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Um Registro Afetivo da praça do Ferreira Bancos que contam histórias

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Trabalho realizado na disciplina de Antropologia no curso de Publicidade e Propaganda da UFC

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Um Registro Afetivo da praça do Ferreira

Bancos que contam histórias

Os vinténs do Seu Cauby

Cauby é seu nome, frequentador da praça do Ferreira desdedezembro de 1931 e, todos os dias as 7:30 acorda desejandoque o dia seja muito bom e vem para a praça em busca declientes para comprar e vender dinheiro antigo, assimcomo jogar conversa fora..

Os shoppings foram os responsáveis por levar osfrequentadores do centro e adicionou que, da Rua SãoPaulo até ali no Passeio Público, quase não existe maismovimento, pois agora ninguém tem mais tempo de�car andando no centro, principalmente no sol quente.

Mas, para ele, o centro melhorou muito no quesitosegurança nos dois últimos anos, agora ele já �camais tranquilo ao vir trabalhar.

Aquele senhor possui um sonho deconstruir um museu para apresentaras suas inúmeras coleções, incluindoquadros, chaleiras, máquinas fotogra�case também as células e moedas, tudoconquistado ao longo de 30 anos.

“ Um dia hei de abrir meu próprio museu.”Cauby dos Santos

Questionado sobre o que ainda precisava para abrir o museu,veio logo a resposta: dinheiro! Logo o seu Cauby, esse que todosos dias lida com moedas e cédulas, dono da primeira moedaque circulou no Brasil ...

Para se despedir, seu Cauby foi at;é a livraria e voltou com 5 cartões postaisdo Hotel Excelsior, o prédio mais alto de Fortaleza, sua intenção era quecada integrante guardasse o presente para depois mostrar para os seus�lhos aquele marco tão importante na sociedade fortalezense.

Em seguida, Seu Cauby tocou as mãos de uma das integrantes do grupoe entregou, sorrindo, uma moeda e completou dizendo: “Nunca mais irãopoder dizer que você não vale um vitém, pois agora você tem um.”

Um minuto demuitas informações

Seu Luís Holanda foi um dos que nos abardou paracontar um pouco da Praça do Ferreira, praça estaque, de acordo com ele, passa mais tempo nela doque no seu próprio trabalho.

“Eu ando aqui na Praça do Ferreira há 29 anos, trabalhoaqui no edifício Lobraz. E sempre que eu tenho folga,eu desço pra cá, mas eu vivo mais aqui na praça doque propriamente no trabalho”.

Ele nos abordou perguntando se conhecíamoso Cajueiro da Mentira e, com a nossa respostanegativa, ele nos levou para debaixo do cajueiropara mostrar a placa que falava um pouco doporque do nome.

Falou também sobre o “prédio mais antigo dealvenaria na América”, o Excelsior Hotel.

Sobre a particularidade do Cinema São Luís...

Falou sobre o Savanah Hotel, que já hospedeupessoas ilustres como o Pelé e o Roberto Carlose que atualmente foi renovado para sediar umafaculdade.

... que foi construído com o raro mármoreCarrara e que atualmente está sendo reformado,mas que irá manter a estrutura de dentro.

“ Eu vivo mais aqui na praça do que propriamente no trabalho”

Luís Holanda

e para �nalizar, Seu Luís contou que o relógio da praçafoi doado pela família italiana Da Francesco e era umlocal em que os animais antigamente eram amarrados.

E Seu Luís encerrou: “Tá bom assim? Deu pra entender, né?”e saiu andando apressado para longe e nos deixando comas informações ditas tão aceleradas, mas com umapropriedade de quem sabe que está falando de casa.

A verdade sobre ocajueiro da mentira

À sombra do cajueiro da mentira, Ronaldo, o guardião dorelógio, e Reinaldo, um comediante, nos contam as históriase impressões adquiridas com suas vivências na Praça do Ferreira.

Por último, Reinaldo aponta para a frentee diz: esse aqui era meu. Eu morava nele,mas cedi a moradia pra esse rapaz queagora dorme.

A primeira lição vem ao dizerem que em cada bancoda praça sentam pessoas com ‘papos’ diferentes. A praçaé dividida em zonas, contam. Existe o banco dos radialistase dos jogadores de futebol..

Perto dele �ca o banco dos aposentadospobres. Já os aposentados ricos, preferem�car do outro lado da praça.

Entre esses existe o banco dos músicos e, logo aolado, a dos “véi enxerido”, que �cam estrategicamenteposicionados para levantarem as saias das garotasque passam por perto.

Mais distante desse último,tem o banco dos mudos, que,segundo o comediante, fazema maior “zuada”.

Há também o banco dos que vem praesperar sopa e o dos homossexuais

“ Rapaz, eu tô embaixo do pé de cajueiro, mas isso aí é verdade".

Reinaldo Cornélio

Outro relato interessante é o que conta um caso envolvendo o dono do prédioSão Luís: O dono estava sentado no banco da praça fumando um cigarro quando um senhor sentou ao lado dele e falou: o senhor fuma? Fumo. Há quanto tempo?Tá com quarenta anos que eu fumo. Pois, se você tivesse parado de fumar,você tinha dinheiro pra comprar um prédio desses. E o senhor, fuma? Não.Pois eu fumo e sou o dono do prédio, eu sou o Luís Severiano Ribeiro,conta Reinaldo, entusiasmado.

