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Flechas & Setas a Cruel Dicotomia! "Flechas, é flechas que se diz!" afirmava com autoridade e um certo desprezo condescendente o vendedor... "Setas são os sinais que apontam um sentido! Os arcos atiram flechas! Não atiram setas!" Eu, coitado, arqueiro-aprendiz, que entrara na loja a medo para comprar o meu primeiro arco ("Recurvo é como se designa este arco!") aceitei com humildade o ensinamento de quem era obviamente um conhecedor... Aliás era muito lógico: havia uma palavra para os símbolos que indicavam um sentido - as setas - e outra, as flechas, para os projécteis lançados pelos arcos. Muito lógico sim senhor! Muito lógico! Só que... desde quando são as línguas faladas lógicas? E eu lembrava-me de que nos clássicos portugueses que lera, o que usavam era o termo seta... ou seria mesmo? Bem, na altura limitei-me a sair da loja com uns centos de euros a menos no bolso e uma nova definição no espírito - "flechas, é flechas que os arcos atiram!" Tudo estava bem até ao momento em que alguém lembrou a meio de um treino: "Pois é... mas então porque é que nos castelos há seteiras e não flecheiras?" (ver in fine a este respeito a nota 3)

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Flechas & Setas a Cruel Dicotomia!

"Flechas, é flechas que se diz!" afirmava com autoridade e um certo desprezo condescendente o vendedor... "Setas são os sinais que apontam um sentido! Os arcos atiram flechas! Não atiram setas!" Eu, coitado, arqueiro-aprendiz, que entrara na loja a medo para comprar o meu primeiro arco ("Recurvo é como se designa este arco!") aceitei com humildade o ensinamento de quem era obviamente um conhecedor... Aliás era muito lógico: havia uma palavra para os símbolos que indicavam um sentido - as setas - e outra, as flechas, para os projécteis lançados pelos arcos. Muito lógico sim senhor! Muito lógico! Só que... desde quando são as línguas faladas lógicas? E eu lembrava-me de que nos clássicos portugueses que lera, o que usavam era o termo seta... ou seria mesmo? Bem, na altura limitei-me a sair da loja com uns centos de euros a menos no bolso e uma nova definição no espírito - "flechas, é flechas que os arcos atiram!" Tudo estava bem até ao momento em que alguém lembrou a meio de um treino: "Pois é... mas então porque é que nos castelos há seteiras e não flecheiras?" (ver in fine a este respeito a nota 3)

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Obviamente, nunca mais dormi descansado, acordando frequentemente lá pelas quatro da madrugada a pensar "...mas será mesmo flechas? Ou andaremos todos enganados?" Assim para aquietar o espírito e poder regressar ao descanso nocturno, tornava-se necessário investigar! E assim temos o pequeno estudo que se segue: Este porém já apareceu em pequenas partes, na página do Facebook da Associação de Arqueiros Alentejanos (a única associação portuguesa de arqueiros que tem reconhecidamente um pendor intelectual) mas aqui apresentamos a versão final bem mais completa. Comecemos: De uma busca inicial no Google saltou um artigo em resposta a esta mesma pergunta, texto excelente que se cita de seguida:

Setas ou flechas Autor: Gonçalo Pereira In Linguagem da Ciência http://linguagemdaciencia.blogspot.com/2008/10/1-setas-ou-flechas.html "A expressão consagrada no vocabulário arqueológico português para o artefacto é "seta" - sobretudo no objecto "ponta de seta", expressão na qual a alternativa "ponta de flecha" é inaceitável. Tratando-se de um artigo sobre achados arqueológicos é adequado que se mantenha o uso consistente do vocábulo "seta" e não "flecha".

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Ao mesmo tempo, o termo “setas” aplica-se normalmente em associação a aljava, como se pode comprovar por algumas das referências em baixo seleccionadas, retiradas de obras de referência da língua portuguesa. Aljava – carcás ou estojo em que se metiam as setas, e que se levava ao ombro. (Dicionário Prático Ilustrado – Lello) Aljava – carcás para as setas. (Dicionário Universal da Língua Portuguesa – Texto Editora) Aljava – coldre ou carcás em que se metiam as setas. (Dicionário da Língua Portugesa – Porto Editora) Aljava – coldre ou estojo sem tampa em que se guardavam e transportavam setas, e que era carregado nas costas, pendente do ombro. (Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa) A enciclopédia de Houaiss esclarece também que “flecheiro” é o “indivíduo que arremessa flechas ou setas”. Trata-se portanto de sinónimos, que o próprio Dicionário de Sinónimos da Porto Editora confirma e que praticamente todos os dicionários registam. Na era moderna, usa-se de facto a expressão “arco e flechas” e não “arco e setas”, que pode ser confirmado por exemplo em regulamentos da Federação Portuguesa de Tiro com Arco. “Flecha” é um termo mais moderno e resulta da nossa tendência para transigir com francesismos (flèche) que acabámos por adoptar. “Seta” tem origens mais antigas, do latim (sagitta) e daí resultou o termo “seteira”, por exemplo, que são as aberturas estreitas de defesa existentes em fortalezas e que serviam para arqueiros e besteiros se defenderam do cerco inimigo, arremessando setas. Como vêem é adequadamente explicado que o termo mais correcto será setas e não flechas, que para o autor não passa de um francesismo." - fim de citação -

