 7 143,1 107,3 163,8 15,7 299,5 0,38

Não 11 87,1 74,3 62,4 8,1 260

Hipot. retirada Sim 8 98,5 71,5 76,4 15,7 187,5 0,82

Não 10 117,1 105,6 78 8,1 299,5

Hipot. POI Sim 6 109,6 87,7 76,4 18,7 260 0,81

Não 12 108,5 95,0 78 8,1 299,5

N: número de pacientes, D.P: desvio padrão, POI: pós-operatório imediato *do volume tumoral

Page 87: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

87

Não houve relação significativa entre o volume tumoral com presença de

paroxismos (p=0,82), hipertensão na manipulação (p=0,38), hipotensão na retirada

(p=0,82) e hipotensão no POI (p=0,81), ao nível de 5%, conforme ilustra o gráfico1.

Assim sendo, o maior tamanho tumoral não prediz maiores sintomas ou maiores

complicações cirúrgicas hemodinâmicas. Embora possa ser percebida uma tendência

(embora p<0,05) dos maiores tumores apresentarem mais hipertensão à manipulação, o

que é muito evidenciado comparando-se as médias e medianas da tabela 14.

A tabela 15 mostra a avaliação de relação significativa entre o maior diâmetro do

tumor (cm) com algumas variáveis de interesse.

Tabela 15: Análise Estatística do Maior Diâmetro Tumoral

Variáveis Categoria n Média* D.P.* Mediana* Mínimo* Máximo* p valor

US Positivo 7 8,3 2,8 7 6 12,5 0,072

Negativo 6 5,3 1,9 5,25 2,5 7,5

Paroxismos Sim 9 6,5 1,3 6 4 8 0,56

Não 9 7,4 3,3 7 2,5 12,5

Hipert. manip. Sim 7 7,4 2,7 7,5 4 12 0,35

Não 11 6,7 2,4 6 2,5 12,5

Hipot. retirada Sim 8 6,5 1,5 7 4 8 0,92

Não 10 7,4 3,0 6,25 2,5 12,5

Hipot. POI Sim 6 7,3 2,8 7 4 12,5 0,70

Não 12 6,8 2,4 6,2 2,5 12

Correlação do tamanho tumoral com resultados positivos e negativos ao US, com a presença ou ausência de paroxismos e com a presença ou ausência de complicações cirúrgicas hemodinâmicas (hipertensão na manipulação, hipotensão na retirada do tumor ou hipotensão no POI) N: número de pacientes, D.P: desvio padrão, US: Ultrassom, POI: Pós-operatório imediato *: do diâmetro tumoral (em cm)

Não houve relação significativa entre o tamanho do tumor (maior diâmetro) com

o US (p=0,072), paroxismos (p=0,56), hipertensão na manipulação (p=0,35), hipotensão

Page 88: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

88

na retirada (p=0,92) e hipotensão no POI (p=0,70), ao nível de 5%. Podemos dizer, que

existe uma tendência do grupo com US positivo apresentar maior diâmetro que o grupo

com US negativa, ou seja, há uma tendência dos maiores tumores apresentarem mais

fácil diagnóstico ao US. Já em relação às complicações hemodinâmicas cirúrgicas, os

maiores tumores não complicaram mais, de acordo com nossa avaliação estatística.

A avaliação de relação significativa entre a idade da cirurgia com as

complicações cirúrgicas se encontram na tabela 16.

Tabela 16. Análise Estatística da Idade da Cirurgia, Correlacionando-a com as

Complicações Ocorridas.

Variáveis Categoria n Média* D.P.* Mediana* Mínimo* Máximo* p valor

Hipert. manip. Sim 9 174,2 87,8 161 46 324 0,025

Não 13 94,9 66,5 76 18 226

Hipot. retirada Sim 9 167,2 87,5 161 46 324 0,05

Não 13 99,8 72,3 103 18 269

Hipot. POI Sim 7 137,6 66,5 141 46 237 0,41

Não 15 122,6 92,8 103 18 324

N: número de pacientes, *: referente à idade da cirurgia (em meses)

O grupo de pacientes com hipertensão na manipulação tumoral (n=9) apresentou

uma média de 174,2 meses na idade da cirurgia, ou seja, essas cirurgias foram

realizadas em média há 14 anos atrás. Já o grupo sem hipertensão na manipulação

(n=13) apresentava uma média de 94,9 meses na idade da cirurgia, ou seja, foram

cirurgias mais recentes, realizadas em média há 7,8 anos atrás. Evidenciou-se então que

o grupo de pacientes com hipertensão na manipulação apresentou idade mediana de

cirurgia significativamente maior que o grupo sem hipertensão na manipulação

(p=0,025).

Page 89: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

89

A mesma comparação pode ser feita para a hipotensão na retirada do tumor. O

grupo com hipotensão na retirada apresentou idade mediana de cirurgia

significativamente maior (média de 167,2 meses e mediana de 161 meses) que o grupo

sem hipotensão na retirada (média de 99,8 e mediana de 103), com p valor de 0,05;

mostrando que hipotensão na retirada do tumor ocorre mais quanto mais antiga for a

cirurgia (maior idade de cirurgia).

Não foi observada relação significativa com a hipotensão no POI (p=0,41),

conforme ilustra o gráfico 2, embora possa ser observado uma tendência de presença de

hipotensão no POI nos pacientes com maior idade de cirurgia.

Gráfico 2. Idade da Cirurgia Segundo as Complicações Cirúrgicas.

Presente Ausente Presente Ausente Presente Ausente0

36

72

108

144

180

216

252

288

324

360

Hipertensão Hipotensão Hipotensãona manipulação na retirada na POI

Tem

po

de

ciru

rgia

(m

es

es)

p = 0,025 p = 0,05 p = 0,41

Quanto à classificação de agressividade, dos 22 casos avaliados, 17 foram

benignos (77%) e 5 malignos (23%).Foram considerados malignos os seguintes casos:

PACIENTE APC: Tumor irressecável, com extensão retro-peritoneal, que

invadia a veia renal esquerda e veia cava, além de gordura retroperitoneal e diafragma.

Histopatologia mostrava características típicas, além de hemorragia em tecido fibroso

Page 90: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

90

adiposo peri-adrenal. Evoluiu para óbito 14 anos depois com metástase para via biliar e

sepse biliar.

PACIENTE IL: 44 anos, apresentava adrenal aderida a estruturas adjacentes

com linfonodos mesentéricos acometidos. Ao histopatológico a neoplasia era delimitada

pela cápsula. Foi operada em choque cardiogênico com óbito em 3 horas de PO.

