92
Fernando Antonio Lins de Moura AVALIAÇÃO DA DIGESTÃO DE AMOSTRAS DE PICHE ASSISTIDA POR RADIAÇÃO DE MICROONDAS E DETERMINAÇÃO DE METAIS POR ICP OES Dissertação apresentada ao Curso de Pós- Graduação em Química na Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre. Área de Concentração: Química Analítica. Orientador: Prof. Dr. Ricardo Erthal Santelli NITERÓI 2006 1

Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

Fernando Antonio Lins de Moura

AVALIAÇÃO DA DIGESTÃO DE AMOSTRAS DE PICHE ASSISTIDA POR RADIAÇÃO DE MICROONDAS E DETERMINAÇÃO DE METAIS POR ICP

OES

Orientador:

Dissertação apresentada ao Curso de Pós-

Graduação em Química na Universidade

Federal Fluminense, como requisito parcial

para obtenção do Grau de Mestre. Área de

Concentração: Química Analítica.

Prof. Dr. Ricardo Erthal Santelli

NITERÓI

2006

1

Page 2: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

A minha esposa Cristina, meu filho João e

minha filha Izadora.

A meu Pai e minha Mãe

pelo apoio e incentivo

2

Page 3: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

AGRADECIMENTOS

Ao Professor Santelli pela paciência e generosidade em compartilhar sua sabedoria, bom humor e sua estrutura laboratorial. Ao Programa de Pós Graduação em Química pela oportunidade de poder desenvolver este trabalho. A Profa. Silvana Rodrigues, ao Prof. Wolfram Baumann e Analia Soldati pela grande ajuda no desenvolvimento desta dissertação e na técnica de ativação por nêutrons. Ao Prof. Erico M.M. Flores e meus bons amigos de Santa Maria na condução da análise por combustão. A Eliane Pádua pelas análises no ICP-OES A Maria Inês do CETEM pelo empréstimo do Prolabo Microdigest 3 Ao Eleno Gonçalves da Superlab / Automação pelo empréstimo dos frascos Pressurizados A Glória Botelho pela cessão das amostras de piche A Maria Luisa Aleixo pela análise TGA Ao Prof. Marcelo Bernardes e ao Prof. Agnaldo Marques pela utilização do TOC 5000

Aos colegas do Grupo de Automação e Espectroanalitica.

A todos que direta ou indiretamente contribuíram na realização deste

trabalho.

3

Page 4: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.....................................................................................................10 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA................................................................................24 2.1 INTERAÇÃO DA MATÉRIA COM AS MICROONDAS.................................... 24

2.2 DIGESTÃO DE AMOSTRAS COM ALTO TEOR DE MATERIA ORGANICA

POR MICROONDAS PARA DETERMINAÇÃO DE METAIS.. .............................. 25

2.3.DETERMINAÇÃO DIRETA DE METAIS EM DERIVADOS DE PETRÓLEO... 36 2.4 COMBUSTÃO ASSISTIDA POR RADIAÇÃO MICROONDAS EM SISTEMAS

PRESSURIZADOS ................................................................................................ 38

2.5 DETERMINAÇÃO DE METAIS POR ATIVAÇÃO NÊUTRÔNICA.................... 40

2.6 PICHE E RESÍDUO DE DESTILAÇÃO.............................................................42

3 IMPORTÂNCIA DA DETERMINAÇÃO DE METAIS EM PICHE.........................44 3.1 OBJETIVOS DO TRABALHO............................................................................46 4 PARTE EXPERIMENTAL.....................................................................................47 4.1 REAGENTES E AMOSTRAS............................................................................47 4.2 INSTRUMENTAÇÃO.........................................................................................48 4.2.1 Determinação de carbono residual......................................................... ...48 4.2.2 Análise térmica das amostras de piche................................................... ..48 4.2.3 Digestão das amostras de piche. .............................................................. 46 4.2.4 Determinação de metais e de carbono residual por ICP OES..................50

4.3 PROCEDIMENTOS...........................................................................................51 4.3.1 Digestão de piche em sistema pressurizado................................... .......51 4.3.2 Digestão de piche em sistema aberto (focalizado)...................................51 4.3.3 Combustão de amostras assistida por microondas ................................52 4.3.4 Determinação de metais em piche via analise por ativação neutrônica..............................................................................................................52 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO...........................................................................53 5.1 ANALISE POR ATIVAÇÃO NEUTRÔNICA......................................................53 5.1.2 Caracterização do piche por análise elementar........................................53

4

Page 5: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

5.1.3 Caracterização do piche por análise termogravimétrica..........................54 5.2 DETERMINAÇÂO DE CARBONO RESIDUAL ................................................55 5.2.1 Construção de curva de calibração com solução de uréia..................... 56 5.2.2. Padronização interna com adição de Y as soluções introduzidas no ICP OES.........................................................................................................................56

5.3 DIGESTÃO DE PICHE ......................................................................................57 5.3.1 Digestão de piche no sistema de cavidade com frascos pressurizados.........................................................................................................57 5.3.1.1 Programa 1 .................................................................................................57 5.3.1.2 Programa 2 .................................................................................................60 5.3.1.3.Determinação de carbono residual por TOC............................................ .65 5.3.1.4 Avaliação dos digeridos com relação à homogeneidade, teor de carbono

residual e metais no sistema pressurizado ...........................................................65 5.3.2 Digestão de piche em sistema focalizado..................................................72 5.3.3 Avaliação dos digeridos sistema focalizado.............................................75 5.4 DIGESTÃO DE PICHE EM SISTEMA DE COMBUSTÃO................................81 6. CONCLUSÃO.....................................................................................................82 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................86

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Gráfico da análise termogravimétrica perda de massa por temperatura..55

Figura 2: Gráfico da evolução do programa de digestão 1 no sistema pressurizado

pressão vs temperatura vs tempo fornecido pelo fabricante ..................................60

Figura 3: Gráfico de Pareto resposta em teor de carbono residual........................68

Figura 4: Gráfico de Pareto resposta em concentração de ferro............................70

Figura 5: Gráfico de Pareto resposta em concentração de cobre..........................70

Figura 6: Gráfico de Pareto resposta de concentração de zinco............................71

Figura 7 Gráfico de Pareto resposta em concentração de vanádio........................71

Figura 8: Gráfico de Pareto resposta em carbono residual.....................................80

Figura 9: Gráfico de Pareto resposta em concentração de ferro............................81

Figura 10: Gráfico de Pareto resposta de concentração de cobre........................ 81

5

Page 6: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Condições experimentais utilizadas pelo analisador térmico 48

Tabela 2 Parâmetros instrumentais para medida de metais por ICP OES 50

Tabela 3 Resultados obtidos com a análise por ativação neutrônica 53

Tabela 4 Programa 1 para digestão de 1g de óleo no sistema pressurizado 58

Tabela 5 Fatores e níveis estudados no planejamento fatorial para digestão

de piche no programa 2

61

Tabela 6 Programa 2 utilizado no digestor pressurizado Mars 5 para

digestão do piche

62

Tabela 7 Matriz do planejamento fatorial utilizada no digestor pressurizado

assistido por radiação microondas

63

Tabela 8 Comparação resultados obtidos na determinação de carbono por

sistema de medição TOC com os obtidos por ICP OES

64

Tabela 9 Determinação de metais por ICP OES em piche nos digeridos

obtidos sistema pressurizado, comparação com valores obtidos

por ativação neutrônica.

66

Tabela 10 Fatores e níveis utilizados no planejamento fatorial para digestão

de piche no sistema focalizado

76

Tabela 11 Matriz do planejamento fatorial de 2 níveis e 3 fatores com

resultados dos teores de carbono residual

76

Tabela 12 Determinação dos metais por ICP OES nos digeridos obtidos no

sistema focalizado , comparação com ativação neutrônica

79

Tabela 13 Programa utilizado no sistema de combustão 81

Tabela 14 Resultados da determinação dos metais combustão 81

6

Page 7: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

LISTA DE ABREVIATURAS

ETAAS Espectrometria de absorção atômica com atomização eletrotérmica

FAAS Espectrometria de absorção atômica com chama

GFAAS Espectrometria de absorção atômica com forno de grafite

ICP OES Espectrometria de emissão ótica em plasma de argônio

indutivamente acoplado

ICP-MS Espectrometria de massa com fonte de plasma

PFA Perfluoralcoxi

INAA Analise instrumental por ativação neutrônica

PTFE Politetrafluoretileno

IR Infravermelho

SRM Material padrão de referência

RCC Teor de carbono residual

HPPN Nebulizador automático de alta pressão

PAN Poliacrilonitrila

PPT Partes por trilhão

7

Page 8: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

RESUMO

Neste trabalho foram desenvolvidas metodologias para a digestão de amostras de piche empregando diferentes misturas digestoras em três tipos de sistemas que utilizam microondas como fonte de energia: um sistema de cavidade com reatores pressurizados, um sistema com radiação focalizada e um sistema de cavidade associado com combustão. Em todos os casos o objetivo foi a geração de uma solução aquosa para a determinação de metais por ICP OES. O processo de digestão das amostras foi monitorado através da medida do carbono residual e da recuperação dos metais estudados nos digeridos avaliados através de medidas realizadas por ICP OES. Os resultados obtidos foram comparados com os resultados gerados por outras técnicas analíticas tradicionalmente aceitas como TOC e analise instrumental por ativação neutrônica. Amostras de piche obtidas através de destilação a vácuo de resíduo aromático de petróleo foram empregadas no desenvolvimento das metodologias. Os teores de carbono nestas amostras foram determinados empregando um analisador elementar CHN sendo encontrado teores de carbono dentro da faixa de 95,4 ± 0,01 %. No sistema de digestão pressurizado com frascos de alta pressão (1500 psi) utilizamos um planejamento fatorial de dois níveis e foram avaliados os seguintes fatores: tempo de exposição em 220°C entre 5 e 20 min, volume de HCl entre 1 e 3 ml e o volume de H2O2 entre 1 e 3ml . Todos os experimentos utilizaram um volume fixo de 10ml HNO3. Nos digeridos o carbono residual variou entre 38 e 51% e os metais ferro, cobre e zinco mostraram uma recuperação acima de 90%. No sistema focalizado utilizamos à técnica de adição da amostra encapsulada em gelatina a mistura digestora e trabalhamos com uma programa centrado na potência da microondas irradiada com 120W por 40 min e 210 W por 20 min. Foi utilizado um planejamento fatorial de 2 níveis na condução dos experimentos onde foram avaliados : relação de volume HNO3 / H2SO4, volume total da mistura acida e volume de H2O2 com níveis variando entre 0 e 50% ; 5 e 7 ml e 3 e 5 ml respectivamente . Foram encontrados teores de carbono residual entre 0,7 e 26% e recuperações de ferro entre 16 e 100% , cobre entre 29 e 68% mas com perdas de zinco, manganês e vanádio que não foram detectados (abaixo do limite de detecção). O procedimento de combustão foi implementado em um sistema de microondas pressurizado. As amostras eram pesadas em papel de filtro tratado e depositadas em suporte de quartzo. Estes eram colocados dentro dos frascos de quartzo inseridos dentro do frasco convencional de PFA e recebiam 50uL de solução de nitrato de amônia após o que eram fechados e pressurizados com oxigênio a aproximadamente 290 psi. A ignição era iniciada pela combustão do papel de filtro ao ser aplicado um programa de irradiação por 10 min na potência de 1400W. O teor de carbono residual não foi determinado e obtiveram-se recuperações de metais de 19 %para o cobalto, 67% para cobre e 73 % para zinco.

Palavras-chave Preparação de amostras, forno de microondas, ICP OES, metais, piche de petróleo.

8

Page 9: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

ABSTRACT

This work reports the development of analytical methodologies for the determination of metals in samples of pitch after their digestion employing different strategies based on microwave radiation. The digestion process was monitored by measuring residual carbon content and metals in the samples, both by ICP OES and the obtained results compared against TOC and INAA measurements. All experimental work was performed using high vacuum distilled pitch from petroleum aromatic residua containing 95, 4 ± 0.1 % of carbon. To detect the main factors that influenced the digestions procedures and the interactions between them, tests were carried out using a two-level factorial design. The variables studied in pressurized system were: 220°C time digestion ( 5 and 20 min), H2O2 and HCl volumes ( 1 and 3 ml) and sample mass (250 and 500 mg) At these conditions residual carbon content between 38 a 51% was obtained and Fe, Cu and Zn results agreed higher than 90% when compared with INAA results .

A gradual encapsulated sample addition strategy was applied to focused microwave. A program power irradiation based was implemented divided into two steps of irradiation 120W /40 min and 210W/20min. A two-level factorial design experiment was carried out to evaluate the influence of HNO3 and H2SO4 volume (0 and 50%), digestion mixture total volume (5 and 7 ml) and H2O2 (3 and 5 ml) on RCC and metal concentrations in digestates. At these conditions were obtained RCC values between 0,7 and 26%, Fe agreed from 16 to 100% and Cu from 29 to 68% however Zn, Mn e V concentrations were lower than minimum detection level and were not detected . The microwave assisted sample combustion procedures were developed in a quartz vessel inserted in a standard PFA vessel. The sample was weighed in a treated filter paper and placed in quartz holder. The holder was positioned into the vessels and 50µL of ammonium nitrate was added as an igniter for the combustion procedure. Vessels were closed and pressurized with oxygen to 290 psi. The ignition was performed by 1400W microwave radiation applied for 10 min. Residual carbon content was not measured in this case and metal recoveries agreed 19 % to Co, 67% to Cu and 73 % to Zn. . Key word: sample preparation, microwave radiation, ICP OES, metals, petroleum pitch.

9

Page 10: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

1. INTRODUÇÃO

De uma forma geral, podemos afirmar que todo o universo de aparelhos

eletro-eletrônicos tem sofrido nos últimos 30 anos grandes mudanças com notáveis

avanços tecnológicos em uma escala muitas vezes difícil de se acompanhar e

manter atualizado ou saber, o que é mais rápido, seletivo, menor, mais potente etc.

Este tipo de mudança também pôde ser observado na instrumentação

utilizada para fins analíticos, porém com um descompasso entre a disponibilidade

de instrumental analítico propriamente dito e do instrumental envolvido com as

etapas intermediarias de preparação, entre a amostragem e a determinação dos

analitos.

As técnicas analíticas necessitam que as amostras sejam manuseadas e

muitas vezes transformadas em uma solução antes da determinação dos analitos

de interesse. Por isto, para serem analisadas amostras sejam de rochas, petróleo

ou água, independente da técnica utilizada, tem que passar por algum processo

que envolve adição de reagentes químicos ou algum processamento como

moagem, aquecimento, pesagem, extração, digestão, pré-concentração e outros.

Estes processamentos individualmente ou somados, são estatisticamente os

grandes responsáveis por perdas e contaminações alem de grandes consumidores

de tempo e de insumos diversos.

O instrumental de laboratório atingiu um alto grau de sofisticação e

automação permitindo varrer a quantificação e qualificação de elementos e

substancias em quantidades que vão do percentual ao ppt em tempos bem

reduzidos e em alguns casos permitindo também que o químico analítico se

mantenha a margem do processo de medição. Esses avanços, além de propiciar

maior produtividade analítica, permitiram a obtenção de dados com maior

sensibilidade, precisão e exatidão. No entanto a etapa de pré-tratamento da

amostra, ainda tem muito que avançar e é extremamente inspiradora na geração

de novas metodologias, pois permanece como sendo a etapa lenta do processo e

propensa a gerar erros, sendo conhecida no dia a dia dos químicos analíticos como

o calcanhar de Aquiles da seqüência analítica (FLORES et al. 2004).

10

Page 11: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

Uma das formas mais tradicionais de preparação, a digestão, conduzida

tanto em meio ácido quanto em meio básico, é uma técnica tradicionalmente lenta

e requer várias horas de aquecimento quando realizada em chapa aquecida ou em

blocos digestores e necessita de grandes volumes de reagentes que geram

quantidades indesejáveis de vapores agressivos (ERICKSON, 1998).

Como uma alternativa, o uso da energia de microondas para preparo de

diferentes tipos de amostras orgânicas e inorgânicas veio acelerar a etapa de pré-

tratamento, proporcionando o desenvolvimento de procedimentos que geram

resultados tão precisos e exatos quanto os meios convencionais.

Nos métodos tradicionais de aquecimento, empregando chama ou

resistência elétrica, a transferência de calor ocorre somente nas partes do reator

que estão em contato com a fonte de calor e este se propaga pelo meio através de

processos de condução, convecção e irradiação. Neste caso, a dispersão de calor

por toda a solução eleva lentamente a temperatura do sistema e o máximo valor de

temperatura que pode ser atingido pelo conteúdo fica basicamente limitado ao seu

ponto de ebulição e pela pressão ambiente. Por outro lado, o aquecimento

promovido por energia das microondas é um processo que se dá in situ, ou seja, a

produção de calor ocorre diretamente em cada molécula de um meio ao interagir

com a energia de microondas. Este modo de aquecimento, que vem da

propriedade de um campo eletromagnético interagir com partículas carregadas e

dipolos (MINGOS e BAGHURST, 1991), impulsionou o uso da radiação de

microondas como uma nova fonte de energia para digestões principalmente por via

ácida, sendo empregada na preparação de amostras para determinação de

elementos em diversos materiais (KINGSTON e HASWELL, 1997; KINGSTON e

JASSIE, 1988).

A radiação eletromagnética na faixa de microondas é uma radiação que está

associada a uma quantidade de energia não-ionizante com freqüência entre 300 e

300000 MHz. Porém, apesar da larga faixa de freqüências em que as microondas

estão situadas, apenas quatro são convencionalmente utilizadas para fins

científicos e industriais: 915 2450, 5800 e 22125 MHz.

11

Page 12: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

A freqüência de 2450 MHz é a mais usada nos fornos de microondas

convencionais domésticos ou para laboratório (CRESSWELL e HASWELL, 2001).

Existem três razões básicas para isto, a primeira seria evitar interferência em

sistemas de radar e de comunicações, segunda por se dispor comercialmente a

baixo custo de fontes que emitem nesta freqüência (magnetron) e a terceira,

porque esta é a freqüência otimizada para a maior taxa de penetração em

alimentos para que estes sofram um aquecimento uniforme. Existe uma relação

direta entre a profundidade que a energia penetra (e aquece) em um meio e o

comprimento de onda (MINGOS e BAGHURST, 1991); uma versão aproximada da

relação seria dado por D ∞ λ ( ε’ / ε” )½ onde D seria a profundidade de

penetração, λ o comprimento de onda; ε’ e ε” os 2 parâmetros que usualmente

relacionam as propriedades dielétricas dos materiais e sua interação com as

microondas; ε’ representa a constante dielétrica, que está associada à habilidade

de uma molécula de ser polarizada por um campo elétrico e ε” é a constante de

perda dielétrica que expressa a eficiência com que a energia eletromagnética é

convertida em calor.

O uso instrumental em laboratório das interações entre microondas e meios

sólidos e líquidos tem sido reportado em muitos trabalhos como uma fonte

alternativa de energia com resultados positivos não só para misturas digestoras,

mas também para extrações, sínteses e microscopia (BOON e KOK, 1988). Estes

resultados se apóiam principalmente na redução do tempo para obtenção dos

resultados quando comparados aos métodos tradicionais e são baseados no

controle da quantidade de energia incidente, na alta taxa de transferência de

energia ao sistema, no controle das condições do meio reacional e na seletividade

de interação das ondas eletromagnéticas com espécies químicas polares.

Em uma escala molecular, a interação entre a matéria e as microondas está

associada à geração de calor pela resistência do meio aos movimentos rotacionais

e eletroforéticos induzidos nas moléculas polares e são conhecidos como efeitos

térmicos.

