Filodofia da educação

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  • 7/24/2019 Filodofia da educao

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    Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ

    Faculdade de Educao

    Filosofia da educao Professor Reuber Scofano

    Aluno: Barbara Ribeiro Gonalves

    Introduo

    Todas as coisas caracterizadas como artsticas compem o que chamamos de

    simblico, ou representao, isto , tudo aquilo que est no mbito metafrico,

    abstrato, e por isso, exibe-se como algo transgressor, transformador, que atua em

    servio do intelecto, da capacidade crtica, ou da satisfao pessoal; logo faz-se

    extremamente necessrio ao processo educativo.

    Dentro do sistema educacional, um gnero artstico apresenta-se inseparvel da

    infncia, momento em que se est apto a iniciar a descoberta do universo, do mundo,

    das palavras, e dos fonemas; este gnero a poesia. A linguagem potica concerne

    propriedades que auxiliam na formao da criana, esta que por natureza,

    susceptvel aos encantos, beleza, e sensibilidade que a cerca, despertando assim, a

    sua autoliricidade, a aprendizagem sob o olhar lrico infantil.

    O presente trabalho prope analisar a relao do processo de ensino-aprendizagem

    (vice-versa) a partir da experincia essencialista na fase da infncia, e da dimenso

    potica e seu papel crucial para a compreenso do mundo. Juntamente com essas

    propostas estar a temtica da educao desenvolvida e discutida durante as aulas de

    filosofia.

    Para tal, a abordagem optada ser desenvolvida por meio: 1) A descoberta da poesia;

    2) da proposta rouasseauniana: as etapas de educao de O Emlio; 3) Anlise dos

    poemas 3 de maio de Oswald de Andrade, O poeta se aproxima da criana de

    Ferreira Gullar e o poema Arvore de Manoel de Barros; contando com a

    participao de Filipe Ribeiro (estudante universitrio), Sergio Cohn (poeta e editor),

    Gustavo de Carvalho (estudante do ensino fundamental).

    A descoberta da poesia

    Etimologicamente a palavra poesia provm da base grega poieses, que tem por

    significao ao de fazer. Desta forma, compreendemos que a poesia atua como

    ferramenta da sabedoria, como instrumento na arte do saber. Os antigos poetas gregos

    exerciam papel social, em que atravs da linguagem potica, falavam como

    educadores, propagando os seus saberes e orientando as pessoas.

    Vale ressaltar que a literatura no um saber nico, ela caminha prximo a concepo

    de mito, e tal como ele, utliza-se do dia a dia, dos acontecimentos, e dos seres que o

    concernem, na tentativa de esclarecer as indagaes e sensaes humanas. Existem

    diversas poesias, metforas, simbologias, e narrativas que originam-se no mbito

    mitolgico. Assim, o mito, como a poesia, empregado para se tentar explicar, dentre

    inmeras outras manifestaes, os atos da natureza, a origem do mundo, e os

    sentimentos humanos.

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    O Emlio

    Em 1762, Jean Jacques Rousseau publica o ensaio pedaggico O Emlio, obra que

    transfigura a pedagogia, e que a posteriori d incio s teorias e tendncias

    pedaggicas, estas utilizadas nos dias atuais, e que foram elaboradas por exmios

    educadores durante os sculos XIX e XX.

    O romance tem por princpio estruturar o caminho que a educao infantil deve

    prosseguir, objetivando que a criana se desenvolva e se torne um adulto bom. A

    teoria de Rousseau parte do pressuposto que a bondade algo natural do homem, a

    civilizao (a sociedade) a responsvel pela sua corrupo. E a ela em que se

    atribui origem de todo mal.

    Para o filsofo, a finalidade da educao, deve-se pautar tanto no desenvolvimento

    das capacidades naturais da criana, como do seu distanciamento dos males da

    sociedade. Para isso, necessrio tomar por base os instintos naturais da criana, com

    o fim de desenvolv-los.

    A educao precisa ser realizada gradualmente, de modo que cada etapa do processopedaggico seja ajustado s necessidades individuais do desenvolvimento do infante.