O texto é excelente, Mas interessa ir mais além, e fundamentar esta tese, pois falta um certo fundamento histórico e investigação sobre a introdução da "flecha" enquanto francesismo no português falado. Assim temos que e começamos pelo antigamente, sendo a questão: Nos clássicos portugueses qual o termo que se utilizava? Sejamos por isso ambiciosos, avancemos mesmo "pró Camões!" Citemos o bardo nacional:

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Os Lusíadas - Canto II ...is de Ormuz o Reino poderoso Duas vezes tomado e sojugado. Ali vereis o Mouro furioso De suas mesmas setas traspassado: Que quem vai contra os vossos, claro veja Que, se resiste, contra si pele …

Os Lusíadas - Canto IV ... semeia Dos que a tanto desejam, sendo alheia. 31 "Já pelo espesso ar os estridentes Farpões, setas e vários tiros voam; Debaixo dos pés duros dos ardentes Cavalos treme a terra, os val …

Os Lusíadas - Canto V ...eu logo, e enquanto o remo aperto, Se mostra um bando negro descoberto. 33 "Da espessa nuvem setas e pedradas Chovem sobre nós outros sem medida; E não foram ao vento em vão deitadas, Q …

Os Lusíadas - Canto IX ...ninos voadores Estão em várias obras trabalhando: Uns amolando ferros passadores, Outros ásteas de setas delgaçando; Trabalhando, cantando estão de amores, Vários casos em verso modulando, …

Os Lusíadas - Canto X ...mansando De Ormuz os Párseos, por seu mal valentes, Que refusam o jugo honroso e brando. Ali verão as setas estridentes Reciprocar-se, a ponta no ar virando Contra quem as tirou; que Deus peleja …

Resultado final: Setas: 5 Flechas: 0 Mas é claro, vocês podem dizer "... Ah e tal e não sei quê, mas o gajo era zarolho e sabe-se lá se ele se estava mesmo a referir a setas lançadas por arcos ou se eram os virotões lançados por bestas ... etc, etc, etc." Pois bem, para tirar dúvidas temos de usar um texto que descreva um povo nativo que nunca tenha estado em contacto com europeus, e por isso não pudesse ter conhecimento ou o uso da besta e dos virotões. A solução é a carta D. Manuel II escrita por Pêro Vaz de Caminha narrando a chegada de Pedro Alvares Cabral ao Brasil.

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Não se pode ter povo mais virgem de bestas do que os ameríndios em 1500 aquando do primeiro contacto!

E vejam: "...Fomos assim de frecha direitos à praia. Ali acudiram logo perto de duzentos homens, todos nus, com arcos e setas nas mãos. Aqueles que nós levamos acenaram-lhes que se afastassem e depusessem os arcos. E eles os depuseram. Mas não se afastaram muito. E mal tinham pousado seus arcos quando saíram os que nós levávamos, e o mancebo degredado com eles. E saídos não pararam mais; nem esperavam um pelo outro, mas antes corriam a quem mais correria. E passaram um rio que aí corre, de água doce, de muita água que lhes dava pela braga. E muitos outros com eles. E foram assim correndo para além do rio entre umas moitas de palmeiras onde estavam outros. E ali pararam. E naquilo tinha ido o degredado com um homem que, logo ao sair do batel, o agasalhou e levou até lá. Mas logo o tornaram a nós. E com ele vieram os outros que nós leváramos, os quais vinham já nus e sem carapuças. E então se começaram de chegar muitos; e entravam pela beira do mar para os batéis, até que mais não podiam. E traziam cabaças d'água, e tomavam alguns barris que nós levávamos e enchiam-nos de água e traziam-nos aos batéis. Não que eles de todo chegassem a bordo do batel. Mas junto a ele, lançavam-nos da mão. E nós tomávamo-los. E pediam que lhes dessem alguma coisa. Levava Nicolau Coelho cascavéis e manilhas. E a uns dava um cascavel, e a outros uma manilha, de maneira que com aquela encarna quase que nos queriam dar a mão. Davam-nos daqueles arcos e setas em troca de sombreiros e carapuças de linho, e de qualquer coisa que a gente lhes queria dar. Dali se partiram os outros, dois mancebos, que não os vimos mais. Dos que ali andavam, muitos — quase a maior parte...." Setas: 2 Flechas: 0 Devem porém ter reparado no uso do termo "de frecha" logo no início do texto. "De frecha" nesta época significava "a direito" termo que entretanto caiu em desuso mas não deixa de ser curioso... (E já agora cascavel queria dizer guizo e não cobra) Entretanto, A conclusão é óbvia, o termo correcto nesta época é exclusivamente "seta".

