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1 do estudante Núm. XVI - ANO II 1ª quinzena - Abril/2013 Folhetim do estudante é uma publicação de cunho cultural e educacional com artigos e textos exclusivos de Professores, alunos e membros da comunidade da “E.E. Miguel Maluhy”. Acesse o BLOG do folhetim http://folhetimdoestudante.blogspot.com.br Sugestões e textos para: [email protected] EXTRA... EXTRA... EXTRA... Escola Estadual Com. Miguel Maluhy abriga exposições e mostra de cinema além de ações culturais relacionadas ao IV Festival Sul Americano de Cultura Árabe Um jornal a serviço do Brasil Festival reforça vínculos entre países árabes e América do Sul Até o dia 31, exposições, debates, oficinas e recitais acontecem em São Paulo e outras 12 cidades Evento marca dez anos da Bibliaspa, rede de pesquisadores que promove o intercâmbio cultural entre as regiões TRAJANO PONTES COLABORAÇÃO PARA A FOLHA DE SÃO PAULO A ocupação de uma praça pública pela literatura, em defesa de um plano municipal do livro e da leitura; exposições sobre a viagem do primeiro árabe muçulmano ao Brasil e a presença árabe nos países latinos. Até o dia 31, essas serão algumas das atividades do Quarto Festival Sul-Americano de Cultura Árabe (Saca). O evento é promovido pela Bibliaspa (Biblioteca/Centro de Pesquisa América do Sul - Países Árabes), rede de pesquisadores e artistas de 25 países da América do Sul e do mundo árabe, formada há dez anos, e que promove "o encontro direto entre essas culturas, sem triangulação por meio de outros países", explica o diretor Paulo Farah. Para ele, o festival promove uma reflexão crítica, de desconstrução de estereótipos, mas sem perder a preocupação acadêmica. "Queremos mostrar vínculos muitas vezes desconhecidos ou esquecidos. E desconstruir a imagem de que essa seria uma região do mundo que não valoriza a cultura, a música, a literatura", defende. Uma das bandeiras da Bibliaspa, diz ele, é a defesa da bibliodiversidade, isto é, a necessidade de que escolas e bibliotecas tenham livros que reflitam mistura de raças e culturas no Brasil. A bandeira será empunhada no "Quarteirão Literário", récita de autores árabes e sul-americanos que acontece hoje e tem a participação de instituições que defendem a instituição de um plano municipal de incentivo à literatura. "A nova gestão [do prefeito Haddad] mostrou-se aberta a essa questão. Houve sinalização muito positiva", diz Farah, também professor de literatura e história árabes na USP. Na sede da Bibliaspa, uma exposição ilustra o primeiro relato de um árabe muçulmano sobre o Brasil, entre 1865 e 1868. "O material é diferente pelo olhar de profundo respeito às populações indígenas e de inclusão das comunidades muçulmanas escravizadas", explica Farah, autor de livro que reúne sua pesquisa sobre o manuscrito. Exposição Universo FantásticoLocal: E. E. Com. Miguel Maluhy Pavimento Folhetim

Folhetim do Estudante Núm. XVI

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Page 1: Folhetim do Estudante Núm. XVI

1

do estudante Núm. XVI - ANO II

1ª quinzena - Abril/2013

Folhetim do estudante é uma

publicação de cunho cultural e

educacional com artigos e textos

exclusivos de Professores, alunos

e membros da comunidade da

“E.E. Miguel Maluhy”.

Acesse o BLOG do folhetim http://folhetimdoestudante.blogspot.com.br

Sugestões e textos para:

[email protected]

EXTRA... EXTRA... EXTRA...

Escola Estadual Com. Miguel

Maluhy abriga exposições e

mostra de cinema além de ações

culturais relacionadas ao IV

Festival Sul Americano de

Cultura Árabe

Um jornal a serviço do Brasil

Festival reforça

vínculos entre países

árabes e América do Sul

Até o dia 31, exposições, debates,

oficinas e recitais acontecem em

São Paulo e outras 12 cidades

Evento marca dez anos da

Bibliaspa, rede de

pesquisadores que promove o

intercâmbio cultural entre as

regiões

TRAJANO PONTES

COLABORAÇÃO PARA A

FOLHA DE SÃO PAULO

A ocupação de uma praça pública

pela literatura, em defesa de um

plano municipal do livro e da

leitura; exposições sobre a viagem

do primeiro árabe muçulmano ao

Brasil e a presença árabe nos

países latinos.

Até o dia 31, essas serão algumas

das atividades do Quarto Festival

Sul-Americano de Cultura Árabe

(Saca).

