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N 0 1 MARÇO 2012 [email protected] http://grupoaccaopalestina.blogspot.com EXIGIMOS JUSTIÇA E AUTODETERMINAÇÃO PARA O POVO PALESTINO! FIM AO APARTHEID! FIM À LIMPEZA ÉTNICA! JUSTIÇA PARA OS REFUGIADOS! RESPONSABILIZAÇÃO DE ISRAEL! AUTODETERMINAÇÃO PARA AS FILHAS E OS FILHOS DA PALESTINA!

Folhas Soltas do GAP nº 1

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Fanzine sobre a Palestina

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N 0

1MARÇO 2012

[email protected] http://grupoaccaopalestina.blogspot.com

EXIGIMOS

JUSTIÇA E

AUTODETERMINAÇÃO

PARA O POVO PALESTINO!

FIM AO APARTHEID!

FIM À LIMPEZA ÉTNICA!

JUSTIÇA PARA OS REFUGIADOS!

RESPONSABILIZAÇÃO DE ISRAEL!

AUTODETERMINAÇÃO PARA AS FILHAS E OS

FILHOS DA PALESTINA!

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uando vemos e assistimos impotentes ao desmoronamento dos nossos estados chamados democráticos; quando percebemos que o caminho da democracia representativa, com a qual pactuámos por conforto, nos engana e manipula; quando vemos os nossos direitos pouco a pouco limitados, restringidos e eliminados pela declarada urgência de uma crise; quando a sociedade civil se mobiliza em pequenos grupos de defesa dos seus direitos, quer sejam no campo da educação, dos transportes, da saúde, do trabalho, tentando alcançar uma concertação mundial, expressa nas assembleias populares e nos movimentos das acampadas, fazendo o exercício de democracia direta procurando estratégias e ajustando os seus discursos e

formas de pensar o Mundo, parece difícil encontrar forças para uma luta de longo prazo e de desgaste, com um pé no tempo da História e outro na atualidade, tal como é a luta do povo palestino. Contudo, de norte a sul e de leste a oeste, as lutas acabam por ter algo em comum, porque envolvem a dignidade do ser humano, porque envolvem os seus direitos fundamentais e, simplesmente, porque sabemos que as vidas de todos os seres humanos neste mundo e nesta Terra estão interligadas.

Refletir sobre a questão palestina enquadra-se, hoje, num contexto urgente de supremacia do ocidente, o mesmo ocidente que nos está a vigiar, a controlar, a sugar, a empobrecer, a ludibriar e a encarcerar, retirando-nos as nossas liberdades a pretexto do medo do Outro, de uma crise financeira que não nos pertence e do desejo de inculcar uma consciência hipernacionalista, evocando

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que a «salvação nacional» da nossa identidade ocidental passa pelo sacrifício e pela abdicação, supostamente temporária, de direitos fundamentais inscritos em todos os textos fundadores da humanidade «ocidental», desde a Declaração Universal dos Direitos Humanos até às específicas e respetivas constituições, no seio dos quais se abrigou e instalou a ditadura do consumismo a mando dos terrorismos multinacionais protegidos pelas democracias representativas.

Os exercícios de democracia direta espalhados pelo Mundo revelam a necessidade de uma solidariedade efetiva entre Povos. Uma solidariedade fundamentada na nossa humanidade partilhada, não nos modelos de organização social, económica e política tal como temos vindo a ver a sua imposição nas ações concertadas dos supostos representantes do mundo ocidental em várias partes do planeta. Atualmente, a solidariedade dos Povos do mundo, para com o Povo Palestino, será um aspeto decisivo no futuro da Palestina e passa por dois tipos de mobilização complementares: um trabalho de divulgação, esclarecimento, informação e reflexão absolutamente necessário e um trabalho mais ativo desde a participação nas campanhas e ações de BDS (Boicote Desinvestimento e Sanções), na resposta concreta aos apelos da sociedade civil palestina, tal como o apelo para a próxima missão “Bem-vindo à Palestina” que irá decorrer de 15 a 21 de abril 2012 e na mobilização de indivíduos, coletivos,

associações, organismos e instituições para preparar e participar no próximo WSF free Palestine ou Fórum Social Mundial «Free Palestine» em novembro de 2012.

Retomando o primeiro tipo de mobilização, envolvendo todo o trabalho de divulgação, esclarecimento, informação e reflexão, existem vários coletivos e associações pelo mundo com páginas na internet.

