30
Os Sem-abrigo Natália Silva 20071209 Coimbra 2010

Fontes de Informação Sociológica 2 - fe.uc.pt · Adormeço com os olhos cansados De mais uma luta inconstante De mais um dia passado ... Nas minhas palavras que já não se libertam,

  • Upload
    ngonhan

  • View
    213

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

  

Os Sem-abrigo

Natália Silva 20071209

Coimbra 2010

  

Ficha Técnica

Trabalho realizado no âmbito da disciplina de Fontes de Informação

Sociológica.

Título: Sem Abrigo

Realizado por: Natália Silva

Nº de Estudante: 20071209

Curso: Sociologia

Imagem da capa retirada de: http://masapunk.org/wp-

content/uploads/2007/09/pobreza.jpg

Página consultada em: Maio de 2010

Data: Coimbra, Maio de 2010

Logótipo Feuc (Faculdade de Economia Universidade de Coimbra): 

http://www.ces.uc.pt/images/

  

dormeço ao relento

Na agonia, à fome e ao frio

Adormeço no chão da calçada

Com a roupa gasta e rasgada

Tal como um sem abrigo…

Adormeço com os olhos cansados

De mais uma luta inconstante

De mais um dia passado

Sem ninguém do meu lado semelhante

Adormeço na solidão e neste silêncio que me consome por inteiro

Com feridas nós pés

Com as unhas partidas

Os dedos sujos

E crostas nítidas aos olhos dos outros em sangue vivo

A minha dor está espelhada no meu rosto

Nos meus olhos que são esta noite mais vazios

Na minha boca rebentada pelo cieiro que insiste em atacar os mais pobres

Nas minhas palavras que já não se libertam, pois escondem-se no coração, ou

a alma já se esqueceu como as falar a este mundo que não nos dá ouvidos.

As pessoas que nos ignoram passam na rua e já não olham,

Quando o fazem, ignoram, como a mais uma pedra da calçada

Quando param, a pena é um reflexo no seu olhar, e esquecendo que um dia fui

como eles, em que num dia tudo tinha, e na madrugada seguinte tudo desaba

e nada é nosso.

Adormeço ao relento

Enrolada numa manta velha que alguém com pena deixou nesta noite gelada

na calçada

Adormeço com o estômago vazio, tão vazio e tão cheio de nada que o eco

acorda os seres rastejantes que me acompanham e me fazem companhia

Adormeço com a sede de um mundo melhor

Adormeço com os bolsos vazios e o coração aquecido de recordações que

ficaram até aquela noite em que eu era como tu, como os outros…

Adormeci serenamente na esperança de amanhã a madrugada ser a mesma

que outrora foi, uma madrugada como todas as outras, mas que ainda o sonho

“A

  

idealizado era real, em que eu era aquela que deixava um cobertor na calçada,

uma fatia de pão e me sentava ao lado dos sem abrigo a ouvir as histórias, que

eu mesmo hoje tenho a contar”

Autora Joana (2005)

1  

Índice

1. Introdução ............................................................................................ 1

2. Estado das Artes

2.1. Os sem abrigo ............................................................................... 2

2.2. O perfil dos sem abrigo ................................................................ 4

2.3 O que leva os indivíduos à situação de sem abrigo ................... 5

3. Desigualdades de Género no âmbito dos Sem-abrigo .................... 6

4. Rupturas sociais, profissionais e familiares .................................... 7

5. Compreensão da problemática e das trajectórias de vida dos sem-abrigo ....................................................................................................... 8

6. Percursos e apoios institucionais ..................................................... 9

7. Respostas sociais e serviços para esta população ....................... 10

8. Equipas e metodologias de trabalho prosseguidas pelas respostas

sociais .................................................................................................... 11

9. Ficha de Leitura ................................................................................. 12

10. Avaliação da página da internet ..................................................... 15

11. Descrição detalhada da pesquisa .................................................. 17

12. Conclusão ........................................................................................ 19

13. Referências Bibliográficas ............................................................. 21

Anexos

I. Página da internet avaliada

II. Texto de suporte à ficha de leitura

2  

1. Introdução

A abordagem do fenómeno dos sem-abrigo é complexa, dada a

diversidade de perspectivas de análise que têm sido desenvolvidas.

