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FÔLEGO JORNAL-LABORATÓRIO SOBPRESSÃO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIFOR OUTUBRO/NOVEMBRO DE 2010 ANO 7 N° 24 Adrenalina nas águas Camila Holanda Por décadas, o Surf foi o es- porte aquático predileto entre os frequentadores das praias. Com a evolução das técni- cas e a necessidade de novas modalidades de esportes ma- rítimos, o wakeboard surgiu na década de 1970, nos EUA, como uma alternativa para os surfistas nos dias de pou- ca onda. Barcos começaram a rebocá-los por intermédio de um cabo. Com o tempo, as pranchas foram diminuindo e lanchas passaram a puxá-las. Hoje ele tem uma dimensão mundial, e no Brasil tem cres- cido muito. Pode-se dizer que este esporte é uma fusão do esqui aquático com surf. A prancha deve ser propor- cional ao peso e altura do atle- O Wakeboard evoluiu impul- sionado por diferentes técni- cas e iniciativas. Antes, uma alternativa; hoje, um esporte respeitado e que está em cons- tante expansão ta. Deve ser menor que a utiliza- da no surf, possibilitando maior velocidade. A corda deve estar sempre esticada, pois o wakebo- arder (nome que se dá ao atleta desse esporte) precisa manter o equilíbrio ao realizar uma ma- nobra. O campeão do circuito cearense de 2008, Iugo Borges, afirma que o pré-requisito para praticar é “apenas ter alguma vivência na água e saber nadar, para não se apavorar muito”. Quando o esporte foi iniciado no Brasil, em 1990, e a Associa- ção Brasileira de Wakeboard foi fundada, (ABW) em 1998, por Betinho e Flavio Castello Bran- co, o primeiro circuito nacional teve 6 fases pelo País. A classi- ficação era feita de uma forma objetiva e com técnicas pré- estabelecidas. Em 1999, os cri- térios ficaram mais subjetivos, deixando os atletas mais livres para fazerem outras manobras. Nesse novo formato, o que con- tava era o estilo, o que facilitou mais. No ano seguinte, obstá- culos como rampas e corrimãos passaram a ser utilizados nos campeonatos, criando ainda mais opções para os wakeboar- ders exibirem suas habilidades. O Wakeboard chegou ao Ceará na década de 1990. Mas foi só após o primeiro campeonato na Lagoa do Uruaú, Beberibe, em 2004, que ele passou a ser mais conhecido. O atleta cea- rense Rodrigo Frota é um dos responsáveis pela dissemina- ção do esporte no Estado. Iugo Borges, professor da escola 30 Knots, afirma que ele é uma espécie de “embaixador do es- porte aqui”. O Ceará está entre os oito principais locais responsáveis pelo crescimento do wakebo- ard no Brasil, ao lado dos esta- dos de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Goiás, Tocan- tins, Brasília e Amazonas. A estudante de Publicidade da Universidade de Fortale- za, Letícia Brayner, começou a praticar através de amigos. Ela afirma que admira muito o esporte e é estimulante vê-lo crescendo no Ce- ará. “Logo na primeira experiência já me empol- guei. Já conhecia o Wake, mas nunca havia praticado ou visto de perto como era”, com- plementa. O sistema de Cable 2.0, inovação no esporte que traz um sistema de cabos que puxa o wakeboarder por cima, uti- lizando a eletricidade, foi inaugurado na Lagoa do Co- losso, em Fortaleza, nos dias 4 e 6 de setembro de 2010, quando ocorreu a 1ª etapa do campeonato cearense. O uso de lanchas pode ser, então, dispensado. Mas nas aulas ainda são utilizadas. No Bra- sil, atualmente, há 3 Cables. Eles podem ser encontrados no Naga Cable Park, na cida- de de Jaguariúna, São Paulo; no 2D Cable Park, município no município de Cotia, São Paulo; e na Lagoa do Colosso, em Fortaleza. As categorias do circuito ce- arense são dividas em inician- te, intermediário, feminino, avançado e open. Essa última é a mais difícil e é recomenda- da para profissionais. Cearense radical Conheça as curiosidades da vaquejada, que deixou de ser apenas um hobby e virou um esporte levado a sério. Seus praticantes contam os desafios e os prazeres desse esporte que se estendeu a todos os públicos, inclusive o feminino. Páginas 4 e 5 O wakeboard, apesar do pouco reconhecimento no Estado, é um dos esportes mais procurados no litoral cearense FOTO: JUSTI FREITAS Há o campeonato nacional e os estaduais. Em 2010, For- taleza foi sede da 3ª etapa do Circuito Brasileiro, nos dias 12, 13 e 14 de novembro. Tal fato é a consolidação de que o Ceará tem força, sendo reco- nhecido como um dos princi- pais pólos do esporte no País. Antes da competição, Iugo Borges afirma que “os atletas es- tão muito pilhados, e treinando toda semana”. Pela terceira vez conse- cutiva, o paulistano Luciano Rondic conquistou o título de campeão brasileiro na catego- ria Profissional. O favorito era Mário Manzolli, mas ficou em segundo. Eduardo Martins le- vou o bronze. Segundo Iugo Borges, um critério observado nos campe- onatos é que “os wakeboarders devem se concentrar na qua- lidade das manobras, não na quantidade”. Eles não devem repeti-las e serão “julgados na dificuldade e competência das que forem realizadas”, com- plementa. Os juízes pontuam os competidores em cada um dos três critérios: execução, intensidade e composição. Lagoa do Colosso foi sede da 1ª etapa do campeonato cearense FOTO: JUSTI FREITAS

Fôlego nº 24

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Uma publicação do Laboratório de Jornalismo da Unifor - Labjor | Outubro/Novembro de 2010

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FÔLEGOJORNAL-LABORATÓRIO SOBPRESSÃO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIFOR OUTUBRO/NOVEMBRO DE 2010 ANO 7 N° 24

Adrenalina nas águas

Camila Holanda

Por décadas, o Surf foi o es-porte aquático predileto entre os frequentadores das praias. Com a evolução das técni-cas e a necessidade de novas modalidades de esportes ma-rítimos, o wakeboard surgiu na década de 1970, nos EUA, como uma alternativa para os surfi stas nos dias de pou-ca onda. Barcos começaram a rebocá-los por intermédio de um cabo. Com o tempo, as pranchas foram diminuindo e lanchas passaram a puxá-las. Hoje ele tem uma dimensão mundial, e no Brasil tem cres-cido muito. Pode-se dizer que este esporte é uma fusão do esqui aquático com surf.