    Isto :

    1) 2-5 anos (educao negativa) A educao deve ser totalmente dedicada ao

    aprimoramento dos sentidos, j que nesse perodo as necessidades da criana

    so puramente fsicas.

    2)

    5-12 anos Perodo de desenvolvimento do corpo e do carter da criana, est

    deve estar em contato com suas aptides naturais, no tendo a interveno de

    um preceptor.

    3) 12-15 anos O preceptor atua ativamente no desenvolvimento. Nesta etapa o

    jovem desenvolve seu aprendizado, basicamente pela sua experincia, como

    tambm, por meio do auxlio do preceptor, aprende um ofcio/trabalho.

    4)

    15-18 anos Etapa em que o homem amadurece para a vida, no que tange os

    aspectos: social, moral e religioso.

    O modelo de educao estruturado por Rousseau como substituio da educao

    tradicional, busca a formao da criana no apenas em funo de sua capacidade

    intelectual, mas tambm no desenvolvimento da educao moral, fsica, natural e

    potencial de cada indivduo.

    Anlise de poemas

    Tendo em vista a aproximao dos conhecimentos artsticos, literrios e oconhecimento proveniente do mito, assim como as propostas educacionais

    fomentadas por Rousseau, sero analisados trs poemas que configuram tais

    temticas.

    Oswald de Andrade (1840-1954), um dos maiores poetas brasileiros, em seu poema

    3 de maio diz:

    Aprendi com meu filho de dez anos

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    Que a poesia a descoberta

    Das coisas que eu nunca vi

    A linguagem simples, a sintetizao do poema, dentro do seu carter metalingustico,

    supe a descoberta da prpria poesia, a descoberta de um mundo novo sob o olhar da

    criana em detrimento do adulto.

    O eu-lrico exibe o pensamento potico como algo ingnuo, algo pbere a se

    desvendar. Denota-se a perspectiva da liberdade, sensibilidade, criatividade, temas

    que esto intrnsecos ao universo infantil.

    A criana atravs da sua potencialidade imaginativa, por possuir um pensamento

    essencialmente pueril, e permear em um universo em que ainda no h delimitaes

    entre o sonho e a realidade, observa as coisas do mundo de uma forma livre, sem a

    condensao do pensamento formalizado pela sociedade, este conectado ao universo

    adulto, aquilo que Rousseau tambm chama de males da sociedade.

    O eu-lrico assegura que a criana capaz de conseguir enxergar as coisas alm de

    sua obviedade, alm dos seus conceitos j cristalizados, isto , o seu pensamentoainda no foi corrompido pela civilizao, como o dos adultos.

    A poesia de um modo geral, tal como a arte, autorremete-se ao fazer visvel. Isto quer

    dizer que exibe-se o que se enxerga para o alm do j visto, do j conhecido,

    objetivando o olhar crtico sobre as coisas.

    A palavra potica a potncia do ver, a plenificao da presena, e a criana como

    um ser essencialmente experimental, possui a perceptividade de enxergar o mundo

    com um olhar ingnuo, virginal, puro e ao mesmo tempo crtico. Ela absorve e

    aprende tanto pela experincia, pela sensorialidade, como pela essencialidade, o que o

    filsofo afirma como o aprendizado por meio das aptides naturais.

    Em aprendi com meu filho de dez anos, o eu-lrico tambm expe que a criana

    dotada de conhecimento, e que pode (e deve) transpass-los s geraes mais velhas.

    Sabemos que o conhecimento se d de forma mtua, independente da faixa etria.

    Desta forma, podemos fazer uma analogia ruptura ao modelo tradicional de

    educao em que o adulto (no caso, o professor) o detentor do saber, o foco do

    processo de ensino-aprendizagem, enquanto a criana (o aluno) um mero receptor

    desse conhecimento.

