45
1

Fonética e Fonologia

Embed Size (px)

Citation preview

  • 5/27/2018 Fontica e Fonologia

    1/45

    1

  • 5/27/2018 Fontica e Fonologia

    2/45

    2

    FONTICA E FONOLOGIA

    DEMERVAL DA HORA OLIVEIRA

    APRESENTAO

    Este captulo introduz uma viso acerca de Fontica e Fonologia, tendo como

    objetivos:

    - conceituar Fontica;

    - explicar a natureza e produo dos sons vocais elementares da Lngua

    Portuguesa;

    - classificar, foneticamente, os sons da Lngua Portuguesa;- transcrever, fo-neticamente, palavras da Lngua Portuguesa;

    - conceituar Fonologia;

    - distinguir Fontica de Fonologia;

    - apresentar os conceitos principais da Fonologia;

    - elencar mltiplas possibilidades de aplicao dos estudos fonticos efonolgicos.

    CONCEITOS BSICOS

    - som

    - letra

    - fone

    - fonema

    - alofone

    - arquifonema

    - par mnimo

    - distribuio complementar

    - transcrio

    INTRODUO

    A Lingstica pode ser definida como o estudo cientfico da estrutura da lngua. Ela

    rene estudos em diversos campos, dentre eles, a Sintaxe, a Morfologia, a Semntica,

    que se preocupam com unidades maiores, e a Fonologia que se volta para as unidades

    lingsticas menores. Ao lado da Fonologia, que visa ao estudo sistemtico dos sons,

    temos a Fontica, que se volta para a produo, propagao e percepo dos sons.

    Os estudos fonticos e fonolgicos tm sua origem em momentos distintos. Os

    estudos fonticos foram preocupao dos estudiosos da lngua muito antes do sculo XX;

    j a Fonologia tem sua origem com os estudos do Crculo de Praga, no incio do sculo

    XX, por isso que muitos trabalhos realizados no incio daquele sculo no tem limites

  • 5/27/2018 Fontica e Fonologia

    3/45

    3

    definidos. Embora tenham objetos de estudo diferenciados, estes dois campos de

    estudo so interdependentes. Isso o que veremos ao explicitar um e outro.

    FONTICA

    O Domnio da Fontica

    A Fontica o estudo sistemtico dos sons da fala, isto , trabalha com os sons

    propriamente ditos, levando em considerao o modo como eles so produzidos,

    percebidos e quais aspectos fsicos esto envolvidos na sua produo.

    Uma classificao bsica para a Fontica situa-a em trs domnios:

    1. Fontica Articulatriaestuda os sons do ponto de vista fisiolgico. Descreve

    e classifica os sons. Assim, ao descrevermos a realizao de um som, por

    exemplo [p], podemos afirmar que na sua articulao quase no houve

    vibrao das cordas vocais, por isso ele no-vozeado, que o fluxo do ar

    seguiu o caminho do trato vocal, no das fossas nasais, o que o caracteriza

    como oral, e que houve obstruo pelos dois lbios, por isso ele oclusivo e

    bilabial. Este o papel da Fontica Articulatria.

    2. Fontica Acsticaleva em conta as propriedades fsicas do som, como os

    sons da fala chegam ao aparelho auditivo. Quando realizamos qualquer som,

    a sua propagao se d atravs de ondas sonoras at chegar ao ouvido do

    interlocutor. A anlise desse som e sua propagao, realizada com o auxliode programas computacionais especficos, permite avaliar sua altura, sua

    intensidade etc.

    3. Fontica Auditivacentraliza seus estudos na percepo do aparelho auditivo.

    Muitas vezes, nem sempre percebemos o mesmo som de forma idntica. S

    uma anlise mais acurada permitir identifica-lo. Este tipo de estudo cabe

    Fontica Auditiva, campo de pesquisa muito pouco explorado, principalmente

    no Brasil.

    Esses trs campos de estudos nem sempre so implementados concomitantemente.E um dos motivos para que isso no ocorra a falta de especializao, principalmente,

    no que concerne aos estudos acsticos e auditivos. Por isso, sempre nos detemos na

    parte articulatria, considerando ser esta a parte mais fcil de ser verificada, j que

    diz respeito produo dos sons. Vale salientar, entretanto, que para fazermos um

    estudo mais detalhado da produo de alguns sons, temos necessidade de recorrer a

    estudos acsticos. Tais estudos, no passado, necessitavam de aparelhos bem

    sofisticados, e, muitas vezes, de difcil acesso. Hoje, com um computador bem

    equipado, e com softwares especficos, podemos realizar excelentes anlises

    acsticas.

  • 5/27/2018 Fontica e Fonologia

    4/45

    4

    Considerando as dificuldades apontadas, aqui nos deteremos na parte articulatriados sons, ou seja, na Fontica Articulatria, aquela que, como afirmamosanteriormente, est voltada para a produo dos sons, levando em conta seu modo

    de articulao, ser ponto, seu carter vozeado ou no e ainda sua configurao nasalou oral. Para isso, iniciaremos apresentando como os sons se realizam.

    Aparelho fonador

    O ser humano no possui um rgo, ou sistema, que tenha como funo primriaa produo dos sons da fala. Utiliza-se de partes do corpo, como pulmes, traquia,laringe, epiglote, cordas vocais, glote, faringe, vu palatino, palato duro (ou cu da

    boca), palato mole, lngua, dente, mandbula, lbios e cavidades nasal, cujas funesprimrias so de alimentao e respirao, ou seja, vitais ao ser humano.

    Como se realiza o som? Para respondermos a essa pergunta, temos queentender o caminho que o fluxo de ar segue na respirao. Importante lembrarmosque os sons no se realizam no momento de inspirao, mas na expirao. Ooxignio, vital ao ser humano, chega at os pulmes pela traquia. Em seu caminhode volta, ainda ar, ele sofre a primeira deformao ao chegar laringe. na laringeque definimos dois tipos de sons.

    O ar expelido pelos pulmes chega laringe e atravessa a glote, que fica naaltura do chamado pomo-de-ado ou gog. O ar, ento, chega abertura entre asduas pregas musculares das paredes superiores da laringe, conhecidas pelo nome decordas vocais (ou pregas vocais). O fluxo de ar pode encontr-las fechadas ou abertas,em virtude de estarem aproximadas ou afastadas. Caso estejam fechadas, o ar fora

    sua passagem, fazendo-as vibrar e produzir os sons chamados de vozeados. Nosegundo caso, quando relaxadas, o ar escapa, com pouca vibrao das cordas,

    produzindo sons chamados de no-vozeados.

    Fig. 1: Cordas vocais

    Todos os sons da fala humana, sejam vogais, consoantes ou semivogais (tambmdenominadas de glides) so produzidos no trato vocal, este pode ser consideradocomo um aparelho constitudo de cmaras, tubos e vlvulas, cuja funo pr o arem movimento e controlar seu fluxo.

    A distino entre sonora e surda pode ser claramente percebida na pronnciade pares de consoantes como [p] ~ [b], [t] ~ [d], [k] ~ [g], dentre outras, que seopes apenas pelo trao de vozeamento. Enquanto [p,t,k] so classificadas comono-vozeadas, por terem pouca vibrao das cordas voais, [b,d,g] so classificadascomo vozeadas, por terem maior vibrao das cordas vocais.

  • 5/27/2018 Fontica e Fonologia

    5/45

    5

    Veja na figura abaixo, os rgos envolvidos na realizao dos sons:

    Figura 2. rgos envolvidos no processo de realizao dos sons

    Vamos seguir o fluxo de ar depois de passar pela glote, que onde ficam ascordas vocais, definidoras da sonoridade ou no dos sons.

    Quando sai da laringe, o ar vai para a faringe. A o fluxo de ar, j no mais ar,mas som, pode tomar duas direes: o trato vocal ou o nasal. Entre estes dois canaisfica a vula, rgo dotado de mobilidade capaz de obstruir, ou no, a passagem do arna cavidade nasal e, conseqentemente, determinar a natureza oral ou nasal de umsom.

    Quando levantada, a vula impede o fluxo de ar pelas fossas nasais, resultando,

    assim, na produo de sons orais, a exemplo de [p], [b] [a].

    Quando a vula est abaixada, temos a realizaes de sons nasais, isto porqueo ar passa tanto pelo trato vocal como pelas fossas nasais. o que acontececom a realizao de sons como [m], [n].

    ATIVIDADE

    Tape seus ouvidos com as mos e realize os sons mencionados anteriormente.Identifique pela ressonncia os vozeados e os no-vozeados.

    OBSERVAO

    Como estamos tratando da Fontica, veja que os sons mencionados esto sempreentre colchetes[ ]. Isto no aconteceria se estivssemos tratando da Fonologia. Nessecaso, utilizaramos barras / /.

  • 5/27/2018 Fontica e Fonologia

    6/45

    6

    Na Figura 3, podemos verificar onde se realizam os sons orais e nasais.

    Figura 3: Cavidade oral e cavidade nasal

    Depois da faringe, local onde o fluxo do ar vai definir sons orais e nasais,

    passemos agora ao trato vocal. No trato vocal temos o conjunto de articuladores.

    Tais articuladores, como vistos na Figura 4, podem ser classificados como ativos e

    passivos.

    Articuladores ativos so denominados aqueles articuladores como lbio superior,

    lngua, palato mole, que, na realizao dos sons, se movimentam. Ao contrrio, o

    lbio inferior e o palato duro so denominados de articuladores passivos.

    Figura 4: Articuladores ativos e passivos

    Os sons lingsticos ainda podem ser classificados quanto ao modo articulao

    e quanto ao ponto de articulao. Utilizaremos apenas os sons realizados na Lngua

    Portuguesa.

    Quanto ao modo de articulao, temos:

  • 5/27/2018 Fontica e Fonologia

    7/45

    7

    a) oclusivaou plosiva: o fluxo de ar encontra uma interrupo total, seja pelofechamento dos lbios, seja pela presso da lngua sob a arcada dentria ou sob o

    palato duro etc. So elas: [p, b, t, d, k , g ].

    b) fricativa: h um estreitamento da passagem do ar, que resulta em um rudosemelhante ao de uma frico. So fricativas: [f, v, s, z,S, , x].

    c) africada: na realizao dessas consoantes, temos a soma da ocluso e dafrico. o que acontece na realizao de: [tS, d].

    d) nasal: aquele som que, na sua realizao, parte do ar sai pelo trato vocal eparte pelas fossas nasais, a exemplo de [m, n,]

    e) lateral: a lngua, ao tocar os alvolos, obstrui a passagem do ar nas viassuperiores, mas permite que o ar passe atravs das paredes laterais da boca. Solaterais: [l e ].

    f) vibrante: caracteriza-se pelo movimento vibratrio e rpido da lngua,provocando, assim, breves interrupes na corrente de ar. Para a vibrante, temos:[r]. Palavras como caro, barato apresentam este som.

    g) tepe:ao contrrio da vibrante, o tepe se caracteriza por apenas uma batidada ponta da lngua nos alvolos. o caso do []. Este som aquele sempre usadonos encontros consonantais em palavras como prato, fraco etc.

    h) retroflexa: caracteriza-se pelo levantamento e encurvamento da ponta dalngua em direo ao palato duro: []. Este o erre encontrado comumente no falarde algumas comunidades de So Paulo, do Paran e tambm de Minas Gerais.

