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Citações importantes sobre o gênero Crônica do livro de Massaud Moisés: p. 101 Do grego chronikós, relativo a tempo (chrónos), pelo latim chronica, o vocábulo “crônica” designava, no início da era cristã, uma lista ou relação de acontecimentos ordenados segundo a marcha do tempo, isto é, em sequência cronológica. Situada entre os anais e a história, limitava-se a registrar os eventos sem aprofundar-lhes as causas ou tentar interpretá-los. p. 101 ... a crônica entrou a ser empregada no século XIX: liberto de sua (p. 102) conotação historicista, o vocábulo passou a revestir sentido estritamente literário. Beneficiando- se da ampla difusão da imprensa, nessa época a crônica adere ao jornal, como a sugerir, no registro do dia-a-dia, a remota significação ante-histórica do anuário. p. 102 É em 1799 que o seu aparecimento ocorre, mercê dos feuilletons dados à estampa por Julien-Louis Geoffroy no Journal de Débats, que se publicavam em Paris. Fazendo a crítica diária da atividade dramática, esse professor de retórica na verdade cultivava uma forma ainda embrionária de crônica, evidente no fato de reunir os artigos em seis volumes, sob o título de Cours de Littérature Dramatique (1819-1820). Em 1836 a crônica aparece no Brasil! p. 102 ... na segunda metada da centúria o vocábulo “crônica” começou a ser largamente utilizado (também na acepção de “narrativa histórica”): vários escritores do tempo, desde Alencar até Machado de Assis, cultivavam a nova modalidade de intervenção literária. p. 102 Entretanto, a essa fase heroica sucedeu a de esplendor na publicação de crônicas: principiando por João do Rio (entre 1900

Fichamento Massaud Moisés

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Citaes importantes sobre o gnero Crnica do livro de Massaud Moiss:

p. 101 Do grego chroniks, relativo a tempo (chrnos), pelo latim chronica, o vocbulo crnica designava, no incio da era crist, uma lista ou relao de acontecimentos ordenados segundo a marcha do tempo, isto , em sequncia cronolgica. Situada entre os anais e a histria, limitava-se a registrar os eventos sem aprofundar-lhes as causas ou tentar interpret-los.

p. 101 ... a crnica entrou a ser empregada no sculo XIX: liberto de sua (p. 102) conotao historicista, o vocbulo passou a revestir sentido estritamente literrio. Beneficiando-se da ampla difuso da imprensa, nessa poca a crnica adere ao jornal, como a sugerir, no registro do dia-a-dia, a remota significao ante-histrica do anurio.p. 102 em 1799 que o seu aparecimento ocorre, merc dos feuilletons dados estampa por Julien-Louis Geoffroy no Journal de Dbats, que se publicavam em Paris. Fazendo a crtica diria da atividade dramtica, esse professor de retrica na verdade cultivava uma forma ainda embrionria de crnica, evidente no fato de reunir os artigos em seis volumes, sob o ttulo de Cours de Littrature Dramatique (1819-1820).

Em 1836 a crnica aparece no Brasil!

p. 102 ... na segunda metada da centria o vocbulo crnica comeou a ser largamente utilizado (tambm na acepo de narrativa histrica): vrios escritores do tempo, desde Alencar at Machado de Assis, cultivavam a nova modalidade de interveno literria.

p. 102 Entretanto, a essa fase heroica sucedeu a de esplendor na publicao de crnicas: principiando por Joo do Rio (entre 1900 e 1920), alcana larga difuso e aceitao com Rubem Braga, na dcada de 30,...