    Algumas observaes no poma de Oswald, tambm aparecem no poema de Ferreira

    Gullar, outro expoente da poesia brasileira:

    o poeta se aproxima da criana,

    que v o mundo com os olhos virgens e que,

    por quase nada saber, est aberta aos mistrios das coisas

    para a criana como para o poeta viver uma incessante descoberta

    da vida

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    No poema de Gullar novamente se obtm a figura de uma pessoa mais velha, isto ,

    uma figura que expe autoridade, no mais atravs da imagem paterna, mas de um

    poeta.

    A figura do poeta torna-se prximo da criana tanto no sentindo literal do verbo

    aproximar, quanto no seu sentido conotativo , pois ambos assimilam o saber, o

    conhecimento de uma forma parecida, isto , de uma forma livrem, at inocente,apreendem os conhecimentos da vida pautados na vivncia, na experincia, no

    sentimento. O poeta como a criana so dotados de um olhar deliberante, que no est

    calcado na previsibilidade.

    O terceiro poema intitulado Arvore de autoria do poeta Manoel de Barros:

    Um passarinho pediu a meu irmo para ser sua rvore.

    Meu irmo aceitou de ser a rvore daquele passarinho.

    No estgio de ser essa rvore, meu irmo aprendeu de

    sol, de cu e de lua mais do que na escola.

    No estgio de ser rvore meu irmo aprendeu para santo

    mais do que os padres lhes ensinavam no internato.Aprendeu com a natureza o perfume de Deus

    seu olho no estgio de ser rvore aprendeu melhor o azul

    E descobriu que uma casa vazia de cigarra esquecida

    no tronco das rvores s serve pra poesia.

    No estgio de ser rvore meu irmo descobriu que as rvores so vaidosas.

    Que justamente aquela rvore na qual meu irmo se transformara,

    envaidecia-se quando era nomeada para o entardecer dos pssaros

    e tinha cimes da brancura que os lrios deixavam nos brejos.

    Meu irmo agradecia a Deus aquela permanncia em rvore

    porque fez amizade com muitas borboletas.

    Logo de incio o prprio ttulo j alude para uma pluralidade de metforas; uma

    delas, a rvore vista como simbologia da vida. Para tal, foi realizado a mesma

    indagao O que uma rvore? para quatro fontes diferentes: 1) O dicionrio

    Aurlio; 2) Um estudante universitrio do curso de engenharia; 3) Um poeta; 4) Uma

    criana de 5 anos. Efetuou-se as seguintes definies de rvore expressas por:

    Dicionrio Aurlio: Sf. Vegetal lenhoso cujo caule, o tronco, s se ramifica bem

    acima do nvel do solo.

    Estudante de engenharia: A rvore uma parte do ecossistema, o estado

    desenvolvido de uma semente.

    Poeta: Uma rvore outro tempo. Ela misteriosa porque vive do cu e do

    subterrneo. Objeto de felizes circunstncias para ela mesma.

    Criana:Uma rvore o que tem folhas e galhos e faz a nossa casa ficar mais bonita,

    ela fica no quintal.

    A partir das definies dadas rvore, fica ntido as semelhanas e diferenas

    existentes em diferentes tipos de saberes. Todos contriburam para a

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    significao/simbologia do objeto representado, sem um aniquilar a verdade do outro,

    pelo contrrio, esses conhecimentos tornaram-se confluentes, e se encaixaram

    perfeitamente aluso referida na titulao do poema de Manoel de Barros.

    Em Um passarinho pediu a meu irmo para ser sua rvore, pode-se notar o teor

    infantil atribudo prosopopeia, em que o passarinho pede personificao do animal

    ao irmo. Nessa construo temos a aluso s fbulas infantis que coexistemcomo mitos que perpassam pelo universo infantil, em que dizem o passarinho me

    contou. Ao invs de contar, o passarinho, essa figura que saiu da casca, comeou a

    descobrir o mundo, que voa e transpassa a sensao de liberdade, pede ao irmo (no

    se sabe a idade, mas infere-se que seja uma criana) para ser rvore, isto , como as

    definies do vocbulo j mencionados, ele aceitar ser semeado, amadurecer,

    desenvolver, se libertar, estar aberto aos mistrios da vida.

