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REFORMA FINANCEIRA Uma Estrutura para Estabilidade Financeira 30 Group of Thirty

Financial Reform

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REFORMA FINANCEIRA Uma Estrutura para Estabilidade Financeira

30 Group of Thirty

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Sobre os autores

Os pontos de vista expressos neste trabalho são de responsabilidade do Grupo Funcional de Reforma Financeira e não representam, necessariamente, os pontos de vista de todos os indivíduos que são membros do Group of Thirty.

ISBN I-56708-146-0

Cópias desde relatório podem ser adquiridas por US$49 de: The Group of Thirty

1726 M Street, N.W., Suite 200 Washington, D.C. 20036

Fone: (202) 331-2472 Fax: (202) 785-9423 www.group30.org email: [email protected]

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REFORMA FINANCEIRA Uma Estrutura para Estabilidade Financeira

30 Group of Thirty

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ÍNDICE Siglas e abreviaturas .............................................................................................. 5

Prefácio .................................................................................................................. 7

Agradecimentos ................................................................................................................. 9

Grupo Funcional de Reforma Financeira................................................................. 11

Introdução........................................................................................................................... 13

Parte 1 – Visão geral de um programa de reforma ............................................. 15

Grupo Funcional de Reforma Financeira............................................................... 17 1. O papel do setor público na salvaguarda da estabilidade financeira ............ 17 2. Concorrência justa e eficaz ........................................................................... 18 3. Supervisão oficial e resposta à crise ............................................................... 18 4. Consistência e coordenação internacionais ........................................................ 18 5. Governança e gerenciamento de riscos................................................................. 19 Recomendaçõe-chave ................................................................................................... 21

Parte 2 – Redefinição dos limites da regulamentação prudencial ................... 23

1. Regulamentação e supervisão prudenciais de organizações bancárias............. 27 Recomendação 1: ...........................................................................................28

2. Supervisão consolidada de instituições financeiras não bancárias ………….. 29 Recomendação 2: ..........................................................................................29

3. Companhias de investimentos e supervisão do mercado de dinheiro ……… ..29 Recomendação 3: ........................................................................................... 29

4. Supervisão de consórcios privados de capital .................................................... 30 Recomendação 4: ........................................................................................... 30

5. Empreendimentos financiados pelo governo ........................................................ ...31 Recomendação 5: .............................................................................................31

Parte 3 – A estrutura da regulamentação prudencial e coordenação interna ............. 33

6. Estrutura regulatória .........................................................................................34 Recomendação 6: ............................................................................................ 35

7. Papel do Banco Central .................................................................................... 35 Recomendação 7: ............................................................................................ 36

8. Coordenação internacional ........................................................................................ 37 Recomendação 8: ............................................................................................ 37

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Parte 4 – Melhoria de padrões de governança, gerenciamento de riscos, capital e liquidez ............................................ 39

9. Padrões regulatórios de governança e gerenciamento de riscos.. 40 Recomendação 9: ...................................................................... 41

10. Padrões de capital regulatório ..................................................... 42 Recomendação 10: ..................................................................... 43

11. Padrões para gerenciamento de riscos de liquidez ......................... 43 Recomendação 11: ..................................................................... 44

12. Contabilidade de valor justo ......................................................... 44 Recomendação 12: ...................................................................... 46

Parte 5 – Melhoria em transparência e incentivos e reforço da infraestrutura financeira ...................................................... 47

13. Restaurando a confiança em mercados de créditos securitizados . 48 Recomendação 13: ....................................................................... 49

14. Reformas de agências de estimativa ............................................... 50 Recomendação 14: ........................................................................ 51

15. Supervisão de Mercados de Trocas de Créditos Não Cumpridos (CDS) e Vendas de Balcão (OTC).............................................................. 52 Recomendação 15: ......................................................................... 53

16. Um mecanismo de resolução para instituições financeiras................ 53 Recomendação 16: .......................................................................... 54

17. Melhoria da transparência de mercados de produtos estruturados ... 55 Recomendação 17: .......................................................................... 55

18. Compartilhamento de informações sobre atividades de mercado e valorização. 56 Recomendação 18: .......................................................................... 56

Parte 6 – Comentários finais ...................................................................... 57

Apêndice ...................................................................................................... 59

Membros do Group of Thirty........................................................................ 69

Publicações do Group of Thirty desde 1990 .................................................. 73

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SIGLAS E ABREVIATURAS CCP Central counterparty [clearing] [Contraparte central [liquidação]] CDO Collateralized debt obligation [Derivativo Hipotecário] CDS Credit default swap [Troca de crédito não cumprido] CLO Collateralized loan obligation [Derivativo de Empréstimo] CRMPG Counterparty Risk Management Policy Group [Grupo de Políticas de Gerenciamento de Riscos de Contrapartes]FDIC Federal Deposit Insurance Corporation [Corporação Federal de Seguros de Depósitos] FVA Fair value accounting [Contabilidade de valor justo] GSE Government-Sponsored Enterprise [Empreendimentos Financiados pelo Governo] NAV Net asset value [Valor de bem líquido] NRSROs Nationally Recognized Securities Ratings Organizations [Organizações de Classificação de TítulosReconhecidas em Nível Nacional] OTC Vendas de Balcão SEC Securities and Exchange Commission [Comissão de Títulos de Câmbios] SIV Structured Investment Vehicle [Veículos Estruturados de Investimento] TARP Troubled Asset Relief Program [Programa de Ajuda a Fundos com Problemas]

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PREFÁCIO

Em julho de 2008, o Group of Thirty (G30) iniciou um projeto de reforma financeira sob a liderança de um Comitê Diretor presidido por Paul A. Volcker, com Tommaso Padoa- Schioppa e Arminio Fraga Neto como Vice-Presidentes. Eles foram apoiados por outros membros do G30, que participaram de um grupo de trabalho informal. Todos os membros (exceto aqueles que atualmente exercem cargos oficiais nacionais ou em se encontram em posição de vir a exercê-los) tiveram a oportunidade de revisar e discutir os esboços preliminares.

O Relatório é de responsabilidade do Comitê Diretor e reflete amplas áreas de consenso entre os membros participantes do G30, os quais tomaram parte individualmente. O Relatório não reflete os pontos de vista oficiais daqueles que tomam decisões sobre políticas ou ocupam papéis de liderança no setor privado. Sempre que há diferenças significativas em ênfase e conteúdo, as mesmas se encontram destacadas no texto.

O G30 empreendeu este projeto quando a crise financeira global chegou a seu segundo ano. A análise foi moldada pelos eventos extremos do final de 2008, que abalaram as fundações do sistema financeiro estabelecido e levaram a uma intervenção governamental em uma escala sem precedentes, tanto nos Estados Unidos quanto em muitos outros países, com o fim de conter o crescente pânico financeiro.

O Relatório não aborda a necessidade destas ou possíveis futuras ações emergenciais. Certamente surgirão questões difíceis, tais como fazer com que mercados e instituições financeiras deixem de depender de suporte governamental. Embora a análise e recomendações lidem, em alguns casos, com a necessidade de legislação, regulamentação e supervisão, o Relatório não está voltado para questões relativas ao foco apropriado e natureza de arranjos administrativos nacionais. Estes são, de qualquer maneira, influenciados por tradições constitucionais, legais e administrativas específicas de cada nação e arranjos regionais.

Ao invés disso, o Relatório se foca em como o sistema financeiro poderia ser organizado de forma razoável uma vez superada a presente crise de modo a melhor assegurar um bom nível de estabilidade. Tomadores de decisões, dirigentes de bancos centrais e reguladores financeiros permanecerão, necessariamente, concentrados em lidar com as ameaças imediatas ao funcionamento efetivo dos mercados. Contudo, na tomada do que são, de fato, medidas de emergência, um consenso sobre os elementos desejáveis e duradouros de um sistema reformado pode ser útil, e até necessário, para acelerar a recuperação da confiança em arranjos financeiros robustos, competitivos e eficientes que atendam tanto mercados nacionais quanto internacionais. Valendo-se da experiência e ampla perspective dos membros do G30, o Relatório visa ajudar a informar o debate necessário entre os tomadores de decisões e a comunidade financeira internacional sobre estas questões. O Relatório aborda:

a. As questões de políticas relativas à redefinição do escopo e limites de uma

regulamentação prudencial;

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b. Reforma da estrutura de regulamentação prudencial, inclusive do papel dos bancos centrais, as implicações para o funcionamento de instituições “prestamistas de última instância” e outros elementos da “rede de segurança” oficial, bem como a necessidade por maior coordenação internacional; c. Melhoria da governança, gerenciamento de risco, políticas regulatórias e práticas e padrões

contábeis; e d. Melhorias na transparência dos arranjos de infraestrutura financeira.

Fazem-se necessárias duas notas finais. Primeiro, este Relatório pretende ser útil a tomadores de decisão de todos os países cujos

sistemas financeiros foram perturbados pela presente crise. Por isso, a maioria das recomendações foi estruturada em termos tais que permite serem levadas em consideração em diferentes países, de forma a incluir aspectos específicos de seus sistemas nacionais. Contudo, uma vez que esta crise teve suas raízes e se desenvolveu dentro dos Estados Unidos, e dada a importância específica de reformas no sistema financeiro norte-americano em termos de tamanho e impacto global, várias das questões e recomendações têm um foco direto nos EUA.

Segundo, este Relatório está focando em aspectos de segurança e estabilidade da regulamentação financeira. Há muitos outros aspectos importantes da regulamentação financeira que são abordados aqui apenas na medida em que são relevantes para a estabilidade financeira; estes incluem políticas de concorrência, proteção a clientes e investidores, supervisão de práticas de mercado e prevenção de fraudes e crimes financeiros. Além disso, na medida em que é possível traçar distinções entre regulamentação e supervisão, a primeira abrange um conjunto de políticas, princípios, regras e padrões, enquanto que a segunda abrange a aplicação crítica destas políticas e padrões a instituições específicas.

A questão-chave que nos coloca a presente crise está bastante clara: como podemos restaurar mercados financeiros fortes, competitivos e inovadores para oferecer suporte ao crescimento econômico global sem uma vez mais arriscar um colapso tão grave no funcionamento do mercado que coloque as economias mundiais em risco?

A busca por respostas viáveis a esta questão precisa começar.

Paul A. Volcker Presidente dos Fiduciários The Group of Thirty

Jacob A. Frenkel Presidente The Group of Thirty

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AGRADECIMENTOS

Em nome de todo o Group of Thirty (G30), gostaria de expressar meus agradecimentos àqueles cujo tempo, talento e energia levaram este projeto a um resultado bem-sucedido.

Em particular, agradecemos à liderança do Comitê Diretor, presidido por Paul Volcker e tendo Arminio Fraga Neto e Tommaso Padoa-Schioppa como Vice-Presidentes. Sua compreensão coletiva da natureza da crise financeira e percepções sobre as reformas necessárias foram inestimáveis.

É preciso também oferecer agradecimentos especiais àqueles membros do G30 que participaram ativamente das deliberações e discussões do projeto do grupo de trabalho.

Produzir um relatório inteligente, que aborde tantas questões difíceis de supervisão, regulamentação e de mercado, dentre outras, requer considerável conhecimento das mesmas e a capacidade de sintetizar os pontos de vista de numerosos indivíduos. Agradecemos, em particular, o esforço de Stephen Thieke, que atuou como principal redator do relatório, contribuindo com extraordinária experiência e esforço tanto nesse papel quanto durante nossas deliberações.

Também gostaríamos de agradecer a vários especialistas que atuaram como consultores do Grupo Diretor e participaram de nossas deliberações. Em particular, agradecemos a Mark Walker, Alan Beller e Mayree Clark. Várias instituições contribuíram com precioso suporte em espécie para o projeto, inclusive: Cleary Gottlieb Steen and Hamilton LLP e RiskMetrics.

Agradecemos também à editora, Diane Stamm e às designers, Sarah McPhie e Katie Burgess, por seus esforços dedicados e flexibilidade durante seu trabalho no presente projeto.

Por fim, a coordenação deste projeto e os muitos aspectos da produção do relatório tiverem seu núcleo logístico nos escritórios do Group of Thirty. Este projeto não poderia ser sido levado a cabo sem esforços do Diretor Executivo Stuart Mackintosh, de Sviatlana Francis e de Nicole Firment do Group of Thirty.

Jacob A. Frenkel Presidente The Group of Thirty

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GRUPO FUNCIONAL DE REFORMA FINANCEIRA COMITÊ DIRETOR

Presidente

Paul A. Volcker Presidente dos Fiduciários, The Group of Thirty Ex-Presidente, Conselho de Governos da Reserva Federal dos Estados Unidos da América

Vice-Presidente

Arminio Fraga Neto Sócio Fundador, Gavea Investimentos Ex-Governador, Banco do Brasil

Vice-Presidente

Tommaso Padoa-Schioppa Ex-Ministro da Economia e Finanças, Itália Ex-Presidente, International Accounting Standards Committee [Comitê Internacional de Normas Contábeis] Ex-Membro da Diretoria Executiva, Banco Central da Europa, Ex-Presidente, CONSOB, Itália

Diretor do Projeto

Stephen Thieke, RiskMetrics

Gostaríamos de agradecer aos seguintes membros, que participaram individualmente do projeto. Os pontos de vista expressos não refletem, necessariamente, os das instituições às quais eles são filiados.

Jacob A. Frenkel Presidente, Group of Thirty Vice-Presidente, American International

Group Ex-Governador, Banco de Israel

Geoffrey L. Bell Secretário Executivo, Group of Thirty Presidente, Geoffrey Bell & Company

E. Gerald Corrigan Diretor-Gerente, Goldman Sachs Group, Inc. Ex-Presidente, Federal Reserve Bank of New York Andrew D. Crockett Presidente, JPMorgan Chase International Ex-Gerente Geral, Banco de Compensações Internacionais

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Richard Debs Diretor Consultivo, Morgan Stanley Ex-Presidente, Morgan Stanley

International Ex-Executivo-Chefe de Operações,

Federal Reserve Bank of New York

Jacques de Larosière Conselheiro, BNP Paribas Ex-Presidente, Banco Europeu para Reconstrução e Desenvolvimento Ex-Diretor-Gerente, Fundo

Monetário Internacional Ex-Governador, Banque de France

Gerd Häusler Membro da Diretoria e Consultor

Sênior, RHJ International

Ex-Conselheiro e Diretor, Fundo Monetário Internacional Ex- Diretor-Gerente, Dresdner Bank

John G. Heimann Consultor Sênior, Instituto para a Estabilidade Financeira Ex- Controlador de Moedas dos EUA William R. Rhodes Vice-Presidente Sênior, Citigroup Dirigente, Presidente e CEO,

Citicorp e Citibank Ernest Stern Sócio e Consultor Sênior,

The Rohatyn Group Ex-Diretor-Gerente,

JPMorgan Chase Ex-Diretor-Gerente, Banco Mundial David Walker Consultor Sênior, Morgan Stanley

International Ex-Diretor Executivo, Banco da

Inglaterra Ex-Presidente, Diretoria de Títulos e

Investimentos, Reino Unido

Especialistas

Alan Beller, Cleary Gottlieb Steen & Hamilton, LLP Mayree Clark, Aetos Capital Mark Walker, Cleary Gottlieb Steen & Hamilton, LLP Stuart P. M. Mackintosh, The Group of Thirty

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INTRODUÇÃO

Economias de mercado requerem sistemas financeiros fortes e competitivos, tanto na esfera nacional quanto internacional, para fazer a mediação entre aqueles que possuem recursos financeiros e aqueles com usos produtivos e inovadores para tais recursos. Necessariamente, esta intermediação oferece riscos: riscos relativos ao processo de se estabelecer uma ligação entre as preferências maduras de poupadores e mutuários e o risco relativo à capacidade de financiamento. Para ser efetivo, o processo depende de confiança mútua, uma confiança baseada na crença na integridade das instituições e na continuidade dos mercados. Esta confiança, aceita por todos em um sistema financeiro em bom funcionamento, foi perdida na atual crise, em grande medida devido à sua recente complexidade e opacidade. Nesta altura, não é possível avaliar os custos e implicações econômicas da presente crise, Mas sabemos que são graves, sejam medidos em trilhões de dólares, na amplitude e profundidade da recessão mundial ou simplesmente em termos de desemprego e finanças pessoais destruídas. Sabemos que há necessidade de uma reforma abrangente que aborde as principais fraquezas institucionais, regulatórias, de política e de infraestrutura que foram expostas. Estas incluem padrões insuficientes de avaliação e concessão de crédito; concentrações extremas e, às vezes, não realizadas, de crédito; descompassos de vencimentos avaliados erroneamente; uso excessivo de alavancagem intra- e extra-balancetes, muitas vezes embutida em produtos financeiros mal compreendidos; e uma confiança injustificada na liquidez ininterrupta do mercado. Lacunas em práticas de supervisão regulatória, contábil e de gerenciamento de risco que exageraram ciclos, um sistema falho de avaliação de créditos e uma governança fraca também requerem atenção. Em certa medida, estes fatores se mostraram evidentes em outros períodos menos danosos de crises financeiras. Dois aspectos únicos se combinaram para ajudar a responder pela extensão do atual colapso do mercado. Práticas de compensação extremamente agressivas e desequilibradas encorajaram a tomada de riscos, ignorando a cautela. Ao mesmo tempo, instrumentos financeiros muito bem projetados em sua complexidade obscureceram os riscos e incertezas inerentes aos mesmos, produzindo uma falsa confiança e o uso excessivo de alavancagem para aumentar os lucros, à medida que os preços de ativos subiam. Quando os preços desses ativos começaram a cair, os riscos se tornaram aparentes, provocando a venda dos mesmos. Uma espiral descendente de desalavancagem minou a estabilidade até mesmo das maiores instituições financeiras localizadas no centro do sistema, o que contribuiu para uma retração econômica de proporções globais. Os governos na maioria dos países se viram pressionados até, e mesmo além, dos limites de sua capacidade de restaurar liquidez e conter a instabilidade. Este Relatório encontra-se organizado como se segue. A Parte 1 apresenta uma visão geral do programa de reforma, os princípios condutores do Group of Thirty e recomendações-chave. As Partes 2 a 5 detalham o argumento por atrás de 18 recomendações específicas de políticas e seu conteúdo. A Parte 2, especificamente, revisa questões de políticas relacionadas à redefinição dos limites da regulamentação prudencial; a Parte 3 revisa questões referentes ao reforço da regulamentação prudencial, inclusive

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o papel dos bancos centrais e da coordenação internacional; a Parte 4 aborda tópicos relativos à melhoria de governança, do gerenciamento de risco e políticas regulatórias e contábeis;

A Parte 5 trata da necessidade de melhor transparência e infraestrutura financeira, inclusive arranjos para compensação e liquidação de transações de vendas de balcão; a Parte 6 apresenta um comentário a título de conclusão; finalmente, uma lista completa das recomendações fornecidas ao longo do Relatório pode ser encontrada no Apêndice.

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PARTE 1 Visão geral de um programa de reforma

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16 Reforma Financeira Uma Estrutura para Estabilidade Financeira

Recentes forças impulsionadas pelo Mercado, combinadas a respostas governamentais, colocaram em movimento fortes pressões para consolidação dentro dos sistemas financeiros e mudanças gerais na estrutura desses sistemas. O potencial para concentração indevida, concorrência injusta e crescentes conflitos de interesse irá exigir atenção. Enormes extensões da escala e alcance das redes de segurança governamentais que protegem o sistema financeiro levantaram questões práticas sobre intervenção oficial justa e previsível, incluindo questões propostas pela resultante participação acionária do governo e, o que é ainda mais fundamental, questões sobre os limites apropriados e expectativas de tais intervenções tanto para instituições financeiras quanto para seus clientes.

