34
Fichamento ANDERSON, Benedict: Comunidades Imaginadas. São Paulo. Cia das Letras, 2008. Introdução. (P.26) Benedict Anderson inicia sua obra buscando compreender o por que das Guerras entre Vietnã, Camboja e China entre1978 e 1979. A primeira guerra convencional em grande escala entre países socialistas e inegavelmente revolucionários, que em tese compartilhavam da mesma ideologia. (P.27) É interessante notar que desde a Segunda Guerra Mundial todas as revoluções vitoriosas se definiram em termos nacionais – Republica Popular da China, República Socialista do Vietnã, etc – e, com isso se afirmaram solidamente em um espaço territorial e social herdado do passado pré-revolucionário. (P.28) Hobsbawm afirma que os estados marxistas estão se tornando, nacionais e nacionalistas. E essa tendência não se restringe apenas ao mundo socialista. Todos os anos a ONU admite membros novos. E muitas “nações antigas” consolidadas, veem-se desafiadas por “sub-nacionalismos” em seu próprio território, que sonham em se tornarem nações.

Fichamento - Comunidades Imaginadas

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Comunidades Imaginadas

Citation preview

Fichamento

ANDERSON, Benedict:Comunidades Imaginadas. So Paulo. Cia das Letras, 2008.

Introduo.(P.26) Benedict Anderson inicia sua obra buscando compreender o por que das Guerras entre Vietn, Camboja e China entre1978 e 1979. A primeira guerra convencional em grande escala entre pases socialistas e inegavelmente revolucionrios, que em tese compartilhavam da mesma ideologia.(P.27) interessante notar que desde a Segunda Guerra Mundial todas as revolues vitoriosas se definiram em termos nacionais Republica Popular da China, Repblica Socialista do Vietn, etc e, com isso se afirmaram solidamente em um espao territorial e social herdado do passado pr-revolucionrio.(P.28) Hobsbawm afirma que os estados marxistas esto se tornando, nacionais e nacionalistas. E essa tendncia no se restringe apenas ao mundo socialista. Todos os anos a ONU admite membros novos. E muitas naes antigas consolidadas, veem-se desafiadas por sub-nacionalismos em seu prprio territrio, que sonham em se tornarem naes.(P.29) Este livro pretende oferecer, a ttulo de ensaio, algumas ideias para uma interpretao da anomalia do nacionalismo.(P.30) O ponto de partida de Anderson que tanto a nacionalidade (ou condio nacional), quanto o nacionalismo so produtos culturais especficos.(P.31) Conceitos e Definies (P.32) Ele considera dentro de um esprito antropolgico a seguinte definio de nao: uma comunidade poltica imaginada e imaginada como sendo intrinsecamente limitada e ao mesmo tempo soberana. Ela imaginada por que mesmo os membros das mais minsculas das naes jamais conhecero, encontraram ou nem sequer ouviro falar de todos os seus companheiros (compatriotas) embora todos tenham em mente a imagem viva da comunho entre eles. A nica coisa que pode dizer que uma nao existe quando muitas pessoas se consideram uma nao.(P.33) Na verdade, qualquer comunidade maior que uma aldeia primordial do contato face a face imaginada. At mesmo ela.Imagina-se a nao como limitada por que at mesmo a maior delas que agregue um bilho de habitantes, possui fronteiras finitas ainda que elsticas. Nenhuma delas imagina ter a mesma extenso da humanidade. Nem os nacionalistas mais messinicos sonham com o dia em que todos os membros da espcie humana se uniro sua nao.(P.34) Imagina-se a nao soberana por que o conceito nasceu na poca em que o Iluminismo e a Revoluo estavam destruindo a legitimidade do reino dinstico hierrquico da ordem divina. Amadurecendo em uma poca em que mesmo os adeptos mais fervorosos de qualquer religio se depararam com o pluralismo de religies no mundo. Notando ento que a nica maneira de serem livres serem soberanas sobre um pedao determinado de terra.E por ltimo ela imaginada como uma comunidade por que independente da desigualdade e da explorao que possam existir dentro dela, a nao sempre concebida como uma profunda camaradagem horizontal. No fundo foi essa fraternidade que tornou possvel, nestes ltimos dois sculos, que tantos milhes de pessoas matassem e morressem por essas criaes imaginrias e limitadas.Essas mortes nos levam a pensar no problema central posto pelo nacionalismo: o que faz com que parcas criaes imaginativas de pouco mais de dois sculos gerem sacrifcios to descomunais? A resposta est nas razes culturais do nacionalismo.(P.35) Cap. 1: Razes Culturais.No existem smbolos mais impressionantes da cultura moderna do nacionalismo do que os cenotfios e o tmulo do soldado desconhecido. Contudo, estes tmulos vazios esto carregados de imagens nacionais espectrais.