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Mas dirão vocês "...ah mas e tal, mas isso é tudo gajos que já morreram há muito tempo e agora já não é assim, agora se calhar é flechas é que é bom..." Bem, se são assim, temos de encontrar um autor recente, que fale em setas/flechas, o que não é fácil pois implica que este (autor) seja considerado de mérito literário, e que tenha escrito sobre um tema que inclua o tiro com arco. Não foi fácil, mas que tal José Saramago? E o livro "Crónica da Conquista de Lisboa"? Pois bem, depois de uma busca exaustiva no texto (incontáveis serões de leitura e anotações!) contámos quantas vezes o termo flechas? Nenhuma! Zero! Nihil! Nada! Setas: uma série delas que não contei… Flechas: 0 Algumas citações:

“…do esteiro, e já os muros da cidade, deste lado, estariam guarnecidos de soldados, e outros, a pé firme, rente à água, esperariam a aproximação dos portugueses para

os crivarem de setas. Dirá…”

“…dentro tornarmos a ver-nos será sinal de que

ganhámos ambos a guerra, mas se algum de nós faltar ao encontro, esse perdeu-a, e agora

levante vossa senhoria o escudo que vem aí uma chuva de setas. Raimundo…”

“…longe. É certo que os arcos e as bestas disparavam uma verdadeira chuva de setas, virotes e virotões sobre as ameias, com vista a afastar delas os mouros de guarda e a

deixar folga aos assaltantes da primeira linha para, com machados e martelos…”

(há mais mas fico por aqui) E o que é curioso, uma das personagens deste romance tem o nome de Guilhão da Longa Seta e não pensem que é um tipo que anda com um grande sinal de trânsito atrás a indicar sentido único, não, a seta aqui refere-se mesmo à arma tanto mais que outra das personagens se chama Guilherme Vitulo, o da Longa Espada.

Até o Saramago usa setas! Assim, parece bem demonstrado que em termos de bom português o termo correcto é mesmo SETA! Mas então ficam duas dúvidas: 1: É correcto o termo flecha?

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2: E então como é que este termo apareceu na língua portuguesa? Quanto à primeira pergunta a resposta é fácil, claro que é correcto o termo flecha, e este tem já o seu justo lugar na língua e dicionários portugueses. É no entanto um estrangeirismo – francesismo - que não tem qualquer tradição na língua e literatura nacionais. Note-se que também é correcto dizer "é bué da bom" ("bué" consta do dicionário) o que não quer dizer que seja sempre aconselhável... Mas podemos dizer em defesa do termo flecha, que o mesmo já penetrou em diversas línguas europeias onde não tinha tradição: Traduções de seta/flecha: Italiano: Freccia saetta Romeno: săgeată pană Castellano: flecha saeta Catalão fletxa Grego βέλος Mas o mais curioso....

Na língua irmã - o Galego (Dicionário da Real Academia Galega) In http://www.edu.xunta.es/diccionarios/BuscaTermo.jsp seta s.f. Arma de lanzar, xeralmente por medio dun arco, que consiste nunha barra fina rematada en punta polo extremo anterior. Tirar unha seta cun arco. SIN. frecha. frecha s.f. 1. Arma consistente nunha barra fina rematada en punta, que ten unha peza feita xeralmente de plumas no outro extremo para mante-la estabilidade, e que se lanza mediante un arco, unha bésta, etc. Nas tribos indíxenas utilizan frechas para cazar. SIN. seta. 2. Signo ou figura en forma de frecha, que indica unha dirección. Sigue a frecha á esquerda.

ORA VEJAM BEM: 0s galegos definem seta exclusivamente como arma, mas a "frecha" já pode ser não só uma arma mas também um indicador de direcção! Exactamente o oposto do que nós usamos no meio arqueiro!

