5
1 do estudante Núm. XX - ANO II 1ª quinzena - Junho/2013 Folhetim do estudante é uma publicação de cunho cultural e educacional com artigos e textos de Professores, alunos, membros da comunidade da “E. E. Miguel Maluhy” e de pensadores humanistas. Acesse o BLOG do folhetim http://folhetimdoestudante.blogspot.com.br Sugestões e textos para: [email protected] Agenda... pág. 4 Direitos humanos na prática. Inicialmente fazendo um levantamento histórico dos direitos humanos e seu desenvolvimento no Brasil, e depois uma descrição de algumas práticas comuns no país. Os resultados demonstram a discrepância entre discurso e prática, reforçando a necessidade de se pensar estratégias para a real efetivação dos direitos para todos. Os direitos humanos são princípios consagrados internacionalmente para proteção, garantia e respeito à pessoa humana. Eles asseguram - a qualquer indivíduo, independente de raça, cor, sexo, nacionalidade, língua, religião, opinião, estado, condição social, time de futebol e orientação sexual - o direito à vida, à liberdade, ao trabalho, à propriedade, à saúde, à moradia, à educação. De forma sintética, os direitos humanos podem ser classificados como: direitos e liberdades individuais, de caráter civil e político - igualdade perante a lei; julgamento justo; ir e vir; liberdade de opinião; de consciência, de movimento, de se reunir e se associar pacificamente, votar e de ser votado, pertencer a partido político, participar de movimentos sociais e liberdades e direitos sociais e econômicos moradia, propriedade, trabalho, previdência social, saúde, educação, cultura. Esses e outros direitos considerados fundamentais derivam dos três princípios consagrados pela Revolução Francesa: liberdade, igualdade e fraternidade. Assim, intimidados pela opressão de governos absolutistas e colonizadores surgem os primeiros princípios de direitos humanos. Nas luta pela liberdade e pela vida, contra regimes de opressões econômicas, sociais e políticas que dominavam o mundo ocidental daquela época emergem impulsos jamais vistos no reconhecimento de garantias individuais e coletivas da pessoa humana, que fossem, sobretudo, respeitados pelo estado e pelos cidadãos. O Brasil é um país “jovem”, com pouco mais de quinhentos anos. De antiga Colônia Portuguesa desde o descobrimento e ocupação, passando pela condição de Reino Unido a Portugal e Algarves com a chegada da Família Real Portuguesa no início do Século XIX e pela Monarquia Imperial que se seguiu à Independência em 1822, à República proclamada em 1889, a sociedade brasileira surgiu e foi se desenvolvendo a imagem e semelhança de seu colonizador. Língua, cultura, costumes, economia, eram importados da Metrópole. O ordenamento jurídico-legal era o imposto pela Coroa Portuguesa, que tinham como fundamento as Ordenações, primeiro Manuelinas, depois Filipinas (sendo que estas vigoraram até o advento do Código Civil de 1916). Neste período, o destaque negativo é a adoção do regime de trabalho escravo, reduzindo as pessoas negras à condição de coisa (res), sujeitando-as às piores formas de submissão e humilhação que se tem notícia na história da escravidão, acobertadas sob o manto da legalidade então vigente. Em 1888 o regime escravocrata é formalmente abolido do Brasil, fato que pode ser admitido mais como reflexo da Revolução Industrial já então efervescente, que pela disposição de conceder os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade a todas as pessoas humanas que viviam no Brasil. A história ainda mostra que, mesmo com a instalação da República, os princípios de direitos humanos seriam paulatinamente implementados no Brasil, alternando momentos de grandes avanços (por exemplo, as conquistas trabalhistas da ditadura Vargas, por mais contraditório que isso possa parecer), como retrocessos (por exemplo, os Atos Institucionais que suprimiam direitos políticos, impostos pelo Regime Militar de 1964-1985). Um grande marco na democratização do país foi, sem dúvida, a Constituição Federal de 1988, “colocando-se entre as Constituições mais avançadas do mundo”, garantindo, no nível jurídico, os direitos fundamentais. A grande questão que se coloca é: por que, mesmo com uma constituição que defende e prioriza os direitos fundamentais, no cotidiano esses direitos não são respeitados? O resultado são índices alarmantes de pobreza e miséria, violência urbana, condições subumanas no sistema prisional, preconceito racial, trabalho infantil, trabalho escravo em sua concepção atual, altas taxas de mortalidade infantil, analfabetismo, falta de educação de qualidade, distribuição de renda. O teor da evolução histórica dos direitos humanos no Brasil, demonstramos que no plano jurídico-legal os direitos e garantias fundamentais encontram-se afirmados, mormente com o advento da Constituição Federal de 1988. A democracia instalada e mantida ininterrupta, na execução de políticas públicas de afirmação de direitos humanos pelos diversos governos, independente de suas ideologias ou agremiação partidária, são dois bons exemplos desta consolidação. O discurso é moderno, coerente, vistoso. O cotidiano é mais cruel. É difícil identificar na vida real quem é a pessoa humana destinatária das garantias teóricas e normatizadas, mormente quando essa pessoa mora ao lado, está á nosso serviço ou é um desconhecido que passa na rua. Dessa forma, frente à grande distância que podemos constatar no Brasil entre uma avançada legislação e a efetivação das leis, lança-se um enorme desafio para os brasileiros: diminuir as incongruências entre o nosso próprio discurso e a nossa prática. Afinal de contas, pra mudar um país, também é necessário, além das grandes mudanças, que comecemos por mudar o nosso bairro, a nossa rua, a nossa casa e, principalmente, a nós mesmos. Luiz Henrique Ex-aluno do Maluhy, turma 2012 Folhetim