O gnero crnica

Nas pginas 103 e 104 Massaud Moiss fala do jornal e dos textos presentes nele, j aqueles informativos e os que no so. O pensamento do estudioso para mostrar que assim como o jornal passageiro, a crnica tambm porque existe no jornal e para o jornal.E a vem aquela grande citao onde Moiss trata da ambiguidade da crnica. uma citao importante, tem que estar no meu texto (p. 104 e 105). Essa ambiguidade se refere por ser publicada no jornal como matria distinta do texto jornalstico e ao mesmo tempo ser feita para o jornal, para ser lida nele.p. 104 Ambgua, duma ambiguidade irredutvel, de onde extrai seus defeitos e qualidades, a crnica move-se entre ser no e para o jornal, uma vez que se destina, inicial e precipuamente, a ser lida na folha diria ou na revista. Difere, porm, da matria substancialmente jornalstica naquilo em que, apesar de fazer do cotidiano o seu hmus permanente, no visa mera informao: o seu objetivo, confesso ou no, reside em transcender o dia-a-dia pela universalizao de suas virtualidades latentes, objetivo esse via de regra minimizado pelo jornalista de ofcio. O cronista pretende-se no o reprter, mas o poeta ou o ficcionista do cotidiano, desentranhar do acontecimento sua poro imanente de fantasia. Alis, como procede todo autor de fico, com a diferena de que o cronista reage de imediato ao acontecimento, sem deixar que o tempo lhe filtre as impurezas ou lhe confira as dimenses de mito, horizonte ambicionado (p. 105) por todo ficcionista da lei. De onde as caractersticas da crnica, como tambm suas grandezas e misrias, resultarem dessa inalienvel ambiguidade radical.No pargrafo seguinte Moiss exemplifica essa ambiguidade:

Aqui enxergo a herana do relato histrico com traos de fico.p. 105 A crnica oscila, pois, entre a reportagem e a literatura, entre o relato impessoal, frio e descolorido de um acontecimento trivial, e a recriao do cotidiano por meio da fantasia. No primeiro caso, a crnica envelhece rapidamente e permanece aqum do territrio literrio: na verdade, a senescncia precoce ou tardia de uma crnica decorre de seus dbitos para com o jornalismo stricto sensu.

p. 105 Em toda crnica, por conseguinte, os indcios de reportagem situam-se na vizinhana, quando no em mescla com os literrios; e a predominncia de uns e de outros que atrair o texto para o extremo do jornalismo ou da literatura.Cada crnica um caso a se analisar segundo Moiss.

p. 105 Por outros termos, se a crnica (p. 106) se destina ao jornal, ou revista, transferi-la para o livro, como se tem feito nos ltimos anos, significa preserv-la de esquecimento e atestado de valor? Sim e no. Em tese, o fato de a crnica estar voltada para o cotidiano efmero e enderear-se ao pblico de jornal e revista, j uma limitao; fruto do improviso, da resposta imediata ao acontecimento que fere a retina do escritor ou lhe suscita reminiscncias caladas no fundo da memria, a crnica no pressupe o formato do livro.J insere a discusso do suporte, uma questo inerente crnica, que se sustenta graas a sua publicao no jornal, no sentido moderno, a partir da presena na imprensa que h razo de existir. Sem o jornal no existe crnica. Ento, que momento o jornalismo vive diante da crnica?A segue um pargrafo extenso abordando o livro e o jornal, a perenidade.

p. 106 Todavia, a crnica merece a ateno que lhe vem sendo dispensada ultimamente no s porque apresenta qualidades literrias apreciveis mas porque, e sobretudo, busca subtrair-se fugacidade jornalstica assumindo a perenidade do livro. Continuasse encerrada nos peridicos, no haveria como examin-la: o tratamento crtico de um texto literrio implica, via de regra, o livro. Somente por exceo que um poeta bissexto ou cuja obra esteja dispersa pela imprensa pode ganhar direito a ser estudada e criticada. que um poema enterrado num jornal, pelo fato mesmo de no conhecer o destino do livro, parece fadado ao mesmo esquecimento que cerca os artigos, editoriais, etc. E se porventura algum estudioso se abalana a vasculhar jornais empoeirados cata de colaborao de um escritor, em funo de sua obra impressa em livro.p. 107 Uma crnica num livro como um passarinho afogadop. 107 ... a crnica vive precisamente da existncia fugaz do jornal ou do peridico: lida como notcia ou artigo, logo posta de lado, outras se lhe seguem no fio dos dias; nenhuma nutre veleidades de perdurar, o que seria contradizer o seu destino de fnix a renascer continuamente das prprias cinzas.Assim, a crnica no tem os mesmo predicados que o conto e o romance, ela bebe do jornal, da sua periodicidade e assim seu efeito temporrio, embora existam crnicas anacrnicas.Logo segue um trecho longo, Moiss fala que algumas crnicas escapam do perecimento, porm a leitura em srie reclama a degustao autnoma, uma a uma, como se o imprevisto fizesse parte de sua natureza, e o imprevisto colhido na efemeridade do jornal, no na permanncia do livro. O imprevisto est ligado ao tempo, ao efmero, algo inerente ao jornal, embora seja expresso literria, a crnica se alimenta da caracterstica do jornal, com a inteno de dar conta do que est em voga e no perdurar.