No efeito térmico, a interação se dá através de dois mecanismos primários:

condução iônica (eletroforético), onde as espécies iônicas presentes no meio

12

Page 13: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

migram atraídas em diferentes direções pelas variações de polaridade do campo

eletromagnético oscilante da radiação de microondas aplicada. O aquecimento se

dá como conseqüência natural da resistência do meio a movimentação dos íons

acelerados com as mudanças de direção que ocorrem com as oscilações do

campo. Já no mecanismo de rotação dipolar, os dipolos das moléculas do sistema

tendem a se alinhar no sentido do campo elétrico oscilante aplicado, este torque

oscilante força assim que os dipolos das espécies químicas presentes se movam

impelidas pela atração-repulsão dos pólos. Quando a intensidade do campo

elétrico da radiação de microondas aumenta, ocorre um alinhamento das espécies

químicas polarizadas do meio com o campo elétrico da onda; por sua vez, quando

a intensidade do campo decresce, até passar por um mínimo e trocar de sinal

devido à oscilação do mesmo, as moléculas retornam ao estado inicial de

desordem até que a intensidade do campo aumente e induza uma nova

movimentação. Durante este processo, uma intensa fricção entre as moléculas é

observada, o que resulta na liberação de calor. Para uma freqüência aplicada de

2450 MHz, este processo ocorre cerca de 10⁹ vezes por segundo, o que

proporciona um aquecimento extremamente rápido do sistema (RICHTER et al.,

2001). Estes dois processos permitem um aquecimento das soluções de um modo

mais eficaz e rápido do que nos procedimentos em que a transferência de calor se

dá por irradiação ou convecção, aquecendo de forma homogênea e reduzindo

diferenças de temperatura dentro do meio como normalmente ocorre nas áreas de

contato entre uma chapa aquecida e um reator.

Este modo de aquecimento é tão rápido e homogêneo que causa

retardamento na nucleação que daria inicio a ebulição isto resulta em soluções

“superaquecidas”, que podem atingir temperaturas mais altas do que os seus

pontos de ebulição. Como exemplo a água pura que chega a alcançar

temperaturas 5oC mais altas do que o ponto de ebulição esperado e a acetonitrila,

tem aumento de até 38oC em seu ponto de ebulição ( BAGHURST e MINGOS,

1992).

Sólidos particulados, condutores ou dielétricos, também podem interagir

com as microondas e ser aquecidos rapidamente. Experimentos realizados em

13

Page 14: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

sistemas convencionais utilizando amostras de 25 g de CuO e WO3, mostra que

estes óxidos atingiram em 30s com irradiação de 300 W , temperaturas de 701 e

532 °C respectivamente e C em 1 min de irradiação alcança temperaturas da

ordem de 1200°C.

Existe uma proposição complementar aos efeitos térmicos que tenta expor

de forma mais abrangente a interação e os resultados obtidos entre as microondas

e os meios: os efeitos específicos (não térmicos).

Parte-se do principio que as microondas têm a capacidade de alterar a

organização das moléculas de um sistema com o qual interagem. Esta organização

induzida em moléculas polares pode ser relacionada às mudanças de entropia que

reduziriam a energia necessária a uma dada reação, e a uma orientação

(alinhamento) que aumentaria a eficiência das colisões nas moléculas. Propõe-se

também a existência de “hot spot” onde a temperatura alcançada pelas moléculas

seria muito diferente das temperaturas medidas devido à existência de pontos

localizados de super aquecimento com temperaturas altíssimas sendo geradas

pontualmente e dissipadas pelo meio. (. PERREUX e LOUPY, 2001 ).

Os efeitos não térmicos são ainda objeto de discussão, pois se argumenta

que somente a alta taxa de transferência de energia, comparada ao aquecimento

por vias convencionais, seria suficiente para explicar os resultados obtidos (HAYES

2002).

Conforme já mencionado, os processos de condução iônica e rotação de

dipolo geram o aquecimento em um meio de forma mais rápida e eficiente do que

aqueles produzidos por convecção e condução térmica, obtida nos métodos

tradicionais. A eficiência deste aquecimento depende principalmente das

propriedades dielétricas das moléculas com as quais as microondas interagem.

Quanto à interação macroscópica entre as microondas e os meios podemos

classificar os materiais como: refletores, que são utilizados na construção das

cavidades isolando as microondas dentro (ou fora) delas; os transparentes, que

não interagem com as microondas e são a matéria prima dos reatores e os

dielétricos, que são aquecidos de acordo com sua capacidade de interagir com as

microondas e transformar esta interação em calor.

14

Page 15: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

Como forma de quantificar estas interações utiliza-se a razão entre ε” e ε’,

isto define uma grandeza a tg δ que expressa a habilidade de um material em

converter energia eletromagnética em energia térmica.

A difusão do uso das microondas teve seu grande inicio durante a segunda

guerra mundial com a utilização do radar, e deu aos ingleses uma forma bastante

eficiente de se defender dos bombardeios nazistas e pode ter sido um dos fatores

que influenciaram a geografia e a historia da Europa como nós a conhecemos.

Em laboratório teve uma rota invertida no que diz respeito à evolução no uso

de instrumental eletrônico, pois começou primeiro na cozinha da classe media

americana dos anos 50 em meio ao “boom” de produção e consumo dos EUA; a

partir dali é que seguiu para os laboratórios, primeiramente para secagem e depois

para calcinações e digestões.

Muito tempo se passou com aplicações exclusivamente culinárias sem que

realmente um sistema tivesse sido utilizado ou feito para laboratório, até que foi

reportada a primeira utilização da radiação de microondas na área de preparo de

amostras cabendo a Abu-Samra et al. (1975), modificar um forno caseiro para a

digestão de amostras biológicas visando à identificação de elementos.

Em meados dos anos 80 o National Institute of Standards and Technology

(NIST) desenvolveu os primeiros frascos pressurizados para o trabalho de

certificação de elementos em SRMs, a idéia seria romper a barreira da certificação

restrita a ppb e criar um método de preparação robusto que permitisse a dissolução

total da amostra e uma certificação em nível de ultra traços( KINGSTON et al.

1997)

As microondas ao longo dos últimos 20 anos, adquiriram espaço importante

nos laboratórios científicos, com crescente volume de publicações

(ZLOTORZYNSKI, 1995; WONG et al. 1997). Também ao longo deste tempo,

constantes inovações tecnológicas foram desenvolvidas no sentido de produzir

fornos mais seguros e mais eficientes. Embora os fornos de microondas tenham proporcionado um aumento da

velocidade de digestão das amostras, as condições operacionais geradas nos

primórdios de sua utilização com fornos domésticos adaptados ao uso no

15

Page 16: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

laboratório não eram seguras ao operador, devido à liberação de fumos ácidos e

pela baixa resistência química e mecânica dos recipientes utilizados (ERICKSON,

1998). Além disso, não havia a possibilidade de medida e controle da temperatura

e da pressão comprometendo a reprodutibilidade.

Para uso adequado dos fornos de microondas em laboratórios químicos, foi

necessário o desenvolvimento de dispositivos de segurança que possibilitassem o

trabalho com soluções agressivas aquecidas. Além disso, também foi necessário

desenvolver softwares e sistemas que permitissem o controle da quantidade de

energia irradiada e sensores capazes de trabalhar em meio às microondas para

efetuar medidas rápidas e confiáveis de temperatura e pressão.

Atualmente foram superadas muitas das dificuldades técnicas de se

trabalhar de forma segura e reprodutiva e assim podemos encontrar uma grande

profusão de trabalhos utilizando sistemas de microondas nas mais diversas

aplicações alem de comercialmente dispormos de diversas marcas com produtos

de grande qualidade.

Existem basicamente dois tipos de fornos de microondas disponíveis no

mercado: o sistema fechado ou pressurizado e o sistema focalizado. Instrumentos

visando à preparação de amostras, combinando pressão e focalização já foram

comercializados durante pouco tempo, o Superdigest, cooperação entre Anton

Paar e Prolabo, com reatores de quartzo resfriados externamente a ar, operando

com pressões de até 870 psi (60 bar) e que apresentaram resultados excelentes na

digestão de amostras consideradas difíceis (KNAPP et al. 1998). Infelizmente o

sistema apresentou problemas quanto à segurança e foi descontinuado.

Atualmente sistemas que utilizam energia microondas, que combinam aplicações

com reatores sob pressão, refluxo (pressão ambiente) e em linha são

comercializados visando aplicações na área de síntese.

O forno de microondas conhecido como fechado, de cavidade ou

pressurizado, uma evolução do design tradicional dos modelos utilizados na

cozinha, permite dispor dentro da cavidade múltiplos reatores conhecidos como

16

Page 17: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

frascos digestores. Neste sistema as microondas são geradas e orientadas para

dentro de uma “caixa” metálica (cavidade) que as isola do meio exterior. As

paredes metálicas refletem as microondas dentro da cavidade e estas interagem

com os frascos contendo as amostras e a misturas digestoras. Os frascos são

selados (fechados) para que os vapores gerados durante o processo de irradiação

aumentem a pressão e a temperatura e assim aumente a eficiência da digestão,

alem de evitar contaminação entre as amostras, perdas de analitos e escapamento

de vapores agressivos ao equipamento, ao operador e ao ambiente.

Um prato (carrossel) giratório recebe os frascos durante o processo de

irradiação, rodando em movimentos contínuos no sentido horário e anti-horário em

ângulos de 180°, para compensar a distribuição heterogênea das microondas no

interior da cavidade. Esta heterogeneidade na distribuição de energia é causada

pela reflexão das microondas nas paredes da cavidade e pela interação entre elas,

criando interferências construtivas (maximo de energia) e destrutivas (mínimo de

energia) . Desta forma, amostras são alternadas dentro do espaço para que ocorra

uma exposição homogênea à radiação e assim garantir que todas elas recebam

quantidades similares de energia. A fim de reduzir este problema os fabricantes

também costumam utilizar um sistema de espalhamento (uma espécie de

ventoinha) na saída das microondas para homogeneizar o campo dentro da

cavidade.

Como uma extensão melhorada das técnicas de digestão que utilizavam as

conhecidas “bombas”, em que reatores construídos em materiais resistentes

térmica e quimicamente eram inseridos dentro de uma carcaça em aço e

aquecidos convencionalmente; o forno de microondas com reatores fechados

reduz ou elimina a perda de elementos voláteis, diminui os valores dos brancos

analíticos pelo menor volume de ácidos utilizados e mantêm a mistura ácida

isolada durante a digestão, reduzindo a contaminação das amostras pela

atmosfera do laboratório e vice-versa.

As diferentes interações que os materiais têm com as microondas fazem

com que os sistemas de cavidade possuam serias limitações quanto à massa de

amostra a ser empregada, pois ao contrario das “bombas tradicionais”, o conjunto

17

Page 18: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

completo do reator, composto do frasco e carcaça, não podem ser construídos em

metal e suportar altas pressões, pois seriam impermeáveis as microondas,

refletindo-as. Assim têm que ser feitos em materiais transparentes e resistentes

química e termicamente como os polímeros da família do teflon para os frascos

que entram em contato direto com a amostra, e cerâmicas e compósitos para as

carcaças externas. A necessidade de se utilizar materiais poliméricos, cerâmicos

ou compósitos restringe o uso destes reatores, pois são limitados na pressão e

temperatura de operação, o que resulta numa limitação na massa da amostra que

pode ser digerida, em torno de 500 mg para amostras orgânicas complexas e entre

2 e 3 gramas para inorgânicas.

Devido a suas limitações estruturais atenção é necessária nos controles

sobre as variáveis pressão e temperatura na programação de um equipamento,

pois, dependendo da mistura digestora utilizada e das condições a que são

submetidos, estes podem apresentar problemas de segurança relacionados ao

desenvolvimento, muitas vezes rápido, de altas pressões (amostras orgânicas) ou

altas temperaturas (amostras inorgânicas). Assim um aspecto fundamental nos

sistemas de microondas com frascos fechados é o material de construção dos

recipientes reacionais, considerando-se resistência térmica, resistência mecânica e

inércia química. Frascos de PTFE foram e ainda são muito utilizados, mas sua vida

útil é drasticamente reduzida quando usados continuamente em temperaturas

superiores a 220OC e sua porosidade dificulta a limpeza efetiva para determinação

de elementos presentes em baixas concentrações (efeito memória). Atualmente

tem se usado PFA como uma alternativa mais resistente.

Para que o processo de digestão de um sistema pressurizado transcorra

com eficiência e segurança as variáveis pressão e temperatura são monitoradas

com sensores e continuamente ajustadas com a quantidade de energia de

microondas irradiada. Por razões de limitação técnica (e econômica), nos modelos

convencionais, apenas um dos frascos reacionais (frasco de controle) recebe estes

sensores e irá determinar a condição dentro da cavidade para todos os frascos do

carrossel. Isto faz com que a amostra escolhida para ser digerida no frasco

18

Page 19: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

controle seja a mais representativa, ou seja, a que poderia alcançar mais

facilmente os limites de temperatura e pressão estabelecidos.

Os limites de trabalho são fornecidos ao sistema pelo operador via um

programa que irá modular a incidência de radiação de microondas em termos das

variações de pressão e temperatura do frasco controle durante o processo de

irradiação. Como complemento a medida única do frasco de controle alguns

fabricantes oferecem um sistema de IR que mede externamente a temperatura de

cada frasco quando este passa sobre um sensor no fundo da cavidade. O software

ajusta as temperaturas registradas comparando os dados de temperatura obtidos

com a relação entre as medidas realizadas no frasco de controle pelo sensor

invasivo e as medidas feitas para o mesmo frasco pelo IR. Este sistema permite o

monitoramento seqüencial de temperatura de cada frasco em pequenos intervalos

de tempo, toda vez que este passa pelo sensor de infravermelho.

Modelos bem recentes já dispõe de sistema pressurizado ( Anton Paar) que

oferece monitoramento de temperatura e pressão em todos os frascos durante o

processo de digestão.

Os frascos reacionais comercializados estão dimensionados para suportar

baixas pressões, até 7 atm, médias pressões, entre 7 e 70 atm, e altas pressões,

maiores que 70 atm, (NÓBREGA et al., 2002). Por uma questão de segurança

durante o procedimento de irradiação com as microondas os reatores são

encamisados em carcaças fabricadas em materiais resistentes a grandes variações

mecânicas e térmicas como o Kevlar ou o Peek. Estes agem como mantenedores

de integridade dos reatores em caso de aumento de pressão e temperatura acima

da suportada pelo frasco que contem a amostra e a mistura digestora.

Diversos trabalhos têm sido desenvolvidos com o fim de superar as

limitações do sistema pressurizado e expandir sua utilização como ferramenta na

preparação de amostras. Uma das estratégias, realmente inovadoras,

desenvolvidas recentemente combina irradiação com microondas e bomba de

combustão. Esta metodologia utiliza os frascos e os sistemas convencionais de

um sistema pressurizado para injetar uma atmosfera de oxigênio e promover

através da irradiação de microondas uma combustão de amostras embrulhadas em

19

Page 20: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

um papel embebido com nitrato de amônia. O produto é recolhido em soluções

ácidas, diluídas ou água pura obtendo-se baixos teores de carbono residual e

ótimas recuperações de metais. Este tipo de procedimento é uma grande

ferramenta para superar as limitações da utilização dos sistemas pressurizados e

indica um novo caminho a ser explorado (FLORES et al. 2004). .

A segunda opção de sistemas digestores de microondas são os focalizados ou

abertos, como uma alternativa aos sistemas de cavidade, foi desenvolvido pela

Rhone Poulenc nos anos 80 e teve seu primeiro sistema lançado comercialmente

em 85 pela sua divisão de laboratório Prolabo posteriormente comprada pela

Merck até ser fechada em 1999.

Este tipo de sistema é basicamente uma fonte de microondas acoplada a um

tubo de seção retangular, chamado guia de ondas, que foi selado nas

extremidades e possui um corte na parede superior do guia com um

prolongamento, um tubo metálico “atenuador” que tem a função de evitar que as

microondas escapem para o meio através do corte. Esta abertura permite a

inserção de um frasco no caminho das ondas e o controle da quantidade de

energia incidente na área irradiada porque todas as microondas geradas são

colimadas pelo guia de ondas em uma área e não dispersas (e refletidas) em uma

cavidade como no sistema pressurizado. Esta melhora na acessibilidade dos

reatores a área irradiada por microondas, permite utilizar frascos e acessórios

convencionais e assim trabalhar aberto ao ambiente e sobre refluxo.

Esta abertura “controlada”, dos reatores para o meio externo evita o

aumento excessivo de pressão pela geração de gases durante os processos de

digestão de amostras com alto teor de matéria orgânica o que torna possível o

aumento da massa da amostra sem riscos de explosão pelo aumento da pressão

permitindo também a utilização de metodologias que se baseiam na adição

seqüencial de reagentes ou amostras. Como não há desenvolvimento de pressão

existe uma maior flexibilidade na escolha dos materiais empregados para

confecção dos frascos reacionais. Estes são limitados a serem transparentes as

microondas e quimicamente resistentes, assim podemos utilizar vidro de

borossilicato, fluoropolímeros (PFA, por exemplo) e quartzo, o que permite

20

Page 21: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

trabalhar com temperaturas superiores a 300° C e utilizar ácidos com altos pontos

de ebulição como o H2SO4.

Esta característica do sistema focalizado permite a destruição de matrizes

que necessitem de uma alta temperatura de trabalho. Esta pode ser atingida pelo

uso de ácido sulfúrico, um ácido extremamente eficiente na digestão de amostras

orgânicas. O fato de o sistema ser parcialmente aberto também é uma limitação,

pois necessita de grandes quantidades de ácidos, o que aumenta a acidez e

diluição dos digeridos e também a utilizar compulsoriamente o ácido sulfúrico, para

atingir altas temperaturas (SANTOS et al. 2005). Outro problema está associado ao

uso do ácido sulfúrico, e surge devido à elevada viscosidade final dos digeridos

que pode criar problemas durante a etapa de determinação dos analitos, devido a

modificações na taxa de aspiração e nos processos de nebulização e transporte da

solução do digerido.

Os equipamentos focalizados podem utilizar frascos e acessórios como

colunas de vidro recheadas ou resfriadas por água para melhorar a eficiência do

refluxo e são disponíveis comercialmente frascos em volumes de até 250 ml.

A digestão sob refluxo, e o volume dos frascos utilizados nos sistemas

focalizados, os tornam potencialmente capazes de digerir grandes quantidades de

amostras com alto teor de matéria orgânica. No entanto tradicionalmente, isto é

conseguido utilizando pré-tratamentos, grandes quantidades de ácido sulfúrico ou

de ácidos fumegantes (PEREZ, 1995) o que gera amostras muito acidas, viscosas

e de grande volume, que necessitam ser muito diluídas.

Um procedimento recentemente proposto é uma alternativa oportuna para

resolver as deficiências do sistema focalizado, expandir sua aplicabilidade e é uma

abordagem extremamente inspiradora no desenvolvimento de metodologias; é o

procedimento baseado na adição gradual de amostras aos ácidos quentes

(NÓBREGA et al. 2002). Este estratégia alternativa possibilita a digestão eficiente

de grandes quantidades de amostra com pequenos volumes de ácidos

concentrados (SANTOS et al, 2005).

21

Page 22: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

A estratégia de adição de amostras tem uma serie de características que a

torna uma eficiente ferramenta de digestão, pois cada alíquota de amostra está

parcialmente digerida antes que a próxima seja adicionada, e de que ao

adicionarmos a amostra aos ácidos estes estão sempre concentrados, pois não

são diluídos pela amostra, alem da possibilidade da formação de radicais reativos.

A redução do volume de ácidos empregados na digestão reduz o volume

dos brancos analíticos e melhora a detectabilidade, pois diminui a diluição dos

digeridos alem de reduzir sensivelmente o tempo de digestão.

Podem ocorrer perdas ao se trabalhar com analitos volatilizáveis (WONDIMU e

GOESSLER, 2000) o que exige maiores cuidados na metodologia empregada,

como por exemplo, um sistema de refluxo eficiente, um programa brando

associado a uma lixiviação com pouca quantidade de energia incidente durante um

curto período de tempo de irradiação ou um “trapeamento.”.

Atualmente os sistemas focalizados disponíveis utilizam fendas que de acordo com

a posição bloqueiam ou permitem a passagem de microondas, regulando a

transferência de radiação de microondas para os reatores. Este sistema dispõe de

um magnetron que emite microondas para serem compartilhadas por duas ou seis

cavidades. Um sensor de IR situado no fundo de cada cavidade mede a

temperatura na base dos frascos digestores e envia a informação para o sistema

que distribui a energia de microondas com a abertura ou fechamento das fendas de

acordo com a temperatura programada pelo usuário para cada frasco

A utilização de microondas é bastante oportuna para diversos sistemas em

que uma quantidade energia precise ser transferida de forma rápida, controlada e

seletiva, assim podem ser utilizadas em métodos de extrações de analitos instáveis

termicamente e em sistemas de fluxo contínuo. Artigos de revisão sobre a

utilização de radiação de microondas, publicados por Mermet (1997), Burguera e

Burguera (1996), Nóbrega et al. (2002) citam as vantagens da técnica, tanto para

uso em sistemas convencionais quanto em sistemas em linha.