Diversidade, que acaba por se repercutir em entraves à consensualização de

um conceito operacionalizável.

A pobreza e a precariedade de emprego são presença quase constante

nas trajectórias de vida destes indivíduos, implícita ou explicitamente referidas

pelos mesmos, não apenas como condição pessoal, mas também como

legado familiar.

O abandono precoce da escola, o inicio muito cedo no trabalho,

acidentes de trabalho, problemas de saúde levam ao despoletar de um

conjunto de acontecimentos que levam à pobreza e à exclusão social.

Entre estar sem-abrigo e ser sem-abrigo reside todo um percurso

marcado por experiência e ausências, rupturas e fragilidades, perdas

progressivas onde o tempo tem um forte papel no seu agravamento.

Assim, e no âmbito da unidade curricular de Fontes De Informação

Sociológica, seguir-se-á uma abordagem pormenorizada acerca dos aspectos

fundamentais que compõem esta temática.

 

3  

2. Estado das Artes 2.1.Os sem-abrigo

A definição mais usual dos sem-abrigo na conceptualização das

situações é assentada a partir da situação habitacional ou do tipo de local

onde passam a noite.

Trata-se de uma definição que inclui todos aqueles que, por falta de

meios ou qualquer outro motivo, não têm acesso ao mercado de habitação.

Parte-se do pressuposto que ser sem-abrigo abrange um conjunto de

situações que vão desde aqueles que não têm casa, até aqueles que têm

alojamento inadequado ou inseguro.

A intervenção só é possível se for sustentada pelo conhecimento sobre

aqueles que são afectados por esta problemática ou se encontram em risco

de perderem o abrigo que possuem.

Muitas vezes os sem-abrigo podem ser caracterizados em termos de

causas que os levaram à situação de exclusão.

Essas podem ser causas acidentais, económicas ou estruturais. Também

podem ser caracterizados consoante o tempo de duração que se encontram

na rua e o seu grau de vulnerabilidade. Há quatro formas de situações de

sem-abrigo:

• Crónico: associado ao alcoolismo e à toxicodependência;

• Temporário: surge de uma situação inesperada, como um

desemprego súbito ou uma mudança de comunidade;

• Periódico: possuem casa, mas evitam-na devido a pressões como por

exemplo em casos de violência doméstica;

• Total: não tem casa nem relações com a sociedade.

A FEANTSA (Federação Europeia de Serviços para Pessoas Sem Abrigo),

propõe ainda que sem-abrigo é aquela pessoa incapaz de aceder e manter

um alojamento pessoal adequado pelos seus próprios meios, ou incapaz de

4  

manter alojamento com a ajuda dos serviços sociais. (Santa Casa da

Misericórdia do Porto, 2009).

O termo sem-abrigo reúne assim várias situações:

• Aqueles que vivem na rua;

• Aqueles que ocupam, legal ou ilegalmente, casas abandonadas,

barracas, etc.

• Aqueles que se encontram alojados em refúgios ou centros de

acolhimento para sem-abrigo, quer do sector público quer do privado;

• Aqueles que vivem em pensões, camaratas ou outros refúgios

privados;

• Aqueles que vivem com amigos e familiares, com os quais podem ver-

se forçados a coabitar;

• Aqueles que residem em instituições, estabelecimentos de cuidados

infantis, hospitais, prisões e hospitais psiquiátricos, e que não têm

domicílio ao sair destas instituições;

• Aqueles que possuem uma casa que não se pode considerar

adequada ou socialmente aceitável, convertendo-se por isso em

pessoas ou famílias mal alojadas;

• A definição de sem-abrigo abrange uma série de situações que têm em

comum a falta de meios, (pobreza) e dos laços comunitários, (exclusão

social) para ter acesso a um alojamento pessoal adequado.

• Em termos jurídicos, sem-abrigo é a pessoa que não possui o direito

legal a uma casa.

