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FICHAMENTO Nicos Poulantzas Poder Politico e Classes Sociais No Estado Capitalista

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FICHAMENTO - Nicos-Poulantzas -Poder- politico -e-classes-sociais-no-estado-capitalista

Por modo de produção designaremos, não o que geralmente se indica como o econômico, as relações de produção em sentido estrito, mas uma combinação específica de diversas estruturas

práticas que, na sua combinação, aparecem como outras tantas instâncias ou níveis, em suma, como outras tantas estruturas regionais desse modo. Um modo de produção, como deforma esquemática o disse Engels, compreende diversos níveis ou instâncias, o econômico, o político, o ideológico e o teórico, subentendendo-se que não trata senão de um esquemaindicativo e que é possível operar-se uma divisão mais exaustiva. O tipo de unidade que caracteriza um modo de produção é o de um todo complexo com dominância, em última instância, do econômico: dominância em última instância para a qual reservaremos o termo de determinação....Ainda mais: a determinação, em última instância, da estrutura do todo pelo econômico não significa que o econômico aí detenha sempre o papel dominante. Se é verdade que a unidade, representada pela estrutura com dominante, implica que todo o modo de produção possui um nível ou instância dominante, de fato o econômico só é determinante na medida em que atribui a esta ou aquela instância o papel dominante, isto é, na medida em que regula o deslocamento de dominância devido à descentralização das instâncias. :É assim que Marx nos indica de que maneira, no modo de produção feudal, é a ideologia - na sua forma religiosa - que desempenha o papel dominante, o que é rigorosamente determinado pelo funcionamento do econômico neste modo de produção. O que, portanto, distingue um modo de produção de outro (e que por conseguinte especifica um modo de produção) é esta forma

particular de articulação que os seus níveis apresentam entre si: é o que doravante designaremos pelo termo de matriz de um modo de produção. Por outras palavras, definirrigorosamente um modo de produção consiste em descobrir a forma particular como se reflete, no interior deste, a sua determinação em última instância pelo econômico, reflexão essa que delimita o índice de dominância e de sobredeterminação desse modo de produção....A própria formação social constitui uma unidade complexa com dominância de um certo modo de produção sobre os outros gue a compõem. Tomemos, como exemplo, uma formação social historicamente determinada por um dado modo de produção: a Alemanha de Bismarck é uma formação social capitalista, quer dizer, dominada pelo modo de produção capitalista. A dominância de um modo de produção sobre os outros, em uma formação social, faz com que a matriz desse modo de produção, a saber, a reflexão particular da determinação (em última instânciapelo econômico) que a especifica, marque o conjunto desta formação. Neste sentido, uma

formação social historicamente determinada éespecificada por uma articulação particular - por um índice de dominância e de sobre-determinação - dos seus diversos níveis ou instâncias (econômico, político, ideológico e teórico), a qual é, regra geral, tendo em conta as defasagens que iremos encontrar, o modo de produção dominante. Por exemplo, em uma forma ão social dominada elo modo de produção capitalista, o papel dominante é desempenhado regra geral pelo econômico, o que não é mais que o efeito da dominância, nesta formação social, desse modo de produção, este caracterizado, na sua "pureza", pelo papel dominante que o econômico desempenha.... Que se passa nos modos de produção - "pré-capitalistas" - em que a relação de apropriação rel é caracterizada pela união entre o produtor direto e os meios de produção? "Em todas as formas em que o trabalhador imediato permanece "possuidor" dos meios de produção e dos meios de trabalho ... , a

relação de propriedade vai fatalmente manifestar-se simultaneamente como uma relação (política) entre senhor e servo; o produtor imediato não é portanto livre: mas esta servidão pode atenuar-se, desde a servidão com obrigação de corvéia até ao pagamento de um simples foro. .. Nestas condições, são necessárias razões extra-econômicas, qualquer que seja a sua natureza, para os obrigar a efetuar trabalho por conta do proprietário titular das terras... São, portanto, absolutamente necessárias relações pessoais de dependência, uma privação de liberdade pessoal. .. em suma, é necessária a servidão na plena acepção da palara ... ". 11 Marx irá até mesmo dizer que, nestes casos, "a relação política" entre senhor e servo, éuma parte essencial da relação de apropriação" 12 - relação esta pertencente à combinação eco