22

Page 23: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

Metodologias de preparação de amostras sem a utilização de digestão ácida

têm sido desenvolvidas, pois é possível detectar metais em amostras contendo

material orgânico por ICP OES sem os procedimentos de digestão assistidos por

radiação microondas, diluindo a amostra em solvente orgânico, embora a alta

volatilidade de alguns solventes orgânicos possa afetar a estabilidade do plasma.

A introdução direta de amostras requer modificações nas condições

operacionais usuais do instrumento. Estas alterações são necessárias para reduzir

as interferências provocadas por efeito de matriz dos compostos orgânicos,

recomendando-se empregar maior potência da fonte usada rotineiramente, usar

uma mistura de argônio e oxigênio como gás de nebulização, de forma a melhorar

a combustão e evitar o depósito de composto de carbono no tubo central do injetor.

Não foram encontradas referências citando a introdução direta de piche ou de

solução digerida em sistemas de analise espectrométricos. Isto se deve

provavelmente à complexidade da sua matriz orgânica, que lhe dá uma grande

resistência química, uma difícil digestão e solubilização e aos problemas potenciais

que podem acontecer no sistema de transporte, nebulização e excitação do ICP

OES. Procedimentos de digestão assistidos por microondas podem ser

implementados, permitindo a calibração com soluções aquosas para a

determinação dos analitos de interesse em matrizes orgânicas complexas como o

piche. O tempo de preparo da amostra pode ser reduzido significativamente,

quando comparado aos procedimentos convencionais, que incluem pré queima,

calcinação em mufla, fusão e ataque ácido (MCCORMICK e JHA, 1998 )

23

Page 24: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 INTERAÇÃO DA MATERIA COM AS MICROONDAS

Mingos e Baghurst (1991) revisaram a teoria e os mecanismos que contribuem

no efeito de aquecimento dielétrico observados nas interações entre as microondas

e compostos químicos, sólidos e em solução; apresentaram os princípios de

funcionamento de um magnetron na geração de microondas sua aplicação e as

principais características em um forno, os reatores disponíveis na época e sua

utilização em diversos tipos de sínteses. Os autores reconhecem que a técnica, no

ano da publicação, ainda se encontra em seus primórdios e que muito ainda se tem

a fazer para o entendimento das variáveis que influenciam os resultados

observados.

Perreux e Loupy (2001) têm sua atenção voltada para o universo das reações

orgânicas e apresentam uma proposição mais ampla sobre os efeitos das

interações entre as microondas e a matéria a fim de explicar os resultados obtidos

em reações químicas. Foi proposto que interações entre microondas e a matéria

podem originar dois tipos de efeito, um térmico, e um outro não, especifico das

microondas. No efeito térmico as moléculas polares são induzidas pelas

microondas a se movimentar e a resistência do meio associado à alta taxa de

transferência de energia seria responsável por altas temperaturas atingidas em

pouquíssimo tempo. No efeito “não térmico” o torque induzido nos dipolos e íons

pelo campo elétrico influenciaria na eficiência de colisão das moléculas e

aumentaria as probabilidades de impacto na orientação correta e também

“organizaria” o sistema reduzindo a entropia e abaixando a energia de ativação.

24

Page 25: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

2.2 DIGESTÃO DE AMOSTRAS COM ALTO TEOR DE MATERIA ORGANICA

POR RADIAÇÃO MICROONDAS PARA DETERMINAÇÃO DE METAIS

Vários trabalhos podem ser encontrados na literatura a respeito da aplicação

de forno de microondas no tratamento de amostras com alto teor de matéria

orgânica como alimentos, óleos, turfa e carvão .

Santos e colaboradores. (2005) com a intenção de expandir as

possibilidades de digestão do sistema focalizado e reduzir as suas limitações

quanto à necessidade do uso de ácidos em grande quantidade como o sulfúrico,

comparam um procedimento convencional de digestão de amostras de leite em

sistemas focalizados com um procedimento alternativo que utiliza a adição gradual

de amostras em ácidos quentes. Os experimentos seguiram um planejamento

fatorial de dois níveis com oito experimentos. Esta estratégia de digestão expande

as possibilidades do uso do sistema focalizado, pois deste resultam menores

valores de branco e maior detectabilidade graças a menor diluição dos digeridos.

Este procedimento alternativo gera condições mais drásticas que o procedimento

convencional, pois o meio não está diluído pela amostra, se mostrando mais

eficiente na digestão de maiores quantidades de amostra mesmo com menores

quantidades de ácidos.

Nóbrega e colaboradores (2002) investigaram em um sistema de radiação

focalizada a viabilidade de uma programação alternativa de digestão utilizando a

adição seqüencial de alíquotas de amostras de leite e óleo diesel a misturas ácidas

aquecidas pela radiação de microondas. Foram estudadas diferentes temperaturas

de adição e tempos de digestão considerando-se o teor de carbono residual,

recuperação dos elementos e a concentração acida final dos digeridos. Constatou-

se a eficiência deste procedimento de digestão com a obtenção de menores

valores de carbono e acidez residuais, boa concordância entre resultados

determinados e certificados e abriu-se a possibilidade de expansão com esta

metodologia na digestão de maiores massas de amostras melhorando a

detectabilidade de elementos presentes em baixas concentrações.

25

Page 26: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

Araújo e colaboradores (2000) utilizaram um forno de microondas focalizado

para propor uma metodologia de digestão de uma amostra biológica com vapor de

ácido nítrico gerado abaixo da pressão atmosférica. Neste trabalho, um suporte de

PTFE foi construído com o objetivo de apoiar e adaptar pequenos frascos (tubos de

PTFE) nos frascos do forno de microondas. Cerca de 30 mg de amostras

biológicas foram pesadas diretamente nos frascos, seguido da adição de 150 µL de

H2O ou H2O2. A recuperação de ferro e cobalto variou de 82 a 99 %. Este método

apresentou uma vantagem adicional de permitir a digestão de 6 ou mais amostras

simultaneamente em cada vaso.

Veschetti e colaboradores (2000) discutiram a maior eficiência de digestão

obtida com a adição de H2O2 em amostras submetidas ao aquecimento assistido

por microondas em fornos com cavidade. Otimizaram a quantidade de peróxido

utilizado na mistura digestora com HNO3 em amostras de lodo. Comparam as

variações de temperatura e pressão da mistura digestora pura e com diferentes

teores de peróxido com diferentes quantidades de amostras e relacionaram a

eficiência dos resultados com o teor de carbono residual e a recuperação de metais

nos digeridos. Conclui-se que a adição de peróxido de forma otimizada aumentou

significativamente a quantidade de matéria orgânica oxidada reduzindo em 14 % a

quantidade de carbono residual em amostras certificadas e que a temperatura é

um parâmetro chave para formação de radicais reativos (OH•) que contribuem para

a decomposição dos compostos orgânicos. . Segundo os autores, o peróxido deve

ser adicionado em temperaturas por volta de 200OC, suficiente para promover a

formação dos radicais e aumentar a eficiência do processo de decomposição dos

óleos.

Sun e colaboradores (2001) compararam três diferentes misturas acidas e

métodos para a digestão total de quatro amostras certificadas de sedimento, solo,

lodo e óleo visando à dissolução das mesmas para a introdução e determinação de

Ag, Cd, Cr, Cu, Fe, Mn, Ni, Pb e Zn em ICP OES. Foram testados o aquecimento

convencional em chapa quente, bomba de aço Berghof e um sistema de

microondas pressurizado. Foi demonstrada a viabilidade e a praticidade do uso de

26

Page 27: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

sistemas de digestão assistida por microondas na digestão de amostras ambientais

sólidas e que a utilização de HCl é importante na determinação de Ag devido a

sua capacidade de formar complexos e que a combinação de HNO3 com HCl

possui grande reatividade na digestão de amostras com matéria orgânica pois

durante o processo forma-se NOCl, um oxidante forte .

Wang e colaboradores (2004) validaram a decomposição de amostras de

carvão utilizando sistemas pressurizados de microondas e uma mistura de HNOз e

H2O2. Esta seria uma alternativa simplificada e mais rápida que as metodologias

clássicas que utilizam reagentes como LiBO2, HF e HClO4 em fusão, calcinação e

digestão em chapa, técnicas habitualmente responsáveis por perdas e

contaminações e que geram digeridos problemáticos para a determinação via ICP

OES ou ICP-MS. Baixas recuperações de elementos foram obtidas quando

condições brandas de temperatura e pressão foram aplicadas, pois provavelmente

não foram suficientes para extrair os analitos da matriz orgânica ou de resíduos de

argila. Porem verificou-se que temperaturas acima de 220°C e pressões de

aproximadamente 290 psi foram suficientes para tornar desnecessária a utilização

de HF na recuperação quantitativa de elementos das amostras certificadas

utilizadas na validação da metodologia.

No intuito de encontrar uma alternativa as misturas convencionais acidas

com HCl e HF responsáveis por problemas de interferência poliatômico-isobáricas

em ICP-MS e necessidade de neutralização com ácido bórico, respectivamente.

Foram digeridas três amostras certificadas de carvão betuminoso e

semibetuminoso com diferentes condições em um sistema pressurizado por Wang

e colaboradores (2006) utilizando apenas HNO3 em um único passo. Os digeridos

foram introduzidos em sistemas de ICP OES, ICP-MS e fluxo continuo acoplado a

ICP-MS para determinação de elementos de interesse. Condições severas de

digestão com temperaturas elevadas provaram ser um parâmetro dominante na

dissolução completa dos elementos traço da sua matriz carbonácea, assim com

temperaturas de 250°C e pressões de 1100 psi, foram obtidas boas recuperações

27

Page 28: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

em todas as amostras dos elementos traço e baixo teor de carbono residual nos

digeridos.

Araújo e colaboradores (2002) estudaram a utilização de diferentes

concentrações de uma mistura de HNO3 com um volume fixo de H2O2 na digestão

de plantas utilizando um sistema de digestão pressurizado, A eficiência da digestão

foi avaliada determinando-se o carbono residual por ICP OES axial. Os

procedimentos resultaram em digeridos com baixos teores de carbono residual

mesmo em concentrações baixas de HNO3. Isto sugere que as altas pressões

alcançadas, da ordem de 400 psi e, por conseguinte altas temperaturas (225°C)

durante o processo influenciaram positivamente a capacidade oxidativa do HNO3 e

mostraram que para amostras de plantas um procedimento de digestão pode ser

efetivado sobre condições mais brandas de acidez (ácidos diluídos). Isto implica

que os digeridos podem ser menos diluídos antes da introdução em sistemas de

nebulização pneumática do ICP OES.

Com o objetivo de comparar o desempenho de sistemas de microondas

aberto e fechado na determinação de diversos metais, Wondimu e Goessler (2000)

mineralizaram amostras de óleo combustível e determinaram as concentrações de

Be, Mg, Al, Ca, V, Cr, Fe, Mn, Co, Ni, Cu, Zn, As, Se, Rb, Sr, Mo, Ag, Cd, Sn, Sb,

Te, Ba, Hg, Tl, P, Bi e U por espectrometria de massa com fonte de plasma (ICP-

MS). Foi concluído que sistemas fechados produzem resultados mais exatos, ao

contrário de sistemas abertos, nos quais foi verificada uma pequena perda para

alguns elementos, provavelmente devido à volatilização de analitos menos

estáveis. Krushevska e colaboradores (1993) realizaram a digestão de amostras

biológicas utilizando forno de microondas com radiação focalizada e determinaram

os analitos de interesse e carbono residual por ICP OES. Os autores definiram o

teor de carbono residual como a fração do carbono original remanescente no

digerido após a digestão da amostra (KRUSHEVSKA et al., 1992). As amostras de

material de referência certificado foram digeridas em três sistemas com

características distintas: sob alta pressão (High Pressure Asher, HPA), de média

pressão (Floyd RMS 150) e um sistema com radiação focalizada operado à

28

Page 29: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

pressão atmosférica (Prolabo M300). A determinação de carbono foi feita no

comprimento de onda de 193,091 nm e escândio foi utilizado como padrão interno.

Para todos os procedimentos as concentrações determinadas dos elementos foram

concordantes com os valores certificados. Com relação aos teores de carbono, o

forno com radiação focalizada e o HPA apresentaram eficiência de digestão similar

ou superior às apresentadas pelo forno com cavidade. Os resultados

comprovaram, ainda, que o ICP OES pode ser utilizado para a determinação de

carbono residual nos digeridos provenientes dos fornos de microondas,

independente da forma do composto orgânico remanescente.

Rubio e colaboradores (1990) estudaram um método baseado na digestão

ácida prévia das amostras com ácido nítrico e ácido fosfórico, em frasco fechado

de Teflon em forno de microondas. Para evitar a filtração dos resíduos sólidos, uma

suspensão da amostra foi aspirada diretamente para a chama ar-acetileno e os

elementos foram determinados por espectrometria de absorção atômica usando

soluções ácidas como padrões. Os resultados obtidos foram comparáveis àqueles

determinados no processo de digestão por via úmida convencional e foram

recuperados de 96 a 105 % de ferro, níquel, cobalto e molibdênio nas diferentes

amostras analisadas.

Knapp e colaboradores (1998) investigaram as interferências causadas em

ICP OES com configuração axial por resíduos orgânicos após a digestão assistida

por microondas. O ácido nicotínico foi escolhido como substância modelo por se

tratar de um composto de difícil decomposição. Cerca de 0,2 g de amostra foi

digerida com 3,0 mL de HNO3 em três diferentes temperaturas: 184OC, 218OC e

253OC. O programa consistia de 3 etapas com um tempo total de 50 min. Adições

de arsênio e selênio foram feitas e os valores recuperados foram correlacionados

com os teores remanescentes de carbono. Menores recuperações de arsênio e

selênio estavam associadas às menores temperaturas no programa de digestão e,

portanto, maiores valores de carbono residual. Os autores concluíram que, quanto

mais completa a digestão da matéria orgânica, menor a interferência na detecção

de metais por ICP OES com configuração axial.

29

Page 30: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

Pichler e colaboradores (1999) utilizaram um sistema de fluxo contendo uma

unidade de digestão por microondas para a dissolução de materiais orgânicos

resistentes. Os autores utilizaram um sistema que permitiu o equilíbrio das

pressões interna e externa no tubo de digestão feito de PTFE ou PFA,

possibilitando o uso desses tubos sem estresse mecânico. O equilíbrio das

pressões permitiu que temperaturas da ordem de 250OC fossem alcançadas e a

capacidade do sistema foi avaliada através da digestão de três tipos de compostos

orgânicos: um de fácil digestão (glicose), outro de média dificuldade (glicina) e um

de difícil digestão (fenilalanina). A amostra e o HNO3 foram introduzidos no reator

de digestão através da válvula de injeção. As soluções de glicose, glicina e

fenilalanina foram digeridas sob pressões de 20-35 bar (212 – 245OC) em tempos

de digestão que variaram de 1 a 8 min. Os teores de carbono residual foram

reduzidos com o aumento da temperatura, pressão e tempo, a valores próximos à

zero para a glicina. Para os outros dois compostos o percentual de digestão

também foi significativo. A exatidão do procedimento foi avaliada com materiais de

referência certificados e os valores apresentam boa concordância com o valor

certificado.

Gouveia e colaboradores (2001) compararam os teores de carbono residual

obtidos após digestão de materiais biológicos em forno de microondas com

cavidade utilizando ICP OES nas configurações axial e radial. Os autores

desenvolveram 6 diferentes tipos de programas de aquecimento e avaliaram a

eficiência de digestão de cada um deles. A massa de amostra (250 mg) e o volume

da mistura oxidante (2 mL HNO3 + 1 mL H2O2 ) não foram alterados durante todo o

estudo. O aumento da potência emitida foi o fator que mais contribuiu para a

redução dos teores de carbono residual nos digeridos. A interferência de Fe II

(247,857 nm) no comprimento de onda do carbono I (247,857 nm) foi avaliada,

sendo um fator limitante, pois causa interferência nas duas configurações. Os

autores recomendaram que as determinações fossem efetuadas no comprimento

de onda de 193,025 nm e que a curva de calibração seja construída a partir de

30

Page 31: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

uréia como fonte de carbono, pois se trata de um composto alifático, com ligações

de menor energia e, portanto, menos suscetível a efeitos de memória no ICP OES.

Wasilewska e colaboradores (2002) avaliaram a eficiência de oxidação de

procedimentos de digestão por via úmida e a influência do teor de carbono residual

sobre diferentes técnicas para a determinação de elementos traço. Os autores

investigaram quatro diferentes sistemas de decomposição de amostras para a

digestão de 200 mg de material de referência certificado e constataram que o

aumento da temperatura reduziu os teores de carbono em todos os sistemas

empregados. Foram obtidos valores menores que 0,1 % (m/v) no HPA (High

Pressure Asher) com um programa que atingiu 3000C. Os autores também

avaliaram os teores residuais de carbono para diferentes tipos de amostras e

concluíram que a redução da temperatura causa um aumento do teor de carbono

residual. Determinaram As na amostra de CRM TORT 2 e observaram que o

aumento da pressão e, conseqüentemente, da temperatura, aumentou a

intensidade do sinal analítico utilizando HPLC-HHPN-ICP-MS (cromatografia

líquida de alta eficiência acoplada a espectrometria de massa com fonte de plasma

acoplada a nebulizador hidráulico de alta pressão).

Segundo KNAPP e colaboradores (1997) compostos orgânicos

remanescentes no digerido são fontes de altos sinais de fundo em ICP-MS, se não

são totalmente decompostos. Esses compostos orgânicos remanescentes são

também possíveis fontes de erros nas técnicas espectrométricas com nebulização

pneumática, uma vez que eles podem ocorrer mudanças na viscosidade e na

tensão superficial da solução do digerido, podendo ocorrer apreciáveis diferenças

de nebulização entre as soluções da amostra e as soluções de referência, gerando

resultados inexatos. A total mineralização de compostos orgânicos é essencial

quando da determinação de elementos traço por técnicas voltamétricas e

recomendável para a obtenção de resultados exatos e livres de interferências,

quando do uso de técnicas espectrométricas

Todoli e Mermet (1999) discutiram as possíveis interferências geradas pela

utilização de soluções ácidas em técnicas espectrométricas. Os efeitos dos ácidos

podem ser classificados em dois grandes grupos: os efeitos físicos e os processos

31

Page 32: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

que ocorrem no plasma. Os efeitos físicos são provenientes das propriedades que

os ácidos conferem à solução. Este tipo de interferência pode levar a redução na

vazão de aspiração da amostra, quando esta é feita sem a bomba peristáltica;

mudança no tamanho da gota do aerossol primário e terciário, modificando a

distribuição do aerossol; modificação na massa da solução transportada ao plasma

ou a chama e a diferenças na concentração do elemento como função do tamanho

da gota (perda da sensibilidade). Mudanças na viscosidade e tensão superficial

pelos ácidos levam a variação nas taxas de aspiração e nebulização, enquanto a

densidade e volatilidade afetam o transporte do aerossol através da câmara de

nebulização.

A adição de padrão interno é recomendada para minimizar as interferências

de transporte causadas por alguns ácidos ou misturas de ácidos. As propriedades

físicas desses ácidos como viscosidade e tensão superficial, podem afetar a

formação do aerossol e, conseqüentemente, a nebulização da solução. Conforme

discutido por Gouveia e colaboradores (2001), o uso de padrão interno é essencial

nos digeridos ácidos que contenham H2SO4 devido a sua elevada viscosidade que

dificulta o processo de nebulização das soluções, reduzindo a taxa de material

transferida para o plasma durante a medição. Esse efeito pode ser corrigido pela

adição de Y como padrão interno, na concentração final de 1 mg L-1. Já nos

digeridos que contenham apenas HNO3 não é necessária a adição de Y porque

este ácido pouco afeta o processo de nebulização e assim, deve ser usado sempre

que possível. Concentrações ácidas entre 0,1 e 1 % v/v são adequadas para evitar

perda de eficiência no processo de nebulização e ataque aos componentes

metálicos do sistema de introdução de amostras. O uso de bomba peristáltica

também auxilia na redução de efeitos causados por viscosidade elevada, porém a

velocidade de rotação deve ser rigorosamente invariável de tal forma a gerar uma

vazão constante da solução da amostra.