A prancha deve ser propor-cional ao peso e altura do atle-

O Wakeboard evoluiu impul-sionado por diferentes técni-cas e iniciativas. Antes, uma alternativa; hoje, um esporte respeitado e que está em cons-tante expansão

ta. Deve ser menor que a utiliza-da no surf, possibilitando maior velocidade. A corda deve estar sempre esticada, pois o wakebo-arder (nome que se dá ao atleta desse esporte) precisa manter o equilíbrio ao realizar uma ma-nobra. O campeão do circuito cearense de 2008, Iugo Borges, afi rma que o pré-requisito para praticar é “apenas ter alguma vivência na água e saber nadar, para não se apavorar muito”.

Quando o esporte foi iniciado no Brasil, em 1990, e a Associa-ção Brasileira de Wakeboard foi fundada, (ABW) em 1998, por Betinho e Flavio Castello Bran-co, o primeiro circuito nacional teve 6 fases pelo País. A classi-fi cação era feita de uma forma objetiva e com técnicas pré-estabelecidas. Em 1999, os cri-térios fi caram mais subjetivos, deixando os atletas mais livres para fazerem outras manobras. Nesse novo formato, o que con-tava era o estilo, o que facilitou mais. No ano seguinte, obstá-culos como rampas e corrimãos passaram a ser utilizados nos campeonatos, criando ainda mais opções para os wakeboar-ders exibirem suas habilidades.

O Wakeboard chegou ao Ceará na década de 1990. Mas foi só após o primeiro campeonato na Lagoa do Uruaú, Beberibe, em 2004, que ele passou a ser mais conhecido. O atleta cea-rense Rodrigo Frota é um dos responsáveis pela dissemina-ção do esporte no Estado. Iugo Borges, professor da escola 30 Knots, afi rma que ele é uma espécie de “embaixador do es-porte aqui”.

O Ceará está entre os oito principais locais responsáveis pelo crescimento do wakebo-ard no Brasil, ao lado dos esta-dos de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Goiás, Tocan-tins, Brasília e Amazonas.

A estudante de Publicidade da Universidade de Fortale-za, Letícia Brayner, começou a praticar através de amigos. Ela afi rma que admira muito

o esporte e é estimulante vê-lo crescendo no Ce-ará. “Logo na primeira

experiência já me empol-guei. Já conhecia o Wake,

mas nunca havia praticado ou visto de perto como era”, com-plementa.

O sistema de Cable 2.0, inovação no esporte que traz um sistema de cabos que puxa o wakeboarder por cima, uti-lizando a eletricidade, foi inaugurado na Lagoa do Co-losso, em Fortaleza, nos dias 4 e 6 de setembro de 2010, quando ocorreu a 1ª etapa do campeonato cearense. O uso de lanchas pode ser, então, dispensado. Mas nas aulas ainda são utilizadas. No Bra-sil, atualmente, há 3 Cables. Eles podem ser encontrados no Naga Cable Park, na cida-de de Jaguariúna, São Paulo; no 2D Cable Park, município no município de Cotia, São Paulo; e na Lagoa do Colosso, em Fortaleza.

As categorias do circuito ce-arense são dividas em inician-te, intermediário, feminino, avançado e open. Essa última é a mais difícil e é recomenda-da para profi ssionais.

Cearense radical

Conheça as curiosidades da vaquejada, que deixou de ser apenas um hobby e virou um esporte levado a sério. Seus praticantes contam os desafi os e os prazeres desse esporte que se estendeu a todos os públicos, inclusive o feminino. Páginas 4 e 5

O wakeboard, apesar do pouco reconhecimento no Estado, é um dos esportes mais procurados no litoral cearense Foto: Justi FreitAs

Há o campeonato nacional e os estaduais. Em 2010, For-taleza foi sede da 3ª etapa do Circuito Brasileiro, nos dias 12, 13 e 14 de novembro. Tal fato é a consolidação de que o Ceará tem força, sendo reco-nhecido como um dos princi-pais pólos do esporte no País. Antes da competição, Iugo Borges afirma que “os atletas es-tão muito pilhados, e treinando toda semana”.

Pela terceira vez conse-cutiva, o paulistano Luciano Rondic conquistou o título de campeão brasileiro na catego-ria Profissional. O favorito era Mário Manzolli, mas ficou em segundo. Eduardo Martins le-vou o bronze.

Segundo Iugo Borges, um critério observado nos campe-onatos é que “os wakeboarders devem se concentrar na qua-lidade das manobras, não na quantidade”. Eles não devem repeti-las e serão “julgados na dificuldade e competência das que forem realizadas”, com-plementa. Os juízes pontuam os competidores em cada um dos três critérios: execução, intensidade e composição.

Conheça as curiosidades da vaquejada, que deixou de ser apenas um hobby e virou um esporte levado a sério. Seus praticantes contam os desafi os e os prazeres desse esporte que se estendeu a todos

Páginas 4 e 5

Lagoa do Colosso foi sede da 1ª etapa do campeonato cearense Foto: Justi FreitAs

SOBPRESSÃOOUTUBRO/NOVEMBRO DE 20102 FÔLEGO

Sugestões, comentários e críticas: [email protected]

Caderno Fôlego - Fundação Edson Queiroz - Universidade de Fortaleza - Diretora do Centro de Ciências Humanas: Profa. Erotilde Honório - Coordenador do Curso de Jornalismo: Prof. Wagner Borges - Professor Orientador: Alejandro Sepúlveda - Projeto Gráfi co: Prof. Eduardo Freire - Diagramação: Bruno Barbosa e Aldeci Tomaz - Estagiário de Produção Gráfi ca: Bruno Barbosa - Supervisão gráfi ca: Francisco Roberto - Impressão: Gráfi ca Unifor - Tiragem: 500 exemplares - Edição: João Paulo de Freitas - Redação: Camila Holanda, Julie Scott, Márcia Feitosa, Raphael B. Alves e Ricardo Garcia .

A Corrida de rua Unifor já é uma tradição no calendário esportivo da Universidade. Esse ano completa a sua 18ª edição e reuniu esportistas profi ssionais e atletas amadores. Foto: André LimA

A Corrida de rua Unifor desse ano contou com mais de 2 mil atletasJoão Paulo de Freitas

O pódio masculino foi conquistado pelo portu-guês Helder Mendes Abreu Ornelas, que concluiu a prova em 33 minutos e 59 segundos. Segundo o atleta, o clima cearense difi cultou um pouco o desempenho. Na categoria feminina, a mara-nhense Larisse do Nascimento conquistou pela segunda vez consecutiva o primeiro lugar. Dessa vez, a atleta fechou o tempo com 40 minutos e 36 segundos. Larisse diz que o segredo para duas vi-tórias seguidas é praticar diariamente a corrida.