PACIENTE MJSB: 40 anos, apresentou metástase à distância 5 anos após

adrenalectomia (apesar de critérios de benignidade à cirurgia); havia ao histopatológico

presença de formas bizarras nucleares. Paciente com NEM 2B (carcinoma medular de

tireóide, FC e neuromas mucosos em pilares amigdalianos e mucosa oral), submetida à

tireoidectomia total com esvaziamento ganglionar (dissecção modificada do pescoço) 5

anos após adrenalectomia. Metástases para gânglios cervicais e submandibulares

confirmados à TC de pescoço, metástases ósseas confirmadas à cintilografia óssea e

suspeita de metástases para adrenal contra-lateral (no US e TC). Última consulta em

2000, na oncologia.

PACIENTE NDG: 56 anos, apresentava critérios histopatológicos de anaplasia e

invasão de cápsula, além de hemorragia e necrose. Evolução com cintilografia com

MIBG positiva após 5 anos; última consulta em 2002.

PACIENTE ISM: Paciente de 14 anos, com PG recidivado, aderido às estruturas

vizinhas. Histopatológico mostrava neoplasia de células grandes, poligonais, amplo

citoplasma de limites mal definidos, com núcleos pleomórficos, por vezes

multinucleados, havendo numerosas figuras de pseudo-inclusão. Na MIBG pré-

operatória havia imagem de captação na base pulmonar direita. Não retornou ao

ambulatório após sua cirurgia em 2004.

Dezenove casos (86%) eram FC de adrenal, enquanto 3 (14%) eram PG justa-

adrenais, sendo um desses casos PG associado a FC. Dos 3 pacientes com PG, apenas

Page 91: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

91

um teve comportamento maligno (caso ISM que apresentou recidiva de doença, tendo

que ser re-operado).

FC esporádicos foram encontrados em 18 pacientes (82%), enquanto 4 casos

(18%) faziam parte de alguma síndrome genética. Os casos associados à síndrome

genética foram: Dois casos de NEM, sendo ambos com FC unilateral e carcinoma

medular de tireóide, um associado a neuroma mucoso (NEM 2B) e outro a

hiperparatireioidismo (NEM 2A). Houve 2 casos de FC bilateral, um deles havia

história familiar de FC e o outro fazia parte de um dos casos de NEM 2A. Houve um

caso suspeito de complexo de Carney, num jovem de 17 anos, com PG para-aórtico

associado a FC de adrenal esquerda, que também apresentava policitemia e mixoma

intra-cardíaco que embolizou para circulação sistêmica, gerando infarto em órgãos

como rim e baço. Esse jovem foi operado com adrenalectomia e ressecção de PG.

Do total da casuística, apenas 4 pacientes evoluíram a óbito, dois em pós-

operatório imediato, sendo uma operada em choque cardiogênico por grave

cardiomiopatia gerada pelo FC e outra operada sem a suspeita clínica e, por isso, sem

preparo adequado. Dois óbitos ocorreram no pós-operatório tardio, sendo um

conseqüente de sepse abdominal (abscesso retroperitoneal), com 2 meses de cirurgia e o

outro decorrente de metástase biliar após 14 anos, proveniente de um tumor já

inicialmente irressecável.

Page 92: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

92

Tabela 17: Pacientes com Evolução para Óbito

Identificação Idade Ano da cirurgia MXB Comentário

APC 61 1983 M Irressecável, com metástases p/via biliar.Óbito em

POT (após 14 anos)

JCO 65 1986 B Operado sem preparo por suspeita de linfoma.

Taquicardia ventricular na manipulação do tumor.

Óbito em 10h de POI

IL 44 1989 M Operado em choque cardiogênico, sem preparo.

Hipotensão refratária e óbito em 3h de POI

SMMR 46 1992 B Abscesso em retroperitôneo associado à

pneumonia. Óbito por sepsis em 2 meses de POT

M: Maligno; B: Benigno; POI: Pós-operatório imediato; POT: Pós-operatório tardio; h: horas Para que fossem analisados quanto às complicações no per e pós-operatório, os

pacientes foram divididos em 2 grupos, o primeiro sem preparo com drogas no pré-

operatório e o segundo sem o preparo.

Tabela 18. Análise Estatística entre o Preparo Pré-operatório com Drogas versus Complicações.

com preparo

(n = 15)

sem preparo

(n = 7)

Complicação categoria n % n %

p valor

Óbito Sim 1 7 3 42,9 pc

Permanência de HAS Sim 2 17 2 66,7 pc

Laceração vascular Sim 4 26,7 0 0,0 pc

Hipert. na manipulação Sim 5 33,3 4 57,1 0,27

Hipot. na retirada Sim 7 46,7 2 28,6 0,37

Hipot. no POI Sim 4 26,7 3 42,9 0,38

A tabela fornece a freqüência (n) e o percentual (%) das complicações segundo a presença ou ausência de preparo, e o correspondente nível descritivo (p-valor) do teste estatístico. p.c: poucos casos para aplicar o teste estatístico, HAS: hipertensão arterial sistêmica, n: número de pacientes

Page 93: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

93

Em relação a óbitos, permanência de hipertensão e laceração vascular, não

podemos aplicar o teste estatístico devido ao pequeno número da amostra nos dois

grupos (com e sem preparo pré-operatório). As complicações hemodinâmicas cirúrgicas

puderam ser avaliadas, mostrando que dos 15 pacientes com preparo, somente 5

(33,3%) apresentaram hipertensão na manipulação, enquanto entre os 7 pacientes sem

preparo, 4(57,1%) não apresentaram essa complicação, valores estes sem diferença

estatística significativa (p valor= 0,27). Entre os 15 pacientes com preparo, 7 (46,7%)

apresentaram hipotensão na retirada do tumor enquanto 2 dos 7 sem preparo (28,6%)

apresentaram essa mesma complicação (valores sem significância estatística, em vista

do p valor de 0,37). Em relação à hipotensão no POI, entre os pacientes com preparo,

4(26,7%) apresentaram essa complicação, enquanto no grupo sem preparo, 3

pacientes(42,9%) apresentaram essa mesma complicação, também sem significância

estatística (p valor de 0,38).

A tabela 19 fornece uma análise descritiva das variáveis estudadas, traçando um

perfil geral da casuística;

Tabela 19. Análise Descritiva de Algumas Variáveis Numéricas (idade, volume,

diâmetro, tempo de follow up e número de sintomas) para o Total da Amostra.

Variável n Média D.P. Mediana Mínimo Máximo

Idade (anos) 22 38,32 18,47 40 7 65

Volume tumoral (cm3) 18 108,84 90,01 76,4 8,1 299,5

Maior diâmetro tumoral (cm) 18 6,97 2,45 6,75 2,5 12,5

Tempo follow-up (meses) 15 73,73 58,82 81 5 199

No de sintomas 22 6,18 2,44 6 3 12

Legenda: n: número de pacientes, DP: desvio padrão

Page 94: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

94

Os pacientes foram acompanhados de 5 à 199 meses (tempo de follow-up), com

média de 73,73 ±58,82 e mediana de 81 meses.