    Quanto ao ponto de articulao, isto , o local onde os sons so articulados notrato oral temos os seguintes sons:

    :laibaliB solepodurtsboraodmegassapa

    onujalepodizudorpmosO.soiblsiod

    ]m,b,p[:sometsiaibalibomoC.soiblsod

  • 5/27/2018 Fontica e Fonologia

    8/45

    8

    Com estas descries articulatrias, podemos classificar os sons da lngua

    humana. Para unificar as transcries dos sons, uma vez que suas realizaes podem

    variar de uma lngua para outra, foi criado o Alfabeto Fontico Internacional (IPA).

    Este sistema, ao ser utilizado na transcrio fontica, tambm permite que qualquer

    falante conhecedor de seus smbolos realize sons de quaisquer lnguas.

    At aqui temos descrito como se realizam as consoantes. Passemos agora s

    vogais. Uma pergunta vale a pena ser feita: o que torna uma vogal diferente de uma

    consoante?

    Enquanto as consoantes, em geral, so classificadas como vozeadas e no-

    vozeadas, as vogais so sempre vozeadas. Uma outra diferena diz respeito posio

    que a vogal ocupa na slaba. A Lngua Portuguesa, diferente de outras lnguas, como

    o Ingls por exemplo, no admite consoante no ncleo silbico. Todas as slabas do

    Portugus tm sempre uma vogal como seu ncleo. No Portugus, as consoantes

    tS, d,S,

    ,

    Labiodental: H sons que so produzidos

    pela obstruo parcial do ar. Desta forma, o

    som produzido pela aproximao do lbioinferior e a arcada dentria superior. So

    labiodentais: [f, v].

    Dental/Alveolar: os sons so produzidos

    pelo toque da lngua na parte de trs dos

    dentes superiores (dentais) ou nos alvolos

    (alveolares). So elas: [t, d, s, z, l, n, r, R, ]

    Palato-alveolar:so os sons produzidos coma lmina da lngua contra a parte anterior do

    palato duro, logo depois dos alvolos. So

    palato-alveolares: [ ]

    Palatal: os sons que so produzidos com a

    lmina da lngua tocando o palato duro. Como

    em [ ].

    Velar:Estreitamento da cavidade bucal entre

    o dorso da lngua e o vu palatino (ou palato

    mole). So velares: [k,g,x].

  • 5/27/2018 Fontica e Fonologia

    9/45

    9

    ocupam sempre as margens da slaba. Na seo sobre as consoantes, isto est maisexplicitado.

    Foneticamente, podemos classificar as vogais considerando trs parmetros:

    a) a posio vertical da lngua;b) a posio horizontal da lngua;c) a posio dos lbios.

    Quanto posio vertical da lngua, as vogais podem ser classificadas em:alta, mdia e baixa.

    As vogais altas so aquelas que, em sua realizao, a lngua, seja em direo parte anterior da boca ou parte posterior atinge maior altura. Na Lngua Portuguesatemos as vogais [i] e [u].

    As vogais mdias mantm, em sua realizao, como o prprio nome diz, a lnguanem na posio mais alta nem em repousa. o que ocorre quando realizamos as vogais[e], [], [o], [].

    J a vogal baixa, na Lngua Portuguesa o [a], mantm, em sua realizao, a lnguaem posio de repouso.

    No que concerne posio horizontal da lngua, temos a possibilidade de a lngua,na realizao das vogais, ir na direo anterior da boca ou na direo frontal, o que nos das vogais anteriores [i], [I], [e], []. Se a lngua fica em repouso, temos a vogal [a],classificada, sob essa perspectiva, como central. Se a lngua recua na direo posterior da

    boca, temos as vogais [], [o], e [u], tambm denominadas de posteriores.Quanto posio dos lbios, temos as vogais arredondadas e as no-

    arredondadas. Fcil verificar quais so elas. Basta observar a configurao dos lbios em

    sua realizao. So arredonddasas, as vogais [], [o], e [u]; e, no-arredondadas, asvogais [e], [], [] e [a].

    A disposio das vogais da Lngua Portuguesa nos d um sistema triangular de basepara cima.

    A seguir, temos o Alfabeto Fontico Internacional, apresentando tanto as consoantescomo as vogais utilizadas nas diferentes lnguas do mundo.

    Tabela 1: Alfabeto Fontico Internacional

  • 5/27/2018 Fontica e Fonologia

    10/45

    10

    Os dois quadros representam as transcries das consoantes e das vogais.

    Podemos observar que os fones da Lngua Portuguesa esto a representados,

    mas, alm deles, existem muitos outros.

    Transcrio fontica

    Para analisarmos a lngua utilizada falada por um falante sob o ponto de vista fontico,

    necessrio que faamos sua transcrio fontica. Para isto, uma possibilidade lanarmos

    mo dos smbolos fonticos que constituem o IPA. Essa transcrio, algumas vezes, pode

    variar, dependendo do sistema fontico que est sendo utilizado.

    Temos dois tipos de transcrio fontica: um mais amplo e um mais restrito. No tipo

    amplo, no levamos em conta aqueles aspectos considerados secundrios na produo

    dos sons, a exemplo da palatalizao, da velarizao etc. Em geral, este tipo de

    transcrio que mais utilizamos no dia-a-dia da sala de aula ou em pesquisas de carter

    dialetal.

    ATIVIDADE

    Identifique na Tabela 1, quais os fones consonantais e voclicos que fazem parte da

    Lngua Portuguesa falada em sua comunidade.

    ATIVIDADE

    Procure um falante de sua comunidade, grave sua fala e transcreva-a foneticamente,

    utilizando o tipo de transcrio mais amplo.

  • 5/27/2018 Fontica e Fonologia

    11/45

    11

    FONOLOGIA

    A Fonologia est ligada aos sistemas e padres que os sons possuem. Todas as

    lnguas do mundo tm seus prprios padres sonoros. Embora as lnguas compartilhemcertas propriedades bsicas improvvel encontrarmos duas lnguas que tenham o mesmo

    padro sonoro, ou seja, nunca encontraremos duas lnguas que tenham o mesmo inventrio

    de sons, a mesma ordem e que sofram os mesmos processos. Um fonlogo pode estudar

    sistemas de sons os mais diversos possveis, como os encontrados nas lnguas africanas,

    nas variedades do portugus brasileiro e de Portugal etc. Pode tambm trabalhar na soluo

    ou amenizao de deficincias da fala.

    Se compararmos os padres do Portugus e do Ingls, por exemplo, veremos

    que essas duas lnguas tm padres sonoros diferentes, que as posies ocupadas por

    algumas consoantes nas duas lnguas no so as mesmas, e assim por diante. O Portugus

    no tem consoantes interdentais do tipo [] , [], encontradas no Ingls em palaveas

    como three e that, respectivamente. As slabas do Portugus podem ter no seu final

    apenas quatro consoantes /N/, /l/,/r/ e /S/, j o Ingls pode ter vrias outras consoantes,

    como, por exemplo: /t/, /d/, /b/ etc.

    Antes de ver os tipos de questes sobre o sistema de sons levantados por fonlogos,

    precisamos observar, brevemente, as relaes entre fonologia e outros componentes da

    lngua.

    De modo bastante conceitual, podemos definir lngua como sendo um sistema de

    smbolos arbitrrio e convencionado pelo qual os seres humanos se comunicam em um

    nvel abstrato no h nada concreto ou material que confirme a existncia da nossa

    lngua, pois tudo est na mente dos falantes. Os estudos lingsticos mais tradicionais se

    ocupam de um desses trs componentes: a Semntica, a Sintaxe e a Fonologia. Ocomponente semntico da lngua envolve os significados das palavras e como estas se

    combinam para formar sentidos de grupos de palavras. O componente sinttico diz respeito

    aos grupos de palavras se combinam pala formar sentidos variados. O componente

    fonolgico compreende a representao mental dos sons, ou seja, os fonemas.

    Se voltarmos nossa ateno, agora, para o que foi dito quando tratamos da

    Fontica, verificamos que os itens lexicais que constituem a lngua, podem ser agrupados

    em dois conjuntos: de um lado, os fones, de outro, os fonemas. Isto, em se tratando da

    lngua falada. Se considerarmos a lngua escrita, ao lado deles, temos as letras ou grafemas,

    as formas grficas que representam os sons.

    Assim, em um item lexical como poda, temos quatro fones [p d a], quatrofonemas /p d a/ e quatro letras p o d a. Nem sempre esta correspondncia to

    sistemtica como no exemplo que acabamos de dar.

    A palavra falada constituida de unidades mnimas de sons. Na escrita, essas

    unidades so representadas atravs de letras, porm nem todas as letras representam um

    som diferenciado na lngua, por isso no se deve confundir letra com fonemas. Enquanto

    um elemento grfico, o outro acstico. Uma mesma letra pode representar sons

    diferenciados, a exemplo a letra sque, na escrita, pode ter o som de [s](sela)ou[z]

    (casa).

  • 5/27/2018 Fontica e Fonologia

    12/45

    12

    Para conhecermos os fonemas de uma determinada lngua, precisamos, inicialmente,

    fazer um levantamento dos fones que pertencem a esta lngua. Para isto, precisamos deixar

    claro o que seja fonema e o que seja fone.

    A noo de fonema est diretamente ligada noo de oposio. Nos itens lexicaistia e dia, observamos que eles so distintos pela oposio estabelecida entre os sons

    [t] e [d]. Assim podemos afirmar que /t/ e /d/ so dois fonemas. Por outro lado, se tivermos

    para o item lexical tia as realizaes [t] e [t], no podemos dizer que temos dois

    fonemas, mas dois alofones de um mesmo fonema. Para termos uma oposio entre

    fonemas necessrio que tenhamos alterao de significado.

    Uma possibilidade de determinarmos o sistema fonolgico de uma lngua, ou seja,

    definirmos o nmero de fonemas que ela tem, trabalharmos com o que chamamos de

    par mnimo, ou seja, reunirmos itens lexicais que se diferenciem por apenas um elemento.Se reunirmos os itens lexicais [pala] e [bala], verificamos que eles se distinguem apenas

    pelo [p] e pelo [b]. Logo podemos afirmar que /p/ e /b/ so dois fonemas, pois a alternncia

    de um pelo outro implica, conseqentemente, o significado de cada um dos itens.

    Encontrar um par mnimo sempre a esperana dos fonlogos, mas nem sempre

    isto acontece. Muitas vezes, temos que trabalhar com outras opes, uma delas considerar

    o contraste, no em ambiente idntico, mas em ambiente anlogo, que o que acontece

    em itens como sumir e zunir. Podemos observar que, neste caso, a diferena entre um

    item e outro se d em mais de um segmento, tanto entre [s] e [z],como entre [m] e [n], mas

    isto no impede de consider-los como fonemas.

    Ao definirmos os fonemas de uma lngua, tambm definimos quais so seus alofones.

    Se o par mnimo uma possibilidade de identificao dos fonemas, a distribuiocomplementar uma possibilidade de identificar os alofones de um fonema. Dizemos

    REFLEXO:

    Quando dois itens lexicais se distinguem pela troca de um nico som e essa troca

    representa uma mudana de significado, estamos diante do que chamamos depares

    mnimos. Caso a mudana de sons no acarrete alterao do sentido no teremos

    pares mnimos, mas simplesmente um caso de variao (alofones). Desta forma pode-

    se detectar fonemas ou constatar variao.

    LEITURA

    Para maiores detalhes sobre ambiente idntico e ambiente anlogo, sugerimos a

    leitura:SILVA, Thas Cristfaro. Fontica e Fonologia do Portugus. So Paulo:

    Contexto.

  • 5/27/2018 Fontica e Fonologia

    13/45

    13

    que dois segmentos esto em distribuio complementar, quando um no pode ocupar omesmo lugar do outro.

