Upload
trinhdan
View
213
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
DEPARTAMENTO DE BIBLIOTECONOMIA CURSO DE BIBLIOTECONOMIA
NORMÉLIA GUEDES DA SILVA
FORMAÇÃO DO LEITOR NA
PERSPECTIVA DE UMA BIBLIOTECA
ESCOLAR IDEAL
ORIENTADORA: Profª Msc. Antônia de Freitas Neta
NATAL-RN
2009
NORMÉLIA GUEDES DA SILVA
FORMAÇÃO DO LEITOR NA PERSPECTIVA DE UMA
BIBLIOTECA ESCOLAR IDEAL
Orientadora: Profª Msc. Antônia de Freitas Neta
NATAL-RN
2009
Monografia apresentada à Disciplina Monografia, ministrada pela Professora Maria do Socorro de Azevedo Borba e Renata Passos Filgueira de Carvalho para fins de avaliação da disciplina e como requisito parcial para conclusão do curso de Biblioteconomia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
S586p Silva, Normélia Guedes da.
Formação do leitor na perspectiva de uma biblioteca escolar ideal/ Normélia Guedes da Silva. – Natal, 2009.
62 f. Orientadora: Antônia de Freitas Neta (Msc)
Monografia (Graduação em Biblioteconomia) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Sociais aplicadas. Departamento de Biblioteconomia.
1.Leitura. 2. Formação do Leitor. 3. Biblioteca. 4. Biblioteca Escolar. 5. Bibliotecário escolar. I. Freitas Neta, Antônia. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título. RN/UF/DEBIB CDU 027.8:028
NORMÉLIA GUEDES DA SILVA
FORMAÇÃO DO LEITOR NA PERSPECTIVA DE UMA
BIBLIOTECA ESCOLAR IDEAL
MONOGRAFIA APROVADA EM ___/___/2009
__________________________________________________________ PROFª. MSC ANTÔNIA DE FREITAS NETA
(ORIENTADORA)
__________________________________________________________ PROFª. FRANCISCA DE ASSIS DE SOUSA
1ª EXAMINADORA
__________________________________________________________ PROFª. MSC MARIA DO SOCORRO DE AZEVEDO BORBA
2ª EXAMINADORA
Dedico este trabalho à minha Mãe, Lucília, professora primária, responsável pela alfabetização de uma geração de jovens em sua terra natal. Uma mulher inteligente que gostava de ler e manter-se informada, primando sempre pela educação escolar dos filhos. Obrigada, querida, por mais uma conquista devido sua semente plantada.
AGRADECIMENTOS
A todas as pessoas que fizeram e fazem parte da minha vida:
Aos meus pais (in memória), que já não estão fisicamente comigo, no
entanto, acredito no seu amor e cuidados espirituais. A eles, o meu orgulho e a
minha benção.
Aos meus irmãos, à minha gratidão sempre pela boa acolhida.
Crescemos, amadurecemos juntos e sempre nos amaremos. In memória, aos
que já se foram.
Aos amigos que tanto somam à minha vida, que nesta minha existência,
tornaram-se necessários e indispensáveis.
Aos professores, que contribuíram para o meu crescimento intelectual e
profissional.
À minha orientadora, Antônia de Freitas Neta, que eu não poderia ter
feito escolha melhor, obrigada pelo estímulo, coragem, força cada vez que
repetia, “tenha calma, porque vai dar tempo”. Muito obrigada pelos
conhecimentos repassados com tanta sapiência e elegância.
Aos colegas, vou sentir saudades das trocas de informações e
brincadeiras nos corredores movimentados e que torço para que não nos
percamos na estrada da vida. Só depende de nós e de um canal de
comunicação.
Aos colegas que estavam mais próximos, Aninha Ferreira, Dayse Alves,
Vagner Lázaro, Larissa Inês (que tanto me auxiliou na informática), meus
sinceros agradecimentos pela força trocada durante esta trajetória,
especialmente no estágio supervisionado, onde nos demos força mutuamente.
Enfim, a todas as pessoas que eu quero bem e desejam a minha
felicidade e o meu sucesso.
Mas, sobretudo, Àquele que me fortalece todos os dias da minha vida,
Deus.
Que o bibliotecário tenha competência técnica; que ele não seja passivo em seu trabalho; que ele assuma uma postura política de fato; que ele capitule cultura ininterruptamente; que ele lute por seus direitos; que ele saiba exercer a autocrítica; que ele não se limite a ser um mero guardião de livro; que ele seja versátil no seu trabalho; que ele seja um leitor crítico; que ele perceba a importância e a força da informação que a biblioteca contém; que ele respeite o leitor, como ser humano que ele é, muito mais carente de saber do que das técnicas.
Maria Helena Barros
RESUMO
Analisa a partir de uma revisão de literatura, as perspectivas de uma biblioteca ideal para desenvolver a formação do leitor no processo da educação formal. Aborda os percalços da leitura sob diversos tipos, aspectos ou níveis, que possibilitem a interação entre leitor e o autor, através das mensagens contidas nos textos. Descreve os critérios para se formar o leitor, identificando os tipos que estão inseridos no conceito de analfabeto, analfabeto funcional e alfabetizados. Aborda a evolução da biblioteca, enfocando a transição da condição de depositária do saber produzido para disseminadora da informação. Ressalta a biblioteca escolar brasileira considerada espaço ainda não contemplado no planejamento pedagógico da escola e o descaso sofrido por professores e alunos em decorrência desta não inclusão. Recomenda os aspectos positivos da atuação do professor, na utilização do ambiente da biblioteca, no desenvolvimento das suas atividades acadêmicas. Pressupõe as perspectivas de uma biblioteca escolar ideal, caracterizando-a tanto na ergonomia informacional, quanto a um layout adequado sob todos os aspectos, condições que possibilitam atrair o usuário quanto à acessibilidade física e informacional. Destaca a necessidade de um profissional bibliotecário sua missão no contexto escolar e seu papel de mediador das informações, ressaltando a sua co-participação no processo de formação do leitor. Corrobora a atuação do professor e o bibliotecário na condição de educadores, apontando a necessidade de um trabalho conjunto no processo de desenvolvimento do hábito de acessar a biblioteca e no desenvolvimento da prática da leitura. Conclui, mostrando que a formação do leitor escolar só será possível em sua plenitude, se houver uma ação conjunta sala de aula, biblioteca e bibliotecário, tríade considerada como recurso indispensável no dinamismo das atividades desenvolvidas como incentivo à leitura.
Palavras-chave: Leitura. Formação do leitor. Biblioteca. Biblioteca Escolar.
Bibliotecário Escolar.
ABSTRACT
Scans from a literature review, the prospects for an ideal library to develop the ideal training of the reader in the process of formal education. Discusses the drawbacks of reading under various aspects, or levels, enabling the interaction between reader and author, through the messages contained in the texts. Describes the criteria to form the reader, identifying the types that are included in the concept of illiterate, functional illiterate and literate. Discusses the evolution of the library, focusing the transition from depository of the knowledge produced to disseminator the information. Emphasizes the Brazilian school library, space still not considered covered in planning the school's pedagogical and neglect suffered by teachers and students as a result of this non-inclusion. Recommends the positive aspects of the teacher, the use of the library environment, the development of their academic activities. Assumes the perspective of an ideal school library, characterizing it both informational ergonomics, and a layout suitable in all respects, conditions that enable the User to attract as physical accessibility and informational. Stresses the need for a professional librarian mission in the school context and its role as mediator of information, emphasizing their co-participation in the training of the reader. Supports the role of the teacher and the librarian provided educators, noting the need to work together in the process of developing the habit of accessing the library and the development of reading practice. In conclusion, showing that the training of school reader can only be in full force, if any joint action the classroom, library and librarian, triad considered indispensable resource in the dynamism of the activities developed as an incentive for reading. Keywords: Reading. School Library. Scholl Librarian. Formation Reader.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 10
2 PERCALÇOS DA LEITURA ......................................................................... 14
3 CRITÉRIOS PARA UM BOM LEITOR .......................................................... 19
4 POR QUE BIBLIOTECA? ............................................................................. 25
5 BIBLIOTECAS ESCOLARES BRASILEIRAS ............................................. 29
5.1 ATUAÇÃO DO PROFESSOR FRENTE À BIBLIOTECA ........................... 34
6 PERSPECTIVA DE UMA BIBLIOTECA ESCOLAR IDEAL ......................... 37
6.1 MISSÃO DO BIBLIOTECÁRIO ESCOLAR ................................................ 43
7 BIBLIOTECÁRIO E PROFESSOR: FÓRMULA DE SUCESSO DA
BIBLIOTECA ESCOLAR ................................................................................. 47
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 51
REFERÊNCIAS ............................................................................................... 56
NORMÉLIA GUEDES DA SILVA FORMAÇÃO DO LEITOR NA PERSPECTIVA DE UMA BIBLIOTECA ESCOLAR IDEAL
10
1 INTRODUÇÃO
Por se constituírem num espaço de conservação do patrimônio
intelectual, as bibliotecas são lugares de encontro dos usuários e, estes, com
suas histórias, valores e tradições, compreendem que a informação e o
conhecimento são instrumentos básicos para novas possibilidades e melhores
perspectivas de suas vidas.
A biblioteca como pólo dinamizador da informação e responsável pela
difusão do saber acumulado pela humanidade, poderá ser uma incentivadora
na busca do conhecimento, representando um elemento indispensável na
formação de leitores.
O tema desta pesquisa tem como foco a Biblioteca Escolar como palco
de incentivo à leitura, como colaboradora na formação do leitor escolar. Na
tentativa de compreender tal situação, surgiram indagações no percurso da
academia tais como: Qual a participação das Bibliotecas Escolares no
processo ensino aprendizagem? Qual a importância da leitura para o aluno
ainda em fase escolar? Quais as informações que mais lhe interessa? Qual a
participação do professor na utilização da biblioteca no processo de
desenvolvimento do hábito da leitura? Qual a situação das Bibliotecas
Escolares Brasileiras quanto à promoção da leitura? Como o professor pode
atuar em conjunto com o bibliotecário? Qual o paradigma para uma Biblioteca
Escolar Ideal? Tais indagações serviram de subsídios para determinar os
objetivos da pesquisa desenvolvida.
Pensar num tema que possibilitasse o desenvolvimento de uma
pesquisa na área da Biblioteconomia, partiu de dois princípios: o primeiro do
anseio de repassar a experiência vivida no processo adquirido pelo gosto da
leitura, a partir da fase escolar; o segundo, mostrar a teoria assimilada no
decorrer do aprendizado acadêmico e sua aplicabilidade, tendo como
instrumento a Biblioteca Escolar como campo instigante para o
NORMÉLIA GUEDES DA SILVA FORMAÇÃO DO LEITOR NA PERSPECTIVA DE UMA BIBLIOTECA ESCOLAR IDEAL
11
desenvolvimento de dinâmicas que despertem as potencialidades cognitivas do
aluno, suscitando no mesmo, a vontade de ler.
Dessa forma, buscou-se através do objetivo geral identificar quais os
procedimentos reais da Biblioteca Escolar Brasileira no processo de incentivo à
leitura e como objetivos específicos demonstrar a importância da leitura na
formação do individuo; verificar o uso da biblioteca escolar pelo professor;
identificar as causas pelo seu descaso; averiguar a atuação do bibliotecário
escolar e identificar quais as alternativas reais para um trabalho cooperativo
entre professor e bibliotecário.
A metodologia para a execução do trabalho deu-se através de pesquisa
documental, com revisão de literatura em fontes impressas e eletrônicas,
voltadas para o universo da Biblioteca Escolar, elegendo o leitor escolar como
sujeito da pesquisa, tendo como temática o desenvolvimento de leitura no
contexto da escola.
Dentro deste contexto, deverá ser enfatizada a importância da leitura
para a formação do leitor, quando este poderá fazer uso da biblioteca para a
troca de informações, através de dinâmicas, e atividades lúdicas direcionadas à
leitura. Antes, pois, torna-se necessário conhecer a situação real das
bibliotecas escolares, presumindo a biblioteca escolar ideal, com a participação
efetiva do bibliotecário no processo, enfatizando, portanto, a relação integrada
entre sala de aula e biblioteca.
A biblioteca escolar ideal seria um espaço com uma dinâmica
envolvendo uma tríade formada pela sala de aula, bibliotecário e biblioteca.
Entretanto para que ocorra tal ação, a mesma deve estar articulada à própria
escola e fazer parte do projeto didático-pedagógico institucional, tornando-se
um espaço aberto, onde o público escolar fará uso da mesma no
desenvolvimento de pesquisas escolares ou leituras individuais através de
fontes formais e informais, organizadas a priori por bibliotecários.
Diante do que foi pesquisado e para um entendimento melhor do
propósito a ser atingido que é o desenvolvimento do gosto pela leitura na
NORMÉLIA GUEDES DA SILVA FORMAÇÃO DO LEITOR NA PERSPECTIVA DE UMA BIBLIOTECA ESCOLAR IDEAL
12
escola, fazendo uso da biblioteca como um recurso fundamental do processo,
este trabalho abordará e destacará os aspectos teóricos que direcionam á sua
prática da seguinte forma:
No segundo capítulo, será avaliada a Importância da leitura, a qual
implica um processo abrangente, podendo ser vista sob diversos tipos,
aspectos ou níveis, retratando uma atividade de comunicação que se
transforma num ato social, permitindo, assim, a interação entre leitor e autor.
No terceiro capítulo, será enfocada a formação do leitor, considerando
aquele que é alfabetizado e que sabe fazer uso da leitura, alcançando a exata
compreensão da mensagem, decodificando e assimilando o que lhe foi
revelado pelo texto e passando a dar significação ao seu contexto, através do
envolvimento com o autor, numa relação de compreensão plena que o fará
refletir, criticar e participar da realidade que o cerca.