Grotti e colaboradores (2002) discutiram o efeito da mistura de diferentes

ácidos inorgânicos sobre a eficiência de transporte do aerossol no ICP OES. Para

avaliar as mudanças na eficiência de transporte do aerossol, dois parâmetros

foram estudados: a quantidade de solvente e de analito introduzidos na câmara de

32

Page 33: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

nebulização que alcançam a tocha do ICP OES. Os resultados mostraram que os

efeitos relacionados à quantidade de solvente são mais críticos quando H2SO4 ou

misturas que o contenham são introduzidos no ICP OES. A redução do sinal

analítico quando H2SO4 ou suas misturas são usadas pode ser relacionado às

perdas produzidas pelo aumento da densidade e viscosidade da solução e a um

maior consumo de energia gasto nos processos de evaporação devido à formação

do aerossol primário com elevado tamanho de partícula. Quanto ao transporte do

analito até a tocha, o efeito é menos pronunciado quando somente o ácido é

introduzido e não suas misturas. Segundo os autores, esses efeitos podem ser

corrigidos adicionando-se um padrão interno ao digerido.

Para evitar problemas associados à composição da matriz na análise de

óleos e frações de petróleo quando métodos diretos são empregados,

procedimentos de digestão convencionais ou assistidos por microondas podem ser

implementados permitindo a calibração com soluções aquosas para a

determinação dos analitos de interesse nessas matrizes Esse método apresenta

vantagens quando comparado às análises diretas com diluição em solventes

orgânicos, como a possibilidade da utilização do ICP OES sem nenhuma mudança

no sistema de introdução de gás, a possibilidade da utilização de soluções

multielementares em meio aquoso, a redução das interferências causadas por

soluções orgânicas, um fator de diluição menor do que o adotado na fase orgânica

e a utilização da mesma solução para diferentes técnicas analíticas, como a

espectrometria de absorção atômica com chama (FAAS), a espectrometria de

absorção atômica com atomização eletrotérmica (ETAAS) e a já citada ICP OES.

Além disso, a diluição do óleo em solvente orgânico é uma fonte potêncial de

interferências poliatômicas em ICP-MS, devido aos íons derivados do solvente.

Costa e colaboradores (2001) realizaram um trabalho de avaliação da

eficiência da decomposição de óleos utilizando radiação de microondas focalizada

no equipamento Star 6 da CEM . A eficácia da digestão foi correlacionada com o

teor residual de carbono, o qual foi determinado por espectrometria de emissão

ótica com plasma indutivamente acoplado e outras técnicas. Foram observadas

variações do teor de carbono residual associadas com a natureza da técnica

33

Page 34: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

analítica empregada devido à distribuição heterogênea de radiação microondas.

Maiores variações foram verificadas quando técnicas eletroanalíticas foram

utilizadas, na determinação do carbono residual. Ekanem e colaboradores (1997) determinaram Ca, Cr, Fe, Mg, Ni e Zn em

óleos lubrificantes usados por FAAS utilizando ácido sulfanílico como agente de

carbonização. Uma mistura com 10 g de amostra e 1 g de ácido sulfanílico foi

colocada em um béquer, que foi aquecido em manta até ignição da amostra. Após

a ignição, o béquer foi deixado em mufla a 550OC por 45 min, até o resíduo ficar

livre de carbono. Após resfriamento, 20 ml de HCl foram adicionados e o digerido

deixado em aquecimento em banho-maria até obtenção de uma solução límpida. O

volume foi ajustado para 50 ml com água e La 5 % (m/v) foi adicionado à solução.

Os resultados foram comparados com dois outros procedimentos e não

apresentaram diferenças estatísticas significativas quando se aplicou o teste t.

Pouzar e colaboradores (2001) determinaram Cu, Cr, Fe, Pb e Zn em óleos

por espectrometria de fluorescência de raios X. As amostras de óleo foram

homogeneizadas em ultra som por 10 min. Uma alíquota de 300 mg foi pesada

diretamente no frasco de PTFE e 7,0 mL de HNO3 concentrado foram adicionados.

As amostras foram submetidas a um programa de aquecimento em 4 etapas com

um tempo total de 37 min. O digerido foi diluído com água para um volume final de

50 ml. A concentração dos elementos foi determinada por fluorescência de raios X

e por ICP OES e os resultados obtidos pelas duas técnicas foram concordantes.

Sanz-Segundo e colaboradores (1999) determinaram Fe, Cu, Cr e Pb em

óleos combustíveis por espectrometria de absorção atômica com chama após a

digestão das amostras em forno de microondas com cavidade. Cerca de 1 g de

amostra foi digerida empregando um programa de aquecimento de 4 etapas em um

tempo total de 110 min. Em cada uma das etapas adicionava-se HNO3

interrompendo-se o aquecimento e resfriando-se os frascos em nitrogênio líquido.

Cerca de 20 mL de HNO3 e 5 mL de H2O2 foram utilizados para a total digestão da

amostra. Os autores justificam a adição gradual do ácido aos digeridos entre as

etapas de resfriamento por observarem a digestão incompleta da amostra quando

34

Page 35: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

essa estratégia não era adotada. O procedimento possibilitou a determinação dos

analitos de interesse utilizando espectrometria de absorção atômica com chama.

Mora e colaboradores (2000) determinaram metais em óleos por FAAS

usando nebulizador pneumático de alta pressão (HPPN). A aplicação do HPPN

gerou melhor sensibilidade quando comparado ao nebulizador pneumático

convencional e pôde ser empregado mesmo para a introdução de amostras com

alta viscosidade, como óleos lubrificantes. A digestão assistida por microondas foi

o procedimento utilizado para comparação dos resultados, usando 0,5 g de

amostra em frascos de PTFE com a adição de 10 mL de HNO3. Para as amostras

digeridas em microondas, Cr, Cu, Fe, Mn e Pb foram determinados usando

nebulização pneumática convencional. Quando comparado aos valores obtidos

com o HPPN (introdução direta), observou-se boa concordância para todos os

elementos determinados. Porém, os autores ressaltaram que o HPPN é

ligeiramente dependente da viscosidade da amostra e que o uso de um

transportador adequado é capaz de reduzir as interferências de transporte,

gerando um aerossol apropriado.

Wondimu e colaboradores (2000) realizaram a digestão assistida por

radiação microondas de óleo combustível usado (NIST SRM 1634b) para a

determinação de elementos traço por ICP-MS. Os autores avaliaram a influência da

massa de amostra, composição e volume da mistura oxidante, potência irradiada

pelo forno de microondas e duração do programa de aquecimento. As melhores

condições foram alcançadas com um programa de aquecimento em 9 etapas com

um tempo total de 36,5 min, com etapas intermediárias sem irradiação. O programa

foi adequado para 6 frascos, massas de amostras de 250 mg e volumes de

reagentes de 5 mL de HNO3 e 2 mL H2O2. As etapas sem irradiação de microondas

foram implementadas para digestão total da amostra e para evitar alívio de pressão

durante a execução do programa de aquecimento. Os resultados obtidos foram

compatíveis com os valores certificados.

35

Page 36: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

2.3.DETERMINAÇÃO DIRETA DE METAIS EM DERIVADOS DE PETRÓLEO

Procedimentos envolvendo apenas a diluição da amostra em solventes

orgânicos são simples, rápidos, podem ser automatizados e são uma alternativa

aos procedimentos de digestão, podendo ser aplicados a uma ampla categoria de

produtos da indústria do petróleo (JOHNSON, 1993). Embora alguns solventes

orgânicos possam ser introduzidos diretamente no espectrômetro de emissão ótica

com plasma acoplado indutivamente, essa estratégia muitas vezes pode causar

instabilidade no plasma. Solventes com elevada volatilidade requerem mudanças

nas condições operacionais usuais do ICP OES. Essas mudanças envolvem um

aumento da potência em comparação com a freqüentemente usada para soluções

aquosas e o aumento na vazão do gás carreador da amostra. Isso porque o

carbono é o principal componente dos solventes orgânicos e se condensa

rapidamente no tubo central do injetor, causando acúmulo de resíduos e

posteriores entupimentos no cone pré-ótica. A fim de reduzir estes efeitos,

adiciona-se um fluxo de oxigênio auxiliar para acelerar a combustão dos solventes

orgânicos e prevenir o depósito de carbono. Vários trabalhos usando essa

estratégia já foram realizados, sendo alguns apresentados a seguir.

Brown (1983) determinou metais traço em óleos lubrificantes usados por ICP

OES. As soluções de referência foram preparadas utilizando-se Conostan-21 e a

curva analítica foi feita através da diluição 1:10 (m/m) de óleo básico neutro em

xileno. As amostras foram diluídas 1:20 (m/m) em uma solução 5 % (m/m) de óleo

neutro básico em xileno. Foram implementados dois procedimentos para avaliação

da metodologia: sonicação da amostra antes da adição do solvente e digestão

ácida com H2SO4 fumegante. A amostra digerida gerou os melhores resultados na

determinação de Fe, Cu e Cr. Os resultados indicam que as partículas metálicas da

amostra obtida da diluição com solvente ou com simples agitação afetaram a

estabilidade do plasma e conseqüentemente a precisão obtida na determinação de

metais.

36

Page 37: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

Jansen e colaboradores (1992) determinaram Al, Ca, Cu, Fe e Si em óleos

lubrificantes utilizando ICP OES, após diluição em linha com querosene, escolhido

devido a sua baixa toxicidade e volatilidade. O método da adição padrão foi

aplicado para compensar os efeitos da matriz. Um nebulizador do tipo v-groove foi

utilizado por tolerar tamanhos de partícula de até 10 µm. Os efeitos da composição

do óleo na eficiência de nebulização foram eliminados, gerando resultados de alta

precisão e exatidão.

Kumar e Gangadharan (1999) usaram emulsões água-óleo para a

determinação de metais (V, Co, Ni, As, Hg e Pb) em nafta por ICP-MS. Para tanto

as amostras foram tratadas com Triton X-100 sendo a emulsão preparada pela

mistura de 2 mL de nafta com 1 mL de solução de Triton X-100 a 2,5% (m/v), sob

agitação magnética constante durante 20 min. O método foi aplicado na análise de

amostras reais e comparado a procedimentos tradicionais, sendo obtidos

resultados semelhantes.

Brenner e colaboradores (1994) determinaram Fe, Ni e V em óleos crus e

betumem utilizando ICP OES seqüencial. Tetralina foi utilizada como solvente para

as amostras, pois estas se mostraram insolúveis em xileno e tolueno. O método

de injeção direta das amostras solubilizadas em tetralina se mostrou eficiente pois

o plasma pôde ser operado por longos períodos sem formação de resíduos de

carbono. As amostras e as soluções de referência foram diluídas 1:10 (v/v) em

tetralina e Sc foi adicionado como padrão interno. O procedimento apresentou

precisão e exatidão adequadas.

37

Page 38: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

2.4 COMBUSTÃO ASSISTIDA POR RADIAÇÃO MICROONDAS EM

SISTEMAS PRESSURIZADOS

Técnicas de decomposição de amostras com altos teores de carbono

utilizando sistemas de combustão em frascos abertos e fechados, foram

ostensivamente utilizadas no passado para analises elementares. Entre os

métodos tradicionais de combustão, os que eram realizados em recipientes

fechados, apresentavam os melhores resultados na preparação de amostras para

analises de traços devido às baixas perdas e contaminações. Na utilização de

sistemas de combustão em reatores fechados as amostras eram colocadas dentro

de frascos de vidro ou bombas calorimétricas de aço, era injetado oxigênio, o

frasco era fechado e a queima era iniciada por ignição manual ou por uma centelha

deflagrada por um fio de platina ou níquel-cromo inserido dentro do frasco. Após a

queima o digerido era recolhido por uma solução coletora inserida dentro dos

frascos antes da ignição da amostra/oxigênio.

Procedimentos de combustão são eficientes na preparação de amostras

orgânicas complexas devido à capacidade de oxidação rápida de matrizes

orgânicas resistentes e pela possibilidade de utilização de oxigênio, com pureza

relativamente mais alta quando comparado com os ácidos normalmente utilizados

em procedimentos de digestão (MESKO et al. 2006). Como alternativa as técnicas

convencionais de combustão, foi proposto um novo procedimento de digestão

visando à redução das perdas dos analitos e das contaminações que ocorrem pela

formação de ligas resistentes alem de adsorção ou dissolução das paredes dos

frascos utilizados nos sistemas convencionais. Este se utiliza de um sistema

pressurizado de radiação microondas e de reatores em quartzo para promover a

combustão em amostras de forma rápida e eficiente, seguida de refluxo, (FLORES

et al, 2004) com resultados excelentes na preparação, visando à determinação de

metais, halogênios e outros não metais.

38

Page 39: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

Assim, utilizando esta nova abordagem da combustão na preparação de

amostras, Flores e colaboradores (2004) trabalharam com amostras certificadas de

fígado, rins e leite. Estas são pesadas e enroladas em um papel embebido em

nitrato de amônia e colocadas dentro do frasco em um suporte de quartzo sobre a

solução de recolhimento (ácido nítrico). Os frascos possuem uma válvula que

permite alivio de pressão após digestões convencionais isto permite que em

sentido inverso, sejam utilizadas na pressurização com oxigênio a

aproximadamente 220 psi para o processo de combustão. Utiliza-se a radiação de

microondas na ignição do papel com nitrato e todo o processo de combustão dura

em torno de 2 min atingindo pressões em torno de 400 psi devido à formação de

gases pela decomposição da matriz orgânica. Foram titulados os digeridos e

encontrados altos teores de acidez (98-99%) indicando que a digestão foi

realmente efetivada na combustão e não pela digestão acida o que sugere a

utilização de uma solução de recolhimento da amostra composta de basicamente

de água pura eliminando possíveis contaminantes oriundos do ácido. Esta

estratégia foi aplicada em amostras certificadas resultando em carbono residual

menor que 1,3% e 0,4% após refluxo e boa exatidão para cobre e cádmio (96 e

105%).

Mesko e colaboradores (2006) utilizam um sistema digestor pressurizado

com fonte de radiação microondas na combustão de amostras biológicas

certificadas de fígado bovino, leite em pó e tecido de ostra. Os frascos de polímero

do sistema digestor foram adaptados com inserções e tampas de quartzo para

funcionar simultaneamente como recipiente para as amostras e como proteção da

parte superior do frasco contra as chamas criadas no processo de combustão.

Foram avaliadas as recuperações para Cu e Zn frente aos diferentes programas e

soluções absorvedoras e foram encontradas baixas recuperações para Cu quando

se utilizava água na solução ou não se aplicava uma etapa de refluxo, assim os

melhores resultados obtidos para ambos os elementos utilizou como solução

absorvedora HNO3 4mol / l com a aplicação de uma etapa de refluxo durante o

processo de combustão .

39

Page 40: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

Foi encontrado nos digeridos uma acidez residual de 98% indicando que a

combustão é o principal responsável pela oxidação da amostra. Os experimentos

realizados indicam que procedimentos empregados em diferentes massas das

amostras testadas podem seguir a mesma programação e obter boas

recuperações, o que simplificaria a utilização dos procedimentos de combustão

assistida por microondas em analises de rotina de diferentes amostras.

2.5 DETERMINAÇÃO DE METAIS POR ATIVAÇÃO NEUTRÔNICA

A análise por ativação neutrônica (AAN) é amplamente conhecida por sua

sensibilidade para detecção e determinação de um grande número de elementos

químicos. Neste método de análise não destrutivo, um nêutron interage via uma

colisão inelástica, com o núcleo de um dado elemento e forma um núcleo

composto excitado. O núcleo composto quase que instantaneamente decai para

uma configuração mais estável, através da emissão um ou mais raios gama

característicos. Em muitos casos esta nova configuração poderá gerar um núcleo

radioativo que irá decair lentamente com a emissão de um ou mais raios gama

característicos em um tempo especifico para a meia vida de cada núcleo radioativo

formado. O tempo de decaimento ou emissão pode levar, dependendo do elemento

irradiado, de frações de segundos a anos. A instrumentação utilizada na medida

dos raios gama das amostras radioativas consiste em um detector de alta

resolução baseado em semicondutores, geralmente um cristal de germânio

superpuro mantido sob vácuo em atmosfera de nitrogênio liquido. A sensibilidade

para as determinações com AAN depende das condições de irradiação em que

são efetuadas as medidas e das variáveis associadas aos núcleos dos elementos

que serão medidos. Assim são parâmetros importantes nas medidas: às condições

de irradiação como o fluxo de nêutrons, tempo de irradiação e tempo de

decaimento; nas condições em que são feitas as medidas como o tempo de

medida, eficiência do detector e também as características especificas do núcleo

do elemento medido como a abundancia de isótopos, meia vida e abundancia de

raios gama. Os erros associados às medidas feitas individualmente em cada

elemento estão na faixa de 1 a 10 % do valor medido.

40

Page 41: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

A técnica apresenta vantagens em relação aos métodos químicos de análise

por eliminar o ataque químico às amostras, pela ausência de branco analítico,

independência de efeitos de interferência de matriz e em relação à forma química

dos elementos, necessidade de pequena quantidade de amostra, além da

precisão, exatidão e sensibilidade. AAN (ou INAA em inglês) é geralmente utilizado

como método de referência quando novos procedimentos são desenvolvidos, e é

um dos métodos primários que o National Institute of Standards and Technology ,

NIST, utiliza para certificar a concentração de elementos em SRMs.

Esta técnica é reconhecidamente uma ferramenta analítica importante na

determinação qualitativa e quantitativa de muitos elementos, pois cerca de 70%

dos elementos químicos têm nuclídeos que possuem propriedades adequadas

para a aplicação do método. Porém esta apresenta uma série de limitações, pois

necessita de uma fonte de nêutrons oriunda de um reator nuclear, consome uma

grande quantidade de tempo nas medidas (em media 2 a 4 semanas) e não

consegue determinar em baixas concentrações, elementos como Cd, Pb, Cu e Ni.

Para a determinação de metais no piche esta técnica analítica se mostra

particularmente útil, Não sofrendo praticamente nenhuma interferência da matriz,

pois os elementos que estão em maior concentração na sua composição

dificilmente formam isótopos radioativos, como é o caso de carbono, hidrogênio,

oxigênio e nitrogênio.

41

Page 42: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

2.6 PICHE E RESIDUOS DE DESTILAÇÃO

El Akrami et al. (2000) estudaram a aplicabilidade como matéria prima na produção

de fibras de carbono de um piche obtido por destilação a vácuo de um óleo cru

classificado como de alta viscosidade e extremamente aromático com altos teores

de asfaltenos e enxofre. Foram utilizadas técnicas termogravimétricas, FT-IR, GPC

e RMN na caracterização das frações obtidas em 380°C, 400°C, 415°C e 430°C.

Os resultados obtidos indicaram que a destilação a vácuo é um método eficiente de

incrementar as estruturas aromáticas do piche por desidrogenação e poli

condensações reduzindo a razão H/C e em menor extensão pela condensação das

frações mais leves. Esse tipo de efeito contribui para o aumento das qualidades

desejadas na produção e cura de fibras de carbono, como por exemplo, a

“spinability” uma propriedade relacionada à fusão e formação da fibra de carbono

em um sistema rotatório. Dessa forma os resultados sugerem que a destilação a

vácuo é potêncialmente uma tecnologia simples e econômica de preparar com bom

rendimento um piche de alto desempenho a partir de óleo pesado e com isto

reduzir o custo envolvido na produção de fibras de carbono.

A técnica de extração utilizando fluidos em condição supercrítica, SFEF, foi

utilizada por ZHAO et al. (2005) (com pentano e propano como solventes) para

fracionar e caracterizar uma série de resíduos de destilação e petróleos pesados.