(P.36) Se o nacionalismo se importa tanto com a morte e a imortalidade, isso sugere sua grande afinidade com os imaginrios religiosos. Com isso vale a pena comear a avaliar as razes do nacionalismo pela morte, o ltimo elemento de uma srie de fatalidades. A morte, assim como a herana gentica pessoal, nosso sexo, a poca em que viemos, nossas capacidades fsicas, lngua-materna, etc so fatores contingentes e inelutveis.(P.37) O grande mrito das religies (fora seu papel na legitimao do sistema de dominao e explorao) a sua preocupao com o homem no universo. Ela tenta explicar o por que. A religio se interessa pelos vnculos entre os mortos e os ainda no nascidos.(P.38) O sculo XVIII na Europa marca o amanhecer do nacionalismo e o anoitecer do pensamento religioso. A religio declinou, mas o sofrimento que ela ajudava a apaziguar no desapareceu. Admite-se que os estados nacionais so novos e histricos, ao passo que as naes ao qual elas do expresso poltica sempre assomam de um passado imemorvel, seguindo a um futuro ilimitado. a magia do nacionalismo que transforma o acaso em destino.(P.39) Anderson no est sugerindo que o nacionalismo tenha substitudo a religio. O que ele est fazendo alinhando o nacionalismo no a ideologias polticas conscientemente adotadas, mas a sistemas culturais. Religio e nacionalismo foram estruturados de forma a serem incontestveis.(P.40) A Comunidade Religiosa.Todas as comunidades clssicas se consideravam cosmicamente centrais, atravs de uma lngua sagrada ligada a uma ordem supra-terrena de poder. Essas comunidades clssicas ligadas por lnguas sagradas tinham o carter diferente das comunidades imaginadas das naes modernas: a confiana no sacramento nico de usas lnguas e da a aceitao de novos membros.O rabe para os muulmanos, o latim para os cristos e o mandarim para os budistas. Apesar destas serem lnguas mortas para a maioria de seus seguidores, elas funcionavam como smbolos para todos. Unindo fiis de regies diferentes sob os signos do rabe, do mandarim e do latim. Uma vez aprendido os smbolos, independente da regio e da lngua nativa, a pessoa era aceita naquela religio.(P.47) O Reino Dinstico.(P.48) Hoje em dia, talvez seja difcil sentir empatia com um mundo onde o reino dinstico aparea como nico sistema poltico vivel. Pois a monarquia contraria todas as concepes modernas da vida poltica. A realeza opera tudo de um centro elevado, tem sua legitimidade por via divina e no da populao, que composta por sditos e no por cidados.Hoje o Estado opera sobre cada centmetro quadrado de um territrio legalmente demarcado. Mas antigamente os Estados eram definidos por centros, com fronteiras porosas e indistintas. Da o paradoxo da facilidade com que esses reinos pr-modernos conseguiram manter seu domnio sobre populaes heterogneas por longo tempo.Deve-se lembrar que esses antigos Estados se expandiam no s pela guerra como tambm por uma poltica sexual de casamentos entre dinastias.(P.51) Percepes Temporais.Contudo, um erro pensar que comunidades imaginadas das naes teriam simplesmente surgido a partir das comunidades religiosas e dos reinos dinsticos substituindo-as.(P.52) Por sob o declnio das comunidades, lnguas e linhagens sagradas estava ocorrendo uma transformao nos modos de compreender o mundo, que possibilitou pensar a nao.(P.56) A ideia de um organismo sociolgico atravessando cronologicamente um tempo vazio e homogneo a analogia de nao, que tambm concebida como uma comunidade slida percorrendo constantemente a histria, seja em sentido ascendente ou descendente. (P.57) Um americano nunca vai conhecer, e nem sequer saber o nome dos 240 milhes de compatriotas. Ele no tm ideia do que esto fazendo a cada momento. Mas tem plena confiana na atividade constante, annima e simultnea deles.(P.69) Recapitulando, Anderson sustenta que a prpria possibilidade de imaginar a nao s surgiu historicamente quando, e onde, trs concepes culturais fundamentais perderam o domnio sobre a mentalidade do homem.A primeira a ideia de que uma determinada lngua escrita oferece acesso privilegiado verdade ontolgica.A segunda a crena de que a sociedade se organiza naturalmente em torno e abaixo de centros elevados (monarcas que governavam por graa divina).O terceiro uma concepo da temporalidade em que a cosmologia e a histria se confundem, e as origens do mundo dos homens so essencialmente as mesmas.O declnio lento e irregular dessas convices mutualmente entrelaadas, primeiro na Europa Ocidental e depois em outros lugares, sob o impacto da transformao econmica, das descobertas sociais e cientficas e do desenvolvimento de meios de comunicao cada vez mais velozes, levou a uma brusca clivagem entre cosmologia e histria.(P.70) Desse modo, no admira que se iniciasse a busca de uma nova maneira de unir significativamente a fraternidade, o poder e o tempo. O elemento que mais catalisou e fez frutificar essa busca foi o capitalismo editorial, que permitiu que as pessoas, em nmeros sempre muito maiores, viessem a pensar sobre si mesmas e a se relacionar com as demais de maneiras radicalmente novas.