O evento é promovido pela

Bibliaspa (Biblioteca/Centro de

Pesquisa América do Sul - Países

Árabes), rede de pesquisadores e

artistas de 25 países da América

do Sul e do mundo árabe, formada

há dez anos, e que promove "o

encontro direto entre essas

culturas, sem triangulação por

meio de outros países", explica o

diretor Paulo Farah.

Para ele, o festival promove uma

reflexão crítica, de desconstrução

de estereótipos, mas sem perder a

preocupação acadêmica.

"Queremos mostrar vínculos

muitas vezes desconhecidos ou

esquecidos. E desconstruir a

imagem de que essa seria uma

região do mundo que não valoriza

a cultura, a música, a literatura",

defende.

Uma das bandeiras da Bibliaspa,

diz ele, é a defesa da

bibliodiversidade, isto é, a

necessidade de que escolas e

bibliotecas tenham livros que

reflitam mistura de raças e

culturas no Brasil.

A bandeira será empunhada no

"Quarteirão Literário", récita de

autores árabes e sul-americanos

que acontece hoje e tem a

participação de instituições que

defendem a instituição de um

plano municipal de incentivo à

literatura.

"A nova gestão [do prefeito

Haddad] mostrou-se aberta a essa

questão. Houve sinalização muito

positiva", diz Farah, também

professor de literatura e história

árabes na USP.

Na sede da Bibliaspa, uma

exposição ilustra o primeiro relato

de um árabe muçulmano sobre o

Brasil, entre 1865 e 1868. "O

material é diferente pelo olhar de

profundo respeito às populações

indígenas e de inclusão das

comunidades muçulmanas

escravizadas", explica Farah,

autor de livro que reúne sua

pesquisa sobre o manuscrito.

Exposição “Universo Fantástico”

Local: E. E. Com. Miguel Maluhy – 1º

Pavimento

Folhetim

Page 2: Folhetim do Estudante Núm. XVI

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do estudante ano II abril/2013

IV FESTIVAL SUL

AMERICANO DE

CULTURA ÁRABE no

MALUHY

A Escola Estadual

Comendador Miguel Maluhy está

abrigando atividades do IV Festival

Sul Americano de Cultura Árabe

iniciado no dia 18/03 e com

programação até o final do mês de

março de 2013, extendo-se em

alguns locais até o final de Abril.

Entre as atividades estão

sendo apresentadas exposições,

poesias e filmes que fazem parte da

Mostra de Cinema Árabe e

Islâmico para os alunos de todas as

séries do ensino fundamental ciclo

II e aos alunos do ensino médio.

Uma das exposições

"Universo Fantástico" apresenta as

representações sobre os mitos e

lendas produzidas por artistas

populares do nordeste que através

dos registros da oralidade, dos

registros escritos no cordel, das

imagens e da iconografia

local demonstram as influências

culturais do mundo ibérico e Árabe

em sua arte.

A outra exposição "Uma

terra sem povo para um povo sem

terra" de Nuno Coelho e Adam

Kershaw mostra os problemas que

envolvem a realidade do povo

Palestino e suas dificuldades diante

da opressão exercida pelos

sionistas.

Os alunos estão desenvol-

vendo estudos sobre essas

representações e apresentando suas

percepções sobre os conflitos e as

influências culturais no mundo

globalizado e nesse tempo presente

além de relacionarem essas

observações e percepções com a

narrativa poética de autores árabes

como Mahmud Darwich em sua

obra "A Terra nos é estreita e

outros poemas" e Permínio Asfora

com o seu romance regionalista

"Noite Grande".

A mostra de Cinema

complementa essa perspectiva de

aprendizagem com narrativas

cinematográficas contemporâneas

que apresentam a cultura Árabe e

islâmica em diferentes situações,

desde um filme de animação como

"As aventuras de Azur e Asmar"

do diretor Michel Ocelot até o

aclamado filme "E agora pra onde

vamos" da diretora libanesa Nadine

Labaki que apresenta um discurso

interessante sobre as questões de

gênero e a importância da mulher

dentro dessa cultura.

Algumas imagens dos alunos interagindo

entre si e compartilhando conhecimento

na observação das exposições no saguão

da escola.

debate

Um olhar crítico sobre a

Palestina

O Poema “Carteira de

Identidade”, de Mahmud Darwich,

retrata a dor e o dia a dia de um

palestino. O texto poético nos fala sobre

o sofrimento do povo por não terem o

direito de serem livres em sua própria

terra e por viverem uma situação

constante de guerra. O poema

desenvolve uma expressão poderosa e

direta sobre a identidade de seu autor.

