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CIBERATOS FORMATIVOS COMPARTILHADOS NA PESQUISA-FORMAÇÃO MULTIRREFERENCIAL
Prof. Ma. Valeria de Oliveira1; Mestrando Felipe Carvalho2
Grupo de Pesquisa Docência e Cibercultura (GPDOC) - Coordenação Professora Dra. Edméa Santos Faculdade de Educação – Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ )
[email protected] - [email protected]
Resumo: Nesse trabalho, através de fóruns com os/as cursistas do curso de licenciatura em Pedagogia da UERJ-CEDERJ, da disciplina informática na educação, mediado pela plataforma moodle, dialogamos sobre “Outros olhares em tempos de Cibercultura e Educação”. Toda discussão foi elaborada a partir do vídeo do Programa Salto para o Futuro, disponível no YouTube, cuja a temática, e-acessibilidade em tempos de tecnologias digitais em rede, revela a importância sobre os atos de currículo inclusivos. Para esta investigação, nos inspiramos nos ciberatos formativos compartilhados, com a pesquisa-formação multirreferencial.
Palavras-chave: Ciberatos Formativos Compartilhados, Pesquisa-formação Multirreferencial, e-Acessibilidade, Deficiência Visual, Softwares Leitores de Tela.
Ciberatos Formativos CompartilhadosNessa pesquisa-formação, tomamos por inspiração os ciberatos formativos
compartilhados, os quais são atos dos praticantes culturais mediados pelo digital em
rede que realçam a “formação implicada com os atos de currículo” (MACEDO, 2013).
Contextualizados através dos ambientes virtuais de aprendizagem, são perspectivados
pelo desenvolvimento pessoal, cultural e social de seus praticantes. Deste modo, a
formação que discutimos vai além dos espaçostempos curriculares; isso quer dizer que a
formação de que se está falando acontece na aprendizagem com as relações sociais
cotidianas e institucionais, com o outro, com os sentimentos e emoções que afloram e
transformam, com o campo do trabalho, com a cibercultura e, dessa forma, constitui as
1 Graduada em Letras - UERJ e Pedagogia - UCB; Especialista em Surdez e Letramento em Anos Iniciais para Crianças e EJA -INES-MEC / ISERJ; Especialista em Linguística Aplicada à Área de Saúde - UERJ; Pós-Graduanda em Psicopedagogia - UERJ; Mestre em Educação - ProPEd-UERJ; Coordenadora Pedagógica do Programa Rompendo Barreiras: Luta pela Inclusão - FACEDU-UERJ. Docente online da disciplina Informática na Educação do Curso de Pedagogia da UERJ/CEDERJ.
2 Especialista em educação com aplicação da informática / UERJ. Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Educação ProPEd/UERJ. Membro do grupo de pesquisa Docência e Cibercultura.
redes de referências que geram significados e sentidos às experiências formativas. O
compartilhar busca abrir o diálogo, dar potência ao trabalho participativo e coletivo no
ato de educar; visa compreender o inacabamento do outro e está implicado em conceber
tanto professor quanto cursista como criadores e produtores de atos de currículo.
Quanto aos atos de currículo, são ações que envolvem docentes e discentes,
levando-os a criar, participar e habitar propósitos e práticas em cenários curriculares. Os
atos de currículo, portanto, agregam “mais política, mais cultura e mais práxis”
(MACEDO, 2013). Mais política, no sentido de ter opção de escolha para a negociação
e a construção curricular, Mais cultura, para conceber o currículo implicado com as
práticas ciberculturais. Mais práxis, porque com a demanda da formação compartilhada
e implicada com os atos de currículo online, o docente planeja seu desenho didático
lançando mão da rede, do hipertexto, para promover os ciberatos; nesse sentido, “a
dinâmica do hipertexto está na sua multiplicidade de conexões multidirecionadas. [...]
emaranhado de elos que traçam a trama de vários textos” (SANTOS, SILVA, p. 128-
129).
