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NÚMERO 35 15 DE OUTUBRO A 15 DE NOVEMBRO DE 2005 1 Fracassa a tentativa da Junta de 'galeguizar' Uniom Fenosa ACS FAI-SE COM O CONTROLO COMPRANDO AS ACÇONS DO SCH REDACÇOM / Sem dúvida, a Oferta Pública de Acçons (OPA) que Gás Natural lançou sobre Endesa é o pano de fundo desta nova operaçom. Com a previsível rees- truturaçom do oligopólio energé- tico, Fenosa adquire um valor especial, nomeadamente no comércio internacional, como o latino-americano e o asiático, onde este tipo de empresas con- tam com enormes facilidades, e até impunidade, para monopoli- zarem os mercados. Fenosa con- trola, por exemplo, o abasteci- mento energético de polo menos 10 países latino-americanos. Assim, esta eléctrica converteu- se no objectivo prioritário tanto do empresariado galego ou das empresas portuguesas Galp e Electricidade de Portugal (EPP), como do capital espanhol interes- sado em manter Madrid como centro das grandes fortunas espanholas. E este último sector financeiro foi o que acabou por ganhar. Um telefonema a Emílio Botim do multimilionário Carlos March, presidente da Coorpor- açom Financeira Alba, principal accionista de ACS (Actividades de Construçons e Serviços SA), frustrou os movimentos de gran- des empresários galegos, encabe- çados por Amancio Ortega e apoiados pola Junta, que preten- diam fazer-se com o controlo da Eléctrica. O resultado foi a com- pra por parte de ACS (que já figu- ra entre as 500 empresas mais poderosas do mundo) das acçons do Banco Santader Central Hispano (SCH), convertendo-se no grupo dominante em Fenosa, com umha participaçom de 22,07%, por meio de umha socie- dade anónima da sua proprieda- de: Promotora de Projectos Integrados (PR Pisa). No entanto, fontes críticas com a actual gestom energética consul- tadas por NOVAS DA GALIZA, afirmam que a 'galeguizaçom' de Fenosa nom ia implicar nenhuma obrigaçom para que a companhia melhorasse o serviço na Galiza, especialmente deficiente apesar de produzirmos 10% de toda a energia eléctrica estatal. / Pag. 10 Conselharia do Ambiente resolve adiar compostagem em favor de central de biomassa em Cerzeda / 06 E AINDA... CONSELHO DA EUROPA recomenda imersom lingüística no ensino para o galego / 05 INDEPENDENTISMO CELEBRA EM Vigo e Carral o dia da Galiza Combatente / 07 Vai-se o petróleo, volta o agro por Gustavo Luca de Tena / 02 Terra da… cinza por Anxo Collarte / 03 "Queremos romper com os preconceitos, demonstrando que a sociedade galega é dinámica e a realidade política nom é um reflexo da realidade social" Ângelo Pineda Marinho, membro do Espaço Galego dos Países Cataláns PÁGINA 16 Os novos problemas da costeira do bonito Francisco Vázquez reaparece no debate territorial com umha enorme bandeira espanhola no passeio de Orçám Pretende que seja a localizaçom permanente do estandarte, que já provocou cargas e detençons no dia da Hispanidade REDACÇOM / Ano após ano, em acabando as festas do Carmo, dos nossos portos cantábricos partem para as costas açoria- nas os barcos que participam na actividade piscatória por excelência dos meses do Verao: a costeira do bonito. Há já mais de dez anos que marinheiros bascos e galegos se enfrentárom, perante o desleixo das instituiçons espanholas, à frota francesa e británica que utilizava méto- dos de pesca depredadores com os recursos marinhos. Era a chamada 'guerra do bonito'. Hoje, as volantas, apesar das duras negociaçons que conduzírom à sua elimi- naçom, som proibidas, e ape- sar da reduçom da frota boni- teira imposta pola UE, alguns barcos voltam ao trabalho após o fim das hostilidades entre boniteiros tradicionais e volanteiros, e conseqüente- mente, a recuperaçom do volume dos bancos de bonito. Mas quando parecia que o aumento das capturas estava a propiciar a recuperaçom do sector, outros problemas pai- ram na actualidade sobre a pesca do bonito. As oscila- çons dos preços e do volume de capturas pode ser abismal de ano para ano e mesmo dentro de umha mesma tem- porada. Esta circunstáncia, assim como a subida dos pre- ços do gasóleo, parecem ter relaçom com o facto de que as vendas de peixe mal cubram os custos da activida- de piscatória. / Pag. 14 A lenta recuperaçom da pesca enfrenta outros problemas, como a subida do preço do gasóleo PÁGINA 04

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NÚMERO 35 15 DE OUTUBRO A 15 DE NOVEMBRO DE 2005 1 €

Fracassa a tentativa da Junta de'galeguizar' Uniom FenosaACS FAI-SE COM O CONTROLO COMPRANDO AS ACÇONS DO SCH

REDACÇOM / Sem dúvida, a OfertaPública de Acçons (OPA) queGás Natural lançou sobre Endesaé o pano de fundo desta novaoperaçom. Com a previsível rees-truturaçom do oligopólio energé-tico, Fenosa adquire um valorespecial, nomeadamente nocomércio internacional, como olatino-americano e o asiático,onde este tipo de empresas con-tam com enormes facilidades, eaté impunidade, para monopoli-zarem os mercados. Fenosa con-trola, por exemplo, o abasteci-mento energético de polo menos10 países latino-americanos.Assim, esta eléctrica converteu-se no objectivo prioritário tantodo empresariado galego ou das

empresas portuguesas Galp eElectricidade de Portugal (EPP),como do capital espanhol interes-sado em manter Madrid comocentro das grandes fortunasespanholas. E este último sectorfinanceiro foi o que acabou porganhar. Um telefonema a EmílioBotim do multimilionário CarlosMarch, presidente da Coorpor-açom Financeira Alba, principalaccionista de ACS (Actividadesde Construçons e Serviços SA),frustrou os movimentos de gran-des empresários galegos, encabe-çados por Amancio Ortega eapoiados pola Junta, que preten-diam fazer-se com o controlo daEléctrica. O resultado foi a com-pra por parte de ACS (que já figu-

ra entre as 500 empresas maispoderosas do mundo) das acçonsdo Banco Santader CentralHispano (SCH), convertendo-seno grupo dominante em Fenosa,com umha participaçom de22,07%, por meio de umha socie-dade anónima da sua proprieda-de: Promotora de ProjectosIntegrados (PR Pisa).No entanto, fontes críticas com aactual gestom energética consul-tadas por NOVAS DA GALIZA,afirmam que a 'galeguizaçom' deFenosa nom ia implicar nenhumaobrigaçom para que a companhiamelhorasse o serviço na Galiza,especialmente deficiente apesarde produzirmos 10% de toda aenergia eléctrica estatal. / Pag. 10

Conselharia do Ambiente resolve adiarcompostagem em favor de central debiomassa em Cerzeda / 06

E AINDA...

CONSELHO DA EUROPA recomenda imersomlingüística no ensino para o galego / 05

INDEPENDENTISMO CELEBRA EM Vigo e Carralo dia da Galiza Combatente / 07

Vai-se o petróleo, volta o agropor Gustavo Luca de Tena / 02

Terra da… cinza por Anxo Collarte / 03

"Queremos romper com os preconceitos, demonstrando que a sociedade galegaé dinámica e a realidade política nom é um reflexo da realidade social"Ângelo Pineda Marinho, membro do Espaço Galego dos Países Cataláns PÁGINA 16

Os novos problemasda costeira do bonito

Francisco Vázquez reaparece no debateterritorial com umha enorme bandeiraespanhola no passeio de Orçám

Pretende que seja a localizaçom permanentedo estandarte, que já provocou cargas edetençons no dia da Hispanidade

REDACÇOM / Ano após ano, emacabando as festas do Carmo,dos nossos portos cantábricospartem para as costas açoria-nas os barcos que participamna actividade piscatória porexcelência dos meses doVerao: a costeira do bonito.Há já mais de dez anos quemarinheiros bascos e galegosse enfrentárom, perante odesleixo das instituiçonsespanholas, à frota francesa ebritánica que utilizava méto-dos de pesca depredadorescom os recursos marinhos.Era a chamada 'guerra dobonito'. Hoje, as volantas,apesar das duras negociaçonsque conduzírom à sua elimi-naçom, som proibidas, e ape-sar da reduçom da frota boni-teira imposta pola UE, alguns

barcos voltam ao trabalhoapós o fim das hostilidadesentre boniteiros tradicionaise volanteiros, e conseqüente-mente, a recuperaçom dovolume dos bancos de bonito.Mas quando parecia que oaumento das capturas estavaa propiciar a recuperaçom dosector, outros problemas pai-ram na actualidade sobre apesca do bonito. As oscila-çons dos preços e do volumede capturas pode ser abismalde ano para ano e mesmodentro de umha mesma tem-porada. Esta circunstáncia,assim como a subida dos pre-ços do gasóleo, parecem terrelaçom com o facto de queas vendas de peixe malcubram os custos da activida-de piscatória. / Pag. 14

A lenta recuperaçom da pesca enfrenta outrosproblemas, como a subida do preço do gasóleo

PÁGINA 04

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NOVAS DA GALIZA15 de Outubro a 15 de Novembro de 200502 OPINIOM

Asubida do petróleo provo-cada pola invasom doIraque baixa a tensom do

sangue em todo o mundo. Ospaíses industrializados estámparalisados polo terror e aGrande Imprensa fai um esfor-ço por colocar em primeira pági-na outros assuntos que dis-traiam a atençom. Trata-se deque o universo leitor nom rela-cione o problema dos combustí-veis fósseis com o aumento dospreços e com o devalo da vida. O esforço por afastar a vista doproblema revela bem às clarasque o assunto nom é umhabrincadeira. O matemáticoYves Cochet, que fora ministrodo Meio Ambiente no governode Lionel Jospin, diz que ape-sar de nom vivermos umhaapocalipse (calcula que haverápetróleo até 2050) temos queassumir que assistimos ao finalda era do petróleo regaladoque assegurou o crescimentodo Norte do planeta duranteos últimos 150 anos.Um poço de petróleo porta-secoma umha garrafa de cham-panhe: recém aberta rebordamais umha vez e só se pode ser-vir botando mao da lei de fluí-dos. Para os petroleiros, o 'peakoil' é o topo, ou pico da pirámi-de, e depois de superado todo o

caminho é costa abaixo. Nascampas de Texas, o petróleosuperou o 'peak oil' em 1970 e apolítica exterior norte-america-na consiste desde entom emamarrar as reservas do mundo. Acabada metade da dotaçominicial da terra, ficam reservasnos grandes fundos marinhos enas areias asfálticas do Canadá,de extracçom mais cara e com-plicada. Há quem prefira pensarque o fim do petróleo barato

nom será morte de homem.Yves Cochet lembra que dopetróleo depende o transporte.30% do preço de um bilhete deaviom vai para o querosene.Com o petróleo caro em 2010,senom antes, terám desapareci-do as companhias marginais, oque deixará as indústrias de sole praia em estado agónico. Oaumento dos custos da agricul-tura e do transporte de alimen-tos acabará com as grandes

cadeias de distribuiçom, os'hiper', que funcionam mercê apreços de transporte mínimos.Se esta visom chega a ser reali-dade, soará a hora de revisar ossistemas agrícolas. Para produ-zir umha caloria com forma dealimento, hoje som precisas 13de energia. Só aproximando olugar de produçom ao de consu-mo, com sistemas de cultivotradicionais e mediante a redu-çom de calorias de origem ani-

mal (que requerem mais calo-rias para serem produzidas)poderemos substituir as gran-des multinacionais de preçosimbatíveis.Nos primeiros anos sessenta eravivíssimo o debate sobre o futu-ro da agricultura na Galiza, comainda mais de 30% do censoactivo dedicado ao campo.Todos os argumentos em prolda industrializaçom do agro tin-ham o seu alicerce no petróleooferecido. Que pouco durouaquela razom tam arrogante eindiscutível. A realidade dehoje já nom se parece nem à daFrança (à qual compramos asverduras, aliás) porque todas ascidades francesas recebem ofresco do seu próprio cinto agrí-cola. A Vigo ou à Corunha che-gam repolos e maçás do AltoAdigio!Já há quem se ponha de cunhasao ouvir este argumento porquepensa que a agricultura indus-trial nom tem alavanca de mar-cha atrás. É o mesmo que se dixoaos agraristas há agora cem anos.Alcunhando-os de anacrónicos,pretendiam acabar com aqueladefesa do direito a viver e habi-tar a própria terra que levavadentro toda a potência da con-vicçom nacionalista. Quer quei-ram quer nom, terá que renascera agricultura do País, que nomvai ser como a de há cem anos,mas que levará dentro o mesmocerne nacionalista que defen-deu, e nom é cativa a prenda, alíngua durante 500 anos e contratudo o que choveu. Desta feita, já nom poderámdizer que nom é moderno.

Vai-se o petróleo, volta o agro

O PELOURINHO DO NOVAS

Se tens algumha crítica a fazer, algumfacto a denunciar, ou desejas transmi-tir-nos algumha inquietaçom oumesmo algumha opiniom sobre qual-quer artigo aparecido nas NGZ, este éo teu lugar. As cartas enviadas deve-rám ser originais e nom poderámexceder as trinta linhas digitadas acomputador. É imprescindível que ostextos estejam assinados. Em casocontrário, NOVAS DA GALIZA reserva-seo direito de publicar estas colabora-çons, como também de resumi-las ouextractá-las quando se consideraroportuno. Também poderám ser des-cartadas aquelas cartas que ostenta-rem algum género de desrespeitopessoal ou promoverem condutasantisociais intoleráveis. Endereço: [email protected]

GUSTAVO LUCA DE TENA

MORATINOS. ENTRELINHASE OMISSÕES.

O chefe da diplomacia espanhola,Miguel Ángel Moratinos espraia-seem considerandos sobre a próximacimeira ibero-americana numartigo em El País e não foge à regrado que temos ouvido e lido dealguns outros espanhóispara os quais Madrid não podedeixar de estar no centro do mapa.Até se compreenderia se o mapaem causa fosse apenas o deEspanha e não o de quasemeio-mundo. Assim, por exemplo,logo a abrir tais considerandos,Moratinos rememora o primeiroencontro ibero-americano emGuadalajara (México) em 1991como um "encontro entre Espanhae América" para, poucas linhasabaixo, novamente reduzir aconferência à "relação entreEspanha e a América Latina",chegando a afirmar, depois, que "asCimeiras Ibero-Americanas ten-hem feito mais do que outras

organizaçons internacionais base-adas em critérios de identidadesimilares, como a Commonwealthou a Comunidade francófona".Claro que, depois de ter omitidoPortugal e de ter desgraduado oBrasil à posição de condimento nogaspacho latino-americano, não seesperaria que Moratinos referisse aComunidade dos Países de LínguaPortuguesa como organizaçãobaseada em critérios de identidadelinguística tal como o inglês baseiaa Commonwealth e o francês aFrancofonia. Mas Moratinos não sedá por achado e, supondo-se queele pensa que o castelhano seráafinal o critério da "identidadeibero-americana", não hesitaafirmar que, comparativamentecom as organizações da línguainglesa e da língua francesa, aComunidade Ibero-Americanaresiste vantajosamente, designa-damente "porque a sua identidadeé mais sólida e os valorespartilhados mais abundantes ehomogéneos".Moratinos faz omissões graves,deixando sugerido que o espaçoque Portugal e Brasil partilham

com os parceiros geográficos daPenínsula e da América foi tomadopor usucapião pela língua castel-hana e esta, por sua vez, pelapolítica externa e pela diplomaciaespanhola. No resto das linhas esobretudo nas entrelinhas, Mora-tinos fala da organização ibero-americana como coisa específica da"relação da Espanha com aAmérica", nada admirando que talcoisa específica seja ou acabe porser propriedade titulada da políticaexterna espanhola, embora não odiga porque será feio dizer tal coisaquando se invoca "uma identidademais sólida e valores compartil-hados mais abundantes" do que aidentidade e os valores daanglofonia e da francofonia - alusofonia, para Morantinos, teráentrado na clandestinidade ou,pelo menos não tem direito denação, sendo uma espécie decatalunhazinha da organização queMadrid anseia encabeçar face aParis e a Londres. Lisboa, adiplomacia de Lisboa, o que é issopara fazer face?

Carlos Albino (Portugal)

RESPOSTA A LUÍSGONÇÁLEZ BLASCO 'FOZ'

Se alguém tinha ficado comdúvidas quanto ao méritointelectual e político de LugrisFreire a partir da nota assinada pormim no número 32 do Novas daGaliza, agradeço muito aesclarecedora carta de LuísGonçález Blasco 'Foz' publicada noPelourinho do número 34, poisestivo muito longe do meupropósito depreciar a importánciadeste vulto galeguista. O tomcrítico da nota só pretendiareflectir a frustraçom que paramuitas pessoas, também comcerteza leitores e leitoras, implicouo facto de se ter demorado maisum ano a merecida homenagem aCarvalho Caleiro, sobretudodepois das expectativas levantadaspor alguns meios de comunicaçom,mas sem restar valor a LugrisFreire, cuja obra muito admiro.