No quarto capítulo, enfoca as transformações ocorridas com a Biblioteca
que, diante da evolução da sociedade com necessidades informacionais
diversificadas, teve seu conceito refinado, fazendo com que a mesma deixasse
de ser mera depositária, organizadora e guardiã do saber intelectual, para se
tornar disseminadora da informação e onde o registro do conhecimento
acumulado passou a ser armazenado em suportes concretos, que facilitam a
preservação e recuperação das informações.
O quinto capítulo diz respeito às Bibliotecas Escolares Brasileiras, ainda
consideradas espaços pouco valorizados quanto a sua importância pedagógica
e que apesar dos incentivos recebidos pelas políticas públicas, com ações
voltadas para a promoção da leitura, através de repasses de materiais
didáticos, paradidáticos e equipamentos eletrônicos modernos, ainda não é
utilizada para o desenvolvimento de atividades ou dinâmicas com relação à
leitura, não promovendo no aluno nenhuma motivação quanto à sua existência,
não participando, pois, do processo de formação do leitor escolar.
Ainda no quinto capítulo, é demonstrada a não utilização da biblioteca
como um recurso a mais no contexto escolar, enfatizando o descaso que os
NORMÉLIA GUEDES DA SILVA FORMAÇÃO DO LEITOR NA PERSPECTIVA DE UMA BIBLIOTECA ESCOLAR IDEAL
13
professores sentem em relação ao ambiente, não valorizando-o como um
espaço da produção do conhecimento, não orientando pedagogicamente os
alunos para a realização de pesquisas e nem desenvolvendo atividades de
integração com o bibliotecário.
No sexto capítulo, pressupõe as perspectivas de uma biblioteca escolar
ideal, onde o espaço da biblioteca deverá ser coletivo para o compartilhamento
de informações, favorecendo ao aluno um ambiente adequado para fazer suas
leituras e pesquisas, contribuindo, assim, para que o mesmo adquira novos
conhecimentos.
Destaca ainda neste capítulo, o papel do bibliotecário escolar ressaltado
a necessidade de sua co-participação no processo de formação do leitor
escolar, agregando ao seu perfil técnico o papel de um educador, atuando em
parceria com os professores de uma forma que desperte nos alunos o gosto
pelo hábito da leitura e pela biblioteca.
O processo de integração sugerido dar-se-á a partir da
interdisciplinaridade curricular que deverá fazer parte do projeto pedagógico da
escola, tornando-se mediadores da leitura, implicando na tríade formada pela
sala de aula, bibliotecário, e pela biblioteca, sendo esta caracterizada como um
espaço para dinamizar as práticas extracurriculares que possibilitem o incentivo
á prática da leitura.
NORMÉLIA GUEDES DA SILVA FORMAÇÃO DO LEITOR NA PERSPECTIVA DE UMA BIBLIOTECA ESCOLAR IDEAL
14
2 NOS PERCALÇOS DA LEITURA
Num mundo globalizado, estabelecer uma disciplina permanente do ato
de ler possibilita que o processo de aprendizagem aconteça eficientemente,
favorecendo uma assimilação de conteúdos, ajudando o individuo a conhecer a
sua realidade pessoal em convívio com as relações sociais.
Partindo deste pensamento, entende-se que o processo da leitura
possibilita ao homem expressar seus pensamentos, seus anseios, suas idéias,
até as angustias de compreender o que os outros dizem e escrevem. Sobre o
assunto, Borges1 (2009) ratifica, quando diz que “no contato de um leitor com
um texto estão envolvidas questões culturais, políticas, históricas e sociais
presentes nas várias formas de tradição”.
Nesse sentido, segundo Bamberger et al (1995) afirma que para se ter
prazer pela leitura é preciso saber ler sendo fundamental estabelecer uma
disciplina pelo ato de ler, criar um elo com o texto, compreender o seu sentido,
para depois interpretar segundo o seu conhecimento da palavra e de mundo.
Ratificando as colocações anteriores, Borges2 (2009) argumenta que
“sabendo-se que a leitura é um dos mais importantes meios de se chegar ao
conhecimento, torna-se necessário aprender a ler, entretanto interessa mais ler
com profundidade do que em quantidade, visto que ler é dar sentido às
palavras”. Como coadjuvante do referido processo, existem conhecimentos
formais e informais que, se adquiridos ao longo da vida, permitem uma maior
assimilação da leitura facilitando a compreensão da mensagem do texto.
Sendo assim, é através do conhecimento adquirido que o homem se
comunica com o outro, utilizando inúmeras formas de linguagens no processo
de comunicação seja ela: verbal, oral ou escrita, que se tornam objeto de
estudo da lingüística que de acordo com Orlandi (2005, p.9) é considerada
1 Documento eletrônico não paginado. 2 Documento eletrônico não paginado.
NORMÉLIA GUEDES DA SILVA FORMAÇÃO DO LEITOR NA PERSPECTIVA DE UMA BIBLIOTECA ESCOLAR IDEAL
15
“entre as Ciências Humanas, como o estudo científico que visa descrever ou
explicar a linguagem verbal humana.”
Sendo, pois, a Lingüística a única ciência que estuda os signos da
linguagem verbal, Houaiss (2001, p. 1764) a define como;
Ciência que tem por objeto: (1) a linguagem humana em seus aspectos fonético, morfológico, sintático, semântico, social e psicológico; (2) as línguas consideradas como estrutura; (3) origem, desenvolvimento e evolução das línguas; (4) as divisões das línguas em grupos, por tipo de estrutura ou em famílias, consoante o critério seja tipológico ou genético.
Dessa forma, a linguística, então, perpassa por todos os ângulos das
relações humanas e sociais, onde através dos diversos tipos, aspectos e níveis
de leitura, segundo Orlandi (2005, p.10-11), “o homem se comunica, representa
seus pensamentos, exerce seu poder, elabora sua cultura e sua identidade,
etc.”
Enfatizando o processo de aprendizagem que vem desde o nascimento,
iniciando-se no contexto familiar e evoluindo ao longo da vida em todas as
áreas que fazem parte do contexto humano e social, Nastri (1986, p. 17) define
a leitura como:
Um ato de compreensão e conhecimento, onde há uma relação entre o leitor (sujeito) e o texto (objeto), através do qual o leitor, tendo um repertório experiencial sobre o assunto, toma consciência do significado do texto, transformando-o, reescrevendo-o.
Do ponto de vista de alguns autores, a leitura é considerada uma
atividade complexa, ratificado por Borba (1999, p.16), quando afirma que a
leitura “envolve problemas não só fonéticos, semânticos e culturais, mas
ideológicos e filosóficos”. Diante desta postura teórica entende-se que a leitura
se apresenta para o leitor numa realidade polissêmica, onde ele, como sujeito,
capta cada significado apresentado e de posse dos seus conhecimentos,
poderá atuar e transformar a sua realidade.
NORMÉLIA GUEDES DA SILVA FORMAÇÃO DO LEITOR NA PERSPECTIVA DE UMA BIBLIOTECA ESCOLAR IDEAL
16
Almeida3 (2009) no seu conceito afirma que:
O que é então o ato de ler senão tomar posse do texto, do livro. Livro que nos fala por meio das palavras. Palavras que vão tomando forma e cor, aos olhos atentos do leitor. Palavras que podem descobrir as vozes dos enredos, as cenas que desfilam através das entrelinhas do texto.
Entende-se, então, que a leitura pode ser interpretada, a partir da
compreensão da palavra e da experiência individual de cada um e, como ela
não se restringe apenas ao conhecimento da língua verbal, pode ser decifrada
a partir do sentido que ela dá aos sinais que também podem ser representados
segundo Martins, 1994, p.(34) por “um quadro, uma paisagem, a sons,
imagens, coisas, idéias, situações reais ou imaginárias”. Vai depender do olhar
de cada leitor.
Assim, o significado de leitura é apresentado pelos teóricos estudados,
sobre vários ângulos, pelos quais observaram e definiram que o leitor é quem
poderá dar resposta, dependendo da sua evolução ou dos avanços na relação
estabelecida com a mesma, tornando-se livre para fazer as próprias escolhas.
Através disso, pode-se determinar que cada leitura tem um tipo de leitor. É o
momento existencial do individuo que irá determinar que tipo de leitura o
mesmo deseja, visto que cada um captará a mensagem do texto de acordo
com sua percepção sensorial.
Diante do que foi apresentado, a leitura poderá ser vista como uma
atividade de comunicação, podendo se transformar num ato social, permitindo
a interação entre leitor e autor. Nesse caso, seguindo a linha de raciocínio, os
textos devem interagir com os conhecimentos do leitor e fazê-lo exercitar não
só pelo ato de ler de forma necessária, mas também de forma prazerosa.
A partir do entendimento do processo de comunicação estabelecido
pelos elementos emissor e receptor, independente do tipo ou nível em que se
encontra a leitura, o leitor através dos conhecimentos adquiridos e de acordo
com suas necessidades informacionais, certamente saberá diferenciar entre
3 Documento eletrônico não paginado.
NORMÉLIA GUEDES DA SILVA FORMAÇÃO DO LEITOR NA PERSPECTIVA DE UMA BIBLIOTECA ESCOLAR IDEAL
17
uma leitura informativa, de cunho científico, e uma leitura de entretenimento,
mais voltada para a cultura em geral.
Reforçando o ponto de vista que a leitura ultrapassa os limites do texto
Martins (1994, p. 65), enfatiza dizendo que:
A construção da capacidade de produzir e compreender as mais diversas linguagens está diretamente ligada a condições propícias para ler, para dar sentido ou atribuir significado a expressões formais e simbólicas, representacionais ou não, quer sejam configuradas pela palavra, quer pelo gesto, pelo som, pela imagem. E essa capacidade relaciona-se em princípio com a aptidão para ler a própria realidade individual e social.
Conclui-se que cada leitor tem sua compreensão e interpretação pessoal
diante dos vários aspectos da leitura, partindo dos seus conhecimentos
informais e formais e de sua capacidade experiencial.
Na prática da leitura, Sacchi Junior, (1986, p.6-7) aponta, não
necessariamente nesta ordem, as possíveis intenções do leitor ao fazer uso da
leitura, definindo os tipos de leitura utilizados pelo leitor em quatro momentos:
a) Leitura Fruição: atividade empreendida por prazer, sem outra intenção a não esta do próprio gosto pela leitura. Mas, mesmo tendo buscado tal objetivo na leitura, o leitor, muitas vezes, entrará em contato com novas informações contidas no texto. b) Leitura Pretexto: a leitura efetivada com a intenção de produzir um outro texto, ou seja, o texto lido pode originar um artigo abrangendo uma nova abordagem do assunto, uma dramatização, aprendizagem da estruturação do próprio texto, dentre outros. Leitura Estudo: o leitor deve especificar a tese defendida no texto, buscar ‘os argumentos apresentados em favor da tese defendida’, ‘os contra-argumentos levantados a teses contrárias’, e a ‘coerência entre teses e argumentos’. d) Leitura Busca da Informação: recorre-se ao texto em busca de respostas a questões propostas ao sujeito ou para verificação do conteúdo de um documento.
Esse conceito corrobora com o ponto de vista de Bamberger (1995)
quando sugere que a leitura deve ser desenvolvida de acordo com o grau de
entendimento do leitor, como também da necessidade específica em que ele
está vivenciando.
NORMÉLIA GUEDES DA SILVA FORMAÇÃO DO LEITOR NA PERSPECTIVA DE UMA BIBLIOTECA ESCOLAR IDEAL
18
Não mais para definir como tipos, mas níveis de leitura, Martins (1994, p.
80 -81) visualizar o processo do ato de ler a partir da configuração de três
níveis básicos de leitura: sensorial, emocional e racional e os define da
seguinte forma:
Leitura sensorial tem um tempo de duração e abrange um espaço mais limitado, em face do meio utilizado para realizá-la – os sentidos. Seu alcance é mais circunscrito pelo aqui e agora (grifo do autor); tende ao imediato. A leitura emocional é mais mediatizada pelas experiências prévias, pela vivência anterior do leitor, tem um caráter retrospectivo implícito; se inclina pois à volta ao passado. Já a leitura racional tende a ser prospectiva, à medida que a reflexão determina um passo à frente no raciocínio, isto é, transforma o conhecimento prévio em um novo conhecimento ou em novas questões.
A prevalência de um nível ou de outro depende das circunstâncias de
vida de cada leitor no ato de ler, da situação específica em que ele está
vivendo, como também das respostas que o texto possa oferecer aos seus
questionamentos, na intenção de fazê-lo interferir na sua realidade, pessoal,
política, profissional, social e tantas outras.
Miranda4 (2006) consegue abranger todas as áreas do conhecimento e
no seu ponto de vista sobre a leitura, quando diz:
A leitura já não é mais vista como uma prática limitada aos textos literários, compreende outras formas de relacionamento com o mundo do conhecimento registrado pelos autores de qualquer atividade — poesia, romance, artes visuais, teatro, etc e pelas obras técnicas e científicas. Não apenas em livros mas em qualquer suporte e mídia. Leitura de mundo.
Quanto mais o leitor faz uso do ato da leitura, aumentado o seu leque de
conhecimentos, mais facilidade em tem de interpretar o seu significado,
ampliando, por conseguinte, a sua visão de mundo. Dessa forma, a formação
do leitor será reforçada no próximo capítulo.
4 Documento eletrônico não paginado.
NORMÉLIA GUEDES DA SILVA FORMAÇÃO DO LEITOR NA PERSPECTIVA DE UMA BIBLIOTECA ESCOLAR IDEAL
19
3 CRITÉRIOS PARA UM BOM LEITOR
A partir da fase em que a criança começa a juntar as letras e a formar
palavras, o uso da linguística passa a ser o instrumento apropriado para
expressar os pensamentos, as idéias, os argumentos, enfim, a partir da união
de palavras, da construção dos sentidos.
