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Fernando Namora

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Catálogo com poemas e artes plásticas de Fernando Namora.

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Fernando

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ARTES PLÁSTICAS

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POEMAS

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RELEVOS

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Intervalo Quando nasci, entre rendas e afagos egoístas, os rouxinóis, pela noite namoravam a Prima vera... Os sinos ficaram tolhidos e tristes como se os meus gritos lhes pesassem na alma Minha Mãi, nessa noite, sonhou com o aceno molhado dum lenço branco num dia de partida... Ó Terra! Por que não estoiraste nesse momento?

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Ascenção Ao Carlos Volga Lua aberta – trepa! Trepa! trepa por esses relevos, ergue os teus braços já mortos, bate à porta dos campónios! (– Não peças a mão às gentes do lado de lá do rio!) Lua alta... Corre sempre que a fugida há-de de cansar! – Ó águia, empresta-lhe as asas! (Não as deixes mortas no ar). Vai seguindo, parte o cume dos relevos que te ferem os pés tenros; faz calçada dos caminhos que nunca carros pisaram. Dorme só, dum sono solto quando o sol de alumiar!

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MAR DE SARGAÇOS

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Viagem Quando sabe, quem sabe, ah! quem sabe se fui eu que fugi ou se me abandonaram à beira de qualquer estrada! Que terras meus olhos desbravaram, que mundos vi, para assim ser uma saudade de tudo, uma dor de tudo, de tudo morrer e viver em mim! Em que porto os meus músculos suaram à sombra dos guindastes, que terra dura e quente a minha enxada rasgou, de que barco fui piloto, de que pátria fui emigrante, para sentir todas as dores que estão fora de mim? Quem me deu esta alma de cigano, Que caminhadas feriram meus pés de sangue? Homens da terra e do mar, homens para quem a justiça é aquele traço verde no horizonte que não chega! Homens párias de todo mundo! Em que pátria fui vosso companheiro? Ah! Quem sabe por que esta minha voz enrouqueceu, esta minha voz é ainda o eco de todas as vozes! Quem sabe que encanto me fez nómada por esse mundo, nu, faminto e descalço como os mais, ou se todas as almas esta minha alma penada violou?

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MARKETING

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Esgotamento Nervoso Escuta Valéry será toda a poesia um primeiro verso será todo o amor um seio copiografado? Quer dizer portanto que andamos nisto como quem entra no comboio de Cascais e não sai de lá mesmo que desabem terras em Caxias e haja inverno na costa ou o Verão seja um vai-se acabar o mundo nos

[apeadeiros como quem morre e tira uma avença na sociedade estoril para que o caixão viaje em exposição perpétua com as flores mudadas no fim de semana se assim é desculpa se tenho de carregar com o berço se assim é desço em Carcavelos e ponho-me debaixo da ponte à espera que a maré leve os esgotos e me devolva ao mercado numa praia longe onde os meus olhos nada saibam porque nada tenham [aprendido onde nasça verdadeiramente de cada vez em vez de me julgar renascido favo inaugurado nesse mesmo dia nessa mesma hora nessa amanhã começado virginalmente começado escuta Valéry começado e não apenas recomeçado com lastro pela borda fora.

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NOME PARA UMA CASA

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Um segredo Meu pai tinha sandálias de vento só agora o sei. Tinha sandálias de vento e isto nem sequer é uma maneira de dizer andava por longe os olhos fugidos a expressão em nenhures com as miraculosas instantaneidades que nos fazem estar [em todos os sítios. Andava por longe meu pai sonhando errando vadiando mas toda a sua ausência era o malogro de o ser só agora o sei. Andava por longe ou sentíamo-lo longe vem a dar no mesmo e no entanto víamo-lo sempre ali plantado de imobilidade absorta no cepo de carvalho raiado de negro a que o caruncho comera o miolo como as lagartixas esvaziam as maçãs estranhamente quieto murcho resignado no seu estranho vadiar os olhos aguados numa tristeza que hoje me dói como um apelo perdido uma coragem abortada. Ausência era tão de mágoa urdida tão de fracasso tingida ausência era altiva e desolada altiva e triste sobretudo triste tristeza sim tristeza solene e irremediada só agora o sei. Às vezes parecia-me uma águia que atravessa os ares sulco azul que nada distingue do azul onde foi sulcado e por isso nem é águia nem ao menos o que do seu voo resta para que o sonho se faça real. Meu pai era um homem com as nostalgias do que nunca acontecera e isso minava-o víscera a víscera como as tais lagartas esfarelam as maçãs e então sei-o agora calçava as ágeis sandálias miraculosamente leves soltas imaginosas indo de acaso em acaso de astro em astro eram de vento as suas sandálias fabulosas levando-o aonde mais ninguém poderia chegar. Os outros não sabiam nem eu o sabia

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só o víamos sentado no cepo velho raiado de negro como uma estrela fossilizada por isso tudo era para ele mais irremediável e triste sei-o agora tarde de mais tarde de mais é uma dor de remorso que me consome víscera a víscera como as tais lagartas esfarelam as maçãs. Mas de qualquer maneira existe um segredo de que ambos partilhamos ciosamente avaramente indecifradamente como astutos conspiradores que fazem do seu segredo um mágico tesouro inviolado. Um segredo simples: o que sentiste pai sinto-o eu agora porá ambos sinto-o por ti sinto-o por mim. Ainda que por ele devorados.

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