Eduardo Sanches Maragoto

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NOVAS DA GALIZA15 de Outubro a 15 de Novembro de 2005 03EDITORIAL

Em meados do passadomês de Setembro, oscabeçalhos da imprensa

regional da cidade de Ourensearrojavam à luz pública ima-gens a toda a cor das obras deum imóvel, dizque de 1.300metros quadrados, qualificando-o como umha "ostentaçom" doquase único alcaide urbano dopartido de centro galego.Semelha ratificar-se que desdehá uns meses, entre a impren-sa regional, ademais de teremmudado os critérios sobre oque é umha imoral ostenta-çom, os antigos dianhos devin-hérom em respeitáveis autori-dades, e muitas das velhas gló-rias populares som já persona-gens execráveis. Sim, no reinodo trombom, o tambor e osplatilhos, já se sabe o que aqualquer lhe pode passar senom é de quem deve ser.Este novo episódio do ajustede contas, perdom, nova criseinterna da direita, surpreenden-te para muitos polo carácterpúblico das labazadas, é umfito mais na recomposiçom delideranças; já se sabe, a partirde dom Manuel, democracia.Tornam as hostilidades numterritório administrativo, deno-minado província de Ourense,que começa a adquirir identida-de própria ao redor de uns sím-bolos a cada passo mais defini-dos entre próprios e estranhos:lumes, 'enchufes' sem cabo,untos e mais untos.Um ciclo farturento para osadaís da maioria natural está aterminar e na 'terra da chispa',comarca por comarca, já seremói há tempo a batalha polaspoltronas, cada vez mais escas-sinhas. Atrás ficam para estepopulismo rapaz, amparadonumha estrutura legal conheci-da como PP, os bons temposvividos desde 1995-1996, emque se chuchou sem travas emtodos os estamentos adminis-trativos. Serviços à cidadaníabem adoçados com fundoseuropeus, nos quais fôrom refi-nados os instrumentos maiscontundentes do clientelismopolítico: refinamento da carre-tagem eleitoral ('há que ir bus-car os votos debaixo daspedras'), generalizaçom do regi-me de internamento dosanciaos (elemento chave narevoluçom democrática queconverteu os concelhos maisabstencionistas nos mais acti-vos na hora de votar, e votarbem), aproveitamento das

amplas margens de fraudeeleitoral concedidas pola nor-mativa eleitoral (distribuiçomde 'papeletas' polas cozinhas,evidentemente com envelopesdiferentes dos oficiais), atéchegar à milagrosa multiplica-çom do censo e do voto emi-grante ao tempo que se pro-clamava o fim da emigraçom,sem esquecer o acosso quoti-diano dos adversários políticos,todos eles bem 'fichados' (háque roubar os votos). A perda do grande delfim, nomeio de um temporal de cha-papote desatou a primeira asso-ada destes galeguistas de todaa vida. E há agora um ano,outro gesto de amor à Galizavia-se correspondido com umhaatroz campanha do despotismodo barrete, que estigmatizavaos da pucha como 'baltarsunos'.Apesar do grande esforçodemocrático deste centro gale-guista para manter o impérioda cuba de cimento e do con-trato temporário de (acende)apagaincêndios, desde Junhosom desafiuzados dos gabine-tes da administraçom autonó-mica os velhos benefactores do'fogar de Breogám'. Somente o paço provincialresiste como baluarte do gale-guismo autêntico e a proximi-dade da cidadania na gestomdos assuntos públicos. Perantea nova situaçom política já seestám a tomar medidas.Rendido o dom Manuel dasegunda Covadonga e cara àproclamaçom do novo caudil-ho, o papel impresso a toda acor nom pára de desmascararem Ourense os inimigos docentro galeguista. Depoisdeste Verao incinerado, porsorte há quem nom se des-oriente, senom que pensa eminiciar a definitiva revolta abordo e abandonar à sua sorteos barretes, e assim, com aexperiência que dam os vel-hos cacicatos, devolver o bomrumo à jangada de xisto elousa. A segunda medidamagistral, denunciar a feloniade uns delegados do novogoverno autonómico, que aoentrarem nos camarotes dosantigos oficiais de domManuel escondêrom as coresque mais reluzem nos nossosmontes: 'rojo y gualda'. (Cabe aguardar que desdeagora estas cores se vaiamextinguindo nos nossos mon-tes, passeios marítimos e atédo país inteiro?)

Quando a petuláncia dos opinólogosclama pola 'galeguizaçom' de Fenosa,algo renge no mais fundo. 'Galeguizar'

empórios, tingir de autóctones saques globali-zados, dar cartom de nacional à permanenteofensiva expropriadora das barragens e as fal-has de corrente, soa tam débil e pouco convin-cente como as declaraçons estereotípicas fabri-cadas nos gabinetes de desenho dos partidos.Por umha associaçom histórica intensa com aperiferia e o infortúnio (e nom por nenhumab o n d a d enatural), aGaliza nomcasa com apretensom deo l i g o p ó l i oexibida poraqueles quesom secunda-r i a m e n t egalegos -e sópor apelidoou querençageográfica- ep r i o r i t a r i a -mente merca-dores -sem-pre nas altasesferas deMadrid.

O tópico aco-modatício e apaz socialvam semprede maosdadas: nomse trata der e v e l a r m o sumha verda-de, com ai r r u p ç o mconseguintede tensionamentos e adversários, como de par-tilharmos tranquilamente um consenso quedistribui quotas de televisom e estreita até aasfíxia o espaço da razom po-lítica. No paraísoneoliberal do melhor mundo possível, as es-querdas e as direitas da alternáncia calculamfuturos e progressos nas decisons finais de tu-barons das finanças, relegando palavras como

'sector público' ou 'nacionalizaçons' à categoriado inominável; no reinado da solidariedadeantipolítica e do mercado de consignas filan-trópicas, a caridade com os empobrecidos daterra acompanha-se da confiança em Fenosa enoutros blocos empresariais notoriamentereconhecidos polo saque da América Latina e onegócio entre os cadáveres do Iraque; naEuropa da opulência e do ecologismo institu-cionalizado em ministérios transversais, aplau-de-se a previsível limpeza da Ria de Ponte

Vedra enquan-to as propostasde reforma doEstatuto deA u t o n o m i anem se atre-vem a exigir ocontrolo totaldos nossosrecursos ener-géticos.

Quem pelejoudenodadamen-te por situargalegos de a-pelido na ter-ceira eléctricado Estado a-cham que anaçom nom éum projectoem andamen-to, com orien-taçom socialconcreta e de-finida, senomumha meraco inc idênc iaterritorial quenos obriga ac o n f u n d i rOrtega ou Ló-

pez Isla com os nossos próprios interesses.Quem hipoteca as suas expectativas a estalinha argumental deveria ser consciente dadura realidade: no clube selecto das grandescorporaçons nom há portas que se abram auto-maticamente aos novos ricos. E nem muitomenos atençom especial aos políticos periféri-cos de poder minúsculo e palavra complacente.

GALEGUIZAR A ESPOLIAÇOM?

Terra da… cinza

As opinions expressas nos artigos nom representam necessariamente a posiçom do periódico. Os artigos som de livre reproduçom respeitando aortografia e citando procedência. A informaçom continua periodicamente no sítio web www.novasgz.com e no portal www.galizalivre.org

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CORRECÇOM LINGÜÍSTICA

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FECHO DA EDIÇOM: 15/10/05

ANXO COLLARTE

SUSO SANMARTIN

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REDACÇOM / A aparente ambi-güidade do PSOE galego emmatéria de organizaçom terri-torial desfijo-se de maneirainequívoca no passado dia 12de Outubro. Se bem que opresidente da Junta tivessedefendido a utilizaçom dotermo 'naçom' para fazer refe-rência à Galiza, nom duvidouem aderir à celebraçom dahispanidade que organizou opresidente da cámara corun-hesa. Ao pé da praia de Riaçor,Francisco Vásquez entoou umcanto à tam na moda 'Espanhaplural' alternando o uso dogalego e do espanhol na suaalocuçom. Ao mesmo tempo,ergueu um enorme pendomde Espanha e colocou a 'uni-dade nacional' como elementoindiscutível e fora do alcancede qualquer possível debatedemocrático. O BNG nomassistiu ao acto -que contoucom umha respeitável presen-ça de seguidores do presiden-te da cámara da Corunha- e oseu vozeiro municipal,Henrique Tello, manifestou"nom questionar a legitimida-de do içado da bandeira, massim as formas com que estefoi realizado".Quanto às formas, estas fôromdo mais convencional no quediz respeito ao tratamento daoposiçom independentista.Um dispositivo policial des-dobrado para o efeito ence-rrou num espaço bem reduzi-do mais de cem activistas esimpatizantes concentradoscontra a hispanidade às portasdo Hotel Riaçor. A concentra-çom tinha sido organizada de

maneira espontánea e convo-cada com as já clássicas men-sagens de SMS. Ao chama-mento acudírom pessoasindependentes, militantes daAMI, BRIGA e NÓS-UP. Oresultado das agressons dapolícia espanhola saldou-secom mais de quatro pessoasferidas e umha detida. JoámBagaria, militante lucense daAssembleia da MocidadeIndependentista, foi captura-

do depois de finalizado o actopolítico graças ao labor deagentes à paisana. A jornadareivindicativa acabou comumha manifestaçom polasruas da Corunha em solidarie-dade com o detido, posto adisposiçom judicial no diaseguinte ao dos factos. Tam sóas forças independentistascondenárom publicamente asagressons e o ataque à liber-dade de expressom.

NOVAS DA GALIZA15 de Outubro a 15 de Novembro de 2005

NOTÍCIAS

04 NOTÍCIAS

Cargas e detençons nahomenagem à bandeira do PSOE corunhêsFrancisco Vázquez declara que a “unidade nacional” é inquestionável

REDACÇOM / Como figuravanos programas eleitorais dosdous partidos que formam obipartido e no próprio acordode governo entre PSdeG eBNG, Benigno Sánchez Garciaserá o último director daCompanhia de RádioTelevisom da Galiza(CRTVG) nomeado directa-mente polo presidente daJunta. Assim, Tourinho asse-gurou que no primeiro ano degoverno será aprovada umhalei que "garantirá a indepen-dência da rádio e da televisompúblicas", assim como "o aces-so dos diferentes sectores" dasociedade galega aos meios decomunicaçom públicos". Pormeio desta lei, o presidenteda Junta renunciará também àpotestade de nomear o direc-tor geral da companhia, pas-sando a ser umha maioria qua-lificada do Parlamento a auto-rizada para efectivizar a nome-açom, promessa que no entan-to já nom poderá ser cumprida

nos primeiros anos de governotripartido.O novo director, licenciado emDireito, tinha presidido oConselho Galego de RelaçonsLaborais e actualmente che-fiava a Inspecçom Provincialde Trabalho e SegurançaSocial da Corunha. O facto deter participado como media-dor e árbitro em numerososconflitos de carácter laboral,pode estar por detrás da escol-ha de Tourinho, pois eramconhecidos os numerosos con-flitos laborais que afectavam oente público nos últimos anos.As novas direcçons da com-panhia serám para SusoIglesias (TVG), Xosé ManuelPereiro (programaçom daTVG), Roberto Cid (informa-tivos TVG), Virgilio Costas(Rádio Galega), ManuelPampim (informativos daRádio Galega) e Xurxo Souto,umha das mais aplaudidas,como director de programa-çom da Rádio Galega.

O último director daCRTVG nomeado poloPresidente da Junta

REDACÇOM / O Sindicato deJornalistas da Galiza (SJG)uniu-se à campanha que está adesenvolver a Mesa polaNormalizaçom Lingüísticapara que o governo do Estadoreabra a emissora de Rádio 4em galego, a qual tinha sidofechada em 1992.Radio 4 continua a funcionarna Catalunha, onde esta emis-sora serve para, entre outrosfins, promover o idioma cata-lám nos meios de comunica-çom. O SJG entende que "oreduzido uso do galego polas

empresas de comunicaçom"torna imprescindível que "asadministraçons galegas seenvolvam já na sua promoçommediante acçons concretas".Além disso, assinalam no sin-dicato, a reabertura de Rádio 4suporia umha "oportunidadeúnica para gerar novos postosde trabalho com estabilidade".Como primeiro passo, o SJGexige que seja realizado oestudo de viabilidade da rea-bertura na Galiza, tal e comotinha acordado o Congressodos Deputados em 2004.

Sindicato de Jornalistasreclama reabertura deRádio Nacional em galego

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REDACÇOM / O apoio unánimeque recebeu no Parlamentogalego o novo Plano Geral deNormalizaçom Lingüísticanom está a implicar um con-senso generalizado quanto aomesmo nos diferentes ámbitosnormalizadores. Num primei-ro momento, fôrom os colecti-vos reintegracionistas os maiscríticos com o Plano, ao consi-derarem que desatendia asrelaçons com a Lusofonia paraa activaçom do processo nor-malizador. Mas as críticas maisabertas a esta norma dirigí-rom-se ao articulado que des-envolve a planificaçom lingüís-tica no ensino, no qual se des-cartavam os modelos de imer-som lingüística que funcionamnoutros territórios do Estadohá várias décadas (ver NGZ nº30). Agora é um organismo

extra-galego, o Conselho daEuropa, o que, sem explicitá-lo, parece animar as críticas aoPlano, assinalando como umincumprimento por parte deEspanha a inexistência demodelos educativos que per-mitam que "umha parte fun-damental do programa se lec-cione essencialmente em gale-go". Para além disso, oConselho da Europa aconselhaàs autoridades espanholas aimplementaçom de acordosbilaterais que permitam acomunicaçom entre regions dediferentes estados com amesma língua, aplicando-seisto no caso galego aos meiosde comunicaçom portugueses,algo que para este comité deperitos repercutiria "em bene-fício da língua regional ouminoritária".

A Mesa quer livros em galego

Por outro lado, e em relaçom àmedida adoptada polaConselharia de Educaçom dedisponibilizar os livros escola-res gratuitamente, a Mesa polaNormalizaçom Lingüística cri-ticou que a improvisaçom nestamedida poderia provocar que aConselharia da Educaçom assu-misse comprar material peda-gógico que nom cumpre oDecreto 247/95, em relaçom àpossibilidade de que os livrosem espanhol que nom respei-tam a referida norma se ven-ham a manter nos centros deensino. Por essa razom, o colec-tivo normalizador exigiu àConselharia a substituiçom dosmesmos o antes possível,nomeadamente nos trechoseducativos onde "já está

implantada a gratuidade" (emreferência aos primeiros anosdo currículo escolar), para cum-prirem o estipulado no PGNL.No entanto, se num princípio aMesa tinha criticado aberta-mente a conselheira, LauraSánchez Piñón, "por umhaescassa vontade de diálogo" emrelaçom a este assunto, emdeclaraçons ao Novas da Galiza,Carlos Callón, presidente daMesa, dixo terem obtido umcompromisso da Conselharianeste sentido a partir do próxi-mo ano lectivo, e expressou um"voto de confiança" no departa-mento dirigido por LauraPiñón, que se comprometeu àaplicaçom do decreto em vigor(247/95) por meio da inspec-çom educativa até a actualiza-çom do mesmo em implemen-taçom do PGNL.

NOVAS DA GALIZA15 de Outubro a 15 de Novembro de 2005 05NOTÍCIAS

10.09.05

Ensino. 58.940 e 124.397 crian-ças iniciam, respectivamente, oano académico em 1.270 centrosde infantil e primária.

11.09.05

Maus-ttratos. Denúncias aumen-tam 30% de 2003 para 2004 com2.621 casos oficiais.

12.09.05

AVE. BNG exige mais investi-mento para acelerar a sua cons-truçom.

13.09.05

Biodiversidade. Segundo ADE-GA, 14% da fauna galega estáem perigo de extinçom.

14.09.05

Língua. Marisol López Mar-tínez, ligada ao oficialismoespanholista e partidária do"bilingüísmo harmónico", diri-girá a Política Lingüística naCAG.

16.09.05

Conflito em Audasa. Trabalha-dores colapsam AP-9 contra aeventualidade laboral.

Cidade da Cultura custará maisdo triplo do orçamentado pas-sando de 373 milhons.

18.09.05

Incêndios. 48.838 hectares desuperfície florestal ardem naCAG até a data.

20.09.05

BNG e Ence. Governo munici-pal das Pontes, com maioriaabsoluta do BNG, oferece-separa alojar a fábrica de Ence des-locada de Ponte Vedra.

Turistificaçom. Portos multipli-cará o turismo náutico através dainiciativa privada.

Alzheimer. Mais de 25.000 gale-gos e galegas padecem a doençaneurodegenerativa.

21.09.05

Electricidade. Térmicas, barra-gens e eólicas configuram 8% doPIB da CAG e geram mais de32.000 empregos directos eindirectos.