Folhetim do Estudante - Ano II - Núm. XX

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Folhetim do Estudante - Ano II - Núm. XX

1

do estudante Núm. XX - ANO II

1ª quinzena - Junho/2013

Folhetim do estudante é uma

publicação de cunho cultural e

educacional com artigos e textos

de Professores, alunos, membros

da comunidade da “E. E. Miguel

Maluhy” e de pensadores

humanistas.

Acesse o BLOG do folhetim http://folhetimdoestudante.blogspot.com.br

Sugestões e textos para:

[email protected]

Agenda... pág. 4

Direitos humanos na

prática.

Inicialmente fazendo um levantamento

histórico dos direitos humanos e seu

desenvolvimento no Brasil, e depois uma

descrição de algumas práticas comuns no

país. Os resultados demonstram a

discrepância entre discurso e prática,

reforçando a necessidade de se pensar

estratégias para a real efetivação dos

direitos para todos.

Os direitos humanos são princípios

consagrados internacionalmente para

proteção, garantia e respeito à pessoa

humana.

Eles asseguram - a qualquer indivíduo,

independente de raça, cor, sexo,

nacionalidade, língua, religião, opinião,

estado, condição social, time de futebol e

orientação sexual - o direito à vida, à

liberdade, ao trabalho, à propriedade, à

saúde, à moradia, à educação.

De forma sintética, os direitos humanos

podem ser classificados como: direitos e

liberdades individuais, de caráter civil e

político - igualdade perante a lei;

julgamento justo; ir e vir; liberdade de

opinião; de consciência, de movimento,

de se reunir e se associar pacificamente,

votar e de ser votado, pertencer a partido

político, participar de movimentos

sociais – e liberdades e direitos sociais e

econômicos – moradia, propriedade,

trabalho, previdência social, saúde,

educação, cultura.

Esses e outros direitos considerados

fundamentais derivam dos três princípios

consagrados pela Revolução Francesa:

liberdade, igualdade e fraternidade.

Assim, intimidados pela opressão de

governos absolutistas e colonizadores

surgem os primeiros princípios de

direitos humanos. Nas luta pela liberdade

e pela vida, contra regimes de opressões

econômicas, sociais e políticas que

dominavam o mundo ocidental daquela

época emergem impulsos jamais vistos

no reconhecimento de garantias

individuais e coletivas da pessoa

humana, que fossem, sobretudo,

respeitados pelo estado e pelos cidadãos.

O Brasil é um país “jovem”, com pouco

mais de quinhentos anos. De antiga

Colônia Portuguesa desde o

descobrimento e ocupação, passando

pela condição de Reino Unido a Portugal

e Algarves com a chegada da Família

Real Portuguesa no início do Século XIX

e pela Monarquia Imperial que se seguiu

à Independência em 1822, à República

proclamada em 1889, a sociedade

brasileira surgiu e foi se desenvolvendo a

imagem e semelhança de seu

colonizador. Língua, cultura, costumes,

economia, eram importados da

Metrópole.