- Coordenador do Curso de Jornalismo: Prof. Wagner Borges - Professor Orientador: Alejandro Sepúlveda

de rua Unifor já é uma tradição no calendário esportivo da Universidade. Esse ano completa a sua 18ª edição e reuniu esportistas

A Corrida de rua Unifor desse ano contou com

A premiação foi concedida em di-nheiro para os três primeiros colo-cados de cada categoria (masculina e feminina). 2.000 reais para o primeiro lugar, 1.500 para a segunda colocação e 1.000 reais para os terceiros colocados.

A corrida foi realizada no dia 12 de dezem-bro, às 7h da manhã. Os atletas se concentraram na avenida Valmir Pontes, ao lado da Unifor. A dis-tância do percurso foi de 10 km.

SOBPRESSÃO3OUTUBRO/NOVEMBRO DE 2010 FÔLEGO

Os atletas completam o percurso da Corrida de rua Unifor, em, no máximo, 1hora e 30 minutos. Após a che-gada do primeiro lugar, são premiados com a medalha de participação. Foto: André LimA

Essa competição é classificada pela Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt) como classe A. Foto: André LimA

Larisse do Nascimento ficou em primeiro lugar na categoria feminina. Em segundo, com 41 minutos e 02 segundos de tempo veio Mary Emanuella Oliveira. No terceiro lugar, Antônia Bernadete Lins da Silva marcou o tempo com 42 minutos e 30 segundos. Foto: André LimA

O primeiros lugar foi conquistado por Helder Mendes Abreu Ornelas. Em seguida Adelson Alves Rodrigues conquistou o segundo lugar com 34 minutos e 14 segundos de tempo percorridos. Com a diferença de dois segundos, João Batista Silva Negreiro ficou em terceiro lugar com 34 minutos e 16 segundos. Foto: André LimA

Dormir cedo, ingerir alimentos mais leves, beber bastante líquido, alongar-se, usar tênis apropriados e confor-táveis são algumas dicas básicas para esse tipo de competição. Foto: André LimA

Além do prêmio em dinheiro para os três primeiros colocados, os vencedores levam para casa um troféu. F oto: An d r é Li m A

SOBPRESSÃOOUTUBRO/NOVEMBRO DE 20104 FÔLEGO

Vaquejada também é esporte

Em um cenário de crescimento do número de simpatizantes, de reconhecimento da atividade como esporte e da regulamentação das regras, a vaquejada se consolida como profissão. A prática ganha cada vez mais espaço e se dissemina com rapidez nas grandes mídias. As competições já podem ser acompanhadas em sites, blogs e programas de TV veiculados semanalmente

Márcia Feitosa

A vaquejada nasceu das pegas de bois dentro da caatinga nor-destina e se popularizou como divertimento para homens acostumados a lidar com a boiada e que mostravam força suficiente para domá-la. O tra-balho do vaqueiro, no começo, consistia basicamente em reu-nir o gado no tempo de seca, ferrá-lo, castrá-lo e conduzi-lo para onde ainda houvesse pas-to verde no sertão.

Estes homens que se embre-nhavam no meio da mata vêem em seus próprios corpos as marcas de uma vegetação seca, cheia de espinhos e pontas de galhos, que tanto dificultavam seu trabalho. Aqueles que se mostravam mais bem adapta-dos à aridez e às intempéries da região foram sendo valori-zados, por realizarem com ma-estria o que lhes havia sido de-legado. Na dúvida sobre quem seriam os melhores, se organi-zou uma disputa, que preten-dia divertir os espectadores e mostrar os dons de cada va-queiro na derrubada de bois em um determinado espaço da pista de corrida.

Em meados da década de 40, uma vertente mais rude da vaquejada começou a ser pra-ticada com assiduidade: a cor-rida de pé-de-mourão. A ativi-dade baseava-se na derrubada do boi o mais próximo possí-vel da porteira de onde saía. O risco que a dupla de vaqueiros corria era enorme, visto que um teria que derrubar e o ou-tro pular do cavalo em movi-mento, e pegar o boi enquanto ainda estivesse no chão.

Um novo esporte

A evolução foi responsável por sucessivas mudanças, até ser criado um regulamento que consolidou a vaquejada como uma nova modalidade espor-tiva. Atualmente, os partici-pantes disputam divididos em categorias: amador, interme-diário e profissional. As faixas, no final da pista, têm um espa-

O jovem vaqueiro André Leopoldo montando o cavalo Canjica, na disputa do Circuito Cearense de Vaquejada. Foto: rAyLA VidAL

ço padronizado de 10m. O uso do capacete confere bonifica-ção a quem usa. Tecnicamen-te o boi não pode ser açoitado nem ter a cauda quebrada sob pena de desclassificação de quem o fizer e também os ca-valos só podem correr se apre-sentarem os exames de anemia (doença contagiosa que prevê o sacrifício do eqüino que a contraia) e mormo (zoonose grave que pode ser transmi-tida para o homem), segundo o apresentador do Programa Vaquejada da TV Diário, José Santana. Cada inscrição dá di-reito a três bois que conferem oito, nove ou dez pontos. Estes pontos, porém, só são contabi-lizados se, no evento da queda, o boi levantar e deixar visível as quatro patas. Em caso de dúvida, o julgador analisa e passa a informação para o lo-cutor para que ele anuncie os tradicionais: “Valeu o boi” ou “Zero boi”.

O estabelecimento dessas regras deixou o esporte mais seguro, fazendo com que cada vez mais pessoas se interes-sassem por ele. Como em toda mudança há traumas, nes-te caso não poderia ser dife-rente. Ela trouxe também um ônus muito grande, já que com a popularização, a vaquejada saiu do interior e ganhou as grandes cidades. Na chegada a essas cidades, os adeptos tam-bém mudaram, pois o patrão, dono de fazendas, que antes ia só para assistir já não pa-gava mais a um vaqueiro para que corresse e divulgasse seu nome, mas ele mesmo e seus filhos passaram a usufruir da glória e do reconhecimento trazido pelas premiações.