CRONOLOGIA

Recomendaçons do Conselho da Europa questionam Plano de Normalizaçom

REDACÇOM / Tudo pronto nasRias Baixas para o início doCampeonato do Mundo deVela no dia 12 de Novembro.É a primeira vez em trintaanos de celebraçom que talevento começa em portosnom británicos, acontecimen-to aproveitado ao máximopolo conglomerado empresa-rial de umha ou outra maneiraligado aos desportos náuticose à turistificaçom das nossascostas. O novo director geral

de desportos, o viguêsSantiago Domínguez, mos-trou a sua preocupaçom polo"escasso avanço em infra-estruturas" que ficará nas nos-sas rias após a partida dos bar-cos, mas em todo o caso dei-xou claro o "apoio incondicio-nal" do novo governo ao even-to polo qual tanto trabalhou oanterior executivo autonómi-co. Por trás da 'Volvo OceanRace' estám, em qualidade depatrocinadores, grupos em-

presariais como Caixanova,GADISA, Coca-Cola ou a náu-tica Rodman. As implicaçonsde esta última empresa vigue-sa em actividades ilícitas foradesvendada já por NOVAS DA

GALIZA. Ainda, o aspecto maisdestacável nom som os purosbenefícios propagandísticosdo patrocínio, mas as vanta-gens económicas que possibi-lita o consócio constituídopara a organizaçom do campe-onato. Com efeito, como se

recolhe no convénio assinado,a consideraçom da Volvo Oce-an como "evento de interessepúblico" permite às entidadespatrocinadoras acolherem-se abenefícios fiscais de diversostipos.Por seu turno, a Junta da Galizaaproveitará o trecho galego docampeonato para a promoçomturística e a utilizaçom dasnossas rias para os fins recreati-vos apoiados na náutica e osportos desportivos.

Poder político e grandes grupos empresariaiscelebram a saída de Vigo da Volvo Ocean Race

Coincide com o reintegracionismo recomendando imersom lingüística paro o ensino dogalego e presença dos meios de comunicaçom portugueses na Galiza

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NOVAS DA GALIZA15 de Outubro a 15 de Novembro de 200506 NOTÍCIAS

Eucalipto. Segundo o Anuário

Estatístico Agrário, cada ano

som abatidos 3 milhons de tone-

ladas desta espécie na CAG.

22.09.05

Ensino monolíngüe. Relatório

do Conselho da Europa reco-

menda à administraçom da CAG

que utilize o galego como única

língua no ensino e aposta no

direito à “imersom total” na

nossa língua.

24.09.05

Morte no trabalho. O operário de

Ferroatlántica (Cee) Luís R. C.

falece após a explosom de um

forno da fábrica de ferroaleaçons.

Mocidade. Os acidentes na

estrada som a primeira causa de

morte entre os galegos e galegas

de 15 a 30 anos.

25.09.05

Celulose. Ambiente assegura

que a papeleira de Ence em

Ponte Vedra nom será transferi-

da para Ferrol.

Sabotagem. Portal independen-

tista galizalivre.org é destruído

num ataque informático. A equi-

pa do portal, que volve estar na

rede num frmato provisório no

dia seguinte do ataque, afirma

que tardará várias semanas em

reconstruir completamente os

serviços afectados.

27.09.05

Galiza naçom. Pérez Touriño

assegura que “em Espanha há

várias naçons”.

Greve em Arriva. Ardem em

Vilalva dous autocarros da

empresa de transportes.

28.09.05

PP adverte que nom aceitará o

reconhecimento nominal da

Galiza como naçom na reforma

estatutária.

29.09.05

Só a galega. A Delegaçom do

Governo investigará a ausência

da bandeira espanhola em actos

oficiais autonómicos.

02.10.05

Demografia. A CAG perde

numha década 26% do estudan-

tado nom universitário.

Energia eólica. A CAG conta

O conselheiro do Ambiente, Manuel Vázquez, anunciara a possibilidade de optar pola

compostagem para a gestom dos resíduos

REDACÇOM / O conselheiro do

Meio Ambiente anunciou

finalmente a construçom de

umha nova planta de gestom

de resíduos no sul da Galiza

para dar saída aos excedentes

que Sogama nom pode aten-

der. Depois de ter feito refe-

rência num primeiro momen-

to à compostagem e ao

impulsionamento da recicla-

gem, a proposta de Manuel

Vázquez ficou finalmente

encaminhada para umha

planta de biomassa que a pró-

pria Sogama se encarregará

de gerir em Cerzeda e que

poderia estar em andamento

antes de dous anos.

A visom economicista sob a

que esta empresa estava a rea-

lizar o trabalho, centrada fun-

damentalmente na incinera-

çom como principal saída para

os resíduos e na manunten-

çom de negócios com a

Uniom Fenosa, tinha vindo a

ser objecto de debate desde

há anos para colectivos

ambientalistas como a

Federaçom Ecologista Galega

(FEG), a Associaçom para a

Defesa Ecológica da Galiza

(ADEGA), e mesmo para sin-

dicatos como a CIG, CC.OO e

UGT, que tinham chamado a

atençom para a necessidade

de umha gestom do lixo mais

responsável e respeitosa com

o ambiente. Assim, a troca do

actual sistema polo de com-

postagem foi reivindicada em

numerosas ocasions.

A compostagem é o resultado

de um processo de fermenta-

çom dos restos orgánicos, que

originam umha matéria alta em

nutrientes e diversos oligoele-

mentos precisos para as plan-

tas e muito adequados, portan-

to, para serem empregados

como adubo, já que aumenta a

capacidade de retençom de

água no solo e reduz o risco de

erosom. Aliás, cumpre dizer

que a compostagem é um pro-

cesso bioquímico aeróbio reali-

zado por bactérias e fungos de

maneira totalmente natural,

polo que a poluiçom gerada

polo mesmo é nula.

A biomassa, por sua vez, é a

substáncia orgánica de origem

animal ou vegetal que serve

como matéria prima para origi-

nar energia eléctrica, térmica

ou mesmo mecánica, como os

biocarburantes. Desta manei-

ra, a central de biomassa que

Sogama começará a gerir em

Cerzeda poderia servir-lhe

para manter os seus negócios

com Fenosa, para além de

aumentar a sensaçom de satis-

façom da sociedade, por ser a

biomassa umha energia reno-

vável e de baixa repercussom

para o meio polos seus escas-

sos níveis contaminantes.

Nom há que esquecer, nom

obstante, que o processo efec-

tuado nas plantas de biomassa

inclui a combustom para a

geraçom de vapor, o que tam-

bém origina emissons de CO2

e de dióxido de enxofre para a

atmosfera, muito inferiores,

isso é certo, às de outros com-

bustíveis fósseis empregados

como recurso energético, mas

mesmo assim existentes.

Sogama gerirá central de biomassaem Cerzeda antes de dous anos

REDACÇOM / Depois de ter

protagonizado diversas

acçons nos últimos meses

para tentar paralisar as

obras de umha estaçom de

piscicultura dentro do Sítio

de Interesse Comunitário

(SIC) das Catedrais, na

Marinha cantábrica, a

Associaçom para a Defesa

Ecológica da Galiza prepara

agora um recurso de alçada

contra o plano sectorial

impulsionado polo empresá-

rio Álvarez-Cascos com o

apoio explícito do presiden-

te da cámara municipal de

Riba d'Eu e aprovado polo

Conselho da Junta.

ADEGA tornou pública a

que consideram umha tra-

mitaçom irregular, ao ter

sido submetido o projecto a

exposiçom pública no DOG

antes de se ter formulado a

Declaraçom de Impacto

Ambiental do mesmo, e

nega a existência de um

interesse supranacional e

social derivado da instala-

çom deste estabelecimento

de piscicultura, que teria

conseqüências ambientais

negativas

ADEGA prepara recursocontra a granja de cultivosmarinhos de Rinlo

REDACÇOM / No passado dia

12 de Outubro celebrou-se

em Vigo umha mobilizaçom

contra a celebraçom da

Cimeira Ibero-Americana de

Salamanca, coincidindo com

o chamado Dia da

Hispanidade. No acto houvo

referências à dívida externa

dos países latino-americanos

e às problemáticas indígenas,

para além de exposiçons

sobre a situaçom dos direitos

humanos, da repressom, da

agricultura e dos efeitos das

transnacionais neste conti-

nente. Também actuárom o

Coro Libertário, o trovador

Luís Caruncho e os malaba-

ristas de Malandraxe.

A mobilizaçom, organizada

por colectivos libertários e

anti-imperialistas, manifesta

a oposiçom a umha cimeira

em que "os chefes de Estado

se reúnem da mesma maneira

que governam, de costas aos

seus povos" e rejeita o domí-

nio norte-americano e euro-

peu sobre as economias lati-

no-americanas, assim como

"as contínuas ingerências do

Banco Mundial e do Fundo

Monetário Internacional".

Mobilizaçom em Vigocontra a Cimeira Ibero-Americana de Salamanca

Instalaçons de SOGAMA em Cerzeda/ FONTE CIG

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NOVAS DA GALIZA15 de Outubro a 15 de Novembro de 2005 07NOTÍCIAS

com 3.193 moinhos eléctricos eumha potência instalada de2.131 megavátios.

03.10.05

Filiaçom do BNG. Executiva doBloco anuncia propósito dealcançar os 20.000 filiados/as.

Militarismo. Máximo chefe mili-tar espanhol pronuncia-se con-tra o direito de autodetermina-çom dos povos e pola “unidadede Espanha”.

Sinistralidade. Segundo umrelatório do CGRL, a sinistrali-dade laboral aumentou na CAG7.55% em 2004 enquanto sereduzia em 6% no Estado.

04.10.05

Energia eólica. Executivo espan-hol aposta por impulsionar aenergia eólica na Galiza atéalcançar os 6.500 megavátios.

05.10.05

Saúde. Galiza tem os temposde espera para operaçons maisprolongados do Estado, com135 dias, face à média estatalde 77 dias.

Precariedade laboral. 91.13%dos contratos assinados na CAGem Setembro som precários.Triplicamos a média comunitá-ria de temporalidade.

Repressom no cárcere. Institui-çons Penitenciárias sequestradurante vários dias a correspon-dência do preso independentis-ta Ugio Caamanho.

06.10.05

Autocarros sabotados. 40 veícu-los da empresa de transportesArriva som destroçados dentrodo conflito laboral pola read-missom de dous operários des-pedidos.

Sinistros laborais. Morrem tra-balhando na construçom Jorge V.V. em Foz e Carlos M. P. noPorrinho.

08.10.05

Imposiçom simbólica. Presi-dente da cámara corunhês,Francisco Vázquez, anuncia acolocaçom permanente da ban-deira de Espanha no Orçám apartir do dia 12 de Outubro. Éconvocada umha manifestaçomde rejeiçom.

10.10.05

Língua. Educaçom anuncia que50% das aulas serám ministradasem galego em 2006.

A Galiza interior berra Nunca Maisaos incêndios florestaisMais de 2.000 pessoas manifestam-se em Ourense em defesa do monte

REDACÇOM / A Plataforma emDefesa do Monte Galego con-seguiu aglutinar 2.000 pessoascom o lema "O nosso monteimporta, lumes nunca mais". Aorganizaçom valorizou positi-vamente a mobilizaçom aindaque nom fosse a manifestaçommaciça e nacional que se aguar-dava. A manifestaçom desen-volveu-se em Ourense, umhadas comarcas mais afectadaspolos incêndios florestais cadaVerao. Reclamou-se umha"nova política agro-florestal ede luita contra os incêndios".Lembrou-se que na Galizaardêrom mais de 50.000 hec-tares desde Janeiro, o que sig-nifica metade do território deOurense. O porta-voz doComité de Defesa do MonteGalego, José Santos, pediu aabertura "de um amplo debatesocial sobre o problema dosincêndios florestais" e recla-mou a consideraçom da políti-

ca contra o lume como "ques-tom de Estado". Para Santos"as políticas de incêndios ten-hem que partir do consensodo conjunto da sociedade"onde devem "participar gru-pos políticos e agentes sociaise económicos em busca desoluçons". Exigem outra ges-tom da política de incêndios,mas também "a implicaçom dasociedade, delatando as pes-soas que atentam contra opatrimónio natural".A Plataforma pretende tam-bém que sejam revisados osplanos florestais da Galiza e osplanos de luita contra o fogo, acriaçom da Fiscalia do MeioAmbiente e a transparência erapidez no acesso à informa-çom. Umha das exigências daplataforma que mais polémicaesta a gerar é o mando único.Solicita-se que as equipas deextinçom se aglutinem sob umúnico mando, dependente, em

exclusivo, da Junta da Galiza.No que diz respeito à preven-çom, o comité propom a orde-naçom dos cultivos agrários eflorestais, planos de restauro erecuperaçom do mundo rural,o incremento dos investimen-tos para a prevençom, e o con-trolo do sector florestal paraevitar que alguém beneficie daqueima de superfície.Na mobilizaçom de Ourense,realizada no início do Outono,denunciou-se também o enri-quecimento de alguns secto-res empresariais com os incên-dios. "Caixa Galiza lucra-secom o lume" ou "Ence fora daGaliza" fôrom algumhas dasconsignas que se pudéromouvir no percurso da mobiliza-çom. No acto final, a actrizMavel Rivera e o escritor XoséCarlos Caneiro pugérom voz àsreivindicaçons da Plataforma.Os dous partidos que se coali-garám para aceder à Junta que-

rem dispor da vantagem dopoder municipal de umha cida-de na qual já tinham partilhadoresponsabilidades num gover-no marcado pola polémica, acontestaçom social e os con-frontos entre os dous sócios. Segundo fontes afectadas, oprincipal problema que trava aconsecuçom de um acordo paraa moçom é a "justificaçom polí-tica"; trata-se de calcular comopoderá ser apresentada à opi-niom pública a necessidade deumha moçom de censura entredous partidos irreconciliáveisem Vigo há apenas dous anos, eque ultimamente votárom deforma diferente em temas tamtranscendentais como os orça-mentos municipais e o contes-tado Plano Geral deOrdenaçom, o que serviu paraque a actual presidenta avan-çasse com os projectos e conse-guisse fortalecer-se no governomunicipal.

REDACÇOM / Já é o quarto anoque as forças independentistasinauguram o curso político coma lembrança dos militantes doEGPGC Lola Castro e JoséVilar e por extensom de todas etodos os militantes mortos eretaliados na história da Galiza. NÓS-UP escolheu o monu-mento aos mártires na vila deCarral para organizar umhaconcentraçom de homenagemem que nom faltárom as alu-sons aos reptos presentes domovimento. Perante dúzias deactivistas convocados, RamiroVidal enquadrou historicamen-te os sucessos de 1846 e fijoum breve bosquejo do primeirolevantamento nacional.Maurício Castro fijo um cha-mamento a "alargar o projectonascido em 2001" e a "provar overdadeiro 'talante' do novogoverno autonómico" com

umha tabela reivindicativa demínimos que "recolhe as aspi-raçons da maioria social".AMI, por seu turno, aproveitouo vinte e cinco aniversário davaga repressiva contra o inde-pendentismo, para recordar oprojecto de LAR e o movimen-to contra Auto-estradas doAtlántico. Ao pé de umha cruzfascista que fora atacada polosindependentistas em finais dadécada de 70, Miguel Garciavincou que 'a luita de há déca-das continua a ser a nossa,como prova a existência denovos e novas combatentesgalegos que enfrentam a pri-som'. Acabado o acto, a AMIrealizou umha oferenda floralno cemitério de Salvaterra doMinho ao falecido militante deGaliza Ceive (OLN) e lídervicinal Antom BértoloLousada.

REDACÇOM / A formaçomindependentista NÓS-Unidade Popular apre-sentou no passado dia 6de Outubro em Compos-tela um pacote de 444medidas para a conforma-çom de "umha nova polí-tica nacional e de esquer-da" por parte do governoda Junta. Constatam aabertura de um "novocenário político no nossopaís que é a um tempocausa e conseqüência dasgrandes expectativas derenovaçom abertas noseio da maioria social" eacrescentam que serám"a auto-organizaçom doPovo Trabalhador e aconstante pressom sobreas instituiçons autonómi-cas" as que acabem porconseguir "concessons ouo cumprimento das pro-messas eleitorais".É neste sentido que aformaçom independen-tista apresenta as suas444 medidas a empreen-der pola Junta, articula-das em epígrafes referi-das a direitos e liberda-des, economia e questomsócio-laboral, saúde, en-

sino, serviços sociais,habitaçom, urbanismo,transporte e ordenaçomdo território, ambiente,mulher, juventude, lín-gua, cultura e desporto,concebendo o documentocomo "folha de rota daesquerda independentis-ta em relaçom ao novoGoverno" de coligaçomsurgido das passadas elei-çons autonómicas.Entre as propostas desta-cam a utilizaçom deGaliza como topónimooficial, abrir umha audi-toria sobre os 16 anos degoverno Fraga para diri-mir responsabilidadespenais e difundir o pro-grama de governo entre apopulaçom galega. Aliás,consideram que o seudocumento deve sercompletado a partir de"um diálogo aberto efranco com todos aquelessectores sociais que con-tribuírom nos seus parti-culares espaços e meiosde actuaçom para aderrota do PP", e assimesperam obter novas pro-postas para desenvolvê-loe acrescentá-lo.

Vigo e Carral, palcos dareivindicaçom do Dia daGaliza Combatente

NÓS-UP apresenta 444reivindicaçons perante onovo governo autonómico

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NOVAS DA GALIZA15 de Outubro a 15 de Novembro de 200508 INTERNACIONAL

INTERNACIONAL

NUNO GOMES / Os resultados das EleiçõesAutárquicas em Portugal saldaram-se por umaretumbante vitória do PPD-PSD que,concorrendo sozinho ou em coligação com outrospartidos (nomeadamente o CDS-PP), conseguiuaumentar o número de votos e de câmaras. Esteaumento de votação veio melhorar o resultadoautárquico de 2001, altura em que o PPD-PSDquebrou o equilíbrio que mantinha com o PS e oultrapassou em número de votos, levando àqueda do governo PS de António Guterres. OPPD-PSD manteve também as suas duasprincipais câmaras, Lisboa e Porto, com vitóriasdestacadas de Carmona Rodrigues e Rui Rio,respectivamente.