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...Em uma concepção anti-historicista da problemática original do marxismo, devemos situar o político na estrutura de uma formação social, por um lado, enquanto nível específico,por outro, contudo, enquanto nível crucial em que se refletem e se condensam as contradições de uma formação, a fim de compreender exatamente o caráter anti-historicista da proposição segundo a qual é a luta política de classes que constitui o motor da história....Ora, qual é, a este respeito, a especificidade da práticapolítica? Esta prática tem por objeto especii.co o "momentoatual" 6, como dizia Lenin, isto é, o ponto nodal onde se condensamas contradições dos diversos níveis de uma formação nas relaçõescomplexas regidas pela sobredeterminação, pelas suas defasagens edesenvolvimento desigual. Este momento atual é assim uma con-juntura, o ponto estratégico onde se fundem as diversas contradiçõesenquanto reflexos da articulação que especifica uma estrutura comvalor de dominante. O objeto da prática política, tal como apareceno desenvolvimento do marxismo por Lenin - é o lugar onde, emúltima análise, se fundem as relações entre as diversas contradições,relações que especificam a unidade da estrutura; o lugar a partirdo qual se pode, em uma situação concreta, decifrar a unidade daestrutura e agir sobre ela com vista à sua transformação. Queremosdizer com isto que o objeto a que se refere a prática política estádependendo dos diversos níveis sociais - a prática política temcomo objeto simultaneamente o econômico, o ideológico, o teórico e

"o" político em sentido estrito - na sua relação, a qual constituiuma conjuntura.... As estruturas políticas - oque se designa como superestrutura política - de um modo deprodução e de uma formação social consistem no poder institucio-nalizado do Estado. Com efeito, sempre que Marx, Engels, Leninou Gramsci falam de luta (prática) política distinguindo-a da lutaeconômica, consideram expressamente a sua especiiicidade relativaao seu objetivo particular, que é o Estado enquanto nível específicode uma formação social. Neste sentido encontramos de fato, nosclássicos do marxismo, uma definição geral da política....

O Estado éassim o lugar no qual se reflete o índice de dominância e de sobre-determinação que caracteriza uma formação, um dos seus estágiosou fases. Por isso o Estado aparece como o lugar que permite adecifração da unidade e da articulação das estruturas de uma forma-ção....Não condenou Marx, nas suas obras de juventude, a concepção do"exclusivamente político", a concepção que reduz a política à sua re-lação com o Estado? Não deveria a prática política ter como ob-jetivo, não o Estado, mas a transformação da "sociedade civil", asrelações,' digamos, de produção? 13 A resposta errada a este pro-blema mal enunciado chama-se economicismo, o qual atribui à luta

política as relações sociais econômicas como objetivo específico. Éno interior deste esquema que precisamente se situa a concepção re-formista....Engels diz-nos que: "(O Estado) éantes de tudo um produto da sociedade em um estágio determinadodo seu desenvolvimento: é o testemunho de que esta sociedade estáenvolvida em uma insolúvel contradição consigo mesma, encontran-?o-se cindida em oposições inconciliáveis que é impotente para con-Jurar. Mas, para que os antagonistas, as classes com interesses eco-

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nômic?s opostos, não se aniquilem, a si e à sociedade, impõe-se anecessIdade-de um poder que, aparentemente colocado acima dasociedade, irá dissimular o conflito, mantê-Io nos limites da "or-dem"; este poder, saido da sociedade, mas que se coloca acima delae se lhe torna cada vez mais estranho, é o Estado"....Lenin dirá, de uma formalapidar, que o político - compreendendo aqui o Estado e a lutapolítica de classe - é o "econômico condensado't.wNeste sentido, o Estado surge, para Lenin, tanto como lugarde decifração da unidade das estruturas, quanto como lugar ondese pode extrair o conhecimento da unidade: "O único domínio ondese poderia extrair este conhecimento é o da relação de todas asclasses e camadas da população com o Estado e o Governo, o do-mínio da relação de todas as classes entre si". 21 Isto tinha aliássido assinalado por Engels na sua expressão do Estado como "re-presentante oficial" da sociedade, representante tomado aqui no sen-tido de lugar onde se decifra a unidade de uma formação. Enfim,e sempre neste sentido, o Estado é igualmente ° lugar onde se de-cifra a situação de ruptura desta unidade: trata-se da característicade duplo poder das estruturas estatais, a qual constitui, como Leninmostrou, um dos elementos essenciais da situação revolucionária....2. POLlTICA E CLASSES SOCIAIS