Se a leitura for exercitada cotidianamente pela família, como ressalta
Bamberger (1995, p. 72), ao dizer que “a função dos pais como modelos é
decisiva, isto é, se eles mesmos gostarem de ler, induzirão facilmente os filhos
a ler regularmente. O esclarecimento e as informações prestadas pelos pais
são uma pré-condição do ensino eficaz da leitura”. A prática da leitura familiar
reforçada pela educação escolar, certamente na fase adulta, haverá um leitor
formado e adquirido o prazer pelo ato de ler.
Dessa forma, para melhor compreender a formação do leitor, desde sua
trajetória familiar, Bamberger (1995, p.12) reforça mais ainda quando afirma
que “os valores que se podem adquirir através dos livros e da leitura só serão
acessíveis [...] a quem tiver dominado as habilidades técnicas e possuir
capacidade intelectual para ler”. Dentro dessa concepção, caso o indivíduo
prossiga na prática cotidiana da leitura, poderá aprender como exercitá-la de
forma adequada, sabendo utilizar os aspectos necessários à compreensão da
leitura possibilitando que as informações sejam assimiladas eficientemente.
Ratificando a sugestão de uma forma correta do aprender a ler, Borges5
(2009) é enfático quando diz que:
Saber ler é o ponto de partida para dominar toda a riqueza que um texto, literário ou não, pode transmitir, conseqüentemente, bom leitor é aquele que faz uma análise do texto lido, aprofundando-se na compreensão dos detalhes a fim de poder construir o seu próprio entendimento daquilo que leu.
5 Documento eletrônico não paginado.
NORMÉLIA GUEDES DA SILVA FORMAÇÃO DO LEITOR NA PERSPECTIVA DE UMA BIBLIOTECA ESCOLAR IDEAL
20
O leitor de posse de um repertório de conhecimentos e vivenciando cada
vez mais uma completa interação com o autor, na visão de Carvalho (2002, p.
22), “seguirá vida a fora buscando ampliar suas experiências existenciais
através da leitura.”
A maioria dos teóricos afirma que a formação do leitor, iniciada a partir
da fase infantil, tem um maior poder de assimilação das informações
repassadas pelos textos. Assim, se for introduzido desde cedo no cotidiano da
criança o uso do livro, os pais participando do processo da leitura , quando
jovem, deverá ter adquirido gosto pelo ato de ler e, quando adulto, ao fazer uso
dela, será mais seletivo e criterioso quanto ao seu conteúdo.
Campello (2005, p. 7) diz que se deve “desenvolver nas crianças, de
forma gradual, desde o início de sua escolarização, habilidades para localizar,
relacionar e interpretar a informação”. Sendo assim, se a criança for educada
para a leitura, quando adulto, tornar-se-á capaz de desenvolver seus próprios
métodos no ato da mesma, partindo de suas reais necessidades e escolhas.
Borba (1999, p.21), diverge um pouco desta corrente teórica quanto à
questão da iniciação da leitura quando afirma que:
Apesar da leitura se revestir de toda essa importância em seu estágio inicial, o seu processo de aprendizado requer um grande empenho intelectual, principalmente para aqueles que dão os primeiros passos para a leitura em idade tardia. Isto posto, devemos considerar sempre que a formação do leitor pressupõe uma motivação constante do mesmo, objetivando manter sempre despertado o interesse da leitura.
Conforme os conceitos apresentados, fica bem evidenciado a
importância que a formação do leitor ocorra no ambiente da família e da escola
e que as motivações devem acontecer continuamente, contribuindo sempre
para o desenvolvimento intelectual e cultural do cidadão, independentemente
da idade em que se deu sua iniciação na leitura.
Para Medeiros (1999, p. 53), o essencial é que “o exercício pleno da
leitura contribui para a formação de indivíduos capazes de realizar uma análise
NORMÉLIA GUEDES DA SILVA FORMAÇÃO DO LEITOR NA PERSPECTIVA DE UMA BIBLIOTECA ESCOLAR IDEAL
21
crítica do seu cotidiano, levando-os a uma participação social coerente com a
consciência dos seus direitos e deveres.”
Contudo, existem alguns teóricos que defendem que a formação do
leitor passa por aspectos cognitivos considerados também importantes. Para
Nastri (1986, p.19), o processo de aprendizagem da leitura está envolvido em
três aspectos básicos:
O aspecto político diz respeito às finalidades, dos porquês da leitura, revelando-a como um ato de libertação, de questionamento, de crítica. O aspecto psicológico se refere à relação homem-texto, ou seja, um ato de consciência do leitor agindo sobre, interagindo. E aspecto metodológico, que se refere aos métodos, às técnicas de se trabalhar com o texto.
Para se formar leitor competente, é necessário que os referidos
aspectos estejam vinculados ao seu cotidiano e que, na prática do ato da
leitura, tornem um conhecedor de todo o processo para a compreensão do
texto, assimilando-o conforme o entendimento que se quer dar àquele
conteúdo na situação e no contexto em que ele se encontra.
Já Rigolo (1986, p.25) afirma para o leitor que sabe fazer a leitura
corretamente que:
A compreensão e absorção do texto se dá nos mais diversos níveis de diálogo, conforme o posicionamento de cada leitor. [...] Sentir o que o autor está ‘dizendo’, como se estivéssemos conversando com ele, é um processo tão interessante como se o fizéssemos com a realidade.
Para que o leitor consiga vencer as dificuldades na captura da
mensagem do texto, quando não consegue interagir com a mensagem do
autor, é necessário que ele busque o seu aprimoramento intelectual estudando
continuamente os aspectos importantes e necessários à compreensão da
leitura.
NORMÉLIA GUEDES DA SILVA FORMAÇÃO DO LEITOR NA PERSPECTIVA DE UMA BIBLIOTECA ESCOLAR IDEAL
22
De acordo com Freire6 (2001), criador de um processo de alfabetização
diferenciado, partindo da prática, do cotidiano para teorização, preocupado com
a alfabetização do adulto, ratifica o conceito da relação do leitor-texto e ressalta
que:
É preciso deixar claro [...] que há uma relação necessária entre o nível do conteúdo do livro e o nível da atual formação do leitor. Estes níveis envolvem a experiência intelectual do autor e do leitor. A compreensão do que se lê tem que ver com essa relação. Quando a distância entre aqueles níveis é demasiado grande, quanto um não tem nada que ver com o outro, todo esforço em busca da compreensão é inútil. [ grifo do autor].
Partindo desse conceito, não somente o leitor tem que se preparar para
adquirir habilidades quanto a melhor forma de ler o texto, mas o autor também
precisa se identificar com o perfil do leitor que quer atingir, oferecendo-lhe uma
leitura condizente com seu grau de conhecimento intelectual e de mundo.
Respeitando, pois, as habilidades e formação do leitor, o autor deve ter a
sensibilidade de atingir seus anseios, através de uma linguagem acessível,
preocupando-se com a construção de um texto claro e com idéias logicamente
encadeadas. Diante dessa cumplicidade entre autor e leitor, este saberá
interpretar a mensagem contida no texto e que poderá satisfazer suas
necessidades, levando-o a sentir, ou não, prazer pela leitura e tornando-o,
conseqüentemente, capaz de estabelecer uma escolha.
Sobre essa identificação, Baroni7 (2009) realça este ponto de vista
quando diz que “bons autores conseguem manter um vínculo com os leitores
na medida em que preenchem as linhas e entrelinhas de suas histórias com
vários significados e conceitos que dão asas à imaginação e ajudam a
compreender a realidade.”
Diante do processo de leitura, encontra-se o leitor com a sua
interpretação pessoal, levando-se em consideração que o grau de
entendimento, sobre o texto em questão, depende dos conhecimentos da
6 Documento eletrônico não paginado. Carta de Paulo Freire aos professores. 7 Documento eletrônico não paginado.
NORMÉLIA GUEDES DA SILVA FORMAÇÃO DO LEITOR NA PERSPECTIVA DE UMA BIBLIOTECA ESCOLAR IDEAL
23
palavra e de outros formadores de sua bagagem informacional, especialmente
o conhecimento de mundo.
Ainda sobre o ato de ler, Martins (1994, p. 32-33) corrobora ainda mais
quando diz: que “a leitura vai [...] além do texto (seja ele qual for) e começa
antes do contato com ele. O leitor assume um papel atuante, deixa de ser mero
decodificador ou receptor passivo”. Vista por esse ângulo, entende-se que o
individuo que estabelece uma prática de leitura em sua vida deixa de ser um
analfabeto funcional.
Os teóricos voltados para o processo de leitura defendem que quem lê
ou escreve, através de uma prática mecânica, sem nenhuma reflexão sobre a
mensagem contida no texto, é conceituado como um analfabeto funcional, por
não saber fazer uso correto da escrita, das mensagens que a mesma contem.
A partir dessa visão, entende-se que não basta o indivíduo ser
alfabetizado na concepção clássica do termo, fazendo uso da leitura apenas
pela necessidade e de forma mecanizada. Barros (1986, p. 32-33) ratifica a
informação afirmando que “o ato de ler pode significar a mera decodificação da
palavra escrita, de forma mecânica, apenas reprodutora de significados; mas
também pode significar uma relação compreensiva-crítica com o texto,
geradora de novos significados.”
Sendo assim, considera-se analfabeto funcional o individuo que apesar
de saber ler e escrever, não questiona nem reflete sobre estes dois atos,
permanecendo estigmatizado como uma pessoa iletrada.
Entretanto, na visão Houiass (2001, p. 201), o conceito analfabeto
antecede ao conceito de analfabeto funcional ao afirmar:
1 Que ou aquele que desconhece o alfabeto; que ou aquele que não sabe ler, nem escrever 2 que ou aquele que não tem instrução primária 3 p. ext. que ou o que é muito ignorante, bronco, de raciocínio difícil 4 p. ext B que ou aquele que desconhece ou conhece muito mal determinado assunto ou matéria.
NORMÉLIA GUEDES DA SILVA FORMAÇÃO DO LEITOR NA PERSPECTIVA DE UMA BIBLIOTECA ESCOLAR IDEAL
24
Ainda na acepção de Houaiss (2001, p. 201), o analfabeto funcional é
aquela “pessoa alfabetizada apenas para entender, na área a qual trabalha a
sua função, sendo completamente despreparado para entender textos ou
problemas de outras áreas do saber, o que configura uma espécie de
tecnicização do conhecimento.”
O analfabeto funcional, aquele leitor que não tem uma visão crítica do
que lê ou escreve, é enfatizado também por Perini (1988, p.780) quando diz
que, “se bem que sejam capazes de assinar o nome e de decifrar o letreiro do
ônibus que tomam diariamente, não conseguiriam ler com compreensão
adequada uma página completa, ainda que se tratasse de assunto dentro da
sua competência.”
Detentor do conhecimento da palavra (sabendo fazer uso da leitura e da
escrita) e com uma bagagem de leitura de mundo, o leitor saberá atribuir
significados aos textos, e, a partir de reflexões sobre suas mensagens, poderá
permitir uma transformação em sua realidade sob todos os aspectos, podendo
ser mais um agente transformador no contexto em que está inserido.
Sobre a questão, Martins (1994, p. 17), corrobora com a afirmação
acima dizendo:
Quando começamos a organizar os conhecimentos adquiridos, a partir das situações que a realidade impõe e da nossa atuação nela; quando começamos a estabelecer relações entre as experiências e a tentar resolver os problemas que se nos apresentam – aí então estamos procedendo a leituras, as quais nos habilitam basicamente a ler tudo e qualquer coisa. [...]. Dá-nos a impressão de o mundo estar ao nosso alcance; não só podemos compreendê-lo, conviver com ele, mas até modificá-lo à medida que incorporamos experiências de leituras.
Considera-se então um leitor formado, aquele que é alfabetizado, e sabe
fazer uso do ato da leitura, alcançando a exata compreensão da mensagem,
decodificando e assimilando o que lhe foi revelado pelo texto e passando a dar
significação ao seu contexto. Àquele que se torna um leitor autônomo, que
sabe escolher a leitura adequada e que usa a informação que mais lhe convém
para ampliar os seus conhecimentos.
NORMÉLIA GUEDES DA SILVA FORMAÇÃO DO LEITOR NA PERSPECTIVA DE UMA BIBLIOTECA ESCOLAR IDEAL
25
Então, como coadjuvante no processo de formação do leitor, alem da
família e da escola, temos a biblioteca, elemento importante e indispensável
nessa formação, visto que é nesse espaço, principalmente a Biblioteca Escolar,
que o cidadão reforça todo um conceito de leitura, que o fará adentrar no
mundo do conhecimento. A biblioteca deve fazer parte de programas voltados
para o desenvolvimento de leitura de diferentes tipos de informações,
permitindo aos indivíduos a formação de uma consciência crítica quanto à
realidade que o rodeia, tanto no âmbito da política, da economia, das ações
sociais, bem como dos avanços científicos nos diversos campos do
conhecimento.
Para uma melhor compreensão deste processo de interação, será
enfocada no próximo capítulo, a trajetória da Biblioteca desde sua gênese até a
atualidade.
4 POR QUE BIBLIOTECA ?
Desde o início das bibliotecas, onde os registros eram feitos em placas
de argila, pergaminhos, papiros e outros suportes, o conhecimento vem sendo
resguardado no decorrer da história, com critérios de organização quanto a sua
classificação, no intuito de atender aos interesses da comunidade assistida.
A partir do momento em que o homem começou a produzir e registrar o
conhecimento, surgiu a necessidade de armazená-lo, uma vez que atrelada a
necessidade do registro surgiu a de recuperar, armazenar, preservar e
disseminar o saber acumulado.
Dessa forma, enquanto existiam pessoas preocupadas em produzir
textos e também aprimorar os suportes para registro das informações, outras
estavam também preocupadas em organizar tais suportes para facilitar sua
busca e aumentar sua durabilidade, conservando-os em lugares denominados
bibliotecas.