O Presidente da Junta da Galiza, Emílio PérezTouriño, deslocou-se ao Porto a convite do entãocandidato socialista à Câmara do Porto,Francisco Assis, que referiu que não vê "grandefuturo para o Porto se não for capaz de seassociar à Galiza, seja na indústria, nos serviços,na economia ou na cultura."

A ciclovia existente entre Valença e Monção,inaugurada em Novembro de 2004, regista umnúmero crescente de utilizadores. Estes vêm deambos os lados da fronteira para utilizar umequipamento que nasceu do reaproveitamentodo canal da antiga via-férrea. O percurso temneste momento 13 quilómetros, mas está jáplaneado o seu crescimento futuro.

Os municípios de Monção e de Ogrovve assinaramno passado dia 30 de Setembro um protocoloque prevê acções de promoção conjunta doturismo dos dois concelhos. Entretanto osmunicípios de Paços de Ferreira e de Vigoanunciaram um protocolo cultural e económicoque implica, entre outras actividades, reatar osseminários luso-galaicos e avançar com uma"exposição itinerante da Citânia de Sanfins parapercorrer a Galiza". Esta citânia faz parte doconjunto de castros portugueses e galegos acandidatar a Património da Humanidade pelaUNESCO.

Foi noticiado recentemente que os portuguesessão dos europeus que menos falam línguasestrangeiras. Um estudo do Eurobarómetrorevela que apenas um terço dos portuguesesconsegue manter uma conversa numa línguaestrangeira.

A peça musical Cantares Gallegos, escrita porJoly Braga Santos sobre poemas de Rosalia deCastro, será tocada pela primeira vez em Faro,no âmbito da Capital Nacional da Cultura, quese realiza este ano na capital algarvia.

NOVAS DE ALÉM-MINHO A quem beneficia a matançade civis no Iraque?

DUARTE FERRÍN / O dia 19 de Setembroa polícia iraquiana interceptou umautomóvel em que viajavam dousagentes británicos vestidos de árabesque fôrom reduzidos e levados aocárcere local. Nom passou muitotempo até que tanques británicosderrubárom as paredes do cárcere eos 'libertárom'. Os dous membros doSAS foram surpreendidos com peru-cas, armados até os dentes e numcarro repleto de explosivos.O que iam fazer, disfarçados de ira-quianos, na relativamente pacíficaBassorá? Segundo Fattah al-Shaykh,membro da Assembleia NacionalIraquiana, "era um carro com umhabomba, carregado de muniçom equeriam que estourasse no mercadopopular de Bassorá". Por outro lado,um relatório da televisom síria afir-mou que o acontecido prova "que aocupaçom nom está arredada denumerosas operaçons que tratam demanter a desordem para a justifica-çom de umha ocupaçom prolonga-da". O deputado xiita Fatah al Sheij,representante do clérigo Muqtadaal Sadr, afirmou que os británicosdetidos se dispunham a "dispararcontra a gente congregada num san-tuário xiita". Por sua vez, JousifHamdam, porta-voz da Uniom doPovo Iraquiano, assegurou que"quando há mortos civis deve-se àacçom da CIA". Explicou que a CIAé a responsável pola organizaçom e

acçons que executam "grupos debandidos, para desqualificar a resis-tência". Esclareceu que esta estáintegrada "em 99% por iraquianos enom é sunita, como querem fazercrer os estado-unidenses", sendomilitares do anterior exército doIraque os que em boa medida acomponhem, junto com muçulma-nos, nacionalistas e comunistas, for-mando o que Hamdam denominoua "Frente Muçulmana e Democrá-tica do Iraque", que luita pola "sualibertaçom".A 21 de Julho, segundo informaMafkarat al Islam, diversos gruposarmados declaravam responsáveis àsforças de ocupaçom pola campanhade ataques contra civis desencadea-da nessas semanas. O comunicado,acusava directamente os ocupantesdos últimos ataques com carro-bomba contra civis, assim como dealguns ataques sobre casas efectua-dos com morteiro. O último dos seustruques sujos foi fazer explodircarros-bomba em lugares públicoscomo mercados ou ruas abarrotadas.Abduwahhab Al Obeidi, da organiza-çom de direitos humanos Voz daLiberdade conta: "as tropas estado-unidenses, depois de abateremalgum iraquiano, começárom a apli-car um método que consiste emfazer estourar o corpo do assassinadocom o propósito de proporcionar pro-vas "físicas" que deem solidez às suas

hipóteses sobre "ataques suicidascontra civis". Por outra lado, é provável que Al-Zarqaui falecesse há já tempo. OImám da mesquita al-Kazimeya deBagdad declarou que estava morto"mas Washington está utilizando-ocomo o papom para justificar-se. Éumha invençom para dividir as pes-soas." Al-Kalesi agregou que Al-Zarqaui foi morto no começo da gue-rra no norte curdo e que "a sua famí-lia na Jordánia realizou umha cerimó-nia depois da sua morte". Num rela-tório que realmente provém dogoverno dos EUA assinala-se que Al-Zarqaui foi morto quando os EUAarrasárom a 'base' do seu grupo Ansaral-Islam no norte do Iraque noscomeços de 2003.Os atentados contra civis achacadosa Al-Zarqaui ou aos insurgentes,servem para apresentar o movimen-to de resistência como assassinosindiscriminados de civis, enfraque-cem o apoio da populaçom iraquia-na à resistência, alimentam as divi-sons entre etnias (nom só noIraque; também em todo o MédioOriente), impedem o desenvolvi-mento de um movimento de resis-tência mais amplo, que una xiitas,sunitas, curdos e cristiaos contra aocupaçom ilegal do seu país, e ten-tam criar, a nível internacional,divisons no movimento pacifista econtra a guerra.

A captura, no passado dia19 de Setembro, de dousagentes británicos vestidosde árabes, armados até os dentes e num carrorepleto de explosivosdemonstra a participaçomdas forças de ocupaçomnos atentados contracivis. Queriam queestourasse no mercadopopular de Bassorá

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Antes de mais, devemosreconhecer que as vicissi-tudes de Uniom Fenosa

som relevantes para os galegos eas galegas. E isto é assim porque atransnacional espanhola mantémumha posiçom político-económi-ca de controlo sobre umha boaparte dos nossos recursos natu-rais energéticos e a sua distribui-çom final, sendo protagonista narede económica nacional. Hoje éumha das eléctricas mais rentá-veis da Europa, contando comalgum tipo de negócio em 16estados e estendendo a influên-cia a 47 países através de 6 divi-sons e 78 empresas do grupo quegeram, gerem e distribuem aenergia que move o mundo: ahidráulica, a térmica, a nuclear, aeólica e a gasística. Na Galizaexplora 9 centrais hidroeléctricasnas bacias do Minho e do Lima, 3dos 6 saltos de importáncia da

bacia intracomunitária, umnúmero importante de minicen-trais hidroeléctricas, 2 centraistérmicas (Sabom e Meirama),mais de 20 parques eólicos (em2003 vendeu 17 destes parques àpoderosa empresa pública italia-na ENEL, com umha opçom derecompra de 30%) e controla,com Endesa, a regaseificadora deFerrol Reganosa. Tem no nossopaís ao redor de 22% da sua pro-duçom total de energia eléctricae 78% do total da sua produçomde origem hidráulica.

Aproximadamente os 41% dosclientes que Fenosa tem noEstado espanhol estám naGaliza, onde também serve ener-gia às grandes unidades de pro-duçom como Alcoa, Citröen eInditex. Fenosa tem asseguradopraticamente o monopólio dadistribuiçom eléctrica na Galiza,controlando 80% do abasteci-

mento desta energia, com maisde um milhom de clientes. A 3ªeléctrica do Estado (depois deEndesa e Iberdrola) está firme-mente implantada no nosso Paíse esta implantaçom empresarialtem características históricas.

Quando a primeira construtoraespanhola 'compra' Fenosa nomnos está a arrebatar nada aos gale-gos e às galegas, porque já nadatínhamos de nosso. Nem antesFenosa, com 'capital galego', nemdepois de 1982, foi nossa no sen-tido do seu controlo e benefíciocolectivos, senom de umha estir-pe de banqueiros e industriaisque construírom um pequenomonstro energético explorandoos recursos naturais que só deve-mos possuir e desfrutar colecti-vamente os galegos e galegas.Esta questom é sempre impor-tante. O controlo popular, a sobe-rania, sobre os recursos naturais-

energéticos som sempre aspec-tos incontornáveis, ainda que aformulaçom concreta deste con-trolo e desta soberania podamser, e de facto som, objecto decontrovérsia ainda hoje.

Podemos discutir que formaconcreta deveria adoptar umharegaleguizaçom da Eléctricaespanhola, mas há duas cousasque nom podem ser nunca obje-to de discusom, porque somquestons de princípios. A primei-ra é que nom há regaleguizaçompossível sem soberania energéti-ca, quer dizer, sem capacidadepara decidirmos nós mesmossobre as bases e o modelo doregime energético que queremospara o nosso país. E segundo,sem que haja polo menos algumtipo de controlo e participaçomcolectivo-comunitária sobre osrecursos energéticos explorados.

O sistema energético galego

(como o seu homólogo florestal)construiu-se desde os anos ‘40sem crítica possível, 'manu mili-tari', por umha associaçom muitobem lubrificada polas famílias oli-gárquicas e as elites políticas fas-cistas ou democráticas. O sectoreléctrico, como sector produtor,precisava de grandes investimen-tos e gerava grandes benefícios,duas características que fam comque detrás de um grupo eléctricotenhamos umha grande empresafinanceira ou o próprio Estado.

ACS, com a compra de 22% docorpo de accionistas de Fenosanom só quer ser um operadorglobal de infra-estruturas detransporte, onde encabeça o ran-king mundial; quer converter-se,também, num grande operadorde infra-estruturas energéticas.Endesa e Iberdrola eram boca-dos demasiado grandes. UniomFenosa era mais digerível.

NOVAS DA GALIZA15 de Outubro a 15 de Novembro de 2005 09OPINIOM

FOI D

ITO

“PIDO À CIDADANIAQUE NOS DÊ ESTOPA”Anxo QuintanaPara a Cadena Ser. 12.09.05

“ESTAMOS A FAVORDA LIBERDADE, MESMOEM TEMAS SEXUAIS”Enrique López Veiga16.09.05

“ODISSEIA EM CARRETAS:FRACASSAM AS TENTATI-VAS DE SALVAR O GATO QUELEVA QUATRO DIAS PRESO”El Correo GallegoCabeçalho da capa. 23.09.05

“HAVERIA QUE ESQUECER-SE DO PROJECTO. É TANTO OQUE CUSTA, QUE SÓ AMANUTENÇOM DA CIDADEDA CULTURA DEIXARIA-NOSSEM FUNDOS PARA CONTI-NUAR AS ACTIVIDADES DAPRÓPRIA VIDA CULTURAL”Miguelanxo Prado20.09.05

“SE SE FAI BEM, OESTATUTO VACINARÁ CON-TRA TODO O TIPO DE AVEN-TURAS INDEPENDENTISTAS”Gaspar LlamazaresCoordenador geral de IU. 09.10.05

“O MAIS LASTIMOSO É QUE[RAJOY] É ALGUÉM QUEFIJO UM SACRIFÍCIO PORAMOR AO PP E POR AMORA ESPANHA, QUE É CASARSENDO HOMOSSEXUAL…”Carlos A.BiendichoO Presidente da PlataformaPopular Gay (PP) fala sobreMariano Rajoy para a emissoraargentina Cadena 3. 24.09.05

“GALIZA NOM EXISTE”Roberto Blanco ValdésTítulo de um artigo do 'opinólogo'habitual de La Voz de Galicia, emque ataca a utilizaçom do nomehistórico do País. 25.09.05

“APÓS QUARENTA ANOSEXISTE MUITÍSSIMOINTERESSE EM QUE ESTAESPANHA NOSSA, QUETANTA GLÓRIA E TANTAHISTÓRIA ACUMULA,CONTINUE A SER PÁTRIACOMUM E INDIVISÍVEL”Félix SanzChefe do Estado Maiorda Defesa (Jemad). 03.10.05

“SINTO-ME MUI À VONTADEE MUITO BEM COM O BNG”Pérez Touriño29.09.05

Outra vez a energia, outra vez FenosaANTOM GARCIA MATOS

NEM ANTES NEM DEPOIS FENOSA FOI NOSSA NO SENTIDO DO SEU CONTROLO E BENEFÍCIO, SENOM DE UMHA ESTIRPE

DE BANQUEIROS E INDUSTRIAIS QUE CONSTRUÍROM UM MONSTRO ENERGÉTICO EXPLORANDO OS RECURSOS NATURAIS

QUE SÓ DEVEMOS POSSUIR E DESFRUTAR COLECTIVAMENTE OS GALEGOS E GALEGAS

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PEDRO ALONSO / CARLOS BARROS

A mudança de donos em Fenosaproduz-se imediatamente depoisda polémica Oferta Pública deAcçons (OPA) que o capital de LaCaixa lançava sobre a maior empre-sa energética do Estado, Endesa.Se esta operaçom frutificasse, opoderoso grupo resultante conver-teria-se no terceiro mundial dosector do gás e da electricidade,com capacidade para administrar odesenvolvimento de projectosintegrados a nível internacional, agestom do gasoduto Magreb-Europa, a geraçom de boa parte daenergia europeia e, finalmente, umposicionamento dominante sobrea distribuiçom e comercializaçompor miúdo na América Latina.Nesta agressiva aposta em Endesa,Gás Natural pretende recuperar asua credibilidade depois de ter fra-cassado na sua tentativa de contro-lar Iberdrola e complementar a suaoferta com a infra-estrutura epoder empresarial da grande eléc-trica que tinha sido, até há bempouco, pública. E perante o fortale-cimento deste oligopólio, Fenosaadquire um valor especial ao terficado à margem e dispor de umhaimportante quota de mercado, oque a converteu em objectivo prio-ritário tanto do empresariado gale-go e das portuguesas Galp eElectricidade de Portugal (EDP)como dos capitais espanhóis inte-ressados em manter a central emMadrid sob os desígnios das tradi-cionais fortunas espanholas. Ealém disso, Actividades deConstruçons e Serviços SA (ACS)complementa com Fenosa diversasactividades que já realiza no ámbi-to da energia. Está em jogo o con-trolo de umha grande eléctricacom presença crescente em várioscontinentes, bem posicionada paraa competiçom internacional nonovo cenário caracterizado polamundializaçom, a desregulaçom ea concentraçom de capitais.

No contexto de globalizaçom dosmercados, estas empresas obten-hem o grosso dos seus dividendosdos mercados internacionais, nome-

adamente o europeu, o latino-ame-ricano e o asiático. A AméricaCentral representa um claro exem-plo deste fenómeno: situada numhaposiçom estratégica, presencia aabertura de grandes estradas ecorredores de transportes, grandesexploraçons gasísticas e petrolíferaspara o benefício das transnacionaise as suas conseguintes infra-estru-turas que estám a deslocar numero-sas comunidades indígenas e aincentivar umha poluiçom quesupera os limites estabelecidos eestá a incidir na saúde das popula-çons afectadas. A impunidade e asfacilidades com que contam as eléc-tricas nestas áreas vê-se incentivadapola dívida externa destes países,acrescentada com o pagamentoenergético e acompanhada estrate-gicamente polo Banco Inter-Americano de Desenvolvimento, epolos empréstimos com limitaçonscondicionais do Banco Mundial,que obrigam os estados a favorece-rem a presença de capitais estran-geiros. Enquanto os povos subde-senvolvidos continuam a empobre-cer-se social e economicamente, osbenefícios das multinacionais cres-cem e forçam o investimento eminfra-estruturas dos estados a seadaptarem aos ritmos e interessesdestes oligopólios.

Falar do controlo de Fenosa é, porexemplo, falar do controlo do abas-tecimento energético daColómbia, República Dominicana,Filipinas, México, Nicarágua,Bolívia, Costa Rica, Guatemala,Panamá, Uruguai, Quénia ouMoldávia, entre outros países emque comercia, e em vários casoscontrola, a distribuiçom gasística eeléctrica. Um dado significativo daposiçom estratégica que ocupaFenosa é que foi a primeira empre-sa espanhola a introduzir-se noIraque no momento em que o exér-cito norte-americano declarou tervencido a guerra. E outro exemplodo seu poder sobre os estados nosquais opera produziu-se no passadodia 6 de Outubro, quando Fenosadecretou, através da sua denomi-naçom comercial na Nicarágua,

NOVAS DA GALIZA15 de Outubro a 15 de Novembro de 200510 A FUNDO

A FUNDO

ACS estende o seu poder sobre Fenosa parase integrar no oligopólio dos donos da energiaFRUSTRADAS AS ASPIRAÇONS DO GOVERNO AUTONÓMICO PARA INCIDIR NA GESTOM DA ELÉCTRICA

Umha chamada do multimilionário Carlos March a Emilio Botín no passado dia 22 deSetembro frustrava a operaçom que estavam a tecer Amancio Ortega, Julio Gayoso eJacinto Rey para se fazerem com o controlo de Uniom Fenosa, após a OPA lançada por GásNatural sobre Endesa e com o apoio do novo Governo da Junta. O assalto ao poder

da eléctrica foi instigado polo grande capital, para o qual Florentino Pérez fijo o papel deporta-vvoz e braço executivo, integrando a fortaleza empresarial de Fenosa no empórioindustrial e servindo de garante para que as grandes fortunas vinculadas à direita espanholaficassem com poder significativo num dos sectores estratégicos da economia: o energético.