(P.71) Cap.2: As Origens da Conscincia Nacional.A imprensa foi determinante para a criao de ideias inteiramente novas sobre a simultaneidade. E a nao se tornou to popular dentro deste tipo de comunidade principalmente graas ao capitalismo. (P.73) Pois, sendo a grfica uma empresa capitalista ela buscava cada vez mais mercado e imprimia mais e mais livros.(P.75) Trs foram os fatores vernaculizantes[1] do capitalismo: Primeiro, a mudana do prprio latim. Segundo, o impacto da Reforma e dos atos de Martinho Lutero. A aliana entre o protestantismo e o capitalismo editorial, explorando edies populares baratas, logo criou novos e vastos pblicos leitores, entre eles comerciantes e mulheres que sabiam pouco ou quase nada de latim. E o terceiro, foi a difuso lenta, geograficamente irregular de determinados vernculos como instrumento de centralizao administrativa. (P.76) A fragmentao da Europa ps fim do Imprio Romano significava que nenhum soberano poderia monopolizar o latim (como os imperadores chineses faziam com o mandarim) e converte-lo em sua lngua oficial, j que o latim no era centralizado.(P.82) Podemos resumir que a convergncia do capitalismo e da tecnologia da imprensa sobre a fatal diversidade da linguagem humana criou a possibilidade de uma nova forma de comunidade imaginada, a qual, em sua morfologia bsica, montou o cenrio para a nao moderna.(P.84) Cap. 3: Pioneiros Crioulos[2].Em primeiro lugar, quer se pense no Brasil, nos EUA ou nos pases hispnicos, a lngua no era um elemento que os diferenciasse das respectivas metrpoles imperiais. Todos inclusive os EUA, eram estados crioulos, formados e liderados por gente que tinha a mesma lngua e a mesma ascendncia do adversrio a ser combatido. (P.85) Na verdade, cabe dizer que a lngua nunca se colocou como questo nesses primeiras lutas de libertao nacional.Em segundo lugar, boa parte do hemisfrio ocidental no segue a tese de Nairn de que o nacionalismo moderno esteve ligado ao batismo poltico das classes inferiores pela classe mdia descontente que tentava canalizar as energias populares em favor de novos estados. Pelo menos na Amrica Central e do Sul, a classe mdia ao estilo europeu era insignificante no sculo XVIII.(P.86) Longe de tentar conduzir as classes inferiores vida poltica a elite tinha medo dela. Ainda era fresca a lembrana das revoltas de Tupac Amar no Per e de Toussaint LOuverture no Haiti.(P.87) O movimento Latino-Americano pela independncia eram de pouca espessura social e no entanto eram movimentos de independncia social.(P.88) Eis que surge o enigma: por que foram precisamente as comunidades crioulas que desenvolveram concepes to precoces sobre sua condio nacional, bem antes que a maior parte da Europa? Por que essas colnias, geralmente com grandes populaes oprimidas e que no falavam o espanhol, geraram crioulos que redefiniram conscientemente essas populaes como integrantes de uma mesma nacionalidade e a Espanha como inimigo estrangeiro? Por que o imprio Hispano-americano que havia existido serenamente por quase trs sculos se fragmentou em dezoito Estados diferentes?Os dois fatores geralmente apresentados so, o aumento do controle madrilenho e a difuso das ideias do iluminismo.(P.89) A vitria das 13 colnias (1770) e o inicio da Revoluo Francesa (1789) tambm exerceram vigorosa influncia.(P.90) Essas explicaes, apesar de importantes, no explicam por que Chile, Venezuela e Mxico se mostraram emocionalmente plausveis e politicamente viveis, e nem por que San Martn disse que certos aborgenes deviam ser identificados como peruanos. Tambm no explica os sacrifcios feitos, pois muitas pessoas perderam propriedades e at mesmo a vida nessa empreitada.(P.91) A moldagem inicial das unidades administrativas americanas foi, em certa medida arbitrria e fortuita. E a falta de comunicao entre elas possibilitou a fragmentao.Alm disso, a poltica comercial de Madri fez com que as unidades administrativas se transformassem em zonas econmicas distintas. Sendo ainda o comrcio entre elas proibido.(P.92) Para entender como as unidades administrativas puderam, ao longo do tempo, serem vistas como terras ptrias, no s nas amricas, mas tambm em outras partes do mundo, preciso observar de que modo as organizaes administrativas criam significado.(P.93) Durante o perodo das religies, a amplitude geogrfica de uma religio era determinada pela peregrinao que estes fiis faziam para Roma, Meca ou Benares. Em Meca encontravam-se pessoas das mais distantes regies da frica, sia e Europa o que dava a ideia do alcance do islamismo e a sua amplitude geogrfica.(P.94) Com a ascenso das monarquias absolutistas e a tentativa deste reis de unificar o reino que era fragmentado pela nobreza feudal, outro tipo de viagem surgiu para demarcar o territrio. O mensageiro real, como funcionrio publico que viajava todo o territrio demarcando-o conforme o alcance de suas viagens.