Observou se que a técnica de SFEF é uma importante ferramenta no

fracionamento “narrow cut” (frações da amostra separadas em faixas estreitas) de

petróleos pesados e seus resíduos normalmente de difícil separação por técnicas

convencionais como extrações seqüenciais e GPC que são lentas e geram

pequenas quantidades de frações. A técnica de SFEF se mostrou eficiente na

extração de produtos das suas matrizes de difícil separação por destilação

convencional ou a vácuo, servindo também como método de preparação para

caracterização nas frações obtidas de contaminantes indesejáveis como enxofre,

nitrogênio e metais. A utilização de SFEF pode ser promissora e vai de encontro a

crescente demanda mundial de um aproveitamento industrial otimizado de óleos

42

Page 43: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

pesados, betumem e resíduos, produtos de difícil transporte, processamento e

descarte.

Fontes alternativas de piche, utilizado como ligante na fabricação de anodos na

indústria de alumínio, são requeridas, pois sua matéria prima tradicional,o alcatrão

de hulha um sub-produto de indústrias de coque , está caindo em rápido desuso

por mudanças na indústria e principalmente problemas ambientais.

MacCormick e Jha (1993) testaram uma fonte alternativa: um processo que

envolve a produção de alcatrão por pirolise a baixa temperatura de carvão sub-

betuminoso em leito fluidizado e a posterior destilação a vácuo para a obtenção de

piche. A fim de se testar a qualidade como matéria prima dos produtos obtidos

foram determinados parâmetros tais como oxigênio, hidrogênio e metais e com

estes dados, ficou caracterizado que os produtos estavam aquém das

especificações necessárias a produção de anodos. Estes produtos mesmo com

aditivos para corrigir os problemas ainda apresentava altos teores de oxigênio,

cálcio e ferro e baixa relação C/H (aromaticidade). Os autores reconhecem à

necessidade do aperfeiçoamento do processo e/ou a combinação com

hidrotratamento ou termocraqueamento a fim de adequar o produto as

especificações requeridas.

43

Page 44: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

3. IMPORTÂNCIA DA DETERMINAÇÃO DE METAIS EM PICHE

Neste trabalho foram estudadas e propostas novas metodologias para a

digestão em sistema de microondas do piche obtido a partir da destilação a vácuo

de uma fração pesada de petróleo, o resíduo aromático.

O piche um composto sólido à temperatura ambiente consiste de uma

mistura complexa de hidrocarbonetos aromáticos predominantemente alquil

substituídos com uma faixa extensa de temperatura de fusão (IUPAC Compendium

of Chemical Terminology) de alto peso molecular podendo estar entre 1200 e 2000

Daltons.

Considerando as limitadas reservas de fontes de petróleo leve disponíveis

no mundo, crescem as pressões econômicas para o aproveitamento integral e

otimizado de materiais de processamento caro e energeticamente desfavoráveis

como os petróleos pesados e seus resíduos de destilação e a transformação

destes em produtos de maior valor agregado.

O piche de petróleo é uma alternativa real e de baixo custo e de fácil

obtenção como matéria prima na produção de materiais de alto valor comercial

como fibras de carbono e eletrodos de grafite, com a vantagem de ter um teor mais

baixo de carcinogênicos, como os HPAS. (MARZIN, 1997), do que o piche de

coque normalmente utilizado para este fim.

Na indústria do petróleo a qualidade da matéria prima dita pesada, pode ser

definida por parâmetros como a quantidade de elementos como o enxofre,

nitrogênio e metais e ter estas informações de forma rápida e confiável pode influir

desde o transporte até a otimização do processamento industrial (ZHAO et al.

2005)

A determinação destes parâmetros pode ser de extrema importância no

aproveitamento de frações pesadas difíceis e caras de se adequarem ao fluxo de

operações de uma refinaria tradicional, normalmente otimizada para trabalhar com

frações mais leves. Contaminantes também são conhecidos por envenenar e

desativar catalisadores que atuam na conversão de hidrocarbonetos de cadeia

longa em produtos menores mais úteis e de maior custo.

44

Page 45: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

A determinação de heteroatomos é uma informação importante na avaliação

da qualidade de matérias primas utilizadas na produção de fibras de carbono

(MCCORMICK E JHA, 1994). A presença de metais no piche pode alterar suas

propriedades físico-químicos e assim influir na produção de fios contínuos de fibra

por aquecimento e rotação “spinability”, um parâmetro associado ao ponto de

amolecimento (SP) e a faixa de temperatura de fusão.

A fibra de carbono apresenta amplas possibilidades de aplicações industriais

devido às suas excelentes propriedades mecânicas e térmicas, que aliadas à sua

leveza, tornam-na um material com enorme interesse estratégico, sendo produzida

em um número restrito de países que só a exportam sob controle e para fins

específicos. É de uso fundamental na indústria aeronáutica e automotiva de última

geração, além de ser utilizado com enorme sucesso na indústria bélica, na

construção civil e na produção de materiais esportivos, e em qualquer lugar onde

atributos como leveza e resistência sejam prioridades absolutas.

Hoje, aproximadamente 90 % de todas as fibras comerciais são produzidas

a partir da Poliacrilonitrila - PAN. O fornecimento da PAN de qualidade é restrito e

controlado pelos países desenvolvidos, dificultando os estudos de obtenção das

fibras de carbono a partir deste precursor.

Ferro, cálcio, sódio, e outros metais podem catalisar a reação do carbono

com o oxigênio e CO2 do ar e aumentar o seu consumo em eletrodos de células de

redução largamente utilizadas na indústria do alumínio. (MCCORMICK E JHA,

1994)

A determinação de elementos metálicos no piche é um processo longo e

sujeito a perdas e contaminações, pois tradicionalmente as amostras de derivados

de petróleo dita pesadas para serem transformadas em uma solução necessitam

passar por diversas etapas de preparação assim, são queimadas, calcinadas,

fundidas com borato de lítio e finalmente digerida em ácido.

Uma avaliação rápida dos elementos metálicos presentes no piche pode

fornecer dados sobre suas características físico-químicas e assim determinar suas

propriedades como matéria prima e orientar o processamento a que deve ser

submetido durante a produção de fibras, eletrodos ou outras aplicações industriais.

45

Page 46: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

De modo geral a determinação de metais de uma forma rápida e confiável,

em diferentes frações de petróleo também é importante para a correta avaliação do

impacto ambiental das indústrias que os utilizam, pois fornece dados para o

controle sobre a poluição gerada por emissão de metais pelo transporte, produção

do petróleo e derivados, combustão ou descarte de resíduos (ZHAO et al, 2005 ).

Uma outra aplicação importante seria a análise rápida de óleos lubrificantes

que pode proporcionar informações que auxiliam na manutenção preventiva de

maquinas avaliando o desgaste de componentes mecânicos, reduzindo o risco de

acidentes o tempo e o custo envolvidos com paralisações e reparos.

3.1 OBJETIVOS DO TRABALHO

Estudar a viabilidade da aplicação de metodologias de digestão rápidas e

eficientes para o piche de resíduo aromático de petróleo utilizando sistemas de

preparação de amostras que têm a radiação microondas como fonte de energia.

Gerar uma solução aquosa com a menor concentração possível de ácido,

para determinação de metais por espectrometria de emissão ótica em plasma de

argônio indutivamente acoplado (ICP OES).

Como estratégia para entender a influência das condições experimentais

sobre os mecanismos que atuam nos processos de digestão e assim maximizar

sua eficiência, será utilizado um planejamento fatorial completo de dois níveis, nos

experimentos do sistema pressurizado e do sistema focalizado, visando à obtenção

de dados preliminares sobre os efeitos das variáveis na recuperação de alguns

metais e sobre o teor de carbono residual.

Os fatores avaliados serão: as influências da mistura ácida e de oxidante,

volume dos reagentes utilizados, tempo de irradiação por microondas, temperatura

e a quantidade de amostra utilizada. A eficiência dos procedimentos de digestão

será avaliada determinando-se os teores de carbono residual por ICP OES e a

recuperação dos metais em comparação com os resultados obtidos pela técnica de

ativação neutrônica.

46

Page 47: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

4. PARTE EXPERIMENTAL 4.1 REAGENTES E AMOSTRAS

Em todos os experimentos foi empregada água ultra pura obtida em um

sistema de purificação modelo Simplicity Milli-Q, da Millipore. Esta água, antes de

ser inserida no sistema purificador, foi destilada e desionizada em coluna de leito

misto. Frascos e vidrarias utilizados foram previamente descontaminados em

banho de HNO3 10 % v/v por, no mínimo, 24 h.

Todas as soluções foram preparadas empregando reagentes de grau

analítico, durante a execução dos trabalhos experimentais, os seguintes reagentes

foram utilizados: HNO3, H2SO4 e H2O2, da marca Merck e uréia da marca Reagen.

Na padronização interna nas soluções de digeridos e das curvas analíticas,

foi usado padrão de Y 1000 mg L-1 em quantidade suficiente para conferir às

soluções Y na concentração de 1 mg L-1.

Soluções estoque individuais contendo 1000 mg L-1 de Fe, Cu, Zn, Mn, V e

Co foram utilizadas, a partir de adequada diluição, para preparação das curvas

analíticas nas concentrações de 0,1; 0,5; 1,0 e 2,5 mg L-1.

As amostras de piche utilizadas foram gentilmente cedidas pela Dra. Gloria

Botelho do Centro de Pesquisa do Exército e armazenadas em frascos de

polietileno, fora da geladeira.

As soluções de referência para a determinação de carbono residual foram

preparadas a partir de solução de uréia 1% (m/v), sempre em meio de HNO3 10 %

(v/v).

Todos os procedimentos foram acompanhados dos respectivos brancos

analíticos.

47

Page 48: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

4.2 INSTRUMENTAÇÃO

4.2.1 Determinação do teor de carbono nas amostras de piche utilizadas no desenvolvimento das metodologias

Os teores de carbono nas amostras empregadas no desenvolvimento das

metodologias de digestão foram determinados através do analisador elementar

automático C-H-N, com detector de condutividade, marca Perkin Elmer, modelo

2400 série II. Este equipamento está acoplado a uma micro-balança, marca Perkin

Elmer, modelo AD-4.

4.2.2 Análise Térmica das amostras de piche

Uma técnica tradicionalmente utilizada na avaliação das propriedades de

derivados pesados de petróleo é a análise termogravimétrica. A analise consiste

em depositar uma quantidade de amostra sobre uma balança analítica e submete-

la a um aquecimento controlado, obtendo assim um gráfico da variação de massa

restante (ou perdida) versus variação de temperatura. Com o piche foi realizada a

análise em atmosfera inerte (N2) com elevação gradativa de temperatura de

20°C/min entre 35 e 700°C e liberação de entrada de ar após 30 min utilizando as

condições descritas na tabela 1.

Tabela 1

EQUIPAMENTO: STA-409 Luxx da marca Netzsch

SENSOR: TG/DTA

PORTA AMOSTRA: cadinho de alumina com capacidade de 300µL

MASSA DE AMOSTRA: 20 mg

PROGRAMAÇÃO DA TEMPERATURA: aquecimento de 35 até 700°C em taxa de aquecimento de 20°Cmin-1 e atmosfera de N2 a 50mLmin-1; isoterma a 700°C por 30 minutos em atmosfera de ar a 50mLmin-1

Condições experimentais do analisador térmico

48

Page 49: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

4.2.3 Digestão das amostras de piche.

Nesta etapa da avaliação os procedimentos de digestão foram conduzidos

em sistemas que utilizam microondas como fonte de energia. Assim foram

utilizados:

Um sistema pressurizado da marca CEM modelo Mars 5, utilizando frasco em

fluorpolimero modelo Omni vessel com alivio automático de pressão e medida

invasiva de temperatura, com sensor de fibra ótica encamisado em tubo de safira

resistente as altas temperaturas e pressões e as misturas acidas e oxidantes

utilizadas no processo de digestão.

Um sistema focalizado marca Prolabo, modelo Microdigest 3.6, potência

máxima 300 W, com geração independente de microondas nas 3 cavidades onde

são colocados os frascos contendo a amostra a ser digerida. Cada cavidade é

protegida por uma camisa de quartzo que protege o equipamento e isola os

sensores de IR que medem a temperatura do frasco de reação. Foi sempre

utilizada uma única cavidade para garantir reprodutibilidade nos experimentos. Foi

utilizado um sistema Aspivap 2 Prolabo, de aspiração, lavagem e neutralização dos

vapores ácidos, gerados no processo de decomposição. Este é composto de uma

bomba de diafragma resistente a ácidos que aspira os vapores gerados e os faz

circular por frascos com solução de hidróxido de sódio e água.

Um sistema convencional de digestão de cavidade Anton Paar Multiwave

3000 adaptado para trabalhar com procedimentos de combustão, dispondo de

controle de pressão e temperatura e um rotor com 4 frascos pressurizados de PFA

com inserções e suportes para amostra em quartzo.

49

Page 50: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

4.2.4 Determinação de metais e de carbono residual por ICP OES

As determinações dos elementos inorgânicos e do carbono residual foram

realizadas por ICP OES, instrumento marca Jobin Yvon, modelo Ultima 2, usando

nebulizador concêntrico Meinhard e argônio como gás de alimentação.

As condições instrumentais empregadas na determinação dos metais e do

carbono residual são apresentadas na Tabela 2 .

Tabela 2

Parâmetro Metais Carbono Residual

Potência (W) 1200 1150

Vazão do gás do plasma (L min-1) 12 12

Vazão do gás auxiliar (L min-1) - -

Vazão do gás de nebulização (L min-1) 0,45 0,45

Pressão do nebulizador (bar) 2,30 2,30

Nebulizador Meinhard Meinhard

Linhas espectrais (nm) - 193,026

Fe 259,940 -

Cu 324,754 -

Y 224,306 -

V 311,838 -

Zn 213,856 -

Mn

Parâmetros instrumentais para as medidas de metais por ICP OES.

50

Page 51: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

4.3 PROCEDIMENTOS

4.3.1 Digestão de piche em sistema pressurizado

As amostras de piche foram pesadas diretamente no frasco digestor e os

reagentes foram adicionados nas quantidades estipuladas segundo os programas

propostos para cada uma das etapas. Estes programas são apresentados e

discutidos na parte de resultados e discussão. Após a adição de reagente, o frasco

é selado, inserido em uma camisa de Kevlar e colocado em uma carcaça onde

será fixado com um parafuso de pressão e apertado com o auxilio de um

torquimetro. Com a mistura amostra-reagente isolada adaptam-se os sensores de

pressão e temperatura e o conjunto é colocado no carrossel rotativo na cavidade

do forno e o programa de aquecimento foi executado. Encerrado o programa de

digestão, o frasco foi resfriado e aberto e a solução obtida foi quantitativamente

transferida para um balão volumétrico de 50,00 mL e completada até o volume final

com água pura.

4.3.2 Digestão do piche em sistema aberto Foram implementados programas no forno de microondas focalizado

utilizando à metodologia de adição de amostras as misturas digestoras aquecidas.

Os reagentes e as amostras foram adicionados manualmente nas quantidades e

nas etapas estipuladas nos programas de digestão que serão apresentados e

discutidos na parte de resultados. Após a adição inicial de reagentes adapta-se o

condensador de refluxo e o conjunto é inserido na área de irradiação do forno, o

programa de aquecimento é executado e o sistema de aspiração e neutralização

dos vapores ácidos é conectado.

Encerrado o programa de digestão, a solução obtida foi quantitativamente

transferida para um balão volumétrico de 25,00 ml, e o volume foi completado com

água pura

51

Page 52: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

4.3.3. Combustão de amostras assistida por radiação microondas Foi implementado um procedimento de combustão em piche utilizado a

energia de microondas na sua ignição, em uma atmosfera de oxigênio, visando à

dissolução completa. Amostras de 300 miligramas foram pesadas em papel de filtro

tratado e posteriormente embebido em nitrato de amônio, colocadas em um

suporte de quartzo e suspensas dentro do frasco digestor acima do nível de uma

solução coletora de HNO3 concentrado. O sistema é selado e pressurizado a 290

psi com oxigênio e colocado no carrossel dentro da cavidade do sistema de

microondas onde será irradiado segundo as condições descritas na parte de

resultados. O frasco é aberto após a temperatura e pressão baixarem e a solução

resultante foi coletada quantitativamente e diluída em balão volumétrico 4.3.4 Determinação de metais em piche via análise por ativação neutrônica

Com o objetivo de avaliar a metodologia desenvolvida e a sua eficiência em

disponibilizar os elementos presentes no piche utilizamos a análise por ativação

neutrônica uma técnica analítica extremamente potente no que diz respeito a

qualificação e quantificação de elementos traço na área de petróleo e frações

pesadas (NADKARNI, 1991). Esta técnica não tem seu uso muito difundido

devido à dificuldade habitual de ter acesso a um reator nuclear que forneça os

nêutrons necessários à irradiação.

Basicamente o piche é composto de carbono, hidrogênio, nitrogênio e

oxigênio que não são ativados durante a irradiação por nêutrons o que elimina

quase por completamente a interferência da matriz na determinação de elementos.

Os ensaios foram realizados em um reator Triga Mark 2 no Institut für

Kernchemie na Universidade de Mainz, Alemanha.

52

Page 53: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO 5.1 ANÁLISE POR ATIVAÇÃO NEUTRÔNICA

Os elementos foram determinados após diferentes tempos e posições de irradiação

da amostra devido as diferentes características de formação e emissão dos

radionuclídeos formados ,assim como é mostrado na tabela 4 para a determinação

de Fe, Co, Cr e Zn; a amostra sofreu uma irradiação longa e teve o tempo de

leitura de 14 h. Para a determinação de Mn a amostra foi irradiada no carrossel por

1 h (irradiação media) e a leitura foi feita em 5 min. Para o Cu foi irradiada no

centro por 5 min ( irradiação curta) e leitura realizada em 5 min

Tabela 3

Elemento Irradiação Leitura Concentração ug/g

Ferro

14 h

14 h

50 ± 13

Cobalto

14 h

14h

< (10 ± 1)

Cromo

14 h

14 h

8,9 ± 2,3

Zinco

14 h

14 h

53,1 ± 2,7

Manganês

1 h

5 min

< (10 ±2 )

Cobre

5 min

5 min

47,7± 2,4

Magnésio

5 min

5 min

46,2 ± 2,3

Resultados obtidos com a análise por ativação neutrônica

53

Page 54: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

5.1.2 Caracterização do piche por análise elementar

A fim de que se pudesse saber a massa real de carbono utilizada em cada

experimento de digestão, a determinação do teor de carbono presente no piche foi

realizada.

Esta medida foi realizada em um analisador elementar automático C-H-N,

marca Perkin Elmer, modelo 2400 série II. As medidas foram feitas em triplicata

encontrando 94,1 ± 0,1 % de Carbono e 5,5 ± 0,2 % de Hidrogênio

Com o teor de carbono determinado, foi possível obter a partir da massa de

piche pesada em cada digestão a massa de carbono utilizada e assim obtermos a

diferença entre a quantidade de carbono inicial e o que resta nas soluções ácidas

obtidas nos procedimentos de digestão.

5.1.3 Caracterização do piche por análise termogravimétrica

A amostra de piche teve seu comportamento de perda de massa com

aumento de temperatura em atmosfera inerte (N2) e ao ar, caracterizado através de

uma análise termogravimétrica. Pode-se ver pelo gráfico apresentado na figura 1

que ocorre uma perda de massa mais intensa a partir de 361°C e com uma

inflexão a 700°C e perda aproximada de 60% com queima completa do resíduo

após a introdução de Oxigênio ( ar). As reduções de massa são relativas ao

craqueamento do piche e volatilização das moléculas mais leves. O resíduo

formado é um material carbonáceo (coque) que é queimado, rapidamente, quando

é introduzido ar no sistema.

54

Page 55: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

Figura1

5.2 DETERMINAÇÃO DE CARBONO RESIDUAL

O estabelecimento de uma metodologia adequada para a determinação de

carbono residual se constitui em elemento fundamental para o desenvolvimento

deste trabalho de pesquisa, uma vez que tal variável será empregada para a

avaliação e quantificação do carbono residual no processo de dissolução em todos

os experimentos. Para determinação do teor de carbono residual a linha de

193,026 nm foi utilizada, conforme recomendado por Gouveia et al. (2001)

empregando-se soluções de uréia como padrão.