Florentino Pérez e Carlos March reunidos com Pérez Tourinho após terem conseguido as acçons doSantander. O governo pretende garantir presença galega nos ámbitos de decisom empresarial

Está em jogo ocontrolo de umha

grande eléctricacom presençacrescente em

vários continentes,bem posicionada

para a competiçominternacional no

novo cenáriocaracterizado pola

mundializaçom,a desregulaçom e

a concentraçomde capitais

EM DADOS...

SECTOR ELÉCTRICO E CAPITAL DE ACSDADOS...

Endesa 11,3 milhonsIberdrola 9,6 milhonsEDP 7 milhonsGas Natural 4,8 milhonsU. Fenosa 3,3 milhonsGalp Energia 819.000

O grupo liderado por Amancio Ortega viu frustradas as intençons. Emilio Botínnom duvidou em romper a sua palavra e vender as acçons ao melhor postor

CLIENTES NA PENÍNSULA PRINCIPAIS ACCIONISTAS DE ACS

Corporaçom Alba (March) 20%Alberto Cortina e Alberto Alcocer 18%Florentino Pérez 16%

Otto/AGN

Fonte: LVG, NGZ

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NOVAS DA GALIZA15 de Outubro a 15 de Novembro de 2005 11A FUNDO

umha subida de 9,73% na tarifaeléctrica, imediatamente depois doanúncio da mudança de donos.

ACS será, pois, o grupo referen-cial de poder em Fenosa, canali-zando a sua participaçom de22,07% por meio da sociedade anó-nima da sua propriedadePromotora de Projectos Integrados(PR Pisa). E perante o fracasso dosseus competidores locais directos,Caixa Galicia já aumentou progres-sivamente a sua presença no corpode accionistas, atingindo umhaquota que supera ligeiramente10% do capital total da eléctrica eque lhe permitiria negociar comACS a co-direcçom das grandeslinhas de intervençom da eléctricase prosperar a sua aliança.

Desregulaçom e preço da energiaOs velozes movimentos de capitaisque fortalecêrom o processo demonopolizaçom do sector energéti-co produzírom-se num momentode iminente desregulaçom dos pre-ços. Nos últimos dez anos as eléc-tricas pactuárom com o governoAznar e o do PSOE a contençomdas tarifas energéticas para assimse manter a inflacçom e se reduzir odéfice público durante umha épocaem que a taxa de consumo eléctri-co se viu incrementada em 6%anual. Assim, no Inverno e no Veraopassados produzírom-se no Estadoespanhol máximos de procura depotência eléctrica nunca antes con-hecidos neste sistema eléctrico,que ameaçou em várias ocasions ofornecimento de vários territóriosestatais. O crescimento da procura,

unida à pressom das companhiaspor liberalizar os preços e a suaposiçom cada vez mais dominante,situam o Estado numha encruzil-hada quando se trata de incidirsobre as decisons das empresaseléctricas. E umha subida de pre-ços implicaria um incremento doIPC significativo que o governoespanhol deveria compensar.Cumpre ter em conta que nesteperíodo o crescimento da tarifaenergética em Portugal foi superiorem 29% em relaçom ao Estado

espanhol, enquanto em Itália supe-rava esta quantia em 80%.

As perdas das empresas eléctri-cas, tanto as acumuladas nos últi-mos anos, como as sofridas em2005 polo incremento do preçodo petróleo e o défice tarifário(estimado polo próprio sector em3.000 milhons de euros), obriga-rám o governo do PSOE a novoscálculos compensatórios. Da novatarificaçom dependem os projec-tos futuros de todas as empresaseléctricas espanholas.

O ministro da Indústria, JoséMontilla, mantivo recentementeumha reuniom com as três gran-des petrolíferas que operam no

Estado, Repsol-YPF, CEPSA e BP,às quais transmitiu a necessidadede moderar as margens de benefí-cio com que trabalham para impe-dir o retrocesso dos sectoresdependentes do consumo depetróleo que agora atravessamumha crise derivada do espectacu-lar incremento dos preços.

ACS e o sector energéticoA bem sucedida operaçom de ACS"responde ao objectivo do grupo demeter um pé em cada sector estra-tégico", como afirmava FlorentinoPérez, mas também para comple-tar a sua própria rede industrialvinculada ao sector energético. Para

Nom estám previstos investimentos para melhorar umha rede eléctrica deficitária,obsoleta na capacidade de distribuiçom para manter o consumo industrial e doméstico

O crescimento daprocura, unida àpressom porliberalizar os preços,situam o Estadonumha encruzilhadaà hora de incidirsobre as decisonsdas eléctricas.A subida da tarifaenergética emPortugal foi superiorem 29% em relaçomao Estado espanhol,enquanto em Itáliasuperou estaquantia em 80%

Frente aos jogos do grande capital,a Galiza continuará a produziraproximadamente 10% do totalda energia gerada no Estado,exportando quase metade da suaproduçom. Dos 21.111 gigavátiospor hora (Gw/h) que se fabricá-rom no País durante 2003, 10.188fôrom para vender fora do territó-rio galego. Nom por acaso, dispo-mos de mais linhas de alta ten-som que enviam a electricidadepara o Estado espanhol que as quea distribuem dentro da Galiza,proporçom que se verá incremen-tada com a implementaçom dedous novos corredores da máximaenvergadura permitida na altatensom (400 Kw) que fechariamum novo anel entre as Pontes,Alumina e Ponferrada, atraves-sando centos de quilómetros danossa geografia. O primeiro doscorredores, que vai do Mesom doVento às Pontes e está em trami-taçom, afectará por volta de 2.400parcelas no seu percurso de 64,5quilómetros e calcula-se que asobras poderám começar entre2006 e 2007, com um orçamentode 21 milhons de euros. A abertu-ra destas novas linhas justificaria-se, conforme às exigências dasempresas do sector eléctrico, polaevacuaçom do caudal de energiaeólica, dado que a maior parte dosaerogeradores nom disponhemdos mecanismos necessários parabalançar a energia eléctrica na suaincorporaçom à rede, que precisade se ajustar à procura, aspectoque seria solucionado com estaslinhas de alta tensom. Tambémseriam necessárias para a dota-çom infra-estrutural reclamadapolos projectos energéticos pre-vistos, como as plantas de ciclocombinado e o projecto deReganosa na ria de Ferrol.

Por enquanto, nom estám pre-vistos investimentos conhecidospara melhorar umha rede eléctricainterior deficitária, obsoleta na suacapacidade de distribuiçom a baixatensom para manter o consumoindustrial e doméstico. Nas esta-tísticas de 2003, a Galiza figuracomo umha das autonomias esta-

tais com pior cobertura energética,registando a segunda posiçom emnúmero de falhas de corrente('apagons') da rede de alta tensom.

Neste momento está de actua-lidade o futuro imediato do sectoreólico, que tem produzido dissen-sons entre os planos do Ministérioda Indústria, a Conselharia e osprojectos das empresas. La Voz deGalicia, diário que tinha publicadoumha série de reportagens críticascom a acelerada penetraçom daseólicas e os privilégios de queeram objecto, surpreendia-nos nodia 3 de Outubro com informaçomdestacada e crítica com a reduçomda quota de potência eólica previs-ta, que deixava em 3.400 os 6.500megavátios (Mw) previstos polasempresas e a anterior administra-çom. No mesmo jornal, umhadelegaçom comarcal relatava asituaçom de Lamasapim, umhaaldeia de Maçaricos localizada a200 metros do parque da Serra deOutes, precisamente de ACS, queconta com os aerogeradores demaior tamanho dos instadados naGaliza. Os e as moradoras destaparóquia tenhem problemas polas

oscilaçons de tensom, que afec-tam os seus electrodomésticos emesmo as máquinas para mugir asvacas que, polas variaçons do abas-tecimento, funcionam defeituosa-mente, provocando danos nos ani-mais e na sua produçom leiteira,para além de impedir o seu funcio-namento simultáneo.

De forma paralela à instalaçomde novos parques em lugares devital importáncia natural como aSerra do Suído, fenómeno gene-ralizado que a actual Conselhariada Indústria pretende deter,segundo já manifestou, um totalde 117 cámaras municipais estáma mostrar-se agora muito descon-tentes com os acordos estabeleci-dos com as eólicas. Encabeçadaspolo presidente da FederaçomGalega de Municípios eProvíncias, FEGAMP, e daCámara de Lalim, José Crespodava umha conferência deimprensa representando os muni-cípios afectados, na maior parte doPP, em que denunciava que asmultinacionais se aproveitaram"da desinformaçom" e "nom tivé-rom contemplaçons para se apro-veitarem das cámaras", preten-dendo obter um maior benefíciopor parte das empresas eólicas ins-taladas com o seu beneplácito e oda anterior administraçom.

ACS conhece de perto o negó-cio eólico, que explora por meiodas suas empresas Eyra e Cobra.Além do mencionado parque daSerra de Outes, administra o par-que de Requeijo, nas Somoças, e ode Tourinhám, para além deoutras instalaçons em territórioespanhol, português e latino-ame-ricano. Em finais de 2004 geravaperto de 300 megavátios (Mw) apartir das eólicas com 12 parquesem exploraçom, 7 em construçome 35 em tramitaçom, com os quaisprevê ultrapassar os 1400 Mw coma sua implementaçom final. Destamaneira, em 2004, depositou 10%dos seus investimentos no sectoreólico e tem manifestado o seuinteresse em explorar a fundo onegócio de parques eólicos no mar,denominados off-shore.

A energia que recebemos

A compra de ACSresponde aoobjectivo do grupode meter um péem cada sectorestratégico, mastambém paracompletar a suarede industrialvinculada aosector energético

Dos 21.111 Gwpor hora que sefabricárom em2003, 10.188fôrom exportados.Nom por acaso,dispomos de maislinhas de alta tensomque enviam aelectricidade parao Estado espanholque as que adistribuemdentro do nossoterritório

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NOVAS DA GALIZA15 de Outubro a 15 de Novembro de 200512 A FUNDO

além das mencionadas Eyra eCobra, conta com a companhiaImes, centrada na iluminaçompública; Maessa, que executa labo-res de manutençom, instalaçom eserviços em áreas vinculadas à elec-tricidade, mecánica e sistemas decontrolo, assim como Semi, dedi-cada à manutençom e instalaçomde redes em traçados ferroviários.Com a denominaçom de ACS eoutras, tem capacidade para cons-truir centrais térmicas, de ciclocombinado, centros e subestaçonsde transformaçom para o transportee distribuiçom de energia, e tam-bém refinarias, centrais petroquí-micas e de regaseificaçom. Dispomde mais de 50 anos de experiênciana distribuiçom eléctrica, de gás ede água, para além de instalar emanter redes de alta tensom einfra-estruturas eléctricas.

A compra do corpo de accionistasdo Santander por parte de ACS emFenosa, de forma semelhante à pas-sada aquisiçom de 22% deDragados ao mesmo vendedor,potencia ámbitos de trabalho já ini-ciados pola própria empresa e com-plementa a sua capacidade no sec-tor energético aproveitando assinergias obtidas com as quaispoderá, por exemplo, construir ascentrais que depois explore,fechando assim o ciclo.

Desde a operaçom de compra dasacçons do SCH, a quotizaçom deUniom Fenosa na Bolsa tem experi-mentado umha revalorizaçom de3,5% numha semana, situando-se ovalor da empresa em bolsa em 8.000milhons de euros.

A Corporaçom Financeira Alba é aprincipal accionista de ACS e estápresidida por Carlos March, o filhodo financiador do golpe franquistaJuan March e membro da

Comissom Trilateral, umha obscuraaliança dos máximos líderes políti-cos e económicos do planeta paratraçar as linhas estratégicas interna-cionais, fundada por DavidRockefeller em 1973 para manter ahegemonia dos blocos de podermundial. A companhia presididapor Florentino Pérez entrou recen-temente no selecto grupo das 500primeiras empresas do mundosegundo a revista Fortune, depoisde conseguir um volume recorde defacturaçom em 2004 que ascendeuaos 14.152 milhons de dólares. ACSestá agora no posto 435 desta lista-gem, na qual também figuramRepsol (97), Telefónica (114), SCH(155) e Endesa (256). Com estacompra, a empresa situa-se como aprimeira do Estado e quarta daEuropa em construçom e serviços.

Sem capacidade para incidirA nova administraçom autonómicatinha apostado na estratégia deAmancio Ortega e os outros gran-des empresários autóctones com oobjectivo de 'galeguizar' Fenosa,segundo apontam diferentes meiosque indicam que era conhecedora epropiciara os planos desta agrupa-çom de capitais. Com a compra dopacote de acçons de Endesa, aempresa poderia voltar a quotizarna Galiza, o que traria receitas paraa Comunidade Autónoma e refor-çaria o papel simbólico de poder daeconomia nacional. No entanto,fontes consultadas por NOVAS DA

GALIZA do ámbito da investigaçomenergética, apontam a que o hipo-tético cenário da 'galeguizaçom' deFenosa nom levaria consigo o aban-

dono dos planos já iniciados no Paísnem implicaria nenhuma obriga-çom para que a companhia melho-rasse o serviço. "O que está emquestom é se de umha hipotética

aliança da Junta com Fenosa, aadministraçom autonómica seria abeneficiária ou bem o 'governoamigo' que a transnacional procura,por exemplo, na América Latina",afirmam especialistas consultados.

A qualidade do serviço deFenosa na Galiza é deficientesegundo confirmam estudos reali-zados sobre a qualidade das linhase o abastecimento. Quanto a isto,e em relaçom com a compra docorpo de accionistas do SCH, oautor do livro branco espanholsobre os oligopólios energéticos,José Ignacio Pérez Arriaga, afir-mou que "seguramente seria bomque na Galiza servisse electrici-dade umha empresa de capitalgalego, mas também é certo que,se em todos estes anos nom deuum bom serviço... pois melhorque venha outro". As fontes con-sultadas do sector, críticas com a

actual gestom energética, indi-cam que "o primeiro que a Juntadeveria exigir a qualquer eléctricaque operasse na Galiza som con-traprestaçons reais e efectivaspolo dano produzido no nossoterritório na geraçom e distribui-çom de energia".

Actualmente e conforme àlegislaçom sobre a matéria, aGaliza carece de capacidade com-petencial para regular a exporta-çom de energia ou intervir sobreexploraçons eléctricas cujo apro-veitamento afecte qualquer outroterritório. No Estatuto em vigornom se citam mais competênciasque as que correspondem à ener-gia gerada e consumida só no País,enquanto na proposta do FórumNovo Estatuto se fala de "compe-tência exclusiva, que se determi-nará em cada caso no seu precisoconteúdo e alcance" sobre "regi-me mineiro e energético; recursosgeotérmicos; instalaçons de pro-duçom, distribuiçom e transportede energia", ainda que nom exis-tam mençons à energia exporta-da, aspecto determinado polaRede Eléctrica Espanhola, que nocaso galego seria prioritário incor-porar. A este respeito, a propostade novo Estatuto aprovada poloparlamento catalám define que aGeneralitat participa "por meio daemissom de um informe precepti-vo no procedimento de outorga-mento da autorizaçom das instala-çons de produçom e transporte deenergia que superarem o territórioda Catalunha". Também, estipulaque a sua administraçom autonó-mica estará presente nos "organis-mos estatais reguladores do sec-tor energético e na planificaçomde ámbito estatal" quando estaafectar o seu País.

Listagem de países e denominaçons comerciais com que Fenosa opera em diferentes continentes

A CorporaçomFinanceira Alba é aprincipal accionista

de ACS. Estápresidida por Carlos

March, filho dofranquista Juan

March e membro daComissom Trilateral,umha obscura aliançados máximos líderespolíticos e económicos

a nível internacional

A hipotética'galeguizaçom' deFenosa nomconlevaria oabandono dosplanos já iniciadosno País nemobrigaçons paraque a companhiamelhorasse o serviço

Conselho de Administraçom de Uniom Fenosa anterior à venda das acçons

ACS entrourecentemente noselecto grupo das500 primeirasempresas do mundosegundo a revistaFortune, depois deconseguir umvolume recordede facturaçomem 2004 queascendeu aos 14.152milhons de dólares

Uniom Fenosa

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Segundo vozes expertas, ocontexto em que está a evo-luir velozmente o sector

energético galego poderia provo-car umha mudança no seu tradi-cional papel exportador de ener-gia polo desinvestimento nasPontes e Reganosa previsto porGás Natural se triunfar a sua OPAsobre Endesa. A paralisaçom des-tes projectos implicaria umhaqueda significativa da produçom,numha situaçom de crescente pro-cura interna. Se somamos a possí-vel introduçom do custo do trans-porte eléctrico como novo factorda tarifa, encontraríamo-nos emsituaçom de dependência e, por-tanto, com a paradoxal situaçomde pagarmos umha sobretaxa noconsumo eléctrico depois de ter-mos sido espoliados.