(P.95) A intercambialidade dos documentos, que reforava a intercambialidade dos homens, foi alimentada pelo desenvolvimento de uma lngua oficial padronizada. Qualquer lngua escrita em princpio, serviria para essa funo, como mostra a pomposa sucesso, entre os sculos XI e XIV, do anglo-saxo, latim, normando e mdio-ingls em Londres. Com a vernaculatizao da lngua houve um aumento da centralizao, impedindo que funcionrios de Madri intercambiassem com os de Paris por exemplo. Sendo a expanso ultramarina europeia uma extenso fracassada deste modelo.A tendncia absolutista de promover os funcionrio mais pelo mrito do que pelo bero no foi efetiva nas colnias. Dos 170 vice-reis somente 4 eram crioulos.(P.97) Alm de barrarem suas peregrinaes. Se um funcionrio espanhol podia andar todo o continente americano, o funcionrio crioulo ficava restrito ao seu territrio. Seu movimentos laterais eram restritos, assim como sua ascenso vertical.(P.100) Indiretamente, o Iluminismo tambm ajudou a cristalizar uma distino irreversvel entre metropolitanos e crioulos. Os textos de Rousseau e Herder de que o clima e a ecologia tinham um impacto decisivo sobre a formao da cultura e do carter, afastou ainda mais metropolitanos e crioulos que eram tidos como selvagens e inadequados para cargos mais elevados.(P.101) At aqui, dedicamos nossa ateno aos mundos dos funcionrios da Amrica, que apesar de importantes eram em dimenses muito reduzidas.A peregrinao dos vice-reis no teria nenhuma consequncia enquanto a extenso territorial no pudesse ser imaginado como nao e isso s se deu com o surgimento do capitalismo tipogrfico. (P.102) A imprensa chegou cedo a Nova Espanha, mas durante dois sculos ficou sobre rgido controle da Coroa e da Igreja. Na Amrica do Norte a imprensa nem existia, mas no sculo XVIII houve uma revoluo tipogrfica nos EUA.Benjamim Franklin est intimamente ligado ao nacionalismo crioulo na Amrica do Norte. Contudo, deve-se entender que a imprensa s se desenvolveu nos EUA quando os tipgrafos descobriram uma nova forma de renda o jornal! Na Amrica Espanhola ocorreram processos semelhantes, contudo de modo mais lento.(P.103) No incio estes jornais eram meramente informativos (datas de chegada e partida de navios, preos vigentes, casamentos, decretos, etc). Foi s uma questo de tempo at aparecerem elementos polticos.(P.104) Um trao marcante desses jornais era o seu carter local. E no existia a ideia de simultaneidade entre as diversas regies do imprio espanhol. Um mexicano poderia receber informaes sobre os fatos ocorridos em Buenos Aires, e estes fatos lhe parecerem semelhantes mas no partes integrantes deles.Nesse sentido, o malogro da experincia hispano-americana e, criar um nacionalismo para toda regio reflete o nvel de desenvolvimento capitalista e tecnolgico do sculo XVIII e o atraso local do capitalismo e da tecnologia espanhola na administrao do imprio.(P.105) Os crioulos norte-americanos estavam numa situao mais favorvel para concretizar a ideia de Amrica. As 13 colnias eram relativamente pequenas e seus centros estavam em dinmica comunicao, alm de haver traos bastante fortes entre seus respectivos habitantes, tanto pela imprensa quanto pelo comrcio. Sem contar que o avano para o oeste foi feito por pessoas do leste.(P.106) Benedict Anderson quis explicar neste capitulo que no foi o liberalismo e o iluminismo os criadores da ideia de nao, mas sim os funcionrio-peregrinos e a imprensa.(P.107) Cap. 4: Velhas lnguas, novos modelos.O final da era dos movimentos vitoriosos de libertao nacional nas Amricas coincidiu com o inicio da era do nacionalismo que entre 1820 e 1920, mudaram a face do Velho Mundo, dois traos notveis os diferenciam de seus predecessores.1 Lnguas impressas nacionais: Elas foram de fundamental importncia ideolgica e poltica (enquanto o espanhol e o ingls nunca foram questes relevantes na Amrica revolucionria).2 Todos eles funcionaram a partir de modelos deixados por seus antecessores.Foi assim que na Europa a nao se tornou objeto de aspirao consciente a ser buscado, e no uma perspectiva de mundo que ganhou foco aos poucos. Assim veremos que nao foi uma inveno sem patente copiada e reproduzida vrias e vrias vezes.Neste captulo o objeto de anlise ser a lngua impressa e sua cpia pirata.(P.108) A ideia de lngua como propriedade privada de uma nao teve enorme influncia na Europa oitocentista e na teorizao do nacionalismo.(P.109) Se durante a Idade Mdia o homem era incapaz de conceber a distncia temporal entre sua poca (que ele acreditava ser o fim das eras, pois o Apocalipse era algo iminente) e a Idade Antiga do Novo e do Velho Testamento. Neste momento surgiu a histria comparada que levou concepo indita de modernidade que era contraposta antiguidade.Durante o sculo XVI, a descoberta europeias de civilizaes grandiosas (China, Japo, ndia) e do Mxico Asteca e do Per Incaico, mostrou um irremedivel pluralismo humano. De modo geral essas civilizaes tinham se desenvolvido autonomamente da Europa, da cristandade, da Antiguidade e at mesmo do homem: pois suas genealogias no remetiam ao den. Apenas o tempo vazio e homogneo lhes ofereceu acomodao.