NORMÉLIA GUEDES DA SILVA FORMAÇÃO DO LEITOR NA PERSPECTIVA DE UMA BIBLIOTECA ESCOLAR IDEAL
26
A palavra biblioteca, de acordo com definição dada por Lemos (1988 p.
346), “tem origem na forma latinizada do vocabulário grego biblioteca (de
biblion, livro, e theke, estojo, compartimento, escaninho onde se guardavam os
rolos de papiro ou pergaminho por extensão a estante e, finalmente, o lugar
das estantes com livros).”
Sobre esse momento, considerado de extrema importância Milanesi
(1993, p. 16), afirma que:
Era preciso reter a informação sobre algum suporte concreto, conseqüentemente, tornou-se imprescindível a preservação desses suportes – os documentos – bem como a organização deles quanto mais documentos produzidos, maior a exigência de controle.
Ainda sobre a questão, Pontes (1998), afirma que a Biblioteca surgiu
diante da necessidade de se reter e preservar as informações, evitando-se
assim sua dispersão.
Tendo, pois, sua origem num passado distante e tendo que se adaptar
as mudanças políticas, sociais e tecnológicas no decorrer da história, Lemos
(1988, p. 347) configura a definição da biblioteca da seguinte forma:
Para se ter uma biblioteca, no sentido de instituição social, é preciso que haja cinco pré-requisitos: a intencionalidade política e social, o acervo e os meios para sua permanente renovação, o imperativo de organização e sistematização, uma comunidade de usuários, efetivos ou potenciais, com necessidades de informação conhecidas ou pressupostas, e, por último mas não menos importante, o local, o espaço físico onde se dará o encontro entre os usuários e os serviços da biblioteca.
Diante da evolução da sociedade com necessidades informacionais
diversificadas, o conceito de biblioteca foi refinado, fazendo com que as
mesmas deixassem de ser meras depositárias, organizadoras e guardiã do
saber intelectual, para se tornarem disseminadoras da informação. A partir
desse momento, o homem não apenas armazena, preserva e organiza o saber
produzido, mas, também, inicia um processo de propagação, disseminando
assim a informação produzida a quem deseja.
NORMÉLIA GUEDES DA SILVA FORMAÇÃO DO LEITOR NA PERSPECTIVA DE UMA BIBLIOTECA ESCOLAR IDEAL
27
Dessa forma, a biblioteca surge no momento em que o registro do
conhecimento acumulado passa a ser armazenado em suportes concretos, que
facilitariam a preservação e recuperação das informações. Sobre a questão da
preservação, dos documentos produzidos, Milanesi (1993, p.15) afirma que:
A ciência é cumulativa e a biblioteca tem a função de preservar a memória – como se ela fosse o cérebro da humanidade – organizando a informação para que todo ser humano possa usufruí-la isso vai da biblioteca que se constrói para aqueles que se alfabetizam, até a biblioteca especializada para o homem da ciência.
O desenvolvimento gráfico em decorrência da popularização do papel e
a invenção da Imprensa, proporcionaram um aumento da produção do registro
do conhecimento, fato que gerou um caos informacional diante do aumento da
quantidade de informações produzidas e registradas, dificultando o processo
de armazenamento e sua organização.
Entretanto, o referido caos foi minimizado com o aparecimento de
técnicas bibliotecárias, aplicáveis aos processos de classificação e
catalogação, onde a tecnologia facilitou consideravelmente o trabalho do
bibliotecário, como também o acesso à informação.
Posteriormente, a informática proporcionou transformações nas rotinas
dos serviços meios da biblioteca, evento que melhorou a capacidade de
armazenamento e de acesso a informação, que passou a ser processada e
disponibilizada em tempo hábil para atender as necessidades informacionais
do indivíduo.
Enfatizando o surgimento e o crescimento das bibliotecas, Campos e
Bezerra (1989, p. 80-81) elucidam que até data recente:
Eram poucas as instituições escolares – compreendendo-se aqui o ensino público e privado – equipadas com boas bibliotecas. [...]. Na Europa, embora tais bibliotecas existam desde finais do século XIX, foi no século XX, e principalmente na década de 50, que tiveram crescimento significativo. Foi também na década de 50 que se criou no Brasil a maioria das bibliotecas hoje existentes.
NORMÉLIA GUEDES DA SILVA FORMAÇÃO DO LEITOR NA PERSPECTIVA DE UMA BIBLIOTECA ESCOLAR IDEAL
28
Enfim, antes restritas a pequenos grupos, as bibliotecas evoluíram,
proliferaram e a difusão do conhecimento ficou mais democrática e acessível
ao público.
Diante do foco desta pesquisa representado pela importância das
bibliotecas escolares, como espaço de atuação ao incentivo à leitura, no
próximo capítulo será apresentada uma revisão de literatura, quando será vista
sua evolução histórica, importância e situação atual, das mesmas, no Brasil.
NORMÉLIA GUEDES DA SILVA FORMAÇÃO DO LEITOR NA PERSPECTIVA DE UMA BIBLIOTECA ESCOLAR IDEAL
29
5 BIBLIOTECAS ESCOLARES BRASILEIRAS
Diante do que foi pesquisado, pode-se dizer que a formação de leitores
no Brasil vem desde o seu descobrimento, quando chegaram os jesuítas e
segundo Milanesi (1995, p.26) “trouxeram os livros para evangelizar e
colonizar. Os jesuítas, principalmente eles, formavam bibliotecas em seus
conventos para ensinar e aprender, utilizando os livros, sobretudo para a
propagação da fé.”
Com o surgimento e a evolução das bibliotecas, principalmente as
públicas, no decorrer dos séculos, a partir destas surgem as bibliotecas
escolares, mais especificamente, de acordo com Milanesi (1995, p.54).
A partir de 1971 as bibliotecas públicas foram, praticamente, transformadas em bibliotecas escolares. É nessa data que as pesquisas passaram a se constituir numa obrigação escolar. [...]. Foram, pois, as obrigações escolares que tornaram a biblioteca algo mais concreto: havia uma necessidade clara que justificava a sua existência.
Ao analisar a situação das bibliotecas escolares brasileiras, no contexto
atual, sobre diversos aspectos, de acordo com o referencial teórico, é
considerado um espaço pouco valorizado quanto a sua importância pedagógica
para o contexto escolar, não havendo uma integração entre a biblioteca e a
sala de aula, na promoção da leitura.
Diante do contexto de descaso em relação a sua importância no
contexto escolar, Silva (1998, p. 27) critica a situação dizendo, “se
determinados cuidados não forem tomados, os professores, os estudantes, o
acervo de livros e os equipamentos da biblioteca continuarão isoladamente,
‘repousando em berço esplêndido e eternizando o desgosto pela leitura.”
De acordo com os estudos desenvolvidos, grande parte das bibliotecas
escolares ainda não se encontra integrada à proposta pedagógica da escola
em que se encontra inserida, não participando de forma concreta, do processo
de formação do leitor.
NORMÉLIA GUEDES DA SILVA FORMAÇÃO DO LEITOR NA PERSPECTIVA DE UMA BIBLIOTECA ESCOLAR IDEAL
30
Apesar de uma maior participação da biblioteca escolar na promoção da
leitura, grande parte delas ainda se encontra numa situação de não valorização
tanto por parte dos que a gerenciam, quanto dos que a utilizam. Sobre essa
delicada situação, Amato; (1998, p. 17) diz que aqui “se impõe a interação
biblioteca-escola [...] uma vez que as pesquisas a ser realizadas fazem parte
dos conteúdos programáticos das diversas disciplinas”.
Silva (2005) é ainda mais enfático quando critica o distanciamento da
biblioteca escolar no planejamento pedagógico, quando neste não está inserida
biblioteca para o exercício das atividades voltadas para o desenvolvimento da
leitura. Quanto ao papel que cabe à escola nesse sentido, ele diz:
Ao invés de levar os alunos a um conhecimento mais profundo da realidade e a um posicionamento crítico frente a essa realidade, a leitura escolarizada tem servido a propósitos de memorização de normas gramaticais, reprodução de dogmatismos, celebrações cívicas, aumento de vocabulário, motivação para produção escrita, etc. (SILVA, 2005, p.104).
Diante da observação do autor, percebe-se o distanciamento entre sala
de aula e biblioteca no contexto escolar; a primeira mantendo atividades
isoladas, não estimulando o aluno a buscar a biblioteca para fazer suas
pesquisas ou até mesmo somente para ler; enquanto a segunda, mantém-se
numa situação passiva, numa rotina tecnicista, sem orientação para o aluno
encontrar a informação desejada, até porque esta, na falta do profissional
certamente não estar organizada de acordo com o perfil do usuário.
Geralmente, quem assume a biblioteca escolar é um profissional de
outra área, especialmente um professor, que não possui uma formação técnica,
(no caso bibliotecário), voltada para o trato da informação, que não utiliza as
estratégias de busca condizentes aos conhecimentos inerentes à organização
e disponibilização da informação. Nastri (1986, p.22) faz uma observação sobre
a situação quando diz que “a biblioteca é tão precária que, na maioria das
vezes, não oferece condições para o desempenho de um bom papel por parte
do bibliotecário.”
NORMÉLIA GUEDES DA SILVA FORMAÇÃO DO LEITOR NA PERSPECTIVA DE UMA BIBLIOTECA ESCOLAR IDEAL
31
O descaso pelo ambiente da biblioteca escolar é visto ainda como um
lugar de empilhamentos de livros, cheirando a mofos e considerado pelo aluno,
ainda como um lugar de castigo, e também como um anexo insignificante, que
pode facilitar a consulta dos livros didáticos, apenas para cumprir pesquisas
indicadas pelos professores sem reflexões sobre o conteúdo pesquisado,
desconhecendo suas reais funções.
Sobre esta situação, Silva (1995, p.13) declara que:
Há situações em que o espaço da biblioteca escolar é utilizado não como um lugar de estudo, de pesquisa ou de leitura, mas de punição: o aluno perde o recreio, ficando de ‘castigo’ na biblioteca. [...], ou é o espaço onde os alunos vão copiar verbetes, trechos ou parágrafos dos mesmos livros e enciclopédias ‘receitados’ pelos professores, ‘desde os tempos imemoriais...’.
Por isso o distanciamento entre sala de aula e biblioteca, que é vista
pela grande parte da comunidade escolar como um reflexo de um local sem
atenção por parte dos dirigentes, desconsiderando que ela representa um
depositário de informações que, gradualmente, irá somar aos conhecimentos
intelectuais e de mundo de toda a comunidade escolar.
Acompanhando o pensamento, Silva (1999, p. 109) afirma que:
A biblioteca, em termo de possibilidade, vivência de estudo e pesquisa ainda se apresenta e se coloca como um apêndice secundário das escolas, nem sempre levada muito a sério pelas autoridades e, por isso mesmo, raramente se transformando num objeto de preocupação ou investimento.
A biblioteca escolar, ainda se encontra num grau de desconfiança por
parte do usuário, que não encontra ainda um ambiente favorável para
freqüentar como também não se sente motivado pelo professor para fazer o
“movimento” e buscar informações e leituras naquele espaço.
Como o ambiente das bibliotecas escolares não oferece condições
adequadas para a promoção da leitura, visto que não disponibiliza ao aluno
NORMÉLIA GUEDES DA SILVA FORMAÇÃO DO LEITOR NA PERSPECTIVA DE UMA BIBLIOTECA ESCOLAR IDEAL
32
espaços apropriados para atender as suas necessidades, sobre essa condição
Kuhlthau (2004, p. 16) afirma que:
É importante conhecer tanto os alunos quanto o acervo da biblioteca e a natureza da comunidade com a qual se vai trabalhar. O entusiasmo do bibliotecário ou professor pode suscitar o interesse dos alunos e esse elemento é essencial para a aprendizagem bem sucedida.
Com base em Silva (1995), a biblioteca ainda não está inserida no
programa escolar, não faz parte das atividades desenvolvidas em sala de aula,
o ambiente físico no que diz respeito ao layout é inadequado, a iluminação
inapropriada, a organização do acervo praticamente não existe, por vezes, um
amontoado de livros nas estantes. Esse quadro reforça o descaso por parte do
aluno, fazendo com este se distancie cada vez mais da biblioteca.
Sentindo-se desmotivado para freqüentar uma biblioteca sem qualidade,
o aluno participa das atividades escolares apenas por obrigação, para ganhar
uma nota e, assim, não busca esse espaço de forma individualizada, para fazer
uso de leituras paradidáticas ou de fruição.
A favor da atuação da biblioteca dentro do contexto escolar, visando
somar ao programa interdisciplinar, Borba (1999, p. 35) diz que ela “deverá
apresentar-se dentro do sistema educativo como um instrumento indispensável
para o desenvolvimento curricular, e como tal deve responder de forma
satisfatória e eficiente os seus serviços à comunidade na qual ela está
inserida”, no entanto, para que essas atividades tenham receptividade positiva
por parte dos alunos, o ambiente físico deve corresponder ao bem-estar que o
momento da leitura exige.
Sobre um ambiente favorável a leitura, Nastri (1986, p.18) evidencia
muito bem a situação quando diz que “para que a escola forme o leitor, ela
precisa contar com uma infra-estrutura adequada”, caso contrário, só reforça o
distanciamento existente entre aluno e a biblioteca da sua escola e,
conseqüentemente, em relação a todas as outras.
NORMÉLIA GUEDES DA SILVA FORMAÇÃO DO LEITOR NA PERSPECTIVA DE UMA BIBLIOTECA ESCOLAR IDEAL
33
Ainda sobre a função da biblioteca no contexto escolar, Silva (1995,
p.67) torna-se enfático quando diz que: “salientamos, ainda, a necessidade de
inserir o debate sobre o papel da biblioteca na educação escolar no contexto
da discussão, mais ampla, sobre o papel da escola na sociedade, enfocando,
em particular, a questão da democratização do ensino”.