p. 107 Entretanto, na flutuao do evento e do estado de esprito do cronista, a crnica por vezes logra escapar de perecimento to breve. E adquire, no livro, uma existncia menos falaz: ali se enfeixam as peas que o seu autor julgou resistirem eroso do tempo, via de regra porque lhe pareceu ostentarem certos mritos, evidentemente no como reportagem, mas como texto literrio.p. 107 Mais do que o poema, a crnica perde quando lida em srie; reclama a degustao autnoma, uma a uma, como se o imprevisto fizesse parte de sua natureza, e o imprevisto colhido na efemeridade do jornal, no na permanncia do livro. Eis porque raras crnicas suportam releitura; preciso que ocorra o encontro feliz entre o motivo da crnica e algo da sensibilidade do escritor espera do chamado para vir superfcie.p. 107 ... assim a crnica apenas resulta em pea duradoura quando se estabeleceu a fortuita afinidade entre o acontecimento e o mundo ntimo do escritor. Tal crnica, claro, tanto se impe em jornal como em livro, mas neste como pea isolada.Ou seja, uma ou outra merece ou melhor alcana a perenidade e vo parar nos livros didticos e antologias.

p. 108 Por outro lado, mesmo as crnicas bem conseguidas no fogem ao destino que lhes assinala, desde o nascimento, ser criao breve e leve. Reduzindo o cotidiano em sua imensa variedade a plulas de fcil digesto, pois que se dirige ao pblico mdio, a crnica por natureza uma estrutura limitada, no apenas exteriormente, mas, e acima de tudo, interiormente. Ainda quando em livro, a crnica jamais rompe sua vinculao com o jornal: o signo da origem marca-lhe o rosto bifronte qualquer que seja o espao fsico que ocupe.Na citao anterior Moiss ressalta o cotidiano e a limitao do gnero. A vinculao com o jornal, frisando o suporte.

Tipos de crnica

*crnica-poema *crnica-conto

p. 108 Quando o carter literrio assume a primazia, a crnica deriva para o conto ou a poesia, conforme se acentue o aspecto narrativo ou o contemplativo.

Crnica e ensaio = Brulio TavaresCrnica e poesia

p. 110 A crnica literria oscila, por conseguinte, entre a poesia e o conto, encarados ambos dentro das coordenadas em que foram (p. 111) situados nos captulos respectivos. Enquanto poesia, a crnica explora a temtica do eu, resulta de o eu ser o assunto e o narrador a um s tempo, precisamente como todo ato potico.

Essa citao se refere a Rubem Braga, mas cabe no texto de Colasanti:p. 111 Desnudamento do eu, expresso numa linguagem prpria, como se observar mais adiante, no raro impelindo o cronista a transformar o texto em pgina de confisso, de dirio ntimo ou de memrias.

p. 111 Genericamente, o percurso do eu no rumo de sua interioridade segrega crnicas repassadas de lirismo: nem o tom pico, nem o trgico parecem adequados s dimenses externas e intensas da crnica. O fato de imprimir o seu texto em jornal e as demais caractersticas adiante resenhadas impedem ao cronista de levar mais a fundo a sondagem no recesso do eu; de onde a pulsao lrica corresponde mais natureza da crnica.