O ordenamento jurídico-legal era o

imposto pela Coroa Portuguesa, que

tinham como fundamento as Ordenações,

primeiro Manuelinas, depois Filipinas

(sendo que estas vigoraram até o advento

do Código Civil de 1916). Neste período,

o destaque negativo é a adoção do

regime de trabalho escravo, reduzindo as

pessoas negras à condição de coisa (res),

sujeitando-as às piores formas de

submissão e humilhação que se tem

notícia na história da escravidão,

acobertadas sob o manto da legalidade

então vigente. Em 1888 o regime

escravocrata é formalmente abolido do

Brasil, fato que pode ser admitido mais

como reflexo da Revolução Industrial já

então efervescente, que pela disposição

de conceder os ideais de liberdade,

igualdade e fraternidade a todas as

pessoas humanas que viviam no Brasil. A

história ainda mostra que, mesmo com a

instalação da República, os princípios de

direitos humanos seriam paulatinamente

implementados no Brasil, alternando

momentos de grandes avanços (por

exemplo, as conquistas trabalhistas da

ditadura Vargas, por mais contraditório

que isso possa parecer), como

retrocessos (por exemplo, os Atos

Institucionais que suprimiam direitos

políticos, impostos pelo Regime Militar

de 1964-1985). Um grande marco na

democratização do país foi, sem dúvida,

a Constituição Federal de 1988,

“colocando-se entre as Constituições

mais avançadas do mundo”, garantindo,

no nível jurídico, os direitos

fundamentais.

A grande questão que se coloca é: por

que, mesmo com uma constituição que

defende e prioriza os direitos

fundamentais, no cotidiano esses direitos

não são respeitados? O resultado são

índices alarmantes de pobreza e miséria,

violência urbana, condições subumanas

no sistema prisional, preconceito racial,

trabalho infantil, trabalho escravo em sua

concepção atual, altas taxas de

mortalidade infantil, analfabetismo, falta

de educação de qualidade, má

distribuição de renda.

O teor da evolução histórica dos direitos

humanos no Brasil, demonstramos que

no plano jurídico-legal os direitos e

garantias fundamentais encontram-se

afirmados, mormente com o advento da

Constituição Federal de 1988. A

democracia instalada e mantida

ininterrupta, na execução de políticas

públicas de afirmação de direitos

humanos pelos diversos governos,

independente de suas ideologias ou

agremiação partidária, são dois bons

exemplos desta consolidação. O discurso

é moderno, coerente, vistoso. O

cotidiano é mais cruel. É difícil

identificar na vida real quem é a pessoa

humana destinatária das garantias

teóricas e normatizadas, mormente

quando essa pessoa mora ao lado, está á

nosso serviço ou é um desconhecido que

passa na rua.

Dessa forma, frente à grande distância

que podemos constatar no Brasil entre

uma avançada legislação e a efetivação

das leis, lança-se um enorme desafio para

os brasileiros: diminuir as incongruências

entre o nosso próprio discurso e a nossa

prática. Afinal de contas, pra mudar um

país, também é necessário, além das

grandes mudanças, que comecemos por

mudar o nosso bairro, a nossa rua, a

nossa casa e, principalmente, a nós

mesmos.

Luiz Henrique – Ex-aluno do

Maluhy, turma 2012

Folhetim

Page 2: Folhetim do Estudante - Ano II - Núm. XX

2

do estudante ano II junho/2013

OPINIÃO

Jovens vão às ruas e nos

mostram que

desaprendemos a sonhar

Por Andre Borges Lopes

AOS QUE AINDA SABEM SONHAR

O fundamental não é lutar pelo direito de

fumar maconha em paz na sala da sua casa. O

fundamental não é o direito de andar vestida

como uma vadia sem ser agredida por machos

boçais que acham que têm esse direito porque

você está "disponível". O fundamental não é

garantir a opção de um aborto assistido para as

mulheres que foram vítimas de estupro ou que

correm risco de vida. O fundamental não é

impedir que a internação compulsória de

usuários de drogas se transforme em

ferramenta de uma política de higienismo

social e eliminação estética do que enfeia a

cidade. O fundamental não é lutar contra a

venda da pena de morte e da redução da

maioridade penal como soluções finais para a

violência. O fundamental não é esculachar os

torturadores impunes da ditadura. O

fundamental não é garantir aos indígenas

remanescentes o direito à demarcação das suas

reservas de terras. O fundamental não é o

aumento de 20 centavos num transporte

público que fica a cada dia mais lotado e

precário.