As bibliotecas brasileiras, apesar dos incentivos recebidos pelas políticas
públicas, com ações voltadas para a promoção da leitura, através de repasses
de materiais didáticos, paradidáticos e equipamentos eletrônicos, ainda não
despertaram para atividades ou dinâmicas voltadas para a leitura.
No entanto, percebe-se, nas últimas décadas, uma preocupação por
parte dos dirigentes políticos, desde a esfera federal até local, em investir mais
na educação, contribuindo com verbas para melhorar a infra-estrutura da
escola, com distribuição gratuita de material didático para alunos da rede
pública, abrangendo as diversas áreas do conhecimento.
Conforme diz Perrotti8 (2009), pode-se constatar que “o livro está
entrando nas escolas numa medida que não entrava, nem que seja por meio
das distribuições feitas pelo Ministério da Educação e as secretarias estaduais
e municipais. Há 50 anos nem sequer se sonhava com isso no Brasil.”
Assim sendo, apesar do processo ainda lento e isolado, devido a vários
fatores que deixaram de contribuir na promoção da leitura, a escola tem
recebido investimentos, por parte das políticas públicas, que favorecem as
atividades aplicadas ao incentivo à leitura, no entanto, na prática, essas ainda
ficam restritas à sala de aula, sendo pouco utilizada a biblioteca para os
determinados fins.
Na esfera governamental, de modo ampliado, eventuais programas, elaborados no âmbito do MEC, da Fundação Biblioteca Nacional, das secretarias estaduais, ora da cultura, ora da educação, e mesmo nas principais capitais, têm se repetido e reinventado inúmeros projetos que pretendem levar a leitura e a biblioteca a cada município, sem lograr êxito significativo: verbas e esforços são despendidos e poucos
8 Documento eletrônico não paginado..
NORMÉLIA GUEDES DA SILVA FORMAÇÃO DO LEITOR NA PERSPECTIVA DE UMA BIBLIOTECA ESCOLAR IDEAL
34
resultados são percebidos. (CONSELHO FEDERAL DE BIBLIOTECONOMIA, 2009, p.11).
Mesmo que a biblioteca escolar seja ainda pouco utilizada pelo contexto
de ensino-pedagógico para iniciativas voltadas à difusão da informação e do
incentivo à leitura, o Ministério de Educação e Cultura (MEC) através da
ampliação de diversos programas voltados à promoção da leitura, tem apoiado
projetos de ações voltadas para a formação do leitor, onde alguns não
prosperaram e outros permanecem ainda ativados.
Tais incentivos, ficam ainda restritos ao programa de sala de aula, não
promovendo no aluno nenhuma motivação em procurar o ambiente da
biblioteca, optando ele em fazer suas pesquisas escolares no seu próprio
equipamento sem nenhuma reflexão sobre o tema consultado, sentindo-se, na
obrigação, de cumprir apenas o currículo escolar.
5.1 ATUAÇÃO DO PROFESSOR FRENTE À BIBLIOTECA
Sendo a biblioteca escolar pouco utilizada pelos professores como um
recurso de apoio à educação escolar, Silva (1998, p. 30) ratifica a necessidade
da Biblioteca se aproximar da sala de aula, do professor, do aluno, através de
atividades que incentive o seu uso e corrobora isto quando diz:
Sem a participação – ativa constante – dos professores, a dinamização da biblioteca escolar dificilmente será viabilizada na prática. Isto porque são os professores os responsáveis pelo planejamento do ensino, o que, direta ou indiretamente, repercute na distribuição do tempo acadêmico dos alunos.
Portanto, a pouca utilização da biblioteca, por parte dos professores,
para suas práticas de dinâmicas de leituras junto aos alunos, deixa claro o
descaso que os mesmos sentem em relação ao ambiente, não o valorizando
como um espaço da produção do conhecimento e que suas informações
NORMÉLIA GUEDES DA SILVA FORMAÇÃO DO LEITOR NA PERSPECTIVA DE UMA BIBLIOTECA ESCOLAR IDEAL
35
podem ser disponibilizadas democraticamente para toda a comunidade escolar,
especialmente para a sala de aula.
Sobre essa prática, Silva (1995, p.54), critica a postura do professor que,
ao invés de ser um provocador, dinamizador de tarefas educativas no conteúdo
curricular, “ele afasta o aluno da biblioteca, pois se a leitura torna-se uma
obrigação, serão lidos apenas os textos impostos, que valem nota e ajudam na
sua promoção escolar.”
O professor perde a chance de participar do desenvolvimento do aluno
tanto na sua formação de leitor, como nas transformações que a leitura
possivelmente promoverá na sua realidade pessoal e social. A partir desse
processo, deve-se provocar a curiosidade do aluno, fazendo-o buscar o
conhecimento, através do material informacional impresso e do uso dos meios
eletrônicos disponíveis no ambiente.
Para que o professor possa trabalhar a promoção da leitura, os teóricos
são enfáticos quanto à necessidade do mesmo manter-se atualizado, quanto
ao seu currículo e, sobretudo, que ele goste de ler e que a leitura faça parte da
sua rotina diária, incentivando-a através do seu exemplo.
Pensando assim, Silva (2005, p. 109) ratifica esse pensamento quando
diz que:
Parece-me que a condição básica para ensinar o aluno a ler diz respeito à capacidade de leitura do próprio professor. Mais especificamente, para que ocorra um bom ensino da leitura é necessário que o professor seja, ele mesmo, um bom leitor. [...] – isto porque os alunos necessitam do testemunho vivo dos professores (grifo do autor) no que tange à valorização e encaminhamento de suas práticas de leitura.
Caso o professor não tenha a pratica do ato da leitura no seu cotidiano,
principalmente dentro da escola, por princípio, certamente o ambiente da
biblioteca não lhe será atraente na execução das atividades que passa para o
aluno em sala de aula. No entanto, Silva (1995, p. 20) defende sua passividade
diante do aproveitamento do espaço da biblioteca quando diz:
NORMÉLIA GUEDES DA SILVA FORMAÇÃO DO LEITOR NA PERSPECTIVA DE UMA BIBLIOTECA ESCOLAR IDEAL
36
Na maratona diária a que se encontra submetido, dadas as condições de trabalho tão adversas [...], o professor raramente tem tempo para a auto-educação, para a própria atualização e, muito menos, para pensar de forma produtiva um trabalho envolvendo a biblioteca escolar.
Diante de críticas e ressalvas feitas à postura do professor no contexto
da biblioteca escolar, ou seja, o seu descaso quanto a sua utilização para a
execução das atividades em sala de aula, faz-se necessário também lembrar
que, por trás de todo desinteresse do mesmo em relação a essa prática, existe
toda uma conjuntura sócio, econômica, cultural deficitária, que não possibilita o
seu crescimento profissional, conseqüentemente a sua realização pessoal e
social.
NORMÉLIA GUEDES DA SILVA FORMAÇÃO DO LEITOR NA PERSPECTIVA DE UMA BIBLIOTECA ESCOLAR IDEAL
37
6 PERSPECTIVAS DE UMA BIBLIOTECA ESCOLAR IDEAL
A gênese da Biblioteca Escolar pode ser considerada a partir do
momento em que surgiram as primeiras bibliotecas, quando o homem começou
a registrar concretamente o pensamento. Conforme afirma Cavalcanti (2003,
p.2), “a história das bibliotecas escolares pode ser traçada desde o surgimento
das primeiras bibliotecas, haja vista sua importância no contexto educacional e
sócio-cultural”.
E a biblioteca escolar surgiu juntamente com outros tipos de bibliotecas,
as quais estão voltadas para suas áreas específicas, tais como a biblioteca
universitária, especializada, pública, comunitária, enfim, a produção do
conhecimento encontra-se “espalhado” por todas as unidades de informação e
que de acordo com a definição da Enciclopédia Britânica (1970 apud BORBA,
1995, p. 2-3),
As bibliotecas podem ser grosseiramente classificadas de duas formas. Tanto pela fonte financiadora e pelo uso: nacional, municipal, regional, universitária, de pesquisa, escolar, industrial, de clubes, privadas, etc.; (incluindo médica, legal, teológica, científica, de engenharia, etc.). Bibliotecas especializadas freqüentemente têm coleções especiais.
A biblioteca escolar torna-se, pois, guardiã dos registros humanos, nos
quais podem ser preservada a produção de conhecimento de toda uma
humanidade onde, posteriormente, serão transferidos de geração a geração,
devendo as bibliotecas escolares estarem integradas ao trabalho desenvolvido
em sala de aula e tendo na constituição do seu material informacional, segundo
Borba (1995, p. 2-3),
Uma coleção de material, impresso ou manuscrito ordenado e organizado com o propósito de estudo e pesquisa ou de leitura geral ou ambos. Muitas bibliotecas também incluem coleções de filmes, microfilmes, toca-discos, projetores de slides e semelhantes que escapam à expressão material manuscrito ou impresso.
NORMÉLIA GUEDES DA SILVA FORMAÇÃO DO LEITOR NA PERSPECTIVA DE UMA BIBLIOTECA ESCOLAR IDEAL
38
A formação do leitor poderá ser um processo que ocorre a partir dos
ambientes alfabetizadores representados pelo contexto familiar, onde é através
do exemplo dos pais que a criança poderá começar a adquirir gosto em
manusear o livro, pela educação escolar e pela biblioteca.
Sobre o contexto familiar, Nastri (1986, p. 18) ratifica muito bem esta
afirmação quando diz que o gosto pela leitura começa “em casa, com a família,
onde a criança vai aprender seguindo os exemplos dados. Assim, se no
ambiente familiar existirem livros e um ambiente de leitura, com certeza se
formará um leitor.”
O segundo ambiente que interage com a educação familiar e que poderá
contribuir na promoção da leitura está relacionado com a educação escolar.
Esse contexto é também responsável pela formação do leitor e Nastri (1986, p.
18) reforça esta afirmação, quando diz que a formação do leitor também é “na
escola, porque é onde se aprende a ler e a escrever. É onde a criança vai ser
alfabetizada e iniciada na prática da leitura”.
Caminhando no mesmo sentido, Rodrigues (1987, p.57), afirma a
importância da escola como função educadora na vida da criança que poderá
fomentar conhecimentos e também a “ideologia, os valores, a ciência, a política
e a cultura na sociedade em que está inserida.”
No entanto, para que o ensino-aprendizagem seja integrado, dinamizado
de acordo com a proposta pedagógica da escola, alguns recursos deverão
fazer parte do processo e um desses é a Biblioteca Escolar. Sobre o assunto,
Amato (1998, p.11) afirma: “que uma escola sem biblioteca é uma instituição
incompleta; e uma biblioteca não orientada para um trabalho escolar dinâmico
torna-se um instrumento estático e improdutivo dentro desse contexto.”
Nesse sentido, sugere-se que a biblioteca procure dinamizar atividades
inerentes ao incentivo à leitura e que estejam diretamente ligadas às propostas
pedagógicas do currículo escolar.
Reforçando o conceito anterior, Bamberger (1995, p. 76), afirma que
para que a escola consiga promover o desenvolvimento intelectual do aluno,
NORMÉLIA GUEDES DA SILVA FORMAÇÃO DO LEITOR NA PERSPECTIVA DE UMA BIBLIOTECA ESCOLAR IDEAL
39
principalmente na formação de leitores, “uma das metas principais do ensino
da leitura, [...], é acostumar o aluno a utilizar a biblioteca”. Dessa forma, a
biblioteca como um todo deverá fazer parte de um contexto maior, onde todos
os suportes deverão ser utilizados, sejam impressos ou eletrônicos.
O espaço da biblioteca deverá favorecer ao aluno um ambiente
adequado para fazer suas leituras e pesquisas, disponibilizando material
complementar de aprendizagem, que contribuirá para que o mesmo adquira
novos conhecimentos.
Nessa direção, assinala Antunes (1999, p.186), quando reforça que:
O livro, a leitura e a biblioteca escolar alinham-se como importantes componentes sociais e, em especial, do sistema educativo. Somam-se a isto os meios de comunicação e veiculação, de modo a que o livro seja disponibilizado e atenda as muitas demandas de leitura de forma que a aprendizagem, o acesso à informação e ao conhecimento ocorra plenamente.
Além dos cuidados com o conteúdo informacional da biblioteca escolar
que deve estar diretamente relacionado às informações que contextualizam a
realidade social, o seu espaço deverá servir de área de atuação para
programas de desenvolvimento de leitura. Sobre essa condição, segundo Silva
(1999, p.18), a biblioteca escolar deve “ocupar um lugar destacado, não como
um depósito de saber acumulado, mas sobretudo como agência disseminadora
desse saber e promotora da leitura.”
Tal iniciativa poderá despertar no usuário o prazer em manusear livros e
poder, a partir da assimilação das informações, tornar-se mais seletivo e crítico,
possibilitando estabelecer diferenças entre o que é a leitura lúdica e prazerosa,
da que lhe é necessária, especificamente na formação técnica e profissional.
Além do que foi apresentado, é importante que, como um espaço
coletivo para o compartilhamento de informações, a biblioteca escolar deve se
preocupar em oferecer um ambiente acolhedor, com temperatura agradável,
iluminação bem programada, apresentando um layout adequado, de acordo
com a ergonomia atual, otimizando o uso dos locais disponíveis, para que o
NORMÉLIA GUEDES DA SILVA FORMAÇÃO DO LEITOR NA PERSPECTIVA DE UMA BIBLIOTECA ESCOLAR IDEAL
40
usuário faça uso dos materiais impressos e eletrônicos numa situação de bem
estar quanto as suas condições físicas e encontre o que procure com fácil
acessibilidade.
Ainda com relação a uma estrutura adequada para a Biblioteca Escolar,
o aluno, sentindo necessidade de freqüentar a biblioteca da sua escola para
desenvolver suas pesquisas ou apenas como um momento de lazer,
certamente se sentirá atraído se o seu ambiente for agradável e se suas
necessidades informacionais forem atendidas eficiente e eficazmente.