Figura 15: Distribuição de nossos casos quanto a alguns aspectos clínicos Legenda: Cinco dos 22 pacientes com FC ou PG tiveram tumores malignos, sendo 4 deles FC (com 1casos de NEM) e 1 PG. Entre os 17 tumores benignos, havia 15 FC e 2 PG. Figura 16. Evolução dos 22 casos

22 pacientes

ÓBITOS POI

ÓBITOS POT

VIVOS COM DOENÇA

VIVOS SEM DOENÇA

SEM FOLLOW

UP

JCO e IL APC (14 anos PO)

SMMR (2 meses)

2 CASOS 12 CASOS 4 CASOS

22 FC/PG

17 BENIGNOS 5 MALIGNOS

FC PG FC PG

1 NEM 1 FC FAMILIAR 2 (1 CARNEY)

4 (1 NEM) 1 CASO

Page 95: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

95

6. DISCUSSÃO:

A média de idade foi 38,32 (±18,47) anos, não se diferenciando daquela típica do

FC, como Lenders e cols, 2002 (47), Pereira e cols, 2004 (99) e Amar e cols, 2005 (5)

(médias de 37± 14, 40 e 43,9 anos, respectivamente ). Quanto ao sexo, houve 2,7 vezes

maior acometimento nas mulheres. A maior prevalência no sexo feminino é habitual,

porém com menos discrepância do que encontramos, como visto por Guller e cols, 2006

(50) que observaram que 55,3% dos FC eram em mulheres, e também Sood e cols, 2006

(83), com 56% e o estudo paulista de Pereira e cols, 2004 (99) que encontraram 56%

feminino e 44% masculino.

A evolução dos sintomas foi de zero a sete anos, evidenciando a dificuldade do

diagnóstico, já que o FC imita diversas síndromes clínicas; mostrando que uma história

de longa duração não deve afastar a possibilidade de FC. Castilho e cols, 2000 (79),

encontraram em seu estudo em São Paulo duração de sintomas que variou de seis meses

a oito anos, com média de 2,8 anos, muito semelhante aos achados de nosso estudo. Já

Amar e cols, 2005 (5) encontraram menor variação da duração de sintomas (1 a 3 anos),

talvez definido por uma maior disponibilidade dos serviços de saúde encontrados na

França, com um diagnóstico mais precoce.

A apresentação clínica de 90% de nossos casos foi como síndrome adrenérgica,

ou seja, HAS com ou sem outro sintoma catecolaminérgico, mostrando ser o FC uma

doença extremamente sintomática, semelhante ao encontrado por Pereira e cols (2004),

(99) que observaram 81% dos FC apresentando-se como síndrome hiperadrenérgica. A

HAS estava também presente em outros autores, conforme mostrado na tabela 20.

Page 96: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

96

Tabela 20. Comparação da Casuística do HUCFF com outros Autores em Relação à

Presença de HAS

ANO n HAS HAS sustentada HAS paroxística

Bravo e cols (100) 2002 --- 87% 29% 48%

Pereira e cols (99) 2004 91 100% 88% 12%

Amar e cols (5) 2005 192 89,1% --- ---

HUCFF 2006 22 90% 59% 31%

Legenda: n: número de pacientes --- Ausência de dados. HAS: Hipertensão arterial sistêmica Na nossa casuística os pacientes se apresentavam muito sintomáticos, com 22,7%

apresentando 6 sintomas e 18,2% apresentando 7 sintomas. A maioria dos pacientes

apresentavam, no mínimo 3 sintomas. Ausência de HAS foram encontrados em apenas

2 pacientes. Achados parecidos foram encontrados no estudo de Pereira e cols, 2004

(99) onde 41% tinham 3 sintomas, 31% dois e somente 28% apresentavam apenas um.

Já o estudo gaúcho de Paggi e cols, 2000 (101), retrospectivo de 1978 a 2000, com 26

casos, encontrou pacientes poucos sintomáticos, com 14 (53%) assintomáticos e 6

(23%) sem HAS, provavelmente por haver neste estudo 50% de incidentalomas.

As crises de paroxismos foram desencadeadas por diversos fatores como uso de

beta-bloqueadores em 3 pacientes, palpação de abdome em 2 pacientes, exercícios em 1

paciente, decúbito lateral esquerdo em 1 paciente. Muitos pacientes não tiveram relatos

destes em seus prontuários. Pereira e cols, 2004, (99) também observaram vários fatores

desencadeantes embora não tenha sido possível identificar nenhum específico na

maioria dos casos.

Page 97: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

97

Tabela 21. Comparação dos Sintomas Apresentados em nossa Casuística com o Estudo

Paulista de Pereira e cols

Sintomas Pereira cols n=91

2004 (99)

HUCFF n=22

2006

HAS 95% 20 (90%)

Cefaléia 73% 15 (68,2%)

HAS sustentada 88% 13 (59,1%)

Palpitação 77% 13 (59,1%)

Sudorese 70% 12 (54,5%)

Emagrecimento --- 12 (54,5%)

Náuseas 22% 9 (40,9%)

Vômitos 17% 8 (36,4%)

Dor abdominal 20% 8 (36,4%)

HAS paroxística 12% 7 (31,8%)

DM/ hiperglicemia --- 6 (27,3%)

Astenia --- 4 (18,2%)

Dor torácica 14% 4 (18,2%)

Constipação intestinal --- 4 (18,2%)

Hipotensão ortostática --- 3 (13,6%)

Efeito de massa --- 3 (13,6%)

incidentalomas 5,5% 3 (13,6%)

arritmias --- 3 (13,6%)

Palidez 23% 3 (13,6%)

Carcinoma tireóide 7,7% 2 (9,1%)

Tremores 14% 1 (4,5%)

Alterações ao ECG --- 1 (4,5%)

Parestesia --- 1 (4,5%)

História familiar de FC 5,5% 1 (4,5%)

Legenda: ---: Ausência de dados.

Page 98: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

98

Os pacientes com FC geralmente se apresentaram muito sintomáticos,

predominando os sintomas clássicos da tríade: Cefaléia, palpitação e sudorese,

semelhante ao estudo de Pereira e cols. No entanto obtivemos maior incidência de

sintomas gastro-intestinais como náuseas, vômitos e dor abdominal, além do

emagrecimento que também apareceu em muitos pacientes, independente de ter FC

benigno ou maligno.

Encontramos FC esporádicos em 82% e apenas 18% familiares. Para diagnóstico

das síndromes familiares utilizamos apenas critérios clínicos e laboratoriais, como a

dosagem de paratormônio (PTH) e calcitonina, para afastar NEM nos casos suspeitos.