5  

2.2. Perfis dos sem-abrigo

O tempo de permanência é certamente um período em que se vão

acumulando “handicaps”, multiplicando os processos de estigmatização, de

exclusão e gerando fragilidades.

O tempo de permanência em estado de sem-abrigo é fundamental na

reinserção dos indivíduos, já que as vivências estigmatizantes de que são

alvo, e a consequente exteriorização da auto-estima podem constituir

barreiras intransponíveis à inversão da situação.

À medida que o tempo vai passando o indivíduo vai criando uma nova

identidade, a partir da experiência de rua e vai recriando estratégias de

sobrevivência num meio agreste e adverso à mudança.

“Ser sem-abrigo implica mais do que um modo de viver, é um modo de

sobreviver” (Barreto e Bento, cit in Instituto da Segurança Social, 2005).

Tendo em conta a heterogeneidade das situações sociais, as

necessidades podem ser semelhantes mas, ao mesmo tempo, distintas, pois

compararmos um indivíduo na rua há vários anos e uma pessoa na rua há um

ano, veremos que são casos muito diferentes, pois as suas vivências são

também diferentes.

6  

2.3. O que leva os indivíduos à situação de sem-abrigo?

São quatro os principais motivos que conduzem os indivíduos à situação

de sem-abrigo.

Estes são as rupturas familiares e conjugais, os problemas de saúde, o

desemprego e a falta de alojamento:

• Nos problemas familiares destacam-se os conflitos familiares, o

divórcio, o falecimento de familiares entre outros.

• Os problemas de emprego dizem respeito fundamentalmente, ao

despedimento e à ausência de trabalho, enquanto que os problemas

de legalidade prendem-se directamente com a falta de trabalho

impossibilitada pela falta de documentos, pela situação de ilegalidade

em que se encontram no país, por acidentes de trabalho ou ainda

pelas dificuldades linguísticas, problemáticas típicas entre os

imigrantes de leste (problema da emigração).

• Os problemas de saúde são maioritariamente a toxicodependência, o

alcoolismo, a doença física, e por último, a doença mental.

• Os problemas de alojamento consistem na falta de alojamento para

ajudar os indivíduos em risco ou na falta de condições de higiene e

segurança dos abrigos.

 

 

 

 

 

 

 

 

7  

3. Desigualdades de Género no âmbito dos Sem-abrigo

A proporção desigual do género relativamente aos sem-abrigo dificulta

a medição do número de mulheres sem-abrigo.

As mulheres têm maior capacidade para recorrer a redes de apoio

social e familiar, face aos problemas como os do alojamento.

Paralelamente a estas maiores competências interpessoais,

comparativamente aos homens, interliga-se uma maior facilidade de

adaptação e aceitação de trabalhos desqualificantes como os trabalhos

domésticos, o recurso à prostituição como modo de sobrevivência económica.

Estas estratégias e recursos para lutar contra as dificuldades

económicas, constituem-se como um factor de protecção para a situação de

sem-abrigo.

“Muitas mulheres sem-abrigo encontram-se na prostituição, uma

situação para vencer a miséria. Contudo, tem havido uma evolução da

população Sem-Abrigo do sexo feminino, sendo que no espaço de 7 anos,

passou de 13% para 31%”. (AMI, 2010)

Essas diferenças entre homens e mulheres, no que se refere às

problemáticas emergentes condutoras da situação de sem-abrigo, devem-se

também ao facto dos homens se prenderem ao papel social, papel este que

apenas é obtido através do trabalho, uma vez que, o homem é visto como

quem sustenta a família precisando assim de um trabalho para sobrevivência

económica.

Quando o homem se encontra desempregado este é visto socialmente

como inútil. Ao desemprego sucedem-se frequentemente problemas de

natureza familiar constituindo: desemprego, problemas de saúde, problemas

familiares, entre outros. Este encadeamento de factores pode levar os

homens à situação de sem-abrigo.

8  

4. Rupturas sociais, profissionais e familiares

O desemprego, a perda de alojamento e a impossibilidade de obter um

tecto, por falta de rendimentos, adiam progressivamente a procura de um

novo trabalho.