A clara implicação disto é que, no mínimo, as organizações bancárias de grande escala e mais complexas, que hoje respondem por grande parte das ampliações de crédito e arcam com grande responsabilidade pela manutenção da infraestrutura financeira, terão de adotar padrões mais rigorosos de regulamentação e supervisão prudenciais, com novas restrições ao tipo e escopo dessas atividades de tomada de risco. A confiança nos mercados de capital também terá de ser restaurada, com mercados e produtos mais transparentes e de fácil compreensão.

Ao mesmo tempo, embora possa haver pouca dúvida sobre a necessidade de uma supervisão governamental mais eficiente, é preciso tomar-se cuidado para não estender demais as regulamentações ou torná-las muito profundas. O novo sistema financeiro não deve ficar tão emaranhado em restrições a ponto de não ser capaz de apoiar de forma flexível e eficiente o processo de intermediação financeira que é essencial para o progresso econômico.

Um programa de reforma que reflita um equilíbrio sensato entre estas ponderações deverá produzir:

Um sistema com limites claros entre aquelas instituições e atividades financeiras que requerem

regulamentação prudencial formal significativa por razões de estabilidade financeira, e aquelas

que não o requerem.

Um sistema com incentives regulatórios mais fortes para exigir de instituições de grande porte

(sistemicamente significativas) os padrões mais elevados de governança e gerenciamento de

risco.

Um sistema onde haja mais escopo para o uso de políticas regulatórias capazes de mitigar

tendências inerentes a excessos desestabilizadores na tomada e aversão a riscos.

Um sistema com um regime mais robusto de resolução de riscos, com a capacidade prática de

permitir fechamentos sistemáticos de grandes instituições financeiras e a administração de

recursos líquidos de segurança de forma a reforçar noções de disciplina para administradores,

acionistas e credores sofisticados.

Um sistema no qual aqueles responsáveis pela regulamentação e supervisão prudenciais tenham

um grau elevado de independência política e de mercado e os recursos necessários para

supervisionar instituições gigantescas e se manter à frente de inovações no mercado.

Um sistema no qual as responsabilidades dos bancos centrais em promover estabilidade

financeira sejam apoiadas por autoridade e capacidade adequadas.

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19 Financial ReFoRm A Framework for Financial Stability

Um sistema no qual haja fortes incentivos para se atingir níveis mais elevados de transparência de risco no tocante a produtos, mercados e instituições financeiras.

Um sistema no qual haja um grau mais elevado de consistência e coordenação internacional no tocante a políticas regulatórias, supervisórias e contábeis e práticas de resolução de crises.

PRINCÍPIOS ORIENTADORES DA REFORMA FINANCEIRA

É preciso estimular os objetivos gerais da reforma de que o sistema financeiro necessita a serem diversificados, competitivos, predominantemente de propriedade privada e com instituições e mercados gerenciados capazes de atender de forma eficiente e flexível às necessidades de empresas, governos e indivíduos em nível global, nacional e local. O objetivo amplo, seja atingido através de forças espontâneas liberadas pela crise atual ou por políticas públicas planejadas (mais provavelmente, uma combinação de ambos) também deverá englobar a garantia de que a instabilidade em mercados financeiros livres não chegue uma vez mais ao ponto de prejudicar o funcionamento de econômicas nacionais e internacionais.

Ao reconstruir o que é, agora, um sistema despedaçado para atender a estas necessidades, certos princípios orientadores são particularmente relevantes. As recomendações apresentadas neste relatório levam estes princípios em consideração.

1. O papel do setor público na salvaguarda da estabilidade financeira

A volatilidade inerente a mercados financeiros livres e abertos e o perigo de que a volatilidade pode, ocasionalmente, atingir proporções críticas, ameaçando, assim, a estabilidade econômica, precisam ser incluídos no projeto do sistema financeiro. A meta primária da regulamentação prudencial deve ser manter o bem-estar do sistema e conter o risco sistêmico:

a. Submetendo as organizações bancárias de maior porte, mais complexas e consideradas

sistemicamente importantes aos padrões internacionais mais elevados de estreita e constante regulamentação e supervisão.

b. Exigindo-se que instituições financeiras não bancárias também consideradas com de importância sistêmica sejam sujeitas a alguma forma de regulamentação e supervisão prudenciais formais de modo a garantir padrões apropriados de gerenciamento de capital, liquidez e risco.

c. Assegurando que elementos críticos da infraestrutura que suporta o sistema financeiro, inclusive sistemas de compensação e liquidação e as estruturas legais relacionadas a eles sejam tornados suficientemente robustos para permitir o fechamento sistemático de complexas instituições financeiras de grande porte.

d. Evitando práticas contábeis, regulatórias ou outras que possam, inadvertidamente, reforçar as atuais tendências à exuberância excessiva ou aversão a riscos.

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2. Concorrência justa e eficaz

Para aumentar a concorrência justa e eficaz, é preciso que as políticas e enfoques regulatórios, na medida do possível, tratem os serviços financeiros comuns a diferentes instituições de forma uniforme buscando:

a. Um equilíbrio entre os benefícios de uma concorrência aberta e eficaz e o potencial para o surgimento de concorrência injusta graças à proteção governamental explícita e implícita, concentração excessiva de recursos financeiros ou conflitos excessivos de interesse. b. Um equilíbrio entre a proteção implícita ao acesso ao suporte de liquidez do branco central

para instituições sistemicamente importantes e restrições a atividades sujeitas a riscos ou aquelas que apresentem conflitos de interesse impossíveis de administrar.

3. Supervisão oficial e resposta à crise

Embora os arranjos possam diferir, em seus detalhes, de um país para outro, a supervisão governamental e resposta à crise requerem a criação de uma estrutura forte de órgãos públicos gerenciada de forma profissional, significativamente isolada de interesses políticos ou privados e que assegure:

a. Que os bancos centrais, dado seu papel tradicional e preocupações com a estabilidade

financeira, seus recursos financeiros, suas responsabilidades como “prestamistas de última instância” e sua administração tipicamente exercida por profissionais, bem como elevado nível de independência dentro dos governos, tenham um papel importante na criação de regras e supervisão regulatória;

b. Que, naqueles raros e excepcionais casos em que são necessários recursos orçamentários ou os fundos governamentais são colocados em risco, a responsabilidade fique nas mãos das autoridades governamentais apropriadas para autorizar tais gastos e confirmar e dar suporte às decisões do banco central.

c. Que os procedimentos básicos e recursos para resolução de crise estejam à disposição de órgãos oficiais para lidar com casos de falha institucional tão grave que tenham o potencial de prejudicar o funcionamento do sistema.

4. Consistência e coordenação internacionais

A aplicação efetiva destes princípios requer um nível significativo de consistência internacional em termos de enfoque e coordenação através de:

a. Revisão e reforço dos esforços atuais para atingir padrões em comum de capital, contábeis

e de relatório. b. Chegar-se uma compreensão clara de uma resposta apropriada a falhas ou quase falhas

de instituições financeiras internacionalmente ativas e sistemicamente importantes.

Page 21: Financial Reform

21 Financial ReFoRm A Framework for Financial Stability 5. Governança e gerenciamento de riscos

É preciso reconhecer a necessidade de elevados padrões de governança institucional e gerenciamento de riscos, com ênfase em:

a. Diretorias independentes engajadas e informadas focadas em desempenho a longo prazo; b. Uma cultura corporativa de governança que exija políticas e práticas de compensação bem

equilibradas, que estimule um gerenciamento de riscos disciplinado e que inclua equipes fortes e independentes de gerenciamento de riscos;

c. Políticas regulatórias e supervisórias que reforcem estas práticas e incentivos. QUADRO 1 Principais características de instituições “sistemicamente significativas”

As principais características de instituições “sistemicamente significativas” são:

1. Tamanho. O balancete conceitual é uma medida usada com frequencia, mas, sozinho, não é suficiente.

Medidas mais refinadas devem levar em consideração uma combinação de itens intra- e extra-balancetes com pesos apropriados atribuídos aos riscos. Em seguida, estas medidas devem ser analisadas em relação ao tamanho dos mercados financeiros de um país, seu sistema bancário e economia, com algumas instituições individuais ou sistemas bancários nacionais que apresentam um potencial para problemas que vão além da capacidade de suporte do governo de seu país de origem.

2. Alavancagem. A escala da alavancagem empregada e a velocidade da contração do passivo em potencial

é outra característica importante. Apenas grande porte não é suficiente para determinar um risco sistêmico em potencial, caso este porte seja apoiado por um patrimônio permanente e uma estrutura de passivos consistente com as características dos ativos. É a interação de ativos ilíquidos relativamente arriscados e grandes volumes de financiamento de curto prazo que criam os maiores potenciais para colapsos perturbadores.

3. Escala de interconectividade. Refere-se ao grau em que o colapso em potencial de uma empresa

terá efeitos de arrastamento imediatos e de vulto sobre um grande número de outras instituições financeiras significativas. Neste aspecto, talvez as duas melhores medidas sistêmicas sejam: a escala (tamanho) e escopo (faixa de mercados) de instrumentos de vendas de balcão (OTC) derivados; e a maior exposição ao risco de caução de contrapartida bruta e líquida de empresas específicas. A falta de transparência nesses mercados (em contraste com arranjos de câmbio baseados em câmaras de compensação) tornou particularmente difícil avaliar níveis sistemicamente significativos de interconectividade.

4. O significado sistêmico de serviços de infraestrutura. Certos tipos de serviços de infraestrutura proporcionados por instituições financeiras a outras instituições são de importância sistêmica. Estes incluem serviços de custódia altamente especializada, compensação, liquidação e pagamento e muitos dos serviços proporcionados por corretores preferenciais. Estes serviços são de natureza tal que inevitavelmente requerem grande integração de crédito entre provedores e usuários de serviços, e mudanças em relações de serviço são operacionalmente complexas e tomam muito tempo. 

Page 22: Financial Reform

Um tema que se encontra presente ao longo destes princípios é a importância de conter riscos sistêmicos e manter uma estreita supervisão sobre instituições financeiras de “importância sistêmica”. Para que a indústria e o mercado financeiros possam operar, na medida do possível, de acordo com os princípios de mercados competitivos, será preciso aceitar a saída que firmas não-rentáveis e ineficientes. A regulamentação e a supervisão não podem ter o objetivo de um nível zero de colapsos, mesmo entre os atores de maior porte. A meta primária da regulamentação prudencial deve ser manter o bem-estar do sistema como um todo e conter o risco sistêmico. Os padrões apropriados para avaliar a eficácia regulatória são a limitação do potencial para colapsos institucionais violentamente perturbadores, o gerenciamento do processo de colapsos quanto estes ocorrem de maneira a reforçar a disciplina em meio à alta administração e aos acionistas e a contenção de repercussões de colapsos para o mercado.

Existem características gerais que, em conjunto, definem uma instituição financeira como tendo “potencial para ser sistemicamente significativa”. Estas incluem tamanho, alavancagem, escala de interconectividade e o nível em que a empresa fornece serviços de infraestrutura vitais para os mercados. Estas características encontram-se descritas em maiores detalhes no Quadro 1.

Na prática, é uma certa combinação dessas características que faz com que uma instituição tenha o potencial para ser “sistemicamente importante”. Embora estes critérios possam ser definidos com antecedência em termos gerais, seria sensato ou prudente que os reguladores não os definissem com precisão estatística ou de forma inflexível. Ao invés disso, um regulador prudencial de um país (em cooperação com bancos centrais daqueles países onde estes papéis são separados) deveria ter autoridade suficiente para modificar os critérios usados para fazer estas avaliações. O resultado final deve oferecer uma base para se identificar empresas que provavelmente requeiram uma intervenção regulatória em potencial para gerenciar o processo de colapso e, portanto, também requerem uma maior supervisão preventiva.

A expressão corrente, “grande demais para falir” é tanto enganadora quanto simples demais para refletir a realidade do suporte oficial a instituições “falidas”. No que é, talvez, o mais típico dos cenários, de fato permite-se que a instituição entre em falência, no sentido de que praticamente todos os investimentos acionários são perdidos. Os depositantes e, muitas vezes, outros credores não sofisticados, são protegidos, mas a instituição perde sua identidade através de liquidação, fusão ou propriedade coletiva efetiva. Em alguns casos recentes, foi dado suporte de forma a não apenas proteger todo tipo de credores, mas também permitir que os acionistas retivessem certo nível de participação acionária na esperança de uma recuperação, o que se encaixa com maior precisão na descrição de “grande demais para falir”.

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23 Financial ReFoRm A Framework for Financial Stability QUATRO RECOMENDAÇÕES-CHAVE

As propostas de reforma descritas no corpo deste relatório consistem de um extenso conjunto de mudanças inter-relacionadas em políticas, práticas e padrões de mercado. Estas podem ser melhor visualizadas no contexto das quatro recomendações-chave amplamente delineadas a seguir, as quais fornecem uma estrutura para o programa geral de reforma:

I. É preciso eliminar lacunas e fraquezas na cobertura proporcionada pela regulamentação e supervisão prudenciais. Independente de seu tipo, todas as instituições sistemicamente significativas devem estar sujeitas a um nível apropriado de supervisão prudencial. (Recomendações 1 a 5.)

II. É preciso melhorar a qualidade e eficácia da regulamentação e supervisão prudenciais. Isso irá requerer reguladores prudenciais com melhores recursos e bancos centrais que operem dentro de estruturas capazes de proporcionar níveis muito mais elevados de coordenação de política em escala nacional e internacional. (Recomendações 6 a 8.)

III. É preciso reforçar políticas e padrões institucionais, com particular ênfase em padrões de governança , gerenciamento de risco, capital e liquidez. Políticas regulatórias e padrões contábeis também devem oferecer proteção contra efeitos pró-cíclicos e devem ser consistentes com a manutenção de práticas comerciais prudentes. (Recomendações 9 a 12.)

IV. É preciso tornar os mercados e produtos financeiros mais transparentes, com incentivos a risco e prudenciais mais bem alinhados. É preciso tornar a infraestrutura de suporte a estes mercados mais robusta e resistente a falhas em potencial até de grandes instituições financeiras. (Recomendações 13 a 18.)

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PARTE 2 Redefinição dos limites da regulamentação prudencial

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2 Reforma Financeira Uma Estrutura para Estabilidade Financeira

RECOMENDAÇÃO-CHAVE I É preciso eliminar lacunas e fraquezas na cobertura proporcionada pela regulamentação e supervisão prudenciais. Independente de seu tipo, todas as instituições sistemicamente significativas devem estar sujeitas a um nível apropriado de supervisão prudencial.

Em resposta a uma tensão dinâmica constante entre forças competitivas de mercado, as

inovações que alteram estas forças e as leis e regulamentos que restringem escolhas e influenciam inovações, as instituições financeiras e os sistemas nos quais elas operam desenvolvem uma tensão dinâmica e, depois, reagem a subseqüentes desenvolvimentos do mercado. Ao mesmo tempo em que o nível crescente de integração internacional dos mercados financeiros ajudou a gerar um certo grau de convergência das características-chave dos sistemas financeiros nacionais, ainda resta um volume significativo de diferenças entre as estruturas de instituições financeiras dos países mais desenvolvimentos e emergentes e na natureza da reação governamental a colapsos e perturbações do mercado.

Em épocas de crise financeira, como a que atravessamos agora, estas diferenças podem influenciar de maneira significativa a forma como a crise se desenrola e que tipo de respostas, em termos de políticas, são necessárias. É significativo que ações tomadas por um ou mais países europeus para proteger depositantes influenciem rapidamente os fluxos de fundos em outras jurisdições nacionais com diferentes sistemas bancários e autoridades regulatórias. Devido ao número de características institucionais distintas, a atual crise levantou um número excepcionalmente grande de questões dentro dos Estados Unidos sobre a melhor forma de definir os limites da regulamentação e supervisão prudenciais.

O sistema financeiro norte-americano é vasto, complexo e multifacetado, com características que o distinguem de sistemas em outros países importantes. Estas características, que levaram a desafios específicos para reagir à crise atual, são: (a) o tamanho e importância relativos dos mercados de capital; (b) o tamanho e importância relativos (até recentemente) de bancos de investimentos independentes; (c) a natureza regional e local de grande parte do sistema de bancos de depósito; (d) a natureza da regulamentação do setor de seguros; (e) o vulto do envolvimento governamental direto e patrocinado na intermediação de crédito baseada em mercado; e (f) a complexidade da estrutura norte-americana de regulamentação e supervisão (estas características encontram-se descritas em maiores detalhes no Quadro 2).

Em vários aspectos importantes, foram problemas em empresas sub- ou não-regulamentadas que se tornaram um ponto crítico para a disseminação da crise do subprime. No início de 2008, havia oito empresas financeiras norte-americanas não bancárias de porte muito grande que seriam consideradas como sistemicamente significativas; cinco bancos de investimento, a maior companhia de seguros do mundo e dois Empreendimentos Financiados pelo Governo (GSEs). Todas essas empresas sofrerem transformações radicais.

Também houve uma corrida aos fundos mútuos do mercado financeiro norte-americano, o que levou a um programa precipitado de seguros federais temporários, apoiado por um uso sem precedentes de recursos do Fundo de Estabilização de Câmbio do Tesouro. Uma série de programas do banco central proporcionou considerável apoio direto aos mercados financeiros de papéis

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comerciais. Por fim, com a criação de um fundo de grandes proporções autorizado pelo Congresso, o Programa de Ajuda a Fundos com Problemas (TARP), expandiu programas de garantia de empréstimos da Corporação Federal de Seguros de Depósitos (FDIC) e extensos programas de suporte do banco central ao mercado de capitais, suporte do setor financeiro público sendo proporcionado à estrutura de capital de instituições e em um amplo leque de mercados.

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Reforma Financeira Uma Estrutura para Estabilidade Financeira 2

QUADRO 2 O sistema financeiro dos EUA

A seguir encontra-se a descrição de seis características específicas do sistema financeiro norte-americano que o distinguem de outros sistemas.

1. O tamanho e importância relativos dos canais de intermediação de crédito baseados no mercado de

capitais. Isto inclui os mercados de fundos corporativos (títulos e papéis comerciais de grau de investimento e alto retorno); os mercados para crédito baseado em ativos (moradia, empréstimos pessoais, cartões de crédito e muitos outros valores a receber e mercados para produtos de crédito estruturado); o tamanho e importância dos mercados para produtos derivados de vendas de balcão (OTC); e o canal de mercado para fundos mútuos do mercado financeiro para intermediar ativos líquidos e atender necessidades de liquidez. Os mercados para financiamento de moradias incluem elementos adicionais de redes de corretores e emitentes hipotecários que operam em grande medida, se não inteiramente, fora dos limites do sistema bancário regulado. Claro está que todos estes canais de mercado necessitam de suporte do sistema bancário, mas, como canais alternativos em relação a este sistema, eles são muito grandes e relativamente mais significativos do que na maioria dos outros países.

2. O (até bem recentemente) tamanho e importância relativos de bancos de investimento

independentes, os quais se distinguem dos bancos comerciais, no processo de intermediação de crédito baseado em mercado. Isto está estreitamente vinculado a desenvolvimentos no ponto 1 acima e, também, à separação forçada destas duas partes do setor durante a maior parte do século XX. À medida que os setores de bancos comerciais e bancos de investimento se fundiram em concorrência direta (e à medida que os tradicionais administradores de ativos institucionais viram limitada sua capacidade de se adaptarem ao surgimento de mercados de produtos derivados e várias outras ferramentas de alavancagem), os consórcios privados de capital (ou seja, fundos de ações privados e fundos especulativos) cresceram até uma escala e posição de relativa importância sem igual em qualquer outro grande sistema financeiro, com possível exceção do Reino Unido.

3. A natureza local e regional do sistema bancário com base em depósitos nos Estados

Unidos. Até recentemente, apenas um dos cinco maiores bancos dos EUA operava com uma franquia de operações de depósito em escala nacional. Ademais, embora limitados, ainda existem arranjos que permitem que corporações financeiras e não-financeiras de natureza não-bancária controlem bancos de poupança segurados pelo governo e bancos industriais garantidos por decretos estaduais, enquanto sujeitas a um mínimo de, ou mesmo nenhuma, regulamentação e supervisão consolidadas.