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Pois bem, vamos partir do princípio que o termo flecha veio pelo francês (o que quanto a nós não é uma certeza). Analisemos: O termo "flèche" no francês:

Étymol. et Hist. 1. a) [Fin xie s. fleche « trait qu'on lance avec un arc ou une arbalète » (Raschi Gl., éd. A. Darmesteter et D. S. Blondheim, t. 1, no 488 : fleches « tiges de flèches »)]; Prob. du franque. *fliukka « flèche, trait », forme restituée d'apr. le m. néerl. vlieke « penne, rémige; arme de trait » (Verdam) et de l'a. b. all. fliuca « arme de trait » (cf. Galée, p 77). D'apr. Falk-Torp (s.v. flitsbue) le subst. *fliukka lui-même dér. d'un anc. verbe germ. *fleukkon, de *fleugnôn « voler », serait apparenté à l'a. h. all. flucki « arme de trait » Le mot flèche, désignant d'abord la tige de la flèche puis, par synecdoque, l'arme elle-même, a évincé son ancien concurrent saiete, saete « flèche » d'usage cour. en a. fr. (mil. xiie s. ds T.-L.) mais dont nous n'avons plus trace que dans les mots savants sagette*, sagittaire*, sagittal* et sagitté*, empr. au lat.

Desta definição vemos que o termo saeta (no francês) veio da mesma raiz que a seta portuguesa mas que caiu em desuso em França a partir do seculo XII. Restou-lhes a flèche de origem barbara germânica ou de povos semelhantes e pouco asseados. E então como entrou a flecha no português e com tanta energia que pretende relegar a seta para o gueto da sinalética? Bem se voltarem atrás, ao texto de Gonçalo Pereira que transcrevemos, poderão reparar que aí se fala no termo "frecheiro" (referindo o Dicionario Houaiss - brasileiro) mas que também é definido pelo dicionário Priberam: frecheiro (è) (frecha + -eiro) s. m. 1. Atirador de frechas. = archeiro, flecheiro, seteiro 2. Pop. Pessoa que namora muito. = namorador 3. Homem apto para qualquer coisa. 4. Grande patusco. 5. Trás-os-Montes: Rapaz que gosta de andar aos ninhos. Já para o Dicionário da Porto Editora: frecheiro [È] nome masculino 1. antiquado: soldado que atirava frechas ou setas 2. popular: namorador 3. figurado: pessoa astuta para determinados fins (De frecha+-eiro) E já agora: (sempre do Dicionário Porto Editora)

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seteira nome feminino 1. abertura estreita nos muros das fortificações e nas naus, por onde se disparavam as setas 2. fresta para dar luz e ar a um aposento (Do lat. sagittarìa-, «própria para seta») seteiro adjetivo, nome masculino que ou aquele que atira setas ou flechas, frecheiro (Do lat. sagittarìu-, «id.») Nada é muito conclusivo, apenas podemos dizer que ambos os termos estão correctos, mas quanto ao ataque da da flecha, precisamos de mais elementos, e para isso saltemos o mar e vejamos como no Brasil usam ambos os termos na imprensa:

"Antes do início do jogo, eles abriram uma faixa com uma seta na direção dos rubro-negros e a frase: "Vergonha do Nordeste''. Folha de São Paulo, 16/11/2009 "Quando se der por satisfeito, clique no seu login, opção que fica do lado direito. Vá a View Music e Playlist. Selecione sua mais nova criação e clique na seta Embed, que vai levá-lo à criação de um widget, o que vai permitir que você coloque a seleção em seu blog". Folha de São Paulo, 10/10/2009

"Pouco se sabe sobre ele: vive nu, tem cerca de 40 anos, usa arco e flecha e estranhamente cultiva um pequeno bigode. Sim, aparentemente há índios com pelo no rosto". Folha de São Paulo, 08/01/2011 "A flecha voou reta. Hook acompanhou as penas cinza, olhando enquanto a haste de freixo ligeiramente afunilada, com ponta de aço, acelerava rumo ao coração de Perrill. Ele havia afiado a ponta em forma de cunha e sabia que ela cortaria a pele de cervo como se fosse teia de aranha". Folha de São Paulo, 13/03/2010 (conseguem estas citações em http://www.dicio.com.br/).

Aha! Aqui temos um povo que usa os dois termos exactamente como os luso-arqueiros o fazem!!! Seta - aponta, flecha - ataca. Não serão eles os responsáveis finais por esta influência? É muito provável que sim! Note-se que os dicionários brasileiros reconhecem que: Significado de Seta em www.dicio.com.br

Seta: s.f. Arma de arremesso constituída por uma haste que tem uma das extremidades pontiaguda como o vértice de um triângulo, sendo a outra provida de penas e que se atira por meio de um arco, ou uma besta; flecha.