Outros autores encontraram de 23 à 35% de casos familiares. Castilho e cols, 2000 (79)

observaram 30%, o estudo gaúcho de Paggi e cols, 2000, (101) com 26 pacientes

encontrou apenas 7,7% de casos de FC familiares, Lenders e cols, 2002 (47) 35,5%,

A.Khorram-Manesh, 2005 (4) 25% e Guller e cols, 2006 (50) 23%. No estudo de Paggi

e cols apenas um caso foi submetido a estudo genético. Esses achados demonstram a

tendência atual de ampliar a oferta deste tipo de estudo para a maior parte dos FC,

quando possível, tendo em vista a alta incidência de casos familiares, embora ainda não

haja consenso que todos os casos de FC aparentemente esporádicos tenham que ser

submetidos a estudo genético, mas que seja realizado onde haja viabilidade, tendo em

vista o ganho no diagnóstico precoce de casos familiares.

Em relação aos exames laboratoriais, houve predominância de positividade dos

hormônios ativos urinários (adrenalina>noradrenalina), com pouca positividade dos

metabólitos, evidenciando que tivemos tumores que metabolizam pouco as

catecolaminas, secretando principalmente os hormônios ativos.

Tanto o estudo multicêntrico do Instituto Nacional de Saúde (NIH) publicado em

2002 por Lenders, Karel Pacak e cols, (47) com 214 pacientes com FC; quanto o estudo

Page 99: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

99

da Mayo Clinic, de Sawka e cols, 2003, (48,49) com 147 pacientes encontraram nas

metanefrinas plasmáticas livres o exame de maior sensibilidade (99%), seguido das

metanefrinas urinárias fracionadas (97%); concluindo que a dosagem de metanefrinas

plasmáticas livres possa ser o primeiro exame no algoritmo diagnóstico. No entanto,

esse exame não se encontra ainda disponível em nosso meio, sendo assim optamos por

seguir a orientação de Sawka e cols, que preconizam nos casos de FC aparentemente

esporádicos a dosagem de metanefrinas urinárias totais e fracionadas e catecolaminas

urinárias livres, havendo obtenção de sensibilidade adequada.

Quanto aos 5 pacientes que tiveram exames laboratoriais normais, 4 deles

haviam dosado catecolaminas urinárias e 1 com metanefrinas urinárias. Consideramos

esses casos como falso-negativo. A orientação seria de refazer a coleta, tentando obtê-la

em um momento de crise, de preferência.

Os pacientes que não realizaram nenhum exame laboratorial foram justificados

por apresentarem quadro clínico incompatível com FC; um caso com suspeita de

linfoma (embora com imagem em adrenal), um suspeito de tumor renal e outro que já

tinha seu diagnóstico estabelecido de FC, que veio ao HU para ser re-operado. Houve

apenas um caso em que se encontrou uma massa em adrenal e a investigação para FC

não foi adequadamente realizada.

Quanto aos exames de imagem, tivemos 58,8% de positividade ao US. Como

esse exame vem sendo utilizado desde a década de 70, foi o mais realizado em nossa

casuística. Outros autores encontraram maior positividade ao US como Kaplan e cols,

2000, (102) que observaram 83 à 89% de positividade e Pereira e cols, 2004, (99) que

encontraram 87%. Este fato pode ser por termos considerado positivos ao US somente

os casos que mostrassem imagem em adrenal, sendo considerado negativo qualquer

Page 100: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

100

outra imagem, como tumor em cauda de pâncreas, ou suspeita de tumor renal, por

exemplo.

Vinte e uma TC foram realizadas, com 20 positivas para imagem em adrenal,

mostrando uma excelente sensibilidade deste método diagnóstico, isso se justifica pelo

fato dos FC serem tumores adrenais de maior porte, se comparados com tumores de

outra origem, como adenoma não funcionante, adenoma produtor de cortisol, adenoma

produtor de aldosterona, lesões metastáticas, cistos ou hiperplasias, podendo ser mais

facilmente encontrados aos cortes de 5mm.

Segundo Ioannis Ilias e Karel Pacak de 2004, (56) a sensibilidade da TC varia de

85 e 94%. E Bravo e cols, 2004 (60), encontraram sensibilidade 98 a 100% tanto na TC

quanto RM, dados esses compatíveis com nossos achados. Sendo assim, nos casos em

que a TC localiza o tumor (a maioria) não há necessidade de RM.

Autores como Pereira e cols, 2004 (99) encontraram 90% de positividade na

MIBG, já Karel Pacak, 2004 (56) fez uma compilação de artigos, mostrando que varia

de 77 a 90%. Guller e cols, 2006 (50) fizeram MIBG nos seus 92 FC, obtendo 77

positivos e 15 negativos. No nosso estudo encontramos uma alta positividade (100%)

nas MIBG realizados. Acredita-se que tenha sido por nossos tumores serem muito

diferenciados (entre os pacientes que fizeram MIBG, todos tinham tumor benigno);

além de poder ter havido pouca necrose no interior, tendo em vista que esta e

desdiferenciação são fatores que podem alterar o MIBG, gerando falso-negativo.

Encontramos tumores de 2,5 a 12,5 cm, com média de 6,97 ± 2,45 cm de

diâmetro. Outros autores encontraram médias semelhantes, como Amar e cols, 2005 (5)

e Guller e cols, 2006 (50). Já Castilho e cols, 2000 (79) encontraram tumores menores

(média de 3,7 cm de diâmetro).

Page 101: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

101

Nossos achados clínicos comparados ao de outros autores encontram-se na

tabela22.

Tabela 22. Comparação do Estudo no HUCFF com outros Autores, em Relação a

Variáveis como: Idade, Sexo (MxF), Presença de paroxismos, HAS, Bilateralidade, PG,

Malignidade, Classificação de Esporádico X Familiar e Diâmetro Tumoral.