    Um exemplo bem simples para entendermos a distribuio complementar a

    distribuio dos segmentos [s] e [] no falar paraibano. Se considerarmos os dados:

    a. posteb. frascoc. espoletad. esfola

    Verificamos que o /s/ s se realiza como [] antes de [t]; antes de [k], [p] e [f], elese realiza sempre como [s]. Assim, podemos dizer que [s] e [] esto em distribuiocomplementar, ou seja, o espao ocupado por um no pode ser ocupado pelo outro.

    Neste caso, [s] [] so alofones de um mesmo fonema /s/.A possibilidade de utilizar um fonema para representar dois alofones, como no caso

    acima, d quele fonema um status que foi designado pelos lingistas estruturalistas dearquifonema. Oarquifonema, assim, neutraliza as oposies.

    Dois nveis de Fonologia

    Ao classificarmos os componentes da fonologia das lnguas, podemos ressaltar,pelo menos, dois nveis: um nvel mais baixo, nele, encontramos todos os sons quefalamos e escutamos (a Produo do Discurso); j em um nvel mais alto, est a formulaode seqncias de sons que so baseados no conhecimento do sistema fonolgico que oouvinte e o falante possuem de uma determinada lngua (o Conhecimento Fonolgico). AFigura 5 ilustra esses dois nveis. O primeiro deles pode ser tambm chamado de nvelsubjacente; o segundo, nvel de superfcie.

    O uso dos sons da fala em contexto e comunicao se d de modo to natural que preciso lembrar que esses componentes fonolgicosexistem e que precisamos conhecer

    os elementos fonolgicos de uma lngua para que haja comunicao.

    ATIVIDADE

    A partir da noo de par mnimo, e com base em dados de sua comunidade,elabore o quadro de consoantes da Lngua Portuguesa. Faa o mesmo com asvogais.

    LEITURA

    Acerca dos pontos levantados, sugerimos a leitura:CMARA Jr. Joaquim Mattoso. Estrutura da Lngua Portuguesa. Petrpolis: Vozes.

  • 5/27/2018 Fontica e Fonologia

    14/45

    14

    Figura 5: Dois nveis de Fonologia

    Podemos ainda observar dois traos do conhecimento fonolgico essenciais para a

    formao de uma lngua:

    1- Um grupo de sons consistentes de sentido;

    2- Regras de como esses sons devem ser usados para formar palavras.

    Ao solicitarmos a tarefa, partimos do princpio dasregras simples de formao de palavras da Lngua Portuguesa,

    fazendo o falante (o participante do jogo) agrupar as letras de

    acordo com o que permitido na lngua. Por exemplo, observe

    que no portugus no permitido um grupo de consoantes do

    tipo bf, db, rd etc. dentro de uma slaba. No entanto,

    seqncias do tipo br, fr, fl so facilmente aceitas.

    ENTRADASSEMNTICAS,SINTTICAS EPRAGMTICAS

    COMPONENTE FONOLGICO

    CONHECIMENTO FONOLGICO(DISCURSO OCULTO)

    PRODUO DO DISCURSO(DISCURSO IMPOSTO)

    ANALISE A FRASE:

    Vamos para casa agoraem uma verso de trs pra frenteRagoa Zaca rapa

    mosva. Para a leitura de ambas as frases, voc faz o uso do nvel mais baixo, o da

    produo do discurso. No entanto, para voc reconhecer como uma frase

    fonologicamente aceita na Lngua Portuguesa, apenas a primeira ganha consistncia.

    Em um jogo de formao de palavras, imagine que voc sorteou as seguintes le-

    tras: R, B, A, F, O, L, C, I, D. Quantas palavras podem ser formadas a partir

    dessas letras? liste algumas em seu caderno antes de prosseguir a leitura! lembre-

    se de utilizar apenas as letras acima.

  • 5/27/2018 Fontica e Fonologia

    15/45

    15

    RAZES PARA ESTUDAR FONTICA E FONOLOGIA

    Existem muitas razes para estudarmos Fontica e Fonologia. Conseqentemente,

    pessoas de muitas disciplinas diferentes se tornam envolvidas pelas pesquisas nesta rea.Vejamos algumas delas:

    - Entendemos ser impossvel ensinar uma lngua estrangeira sem o conhecimentodo seu sistema fonolgico e sem o conhecimento de como os seus sons sorealizados. S de posse desse conhecimento que os professores podem alcanarseus objetivos.

    - No ensino da lngua materna, se que isto seja possvel, os professores precisamentender como se d o processo de aquisio dos sons. importante saber, por

    exemplo, que os sons no adquiridos ao mesmo tempo, que existe uma idadepara que determinados processos no aceitveis na norma sejam descartados eassim por diante.

    - Nos tarefas clnicas dos fonoaudilogos, principalmente naquelas que dizemrespeito linguagem, de suma importncia o conhecimento tanto da Fonticacomo da Fonologia. Sem esse conhecimento, terapias podem tornar-se muitomais longas do que o necessrio.

    - O conhecimento dos diferentes falares atrelado ao conhecimento da Fonologiada lngua poder ser utilizado para a compreenso dos processos variveis dalngua. Esse conhecimento pode ser utilizado para amenizar atitudes

    preconceituosas em relao a diferentes formas de dizer a mesma coisa. Exemplosdessa natureza so muito comuns no Brasil. H quem acredite, por exemplo, queexiste uma regio que fale melhor Portugus do que outra. Acredito nisso denotadesconhecimento dos diferentes falares.

    - Muito tem sito usado o conhecimento da Fontica e da Fonologia na identificaode voz, trabalho realizado com freqncia pela polcia tcnica que procuraidentificar envolvimento de pessoas culpadas em aes de infrao.

    ATIVIDADE

    Faa um levantamento de outras aplicaes dos estudos fonticos e fonolgicos.

  • 5/27/2018 Fontica e Fonologia

    16/45

    16

    UNIDADE IVOGAIS

    APRESENTAO

    Este captulo introduz uma viso acerca das vogais da Lngua Portuguesa, considerando

    sua tonicidade na palavra, tendo como objetivos:

    - Classificar as vogais do portugus brasileiro;

    - Apresentar as possibilidades de realizao das vogais na fala, seguindo os estudos

    variacionistas;- Elencar os processos fonolgicos que acompanham na realizao das vogais em

    suas diferentes possibilidades.

    CONCEITOS BSICOS

    - vogal tnica

    - vogal pretnica

    - vogal postnica

    - neutralizao

    - nasalidade fontica

    - nasalidade fonolgica

    - harmonia voclica

    - assimilao

    Aprendemos, desde a infncia, que existem cinco vogais no alfabeto na nossa

    lngua. O estudo das vogais do portugus, no entanto, vai muito alm desses cinco smbolos

    grficos usados para represent-las. A lngua oral apresenta, na verdade, sete fonemas

    voclicos, que se comportam de maneira especfica, dependendo da sua posio em

    relao ao acento tnico.

    De acordo com modelo exposto por Cmara Jr. (2006), a Lngua Portuguesa do

    Brasil apresenta um quadro de vogais que so definidas de acordo com a posio da

    slaba a que pertencem, em relao tonicidade da palavra, e mutveis dependendo do

    processo de neutralizao que sofrem.

    Para caracterizar as vogais da nossa lngua em sua plenitude, podendo identificar

    todas as suas variedades, a tonicidade das slabas da palavra a melhor opo, no sentido

    de que a slaba tnica o contexto ideal para represent-las. Dessa forma, as vogais

    classificam-se como no Quadro 1:

  • 5/27/2018 Fontica e Fonologia

    17/45

    17

    Quadro 1: As vogais da Lngua Portuguesa segundo Cmara Jr.

    Assim, quando temos um contexto de slaba tnica, os segmentos voclicospodem assumir essas sete representaes, sem apresentar variaes de um dialeto para

    o outro.

    Podemos observar, ento, que as vogais tnicas assumem

    um quadro categrico, composto de sete vogais /i, e, , a, u, o, /

    distribudas em todas as posies possveis.

    Saindo da posio tnica, o quadro de vogais sofre uma

    reduo, dependendo do processo de neutralizao de cada

    posio. Vale lembrar que proeminncia da slaba que tem

    representao na vogal, torna-se mais dbil medida que sai da

    posio tnica. E importante salientar que entre as posiespretnica e postnica, a posio postnica mais dbil do que a pretnica.

    As posies pretnica e postnica podem nos dar um outro quadro de vogais.

    Em se tratando desta ltima, temos que considerar ainda a diferenciao entre as finais e

    as no-finais.

    Antes de passarmos para as vogais pretnicas, consideremos ainda o

    comportamento das vogais tnicas em um contexto especfico: o de consoante nasal. A

    presena de uma consoante desse tipo na slaba seguinte vogal tnica elimina as vogais

    mdias de 1 grau, como podemos constatar nos exemplos em (2):

    (2)

    roiretnA lartneC roiretsoP

    atlA i u

    atlAaidM e o

    axiaBaidM

    axiaB a

    sadadnoderra-oN sadadnoderrA

    :/a/ ot]a[m

    :/e/ od]e[m

    :// ort][m

    :/o/ orr]o[m

    :// ot][m

    :/i/ oc]i[m

    :/u/ or]u[m

    /a/ edadin]a[s

    /e/ ahn]e[s

    /o/ on]o[s

    /i/ on]i[s

    /u/ om]u[s

    A slaba tnica a slaba mais proeminente da palavra. As slabas menos proeminentes se denominam

    slabas tonas. Sendo assim, as slabas tonas antes da tnica se denominam pr-tnicas e as depois se

    denominam ps-tnicas.

  • 5/27/2018 Fontica e Fonologia

    18/45

    18

    Na Lngua Portuguesa, na verdade, no temos vogais nasais, o que temos so

    vogais orais seguidas de um arquifonema nasal. Logo, as vogais do Portugus so

    nasalizadas.

    No que concerne nasalizao das vogais, podemos estabelecer, seguindo aorientao de Cmara Jr., a distino entre nasalidade fontica e nasalidade fonolgica.

    A nasalidade fontica aquela que no estabelece distino de significado, como

    a que acontece em palavras como camelo, banana, que podem ser realizadas tanto

    como [kmelU], [bnna] ou como [kamelU], [banna], respectivamente.

    J a nasalidade fonolgica pressupes alterao de significado, a exemplo de

    [ktU] e [katU]. Observe que a no- nasalizao da vogal [a], na segunda palavra, gerou

    um outro item lexical com significado totalmente diferente do anterior.

    Consideremos agora as vogais em posio tona. Segundo Cmara Jr., as sete

    vogais tnicas se reduzem a cinco na posio pretnica (/a/, /o/, /e/, /u/, /i/), a quatro em

    posio postnica no-final (/a/, /e/, /i/, /u/) e a trs na posio tona final (/a/, /i/, /u/).

    Essa classificao foi feita com base no dialeto culto carioca. Sabemos, entretanto, que o

    comportamento das vogais no portugus do Brasil apresenta-se de forma varivel, atestado

    pelas inmeras pesquisas sociolingsticas realizadas no pas.

    Sendo assim, compreendemos que o contexto das vogais tonas bastantecomplexo, no que concerne heterogeneidade existente na lngua. Para tanto, faremos

    algumas consideraes sobre as vogais em posio tona, levando em conta os trabalhos

    j realizados no pas sob a perspectiva variacionista. Comecemos pelas vogais pretnicas.

    As vogais pretnicas

    O sistema voclico do portugus reduzido, na posio pretnica, de sete para

    cinco vogais. Assim, desaparece a oposio entre as mdias de 1 e 2 grau.