Caldeira (2002, p.48), ratifica este pensamento quando diz:
O planejamento do espaço da biblioteca deve ser feito em função do acervo e do uso que se pretende dele fazer. Além de salas para abrigar o acervo geral, a coleção de referência e a de periódicos, devem ser previstas salas para estudo individual e de grupos, locais específicos para uso de equipamentos (computadores, gravadores, videocassetes), lugar separado para a coleção infantil para atividades com crianças menores, além de salas de projeção.
A escola, como instituição mantenedora deve-se manter articulada
continuamente com a biblioteca, transformando-a num centro de informação
para a comunidade escolar. Para Amato (1998, p.17), “aqui se impõe a
interação biblioteca-escola [...] uma vez que as pesquisas a ser realizadas
fazem parte dos conteúdos programáticos das diversas disciplinas.”
Diante dessa proposta, deve-se proporcionar para o aluno uma visão
positiva do ambiente da biblioteca, tanto física, quanto à sua organização
informacional composta por todo tipo de material. Deve-se, porém, privilegiar
leituras que correspondam as suas curiosidades, ampliando o interesse por
temáticas que, posteriormente, possam promover o seu desenvolvimento tanto
na perspectiva profissional, como um participante da vida social.
Ainda sobre o assunto, Silva (1999, p. 25) é enfático quando diz,
“acredito que a convivência contínua e concreta com diferentes tipos de livros é
uma das melhores formas de que o sujeito dispõe para desenvolver
fundamentos que o levem a posturas argumentativas e participativas”. Para
NORMÉLIA GUEDES DA SILVA FORMAÇÃO DO LEITOR NA PERSPECTIVA DE UMA BIBLIOTECA ESCOLAR IDEAL
41
tanto, as coleções bibliográficas e audiovisuais devem estar acessíveis,
atualizados e sistematicamente organizados, com uma sinalização que facilite
o acesso físico e bibliográfico, direcionando e tornando o usuário independente
na busca da informação.
Para que o livre acesso ocorra, é indispensável que a biblioteca escolar
procure utilizar a ergonomia informacional9 indicada para o tipo de biblioteca
em referência, mas procurando proporcionar uma linguagem compatível com
os usuários, aplicando as técnicas utilizadas em todas as bibliotecas para que
o usuário saiba utilizar as estratégias de buscas, não somente na biblioteca da
sua escola, mas também em outras em que venha a freqüentar.
A organização do ambiente físico e informacional deve ser coerente com
as características dos usuários, com toda a comunidade à qual a escola está
vinculada, composta por alunos, e equipe pedagógica. Este deve está
direcionado a atender tanto a faixa pré-escolar, desde o início de sua
escolarização, até a fase escolar, estabelecendo, portanto, um tipo de
organização que leve em conta os interesses dos alunos e as propostas
pedagógicas dos professores.
No entanto, para que haja uma recuperação das informações coerentes
com as necessidades informacionais dos usuários, Simão; Schercher e Neves
(1993, p. 24), enfatizam que “a equipe da biblioteca deve usar um sistema de
sinalização que contemple códigos de cores, cartazes, faixas, etiquetas,
símbolos e outros, a fim de facilitar o uso do seu acervo.”
Ainda sobre a ergonomia informacional, Viana (2002, p. 46), sugere que:
Os sistemas de classificação e os códigos de catalogação, [...], devem ser utilizados na organização de bibliotecas escolares. Algumas adaptações poderão ser necessárias, no caso da coleção infantil que, por suas características peculiares, deverá estar separada do restante do acervo.
9 Estuda o arranjo dos dispositivos de sinalização, informação e de comando, por forma a melhorar as condições de percepção da informação por parte do trabalhador;
NORMÉLIA GUEDES DA SILVA FORMAÇÃO DO LEITOR NA PERSPECTIVA DE UMA BIBLIOTECA ESCOLAR IDEAL
42
O interesse da Biblioteca Escolar deve está voltado, fundamentalmente,
em atrair o aluno para àquele ambiente, contribuindo para que o mesmo sinta
vontade de buscar leituras não somente via computador, mas, sobretudo,
aprenda a manusear o livro e, conseqüentemente, sinta prazer pela leitura.
Enfatizando ainda mais a importância do ambiente da biblioteca escolar
para atrair o usuário, Simão; Schercher e Neves (1993, p. 13) afirmam que:
A maior ou a menor interação entre biblioteca e leitor (usuário) vai depender, em grande parte, de como a biblioteca está organizada e do grau de compreensão recebido, através do atendimento que lhe é proporcionado, de que ele, o usuário, é coparticipante do processo de desenvolvimento da biblioteca e que ela é seu patrimônio e patrimônio da comunidade, estando instalada ali para servi-los.
No entanto, não existe ambiente físico favorável, mesmo tendo
profissionais habilitados para exercer a responsabilidade da função, se diante
do processo de atendimento ao público, os materiais informacionais não
estiverem organizados na forma sistemática de ser. Antes da disponibilidade ao
público, é importante ressaltar que esses devem passar por um processo de
política de seleção, a qual o acervo deverá ser avaliado e selecionado em
consonância com a sua temática e do público a ser atendido.
Portanto, a biblioteca escolar deve manter suas ativadas não somente
com sua estrutura física e organização do material informacional, mas,
sobretudo, conhecer seus usuários e ter a responsabilidade de repassar ou
direcionar as informações que mais lhes interessam, contribuindo assim
também, com o seu gosto pela leitura e com o seu desenvolvimento de
cidadania.
Sobre o assunto Silva (1998, p. 27) questiona quando ressalta:
Uma vez formada a biblioteca escolar [...], vem à questão da responsabilidade pela intermediação e dinamização das práticas de leitura. Nas mãos de quem deixar a biblioteca? quem deve ser a pessoa a dinamizar o acervo? qual o melhor perfil para essa pessoa?
NORMÉLIA GUEDES DA SILVA FORMAÇÃO DO LEITOR NA PERSPECTIVA DE UMA BIBLIOTECA ESCOLAR IDEAL
43
Estando a Biblioteca Escolar pronta para atender aos seus usuários, sob
todos os aspectos, torna-se necessário estabelecer uma política de gestão
eficiente e eficaz, isso porque a mesma só poderá atingir seus objetivos com
eficiência, se nela atuar um profissional bibliotecário. Dessa forma, no próximo
capítulo será feita uma abordagem acerca desse profissional, procurando
evidenciar as características de um Bibliotecário Escolar.
6.1 MISSÃO DO BIBLIOTECÁRIO ESCOLAR
Com a inserção das bibliotecas no contexto escolar, através da lei
federal 5.692/7110 (1971), o desenvolvimento do processo educacional e sócio-
cultural deveria ser exercido com maior efervescência, com um profissional
fazendo parte do referido processo sendo um agente pró-ativo, criativo e
envolvido efetivamente com processo de leitura.
O profissional que atua na biblioteca escolar, e na posse de
conhecimentos da área da informação, deverá ser o responsável tanto pela
organização do acervo (através de um processo de seleção criterioso)
composto por livros, revistas, mapas, dicionários, enciclopédias, entre outros,
como por outras atribuições no que diz respeito à difusão da informação e
promoção da leitura.
Sobre a sugestão acima, Silva (1995, p.76), por sua vez, sugere que,
“cabe ao profissional em atuação na biblioteca escolar torná-la objeto de
reflexão e espaço de participação para todos os segmentos da escola e da
comunidade na qual ela se insere”.
Para ratificar mais ainda o papel do responsável pela biblioteca,
enfatizando a sua co-participação no processo de formação do leitor escolar,
Carvalho (2002, p. 22-23), identifica três elementos que estruturam o processo
de leitura que são:
10 Documento eletrônico não paginado.
NORMÉLIA GUEDES DA SILVA FORMAÇÃO DO LEITOR NA PERSPECTIVA DE UMA BIBLIOTECA ESCOLAR IDEAL
44
Uma coleção de livros, e outros materiais, bem selecionada e atualizada; um ambiente físico concebido como espaço de comunicação e não apenas de informação, que leve em conta a corporalidade da leitura da criança e do adolescente, isto é, os seus modos de ler; e por último, mas não menos importante no processo de promoção da leitura, a figura do mediador.
Esse profissional deverá saber dominar os conhecimentos técnicos,
organizando o material informacional de forma que o usuário saiba identificar a
localização da leitura de forma rápida e precisa, utilizando as estratégias de
buscas, sob a orientação do mediador da informação.
Evidenciando um melhor conceito sobre o profissional ideal, com
competências específicas para se trabalhar com a informação e em qualquer
tipo de biblioteca, neste caso a biblioteca escolar, a American Library
Association (apud DUDZIAK, 2003, p. 22) define da seguinte forma:
As pessoas competentes em informação são aquelas que aprenderam a aprender. Elas sabem como aprender, pois sabem como o conhecimento é organizado, como encontrar a informação e como usá-la de modo que outras pessoas aprendam a partir delas.
Diante da exigência de se colocar um profissional com competências
específicas para atuar na biblioteca escolar, pode-se afirmar, através da
corroboração dos teóricos, que o profissional habilitado para exercer a função
de organizador da informação, e ao mesmo tempo atuar como educador no
processo do incentivo á leitura, é o profissional da área de biblioteconomia.
Silva (1998) assinala esta afirmativa quando diz que o profissional mais
habilitado para atuar como responsável é o bibliotecário que, competente em
informação, senão em toda a área biblioteconômica, mas em determinadas
funções, sabe como a informação estar organizada, não só tecnicamente, mas
também sabe orientar o leitor na localização do material, mostrando-lhe as
estratégias de buscas para que ele, gradualmente, possa fazer uso da leitura
de forma criteriosa e independente, configurando um profissional participativo
no contexto escolar, contribuindo, pois, como mediador da informação no
desenvolvimento de leitura.
NORMÉLIA GUEDES DA SILVA FORMAÇÃO DO LEITOR NA PERSPECTIVA DE UMA BIBLIOTECA ESCOLAR IDEAL
45
Historicamente, o profissional bibliotecário surgiu no momento em que a
escrita, os suportes, os instrumentos evoluíram. Sobre esse momento Milanesi
(1993), sugere que quanto mais a sociedade gera documentos, mais os
profissionais responsáveis pelo controle da informação buscam aprimorar
técnicas que permitam ao usuário encontrar o dado que procura.
Durante algum tempo, a sua função esteve voltado somente para as
técnicas de armazenamento, organização e tratamento dos documentos, isso é
confirmado por Almeida Junior (2004, p.70), quando afirma que as “atividades e
funções do profissional bibliotecário estiveram voltados mais para a
preservação do que para a disseminação”. Daí a estigmatização da atuação do
bibliotecário apenas como um tecnicista.
Com o surgimento das novas tecnologias, todos os segmentos da
sociedade sofreram mudanças, fato que atingiu tanto as bibliotecas quanto os
bibliotecários. Tais mudanças são bastante visíveis tanto nos serviços meios
quanto nos serviços fins, visto que o bibliotecário deverá agregar cada vez
mais ao seu perfil uma nova postura voltada para a interdisciplinaridade.
E aí poderá tornar-se um desafio ao profissional bibliotecário, quando
este deve “conquistar” um espaço dentro do planejamento da escola e mostrar
o quanto pode contribuir para a educação do aluno, principalmente como um
recurso a mais na promoção da leitura.
Sendo o bibliotecário, então, o profissional mais habilitado para assumir
uma Unidade de Informação, mais especificamente a biblioteca escolar, Barros
(1986, p.32) defende que a postura do bibliotecário escolar precisa ser de
caráter impar e diferenciada, enfatizando a necessidade do mesmo manter-se
atualizado através da prática da leitura e, de posse dos seus conhecimentos,
Que ele tenha competência técnica; que ele não seja passivo em seu trabalho; que ele assuma uma postura política de fato; que ele capitule cultura ininterruptamente; que ele lute por seus direitos; que ele saiba exercer a autocrítica; que ele não se limite a ser um mero guardião de livro; que ele seja versátil no seu trabalho; que ele seja um leitor crítico; que ele perceba a importância e a força da informação que a biblioteca contém;
NORMÉLIA GUEDES DA SILVA FORMAÇÃO DO LEITOR NA PERSPECTIVA DE UMA BIBLIOTECA ESCOLAR IDEAL
46
que ele respeite o leitor, como ser humano que ele é, muito mais carente de saber do que das técnicas.
Como a participação do bibliotecário no processo ensino-apredizagem
ainda bastante restrita, o questionamento que se faz é como o bibliotecário
pode contribuir para o incentivo à leitura, ou seja, não somente no que diz
respeito a organização do acervo da biblioteca mas, sobretudo, ser um
condutor da informação direcionando o usuário a encontrá-la de forma
independente, através das estratégicas de buscas impressas e eletrônicas.
O bibliotecário moderno, deverá agregar ao seu perfil o papel de um
educador, atuando em parceria com os professores de uma forma que
desperte nos alunos o prazer e o gosto pela leitura usando a biblioteca como
um recurso fundamental para a aquisição do conhecimento de todas áreas.
NORMÉLIA GUEDES DA SILVA FORMAÇÃO DO LEITOR NA PERSPECTIVA DE UMA BIBLIOTECA ESCOLAR IDEAL
47
7 BIBLIOTECÁRIO E PROFESSOR: FÓRMULA DE SUCESSO DA
BIBLIOTECA ESCOLAR.
Atestando que o ambiente da biblioteca ainda é pouco utilizado no
espaço escolar, o conceito que ainda se tem dela é de um ambiente apenas
para guardar livros, lugar de lanche ou de castigo, não prestigiado pelo
professor, nem favorável pelo bibliotecário.