Logo, o desenho didático que é a estruturação e o planejamento de todas as
atividades que serão propostas na prática educativa, deverá lançar mão de aulas
contextualizadas com o cotidiano dos cursistas, englobando práticas da cultura
contemporânea estruturada pelas tecnologias digitais em rede, que chamamos de
cibercultura, para criar-fazer o currículo enredado, descentralizado, englobando
conteúdos diversos para um determinado ato de currículo, envolvendo com isso a ação
educativa no interagir, colaborar, compartilhar, participar.
Os ciberatos formativos compartilhados partem, portanto, das características
fundamentais do hipertexto para a prática da educação online: usabilidade, e-
acessibilidade, multivocalidade, intratextualidade e intertextualidade. Pelo exposto,
como podemos pensar os ciberatos formativos compartilhados com a pesquisa-formação
multirreferencial? .
A Pesquisa-formação Multirreferencial com os ciberatos Formativos Compartilhados
Esse estudo foi desenvolvido com os cotidianos dos cursistas e docentes online
da disciplina informática na educação, do curso de licenciatura em Pedagogia da
UERJ/CEDERJ, pelo ambiente virtual de aprendizagem Moodle, durante o segundo
semestre de 2014. A disciplina coordenada pela Prof. Dra. Edméa Santos é ofertada em
doze polos localizados em diferentes municípios do estado do Rio de Janeiro. Cada
docente online é responsável por determinados polos, que pode ser compreendido da
seguinte forma: docente online Marcele Lima – polos: Nova Friburgo e Nova Iguaçu;
docente online Cristiane Marcelino – polos: Maracanã, Rocinha e Paracambi; docente
online Mônica Resino – polos: Angra dos Reis, São Pedro e Resende; docente online
Valeria de Oliveira – polos: Itaguaí e Petrópolis; docente- online Felipe Carvalho –
polos: Belford Roxo e Magé.
A partir deste cotidiano, pensamos a pesquisa-formação multirreferencial com os
ciberatos formativos compartilhados. Método que se contextualiza numa perspectiva
dos pesquisadores implicados com suas práticas, não separando a prática pedagógica da
pesquisa científica, com a pesquisa-formação compreendemos as práticas educacionais
enquanto práticas transformadoras, com isso, inclui-se um “conjunto de atividades
variadas, seja do ponto de vista da disciplina de pertença dos pesquisadores, seja do
ponto de vista de operação, seja, enfim, do ponto de vista dos objetos de transformação”
(JOSSO, 2010, p. 101).
Na pesquisa-formação, tomamos a prática como sinônimo de práxis, “a ação
transformadora de sujeitos sociais que, ao transformarem realidades, transformam-se
neste mesmo processo. Acrescente-se o caráter valorativo político-emancipacionistas
que aí deve se implicar” (MACEDO, 2013, p. 15); ela engloba os sujeitos em suas
dimensões plurais, consciente, copresente e com as experiências e vivências culturais,
sociais, políticas e históricas.
A mudança oferecida no quadro de uma pesquisa-formação é a transformação do sujeito aprendente pela tomada da consciência de que ele é e foi sujeito de suas transformações; em outras palavras, a pesquisa-formação é uma metodologia de abordagem do sujeito consciencial, de suas dinâmicas de ser
no mundo, de suas aprendizagens, das objetivações valorizações que ele elaborou em diferentes contextos que são/foram seus (JOSSO, 2010, p. 125).
Concordamos ainda com a autora (2010) quando diz que a pesquisa-formação
não separa as experiências científicas das experiências existenciais, pelo cuidado de não
reduzir o desafio da pesquisa e nem de isolamento do contexto sociocultural, e diz que o
distanciamento não é uma separação do pesquisador do seu objeto de estudo, uma vez
que ele se realiza no próprio seio da prática de pesquisa, no processo de conhecimento
do processo de conhecimento.
Para dialogar com a pesquisa-formação com os ciberatos formativos
compartilhados, optamos neste trabalho, por uma perspectiva epistemológica de fazer a
ciência “multirreferencial” (ARDOINO, 1998), onde a prática é sempre práxis e está
envolta nas problemáticas do “sujeito que se faz fazendo-se, transforma-se agindo sobre
o mundo, e do político, pois agir sobre o mundo é fazer política. O político por
definição é práxis” (BERG, 2012, p. 27). O pragmatismo dessa epistemologia se
encontra profundamente ligado e inscrito na noção de práxis e na noção de autorização.