Negócio lucrativo

A chegada da “classe A” ao “mundo da vaquejada” mudou os parâmetros de uma práti-ca totalmente sertaneja, com-prometendo suas origens. Os próprios vaqueiros sentem o acontecido. “As mudanças trou-xeram parques com estruturas altamente modernas, premia-

Esporte atrai mulheresPela sua origem, a vaqueja-da vem marcada por um ar de masculinidade e pela ideia de que é preciso um esforço enorme para a derrubada do gado. O não conhecedor das técnicas jamais acharia viá-vel, neste caso, a participa-ção de mulheres no esporte. E é exatamente contrariando essa lógica e buscando cada vez mais aprimorar as es-tratégias de derrubada que a vaquejada conta com um nú-mero crescente de mulheres.

A maneira com que elas se comportam nas competições parece proposital, é como se quisessem dizer que não per-deram sua feminilidade por terem escolhido viver entre homens, que não deixaram de ser mulheres quando de-cidiram ser vaqueiras. Aque-las que têm se aventurado no esporte, mostraram que po-dem disputar de igual para igual com os homens e que estão lá para apresentar seus talentos. Talentos estes, que não foram reprimidos pelos preconceitos da sociedade,

que ainda sustenta o machis-mo e acha que existem espa-ços onde a mulher não deve estar.

A aluna do curso de Enfer-magem da Unifor, Natianne Andrade, é uma das que se aventuraram na vaquejada. Vaqueira desde os treze anos, ela diz ter se interessado pelo esporte por sempre ter convivido com ele, já que os homens de sua família sem-pre o praticaram. “Comecei a correr na inauguração de uma pista em minha cidade, Morada Nova. Eles me con-vidaram para fazer uma ho-menagem a meu avô, já que a pista teria o nome dele, por ter sido um dos melhores va-queiros da região. A inaugu-ração foi em 2003, desde lá nunca parei”, afirma. Mesmo sendo uma atividade parale-la, e ter um caráter de diver-são, Natianne deixa claro sua paixão e a seriedade com que vê a regularização e unifica-ção das regras para que, cada vez mais, a vaquejada se con-solide como esporte.

Vaquejada

ções milionárias e cavalos que custam fortunas. Já não são mais a coragem e a habilidade que contam, agora é preciso ter dinheiro para poder praticar. O número crescente de adeptos foi rapidamente visado por ri-cos empresários, e a vaquejada está passando por um processo de descaracterização, já que, muito mais que o espetáculo de força e garra que um dia fora, é agora um grande e lucrativo negócio”, afirma o vaqueiro ce-arense André Leopoldo.

A injeção de dinheiro per-mitiu que atitudes ilícitas e vícios perniciosos chegassem aos espaços de corrida. O mo-nopólio dos empresários so-bre os melhores vaqueiros e a limitação desse vaqueiro que passa apenas a fazer o que or-dena sua equipe. Mesmo ten-do sido sempre vítima de este-reótipos, antes a luta era para mostrar que nas disputas não havia apenas pistoleiros e pin-guços, agora é para erradicar o perigo, que já é tão iminente que substitui o que se supunha antes.

E inegável que, após esse crescimento, hoje existem inúmeras pessoas que são be-

A estudante pratica vaquejada desde os treze anos de idade. Foto: rAyLA VidAL

SOBPRESSÃO5OUTUBRO/NOVEMBRO DE 2010 FÔLEGO

O jovem vaqueiro André Leopoldo montando o cavalo Canjica, na disputa do Circuito Cearense de Vaquejada. Foto: rAyLA VidAL

A vaquelaja não impediu que Djalma estudasse Direito e se tornasse Juiz.Foto: rAyLA VidAL

”Sou um vaqueiro-juiz”Djalma Teixeira Benevides nas-ceu em Itapipoca e, desde cedo, manifestou sua paixão pela va-quejada. Aos doze anos correu efetivamente pela primeira vez numa corrida de pé-de-mourão num cavalo dado por seu pai. Formado em Direito, foi apro-vado no concurso de Juiz aos 24 anos e assumiu sua primeira co-marca aos 26 anos na cidade de Bela Cruz, no Ceará. Ele resume sua saga em uma frase: “Nasci vaqueiro e Deus me elegeu para ser Juiz.”.

De bom humor e simpatia contagiante, Dr. Djalma não se cansa de falar do esporte e da satisfação que é receber bonifi-cações nas corridas. Tanto é, que tem seus troféus expostos na sala de casa. Além de premiações simbólicas, o Juiz já ganhou prê-mios em dinheiro. Dentre estes considera como mais relevante a moto que conseguiu no Circuito Maranguapense de Vaquejada.

Ele ressalta que o mérito pe-las vitórias não é só seu e divide os aplausos com Faixa Branca, o cavalo que monta nas corridas

Brete ou jiqui: Porteira de onde o boi sai no inicio da pista.

Calzeiro: Responsável por colocar a cal na areia para que a faixa esteja sempre visível.

Esteira: Vaqueiro que auxilia o puxador pegando e entre-gando o rabo do boi para que seja derrubado.

Faixa: Espaço entre duas li-nhas feitas de cal onde o boi tem que ser derrubado para valer pontos.

Juiz de faixa ou julgador: O que valida o boi ou não no evento da corrida.

Locutor: Alguém que chama os vaqueiros para entrar na pista e narra a competição.

Puxador: Vaqueiro que puxa o boi pelo rabo tentando derruba-lo.

Valeu o boi: Frase dita quando o boi caiu e será con-tabilizado em pontos para o vaqueiro.

Vaqueirama: Grupo de vaqueiros.

Zero boi: Quando o boi não caiu, ou alguma das regras foi infringida e não haverá pontuação.

Fonte: José Santana – apre-sentador do programa Vaque-jada da TV Diário

Glossário

neficiadas direta ou indireta-mente pelos empregos que são gerados na vaquejada. Fazem parte impreterivelmente do evento o locutor, o julgador, os responsáveis pelo curral, o tratador dos cavalos, o calzei-ro, entre outros. “A tradição ligou também a vaquejada às festas de forró. É impossível pensar em vaquejada sem fes-ta. Na estrutura de cada par-que são sempre disponibiliza-dos espaços para a realização desses eventos que se tornam cada vez mais diversificados, já que atraem públicos imen-sos”, diz Phillipy Costa, res-ponsável pelas atrações que animam a vaquejada do maior parque de João Pessoa, na Pa-raíba, explicando o sucesso da parceria forró-vaquejada. Sucesso este que lhe garante um salário exorbitante, que funciona como bonificação, já que o dono do parque exi-ge exclusividade dos empre-sários que divulgam e organi-zam o evento.