Sobre a relação não existente entre a sala de aula e a biblioteca
escolar, Silva (2005, p. 68) expressa sua crítica quanto a postura do
bibliotecário e do professor, isoladamente, enfatizando que:
No seu íntimo, os bibliotecários, principalmente os que trabalham em bibliotecas públicas, guardam um grande rancor dos professores. Esse rancor é fruto do descompromisso e, muitas vezes, da irresponsabilidade dos professores no encaminhamento de alunos às bibliotecas, quando não do próprio desconhecimento dos professores sobre o que existe, em termo de acervo e de serviços, nas bibliotecas, assim, a chamada ‘pesquisa escolar’, feita na biblioteca, transforma-se numa falcatrua para manter os alunos ocupados, nada tendo de investigação séria para o seu enriquecimento cognitivo.
Quanto à postura dos professores sobre não valorizar o espaço da
biblioteca e não trabalhar o incentivo à leitura, em conjunto com o bibliotecário,
Silva (2005, p. 68-69) reforça a sua critica quando diz:
Os professores, por sua vez, parecem colocar a biblioteca e os bibliotecários na posição de subalternos ou de apêndices do processo educativo, devendo, por isso mesmo, cumprir e nunca questionar (ou ao menos enriquecer) os procedimentos oriundos do contexto da escola. Do ‘inferno’ onde se encontra e, muitas vezes, mal sabendo operacionalizar esquemas para o desenvolvimento do gosto pela leitura em seus alunos, os professores determinam a freqüência às bibliotecas ‘a todo custo’, ainda que essa freqüência – a trancos e barrancos – possa agir em sentido contrário, ou seja, criando o desamor aos livros e o desgosto pela leitura.
NORMÉLIA GUEDES DA SILVA FORMAÇÃO DO LEITOR NA PERSPECTIVA DE UMA BIBLIOTECA ESCOLAR IDEAL
48
Ainda nesse contexto, Silva (1955, p.17-18) questiona quando pergunta:
“até quando os professores vão permanecer alegando que a biblioteca não tem
condições de ser utilizada? por que não desenvolver ações concretas no
sentido da reconstrução ou, em muitos casos, da construção desse espaço na
escola?”.
Por outro lado, questiona-se também: “os bibliotecários e os autores da
área biblioteconômica conhecem os índices de analfabetismo e de fracasso
escolar deste país?”. Fica uma reflexão para o bibliotecário que tenha
pretensão de atuar na promoção da leitura dentro do contexto escolar.
Tal conceito poderá mudar, visto que a biblioteca escolar poderá se
transformar num ambiente adequado para o aluno aprender a gostar de ler,
através de incentivos programados pela equipe pedagógica, tendo o
bibliotecário como contribuinte e mediador das informações disponibilizadas na
mesma.
Para aproximar a sala de aula da biblioteca, Kurlthau (2004, p.19)
ressalta que “é importante que as atividades desenvolvidas em sala de aula
exijam que os alunos utilizem as habilidades para usar a biblioteca e a
informação que estão adquirindo”, ratificando que a falta de integração real
entre os dois recursos de aprendizagem mais importantes da educação
escolar, impedem a existência de uma cultura de pesquisa e leitura por parte
do aluno, não incentivada pelos professores e bibliotecário.
Sendo assim, para promover o gosto pela leitura no contexto escolar, as
atividades desenvolvidas deverão partir de animações culturais, que motivem o
aluno a freqüentar a biblioteca como meio de fazer as pesquisas solicitadas
pelo professor e que este dê destaque a importância da biblioteca para o
enriquecimento dos seus conhecimentos, no aproveitamento de todas as
leituras, tanto na forma de livro, impressa, como na disponibilização através do
suporte eletrônico, via Internet.
A integração dar-se-á, portanto, a partir da interdisciplinaridade curricular
reforçando ainda mais Bamberger (1995, p. 59) quando diz que “os professores
NORMÉLIA GUEDES DA SILVA FORMAÇÃO DO LEITOR NA PERSPECTIVA DE UMA BIBLIOTECA ESCOLAR IDEAL
49
e bibliotecários devem familiarizar-se com os vários métodos de pesquisa de
interesses”, incluindo, como recurso fundamental, a biblioteca no contexto da
educação escolar.
Diante de um novo contexto, as atividades desenvolvidas no espaço da
biblioteca para o desenvolvimento da leitura, deverão fazer parte da
metodologia os diversos tipos de leitura, utilizado-os na aplicabilidade das
atividades ou práticas de dinâmicas, anteriormente planejadas entre
professores e bibliotecários quanto a mediação do repasse da informação.
No enfrentamento à crise de leitura no Brasil, Silva (1995, p.71) enfatiza
a aproximação da sala de aula junto à biblioteca e diz que “o apoio do
professor é, entretanto, o de maior importância para o êxito da tarefa político-
pedagógica da biblioteca escolar”. Realça, por outro lado, a função do
profissional responsável pela biblioteca quando diz que:
O bibliotecário escolar é uma espécie de coordenador da biblioteca, responsável, como já denota o termo, pela coordenação das sugestões, idéias, atividades vindas de todos os pontos da escola, sempre visando a transformação da biblioteca escolar num espaço dinâmico e articulando com o trabalho desenvolvido pelo professor.
Assim, tornando-se mediadores da leitura, professor e bibliotecário
devem planejar e desenvolver atividades que realcem a leitura de forma que os
alunos, tenham fácil poder de assimilação e sintam-se atraídos por ela.
No entanto, segundo Carvalho (2002, p. 23), “o mediador deve estar
preparado para o confronto sempre renovado com a criança e o jovem através
da literatura, sem cobranças mecânicas de compreensão do texto lido e sem
fórmulas rígidas de indicação por idade”. As práticas de dinâmicas motivando o
aluno a gostar de ler, devem ser divertidas e prazerosas, estimulando-o a
procurar o ambiente da biblioteca tanto pelas leituras de pesquisas, como para
leitura de fruição, de divertimentos.
Dessa forma, o processo de interação entre professor e bibliotecário
atenderá não somente as solicitações feitas em sala de aula, tanto por visitas
NORMÉLIA GUEDES DA SILVA FORMAÇÃO DO LEITOR NA PERSPECTIVA DE UMA BIBLIOTECA ESCOLAR IDEAL
50
programadas pelo professor, ou de forma individual. Sentindo-se independente
para fazer as escolhas de leituras de acordo com seus anseios, porém sempre
de forma criteriosa e selecionada.
Sobre a integração dos dois recursos mais importantes do contexto
escolar, sala de aula e biblioteca, Silva (2005, p. 74) corrobora com a relação
de apoio de ambas as partes e diz:
Colocando a serviços de professores ou de bibliotecários – aqui tomados agentes de mediação das práticas educativas -, os conhecimentos pedagógicos podem orientar mais objetiva e racionalmente as ações voltadas à educação dos leitores. Assim, qualquer projeto ou programa na área de promoção da leitura poderá ser significativamente incrementado ou enriquecido, quando forem consideradas algumas diretrizes pedagógicas para a orientação das práticas e das atividades.
Essas práticas e atividades, deverão tornar-se rotina, numa relação
tríade formada pela sala de aula, representada pelo professor que se deve
fazer conhecedor do acervo da biblioteca e estar em dia com a sua leitura; o
bibliotecário, na organização e mediação das informações e a biblioteca como
espaço para dinamizar as práticas de incentivo á leitura.
O referencial teórico apresentado, sugere mudanças nas atuais
bibliotecas escolares, e que se estabeleça uma biblioteca escolar ideal como
suporte do incentivo à leitura e que, a partir das práticas desenvolvidas em
conjunto, seja rompido o distanciamento existente entre as instituições
estudadas. É importante que surja um projeto pedagógico interdisciplinar com a
biblioteca e com o aproveitamento dos incentivos direcionados pelas políticas
públicas, instituindo o diálogo e a cooperação a favor da formação de leitores,
na construção da sua cidadania.
NORMÉLIA GUEDES DA SILVA FORMAÇÃO DO LEITOR NA PERSPECTIVA DE UMA BIBLIOTECA ESCOLAR IDEAL
51
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do que foi pesquisado, conclui-se que a teorização apresentada
proporcionou, através dos objetivos específicos, respostas para as indagações
expostas na proposta do trabalho desenvolvido sob vários aspectos.
O incentivo ao hábito da leitura na idade escolar tem por princípio passar
pela espontaneidade do ato de ler, isto porque no decorrer do processo, que é
gradual, o aluno precisa ficar à vontade para fazer uso da leitura livremente,
considerando-se que os conteúdos devem ser bem introduzidos de acordo com
o potencial de assimilação de cada um e de suas necessidades de
informações.
Com a invenção da impressa de tipos móveis, ocorreu um aumento da
produção de textos e, a partir das necessidades de armazená-los em espaço
que garantisse o controle dos registros, surge a biblioteca para garantir o
armazenamento da informação e a preservação da produção do conhecimento
ao longo da humanidade.
Antes restritas a pequenos grupos, as bibliotecas tiveram que se adaptar
as mudanças políticas, sociais e tecnológicas no decorrer da história, tendo o
seu conceito refinado, tornando-se disseminadoras da informação e com a
difusão do conhecimento produzido de forma mais democrática e acessível ao
público.
No Brasil, com a evolução das bibliotecas de todos os tipos, surgiram
com os Jesuítas as bibliotecas escolares. Posteriormente, tais bibliotecas
tiveram suas funções direcionadas para atender determinadas obrigações
escolares denominadas de pesquisas. Entretanto, tais atividades com cunho de
obrigatoriedade geraram uma cultura perniciosa em relação à biblioteca,
provocando o distanciamento por parte dos alunos.
Neste espaço, onde as idéias dos autores promovem um turbilhão de
pensamentos, para quem gosta e sabe utilizar o material existente, o que se
constata é o desenvolvimento de atividades que não contribuem para a
NORMÉLIA GUEDES DA SILVA FORMAÇÃO DO LEITOR NA PERSPECTIVA DE UMA BIBLIOTECA ESCOLAR IDEAL
52
evolução do individuo. Por ser um local ainda não reconhecido pela sua
importância e não considerada parceira no planejamento didático-pedagógico
da escola, a biblioteca tem uma função puramente tecnicista, não sendo
utilizada para o desenvolvimento de dinâmicas voltadas para o incentivo à
leitura.
De acordo com a teorização apresentada, o ambiente da Biblioteca
Escolar ainda é pouco atraente em se tratando das estruturas física e
organizacional, geralmente em desacordo com as recomendações técnicas da
área. O fato dependendo da fase escolar em que se encontra o aluno, dificulta
em alguns casos a acessibilidade física e informacional, razões que geram
descontentamento nos alunos, visto que não atende suas reais necessidades
informacionais.
O professor geralmente não tem o hábito de promover atividades extra
sala de aula, tendo como parceria a biblioteca, como um recurso para auxiliar o
incentivo pelo gosto da leitura. A sua postura passiva, contribui cada vez mais
para o distanciamento do aluno da biblioteca, persistindo a cultura da Xerox,
tendo como conseqüência um adulto que não terá o hábito de freqüentar o
espaço em busca de boas leituras informativas e de entretenimento.
Assim, a falta de valorização das bibliotecas escolares por parte dos
professores e alunos faz sentido, quando muitas bibliotecas, mesmo que
tenham materiais informacionais de qualidade, não os disponibilizam de forma
adequada. Tal situação provem da não existência, na grande maioria das
bibliotecas escolares, de profissionais tecnicamente preparados para organizar
a informação e disponibilizá-la através de uma ergonomia informacional
coerente e adequada com o grau de escolarização do aluno.
Em alguns casos, existe a frente dessas bibliotecas, professores que
eventualmente substituem o bibliotecário, que poderiam e deveriam dinamizar
a biblioteca através de atividades didáticas e lúdicas, pois mesmo não
possuindo formação profissional para desenvolver as práticas técnicas,
poderiam usar de criatividade promovendo eventos culturais, direcionando
aluno para que o mesmo possa aproveitar cada fonte informacional do
NORMÉLIA GUEDES DA SILVA FORMAÇÃO DO LEITOR NA PERSPECTIVA DE UMA BIBLIOTECA ESCOLAR IDEAL
53
ambiente. No entanto, o que se constata é uma situação de comodismo, pois
tais professores não estão interessados em contribuir para o crescimento do
mesmo neste sentido.
Atesta-se, então, que o descaso pelas bibliotecas escolares tanto pelos
professores quanto pela direção das escolas, faz com que aluno ainda veja o
espaço através de um olhar não coerente com a missão da biblioteca como um
todo, como “guardiã” da história da humanidade; com registros de
conhecimentos organizados e, disponibilizados a toda a comunidade
democraticamente, sem distinção de raça, religião e nível social.
Estando a biblioteca articulada à própria escola, poderá se tornar um
centro de informação democrático, integrada ao projeto didático-pedagógico
institucional, transformando-se num espaço aberto e dinâmico. Tal situação
permitirá ao aluno usar, individualmente ou em grupo, as fontes organizadas e
disponibilizadas pela mediação de um profissional qualificado.
Pressupondo uma biblioteca escolar ideal, espaço aonde as pessoas
vão para se socializar e se atualizar através de meios impressos e eletrônicos,
a mesma deve atuar como pólo de dinamização da informação; como um
centro de incentivo para buscar o conhecimento e, na contribuição da formação
de leitores.
No entanto, para atingir o objetivo que é o de incentivar o
desenvolvimento do hábito de leitura no aluno, a biblioteca escolar ideal precisa
estar preparada com conteúdos interdisciplinares, através de materiais
informacionais atualizados e selecionados de acordo com o perfil do usuário e
também disponibilizá-los através de equipamentos tecnológicos modernos.
Tais ações e estruturas adequadas poderão despertar no aluno o desejo, a
curiosidade de adentrar neste espaço e se sentir estimulado em fazer uso dos
mesmos.