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Figura com a forma de seta, usada geralmente para indicar direção ou rumo. Astronomia. Constelação da Via-Láctea. Botânica. Planta da família das alismatáceas, também chamada sagitária.

Portanto a diferença nos termos existe no Brasil mas sobretudo na linguagem falada e na imprensa, por outro lado, em termos eruditos reconhece-se a seta como arma. Note-se que neste país também se usa o termo flecha para a cana dos foguetes.

CONCLUSÃO: Ambos os termos estão correctos para serem usados para definir o projéctil do arco, no entanto o termo "clássico" português e de mais honrosas raízes e tradições, é a SETA. E ainda, notemos que em comunicações científicas, nomeadamente em arqueologia, o termo usado é “ponta de seta”.

Nota Final: o Futuro da seta/flecha: Os arqueiros portugueses usam o termo flecha como "slang" (calão ou gíria) profissional, isto é uma linguagem conhecida só do grupo interno, e que é usado para se distinguirem "dos outros" e que inclui muitos termos que só eles conhecem (nocks, palhetas, compound, recurvo etc.). Porém é na diferença seta/flecha que mais se distinguem pois ambas as palavras são usadas por todos, mas só o "grupo" as "usa correctamente". Por isso é extremamente improvável que mesmo conscientes do francesismo/brasileirismo que usam, e das honrosas tradições do termo seta abdiquem do termo flecha. NB: Se repararem no primeiro texto citado (de Gonçalo Pereira) o termo flecha só é encontrado "em exclusivo" nos estatutos da Federação Portuguesa de Tiro com Arco. Por outro lado, se usarem o termo setas durante um treino ou torneio, e lhes aparecer um "sabedor" com ar desdenhoso a dizer: "Flechas, é flechas que se diz! Setas são os sinais que apontam um sentido! Os arcos atiram flechas! Não atiram setas!" Sintam-se livres de citar este texto ou partes dele, e depois de deixarem o vosso interlocutor baralhado, acabem com: "e sabes onde é que podes enfiar as tuas flechinhas, sabes? Enfia-as no c.... !" Espero ter sido útil, O sempre vosso Robin da Buraca

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NOTAS CURIOSAS: Ao longo dos infindáveis dias e noites debruçado sobre este tema surgiram algumas curiosidades (relacionadas com o tema) que passo a descrever: 1: Encontram em http://www.manualdearqueiria.kit.net/ um constrangedor (a nível linguístico) "Tratado de Arqueiria" (!!!) de autor brasileiro que agarrou em tudo o que era termo inglês e o transformou na forma mais parecida vocalmente que imaginou! Vejam por exemplo a figura 1 que ficam com uma ideia. Será que vamos também começar a falar assim? O precedente existe... 2: Vejam o artigo da Wikipedia em português sobre setas, e notem que aí um autor brasileiro define seta como o que nós chamamos de virotão ou quadrelo. Virotão não consta da Wikipedia... Deveríamos alterar isto. 3: Existe o termo "frecheira" como sinónimo de seteira. 4: A origem do termo “arrow” em inglês vem do Proto-indoeuropeu *arku- de onde temos o termo arco em português, leiam:

Arrow:

early 14c., from O.E. arwan, earlier earh "arrow," possibly borrowed from O.N. ör (gen.

örvar), from P.Gmc. *arkhwo (cf. Goth. arhwanza), from PIE base *arku- "bow and/or

arrow," source of Latin arcus (see arc). The ground sense would be "the thing belonging to the

bow," perhaps a superstitious avoidance of the actual name. A rare word in Old English,

where more common words for "arrow" were stræl (cognate with the word still common in

Slavic, once prevalent in Germanic, too; meaning related to "flash, streak") and fla, flan, a

North Germanic word, perhaps originally with the sense of "splinter." Stræl disappeared by

1200; fla lingered in Scottish until after 1500. Meaning "a mark like an arrow in cartography,

etc." is from 1834.

O.E. significa Old English

PIE Proto-Indo-European, the hypothetical reconstructed ancestral language of the Indo-European family. The time scale is much debated, but the most recent date proposed for it is about 5,500 years ago.

O.N. Old Norse, the Norwegian language as written and spoken c.100 to 1500 C.E., the relevant phase of it being "Viking Norse" (700-1100), the language spoken by the invaders and colonizers of northern and eastern England c.875-950. This was before the rapid divergence of West Norse (Norway and the colonies) and East Norse (Denmark and Sweden), so the language of the vikings in England was essentially the same, whether they came from Denmark or from Norway. Only a few of the loan words into English can be distinguished as being from one or the other group.