Fogo e Gelo

erin hunter

Para o meu filho, Joshua, cujos sorrisos me vão mantendo feliz enquanto escrevo, e para Vicky, a minha editora, sem a qual Coração de Fogo nunca se teria tornado um guerreiro

Agradecimentos especiais a Kate Cary

A L I A N Ç A S

CLÃ DO TROVÃOCOMANDANTE ESTRELA AZUL – gata cinzento‑azulada,

manchada de prata em redor da boca.

VICE-COMANDANTE GARRA DE TIGRE – grande gato tigrado castanho‑escuro com garras dianteiras invulgarmente compridas.

GATA CURANDEIRA PRESA AMARELA – velha gata cinzento‑‑escura, com um focinho largo e achatado, anteriormente do Clã das Sombras.

GUERREIROS (gatos e gatas sem crias) TEMPESTADE BRANCA – grande gato

branco. Aprendiz, Pata de Areia RISCA ESCURA – esguio gato tigrado preto

e cinzento. Aprendiz, Pata de Poeira CAUDA LONGA – gato tigrado claro com

riscas preto‑escuras. Aprendiz, Pata Rápida VENTO QUE CORRE – rápido gato tigrado. CASCA DE SALGUEIRO – gata cinzenta

muito clara com invulgares olhos azuis. PÊLO DE RATO – pequena gata parda. CORAÇÃO DE FOGO – bonito gato ruivo. Aprendiz, Pata de Carvão RISCA CINZENTA – sólido gato cinzento

de pêlo comprido. Aprendiz, Pata de FetoAPRENDIZES (mais de seis luas de idade, em treino para

se tornarem guerreiros) PATA DE AREIA – gata ruivo‑clara. PATA DE POEIRA – gato tigrado castanho‑

‑escuro.

PATA RÁPIDA – gato preto e branco. PATA DE CARVÃO – gata cinzento‑escura. PATA DE FETO – gato tigrado castanho‑

‑dourado.

RAINHAS (gatas prenhas ou que criam gatinhos) PÊLO DE NEVE – de lindo pêlo branco

e olhos azuis. FOCINHO MALHADO – bonita gata tigrada. FLOR DOURADA – de pêlo ruivo‑claro. CAUDA SARDENTA – gata tigrada clara

e a mais velha das rainhas do berçário.

ANCIÃOS (antigos guerreiros e rainhas, agora retirados) MEIA CAUDA – grande gato tigrado

castanho‑escuro sem parte da cauda. ORELHA PEQUENA – gato cinzento com

orelhas muito pequenas. O gato mais velho do Clã do Trovão.

PÊLO MALHADO – pequeno gato branco e preto.

ZAROLHA – gata cinzento‑clara, a mais velha gata do Clã do Trovão. Virtualmente cega e surda.

CAUDA SARAPINTADA – gata outrora bonita com um adorável pêlo sarapintado em casca de tartaruga.

CLÃ DAS SOMBRASCOMANDANTE PÊLO DA NOITE – velho gato negro.

VICE-COMANDANTE PELAGEM DE CARVÃO – gato magro e cinzento.

GATO CURANDEIRO NARIZ MOLHADO – pequeno gato cinzento e branco.

GUERREIROS CAUDA ESPETADA – gato tigrado castanho. Aprendiz, Pata Castanha

PATA MOLHADA – gato tigrado cinzento. Aprendiz, Pata de Carvalho PEQUENA NUVEM – gato tigrado muito

pequeno.

RAINHAS NUVEM DA MANHÃ – pequena gata tigrada. FLOR ESCURA – gata preta. PAPOILA ALTA – gata tigrada castanho‑

‑clara, de patas compridas.

ANCIÃOS PÊLO DE CARVÃO – magro gato cinzento.

CLÃ DO VENTOCOMANDANTE ESTRELA ALTA – gato preto e branco com

uma cauda muito comprida.

VICE-COMANDANTE PÉ MORTO – gato preto com uma pata torcida.

GATO CURANDEIRO FOCINHO DE CASCA – gato castanho de cauda curta.

GUERREIROS GARRA DE LAMA – gato castanho‑escuro com manchas.

Aprendiz, Pata de Teia ORELHA RASGADA – gato tigrado. Aprendiz, Pata Corredora UM BIGODE – um jovem gato tigrado castanho. Aprendiz, Pata BrancaRAINHAS PÉ DE CARVÃO – rainha cinzenta. FLOR DA MANHÃ – uma rainha com pêlo

de casca de tartaruga.

CLÃ DO RIOCO M A N D A N T E ESTRELA TORTA – um enorme gato

tigrado claro com uma mandíbula torcida.

VICE-COMANDANTE PÊLO DE LEOPARDO – uma gata com invulgares manchas douradas.

GATO CURANDEIRO PÊLO DE LAMA – gato de pêlo comprido castanho‑claro.

