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 FICHA FORMATIVA ± 8.ºA Lê, atentamente, o texto que se segue:  GRUPO I A criança estava perplexa. Tinha os olhos maiores e mais brilhantes do que nos outros dias, e um risquinho novo, vertical, entre as sobrancelhas breves. «Não percebo», disse. Em frente da televisão, os pais. Olhar para o pequeno ecrã era a maneira de olharem um para o outro. Mas nessa noite, nem isso. Ela fazia tricô, ele tinha o jornal ab erto. Mas tricô e jornal eram álibis. Nessa noite recusavam mesmo o ecrã onde os seus olhares se confundiam. A menina, porém, ainda não tinha idade para fingimentos tão adultos e subtis, e, sentada no chão, ol hava de frente, com toda a sua alma. E então o olhar grande, a rugazinha e aquilo de não p erceber. «Não percebo», repetiu. «O que é que não percebes?», disse a mãe por dizer, no fim da carreira, aproveitando a deixa  para rasgar o silêncio ruidoso em que alguém espancava alguém com requintes de malvadez. «Isto, por exemplo.» «Isto o quê?» «Sei lá. A vida», disse a criança com seriedade. O pai dobrou o jornal, quis saber qual era o problema que preocupava tanto a filha de 8 anos, tão subitamente. Como de costume preparava-se para lhe explicar todos os problemas, os de aritmética e os outros. «Tudo o que nos dizem para não fazermos é mentira. » «Não percebo.» «Ora, tanta coisa. Tudo. Tenho pensado muito em não matar, para não bater. Até não  beber álcool, E dep ois a televisão... Nos filmes, nos an úncios... afinal?" A mãe largou o tricô e engoliu em seco. O pai respirou fundo como quem se prepara para uma corrida difícil. «Ora vejamos», disse ele olhando para o tecto em busca d e inspiração. «A vida...» Mas não era tão fácil como isso falar do desrespeito, do desamor, do absurdo que ele aceitara como normal e que a filha, aos 8 anos, recusava. «A vida...», repetiu. As agulhas do tricô tinham recomeçado a esvoaçar como pássaros de asas cortadas. MARIA JUDITE DE CARVALHO, in O Jornal (02.10.1981) 1. Identifique o facto noticioso referido na crónica de Maria Judite d e Carvalho. 2. Resuma, por palavras suas, a apreciação crítica que faz a autora. 3. Observe as expressões idiomática s «engoliu em seco» e «respirou fundo » 3.1 Explique o sentido que encerram. 3.2 Justifique estas reacções da mãe e do pai. 4. Explique o significado da expressão: «aproveitando a deixa para rasgar o silêncio ruidoso» 4.1 Identifique o recurso estilístico utilizado.  GRUPO II 1. Completa cada uma das frases seguintes com a palavra ou a expressão adequada. a) O texto que li tem ___________ __ (haver / a haver / a ver) com a solidão.  b) Os contos ____________ (que / de que / cujo s) eu gosto são os que narram aventuras. c) Uma ou duas manhãs por semana _________ _______ (era passada / e ram passadas) a nadar.  

FICHA FORMATIVA 8.º

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8/8/2019 FICHA FORMATIVA 8.º

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FICHA FORMATIVA ± 8.ºA

Lê, atentamente, o texto que se segue: 

GRUPO I

A criança estava perplexa. Tinha os olhos maiores e mais brilhantes do que nos outros dias, e

um risquinho novo, vertical, entre as sobrancelhas breves. «Não percebo», disse.

Em frente da televisão, os pais. Olhar para o pequeno ecrã era a maneira de olharem um para o outro.

Mas nessa noite, nem isso. Ela fazia tricô, ele tinha o jornal aberto. Mas tricô e jornal eram álibis. Nessa

noite recusavam mesmo o ecrã onde os seus olhares se confundiam. A menina, porém, ainda não tinha

idade para fingimentos tão adultos e subtis, e, sentada no chão, olhava de frente, com toda a sua alma. E

então o olhar grande, a rugazinha e aquilo de não perceber. «Não percebo», repetiu.

«O que é que não percebes?», disse a mãe por dizer, no fim da carreira, aproveitando a deixa

  para rasgar o silêncio ruidoso em que alguém espancava alguém com requintes de malvadez.

«Isto, por exemplo.»

«Isto o quê?»

«Sei lá. A vida», disse a criança com seriedade.

O pai dobrou o jornal, quis saber qual era o problema que preocupava tanto a filha de 8 anos,tão subitamente.

Como de costume preparava-se para lhe explicar todos os problemas, os de aritmética e os

outros. «Tudo o que nos dizem para não fazermos é mentira.»

«Não percebo.»

«Ora, tanta coisa. Tudo. Tenho pensado muito em não matar, para não bater. Até não

 beber álcool, E depois a televisão... Nos filmes, nos anúncios... afinal?"

A mãe largou o tricô e engoliu em seco. O pai respirou fundo como quem se prepara para uma

corrida difícil.

«Ora vejamos», disse ele olhando para o tecto em busca de inspiração. «A vida...»

Mas não era tão fácil como isso falar do desrespeito, do desamor, do absurdo que ele aceitara

como normal e que a filha, aos 8 anos, recusava. «A vida...», repetiu. As agulhas do tricô tinham

recomeçado a esvoaçar como pássaros de asas cortadas.

MARIA JUDITE DE CARVALHO, in O Jornal (02.10.1981)

1. Identifique o facto noticioso referido na crónica de Maria Judite de Carvalho.

2. Resuma, por palavras suas, a apreciação crítica que faz a autora.

3. Observe as expressões idiomáticas «engoliu em seco» e «respirou fundo»

3.1 Explique o sentido que encerram.

3.2 Justifique estas reacções da mãe e do pai.

4. Explique o significado da expressão: «aproveitando a deixa para rasgar o silêncio ruidoso»

4.1 Identifique o recurso estilístico utilizado. GRUPO II

1.  Completa cada uma das frases seguintes com a palavra ou a expressão adequada.

a) O texto que li tem _____________ (haver / a haver / a ver) com a solidão.

 b) Os contos ____________ (que / de que / cujos) eu gosto são os que narram

aventuras.

c) Uma ou duas manhãs por semana ________________ (era passada / eram passadas) a nadar.

 

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 2.  Lê com at

¡ 

¢ £ 

o as palavras que formam os segui¡ 

tes grupos: 

3.  Em que grupo, A ou B, i¡ 

tegrar ias as palavras segui¡ 

tes, de forma a respeitares a coerênciados mesmos quanto ao processo de formação das palavras que os constituem?Escreve a letra que identif ica o grupo.

a) impenetrável Grupo _________   b) passatempo Grupo _________ 

c) inacessível Grupo _________ d) homenzarrão Grupo _________ 

4.  Identif ica o registo de língua utilizado.

a.  A senhora dá licença que me sente? b.  Aquele prof. é mesmo f i¤  e!c.  Ó freguesa, não encontra melhor aqui na feira!d.  Posso sentar-me?e.  Eu, venho por este meio, solicitar a V. Ex.ª que «

5.  Escreve as frases adequadas para, com a mesma f inalidade te dir igires a pessoas diferentes.a.  Formula um pedido de descul pas porque pisaste uma idosa no autocarro;

 b.  Formula um pedido de descul pas porque deste um encontrão a um colega no recreio: c.  Formula um pedido de descul pas porque chegaste atrasado à aula.

Grupo III

Elabora um breve comentár io à imagem tendo em conta a sua actualidade.A prof. Paula Cruz