A precariedade do emprego e a falta de alojamento, associado à

idade, dificulta o regresso ao mercado e o retomar de um novo emprego, pois

a maioria dos indivíduos possui uma escolaridade básica e exerceu no

passado profissões ligadas à indústria, ou aos serviços e demonstrou ter um

vínculo laboral precário.

A ideia de que não se procurar trabalho por não se possuir condições

nem físicas, nem mentais para a obtenção e manutenção de um emprego, é

uma realidade que muitos sem-abrigo se confrontam no dia-a-dia, aliado à

não resolução dos empregos de saúde, falta de apoio institucional, a

inacessibilidade aos centros de emprego e a ausência de motivação.

Para além disso, a não satisfação das necessidades mais básicas não

permite aos indivíduos a procura de emprego. Soma-se a este facto, a

inexistência de mecanismos de protecção social eficazes para apoiar estas

situações.

A entrada no mundo da miséria vai empurrando os indivíduos para um

“beco sem saída” na medida em que os vai degradando física e

psicologicamente, de tal forma que o estigma da marginalização fica

estampado no rosto e na aparência física; além disso, o próprio facto de

estarem desprovidos de recursos materiais inviabiliza a sua tentativa de

reintegração no mundo do trabalho.

A fragilidade dos laços familiares é tida como factor explicativo dos

sem-abrigo e a quebra de laços sociais conduz a processos de isolamento

social passando os indivíduos a “contar apenas com outros indivíduos em

situações semelhantes, com quem estabelecem, frequentemente relações

meramente funcionais, longe de se poderem constituir enquanto elementos de

efectivo suporte” (Batista, cit in Instituto da Segurança Social, 2005).

9  

5. Compreensão da problemática e das trajectórias de vida dos sem-abrigo

O ser sem-abrigo não é uma característica atribuível a uma pessoa,

mas um processo complexo que encadeia uma série de factores.

Numa abordagem mais pormenorizada, denota-se a centralidade na

natureza dos problemas que afectam os sem-abrigo, apontando, três tipos de

explicações:

• Ser-se sem-abrigo como opção de vida;

• Ser sem-abrigo pró problemas patológicos;

• Ser sem-abrigo como consequência de acontecimentos negativos.

Numa abordagem mais alargada, tem-se em conta a inadequação de

determinadas estruturas sociais para explicar a natureza da exclusão:

• Mercado de habitação incapaz de responder de forma satisfatória a

todas as situações;

• Mercado de trabalho caracterizado por altos níveis de desemprego e

baixos salários;

• Serviços sociais incapazes de fornecer suportes apropriados no tempo

e no espaço.

10  

6. Percursos e apoios institucionais

A passagem pelas estruturas de saúde, prisões, centros de

acolhimento retrata as trajectórias de vida de muitos sem-abrigo.

Em termos de apoios institucionais, são as IPSS’S/ONG’S e a

Segurança Social que prestam maiores apoios.

Os sem-abrigo recorrem a estas ajudas através das equipas de rua,

profissionais e por intermédio de pessoas na mesma situação de

precariedade, mas existe ainda uma percentagem de pessoas a viverem na

rua sem qualquer tipo de apoio.

A satisfação das necessidades básicas como alimentação e higiene

são asseguradas pelas IPSS’S/ONG’S.

A fragilidade dos apoios institucionais traduz-se também nas

percepções que os indivíduos possuem sob a eficácia desta mesma

intervenção, denotando-se uma perspectiva bastante negativa face à mesma.

Também é de salientar o apoio prestado por algumas instituições

como: a Cáritas Diocesana, a Cruz Vermelha Portuguesa, a AMI, a Santa

Casa da Misericórdia.

11  

7. Respostas sociais e serviços para esta população

O tipo de intervenção desenvolvida junto desta população, parece

traduzir uma abordagem marcadamente assistencialista, incluindo a

distribuição de alimentos, vestuário e acesso a serviços de lavandaria,

higiene, etc.

É possível enumerar outro tipo de apoios mais especializados, que têm

vindo a diversificar-se em consequência da estruturação de novas

intervenções por parte da sociedade civil, tais como, a formação e a inserção

profissional, programas ocupacionais, apoio médico, programas de habitação

assistida.