4. A ausência de regulamentação em escala nacional do segmento de seguros do sistema financeiro

norte-americano. Esta estrutura de leis e regulamentos de natureza estatal, ao invés de nacional, limitou o grau de eficácia da supervisão de atividades, no mercado de capitais, de grandes e complexas afiliadas de companhias de seguros regulamentadas.

5. O escopo do envolvimento direto e patrocinado do governo federal em canais de financiamento de moradias baseados no mercado. Este tem se mostrado amplo, embora não amplamente compreendido, o que reflete o volume do financiamento para hipotecas residenciais e o suporte político ao mesmo. O tamanho combinado de garantias intra-balanço somadas às extra-balanço de Empreendimentos Patrocinados pelo Governo (os quais incluem Fannie Mae, Freddie Mac e o

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Federal Home Loan Bank System) e o tamanho de entidades de obrigações de responsabilidade geral, tais como a Federal Housing Administration e a Government National Mortgage Association, representam uma significativa influência direta e indireta no setor público em relação ao tamanho do mercado norte-americano.

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26 Reforma Financeira Uma Estrutura para Estabilidade Financeira

Em resposta aos eventos e intervenções regulatórias impulsionados pela crise, os Estados Unidos estão avançando rapidamente para um sistema financeiro no qual um pequeno número de companhias controladoras de bancos excepcionalmente grandes forma o núcleo do sistema. Estas firmas são e, presumivelmente, continuarão a ser, caracterizadas por uma escala e complexidade que principiantes no mercado e governos irão considerar tanto como grandes demais quanto excessivamente interconectadas para que lhes sejam permitido entrar em mora por obrigações a credores ou desaparecer. Realmente, seu colapso em potencial provavelmente exigiria intervenção e assistência governamental em larga escala, sendo que poucas instituições nacionais poderiam adquiri-las em sua totalidade, se é que alguma seria capaz de fazê-lo.

Estas instituições centrais estão conquistando posições de domínio ainda mais amplo em termos de atividades no mercado de créditos e capitais e nos segmentos de bancos corporativos de grande escala, operações de depósito em nível nacional e muitos outros segmentos dos setores corporativo e financeiro varejista. Caso a lei e os regulamentos o permitam, estas empresas provavelmente irão se integrar ao longo de linhas comerciais e localizações geográficas, manter uma presença como operadores de consórcios privados de capital, dominar o núcleo dos mercados de produtos derivados de OTC e preencher qualquer vácuo criado pela truncagem dos GSEs em termos das várias formas de financiamento de moradias.

Estes desenvolvimentos são vistos por muitos como o prenúncio de outra rodada de extensa consolidação do sistema bancário norte-americano. Quão rápido e até que ponto isso irá progredir dependerá não somente de desenvolvimentos econômicos e de mercado, mas também da forma como os programas governamentais irão, deliberadamente ou não, encorajar fusões e de como limites estatutários à concentração de depósitos e certas funções serão administrados ou modificados.

Claramente, estes desenvolvimentos levantam questões de políticas, inclusive relativas à concentração excessiva, concorrência justa, risco moral e conflitos de interesse, que não são novas. No passado, estas foram abordadas de forma fragmentada e mal-coordenada. A aceleração dos recentes eventos e a escala das mudanças estruturais colocadas em movimento aumentou tanto a complexidade quanto a urgência de se desenvolver políticas mais apropriadas.

Em resumo, forças do mercado e medidas impulsionadas pela crise levaram os Estados Unidos além, talvez, de um ponto onde não há mais retorno, na direção de um sistema financeiro com uma concentração muito maior de recursos financeiros e influência em torno de um pequeno número de organizações bancárias extremamente grandes e complexas. Em outros países de grande porte, a concentração em relativamente poucas instituições tem sido mais comum. Contudo, as mudanças forçadas pela presente crise financeira no sentido de maior consolidação em sistemas bancários nacionais e renovada importância do setor bancário em relação aos setores financeiro não bancário e de mercado de capitais, são de outra magnitude.

Os eventos de 2008 reforçaram a importância de se redefinir as fronteiras da “rede de segurança” oficial e da regulamentação prudencial, reforçar a eficácia e racionalização da estrutura de regulamentação financeira e reavaliar o papel dos bancos centrais e a eficácia das ferramentas à sua disposição.

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Financial ReFoRm A Framework for Financial Stability 2 1. Regulamentação prudencial e supervisão de organizações bancárias

Não importa quão robustos sejam os mecanismos de gerenciamento de falhas, os mercados provavelmente pressuporão que as instituições financeiras regulamentadas de maior porte irão, em grande medida, ser protegidas contra a força total da disciplina do mercado, com a consequencia em potencial de que a tomada de riscos possa ser encorajada (a essência do risco moral). Para compensar isto e manter a probabilidade de um colapso em potencial de tais instituições em níveis baixos o bastante para serem aceitos, as propostas de padrões regulatórios e de supervisão precisam ser atualizadas. O corolário necessário é uma maior ênfase na qualidade e nível dos recursos regulatórios e supervisórios.

A experiência recente nos Estados Unidos e em outros países revelou casos nos quais perdas inesperadas e de um escopo insustentável na administração de carteiras próprias, elevada exposição a produtos de crédito estruturado e trocas de créditos não cumpridos, tais como o patrocínio de fundos especulativos, colocaram em risco a viabilidade de todo o empreendimento e sua capacidade de cumprir com suas responsabilidades para com seus clientes, contrapartes e investidores.

Estas atividades e o modelo de “criação e cessão”, que facilitaram a venda e revenda de pacotes altamente projetados de empréstimos consolidados são, na maior parte, de origem relativamente recente. Em essência, todas estas atividades se afastam do conceito geral de relacionamento bancário, baseado em atendimento individual ao cliente, na direção de um sistema financeiro orientado para transações em um mercado de capitais mais impessoal. O que está em jogo é a extensão na qual estes enfoques podem, de forma razoável, ser combinados em uma única instituição e, em particular, naquelas instituições bancárias altamente projetadas que se encontram no núcleo do sistema financeiro.

Quase que inevitavelmente, a complexidade de grande parte das atividades do mercado de capitais proprietários e a consciência da necessidade tais atividades, limita a transparência tanto para investidores quanto para credores. Conceitualmente, é possível reduzir os riscos envolvidos limitando-se a alavancagem e acrescentando-se elevados padrões de capital e uma supervisão excepcionalmente severa.

Alguns membros do G30 consideram que tal enfoque poderia ser suficiente para lidar com estes riscos. Na prática, qualquer enfoque deve reconhecer que a extensão de tais riscos, o potencial para volatilidade e os conflitos de interesse serão difíceis de medir e controlar. A experiência demonstrou que, sob pressão, recursos de capital e de crédito serão desviados para cobrir perdas, enfraquecendo, assim, a proteção aos interesses dos clientes. Complexos e inevitáveis conflitos de interesse entre clientes e investidores poderão ser intensos. Além disso, na medida em que estas atividades de carteiras próprias forem desempenhadas por empresas supervisionadas pelo governo e protegidas do pleno impacto do colapso em potencial, há um forte elemento de concorrência injusta em relação a instituições “independentes”. Em última análise existem mais aspectos intangíveis que foram destacados pela experiência recente. É realmente possível, com toda a complexidade, riscos e conflitos em potencial, que até mesmo a diretoria e alta administração mais dedicadas possam compreender um mix de atividades tão diversificado e complexo e manter controle sobre ele?

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32 Financial ReFoRm A Framework for Financial Stability

Estas questões estão relacionadas ao problema de se a regulamentação e supervisão prudenciais deveriam seguir linhas funcionais ou consolidadas: a supervisão primária de atividades comerciais e de títulos, fundos especulativos, administração de investimentos e outros elementos de uma grande organização bancária deveriam ser de responsabilidade de autoridades de segurança ou do mercado de modo a facilitar a igualdade competitiva, ou seria melhor que um único regulador assumisse a responsabilidade pela supervisão prudencial de toda uma organização bancária diversificada ou outras instituições de importância sistêmica? Se a consolidação da supervisão ocorrer em uma instituição separada do banco central, o prestamista de “última instância” para instituições em situação de emergência, quais princípios podem ser estabelecidos para encorajar relações apropriadas entre as várias agências e o ministério da fazenda ou de finanças que incluam amplas responsabilidades governamentais?

Definir um enfoque razoável e desejável no sentido de enfrentar estes desafios organizacionais e regulatórios está no cerne do esforço para se criar um novo sistema financeiro. As recomendações a seguir sugerem tal enfoque.

Recomendação 1:

a. Em todos os países, as atividades de instituições de operações de depósito seguradas

pelo governo devem ser sujeitas à regulamentação e supervisão prudenciais por parte de um

único regulador (ou seja, supervisão consolidada). As organizações bancárias de maior porte

e complexidade devem estar sujeitas a regulamentação e supervisão particularmente severas

de modo a atender elevados padrões internacionais em comum. b. O empreendimento de atividades de carteiras proprietárias que ofereçam riscos

particularmente elevados e sérios conflitos de interesse por parte de instituições bancárias de grande porte e sistemicamente importantes deveria ser restrito. O patrocínio e gerenciamento de consórcios de capital privados amalgamados (ou seja, fundos especulativos e de ações privados, nos quais o capital próprio das instituições bancárias é amalgamado com fundos de clientes) deveriam, normalmente, ser proibidos, e a administração de carteiras próprias de vulto deveria ser limitada a estritas exigências de capital e liquidez. A participação na criação de pacotes e venda de títulos coletivos de dívidas deverá exigir a retenção de uma parte significativa do risco de crédito.

c. No geral, instituições de operações de depósito seguradas pelo governo não deveriam ser de propriedade de organizações não financeiras não regulamentadas ou controladas pelas mesmas, e deveriam ser impostos limites estritos a negócios com tais instituições bancárias e de carteiras proprietárias parciais não bancárias.

d. Para evitar concentração excessiva em sistemas bancários nacionais, com implicações para uma supervisão governamental eficaz, controle administrativo e concorrência efetiva, os limites nacionais à concentração de depósitos deveriam ser definidos em níveis apropriados para cada país.

Page 33: Financial Reform

Financial ReFoRm A Framework for Financial Stability 2 2. Supervisão consolidada de instituições financeiras não bancárias

A recente experiência em alguns países de lidar com instituições financeiras não bancárias com problemas mas sistemicamente significativas indicou a necessidade da regulamentação e supervisão consolidadas de tais instituições.

Recomendação 2:

a. Aqueles países que não possuem tais arranjos deveriam estabelecer uma estrutura de

regulamentação e supervisão prudenciais consolidadas em nível nacional sobre grandes companhias de seguro ativas em escala internacional.

b. Um regulador prudencial apropriado deveria ser indicado para aqueles grandes bancos de investimentos e corretores que não se encontram organizados como sociedades bancárias.

3. Fundos mútuos e supervisão do mercado de dinheiro

A ampla corrida aos fundos mútuos do mercado de dinheiro realçou os perigos oferecidos por instituições sem capital, supervisão ou uma rede de segurança, que operam em grandes coligações de transformação de maturidade e risco de liquidez. Estes foram acruídos da provisão para serviços de contas de transações, com retiradas à vista ao par, em imitação aos serviços de bancos comerciais regulados. Seria preciso traçar uma distinção regulatória entre aqueles serviços que, mais apropriadamente, deveriam estar alojados em bancos regulamentados e supervisionados, particularmente o direito de retirar fundos à vista ao par, e aqueles que possam ser razoavelmente providos por fundos mútuos focados em instrumentos de crédito de juros fixos de curto prazo.

Recomendação 3:

a. Dever-se-ia exigir que fundos mútuos do mercado de dinheiro que desejarem continuar a

oferecer serviços de linhas de crédito, tais como serviços de transação em conta bancária, retiradas

em fundos à vista ao par e garantias de manter um valor de bem líquido (NAV) estável se

reorganizassem como bancos para fins especiais com regulamentação e supervisão apropriadas,

garantias governamentais e acesso a recursos de prestamista de última instância do banco central.

b. Aquelas instituições que permanecerem como fundos mútuos do mercado de dinheiro deveriam oferecer apenas uma opção conservadora de investimentos com modesto potencial de lucro a risco relativamente baixo. Os veículos deveriam ser claramente diferenciados de instrumentos segurados pelo governo federal oferecidos pelos bancos, tais como fundos de depósito do mercado de dinheiro, sem garantias explícitas ou implícitas para investidores de que possam ser feitas retiradas à vista do fundo que sejam tão estáveis quanto o NAV. Não se deveria permitir que fundos mútuos do mercado de dinheiro empregassem precificação de custo amortizada, com a implicação de que estes incluem um NAV flutuante, ao invés de um fixado a US$1,00 por ação.

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34 Financial ReFoRm A Framework for Financial Stability

4. Supervisão de consórcios privados de capital

A questão do tratamento regulatório prudencial apropriado de consórcios privados de capital – mais especificamente, fundos especulativos – foi analisada numerosas vezes por tomadores de decisão desde o colapso do Long Term Capital Management (Gerenciamento de Capital de Longo Prazo) em 1998. A visão predominante é de que se deveria continuar a confiar em uma combinação de: (a) maior disciplina do mercado, (b) supervisão indireta via estreita supervisão dos intermediários regulamentados utilizados por eles para serviços de financiamento e operação e (c) persuasão moral para encorajar a disseminação de melhor gerenciamento de risco e práticas de conformidade. Em algumas jurisdições, tais como o Reino Unido, isto foi suplementado por supervisão regulatória formal dos administradores locais (mas não dos fundos em si mesmos) e arranjos mais formais para desenvolver padrões de melhores práticas que foram encorajados pelo recém-criado Hedge Funds Standards Board (Conselho de Padrões para Fundos Especulativos).

Tomadas em conjunto, estas ações obtiveram sucesso em certo nível, na medida em que produziram melhorias nas práticas de gerenciamento de riscos e financiamento de fundos especulativos e melhores práticas de gerenciamento de risco de contrapartida. Apesar disso, a volatilidade foi maior do que a antecipada, com casos de consequencias fortemente negativas para instituições patrocinadoras, inclusive algumas de importância sistêmica.

A questão no futuro é se a experiência irá justificar uma continuidade da situação atual, em que os fundos especulativos são, em grande medida, não regulamentados e, caso contrário, qual será o alcance de tal regulamentação. Há várias indicações no sentido de uma regulamentação governamental limitada e flexível. A necessidade de maior transparência apóia a criação de uma autoridade formal para registrar e acompanhar estes fundos, em termos de tamanho, uso de alavancagem, estilos de risco e outras variáveis importantes. Esta autoridade deverá estar associada às jurisdições nas quais os gerentes de fundos conduzem a maior parte de seus negócios. Segundo, esforços para obter uma melhoria contínua na disciplina do mercado e de contrapartes deverão ser intensificados por meio de uma autoridade regulatória em relação aos fundos e administradores. Terceiro, a maior ênfase na estabilidade financeira dos mandatos dos reguladores prudenciais e bancos centrais indica a necessidade de um acesso maior e mais sistêmico a informações cruciais para a compreensão do potencial para um crescente risco de desequilíbrios no sistema. Por fim, não pode haver garantias (especialmente se este setor continuar a crescer em importância relativa) de que os fundos de maior porte e mais complexos não venham a se tornar, no futuro, fontes de um risco sistêmico significativo .

Embora menos prementes, considerações similares podem ser relevantes para grandes fundos privados de ações que operam com base em empréstimos substanciais. Em contraste, fundos de capital de risco que, por sua própria natureza, lidam com empresas de pequeno porte e proporcionam o capital e suporte gerencial essenciais para inovação empresarial, precisam se ver livres de uma supervisão inibidora.

Recomendação 4:

Page 35: Financial Reform

Financial ReFoRm A Framework for Financial Stability 2 a. Deve-se exigir que gerentes de consórcios privados de capital que se valem de substanciais fundos de empréstimos se registrem junto a um regulador prudencial nacional apropriado. Deve haver um tamanho mínimo e isenções de capital de risco para tais requisitos regulatórios.

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36 Reforma Financeira

b. O regulador prudencial de tais gerentes deveria ter autoridade para requerer relatórios

regulatórios periódicos e divulgações públicas de informações apropriadas referentes ao

tamanho, estilo de investimento, empréstimo e desempenho dos fundos gerenciados. Uma vez

que mesmo um sistema modesto de registro e regulamentação pode criar uma falsa impressão

de um menor risco de investimento, seria preciso reavaliar os padrões de divulgação e

elegibilidade. c. No caso de fundos acima de um tamanho que possa ser considerado como tendo o potencial

para se tornar sistemicamente significativo, o regulador prudencial deveria ter autoridade para estabelecer padrões apropriados de gerenciamento de capital, liquidez e risco.

d. Para estes fins, a jurisdição do regulador prudencial apropriado destes fundos deveria se basear na localização comercial primária do gerente dos mesmos, independente do domicílio legal dos fundos em si. Dada a natureza global dos mercados nos quais tais gerentes e fundos operam, é imperativo que uma estrutura regulatória seja aplicada em uma base consistentemente internacional.

5. Empreendimentos financiados pelo governo

O modelo de empresas híbridas de Empreendimentos Financiados pelo Governo (GSEs) para financiamento de moradias, no qual elas são tanto empresas privadas que visam lucro quanto agentes da política governamental, provou-se inviável ao longo do tempo, particularmente em períodos de crise. A noção de um suporte governamental implícito facilitou um nível de alavancagem e tomada de risco que se mostrou insustentável. A supervisão regulatória especializada foi tanto inadequada quanto excessivamente suscetível a pressões políticas. Além disso, houve um descompasso em incentivos a regras de capital bancário para que os bancos assumissem uma exposição excessiva a estes GSEs. A concorrência de empresas do mercado privado também induziu as GSEs a se expandirem na direção de atividades de mais alto risco e mais baixos padrões de concessão de crédito no interesse de manter uma posição dominante no mercado. Assim, diante da queda dos preços do mercado habitacional, as GSEs perderam sua capacidade de dar um suporte sólido ao mercado hipotecário, que era sua delegação pública. Por fim, o governo não teve escolha senão intervir diretamente.

Tiraram-se daí duas importantes lições em termos de política financeira: (a) a importância crucial de uma clara separação entre suporte financeiro governamental e atividades privadas com fins lucrativos; e (b) a necessidade de que qualquer nível escolhido de suporte governamental seja explícito e devidamente contabilizado. Estas lições são relevantes para outras indústrias e países.

Recomendação 5:

a. Para os Estados Unidos, a resolução sobre políticas relativas ao papel apropriado das GSEs

no tocante a finanças hipotecárias deveria se basear em uma clara separação entre as funções de intermediação de risco de financiamento hipotecário do setor privado e as garantias do setor governamental ou seguros de risco de crédito hipotecário.

b. Entidades governamentais que dão suporte ao mercado hipotecário por meio de compras de

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Financial ReFoRm A Framework for Financial Stability 2 mercado deveriam receber apoio estatutário e financeiro explícitos. Dever-se-ia evitar híbridos de propriedade privada e patrocínio governamental. Com o tempo, as atividades de compra e portfólio dos GSEs existentes deveriam ser segregadas para entidades do setor privado, sendo que o governo, se desejar, poderia manter a capacidade de intervir no mercado por meio de uma instituição de propriedade integralmente pública.

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38 Reforma Financeira

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PARTE 3 A estrutura da regulamentação prudencial e coordenação interna

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Reforma Financeira Uma Estrutura para Estabilidade Financeira

RECOMENDAÇÃO-CHAVE II É preciso melhorar a qualidade e eficácia da regulamentação e supervisão prudenciais. Isso irá requerer reguladores prudenciais com melhores recursos e bancos centrais que operem dentro de estruturas capazes de proporcionar níveis muito mais elevados de coordenação de política em escala nacional e internacional.