    (3)

    Essa supresso interpretada como um fenmeno de neutralizao, que consiste

    numa na reduo de mais de um fonema em uma s unidade fonolgica. Essa classificao

    de Mattoso, em favor das mdias de 2 grau no categrica, tendo em vista que as

    vogais pretnicas da Lngua Portuguesa do Brasil apresentam um comportamento bastan-

    ATIVIDADE

    Faa um levantamento de palavras na lngua de sua comunidade que apresentem

    variao no uso das vogais nasalisadas

    satla /i/ /u/

    saidm /e/ /o/

    axiab /a/

  • 5/27/2018 Fontica e Fonologia

    19/45

    19

    te varivel.

    Como j atestava Antenor Nascentes (1953), aqui estabelecemos nossa linha que

    delimita os dois grupos de falares brasileiros em relao s vogais pretnicas. Em geral,

    afirma-se que, com relao posio pretnica, os dialetos das regies norte-nordestecaracterizam-se pela presena das vogais mdias abertas, mais do que as fechadas, na

    posio pretnica (// e //) e os do sudeste-sul pelas vogais fechadas (/e/ e /o/), como

    mostram os exemplosem (4):

    (4)

    Essa possibilidade, porm, no categrica. H uma possibilidade de variao

    entre as pretnicas e a alternncia se d entre as mdias de segundo grau [e, o] e as altas

    [i, u]. Tal fenmeno chamado de harmonizao voclica e diz respeito ao processo em

    que as vogais pretnicas assimilam o trao de altura da vogal seguinte, tornando-se altas

    como a vogal tnica, como podemos ver em (5):

    (5)

    Havamos dito que onde prevalecem para os falares do sul e do sudeste as vogais

    mdias de segundo grau, para o nordeste, norte e centro-oeste prevalecem as mdias

    de primeiro grau.

    Esta disposio das vogais pretnicas no algo to tranqilo, principalmente

    quando se trata da regio nordeste. Podemos encontrar nessa regio uma variao

    muito grande. O certo, entretanto, que a realizao preferida por seus falantes a

    mdia aberta, ao contrrio do sul e do sudeste que preferem as mdias de segundo

    :etsedroN-etroN :etseduS-luS

    arutr][ba arutr]e[ba

    of][hc of]e[hc

    odav][rtne odav]e[rtne

    atnugr][p atnugr]e[p

    ospal][c ospal]o[c

    o][l][c o]e[l]o[c

    odadl][s odadl]o[s

    oar][ oar]o[

    ~airg]e[la airg]i[la

    ~adib]e[b adib]i[b

    ~odid]e[p odid]i[p

    ~aiug]e[rp aiug]i[rp

    ~atreb]o[csed atreb]u[csed

    ~ajur]o[c ajur]u[c

    ~red]o[p red]u[p

    ~rehl]o[c rehl]u[c

  • 5/27/2018 Fontica e Fonologia

    20/45

    20

    grau.Vale salientar que essas representaes no so realizadas na escrita. As palavras

    seguem a conveno do cdigo determinado na fala. importante, sobretudo, conhecer o

    funcionamento varivel das vogais, uma vez que nossa realidade de ensino exige quetrabalhemos conscientemente ante a nossa lngua, no sentido de reconhecer as diferenase saber lidar com elas.

    Vogais Postnicas

    Quando se trata das vogais postnicas, a primeira considerao a ser feita queelas podem estar no meio da palavra (so as postnicas no-finais) ou no final (so as

    postnicas finais). A sua caracterizao especfica, dependendo do contexto silbico emque ela estiver localizada.

    Diferentes das pretnicas, as vogais postnicas, tanto em posio no-final como

    final, apresentam uma configurao mais homognea de norte a sul. E os estudos sobreessa questo ainda no so muito numerosos.

    Postnicas no-finais

    J que estamos seguindo a classificao de Cmara Jr. (2006, p. 44), traremosabaixo o quadro das vogais postnicas no-finais descrito por ele:

    (6)

    Segundo esse autor, h neutralizao entre as vogais /u/ e /o/, mas no entre /e/ e/i/, como pode ser visto nos exemplos em (7):

    ATIVIDADE E EXEMPLO

    a) A partir do falar de sua comunidade, identifique as vogais presentes na posiopretnica. Considere:- o tipo de consoante que antecede e segue a vogal;- o tipo devogal que ocupa o centro da slaba tnica.b) Procure textos escritos de alunos doEnsino Fundamental e verifique a utilizao das vogais pretnicas mdias.

    satla /i/ /u/

    saidm /e/ //

    axiab /a/

    Vale salientar que vogais postnicas no-finais s aparecem em palavras proparoxtonas

  • 5/27/2018 Fontica e Fonologia

    21/45

    21

    (7)

    Outro fenmeno que pode ser observado no comportamento das vogais postnicas

    no-finais o seu apagamento. Os estudos realizados sobre as postnicas no-finais

    tm confirmado essa tendncia, j na passagem do Latim para o Portugus. Como constata

    Amaral (2002, p. 101), a variao das proparoxtonas um fenmeno difundido em

    todo territrio, no s na fala normal dos menos escolarizados como na fala

    espontnea dos mais escolarizados, em determinadas situaes.

    O apagamento das vogais, nesta posio, acaba sendo previsvel, isto porque a

    ordem dos segmentos no ataque silbico1no pode contrariar o padro da lngua em

    termos do Princpio de Seqenciamento de Soncia (cf. CLEMENTS, p.283-284), como

    nos casos em (8):

    (8)

    Caso no ocorra o apagamento, outras alteraes podem ser encontradas, comonos exemplos em (9):

    (9)

    Observando o caso de relmpago, verificamos que, alm do apagamento da vogal

    postnica, se d tambm a queda da consoante que a segue g, sua manuteno geraria

    um ataque mal formado (com um encontro consonantal inexistente na lngua portuguesa).

    Para evitar isso, o falante apaga a seqncia VC (Vogal Consoante). Se observarmos o

    caso de estmago, podemos verificar que o falante efetua um processo bastante

    interessante: ele apaga a vogal, mas mantm a consoante seguinte. Como a consoante

    ~or]e[mn or]i[mun*

    ~al]o[rep al]u[rep

    ~aracx arcix

    ~erovr ervra

    ~arachc arcahc

    ~arobv arbiv

    ~arepsv arpsev

    alulp aluip

    epicnrp epsnirp

    odabs obas

    ociltac ocitac

    ogapmler opmaler

    ogamtse obmotse

    1

    As noes sobre estrutura silbica sero explicitadas na seo que tratar das consoantes do Portugus.

  • 5/27/2018 Fontica e Fonologia

    22/45

    22

    nasal que ocupa a posio do ataque uma labial, ele altera o trao dorsal da consoante

    seguinte de dorsal para labial, resultando, assim um padro bem formado. Esses so

    alguns dos processos que ocorrem na variao voclica do portugus.

    Vamos agora conhecer o comportamento das postnicas finais.

    Postnicas finais

    O sistema voclico apresentado por Cmara Jr. o mais reduzido. Das sete vogais

    em posio tnica, passamos a trs: /i, a, u/.

    (10)

    Considerando os estudos realizados no sul do Brasil, este quadro no se revela

    categrico, e possvel encontrarmos, convivendo variavelmente, mdias de segundo

    grau e altas. Tal variao atribuda, principalmente, ao tipo de colonizao.

    (11)

    Apesar de no termos estudos conclusivos em outras regies brasileiras, intuitivamente

    podemos afirmar que existe um padro geral para as postnicas no-finais, com manuteno

    das cinco vogais. Isso acontece quando temos a vogal postnica em slaba travada2. Em

    geral, slabas travadas por segmento soante (nasal, lateral, vibrante) tendem a desfavorecer

    a elevao da vogal, como em (12a), e slabas travadas por obstruinte coronal tendem a

    favorecer sua elevao, como em (12b):

    (12)

    Acreditamos que, de norte a sul,os resultados sejam similares.

    Essas explanaes representam uma proposta rumo organizao dos estudos

    realizados no Brasil sobre o uso varivel das vogais em todas as suas posies na palavra.

    satla /i/ /u/

    saxiab

    /a/

    ]e[tiel ]I[tiel

    ]e[tned ]I[tned

    ]o[tag ]U[tag]o[tsop ]U[tsop

    )ar]e[trac~retrac

    )bs]U[nem~sonem

    redl r]e[dl

    2

    Slabas travadas so aquelas que tm a coda (posio final da slaba) preenchida.

  • 5/27/2018 Fontica e Fonologia

    23/45

    23

    A compreenso da variabilidade que aparecem nas vogais apenas uma primeira etapa,

    mas essencial para futuros estudos com vistas Lngua Portuguesa do Brasil e tambm

    como forma de avaliar os processos da lngua em geral.

    Os estudos variacionistas realizados e os que ainda sero implementados tambmtero aplicabilidade no ensino do Portugus, principalmente no nvel fundamental, aquele

    em que muitas questes so silenciadas pela falta do conhecimento terico por parte dos

    professores que poderia respond-las.

  • 5/27/2018 Fontica e Fonologia

    24/45

    24

    UNIDADE II

    DITONGO

    Apresentao

    Este captulo introduz uma viso acerca de Ditongo na Lngua Portuguesa, tendo

    como objetivos:

    - conceituar ditongo;

    - classificar os ditongos da Lngua Portuguesa, com base na Gramtica Normativa

    e na Lingstica;

    - descrever o uso do ditongo na Lngua Portuguesa.

    Conceitos bsicos:

    - ditongo

    - monotongao

    - semivogal

    - glide

    - ditongo crescente

    - ditongo decrescente

    A noo de ditongo apresentada desde as sries iniciais no ensino de Lngua

    Portuguesa. Esse termo comumente utilizado para designar um encontro voclico em

    uma mesma slaba. A Gramtica Tradicional classifica os ditongos em crescente (quando

    h uma semivogal, seguida de uma vogal) e decrescente (quando a vogal precedida da

    semivogal).

    Na Lingstica, os ditongos so tambm caracterizados como uma seqncia de

    segmentos voclicos. Esses segmentos, no entanto, assumem qualidade diferente na

    realizao, sendo uma das vogais da seqncia realizada como semivogal (tambm

    conhecida como glide).

    As semivogais so vogais assilbicas, ou seja, elas ocupam a margem do ncleosilbico, pois no apresentam proeminncia acentual para ser o centro da slaba, como as

    vogais. O portugus apresenta dois segmentos que se caracterizam como semivogal: o [j],

    que muitas vezes representado pelo [y], e o [w].

    (1) le[j]te

    bo[j]

    pa[w]ta

    m[w]

  • 5/27/2018 Fontica e Fonologia

    25/45

    25

    Existe uma discusso em torno dessa questo: os glides devem ser considerados

    segmentos voclicos ou segmentos consonantais? Assumindo aqui a explicao de Cmara

    Jr. em seu livro Estrutura da Lngua Portuguesa, que usa como argumento o

    comportamento do r na palavra, consideramos o glide como um segmento voclico,uma vez que em fronteira silbica, o r realizado como brando depois de vogal (ex.:

    mora) e forte depois de consoante (ex.: honra). Nos casos de r depois de um ditongo,

    este realizado como brando (ex: europeu), o que justifica o status voclico do glide.

    Sendo assim, os ditongos definem-se pela presena de uma vogal mais um glide

    numa seqncia. Vale salientar que esses dois segmentos fazem parte da mesma slaba,

    diferindo, portanto, do que se conhece por hiato, que so duas vogais em seqncia, mas

    que mantm a sua qualidade (ou seja, nenhuma das duas semivogal) e esto em slabas

    distintas (ex.: pais [pajs]* x pas [pajs]**.