Contudo, verifica-se uma menor abrangência de respostas sociais que

prestam a este tipo de intervenção.

Atendendo a que os apoios existentes se desenvolvem numa linha de

acção social com vista à satisfação de necessidades básicas, há que fazer

face à lógica de cliente que tantas vezes sobressai na relação com esta

população e que restringe o papel do sem-abrigo ao de mero utente, em lugar

de participante activo em todo o processo.

O recurso ao RSI, como medida para abranger as situações de maior

precariedade social e económica, não se constitui como o recurso adequado

aos sem-abrigo, pelas condicionantes expressas na própria legislação como a

inscrição no centro de emprego da área de residência.

No entanto, o programa de inserção aliado à prestação pecuniária seria

fundamental para a inserção desta população.

Verifica-se, no entanto, na prática, que para os que recebem o RSI,

este se resume a uma prestação pecuniária, ainda que importante.

Como se concluiu, a maioria nunca recebeu e os que recebem

actualmente, constituem uma minoria, por vezes abrangendo situações

anómalas como toxicodependentes ou alcoólicos, que continuam a gastar o

único rendimento que obtêm em drogas ou álcool.

12  

8. Equipas e metodologias de trabalho prosseguidas pelas respostas sociais

No que respeita à composição de equipas técnicas afectas às

respostas sociais e serviços, constata-se a presença maioritária de técnicos

de serviço social.

Promover a inserção profissional destas pessoas implica naturalmente

a consideração quer dos elementos da natureza pessoal, quer de natureza

estrutural que potenciam ou dificultam essa reinserção, devendo ser

inevitavelmente contextualizados pela consideração da pessoa como um

todo, nomeadamente ao nível das suas capacidades e competências, não só

profissionais, mas sobretudo pessoais e sociais.

Torna-se necessário repensar novas políticas sociais, assentes em

modelos de intervenção social, que não tenham somente um carácter

curativo, com vista a reduzir a pobreza e a exclusão, mas sobretudo

preventivo, no sentido de fazer face a um fenómeno social com contornos

cada vez heterogéneos e complexos.

A multidimensionalidade deste fenómeno da exclusão social implica

politicas sociais inclusivas que actuem nas dimensões estruturais

reprodutoras dos principais problemas, que assolam o quotidiano dos sem-

abrigo: a falta de alojamento, o desemprego e a marginalização social.

13  

9. Ficha de Leitura

Título da publicação: a habitação e a reintegração social em Portugal Autor: Carlos Pestana e J.C. Gomes Santos Local onde se encontra: Biblioteca da Faculdade de Economia da Universidade De Coimbra Cota: 332 HAB Data da publicação: 1997 Edição: primeira Local de edição: Lisboa Editora: Vulgata Título do capítulo: Situações de pobreza em Habitat Urbano degradado Número de páginas: 231-272 Palavras-chave: pobreza, habitat urbano degradado, realojamento, caracterização sócio económica, condições de habitabilidade e relações de vizinhança.

Notas sobre os autores: Flávio Paiva foi o autor do capítulo que achei

oportuno analisar, com o título de “Situações de pobreza em Habitat Urbano

degradado”, inserido na obra “A habitação e a reinserção social em Portugal”.

Resumo:

Segundo o sociólogo Flávio Paiva, neste presente artigo, pretende-se

demonstrar a ligação entre o habitat urbano degradado e a pobreza, tendo

como instrumento de observação um inquérito por questionário, realizado a

três bairros de realojamento da câmara municipal de Lisboa.

14  

Estrutura:

Em torno do conceito de pobreza urbana

A professora Manuela Silva (pág: 231), define pobreza como um fenómeno

complexo, uniforme e heterogéneo bastante complicado de definir, tipificar

bem como de medir.

Da apropriação do espaço urbano degradado

Juntamente, com as condições de habitabilidade precárias, há ainda nos

bairros sociais degradados outras situações vulneráveis à pobreza, que

embora não sejam tão visíveis, não deixam de ser factores de

empobrecimento e exclusão social, como por exemplo, a dificuldade destes

residentes em se incluir no mercado de trabalho, os seus baixos rendimentos

familiares, o seu baixo nível de instrução bem como das fracas ópticas de

mobilidade social e residencial.