Autores Ano n idade M

%

F

%

Par

%

HAS

%

Bilat

%

PG

%

Malig

%

Espor

%

Fam

%

Diâmetro

(cm)

Castilho cols (79) 2000 10 48 (10-67 70 30 - - 0 - - 70 30 3,7 (1-8)

Paggi e cols (101) 2000 26 17-68 23 77 - - 15 11,5 3,8 92,3 7,7 -

Lender cols (47) 2002 214 40 (8-78) 51 49 - - - - - 64,5 35,5 -

Sawka e cols (49) 2003 33 - - - - - - 48 51 75 25 -

Pereira e cols (99) 2004 91 37±14 44 56 - - - - - - - -

Amar e cols (5) 2005 192 43,9±14,5 89,1 10,5 13,1 7,3 5 (3,5-7)

A.Khorram-

Manesh (4)

2005 121 47,2±13,4 44 56 - 49 6,6 9 6,6 75 25 -

Guller e cols (50) 2006 152 47 (12-84) 44,7 55,3 51,4 66,6 12,5 25,5 29,6 77 23 6 (0,6-21)

Sood e cols (83) 2006 9 25-60 44 56 - - - - - - - -

Gil e cols 2006 22 38,32±18,47 27 72 45,5 90 9 14 23 82 18 6,97±2,45

Legenda: M: masculino, F: feminino, par: Paroxismos, bilat: bilateral, PG: paraganglioma,

malig: malignos, espor: esporádicos, fam: familiar

Nosso estudo mostrou um incidência de FC de adrenal em 86% dos casos, sendo

achado apenas 3 (14%) casos de PG. Na literatura esse achado varia de 9 a 48%, de

acordo com vários autores, como visto na tabela 19. (4,5,49,50,101)

Nossos casos com possível origem genética foram apenas 4 (18%), acreditamos

que sub-diagnosticamos casos genéticos como aparentemente esporádicos. A Khorram-

Manesh, 2005 (4) encontrou 25% de casos de origem genética.

Curiosamente encontramos as seguintes correlações:

■ Em relação ao número de sintomas, pacientes com FC benigno ou maligno

tiveram semelhança na quantidade de sintomas apresentados. O número de sintomas não

esteve relacionado ao grau de labilidade pressórica à manipulação cirúrgica do tumor.

Page 102: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

102

Mas pacientes que apresentavam paroxismos tiveram uma tendência a serem mais

sintomáticos do que os sem paroxismos. Essa correlação não tem sido feita por outros

autores.

■ Ter maior volume tumoral ou diâmetro tumoral significou maior facilidade de

diagnóstico ao US, o que já seria esperado, pois devido à posição retroperitoneal da

adrenal, somente tumores maiores alcançam diagnóstico ao US. (99,102) Os tumores

maiores em volume apresentaram uma tendência a ter maior hipertensão na

manipulação, provavelmente devido ao maior grau de dificuldade na técnica cirúrgica,

proximidade de veia cava, veia renal, gerando maior tempo de manipulação desses

tumores, provocando maior liberação catecolaminérgica. Essa relação não costuma ser

avaliada em outros estudos. Porém o tamanho tumoral, tanto quando avaliado em

diâmetro quanto em volume, não se correlacionou estatisticamente com maior grau de

hipotensão no per e pós-operatório, o que nos faz pensar que o que realmente influencia

essa complicação deva ser o status volêmico e de hidratação do paciente, além do

preparo pré-operatório com alfa-bloqueadores. O estudo de Plouin e cols, 2001 (103)

também não obteve correlação do tamanho tumoral (usou maior diâmetro) com as

complicações estudadas.

Durante o pré-operatório, 15 pacientes usaram medicação, ou seja, foi realizado em

quase todos os pacientes que tiveram suspeita pré-operatória de FC, exceto em 2 casos

(MJSB em 1991 e ING em 2000). Quatorze deles usaram prazosin (associado ou não a

outra droga). A dose usada variou de 4 à 24 mg/dia, com média de 11,36 ± 6,79 mg/dia,

semelhante às doses utilizadas no estudo de Castilho e cols, 2000. (79) Quanto ao tempo

de uso variou de 9 à 75 dias, com média de 36,50 ±16,46, enquanto no estudo de

Castilho e cols o tempo médio de uso foi de 21 dias. Esse maior tempo do uso do

Page 103: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

103

prazosin em nosso estudo pode ser justificado por muitos pacientes terem alta,

aguardando em casa vaga para cirurgia, aumentando assim o tempo de alfa-bloqueio.

Em nosso estudo a droga mais utilizada foi o prazosin; outros estudos como

A.Khorram-Manesh e cols, 2005 (4) utilizaram a fenoxibenzamina como droga mais

freqüente, com dose média de 139± 74mg/dia, enquanto no HUCFF apenas 5 pacientes

fizeram uso da fenoxibenzamina (dois associados à prazosin, um associado à prazosin e

beta-bloqueador e um somente fenoxibenzamina), com média de dose de

30mg±12,25mg/dia e de tempo de 24,8±20,14 dias, sendo a paciente com maior dose

utilizou 40mg/dia, mostrando que em relação à fenoxibenzamina, temos utilizado em

menor frequência e com menores doses que o estudo sueco, provavelmente por menor

disponibilidade desta droga em nosso meio.

Aplicando a análise estatística, pode-se observar que:

■ O tamanho do tumor (medida pelo maior diâmetro) não se correlacionou com

a dose nem com o tempo de prazosin, nem ao menos com o número de sintomas

apresentados. Essa correlação não vem sendo estudada por outros autores.

■ Não houve associação com significância estatística entre a realização de

preparo com bloqueio alfa-adrenérgico com as complicações no per e pós-operatório,

tanto em relação à hipertensão na manipulação cirúrgica, hipotensão à retirada da

massa, quanto à hipotensão no POI. No entanto, o percentual de óbito foi maior nos

pacientes sem preparo em relação aos com bloqueio alfa-adrenérgico (42,9% vs 7%),

porém o n foi muito pequeno para gerar significância estatística. O mesmo ocorreu com

hipertensão na manipulação, onde apenas 33,3% dos pacientes com preparo a

apresentaram, enquanto 57,1% dos pacientes sem preparo; porém o p valor não mostrou

significância estatística, provavelmente por ser um n pequeno. Os 2 únicos óbitos em

POI ocorreu com os pacientes I.L. (hipotensão refratária e óbito em 7 horas do POI) e

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104

J.C.O (taquicardia ventricular no per-operatório e óbito em 10 horas de POI); ambas não

fizeram uso do prazosin.

Diante desses achados, concluímos que com esse n de pacientes por nós

estudados, não podemos dizer que o uso do prazosin traga maior estabilidade no per e

pós-operatório, somente afirmamos que a falta dele em dois pacientes esteve associada

aos nossos dois únicos pacientes que evoluíram em óbito em POI. Talvez não seja

somente o uso de prazosin que deva ser avaliado, mas sim um conjunto de variáveis

como status volêmico, hemodiluição e queda do hematócrito durante o preparo, níveis

tensionais pré-operatório, anti-hipertensivos em uso, co-morbidades apresentadas,

tempo cirúrgico, agentes anestésicos, entre outros. Podemos questionar também a

eficácia do preparo com prazosin, em relação às doses e tempo utilizados. São

necessários outros estudos avaliando as outras variáveis citadas, ou mesmo aumentar o

n de pacientes na tentativa de talvez alcançar diferença significativa entre os dois grupos

(quem usou ou não prazosin).