6. Estrutura regulatória

O recente relatório do G30, The Structure of Financial Supervision [A Estrutura da Supervisão Financeira] apresenta, em alguns detalhes, as características de quatro diferentes enfoques para a organização da regulamentação e supervisão financeiras. Os quatro enfoques são: institucional, funcional, integrado e twin peaks. Estes diferentes enfoques encontram-se descritos em maiores detalhes no Quadro 3.

Os prós e contras conceituais de cada enfoque encontram-se definidos no relatório anterior e não serão repetidos aqui. A direção da mudança está clara – ou seja, no sentido de alguma das variantes do enfoque twin-peaks (regulamentação por objetivo) ou integrado. Cada enfoque e certas variantes dos mesmos são compatíveis com estruturas de grande porte centradas em bancos que estão emergindo na maioria dos países.

QUADRO 3 A estrutura da supervisão financeira

Os quarto enfoques da estrutura de supervisão financeira podem ser descritos como se segue.

1. O enfoque institucional: No qual a situação legal de uma firma (por exemplo, um banco, corretor

ou companhia de seguros) determina qual regulador irá supervisionar suas atividades tanto de uma perspectiva de segurança e estabilidade, quanto da perspectiva da forma de conduzir negócios (por exemplo, na China, Hong Kong e México).

2. O enfoque funcional: No qual a supervisão é determinada pelo ramo de negócios no qual a entidade atua, independente de sua situação legal. Cada tipo de negócio pode ter seu próprio regulador funcional (por exemplo, como ocorre na França e na Itália). (Na prática, uma vez que o enfoque institucional tem sido cada vez menos empregado, os supervisores que utilizam esta estrutura passaram a adotar o enfoque funcional, já que a linha divisória entre ambos tem tendido a desaparecer.) 3. O enfoque institucional: No qual um único regulador universal conduz tanto a supervisão da segurança e estabilidade quanto a regulamentação da forma de conduzir negócios para todos os setores da indústria de serviços financeiros (por exemplo, como ocorre na Alemanha, Japão e no Reino Unido). 4. O enfoque twin-peaks: Uma forma de regulamentação por objetivos no qual há uma separação de funções regulatórias entre dois reguladores: um que desempenha a função de segurança e estabilidade e o outro que se concentra na regulamentação da forma de conduzir o negócio (por exemplo, como ocorre na Austrália e na Holanda).

 

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Reforma Financeira Uma Estrutura para Estabilidade Financeira

Em uma medida significativa, a escolha de qual modelo regulatório estrutural empregar tem refletido um equilíbrio entre preferências específicas de cada país e o peso apropriado atribuído a seus princípios políticos, tais como, nos Estados Unidos, os princípios de controles (checks and balances) e uma mescla de autoridade Federal e Estadual. Não existe, portanto, uma única resposta correta à questão de qual é a melhor estrutura para regulamentação e supervisão financeiras organizadoras. Há, contudo, um consenso emergente sobre alguns pontos-chave, os quais incluem: (a) a necessidade de simplificar e consolidar estruturas excessivamente complexas de forma substancial; (b) a concentração da regulamentação em esclarecimentos e ênfase em princípios orientadores, ao invés de um enfoque baseado em regras; (c) a importância de níveis muito mais elevados de cooperação e coordenação internacional em questões tais como padrões contábeis e de cotação, licenças para operar como firmas regulamentadas, mecanismos de supervisão e, acima de tudo, padrões de capital e liquidez prudenciais; (d) a importância de que arranjos tenham a flexibilidade de se adaptar a novos tipos de instituições, instrumentos e mercados; e (e) a necessidade de assegurar a independência política e mercadológica das autoridades regulatórias nacionais. Por fim, a importância de assegurar que a responsabilidade dos bancos centrais em promover estabilidade financeira seja apoiada por autoridade e capacidade adequadas está sendo reconhecida de forma cada vez mais ampla.

Independente de como os órgãos regulatórios são organizados, os supervisores prudenciais têm a necessidade comum de assegurar da melhor forma que as instituições financeiras se preparem para e reajam adequadamente a períodos de tensão financeira. Este papel requer uma renovação da ênfase na natureza complexa de avaliações sobre a estabilidade de grandes organizações bancárias. O calibre, qualidade e integridade das pessoas necessárias para enfrentar estes desafios indicam a necessidade de esforços mais significativos para atrair, desenvolver e reter indivíduos plenamente capazes de envolver contrapartes mais antigas do setor privado.

Recomendação 6:

a. É preciso que os países reavaliem suas estruturas regulatórias de forma a eliminar

sobreposições desnecessárias e lacunas em sua abrangência e complexidade, removendo, assim, o potencial para arbitragem regulatória e melhorando a coordenação regulatória.

b. Em todos os casos, é preciso que os países reafirmem de forma explícita que as autoridades regulatórias nacionais encontram-se isoladas de pressões políticas e mercadológicas e reavaliem a necessidade de melhorar a qualidade e adequação dos recursos à disposição de tais autoridades.

7. Papel do Banco Central

Uma questão central de política na reorganização regulatória é como obter o equilíbrio correto entre o papel do banco central e o de outros reguladores nacionais. É preciso que os governos nacionais decidam exatamente qual é este ponto de equilíbrio. O que importa é fazer isso de modo a possibilitar que o banco central cumpra devidamente suas principais missões relativas a políticas. Além da missão central de determinar a política monetária, os bancos centrais normalmente têm

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um papel no gerenciamento e

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6 Reforma Financeira Uma Estrutura para Estabilidade Financeira

suporte a sistemas de pagamentos, em proporcionar liquidez para bancos em períodos de tensão e, em termos mais amplos, em manter a estabilidade financeira.

Os eventos recentes proporcionaram o ímpeto para o reconhecimento do papel dos bancos centrais na estabilidade financeira. Isto traz em si a necessidade de uma autoridade adequada e as ferramentas para o desempenho desta missão. Uma autoridade mais ampla capaz de coletar informações úteis para a compreensão de ameaças em potencial à estabilidade é apenas um elemento deste conjunto. Outro elemento é como melhor combater o desenvolvimento de excessos financeiros antes que eles se agravem até atingir as proporções de uma crise. Uma destas ferramentas é um maior número de políticas regulatórias e supervisórias anticíclicas. A análise dos desenvolvimentos do mercado de ativos na definição de políticas monetárias tem se mostrado um debate importante, embora controverso.

Na medida em que o uso em demasia de alavancagem contribui de forma significativa e recorrente para uma possível instabilidade financeira, pode ser útil que os bancos centrais considerem a possibilidade de empregar ferramentas que atuem de forma direta para evitar excessos. Uma possibilidade é a existência de alguma forma de requisitos para cauções de base ampla ou autoridade para definir margens, inclusive a autoridade para definir exigências mínimas de margem inicial e de manutenção ao longo de uma ampla faixa de mercados de ativos e instrumentos financeiros nos quais alavancagem é normalmente empregada. Como ocorre com qualquer autoridade regulamentadora formal, ao longo do tempo as práticas e inovações do mercado irão se desenvolver para explorar brechas e fraquezas. Qualquer regra que force os participantes do mercado a reter mais cauções do que o fariam voluntariamente gera alguns custos. Tais custos, contudo, não justificam o abandono da idéia de expandir as ferramentas disponíveis de modo a conter excessos financeiros extremos que possam vir a criar custos muito maiores.

Um importante elemento na reforma pós-crise é considerar quais ações e inovações para gerenciamento de crises desenvolvidas por bancos centrais são úteis e deveria permanecer como parte do pacote de ferramentas dos tomadores de decisão e quais deveriam ser estritamente limitadas ou completamente eliminadas. A questão é que estender de forma ampla a rede de segurança pode, em realidade, encorajar a tomada de riscos até o ponto de facilitar excessos futuros e levar os bancos centrais a adentrar áreas melhor reservadas às autoridades políticas.

Recomendação 7:

a. Onde já não for este o caso, os bancos centrais deveriam aceitar um papel na promoção e

manutenção da estabilidade financeira. A expectativa deveria ser de que a preocupação referente à estabilidade financeira é relevante não apenas em períodos de crises financeiras, mas também em tempos de rápida expansão de crédito e um uso crescente de alavancagem que podem levar a crises.

b. Em países onde o banco central não é o regulador prudencial, ele deveria ter: (i) um forte papel no corpo governante do regulador ou reguladores prudenciais e de mercado; (ii) um papel de revisão formal no tocante às mudanças propostas em políticas prudenciais chave, especialmente políticas de capital e liquidez e acordos de margens; e (iii) um papel supervisório no tocante às empresas mais sistemicamente significativas e sistemas críticos de

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pagamento e compensação.

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c. É preciso manter uma distinção clara entre as organizações bancárias reguladas com acesso normal aos recursos de liquidez do banco central e outros tipos de instituições financeiras cujo acesso, se houver, deve ser limitado a situações de emergência extrema de uma importância sistêmica crítica.

d. É preciso preservar a autoridade de empréstimo do banco central em circunstâncias extremamente incomuns e exigentes, mas isto deve incluir, por lei ou prática, o suporte de autoridades políticas adequadas para que tal poder seja usado na extensão de créditos desta natureza a instituições não-bancárias.

e. Operações do banco central de suporte a liquidez devem ser limitadas a formas que não envolvam empréstimos contra ativos de alto risco ou sua compra direta, ou outras formas de suporte direto ou indireto de capital a longo prazo. Em princípio, estas formas de suporte são proporcionadas de forma mais apropriada por entidades que respondem diretamente ao governo. Na prática, na medida em que o banco central é a única entidade com os recursos e a autoridade para agir rapidamente no fornecimento este suporte sistêmico, deveria haver aprovação subsequente de uma entidade governamental apropriada com a consequente transferência de risco para esta entidade.

8. Coordenação internacional

Há muito que pode ser feito para melhorar a coordenação internacional regulatória e supervisória. Certas melhorias específicas e necessárias podem e devem progredir dentro da estrutura existente de cooperação internacional. Dentre estas melhorias, as mais prementes e complexas se relacionam ao esforço de tornar a coordenação do gerenciamento de crises mais eficaz e operacional por meio de protocolos aceitos em acordos mútuos. O compartilhamento efetivo e oportuno de informações, inclusive informações sobre grandes instituições individuais que operam em várias jurisdições, é um começo. É preciso haver maior clareza sobre qual jurisdição ou órgão tem a responsabilidade no tocante ao gerenciamento do processo de colapso, e como os custos destes colapsos e o ônus do suporte financeiro, na medida em que seja necessário, serão divididos. No atual ambiente de mercado, algumas das maiores instituições financeiras regulamentadas cresceram até um ponto tal que levanta questões sobre a capacidade dos reguladores de alguns de seus países de origem em gerenciar e fornecer suporte ao processo de resolução de colapsos. Estas preocupações exigem a análise inicial nas altas esferas dos fóruns internacionais de políticas.

Recomendação 8:

a. Encorajamos fortemente as autoridades regulatórias nacionais e ministros de finanças a adaptar

e melhorar os mecanismos existentes de coordenação regulatória e supervisória internacional. As melhorias requeridas deverão se focar em: (i) uma melhor coordenação entre a supervisão das organizações bancárias internacionais de maior porte, com partilha oportuna e aberta de informações, e maior clareza acerca de responsabilidades internas e externas, inclusive no gerenciamento de crises; (ii) avançar além da criação coordenada de regras e definição de padrões no sentido da identificação e modificação de significativas diferenças nacionais na

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aplicação e imposição de tais padrões; (iii) fechar lacunas regulatórias e elevar os padrões, sempre que necessário, no tocante a centros bancários offshore; e (iv) desenvolver os meios para análise conjunta de questões de riscos sistêmicos e as implicações da natureza cíclica de políticas regulatórias e supervisórias; Os órgãos apropriados deveriam reforçar suas ações nos países-membros no sentido de promover a implementação e a imposição de padrões internacionais.

b. Dada a importância recorrente da alavancagem excessiva como um fator que contribui para perturbações financeiras e a crescente complexidade das formas como a alavancagem pode ser empregada intra- e extra-balancetes, reguladores prudenciais e bancos centrais deveriam colaborar com órgãos internacionais em um esforço para definir a alavancagem e, em seguida, coletar e reportar dados sobre o nível de alavancagem e descompassos entre maturidade e liquidez em vários sistemas e mercados nacionais.

c. Na medida em que, em última instância, existe a necessidade por novas organizações regulatórias internacionais, o foco inicial deveria se concentrar no desenvolvimento de mecanismos regionais mais formais, tal como ocorre na União Europeia, mas com atenção contínua para a dimensão global dos mercados financeiros mais significativos.

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PARTE 4 Melhoria de padrões de governança, gerenciamento de riscos, capital e liquidez

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RECOMENDAÇÃO-CHAVE III É preciso reforçar políticas e padrões institucionais, com particular ênfase em padrões de governança, gerenciamento de risco, capital e liquidez. As políticas regulatórias e padrões contábeis também devem proteger contra efeitos pró-cíclicos e ser consistentes com a manutenção de práticas de negócios prudentes.

Há muitos stakeholders envolvidos em sistemas financeiros baseados em Mercado: acionistas, gerentes e outros funcionários, clientes, reguladores e o público em geral. É preciso equilibrar, na medida do possível, os custos e benefícios de cada stakeholder. Um pré-requisito para fazer isso é tornar os incentivos consistentes com o princípio de que aqueles que assumem os riscos deveriam arcar com suas consequencias. Quanto mais esta condição é atendida (e o papel dá política pública é ajudar nesse sentido), menor é o risco de instabilidade sistêmica. Um segundo pré-requisito é que os riscos devem ser os mais transparentes possíveis para os stakeholders relevantes em instituições financeiras. Quanto mais opacos os riscos tomados, maior dificuldade têm os stakeholders em avaliar se há um equilíbrio razoável entre os riscos e as recompensas esperadas. Analisando em retrospectiva o leque de problemas encontrados durante esta crise financeira, encontramos numerosos exemplos de descompasso em incentivos, de incentivos que contribuem para a instabilidade e ciclicalidade de mercados financeiros e de falhas na transparência de riscos, tanto em empresas quanto em mercados e produtos estruturados. O primeiro passo para melhorar os incentivos e a transparência deve ser tomado na esfera das empresas do setor privado que são centrais para o processo de intermediação de riscos financeiros. Outras medidas podem ser tomadas por reguladores e por aqueles encarregados de definir padrões contábeis.

9. Padrões regulatórios de governança e gerenciamento de riscos

Para ser efetiva e sustentável, a melhoria na governança e o gerenciamento de riscos deve ser liderada por empresas do setor privado incorporadas a uma cultura empresarial que promova disciplina e se concentre em desempenho a longo prazo. A direção deste processo deve começar do topo, com diretorias engajadas e capazes de assumir a tarefa de supervisionar as complexidades do moderno gerenciamento de riscos financeiros. Essas complexidades não podem ser uma desculpa para a existência de diretorias mal preparadas e pouco informadas. Em primeira instância, a alta administração tem a responsabilidade de dar às diretorias informações oportunas e, se necessário, o treinamento necessário para fazer uso delas. Por sua vez, as diretorias precisam se imbuir de treinamento especializado o suficiente para absorver estas informações e agir de acordo com elas, até, se necessário, com a ajuda de um consultor externo independente. Se estes critérios não puderem ser atendidos, o argumento de que é preciso reduzir o tamanho e complexidade destas organizações se torna relevante.

Em termos de melhorias específicas nas práticas de gerenciamento de riscos das empresas, nos últimos anos os líderes da indústria financeira se reuniram para avaliar sua capacidade e disposição

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em cooperar na tomada de medidas corretivas para prevenir crises. Não está tão claro quão diligentes as empresas e reguladores têm se mostrado na adoção e implementação das melhorais recomendadas. Está bem claro aquilo que teria sido recomendado antes desta mais severa das crises não teria sido suficiente para prevenir a erosão da disciplina em muitas dessas empresas líderes. Isto sugere a necessidade de um acompanhamento mais sistemático e rigoroso da implementação de melhores práticas por parte da alta administração, das diretorias e dos reguladores. Por fim, esta crise deixou clara a importância do alinhamento entre as práticas de compensação e os incentives e controles no programa de gerenciamento de riscos de uma empresa. A alta administração e as diretorias precisam garantir uma consistência neste aspecto, alinhando o pagamento com interesses a longo prazo dos acionistas, ao invés de retornos a curto prazo que não podem ser sustentados e envolvem maior risco. Os reguladores precisam confirmar que esta medida foi tomada e incluir incentivos em descompasso em suas avaliações gerais referentes à qualidade das capacidades de gerenciamento de risco da empresa.

Recomendação 9:

É preciso elevar os padrões regulatórios para governança e gerenciamento de riscos, com ênfase particular em:

a. Reforçar as diretorias através do maior envolvimento de membros independentes que sejam

especialistas na indústria financeira e em gerenciamento de riscos; b. Coordenar a supervisão da diretoria sobre as políticas de compensação e gerenciamento de

riscos com a meta de equilibrar a tomada de riscos com prudência e interesses de longo prazo e retorno para os acionistas;

c. Assegurar revisões e exercícios sistemáticos em nível da diretoria com o propósito de estabelecer os parâmetros mais importantes para definir a tolerância a riscos da empresa e avaliar seu perfil de risco em relação a esses parâmetros.

d. Assegurar que as funções de gerenciamento de riscos e auditoria sejam desempenhadas por áreas totalmente independentes e providas de recursos adequados da empresa. A função de gerenciamento de riscos deveria se reportar diretamente ao diretor geral, e não ao diretor de outra área funcional;

e. Conduzir revisões periódicas da vulnerabilidade em potencial de uma empresa a riscos originários de concentrações de crédito, descompassos excessivos de maturidade, alavancagem excessiva ou excesso de dependência da liquidez do mercado de ativos;

f. Assegurar que todas as grandes empresas tenham a capacidade de monitorar continuamente, em uma questão de horas, suas maiores exposições a crédito de contrapartida ao longo de todo o empreendimento e colocar esta informação à disposição, conforme apropriado, de sua alta administração, diretoria, regulador prudencial e do banco central;

g. Assegurar que toda a indústria aceite muitas das melhorias específicas na prática de gerenciamento de riscos contidas nos relatórios do Grupo de Políticas de Gerenciamento de Riscos de Contrapartida (CRMPG) e do Instituto de Finanças Internacionais e haja de acordo com elas.

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2 Reforma Financeira Uma Estrutura para Estabilidade Financeira

10. Padrões de capital regulatório

O setor bancário é inerentemente cíclico. Movimentos em preços de ativos, valores de cauções, qualidade de ativos, volumes de transações do mercado de capitais e liquidez do mercado refletem flutuações que têm consequencias para o crescimento dos ganhos e geração de capital. As políticas e práticas regulatórias não podem anular os ciclos comerciais. Elas podem, no entanto, ser avaliadas em termos do impacto que têm na amplificação do comportamento institucional durante o ciclo. O objetivo do esforço de temperar as fontes que regulam a pró-ciclicalidade deveria ser reforçar a meta primária da regulamentação prudencial, ou seja, manter o bem-estar do sistema e conter o risco sistêmico. Existem vários aspectos das políticas de regulamentação prudencial que colocam em evidência os aspectos pró-cíclicos: padrões de capital, políticas de liquidez e práticas de reserva. Discutiremos estes aspectos nesta seção. Extensos esforços para melhorar as políticas regulatórias já estão sendo empreendidos sob a liderança do Fórum de Estabilidade Financeira e do Comitê de Supervisão Bancária da Basiléia. Os supervisores prudenciais têm o papel crítico de garantir que as maiores organizações bancárias se preparem adequadamente para os altos e baixos dos ciclos e sejam capazes de reagir aos mesmos. Programas de supervisão bem projetados e executados de forma racional serão um elemento essencial nestes esforços da reforma regulatória em moderar a pró-ciclicalidade. Um ponto de partida para evitar o risco excessivo é dar apoio aos esforços dos supervisores de reportar e combater a erosão dos padrões de risco e manter a disciplina durante períodos de expansão econômica e confiança.