"Na sua luta contra o poder coletivo das classes dominantes, o proletariado só poderá agir como classe constituindo-se ele próprio em partido político distinto. .. A coligação das forças operárias, já conseguida pela lutaeconômica, deve também servir de alavanca nas mãos desta classe na sua luta contra o poder político". (Marx)

Estes níveis de luta - os dois níveis de luta econômica e onível de luta política de classe - são nítidos no texto seguinte deMarx, em Miséria da Filosofia: "As condições econômicas tinham,de início, transformado a massa do país em trabalhadores. A domi-nação do capital criou a esta massa uma situação comum, interessescomuns. Assim, esta massa já é uma classe face ao capital, mas

ainda não para si mesma. Na luta, da qual só assinalamos algumasfases, esta massa reune-se, constitui-se em classe para si. Os inte-resses que ela defende tornam-se interesses de classe. Mas a lutade classe contra classe é uma luta política"....[...] existe uma outra deformação da teoria marxista dasclasses sociais: a interpretação "economicista" que constitui de fatoo correspondente invariável da corrente representada pelo "volun-tarismo" do jovem Lukács. A classe social estaria localizada só aonível das relações de produção concebidas de uma maneira econo-micista, isto é, reduzida à condição dos agentes no processo de tra-balho e às suas relações com os meios de produção....

De fato, podemos constatar que as análises de Marx relativasàs classes sociais reportam-se sempre não apenas à estrutura eco-nômica - relações de produção -, mas ao conjunto das estruturasde um modo de produção e de uma formação social, e às relaçõesque neles mantêm os diversos níveis. Digamos, antecipadamente,que tudo se passa como se as classes sociais fossem o efeito de umconjunto de estruturas e das suas relações, no caso concreto 1. 0) donível econômico, 2. 0) do nível político, e 3. 0

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) do nível ideológico. 8Uma classe social pode ser identificada quer ao nível econômico,quer ao nível político, quer ao nível ideológico, e pode pois ser lo-calizada em relação a uma instância particular. No entanto, a de-finição de uma classe enquanto tal e a sua conceitualização reporta--se ao conjunto dos níveis dos quais ela constitui o efeito.... A concepção científica marxista das relações sociais de produção traz em si a crítica radicae qualquerantropologia econômica que refira o econômico em geral às "necessidades" dos "sujeitos" humanos,e por conseguinte a critica radlcal da concepção das relações sociais como relaçõés intersubjetivas.... As classes sociais não são, de fato, uma "coisa empírica" cujas estruturas seriam o conceito: elas conotam relações sociais, conjuntos sociais, mas são o seu conceito ao mesmo título ue os conceitos de Ca ital, de Trabalho assalariado, de mais-valia constituem conceitos de estruturas, de relações de produção. De modo preciso, a classe social é um conceito que indica os efeitos do conjunto das estruturas, da matriz de um modo de produção ou de uma formação social sobre os agentes que constituem os seus suportes; esse conceito indica pois os efeitos da estrutura global no domínio das relações sociais. Neste sentido, se a classe é de fato, um conceito: não dêsigna, contüdo, uma realidade que possa estar situada nas estruturas: designa, sim, o efeito de um conjunto de estruturas dadas, conjunto esse que determina as relações sociais como relações de classe.