Memória urbanística dos bairros Quinta Das Laranjeiras, Quinta Do Ourives e Dois De Maio.

O observatório da habitação no concelho de Lisboa, ligado ao centro de

estudos territoriais do ISCTE, apresentou à Câmara Municipal de Lisboa, em

Abril de 1992, um estudo acerca da caracterização sócio-urbanística dos

bairros sociais, baseando-se num inquérito a três bairros de realojamento,

sendo eles: Quinta das Laranjeiras, Quinta do Ourives e Dois De Maio.

Deste modo, a participação neste projecto teve como objectivo fornecer dados

à Câmara, de modo a contribuir para a recuperação dos bairros. De forma a

reduzir custos a nível financeiro, foram aproveitados os dados que tinham já

sido recolhidos pela equipa de inquiridores e enquadrá-los na problemática.

Este habitat urbano gera de certa forma, mecanismos económicos, sociais e

psicológicos de produção de desigualdades e de pobreza que os moradores

não podem derrotar sem a ajuda do Estado ou da Câmara.

15  

Assim, este é um trabalho que se encontra dividido em duas partes: em

primeiro lugar, foi fundamental descrever os dois conceitos principais

inseridos neste estudo; o conceito de pobreza urbana e o do uso e

apropriação do espaço; e numa segunda parte, foram apresentados

resultados do inquérito dos três bairros.

O ambiente urbano analisado, é um habitat degradado, onde residem famílias

provenientes das barracas onde foram realojados para estes três bairros.

Como foi possível apurar, nem sempre a condição de pobreza é assumida

pelos moradores, uma vez que, em muitos casos há famílias com

rendimentos elevados que se afastam da média do nível de rendimentos

declarados em cada um dos três bairros estudados.

Resultados do inquérito

Após uma análise das respostas aos inquéritos, verificou-se que existe nos

bairros sociais estudados uma certa “pobreza envergonhada”, pois uma

grande parte dos moradores nota que a imagem que é transmitida acerca dos

bairros é uma imagem negativa, e segundo eles não corresponde à realidade.

Os maiores problemas que foram detectados nesta investigação foram de

facto: a falta de segurança, o tráfico e consumo de droga e as relações de

vizinhança com as famílias ciganas, sobretudo na Quinta das Laranjeiras e

Dois De Maio.

De um modo geral, pode-se concluir que o modelo de realojamento que tem

sido utilizado pelos promotores públicos provoca uma degradação física e

social dos bairros, em que a sua restituição exige investimentos insuportáveis.

Contudo, para além, de uma recuperação dos espaços residenciais é

necessário impingir o trabalho comunitário com as populações

essencialmente com os jovens.

Neste sentido, a obra de reabilitação urbana e de intervenção social que

sucedeu no bairro da Quinta Das Laranjeiras, é de facto uma interessante

experiência.

16  

10. Avaliação da página da internet:

A página de internet que escolhi para realizar uma avaliação foi:

http://www.ami.org.pt/default.asp?id=p1p5p21p404&l=1.

Optei pela escolha desta página, uma vez que o autor é uma instituição

pública (AMI) muito importante que fornece informação imprescindível

mostrando juntamente as suas competências nas matérias que aborda, em

específico, relativamente a este tema.

Esta é uma entidade não governamental, que mantém o conceito mais

abrangente de sem-abrigo elegido pela FEANTSA (Federação Europeia das

Associações Nacionais que Trabalham com os Sem Abrigo), que se baseia na

divisão da população em quatro grupos que se enquadram nas situações de:

sem-tecto, sem casa, habitação precária e habitação inadequada.

Neste sentido, o texto aqui encontrado foi-me útil na medida em que

encontrei pontos relevantes que me permitiram uma boa compreensão acerca

desta temática.

É ainda de realçar o facto de este ser um site bastante intuitivo, contém

instrumentos de pesquisa e de navegação muito eficazes, não envolvendo

nenhum tipo de publicidade que prejudique a leitura da informação.