    Nas estrofes No estgio de ser essa rvore, meu irmo aprendeu de/ sol, de cu e de

    lua mais do que na escola, ou seja, no momento, em que a criana permitiu-se a

    conhecer o mundo pela experincia, aprendeu muito mais experenciando a natureza

    do que a escola tradicional pde ensinar. Podemos ligar essa passagem ao filme A

    lngua das mariposas(1999), em que o professor sai de sala de aula e leva os alunos floresta para observar e aprender com a natureza.

    Em conseguinte, No estgio de ser rvore meu irmo aprendeu para santo/ mais do

    que os padres lhes ensinavam no internato., mais uma aluso ao ensino tradicional e

    autoritrio, dessa vez o religioso, um ensino comumente mais ferico, e o eu-lrico

    expe que foi atravs da experincia, e da sensibilidade e do contato com a natureza

    que o irmo desenvolveu-se e descobriu um novo mundo: Aprendeu com a natureza

    o perfume de Deus/ seu olho no estgio de ser rvore aprendeu melhor o azul/ E

    descobriu que uma casa vazia de cigarra esquecida/ no tronco das rvores s serve pra

    poesia, novamente os olhares da criana e do poeta se conectam.

    No estgio de ser rvore meu irmo descobriu que as rvores so vaidosas./

    Que justamente aquela rvore na qual meu irmo se transformara,

    envaidecia-se quando era nomeada para o entardecer dos pssaros, denota-se o

    descobrimento amadurecimento do eu-lrico infantil.

    Que por fim, Meu irmo agradecia a Deus aquela permanncia em rvore

    porque fez amizade com muitas borboletas. O eu-lrico assegura que graas aquele

    conhecimento pueril ao qual foi exposto, e a passagem da experincia e vivncia com

    a infncia e com a natureza, conseguiu descobrir e conhecer um novo mundo e assim

    desenvolver-se, transforma-se como as borboletas, sair do casulo, conhecer o novo,

    metamorfosear-se. Segundo Rousseau esta seria (a educao positiva) a etapa da

    educao em que a criana adquire a noo de suas relaes com os outros etransfere-se ao mbito da pedagogia ligado s preponderaes da sociedade.

    Em sntese, podemos afirmar que por meio da linguagem potica uma pluralidade de

    infncias renascem. A criana possui um sentido de observao e conhecimento

    perante a vida e a sociedade, e extremamente capaz de analisar e criticar as

    situaes em que vivencia, e a poesia se correlaciona nesse sentido. A faculdade

    criativa da poesia e da prpria criana, possibilitam a produo de alegorias de acordo

    com suas experincias e sensaes. A principal funo da linguagem artstica dentro

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    do processo educativo, o papel humanizador, e desta forma deve caminhar junto

    com o conhecimento vindo do aluno, do professor, e da experincia.

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    Referncias Bibliogrficas

    ANDRADE, Oswald de. 3 de maio. Uma potica da radicalidade. Rio de Janeiro:

    Globo, 1990.

    BARROS, Manoel. Arvore. In:Poesia completa/ Manoel de Barros. So Paulo: Leya,

    2013.

    FERREIRA, Aurlio Buarque de Holanda. Dicionrio da lngua portuguesa. Rio de

    Janeiro: Nova Fronteira, 1993.

    FERREIRA, Gullar. Poema. Disponvel em: . Acesso em: 31 de maio de 2014.

    ROUSSEAU, Jean-Jacques. Coleo os pensadores. 2. ed. So Paulo: Abril Cultural,

    1978.

    Agradecimentos

    Filipe Ribeiro Estudante do curso de engenharia metalrgica da Universidade

    Federal Fluminense.

    Maite Cardozo Estudante do ensino bsico; (5 anos).

    Sergio Cohn Poeta e editor da Azougue editorial.

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

    FACULDADE DE EDUCAAO

    Por: Barbara Ribeiro Gonalves

    DRE: 109069272

    Trabalho apresentado ao professor Reuber S.

    na disciplina de Filosofia da educao.

    Rio de Janeiro

    2014