A autorização é o processo de como o sujeito se autoriza da capacidade de fazer de si
mesmo o seu próprio autor, ela implica na construção da nossa autoria. Mas para isso
acontecer, precisamos reconhecer o outro, dentro das suas complexidades, pois “o
processo de autorização requer o outro, sabendo-se que se autorizar deriva do latim
auctor, aquele que acrescenta e funda” (MACEDO, 2013, p. 94).
É sob esses pontos de vista da abordagem epistemológica multirreferencial, que
nos inspiramos para criar-fazer o nosso currículo, pois entendemos que é impossível
fazer uma concepção de currículo pronto, fechado, concebido, descontextualizado da
vida cotidiana. Desse modo, quando lançamos mão dos dispositivos no ato de pesquisar,
viabilizamos a “organização de meios materiais e/ou intelectuais, fazendo parte de uma
estratégia de conhecimento de um objeto” (ARDOINO, 1998, p. 41), mediados pelos
ciberatos formativos compartilhados, para que saberes, práticas, conversas e autorias
emergissem no nosso cotidiano de pesquisa; tivemos a necessidade de articular os dados
e analisá-los sob uma pluralidade de referências e sob diferentes ângulos que passamos
a descrever.
A imagem adiante retrata a primeira aula da disciplina “O que é Cibercultura? Educando em nosso tempo!”, na qual podem ser encontrados os dispositivos acionados para essa investigação:
Imagem 1. Dispositivos da pesquisa-formação multirreferencial inspirado nos ciberatos formativos compartilhados, da aula “Educação e Cibercultura”.
A aula “O que é Cibercultura? Educando em nosso tempo!”, retratada na
imagem 1, revela a rede de dispositivos acionados em sua arquitetura no ambiente
virtual de aprendizagem Moodle. Neste contexto, dos ciberatos formativos
compartilhados, tomamos de empréstimo a característica da usabilidade do hipertexto,
ao permitir “o estabelecimento básico de padrões estéticos e funcionais que ajudam e
facilitam a leitura e/ou navegação do estudante no ambiente de aprendizagem”
(SANTOS e SILVA, 2009, p. 132), o que facilita o acesso à informação, aos conteúdos,
aos fóruns, e à navegabilidade.
Reparem que, para uma melhor compreensão do aluno na hora da sua
participação online, a aula “O que é Cibercultura? Educando em nosso tempo!”
(Imagem 1) está dividida por eixos (atividades, material de estudo com os links para os
vídeos no YouTube e para os artigos online, os indicadores da avaliação e os fóruns de
discussão divididos por polos).
O estudante na multilinearidade “pode começar a ler por onde quiser,
interromper sua leitura e partir para outra parte ou até mesmo algo diferente” (SANTOS
e SILVA, 2009, p. 132). Deste modo, o ambiente apresenta eixos abertos, inicia
levantando questões e dando informações, no eixo “Atividades”, aos alunos informa
quais são os objetivos e as interfaces que devem ser utilizadas. Ao discente é oferecido
mais liberdade para exercício da criatividade, deixando-os livres, inclusive, para
escolher por onde começar suas leituras e atividades, uma vez que a multilinearidade é
uma leitura sem hierarquias e sem rotas definidas.
No hipertexto interativo, “a intertextualidade é a característica de conectar
documentos externos ao ambiente do curso” (SANTOS; SILVA, 2009, p. 135). Ela
contribui também para que as práticas docentes online ganhem mais capilaridades
contribuindo para a tessitura do conhecimento dentro-fora do ambiente moodle. A partir
da abertura de cinco fóruns, são estabelecidos diálogos entre docente-discente-
discentes-docente segundo o agrupamento tutor-polos. Esses diálogos são estabelecidos
para cada um dos cincos vídeos propostos na aula 1, os quais pertencem à série “Educar
na Cibercultura”, coordenada pela Prof. Dra. Edméa Santos, do Programa Salto para o
Futuro, canal Futura, disponíveis no YouTube; são eles: programa 1 – EAD: antes e
depois da cibercultura; programa 2 – A docência online; programa 3 – Currículo
Multirreferencial; programa 4 – Outros olhares: inclusão de pessoas com deficiência; e
programa 5 – Cibercultura e Educação em debate. Também são disponibilizados online
os artigos científicos: EAD: antes e depois da cibercultura; A pesquisa e a cibercultura
como fundamentos para a docência online; O currículo multirreferencial: outros
espaçostempos para a educação online; Cibercultura o que muda na educação.