Não pretendemos ser exaustivos, pois uma listagem seria fastidiosa, 3

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portanto apenas indicamos alguns que poderão servir como guias para outros espaços presentes online, tais como CAPJO-Europalestine em francês, Breaking the silence, Stop the Wall em inglês, entre muitas outras páginas. Existe uma série de sites de informação e opinião alternativas tais como Mondoweis, Sabbah Report, Uruknet, Info-Palestine, Investig'Action, Le Grand Soir, Réseau Voltaire, Diário Liberdade, Nouvelles d'Orient, The Electronic Intifada, etc. Todos estes sites e blogues são continuadamente atualizados, produzem e reproduzem artigos em várias línguas e permitem aceder a informações relevantes e artigos de análise, ou de opinião, esclarecedores sobre a questão. Por outro lado, as redes sociais têm tido um papel importante na divulgação, partilha de informações e apelos para ações concretas.

Em língua portuguesa podemos verificar que a comunidade brasileira é bastante ativa na Web. Em Portugal, além de blogues pessoais e coletivos com artigos específicos sobre a questão palestina, tais como Blogmaton e Sentidos Distintos entre outros, existem alguns de grupos mais ou menos organizados que labutam pelos direitos do povo palestino: A Comissão Portuguesa de Apoio ao Tribunal Russell sobre a Palestina, Comité de solidariedade com Palestina, o Movimento pelos direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente (MPPM), o Grupo Ação Palestina (GAP), entre outros. Na Web, também podemos encontrar vários grupos nas redes sociais que, quotidianamente, atualizam os dados ou divulgam e comentam informações sobre a questão palestina.

o Porto, o GAP tem vindo a tentar levar a questão palestina para a comunidade portuense através da organização e da promoção de uma série de atividades, como a vinda de Norman Finkelstein, a participação no Fórum Mundial de Educação Palestina, sessões de cinema comunitário, apelos à mobilização solidária e a vigílias, e a participação de um membro no apelo da sociedade civil palestina no “Bem-vindo à Palestina” em julho de 2011. Por sua vez, coletivos e associações do Norte da Península, tais como a Gentalha do Pichel (Santiago de Compostela), o Café

da sociedade (Penafiel) e Estaleiro Cultural Velha-a-Branca

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(Braga) e do Porto, tal como a Casaviva, o Gato Vadio, o MPP, a Cooperativa Árvore, o Espaço Musas, o Café Pedra Nova e a AjaNorte, preocupados com questões humanitárias enquadradas em assuntos ambientais, sociais, políticos e económicos, promoveram espaços de conversas, esclarecimentos e debate, havendo outras sessões previstas noutras associações e coletivos tal como em fevereiro na Terra Viva. Assim cada indivíduo, cada grupo organizado ou não, empenha-se com os meios e vontades de que dispõe por esta causa justa e nobre, fazendo jus às palavras de Edward W. Said:

"Remember the solidarity shown to Palestine here and everywhere... and remember also that there is a cause to which many people have committed themselves, difficulties and terrible obstacles notwithstanding. Why? Because it is a just cause, a noble ideal, a moral quest for equality and human rights."

A 11 de novembro 2011, quando a lançou o desafio de pensar no futuro da Palestina, a data não podia ter sido mais acertada para a tertúlia com o tema formulado sob a forma de uma pergunta «Palestina: que futuro?», porque o dia 11 de novembro marca o momento histórico prévio aos encontros que tiveram lugar entre 12 a 15 de novembro de 1988, que levaram à declaração de independência do Estado da Palestina, e relembra o dia em que Yasser Arafat faleceu em 2004.

Quando cidadãos comuns procuram pensar sobre o futuro da Palestina, estão confrontados com uma complexificação deliberada que tem vindo a ser construída desde o final da primeira guerra mundial com a aplicação dos princípios colonizadores

AJA Norte

(1) A declaração de independência foi preparada pelo poeta Mahmoud

Darwish, membro da CEOLP, e lida por Yasser Arafat no 19º congresso nacional palestino. Os limites do estado, totalmente sob ocupação israelita, não são indicados. Esta declaração revela a aceitação das resoluções 181 e 242 e reconhece o direito de existência de Israel, sem todavia reconhecer Israel, e rejeita todas as formas de terrorismo.

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praticados pelo mundo ocidental. Esta complexificação oblitera as questões humanas, ilude e confunde os cidadãos, que se deparam com uma série de questionamentos envolvendo, por um lado, o que se pode consultar da História do mundo e, por outro lado, o que nos chega pelos meios de comunicação regulares e/ou alternativos que vão «atualizando» os dados sobre a questão, quer sejam notícias, quer sejam artigos de opinião ou de análise de informação.

Neste contexto, um texto, datado de 27 de janeiro de 2012, acerca do «convite» para visitar as colónias da Cisjordânia, portanto em território ilegalmente ocupado, feito por Israel, a mais de 70 jornalistas dos principais media é extremamente revelador de uma preocupação insistente com a opinião pública.