Além das fontes indicadas, seria interessante que fossem incorporados
ao acervo os textos produzidos pelos alunos e professores da escola,
incentivando o aluno ultrapassar a condição de leitor, a fazer uso da leitura,
NORMÉLIA GUEDES DA SILVA FORMAÇÃO DO LEITOR NA PERSPECTIVA DE UMA BIBLIOTECA ESCOLAR IDEAL
54
produzindo textos que, posteriormente, possam ser utilizados em animações
culturais promovidas pelo professor e o responsável pela biblioteca, seja ele
bibliotecário ou outro profissional.
Ainda sob o ponto de vista dos teóricos estudados, para que a biblioteca
escolar possa realmente aproveitar cada atividade desenvolvida em seu
espaço, é aconselhável a existência de um profissional bibliotecário, com uma
visão pedagógica da instituição para que seja possível estabelecer um
processo de integração entre a escola, o professor e a biblioteca. Ele deverá,
não somente ser o profissional técnico que seleciona, classifica e organiza
material informacional, mas tornar-se o mediador da informação, orientando o
aluno a localizá-la, através de estratégias de buscas, impressas ou eletrônicas,
de forma eficiente e eficaz.
Tais considerações decorrem das mudanças ocorridas no papel do
bibliotecário, que adquiriu novas habilidades, agregando ao perfil tradicional
novas técnicas e instrumentos de disseminação da informação, assumindo
uma postura política e, de educador voltado para as transformações sociais,
interagindo com professores e fazendo parte do processo de ensino e
aprendizagem.
A promoção da leitura no contexto escolar dar-se-á, através da
integração entre a biblioteca e a sala de aula, quando bibliotecário e professor
deverão exercer suas funções em parceria, mantendo uma postura pró-ativa no
processo de formação do leitor. Entretanto, para que a prática aconteça de
forma espontânea, é fundamental que, ambos tenham gosto pela leitura, pois
as dinâmicas aplicadas no ambiente da biblioteca, deverão fazer parte do seu
cabedal de conhecimentos e, visto que pressupõe a existência de uma
sensibilidade para trabalhar com linguagens adequadas com o aprendizado de
cada faixa escolar.
Como mediador da leitura estará o professor, elemento integrante do
planejamento pedagógico que juntamente com o bibliotecário, numa proposta
pedagógica voltada para o desenvolvimento da leitura, precisa promover
dinâmicas que despertem no aluno, o prazer em manusear um livro e dele
NORMÉLIA GUEDES DA SILVA FORMAÇÃO DO LEITOR NA PERSPECTIVA DE UMA BIBLIOTECA ESCOLAR IDEAL
55
extrair informações que contribuirão para a sua formação de leitor, não
somente pelas tarefas solicitadas de caráter obrigatório, mas de forma livre,
espontânea e divertida. .
Contudo, para que as que as metas da Biblioteca Escolar sejam
atingidas, é necessário que a escola permita que essa exerça o seu papel de
difusora do saber, transformando-a num local de encontros e atividades, onde
através da dinamização das mesmas, leve o aluno a assimilar o conhecimento
registrado.
Enfim, a promoção e divulgação da biblioteca e de seus serviços
representam um importante meio de atrair o aluno, onde o marketing de
serviços é essencial para qualquer instituição e a Biblioteca Escolar, vista como
um bem social, deve transformar-se num espaço educativo disponibilizando a
comunidade escolar diversos tipos de informações, em qualquer tipo de
suporte.
NORMÉLIA GUEDES DA SILVA FORMAÇÃO DO LEITOR NA PERSPECTIVA DE UMA BIBLIOTECA ESCOLAR IDEAL
56
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Inajá Martins de. O ATO DE LER. Disponível em: <http://www.amigosdolivro.com.br/lermais_materias.php?cd_materias=3523.>. Acesso em: 05 out. 2009.
ALMEIDA JUNIOR, Osvaldo Francisco de. Profissional bibliotecário: um pacto com o excludente. In BAPTISTA, Sofia Galvão; MUELLER, Suzana Pinheiro Machado (Org.). Profissional da informação: o espaço de trabalho. Brasília: Thesaurus, 2004. 2004. p. 70- 83.
AMATO, Miriam; GARCIA, Neise Aparecida Rodrigues. A biblioteca na escola. In: GARCIA, Edson Gabriel (Org.). Biblioteca escolar: estrutura e funcionamento. 2. ed. São Paulo; Edições Loyola, 1998. p.11-13.
BAMBERGER, Richard. Como incentivar o hábito de leitura. Tradução: Octavio Mendes Cajado. São Paulo: Ática, 1995. 109p.
BARONI, Fernanda. O Educador e a Literatura. Disponível em: <http://www.amigosdolivro.com.br/lermais_materias.php?cd_materias=3118.>. Acesso em: 05 out. 2009.
BARROS, Maria Helena T. C. O bibliotecário e o ato de ler. In: SILVA, Ezequiel Theodoro da. O bibliotecário e a análise dos problemas de leitura. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1986. p. 32-33 (Cadernos da ALB, n. 1).
BORBA, Maria do Socorro de Azevedo. Adolescência e leitura: a contribuição da leitura e da biblioteca escolar. Natal: EDUFRN, 1999. 110p.
______. A importância da biblioteca escolar. Revista do Centro Sócio-Econômico, Belém: UFPA, v.2, n.1, p.1-11, mar. 1995.
BORGES, Patrícia Ferreira Bianchini. A leitura e a construção do leitor em potencial. Disponível em: <http://www.amigosdolivro.com.br/lermais_materias.php?cd_materias=4016>. Acesso em: 05 out. 2009.
BRASIL. Lei nº 5.692, de 11 de agosto de 1971. Fixa diretrizes e bases para o ensino de 1º e 2º graus. Brasília, DF, 12 ago.1971. Disponível em: <ttp://www.jusbrasil.com.br/legislacao/128525/lei-de-diretrizes-e-base-de-1971-lei-5692-71>. Acesso em: 12 dez. 2009.
CALDEIRA, Paulo da Terra. O espaço físico da biblioteca. In: CAMPELLO, Bernardete Santos et al. A biblioteca escolar: temas para uma prática pedagógica. Belo Horizonte: Autêntica, 2002. p. 47-49.
NORMÉLIA GUEDES DA SILVA FORMAÇÃO DO LEITOR NA PERSPECTIVA DE UMA BIBLIOTECA ESCOLAR IDEAL
57
CAMPELLO, Bernardete Santos. Biblioteca e parâmetros curriculares nacionais (PCN). In:______ et al. A biblioteca escolar: temas para uma prática pedagógica. 2 ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2005. p. 17-19.
______. A competência informacional na educação para o século XXI. In:_____ et al. A biblioteca escolar: temas para uma prática pedagógica. 2 ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2005. p. 9-11.
CAMPOS, Cláudia de Arruda; BEZERRA, Maria de Lourdes Leandro. Bibliotecas escolares: um espaço estratégico. In: GARCIA, Edson Gabriel (Org.). Biblioteca escolar: estrutura e funcionamento. São Paulo: Loyola, 1989. p.77-96.
CARVALHO, Maria da Conceição. Escola, biblioteca e leitura. In: CAMPELLO, Bernardete Santos et al. A biblioteca escolar: temas para uma prática pedagógica. Belo Horizonte: Autêntica, 2002. p. 21-23.
CAVALCANTI, Jaqueline dos Santos P.S.M. Biblioteca Escolar: espaço vivo e dinâmico. 2003. Monografia (graduação em Biblioteconomia) Departamento de Biblioteconomia do Centro de Ciências Sociais Aplicadas da UFRN, 2005.
CONSELHO FEDERAL DE BIBLIOTECONOMIA. CONSELHO REGIONAL DE BIBLIOTECONOMIA. Programa mobilizador: biblioteca escolar construção de uma rede de informação. Brasília: [S.n], 2009.
DUDZIAK, Elizabeth Adriana. Information literacy: princípios, filosofia e prática. Ciência da Informação, Brasília, v. 32, n.1, jan./abr. 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-19652003000100003&script=sci_arttext&tlng=es>. Acesso em: 01 dez. 2009.
FARIA, Sueli de Fátima. Reflexos da falta de leitura na postura do bibliotecário. In: SILVA, Ezequiel Theodoro da. O bibliotecário e análise dos problemas de leitura. Porto Alegre: mercado Aberto, 1986, p. 11-15. (Cadernos da ALB, n. 1).
FREIRE, Paulo. Ensinar, aprender: leitura do mundo, leitura da palavra. Estudos Avançados. São Paulo, mai/ago. 2001. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142001000200013>. Acesso em: 05 out. 2009.
HOUAISS, Antonio; VILLAR, Mauro de Sales; FRANCO, Francisco Manoel de. Dicionário houiass da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. p.201.
KUHLTHAU, Carol. Como usar a biblioteca escolar: um programa de atividades para o ensino fundamental. Trad. por Bernadete Santos Campelo. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2004. 303p.
______. A biblioteca escolar: temas para uma pedagogia. Trad. por Bernadete Santos Campelo et al. Belo Horizonte: Autêntica, 2005. 62p.
NORMÉLIA GUEDES DA SILVA FORMAÇÃO DO LEITOR NA PERSPECTIVA DE UMA BIBLIOTECA ESCOLAR IDEAL
58
LEMOS, Antônio Agenor Brinquet de. Bibliotecas. In: CAMPELLO, B. S; CALDEIRA, P. T.; MACEDO, V. A. A (Orgs.). Formas e expressões do conhecimento. Belo Horizonte: Escola de Biblioteconomia da UFMG, 1988. p. 347-366.
MARTINS, Maria Helena. O que é leitura. São Paulo: Brasiliense, 1994. 93p. (Coleção Primeiros Passos).
MATOS, Henrique José. Tipos de leitura. In:______. Aprenda a estudar. Petrópolis: Vozes,1994. p. 26-32.
MEDEIROS, Elza Lúcia Dufrayer, Não tenho um caminho novo. O que tenho de novo é o jeito de caminhar. In: PRADO, Jason; CONDINI, Paulo. A formação do leitor: pontos de vista. Rio de Janeiro: Arcos, 1999. p. 51-53.
MILANESI, Luis. O que é Biblioteca. 9. Ed. São Paulo: Brasiliense, 1993.
______. O que é biblioteca. São Paulo: Brasiliense. 1998. 107 p. (Coleção Primeiros Passos, 94).
MIRANDA, Antonio. Formando e conformando o hábito da leitura. Salvador, 2006. Disponível em: <http://www.antoniomiranda.com.br/ciencia_informacao/artigos_pre_prints.html>. Acesso em: 07 nov. 2009.
NASTRI, Rosemeire Marino. Alguns aspectos da leitura. In: SILVA, Ezequiel Theodoro da (Org.). O bibliotecário e a análise dos problemas de leitura. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1986. p. 16-22. (Cadernos da ALB, n. 1).
ORLANDI, Eni Pulcinelli. O que é linguística. São Paulo: Brasiliense, 2005. 70 p. (Coleções Primeiros Passos, 184).
PERINI, Mário A. A leitura funcional e a dupla função do texto didático. Leitura: perspectivas interdisciplinares. São Paulo: Ática, 1988. p.78. (Série Fundamentos).
PERROTTI, Edmir. Biblioteca não é depósito de livros. Disponível em <http://www.cfb.org.br/noticias-cfb.php?codigo=218>. Acesso em: 11 out 2009.
PONTES, Verônica Maria de Araújo. Biblioteca, escolar e escola:: uma relação evidente? 1988. 118 fls.(Dissertação. (Mestrado em Educação) – Centro de Ciências Sociais Aplicadas, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal.
RIGOLO, Solange Cristina. leitura: processo transformador da postura do bibliotecário. In: SILVA, Ezequiel Theodoro da. O bibliotecário e a análise dos problemas de leitura. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1986, p. 23-26. (Cadernos da ALB, n. 1).
NORMÉLIA GUEDES DA SILVA FORMAÇÃO DO LEITOR NA PERSPECTIVA DE UMA BIBLIOTECA ESCOLAR IDEAL
59
RODRIGUES, Neidson. Da mistificação da escola à escola necessária. São Paulo: Cortez Editora, 1987. 95p. (Coleção Polêmicas do Nosso Tempo, v. 24).
SACCHI Júnior, Nério. O ato de ler como um processo de descoberta da realidade. In: Silva, Ezequiel Theodoro da (Org.). O bibliotecário e a análise dos problemas de leitura. Porto Alegro: Mercado Aberto, 1986. p.4-10.
SILVA, Waldeck Carneiro da. Miséria da biblioteca escolar. São Paulo: Cortez, 1995. 118p. (Coleção Questão da Nossa Época).
SILVA, Ezequiel Theodoro da. De olhos bem abertos: reflexões sobre o desenvolvimento da leitura no Brasil. 2. ed. São Paulo: Ática, 1999. 128p.
______. Biblioteca escolar: quem cuida? GARCIA, Edson Gabriel. (Org.). Biblioteca escolar: estrutura e funcionamento. 2. ed. São Paulo: Loyola, 1998. p.27- 33.
_____. Leitura na escola e na biblioteca. 10. ed. Campinas: Papirus, 2005. 115p.
SIMÃO, Maria Antonieta Rodrigues; SCHERCHER, Eroni Kern; NEVES, Iara Conceição Bitencourt. Ativando a biblioteca escolar: recursos visuais para implementar a interação biblioteca-usuário. Porto Alegre: Sagra-DC Luzzato, 1993. 67p.
UNIDADE DIDÁTICA 1. Tipos de Ergonomia. Disponível em: < http://www.univ-ab.pt/formacao/sehit/curso/ergonomia/uni1/tipoerg.html>. Acesso em: 30 nov. 2009.
VIANA, Márcia Milton. A organização da coleção. In: CAMPELLO, Bernardete Santos et al. A biblioteca escolar: temas para uma prática pedagógica. Belo Horizonte: Autêntica, 2002. 43-46.