Tanto no eixo “Avaliação” como no eixo “Fóruns de discussão” usamos a
intratextualidade, que conecta uma interface à outra dentro do próprio ambiente. São
conexões de interfaces dentro de um mesmo documento. A multivocalidade é marcada
pelos vários pontos de vista, abarcando uma gama de conceitos sobre um tema, pois
“quanto mais complexo e multirreferencial, mais polifonia. Quanto mais diversidade e
referencias diferentes, mais possibilidade terá o estudante de construir seus pontos de
vistas” (SANTOS, SILVA, 2009, p. 133).
As conversas disparadas com ciberatos formativos compartilhados, nessa
pesquisa-formação multirreferencial com o cotidiano dos cursistas e docente online da
disciplina informática na educação, foram organizadas em “noções subsunçoras”
(MACEDO, 2006) que emergem à medida que o pesquisador faz sua leitura
interpretativa dos dados sistematizados, revelando significados, recorrências, relações
estruturadas, contradições. Para Moreira,
O “subsunçor” é um conceito, uma ideia, uma proposição já existente na estrutura cognitiva, capaz de servir de ancoradouro a uma nova informação de modo que esta adquira, assim, significado para o indivíduo (isto é, que ele tenha condições de atribuir significados a essa informação) (MOREIRA, 2006, p. 15).
Foram nos movimentos das competências teóricas e analíticas e da apreensão
fina da realidade do cotidiano desta pesquisa, que emergiu a noção subsunçora “....”,
como podemos compreender a seguir.
Achados dos Ciberatos Formativo Compartilhados: Experiências Compartilhadas Multirreferenciais
Para esse trabalho, selecionamos algumas das narrativas que surgiram no fórum
4, pelo ambiente virtual moodle, que corresponde a cinco fóruns referentes à série do
Programa da TV supracitados, cujo vídeo “Outros olhares sobre cibercultura e
educação”. Teve a participação de três professoras integrantes do GPDOC, Margareth
Olegário (imagem 2), Rachel Colacique e Valeria de Oliveira; especialistas na área de
educação especial de estudantes com deficiências sensoriais - cegos, com baixa visão,
surdos e surdocegos, deixaram suas contribuições sobre a inclusão em tempos de
cibercultura.
Selecionamos esse dispositivo, o vídeo, por revelar a importância de promover
debates, trazer dilemas, práticas e saberes dos graduandos do curso de Licenciatura em
pedagogia, além da importância nos dias atuais de tais discussões. Assim como os
demais tempoespaços, a rede é para todos. Discussões nesse nível são fundamentais
para compreensão de olhares outros sobre a formação.
Imagem 2. Vídeo do Salto para Futuro sobre a inclusão em tempos de cibercultura https://www.youtube.com/watch?v=AIA1ncR3T4Y
No vídeo 4, “Outros olhares sobre cibercultura e educação”, percebemos as
especificidades referentes à inclusão de pessoas com deficiência, principalmente no que
se refere ao ciberespaço. Margareth Olegário, implicada com a temática, vivencia em
seu cotidiano novas prática de inclusão digital. Ao apropriar-se de dispositivos móveis
conectados em rede, Olegário, por se uma pessoa com deficiência visual total, a partir
do uso de softwares leitores de tela, editores de textos e hardwares que possibilitam
acessibilidade online.
Embora tenhamos um depoimento de caráter formativo, é a partir dos ciberatos
formativos compartilhados no fórum que as questões formuladas pelo docente online
vão compondo os atos de currículo. Nesse ambiente de interatividade, a formação de
novos docentes sensíveis às práticas inclusivas online é incentivada e praticadas.