Regulamentação

A seriedade com que a vaquei-rama encarou durante esse tempo “a vida de gado” foi fi-

nalmente reconhecida por lei, beneficiando os que vivem da prática como vaqueiros profis-sionais. A Lei 10.220 de 11 de abril de 2001, assegura, entre outras coisas, que deve haver um contrato escrito entre os responsáveis pela equipe que irá ingressar e o vaqueiro e neste contrato devem constar cláusulas referentes à divisão de premiações, salários e in-denizações em caso de invali-dez ou morte do vaqueiro. O número de vaqueiros profis-sionais ainda é pequeno, visto que são cerca de 400 no Brasil, segundo o site oficial da Asso-ciação dos Vaqueiros.

A afeição que os sertanejos têm pela vaquejada foi respon-sável pela difusão do esporte e agregou a ele uma grande quantidade de participantes. A paixão organizou-se prin-cipalmente em torno da visão coletiva de que isso tudo faz parte da tradição e cultura do povo nordestino, que alia raça e coragem às suas atitudes. Os praticantes, por se encon-trarem com certa freqüência, cultivam a sensibilidade de respeitar seus adversários e a amizade entre si.

e o que o acompanha há nove anos. A cumplicidade entre os dois garantiu um poster de Fai-xa Branca na sala do 8º Juiza-do Especial Cível e Criminal de Fortaleza, que Djalma Benevides ocupa.

A novidade não está apenas no fato de um juiz praticar va-quejada, mas em assumir as duas carreiras e amar as duas, considerando-as ambivalen-tes na seriedade com que as desempenha. Dr. Djalma , no entanto, ressalta o seu amor

primeiro: “Eu não sou um Juiz-Vaqueiro, sou um Vaqueiro-Juiz”. Não precisaria explicar, pois isto fica muito claro se re-pararmos no toque do celular onde se ouvem relinchos de um cavalo, ou para o sentimenta-lismo com que sempre cita as praticas do sertão em que nas-ceu, ou ainda para a coleção de miniaturas de cavalos em sua sala ou para a maneira como elogia emotivamente a destre-za e habilidade de cada um dos seus companheiros vaqueiros.

SOBPRESSÃOOUTUBRO/NOVEMBRO DE 20106 FÔLEGO

Julie Scott

A Universidade de Fortaleza (Unifor) sediou, de 18 a 20 de Novembro, a sétima edi-ção dos Jogos Paraolímpicos do Ceará, evento realizado pelo Governo do Estado do Ceará em parceria com a As-sociação de Deficientes Mo-tores do Ceará (ADM). Neste ano, 465 atletas de todo o es-tado se reuniram no comple-xo esportivo da Unifor para competir em 8 modalidades, que incluíram atletismo, na-tação, futsal, basquete, tênis de mesa, judô, xadrez e ta-ekwondo, divididas nas cate-gorias feminina e masculina.

Os jogos, que acontecem desde 2003, tiveram início no dia 18 com uma cerimô-nia de abertura realizada no ginásio à noite, quando a to-cha olímpica foi acesa. No mesmo dia de manhã já ha-via se iniciado as atividades com disputas no Taekwondo e Atletismo para deficientes auditivos e intelectuais e, à tarde, aconteceram partidas por medalhas na modalidade futsal para deficientes visu-ais, além dos atletas da nata-ção entrarem na piscina.

Para uma das organiza-doras do evento na Unifor, a prof. Ana Lúcia Maciel, “é através de campeonatos como este, que o Governo do Estado promove, que se pode descobrir os talentos que irão para outras competições na-cionais e até internacionais, quem sabe até uma olimpí-ada”. A tabela de atletas é formada por atletas tanto amadores quanto profissio-nais e é uma eliminatória. De acordo com a organizadora, o mais importante é a parti-cipação dos competidores. O resultado real se dá na auto estima dos atletas e na for-ma como o evento, conside-rado esportivo-social, serve para inspirar mais pessoas a praticar esportes.

O clima durante o evento foi de alegria e descontração, tanto por parte dos espec-tadores quanto dos atletas, que muitas vezes até ajudam seus adversários. Os garotos do Instituto Moreira de Sou-sa, que estavam participando da competição na categoria futsal para atletas com defi-ciência intelectual, eram uns dos que estavam mais em-polgados. “Esses eventos são de extrema importância para nós. Uma forma de aumentar

O VII Jogos Paraolímpicos do Ceará reúne desportistas ama-dores e profissionais com um só objetivo: o esporte sem restri-ções para todos

o potencial dos nossos alu-nos como atletas e aumentar a auto estima deles. Este é um dos eventos pelo qual os nossos atletas mais esperam”, disse Tânia Leitão, assistente social da instituição que os estava acompanhando.

Atletismo Uma das representantes da Associação Desportiva dos Deficientes do Estado do Ce-ará (ADDECE) , Maria Jo-selita da Silva, tem cerca de três anos de experiência no esporte, e usa cadeira de ro-das há cinco, mas já conta com uma participação no Pa-rapan-Americano de 2007, realizado no Rio de Janeiro, onde foi a única mulher ce-arense a participar, além de compor a Seleção Brasileira de Para-Atletismo.

Apaixonada pelo atletis-mo, Joselita tem 24 anos e é referência nacional nas três categorias que disputa, lan-çamento de dardo, disco e peso, categoria na qual pos-sui o recorde brasileiro de 7 metros e 78 centímetros, al-cançado durante a primeira etapa nacional do Circuito Brasil Paraolímpico de Atle-tismo, Halterofilismo e Nata-ção, evento também realiza-do na Unifor.

Ela conta que já viajou para diversos países para competir e está na torcida para ir para o Mundial Paraolímpico de Atletismo, que será realizado na Nova Zelândia em 2011, mas que continua, como a

O evento pretende unir as diferentes defi ciências físicas e mentais e promover competições livres de preconceitos e delimitações Foto: JuLie sCott

Esporte sem limitações

Tabela de resultados gerais

Futsal Visual1º lugar: Sociedade de Assistência aos Cegos- SAC (Time A)2º lugar: Sociedade de Assistência aos Cegos- SAC (Time B)

Tênis de Mesa1º lugar: Projeto Faça um Defi ciente um Atleta - PFDA2º lugar: Associação dos Defi cientes Motores do Ceará

Taewkondo1º lugar: Fundação Perpétua Magalhães2º lugar: Fundação Perpétua Magalhães

Basquete1º lugar: Associação dos Defi cientes Motores do Ceará-ADM2º lugar: Associação dos Defi cientes Motores de Fortaleza3º lugar: Associação Desportivas dos Defi cientes do Ceará – ADDECE4º lugar: Guerreiras Sobre Rodas

Atletismo1º lugar geral: Associação dos Defi cientes Motores do Ceará-ADM2º lugar geral: Sociedade de Assistência aos Cegos-SAC3º lugar geral: Instituto dos Cegos-CAP

Natação1º lugar geral: Associação dos Defi cientes Motores do Ceará-ADM2ºlugar geral: Projeto Faça um Defi ciente um Atleta - PFDA3º lugar geral: Sociedade de Assistência aos Cegos-SAC

Saiba mais... maioria dos atletas paraolím-picos, sem patrocínio.