Pensar no futuro da Palestina poderá ser extremamente fácil se nos circunscrevemos a questões que dizem exclusivamente respeito a assuntos prementes da nossa humanidade, tais como o direito à autodeterminação dos povos, o respeito pela Declaração Universal dos Direitos Humanos e das leis internacionais. É nestes assuntos que nos devemos concentrar. Assim, é fácil verificar que as questões de segurança e de defesa reiteradas por Israel, assim como o seu total desprezo pelas leis internacionais e os medos propagados e implementados mundialmente pelos EUA, após o dia 11 de setembro de 2001,

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Ler : «International Media Complicit in Legitimization of Israeli Settlements» ou «Les médias internationaux se rendent complices de la légitimation des colonies israéliennes» A ilegalidade foi estabelecida pelo Tribunal Internacional de Justiça em julho de 2004 e vem estipulada no parágrafo 6 do Artigo 49 da Quarta Convenção de Genebra. O desprezo pelas leis internacionais vem referido num texto de Silvia Cattori e remete para este registo elaborado pela Aljazeera. Na minha opinião estas questões põem seriamente em causa a presença de Israel no seio da ONU. (Ver esta notícia de 15 de maio de 2009 e o respetivo texto de Ban ki Moon no 60ª aniversário da admissão de Israel na ONU datado de 11 de maio de 2009 onde é relembrada a admissão sob condição de respeito da resolução 194. Contudo, sobre este assunto, é preciso notar que a respetiva declaração não se encontra referida nos sites oficiais da ONU). Por outro lado, não devemos esquecer o desprezo pela instituição da ONU, repetidamente demonstrado por Israel, e que se pode comprovar pelo discurso de Netanyahu na ONU a 22 de setembro de 2011 onde a ONU vem referida como sendo a «casa das mentiras».

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retiraram os direitos fundamentais aos palestinos. Esta supressão sistemática tem vindo a estar sempre na ordem do dia e na ordem de trabalho das grandes potências e de Israel que procura sempre desviar as atenções para problemas envolvendo a segurança e promovendo uma atitude bélica extremamente prejudicial para todos os seres humanos do planeta. Assim o povo palestino é sempre uma questão secundária, uma questão adiada sistematicamente alegando assuntos mais importantes. Assim, é um povo destinado a «desaparecer» da região para deixar o lugar aos Israelitas. Pensar no futuro da Palestina é uma questão fundamental na perspetiva de uma abordagem histórica dos mesmos direitos tendo em conta a nossa perceção dos princípios fundadores da nossa humanidade partilhada.

Contudo é preciso dizer que o futuro da palestina não está na agenda

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internacional tal como se verifica com os 20 anos de negociações improfícuas. Primeiro, simplesmente porque nunca foi uma prioridade, tal como revelam as sucessivas promessas incumpridas feitas aos árabes da região, e depois pelo

·,desrespeito contínuo e sistemático das resoluções emitidas pela ONU que envolvem exclusivamente uma ação de Israel. Estas violações podem ser ilustradas pela resolução 273 que admite Israel no seio da ONU, sob a condição do respeito da resolução 194, reconhecendo-o como um «país pacífico que aceita as obrigações da Carta [das Nações Unidas] e que é capaz de cumprir com estas obrigações». É importante referir que, apesar de Israel ter aderido e se ter comprometido com a Carta das Nações Unidas em 1949, viola sistemática e repetidamente o artigo 24 da Carta da Nações Unidas que estipula:

«All [UN] Members shall refrain in their international relations from the threat or use of force against the territorial integrity or political independence of any state, or in any other manner inconsistent with the Purposes of the United Nations.»

Segundo, é preciso convir que no contexto internacional atual, o futuro da Palestina não é, de todo, uma questão de atualidade premente, ou de grande interesse para os países do Norte, ou um «certo» mundo ocidental que passou a ser chamado o Norte (rico) por oposição ao Sul (pobre), mesmo que esta divisão não reflita totalmente a riqueza de cada país. Podemos comprovar este facto no último discurso do presidente norte-americano na ONU a 21 de setembro de 2011, em que, se por um lado o discurso de Obama apenas foi um discurso de pré-campanha, ancorado numa conceção do Mundo, nitidamente, utópica para uns e, totalmente distópica para outros, por outro lado, não contempla a precisão, a correção humanitária, tal como a necessária lucidez, e, ainda menos, a consistência e coerência esperadas para com as suas próprias palavras sobre a questão Palestina proferidas no seu

4 de junho de 2009. O pouco tempo que passou fez literalmente emudecer o seu discurso. Contudo, será, sim, uma questão central e muito mais relevante (para o chamado Norte), o futuro de Israel. Isto, por várias razões que configuram o sintomático esquecimento histórico do ocidente.

Ana da Palma, Janeiro de 2012

discurso do Cairo em