O fundamental é que estamos vivendo uma

brutal ofensiva do pensamento conservador,

que coloca em risco muitas décadas de

conquistas civilizatórias da sociedade

brasileira.

O fundamental é que sob o manto protetor do

"crescimento com redução das desigualdades"

fermenta um modelo social que reproduz –

agora em escala socialmente ampliada – o que

há de pior na sociedade de consumo,

individualista ao extremo, competitiva,

ostentatória e sem nenhum espaço para a

solidariedade.

O fundamental é que a modesta redução da

nossa brutal desigualdade social ainda não

veio acompanhada por uma esperada redução

da violência e da criminalidade, muito pelo

contrário. E não há projeto nacional de

combate à violência que fuja do discurso

meramente repressivo ou da elegia à

truculência policial.

O fundamental é que a democratização do

acesso ao ensino básico e à universidade por

vezes deixam de ser um instrumento de

iluminação e arejamento dos indivíduos e da

própria sociedade, e são reduzidos a uma

promessa de escada para a ascensão social via

títulos e diplomas, ao som de sertanejo

universitário.

O fundamental é que os políticos e grandes

partidos antigamente ditos "libertários" e "de

esquerda" hoje abriram mão de disputar

ideologicamente os corações e mentes dos

jovens e dos novos "incluídos sociais" e se

contentam em garantir a fidelidade dos seus

votos nas urnas, a cada dois anos.

O fundamental é que os políticos e grandes

partidos antigamente ditos "sociais-

democratas" já não tem nada a oferecer à

juventude além de um neo-udenismo moralista

que flerta desavergonhadamente com o

autoritarismo e o fascismo mais desbragados.

O fundamental é que a promessa da militância

verde e ecológica vai aos poucos rendendo-se

aos balcões de negócio da velha política

partidária ou ao marketing politicamente

correto das grandes corporações.

O fundamental é que os sindicatos,

movimentos populares e organizações

estudantis estão entregues a um processo de

burocratização, aparelhamento e defesa de

interesses paroquiais que os torna refratários a

uma participação dinâmica, entusiasmada e

libertária.

O fundamental é que temos em São Paulo um

governo estadual que é francamente

conservador e repressivo, ao lado de um

governo federal que é supostamente

"progressista de coalizão". Mas entre a causa

da liberação da maconha e defesa da

internação compulsória, ambos escolhem a

internação. Entre as prostitutas e a hipocrisia,

ambos ficam com a hipocrisia. Entre os índios

e os agronegócio, ambos aliam-se aos

ruralistas. Entre a velha imprensa embolorada

e a efervescência libertária da Internet, ambos

namoram com a velha mídia. Entre o estado

laico e os votos da bancada evangélica, ambos

contemporizam com o Malafaia. Entre Jean

Willys e Feliciano, ambos ficam em cima do

muro, calculando quem pode lhes render mais

votos.

O fundamental é que o temor covarde em

expor à luz os crimes e julgar os aqueles

agentes de estado que torturaram e mataram

durante da ditadura acabou conferindo

legitimidade a auto-anistia imposta pelos

militares, muitos dos quais hoje se orgulham

publicamente dos seus crimes bárbaros – o que

nos leva a crer que voltarão a cometê-los se

lhes for dada nova oportunidade.

O fundamental é que vivemos numa sociedade

que (para usar dois termos anacrônicos) vai

ficando cada vez mais bunda-mole e careta.

Assustadoramente careta na política, nos

costumes e nas liberdades individuais se

comparada com os sonhos libertários dos anos

1960, ou mesmo com as esperanças

democráticas dos anos 1980. Vivemos uma

grande ofensiva do coxismo: conservador nas

ideias, conformado no dia-a-dia, revoltadinho

no trânsito engarrafado e no teclado do

Facebook.