Revisitando o fórum de 2014.2 do docente online Felipe, buscamos trazer as impressões
e questões do docente e alguns estudantes. Esses olhares fizeram com que buscássemos
um diálogo direto com uma das entrevistadas no vídeo. Pistas sobre os lugares dos quais
falamos e o quanto estamos sensíveis à tais práticas surgem nas diferentes falas.
Rastreamos, portanto, os ciberatos formativos partilhados nesse fórum e, para compor
esse artigo, fizemos um recorte a partir de postagens inicial do docente online Felipe e
alguns dos desdobramentos da sua proposta de debate.
1. Por Felipe Tutor à distância: Olá Pessoal! No programa 4 foi discutido sobre outros olhares na cibercultura. Em vista disto, como podemos compreender e pensar em ações acessíveis com o uso das
redes digitais para pessoas com deficiência nas práticas educativas? Como as tecnologias assistivas potencializam e contribuem no processo de aprendizagem e ensino? Quais aplicativos e/ou softwares que podem ajudar na acessibilidade de um ambiente online e o papel da prática docente neste contexto? (Postagem 1. Fórum 4, 2014.2)
2. Por Gabriela Aluna - UERJ - PLI - BRO: Olá Felipe! Confesso que não tenho muito conhecimento em relação a esses tipos de softwares, mas resolvi pesquisar e encontrei o sistema operacional DosVox que está sendo desenvolvido pelo núcleo de computação eletrônica da UFRJ. O sistema permite que pessoas cegas utilizem o microcomputador para desempenhar as tarefas de forma independente. (Postagem 2. Fórum 4, 2014.2)
3. Por Altamir Aluno - UERJ - PLI - BRO: Olá Gabriela! É vero! Passa também pela chamada "ética de mercado". Não é viável para o capitalismo que detém o poder na área da cibercultura, fabricar alguns, talvez, milhares de aparelhos ou disponibilizar programas específicos para atender à acessibilidade para inclusão na cibercultura. Priorizam os bilhares de engenhocas cibernéticas lançadas no mercado todos os dias. (Postagem 3. Fórum 4, 2014.2)
4. Gabriela Aluna - UERJ - PLI - BRO: É verdade Altamir! Infelizmente essa é nossa realidade, mas, cabe a nós como estudantes de pedagogia mudarmos esse contexto, pelo menos, em nosso cotidiano escolar. Precisamos buscar novas possibilidades em nossas práticas sempre, principalmente para processo de acessibilidade. A própria sociedade exclui as pessoas com deficiência, porém, acredito que isso está mudando e a tecnologia pode ser uma forma de agilizar esse processo, pois ela permite o acesso rápido às informações e pode ser nossa aliada para eliminar barreiras sociais e para buscar, criar e adotar programas adequados às pessoas com deficiência; divulgar conteúdos em formatos alternativos e oferecer dispositivos de tecnologia de apoio. (Postagem 4. Fórum 4, 2014.2)
5. Por Maria Aluna - UERJ - PLI - BRO: Oi Ionara, realmente há uma lentidão muito grande quando se trata de inclusão digital de pessoas com necessidades especiais, apesar de existir softwares de leitores de tela como: DOS VOX, NVDA, dentre outros, que permitem a leitura de e-mail, site e jogos interativos, facilitando a pesquisa e possibilitando ao aluno estudar em casa ou em Lan House e até mesmo de fazer cursos à distância, mas que não estão ao alcance dos alunos de baixa renda, pois o custo é muito alto. Porém a escola poderá viabilizar este acesso e através de um professor habilitado, os conteúdos trabalhados em sala de aula poderão ser conciliados aos da informática melhorando assim o desempenho do aluno. (Postagem 5. Fórum 4, 2014.2)
Gabriele, embora declare desconhecer a temática e falta de experiência, busca na
rede informações sobre tais softwares. Assim como acontece com a maioria das pessoas
que pesquisam sobre a matéria, em geral a primeira informação que surge é o sistema
DOS VOX, entretanto, essa não é a melhor opção para quem deseja manter-se
conectado à rede. O leitor de tela do sistema operacional DOS VOX, na realidade não
tem a função de navegar na rede, ele simplesmente leva para dentro do seu sistema as
informações textuais convertidas para o formato TXT.