Da mesma maneira, quando os riscos se concretizam e há um aumento de pressões extremas, os supervisores têm o desafio ainda maior de não exagerar no uso de proteções de capital, reservas e liquidez que deveriam ter sido estabelecidos para serem usados exatamente nestas circunstâncias. Tudo isso reforça ainda mais a importância de que estes órgãos sejam dotados de recursos de alta qualidade e tenham a independência necessária para desempenhar esta tarefa complexa.

Um aspecto particularmente perturbador da crise atual é a velocidade com que grandes instituições financeiras reguladas deixaram de se apresentar bem capitalizadas e com robustas posições de liquidez e passaram a necessitar de intervenções governamentais e considerável suporte financeiro para evitarem entrar em falência. Claro está que pânicos financeiros podem produzir condições que até mesmo instituições financeiras robustas não sejam capazes de gerenciar, já que todas necessitam da confiança do mercado para poder funcionar adequadamente. Mas também é verdade que os padrões existentes de capital internacional perderam credibilidade junto aos participantes do mercado. É de importância vital restabelecer a credibilidade do mercado.

O princípio de vincular padrões de capital ao risco estimado só é apropriado quando as técnicas de estimativa de riscos são eficazes, e a experiência mostrou é preciso solucionar limitações importantes. É preciso melhorar os métodos de identificação e justificativa de concentrações ocultas de crédito, pressupostos excessivamente otimistas sobre o risco de liquidez do mercado, o chamado risco “pipeline” em modelos comerciais de criação e cessão e exposições

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não contratuais, tais como as que surgem do patrocínio de veículos extra-balancete e vários tipos de fundos de investimento.

Mesmo técnicas melhoradas para estimativa de riscos terão limitações inerentes. Quando reconhecemos essas limitações, fica possível tornar os padrões de capital mais práticos e menos pró-cíclicos expressando-os em ternos de amplas faixas operacionais, ao invés de estimativas de ponto mínimo. Este enfoque deveria encorajar o acúmulo de capital durante períodos de expansão, desencorajar recompras de ações e políticas de dividendos agressivas e, ao mesmo tempo, permitir algumas reduções em períodos de tensão. Os reguladores precisarão encorajar os bancos a internalizar esta disciplina através da exigência de políticas de gerenciamento de capital vinculadas a uma análise cuidadosa das implicações de cenários de tensão para as necessidades de capital.

Recomendação 10:

a. É preciso melhorar os padrões internacionais de capital regulatório de modo a tratar de

tendências para a pró-ciclicalidade. É preciso elevar benchmarks para avaliar uma boa posição de capitalização, dadas as limitações visíveis até mesmo das mais avançadas ferramentas para estimar riscos para toda a empresa.

b. Estes benchmarks devem ser expressos em um amplo espectro, dentro do qual deve ser possível gerenciar as relações de capital, com a expectativa de que, como parte do direcionamento supervisório, as empresas operem na faixa superior deste espectro durante aqueles períodos em que os mercados se mostram exuberantes e a tendência para subestimar e subcotar preços é grande.

c. As definições internacionais atuais de capital deveriam ser reavaliadas no sentido de um alinhamento estreito com definições nacionais.

d. É preciso reavaliar os padrões de divulgação de capital e riscos para que proporcionem um nível mais elevado de transparência à intenção de uma empresa em assumir riscos, a estimativa de suas necessidades de alocação de capital econômico e suas práticas de valorização.

11. Padrões para gerenciamento de riscos de liquidez

A atual crise financeira tem se caracterizado por dois conjuntos inter-relacionados de tensões de liquidez. Um deles é a evaporação de ativos em mercados funcionais, com exceção de títulos do governo, com a consequência de que os mecanismos para encontrar bons preços no mercado deixam de ser confiáveis. O outro são tensões de financiamento, que se refletem nos deslocamentos dos mercados de financiamento interbancários e a interrupção virtual de mercados de financiamento de dívidas por prazo até mesmo em instituições financeiras muito bem cotadas. A extensão destas tensões sugere que melhores padrões de capital baseados em riscos não proporcionam, em si mesmos, uma base capaz de garantir a estabilidade financeira. Também é preciso haver padrões para riscos de liquidez.

É preciso tomar medidas mais fortes e sistemáticas que se baseiem na estrutura usada para padrões de capital. Um primeiro passo nesse sentido foi dado no início de 2008 com os Princípios para gerenciamento sólido de riscos de liquidez do Comitê da Basiléia.

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Recomendação 11:

a. Padrões de liquidez de nível de base devem incorporar normas para manter um considerável e diversificado mix de financiamento de longo prazo e um anteparo de ativos não onerados de alta liquidez. Uma vez desenvolvidos tais padrões, é preciso pensar qual o melhor mix de dívida principal e passivos subordinados para as estruturas de capital do banco.

b. Direcionamentos supervisórios de padrões de liquidez deveriam se basear em uma análise mais refinada das capacidades de uma empresa de manter ampla liquidez em condições de tensão, inclusive com a avaliação da qualidade e eficácia de suas políticas de gerenciamento e liquidez e plano para financiamento de contingências.

c. Padrões de divulgação de liquidez baseados em práticas sugeridas nos Princípios do Comitê da Basiléia deveriam complementar as sugestões para melhorar as práticas de divulgação de informações sobre capital e perfis de risco.

12. Contabilidade de valor justo

A atual crise financeira provocou um debate intenso e, muitas vezes, frustrante, em torno das

questões levantadas pela aplicação rígida de regras de contabilidade de valor justo (FVA) a

demonstrativos contábeis de instituições financeiras regulamentadas. Em mercados em situação de

emergência, ilíquidos e virtualmente não-funcionais, tais como os que temos testemunhado

atualmente, as limitações e consequencias involuntárias das regras de FVA ficaram claras, tendo as

mesmas aparentemente contribuído para gerar maior incerteza e perturbação. Certas diretrizes

interpretativas recentes no tocante à aplicação excessivamente rígida dessas regras foi considerada

útil. Mas essas diretrizes foram aplicadas de forma irregular ao longo de instituições e regimes

nacionais e causaram ainda maior divergência, ao invés de convergência, entre os EUA e os Padrões

Contábeis Internacionais, sem resolver as questões centrais.

Além das dificuldades atuais em determinar preços de mercado, há uma tensão subjacente entre

os propósitos comerciais atendidos por instituições financeiras regulamentadas (particularmente

aqueles cuja função básica é intermediar riscos de crédito e liquidez financiando empréstimos

ilíquidos por meio de depósitos à vista ou a curto prazo) e os interesses de investidores e credores

em ter as melhores e mais atualizadas informações possíveis sobre o valor de mercado imediato de

ativos e passivos. A tensão também se refletiu historicamente em diferentes enfoques preferidos por

reguladores prudenciais e de segurança.

Até recentemente, a tendência era buscar eliminar a tensão forçando o máximo possível da

contabilidade e valorização de todos os ativos e passivos a se encaixar em um modelo contábil

projetado e desenvolvido para lidar com valores de mercado de instrumentos negociáveis líquidos.

A extensão em que isto representa um “encaixe forçado” ficou aparente na crise atual. Um resultado

dramático foi que a capacidade de instituições em situação de emergência de aumentar seus lucros

participados marcando a mercado alguns de seus próprios passivos como risco de crédito sobre sua

dívida aumentou. Outro problema são valorizações sobre ativos ilíquidos que, às vezes,

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Reforma Financeira Uma Estrutura para Estabilidade Financeira

têm uma relação limitada com os fluxos de caixa descontados esperados.

O caminho para o futuro não é deixar de levar em consideração os princípios de valor justo de

forma apropriada, mas buscar um melhor equilíbrio, com base nesses princípios, entre as

necessidades legítimas que os investidores têm de informações financeiras atualizadas e o modelo

comercial das instituições financeiras regulamentadas.

Um ponto de partida é reconhecer a relevância de um sólido gerenciamento interno de riscos para rastrear as informações disponíveis sobre mudanças de valor nos ativos e passivos de uma empresa financeira. Se possível, ter a precificação de mercado validada por um avaliador independente é um requisito importante. Mas não é, necessariamente, o único capaz de avaliar o risco e lucratividade na ausência de liquidez de mercado e quando o valor intrínseco da continuidade do relacionamento com os clientes é um fator relevante.

Outra consideração prática é a responsabilidade de reguladores e supervisores prudenciais em monitorar, avaliar e disciplinar, por si mesmos, as práticas de valoração. Eles devem se preocupar em avaliar a natureza e extensão dos riscos envolvidos e considerar a adequação de provisões de reservas para absorver possíveis perdas, questões estas que não podem ser abrangidas por completo pela marcação a mercado em todas as circunstâncias.

Em resumo, é preciso alinhar melhor os princípios contábeis e enfoques aplicáveis a instituições financeiras regulamentadas cujo propósito básico é intermediar necessidades de risco de crédito e liquidez ao modelo de negócios da empresa. Um modelo contábil que não envolva senão marcação a mercado é, geralmente, mais adequado a atividades comerciais e à maioria dos elementos do risco de mercado. Variações no atual modelo contábil baseado em intenção e aplicável a organizações é um ponto de partida melhor para esses tipos de intermediários. Diretrizes mais realistas para abordar questões de valorização para investimentos ilíquidos nestes tipos de portfólio (inclusive instruções sobre como tratar de mudanças baseadas em intenção e movimentos nestes instrumentos entre contas) também é um ponto de partida melhor para empresas que têm este modelo de negócios. Rigor nos padrões para métodos alternativos de valorização (inclusive debilitações) e para avaliar a intenção (e a capacidade de levar esta intenção a cabo) é essencial para atender às necessidades dos investidores.

Em termos mais gerais, pode e deve haver uma melhora no nível de divulgação e transparência dos perfis de risco, relatório de riscos e práticas de valorização de empresas regulamentadas. Quanto mais flexibilidade as empresas regulamentadas e seus reguladores tiverem ao aplicar práticas de valorização razoáveis e apropriadas a portfólios de risco, maior será a necessidade de que eles divulguem informações relativas às suas práticas de valorização de forma plena, justa e oportuna.

Por fim, considerações de segurança e solidez exigem que empresas regulamentadas mantenham reservas plenas e adequadas para lidar com perdas de crédito esperadas durante a vida útil das exposições de crédito e reservas de valorização geral para lidar com riscos cíclicos e de liquidez nas partes relevantes de seus portfólios, inclusive portfólios de derivados. Tensões neste ponto entre regras contábeis e práticas bancárias seguras e sólidas deveriam ser resolvidas de forma a promover segurança e solidez, com total e completa transparência e divulgação das reservas resultantes.

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6 Reforma Financeira Uma Estrutura para Estabilidade Financeira

Recomendação 12:

a. É preciso reavaliar os princípios contábeis e padrões de valor justo de modo a desenvolver diretrizes mais realistas para lidar com instrumentos menos líquidos e mercados em situações de emergência.

b. A tensão entre o propósito comercial atendido por instituições financeiras regulamentadas que intermediam riscos de crédito e liquidez e os interesses de investidores e credores deve ser resolvida criando-se padrões baseados nestes princípios que melhor reflitam o modelo de negócios destas instituições, apliquem o devido rigor à valorização e avaliação de intenção e exijam melhor divulgação e transparência. Estes padrões também devem ser revisados por reguladores prudenciais e coordenados juntamente com eles de modo a assegurar sua aplicação de forma consistente com a operação segura e sólida dessas instituições.

c. Também é preciso flexibilizar mais os princípios contábeis no tocante à necessidade prudencial de que instituições regulamentadas mantenham reservas adequadas de perda de crédito para cobrir as perdas esperadas ao longo de seus portfólios durante a vida útil dos ativos nos mesmos. Deve haver plena transparência na forma de se determinar e alocar as reservas.

d. Conforme enfatizado no terceiro relatório da CRMPG, independente dos padrões contábeis e condições de mercado a que estejam sujeitas, é preciso que as instituições financeiras assegurem que recursos plenamente adequados, isolados por uma autoridade decisória independente e à prova de falhas, se encontrem no cerne do processo de valorização e verificação de preços.

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PARTE 5 Melhoria em transparência e incentivos e reforço da infraestrutura financeira

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Reforma Financeira Uma Estrutura para Estabilidade Financeira

RECOMENDAÇÃO-CHAVE IV É preciso tornar os mercados e produtos financeiros mais transparentes, com incentivos a risco e prudenciais mais bem alinhados. É preciso tornar a infraestrutura de suporte a estes mercados mais robusta e resistente a falhas em potencial até de grandes instituições financeiras.

13. Restaurando a confiança em mercados de créditos securitizados

Antes da crise atual, uma parte significativa do processo de ampliação de crédito tinha migrado da tradicional procedência e retenção de empréstimos por parte de bancos individuais ou outras instituições financeiras com conhecimento direto dos mutuários e relacionamentos com os mesmos na direção de uma posição onde instituições financeiras passaram a depender umas das outras para originar empréstimos que são, em seguida, repartidos e compartilhados por um amplo grupo de entidades sem qualquer outra relação. Uma das consequências disso foi que a perda de confiança ocorrida durante a presente crise se estendeu para além de instituições específicas e passou a incluir uma perda de confiança em setores inteiros dos mercados de capital no mundo.

O completo desaparecimento da nova emissão de débitos em virtualmente todos os seguimentos do mercado de títulos baseados em garantidos por ativos teve um papel proeminente nesta questão. Este fenômeno se estendeu muito além de complexos e estruturados mercados de derivativos hipotecários (CDOs) e derivativos de empréstimos (CLOs) para incluir as chamadas contas a receber plain vanilla garantidas por ativos.

Os fatores primários que contribuíram para esta perda de confiança foram a complexidade excessiva desses instrumentos e a falta de transparência que tem caracterizado esses mercados. Além disso, a exposição de falhas no funcionamento do modelo de negócios de “criação e cessão” adotado pelas unidades do mercado de capital em virtualmente todas as grandes organizações bancárias também foi um fator que contribuiu para esta situação. Estas falhas incluem: (a) uma erosão dos padrões de subscrição de crédito baseados em um método por transação, invés de relacionamento e retenção, de tratar o risco de crédito; (b) concentrações de riscos de crédito pipeline com base em pressupostos excessivamente otimistas em relação às capacidades de liquidez e redistribuição do mercado; e (c) retenção do que provou serem tranches mal estruturadas e absurdamente supervalorizadas de produtos estruturados com o fim de impulsionar o fluxo de negócios. A extensão em que o modelo de criação e cessão irá sobreviver à crise atual está em questão. O que está claro é que ele não deve continuar a ser um elemento central nas finanças sem um esforço conjunto para remediar os métodos falhos. Algumas das falhas podem ser sanadas através do reforço de padrões regulatórios de capital e liquidez. É preciso abordar outros, como parte de esforços mais amplos para reduzir riscos e restaurar a confiança dos investidores nestes mercados.

A implementação de novos padrões contábeis internacionais planejada para 2010 com o propósito de consolidar os vários tipos de veículos extra-balancete pode ter um impacto sobre os mercados de securitização. Muitos destes veículos – particularmente os assim-chamados Veículos Estruturados de Investimento (SIVs) – foram criados, em parte, para burlar as regras e padrões existentes de capital regulatório.

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Reforma Financeira Uma Estrutura para Estabilidade Financeira

Uma vez inseridos de volta nos balancetes e cálculos de capital regulatório, estes tipos de

veículos podem ser gradativamente eliminados, o que segure que não atendiam a qualquer

propósito econômico sustentável, exceto a arbitragem alavancada daquelas regras.

Em contraste com o elemento acima, é preciso ver de forma diferente os veículos de fideicomisso extra-balancetes usados para dar suporte à emissão de securitizações tradicionais garantidas por ativos. Aqueles responsáveis por definir padrões contábeis devem refletir melhor sobre a utilidade de tratar estes tipos de estruturas como itens extra-balancetes e que implicação isto teria para o futuro funcionamento de mercados desses tipos de securitizações garantidas por ativos. Uma discussão abrangente do provável impacto de mudanças em contas pendentes sobre o tratamento desses tipos de entidades em relatórios e balancetes vai além do escopo do presente relatório (há uma resenha útil sobre este tópico nas páginas 38-52 do relatório CRMPG III). Na medida em que estes veículos também incidem de volta nos balancetes de instituições financeiras, é necessário haver uma noção do impacto que podem ter sobre a utilidade das relações de alavanca como indicadores de capital regulatório e o possível uso irregular destes indicadores ao longo de diferentes regimes regulatórios nacionais.

Uma vez que a maior parte dos mercados de capital securitizado alcançou um escopo internacional, será melhor empreender esforços para reabri-los utilizando novos princípios de transparência, subscrição de riscos e contabilidade de forma coordenada, particularmente entre autoridades no Reino Unido e nos Estados Unidos, onde a maior parte deste tipo de atividade está concentrada.

Recomendação 13: a. Supervisão do mercado: Amplas inovações nos mercados de capital e o rápido crescimento da

securitização tornaram imperativo que os mercados securitizados e outros mercados de produtos e derivados sejam submetidos a padrões regulatórios, de divulgação e transparência que estejam, no mínimo, à altura daqueles padrões aplicados no passado aos mercados de títulos públicos. Isto pode exigir a monitoração de uma ampla faixa de mercados, transparência adequada no tocante a volumes de transações e ativos em todos os produtos e a plena compreensão e monitoração de elementos de crédito e alavancagem de cada produto.

b. Padrões de subscrição de crédito: O desenvolvimento saudável dos mercados de crédito securitizado exige uma restauração da confiança do mercado na adequação e sustentabilidade dos padrões de subscrição de crédito. Para ajudar nesta restauração, os reguladores deveriam exigir que as instituições financeiras retivessem uma parcela significativa do risco de crédito que estão embutindo em produtos de securitizados e outros produtos de crédito estruturado.

c. Veículos extra-balancete: Mudanças nas regras de contas pendentes para a consolidação de muitos tipos de veículos extra-balancete representam uma melhora positiva e necessária. Antes que elas sejam plenamente implementadas, é importante estudar de forma cuidadosa o provável impacto que estas regras podem ter sobre os esforços de restaurar a viabilidade dos mercados de crédito securitizado.

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0 Reforma Financeira Uma Estrutura para Estabilidade Financeira

14. Reformas de agências de notação de risco

Numerosas questões foram levantadas sobre problemas que surgiram de operações pré-crise das Organizações de Classificação de Títulos Reconhecidas em Nível Nacional (NRSROs), particularmente aquelas focadas nas estimativas anexadas a instrumentos complexos de securitização. Estas incluem os conflitos em potencial inerentes aos modelos de negócios de pagamentos a emitentes; limites na responsabilidade de prestação de contas de agências de notação de risco; a utilidade de notações de risco que apenas avaliam probabilidades de insolvência, excluindo muitos outros fatores de risco importantes; e a dependência excessiva de reguladores e investidores nas estimativas das NRSROs. Foram levantadas dúvidas sobre a necessidade de maior concorrência e melhor regulamentação.

Em muitas instituições financeiras, o número e qualidade do pessoal devotado à análise de crédito não conseguiu acompanhar a crescente complexidade dos títulos individuais e portfólios de instrumentos de crédito. Com o tempo, o foco na lucratividade dentro de instituições financeiras levou muitos investidores e intermediários a “terceirizar” para agências tradicionais de notação de risco a filtragem de créditos e, em muitos casos, toda a função de avaliação de créditos.

Os órgãos regulatórios também passaram a considerar as notações de risco de crédito das NRSROs como um importante insumo na avaliação da adequação do capital líquido. Na verdade, notações de risco de crédito foram “embutidas” em um vasto espectro de regras, regulamentos e diretrizes de investimento que afetam requisitos de capital e de divulgação, construção de portfólios e um número enorme de outras atividades empreendidas por bancos, corretores, corporações e outros emitentes, fundos de pensão, companhias de seguros, administradores profissionais de dinheiro e outros investidores.