“Toma nota!

Sou árabe

Número da identidade: 50 mil

Número de filhos: oito

E o nono... já chega depois do verão

E vais te irritar por isso?”

Nesse poema, Darwich

expressa a condição básica do palestino,

que foi “confinado” á força em sua

própria terra e sua liberdade violada, e a

terra, nesse caso, é a parte essencial de

sua identidade.

A exposição “Uma terra sem

povo para um povo sem terra” trata

diretamente desse conflito narrado pelo

autor do poema e expõe as diferenças

entre palestinos e o povo de Israel;

apresenta a guerra entre os dois países;

os palestinos lutando por uma terra que

é deles por direito e Israel tomando

posse dos territórios palestinos. A

Palestina, no momento, é um território

descontínuo e constantemente alterado

pelos interesses impostos pelo governo

de Israel, ocupado militarmente. Os

palestinos lutam para tomar sua terra de

volta, lutam pela sua identidade e usam

as armas que lhes são possíveis.

Nesse sentido tanto o poema quanto a

exposição abordam a questão da

identidade e a posse da terra e tratam

direta e indiretamente sobre os conflitos

entre Israel e Palestina.

Uma solução possível para

esses conflitos seria o uso do diálogo e

da diplomacia apesar das enormes

dificuldades para que esse consenso

possa vir a ocorrer em um curto tempo.

Análise produzida pelo Grupo do 1ºC –

Ana Clara, Gabriela Almeida, Gabriela

Conceição, Giovanna e Janaina

folhetim

Page 3: Folhetim do Estudante Núm. XVI

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do estudante ano II abril/2013

POÉTICAS

Carteira de Identidade

Toma nota!

Sou árabe

Número da identidade: 50 mil

Número de filhos: oito

E o nono... já chega depois do verão

E vais te irritar por isso?”

Toma nota!

Sou árabe

Trabalho numa pedreira

Com meus companheiros de dor

Pra meus oito filhos

O pedaço de pão

As roupas e os livros

Arranco da rocha...

Não mendigo esmolas à tua porta,

Nem me rebaixo

No portão do teu palácio

E vais te irritar por isso?

Toma nota!

Sou árabe

Sou nome sem sobrenome

Paciência sem fim

Num país onde tudo o que é

Ferve na urgência da fúria

Minhas raízes...

Antecedem

O nascimento do tempo

O princípio das eras

O cipreste e a oliveira

A primeira das ervas

Meu pai...

De família na terra

Sem nobreza entre os seus

Meu avô

De presença no arado

Nem distinto nem bento

Sem nome nem renome

Sem papel nem brasão

Minha casa, só choça no campo

De troncos e tábuas

E ela te agrada?

Sou nome sem sobrenome!

Toma nota!

Sou árabe

Cabelos negros

Olhos castanhos

A cabeça coberta com kefiyya

e cordão

Dura como pedra

Rija no toque

a palma da mão...

E o melhor pra comer?

Azeite e zaatar

O endereço?

Uma aldeia isolada... esquecida

De ruas sem nome

E homem...

No campo e na pedra...

E vais te irritar por isso?

Toma nota!

Sou árabe

Arrancaste as vinhas de meu avô

A terra que eu arava

Eu, os filhos, todos

Nada poupaste...

Pra nós, pros netos

Só pedras, pois não

E o governo, o teu, já fala em tomá-

las

Pois então!

Toma nota!

No alto da primeira página

Não odeio ninguém

Não agrido ninguém

Ao sentir fome, porém,

Como a carne de quem me viola

Atenção... cuidado...

Com minha fome... com minha

fúria!!

Mahmud Darwich

____________________________

MOSTRA DE CINEMA

Filmes exibidos nas salas de vídeo

da E. E. Com. Miguel Maluhy. Em

breve publicaremos as resenhas

produzidas pelos nossos alunos.

folhetim

Page 4: Folhetim do Estudante Núm. XVI

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do estudante ano II abril/2013

RESENHAS

O sertão com sotaque palestino

Letícia Macedo

Como seus contemporâneos

José Lins do Rego, Jorge Amado, o

escritor Permínio Asfora narrou em

“Noite Grande” (1946) as fortes

relações entre o homem e a terra com

um sotaque diferente. O personagem

principal do romance é o pai do autor,

Jorge, um palestino que veio se

estabelecer no Brasil no intuito de

ganhar a vida quando a situação

política no seu país de origem não se

mostrava promissora.