Conforme a estas fontes, o futuroda produçom energética passariapola diversificaçom e o impulsiona-mento das energias renováveis,nomeadamente eólica, biomasa esolar, e do gás natural, para manter aactual quota de produçom e distri-buiçom. Porém, o apelativo de'estratégicos' para qualificar projec-tos como os ciclos combinados dasPontes e Sabom, a regaseificadorade Mugardos, a terminal de carvomde Ferrol, ou o Plano Eólico, residenumha apreciaçom que consiste na

vinculaçom do impulso à indústriapesada com entornos de grande dis-ponibilidade de energia a pé deobra. Assim se instalárom pernicio-sas indústrias de enclave comoAlumina-Alumínio, inaugurada há25 anos depois de um investimentode 100.000 milhons de pesetas, queabsorve mais de 25% da electricida-de consumida na Galiza e gerouneste tempo um grave problemaambiental ainda sem resolver. Asobrevivência destes projectos nomtem porquê repercutir positiva-mente no progresso e no bem-estar.

Se a geraçom eléctrica se acom-panha de um projecto coerente de

impulsionamento das infra-estru-turas de comunicaçons e umhaindustrializaçom estruturada efuncional, a Galiza pode tirar pro-veito da condiçom privilegiadacomo produtor energético. Eisonde se torna mais relevante, severdadeiramente se trata de umsector estratégico, o papel a jogarpolo corpo de accionistas galego epolo poder político.

O BNG deve demonstrar querealmente se apresenta comobaluarte de umha nova focagempolítica integradora sem renunciarà construçom nacional. Deveorientar o debate para o reconheci-

mento da necessidade de contro-lar a exploraçom dos nossos recur-sos naturais e, no caso da energiaeléctrica, de participarmos tam-bém na sua posta no mercado.Apesar de ser umha oportunidademagnífica para o exercício reivin-dicativo através do poder, e da pos-sibilidade de alcançar eco mediáti-co e, possivelmente, elevadas quo-tas de pedagogia política, as limi-taçons jurídico-políticas actuaisimpedem nos dias de hoje desen-har e viabilizar um processo deinvestimento e desembarco públi-co em Reganosa e nas Pontes.

Compreende-se a necessidade

de dosificar as tensons internas,tanto no governo como no BNG.Mas se estamos a falar de umhaacçom de governo que deve assu-mir danos colaterais e renúncias deprioridades programáticas e prin-cípios históricos, o justo é compen-sar a situaçom, no caso do sectoreléctrico, com um discurso vee-mente em defesa das nossaspotencialidades, acompanhado deumha autêntica estratégia para for-çar a outra parte a ir assumindoposiçons reivindicativas.

Hoje som limitadas e insuficien-tes as possibilidades de a Juntaincidir sobre questons como alegislaçom sobre a fusom das cai-xas, a regulaçom tarifária e do sec-tor eléctrico ou a participaçom natomada de decisons. É prioritárioreclamar novos direitos e compe-tências, tanto no sector eléctricocomo no financeiro, e defendê-losnum hipotético cenário de nego-ciaçom estatutária. O impulsiona-mento a este sector "estratégico"trará umha vaga de projectos degrande impacto ambiental, quedeveriam ser avaliados globalmen-te e contrastados com as necessi-dades de desenvolvimento queprecisam outros sectores produti-vos básicos e, sobretudo, com anecessidade de protecçom donosso património natural.

NOVAS DA GALIZA15 de Outubro a 15 de Novembro de 2005 13REPORTAGEM

Se a geraçom eléctrica se acompanha de um projecto de industrializaçom estruturada e funcional,a Galiza poderia tirar proveito da condiçom privilegiada como produtor energético

OPINIOM

A contagem decrescente do quilovátio galego

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PEDRO ALONSO IGLESIAS

O BNG DEVE DEMONSTRAR QUE REALMENTE SE APRESENTA COMO BALUARTE DE UMHA NOVA FOCAGEM POLÍTICA

INTEGRADORA SEM RENUNCIAR À CONSTRUÇOM NACIONAL. DEVE ORIENTAR O DEBATE PARA O RECONHECIMENTO

DA NECESSIDADE DE CONTROLAR A EXPLORAÇOM DOS NOSSOS RECURSOS NATURAIS E, NO CASO DA ENERGIA

ELÉCTRICA, DE PARTICIPARMOS TAMBÉM NA SUA POSTA NO MERCADO

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NOVAS DA GALIZA15 de Outubro a 15 de Novembro de 200514 REPORTAGEM

F. MARINHO / "Queres trabalhar nomar tam novo? Entom vai primei-ro ao bonito, é um trabalho poucoesforçado, mas o dia de trabalhoserá cansativo". Era o conselho deum marinheiro veterano a ummoço de dezasseis anos com von-tade de ganhar dinheiro rápidonos meses de estio, antes de vol-tar aos estudos.

O bonito branco, do norte oualbacora, é um tunídeo que, comotoda a sua espécie, é migratória.Começa o seu caminho no Golfode México e vai até o Golfo deBiscaia. Dali, os sobreviventes vol-tarám a águas mexicanas para ini-ciarem de novo a actividade repro-dutora, e assim ano após ano.

Após as festas da Virgem doCarmo, Burela é um porto em efer-vescência. A maioria respeita a tra-diçom de nom sair para o mar antesdas celebraçons, que som nos pri-meiros dias de Junho. Mas acabadotudo, umha frota de barcos inicia opercurso até as costas dos Açores.Ali será onde se encontre cara a caracom o Thunnus alalunga, ou bonitodo norte. A costeira do bonito é aactividade piscatória por excelên-cia no Verao. Dos portos de Burela,Celeiro, Foz e Carinho saem os bar-cos boniteiros para se dedicar até omês de Outubro à tarefa de traze-rem para as lotas o prezado peixe.Antes, no mês de Maio, os marin-heiros preparam o barco para saí-rem para o mar. Umha operaçom aque chamam 'arranjar'.

Serám quase seis meses de activi-dade, de ida e volta até a retirada dobonito. As capturas irám enchendoas adegas do barco para, quandoestas chegarem ao topo, regressa-rem ao porto para a venda. Estasidas e voltas dependem em grandemedida da quantidade de peixe. A

média de permanência no mar deum boniteiro entre venda e venda,anda entre os quinze e os vinte dias,com dous escassos dias de folga.

As embarcaçons boniteiras somcaracterísticas e reconhecíveispolas 'varas' ou 'caceas', longaspeças de eucalipto ou fibra devidro, instaladas nos costados dobarco. Esta arte de pesca tambémé conhecida como 'curricám', nomeprocedente do catalám.

A arte, a rede e a guerraO bonito é um predador insaciável.Sempre atacará bancos de espéciespelágicas, as chamadas 'manchas',que podem ser de qualquer peixe oucrustáceo considerado apetecívelpolo tunídeo. Quando aparece amancha detectada polos aparelhoselectrónicos ou a simples vista (esti-lo basco), o barco abrirá a 'cacea'

como duas asas e começará a pescaselectiva do peixe. Umha a umha,irám içando as peças pescadas parametê-las na adega refrigerada. Opeixe nom se corta, nom se limpanem se lhe retiram as vísceras: iráinteiro para o mercado; esta é umhadas características que melhor defi-nem o bonito do norte: a limpeza.

Para pescá-lo, o isco que seemprega pode ser vivo (anchova,normalmente) ou artificial.Colocado nos anzóis, estes somespalhados no mar até que 'surdem'os bonitos. Trata-se de umha artede pesca selectiva que nom danaoutras espécies marinhas, só captu-

ra bonito. É o caso contrário davolanta, rede pelágica que podemedir até 20 quilómetros e chegar aprofundidades de vinte metros.Este método de pesca, conhecidoentre marinheiros galegos, asturia-

nos, cántabros e bascos como as 'cor-tinas da morte', som malhas quenom respeitam o processo evolutivodo mar. Muitas ficam à deriva,depois de considerarem os seusdonos que nom servem. Isto produzumha chacina indescritível no mar.

A volanta foi a causadora da"guerra do bonito" em 1994.Marinheiros galegos, bascos, cán-tabros e asturianos, cansados deprotestar perante a UE poloemprego de artes assassinas, deci-dírom luitar contra os volanteirosde maneira aberta. Estes erammaioritariamente franceses, britá-nicos e irlandeses. O momentoculminante sucedeu no Verao de1994, quando o pesqueiro francêsLa Gabriele foi abandonado polatripulaçom e logo rebocado até oporto de Burela. Nas naves da con-fraria burelesa, diante de peritos ecámaras das televisons espanhola,galega e francesa, comprovou-seque a longitude das redes do barcofrancês chegava aos sete quilóme-tros, superando em dous a distán-cia permitida pola UE. Nas pala-vras de Xabier Aboi, da CIG-Mar,aquele facto fora "umha actuaçomde defesa legítima tendo em contao desleixo dos governos galego eespanhol naquele assunto".

Hoje em dia, as volantas somproibidas, mas as negociaçons paraa sua eliminaçom fôrom duras evacilantes, enquanto aumentavamos actos de violência, incluindo dis-paros contra boniteiros tradicionaise ecologistas por parte de pesquei-ros franceses.

Subidas e descidas, difícil equilíbrioAs oscilaçons de preços e de captu-ras som os principais selos distinti-vos do mercado do bonito. Nemsempre se consegue um preço que

A costeira do bonito é a actividade piscatória por excelência no Verao. Dos portos de Burela, Celeiro, Foz e Carinho saemos barcos boniteiros para se dedicar até o mês de Outubro à tarefa de trazerem para as lotas o prezado peixe

A costeira do bonito na encruzilhada

Apesar de ser umha das actividades piscatórias mais importantes do Verao, a captura dobonito do norte sofreu nos últimos anos umhas variaçons em preços e capturas quepugérom em perigo a sobrevivência da frota nos portos galegos do Norte. Esta activida-de também enfrentou as ameaças das outras potências piscatórias da Europa: França,

Irlanda e Reino Unido, que empregárom artes de pesca depredadoras, originado assim,no ano 1994, a chamada "guerra do bonito". Dez anos depois daquele choque, pareceque a situaçom pode melhorar, mas o incremento do preço dos carburantes fai comque hoje o bonito saia caro, capturá-llo e comprá-llo.

O SECTOR ENFRENTA A LENTA RECUPERAÇOM DA PESCA

REPORTAGEM

As oscilaçons depreços e de capturassom os principaisselos distintivosdo mercado dobonito. Nemsempre se consegueum preço quecontente toda agente, nunca sepaga suficientepara compensar oesforço da costeira

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contente toda a gente, nunca sepaga suficiente para compensar oesforço da costeira.

Os meses de Julho e Agosto somos que registam um maior númerode vendas. É o momento em queabunda o bonito, pois está a meiodo caminho. Polo contrário, Maio,Junho e Setembro som meses deescassa pesca. Nos primeiros por-que o peixe ainda está chegando;no último, porque parte.

As oscilaçons que se registamem Burela nas capturas, som umhaconstante que tivérom o momen-to mais baixo no período 1998-2004. Em 1995 os quilogramas debonito capturado superárom osquatro milhons, mas em 1998fôrom de um milhom e seiscentosmil quilos. O momento mais preo-cupante foi em 2002, onde nomse chegou ao milhom de quilos.Na presente campanha, os níveisde capturas aproximam-se dos de1984. As explicaçons a este com-portamento estám, nomeadamen-te, na reduçom da frota boniteira,quer por causa da imposiçom daUE quer polo abandono da activi-dade de alguns barcos depois da"guerra do bonito".

Mas no assunto dos preços acousa muda. O número de captu-ras nom implica sempre um resul-tado económico paralelo ao obtido

em quantidade de peixe. O quese observa nos últimos anos na lotade Burela é umha reduçom dopreço médio do quilo de bonito.No ano 2002 as capturas nomsomárom o milhom de quilos, maso preço do quilo pagava-se a 4,68euros, com um saldo total quesuperava os quatro milhons e meiode euros em benefícios. Em 2005,com dois milhons e meio de quiloso preço médio do quilo está em2,91 euros, e o total soma mais desete milhons de euros, nível debeneficio que ainda nom chega aode 1989. Segundo dados de ABSA(Armadores de Burela S.A.) opreço reduziu-se em 9,27%,enquanto que as capturas com res-peito ao mesmo período do anopassado, aumentárom em 47% e afacturaçom em 34%. Onde está aquestom? Intermediários eaumento de preços em centroscomerciais e peixarias.

Mas o interessante produz-sedurante o tempo que dura a cos-teira. As diferenças entre as pri-meiras vendas e as últimas somabismais. Em Burela, na primeirasemana desta campanha de 2005,pagou-se o quilo a 7,86 euros, ena última semana de Setembroos pagamentos médios fôrom de2,91 euros. O motivo destasvariáveis é que no princípio dacosteira nom há peixe avondo,enquanto que nos últimos dias aoferta é muito maior.

Todo este movimento monetá-rio, essa facturaçom registada no

cais burelao, nom compensamuito o esforço realizado polosbarcos. As greves nas lotas do diaquatro de Outubro, deixárom emevidência o que era conhecidopor toda a gente. O aumento nopreço do carburante tambémchegava à frota boniteira. Todo omundo está de acordo. O actualpreço do gasóleo, que rondaria ousuperaria os quarenta cêntimospor litro (76 pesetas por litro),traduz-se num incremento de80% com respeito a 2004. Osbenefícios tirados das vendas depeixe nom cobrem de maneirasuficiente os custos que leva con-sigo a actividade piscatória.

FuturoActualmente, o ritmo de capturaaumentou. Os motivos já se apon-tárom: o retorno de alguns barcosque tinham abandonado a activi-dade e a eliminaçom das volantasque trouxo consigo o fim das hos-tilidades entre boniteiros tradi-cionais e volanteiros. Tudo istosoma-se a um crescimento daespécie, pois a desapariçom dasredes pelágicas fijo com que osbancos de bonito recuperassemvolume. As capturas, segundoestimaçons de armadores e demarinheiros, irám em aumentonos vindouros anos. Este aumentopode fazer com que a costeira dobonito recupere o peso perdidonos últimos anos, podendo con-verter-se em actividade comple-mentar de outras actividades.

NOVAS DA GALIZA15 de Outubro a 15 de Novembro de 2005 15REPORTAGEM

O conflito do Fletám e a NAFOA situaçom dos barcos galegos noexterior passa agora por ummomento delicado. A frota con-geladora está a ser assediada naságuas internacionais daOrganizaçom de Pescas doAtlántico Noroeste (NAFO), aentidade que vela polo bom uso,captura e comercializaçom dopeixe nesta parte do oceano. Estaimpom quotas de capturas sob apressom do Canadá e países afins.Com estas medidas pretende-sepressionar os galegos e portugue-ses, para que aos poucos deixem olugar e a pesca do fletám. Naviosde guerra, helicópteros e lanchasrápidas fustigam os barcos gale-gos para que abandonem a pesca.O Canadá, em recente visita doembaixador em Espanha à Galiza,declara que se podem resolverdiferenças com a abertura do mer-cado canadiano aos produtos gale-gos. Na actualidade, os pescado-res galegos som os que maissofrem a limitaçom de capturas.

A frota congeladoraestá a ser assediadanas águas da NAFO,que impom quotasde capturas sob apressom doCanadá e paísesafins. Pretende-sepressionar os galegose portugueses,para que aos poucosdeixem o lugar e apesca do fletám

A Organizaçom de Pescas do Atlántico Noroeste (NAFO) vela polo“bom uso, captura e comercializaçom” do peixe nesta área

A volanta foi acausadora da “guerrado bonito” em 1994.

Marinheirosgalegos, bascos,

cántabros e asturianos,decidírom luitar

contra os volanteirosde maneira aberta.

Estes erammaioritariamente

franceses, británicose irlandeses

As greves nas lotas do dia quatro de Outubro, deixárom em evidência que o aumento no preço do carburante tambémchegava à frota boniteira. Os benefícios tirados das vendas de peixe nom cobrem de maneira suficiente os custos

Espera-se que as capturas vaiam em aumento nos vindouros anos. Se o bonitorecuperar o peso perdido, pode converter-se em actividade complementar de outras

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NOVAS DA GALIZA15 de Outubro a 15 de Novembro de 200516 CULTURA

CULTURA

Quais som as origens e osobjectivos do Espaço Galego?Nasceu em Barcelona porqueexistiam grupos e colectivosgalegos que estavam a trabalharindependentemente, e decidiu-seque era preciso coordená-los.Confluírom organizaçonsvinculadas ao teatro, à rádio, aosrestos de Nunca Mais Catalunha ealgumhas outras iniciativas queestavam a surgir. Os nossosobjectivos som a criaçom de umespaço colectivo aberto para aintervençom política, cultural esocial nos Países Cataláns e adifusom da realidade da Galiza naCatalunha, contribuindo tambémpara o processo inverso: a difusomda realidade catalá na Galiza.

Como descreverias a realidadegalega na Catalunha?É bastante diversa. Poderíamosestabelecer um corte geracionalentre a velha migraçom, que temumha situaçom sócio-laboral maisestável e cuja integraçom naCatalunha já vem de bastanteatrás, e umha nova migraçom,basicamente de gente nova e cujasituaçom sócio-económica é maisinstável: padece a flexibilidadelaboral, a precariedade e osproblemas da habitaçom quetambém sofre a juventude catalá.E esta nova migraçom confluitambém com a segunda geraçomde galegos estabelecidos naCatalunha.

Qual é a visom predominante daGaliza nos Países Cataláns?Reproduzem-se um pouco os

estereótipos que sempre tenhemacompanhando os galegos e asgalegas. Parte do trabalho consisteem romper com essespreconceitos e demonstrar que anossa é umha sociedadecomplexa, dinámica, plural... que arealidade política da Galiza nom éum reflexo da realidade social.