Engajada, Gabriele chama Altamir e o grupo para uma reflexão acerca da
necessidade de se manter o compromisso com a busca de novas práticas inclusivas no
processo educacional. No cerne da questão, Gabriela toca em um ponto que deve ser a
base de qualquer discussão sobre inclusão e sem a qual não se concretiza qualquer
projeto inclusivo, a acessibilidade.
Por conseguinte, não basta à pessoa com deficiência visual ter em seu poder, por
exemplo, o software “x”, “y” ou “z”, seja qual for o recurso de TA que utilizar, antes o
ambiente virtual deve franquear a entrada do programa leitor de tela. O Moodle, por
exemplo, não permite que o leitor de tela do DOS VOX capture seus textos. Na
realidade, um estudante com deficiência visual total que só faz uso do DOS VOX
depende de alguém para acessar seu ambiente virtual de aprendizagem (AVA); mas se
esse mesmo estudante também domina o software NVDA (que roda no sistema
Windows) ou ORCA (próprio do LINUX), e ainda o Moodle tiver sido planejado para o
acesso de pessoas com deficiência visual total, esse estudante não terá qualquer
impedimento, poderá exercer sua autonomia ao acessar o AVA, interagir com seus pares
e cumprir suas tarefas e atividades acadêmicas. É dessa mudança de paradigma que
Gabriela está falando na postagem 4, embora esteja se familiarizando com os termos
técnicos, sua reflexão e posicionamento são perfeitos.
Na postagem 5, Maria demonstra o que pode aprender sobre os possíveis uso de
um leitor de tela, sita o Dos Vox e o NVDA e, ao concluir sua participação, ressalta a
responsabilidade da escola em formar o professor para o uso consciente de trais
softwares para incluir seus alunos.
Pelo exposto, é possível assumir que “experiências compartilhadas
multirreferenciais” é a noção que emerge desse fórum. Experiências por estarem
articuladas com os acontecimentos das narrativas e atos sobre aquilo que digo do
vivido, do que toca e do que altera. O compartilhar nos convida ir ao encontro com
outro, implicado com uma formação não redutora, dos sujeitos constituídos nas suas
pluralidades pelos espaços multirreferenciais de aprendizagem.
Para Brunham (2012), os espaços multirreferenciais de aprendizagem referem-se
aos ambientes “onde conhecimentos são decifrados, decodificados, traduzidos,
produzidos, partilhados, compreendidos, internalizados para a construção da
subjetividade” (BURNHAM, 2012, p. 117). Assim, os espaços multirreferenciais
valorizam e afiliam o conhecimento que se materializa nas interações cotidianas online
dos atos de currículo, junto ao ato de pesquisar, com os praticantes que aí intercambiam
saberes, suas práticas, seus gostos, seus sentimentos, suas emoções, suas necessidades e
seus desejos.
As experiências compartilhadas multirreferenciais nesses espaços de
aprendizagem realizam atividades intensivas através de processos de produção, de troca
de saberes, difusão de informações com o grupo, construindo o conhecimento de forma
participativa a partir da cooperação.
Considerações em Construção
Com este trabalho, buscamos discutir sobre a e-acessibilidade em ambiente
virtual de aprendizagem online, com o cotidiano dos/das cursistas da Licenciatura em
Pedagogia UERJ/CEDERJ. Dialogamos com os ciberatos formativos compartilhados,
com a pesquisa-formação multirreferencial, percebendo, nesse contexto, a noção de
experiências formativas compartilhadas que emerge a partir das trocas interativas
online.
Portanto, esta investigação revelou que cada vez mais é necessário o debate
sobre as questões que envolvem a inclusão de estudantes com deficiência visual em
cursos online. A promoção de diálogos dessa natureza favorece, abertamente, a troca de
experiências e contribui para a reflexão dos praticantes culturais envolvidos nesse
contexto. Tais experiências permitem que suas ações e práticas cotidianas sofram
transformações a partir desses atos formativos de currículo.
Referências
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