    H tambm uma discusso sobre a existncia e classificao dos ditongos na

    Lngua Portuguesa. Muitos lingistas (dentre eles Cmara Jr., Leda Bisol) consideram que

    os verdadeiros ditongos so os decrescentes (formados por vogal + semivogal); eles

    defendem que os ditongos crescentes (semivogal + vogal) no existem na origem das

    palavras e, portanto, podem variar livremente com o hiato (ex.: [swar ~ suar]. H, no

    portugus, somente um tipo de ditongo crescente que no alterna com hiato: aqueles

    formados na seqncia de consoantes oclusivas /k/ ou /g/ mais a semivogal /w/, seguida

    de /a/ ou /o/ (ex.: qual [kwaw].

    Segundo Cmara Jr., os ditongos existentes na lngua portuguesa classificam-se

    assim:

    Ditongos decrescentes

    /ai/: pai;/au/: pau;

    /i/: papis (s diante de /s/);

    /i/: lei;

    /iu/: riu;

    /i/: mi;

    /i/: boi;

    /u/: vou

    /u/: sol

    /ui/: fui

    Ditongo crescente

    /kw; gw (a, , , i, , )/ : ex.: qual [extrado de Cmara Jr (2006, p. 56)]

    Alguns ditongos decrescentes, entretanto, sofrem variao e podem ser realizados

    como uma nica vogal na fala, quando ocorre o processo de monotongao. A

    monotongao diz respeito a um processo de reduo de um ditongo a um monotongo

    (uma vogal que no muda de qualidade na sua realizao). Em outras palavras, ocorre

    * Mesma slaba

    ** Slabas diferentes

  • 5/27/2018 Fontica e Fonologia

    26/45

    26

    monotongao quando um ditongo (vogal + glide) realizado como uma vogal simples,

    ou seja, a semivogal da seqncia apagada.

    Esses ditongos decrescentes, capazes e sofrer reduo so classificados, na

    literatura especfica, como ditongos leves; ao passo que os verdadeiros ditongos notornam-se monotongos.

    Ditongos leves

    Ex.: c[aj]xa ~ c[a]xa

    f[ej]ra ~ f[e]ra

    c[ow]ro ~ c[o]ro

    Verdadeiros ditongos

    Ex.: b[aj]rro ~ *b[a]rro

    m[ej]go ~ *m[e]go

    m[ej]ga ~ *m[e]ga

    Para compreendermos a sistematizao da lngua imprescindvel que levemos em

    considerao o seu real funcionamento. Neste sentido, verificamos que as pesquisas na

    rea da Sociolingstica Variacionista tm dado uma grande contribuio para os estudos

    da Lngua Portuguesa no Brasil, revelando o verdadeiro comportamento da lngua(gem)

    usada efetivamente pelas pessoas em contexto concreto.

    ATIVIDADE

    A partir de dados da lngua falada em sua comunidade, verifique que ditongos podem

    sofrer o processo de monotongao.

  • 5/27/2018 Fontica e Fonologia

    27/45

    27

    UNIDADE IIICONSOANTES

    APRESENTAO

    Este captulo apresenta o sistema consonantal da Lngua Portuguesa, considerando

    a consoante em sua posio na slaba. Tem como objetivos:

    - descrever o sistema consonantal;

    - identificar as consoantes que ocorrem como primeiro segmento de uma slabaCV;

    - identificar as consoantes que ocorrem como segundo segmento de uma slaba CCV;

    - identificar as consoantes que ocorrem na posio de coda do padro silbico CVC.

    CONCEITOS BSICOS

    - consoante

    - padro silbico

    - ataque

    - coda

    - ncleo

    1 Introduo

    As consoantes, como sabemos, so segmentos que tm como caractersticas

    principais serem articuladas sempre com algum tipo de obstruo e ocuparem as margens

    da slaba.

    O nmero de consoantes da Lngua Portuguesa bem maior do que o nmero de

    vogais, conseqentemente, na sua variabilidade, de se esperar que seja mais produtiva.

    Em geral, o quadro de fonemas consonantais da Lngua Portuguesa constitudo

    de 19 fonemas, como ilustra o quadro abaixo:

    Quadro 2: Fonemas consonantais da Lngua Portuguesa do Brasil

    Este quadro, entretanto, nem sempre categrico, como veremos a seguir.

    edodoM

    oalucitrA

    oalucitrAedotnoP

    laibaliB latnedoibaL .vlA/.tneD raloevlA-laP latalaP raleV

    .ruS .noS .ruS .noS .ruS noS .ruS .noS .ruS .noS .ruS .noS

    avisulcO /p/ /b/ /t/ /d/ /k/ /g/

    avitacirF /f/ /v/ /s/ /z/ // // /x/

    lasaN /m/ /n/ //

    laretaL /l/ //

    etnarbiV /r/

  • 5/27/2018 Fontica e Fonologia

    28/45

    28

    Se, para elencarmos o nmero de vogais, observamos a sua posio de acordo

    com a tonicidade da slaba na palavra, para as consoantes, vamos considerar a sua posio

    na slaba, levando em conta, para isso, o padro silbico da lngua. Nossa lngua tem um

    padro silbico relativamente simples, no permitindo mais do que duas consoantes nemna posio inicial (ataque) nem na posio final (coda).

    . Assim, se a consoante ocupa o ataque silbico ou segunda posio de ataque

    complexo, ter-se- um nmero de consoantes, que, por sua vez, ser alterado se a consoante

    ocupa a posio de coda. Neste captulo, sero analisadas as consoantes nas trs posies,

    considerando a variao existente.

    Antes de descrevermos o sistema consonntico da Lngua Portuguesa,

    apresentaremos alguns conceitos relacionados com a slaba, o que facilitar a compreenso

    do que vir em seguida.

    2 Sobre a slaba

    Em Chomsky & Halle (1968), com a proposta denominada de The Sound Patterns

    of English (SPE), foi defendido que uma representao fonolgica seja simplesmente uma

    seqncia de feixe de traos no-ordenados, apresentada com um conjunto de smbolos

    de fronteira que reflitam a composio morfolgica das palavras, e um sistema de colchetes

    rotulados representando a organizao sinttica dessas palavras. Hoje, com o passar dos

    anos e com os estudos que vm sendo desenvolvidos, sabe-se que fazer fonologia sem

    slaba um erro.

    Com o aparecimento da estrutura hierrquica, envolvendo no s a estrutura

    silbica, mas tambm a estrutura prosdica mais alta, e a desconstruo do segmento em

    termos de uma hierarquia das camadas de traos, a proposta do SPE foi substituda poruma viso sobre as representaes que favoreceram uma estrutura mais elaborada.

    Interessante observar que o falante nativo, em geral, sabe algo sobre a estrutura

    silbica das palavras em sua lngua, ou seja, eles podem identificar quantas slabas constituem

    uma determinada palavra e at sabem onde cada uma delas comea e onde termina.

    2.1 Organizao interna da slaba

    Ao identificar o nmero de slabas, o falante est demonstrando seu conhecimento

    acerca da arquitetura envolvida na sua realizao. De um ponto de vista fontico, cada

    slaba tem um pico de sonoridade, isto , um segmento que mais sonoro do que outro.Logo, a sonoridade uma propriedade relativa. Em termos auditivos, o pico de sonoridade

    mais proeminente do que os segmentos vizinhos, e forma o elemento silbico. No caso

    do Portugus, por exemplo, as vogais so inerentemente mais sonoras do que as consoantes

    e s elas constituem o pico silbico. H lnguas, como o Ingls, em que os segmentos com

    sonoridade espontnea, como o /r/ e o /l/ podem ser o pico silbico.

    H propostas diferenciadas sobre a representao fonolgica da slaba. Aqui ser

    adotada a proposta de Selkirk (1982), segundo a qual, a slaba pode ter os seguintes

    constituintes: h uma diviso principal da slaba em ataque3e rima, e a rima, por sua vez,

    se divide em ncleo e coda, conforme o diagrama 1:

  • 5/27/2018 Fontica e Fonologia

    29/45

    29

    Diagrama (1)

    (=slaba)

    Ataque Rima

    Ncleo Coda

    bvio que nem todas as slabas do Portugus preenchem todas as posies. Haquelas do tipo CV, como em c, em que apenas o ataque e o ncleo so preenchidos,a exemplo do que apresenta o diagrama 2:

    Diagrama (2)

    Ataque Rima

    Ncleo Coda

    c a

    H algumas em que apenas o ncleo preenchido, a exemplo de a no diagrama 3:

    Diagrama (3)

    Ataque Rima

    Ncleo Codaa

    e ainda outras em que apenas o ncleo e a coda so preenchidas, como em ar, nodiagrama (4):

    1Para Cmara Jr. (2002, p. 53), o ataque corresponde fase crescente da slaba e a coda corresponde decrescente. O ncleo o pice

    da slaba.

  • 5/27/2018 Fontica e Fonologia

    30/45

    30

    Diagrama (4)

    Ataque Rima

    Ncleo Coda

    a r

    Comum a todas elas o fato de o ncleo ser sempre preenchido por uma vogal,

    como j foi mencionado anteriormente.

    Alm disso, o Portugus apresenta tambm possibilidades de o ataque e a coda

    serem complexos, o que significa serem ramificados, como em pra, em que o ataque

    constitudo pelas consoantes p e r, como na slaba pra no diagrama (5):

    Diagrama (5)

    Ataque Rima

    Ncleo Coda

    p r a

    e tambm tem a coda complexa, como mons da palavra mons.tro, em que n e s

    ocupam tal posio, como mostra o diagrama 6:

    Diagrama (6)

    Ataque Rima

    Ncleo Coda

    m o n s

    Vale chamar a ateno para o fato de o ataque e a coda complexos serem muito

    pouco produtivos no PB, como vermos adiante.

  • 5/27/2018 Fontica e Fonologia

    31/45

    31

    3. Fonottica4do PB

    A estrutura fonottica das palavras pode ser entendida ao se pensar que os segmentos

    esto organizados em unidades silbicas, e que as palavras podem conter vrias ocorrncias

    diferentes ou semelhantes entre si. Algumas lnguas apresentam palavras que mostram

    uma simples repetio de slabas CV, outras apresentam padres diferenciados. Entre

    estas ltimas est a Lngua Portuguesa

    3.1 Padres silbicos

    Em seu estudo sobre a slaba na Lngua Portuguesa, Collischonn (2002)

    apresenta um molde silbico que determina o nmero mximo e o nmero mnimo de

    elementos permitidos, variando de um a cinco segmentos. Os padres silbicos so

    preenchidos por vogais (V) e consoantes (C), como em (1):

    (1)

    Extrado de Collischon (2002, p. 110).

    SUGESTO DE LEITURA

    Como o objetivo deste captulo no discutir propriamente a slaba e seus constituintes,

    analisando-os fonologicamente, para maior aprofundamento, sugerimos que sejam

    lidos os seguintes textos:BISOL, Leda. A slaba e seus constituintes. In: NEVES,

    Maria Helena de Moura. Gramtica do Portugus Falado. Vol. VII. So Paulo: Editora

    da Unicamp, p. 701-742COLLISCHONN, Gisela. A slaba em portugus. In:

    BISOL, Leda (org.).Introduo a estudos de fonologia do portugus brasileiro.

    Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002.

    V

    CV ra

    CCV etnat.sni

    VC c

    CVC ral

    CCVC ort.snom

    VCC irt

    CVCC srt

    CCVCC etrop.snart

    VV al.ua

    VVC iel

    VVCC uarg

    CVVCC ort.sualc

    4

    Por Fonottica devemos entender a forma como os segmentos esto dispostos ou ordenados nos contextos.

