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Aluno: Flávio Ricardo da Silva Prof. Dr. Marco Antonio Franciotti Disciplina: FIL5680-06329 (20132) Ensaio I O que é ensinar? Por um lado, podemos pensar o ato de ensinar – ato nomeado pelo verbo 'ensinar' – ocorrendo em várias instâncias da vida. Na família, na escola, no convívio social de forma geral, no acesso às mídias como um todo – impressa, televisiva, radiodifundida, virtual. Podemos ser ensinados por meio de músicas, de filmes, da arte no geral – como nos lembra Platão em sua censura aos poetas – comerciais, anúncios, revistas de fofoca, telenovelas, redes sociais, livros, etc. Em todas estas atividades e instâncias da vida humana é possível identificar algo como um “ensinamento” ocorrendo; muitas vezes subentendido. Ensinar é, assim, algo que vai para além dos muros de uma escola, por exemplo, ou dos de uma casa familiar. O ensino acontece durante todo o desenrolar da vida de um ser humano de forma explícita ou implícita, desvelada ou velada, consciente ou inconsciente. E parece ser parte intrínseca do processo de formação e transformação ao qual as pessoas estão submetidas ao longo de suas existências. Como se diz popularmente, “a vida ensina”. Assim, o conceito de ensino, de ensinar e ser ensinado, se dilui dentro da própria existência de cada um como um todo. Sob esta perspectiva podemos entender a preocupação de Platão com todos os âmbitos da vida do cidadão de sua república ideal, como uma preocupação educacional. Por outro lado, adotando tal concepção de ensino, do que significa ensinar e ser ensinado, não avançamos muito conceitualmente. Ou seja, ficamos longe de uma resposta mais

Filosofia da Educação - Ensaio I: O que é ensinar?

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Ensaio curto escrito para a disciplina de Filosofia de Educação ministrada na UFSC no segundo semestre de 2013 (maiores informações no cabeçalho do texto). O ensaio gira em torno da pergunta que o intitula, numa tentativa de respondê-la. De início ressaltando um aspecto mais geral do ato de ensinar e, posteriormente, tentando falar sobre a singularidade do ensino dentro de sala de aula.

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Aluno: Flvio Ricardo da SilvaProf. Dr. Marco Antonio FranciottiDisciplina: FIL5680-06329 (20132)Ensaio IO que ensinar?