(P.110) Com efeito, os descobrimentos e as conquistas tornou possvel pensar a Europa como apenas uma entre muitas civilizaes, alm de provocar uma revoluo nas ideias europeias sobre as lnguas.(P.111) Com o estudo comparado das lnguas, acabou-se com a ideia de que o hebreu era a nica lngua antiga ou que possua origem divina. A partir da, as antigas lnguas sagradas (latim, grego e hebreu) foram obrigadas a se misturar em p de igualdade com a vastido de lnguas plebeias que agora eram rivais no mercado editorial. Se todas as lnguas eram mundanas todas mereciam estudo e admirao. Mas de quem? Logicamente, de seus novos donos, os falantes e leitores nativos de cada lngua, pois agora nenhuma pertencia a Deus.(P.112) Segundo Seton-Watson o sculo XIX na Europa, foi o sculo dos linguistas de todas as reas. Estes intelectuais foram fundamentais para a formao do nacionalismo europeu com a criao de seus dicionrios monolngues que eram o tesouro de cada lngua. J os dicionrios bilngues colocavam em p de igualdade todas as lnguas. (P.117) claro que todos esses lexicgrafos, fillogos, gramticos, folcloristas, jornalistas e compositores no desenvolviam suas atividades revolucionrias no vazio. (P.118) Afinal produziam para o mercado editorial e assim para o publico consumidor. Contudo o numero de letrados naquela poca era pequeno.Na metade do sculo XIX, a Europa aumentou seus gastos pblicos. Em alguns pases em mais de 90%. A expanso burocrtica criou mais vagas no Estado e agregou classes sociais muito variadas. Criando uma grande classe mdia burocrtica em quase todos os pases europeus.(P.119) J o surgimento de uma burguesia mercantil e industrial foi algo extremamente irregular.Benedict Anderson considera a burguesia como a primeira classe a construir uma solidariedade a partir de uma base essencialmente imaginada. Diferente da nobreza que necessitava se casar para estreitar laos com outros nobres, a burguesia era ligada apenas por acordos. Os burgueses no precisavam se conhecer, nem casar seus filhos. Mas enxergavam a existncia de milhares e milhares e outros parecidos com eles, atravs de uma lngua impressa, j que uma burguesia iletrada e quase impossvel.(P.123) Com o aumento da alfabetizao, por toda parte ficou mais fcil granjear apoio popular, as massas descobrindo uma nova glria na consagrao das lnguas que elas sempre, humildemente haviam falado.At certo ponto a formulao de Nairn correta: de que a nova intelectualidade de classe mdia do nacionalismo tinha de convidar as massas para a histria; e o convite deveria ser feito numa lngua que eles entendessem.Mas por que o convite foi to atraente e por que alianas to diferentes puderam envi-los. Para responder veremos a questo da cpia pirata.(P.127) Cap. 5: Imperialismo e Nacionalismo Oficial.No decorrer do sculo XIX, a revoluo filolgica-lexicogrfica e o surgimento de movimentos nacionalistas na Europa, frutos no s do capitalismo mas da elefantase dos estados dinsticos criaram vrias dificuldades culturais e polticas para muitas dinastias dominantes que no tinham nacionalidade.(P.128) Na Europa continental, parentes da mesma famlia dinsticas governavam estados diferentes e at rivais. Que nacionalidade poderamos atribuir aos Bourbon na Frana e na Espanha, aos Hohenzollern na Prssia e na Romnia, aos Wittelhach na Bavria e na Grcia?Vimos tambm que estas dinastias escolheram como lnguas vernaculares oficiais as mais convenientes para elas.Contudo na Europa existia a convico de que as lnguas eram propriedades pessoais de grupos muito especficos e que esses grupos imaginados como comunidades, tinham o direito de ocupar uma posio autnoma dentro de uma confraria de iguais.(P.131) A chave para situar o nacionalismo oficial fuso deliberada entre a nao e o imprio dinstico lembrar que ele se desenvolveu depois, e em reao aos movimentos nacionais populares que proliferavam na Europa desde 1820. Se esses nacionalismos tinham se modelado pelas histrias americana e francesa, agora se tornavam modulares. Bastava apenas um certo truque para que o imprio se tornasse um travesti nacional atraente.Anderson analisa trs casos diferentes de nacionalismo oficial, o Russo, o Ingls e o Japons.(P.160) Concluindo, sustentamos que, a partir do sculo XIX dentro da Europa desenvolveram-se nacionalismos oficiais. Nacionalismos historicamente impossveis antes do surgimento de nacionalismos lingusticos populares, pois no fundo, foram reaes dos grupos de poder sobretudo dinsticos e aristocrticos ameaados de excluso ou marginalizao nas comunidades imaginadas populares.