...O Estado capitalista tem por função desorganizar politicamente as classes dominadas, enquanto organiza politicamente as classes dominantes; de excluir do seu seio a presença, enquanto classes, das classes dominadas, enquanto nele introduz enquanto classes, as classes dominantes; de fixar a sua relação com as classes dominadas como representação da unidade do povo-nação, enquato fixa a sua relação com as classes dominantes como relação com classes politicamente organizadas; em suma, esse Estado existecomo Estado das classes dominantes, ao mesmo tempo que exclui do seu seio a "luta" de classes. A contradição principal desse Estado não consiste no fato de se "dizer" um Estado de todo o povo quando é um Estado de classe, mas, precisamente, no fato de se apresentar, nas suas próprias instituições, como um Estado "de classe" (das classes dominantes que contribui para organizar politicamente) de uma sociedade institucionalmente fixada como não-dividida-em-classes; no fato de se apresentar como

um Estado da classe burguesa, subentendendo que todo o "povo" faz parte dessa classe....O Estado capitalista, com direção hegemônica de classe, representa, não diretamente os interesses econômicos das classes dominantes, mas os seus interesses políticos: ele é o centro do poder político das clases dominantes na medida em que é o fator de organização da sua luta política. [...] . Neste sentido, o Estado capitalista comporta, inscrito nas suas próprias estruturas, um jogo que permite, dentro dos limites do sistema, uma certa garantia de interesses econômicos de certas classes dominadas. Isto faz parte da sua própria função, na medida em que essa garantia é conforme à dominação hegemca das classes dominantes, quer dizer, à constituição política das classes dominantes, na relação com esse Estado, como representativa de um interesse geral do povo.

O que nos leva a uma conclusão simples, mas que nunca será demais repetir. Essa garantia de interesses econôm icos de certas classes dominadas, da parte do Estado capitalista, não pode ser concebida, apressadamente, como limitação do poder político das classes dominantes. É certo que ela é imposta ao Estado pela luta, política e econômica das classes dominadas: isto apenas significa, contudo, que o Estado não é um utensíliode classe, que ele é o Estado de uma sociedade dividida em classes. A luta de classes nas formações capitalistas implica em que essa garantia, por parte doEstado, de interesses econômicos de certas classes dominadas está inscrita, como possibilidade, nos próprios limites que ele impõe à luta com direção hegemônica de classe. Essa garantia visa precisamente a desorganização política das classes dominadas, e é o meio

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por vezes indispensável para a hegemonia das classes dominantes em uma formação em que a luta propriamente política das classes dominadas é possível. Por outras palavras, é sempre possível traçar, de acordo com a conjuntura concreta, uma linha de demarcação, abaixo da qual essa garantia de interesses econômicos de classes dominadas por partedo Estado capitalista não só não põe diretamente em questão a relação política ãe dominação d. mas constitui mesmo um elemento dessa relação....Dupla característica, portanto, do Estado capitalista: por umlado, a sua autonomia relativa ao econômico implica a possibilida-de, segundo a relação de forças concreta, de uma política "social",de sacrifícios econômicos em proveito de certas classes dominadas;por outro lado, é esta própria autonomia do poder político institu-cionalizado que permite cercear por vezes o poder econômico dasclasses dominantes, sem jamais ameaçar o seu poder político. Eaqui que reside, por exemplo, todo o problema do chamado WelfareState, que de fato não é senão um termo que mascara a forma da"política social" de um Estado capitalista no estágio do capitalismomonopolista de Estado. A estratégia política da classe operária de-pende da decifração adequada na conjuntura concreta, desse limiteque fixa o equilíbrio dos compromissos, e que constitui a linha dedemarcação entre o poder econômico e o poder político....A ideologia tem precisamente por funçao, aocontrário da ciência, ocultar as contradições reais, reconstituir, em

um plano imaginário, um discurso relativamente coerente que servede horizonte ao "vivido" dos agentes, moldando as suas represen-tações nas relações reais e inseri~d?-as na u~idade ?as relações deuma formação. Reside aí sem dúvida o se~tIdo mais profund? dametáfora ambígua de "cimento" que Gramscí empr~ga para designara função social da ideologia. A ideologia, introd~zmdo-se em ~odosos andares do edifício social, possui a função particular .de coesao es-tabelecendo ao nível do vivido dos agentes relações evidentes-falsas,que permitem o funcionamento das suas atividades práticas - di-visão do trabalho, etc. - na unidade de uma formação....A própria ideologia está relativamente dividida em diversas regiões,que podemos, por exemplo, caracterizar como ideologias moral, judica e política, r