A actividade do Espaço Galegonestes momentos está reduzida aoámbito do Principado daCatalunha ou abrange o conjuntodos Países Cataláns?Basicamente está reduzida aoámbito de Barcelona. Porém, jáexistem nom apenas contactos,mas gente que está organizada noPaís Valenciano e mesmo algumcontacto nas Ilhas Baleares. Oobjectivo da vindoura assembleia

geral é articular umha fórmula deorganizaçom para um territóriotam extenso como é o dos PaísesCataláns.

Que tipo de relaçons tem oEspaço Galego com organizaçonscatalás?Ainda é um pouco cedo paravalorizá-las. Até agora reduziu-se aumha troca de informaçom, acessom de espaços para arealizaçom das nossas actividades,como o Ateneu La Torma,CEPC... Pretendemos que essasrelaçons sejam mais constantespara integrarmo-nos completa-mente na rede de organizaçons emovimentos sociais cataláns. Defacto, participámos, no dia 11 deSetembro, na IV Mostrad’Entitats dels Països Catalans.

Para analisar e reflectir sobre ochamado “audiovisual galego”talvez tivesse sido oportunocomeçarmos pola definiçom detam discutido termo, mas, preci-samente por ser assunto intrin-cado, preferimos umha soluçompragmática: deixemos que o“audiovisual galego” tome corpoou visos de possibilidade aolongo desta série de artigos queaqui encetamos ou, polo contrá-rio, que a nuvem de fumo ementiras em que assenta se dis-solva mercê dos comentáriosaqui plasmados. Esperamos que,em qualquer caso, a reflexomsobre a (in)existência do concei-to venha a ter conseqüências nonível da acçom e da construçomde algo baseado na criaçom apartir da identidade e os e asprofisionais galegas cuja deno-minaçom já se decidirá maisadiante.

Longos anos de impolíticaaudiovisual por parte da Juntada Galiza, baseada, em grandestraços, no aspecto quantitativo eno crescimento acelerado e des-estruturado do sector, conduzí-rom a umha situaçom aberranteno caso concreto das ajudas àproduçom de vídeo e cinema.Nom é preciso mais que darumha vista de olhos às diferen-tes convocatórias, desde a suaprimeira ediçom em 1988, paranos apercebermos da evidenteausência de umha linha clara ecoerente de apoio à criaçom deum tecido audivisual galegobaseado em ideias e profissio-nais próprios e próprias.

Detenhamo-nos na últimaconvocatória, outro dos inúme-ros méritos do ‘ex’ Pérez Varela.As derradeiras subvençons doseu mandato, concedidas poucodespois da derrota eleitoral do

PP, incluírom o apoio à produ-çom audiovisual em língua gale-ga, aberto a projectos de curtas,longas, animaçom, telefilmes,documentários e capítulos pilo-to de séries de televisom. Talamálgama numha só convocató-ria é a primeira mostra de umhafalta total de critérios e de inte-resse em promover os conteúdose os e as profissionais do País.Basta reparar nas condiçons paraaspirar ao subsídio: as empresasprodutoras nom tenhem que sergalegas, mas simplesmente con-tar com umha agência de repre-sentaçom na Galiza. A geraçomde emprego entre profissionaisda Galiza (técnicos e técnicas,actores e actrizes, chefes ou che-fas de equipa durante as roda-gens) será valorizada positiva-mente, mas nom constitui umcritério de exclusom, da mesmamaneira que os contributos paraos valores culturais da Galiza.Quanto às gravaçons, só 25%deverá desenvolver-se, obrigato-riamente, no território galego.

Sabemos aonde conduz estapolítica de apoio ao “sectorestratégico” do audiovisual.Embora os meios de comunica-çom oficiais teimem em falar deum crescimento sem preceden-tes na produçom de filmes ‘gale-gos’, a presença de profissionaise ideias galegas é testemunhalna grande maioria deles. A ten-dência dos principais represen-tantes empresariais do sector abuscar o risco zero (algo insólitonum empresário) por cima dosinteresses artístico-culturais,também contribuiu em grandemedida a que a Galiza se conver-tesse no “paraíso das co-produ-çons”. Mas dos dinossauros doaudiovisual galego falaremos napróxima ocasiom.

Ângelo Pineda: “O Espaço Galego é umcolectivo de intervençom na Catalunha”

Ângelo Pineda é membro do Espaço Galego.

ENTREVISTA

IVÁN CUEVAS / Barcelona perfila-sse como um dos centros económicos da actual Europa do capital. A afluênciapor esta razom de milhares de pessoas de todas as nacionalidades para a cidade mediterránica torna inevitávelque esta vire em caldo de cultura para a consciência e a organizaçom dos colectivos migrantes, que começam asituar-sse à cabeça das reivindicaçons sociais neste canto da península. O povo galego, que nunca cessou deemigrar, nom fica fora deste movimento. O recentemente criado Espaço Galego dos Países Cataláns vemromper com a alienaçom de que tradicionalmente fizérom gala os Centros Galegos, propondo umha visomcrítica e combativa da galeguidade na Catalunha. Falamos com um dos integrantes do mesmo sobre o quesignifica o Espaço Galego.

ENTRE LINHASMisérias do audiovisual galego

Das co-produçons (I)

COMBA CAMPOY,XIS COSTA

e ALBERTE PAGÁN

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NOVAS DA GALIZA15 de Outubro a 15 de Novembro de 2005 17CULTURA

Certamente, existe. Comopalavra só é o nome do nossopaís. O nome histórico ecorrecto, conservado nas falasgalegas ao sul do Minho.Recuperado pola tradiçomliterária galega do século XIXe empregado politicamentepolo nacionalismo desde osanos 20 do passado século.Esta última acepçom é a quetraz problemas, sobretudopara os sectores maisespanholistas que há naGaliza.

Quando o governo galegoafirmou que nas camisolas daselecçom galega de futebol sepoderia ler “em letras grandese claras” o nome correcto doPaís, houvo reacçonscontrapostas. Para muitos,isto nom era mais do queumha mostra de dignidade.Outros atacavam estadignidade porque sabiam o

que isto significa politica-mente. A Galiza orgulhosafrente à Galicia submissa, maisumha vez. Finalmente, Galizanom será utilizado após aspressons do espanholismomais rançoso, nomeadamentede La Voz de Galicia. Umhaprimeira decepçom para osque tentamos, dia-a-dia,construir-mos um país digno.

Além disso, somosdecepcionados por aquelesque partilham a procura destadignidade. Agora só restaaprender desta pequenaderrota e continuarmos a fazerPaís.

Galiza tem de estarpresente a 29 de Dezembro,se nom for nas camisolas dosjogadores será nas nossas.Tem de ser um dia de festa,mas também um dia paramostrar ao mundo queGALIZA existe.

JOANA PINTO /Ingredientes (4 pessoas): 1 frango de 1 kg, aproximadamente,sem osso, 1 kg de carne de vitelapicada, 4 salsichas frescas, 2 ovos, 2fatias de pam de forma molhadasem leite, 1 copo de xerez, sal, pimen-ta negra e branca e um pouco demanjericom.

Batemos os ovos numha tigela,acrescentando pimenta branca,sal, manjericom e xerez. A

seguir, tiramos a carne das salsi-chas e acrescentamo-la à tigelajunto com a carne picada e o pam,amassando tudo muito bem.Depois lavamos bem o frango,cosemos pola parte superior erecheamos. Cosemos muito beme atamos para que fique com aforma do frango. Polvilhamos comsal e pimenta negra e metemosno forno quente. Podemos servi-lo frio ou quente, com saladaverde.

ARROZ COM CHÍCHAROS

Frango recheado frio

UM DISCO...

Hepta, um dos melhores trabal-hos de Berrogüeto. Treze temasem homenagem ao número sete;hepta (7) som os elementos dogrupo e hepta (7) é o númeromais mágico da natureza.(Boa-Music)

DOUS WEBS...

www.va-ca.org, o web da organiza-çom decana do movimentoretranqueiro galego; ridiculismoanti-colonial mugido nesta Galizasubmetida ao Império Pequeno.

www.bdbanda.com, o site do colec-tivo BD Banda, meio de expres-som e plataforma de lançamentodos autores e autoras de bandadesenhada do nosso país.

E DOUS LIVROS...

Centoonce. Formas singelas parareflectir o mais profundo da quo-tidianeidade neste novo livro depoemas do nosso colaboradorKiko Neves. (Xerais)

Espiral de Lideiras. Primeiroromance do luso-galego-brasileiroXurxo Estévez, um activista daarte de intervençom que viaja daGaliza a Creta, passando polassuas teimas. (Espiral Maior)

TABELA CULTURAL

GALIZA existe

MIGUEL R. PENAS

PORTAL GALEGO DA LÍNGUA (www.agal-ggz.org)

PALAVRASCRUZADAS: Horizontais1a.1a.- Rena; 1b.- Cangurus. // 2.- Lua. // 3a.- Real; 3b.- ceder. // 4.-Alpaca. // 5.- Preguiça. // 6.- Baleia (azul). // 7.- Barata. // 8.- devalar. // 9.- turrar. //10.- Pingüim. // 11.-(Camilo Dias) Valinho. // 12.- teatreiro. // 13. – soberbo. // 14.- anhos. // 15a.- ursos ; 15b.- Orestes. .Verticais:1a.- Relambida; 1b.- atreu. // 3a.- (A) Veiga (do Eu) // 4.- alcateia. // 5.- lagartas. // 6.- carapaça.// 7.- reizinho // 9a.- gulag; 9b.- ANT; 9c.- vosso. // 11.- receita // 12.- terríveis // 13a.- SAD; 13b.- Arara.// 15a.- Sara Mago; 15b.- Póvoas. DESCOBREOQUESABES:Soluçons: 1. 1985; 2. Montreal 1976; 3. Ponte Areias; 4. José Martí; 5. 1970; 6.

Lôpez Suevos

Soluçons TEMPOS LIVRES:

Livrarias Colaboradoras: Torga (Ourense), A Palavra Perduda (Compostela)

SOMOS DECEPCIONADOS POR AQUELES QUEPARTILHAM A PROCURA DESTA DIGNIDADE.

AGORA SÓ RESTA APRENDER DESTA PEQUENADERROTA E CONTINUARMOS A FAZER PAÍS

ALONSO VIDAL / No dia 14 deOutubro o colectivo da revista BDBanda recebeu o XV PrémioOurense de banda desenhada.Outorgado pola Casa daJuventude e o Pelouro da Cultura,este prémio distingue o melhortrabalho a favor da bandadesenhada. E está dotado comumha estatuinha realizadaexpressamente polo artistaManolo Figueiras. A distinçomsoma-se à obtida este mesmo anono Saló del Còmic de Barcelona comoo melhor fanzine de BD e implica,para os autores, umreconhecimento explícito do seudilatado labor em prol doprestígio desta arte.Germám Hermida comenta-nosque após a publicaçom em Maiodo número 6 da revista e, no pas-sado mês de Agosto, de ‘TitoLongueirón, Deportista’ (Pinto eChinto), tenhem em andamento

a dupla ediçom simultánea doálbum ‘Astro’ do madrileno JavierOlivares, em espanhol e em gale-go, que inclui, além de muitosconteúdos extras, umha amplaentrevista ao autor. Trabalhamtambém na ediçom para o merca-do espanhol de ‘Fiz nos Biosbardos’de Kiko da Silva. Participárom nasjornadas de Ourense desenvolvi-das até o 15 de Outubro, na expo-siçom ‘BD Banda’, que já se pudover em ‘Vinhetas desde o Atlántico’ eque continuará o seu percursopola geografia ibérica, e estámenvolvidos na melhoria e reestru-turaçom da sua web www.bdbanda.-com, que pretendem manter emconstante actualizaçom.Fiéis ao seu espírito inicial, osucesso obtido ultimamente emvários frentes nom lhes impedededicar esforços à dinamizaçomda BD; nesta linha mantenhemcontactos com diferentes institui-

çons, para desenvolverem activi-dades ao redor do mundo do des-enho em banda. Afirmam, porexemplo, estarem à disposiçomda Junta e da Mesa na campanhaa favor da galeguizaçom deAstérix, contribuindo com o seuconhecimento sobre o tema, aomesmo tempo que recebem, nosúltimos meses, diferentes propos-tas de publicaçom, tanto de auto-res galegos como foráneos, queestám a negociar. No aspectoempresarial destaca o projecto deprofissionalizaçom da revista pre-vista para a próxima Primavera,que contará com a colaboraçomde Kalandraka. Nessa altura tam-bém esperam ter pronta a ediçomde umha compilaçom de históriasda revista em espanhol. E prome-tem ainda mais cousas, que seham de conhecer em breve e quepretendem revolucionar o panora-ma da BD do País.

BD Banda ganha também o prémio Ourensede banda desenhada

SOLE REI / Centoonce som,efectivamente, cento e onzepoemas. Versos singelos na forma,nos quais é fácil sentir-sereflectida pola quotidianeidadeda temática, e que sabem chegar,desta maneira, ao mais fundo dassensaçons do dia-a-dia. O vaziopolo trabalho insatisfactório, osentimento de absurdo vital, asdificuldades na comunicaçomcom os demais, a incapacidade deamar, o medo e a incertidumefrente ao futuro... A contradiçomentre forma e fundo, emdefinitivo, que Kiko Nevesreflecte duplamente neste

poemário; por um lado nosconteúdos, que falam do euinterior mais melancólico por trásda sóbria fachada da existência

comum, e por outro na forma,com a qual o ponte-areaoconsegue que a leitora nom fiqueindiferente sem necessidade degrandes metáforas nem filigranasmetalingüísticas.

O volume, que foi editado porXerais neste Verao, ainda está aser apresentado polo seu autor,que tinha publicado já com ante-rioridade os poemários Ruído deMotos e Un Poema de Amor, assimcomo a obra narrativa Un Baile deMoscas, com a qual se apreciam,por outra parte, proximidadestemáticas e formais, constituintesdo encanto da escrita nevada.

Kiko Neves apresenta o seu poemário Centoonce

O colectivo recebe este novo sucesso com mais projectos editoriais e maior profissionalizaçom

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NOVAS DA GALIZA15 de Outubro a 15 de Novembro de 200518 E TAMBÉM...

“Tudo começou –diz-nos Tone-quando um grupo de militantesda AMI pretendêrom abrir umespaço libertado na Corunha,inspirando-se no que já porentom era um modelo em augepola Galiza adiante.” Joámesclarece que a virtude dos cen-tros sociais “é superar as depen-dências políticas e partidárias;por isso, este núcleo inicial logose ampliou e procurou apoiosem redes mais amplas”.

Tone acrescenta que “comefeito, chegamos a gente muitodiferente do independentismoe da esquerda corunhesa, atéconseguirmos funcionar emassembleia aberta, o que, acha-mos, favoreceu a confiançamútua e a implicaçom real daspessoas. Daí que no Atreu parti-cipem na actualidade muitaspessoas sem filiaçom, militan-tes de BRIGA, AMI ou mem-bros d’A Deriva.

Ao lhes perguntarmos em quefase se acha o centro, nom duvi-dam: “superamos umha etapainicial de mera ‘subsistência’,recolha de fundos e organiza-çom de concertos”, afirmaJoám. Hoje procuram diversifi-car as actividades realizadas,envolver no Atreu novos secto-res políticos alternativos “semmais barreiras que a assunçomda questom nacional e a defesada língua”, e nomeadamenteconectar com a mocidade commais algo que a “simples festa”.

Ivám é informático amador eum dos responsáveis polo fun-cionamento, em pleno centrosocial, de um pequeno cíber

gratuito e de um servidor paramovimentos sociais corunheses.Como responsável polo ‘labora-tório de informática’ do Atreu,incide na necessidade de ‘pro-mover a alfabetizaçom informá-tica dos e das activistas popula-res, mas sempre de umha pers-

pectiva participativa’. Na actua-lidade, está a trabalhar paraespalhar a utilizaçom de Linux,com a perspectiva de abrir-se aoresto do bairro. “Num futuropróximo, aguardamos manterum servidor mais amplo e, se forpossível por questons de segu-rança, descentralizar indyme-dia-Galiza, dada a importánciaque estám a ter os meios decomunicaçom alternativos paraprojectos como o nosso.”

“O espaço está já assente,conclui Joám. Já se nos pede ocentro para a realizaçom deactividades por parte de entida-des de diferente tipo; agora, doque se trata é de dinamizarmoso projecto implicando-nos nobairro e oferecendo formaçom asério em todos os campos, dahistória à sexualidade, passandopolas drogas”.