Apontam o prédio da Caixa Econômica e informamque ali foi construído o primeiro elevador do Ceará,que ninguém conseguia usar porque os cearenses�cavam “pra baixo e pra cima no mesmo andar”.

Ronaldo lembra, ainda, o curioso fato de existir umagaleria subterrânea abaixo da praça, onde antigamentefuncionava uma livraria, hoje desativada.

E lembra também, dos inúmeros moradores de ruas e bebâdosque quiseram tomar banho no poço que �ca embaixo do relógio.

E Ronaldo con�rma que as histórias são verdadeiras,mesmo estando embaixo do cajueiro da mentira.

Ensinamentos deum sábio popular

Ao começar a história do lugar, não consegueconter o choro e tira um lenço do bolso parasecar as lágrimas

Um dos senhores que estava ao redor do engraxatelogo anuncia “Se quiser conhecer a história da praça,ninguém melhor que o Pirrita pra lhe contar”.

José Bonifácio, mais conhecido como Pirrita, dá uma pausaem seu serviço e dedica um pouco do seu tempo paraconversar conosco sobre a Praça do Ferreira. Fala baixinhoe começa meio tímido, contando que há 55 anos trabalhanaquele lugar como engraxate.

A Praça tem um grande signi�cado para ele,que veio de Barbalha para Fortaleza muitonovo, deixando mãe e irmãs em busca deoportunidades na capital.

“Quando dá sete, oito da noite, o pessoal passaapressado, com medo de assalto, e a praçavai �cando cada vez mais vazia”

Mas nos conta, com um tom de voz mais triste,que hoje as pessoas nem reparam mais na praça.Passam apressadas que deixaram de tê-la comoum local de encontro.

Conta que a praça já passou por três reformas,e que a atual estrutura pouco se parece com olugar que conheceu a mais de meio século atrás.

Era o lugar mais importantede Fortaleza, se viesse paracá e não passasse pela praça,era mesmo que não ter

Ele pensa que, por causa disso, o lugar não émais bem cuidado. Os bancos pichados e sujos,o chão esburacado. Apenas o jardim é preservadopor uma empresa privada

Um dia, conseguiu um serviço de transporte de carga:“Era pr’eu levar a carga lá pro Crato... E eu pensei logo: ‘vou passar em Barbalha pra visitar a família!’,e foi isso que eu �z”.

O que eu não esperava, era que apenas uma irmã ainda morasse na casa queele passou a infância. E, no dia em que ele chegou, ela havia saído, mas deixouavisado no vizinho que tinha passado e que tava em Fortaleza trabalhandona Praça do Ferreira

Nunca mandou carta pra elas: “Eu num sei escrever nemo meu nome, nunca frequentei nem essas escolinhas dequintal, num tinha como eu falar com elas”

Mas, para sua surpresa, um mês depois, uma mulher chegou na Praça em buscade um jovem, mas ninguém nunca tinha ouvido falar do tal do “Bonifácio” que elatanto procurava com uma foto muito antiga em mãos, “Até que ela chegou pramim e perguntou: ‘você já viu esse homem?’, e eu percebi que era eu na hora, né?Mas disse que não, falei que era uma foto muito antiga e num teria como saber”.Ela explicou pra ele que era um irmão que há anos não via, mas que buscavamuito reencontrar, sendo que a única informação que tinha dele era quetrabalhava na praça.

Nos conta dos tempos em começou a trabalhar no Abrigo Central,construído após uma licitação que Edson Queiroz ganhou. Trabalhavacomo engraxate desde essa época: “Lá no abrigo tinham 64 engraxatesque trabalhavam �xos. Eram 32 por turno. Uma parte trabalhava atéuma da tarde, e a outra a partir desse horário” .

Lembra, ainda, dos cafés e livrarias que movimentavamo Abrigo que, anos depois, foi destruído sob a falsa alegação de que o prédio estava caindo.

Eu falei que era eu o moço da foto e foi aquela festa. Três meses depois elaapareceu com minhas outras irmãs aqui e foi uma felicidade muito grande verelas de novo. Agora a gente não passa mais anos sem se falar.”

“ O que existe é o momento, a gente que escolhe o que vai fazer dele.”

Seu Pirrita

Hoje, seu Pirrita coleciona clientes, amigos e admiradores.E, na despedida, faz questão de deixar um conselho dequem muito viveu e muito tem a ensinar:

Nós nascemos e depois morremos. Lembrem sempre de que nósviemos aqui pra esse mundo só passar umas férias. Aproveitem!Desfrutem da melhor maneira e façam aquilo tudo que ‘cés’ têmvontade de fazer, nós estamos aqui pra isso. O mundo é nossocom toda a liberdade que a gente construir. A gente que constróinossa própria liberdade. A gente é que faz o amor, o carinho, apaixão. Sem a gente isso tudo não existe. Amor não existe, felicidade não existe. O que existe é o momento, a gente que escolhe o que vai fazer dele... Penso que seja assim!

FIM!

FOTOGRAFIAIgor Cavalvante

ROTEIROCecília Elsa

Giulianne CidadeKarine Felipe

DIREÇÃO DE ARTEVanessa Estevam

ATORESCauby dos Santos

Luís HolandaReinaldoRonaldo

José Bonifácio (Pirrita)