55

Page 56: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

5.2.1 Construção de uma curva de carbono com soluções de uréia

Foram construídas curvas analíticas de calibração para determinação de

carbono utilizando-se a linha de 193,026 nm, a partir de uma solução acida de

uréia 1 % (m/v) diluída nas concentrações de 0,01; 0,05; 0,1; 0,03 e 0,5 % (m/v) de

carbono em solução de HNO3 a 10% v/v.

5.2.2 Padronização interna com a adição de Y as soluções introduzidas no ICP OES.

Todas as medidas foram realizadas empregando-se a padronização interna, com a

adição de Y, como estratégia de calibração na quantificação de carbono ou dos

metais em solução. Este procedimento foi adotado devido aos problemas que

podem ocorrer durante o processo de nebulização e transporte quando são

adicionados grandes concentrações de ácido sulfúrico às amostras. O ácido

sulfúrico, devido à sua elevada viscosidade, dificulta o processo de nebulização

das soluções, reduzindo a taxa de material transferida para o plasma durante a

medição. Tal fenômeno pode ser observado em maior ou menor extensão

dependendo da concentração de H2SO4 final nas amostras e pode afetar

seriamente a exatidão das medidas.

56

Page 57: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

5.3 DIGESTÃO DE PICHE

Uma vez estabelecidas as condições de medida do carbono residual, foi

possível iniciar os experimentos relativos aos processos de digestão. O carbono

residual corresponde ao teor de carbono remanescente em solução após o

processo de dissolução e será um dos parâmetros, juntamente com a recuperação

de elementos, utilizados para avaliar a eficiência de digestão durante todo o

trabalho. Utilizamos à técnica de ativação neutrônica como referência na

determinação dos elementos devido a não disponibilidade de uma amostra

certificada com características semelhantes a do piche que pudesse ser utilizada

como amostra de referência na determinação e recuperação de elementos.

5.3.1 Digestão de piche utilizando sistema de cavidade com frascos pressurizados.

5.3.1.1 Programa 1

Inicialmente utilizamos um programa desenvolvido pelo fabricante (oil

digestion 2002 CEM Corp) para a digestão de 1 g de óleo centrado no controle da

temperatura do processo de digestão utilizando apenas um ácido na mistura, 12 ml

de HNO3 em uma etapa única. Foram oferecidos para teste pela Superlab,

representante no Brasil da CEM, os frascos com alivio automático de pressão XP

OMNI vessel, como uma solução abrangente para digestão de amostras com alto

teor de matéria orgânica como óleos e derivados de petróleo.

Este programa, como é mostrado na tabela 5, estabelece a temperatura de

200°C, e pressão de 800 psi como as condições operacionais que devem ser

alcançadas (patamares) pelo frasco em 15 min (rampa) e irradiação de 600 W de

potência.

57

Page 58: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

Durante todos os procedimentos com o sistema de cavidade utilizamos 2

frascos, o frasco controle e um frasco regular, e não 6 frascos como o programa

mostrado na figura 8 indica, assim a potência de microondas irradiada sugerida

pelo programa foi reduzida à metade (300W) durante a sua implementação para

que as condições estabelecidas de temperatura e pressão fossem alcançadas e

mantidas sem riscos de elevação súbita .

O teste foi então realizado usando a massa de 250 mg de piche e potência

do magnetron de 300W e se desenvolveu de forma semelhante ao descrito no

gráfico que o fabricante mostra de evolução de temperatura e pressão versus

tempo mostrado na figura 2.

O gráfico mostra uma evolução razoavelmente continua até a temperatura

estipulada de 200°C, mas a pressão evolui até valores em torno de 350 psi quando

o frasco libera a pressão e esta reduz no interior do frasco até valores próximos de

200 psi. O procedimento de alivio de pressão é repetido ao longo de todo o tempo

estabelecido para o patamar, sem prejuízo da temperatura, que é a variável

realmente importante de ser mantida durante o processo devido ao seu efeito

sobre a eficiência do ácido na digestão.

Tabela 4

Etapa Potência

W

Potência

%

Rampa

min

Pressão

psi

Temperatura

Patamar

min

1 600 (sugerida)

300 (utilizada)

100 15 800 200 10

Programa para digestão de 1 g de amostra de óleo

58

Page 59: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

Figura 2

Temperatura e Pressão vs Tempo para Digestão de 1g óleo

0

50

100

150

200

250

300

350

400

0 5 10 15 20 25Tempo (min)

Tem

pera

tura

(C) e

Pre

ssão

(psi

)

Temperatura (C)Pressão (psi)

MARS 5XP-Omni Vessels

12mL HNO3

Gráfico da evolução de pressão por temperatura fornecida pelo fabricante para a digestão

óleo utilizando o programa 1 para 6 frascos digestores.

Foram executadas três réplicas e observou-se que o programa se

ineficiente quanto à transformação do piche em uma solução homogênea

impossível uma medição do carbono residual, pois todos os dige

apresentaram como uma solução enegrecida com partes escuras e sól

aumentavam à medida que a solução esfriava. Havia também uma

quantidade de resíduo escuro aparentando ser a amostra quase intacta e

nas paredes do frasco e ao longo no tubo de safira do sensor de temperatu

O comportamento do piche após a digestão utilizando o programa 1

que são necessárias condições mais agressivas de digestão no

pressurizado, para o desenvolvimento de uma metodologia na transform

piche em uma solução que possa ser utilizada na determinação de

residual e outros elementos por ICP OES como está sendo proposto.

Temperatura

Pressão

de 1 g de

mostrou

tornando

ridos se

idas que

grande

spalhada

ra.

, mostra

sistema

ação do

carbono

59

Page 60: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

5.3.1.2 Programa 2

Técnicas quimiométricas têm sido usadas no planejamento e na

avaliação dos resultados de experimentos como ferramentas poderosas no

desenvolvimento de métodos analíticos; entre estas técnicas o planejamento

fatorial é utilizado com freqüência na otimização de procedimentos analíticos

(SOYLAK et al. 2005) Desta forma para estudar a influência das variáveis

selecionadas sobre o processo de digestão das amostras de piche foi utilizado um

planejamento fatorial de dois níveis completo. O ponto central do planejamento foi

realizado em triplicata para a estimativa do erro experimental e avaliação da

existência de curvatura das respostas obtidas em relação ao modelo matemático

linear empregado na descrição do comportamento dos dados. As respostas

utilizadas para avaliação do processo de digestão foram: a porcentagem de

carbono residual (% RCC) e a recuperação de metais. Estudaremos a influência na

digestão de quatro variáveis, assim na aplicação deste planejamento, com seus

fatores e níveis estudados, serão realizados 19 experimentos. Este planejamento

com seus respectivos níveis e fatores estudados estão apresentados na tabela 5

Tabela 5

Variáveis

( - )

( 0)

( + )

Volume de HCl (ml)

1

2

3

Volume H2O2 (ml)

1

2

3

Tempo de digestão em 220°C (min)

5

12,5

20

Massa da amostra (mg)

250

375

500

Fatores e níveis utilizados no planejamento fatorial para a digestão do piche no programa 2

60

Page 61: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

Selecionamos as variáveis que julgamos importantes de serem estudadas e

otimizadas com o interesse de desenvolver uma metodologia que permita a

destruição da matriz orgânica extremamente resistente do piche utilizando as

condições disponíveis e o sistema pressurizado.

Neste trabalho foram estudadas a influência de diferentes proporções de

H2O2 e HCl na mistura digestora com um volume fixo de 10ml de HNO3 .

Será testada a influência do H2O2, um oxidante extremamente enérgico

quando utilizado a temperaturas superiores a 200°c (VESCHETTI et al. 2000;

WANG et al. 2004).

Testaremos a influência do HCl, pois este ácido forma NOCl com o HNO3

um agente oxidante eficiente no ataque a amostras com altos teores de orgânicos

( SUN et al. 2001 )

Foi utilizada uma temperatura de digestão maior do que a utilizada no

programa 1 assim utilizou-se uma temperatura de 220 °C como patamar que deve

ser atingido e mantido durante a digestão, esta temperatura é relatada como

eficiente no ataque a matrizes orgânicas com misturas de HNO3 e H2O2.

A temperatura máxima de trabalho corresponde a um percentual de

segurança sobre as limitações dos frascos utilizados na digestão que para

amostras pouco conhecidas não deve ultrapassar 80% das especificações

fornecidas pelo fabricante (KINGSTON et al. 1997). O tempo em que a temperatura

de digestão foi mantida no patamar foi estudado entre 5 e 20 min. A limitada vida

útil dos frascos frente a condições agressivas por longos tempos assim como a

disponibilidade de apenas 2 frascos para todos os experimentos foram os

limitantes desta variável.

Como a variação da massa da amostra está relacionada com os diferentes

tempos, volumes e proporções da mistura digestora assim estudaremos a variação

da massa de amostra entre 250 e 500 mg e sua interação com as diferentes

proporções da mistura digestora e a eficiência alcançada no processo.

O programa a ser aplicado encontra-se detalhado na tabela 6

61

Page 62: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

Tabela 6

Etapa Potência W

Aplicada%

Rampa min

Pressão psi

Temperatura °C

Patamar min

1 300 100 10 350 190 20

2 300 100 5 500 220 5 ou 20 Programa 2 utilizado no digestor pressurizado Mars 5 para a digestão de piche

Este programa tem a primeira etapa comum aos dois níveis testados e ao

ponto central. Esta etapa visa ser um nivelamento antes da fase a 220°C, pois,

como já visto no programa 1, a amostra é extremamente resistente e

possivelmente etapas únicas (e curtas) mesmo a altas temperaturas poderiam não

ter resultados facilmente distinguíveis entre si. Uma outra razão seria a de

segurança de operação com a elevação gradual da temperatura e pressão nos

frascos digestores a fim de se evitar aumentos bruscos destas variáveis, pois o

processo de decomposição pode ser exotérmico e liberar gases mesmo após o

desligamento das microondas, podendo explodir se a pressão subir rapidamente

sem que haja tempo para funcionamento do sistema de liberação de pressão

(rompimento de membrana).

Pela mesma razão quanto aos possíveis aumentos bruscos de pressão e

temperatura serão utilizadas no programa de digestão a potência de 300W com

100% dela incidindo sobre os frascos reatores.

Uma atenção especial foi dada ao processo de descontaminação dos

frascos, pois a amostra é particularmente incrustante, permanecendo aderida nos

frascos uma grande quantidade de resíduos mesmo após a aplicação de diversos

procedimentos de digestão em branco, ou seja, somente com a mistura digestora.

62

Page 63: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

O planejamento fatorial foi testado com a realização de 19 experimentos, a

matriz do planejamento e as respostas expressas em percentual de carbono

residual estão na tabela 7.

Tabela 7

Ensaios

Volume de

HCl

Volume de

H2O2

Tempo em

220°C

Massa da

amostra

Resposta em

carbono residual

%

1 _ _ _ _ 47,3 2 + _ _ _ 48,9 3 _ + _ _ 44,3 4 + + _ _ 48,8 5 _ _ + _ 39,0 6 + _ + _ 39,0 7 _ + + _ 45,1 8 + + + _ 39,0 9 _ _ _ + 43,8 10 + _ _ + 37,6 11 _ + _ + 47,2 12 + + _ + 51,2 13 _ _ + + 48,9 14 + _ + + 43,4 15 _ + + + 46,6 16 + + + + 46,9 17 0 0 0 0 47,3 18 0 0 0 0 48,9 19 0 0 0 0 44,3

Matriz de planejamento fatorial utilizada no digestor pressurizado assistido por radiação

microondas

63

Page 64: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

5.3.1.3.Determinação de carbono residual por TOC

Para verificarmos a qualidade dos resultados da quantificação de carbono

residual nas amostras digeridas pelo sistema pressurizado comparamos os

resultados obtidos por ICP OES com os obtidos pelas mesmas amostras utilizando

um sistema de medição de carbono total – TOC.

O carbono residual presente nas amostras foi termicamente convertido em

CO2 e quantificado por um sensor de IR. A curva analítica foi obtida usando

soluções padrão de hidrogênio ftalato de potássio em água ultra pura. As amostras

foram introduzidas no aparelho, um Shimadzu TOC 5000, e diluídas

automaticamente fornecendo as leituras de carbono. Os resultados concordaram

em media 83% com os obtidos no ICP OES e podem ser vistos na tabela 8

Tabela 8

Comparação dos resultados obtidos na determinação de carbono usando um sistema de

medição de carbono total TOC com os obtidos por ICP OES

TOC %

Carbono Residual %

Carbono / TOC %

55,6 ± 2,8 47,3 ±1,3 85,1 66,4 ± 3,3 48,9 ±0,7 73,7 52,4 ± 2,6 44,3 ±1,4 84,7 46,6 ± 2,3 48,8 ±1,5 104,9 65,6 ± 3,3 39,0 ±0,7 59,5 46,2 ± 2,3 39,0 ±0,4 84,4 42,8 ± 2,1 45,1 ±1,9 105,3 59,9 ± 3,0 39,0 ±1,8 65,0 78,9 ± 3,9 43,8 ±0,8 55,5 60,7 ± 3,0 37,6 ±1,9 61,9 54,9 ± 2,7 47,2 ± 1,2 85,9 56,9 ± 2,8 51,2 ± 0,6 89,9 46,1 ± 2,3 48,9 ± 0,9 106,1 57,9 ± 2,9 43,4 ± 1,5 75,0 45,0 ± 2,3 46,6 ±1,4 103,5 49,2 ± 2,5 46,9 ±1,0 95,3

media 83,5%

64

Page 65: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

5.3.1.4. Avaliação dos digeridos com relação à homogeneidade, teor de

carbono residual e metais.

Os experimentos conduzidos utilizando as condições estabelecidas no

programa 2 se mostraram incapazes de digerir totalmente o piche.

Todos os digeridos apresentavam um aspecto leitoso oscilando entre o

amarelado e o branco, e um anel escuro cobria o tubo protetor do sensor invasivo

de temperatura e a parte interna do frasco reator um pouco acima do nível da

mistura digestora.

A partir dos digeridos obtidos com o sistema pressurizado determinou-se

carbono residual e alguns metais. Com isso verificou-se a capacidade das

condições aplicadas de disponibilizar os metais em solução.

As medidas efetuadas de carbono residual confirmaram que os níveis de

carbono permaneciam altos variando entre 51 e 37 % alem da quantidade não

avaliada de amostra que ficou aderida ao frasco reator e acessórios. Estes

resultados estão mostrados na tabela 9

Para avaliar a associação estatística entre os valores obtidos para a

recuperação dos metais determinados no piche após digestão por sistema

pressurizado e o teor de carbono residual nestes digeridos efetuamos um teste de

correlação e covariância. Como mostrado na tabela oito, valores de correlação

entre 0,12 e -0,34 foram obtidos e boas recuperações de metal estão associadas a

valores elevados de carbono residual. Estes resultados sugerem uma razoável

independência entre os parâmetros utilizados como indicadores da eficiência da

digestão, pois os altos teores de carbono não parecem afetar a determinação e

recuperação do Fe, Cu e Zn nos digeridos analisados por ICP OES .

65

Page 66: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

Tabela 9

Ferro mg/ml Cobre mg/ml

Zinco mg/ml

Manganês mg/ml

Vanádio mg/ml

INAA 50 ± 1,3 47,7± 2,4

53,1±2,3 < (10 ± 1,6) 1 45,0 ± 9,0 29,7 ± 2,0 31,6 ± 2,0 0,57 ± 0,1 0,73 ± 0,1 2 55,8 ± 0,8 20,4 ± 5,0 24,0 ± 0,4 0,61 ± 0,2 0,78 ± 0,1 3 36,4 ± 0,9 22,8 ± 0,3 30,0 ± 0,5 0,73 ± 0,1 0,91 ± 0,2 4 30,1 ± 0,2 23,7 ± 0,3 40,6 ± 0,6 0,46 ± 0,1 0,66 ± 0,1 5 35,4 ± 0,3 21,1 ± 0,4 35,7 ± 0,8 0,49 ± 0,2 0,61 ± 0,1 6 40,6 ± 4,1 26,2 ± 0,4 66,4 ± 0,2 0,60 ± 0,1 0,65 ± 0,1 7 32,1 ± 2,4 20,7 ± 0,7 30,9 ± 0,8 0,51 ± 0,1 0,72 ± 0,2 8 34,5 ± 0,7 36,9 ± 0,5 40,8 ± 0,5 0,56 ± 0,1 0,56 ± 0,2 9 38,6 ± 0,1 23,6 ± 0,3 38,6 ± 1,2 0,64 ± 0,1 0,53 ± 0,3

10 27,9 ± 0,7 22,3 ± 0,7 48,4 ± 2,2 0,46 ± 0,1 0,48 ± 0,2 11 32,5 ± 0,3 26,9 ± 0,2 32,3 ± 5,2 0,58 ± 0,1 0,45 ± 0,1 12 37,4 ± 0,5 32,4 ± 0,7 38,6 ± 2,5 0,61 ± 0,2 0,64 ± 0,3 13 20,1 ± 0,2 35,6 ± 0,4 44,0 ± 5,2 0,33 ± 0,1 0,69 ± 0,2 14 23,5 ± 0,5 45,8 ± 0,4 45,2 ± 0,5 0,43 ± 0,1 0,63 ± 0,1 15 35,7 ± 1,8 46,1 ± 0,9 51,4 ± 2,0 0,45 ± 0,1 0,52 ± 0,1 16 20,5 ± 12 55,1 ± 0,5 52,2 ± 2,9 0,36 ±0,1 0,65 ± 0,3 17 36,6 ± 4,2 28,3 ± 11,0 40,6 ± 2,1 0,36 ± 0,1 0,70 ± 0,1 18 39,8 ± 4,0 32,5 ± 0,9 43,6 ± 22 0,45 ± 0,1 0,64 ± 0,2 19 40,2 ± 14,0 35,5 ± 2,0 46,9 ± 0,8 0,40 ± 0,1 0,52 ± 0,1

Covariância RCC

1,76

5,09

-14,38

-0,00

0,16

Correlação

RCC 0,05

0,12

-0,34

-0,01

0,35

Determinação de Metais por ICP OES em piche nos digeridos obtidos com o sistema

pressurizado e comparação com valores obtidos com a técnica de ativação neutrônica.

66

Page 67: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

Para avaliação da influência de cada variável na região experimental

estudada, foi aplicada a analise de variância (ANOVA) nos dados obtidos como

resposta (RCC e concentração de metais). O objetivo da ANOVA é comparar a

variação devida a mudança dos níveis das variáveis com a variação devida ao

acaso (erro experimental) ou resíduos (LOPES e HOFFMAN, 1999). Sendo assim

para um nível de confiança de 95%, qualquer variável que apresentar um valor p

maior que 0,05 (5%) apresenta efeito significativo.

A análise de variância aplicada aos resultados dos digeridos quando o

carbono residual é utilizado como resposta é mostrada no gráfico de Pareto na

figura 3, onde se vê que a massa da amostra influência significativamente os

resultados. Isto sugere que o teor de carbono residual aumenta à medida que se

usa uma massa maior de amostra

O aumento do carbono residual com o aumento da massa sugere também

que dentro das condições fixadas, um ou mais dos parâmetros estudados na

digestão tem uma capacidade limitada de reduzir o teor de carbono no piche nos

digeridos.

Estudos indicam que a temperatura máxima de 220°C utilizada no processo

de digestão no sistema pressurizado seria insuficiente na obtenção de uma solução

acida homogênea a partir do piche. Assim temperaturas bem mais altas da ordem

de 300°C, deveriam ser atingidas para que matrizes orgânicas complexas como

estas que formam o piche fossem destruídas de maneira eficiente e que assim

reduzisse teor de carbono residual.

Para que as condições experimentais de temperatura mais elevadas sejam

atingidas, a disponibilidade de frascos mais resistentes deverão ser avaliadas em

um programa mais eficiente na redução do carbono residual.

67

Page 68: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

Figura 3

carbono residual sistema pressurizado

,2534015

-,658844

-,962926

-1,16565

-1,36837

-1,46973

2,179253

2,381974

-3,29422

3,457077

6,436399

p=,05

Vol HCl vs massa da amostra

(2)Volume H 2O2

(1)Volume HCl

Vol HCl vs tempo 220°C

Vol HCl vs vol H2O2

Tempo 220°C vs massa da amostra

(3)tempo 220°C

Vol H2O2 vs tempo a 220°C

Vol H2O2 vs massa da mostra

Curvatr.