HORIZONTAIS: 1a.- Mamíferos cervídeosque puxam do trenó dessa personagemdo Natal inventada pola Coca-Cola; 1b.-Mamífero marsupial que salta ou anda aospulos; ícone da Austrália (plural). // 2.-Cobriu o sol durante o eclipse anular. //3a.- Moeda do Brasil; 3b.- Transferir (aoutrem) direitos, posse ou propriedadede algumha cousa; entregar, dar. // 4.-Mamífero da família dos camelideos,menor que a lhama ou lama, frequente noPeru e na Bolívia. // 5.- Mamífero arboríco-la cujo nome é tirado da sua caracterísiti-ca lentitude de movimentos. // 6.-Mamífero marinho; o maior de todos osanimais. // 7.- Insecto ortóptero, omnívo-ro, de cor preta e hábitos nocturnos, queninguém quer nas suas vivendas. // 8.-Baixar a maré ou descer o caudal de umrio / minguar a lua ou a luz do sol. // 9.-Bater com a cabeça ou testa / teimar. //10.-Ave marinha que nada com as suas asascomo se fossem barbatanas. // 11.-Pequeno vale / Apelido do pintor e desen-hador de cenários para teatro ou cartazesde todo o tipo, pai do Isaac Dias Pardo. //12.- Que gosta do teatro / comediante;exagerado. // 13. – Altivo, presunçoso,arrogante. // 14.- Cordeiros. // 15a.-Mamífero omnívoro em perigo de extin-çom, que na Galiza se acha actualmenterecluído nas zonas montanhosas orientais(Ancares, Caurel ou Val do Rio Íbias);

15b.- Filho de Agamenon e Clitemnestra,e irmao de Electra / Personagem de umromance de Álvaro Cunqueiro.VERTICAIS 1a.- Diz-se da pessoa pentea-

da com gel para manter o cabelo húmi-do;1b.- advérbio, irreflexivamente; feitosem reparo. // 3a.- Comarca e concelhogalego banhada polo rio Eu. // 4.- Manadade Lobos. // 5.- Larvas dos insectos lepi-dópteros ; a primeira fase da vida das bor-boletas até a metamorfose em crisálida(plural). // 6.- Revestimento duro queprotege o tronco de cágados e tartarugas.// 7.- Depreciativo ou diminutivo de rei. //9a.- Sistema de campos de trabalhos for-çados para criminosos e presos políticosda Uniom Soviética, muitas delas vítimasdas perseguiçons de Staline; 9b.- Siglas ouAbreviatura d’A Nosa Terra / formiga eminglês; 9c.- Pronome. // 11.- Quantia rece-bida ou arrecadada produto das vendas;renda; Indicaçom escrita de umha pres-criçom médica. // 12.- Que causam terror(os comentários ao Estatut); Fatais,Horrorosas,... // 13a.- Sociedade AnónimaDesportiva; 13b.- Ave da famíliaPsittacidae, como os papagaios, periqui-tos, maitacas e cacatuas que tanto abun-dam no Brasil. // 15a.- Apelido do escritorde língua galego-portuguesa ganhador doNobel de Literatura; 15b.- Temos provasdelas no Caraminhal, Trives, Brolhom ouVarzim e Lanhoso...

PALAVRAS CRUZADAS, por Alexandre Fernandes.

DESCOBRE O QUE SABES..., por Salva Gomes.

1. Em que ano vem a lume FolhasNovas, clássico galego de Rosália deCastro, editado pola Associaçom Galegada Língua (AGAL)?

- 1980 - 1985 - 1988

2. Que Olimpíadas registam unicamen-te a participaçom de dous países africa-nos?

- Tóquio 1964- México 1968- Montreal 1976

3. De onde é o ex-cciclista galego Álva-ro Pino?

- Ponte Areias- Salvaterra do Minho- Porrinho

4. Quem organizou a que ele denomi-nou a “guerra necessária”?

- Bolívar- Ernesto Guevara ‘Che’- José Martí

5. Em que ano realiza o circo deBemposta a sua primeira digressompola Europa?

- 1970 - 1974 - 1981

6. O outro Desenvolvimento é um livrode... ?

- Lôpez Suevos- Suso de Toro- Carlos Reigosa

DE BASE TEMPOS LIVRES

Os membros de Atreu que falárom para o NOVAS DA GALIZA

ANTÓM SANTOS / Em menos de um ano, o C.S. Atreu tem-sse convertido num referente de primeira ordempara o tecido associativo e os sectores mais iinconformistas da Corunha. Acumulando forças e combinando asexperiências de diferentes famílias políticas e sociais, deste local de Monte Alto surgem inúmeras iniciativasque se rebelam contra o localismo espanholista e a passividade dominantes na segunda cidade da Galiza.Ivám, Joám e Tone informam-nnos das perspectivas de trabalho e das expectativas geradas.

(Soluçons na página 17)

Centro Social Atreu

“Superando a oferta lúdica,procuramos formaçom participativa”

HOJE PROCURAMDIVERSIFICAR ASACTIVIDADESREALIZADAS,ENVOLVER NO ATREUNOVOS SECTORESPOLÍTICOSALTERNATIVOS “SEMMAIS BARREIRAS QUEA ASSUNÇOM DAQUESTOM NACIONALE A DEFESA DALÍNGUA”

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DESPORTOS

E tu nom contas com patrocínio?Conto. Com o da Baiuca do Turco,de Souto Maior, que me ajuda nosdeslocamentos até os diferenteslugares de competiçom.

Umha paixom desde pequeno...Desde pequeninho. Sou o maisnovo de cinco irmaos. Trabalho decarpinteiro, mas as minhas lembran-ças já som de motos desde muitonovinho. Enquanto nom tivemmoto, passava a vida a andar de bici-cleta. À bola, nom lhe sei nem dar.

E na Galiza, tem muitosadeptos este desporto?Devia ter. Se houvesse umhainfra-estrutura mínima... com umcircuito de velocidade, por exem-plo. Mas ainda nom há nenhum.Fala-se do das Neves, do deVerim, também de um no concel-ho de Paços de Borbém, mas aindanom há nada definitivo.Esperemos que agora, com o novogoverno, as cousas mudem. AGaliza nada tem que invejar àCatalunha, porque na ali há várioscircuitos, e aqui nenhum... masrepara que na Galiza há muitasvendas de motocicletas e os segu-ros som mais caros. É um deporteacompanhado por muitas pessoas.E nom só para o ver, mas tambémpara participar. De facto, no cir-cuito de Braga organizam-se evam lá muitos galegos. Som cursosde velocidade. As pessoas podemir com as suas motos particulares.Mostram-che o percurso e já

podes tu desfrutar da velocidadenum lugar seguro. Observa que asmotos que se vendem hoje em diasom verdadeiras máquinas, muitopotentes, que podem alcançarvelocidades muito altas, algoimpensável numha rua ou naestrada. Portanto, ou treinas numcircuito ou nom podes desfrutarda moto nunca; aliás, com circui-tos de velocidade, reduziria-se orisco nas estradas. Há tempo queestamos a reivindicar com umautocolante um "circuito galegojá" e sabemos que nalgum

momento chegará. É preciso con-tinuar a reivindicar. Se o novogoverno nom o constrói, seriaumha fraude para nós.

Entom achas que é precisoir a Portugal para praticarmotociclismo?Obrigatoriamente. Há um circuitopequeninho em Mosteiro e jáestám a falar em fechá-lo. Um paíspequeno como Portugal tem dousou três circuitos é tem muitosadeptos. E ainda bem que nospermitem correr ali. A Federaçomgalega tem contactos com a portu-guesa; daí que nos facilitem aparticipaçom.

Fala-nnos da competiçomportuguesa em que participas?Nós nom sabíamos onde compe-tir. Soubemos da existência emPortugal do TrofeuNacional deMotos Antigas Livres, e lá fomoscom umha CBR 6000 do ano 88 emuita vontade de participar. Semmais objectivo que desfrutar donosso desporto. Eu e David

Guzmán, também de SoutoMaior. Segundo o regulamento, amoto tem de ser de série e é veri-ficada antes de concorrer. Nósmesmos nos encarregamos de tê-la sempre pronta.

E nom tendes que fazerqualquer tipo de curso?Qualquer pessoa podeapresentar-sse lá e participar?Normalmente há umhas provasprévias onde cada piloto há deatingir uns tempos mínimos paraparticipar, ou nom o deixamcorrer. As corridas que nós faze-mos som do mesmo tipo das quedam na televisom de GP, só que asmotos som antigas e os pilotosnom som conhecidos.

E a classificaçom... em que postoestades neste momento?Eu vou terceiro e o David décimo.Só resta umha corrida no fimdeste mês no Estoril.

No campeonato pode acontecerainda qualquer cousa. Podo serprimeiro, segundo ou quarto.

Poderias ser campeom. É normalque um galego seja campeomportuguês de velocidade?Nesse caso, mesmo os companhei-ros portugueses ficariam espanta-dos. Pensa que eles todos levam aYamaha FZR1000, umha máquina40 cv mais potente do que minha,que é inferior. Ainda assim podochegar a campeom. Legalmentenom há nenhum problema, já quedeixam participar os galegos.

E depois deste campeonato,quais as expectativas imediatas?Voltar para o ano. Aqui nom hámuitas expectativas. Umha equi-pa portuguesa ofereceu-meumha moto para correr o ano quevem mas, na Galiza, participarcom umha equipa é muito maiscomplexo. Ainda que, obviamen-te, nom descarte nada. O proble-ma é que já nom sou muito novo:tenho 32 anos. Esperemos quecomece a haver provas na Galizapara poder participar. Tambémtenho pensado ir correr a LaBañeza, com umha de 125 cc.Tenho um filho de 14 anos quegosta do motociclismo e vou verse tem possibilidades lá.

Há quem critique este desportoem relaçom ao modelo de consumoque implica, dando-sse maisimportáncia à máquina do que aopróprio desportista...Para mim, nom é certo. Eu estouna classificaçom nos primeirospostos com umha máquina infe-rior à dos meus competidores. Nóspodemos fazer um campeonatointeiro com o dinheiro que custaumha motocicleta nova de rua.Preferimos nom comprar umhamoto nova, que pode andar polos10.000 euros, e arranjamos umhaantiga que preparamos no nossotempo livre. Ontem mesmo [polanoite do sábado] estivemos aqui,na garagem, até as cinco da manhá,arranjando-lhe o motor para poder-mos participar num campeonato.Isso nom é consumismo.

“Se o novo governo nom constrói um circuitode velocidade, seria umha fraude para nós”ENTREVISTA A PEDRO LORENZO VIDAL, MOTOCICLISTA PARTICIPANTE NO TROFEU NACIONAL PORTUGUÊS DE MOTOS ANTIGAS LIVRES

ALONSO VIDAL / O seu nome é Pedro Lorenzo Vidal.Embora nascido em Vigo, depois de casar voltou à terrade seus pais, Souto Maior, onde tem dous filhos. Sempregostou das motos e da velocidade, mas nunca tivo meioseconómicos para desenvolver a sua paixom. Agora, commais recursos, já pode preparar umha motocicleta para

competir. É relativamente antiga, pois concorrem nocampeonato de 'antigas livres', em que é permitido parti-cipar com qualquer motocicleta de qualquer cilindrada,com tal que seja anterior ao ano 1988. Ele e o seu com-panheiro conseguírom umhas deste tipo, que porenquanto som bastante acessíveis, e pugérom-sse a correr.

Mas, como em tantas outras cousas, na Galiza nom chegacom vontade e trabalho, pois só é possível participar numcampeonato que implica um investimento económicomuito elevado e até patrocínio. Decidírom entom conco-rrer em Portugal. Ao pé da moto, na garagem que tenhemneste concelho viguês, isto foi o que o Pedro nos contou.

Pedro Lorenzo, à direita, junto a David Guzmán. Os dous participam no Trofeu Nacional de MotosAntigas Livres de Portugal, onde ocupam a 3ª e 10ª posiçom neste momento.

NOVAS DA GALIZA15 de Outubro a 15 de Novembro de 2005 19DESPORTOS

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OPINIOM 2EDITORIAL 3NOTÍCIAS 4INTERNACIONAL 8

A FUNDO 10REPORTAGEM 14CULTURA 16DESPORTOS 19

“A sociedade galega é expertaem perder comboios”

Depois de décadas na bandadesenhada galega, poderias fazerum balanço em perspectiva?O balanço é claramente favorá-vel. Desde as primeiras e meritó-rias tentativas dos finais da déca-da de 70, com o velho Grupo doCastro, até a eclosom de novoscriadores do século XXI, a evolu-çom é clara. Um caminho longoque ajudárom a transitar pessoase colectivos como Suso Peña,Xaquín Marín ou a FrenteComixário.

Quais as causas deste auge?Diversas e afortunadas: coinci-dências geracionais combinadascom iniciativas institucionais -asJornadas de Banda Desenhadade Ourense ou as Vinhetas desde

o Atlántico na Corunha-. É curio-so que esta descolagem galegacoincida com um certo decliveno conjunto da Europa.

Entendes que este processo foiacompanhado por um suporteinstitucional relevante?Em geral, acho que nom. Fora dasiniciativas locais antes ditas, ainibiçom é a tónica dominante. Écurioso atender aos esforços para apromoçom institucional do cha-mado 'cinema galego' em contra-posiçom ao silêncio clamorosomantido com a banda desenhada.

A que se pode devertal desinteresse?A umha velha tradiçom da socie-dade galega. Somos especialistas

em perder comboios. A bandadesenhada, umha das novas lin-guagens artísticas que nos trouxoo século XX, barata no seu supor-te, ferramenta fundamental paraa socializaçom da leitura e a cul-turizaçom da populaçom, ficaesquecida na Galiza precisamen-te quando vivemos a sua idadede ouro. Um paradoxo entreoutros muitos.

Incluis-tte como 'vítima'desta desconsideraçom?Incluo. O exemplo mais signifi-cativo desta situaçom som asdificuldades actuais para publi-car em galego na Galiza, quandoa minha obra anda polo mundotraduzida a catorze ou quinzeidiomas.

Face a essa visom tópica queassocia a cultura de massas comoproduto intranscendente e defácil digestom, detecta-sse grandevocaçom crítica na tua arte.Sim, é evidente. Considero-meum privilegiado por me dedicar aaquilo de que gosto e quero sal-dar a dívida que tenho com aminha sociedade oferendo refle-xom, crítica e fiscalizaçom de

todos os poderes. Assim conceboo papel do criador.

Criador subsidiado ou mantidopolo seu público?Considerado polas instituiçons,dado o seu importante papelsocial, mas tampouco mantidogratuitamente em nome de nomsei que aura. Por outra parte,nom acredito no mercado, massim nos veredictos colectivos. Opúblico é quem deve decidirsobre umha obra.

Foche das poucas vozesclaramente posicionadas contraa continuidade do projecto daCidade da Cultura...Das poucas vozes do mundo dacultura, mas exprimim o sentircomum e maioritário da socieda-de galega. Nom cumpre provarcom números o despropósito deumha obra que hipoteca no futu-ro grande parte da nossa produ-çom cultural. É um despropósi-to, nem a Alemanha ou a Françaconseguiriam manter tal infra-estrutura. Mas o pior é o consen-so que suscita no mundo cultu-ral, ainda reina um corporativis-mo que apavora.

ANTOM SANTOS / Reconhecido desde há anos como umha das figurasreferenciais da banda desenhada europeia, Miguelanxo Prado ainda gozano nosso país de um eco relativamente reduzido, engrossando o contin-gente inacabável de 'talentos exportadores' que, por nom poder, nempodem publicar normalizadamente no seu próprio idioma. Vinca o augeda banda desenhada galega e lamenta-sse do inadvertido de um 'boom'ignorado polas instituiçons e mantido polo voluntarismo perseverante deumha mao-ccheia de criadores. Continua a confiar no compromisso cívi-co da arte e assombra-sse do corporativismo empobrecedor que aindareina nalguns sectores.

MIGUELANXO PRADO ARGUMENTISTA E DESENHADOR

Eram tempos de pós-guerra,fame e repressom franquista.Na cozinha fervia umha pota,das maiores. Arrecendia a unto,a berças e a chouriço. Sentadosà mesa, umha numerosa prolede filhos, sobrinhos e outroscomensais de última hora. A louça dos domingos, a toalha demesa de filigranas douradas e ascolheres, trazidas de Cuba, eramde prata. A tia Eudósia, antes decomeçar a servir o caldo, sempreperguntava ao comensal: de ondequeres que che bote? Da cima, domeio ou do fundo? Como muito, epondo muita vontade e ilusom,faziam falta três dias para dar-seconta, de que dava igual o nívelque se escolhesse. A carne, asbatatas ou o naco de presunto,nom vinham do fundo. Tampoucoboiavam na superfície. Nemmuito menos chegavam ao prato,se a resposta escolhida fosse a domeio por isso de ficar bem. Ocaldo sempre tinha a mesma subs-táncia. A de estar feito de nada.Vamos ter equipa nacional defutebol da Galiza. Com camisolade bandas celestes, em diagonale paralelo, que seica dam muitodinamismo visual. O escudo temum fundo branco cruzado comumha faixa azul, feito assim coma intençom de "nom distrair damensagem de dinamizaçom",cousa que podia dar-se se se uti-lizasse o próprio escudo galego.Para nom molestar com o nomede Galiza, optou-se pola deno-minaçom de 'selección galega' ese a cousa nom se torce, a pri-meira partida vai ser um amigá-vel contra o Uruguai e noEstádio de Sam Lázaro, o quefora o campo de um hoje desapa-recido Compostela. Para ver estejogo, podemos escolher entreTribuna, Preferência e osFundos. Igual nom fai falta che-gar ao descanso para cair naconta, que no palco de autorida-des está Francisco VázquezEspanha, e de delegado decampo o Méndez Romeu quediz que nom quer que sejamosnaçom. Para o pontapé de honraaconselhamos que se conte comFelipe Juan Froilán; tem um dosseus nomes em galego e os seuspais som Duques de Lugo. Maissubstáncia, impossível.

XAN CARLOS ÁNSIA

O caldo datia Eudósia