  • 5/27/2018 Fontica e Fonologia

    32/45

    32

    REVISO

    O ataque silbico corresponde primeira posio na slaba. H quem o denomine

    de aclive, como Cmara Jr. Este ataque pode ser preenchido por at duas consoantes,

    no mais que isto.

    Para a Lngua Portuguesa, como j afirmamos anteriormente, o que existe de comum

    a todos os padres a presena do elemento V, que constitui o ncleo da slaba. A sua

    esquerda, o ataque silbico, tem-se o preenchimento por at duas consoantes.

    (2)

    3.2 A posio de ataque

    Ao se examinar o ataque, temos que levar em

    considerao que ele pode ser preenchido por um

    elemento (ataque simples) e por dois elementos (ataque

    complexo).

    O ataque simples pode ocorrer tanto em posio

    inicial como em posio medial. Alguns segmentos,

    dependendo da posio, so muito pouco produtivos.

    Como o caso de // e // na posio inicial. Outros

    se circunscrevem, a exemplo do /r/, a realizaes dedialetos especficos. Em (2), tem-se uma descrio das

    possveis ocorrncias.

    ATIVIDADE

    Faa um levantamento de palavras da Lngua Portuguesa que preencha os padres

    silbicos apresentados em (1) , identificando os mais e os menos produtivos.

    5Variante comum nos falares do sul do Brasil, como atesta Monaretto (1992).

    otnemgeS oisoP

    laicini

    oisoP

    laidem

    /p/ ac.ap ap.oc

    /b/ ac.ob ob.ac

    /t/ al.et et.op

    /d/ ac.od ad.ac

    /k/ ap.ac ac.ap

    /g/ at.ag ag.or

    /f/ og.of of.rag

    /v/ ac.av ov.erf

    /s/ oc.as as.roc

    /z/ arb.ez as.ac

    // am.ahc ahc.ram

    // ac.aj at.ej.rog

    /x/ ot.ar or.rac

    /m/ at.am am.am

    /n/ at.an an.am

    // euq.ahn ahn.am

    /l/ at.al al.af

    // am.ahl ahl.af

    /r/ ot.ar or.ac5

    S

    Z

  • 5/27/2018 Fontica e Fonologia

    33/45

    33

    A observao das possibilidades na distribuio do ataque simples em incio de

    palavra sinaliza que alguns segmentos so mais freqentes do que outros. Essa baixa

    produtividade resulta mais de fatores histricos do que da inerente m-formao do incio

    de palavras com esses segmentos. Se o segmento ou segmentos que evoluram para umfonema especfico era raro ou no ocorria em determinada posio no Latim, no de se

    surpreender que o segmento resultante seja tambm raro na mesma posio.

    Se olharmos (2), verificaremos que a posio do ataque preenchida por todas as

    consoantes. Algo que merece ateno, entretanto, que a realizao dessas consoantes

    nem sempre categrica, ou seja, nem sempre se realiza da mesma forma. Vejamos

    alguns casos:

    a) as consoantes oclusivas bilabiais /p,b/ tm realizao categrica, independente

    de qual seja a posio da slaba, se inicial, medial ou final, e tambm da vogal que lhe

    acompanha, como nos exemplos a seguir:

    b) o mesmo no acontece com as oclusivas dentais /t,d/, que tm realizao

    condicionada vogal que lhe segue, como nos exemplos:

    Neste caso, podemos observar que, se as consoantes /t,d/ forem seguidas de /i/,

    independente de qual seja a posio em que ocorram, teremos duas possibilidades de

    realizaes:

    [d]i.to ~ [d]i.to po.[d]i.do ~ po.[d]i.do

    [t]i.ro ~ [tS]i.ro po.l.[t]i.co ~ po.l.[tS]i.co

    o que no acontece com os demais casos.

    ot.ap ab.atot.ab ap.at

    el.ep et.ep.at

    ob.eb ef.eb.at

    o.op as.op.ar

    ol.ob ol.ob.er

    ed.up o.at.up.er

    os.ip ot.ip.er

    ef.ib ed.ib.ac

    ot.at at.ar

    at.ad ad.ad.or

    l.et a c.et.ep a

    al.ed al.ed.or

    ar.ud ad.iz.ud.er

    ot.id od.id.op

    or.it oc.it.l.op

  • 5/27/2018 Fontica e Fonologia

    34/45

    34

    Em se tratando do ataque complexo, a Lngua Portuguesa se configura de formabastante simples. Apenas as consoantes /r/ e /l/ podem ocupar a segunda posio doataque, independente de a slaba ocorrer em posio inicial ou medial, como podemos verem (3):

    (3)

    O fato de termos apenas duas consoantes podendo ocupar tal posio pode seruma das explicaes para a grande produtividade de substituies de uma pela outra,

    principalmente, na fase de aquisio da lngua. No incomum, ouvirmos, por exemplo,praca em vez de placa.

    ATIVIDADES

    - Com base no exposto, verifique, a partir do falar de sua comunidade, o que acontececom as demais consoantes que ocupam a mesma posio na slaba, ou seja, o ataque.H ou no variao no uso?- comum, na escrita, e tambm na fala, a substituiode algumas consoantes nesta posio. Que consoantes esto envolvidas nessasubstituio? Procure sistematizar sua ocorrncia tanto na escrita como na fala.

    /r/ /l/

    otnemgeS oisoP

    laicinIoisoPlaideM

    otnemgeS oisoP

    laicinIoisoPlaideM

    /p/ ot.arp arp.moc /p/ ac..alp alp.ud

    /b/ o.arb arb.ac /b/ oc.olb oc.ilb.p

    /t/ og.art art.mE /t/ milt salt.a

    /d/ ag.ord ord.auq /d/

    /k/ om.orc erc.a /k/ or.alc am.alc.a

    /g/ am.arg erg.it /g/ air.lg alg.is

    /f/ oc.arf erf.an.ip.se /f/ ahc.elf od.alf.um.ac

    ATIVIDADES

    - A partir de um levantamento de palavras que apresentem ataque complexo, verifiquequais so as consoantes possveis na primeira posio, considerando como segundaconsoante tanto a lateral l como a vibrante r.- Faa um levantamento de palavras, a partir da observao do uso em suacomunidade, de palavras em que ocorrem a substituio de um /r/ por um /l/ e vice-versa. Verifique qual delas mais freqente.- Verifique se o mesmo ocorre na escrita de alunos em diferentes nveis de ensino.

  • 5/27/2018 Fontica e Fonologia

    35/45

    35

    PARA REFLETIR

    Por que no to incomum a substituio de uma consoante lquida /l/ por uma vi-brante /r/?

    3.3 A posio de coda

    Se no ataque simples, como vimos, possvel ocorrer qualquer segmento

    consonantal, o mesmo no se pode afirmar sobre a coda simples, quer em posio medial

    quer em posio final. Os padres silbicos VC e CVC s podem ter a coda preenchida

    por uma dessas quatro consoantes /l, r, S, N/ ou por uma semivogal6, como atesta Cmara

    Jr. (2002). Em (4) se ilustram as possveis ocorrncias.

    (4)

    Na Lngua Portuguesa, com exceo de /S/, todos os outros segmentos tm

    sonoridade espontnea, ou seja, so soantes, o que leva a concluir que os obstruintes,

    aqueles que no tm sonoridade espontnea por terem uma contraparte no-vozeada,

    so extremamente raros nesta posio. Vocbulos que so incorporados Lngua

    Portuguesa atravs de emprstimos, quando apresentam uma consoante na coda que noseja uma das mencionadas, acaba, a partir de um processo de ressilabificao,

    desenvolvendo uma vogal, e o segmento que era coda torna-se ataque, como club >

    clube, ou muitas vezes sofrendo processo de apagamento da consoante, a exemplo de

    carnet > carn.

    Em se tratando de coda complexa, as possibilidades no PB so ainda mais limitadas,

    e, em final de vocbulo, elas, praticamente, no existem. Em posio medial, interessante

    observar que a segunda posio ser sempre preenchida pelo segmento s, e, quando

    em posio final pelo x [ks] como se v em (5):

    (5)

    Este tipo de padro silbico, como se v, muito pouco produtivo na Lngua

    Portuguesa.

    /l/ /r/ /S/ /N/

    media l final media l fina l medial fi na l media l fina l

    fa l. ta jor.nal car. ta tu.mor pas.ta mas cam.po nu.vem

    6

    Como o objetivo deste Captulo tratar das consoantes, no discutiremos o preenchimento da coda pela semivogal.

    Posio medial

    pers.pi.caz

    trans.por.te

    mons.tro

    abs.tra.to

    Posio final

    t.rax

    F.lix

  • 5/27/2018 Fontica e Fonologia

    36/45

    36

    Fica evidente, a partir dos exemplos acima, que h uma unidade que o falante

    nativo reconhece como uma slaba. Ele tem a capacidade de julgar se uma seqncia

    arbitrria de segmentos pode ter ou no lugar em uma palavra na lngua. Uma organizao

    silbica bem-formada ser atualizada pelo falante apenas se ela for possvel em umapalavra.

    Na seo a seguir, discutiremos os quatro segmentos que ocupam a coda silbica

    do tipo simples, nas posies medial e final, enfatizando o comportamento varivel de

    cada uma delas em diferentes falares brasileiros.

    3.3.1 A consoante lateral /l/

    A consoante lateral em posio de coda tem como variantes as possibilidades: [w],

    [] e [], como podemos ver em(6):

    (6)

    A variante semivocalizada [w], tanto em posio medial como em posio final, amais recorrente no Brasil. De norte a sul, possvel encontr-la, e sua utilizao independe

    de sexo, idade ou escolaridade.

    Vale observar que se ela for precedida pela vogal u, seu apagamento praticamente

    categrico, devido impossibilidade de se ter um ditongo com vogal e semivogal com o

    mesmo ponto *[uw], j que ambas so posteriores e altas.

    A realizao semivocalizada da consoante lateral tem fortes implicaes na escrita.

    Muito comum encontrar-se a substituio da lateral pela vogal u, principalmente em

    posio final, pois temos na Lngua Portuguesa formas como degrau, vu etc.

    Estudo realizado em grupos do ensino fundamental (HORA & JONES, 2003) mostra

    que, principalmente com palavras novas, h uma forte tendncia substituio.Dois aspectos valem ressaltar: (a) os professores que atuam nas sries iniciais, em

    sua maioria, ignoram o fato de que, se utilizarem o processo derivacional de formao de

    palavras, podero facilitar a vida dos estudantes, como ilustra (7).

    7

    O uso do * (asterisco) indica formas no aceitas na Lngua Portuguesa.

    (7)

    laidemoisoP lanifoisoP

    ]w[ ][ ][ ]w[ ][ ][

    oc.]w[ap oc.][ap oc.][ap* ]w[an.roj ][an.roj ][an.roj

    at.]w[ed at.][ed at.][ed* ]w[ep.ap ][ep.ap ][ep.ap

    ert.]w[ib ert.][ib ert.][ib* ]w[in.a ][in.a ][in.a

    ag]w[of ag.][of ag.][of

    ahc.]w[oc ahc.][oc ahc.][oc ]w[os ][os ][os

    ap.]w[uc* 7 ap.][uc ap.][uc ]w[uz.a* ][uz.a ][uz.a

    jornal

    papel

    anil

    sol

    azul

    jornaleiro

    papelaria

    anilina

    solar

    azulado

    *jornaueiro

    *papeuaria

    *aniuina

    *souar

    *azuuado

  • 5/27/2018 Fontica e Fonologia

    37/45

    37

    (b) palavras com coda l, no PB, so muito mais produtivas do que com coda u.