(4)Massa da Amostra

Gráfico de Pareto teor de carbono residual

Observou–se a partir dos gráficos de Pareto mostrados nas figuras 4 e 5,

obtidos com os dados das recuperações dos metais, que as curvaturas

apresentaram efeitos significativos. Isto mostra que o modelo linear relacionado

ao planejamento fatorial de dois níveis não estaria descrevendo

adequadamente as relações entre as variáveis envolvidas e as respostas.

Desta forma, modelos que estudam experimentalmente os fatores em mais de 2

níveis e que levam em consideração interações não lineares (quadráticas por

exemplo) entre as variáveis e as respostas se ajustariam melhor ao domínio

estudado .

68

Page 69: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

No entanto observando-se as tendências, pode-se notar que a massa da

amostra possui um efeito altamente significativo sobre as respostas obtidas das

concentrações de Fe e Cu .

O aumento da concentração destes metais nos digeridos a partir do aumento

de uma amostra tida como homogênea poderia ser uma conseqüência direta da

disponibilização de metais retidos nos resíduos aderidos a parede do frasco e

da saturação da capacidade de retenção dos digeridos incompletos pelo

conjunto frasco/resíduos, ou seja, para as condições utilizadas haveria uma

quantidade máxima (constante) de perda.

Outra variável que se mostrou significativa na resposta de concentração de Fe

e Cu foi o tempo a 220°C, que influenciou a recuperação destes metais no

digerido e, portanto seu aumento interfere na sua concentração final.

A influência de um tempo maior a 220°C estaria associada a maior quantidade

de amostra digerida, o mesmo acontecendo na disponibilização de metal em

solução a partir de frações não digeridas e retidas nos frascos.

Contrariamente as observações realizadas para o ferro e o cobre nos

gráficos de Pareto obtidos utilizando-se as concentrações de Zn e V como

resposta e mostrados nas figuras 6 e 7, verifica-se que não houve influência

significativa das variáveis estudadas dentro dos limites estabelecidos.

69

Page 70: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

Figura 4

Concentração de ferro Sistema Pressurizado

0,

0,

0,

0,

0,

0,

2,

4,

8,

15,09967

16,

p=,05

Vol HCl vs massa da amostra

Vol H2O2 vs tempo 220°C

Tempo 220°C vs massa da amostra

Vol H2O2 vs massa da amostra

Vol HCl vs vol H2O2

Vol HCl vs massa da amostra

(1)Volume HCl

(2)Volume H 2O2

(3)tempo 220°C

Curvatr.

(4)Massa da Amostra

Gráfico de Pareto concentração de ferro

Figura 5

Concentração de cobreSistema pressurizado

0,

0,

0,

0,

0,

0,

2,

4,

8,

15,09967

16,

p=,05

Vol HCl vs massa da amostra

Vol H2O2 vs tempo 220°C

Tempo 220°C vs massa da amostra

Vol H2O2 vs massa da amostra

Vol HCl vs vol H2O2

Vol HCl vs tempo 220°C

(1)Volume HCl

(2)Volume H2O2

(3)tempo 220°C

Curvatr.

(4)Massa da Amostra

Gráfico de Pareto concentração de cobre

70

Page 71: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

Figura 6

Concentração de zincoSistema pressurizado

-,055786

-,055786

-,055786

,1115712

,1115712

,1115712

,1673568

,557856

,9901238

1,004141

1,89671

p=,05

Vol HCl vs Vol H2O2

Vol HCl vs tempo a 220°C

Vol HCl vs massa da amostra

Vol H2O2 vs tempo a 220°C

Vol H2O2 vs massa da amostra

Tempo a 220°C vs massa da amostra

(1)Volume HCl

(2)Volume H 2O2

Curvatr.

(3)tempo 220°C

(4)Massa da Amostra

Gráfico de Pareto concentração de zinco

Figura 7

Concentração de vanadioSistema pressurizado

,0201133

-,0212

-,210374

-,283761

-,317528

-,387589

-,42999

-,773003

1,431849

2,521772

-2,85283

p=,05

(2)Volume H2O2

Vol HCl vs tempo 220°C

Vol HCl vs vol H2O2

(1)Volume HCl

Curvatr.

Vol H2O2 vs massa da amostra

(3)tempo 220°C

Vol H2O2 vs tempo 220°C

Vol HCl vs massa da amostra

Tempo 220°C vs massa da amostra

(4)Massa da Amostra

Gráfico de Pareto concentração de vanádio

71

Page 72: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

5.3.2 Digestão de piche em sistema focalizado

A estratégia de trabalho no desenvolvimento de uma metodologia que

permita a digestão do piche utilizando um sistema focalizado, foi baseada na

adição da amostra a mistura digestora aquecida, e na otimização das variáveis,

através de procedimentos multivariados, alem da seleção criteriosa das condições

fixas a serem utilizadas nos experimentos.

A partir da escolha das variáveis, as condições fixas foram otimizadas uma

por uma, a partir das consideradas mais importantes, visando a alcançar os

objetivos delineados – dissolução total da amostra com o menor volume possível

de reagentes – chegando às condições mostradas na tabela 11 e a partir destes

níveis e fatores planejados foi montada a matriz fatorial mostrada na tabela 12.

O sistema focalizado permite a utilização de condições de temperatura mais

agressivas que as que foram utilizadas neste trabalho com o sistema pressurizado.

Assim trabalhou-se com temperaturas da ordem de 300°, atingida por uma mistura

digestora composta basicamente por H2SO4 adicionado de HNO3 e H2O2.

A alta viscosidade do H2SO4 o torna indesejável no digerido final da mesma forma

que a acidez residual oriunda da utilização de grandes volumes de ácidos, por isto

estudou-se a influência da variação do volume dos reagentes empregados na

digestão, frente a uma quantidade aproximada de 500mg de piche. Também foi

estudado o efeito da adição de HNO3 ao H2SO4 durante o processo de digestão, a

fim de tornar o digerido final mais adequado a introdução em sistemas de ICP

OES.

O H2O2 é um importante coadjuvante ao H2SO4 no processo de digestão de

amostras com alto teor de matéria orgânica, devido à formação de H2SO5 ácido

peroxosulfurico (MERMET, 1997), por isto ele será adicionado a mistura digestora

e terá o efeito de sua variação de volume estudada.

As condições experimentais fixas foram otimizadas através de testes

preliminares buscando-se a reprodutibilidade e homogeneidade das condições a

que seriam submetidas às amostras visando à redução de tempo, volume de

mistura digestora além de perdas e contaminações.

72

Page 73: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

Assim foi estipulado que o tempo de digestão seria de 1 hora, pois testes

efetuados mostraram que para os níveis estudados de massa de amostra e

reagentes, este seria o tempo mínimo para se conseguir um digerido possível de

ser introduzido no ICP. Da mesma forma foi constatado que o volume mínimo da

mistura HNO3 / H2SO4 a ser testado é de 5 ml, pois volumes menores eram

totalmente evaporados. Devido à alta viscosidade do H2SO4 e do piche e da

dificuldade em se homogeneizar a mistura digestora e a amostra, foi utilizada

uma barra magnética agitadora / homogeneizadora protegida por vidro

borossilicato para não ser atacada pela mistura digestora.

O programa foi centrado no controle da potência irradiada para garantir que

todos os experimentos recebessem a mesma quantidade de energia. A outra

opção seria centrar o programa na temperatura, porém a irradiação seria

controlada pelas diferentes interações e respostas das diferentes misturas e

volumes e alguns experimentos ficariam com tempos bem diferentes de incidência

de microondas. Foram testadas diferentes potências em 2 ciclos (estágios) de

irradiação, no primeiro ocorria a adição, a media potência de irradiação das

amostras e reagentes (carbonização); no segundo, utilizou-se alta potência de

irradiação adicionando-se HNO3 e H2O2.

No primeiro estagio; constatou-se que para irradiações abaixo de 40%, as misturas

demoravam muito para aumentar a temperatura no começo do programa e após a

adição das amostras e reagentes; na utilização de potências acima de 40% havia

uma tendência maior de formação de particulado e projeção da amostra (e arraste

pelo aspirador de gases) antes dela ser incorporada a mistura digestora. Para

reduzir a evaporação dos ácidos e as perdas devido à pressão negativa gerada

pelo sistema de lavagem dos vapores, foi utilizada uma coluna condensadora de

vidro tipo Vigreux.

No segundo estagio (após a carbonização) uma potência maior é necessária

para oxidar os compostos orgânicos da amostra, no entanto potências acima de 70

% levavam a secura misturas digestoras com volumes menores que 5 ml.

73

Page 74: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

O piche precisa ser reduzido a uma granulometria menor para interagir

melhor com a mistura digestora. Isto resultava em severas perdas quando era

adicionado direto, pois aderia nas paredes superiores do tubo de digestão e do

condensador e ainda era projetado para cima à medida que a temperatura da

mistura era elevada.

Durante o processo de digestão, o refluxo não era suficiente para remover o

particulado aderido. Posteriormente o processo de limpeza e descontaminação

deste material era bastante difícil devido à aderência persistente.

A solução foi à utilização de cápsulas de gelatina, tradicionalmente

utilizadas como veiculo para medicamentos em farmácias de manipulação, como

invólucro para a pesagem e adição do piche, minimizando as projeções e perdas.

Trabalhos mostram (SANTOS et al. 2005) que a divisão da adição da amostra em

muitas etapas é acompanhada pela melhora na eficiência do processo de digestão

quando se utiliza o método de adição de amostras, porém o aumento no numero

de alíquotas aumentaria também o numero de cápsulas para serem digeridas pela

mistura e as que participariam do branco.

A etapa de “carbonização” da amostra com altas temperaturas é de extrema

importância na digestão de amostras com alto teor de matéria orgânica (PEREZ,

1995; MANUAL PROLABO, 1998). O conceito da técnica de adição de amostras,

seria o de ter cada alíquota de amostra sendo digerida parcialmente, da forma mais

eficaz possível, antes adição de outra alíquota. Basicamente o processo em cada

etapa de adição constaria de uma carbonização e posterior oxidação pelo HNO3 e

pelo H2O, assim as adições de HNO3 foram feitas em 3 etapas, 5 min após adição

da amostra e em volumes iguais e o H2O2 será adicionado 2 min após a adição de

HNO3 em alíquotas de 250uL, O volume restante será adicionado em alíquotas de

250uL durante o segundo estagio de digestão. Escolhemos a adição de volumes

pequenos, pois volumes acima de 250uL reduziam a temperatura após a adição

retardando o processo de oxidação e a adição da próxima alíquota de amostra.

Os fatores e limites estudados estão n tabela 10 e a matriz fatorial obtida com a

resposta em carbono residual estão na Tabela 11 .

74

Page 75: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

5.3.3. Avaliação dos digeridos pelo sistema focalizado em relação ao carbono residual e metais

Os experimentos conduzidos utilizando as condições estabelecidas se

mostraram capazes de digerir totalmente o piche. Todos os digeridos

apresentavam um aspecto transparente sem resíduos no condensador ou no

frasco. Apesar dos cuidados com perdas por volatilização uma quantidade razoável

de material particulado se acumulava entre as juntas esmerilhadas, na cabeça de

aspiração de gases acima da saída do frasco e na solução de neutralização,

mesmo quando a bomba estava desligada. A fim de se reduzir estas perdas que

irão influenciar tanto as medidas de carbono quanto as dos elementos traço

também foram testados resfriamentos na mistura entre as adições de reagentes e

da amostra e aumento do volume dos frascos e colunas sem que fossem

observadas melhoras visuais no acumulo de particulado.

Em alguns procedimentos a mistura digestora evaporou completamente

secando o frasco reator e fazendo com que alguns se rompessem. Observou-se

que isto acontecia independente de qualquer das variáveis e estava associado à

forma do fundo dos frascos utilizados, assim o frasco de fundo chato em

contrapartida ao de fundo cônico, atingia temperaturas mais altas de 340°C (em

comparação a 300°C para o cônico) e tendia a evaporar completamente os

digeridos. A partir dos digeridos obtidos, que não secaram completamente,

determinamos o carbono residual e alguns metais e assim estudarmos suas

interações e a capacidade das condições aplicadas de disponibilizar os metais em

solução. As medidas efetuadas de carbono residual confirmaram que os níveis de

carbono variaram entre 26 e 0,8 % alem da quantidade não avaliada de particulado

que ficou aderida à cabeça de aspiração do sistema de aspiração e neutralização

e na solução neutralizadora.

Os brancos analíticos compostos das cápsulas de gelatina com os maiores

volumes da mistura digestora utilizada não apresentaram quantidade detectável de

Al, Cd, Co, Cu, Fe, Mn e Ni e se mostraram adequados ao uso como veiculo de

amostras .

75

Page 76: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

Tabela 10

Variáveis

( - )

( 0)

( + )

Percentual de HNO3 na mistura com H2SO4

(% )

0

25

50

Volume total da mistura digestora

(ml)

5

6

7

Volume total de H2O2

(ml)

3

4

5

Fatores e níveis utilizados no planejamento fatorial para a digestão do piche no programa

utilizado no sistema focalizado

Tabela 11

Ensaios HNO3

H2SO4

Volume da

mistura

digestora

Volume de

H2O2

Resposta em

carbono residual

%

1 _ _ _ 10,9 2 + _ _ 26,3 3 _ + _ 5,9 4 + + _ 17,0 5 _ _ + 6,0 6 + _ + 0,8 7 _ + + 0,9 8 + + + 7,3 9 0 0 0 13,4 10 0 0 0 11,9 11 0 0 0 10,4

Matriz do planejamento fatorial de 2 níveis e 3 fatores com resultados dos teores de

carbono residual

76

Page 77: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

Para avaliação da influência de cada variável na região experimental

estudada, foi aplicada a analise de variância (ANOVA) nos dados obtidos como

resposta (RCC e concentração de metais). O objetivo da ANOVA é comparar a

variação devida à mudança dos níveis das variáveis com a variação devida ao

acaso (erro experimental) ou resíduos (LOPES e HOFFMAN, 1999). Sendo assim

para um nível de confiança de 95%, qualquer variável que apresentar um valor p

maior que 0,05 (5%) apresenta efeito significativo.

A partir dos digeridos obtidos na digestão com o sistema focalizado foram

determinados os metais de interesse. Como mostrado na tabela 9, a recuperação

do Fe variou entre 16 e 100 % e o Cu entre 30 e 68 % . Zn, Mn e V ficaram abaixo

dos limites de detecção do ICP OES.

A análise de variância aplicada aos resultados dos digeridos quando o teor de

carbono residual e as concentrações de Fe e Cu são utilizados como resposta,

mostradas no gráfico de Pareto nas figuras 8, 9 e 10, indicam que as curvaturas

apresentaram efeitos significativos. Isto significa que os modelos lineares ajustados

aos dados experimentais relacionados ao planejamento fatorial de dois níveis

utilizado nos experimentos, não estariam descrevendo adequadamente as relações

entre as variáveis envolvidas e as respostas, e que modelos que levam em conta

os termos não lineares se ajustariam melhor ao domínio experimental estudado.

No entanto, são validas as observações realizadas indicando tendências e

assim, pode-se notar que:

No gráfico de Pareto mostrado na figura 8 a relação de volume de HNO3 sobre o

volume de H2SO4 tende a influenciar negativamente a quantidade de carbono

residual. Esta informação sugere que um menor volume de HNO3 utilizado na

mistura aumentaria a quantidade de carbono no digerido sugerindo que a

participação deste ácido é importante na oxidação e assim reduzindo o RCC nos

digeridos.

77

Page 78: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

O gráfico de Pareto mostrado na figura 9, onde a concentração de Fe é avaliada

como resposta, sugere que a relação de volume de HNO3 sobre o volume de

H2SO4 tende a influenciar negativamente na recuperação deste metal. Isto indica (o

sinal negativo), que a variável tem efeito inversamente proporcional sobre o

parâmetro medido, assim sugere-se que reduzindo o volume de HNO3,

aumentamos a recuperação de Fe nos digeridos.

O gráfico mostrado na figura 9 também sugere uma interação significativa entre o

volume da mistura digestora, o volume de H2O2 utilizado e a recuperação de Fe.

Isto indica que o aumento do volume total da mistura digestora associado com o

aumento do volume de H2O2 utilizado na digestão influiriam positivamente na

recuperação de Fe.

Estes variações sugeridas nos volumes teriam como respostas objetivas do

processo de digestão um maior volume de H2SO4 e/ou HNO3, favorecendo a

carbonização de uma maior quantidade de amostra em menor tempo, associada a

maior oxidação pelo maior volume de H2O2.

Outro ponto a considerar é que alterações nos volumes dos reagentes também irão

alterar as temperaturas ao longo do processo de digestão, influir nas perdas e

alterar o volume final do digerido.

Quando são avaliadas as relações entre os teores de carbono residual encontrados

nos digeridos e a recuperação de metais encontra-se uma correlação linear

negativa com o Fe (-0,48), sugerindo uma relação entre a redução de carbono e a

recuperação deste metal nos digeridos.

A correlação linear entre a recuperação de Cu e o teor de carbono residual é bem

pequena (-0,05) , sugerindo uma grande independência entre estes valores .

Observou–se também com o gráfico de Pareto mostrado na figura 10 onde a

recuperação de Cu é avaliada como resposta, que o volume total da mistura

digestora influiria de forma negativamente significativa na recuperação deste metal,

ou seja, existiria uma relação inversamente proporcional. Desta forma sugere-se

que se o volume total utilizado na digestão fosse reduzido, a recuperação de Cu

no digerido seria incrementada .

78

Page 79: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

Tabela 12

Ensaios RCC %

ferro mg/ml

cobre mg/ml

INAA 50 ± 12,5 47,7 ± 2,4 1 10,9 ± 0,1 48,8 ± 0,2 20,9 ± 9,0 2 26,3 ± 0,1 8,3 ± 0,1 30,0 ± 0,3 3 5,9 ± 0,2 50,4 ± 0,2 26,2 ± 12,2 4 17,0 ± 0,2 24,7 ± 0,5 21,4 ± 13,4 5 7,0 ± 0,1 22,3 ± 3,5 14,2 ± 5,0 6 0,8 ± 0,3 32,6 ± 3,3 32,6 ± 0,3 7 0,9 ± 0,3 26,2 ± 11,2 29,4 ± 1,8 8 7,3 ± 0,2 24,2 ± 8,4 13,8 ± 7,0 9 13,4 ± 0,1 28,8 ± 0,4 17,3 ± 8,0

10 11,9 ± 0,3 27,9 ± 0,5 24,3 ± 2,0 11 10,4 ± 0,4 23,4 ± 0,2 23,8 ± 7,0

Covariância RCC

-38,09 -2,09

Correlação RCC

-0,48 -0,05

Determinação de Metais por ICP OES nos digeridos obtidos com o sistema focalizado e comparação com a técnica de ativação neutrônica

Figura 8

Carbono residual Sistema focalizado

0,

0,

0,

-1,41421

-2,82843

-5,65685

8,124

p=,05

Vol HNO3/H2SO4 vs vol mist digestora

HNO3/H2SO4 vs vol H2O2

Vol mist digestora vs vol H2O2

(3)Volume H 2O2

(2)Volume mistura digestora

(1)HNO3/H2SO4

Curvatr.

Gráfico de Pareto teor de carbono residual

79

Page 80: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

Figura 9

Concentração de ferroSistema focalizado

-,353553

1,06066

-2,47487

-2,47487

8,131728

13,47852

-15,2028

p=,05

HNO3/H2SO4 vs Vol H2O2

1)HNO3/H2SO4 vs Vol mist digestora

(3)Vol H2O2

(2)Vol mist digestora

Vol mist digestora vs Vol H2O2

Curvatr.

(1)HNO3/H2SO4

Gráfico de Pareto concentração de ferro

Figura 10

Concentração de cobreMicroondas focalizado

-,509525

,5095247

-2,20794

2,887306

-3,56667

-4,92541

6,534002

p=,05

HNO3/H2SO4 vs vol mist digestora

HNO3/H2SO4 vs Vol H2O2

(1)HNO3/H2SO4

(3)Volume H2O2

Vol mist digestora vs Vol H2O2

(2)Volume mistura digestora

Curvatr.