GUERREIROS GARRA NEGRA – gato preto fuliginoso. Aprendiz, Pata Pesada PÊLO DE PEDRA – gato cinzento

com orelhas com cicatrizes de batalha. Aprendiz, Pata de Sombra GRANDE VENTRE – gato castanho‑escuro. Aprendiz, Pata Prateada RIO DE PRATA – bonita e esguia gata

tigrada. GARRA BRANCA – um guerreiro sombrio.

GATOS FORA DOS CLÃS MANCHA – bichano gorducho e amistoso,

preto e branco, que vive numa casa na orla da floresta.

CEVADA – gato preto e branco que vive numa quinta, próximo da floresta.

ESTRELA QUEBRADA – gato castanho‑ ‑escuro com pêlo comprido, anteriormente líder do Clã das Sombras.

PÉ NEGRO – grande gato branco com enormes patas negras, anteriormente vice‑ ‑comandante do Clã das Sombras.

FOCINHO DE GARRA – gato castanho com cicatrizes de batalha.

PEDREGULHO – gato tigrado prateado. PATA DE CORVO – esguio gato preto com

uma cauda de ponta branca. PRINCESA – gata tigrada castanho‑clara

com peito e patas singularmente brancas – uma tareca.

GATINHO NUVEM – primogénito da Princesa; gato de longo pêlo branco.

Quinta do Cevada

Pedras Altas

Estrada do Trovão

Acampamentodo Clã do Vento

QuatroÁrvores

Acampamento do Clã do Rio

Sítio das Árvores Cortadas

Pedras do Sol

Clareira da Areia

quedas- -d’água Árvore

da Coruja

Rio

Estrada do Trovão

Sítio das Árvores Cortadas

Pinheiros Altos

Clareira da Areia

GrandePlátano

Acampamento do Clã das Sombras

Lugardos mortos

Acampamento do Clã do Trovão

Pedras das Cobras

Árvore da Coruja

Sítio dos Duas Pernas

CLÃ DAS SOMBRAS

CLÃ Do trovão

CLÃ Do Rio

CLÃ Do Vento

CLÃ Das Estrelas

Quinta do Vento Parado

Acampamento da Quinta Morgan

Quinta Morgan

Dedos do Diabo [mina abandonada]

Clareira do Druida

Salto do Druida

Rio Chell

Travessa Morgan

Charneca do Vento Parado

Estrada do Vento ParadoEstrad

a do N

orte d

e Aller

ton

Lixeira do Norte de Allerton

Bosque do Veado Branco

Bosque de decíduas

Coníferas

Pântano

Ravinas e pedras

Carreiros

Chelford

NORT

E

Floresta de Chelford

Fábrica de Chelford

Estrada do Vento Parado

Estrad

a do N

orte d

e Aller

ton

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Prólogo

Chamas alaranjadas lambiam o ar frio, enviando fagulhas para o céu nocturno. A fogueira tremeluzia numa paisagem estéril de erva esparsa, projectando as silhuetas dos dois Duas Pernas que se aqueciam.

Um par de luzes brancas surgiu à distância, anunciando a apro‑ximação de um monstro. Rugiu ao passar pela Estrada do Trovão, que se erguia alto no céu, enchendo o ar de fumos álacres.

Na orla do ermo, movia‑se um gato, de olhos faiscando nas sombras. Orelhas arrebitadas agitaram‑se, depois baixaram‑se contra o ruído. Outros gatos seguiam‑no, um a um, até à relva suja. Tinham as caudas baixas e farejavam o ar com os beiços dobrados.

– E se os Duas Pernas nos vêem? – silvou um dos gatos.Um grande macho respondeu; os olhos como discos de âmbar

a reflectirem a luz da fogueira.– Não vêem. A visão nocturna deles é fraca.À medida que avançava, as chamas iluminavam o pêlo preto

e branco das suas espáduas poderosas. Mantinha a longa cauda erguida, enviando uma mensagem de coragem ao seu Clã. Mas os outros gatos agachavam‑se sobre a erva, a tremer. Aquele lugar era

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estranho. O barulho dos monstros agredia as vibrissas sensíveis dos seus ouvidos e o fedor acre feria‑lhes as narinas.

– Estrela Alta? – Uma rainha cinzenta abanou a cauda com desconforto. – Por que viemos aqui?

O macho preto e branco voltou‑se para a gata.– Fomos expulsos de todos os sítios em que tentámos instalar‑

‑nos, Pé de Cinza. Talvez aqui encontremos alguma paz – miou.– Paz? Aqui? – ecoou Pé de Cinza, incrédula. Puxou o seu

gatinho para a frente e abrigou‑o debaixo do ventre. – Com fogo e monstros? Os meus gatinhos não vão estar em segurança!