    A variante alveolar velarizada [ ] est muito associada varivel faixa etria. Estudos

    realizados no Brasil (QUEDNAU, 1993; TASCA, 1999; SPIGA, 2004) mostram que,na regio sul, ela muito recorrente, principalmente nas comunidades do interior do estado.

    Em estudo realizado por Hora (2005), na comunidade pessoense, h indcios de que sua

    principal restrio a faixa etria, tendo a probabilidade de ser encontrada com mais

    fora entre os falantes mais idosos, independente da posio, quer medial quer final.

    O apagamento da lateral em posio de coda tem comportamento curioso,

    dependendo da posio analisada e a vogal que antecede a lateral tem papel fundamental,

    principalmente se for levado em conta resultado obtido em Joo Pessoa, que pode ser,

    acredita-se, generalizado para o Nordeste.

    Em posio medial (cf. 6), se a vogal que antecede a lateral for anterior, o

    apagamento nunca dever ocorrer, uma vez que geraria ou uma palavra inexistente em PB

    ou uma palavra com outro valor semntico. Se a vogal for posterior, h uma espcie de

    gradao em direo elevao, medida que a vogal vai-se elevando o apagamento

    torna-se mais previsvel. Ao chegar ao ltimo grau, que seria uma vogal alta, o apagamento

    praticamente previsvel, devido impossibilidade de se ter um ditongo com formao do

    tipo *[uw].

    Em posio final, o apagamento da lateral pode ter outros condicionamentos. Sua

    realizao est diretamente ligada escolarizao do falante. Em geral, falantes com menos

    anos de escolarizao apagam mais, exceto quando a vogal antecedente u, com

    realizao praticamente categrica entre todos os falantes, conforme dados obtidos em

    Joo Pessoa (HORA, 2005).

    Desta consoante e suas variantes, o que podemos concluir, no estgio atual daspesquisas realizadas no Brasil que a forma semivocalizada a mais forte entre os

    falares, e as demais se circunscrevem ou faixa etria, no caso do [ ], ou escolaridade,

    no caso do [].

    ATIVIDADE

    A partir da observao da fala em sua comunidade, considerando o sexo, a idade e

    a escolaridade dos falantes, verifique como se d a realizao da lateral em posio

    de coda. No se esquea de observar: - a posio na palavra, se medial ou final;- o

    tipo de vogal que antecede a lateral

  • 5/27/2018 Fontica e Fonologia

    38/45

    38

    4.2 Os rticos8

    Os rticos, na Lngua Portuguesa e nas demais lnguas do mundo, tm um

    comportamento extremamente varivel, apresentando uma multiplicidade de variantes,principalmente se em posio medial, como indica (8).

    (8)

    Estudos realizados acerca dos rticos no Brasil, que datam da primeira metade do

    sculo XX, podem ser reunidos em dois grandes grupos: aqueles que no seguem uma

    orientao variacionista, a exemplo de Mendona, 1936; Bueno, 1944; Marroquim, 1945;

    Stavrou, 1947; Cunha, 1968; Cmara Jr., 1970; Leite de Vasconcelos, 1970; Pontes,

    1973; Thomas, 1974; Amaral, 1976; Chaves de Mello, 1976; Silva Neto, 1976 e aque-

    les que a seguem, como Votre 1978; Oliveira, 19839; Callou, Moraes e Leite, 1996;

    Skeete, 1996; Monaretto, 1997.

    Alguns destes trabalhos so relatos de observaes, principalmente os primeiros;

    outros resultam de pesquisa sistemtica, seguindo uma metodologia variacionista, como

    o caso dos estudos realizados por Oliveira (1983); Callou, Moraes e Leite (1996) e

    Monaretto (1997).

    Os problemas que envolvem a variao dos rticos, salientados nesses trabalhos,so mais abundantes do que aqueles voltados para seu apagamento. Alguns deles menci-

    onam o aspecto estigmatizante que algumas variantes carregavam na primeira metade do

    sculo XX, principalmente em estados da regio Nordeste .

    Bueno (1944, p. 22-23) afirma que em vrios meses de observao nos estados da

    Bahia, Alagoas, Pernambuco e na cidade do Rio de Janeiro, muitas pessoas, principal-

    mente com nvel intelectual baixo, realizam o rtico com som aspirado.

    Marroquim (1945, p. 43), descrevendo o Portugus dos estados de Alagoas e

    Pernambuco, afirma que a articulao do rtico interno e inicial se apresenta como uma

    leve vibrao da lnguana parte posterior da boca, com notada aspirao, podendo ser[R] ou [x]. Diferente de Bueno, para Marroquim esta pronncia encontrada entre letra-dos e iletrados e que a tentativa de realizar uma essa vibrao da lngua em posio

    alveolar vista como pedantismo.

    Oliveira (1983, p. 89) afirma que relatos sobre o apagamento do rtico esto mais

    8Todas as variantes da vibrante so denominadas de rticos, incluindo a fricativa velar. Exceto, obviamente, a semivogal.

    9Oliveira (1983) faz uma interessante reviso em seu trabalho, apresentando diversificadas posturas frente ao uso do rtico no

    Portugus Brasileito. Sua consulta de fundamental importncia.

    ]r[ ]R[ ]x[ ][ ]h[ ][ edilg

    oisoP

    laideM

    at.]r[acof.]r[ag

    at.]R[acof.]R[ag

    at.]x[acof.]x[ag

    at.][acof.][ag

    at.]h[acof]h[ag

    at.][ac*of.][ag

    at.]j[acof.]w[ag

    oisoP

    laniF

    ]r[am]r[at.nac

    ]R[am]R[at.nac

    -nac]x[am]x[at.

    ][am][atnac]

    ]h[am]h[at.nac

    ][am][at.nac

  • 5/27/2018 Fontica e Fonologia

    39/45

    39

    relacionados a sua posio de coda em final de palavra. H apenas trs deles que menci-

    onam seu apagamento em posio interna.

    O primeiro deles o de Juc-Filho (1937, p. 112), que afirma haver uma tendncia

    no Portugus do Brasil ao apagamento de consoantes em final de slaba, mesmo quandoocorrem internamente. Os exemplos dados so: ca(r)naval, me(s)mo e ma(r)melada. Para

    ele, a nasal condiciona o apagamento.

    A segunda referncia encontrada em Chaves de Mello (1976, p. 57), para quem

    o pagamento do rtico um processo que pode afetar at os erres que fecham uma slaba

    na posio interna. Um de seus exemplos o nome de famlia Albuque(r)que.

    O terceiro relato fornecido por Marroquim (1945, p.90), onde a possibilidade de

    ocorrer supresa x surpresasugere o apagamento do rtico interno.

    Em se tratando do apagamento do rtico, em linhas gerais, Oliveira (1983, p. 93) afirma:

    a) o apagamento muito mais freqente e saliente em posio de final de palavra do que

    no interior da palavra; b) sua ausncia em final de palavra mais comum em verbos do

    que em no-verbos; c) de acordo com alguns relatos, o apagamento est relacionado a

    falantes de classe mais baixa e considerado um vulgarismo; d) o apagamento um

    processo varivel, sujeito a condicionamento fonolgico.

    Ainda em relao ao apagamento do rtico em posio de coda, Oliveira (1983, p.

    99-100), analisando dados de Belo Horizonte, constata que, dos fatores lingsticos , o

    mais saliente o contexto fonolgico seguinte, que pode ser vogal, consoante ou pausa.

    A consoante, favorecendo o apagamento, e a vogal favorecendo a ocorrncia do tepe

    sempre em final de palavra, j que, no interior do vocbulo, vogal e pausa no so contex-

    tos possveis. Para as consoantes, foram considerados o ponto, o modo e o vozeamento.,

    ressaltando que o ponto mais favorvel o labial, o modo o plosivo e, para o vozeamento,

    consoantes vozeadas so mais favorveis.Callou et al. (1996) analisam ocorrncias do /r/ em cinco capitais brasileiras (Porto

    Alegre, So Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Recife Projeto NURC10) em posio

    posvoclica no interior e no final da palavra. Os resultados globais demonstram que o

    indce de apagamento maior na posio final de palavra do que em posio interna.

    Monaretto (1997), utilizando dados que dizem respeito regio Sul do Brasil, e

    isolando a posio posvoclica, observa que o apagamento em posio final muito mais

    forte do que em posio medial, o que corrobora os resultados encontrados por Callou et

    al. Comparando os dialetos do Sul do Brasil com o do Rio de Janeiro, Monaretto afirma

    que os dialetos do Sul podem distinguir-se por duas variantes: a vibrante simples (tepe) e

    a vibrande mltipla.Os estudos realizados at ento levam a concluir que, na Lngua Portuguesa, s h

    um contraste significativo, aquele que se percebe emcaro x carroou em pares semelhan-

    tes. Tal contraste se d entre vogais e s entre vogais. Em outras posies, temos casos

    de variao condicionada ou uma neutralizao obrigatria em favor de um fone ou outro,

    dependendo da regio.

    10Projeto da Norma Urbana Culta que tem como objetivo descrever, a partir do falar de universitrios das cinco capitais brasileiras

    mencionadas, a norma culta utilizada no Brasil. Este Projeto tem como principal resultado os volumes da Gramtica do Portugus

    Falado, sob a coordenao geral do Prof. Ataliba Teixeira de Castilho.

  • 5/27/2018 Fontica e Fonologia

    40/45

    40

    A partir das inmeras descries realizadas no que concerne aos rticos, as anli-

    ses nem sempre so concordantes, mas, consensualmente, a posio intervoclica onde

    se d o contraste entre o tepe e a fricativa velar.

    E considerando essa variabilidade, notamos que h um comportamento diferencia-do quando se observa a posio que ele vai ocupar.

    Um fato curioso que no Nordeste, por exemplo, em posio medial, o zero [O]

    s se manifesta antes de fricativa, como nos casos em (9)

    (9)

    J em posio final, a variante [] a mais produtiva de todas, como se constata

    nos exemplos em (10):

    (10)

    Ao considerarmos as posies em que ocorrem os rticos, verificamos que, nos

    verbos, o apagamento no final, bastante produtivo, o que no acontece nos nomes,

    principalmente na regio sul do Brasil.

    Em posio final, quando o rtico seguido por uma vogal, em geral, h um pro-

    cesso de ressilabificao, e a ele deixa de ser coda para ser ataque da slaba resultante,

    como em mar abaixo > ma.ra.bai.xo

    ATIVIDADES

    - A partir de dados de sua comunidade, verifique quais os rticos so mais utiliza-

    dos. No deixe de considerar: - a sua posio na palavra; - a categoria gramatical

    da palavra;- Com base no levantamento, estruture um quadro de suas ocorrncias,

    avaliando os mais e os menos recorrentes

    ][am

    ][omut

    )ovitinifni(][atnac

    )ovitinifni(][itrap )ovitinifni(][es

    a][of

    aez][v

    of][ag

    ajev][ec

    ahc][amatej][og

  • 5/27/2018 Fontica e Fonologia

    41/45

    41

    4.3 As fricativas

    Naposio de coda, as fricativas encontradas so aquelas classificadas com o

    trao coronal, semelhantes aos rticos, tm sido objeto de inmeros estudos no Brasil etambm em diferentes regies. As suas variantes mais produtivas so: [s], [S], [z], [Z],

    [h], [O].

    Em (11), so apresentados os contextos em que elas podem ocorrer:

    (11)

    Os trabalhos j realizados sobre o PB permitem que se esboce uma distribuio

    para as variantes da fricativa coronal entre diferentes falares.