(P.161) Tais nacionalismos oficiais eram polticas conservadoras, para no dizer reacionrias, adaptadas do modelo dos nacionalismos populares, em larga medida espontneos, que os precederam.Em nome do imperialismo, muitos polticas parecidas foram implantadas pelos mesmos tipos de grupos nos vastos territrios asiticos e africanos no decorrer do sculo XIX.Por fim, vimos que refratados em culturas e histrias no europeias, eles foram adotados e imitados por grupos dirigentes nativos nas poucas reas (Japo e Sio) que escaparam da sujeio direta.(P.163) Cap. 6: A ltima Onda.A Primeira Guerra Mundial trouxe ao fim a era das grandes dinastias. Em 1922, os Habsburgos, os Hobenzollern, os Romanov e os Otomanos tinham acabado. A partir da, a nome internacional era o Estado Nacional, de modo que mesmo as potncias imperiais restantes compareciam Liga das Naes em trajes nacionais e no mais em uniformes imperiais como nas poca do Congresso de Berlim.Aps a II Guerra a mar de Estados Nacionais atingiu seu auge. E em 1970 at o imprio portugus havia se tornado coisa do passado.Os novos estados do segundo ps-guerra tm sua prprias caractersticas, que seriam incompreensveis a no ser como sucessores dos modelos que abordamos anteriormente.(P.164) Os novos nacionalismos coloniais so semelhantes aos nacionalismos coloniais de pocas anteriores pelo isomorfismo, entre a extenso territorial de cada nacionalismo e a extenso territorial da unidade administrativa imperial anterior.A semelhana no mera coincidncia pois, est relacionada com a geografia das peregrinaes nacionais anteriores.(P.165) Lembremos que no sculo XVII, a unidade administrativa imperial adquiriu um significado nacional em parte por que ela circunscrevia a ascenso dos funcionrio pblicos. O mesmo vale para o sculo XX.Contudo, em fins do sculo XIX e sobretudo no XX, essas viagens j no eram feitas apenas por alguns viajantes, e sim por enormes multides graas a trs fatores:(P.166) 1: Desenvolvimento e aprimoramento dos transportes. 2: A russificao imperial tinha o seu lado prtico, alm do lado ideolgico. O enorme tamanho dos imprios europeus impossibilitava a contratao de funcionrios pblicos apenas oriundos da metrpole. Sendo necessrio contratar entre os colonos. 3: Houve uma difuso do ensino moderno, no s do Estado Colonial, mas tambm particulares, religiosos e leigos. Essa expanso se deu para completar os cargos pblicos coloniais e pelo entendimento do colono de que o conhecimento importante.(P.167) De modo geral, concorda-se que as camadas intelectuais foram fundamentais para o surgimento do nacionalismo nos territrios coloniais. Uma vez que era impedido aos nativos desempenha funes realmente rentveis.(P.170) Um trao interessante desta intelectualidade nacionalista da colnia era sua juventude. Os intelectuais era compostos, sobretudo, da primeira gerao numericamente significativa a receber educao europeia.(P.197) Revisando: a ltima onda do nacionalismo ocorreu em sua maioria nos territrios colonizados da frica e da sia e foi uma reao ao novo tipo de imperialismo mundial, possibilitado pelas realizaes do capitalismo industrial.O nacionalismo oficial (solda entre o novo princpio nacional e o velho principio dinstico) levou a russificao nas colnias extra-europias. Os imprios se tornaram muito extensos para serem governados por nacionais ento criaram escolas para educar os nativos e formar quadros de subordinados especializados para o Estado e para as empresas. Esses sistemas educacionais criaram novos tipos de peregrinao (a estudantil) e o entrosamento entre os estudantes peregrinos criou a base territorial para o surgimento de novas comunidades imaginadas, onde os nativos puderam se imaginar como nacionais.(P.199) Cap. 7: Patriotismo e Racismo.Nos capitalismos anteriores Benedict Anderson tentou delinear os processos pelos quais a nao veio a ser imaginada, modelada, adaptada e transformada. Agora a hora de explicar porqu das pessoas se disporem a morrer por tais invenes.Numa poca em que to comum que intelectuais cosmopolitas e progressistas insistam no carter quase patolgico do nacionalismo, nas suas razes encravadas no medo e no dio do outro e nas afinidades com o racismo, cabe lembrar que as naes inspiram amor, e em um amor de profundo autosacrifcios.(P.200) Os frutos culturais do nacionalismo (poesia, monumentos, musicas) mostram esse amor com clareza. Sendo muito difcil encontrar elementos de dio e de desprezo.(P.202) A ideia de sacrifcio supremo vem apenas como uma ideia de pureza, atravs da fatalidade. Morrer pela ptria, assume uma grandeza moral que no se pode comparar por morrer pelo Partido Trabalhista, ou pela Associao Mdica Americana, pois esto so entidades nas quais pode-se ingressar e sair a vontade. A grandeza de morrer pela Revoluo tambm deriva do grau de sentimento de que ela algo fundamentalmente puro.