Infelizmente, contudo, o modelo econômico que sustenta as agências de notação de risco depende não destes usuários, mas de emitentes que selecionam e pagam pelas notações de risco. Não existem consequências econômicas diretas da pesquisas de crédito de má qualidade ou notações de risco que deixem de prever um evento de insolvência porque o pagador (o emitente) não é prejudicado em tal eventualidade. Acredita-se que muitos emitentes já “compraram” entre os provedores tradicionais de notação de risco mais elevadas, fazendo com que tentativas regulatórias de aumentar a concorrência tivessem uma consequência negativa perversa.

Além disso, as agências de notação de risco não são consideradas legalmente responsáveis pela qualidade de seu trabalho. Já que não há relação contratual entre aqueles que dependem das estimativas (investidores) e os provedores das mesmas, não há recurso legal. Até o momento, as agências têm evitado a obrigação de prestar contas pela qualidade de suas notações de risco perante a lei. Nos Estados Unidos, elas argumentam – até agora, com sucesso – que suas notações/opiniões estão sujeitas à proteção da Primeira Emenda.

Um modelo segundo o qual pesquisas de crédito e notações de risco consolidadas são pagas por investidores, e não emitentes, foi usado algumas vezes no passo, e é, aparentemente, superior ao modelo atual. Já começaram a surgir alguns modelos de subscrição para pesquisa de crédito e estimativas consolidadas. Contudo, os modelos atuais tornam difícil pagar os provedores com base em valor agregado, tanto por que eles têm de concorrer com as estimativas “gratuitas” fornecidas pelos emitentes tradicionais, quanto por terem dificuldade em descobrir e monitorar a extensão em que

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Reforma Financeira Uma Estrutura para Estabilidade Financeira 1

sua propriedade intelectual está sendo mobilizada. É preciso considerar enfoques alternativos. Embora o desenvolvimento de produtos estruturados estimados por agências tradicionais

tenha sofrido uma inovação significativa, houve pouca inovação nas técnicas de medição incorporadas às estimativas em si, inclusive nas medições do risco relacionado à liquidez, volatilidade, risco de spread e outros fatores de risco relevantes para valorizações de mercado.

Embora muitas mudanças em práticas tenham sido anunciadas e/ou propostas pelas NRSROs, a Comissão Europeia e a Comissão de Valores Mobiliários e Câmbio (SEC), não está claro que estas mudanças irão avançar até o ponto de abordar os problemas de incentivo subjacentes. A recomendação tri-partida abaixo visa abordar de forma mais direta a necessidade de melhorar o alinhamento entre incentivos para as três partes do processo de notação de risco: o emitente, o investidor e o provedor de serviços de notação de risco.

Recomendação 14:

É preciso revisar as políticas regulatórias referentes a NRSROs e ao uso de notações de risco, preferivelmente de forma coordenada em escala internacional, com o fim de atingir o seguinte:

a. Usuários de notação de risco de risco, especialmente usuários regulamentados, deveriam ser

estimulados a restaurar ou adquirir a capacidade de notação de risco independente do risco

oferecido por produtos de crédito nos quais estão investindo.

b. As notações de risco emitidas pelas NRSROs deveriam ser mais robustas a fim de refletir

o risco de perdas de valorização em potencial originárias não somente da probabilidade

de insolvências e perdas no caso de insolvência, mas também de todo o leque de fatores

de risco em potencial (inclusive volatilidade de liquidez e preços).

c. Os reguladores deveriam estimular o desenvolvimento de modelos de pagamento capazes de

melhorar o alinhamento de incentivos entre provedores de notações de risco e seus clientes e

usuários, e também permitir que os usuários possam exigir que as NRSROs assumam a

responsabilidade pela qualidade de seu próprio produto.

Desenvolvimentos em infraestrutura

Os eventos de 2008 enfatizaram a importância de que o sistema financeiro tenha uma infraestrutura forte , capaz de acompanhar as inovações e novos mercados que são parte das finanças modernas. Como indicou o Presidente do Conselho Federal de Reservas, Ben Bernanke, a infraestrutura contém tanto elementos de “hardware” (ou seja, sistemas para execução, compensação e liquidação, entre outros) quanto elementos de “software” (ou seja, estruturas estatutárias, regulatórias e contratuais). Foram expostas fraquezas significativas nestes dois aspectos da infraestrutura do sistema.

As três recomendações finais a seguir cobrem três áreas da melhoria desta infraestrutura: mudanças no mercado de OTC, mecanismos de resolução legal para instituições financeiras e infraestrutura para suporte a transparência em mercados de produtos estruturados.

Page 61: Financial Reform

2 Reforma Financeira Uma Estrutura para Estabilidade Financeira

15. Supervisão de mercados de trocas de créditos não cumpridos (CDS) e mercados de balcão (OTC)

Esta crise expôs graves falhas na infraestrutura de suporte dos mercados de produtos derivados de OTC. Embora algumas dessas falhas possam ser vistas como questões relativas à conduta de negócios ou integridade de mercado, vários problemas atingiram uma escala que levantou questões sobre uma perturbação sistêmica. Estes problemas incluem pedidos em carteira para confirmação comercial, falta de transparência ao reportar transações e precificação, procedimentos de liquidação de estoque contratual, disputas sobre práticas de valorização e caução e questões de crédito de contrapartida direto e indireto. A maior parte destas questões não surge, ou é geralmente bem administrada, dentro dos mercados de produtos derivados baseados em câmbio.

Sob pressão de vários órgãos regulatórios, as principais empresas nestes mercados têm trabalhado ativamente em um programa abrangente para abordar estes pontos fracos na infraestrutura. Dentre estes programas, destacam-se os esforços para estabelecer um arranjo de contraparte central de liquidação (CCP) para o mercado de produtos derivados de crédito e coordenar esforços para reduzir grandemente

QUADRO 4 Regulamentação dos mercados de balcão de produtos derivados de OTC

Os cinco pontos a seguir apresentam, em linhas gerais, a natureza e escopo da regulamentação proposta para mercados de produtos derivados de vendas de balcão (OTC).

1. O regulador nacional apropriado deveria ter a autoridade de promulgar regras aplicáveis para

participação no mercado de forma a promover práticas sólidas e mitigar o risco sistêmico envolvendo trocas de créditos não cumpridos (CDSs) e outros produtos derivados de OTC, inclusive regras referentes a práticas sólidas de gerenciamento de riscos, padrões de relatórios comerciais e confirmação, requisitos apropriados para caução de contraparte, práticas de liquidação de estoque contratual e outra medidas necessárias para se atingir transparência de mercado.

2. Aqueles sujeitos à regulação deveriam incluir: todos os envolvidos em criar mercados

bilaterais em CDSs ou outros produtos derivados de OTC ou envolvidos no negócio de fornecer proteção a crédito por meio de CDSs e cujas atividades chegam a um limite de importância sistêmica (a ser estabelecido pelo regulador), não-intermediários cujos portfólios de produtos derivados de OTC chegam a um limite de importância sistêmica (a ser estabelecido pelo regulador) e uma câmera de compensação de produtos derivados de OTC.

3. Seria necessário que já houvesse um intermediário profissional em produtos derivados de

OTC regulamentado como banco ou que lhe fosse exigido registrar-se junto ao regulador como profissional intermediário.

4. O regulador deve promulgar regras que exijam que elevadas posições em produtos derivados

de OTC e elevada exposição de crédito de contraparte fossem reportadas tanto por intermediários quanto por não-intermediários.

5. O regulador deve promulgar regras relativas a organizações multilaterais de compensação que

compensam transações com produtos derivados de OTC diversas de câmbio de títulos ou futuros de modo a assegurar a integridade financeira destas organizações de compensação e mitigar o risco sistêmico, promover compensação e liquidação confiáveis, práticas sólidas de gerenciamento de riscos e transparência de mercado.

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Reforma Financeira Uma Estrutura para Estabilidade Financeira

o tamanho bruto de contratos pendentes através de arranjos de compressão bilateral. Foram feitos

progressos significativos nestas frentes. É preciso encorajar maiores progressos no sentido de

padronização e uso de mecanismos de CCP, caso necessário, por meio do uso de requisitos de capital

regulatório que exijam mais de instrumentos que não sejam compensados por meio de uma CCP. Embora esses esforços possam muito bem resultar em soluções adequadas aos problemas atuais

mais prementes, as questões mais amplas de políticas referentes à situação regulatória apropriada desses mercados continuarão em aberto. Durante os últimos 30 anos, os mercados se desenvolveram até se tornarem uma espécie de vácuo regulatório, não sendo considerados legalmente nem como de títulos nem como de contratos de futuros. Houve amplas inovações e os mercados cresceram de forma explosiva, o que sugere que, além de atender a uma valiosa função de transferência de risco, um grande elemento de especulação emergiu.

Uma vez que esses mercados cresceram em complexidade e tamanho até se tornarem muito maiores que os mercados à vista aos quais estão relacionados, a escala dos problemas de infraestrutura, crédito, valorização e transparência aumentou muito. A pressão para que os bancos centrais e outros reguladores lidem com esses problemas cresceu.

Há muito foi reconhecido que o mesmo risco econômico pode ser assumido ou transferido por uma combinação de títulos, contratos de futuros ou derivativos de OTC. Contudo, dependendo do instrumento usado, regras, arranjos supervisórios e mecanismos de suporte a infraestrutura imensamente diferentes entram em ação. Embora isto possa ter feito sentido do ponto de vista de políticas públicas quando os mercados de produtos derivados de OTC estavam em seus estágios iniciais de desenvolvimento, a justificativa para isso já deixou de existir. Chegou a hora de harmonizar padrões e práticas de todos estes mercados instrumentais. Também chegou a hora de avançar além da persuasão moral e do auto-interesse esclarecido dos mercados de modo a assegurar que as práticas de mercado se desenvolvam de forma oportuna, saudável e abrangente. Um possível sistema de regulamentação deveria incluir os elementos listados no Quadro 4.

Recomendação 15:

a. Há muito tempo há a necessidade de melhorias no planejamento da infraestrutura de suporte

aos mercados de produtos derivados de OTC; estas deveriam ser melhor apoiadas pela legislação de modo a estabelecer um sistema formal de regulamentação e supervisão de tais mercados.

b. Dada a natureza global do mercado, a existência de uma estrutura regulatória consistente em escala internacional é essencial; portanto, reguladores nacionais deveriam partilhar informações e entrar em acordos de cooperação apropriados com as autoridades de outros países responsáveis por atividades supervisórias.

16. Um mecanismo de resolução para instituições financeiras

A disciplina de mercado funciona melhor em um sistema no qual podem ocorrer falhas sem que

estas se tornem uma fonte de grandes perturbações e contágio. Isso só pode ocorrer dentro de

empresas financeiras grandes e complexas se a infraestrutura e seus respectivos mecanismos de

mercado que têm de operar

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Reforma Financeira Uma Estrutura para Estabilidade Financeira

em face de colapsos forem robustos, transparentes e permitirem ações oportunas, mas não forçadas, por

parte de credores e outras contrapartes para a proteção de seus interesses. Embora não sejam perfeitos, os

mecanismos existentes nos Estados Unidos para gerenciar colapsos em bancos se mostraram funcionais.

Os problemas surgiram no contexto de colapsos em potencial e reais de grandes instituições financeiras

não-bancárias. Mais especificamente, a intervenção para evitar o colapso da Bear Sterns e a declaração

de falência da Lehman Brotherse, além de outras intervenções, demonstram que há necessidade de

se estabelecer um regime de resoluções de colapsos eficaz para instituições financeiras não-

bancárias. Parte disso pode ser tratado por melhorias na infraestrutura dos mercados de produtos

derivados de OTC. Parte também pode ser tratado fechando-se as lacunas na supervisão prudencial

consolidada de grandes instituições financeiras não-bancárias regulamentadas. Mas, de modo a serem

totalmente efetivos, os regimes legais que entram em operação uma vez iniciado o colapso devem ser

modificados de modo a dar importância vital à capacidade das autoridades de tomar medidas para

proteger o bem-estar do sistema. Uma questão relacionada a isto é a estrutura geral para lidar com

contratos financeiros qualificados nos Estados Unidos, que deve ser reconsiderada à luz dos eventos

recentes.

Alguns países ainda não possuem uma estrutura legal para prover o fechamento organizado de

bancos regulamentos, muito menos uma estrutura para instituições financeiras não-bancárias de

importância sistêmica. Uma estrutura desejável deveria prover: (a) continuidade de operações e acesso a

serviços para depositantes e outros clientes, (b) discrição apropriada para que depositários possam

gerenciar prioridades de pagamento, (c) discrição para se impor custos de maneira apropriada dentro da

estrutura de capital e à gerência executiva de modo a reduzir o perigo moral e (d) flexibilidade financeira

apropriada para que o regular/depositário possa providenciar a transferência oportuna de ativos e

passivos financeiros e o pronto acesso de clientes de modo a segregar ativos e contas da forma devida.

É preciso levar em consideração outra complicação, tanto nos Estados Unidos quanto em outras

jurisdições, relativa ao colapso em potencial de um grande fundo especulativo alavancado ou um grupo

de fundos relacionados, no qual os fundos em questão encontram-se domiciliados em um centro offshore.

Os regimes de falência e governança de tais centros podem estar em conflito com o interesse público dos

países em cujos mercados os fundos realmente operam em termos de conter o impacto de colapsos no

sistema. Uma vez tais fundos e administradores sendo colocados sob um sistema regulatório formal, o

regulador nacional apropriado deverá exigir uma análise desta questão para os fundos de maior porte. O

regulador deverá ter a autoridade para exigir que o administrador dos fundos em questão modifique os

arranjos legais existentes de modo a fornecer um regime legal aceitável para governança e liquidações de

possíveis falências.

Recomendação 16:

a. Em países onde já não for esse o caso, deverá ser estabelecido um regime legal que dê aos

reguladores a autoridades de exigir avisos com antecedência, imediatas ações corretivas e fechamentos organizados de organizações bancárias regulamentadas, bem como outras instituições

Page 64: Financial Reform

Reforma Financeira Uma Estrutura para Estabilidade Financeira

regulamentas de importância sistêmica. Nos Estados Unidos, a legislação deve estabelecer um processo para gerenciar a resolução de instituições financeiras não-depositárias (inclusive filiadas não-bancárias dentro de uma estrutura de companhia controladora bancária) comparável ao processo para instituições depositárias.

b. O regime para instituições financeiras não-depositárias deveria se aplicar apenas àquelas poucas organizações cujo colapso poderia, dentro do razoável, apresentar uma ameaça ao sistema financeiro e, portanto, que estariam sujeitas à regulamentação oficial.

c. Um corpo regulatório com poderes comparáveis àqueles disponíveis para a resolução de instituições bancárias deveria ser receber o poder de agir como recebedor ou curador de uma organização não-depositária que entrou em colapso e de colocar a organização em liquidação ou tomar medidas para restaurá-la à sua condição sólida e solvente.

d. O tratamento especial dado a várias formas de contratos financeiros pelas atuais leis norte-americanas deveria ser examinado à luz da recente experiência com o propósito de solucionar reivindicações legais sob estes contratos da forma menos perturbadora possível para o sistema financeiro.

17. Melhoria da transparência de mercados de produtos estruturados

É preciso re-examinar e melhorar a divulgação de padrões em mercados garantidos por ativos e outros mercados estruturados de renda fixa. É preciso que os reguladores reconheçam que há um interesse público em assegurar a divulgação adequada aos investidores nos mercados privado e atacadista no caso de produtos garantidos por ativos e outros produtos estruturados de renda fixa. Atualmente, as informações que provavelmente são significativas geralmente não estão disponíveis e isso precisa ser examinado. Uma vez obtido um acordo sobre novos padrões de divulgação, essas informações deveriam ser fornecidas de forma a serem comparáveis e facilitarem a análise ao longo do tempo e envolvendo diversas transações. Atender a este objetivo irá exigir que as informações sejam apresentadas em um formato mais consistente e estruturado do que é o caso no momento. Atualmente, as informações financeiras de emitentes corporativos são fornecidas de forma substancialmente estruturada de acordo com os requisitos de conteúdo e apresentação de princípios contábeis adotados em geral. Contudo, não há requisitos de conteúdo e apresentação equivalentes para produtos garantidos por ativos e outros produtos estruturados.

Recomendação 17:

a. É preciso melhorar o regime de divulgação e disseminação de produtos garantidos por ativos

e outros produtos financeiros de renda fixa estruturados (inclusive títulos e outros produtos financeiros) nos mercados públicos e privados.

b. O regulador nacional apropriado deveria, juntamente com os investidores nestes produtos, determinar quais informações são relevantes para eles e considerar a melhora das regras existentes ou a adoção de novas regras que assegurem a divulgação daquelas informações, tanto para produtos garantidos por ativos quanto para produtos estruturados sintéticos.

Page 65: Financial Reform

6 Reforma Financeira Uma Estrutura para Estabilidade Financeira

c. O regulador nacional apropriado deveria condicionar as transações nos mercados privado e

varejista ao atendimento de padrões apropriados de divulgação de informações.

18. Compartilhamento de informações sobre atividades de mercado e valorização

Considerações de políticas públicas têm geralmente indicado a importância de canais de concorrência para a execução comercial em mercados financeiros sujeitos a alguns padrões mínimos de mercados públicos. Mecanismos de realização baseados em câmbio e recursos de realização eletrônicos amplamente equivalentes são geralmente caracterizados por graus de transparência e descoberta de preços. Padrões inferiores se aplicam a vários segmentos dos mercados de vendas de balcão, em alguns casos até o ponto em que estes mercados podem ser melhor descritos como opacos, ao invés de transparentes.

Recomendação 18:

Esforços para restaurar a confiança dos investidores no funcionamento destes mercados sugerem a

necessidade de rever avaliações dos custos e benefícios de investimentos em infraestrutura que

facilitariam um nível muito mais elevado de transparência no tocante a escopos de atividades,

preços comerciados e valorizações afins. Parte dos custos de tais mudanças encontra-se no impacto

de preocupações especificas de determinadas empresas no tocante à natureza privada de suas

atividades de mercado. É preciso pesar estas preocupações e custos diretos de investimento em

relação aos benefícios em potencial de níveis mais elevados de transparência de mercado.

Page 66: Financial Reform

PARTE 6 Comentários finais

Page 67: Financial Reform

Reforma Financeira Uma Estrutura para Estabilidade Financeira

No ano que se inicia, os tomadores de decisão terão de enfrentar um grupo extraordinário de

desafios. A crise financeira ainda não terminou. Os mercados e instituições financeiras ainda

precisam se envolver novamente em um processo saudável de intermediação de riscos. As

economias reais ao redor do mundo estão passando por intensa retração, o que provavelmente irá

levar a maiores insolvências. Os governos e bancos centrais estão se esforçando até seu limite com

programas para estabilizar os sistemas financeiros e as economias reais. É preciso que iniciativas para enfrentar esses desafios imediatos tomem precedência até em

relação às pautas mais prementes de reforma regulatória financeira. Ademais, até termos uma noção

exata da amplitude dos custos da crise atual (inclusive os custos financeiros de suas repercussões

econômicas), não teremos clareza sobre a extensão das reformas necessárias nem poderemos

estabelecer um cronograma razoável para implementá-las e para repelir as amplas redes de

segurança que foram estabelecidas.

Os pontos de vista e recomendações definidos aqui apresentam uma avaliação, a uma altura

específica da crise, dos elementos necessários para um plano de reforma financeira abrangente.

Estas sugestões se concentram primeiramente em questões de estabilidade financeira e incluem

somente detalhes sobre mudanças necessárias em práticas comerciais, na estrutura do mercado ou

administrativa ou em políticas de concorrência.