    O que se observa, quando se trata da posio medial, que dessas seis variantes,

    as mais produtivas so as duas alveolares [s,z] e as duas palato-alveolares [S,Z]. As

    alveolares ocorrem na maioria dos falares brasileiros. O estudo de Callou, Moraes e Leite

    (1994), utilizando dados do NURC, mostra que no Rio Grande do Sul, So Paulo eSalvador h preferncia por elas, ao contrrio do Rio de Janeiro e Recife. Hora (2000),

    em estudo realizado sobre o falar paraibano, observa que, na Paraba, h preferncia

    tambm pelas formas alveolares. Ele observa, entretanto, que as palato-alveolares tambm

    so possveis, dependendo do contexto fonolgico seguinte. As variantes palato-alveolares

    tero alta probabilidade de ocorrer se o contexto fonolgico seguinte for uma oclusiva

    dental, como ilustra (12):

    (12)

    Quando se trata da posio final de palavra, em geral, a opo sempre pelas

    fricativas coronais desvozeadas [s,S]. Tambm nessa posio, a preferncia por uma ou

    outra mantm a mesma tendncia observada no contexto de posio medial.

    setnairaV laidemoisoP lanifoisoP

    ]s[ ac.]s[ac ]s[ip.l

    ][ ac.][ac ][ip.l

    ]z[ ed.]z[ed ses.em.]z[ed

    ][ ed.][ed ses.em.][ed

    ]h[ ed.]h[ed ses.em.]h[ed

    ][ om.][em ][ip.l

    S S S

    Z Z Z

    O O O

    ac.]s[ac et.][el

    ap.]s[ar at.][ef

    .ar.ef.]s[e ot.][uc

    om.]z[em ed.][ed

    am.]z[er o.id.][ir.uj

    al.av.]z[er rad.rob.][nart

    S

    S

    S

    Z

    Z

    Z

  • 5/27/2018 Fontica e Fonologia

    42/45

    42

    4.4 As nasais

    As nasais, na posio de coda, podem ser representadas pelas letras m e n.

    Fonologicamente, elas so representadas pelo arquifonema nasla /N/.

    Na Lngua Portuguesa, verificamos que a nasal, nesta posio, sempre assimila otraa de ponto da consoante que lhe segue. Vejamos os exemplos em 13:

    (13)

    Em 13a, como a consoante seguinte uma oclusiva bilabial, a nasal bilabial; em

    13b, temos como consoante seguinte, uma alveolar, logo a nasal uma alveolar; em 13, a

    nasal assimila o trao de ponto velar da consoante seguinte e em 13d, o trao labiodental.

    A encontramos a explicao para termos sempre a letra m antes de p e b, fato que

    nem sempre os professores encontram explicao.

    Ainda em relao ao uso da nasal, constatamos que h momentos em que elarealizada e h momentos em que ela apagada. Em geral, seu apagamento no muito

    produtivo, sendo restrito aos itens lexicais com a terminaes em e am, como podemos

    ver em14.

    ATIVIDADES

    - Com base em dados de fala de sua comunidades, verifique o uso das fricativascoronais, considerando sua posio na palavra;

    - A partir da distino entre alveolares e palato-alveolares, investigue se um dos usos

    mais aceito do que outro.

    SUGESTO DE LEITURA

    Mais informaes sobre as fricativas coronais podem ser encontradas em:

    HORA, Dermeval da. Fricativas coronais: anlise variacionista. In: RONCARATI,

    Cludia; ABRAADO, Jussara. Portugus brasileiro: contato lingstico,heterogeneidade e histria. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2003, p. 69-89.

    13a cam..po

    rom.bo

    13b can.to

    ron.da

    13c ron.ca

    pon.ga

    13d cn.fora

    en.vio

    (14) Posio Finaljar.dim

    a.tum

    ba.tom

    on.tem

    ca.ta.ram

    fa.lam

    or.f

  • 5/27/2018 Fontica e Fonologia

    43/45

    43

    Os exemplos mostram que o condicionamento ao acento um dos determinante

    para o apagamento ou no da nasal. Ele se d em palavras com proeminncia acentual na

    penltima slaba e principalmente se a vogal nasalizada anterior e mdia, como em .

    Se o acento tnico estiver presente na ltima slaba, no h tendncia ao apagamento, aexemplo de , etc. Palavras como batom, atum, jardim no

    favorecem o apagamento. Comparando-as s anteriores o que se conclui que, primeiro,

    as motivaes para a manuteno do trao nasal nessas palavras a tonicidade, visto que

    todas elas so oxtonas; segundo, no se tem ditongo nasal, diferente do que acontece

    com as terminadas em -em.

    Tambm deve-se observar que a terminao am restrita aos verbos e que

    podemos encontrar com freqncia o apagamento da consoante, implicando no elevao

    da vogal baixa, a exemplo de: cantaram ~ cantaru.

    A coda na Lngua Portuguesa, preenchida pelas consoantes /l. r, S, N/, como vimos,

    tem uma multiplicidade de variantes, mas possvel de serem identificadas. Os estudos

    realizados at o momento j permitem que se tenha um perfil de cada uma delas de acordo

    com o contexto social em que se inserem e tambm de acordo com sua fonottica.

    Podemos afirmar que a Lngua Portuguesa, como outras lnguas do mundo, tem

    uma forte tendncia ao apagamento da coda e os comentrios aqui apresentados ratificam

    essa tendncia.

    REFLEXO

    Ser que o fato de a consoantes nasal estar localizada na coda ou no ataque tem

    implicaes para a variao na lngua? Busque evidncias que possam justificar sua

    resposta.

    ATIVIDADE

    Com base em dados de sua comunidade, sistematize o uso da consoante nasal. No

    esquea de levar em conta alguns fatores condicionadores, como, por exemplo, otipo de vogal que a antecede.

  • 5/27/2018 Fontica e Fonologia

    44/45

    44

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    AMARAL, Amadeu. O dialeto caipira. 3.ed. So Paulo: Hucitec, 1976.

    ANDRADE, Elton Jones Barbosa.Relatrio final sobre o apagamento do /l/ em posio

    de coda. Joo Pessoa: UFPB, 2004.

    BISOL, Leda. A slabas e seus constituintes. In: NEVES, Maria Helena de Moura (org.).

    Gramtica do Portugus falado. Vol. VII. Campinas: Unicamp, 1999, p. 701-742.

    CALLOU, D. et al. Variao e diferenciao dialetal: a pronncia do /r/ no portugus do

    Brasil. In: KOCH, Ingedore G. Villaa. Gramtica do portugus falado. Campinas:

    Editora da Unicamp/FAPESP, 1996, vol. VI.

    CMARA JR. Joaquim Mattoso.Estrutura da lngua portuguesa. 8.ed. Petrpolis:

    Vozes, 1977.CLEMENTS, G.N. The role of the sonority cycle in core syllabification. In: KINGSTON,

    J; BECKMAN, M (eds.). Papers in Laboratory Phonology I: between the grammar

    and physics of speech, p. 283-333, 1990..

    COLLISCHONN, Gisela. A slaba em portugus. In: BISOL, Leda (org.).Introduo a

    estudos de fonologia do portugus brasileiro. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002.

    COUTINHO, Ismael de Lima. Pontos de gramtica histrica. Rio de Janeiro: Ao Livro

    Tcnico S/A, 1976.

    DEMASI, Maria do Socorro. O l ps-voclico na fala culta do Rio de Janeiro. In:PEREIRA, Cilene da Cunha; PEREIRA, Paulo Roberto Dias.Miscelnea de estudos

    lingsticos, filolgicos e literrios in memoriam Celso Cunha. Rio de Janeiro: Nova

    Fronteira, 1995.

    ESPIGA, J. W.R. A lateral posvoclica na fronteira dos Campos Neutrais: estudo

    sociolingstico da regra telescpica nos dialetos de Chu e Santa Vitria do Palmar.Letras

    de Hoje, Porto Alegre, n. 127, p. 26-49, 2002.

    ______. Alofonia de /l/ no sul do Rio Grande do Sul: aspectos fonticos e fonolgicos. In:

    HORA, Dermeval da ; COLLISCHON, Gisela. Teoria lingstica: fonologia e outrostemas. Joo Pessoa: Editora Universitria, p. 251 290, 2003.

    HORA, Dermeval da.Vocalizao da lateral /l/: correlao entre restries sociais e

    estruturais. A ser publicado na Revista Scripta. PUC-MG.

    HORA, Dermeval da. Fricativas coronais: anlise variacionista. In: RONCARATI, Cludia;

    ABRAADO, Jussara. Portugus brasileiro: contato lingstico, heterogeneidade e histria.

    Rio de Janeiro: 7 Letras, 2003, p. 69-89.

    ______; PEDROSA, Juliene L. R. ProjetoVariao Lingstica no Estado da Paraba.

    Joo Pessoa: Idia, 2001.

  • 5/27/2018 Fontica e Fonologia

    45/45

    45

    MARROQUIM, Mrio.A lngua do Nordeste(Alagoas e Pernambuco). So Paulo:

    Cia. Editora Nacional, 1934.

    MONARETTO, Valria de O.A vibrante: representao e anlise sociolingstica.

    Dissertao (Mestrado em Letras) Instituto de Letras. Porto Alegre: Universidade Federal

    do Rio Grande do Sul, 1992.

    MONARETTO, Valria N. de Oliveira. Um reestudo da vibrante: anlise variacionista

    e fonolgica. Tese de Doutorado. PUC-RS, 1997.

    ______. O apagamento da vibrante posvoclica nas capitais do Sul do Brasil.Letras de

    Hoje, v. 35, n.1, p.275-284, maro de 2000.

    NASCENTES, Antenor.O linguajar carioca. Rio de Janeiro: Simes, 1953.

    NUNES, J. J. Compndio de gramtica histrica portuguesa: fontica e morfologia.

    Lisboa: Livraria Clssica Editora, 1975.

    OLIVEIRA, Marco Antnio de. 1983. Phonological variation and change in Brazilian

    Portuguese: the case of the liquids. Tese de Doutorado. University of Pennsylvania.

    QUEDNAU, Laura.A lateral ps-voclica no portugus gacho: anlise variacionista

    e representao no-linear, 1993. Dissertao (Mestrado em Letras) Universidade

    Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1993.

    SELKIRK, E. Syllables. In: HULST, Harry van der; SMITH, N. (eds.). The structure of

    phonological representations, p. 337-383, 1982.

    SILVA, Thas Cristfaro. Fontica e Fonologia do Portugus. 6.ed. So Paulo: Contexto,

    2006.

    SILVA NETO, Serafim.Histria da lngua portuguesa. Rio de Janeiro: Livros de

    Portugal, 1970.

    SKEETE, Nadir Arruda. O uso varivel da vibrante na cidade de Joo Pessoa.

    Dissertao de Mestrado. Joo Pessoa: UFPB, 1996.

    TASCA, Maria.A lateral em coda silbica no Sul do Brasil, 1999. Tese ( Doutorado

    em Lingstica Aplicada) Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul, Porto

    Alegre, 1999.______. Variao e mudana do segmento lateral na coda silbica. In: BISOL, Leda;

    BRESCANCINI, Cludia. Fonologia e variao: recortes do Portugus Brasileiro. Porto

    Alegre: EDIPUCRS, 2002.

    TASCA, Maria.. Variao e mudana do segmento lateral na coda silbica. In: BISOL,

    Leda; BRESCANCINI, Cludia. Fonologia e variao: recortes do Portugus Brasileiro.

    Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002.