O fundamental é que nenhum grupo político

no poder ou fora dele tem hoje qualquer nível

mínimo de interlocução com uma parte enorme

da molecada – seja nas universidades ou nas

periferias – que não se conforma com a falta de

perspectivas minimamente interessantes dentro

dessa sociedade cada vez mais bundona, careta

e medíocre.

Os mesmos indignados que se esgoelam no

mundo virtual clamando que a juventude e os

estudantes "se levantem" contra o governo e a

inação da sociedade, são os primeiros a pedir

que a tropa de choque baixe a borracha nos

"vagabundos" quando eles fecham a 23 de

Maio e atrapalham o deslocamento dos seus

SUVs rumo à happy-hour nos Jardins.

Acuados, os políticos "de esquerda" se

horrorizam com as cenas de sacos de lixo

pegando fogo no meio da rua e se apressam a

condenar na TV os atos de "vandalismo", pois

morrem de medo que essas fogueiras causem

pavor em uma classe média cada vez mais

conservadora e isso possa lhes custar preciosos

votos na próxima eleição.

Enquanto isso a molecada, no seu saudável

inconformismo, vai para as ruas defender –

FUNDAMENTALMENTE – o seu direito de

sonhar com um mundo diferente. Um mundo

onde o ensino, os trens e os ônibus sejam de

qualidade e gratuitos para quem deles precisa.

Onde os cidadãos tenham autonomia de

decidir sobre o que devem e o que não devem

fumar ou beber. Onde os índios possam nos

mostrar que existem outros modos de vida

possíveis nesse planeta, fora da lógica do

agribusiness e das safras recordes. Onde

crenças e religião sejam assunto de foro

íntimo, e não políticas de Estado. Onde cada

um possa decidir livremente com quem prefere

trepar, casar e compartilhar (ou não) a criação

dos filhos. Onde o conceito de Democracia

não se resuma à obrigação de digitar meia

dúzia de números nas urnas eletrônicas a cada

dois anos.

Sempre vai haver quem prefira como modelo

de estudante exemplar aquele sujeito valoroso

que trabalha na firma das 8 da manhã às 6 da

tarde, pega sem reclamar o metrô lotado,

encara mais quatro horas de aulas meia-boca

numa sala cheia de alunos sonolentos em

busca de um canudo de papel, volta para casa

dos pais tarde da noite para jantar, dormir e

sonhar com um cargo de gerente e um

apartamento com varanda gourmet.

Não é meu caso. Não tenho nem sombra de

dúvida de que prefiro esses inconformados que

atrapalham o trânsito e jogam pedra na polícia.

Ainda que eles nos pareçam filhinhos-de-papai

(ou “manos” da periferia i), ingênuos em seus

sonhos, utópicos em suas propostas,

politicamente manobráveis em suas

reivindicações, irresponsavelmente seduzidos

pelos provocadores de sempre.

Desde a Antiguidade, esses jovens ingênuos e

irresponsáveis são o sal da terra, a luz do sol

que impede que a humanidade apodreça no

bolor da mediocridade, na inércia do

conformismo, na falta de sentido do

consumismo ostentatório, nas milenares

pilantragens travestidas de iluminação

espiritual.

Esses moleques que tomam as ruas e dão a

cara para bater incomodam porque quebram

vidros, depredam ônibus e paralisam o

trânsito. Mas incomodam muito mais porque

nos obrigam a olhar para dentro das nossas

próprias vidas e, nessa hora, descobrimos que

desaprendemos a sonhar.

Do Blog de Luis Nassif, dom, 09/06/2013 -

16:04

folhetim

Page 3: Folhetim do Estudante - Ano II - Núm. XX

3

do estudante ano II junho/2013

EXTRA

Estudantes de escolas públicas

que têm entre 12 a 17 anos e

gostam de escrever podem

participar do Concurso literário

“Pode pá que é nóis que tá”, que

vai dar mais de R$ 2.000,00 em

prêmios para os primeiros

colocados.

As inscrições começam na

segunda, 27 de maio, e ficam

abertas até 31 de julho. Sessenta

textos serão selecionados para

integrar a antologia literária

“Pode pá que é nóis que tá –

volume II” e os autores dos seis

melhores textos receberão

prêmios em dinheiro e um kit

cultural.