Gráfico de Pareto concentração de cobre

80

Page 81: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

5.4 DIGESTÃO DO PICHE EM SISTEMA DE COMBUSTÃO

As amostras de 300mg de piche, pesadas e colocadas dentro do frasco de

quartzo (XQ 800 Anton Paar) foram pressurizadas com 290 psi de oxigênio e

sofreram um processo de combustão inicializado pela queima do papel de filtro

que envolvia a amostra, embebido em 50uL de nitrato de amônia. O programa

conforme mostrado na tabela 13, teve um tempo de 10 minutos de irradiação com

potência de 1400 W, neste tempo a amostra entra quase que imediatamente em

combustão e em seguida o aquecimento gera um refluxo da solução absorvedora

de HNO3 concentrado. As soluções resultantes eram límpidas, foram coletadas e

diluídas e tiveram seus elementos determinados por ICP OES e ICP-MS. Os

resultados das concentrações dos metais foram comparados com os obtidos por

analise por ativação neutrônica e obtiveram-se os resultados mostrados na tabela

14.

Tabela 13

Volume frasco quartzo 80 ml em quartzo

Irradiação microondas 1400 w por 10 minutos

Pressão oxigênio 20bar Programa de combustão

Tabela 14

Elementos Piche

média em ug/g

INAA ug/g

ICP / INAA

%

Co 0,1 ± 0,1 < (10 ± 0,5)

Cr 1,7 ± 0,3 8,9 ± 2,3

18,8

Cu 32,0 ± 3,3 47,7 ± 2,4

67,1

Mn 0,3 ± 0,1 < (10 ± 2)

Zn 38,7 ± 1,7

53 ± 3

72,9 Resultados da combustão do piche

81

Page 82: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

6. CONCLUSÃO

A amostra de piche obtida da destilação a vácuo de resíduo aromático de

petróleo é caracterizada como um material resistente a ataques físicos e químicos

e de difícil digestão utilizando procedimentos convencionais. Esta dificuldade se

origina da estrutura polimérica de alto peso molecular de condensados aromáticos

com substituintes alifáticos de cadeia longa, que dá ao piche uma grande

estabilidade. Por isto são exigidas altas quantidades de energia e condições

extremamente agressivas para a clivagem das ligações e craqueamento dos

compostos presentes visando à liberação de heteroatomos em um meio aquoso.

Desta forma com o intuito de compreender melhor os processos de digestão de

piche e com isso disponibilizar de forma mais rápida e confiável informações que

levem a um melhor aproveitamento deste produto, implementamos procedimentos

inovadores em sistemas de digestão baseados em energia de microondas.

No caso da combustão assistida por radiação microondas, foi implementado

um programa de 10 min de duração, que resultou em um digerido límpido, com teor

de carbono não determinado e com recuperações de metais que variaram entre 19

% para o Co e 73 % para o Zn quando comparados com os resultados obtidos por

ativação neutrônica. Esta técnica de preparação é rápida, simples, segura e

necessita de pouco manuseio da amostra. As diferenças encontradas entre as

medidas realizadas no ICP OES e a ativação neutrônica sugerem um estudo futuro

mais aprofundado dos parâmetros responsáveis pela digestão e análise da

amostra. De qualquer forma a técnica se mostrou aplicável ao piche justificando um

aperfeiçoamento em todo o processo.

O planejamento fatorial de dois níveis utilizado nos experimentos do sistema

pressurizado e do focalizado, é uma ferramenta estatística eficiente e foi

empregado na obtenção de dados preliminares sobre os efeitos das variáveis na

recuperação de alguns metais e sobre o teor de carbono residual. No entanto,

devido à simplicidade do modelo, pode ocorrer a falta de ajuste entre os resultados

obtidos e a descrição das interações, feitas através de funções de primeira ordem

(lineares) devido à ocorrência de interações não lineares entre as variáveis

experimentais e as respostas. Esta falta de ajuste foi observada a partir dos

82

Page 83: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

gráficos de Pareto obtidos com os digeridos do sistema pressurizado para

recuperação de Fe e Cu, e para o sistema focalizado no teor de carbono residual e

nas recuperações de Fe e Cu. Os gráficos mostram que as curvaturas foram

significativamente influentes e que assim o modelo escolhido, que estuda

experimentalmente cada fator em dois níveis, não descreveria adequadamente a

relação entre as variáveis envolvidas e as respostas em nossos experimentos. Isto

indica que um planejamento de segunda ordem, que estuda mais de 2 níveis para

cada fator, forneceria um modelo que se ajustaria melhor na descrição das

relações entre as variáveis envolvidas e as respostas na descrição do domínio

experimental. Esta falta de ajuste não invalida as tendências mostradas pelos

gráficos de Pareto mais pode omitir alguns pontos de maximo e mínimo fora do

plano.

Nos procedimentos desenvolvidos em sistema pressurizado, observamos a

partir dos gráficos de Pareto que o intervalo de tempo sob a temperatura de 220°C,

a composição das misturas digestoras de HCl e H2O2 e a sua variação de volume

não foram significativas nas medidas do teor do carbono residual e dos metais

estudados. Foram encontrados, nos digeridos, altos teores de carbono residual

variando de 38 a 51 % e resíduos nas paredes dos frascos digestores indicando

que as condições estudadas ainda estão distantes de reduzir o teor de carbono e

gerar um digerido homogêneo. A massa da amostra tende a influir

significativamente no incremento do carbono residual e sugere que algumas das

condições, dentro dos limites estipulados, foram insuficientes e precisariam ser

ampliados para digerir a massa utilizada.

A literatura indica que a condição mais provável a ser ampliada é a

temperatura com valores maiores que 220°C o que exige a utilização de frascos

mais resistentes a estas condições. Os digeridos obtidos, nas condições

estipuladas no programa 2 são uma fonte potencial de erros em ICP OES e em

outra técnicas analíticas, pois tem em suspensão um material particulado com alto

teor de carbono que pode gerar problemas no transporte e nebulização dos

digeridos . Por outro lado o particulado e o alto teor de carbono pareceram não

interferir acentuadamente na extração de metais já que o processo de digestão

83

Page 84: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

conseguiu disponibilizar em solução acida quantidades acima de 90% de Fe e Cu,

e estes resultados, quando correlacionados estatisticamente, flutuaram de forma

razoavelmente independente das variações observadas nas medidas de carbono

residual.

A utilização do sistema pressurizado de microondas se mostrou uma

ferramenta importante na preparação de amostras de piche sugerindo um estudo

quimiométrico com a implementação de programas com diferentes estratégias,

utilizando, coadjuvantes e/ou temperaturas mais altas a fim de obter digestões

mais completas e reduzir a quantidade de resíduos e a partir destes digeridos,

determinar os metais e a relação destes com o teor de carbono residual.

No sistema focalizado a estratégia de adição de amostras embaladas em

cápsulas de gelatina, a mistura digestora aplicada na preparação de piche forneceu

digeridos límpidos, com teores de carbono que variaram entre 26,3 e 0,8 % e com

recuperação de Fe variando entre 16 e 100%, Cu entre 29 e 68% mas com perdas

de Mn, Zn e V os quais não puderam ser quantificados . O processo de digestão se

mostrou eficiente na carbonização e oxidação da amostra atingindo altas

temperaturas, reduzindo o volume final e evaporando quase a secura a mistura

digestora, mas também gerando um material particulado muito leve que é expelido

do reator pelo arraste dos gases gerados e que pode estar relacionado à perda de

metais.

Testes de variância indicaram que o aumento do volume de HNO3 com relação ao

volume de H2SO4, tenderia a influenciar na redução de carbono residual, mas esta

tendência seria antagônica a recuperação de Fe que diminuiria com o aumento de

HNO3.

São necessárias melhorias na utilização desta técnica com um estudo mais

detalhado sobre as perdas sugerindo uma otimização das condições de refluxo,

volume e ordem de adição dos reagentes e um melhor controle das temperaturas

envolvidas e a utilização de um trapeamento para retenção e avaliação do

particulado expulso do reator.

84

Page 85: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

As condições necessárias para a disponibilização de metais da complexa

matriz do piche foram estudadas e apresentadas neste trabalho em três diferentes

tipos de equipamentos.

Procedimentos analíticos implementados em todos os sistemas de

microondas estudados se mostraram capazes de digerir parcial e totalmente a

amostra fornecendo uma solução acida com diferentes teores residuais de

carbono, possíveis de analise por ICP OES.

Este trabalho sugere que estudos mais amplos podem ser conduzidos sobre

as variáveis que influenciam uma digestão mais completa e a geração de um

digerido homogêneo no sistema pressurizado, assim como as baixas recuperações

dos digeridos obtidos com o sistema focalizado e a combustão assistida por

microondas.

As principais contribuições desta dissertação estão relacionadas ao

desenvolvimento de procedimentos rápidos, eficientes e confiáveis de preparação

de amostras, que contribuíram para digestão total e parcial de piche, uma matriz

muito resistente ao ataque de ácidos e com grande potencial de utilização em

aplicações consideradas “nobres” que exigem um conhecimento dos metais

presentes para o seu devido aproveitamento.

Por este estudo preliminar, observa-se uma tendência a um comportamento

independente entre as variações dos teores medidos de carbono residual e as

concentrações de metais determinados no piche, sugerindo que existe uma

limitação na aplicação da medida de carbono residual como indicador da qualidade

de um digerido, pois não estaria diretamente relacionada à recuperação de metais

quando as medidas são realizadas em ICP OES.

85

Page 86: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABU-SAMRA, A.; MORRIS, J. S.; KOIRTYOHANN, Wet ashing of some biological

samples in a microwave oven. Anal Chem., v. 47, n. 8, p. 1475, 1975.

ARAÚJO, G. C. L.; NOGUEIRA, A. R. A.; NÓBREGA, J. A., Single vessel

procedure for acid-vapour partial digestion in a focused microwave: Fe and Co

determination in biological samples by ETAAS. Analyst, v. 125, p. 1861, 2000.

ARAÚJO, G. C. et al. Effect of acid concentration on closed –vessel microwave-

assisted digestion of plant materials .Spectrochimica Acta Part B. v.57, p. 3121,

2002

BOON, M.E.; KOK, L.P. Microwave Cookbook of Pathology ,Coulomb Press

Leyden, 1988.

BRENNER, I. B.; ZANDER, A.; SHKOLNIK, J., Determination of V, Ni and Fe in

crude oils and bitumen using sequential ICP-AES and scandium as an internal

standard. ICP-AES Instruments at work, v. 17, p. 1, 1994.

BURGUERA, M.; BURGUERA, J. L., Microwave sample pretreatment in analytical

systems: A review. Quím. Anal, v. 15, n. 2, p. 112-122, 1996.

COSTA, L. M. et al., Focused microwave-assisted acid digestion of oils: an

evaluation of the residual carbon content. Spectrochim. Acta part B, v. 56, p. 1981-

1985, 2001.

CRESSWELL, S. L.; HASWELL, S. J., Microwave ovens-out of kitchen Journal of.

Chemical . Education, v. 78, p. 900, 2001.

86

Page 87: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

EKANEM, E. J.; LORI, J. A.; THOMAS, S. A., The determination of wear metals in

used lubricating oils by flame atomic absorption spectrometry using sulphanic acid

as ashing agent. Talanta, v. 44, p. 2103, 1997.

El AKRAMI, H. A. et al., Preparation and characterization of Raman-Dincer crude oil

derived pitches for production of stabilized fibers. Fuel v.79, p. 497, 2000.

ERICKSON, B., Standardizing the world with microwaves. Anal. Chem. News &

Features, July 1, 467A, 1998.

FLORES, E.M.M. et al. Microwave-assisted sample combustion: A technique for

sample preparation in trace element determination; Anal.Chem. v.76, p. 3525-3529,

2004

GOUVEIA, S. T. et al., Determination of residual carbon by inductively coupled

plasma optical emission spectrometry with axial and radial view configurations.

Anal. Chim. Acta, v. 445, p. 269, 2001.

GROTTI, M.; LEARDI, R.; FRACHE, R., Combined effects of inorganic acids

inductively coupled plasma optical emission spectrometry. Spectrochim. Acta, v.

57B, p. 1915, 2002.

HAYES, B.;Microwave synthesis ,Chemistry at the speed of light , CEM Publishing ,

2002 ,

JANSEN, E. B. M.; KNIPSCHEER, J. H.; NAGTEGAAL, M., Rapid and accurate

element determination in lubricating oils using inductively coupled plasma optical

emission spectrometry. J. Anal. At. Spectrom., v. 7, p. 127, 1992.

JOHNSON, D., Determination of metals in oils by ICP-AES. ICP-AES instruments at

work, Varian, v. 13, p.1, 1993.

87

Page 88: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

KINGSTON, H. M.; HASWELL, S. J., Microwave Enhanced Chemistry –

Fundamentals, Sample Preparation and Applications. American Chemical Society,

Washington, 1997.

KINGSTON, H. M.; JASSIE, L. B., Introduction to Microwave Sample Preparation –

Theory and Practice. American Chemical Society, Washington, 1988

KNAPP, G. et al., Microwave Enhanced Chemistry, American Chemical Society,

Washington DC , 1997.

KNAPP, G.; MAICHIN, B.; BAUMGARTNER, U., Interferences in ICP-OES by

organic residue after microwave-assisted sample digestion. At. Spectroscopy., v.

19, p. 220, 1998.

KRUSHEVSKA, A. et al., Determination of the residual carbon content by

inductively coupled plasma atomic emission spectrometry after decomposition of

biological samples. J. Anal. At. Spectrom., v. 7, p. 845, 1992.

KRUSHEVSKA, A.; BARNES, R. M.; AMARASIRIWARADENA, C., Decomposition

of biological samples for inductively coupled plasma atomic emission spectrometry

using an open focused microwave digestion system. Analyst, v. 118, p. 1175, 1993.

KUMAR, S. J.; GANGADHARAN, S., Determination of trace elements in naphtha

by inductive coupled plasma mass spectrometry using water in oil emulsion

J. Analytical. Atomic. Spectrometry ., v. 14, p. 967, 1999.

LOPES, S.; HOFFMAN, R. Estatística experimental . Ed. Atlas S.A. São Paulo

1999

88

Page 89: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

MARZIN, C.A. Petroleum pitch, a real alternative to coal tar pitch as binder material

for anode production, The Minerals, Metals & Material Society, Annual Meeting

1997

McCormick, R; JHA, M. Upgrading of Pitch Produced by Mild Gasification of

Subbituminous Coal, Energy & Fuels v.8, p.388-394, 1994

MERMET, J.M. Microwave Enhanced Chemistry, American Chemical Society,

Washington DC , 1997.

MESKO, M.F. et al. Digestion of biological materials using microwave-assisted

sample combustion technique. Microchemical Journal v. 82, p183-188, 2006 .

MINGOS, D. M. P.; BAGHURST, D. R., Applications of microwave dielectric heating

effects to synthetic problems in chemistry , Chemical. Society Reviews, v. 20, p. 1,

1991.

MORA, J. et al., Determination of metals in lubricating oils by flame atomic

absorption spectrometry using a single-bore high-pressure pneumatic nebulizers.

Analyst, v. 125, p. 2344, 2000.

NADKARNI, R. A., A review of modern instrumental methods of elemental analysis

of petroleum related material: ; Modern instrumental methods of elemental analysis

of petroleum products and lubricants; ASTM STP 1109, R. A. Nadkarni, Ed.;

American Society for Testing and Materials, Philadelphia, p. 5-18, 1991.

NÓBREGA, J. A.; COSTA, L. M.; SANTOS, D. M., Preparo de amostras usando

forno de microondas com radiação focalizada. Analytica, v.1, p. 32-37, 2002.

89

Page 90: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

PÉREZ, MIGUEL A., Digestion acida de 10 g fuel oil por microonda focalizada

CORPOVEN - Refineria El Palito, 1995.

PERREUX, L..; LOUPY, A. A tentative rationalization of microwave effects in

organic synthesis according to the reactions medium and mechanistic

considerations. Tetrahedron v.57, p.9199-9223 , 2001

PICHLER, U. et al., Microwave-enhanced flow system for high-temperature

digestion of resistant organic materials. Anal. Chem., v. 71, p. 4050, 1999.

POUZAR, M.; CERNOHORSKÝ, T.; KREJCOVÁ, A., Determination of metals in

lubricating oils by X-ray fluorescence spectrometry. Talanta, v. 54, p. 829, 2001.

PROLABO, Manual do microondas focalizado Microdigest 3.6; Campo de

aplicação: petróleo e derivados, 1998.

RICHTER, R. C.; LINK, D.; KINGSTON, H. M., Microwave-enhanced chemistry.

Anal. Chem., v. 73, p. 31A – 71A, 2001.

RUBIO, A. M.; CARREÑO, A. S.; CIRUGEDA, M. D. L. G., Flame atomic absorption

spectrometry determination of iron, nickel, cobalt and molybdenum in petroleum

industry catalysts after microwave oven digestion. Anal. Chim. Acta, v. 235, p. 405,

1990.

SANTELLI, R. E. et al., Modern Strategies for Environmental Sample Preparation

and Analysis. Environmental Geochemistry in Tropical and Subtropical

Environments, Eds. Lacerda, L. D.; Santelli, R. E.; Duursma, E.; Abrão, J. J.;

Springer-Verlag, Berlim, 2004.

90

Page 91: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

SANTELLI, R. E. et al., Multivariate technique for optimization of digestion

procedure by focused microwave system for determination of Mn , Zn and Fe in

food samples using FAAS Talanta vol. 68, no4, pp. 1083-1088 , 2006

SANTOS, D.M. et al., A new procedure for bovine milk digestion in a focused

microwave oven: gradual addition to pre-heated acid. Talanta v. 65, p.505-510,

2005

SANZ-SEGUNDO, C. et al., Determination of wear metals in marine lubricating oils

by microwave digestion and atomic absorption spectrometry. Microchim. Acta, v.

132, p. 89, 1999.

SOYLAK, M. et al. Factorial design in the optimization of preconcentration

procedure for lead determination by FAAS. Talanta v. 65, p.895-899, 2005.

SUN.Y.C. CHI. P.H.; SHIUE. M.Y.; Comparison of different digestion methods for

total decomposition of siliceous and organic environmental samples. Analytical

Sciences ,v.17,p.1395 - 1399; 2001

TODOLI, J. L.; MERMET, J. M., Acid interferences in atomic spectrometry: analyte

signal effects and subsequent reduction. Spectrochimica. Acta, v. 54B, p. 895,

1999.

VESCHETTI, E. et al. Optimization of H2O2 action in sewage-sludge microwave

digestion using delta pressure vs. Temperature and pressure vs. time graphs.

Microchemical Journal, v. 67, p. 171-179, 2000.

WANG. J. et al. Single step microwave digestion with HNO3 for determination of

trace elements in coal by ICP spectrometry .Talanta vol. 68, no5, p. 1584-1590,

2006.

91

Page 92: Fernando Antonio Lins de Moura - UFF

WANG. J. et al. Microwave digestion with HNO3/H2O2 mixture at high temperatures

for determination of trace elements in coal by ICP-OES and ICP-MS. Analytica

Chimica Acta ,v.514, p. 115-124, 2004

WASILEWSKA, M. et al., Efficiency of oxidation in wet digestion procedures and

influence from the residual organic carbon content on selected techniques for

determination of trace elements. J. Anal. Atom. Spectrom., v. 17, p. 1121, 2002.

WONDIMU, T.; GOESSLER, W., Comparison of closed-pressurized and open-

refluxed vessel digestion systems for trace elements in the residual fuel oil

reference material(SRM 1634c). Bull. Chem. Soc. Ethiopia, v.14, p. 99-113, 2000.

WONDIMU, T.; GOESSLER, W.; IRGOLIC, K. J., Microwave digestion of “residual

fuel oil” (NIST SRM 1634b) for the determination of trace elements by inductively

coupled plasma-mass spectrometry. Fres. J. Anal. Chem., v. 367, p. 35, 2000.

WONG, M.; GU, W.; NG, T., Sample preparation using microwave assisted

digestion or extraction techniques. Analytical. Science. v. 13, p. 97, 1997.

ZHAO, S; et al., Systematic characterization of petroleum residua based on SFEF

.Fuel ,v. 84, p.633, 2005

ZLOTORZYNSKI, A., The application of microwave radiation to analytical and

environmental chemistry. Critical Reviews in Anal. Chem., v. 25, n. 1, p. 43, 1995.

92