Trabalhos como o de Boutros e Bravo, 1990 (67) que avaliou 63 pacientes em

per e pós- operatório, assim como o de Plouin e cols, 2001 (103), onde foram estudados

147 pacientes de 1975 à 1997, também não encontraram diferença estatística

significativa em relação às complicações per e pós-operatória entre os pacientes que

usaram ou não prazosin. Plouin e cols encontraram que maiores pressões sistólicas no

pré-operatório estiveram relacionadas à maior lesão esplênica; e que tumores malignos

assim como re-operação estiveram relacionados a maiores complicações.

A complicação per-operatória mais freqüente em nosso estudo foi hipertensão na

manipulação (9 casos), mas na maioria das vezes foi prontamente resolvida com drogas

hipotensivas endovenosas e além desta hipotensão à retirada do tumor (9 casos) devido

ao choque vasoplégico gerado pela súbita ausência da secreção de catecolaminas; essa

complicação foi revertida, na maioria dos casos, com cristalóides, expansores

plasmáticos e eventualmente aminas vasopressoras. Outras menos comuns foram:

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105

Quatro lacerações vasculares, arritmias cardíacas em 3 pacientes, atelectasia em 2 casos,

hematoma de ferida operatória, insuficiência respiratória, hiperglicemia e hipoglicemia,

cada uma apresentando apenas um caso.

Tabela 23: Comparação das Complicações deste Estudo (HUCFF) com Plouin e cols, 2001 (103)

Complicação Castilho e cols, 2000 (laparoscopia) (79)

Plouin e cols, 2001 (103)

Naya e cols, 2005 (laparoscopia) (80)

A.Khorram-Manesh, 2005 (4)

HUCFF - 2006

N 9 147 23 121 22

HAS na manipulação Não relata Não relata 9 (39,1%) Não relata 9 (40%)

Hipotensão à retirada 1 (10%) Não relata 8 (34,8%) Não relata 9 (40%)

Hipotensão POI Não relata Não relata Não relata Não relata 7 (31%)

Óbito POI 0 4 (2,7%) Não relata 0 2 (9%)

Óbito POT Não relata Não relata Não relata 34,7% 2 (9%)

Arritmia cardíaca Não relata 4 (2,7%) Na ralata Não relata 3 (13%)

Alteração glicêmica Não relata 25 (17%) Não relata Não relata 2 (9%)

Atelectasia 0 Não relata 0 0 2 (9%)

Insuficiência

respiratória

0 2 (1,3%) 0 0 1 (4,5%)

Laceração vascular 2 (20%) Não relata 0 Não relata 4 (18%)

Hematoma de ferida

operatória

1 (10%) Não relata 0 Não relata 1 (4,5%)

Choque anafilático 0 1 (0,6%) 0 0 0

Edema agudo de

pulmão

0 1 (0,6%) 0 0 1 (4,5%)

Insuficiência renal

aguda

1 (10%) 2 (1,3%) 0 0 0

PCR (assistolia/FV) 0 4 (2,7%) 0 0 1 (4,5%)

Coma 0 1 (0,6%) 0 0 0

Ressecção de órgãos

adjacentes

0 14 (9,5%), sendo 11

esplenectomias

0 2 (fígado e

pâncreas)

0

Insuficiência adrenal 0 16 (10,8%) Não relata 2,4% 2 (9%)

Drenagem cirúrgica de

hematoma

0 4 (2,7%) 0 2,4% 0

Choque hemorrágico* 1 (10%) 1 (0,6%) 0 2,4% 0

Derrame pleural 0 2 (1,3%) 0 2,4% 0

Choque séptico 0 1 (0,6%) 0 0 1 (4,5%)

Legenda: * Oclusão de artéria femural observada no sétimo dia de PO, sendo necessário uso de heparina. PCR: parada-cárdio-respiratória. FV: fibrilação ventricular

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106

Ao comparar nosso estudo com os autores da tabela 23, observamos algumas

semelhanças: HAS na manipulação cirúrgica oscilou em torno dos 40% tanto em nosso

estudo quanto no de Naya e cols, laceração vascular em torno dos 20% tanto para

Castilho quanto para nós. O percentual de ocorrência de insuficiência respiratória,

edema agudo de pulmão, parada cardio-repiratória, insuficiência adrenal e choque

séptico também foi semelhante em nosso estudo comparado aos da tabela 20.

Houve diferença nítida em relação à hipotensão na retirada do tumor, nesses

casos ocorrendo em 40% para nós, 34,8% para Naya e cols, mas apenas 10% para

Castilho, com cirurgias laparoscópicas. Tivemos maior percentual de óbitos, em relação

a Plouin e cols que pode ter sido por falha no preparo de nossos dois pacientes que

morreram no POI. Quanto aos óbitos em POT, encontramos menor percentual do que

A.Khorram-Manesh (9% vs 34,7%); esses autores justificam seus óbitos por terem

pacientes muito idosos (26% dos óbitos foram em idosos).

Obtivemos melhores resultados que os autores citados na tabela 20 em relação à

alteração glicêmica e hematoma de ferida operatória. Algumas complicações como

choque anafilático, insuficiência renal aguda, coma e derrame pleural, não encontramos

nenhum caso; mostrando que nesses casos tivemos menores complicações que os outros

autores. Não tivemos nenhum caso com necessidade de esplenectomia, diferentemente

dos 14 casos de lesão em órgãos adjacentes no estudo de Ploin (103). Da mesma forma

não houve necessidade de re-operação devido a hematoma e nenhum caso de choque

hemorrágico ou anafilático (diferente do estudo de Ploin que encontrou essas

complicações).

Quando fazemos uma comparação com o estudo de Amar e cols, 2005, (5)

observamos que 5 pacientes em 192 estudados (2,6%) morreram no PO recente (menos

de 30 dias). Já no nosso 2 pacientes (9,09%) também faleceram neste período. Porém no

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107

relato de Amar e cols foram excluídos os pacientes que não poderiam ser acompanhados

no PO pela distância e também excluídos os pacientes operados em outro local, que

vieram a seu hospital para serem re-operados. Temos um caso em nosso estudo de

paciente jovem, operado previamente em outro nosocômio, sem cura, que veio para ser

re-operado no HUCFF, caso esse classificado como maligno, por sua recidiva precoce.

Quanto às incisões cirúrgicas, em nosso estudo a mais freqüente foi a mediana (14

casos), seguido da subcostal (5 casos), tivemos apenas uma laparoscopia. O estudo de

A.Khorram-Manesh e cols, 2005 (4), retrospectivo de 47 anos, com 121 pacientes

evidenciou abordagem trans-abdominal em 101 pacientes, incisão em flancos

retroperitoneal em 14, e apenas 3 lombotomias. Houve 3 laparoscopias, mas esta se

tornou a técnica mais freqüente após o término desse estudo em 1997, o que também é a

tendência no HUCFF.