– Mas não estávamos em segurança em casa – miou outra voz. Um macho negro abriu caminho até à frente, coxeando pesada‑mente sobre uma pata torcida. Susteve o olhar de âmbar de Estrela Alta. – Não conseguimos protegê‑los do Clã das Sombras – cus‑piu. – Nem no nosso próprio acampamento!

Miados ansiosos ergueram‑se de alguns dos gatos, quando se recordaram da terrível batalha que os expulsara da sua casa nas terras altas, na orla da floresta. Um jovem aprendiz choramingou:

– Estrela Quebrada e os seus guerreiros podem andar ainda atrás de nós!

O grito alertou um dos Duas Pernas em volta do fogo. Levan‑tou‑se desconfiado e olhou na direcção das sombras. De imediato, os gatos ficaram em silêncio, agachando‑se mais; mesmo Estrela Alta baixou a cauda. O Duas Pernas berrou para a escuridão e atirou algo na sua direcção. O míssil voou sobre as suas cabeças e explodiu com um estouro de bocados afiados sobre a Estrada do Trovão por detrás deles.

Pé de Cinza encolheu‑se quando um fragmento lhe raspou o lombo, mas manteve‑se silenciosa, enrolando o corpo em volta do aterrorizado gatinho.

– Mantenham‑se baixos – silvou Estrela Alta.O Duas Pernas junto à fogueira cuspiu no chão, depois voltou

a sentar‑se.

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Os gatos esperaram durante alguns momentos, antes de Estrela Alta voltar a erguer‑se.

Pé de Cinza levantou‑se também, retraindo‑se com a nova dor.– Estrela Alta, receio pela nossa segurança aqui. E o que come‑

remos? Não consigo cheirar nenhuma caça.Estrela Alta esticou o pescoço e descansou suavemente o foci‑

nho sobre a cabeça da rainha.– Eu sei que têm fome – miou. – Mas estaremos mais seguros

aqui do que no nosso velho território ou nos campos e nos bosques dos Duas Pernas. Olhem para este lugar! Nem o Clã das Sombras nos seguiria até aqui. Não há cheiro de cães e aqueles Duas Pernas mal se conseguem pôr de pé. – Voltou‑se para o macho preto com a pata torcida. – Pé Morto – ordenou. – Leva Um Bigode e vejam se conseguem encontrar alguma coisa para comer. Se há Duas Per‑nas, há‑de haver ratazanas.

– Ratazanas? – cuspiu Pé de Cinza, enquanto Pé Morto e um gato tigrado castanho, mais pequeno, se afastavam. – Isso é comida de corvo!

– Chiu! – silvou uma gata de pêlo de casca de tartaruga a seu lado. – Carne de ratazana é melhor do que morrer à fome!

Pé de Cinza franziu o sobrolho e enterrou a cabeça, lambendo a sua cria por detrás das orelhas manchadas.

– Temos de encontrar um sítio novo para nos instalarmos, Pé de Cinza. – A gata de pêlo de casca de tartaruga prosseguiu mais gentilmente. – Flor da Manhã precisa de descansar e comer. Os gatinhos dela nascerão em breve. E precisa de estar forte.

As figuras esguias de Pé Morto e Um Bigode emergiram das sombras.

– Tinhas razão, Estrela Alta – chamou Pé Morto. – Há odores de ratazana por todo o lado e acho que encontrei um sítio onde nos podemos abrigar.

– Mostra‑nos – ordenou Estrela Alta, juntando o resto do seu Clã com um abanar de cauda.

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Com cautela, os gatos atravessaram o ermo atrás de Pé Morto, que os conduziu à Estrada do Trovão elevada, com a fogueira a fazer que as suas sombras se projectassem contra as suas enormes pernas de pedra. Um monstro rugiu lá em cima e o chão tremeu. Mas mesmo o mais minúsculo dos gatinhos percebia a necessidade de silêncio e estremecia sem chorar.

– Aqui – miou Pé Morto, parando junto a um buraco redondo, da altura de dois gatos. Um túnel negro afundava‑se pelo chão dentro. Um curso de água constante corria em fio lá para dentro.

– A água é fresca – acrescentou Pé Morto. – Podemos bebê‑la.– Teremos as patas molhadas de dia e de noite! – queixou‑se

Pé de Cinza.– Estive lá dentro – disse‑lhe o macho preto. – Há um espaço

afastado da água. Pelo menos, estaremos a salvo dos Duas Pernas e dos monstros.

Estrela Alta avançou e ergueu o queixo.– O Clã do Vento já viajou o suficiente – declarou. – Já faz

quase uma lua desde que o Clã das Sombras nos expulsou da nossa casa. O tempo está a ficar mais frio e a estação da folha caída depressa chegará. Não temos outra escolha senão ficar.

Pé de Carvão estreitou os olhos, mas não disse nada. Silencio‑samente, juntou‑se ao seu Clã enquanto, um a um, se enfiavam pelo túnel escuro.