O apoio de um tio,

comerciante de sucesso, não vingou.

Destemido e trabalhador, Jorge

enfrenta as limitações da língua e a

saudade de casa. Ele se estabelece no

Piauí e faz sucesso no comércio.

Aprende o português ao passo que se

esquece da língua materna. Faz

amigos, encontra um amor e, sem se

dar conta, se apega a uma terra

distante, porém, de algum modo

semelhante a sua.

Ele se torna produtor rural,

provocando, assim, a ira dos

tradicionais proprietários de terras da

região de Pimenteiras, que se torna

palco de um violento embate. Com o

objetivo de explorar a borracha dos

maniçobais, que movimentava o

comércio na caatinga, os coroneis

colocam em dúvida quais eram os

limites da fazenda Murici, recém,

adquirida por Jorge.

Chico Pereira e Mário se

armam e usam de todos os recursos

para impedir que o imigrante consiga

explorar uma serra repleta de

maniçobais, que por direito lhe

pertencia. Tendo já compreendido o

jogo de forças, Jorge não se curva,

também se cerca de homens armados

e se mostra disposto a defender seus

domínios. Em um dos capítulos mais

emocionantes do livro, dois capangas

protagonizam um duelo armados com

punhais. O vencedor é Limeira,

funcionário de Jorge – prenúncio da

vitória do palestino.

Aos poucos, a luta de Jorge

ganha a simpatia dos opositores de

Chico Pereira. Mário, cuja família era

ligada à elite política, recua primeiro.

Com a mudança de governo, Pereira

chega a ser preso, o que em tese

abriria espaço para que Jorge pudesse

fazer dinheiro como sonhara. Eis que

uma seca rigorosa entra em cena

mostrando que a energia e recursos

na queda de braço foram

praticamente em vão. Ela derruba o

preço da borracha e o protagonista se

vê obrigado a partir para o Ceará.

Sob o sol forte e a aridez do

sertão, é curioso observar o quanto o

palestino se identifica com o pobre

nordestino. A dor do palestino que

revive na luta por um pedaço de chão

pode até passar despercebida aos

olhos mais desatentos. Mas, não à

toa, ela é traduzida por Asfora no ano

da partilha da palestina. “Sentiu

agonia em se lembrar que não tinha

pátria, nem mesmo aquela onde

nascera; pois não era livre, vivia

sempre dominada. Pertencia aos mais

fortes”, constata o protagonista.

Apesar de ter sido elogiado

por ninguém menos que Mário de

Andrade, Gilberto Freyre e Erico

Veríssimo, o autor Permínio Asfora

caiu no esquecimento ficando fora de

uma longa lista de autores

regionalistas. Praticamente

desconhecido do grande público, fica

o questionamento: como uma

narrativa tão vigorosa pode ficar

tanto tempo distante do nosso

mercado editorial?

Livro – Noite Grande

Autor – Permínio Asfora

Editora – Edições BIBLIASPA

_________________________________

O “QUARTEIRÃO

LITERÁRIO”

Uma iniciativa para criar o

PLANO MUNICIPAL DO LIVRO E DA

LEITURA e para estimular a leitura entre

os jovens nos diferentes níveis escolares.

O IV Festival Sul-Americano da

Cultura Árabe abraçou esta causa e

promoveu diversas atividades de

manifestação em parceria com outras

organizações no dia 27/03 com a

participação de alunos e ex-alunos da E.

E. Com. Miguel Maluhy.

Você sabia que a cidade de São

Paulo ainda não tem Plano Municipal do

Livro e da Leitura? Não tem não. Desse

modo, o “Quarteirão Literário” é um

movimento em favor da criação de um

Plano Municipal do Livro e da Leitura. O

acontecimento fez parte das atrações do

IV Festival Sul-Americano da Cultura

Árabe, na Praça que fica em frente à

Biblioteca Monteiro Lobato, que foi

fechada pela CET, a BibliASPA, a

Biblioteca Monteiro Lobato, Senac,

Literasampa e outras entidades fizaram

uma série de manifestações por meio de

expressões literárias e artísticas diversas.

Foi promovido um debate sobre o Plano

Municipal do Livro e da Leitura além de

Recital poético – poemas de autores

árabes, africanos e sul-americanos

A programação incluiu poemas de

Mahmud Darwich (palestino), Mustafa

Lutfi al-Manfaluti (egípcio), Pablo

Neruda (chileno) e Thiago de Mello

(brasileiro). Os Poemas foram recitados e

distribuídos aos presentes.

folhetim