(P.203) Aqui voltamos lngua.1 Nota-se o carter primordial da lngua, mesmo as sabidamente modernas. Ningum capaz de dizer a data em que nasce uma lngua. Todas se avultam imperceptivelmente de um passado sem horizonte. Assim, as lnguas se mostram mais enraizadas do que praticamente qualquer outra coisa e ao mesmo tempo, o que nos liga afetivamente ao mortos.2 Existe um tipo especfico de comunidade contempornea que apenas a lngua capaz de sugerir. Tomemos o exemplo dos hinos nacionais. Por mais banal que seja a letra e medocre a melodia, h nesse canto uma experincia de simultaneidade. Precisamente neste momento, pessoas totalmente desconhecidas entre si pronunciam os mesmo versos seguindo a mesma msica.(P.208) Nairn se enganou ao dizer que o racismo e o antissemitismo derivam do nacionalismo.O fato que o nacionalismo pensa em termos de destinos histricos, ao passo que o racismo sonha com contaminao eternas, transmitidas desde as origens dos tempos por uma sequencia interminvel de cpulas abominveis: fora da histria. Os negros devido nodoa invisvel do sangue, sero sempre negros; os judeus devidos ao smen de Abrao, sero sempre judeus.(P.209) Os sonhos do racismo tm, na verdade, a sua origem nas ideologias de classe, e no nas de nao: sobretudo nas pretenses de divindade entre os dirigentes e nas pretenses de linhagem e de sangue azul ou branco entre os aristocratas.(P.210) Onde o racismo se desenvolveu fora da Europa no sculo XIX, sempre esteve associado com a dominao europeia por duas razes. 1 Por causa do nacionalismo oficial e do processo de russificao colonial. 2 O imprio colonial, com seu aparato burocrtico e suas polticas russificantes permitiu a muitos burgueses se fazerem aristocratas fora da corte central.(P.216) Cap. 8: O Anjo da Histria.Comearemos este breve capitulo com as guerras entre as republicas socialistas do Vietn, Camboja e China.(P.222) Como foi dito anteriormente e se encaixa perfeitamente neste caso os revolucionrios vietnamitas, cambojanos e chineses, assim que conquistam o Estado, fazem uso de todas a estrutura j existente em seu favor assim como o nacionalismo que j existia. A guerra entre eles foi uma guerra de chancelaria.(P.226) Cap. 9: Censo, Mapa e Museu.Na edio original deste livro, Anderson escreveu que nas polticas de construo da nao dos novos Estados vemos um grande entusiasmo nacionalista popular atravs dos meios de comunicao, da educao, da administrao, e assim por diante.O que o autor supunha em sua viso limitada daquela poca era que o nacionalismo oficial dos mundos colonizados da frica e da sia vinham diretamente modelados sobre o nacionalismo oficial dos estados dinsticos europeus do sculo XIX.Contudo, ele percebeu que a genealogia prxima deveria ser buscada na criao da imagem do Estado Colonial.(P.227) Por isso, para entender melhor iremos estudas 3 instituies de poder: o censo, o mapa e o museu. Que Anderson ressalta o fato de como elas moldaram a forma como as potncias coloniais viam e tentavam manter o controle sobre suas colnias.(P.222) O Censo.A ideia fictcia do censo que todos esto presentes nele, e que todos ocupam um e apenas um lugar extremamente claro e sem fraes. Essa uma maneira de criar imagens, adotada pelo Estado colonial tinha origens muito anteriores s do censos dos anos 1870.(P.236) O Mapa. Aos poucos localidades como Cairo e Meca deixaram de ser vistas somente como simples localidades numa geografia muulmana e passaram a ser pontos em folhas de papel que incluam outros pontos como Caracas, Paris e Moscou. A relao plana entre estes pontos no tinham relao com a importncia real destes lugares e sim determinadas matematicamente.(P.246) O Museu.O museu e a imaginao museolgica so profundamente polticos. Tentando criar uma imagem gloriosa junto populao do novo Estado.(P.253) Assim, mutuamente interligados, censo, mapa e museu iluminam o estilo do pensamento do Estado colonial tardio em relao a seus domnios. A urdidura desse pensamento era uma grade classificatria totalizante que podia ser aplicada com uma flexibilidade ilimitada a qualquer coisa sobre o controle real ou apenas visual do Estado: povos, regies, religies, lnguas, objetos produzidos, monumentos, etc. O efeito dessa grade era sempre poder dizer que tal coisa era isso e no aquilo, que fazia parte disso e no daquilo. Essa coisa qualquer era delimitada, determinada e, portanto, enumervel.(P.256) Cap. 10: Memria e Esquecimento.Espao: Novo e Velho.New York, Nueva Leon, Nouvelle Orlans, Nova Lisboa, Nieuw Amsterdam. J no sculo XVI, os europeus tinham comeado a adotar o estranho hbito de denominar lugares remotos, primeiro nas Amricas e na frica, depois na sia, Austrlia e Oceania, como novas verses de velhos topnimos em suas terras de origem. Alm disso, eles mantiveram a tradio mesmo em lugares que passaram para outros senhores imperiais, de modo que Nouvelle Orlans se tornou New Orleans e Nieuw Zeeland para Nem Zeland.