Por um lado, podemos pensar o ato de ensinar ato nomeado pelo verbo 'ensinar' ocorrendo em vrias instncias da vida. Na famlia, na escola, no convvio social de forma geral, no acesso s mdias como um todo impressa, televisiva, radiodifundida, virtual. Podemos ser ensinados por meio de msicas, de filmes, da arte no geral como nos lembra Plato em sua censura aos poetas comerciais, anncios, revistas de fofoca, telenovelas, redes sociais, livros, etc. Em todas estas atividades e instncias da vida humana possvel identificar algo como um ensinamento ocorrendo; muitas vezes subentendido. Ensinar , assim, algo que vai para alm dos muros de uma escola, por exemplo, ou dos de uma casa familiar. O ensino acontece durante todo o desenrolar da vida de um ser humano de forma explcita ou implcita, desvelada ou velada, consciente ou inconsciente. E parece ser parte intrnseca do processo de formao e transformao ao qual as pessoas esto submetidas ao longo de suas existncias. Como se diz popularmente, a vida ensina. Assim, o conceito de ensino, de ensinar e ser ensinado, se dilui dentro da prpria existncia de cada um como um todo. Sob esta perspectiva podemos entender a preocupao de Plato com todos os mbitos da vida do cidado de sua repblica ideal, como uma preocupao educacional.Por outro lado, adotando tal concepo de ensino, do que significa ensinar e ser ensinado, no avanamos muito conceitualmente. Ou seja, ficamos longe de uma resposta mais objetiva e melhor delineada do que seja ensinar. Uma resposta que deixaria mais destacado o ato de ensinar em relao s outras atividades humanas. E, se pensarmos bem, a filosofia sempre esteve em busca de conceitos claros e, na medida do possvel, objetivos acerca daquilo a que se propunha estudar. Podemos lembrar Scrates e sua insistncia no sentido de fazer com que seus interlocutores formulassem suas crenas de modo claro, e que analisassem mais detida e detalhadamente seus prprios proferimentos. Tal tentativa perpetrada pelos filsofos, de buscar conceitos claros e distintos (como diria Descartes), pode ser alvo de grandes crticas como a de criar uma imagem esttica do mundo, destacar a filosofia do movimento prprio da vida e criar uma espcie de mundo substancializado a parte do mundo concreto e fluido. De fato, tais crticas so possveis, apesar de tambm questionveis. Porm, em nossa opinio, a tentativa de uma conceituao mais precisa e clara deve ser efetuada pelo filsofo. At mesmo para que este possa perceber mais intensamente as dificuldades de tal tarefa. Ou seja, perceber como a vida em sua concretude difcil de desmembrar em conceitos, e como tende a uma interdependncia e unificao que dificultam o isolamento de um conceito sem perder certo algo da existncia concreta.Voltemos, pois, desta pequena digresso pelo mundo das questes ontolgicas acerca do trabalho dos filsofos e suas dificuldades, e concentremo-nos na tarefa de estabelecer um conceito mais claro a respeito do que significa ensinar. Esperando que a digresso tenha servido para elucidar a necessidade da elaborao de um conceito mais bem delineado como tarefa do filsofo. possvel, tambm, destacar a necessidade de um conceito mais especfico em relao ao ensino como uma questo prpria e importante que envolve todo aquele que tem por intento a carreira de professor. Trazer a tona, principalmente, o que seria uma caracterstica prpria do ensino, enquanto ocorrendo dentro da sala de aula, uma tarefa de cunho prtico na vida do educador. Assim, pensamos na sala de aula como ponto de partida para uma tentativa de elucidao da especificidade do ato de ensinar. Que seja. sala de aula, ento.Em primeiro lugar, nos parece lcito pensar que, apesar de ser possvel interpretar todo ato do professor como portador de uma mensagem ao aluno, nem todos estes atos sero enquadrados sob a alcunha de atividades de ensino. Por exemplo, dentro de uma sala de aula o professor pode fazer vrias coisas como: apagar o quadro-negro, abrir uma janela, apontar um lpis. Todos estes atos podem ensinar algo ao aluno, mas no nos parece que estaramos prontamente inclinados inclu-los sob a denominao de atos de ensino. E no nos inclinamos a isso porque o ensinar propriamente dito, parece estar diretamente ligado inteno de que haja aprendizagem. Para alm do que os nossos atos podem estar ensinando sub-repticiamente, de forma oculta, o que mais caracteriza o ato de ensino, em nossa opinio, o desejo de que se d a aprendizagem por parte daquele que est sendo ensinado. Nesse sentido, h tambm, nos parece, a necessidade de uma preocupao por parte daquele que ensina em transmitir determinado contedo e que este seja compreendido. Ensino e aprendizagem se mostram intimamente ligados.No nos parece possvel pensar em ensino sem aprendizagem. Um professor que apenas passasse o perodo de aula apontando lpis, abrindo janelas, reclamando da esposa/esposo ou falando sobre o clima, no estaria realmente ensinando mesmo que estes atos possam, de certa forma, ensinar algo ao aluno. Ele, o professor, no estaria envolvido em um processo de ensino porque no h a a inteno de ensinar, a preocupao de que algum contedo seja aprendido, compreendido. A partir de tal compreenso a cerca do que significa ensinar podemos depreender vrias ideias interessantes. Primeiro, ensinar um ato que pressupe uma contraparte que aprende, numa espcie de movimento dialtico. E sob esta perspectiva a preocupao do ensinante em relao ao ensinado se mostra evidentemente necessria. Aquele que ensina deve estar desejoso de conhecer a condio daquele que ensinado. Por exemplo, algum que entre numa classe de pr-escola com um texto de filosofia de, digamos, Hegel e pretenda que a leitura deste texto poder transmitir algo quelas crianas, no est realmente engajado em um ato de ensino. Mesmo que permanea o dia inteiro lendo Hegel incansavelmente para os meninos e meninas. Ele no est realmente engajado em um ato de ensino, porque no est se ocupando da condio da sua contraparte enquanto ensinante, ou seja, a condio daquele que est sendo ensinado. Assim, no se ocupa da escolha de contedos adequados e acessveis ao aluno. No havendo preocupao da parte ensinante em relao queles que so ensinados e em relao ao contedo do ensino, no h aprendizagem e, assim, tambm no h ensino.Estabelecemos, pois, que o ato de ensinar no ocorre de forma isolada do ato de aprender e que, assim, aquele que ensina deve ter a inteno de ensinar, ou seja, deve ter a inteno de que haja o aprendizado por parte daquele que ensinado. Essa inteno faz emergir a necessidade de que aquele que pretende ensinar algo se ocupe de entender a condio prpria daquele que ser ensinado. E que se ocupe de definir este algo que ser ensinado levando em conta esta condio.