Em relação à necessidade de corticoterapia, nossos 2 casos de adrenalectomia

bilateral precisaram de corticóide no POI. Enquanto A.Khorram-Manesh e cols, 2005

(4) tiveram 8 casos de bilateralidade, mas apenas 3 necessitaram de corticoterapia, já

que os outros pacientes foram submetidos à cirurgias mais conservadoras, poupando-se

o córtex quando possível. Nossos 2 casos bilaterais eram provenientes de síndromes

genéticas, assim como os autores citados acima, que também tiveram seus 8 casos de

bilateralidade associados à doenças genéticas. Estes autores mostraram ser possível

realizar cirurgias mais conservadoras em casos bilaterais, não havendo a necessidade de

reposição corticotrófica, diminuindo a morbidade.

A nossa avaliação comprova que quanto maior a idade da cirurgia (há mais

tempo tenha ocorrido), maior a presença das complicações, evidenciando-se que

cirurgias mais recentes complicam menos. Plouin e cols, 2001 (103) não identificaram

diferença estatística quando correlacionaram as complicações cirúrgicas com a idade da

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108

cirurgia (estudaram retrospectivamente pacientes de 1975 à 1997). Estima-se que nosso

achado seja proveniente de melhores abordagens cirúrgicas, agentes anestésicos menos

influenciadores na liberação catecolaminérgica, melhores aminas vasoativas e

expansores plasmáticos, assim como drogas hipotensoras e anti-aritmogênicas mais

potentes, além de maior rigor do anestesista e do clínico para obter critérios de alfa-

bloqueio adequado, antes de liberar para realização da cirurgia. Também pode ser

devido a diagnósticos mais precoces por métodos melhores tanto laboratoriais quanto de

imagem, levando à cirurgias mais precoces, com tumores ainda pequenos e com

menores complicações cardiovasculares decorrente dos níveis cronicamente elevados de

catecolaminas.

No acompanhamento pós-operatório, o nosso variou de 5 meses à 16 anos, tendo

a maioria dos casos conseguido comparecer as consultas por vários anos. Tivemos 15

pacientes acompanhados por uma média de 6,5 anos (73,73 ±58,82 meses). Castilho e

cols, 2000 (79) tiveram apenas 22 meses de folow up em média, Naya e cols

acompanharam seus pacientes por 27,6± 18,7 meses. Já A.Khorram-Manesh, 2005, (4)

por ser retrospectivo, pode observar um follow up de 15 anos em média. Entretanto, dos

79 pacientes que sobreviveram até 1997 (16 ± 11 anos após a cirurgia), apenas um

perdeu o acompanhamento. Essa adesão pode ser justificada porque as consultas muitas

vezes eram feitas em outros hospitais conveniados ou mesmo por questionários (via

telefone).

Durante o seguimento clínico anual em ambulatório, foi observado que 4 dos 15

casos acompanhados permaneceram com HAS (27%), sendo 2 deles HAS proveniente

de FC maligno. Esses achados coincidem com outros autores, tendo A.Khorram-

Manesh, 2005 (4) encontrado até 49% de persistência de HAS, em 15 anos em média de

acompanhamento.

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109

O aparecimento de metástases ocorreu em tempo máximo de 5 anos.

A.Khorram-Manesh, 2005 constataram metástases em até 17 anos de PO. (4)

Dos 22 casos estudados, 3 tiveram óbito em menos de 2 meses, sendo 2 em POI,

em conseqüência direta da cirurgia (um em choque cardiogênico e outro em choque

vasoplégico refratário devido a falta adequada de preparo pré-operatório) e um por

sépsis de origem retroperitoneal. Houve apenas um caso de óbito em PO remoto, que

ocorreu 14 anos após a cirurgia, por metástase para via biliar (sépsis biliar),

evidenciando que apesar de 2 pacientes permanecerem com doença ativa até sua última

consulta (M.J.S.B. e N.D.G.), o óbito no POT de FC não é freqüente. Na séria de

Khoram-Manesh e cols, 2005 (4) todos seus pacientes com FC/PG malignos viveram

mais de 5 anos após a recorrência.

Essa foi a casuística desses 28 anos estudados. Comparando-se com outros

estudos, observa-se que, com o passar dos anos, houve uma tendência de redução do

número de óbitos decorrentes da cirurgia. O estudo de Remine W.H., 1974 (104)

avaliou 138 pacientes operados de 1926 a 1970, com mortalidade cirúrgica de 2,9%.

Séries mais recentes, como a de Kinney e cols, 2000,(72) mostraram em 143 casos

operados, ausência de mortalidade. Um estudo francês de Plouin e cols, 2001 (103) fez

uma compilação de várias publicações que tratam de morbi-mortalidade e encontraram

uma mortalidade variando de 0 a 6,7% e morbidade de 3,3 a 36,1%, artigos esses em

sua maioria da década de 90, não se referindo às cirurgias antes dessa época. Três dos

nossos 4 óbitos foram em cirurgia da década de 80.

Entre os 19 pacientes sobreviventes após 2 meses de cirurgia, apenas 4 não

tiveram acompanhamento no HUCFF. Porém desses 15 casos acompanhados

anualmente, apenas 10 tiveram coletas de catecolaminas freqüentes, variando de 1 a 3

coletas. Após 1991, a coleta de catecolaminas se tornou uma conduta mais freqüente.

Page 110: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

110

Essa dificuldade para realização da coleta de catecolaminas reflete com freqüência

empecilhos colocados pelo próprio paciente que muitas vezes se sente muito bem, se

considera curado há muitos anos, sem hipertensão ou qualquer sintoma e não deseja ser

internado por 24 horas para coleta de catecolaminas, ou realizar a mesma

ambulatorialmente, e às vezes, nem mesmo comparecer mais às consultas de

acompanhamento.

Uma deficiência de nosso estudo foi caracterização do FC familiar apenas

clinicamente, ou seja, pela presença de história familiar ou fenótipo de NEM ou VHL

ou NF, sendo o restante considerado esporádico, devido a falta de material técnico para

estudo genético apropriado, o que pode ter gerado casos em que apesar de

classificarmos como esporádico, possa ter uma origem genética subliminar. A.Khorram-

Manesh e cols, 2005 (4), também não fizeram estudo genético por ser retrospectivo de

121 casos. Eles encontraram 25% de FC familiares, avaliando apenas aspectos clínicos.

7. CONCLUSÕES:

* Apenas 22 pacientes tiveram diagnóstico de FC, com média de idade de 38,32

(±18,47 anos), predominando o sexo feminino (72%), no período de 27 anos avaliados.