Toda a informação que está disponibilizada corresponde ao meu nível

de estudos e possui todo um texto escrito de forma clara e objectiva, cujas

referências que surgem ao longo deste, estão devidamente citadas. Para

além disso, disponibiliza, um motor de pesquisa interno.

É uma página que apresenta várias hiperligações acerca das diversas

secções da AMI, sendo assim uma página rica em informação.

Como tal, penso que esta é uma página cujo conteúdo reúne todos os

requisitos necessários para ter uma classificação bastante positiva.

17  

Em suma, é um site de fácil consulta, útil e repleto de informação

pertinente para a realização deste trabalho contendo todos os requisitos

necessários que tornam válida e fiável toda a informação disponibilizada.

18  

11. Descrição detalhada da pesquisa

Sem abrigo é de facto um tema que me despertou bastante interesse

para realizar o trabalho no âmbito da unidade curricular de Fontes de

Informação Sociológica.

É um problema com o qual infelizmente nos deparamos no nosso dia-

a-dia, e que se encontra relacionada com a pobreza urbana em Portugal,

sendo este um dos tópicos que se encontrava disponível para efectuar a

escolha do tema para a realização da tarefa.

Posto isto, o próximo passo foi então seguir com a pesquisa

bibliográfica do mesmo.

Assim, procurei integrar os diferentes tipos de pesquisa, tais como:

Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, Biblioteca da Faculdade de

Economia Da Universidade de Coimbra, Biblioteca da Faculdade de

Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra e Internet.

Aqui, focalizei-me no motor de busca Google, iniciando a minha

pesquisa com as palavras-chave “AMI”, uma vez que esta é uma entidade

que possui um conceito abrangente acerca desta temática, e a palavra “sem-

abrigo” onde desde logo surgiram cerca de 17.700 resultados.

Depois de verificar o conteúdo de alguns dos resultados que me

pareceram mais importantes, o primeiro resultado foi o que me chamou à

atenção, sendo também o de maior relevância, pois, para mim era o mais rico

em informação, bastante diversificada, o que me facilitou, desta forma a

elaboração do conteúdo deste trabalho.

Após isso, dei continuidade à minha pesquisa, mas pelos catálogos da

Biblioteca da Faculdade de Economia e Biblioteca Geral da Universidade de

Coimbra e na Biblioteca da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação

Deste modo, executei uma pesquisa simples, no campo “assunto” com

a palavra-chave “ sem-abrigo”, aparecendo desde logo alguns livros que me

despertaram interesse.

19  

Porém, e apesar de aparecerem diferentes livros, após a consulta que

efectuei apercebi-me que havia alguma repetição da informação, fazendo com

que me limitasse apenas a alguns, que mencionarei posteriormente nas

referências bibliográficas.

20  

12. Conclusão

Como foi possível constatar, de facto, a problemática dos sem-abrigo

tem sido alvo de um quase total “esquecimento”, salvo quando existem

referências à mesma enquanto um problema urbano que é necessário

enfrentar.

No entanto, ao oposto do que se pensa, “grande parte dos sem‐abrigo

não são ex doentes mentais, nem alcoólicos ou consumidores regulares de

drogas ilegais. São pessoas que acabaram por se encontrar nas ruas devido

a problemas pessoais, muitas vezes mais do que um em simultâneo.”

(Giddens, 2004).

Neste contexto, assiste-se nos últimos anos a um esforço no sentido de

aumentar aos programas de habitação social e de “erradicação de barracas”

que, sendo aplicáveis à população em geral, são também importantes

enquanto políticas no combate ao fenómeno dos sem-abrigo.

As chamadas novas gerações de políticas sociais implementadas em

Portugal, depois de 1996, trouxeram um novo conceito de acção social tendo

por base, a promoção e a atenção aos meios para gerar e apoiar o

desenvolvimento individual de cada cidadão, tornando-os independentes.

Estas medidas de contratualização só beneficiam os sem-abrigo, mas

não existe nenhuma explicação oficial para esta sub-representação.