(P.257) O que interessante nos nomes americanos dos sculos XVI a XVIII novo e velho eram entendidos sincronicamente, coexistindo dentro do tempo vazio e homogneo. Vizcaya ao lado de Nueva Vizcaya, New London ao lado de London: o que mais indica rivalidade entre irmos do que uma sucesso hereditria.Essa indita novidade sincrnica s podia surgir historicamente quando houvesse grupos considerveis de pessoas em condies de se conceberem vivendo vidas paralelas s de outros grupos considerveis de gente. Entre 1500 e 1800, a construo de navios e os avanos tecnolgicos tornou possvel a criao destas imagens. Pois a pessoa poderia morar no planalto peruano, nos pampas argentinos ou na Nova Inglaterra e mesmo assim sentir-se ligado a certas regies ou comunidades, a milhares de quilmetros de distncia.(P.258) Para que esse senso de paralelismo ou simultaneidade pudesse surgir e tambm ter vastas consequncias polticas era necessrio que a distncia entre os grupos paralelos fosse grande, e que o mais novo deles tivesse um tamanho considervel e fosse estabelecido de forma duradoura, alm de estar solidamente subordinado ao mais velho. Essas condies foram encontradas nas Amricas, como nunca ocorrera antes por trs motivos.1, a imensido do oceano impediram a gradual absoro dos povos dentro de unidades polticos-culturais mais amplas como a que submergiu a Esccia dentro do Reino Unido. 2 a migrao europeia para a Amrica foi gigantesca. (P.259) 3 a metrpole imperial dispunha de formidveis aparatos burocrticos e ideolgicos que permitiram subjugar os crioulos por vrios sculos.(P.261) Essas fatores ajudam a explicar por que o nacionalismo surgiu primeiro no Novo Mundo. Alm de elucidar duas caractersticas peculiares das guerras revolucionrias que assolaram o Novo Mundo entre 1776 e 1825. Pois nenhum revolucionrio Crioulo sonhou em manter o imprio intacto apenas transferindo a metrpole de uma sede europeia para uma sede americana. Ou seja, no desejava-se que Nem London sucedesse Old London, mas sim salvaguardar o paralelismo entre elas.(P.262) Alm disso, apesar das guerras serem extremamente sangrentas, os crioulos no precisavam temer o extermnio fsico nem a escravido, ao contrrio do que ocorreu com tantos outros povos que estavam no caminho do imperialismo europeu. Afinal, eles eram brancos, cristos e falavam espanhol ou ingls, alm de serem os intermedirios entre as colnias e o imprio. Eram guerras entre parentes, o que garantiu que aps um certo perodo de ressentimento, fosse possvel reatar laos culturais, as vezes polticos e econmicos.Tempo: Novo e Velho.Para os crioulos do Novo Mundo, os estranhos topnimos discutidos acima representam sua capacidade de se imaginarem como comunidades paralelas e comparveis s da Europa; contudo alguns acontecimentos sbitos em fins do sculo XVIII, conferiram a essa novidade um significado inteiramente novo.(P.263) O primeiro foi a Declarao de Independncia das Treze Colnias em 1776, e a sua defesa militar republicana. Essa independncia e o fato dela ter sido republicana, foi visto como algo inteiramente indito. Logo depois, em 1789, houve a exploso no Velho Mundo com a Revoluo Francesa.Ambas, no criaram um sentimento de continuidade, mas sim uma sensao de ruptura radical com o passado. Nada exemplifica melhor isso do que a abolio do calendrio cristo e a adoo do calendrio secular.(P.266) Na Europa, os novos nacionalismos comearam a se imaginar despertando de um sono. Imagem totalmente diferente do que ocorreu na Amrica. Pois enquanto os nacionalistas das Amricas olhavam para o futuro, os nacionalistas europeus buscavam suas glrias no passado. Contudo, com o tempo essa duplicidade desapareceu e os americanos comearam a buscar sua origem aborgene.(P.271) O Fratricdio Tranquilizador.Enquanto Michelet, o historiador da Revoluo Francesa, buscava resgatar as pessoas que morreram durante Revoluo Francesa do esquecimento, evitando assim o seu desaparecimento nas correntezas da histria, Renan surgiu com a ideia da necessidade de esquecer certas coisas.(P.273) Para Renan, j ter esquecido antigas tragdias um dever cvico contemporneo de primeira importncia.O fratricdio tranquilizador a forma do Estado criar uma capa sobre assuntos desconcertantes para ele. Como massacres, guerras e crimes contra a humanidade. Contudo, o ato deve ser distante temporalmente dos contemporneos. Um exemplo a Guerra Civil Norte Americana, ensinada hoje nas escolas como uma guerra entre irmos, algo que seria representado de maneira diferente caso o pas estivesse dividido ao meio ainda hoje.(P.278) A Biografia das Naes.(P.279) Assim como com as pessoas modernas, as naes precisam gerar uma narrativa de identidade. Entretanto, na histria secular de uma pessoa, h um comeo e um fim, j as naes no possuem data de nascimento claramente identificada, e sua morte (quando acontece) nunca natural. Como no h um criador original praticamente impossvel criar uma genealogia de geraes, sendo a nica maneira moldar a biografia das naes os recuos no tempo do presente para o passado.