Os participantes devem ser

moradores da cidade de São

Paulo e podem enviar textos em

prosa ou poesia com temática

livre.

O regulamento completo está na

fan page da Edições Um Por

Todos e no site doSarau dos

Mesquiteiros, que realiza o

concurso em parceria com o

coletivo Mundo em Foco e com

apoio de outros grupos culturais

da periferia.

Em caso de dúvidas, o

participante deve enviar e-mail

para: [email protected].

Vamos lá jovens estudantes,

participem !!!!!

literatura Mário Mendes Júnior, especialista em

assuntos que se referem à África,

continente pelo qual tem grande

admiração e conhecimento, lançou na

sexta-feira (14) a obra ´Procura-se

Jovem Negro Para Salvar o Planeta,

da editora Ideas@Work. O livro conta

com fotos de Nuno Miguel Fortunato

Nóbrega.

Formado em tecnologia da

informação, área de grande ascensão

no mercado desde o boom da internet,

Mendes Jr. não se limitou a se dedicar

a este setor. Há dez anos ele estuda

com profundidade a África Austral,

região para qual viajou inúmeras

vezes.

A partir dessas viagens, além de muita

leitura sobre o tema e debates,

Mendes Jr. consegue nos apresentar

outra África, próspera, bonita, forte,

que pode crescer, a exemplo de outras

regiões, de dentro para fora, a partir

de um processo óbvio, porém pouco

executado: a aceleração do

conhecimento do jovem negro.

Procura-se Jovem Negro Para Salvar

o Planeta é uma obra que almeja mais

que alcançar as salas onde se reúnem

pessoas interessadas pela África, com

acadêmicos que insistem em não nos

deixar esquecer esse continente, mas,

sim, todos aqueles que se emocionam

com seus tambores, sua cultura e seus

líderes políticos importantes. É um

livro, definitivamente, para descobrir

a África.

folhetim

Page 4: Folhetim do Estudante - Ano II - Núm. XX

4

do estudante ano II junho/2013

to talk

Como dizer os 7

pecados capitais

em inglês?

Antes vale dizer que pecado

capital em inglês é deadly sin.

Assim, para dizer os 7 pecados

capitais em inglês, anote aí que

a combinação é seven deadly

sins.

Lembre-se que pecado é sin. Dito

isso, chegou a hora de aprender

como se diz cada um dos 7

pecados capitais em inglês.

Então, anote aí:

gula » gluttony

avareza (ganância) » greed

inveja » envy

ira » wrath

vaidade (orgulho) » pride

preguiça » sloth

luxúria » lust

Algumas destas palavras são bem

comuns no dia a dia. Já outras

são termos mais literários e

formais. Um exemplo

é sloth (preguiça). Esta palavra é

muito mais usada no mundo

literário, no dia a dia a palavra

é laziness. Vale dizer ainda

que sloth é como dizemos bicho-

preguiça em inglês.

Outra palavra interessante

é wrath (ira). Interessante pois ela

expressa uma nível de raiva acima

da palavra anger. Ou

seja, anger é o nível normal de

raiva, wrath é o nível máximo.

www.institutoorange.blogspot.com

imagético Imagens que apontam uma

interpretação sobre os fatos e se

relacionam com os dois textos

iniciais, nesse número, que fazem

referência aos direitos humanos e

as manifestações sociais que se

disseminam em todo o país.

Manifestação no Largo da Batata - SP

Garantia de Direitos humanos

ação Campanhas e Solidariedade

Campanha TÀ LIMPO

A Escola Miguel Maluhy criou um

ponto de coleta de óleo de cozinha

usado para reciclagem em parceria

com a empresa RE-CICLE. Os

alunos que disponham desse item

para descarte devem trazer o

resíduo engarrafado em PET e

depositá-lo em local sinalizado

próximo a sala dos professores no

primeiro pavimento. Essa ação de

prestação de serviço e

conscientização para uma atitude

sustentável vai prosseguir até o

final de 2013 na escola.