ResultadosRepresentantes de 17 insti-tuições cearenses participa-ram dos três dias de jogos. No primeiro dia de evento, a equipe da Sociedade de As-sistência aos Cegos (SAC) ga-rantiu a medalha de ouro no futsal para deficientes visu-ais no ginásio poliesportivo da Unifor.

Parte das competições das modalidades Xadrez e Judô marcadas para o dia 19, sex-ta-feira à tarde, foram can-celadas por motivos não ex-plicitados pela organização, que divulgou apenas que as instituições responsáveis pelos atletas haviam entra-do em contato para cancelar a participação dos mesmos, retirando as categorias do evento. À noite, o evento foi retomado, seguindo a pro-gramação, com as eliminató-rias do Basquete.

No dia 20 foi a vez das equipes de Basquete para de-ficientes motores se enfrenta-rem na disputa pelo primeiro lugar, que foi para a equipe da Associação dos Deficien-tes Motores do Ceará (ADM). A ADM também alcançou o primeiro lugar geral no Atle-tismo e na Natação. No Tênis de Mesa, os grandes campeões foram os representantes do Projeto Faça um Deficiente um Atlete (PFDA) e no Ta-ekwondo, a Fundação Perpé-tua Magalhães.

1º lugar: Fundação Perpétua Magalhães2º lugar: Fundação Perpétua Magalhães

1º lugar: Associação dos Defi cientes Motores do Ceará-ADM

SOBPRESSÃO7OUTUBRO/NOVEMBRO DE 2010 FÔLEGO

Tradicional Corrida de São Silvestre fecha o calendário esportivoO final do ano de 2010 ainda reserva fortes emoções para os atletas apai-xonados por maratona. No dia 31 de dezembro, a Corrida Internacional de São Silvestre chega a sua 86ª edição, em São Paulo, encerrando o calen-dário esportivo nacional, com as já conhecidas disputas pelo título entre brasileiros e quenianos.

A edição deste ano contará com a presença de 20.000 atletas, entre profissionais e amadores, e se extenderá em um percurso de 15 km.

Reforma do CastelãoEstava previsto para este mês de de-zembro o início das obras de reforma do estádio Castelão em vistas da Copa de 2014, no Brasil. No fim de outubro, foi encerrado o período de licitação das empresas que tentavam ser as responsáveis pela obra.

A estimativa era de que as obras se iniciassem assim que se encerrasse a participação do Ceará no Cam-peonato Brasileiro, que terminou no último dia 5.

As obras seriam iniciadas no dia 13/12, embora até agora não te-nham começado. Também é aguardado para este mês a conclusão das reformas no estádio Presidente Vargas (PV), para que em janeiro de 2011 ele possa ser utilizado nos jogos do Campeonato Cearense.

Eleição da FIFA premia os melhores do mundoNo dia 10 de janeiro de 2011, a FIFA premiará os melhores jogadores de futebol do mundo no ano de 2010, em evento a ser realizado na cidade de Zurique, Suíça. O gran-de atrativo da festividade serão os finalistas da categoria masculino, que incluem 3 jogadores da mes-ma equipe, o Barcelona.

Os indicados ao prêmio são os espanhóis Xavi e Iniesta, desta-ques da seleção da Espanha, campeã do mundo em 2010, além do argentino Lionel Messi, vencedor do prêmio em 2009. Na categoria feminina, a grande favorita para a eleição, pelo 5º ano consecutivo, é a brasileira Marta. Ela disputará o prêmio com 2 alemãs: Fatmire Bajramaj e Birgit Prinz.

A poeira vai subir em janeiroLogo no início de 2011, o calendário esportivo nacional se agitará com as disputas do Rally Piocerá 2011, even-to que chega a sua 24ª edição e que se notabiliza por ser o maior enduro-rally de regularidade da América Latina. O evento ocorrerá de 23 a 29 de janeiro de 2011, com largada prevista para Teresina, no Piauí, e chegada em Jericoacoara, no litoral cearense, após percorrer diversos municípios do estado do Maranhão.

A competição premiará os melhores atletas e suas regularidades nas categorias de Carro 4x4, Motos e Bikes.

Vai começar o maior Rally do MundoNão é só em terras nordestinas que a poeira vai subir no início do novo ano. O mês de janeiro também re-serva para os fanáticos por adrenali-na nas areias o maior Rally Off-Road do mundo: o Rally Dakar 2011. Essa edição de 2011 será a 3ª consecuti-va a ser realizada em território sul-americano, mais precisamente en-tre Chile e Argentina. Até 2007, a competição era disputada entre a Europa e a África, mas por motivos de segurança foi transferida para a América do Sul.

As provas ocorrerão entre os dias 1 e 16 de janeiro, e envolverão disputas nas categorias de automóveis, motos e caminhões.

A largada será no dia 1º em Buenos Aires e, após o percurso por diversas localidades dentro da própria Argentina e também do Chile, dar-se-á a sua chegada novamente na capital argentina, no dia 16.

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Ricardo Garcia

Apesar do grande esforço para manter o físico malhado e a de-dicação para tornar o fisicultu-rismo um esporte de destaque no Ceará, o fisiculturista Carlos Antônio Souza, vice-campeão nacional 2010 e tricampeão ce-arense, sabe que o cenário atual desse esporte no Ceará não é dos mais animadores, pois ainda são isolados os casos de sucesso do Estado em projeção nacional.

Segundo Alcyon Gondim Via-na, preparador físico e ex-pra-ticante, a modalidade pode ser considerada amadora no Ceará. “Os atletas competem por amor ao esporte, pois não existe in-centivo algum e os patrocínios são escassos”, explica.

Viana abandonou o fisicultu-rismo há 10 anos. Embora tenha participado de algumas competi-ções, não consegue ver perspec-tivas de melhora do panorama, além do fato de que a prática da atividade exige um alto grau de comprometimento, o que, para ele, não valia o esforço.

A opinião não é muito dife-rente para atletas que ainda par-ticipam de competições, como é o caso de Madilson Medeiros, que afirma haver uma dificulda-de muito grande de conseguir patrocínios em razão do pre-conceito que ainda existente em relação ao esporte por parte das iniciativas pública e privada.