*Simbiose entre a crnica e a poesia (p. 112)* Liberalidade na sua criao e a ausncia de barreiras fixas ... p. 112*Crnicas= poesia do cotidiano (p. 114)

Crnica e contop.114 A crnica voltada para o horizonte do conto prima pela nfase posta no no-eu, no acontecimento que provocou a ateno do escritor. Na verdade, a ocorrncia detonadora do processo de criao no s possui fora intrnseca para se impor ao eu do (p. 115) cronista como no lhe desperta lembranas ocultas ou sensaes difusas. No significa que o escritor se alheia ao acontecimento, pois que a prpria crnica testemunha uma adeso interessada mas que o acontecimento to-somente requer o seu cronista, inclusive no sentido etimolgico do termo, ou seja, o seu historiador.+ Quando a crnica se aproxima do conto:p. 115 Quando se aproxima do conto sem nele se metamorfosear, mantendo intactas suas caractersticas de base, a crnica corre o risco de constituir-se na mera literalizao de acontecimentos verdicos: estes funcionam como o estopim que deflagra o comentrio, estabelecendo-se uma aliana entre o eu e o no-eu, que preserva a crnica de perder sua identidade. Quando, porm, o eu se encolhe para deixar que o acontecimento prevalea, de molde a cavar-se um fosso entre o cronista e os eventos, expresso no emprego da terceira pessoa, - a crnica pode resultar em simples reportagem, e nesse caso os extremos se tocam. Fugiria, assim, no s da crnica como da arte literria.p. 115 Mais difcil de sustentar, portanto, o equilbrio da crnica quando o acontecimento tende a predominar. Se, a rigor, o lirismo no mata a crnica antes pelo contrrio - , a narrativa paradoxalmente lhe compromete a fisionomia, remetendo-a para o conto ou para a reportagem, ambas fora de seu ambiente natural. O paradoxo reside no fato de a crnica ser, por ndole e definio, o relato de acontecimentos dirios e, portanto, deles depender para erguer-se como tal.Caractersticas da Crnicap. 116 Quando no se identifica ao conto ou reportagem, quando no se torna artigo doutrinrio ou simples nota, - a crnica apresenta caractersticas especficas. A primeira delas diz respeito brevidade; no geral, a crnica um texto curto, de meia coluna de jornal ou de pgina de revista.

p. 116 A subjetividade a mais relevante de todas. Na crnica, o foco narrativo situa-se na primeira pessoa do singular; mesmo quando o no-eu avulta por encerrar um acontecimento de monta, o eu est presente de forma direta ou no na transmisso do acontecimento segundo sua viso pessoal. A impessoalidade no s desconhecida como rejeitada pelos cronistas: a sua viso das coisas que lhes importa e ao leitor; a veracidade positiva dos acontecimentos cede lugar veracidade emotiva com que os cronistas divisam o mundo. No estranha, por isso, que a poesia seja uma de suas fronteiras, limite do espao em que se movimenta livremente; e o conto, a fronteira de um territrio que no lhe pertence.p.116 A subjetividade da crnica, anloga do poeta lrico, explica que o dilogo com o leitor seja o seu processo natural. Fletido ao mesmo tempo para o cotidiano e para suas ressonncias nas arcas do eu, o cronista est em dilogo virtual com um interlocutor mudo, mas sem o qual sua (ex) incurso se torna impossvel. Na verdade, trata-se de um procedimento dicotmico, uma vez que o dilogo somente o pelo leitor implcito: monlogo enquanto autorreflexo, dilogo enquanto projeo, a crnica seria, estendendo o vocbulo que Carlos Drummond de Andrade utiliza na designao do processo de relao verbal com o interlocutor, para o texto na (p. 117) sua totalidade um monodilogo. Simultaneamente monlogo e dilogo, a crnica seria uma pea teatral em um ato superligeiro, tendo como protagonista sempre o mesmo figurante, ainda quando outras personagens interviessem. O cronista, em monodilogo, se oferece em espetculo ao leitor, conduzido por uma secreta afinidade eletiva.