* Houve predominância da HAS sustentada sobre a paroxística (59% vs 31%) e

apenas 2 pacientes eram normotensos, e aqueles com paroxismos tiveram uma tendência

a serem mais sintomáticos.

* FC se mostrou uma doença muito sintomática, com apresentação em média de 6

sintomas, sendo o mais comum cefaléia , seguido de HAS sustentada e palpitações,

sudorese, emagrecimento e sintomas gastro-intestinais.

Page 111: FEOCROMOCITOMA – PERFIL DOS 27 ANOS DO HOSPITAL

111

* O maior diâmetro tumoral variou de 2,5 a 12,5 cm, com média de 6,9 ± 2,45 cm,

ou seja, acima do valor preconizado para indicação cirúrgica nos casos de incidentaloma

adrenal, reforçando a necessidade de investigação diagnóstica em todos os casos.

* Houve correlação positiva do tamanho tumoral com a positividade ao US e uma

tendência dos maiores tumores apresentarem mais hipertensão na cirurgia. O tamanho

tumoral não se correlacionou a outras complicações como hipotensão nem com a dose

ou tempo de uso do alfa bloqueador.

* Dosagem de catecolaminas e metanefrinas plasmáticas e/ou urinárias, foram

normais em apenas 5 casos e adrenalina urinária se mostrou o exame mais

freqüentemente positivo (87,5%).

* O diagnóstico de imagem foi feito com sucesso por US e/ou TC na maioria dos

casos e o funcional com MIBG.

* O preparo pré-operatório foi realizado na maioria dos casos, predominando o uso

do alfa-bloqueador, sendo a média do tempo de uso de 36,5 dias.

* Ter ou não feito o preparo com drogas, não se correlacionou com maior

incidência de complicações cirúrgicas como hipertensão na manipulação do tumor ou

hipotensão na retirada do mesmo, ou hipotensão no POI, embora os únicos 2 óbitos no

POI não haviam feito preparo. Isso mostra que existem outros fatores, que não o uso das

drogas alfa-bloqueadoras, que podem influenciar na evolução da cirurgia.

* O acesso cirúrgico predominante foi laparotomia.

* As complicações cirúrgicas mais freqüentes no per ou no POI foram hipertensão à

manipulação do tumor e hipotensão à retirada do mesmo.

* A idade da cirurgia se correlacionou às complicações cirúrgicas avaliadas, ou

seja, quanto mais antiga a cirurgia, maior a hipertensão à manipulação do tumor e maior

a hipotensão à retirada do mesmo, evidenciando uma melhora das técnicas cirúrgicas,

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112

anestésicas, agentes hipotensores, expansores volêmicos, além de maior rigor no critério

de preparo cirúrgico e de técnicas laboratoriais e de imagem que permitam o

diagnóstico mais precoce, reduzindo a morbidade e mortalidade do FC nos últimos

anos.

* Houve predomínio de casos benignos (77%), de localização adrenal (86%) e

esporádicos (82%).

* Não houve correlação do número de sintomas apresentados com ser benigno ou

maligno, nem com o grau de labilidade pressórica à manipulação cirúrgica tumoral.

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9. ANEXOS

9.1. PROTOCOLO DE COLETA DE DADOS

a) Identificação : Nome:_____________________________________________Prontuário:___________ Idade (época do diagnóstico e/ou investigação ): ___________Sexo:________________ Endereço:__________________________________________Telefone:_____________ b) Apresentação Clínica : Idade do início dos sintomas:_____ n°de sintomas:_____ Sinais e sintomas iniciais: SIM NÃO Tempo de

diagnóstico Medicação usada/tempo

HAS sustentada HAS paroxística Cefaléia Sudorese Palpitações Tremores Astenia Náuseas Vômitos Dor abdominal Dor torácica Emagrecimento Constipação intestinal Arritmia Hiperglicemia / diabetes mellitus Incidentaloma Raunauld Livedo reticular Efeito de massa Hipotensão ortostática Alterações ao ECG História familiar de feocromocitoma Ca de tireóide/tipo ) Hiperparatireoidismo Neuromas mucosos Hábito marfanóide Von Hippel-Lindau Choque ou hipertensão na indução anestésica

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c) Medicações em Uso na Época da Avaliação SIM DOSE Prasozin γ Fenozibenzamina β bloqueador ∗ Metildopa γ L Dopa γ Clonidina γ # Álcool # Reserpina ∗ γ Fenotiazinas ∗ Anfetaminas ∗∗ Efedrina ∗∗ Pseudoefedrina ∗∗ Fenilpropanolamida ∗∗ Cocaína ∗∗ LSD ∗∗ Clorpromazina Ácido Nalidíxico Glicerato de guaiacol Metocarbamol Inibidores da MAO ∗ Anti-depressivo tricíclico ∗ γ Clofibrato γ Droperidol ∗ Glucagon ∗ Metoclopramida ∗ Naloxone ∗ Acetaminofen γ Lê-se: ∗ precipitadores da crise ∗∗ podem simular crise por aumento de catecolaminas γ podem interferir com a dosagem das catecolaminas # quando suspensos abruptamente podem simular crise d) Fatores Precipitantes das Crises: Sim Exercício Trauma Drogas (quais) Anestesia/cirurgia Alimentos (quais)

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e) Avaliação de Exames Complementares : Normal Alterado Descrição Valor de

referência Adrenalina Catecolaminas livres

urinárias

Noradrenalina Metanefrinas Metanefrinas urinárias Normetanefrinas Adrenalina Catecolaminas

plasmáticas

Noradrenalina Ácido Vanil Mandélico [VMA]

Cromogranina A Glicemias Função renal R X de tórax R X de esqueleto Ultrassom abdominal Tomografia Computadorizada de abdome

Ressonância magnética de abdome

Cintilografia adrenal com metaiodo benzil guanidina [MIBG]

ECG Ecocardiograma f) Preparo Cirúrgico (Pré-operatório): Dose máxima necessária Tempo de preparo Prazosin Fenoxibenzamina Bloqueador canal cálcio β bloqueador g) Tratamento Cirúgico Data:________________ Avaliação do

cirurgião Congelação Histopatológico

Maligno Benigno

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h) Complicações Cirúrgicas: COMPLICAÇÃO SIM NÃO Hipertensão à manipulação do tumor Hipotensão à retirada do tumor Hipotensão no POI Òbito no POI Outras:__________________________ ________________________________ ________________________________

i)Acompanhamento do Pós-operatório:

Data da última consulta:_____________ Tempo de sobrevida:________________ Data da coleta

Valores de referência

adrenalina Catecolaminas livres urinárias noradrenalina

metanefrina Metanefrinas urinárias normetanefrina

adrenalina Catecolaminas plasmáticas noradrenalina

Tempo de pós-operatório

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9.2 Tabela Descritiva dos Casos 1

05