Medeiros acredita que a pro-fissionalização do esporte no Es-tado é praticamente impossível por causa dos custos que ele exige. “Os atletas, aqui no Ceará, preci-sam bancar praticamente todos os custos de sua preparação. A ali-mentação e a suplementação de um fisiculturista é a mais cara de todos os esportes”, enfatiza.

O atleta afirma que, apesar de todas as dificuldades que preci-sam ser superadas para quem quer vencer no fisiculturismo, existem grandes atletas no Es-tado. “Considerando todas as di-ficuldades apresentadas, temos excelentes representantes”, co-menta o competidor.

Preparação para CompetiçõesPor ser um esporte que exige uma rotina extenuante de trei-namentos para crescimento e manutenção dos músculos, os riscos provocados à saúde estão intimamente ligados aos benefí-cios, em razão do esforço exigido nos treinos, bem acima do nor-mal em comparação com qual-quer outra prática física.

A modalidade pode ser prati-cada por qualquer um que apre-

Manter a forma é o objetivo principal de um atleta fisiculturista Foto: ArquiVo de romney dAntAs

Os desafios do fisiculturismo no Ceará

Mais de meio século após surgir no País, o Fisiculturismo ainda busca espaço entre os esportes mais populares do Brasil

sente o mínimo de condições físicas e musculares para partici-par de competições, pois, no fisi-culturismo profissional, existem categorias para atletas menores de 21 anos, e até para atletas com mais de 50, por exemplo.

Os pontos mais importantes para um atleta, além da rotina de treinos, que devem ser os mais intensos possíveis e no menor espaço de tempo, são o repouso e a alimentação. Para o personal trainer Romney Dantas, a die-ta é o fator diferencial em uma competição de fisiculturismo. “ O que faz um atleta de fisicultu-rismo vencer uma competição é a dieta, pressupondo que todos estejam com a musculatura de-senvolvida para os padrões da modalidade”.

O personal comenta que não existe dieta que seja ideal para o sucesso nas competições. Isso vai variar de acordo com a ex-periência de cada competidor. “O que funciona para uns, não funciona para outros. Há quem ingira quantidades de proteínas maiores e outros que talvez não necessitem de grandes quanti-dades desse nutriente. O bom atleta é o atleta experiente, que a cada competição tira proveito do que fez na disputa anterior, aprende com os erros cometidos e aprimora os acertos”, ressalta.

Para o competidor Madilson Medeiros, a rotina de treina-mentos segue uma periodização específica. Quando não está em competição, o atleta se dedica ao ganho de volume muscular, na etapa chamada de Off Season, onde são ingeridas mais calorias com o objetivo de estimular a hi-pertrofia muscular. “Nesta fase, os treinos são curtos, bastante intensos em relação à sobrecar-ga de pesos e com uma frequên-cia semanal menor”, salienta.

No outro período, começa a busca pela definição muscular e a perda da gordura corporal, ini-ciando-se em média 12 semanas antes da competição. Nesta fase, ocorre uma restrição na ingestão de calorias, assim como um rear-ranjo dos nutrientes da dieta. “O treinamento com pesos é mais

volumoso e frequente. A inten-sidade desta fase do treinamento advém não do aumento de sobre-carga, mas dos intervalos dimi-nuídos entre séries, séries conju-gadas, em circuito etc. Também costumo, neste período, adicio-nar treinamento aeróbio a fim de estimular a lipólise (queima de gordura)”, acrescenta.

AnabolizantesQuando se fala de fisiculturismo, é inevitável a referência ao uso de anabolizantes, as chamadas “bombas”. As pessoas custam a acreditar que um competidor desta modalidade chegue a um corpo extremamente musculoso e desenvolvido apenas a partir de treinos.

O personal trainer Romney Dantas desfaz essa associação. “Existem vários exemplos dos mais diversos esportes de atle-tas que se utilizam de substân-cias proibidas. O fisiculturismo, infelizmente, é o esporte mais relacionado com o uso de subs-tâncias proibidas, o que não é verdade. Talvez esse preconceito se deva ao fato de o atleta fisicul-turista carregar sua performan-ce na aparência física, o que não é detectado visualmente em um atleta que corra, por exemplo, 100m em 9s. Essa é a relação. O que vemos é que é mais fácil de julgar”, afirma.

CampeonatosNo Ceará existem duas compe-tições oficiais de fisiculturismo, organizadas pela IFBB (Federa-ção Internacional de Bodybuil-ding) e pela NABBA (Associação Nacional de Bodybuilding Ama-dor). Anualmente, ocorre um campeonato de cada uma de-las. Existem outros campeona-tos organizados pelas próprias academias de fisiculturismo, e chanceladas por uma das duas federações.

Os critérios de avaliação são o volume muscular, a definição, a proporção, a simetria, a estética e a harmonia, variando de acor-do com cada subdivisão da mo-dalidade (Fitness ou Culturismo Clássico).

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SOBPRESSÃOOUTUBRO/NOVEMBRO DE 20108 FÔLEGO

Mesmo tendo enfrentado calor e chuvas e mantendo um alimentação desregrada, Márcio Dornelles não se arrepende das aventuras feitas pelas estradas Foto: ArquiVo PessoAL

Raphael Barros

Fôlego: Como surgiu a ideia de fazer a viagem pegando carona?Márcio Dornelles: Quan-do descobri que uma única rodovia cortava o Brasil, de ponta a ponta, fiquei moti-vado. A decisão mesmo sur-giu após a segunda desco-berta: ela começa no Estado onde moro, Ceará, e termina no meu Estado de origem, Rio Grande do Sul.

F: Você saiu de onde e chegou até onde?MD: Saí do km 0 da BR-116, na rotatória da Aguanambi, conhecida como praça Ma-noel Dias Branco, em For-taleza. Cheguei até o mu-nicípio de Jaguarão, no Sul gaúcho. Saí do Km 0 porque queria passar por todos os quilômetros da BR-116.

F: Quais são os perigos da estrada e como você se pre-venia?MD: Primeiro os perigos na-turais, quando estava sem carona: calor, chuvas repen-tinas, poeira. Ainda fora das caronas, havia o perigo de acidentes, já que eu preci-sava caminhar no acosta-mento da via. Os carros pas-savam raspando. Os outros perigos, de assaltos e do gênero, pouco vi, confesso. Tive sorte neste aspecto. Apenas na Bahia, em Feira

Em uma viagem de oito dias, que ocorreu num ônibus adaptado, como se fosse uma casa móvel, Márcio Dornelles e sua família saíram de São Borja, município do Rio Grande do Sul, para virem morar em Fortaleza. Isso aconteceu há 14 anos. Em 2009, ele resolveu fazer o percurso contrário, sair de Fortaleza e chegar até a última cidade do RS, Jaguarão, fronteira com o Uruguai. Só que dessa vez não foi de ônibus, mas sim de carona ao longo da BR-116

de Santana, foi mais perigoso. Até achei que fosse ser assalta-do, mas não aconteceu. Ainda bem (risos).