Este relatório deve ser lido juntamente com as extensas propostas para reforma dos setores privado e público apresentadas anteriormente e mencionadas ao longo do mesmo. Os tomadores de decisões precisam de um extenso conjunto de propostas para estruturar as questões envolvidas na revisão abrangente dos sistemas financeiros nacionais e internacionais que se faz necessária e para sugerir uma reforma apropriada. Estas reformas provavelmente serão mais extensas e importantes que qualquer outra desde a Grande Depressão.

Page 68: Financial Reform

APÊNDICE

LISTA DE RECOMENDAÇÕES

RECOMENDAÇÃO-CHAVE I É preciso eliminar lacunas e fraquezas na cobertura proporcionada pela regulamentação e supervisão prudenciais. Independente de seu tipo, todas as instituições sistemicamente significativas devem estar sujeitas a um nível apropriado de supervisão prudencial.

Regulamentação prudencial e supervisão de organizações bancárias

recomendação 1:

a. Em todos os países, as atividades de instituições de operações de depósito seguradas pelo

governo devem ser sujeitas à regulamentação e supervisão prudenciais por parte de um

único regulador (ou seja, supervisão consolidada). As organizações bancárias de maior

porte e complexidade devem estar sujeitas a regulamentação e supervisão particularmente

severas de modo a atender elevados padrões internacionais em comum. b. O empreendimento de atividades de carteiras proprietárias que ofereçam riscos

particularmente elevados e sérios conflitos de interesse por parte de instituições bancárias

de grande porte e sistemicamente importantes deveria ser restrito. O patrocínio e

gerenciamento de consórcios de capital privados amalgamados (ou seja, fundos

especulativos e de ações privados, nos quais o capital próprio das instituições bancárias é

amalgamado com fundos de clientes) deveriam, normalmente, ser proibidos, e a

administração de carteiras próprias de vulto deveria ser limitada a estritas exigências de

capital e liquidez. A participação na criação de pacotes e venda de títulos coletivos de

dívidas deverá exigir a retenção de uma parte significativa do risco de crédito. c. No geral, instituições de operações de depósito seguradas pelo governo não deveriam ser

de propriedade de organizações não financeiras não regulamentadas ou controladas pelas

mesmas, e deveriam ser impostos limites estritos a negócios com tais instituições

bancárias e de carteiras proprietárias parciais não bancárias.

d. Para evitar concentração excessiva em sistemas bancários nacionais, com implicações

para uma supervisão governamental eficaz, controle administrativo e concorrência

efetiva, os limites nacionais à concentração de depósitos deveriam ser definidos em

níveis apropriados para cada país.

Supervisão consolidada de instituições financeiras não bancárias

Page 69: Financial Reform

recomendação 2:

a. Aqueles países que não possuem tais arranjos deveriam estabelecer uma estrutura de regulamentação e supervisão prudenciais consolidadas em nível nacional sobre grandes companhias de seguro ativas em escala internacional.

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60 Reforma Financeira Uma Estrutura para Estabilidade Financeira

b. Um regulador prudencial apropriado deveria ser indicado para aqueles grandes bancos de investimentos e corretores que não se encontram organizados como sociedades bancárias.

Fundos mútuos e supervisão do mercado de dinheiro recomendação 3: a. Dever-se-ia exigir que fundos mútuos do mercado de dinheiro que desejarem continuar a

oferecer serviços de linhas de crédito, tais como serviços de transação em conta bancária, retiradas em fundos à vista ao par e garantias de manter um valor de bem líquido (NAV) estável se reorganizassem como bancos para fins especiais com regulamentação e supervisão apropriadas, garantias governamentais e acesso a recursos de prestamista de última instância do banco central.

b. Aquelas instituições que permanecerem como fundos mútuos do mercado de dinheiro deveriam oferecer apenas uma opção conservadora de investimentos com modesto potencial de lucro a risco relativamente baixo. Os veículos deveriam ser claramente diferenciados de instrumentos segurados pelo governo federal oferecidos pelos bancos, tais como fundos de depósito do mercado de dinheiro, sem garantias explícitas ou implícitas para investidores de que possam ser feitas retiradas à vista do fundo que sejam tão estáveis quanto o NAV. Não se deveria permitir que fundos mútuos do mercado de dinheiro empregassem precificação de custo amortizada, com a implicação de que estes incluem um NAV flutuante, ao invés de um fixado a US$1,00 por ação.

Supervisão de consórcios privados de capital recomendação 4: a. Deve-se exigir que gerentes de consórcios privados de capital que se valem de substanciais

fundos de empréstimos se registrem junto a um regulador prudencial nacional apropriado. Deve haver um tamanho mínimo e isenções de capital de risco para tais requisitos regulatórios.

b. O regulador prudencial de tais gerentes deveria ter autoridade para requerer relatórios regulatórios periódicos e divulgações públicas de informações apropriadas referentes ao tamanho, estilo de investimento, empréstimo e desempenho dos fundos gerenciados. Uma vez que mesmo um sistema modesto de registro e regulamentação pode criar uma falsa impressão de um menor risco de investimento, seria preciso reavaliar os padrões de divulgação e elegibilidade.

c. No caso de fundos acima de um tamanho que possa ser considerado como tendo o potencial para se tornar sistemicamente significativo, o regulador prudencial deveria ter autoridade para estabelecer padrões apropriados de gerenciamento de capital, liquidez e risco.

d. Para estes fins, a jurisdição do regulador prudencial apropriado destes fundos deveria se basear na localização comercial primária do gerente dos mesmos, independente do domicílio legal dos fundos em si. Dada a natureza global dos mercados nos quais tais gerentes e fundos operam, é imperativo que uma estrutura regulatória seja aplicada em uma base consistentemente internacional.

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Reforma Financeira Uma Estrutura para Estabilidade Financeira 61 Empreendimentos financiados pelo governo (GSEs)

recomendação 5:

a. Para os Estados Unidos, a resolução sobre políticas relativas ao papel apropriado das GSEs no tocante a finanças hipotecárias deveria se basear em uma clara separação entre as funções de intermediação de risco de financiamento hipotecário do setor privado e as garantias do setor governamental ou seguros de risco de crédito hipotecário.

b. Entidades governamentais que dão suporte ao mercado hipotecário por meio de compras de mercado deveriam receber apoio estatutário e financeiro explícitos. Dever-se-ia evitar híbridos de propriedade privada e patrocínio governamental. Com o tempo, as atividades de compra e portfólio dos GSEs existentes deveriam ser segregadas para entidades do setor privado, sendo que o governo, se desejar, poderia manter a capacidade de intervir no mercado por meio de uma instituição de propriedade integralmente pública.

RECOMENDAÇÃO-CHAVE II É preciso melhorar a qualidade e eficácia da regulamentação e supervisão prudenciais. Isso irá requerer reguladores prudenciais com melhores

recursos e bancos centrais que operem dentro de estruturas capazes de proporcionar níveis muito mais elevados de coordenação de política em escala nacional e internacional.

Estrutura regulatória recomendação 6:

a. É preciso que os países reavaliem suas estruturas regulatórias de forma a eliminar

sobreposições desnecessárias e lacunas em sua abrangência e complexidade, removendo, assim, o potencial para arbitragem regulatória e melhorando a coordenação regulatória.

b. Em todos os casos, é preciso que os países reafirmem de forma explícita que as autoridades regulatórias nacionais encontram-se isoladas de pressões políticas e mercadológicas e reavaliem a necessidade de melhorar a qualidade e adequação dos recursos à disposição de tais autoridades.

Papel do Banco Central recomendação 7: a. Onde já não for este o caso, os bancos centrais deveriam aceitar um papel na promoção e manutenção da

estabilidade financeira. A expectativa deveria ser de que a preocupação referente à estabilidade financeira é relevante não apenas em períodos de crises financeiras, mas também em tempos de rápida expansão de crédito e um uso crescente de alavancagem que podem levar a crises.

b. Em países onde o banco central não é o regulador prudencial, ele deveria ter: (i) um forte papel no corpo governante do regulador ou reguladores prudenciais e

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62 Reforma Financeira Uma Estrutura para Estabilidade Financeira

b. Em países onde o banco central não é o regulador prudencial, ele deveria ter: (i) um forte papel no corpo governante do regulador ou reguladores prudenciais e de mercado; (ii) um papel de revisão formal no tocante às mudanças propostas em políticas prudenciais chave, especialmente políticas de capital e liquidez e acordos de margens; e (iii) um papel supervisório no tocante às empresas mais sistemicamente significativas e sistemas críticos de pagamento e compensação.

c. É preciso manter uma distinção clara entre as organizações bancárias reguladas com acesso normal aos recursos de liquidez do banco central e outros tipos de instituições financeiras cujo acesso, se houver, deve ser limitado a situações de emergência extrema de uma importância sistêmica crítica.

d. É preciso preservar a autoridade de empréstimo do banco central em circunstâncias extremamente incomuns e exigentes, mas isto deve incluir, por lei ou prática, o suporte de autoridades políticas adequadas para que tal poder seja usado na extensão de créditos desta natureza a instituições não-bancárias.

e. Operações do banco central de suporte a liquidez devem ser limitadas a formas que não envolvam empréstimos contra ativos de alto risco ou sua compra direta, ou outras formas de suporte direto ou indireto de capital a longo prazo. Em princípio, estas formas de suporte são proporcionadas de forma mais apropriada por entidades que respondem diretamente ao governo. Na prática, na medida em que o banco central é a única entidade com os recursos e a autoridade para agir rapidamente no fornecimento este suporte sistêmico, deveria haver aprovação subsequente de uma entidade governamental apropriada com a consequente transferência de risco para esta entidade.

Coordenação internacional recomendação 8:

a. Encorajamos fortemente as autoridades regulatórias nacionais e ministros de finanças a adaptar e melhorar os mecanismos existentes de coordenação regulatória e supervisória internacional. As melhorias requeridas deverão se focar em: (i) uma melhor coordenação entre a supervisão das organizações bancárias internacionais de maior porte, com partilha oportuna e aberta de informações, e maior clareza acerca de responsabilidades internas e externas, inclusive no gerenciamento de crises; (ii) avançar além da criação coordenada de regras e definição de padrões no sentido da identificação e modificação de significativas diferenças nacionais na aplicação e imposição de tais padrões; (iii) fechar lacunas regulatórias e elevar os padrões, sempre que necessário, no tocante a centros bancários offshore; e (iv) desenvolver os meios para análise conjunta de questões de riscos sistêmicos e as implicações da natureza cíclica de políticas regulatórias e supervisórias; Os órgãos apropriados deveriam reforçar suas ações nos países-membros no sentido de promover a implementação e a imposição de padrões internacionais. b. Dada a importância recorrente da alavancagem excessiva como um fator que contribui para perturbações financeiras e a crescente complexidade das formas como a alavancagem

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pode ser empregada intra- e extra-balancetes, reguladores prudenciais e bancos centrais deveriam

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Reforma Financeira Uma Estrutura para Estabilidade Financeira 6

colaborar com órgãos internacionais em um esforço para definir a alavancagem e, em seguida, coletar e reportar dados sobre o nível de alavancagem e descompassos entre maturidade e liquidez em vários sistemas e mercados nacionais.

c. Na medida em que, em última instância, existe a necessidade por novas organizações regulatórias internacionais, o foco inicial deveria se concentrar no desenvolvimento de mecanismos regionais mais formais, tal como ocorre na União Europeia, mas com atenção contínua para a dimensão global dos mercados financeiros mais significativos.

RECOMENDAÇÃO-CHAVE III É preciso reforçar políticas e padrões institucionais, com particular ênfase em padrões de governança, gerenciamento de risco, capital e liquidez. As políticas regulatórias e padrões contábeis também devem proteger contra efeitos pró-cíclicos e ser consistentes com a manutenção de práticas de negócios prudentes.

Padrões regulatórios de governança e gerenciamento de riscos recomendação 9:

É preciso elevar os padrões regulatórios para governança e gerenciamento de riscos, com ênfase particular em:

a. Reforçar as diretorias através do maior envolvimento de membros independentes que sejam

especialistas na indústria financeira e em gerenciamento de riscos; b. Coordenar a supervisão da diretoria sobre as políticas de compensação e gerenciamento de

riscos com a meta de equilibrar a tomada de riscos com prudência e interesses de longo prazo e retorno para os acionistas;

c. Assegurar revisões e exercícios sistemáticos em nível da diretoria com o propósito de estabelecer os parâmetros mais importantes para definir a tolerância a riscos da empresa e avaliar seu perfil de risco em relação a esses parâmetros.

d. Assegurar que as funções de gerenciamento de riscos e auditoria sejam desempenhadas por áreas totalmente independentes e providas de recursos adequados da empresa. A função de gerenciamento de riscos deveria se reportar diretamente ao diretor geral, e não ao diretor de outra área funcional;

e. Conduzir revisões periódicas da vulnerabilidade em potencial de uma empresa a riscos originários de concentrações de crédito, descompassos excessivos de maturidade, alavancagem excessiva ou excesso de dependência da liquidez do mercado de ativos;

f. Assegurar que todas as grandes empresas tenham a capacidade de monitorar continuamente, em uma questão de horas, suas maiores exposições a crédito de contrapartida ao longo de todo o empreendimento e colocar esta informação à disposição, conforme apropriado, de sua alta administração, diretoria, regulador prudencial e do banco central;

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6 Reforma Financeira Uma Estrutura para Estabilidade Financeira

g. Assegurar que toda a indústria aceite muitas das melhorias específicas na prática de gerenciamento de riscos contidas nos relatórios do Grupo de Políticas de Gerenciamento de Riscos de Contrapartida (CRMPG) e do Instituto de Finanças Internacionais e haja de acordo com elas.

Padrões de capital regulatório

recomendação 10:

a. É preciso melhorar os padrões internacionais de capital regulatório de modo a tratar de tendências para a pró-ciclicalidade. É preciso elevar benchmarks para avaliar uma boa posição de capitalização, dadas as limitações visíveis até mesmo das mais avançadas ferramentas para estimar riscos para toda a empresa.

b. Estes benchmarks devem ser expressos em um amplo espectro, dentro do qual deve ser possível gerenciar as relações de capital, com a expectativa de que, como parte do direcionamento supervisório, as empresas operem na faixa superior deste espectro durante aqueles períodos em que os mercados se mostram exuberantes e a tendência para subestimar e subcotar preços é grande.

c. As definições internacionais atuais de capital deveriam ser reavaliadas no sentido de um alinhamento estreito com definições nacionais.

d. É preciso reavaliar os padrões de divulgação de capital e riscos para que proporcionem um nível mais elevado de transparência à intenção de uma empresa em assumir riscos, a estimativa de suas necessidades de alocação de capital econômico e suas práticas de valorização.

Padrões para gerenciamento de riscos de liquidez

recomendação 11:

a. Padrões de liquidez de nível de base devem incorporar normas para manter um considerável e diversificado mix de financiamento de longo prazo e um anteparo de ativos não onerados de alta liquidez. Uma vez desenvolvidos tais padrões, é preciso pensar qual o melhor mix de dívida principal e passivos subordinados para as estruturas de capital do banco.

b. Direcionamentos supervisórios de padrões de liquidez deveriam se basear em uma análise mais refinada das capacidades de uma empresa de manter ampla liquidez em condições de tensão, inclusive com a avaliação da qualidade e eficácia de suas políticas de gerenciamento e liquidez e plano para financiamento de contingências.

c. Padrões de divulgação de liquidez baseados em práticas sugeridas nos Princípios do Comitê da Basiléia deveriam complementar as sugestões para melhorar as práticas de divulgação de informações sobre capital e perfis de risco.

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Reforma Financeira Uma Estrutura para Estabilidade Financeira 6 Contabilidade de valor justo

recomendação 12: a. É preciso reavaliar os princípios contábeis e padrões de valor justo de modo a desenvolver

diretrizes mais realistas para lidar com instrumentos menos líquidos e mercados em situações de emergência.

b. A tensão entre o propósito comercial atendido por instituições financeiras regulamentadas que intermediam riscos de crédito e liquidez e os interesses de investidores e credores deve ser resolvida criando-se padrões baseados nestes princípios que melhor reflitam o modelo de negócios destas instituições, apliquem o devido rigor à valorização e avaliação de intenção e exijam melhor divulgação e transparência. Estes padrões também devem ser revisados por reguladores prudenciais e coordenados juntamente com eles de modo a assegurar sua aplicação de forma consistente com a operação segura e sólida dessas instituições.

c. Também é preciso flexibilizar mais os princípios contábeis no tocante à necessidade prudencial de que instituições regulamentadas mantenham reservas adequadas de perda de crédito para cobrir as perdas esperadas ao longo de seus portfólios durante a vida útil dos ativos nos mesmos. Deve haver plena transparência na forma de se determinar e alocar as reservas.

d. Conforme enfatizado no terceiro relatório da CRMPG, independente dos padrões contábeis e condições de mercado a que estejam sujeitas, é preciso que as instituições financeiras assegurem que recursos plenamente adequados, isolados por uma autoridade decisória independente e à prova de falhas, se encontrem no cerne do processo de valorização e verificação de preços.

RECOMENDAÇÃO-CHAVE IV É preciso tornar os mercados e produtos financeiros mais transparentes, com incentivos a risco e prudenciais mais bem alinhados. É preciso tornar a infraestrutura de suporte a estes mercados mais robusta e resistente a falhas em potencial até de grandes instituições financeiras.

Restaurando a confiança em mercados de créditos securitizados recomendação 13:

a. . Supervisão do mercado: Amplas inovações nos mercados de capital e o rápido crescimento

da securitização tornaram imperativo que os mercados securitizados e outros mercados de produtos e derivados sejam submetidos a padrões regulatórios, de divulgação e transparência que estejam, no mínimo, à altura daqueles padrões aplicados no passado aos mercados de

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66 Reforma Financeira Uma Estrutura para Estabilidade Financeira

títulos públicos. Isto pode exigir a monitoração de uma ampla faixa de mercados, transparência adequada no tocante a volumes de transações e ativos em todos os produtos e a plena compreensão e monitoração de elementos de crédito e alavancagem de cada produto.

b. Padrões de subscrição de crédito: O desenvolvimento saudável dos mercados de crédito securitizado exige uma restauração da confiança do mercado na adequação e sustentabilidade dos padrões de subscrição de crédito. Para ajudar nesta restauração, os reguladores deveriam exigir que as instituições financeiras retivessem uma parcela significativa do risco de crédito que estão embutindo em produtos de securitizados e outros produtos de crédito estruturado.

c. Veículos extra-balancete: Mudanças nas regras de contas pendentes para a consolidação de muitos tipos de veículos extra-balancete representam uma melhora positiva e necessária. Antes que elas sejam plenamente implementadas, é importante estudar de forma cuidadosa o provável impacto que estas regras podem ter sobre os esforços de restaurar a viabilidade dos mercados de crédito securitizado.

Reformas de agências de notação de risco recomendação 14: É preciso revisar as políticas regulatórias referentes a NRSROs e ao uso de notações de risco, preferivelmente de forma coordenada em escala internacional, com o fim de atingir o seguinte: a. Usuários de notação de risco de risco, especialmente usuários regulamentados, deveriam ser

estimulados a restaurar ou adquirir a capacidade de notação de risco independente do risco oferecido por produtos de crédito nos quais estão investindo.

b. As notações de risco emitidas pelas NRSROs deveriam ser mais robustas a fim de refletir o risco de perdas de valorização em potencial originárias não somente da probabilidade de insolvências e perdas no caso de insolvência, mas também de todo o leque de fatores de risco em potencial (inclusive volatilidade de liquidez e preços).

c. Os reguladores deveriam estimular o desenvolvimento de modelos de pagamento capazes de melhorar o alinhamento de incentivos entre provedores de notações de risco e seus clientes e usuários, e também permitir que os usuários possam exigir que as NRSROs assumam a responsabilidade pela qualidade de seu próprio produto.

Supervisão de mercados de trocas de créditos não cumpridos (CDS) e mercados de balcão (OTC) recomendação 15: a. Há muito tempo há a necessidade de melhorias no planejamento da infraestrutura de suporte aos

mercados de produtos derivados de OTC; estas deveriam ser melhor apoiadas pela legislação de modo a estabelecer um sistema formal de regulamentação e supervisão de tais mercados.