eligiosa, econômica, filosófica, estética, etc. Semntrar mais a fundo neste problema, é necessário assinalar igual-m nte que podemos decifrar, em geral, na ideologia dominante deuma formação social, a dominância de uma região da ideologia so-bre as outras regiões. Essa dominância é muito complexa, maniíes-t -se até no fato das outras regiões da ideologia, no seu funciona-ento, importarem da região dominante as suas próprias noções epreesentações, ou, até, dos inícios de ciência se constituírem, elesmesmos, a partir de aquisições deste gênero.Ora, não é de modo algum por acaso que uma região ideológi-domina as outras dentro dos limites da ideologia dominante. Aerência própria da ideologia dominante que é, deste ponto de vista,rantida pela dominação de uma região ideológgica sobre as outras

giões, decorre do fato de refletir, com a inversão e a dessimulaçãoque caracterizam o ideológico, a unidade da estrutura, isto é, o seundice de dominação e de sobredeterminação. Poderíamos dizer qued certo modo o papel da ideologia consiste aqui, não simplesmente'm ocultar o nível econômico sempre determinante, mas em ocultaro nível que assume o papel dominante, e sobretudo o próprio fato,da sua dominância. A região dominante da ideologia é aquela queprecisamente melhor preenche, por numerosas razões, essa funçãop rticular de máscara.Junto alguns breves exemplos: na formação feudal, o papel

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dominante cabe freqüentemente ao político. Ora, constatamos que agião dominante do ideológico não é a ideologia jurídico-política,mas a ideologia religiosa... Nas suas obras da maturidade,nomeadamente no 18 Brumârio, Marx assinala esse papel da ideo-logia no aparelho burocrático moderno. Este apresenta-se não dire-tamente como um aparelho de dominação de classe, mas como a"unidade", o princípio de organização e a encarnação do "interessegeral" da sociedade, o que, aliás, tem incidências capitais no fun-cionamento concreto do aparelho burocrático: ocultação permanentedo saber no seio desse aparelho por intermédio de regras hierárquicase formais de competência, o que só se torna possível pelo apareci-mento da ideologia jurídico-política burguesa. A "racionalidade for-mal" do aparelho burocrático não é, com efeito, possível senão namedida em que a dominação política de classe aí se encontra parti-cularmente ausente, sendo reforçada pela ideologia da organização.... Sabemos que uma formação social é constituída por uma superposição de vários modos de pro-dução, implicando assim a coexistência, no campo da luta de classe,de várias classes e frações de classe, portanto, eventualmente, devárias classes e frações dominantes....O bloco no poder constitui de fato nao uma totalidade expressiva com elementos e

quivalentes, mas uma unidade contraditoria complexa com dominante. É aqui que o conceito de hegemonia pode ser aplicado a uma classe ou fraçao no interior do blocono poder. Essa classe ou fração hegemonica constitui, com efeito, o elemento dominante da unidade contraditoria das classes ou fraçoes politicamente "dominantes", que fazem parte do bloco no poder, sob a égide da fração hegemonica....O processode constituição da hegemonia de uma classe ou fração difere, con-soante essa hegemonia se exerce sobre as outras classes e fraçõesdominantes - bloco no poder -, ou sobre o conjunto de uma for-mação, inclusive, portanto, sobre as classes dominadas. Esta dife-rença intercepta a linha de demarcação dos lugares de dominação ede subordinação que ocupam as classes sociais em uma formação.

O interesse geral, que a fração hegemônica representa em relaçãoàs classes dominantes, repousa, em última análise, no lugar de ex-ploração que elas detêm no processo de produção. O interesse geral que esta fraçao representa em relação ao conjunto da sociedade, em relação, portanto, às classes dominadas, depende da função ideologica da fração hegemonica....A ausencia de uma classe ou fração da cena politica nao significa diretamente a suaexclusao do bloco no poder. Sao numerosos os casos em que, no que diz respeito à periodização da cena politica, uma classe ou fração se encontra ausente, embora continue a estar presente na periodização relativa ao bloco no poder. >>> nesse sentido, Marx distingue classes ou frações politicamente dominantes, participantes do blocono poder, de classes ou frações reinantes, cujos partidos encontram-se presentes nos lugares dominantes da cena politica.

...Convem nao confundir classe ou fração hegemonica, aquela que, em ultima análise, detém o poder politico, com classe ou fraçao que detem o controle do aparelho de Estado (que recruta o pessoal burocratico, militar, etc.)