F: Onde você dormia? Chegou a dormir na rua?MD: Desde o começo da via-gem, decidi que dormiria em pousadas uma vez a cada dois dias. A viagem foi assim. Quan-do as roupas sujavam, era ne-cessário procurar uma pousa-da para dormir e lavar tudo. As roupas ficavam espalhadas pelo quarto. Dormi na rua, mas sem-pre procurava postos de com-bustíveis ou rodoviárias, onde era um pouco mais seguro.

F: E alimentação e banheiro?MD: Dava um jeito pra tudo. Eu me controlava e só sentia von-tade de ir ao banheiro quando chegava em algum lugar segu-ro. Alimentação seguia o vento, a depender do local. Às vezes saboreava um prato típico, às vezes dois salgados e um refri-gerante. Cheguei a comer uma galinha cozida com arroz em Curitiba, gentileza de um cami-nhoneiro amigo.

F: Qual foi o ponto mais crítico da viagem? quais as dificuldades?MD: São Paulo realmente foi o ponto mais crítico da viagem. É a capital do dinheiro, da pres-sa, mas estava faltando carga para os caminhoneiros. Os ca-minhoneiros eram a principal carona. Se faltava carga, falta-va caminhoneiro para dar ca-

rona. Fiquei dois dias lá. Foi o momento de maior pressão da aventura. Quando mais tempo passava, mais eu precisava fugir dali, ir para outro lugar.

F: De SP para RS como foi?MD: Confesso que a viagem de SP para RS não foi tão boni-ta quanto do Ceará até SP. Pri-meiro, porque precisei mesclar ônibus e carona, à medida em que a oportunidade aparecia. Segundo, porque, no começo, tudo era novidade, depois, já estava acostumado com as difi-culdades.

F: Quais dicas você daria para quem pensa em fazer a mesma coisa?MD: Sempre digo que, embora tenha sido uma viagem ines-quecível, emocionante, não re-comendo a ninguém. São mui-tos perigos e muitas barreiras. Claro que todo mundo pode atingir o objetivo final, apenas não quero ser responsabilizado por algum problema. Se quiser realmente ir, vá e encare tudo com determinação e fé.

F: Para quem você não recomen-da esse tipo de viagem?MD: Bom... a viagem não é re-comendável para muita gente. É necessário ter disciplina, boa condição física e mental, teimo-sia e, acima de tudo, certeza do que se quer. Se o aventureiro não tiver nada disso, esqueça.

F: Como foi a reação da sua família?MD: No começo, ninguém acre-ditava que eu faria tal viagem. Nem mesmo meus amigos mais malucos. Pensavam que não passava de um blefe. No final das contas, minha mãe aceitou e ajudou a comprar algumas coisas necessárias. No Sul, todo mundo ficou admirado, massa-gearam meu ego, mas é coisa de família mesmo. Ficaram sur-presos, mas acharam legal.

F: O que dava mais confiança nessa viagem, mais força para continuar até o fim?MD: O foco, a determinação. Quando comecei a viagem, sa-bia dos obstáculos que enfren-taria. Mas eu também conhecia os meus limites e sabia plena-mente que conseguiria concluir o “devaneio”. Em desafios assim, a confiança em si mesmo é fun-damental. Se não confiar nos próprios passos, tomba diante dos próprios olhos. F: E o que dava mais medo?MD: A determinação na via-gem, no objetivo, não me per-mitia ficar com medo durante muito tempo. O medo mesmo surgiu apenas no começo, no Nordeste, depois passou. O úni-co medo era do desconhecido. O que o dia seguinte me pro-porcionaria. Depois, o medo se transformou em excitação, em euforia.

F: Como foi voltar pra casa?MD: Foi espectacular voltar pra casa e receber o sentimen-to de missão cumprida. Voltei de avião mesmo, por conta do tempo curto. Precisava retomar o trabalho, afinal, fiz a viagem durante o período de férias.

F: E as lembranças da viagem, vêm sempre à mente?MD: Claro. As lembranças ficam, sem dúvida. A viagem, como digo, foi uma caminhada espiri-tual. Andar por horas escutando os próprios passos, o batimento do coração, é inexplicável. Eu refleti sobre muitas coisas, pon-derei sobre outras. Cada viagem nos modifica um pouco.

F: Como é pegar carona com gente desconhecida? Quais são as conversas? Como são os silên-cios?MD: Nada mais maravilhoso que conversar com uma pes-soa então desconhecida, cheia

de vida e de histórias. Ainda mais caminhoneiros. Eles en-tendem de tudo um pouco. Driblam vários desafios e es-tão sempre prontos a ajudar. Pelo menos a maioria. Os si-lêncios surgem, mas são ra-ros. Eu sempre tinha coisas a perguntar e eles também fi-cavam curiosos com meu es-tilo de viagem.

F: O que aprendeu com a via-gem?MD: A viagem me ensinou muitas coisas. A mais impor-tante delas, talvez, seja a des-coberta de que tudo é possí-vel, desde que sua alma esteja pronta e livre para viver. Não há aventuras melhores que outras. Todas tem o seu sabor e sabem proporcionar ma-ravilhas. Mesmo que algum amigo tenha dado a volta ao mundo e você apenas tenha feito uma trilha na serra da sua cidade, aproveite o má-ximo que puder. Existem pes-soas que conhecem mais de 100 países, mas efetivamente nunca estiveram lá. Passaram de raspão, por acaso, a pas-seio, sem a mínima noção da transformação que aquele lu-gar poderia gerar.

F: Qual a dica que você dá para quem pretende se aven-turar igual a você?MD: Se você realmente dese-ja fazer algo novo, inesperado e bom, faça. Não pense duas vezes. Arrume sua mochila, trace seu plano e se jogue na aventura que a vida pode te proporcionar. São tantas as oportunidades que se abrem e, quando percebemos que as deixamos escapar, lá se vão 5, 10, 15 anos. Nem sem-pre teremos essa disposição, esse corpo e essa excitação pela vida, pelo novo. É preci-so aproveitar o hoje, mesmo que isso pareça clichê demais para o seu conceito.

Entrevista

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