Page 78: Financial Reform

Reforma Financeira Uma Estrutura para Estabilidade Financeira 6

b. Dada a natureza global do mercado, a existência de uma estrutura regulatória consistente em escala internacional é essencial; portanto, reguladores nacionais deveriam partilhar informações e entrar em acordos de cooperação apropriados com as autoridades de outros países responsáveis por atividades supervisórias.

Um mecanismo de resolução para instituições financeiras recomendação 16:

a. Em países onde já não for esse o caso, deverá ser estabelecido um regime legal que dê aos reguladores a autoridades de exigir avisos com antecedência, imediatas ações corretivas e fechamentos organizados de organizações bancárias regulamentadas, bem como outras instituições regulamentas de importância sistêmica. Nos Estados Unidos, a legislação deve estabelecer um processo para gerenciar a resolução de instituições financeiras não-depositárias (inclusive filiadas não-bancárias dentro de uma estrutura de companhia controladora bancária) comparável ao processo para instituições depositárias.

b. O regime para instituições financeiras não-depositárias deveria se aplicar apenas àquelas poucas organizações cujo colapso poderia, dentro do razoável, apresentar uma ameaça ao sistema financeiro e, portanto, que estariam sujeitas à regulamentação oficial.

c. Um corpo regulatório com poderes comparáveis àqueles disponíveis para a resolução de instituições bancárias deveria ser receber o poder de agir como recebedor ou curador de uma organização não-depositária que entrou em colapso e de colocar a organização em liquidação ou tomar medidas para restaurá-la à sua condição sólida e solvente.

d. O tratamento especial dado a várias formas de contratos financeiros pelas atuais leis norte-americanas deveria ser examinado à luz da recente experiência com o propósito de solucionar reivindicações legais sob estes contratos da forma menos perturbadora possível para o sistema financeiro.

Melhoria da transparência de mercados de produtos estruturados recomendação 17:

a. É preciso melhorar o regime de divulgação e disseminação de produtos garantidos por ativos

e outros produtos financeiros de renda fixa estruturados (inclusive títulos e outros produtos financeiros) nos mercados públicos e privados.

b. O regulador nacional apropriado deveria, juntamente com os investidores nestes produtos, determinar quais informações são relevantes para eles e considerar a melhora das regras existentes ou a adoção de novas regras que assegurem a divulgação daquelas informações, tanto para produtos garantidos por ativos quanto para produtos estruturados sintéticos.

Page 79: Financial Reform

c. O regulador nacional apropriado deveria condicionar as transações nos mercados privado e varejista ao atendimento de padrões apropriados de divulgação de informações.

Page 80: Financial Reform

6 Reforma Financeira Uma Estrutura para Estabilidade Financeira

Compartilhamento de informações sobre atividades de mercado e valorização recomendação 18:

Esforços para restaurar a confiança dos investidores no funcionamento destes mercados sugerem a

necessidade de rever avaliações dos custos e benefícios de investimentos em infraestrutura que facilitariam

um nível muito mais elevado de transparência no tocante a escopos de atividades, preços comerciados e

valorizações afins. Parte dos custos de tais mudanças encontra-se no impacto de preocupações especificas de

determinadas empresas no tocante à natureza privada de suas atividades de mercado. É preciso pesar estas

preocupações e custos diretos de investimento em relação aos benefícios em potencial de níveis mais

elevados de transparência de mercado. 

Page 81: Financial Reform
Page 82: Financial Reform

6

MEMBROS DO GROUP OF THIRTY

Paul A. Volcker Presidente do Conselho Administrativo, Group of Thirty Ex-Presidente, Junta de Governadores da Reserva Federal dos Estados Unidos da América

Jacob A. Frenkel Presidente, Group of Thirty Vice-Presidente, American International Group Ex-Governador, Banco de Israel

Geoffrey L. Bell Secretário Executivo, Group of Thirty Presidente, Geoffrey Bell & Company, Inc.

Montek S. Ahluwalia Vice-Presidente, Comissão de Planejamento da Índia Ex-Diretor, Departamento de Avaliação Independente, Fundo Monetário Internacional

Abdulatif Al-Hamad Presidente, Fundo Árabe para Desenvolvimento Econômico e Social Ex-Ministro das Finanças e Ministro do Planejamento, Kuwait

Leszek Balcerowicz Presidente do Conselho, Bruegel Professor, Escola de Economia de Varsóvia Ex-Presidente, Banco Nacional da Polônia Ex-Vice-Primeiro Ministro e Ministro de Finanças, Polônia

Jaime Caruana Conselheiro Fiscal, Fundo Monetário Internacional Ex-Governador, Banco de España Ex-Presidente, Comitê de Supervisão Bancária da Basiléia

Domingo Cavallo Presidente e CEO, DFC Associates, LLC Ex-Ministro da Economia, Argentina

E. Gerald Corrigan Diretor-Gerente, Goldman Sachs Group, Inc. Ex-Presidente, Federal Reserve Bank of New York

Andrew D. Crockett Presidente, JPMorgan Chase International Ex-Gerente Geral, Banco de Compensações Internacionais

Guillermo de la Dehesa Romero Diretor e Membro do Comitê Executivo, Grupo Santander Ex-Vice-Diretor-Gerente, Banco de España Ex-Secretário de Estado, Ministro da Economia e Finanças, Espanha

Page 83: Financial Reform

Mario Draghi Governador, Banca d’Italia Presidente, Fórum de Estabilidade Financeira Membro dos Conselhos Governante e Geral, Banco Central Europeu Ex-Vice-President e Diretor-Gerente, Goldman Sachs International

Martin Feldstein Professor of Economia, Harvard University Presidente Emérito, National Bureau of Economic Research Ex-Presidente, Council of Economic Advisers

Roger W. Ferguson, Jr. Chefe Executivo, TIAA-CREF Ex-Presidente, Swiss Re America Holding Corporation Ex-Vice-Presidente, Junta de Governadores da Reserva Federal dos Estados Unidos da América

Stanley Fischer Governador, Banco de Israel Ex-Primeiro-Diretor-Gerente, Fundo Monetário Internacional

Arminio Fraga Neto Sócio, Gávea Investimentos Ex-Governador, Banco do Brasil

Timothy F. Geithner Presidente e CEO, Federal Reserve Bank of New York Ex-Secretário Adjunto da Fazenda dos Estados Unidos para Assuntos Internacionais

Gerd Häusler Membro da Diretoria e Consultor Sênior, RHJ International Ex-Conselheiro e Diretor, Departamento de Mercados Internacionais de Capital,

Fundo Monetário Internacional Ex-Diretor-Gerente, Dresdner Bank

Philipp Hildebrand Ex-Presidente do Conselho Diretor, Banco Nacional Suíço Ex-Sócio, Moore Capital Management

Mervyn King Governador, Banco da Inglaterra Ex-Professor de Economia, London School of Economics

Paul Krugman Professor de Economia, Woodrow Wilson School, Princeton University Ex-Membro, Council of Economic Advisors

Guillermo Ortiz Martinez Governador, Banco de México Ex-Secretário de Finanças e Crédito Público, México

Tommaso Padoa-Schioppa Ex-Ministro de Economia e Finanças, Itália Ex-Presidente, Comitê de Pronunciamentos Contábeis Internacionais (IASC) Ex-Membro da Diretoria Executiva, Banco Central Europeu Ex-Presidente, CONSOB

Page 84: Financial Reform

8

Kenneth Rogoff Professor Thomas D. Cabot de Políticas Públicas e Economia, Harvard University Ex-Economias Chefe e Diretor de Pesquisa, FMI

Tharman Shanmugaratnam Ministro das Finanças, Singapura Ex-Diretor-Gerente, Autoridade Monetária de Singapura

Lawrence Summers Professor da Charles W. Eliot University, Harvard University Ex-Presidente, Harvard University Ex-Secretário da Fazenda dos Estados Unidos

Jean-Claude Trichet Presidente, Banco Central Europeu Ex-Governador, Banque de France

David Walker Conselheiro Sênior, Morgan Stanley International, Inc. Ex-Presidente, Morgan Stanley International, Inc. Ex-Presidente, Securities and Investments Board, Reino Unido

Zhou Xiaochuan Governador, Banco Popular da China Ex-Presidente, Banco de Construção da China Ex-Ministro Adjunto de Comércio Exterior

Yutaka Yamaguchi Ex-Vice-Governador, Banco do Japão Ex-Presidente, Comissão Permanente do Euro

Ernesto Zedillo Diretor, Yale Center for the Study of Globalization, Yale University Ex-Presidente do México

MEMBROS SENIORES

William McDonough Vice-Presidente e Consultor Especial do Presidente, Merrill Lynch Ex-Presidente, Public Company Accounting Oversight Board Ex-Presidente, Federal Reserve Bank of New York

William R. Rhodes Vice-Presidente Sênior, Citigroup Presidente do Conselho, Presidente e CEO, Citicorp e Citibank

Ernest Stern Sócio e Consultor Sênior, The Rohatyn Group Ex-Diretor-Gerente, JPMorgan Chase Ex-Diretor-Gerente, Banco Mundial

Marina v N. Whitman Professor de Administração de Empresas e Políticas Públicas, University of Michigan Ex-Membro, Council of Economic Advisors

Page 85: Financial Reform

MEMBROS EMÉRITOS

Lord Richardson of Duntisbourne, KG Presidente Honorário, Group of Thirty Ex-Governador, Banco da Inglaterra

Richard A. Debs Diretor Consultivo, Morgan Stanley Ex-Presidente, Morgan Stanley International Ex-COO, Federal Reserve Bank of New York

Gerhard Fels Ex-Diretor, Institut der deutschen Wirtschaft

Wilfried Guth Ex-Porta-Voz do Conselho de Diretores-Gerentes, Deutsche Bank AG

Toyoo Gyohten Presidente, Instituto para Assuntos Monetários Internacionais Ex-Presidente, Banco de Tóquio

John G. Heimann Consultor Sênior, Financial Stability Institute Ex-Fiscal de Moedas dos Estados Unidos

Erik Hoffmeyer Ex-Presidente, Danmarks Nationalbank

Peter B. Kenen Fellow Sênior de Economia Internacional, Council on Foreign Relations Ex-Professor Walker de Economia e Finanças Internacionais,

Departamento de Economia, Princeton University

Jacques de Larosière Conseiller, BNP Paribas Ex-Presidente, Banco Europeu para Reconstrução e Desenvolvimento Ex-Diretor-Gerente, Fundo Monetário Internacional Ex-Governador, Banque de France

Shijuro Ogata Ex-Vice-Governador, Banco do Japão Ex-Vice-Governador, Banco de Desenvolvimento do Japão

Sylvia Ostry Fellow Honorável de Pesquisa, Munk Centre for International Studies, Toronto Ex-Embaixatriz para Negociações Comerciais, Canadá Ex-Diretora, Departamento de Economia e Estatística da OCDE

Page 86: Financial Reform

PUBLICAÇÕES DO THE GROUP OF THIRTY DESDE 1990

RELATÓRIOS ESPECIAIS The Structure of Financial Supervision: Approaches and Challenges in a Global Marketplace

G30 Financial Regulatory Systems Working Group. 2008 Global Clearing and Settlement: Final Monitoring Report

Global Monitoring Committee. 2006 Reinsurance and International Financial Markets

Reinsurance Study Group. 2006 Enhancing Public Confidence in Financial Reporting

Steering & Working Committees on Accounting. 2004 Global Clearing and Settlement: A Plan of Action

Steering & Working Committees of Global Clearing & Settlements Study. 2003 Derivatives: Practices and Principles: Follow-up Sur veys of Industr y Practice

Global Derivatives Study Group. 1994 Derivatives: Practices and Principles, Appendix III: Sur vey of Industr y Practice

Global Derivatives Study Group. 1994 Derivatives: Practices and Principles, Appendix II: Legal Enforceability:

Sur vey of Nine Jurisdictions Global Derivatives Study Group. 1993

Derivatives: Practices and Principles, Appendix I: Working Papers Global Derivatives Study Group. 1993

Derivatives: Practices and Principles Global Derivatives Study Group. 1993

Clearance and Settlement Systems: Status Reports, Autumn 1992 Vários Autores. 1992

Clearance and Settlement Systems: Status Reports, Year-End 1990 Vários Autores. 1991

Conference on Clearance and Settlement Systems; Londres, Março de 1990: Palestras Vários Autores. 1990

Clearance and Settlement Systems: Status Reports, Spring 1990 Vários Autores. 1990

RELATÓRIOS Sharing the Gains from Trade: Reviving the Doha Round

Study Group Report. 2004 Key Issues in Sovereign Debt Restructuring

Study Group Report. 2002 Reducing the Risks of International Insolvency

A Compendium of Work in Progress. 2000 Collapse: The Venezuelan Banking Crisis of ‘94

Ruth de Krivoy. 2000

Page 87: Financial Reform

The Evolving Corporation: Global Imperatives and National Responses Study Group Report. 1999

International Insolvencies in the Financial Sector Study Group Report. 1998

Global Institutions, National Supervision and Systemic Risk Study Group on Supervision and Regulation. 1997

Latin American Capital Flows: Living with Volatility Latin American Capital Flows Study Group. 1994

Defining the Roles of Accountants, Bankers and Regulators in the United States Study Group on Accountants, Bankers and Regulators. 1994

EMU After Maastricht Peter B. Kenen. 1992

Sea Changes in Latin America Pedro Aspe, Andres Bianchi and Domingo Cavallo, with discussion by S.T. Beza and William Rhodes. 1992

The Summit Process and Collective Security: Future Responsibility Sharing The Summit Reform Study Group. 1991

Financing Eastern Europe Richard A. Debs, Har vey Shapiro and Charles Taylor. 1991

The Risks Facing the World Economy The Risks Facing the World Economy Study Group. 1991

THE WILLIAM TAYLOR MEMORIAL LECTURES The Credit Crisis: The Quest for Stability and Reform

E. Gerald Corrigan. 2008 Lessons Learned from the 2008 Financial Crisis

Eugene A. Ludwig. 2008 Two Cheers for Financial Stability

Howard Davies. 2006 Implications of Basel II for Emerging Market Countries

Stanley Fisher. 2003 Issues in Corporate Governance

William J. McDonough. 2003 Post Crisis Asia: The Way For ward

Lee Hsien Loong. 2001 Licensing Banks: Still Necessar y?

Tommaso Padoa-Schioppa. 2000 Banking Super vision and Financial Stability

Andrew Crockett. 1998 Global Risk Management

Ulrich Cartellieri and Alan Greenspan. 1996 The Financial Disruptions of the 1980s: A Central Banker Looks Back

E. Gerald Corrigan. 1993

Page 88: Financial Reform

TRABALHOS OCASIONAIS 78. The G30 at Thirty

Peter B. Kenen. 2008 77. Distorting the Micro to Embellish the Macro: The Case of Argentina

Domingo Cavallo, Joaquín Cottani. 2008 76. Credit Crunch: Where Do We Stand?

Thomas A. Russo. 2008 75. Banking, Financial, and Regulator y Reform

Liu Mingkang, Roger Ferguson, Guillermo Ortiz Martinez. 2007 74. The Achievements and Challenges of European Union Financial Integration

and Its Implications for the United States Jacques de Larosiere. 2007

73. Nine Common Misconceptions About Competitiveness and Globalization Guillermo de la Dehesa. 2007

72. International Currencies and National Monetar y Policies Barr y Eichengreen. 2006

71. The International Role of the Dollar and Trade Balance Adjustment Linda Goldberg and Cédric Tille. 2006

70. The Critical Mission of the European Stability and Growth Pact Jacques de Larosiere. 2004

69. Is It Possible to Preserve the European Social Model? Guillermo de la Dehesa. 2004

68. External Transparency in Trade Policy Sylvia Ostry. 2004

67. American Capitalism and Global Convergence Marina v. N. Whitman. 2003

66. Enron et al: Market Forces in Disarray Jaime Caruana, Andrew Crockett, Douglas Flint, Trevor Harris, Tom Jones. 2002

65. Venture Capital in the United States and Europe Guillermo de la Dehesa. 2002

64. Explaining the Euro to a Washington Audience Tommaso Padoa-Schioppa. 2001

63. Exchange Rate Regimes: Some Lessons from Postwar Europe Charles Wyplosz. 2000

62. Decision making for European Economic and Monetary Union Erik Hoffmeyer. 2000

61. Charting a Course for the Multilateral Trading System: The Seattle Ministerial Meeting and Beyond Ernest Preeg. 1999

60. Exchange Rate Arrangements for the Emerging Market Economies Felipe Larraín and Andrés Velasco. 1999

59. G3 Exchange Rate Relationships: A Recap of the Record and a Review of Proposals for Change Richard Clarida. 1999

Page 89: Financial Reform

6

58. Real Estate Booms and Banking Busts: An International Perspective Richard Herring and Susan Wachter. 1999

57. The Future of Global Financial Regulation Sir Andrew Large. 1998

56. Reinforcing the WTO Sylvia Ostry. 1998

55. Japan: The Road to Recovery Akio Mikuni. 1998

54. Financial Services in the Uruguay Round and the WTO Sydney J. Key. 1997

53. A New Regime for Foreign Direct Investment Sylvia Ostry. 1997

52. Derivatives and Monetary Policy Gerd Hausler. 1996

51. The Reform of Wholesale Payment Systems and Impact on Financial Markets David Folkerts-Landau, Peter Garber, and Dirk Schoenmaker. 1996

50. EMU Prospects Guillermo de la Dehesa and Peter B. Kenen. 1995

49. New Dimensions of Market Access Sylvia Ostry. 1995

48. Thirty Years in Central Banking Erik Hoffmeyer. 1994

47. Capital, Asset Risk and Bank Failure Linda M. Hooks. 1994

46. In Search of a Level Playing Field: The Implementation of the Basle Capital Accord in Japan and the United States Hal S. Scott and Shinsaku Iwahara. 1994

45. The Impact of Trade on OECD Labor Markets Robert Z. Lawrence. 1994

44. Global Derivatives: Public Sector Responses James A. Leach, William J. McDonough, David W. Mullins, Brian Quinn. 1993

43. The Ten Commandments of Systemic Reform Vaclav Klaus. 1993

42. Tripolarism: Regional and Global Economic Cooperation Tommaso Padoa-Schioppa. 1993

41. The Threat of Managed Trade to Transforming Economies Sylvia Ostry. 1993

40. The New Trade Agenda Geza Feketekuty. 1992

39. EMU and the Regions Guillermo de la Dehesa and Paul Krugman. 1992

38. Why Now? Change and Turmoil in U.S. Banking Lawrence J. White. 1992

37. Are Foreign-owned Subsidiaries Good for the United States? Raymond Vernon. 1992

Page 90: Financial Reform

36. The Economic Transformation of East Germany: Some Preliminary Lessons

Gerhard Fels and Claus Schnabel. 1991 35. International Trade in Banking Services: A Conceptual Framework

Sydney J. Key and Hal S. Scott. 1991 34. Privatization in Eastern and Central Europe

Guillermo de la Dehesa. 1991 33. Foreign Direct Investment: The Neglected Twin of Trade

DeAnne Julius. 1991 32. Interdependence of Capital Markets and Policy Implications

Stephen H. Axilrod. 1990 31. Two Views of German Reunification

Hans Tietmeyer and Wilfried Guth. 1990 30. Europe in the Nineties: Problems and Aspirations

Wilfried Guth. 1990 29. Implications of Increasing Corporate Indebtedness for Monetary Policy

Benjamin M. Friedman. 1990 28. Financial and Monetary Integration in Europe: 1990, 1992 and Beyond

Tommaso Padoa-Schioppa. 1990

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30

Group of Thirty 1726 M Street, N.W., Suite200 Washington, DC 20036 ISBN I-56708-146-0