Doe um Agasalho

A partir do próximo dia 03 de junho a

escola estará recebendo doações de

agasalhos, roupas e cobertores usados,

em bom estado, para ajudar, em

parceria com a Organização Anjos da

Noite, àqueles que necessitam desses

pequenos recursos para suportar esse

período de inverno. A campanha se

estende até o final do mês de junho,

momento no qual pretendemos, junto

com alunos, fazer a entrega dos itens

coletados.

folhetim

Page 5: Folhetim do Estudante - Ano II - Núm. XX

5

do estudante ano II junho/2013

AGENDA

Espetáculo: “O Perrengue

da Lona Preta”

Data: 20/06/2013 – 20h45m Local – E. E. Com. Miguel Maluhy

Três são os pilares que configuram

a pesquisa que resultou na

montagem da peça “O Perrengue da

Lona Preta”. Por um lado, o grupo

estudou textos que julga de extrema

importância para a compreensão das

forças que operam na manutenção

da ordem vigente. Estão entre os

mais importantes: “O senhor e o

escravo” de Hegel, ”Para ler o Pato

Donald” de Ariel Dorfman e

Armand Mattelart”, “O que é

ideologia” de Marilena Chauí e

o capitulo 24 de “O Capital” de

Karl Marx. Além dos textos

teatrais: “O auto dos noventa e nove

por cento” e “A mais-valia vai

acabar seu Edgar” , ambos de

Oduvaldo Vianna Filho.

Outro pilar do trabalho é o

estudo do arquétipo cômico, das

cenas clássicas de circo, do palhaço

popular, de rua, de feira. Nessa

pesquisa foi fundamental o livro

“Palhaço” de Mario Fernando

Bolognese. Vale ressaltar que é

parte fundamental desse estudo a

pesquisa de linguagem, que almeja

captar na realidade que nos cerca os

elementos simbólicos capazes de

dar novo folego as “palhaçarias” do

picadeiro tradicional. Nesse sentido,

buscamos na linguagem e no gesto,

cuja natureza dinâmica permite

vasto leque de criação, dar novo

vigor as velhas cenas clássicas.

Por ultimo, a obra de

Mikhail Bakhtin, “A Cultura

Popular na Idade Média e no

Renascimento: o contexto de

François. Rabelais” foi de suma

importância, no sentido em que

trouxe os elementos ambivalentes

do grotesco e do bufão. Elementos

esses, que serviram de ponte entre a

primeira pesquisa,

preponderantemente teórica, e os

exercícios práticos das cenas

clássicas de palhaço. Em tempos

pós-modernos, pós-revolucionários,

em que a ordem vigente ganha novo

folego e aparência de mundo

acabado, quase eterno e limitado, a

memória rota nos faz crer que a

riqueza é inocente da pobreza, que a

pobreza e a riqueza vêm da

eternidade e para a eternidade

caminham. O bufão precipita esse

mundo para o “baixo” terrestre e

corporal, que simultaneamente

materializa e eleva, desprende as

coisas da seriedade oficial, das

sublimações e ilusões inspiradas

pelo medo, e, visa fazer com que ele

tome um aspecto diferente, mais

material, mais próximo do homem,

mais compreensível.

Surge daí “O Perrengue da

Lona Preta”, um jogo de

palhaços/bufões que não tem o

menor interesse em que se estabilize

o regime existente e o quadro do

mundo dominante (impostos pela

verdade oficial), e que tentam,

assim, captar o mundo em devir, a

alegre relatividade de todas as

verdades limitadas de classe, o

estado de não-acabamento constante

do mundo, a fusão permanente da

mentira e da verdade, do mal e do

bem, das trevas e da claridade, da

maldade e da gentileza, da morte e

da vida.

FICHA TÉCNICA:

“O Perrengue da Lona Preta”

Sinopse:

O “sagrado” direito a

propriedade privada, símbolo da

cultura oficial, é reinterpretado no

“O Perrengue da Lona Preta”, um

espetáculo inspirado na tradição

circense. Nele os palhaços Rabiola e

Chico Remela reconstroem, de

forma divertida, os símbolos,

pretensamente eternos da ordem

vigente.

Direção: Sergio Carozzi

Elenco: Joel Carozzi, Sergio

Carozzi.

Figurinos: O Grupo

Produção: Henrique Alonso

Grande Arraial do Maluhy

Sábado 22/06/2013 a

partir das 10h até ás 18h

Danças, comidas, brincadeiras,

gincanas e muito mais.

Tudo no clima animado de São

João. Compareçam, prestigiem.

folhetim