Todavia, requerer o RSI implica um conjunto de trâmites burocráticos

que só por si marginalizam uma série de pessoas que não tenham

possibilidade de recorrer à ajuda de terceiros para formalizar os seus pedidos.

Actualmente assiste-se à mudança de nível das respostas institucionais

para a população sem-abrigo que denotam uma evolução no sentido de

melhor enfrentar a complexidade de um fenómeno multifacetado e matizado.

Esta constatação advém, nomeadamente, da diversidade de respostas

disponíveis, sendo porém de realçar um enfoque muito particular na

prestação de serviços, que poderíamos referir como de emergência mas é ao

nível do trabalho de reinserção e de prevenção que importa apostar de forma

21  

decisiva, reverter processos de marginalização e de exclusão que fazem

conduzir a situações extremas de sem-abrigo, na concepção mais restrita do

conceito.

O conceito de exclusão social surge assim como alternativa contra o

impasse metodológico e conceptual na medição da pobreza (Paugman, 2003,

pp: 25)

Segundo este autor, as desigualdades económicas já não são

suficientes para explicar os fenómenos de ruptura e de crise identitária que

caracteriza o processo de exclusão social.

A ruptura identitária vai ao encontro do que o autor Castel (Paugman

apud Castel, 2003: 17) designou por desfiliação e Paugman (2003: 17) por

desqualificação social, ou seja, a ruptura dos laços sociais que ligam os

indivíduos à sociedade, ao construir o último patamar da integração social e

na qual os sem-abrigo são categorizados.

De facto ao longo da elaboração deste trabalho académico senti

alguma dificuldade, uma vez embora haja diversos autores interessados no

tema em análise as suas perspectivas acabam por coligir numa mesma

direcção, o que me limitou a escolha dos livros para a realização deste

trabalho.

No entanto, a realização deste foi bastante proveitoso para mim, pois

tive a oportunidade de verificar a dimensão e o impacto desta temática na

sociedade.

22  

23  

13. Referências Bibliográficas:

Na Biblioteca

• Giddens, Anthony (2004), Sociologia. Lisboa: Fundação Calouste

Gulbenkian.

• Gil, Ana (2005), Estudos dos Sem-abrigo/Instituto da Segurança

Social. Lisboa: Instituto da Segurança Social.

• Paugman, Serge (2003), A desqualificação social: ensaio sobre a nova

pobreza. Porto: Porto Editora.

• Pestana Barros, Carlos e Gomes Santos, J. C (1997), “Situações de

pobreza em Habitat Urbano degradado”, in Flávio Paiva (org.), A

Habitação e a Reinserção Social em Portugal. Lisboa: Editora

Vulgata, 231-272.

Na Internet

• AMI (2010), “Por uma acção humanitária global”. Página consultada em

3 de Maio de 2010,

<http://www.ami.org.pt/default.asp?id=p1p5p21p404&l=1>

• Companhia da poesia (2005), “Revolta: Sem abrigo”. Página consultada

em 6 de Maio de 2010,

<http://www.companhiadapoesia.com/modules/news/article.php?storyid=

202>

• Infonature (s.d), “sem abrigo”. Página consultada em 3 de Maio de 2010,

<http://masapunk.org/wpcontent/uploads/2007/09/pobreza.jpg>

• Misericórdia do Porto (2009), “Acção Social casa de rua”. Página

consultada em 3 de Maio de 2010,

<http://www.scmp.pt/PageGen.aspx?WMCM_PaginaId=1581>

24  

• Anexos

Anexo I- Página da Internet avaliada

25  

Anexo II - Texto de suporte à ficha de leitura

Situação de pobreza em Habitat Urbano degradado

Flávio Paiva (Sociólogo)

Resumo

Segundo o sociólogo Flávio Paiva, neste presente artigo, pretende-se

demonstrar a ligação entre o habitat urbano degradado e a pobreza, tendo

como instrumento de observação um inquérito por questionário, realizado a três

bairros de realojamento da câmara municipal de Lisboa.

Palavras-chave: pobreza, habitat urbano degradado, realojamento,

caracterização sócio económica, condições de habitabilidade e relações de

vizinhança.

 

 

 

 

 

 

26