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LEONARDO RIBEIRO BASTOS Fratura do colo do tálus: análise do resultado do tratamento e das complicações. São Paulo 2009 Dissertação apresentada ao Curso de Pós-graduação da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo para a obtenção do titulo de Mestre em Medicina

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LEONARDO RIBEIRO BASTOS

Fratura do colo do tálus:

análise do resultado do tratamento

e das complicações.

São Paulo 2009

Dissertação apresentada ao Curso de Pós-graduação

da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de

São Paulo para a obtenção do titulo de Mestre em

Medicina

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LEONARDO RIBEIRO BASTOS

Fratura do colo do tálus:

análise do resultado do tratamento

e das complicações.

São Paulo 2008

Dissertação apresentada ao Curso de Pós-graduação

da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de

São Paulo para a obtenção do titulo de Mestre em

Medicina – Área de concentração: Ortopedia e

Traumatologia.

Orientador: Marcelo Tomanik Mercadante

FICHA CATALOGRÁFICA

Preparada pela Biblioteca Central da

Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo

Bastos, Leonardo Ribeiro

Fratura do colo do tálus: análise do resultado do tratamento e das complicações./ Leonardo Ribeiro Bastos. São Paulo, 2009.

Dissertação de Mestrado. Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo – Curso de pós-graduação em Medicina.

Área de Concentração: Ortopedia e Traumatologia Orientador: Marcelo Tomanik Mercadante 1. Tálus/lesões 2. Fraturas ósseas/complicações 3. Adulto

BC-FCMSCSP/14-09

AGRADECIMENTOS À Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, na pessoa do seu

Provedor Dr. Kalil Rocha Abdalla.

À Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, na pessoa

do Diretor Prof. Dr. Ernani Geraldo Rolim.

Ao Prof. Dr. Luiz Arnaldo Szutan, Diretor do Curso de Medicina da Faculdade

de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

Ao Prof. Dr. Osmar Avanzi, Coordenador de Pós-Graduação e Pesquisa da

Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e diretor do

Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Santa Casa de Misericórdia de São

Paulo, pela oportunidade de realizar este trabalho.

A Prof. Dra. Patrícia Maria de Moraes Barros Fucs, Coordenadora do

programa de Pós-Graduação em Ortopedia e Traumatologia da Faculdade de

Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

Ao Prof. Dr. Marcelo Tomanik Mercadante, Professor Adjunto da Faculdade

de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, agradeço a oportunidade e a

honra de poder realizar este trabalho sob sua orientação.

Ao Prof. Dr. Ricardo Cardenuto Ferreira, Professor Assistente da Faculdade

de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e Chefe do Grupo de Cirurgia do

Pé e Tornozelo do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Santa Casa de

Misericórdia de São Paulo, pela amizade, pelo exemplo pessoal e profissional e pelo

auxílio na idealização e elaboração deste trabalho.

Ao Prof. Dr. Roberto Attílio Lima Santin, ao Dr. Marco Túlio Costa e ao Dr.

Gastão Guilherme Frizzo, agradeço pela oportunidade de aprendizagem e

crescimento profissional, durante o Curso de Especialização em Cirurgia do Pé e

Tornozelo.

Ao Prof. Dr. Cláudio Santilli, ao Prof. Dr. Nelson Keiske Ono e ao Prof. Dr.

Pedro Péricles Ribeiro Batista, pelas fundamentais contribuições realizadas durante

o Exame de Qualificação.

À CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior –

pelo apoio na viabilização deste estudo por meio de bolsa.

SUMÁRIO

1 - INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 1 1.1 - A fratura do colo do tálus .............................................................................. 1 1.2 - Literatura ....................................................................................................... 6 2 - OBJETIVOS ..........................................................................................................23 3 - MÉTODO ............................................................................................................. 24

3.1 - Casuística .................................................................................................... 24 3.2 - Avaliação do resultado inicial ....................................................................... 27 3.3 - Avaliação do resultado final ......................................................................... 29 3.4 - Metodologia estatística ................................................................................. 32

4 - RESULTADOS ..................................................................................................... 33 4.1 - Tratamento inicial ......................................................................................... 33 4.2 - Complicações pós-operatórias precoces ...................................................... 38 4.3 - Resultado radiográfico inicial ........................................................................ 40 4.4 - Procedimentos reconstrutivos secundários .................................................. 43 4.5 - Resultado radiográfico tardio ........................................................................ 46 4.6 - Resultado clínico-funcional ........................................................................... 48

5 - DISCUSSÃO ........................................................................................................ 53 6 - CONCLUSÕES .................................................................................................... 64 7 - REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................... 65

FONTES CONSULTADAS................................................................................... 69 RESUMO ............................................................................................................. 70 ABSTRACT .......................................................................................................... 71 APÊNDICE ........................................................................................................... 72

1 - INTRODUÇÃO

1.1 A fratura do colo do tálus

As fraturas do colo do tálus correspondem a 1% de todas as fraturas do

esqueleto, 3% das fraturas do pé e 50% de todas as fraturas do tálus, apresentando-

se com grande incidência de lesões associadas(1-3).

O tálus é dividido anatomicamente em três regiões: cabeça, colo e corpo. Na

região da cabeça, o tálus articula-se com o osso navicular, sendo essa articulação a

principal responsável pelo movimento do retropé(4-5). O colo do tálus conecta a

região do corpo à cabeça do tálus.

O corpo do tálus articula-se na região proximal, denominada tróclea do tálus,

com a tíbia e a fíbula, formando a articulação do tornozelo. Na região distal, o corpo

do tálus articula-se com o osso calcâneo por três facetas articulares, formando a

articulação subtalar(4-5). O grande número de facetas articulares num osso de

pequenas proporções faz com que cerca de 60% da superfície do tálus seja

recoberta por cartilagem(6).

A tróclea do tálus é a superfície articular que suporta maior quantidade de

peso corporal por área de cartilagem, o que justifica a freqüente ocorrência de

artrose nos pacientes que sofrem alterações na estrutura óssea ou cartilaginosa

dessa região(7).

A estabilidade das articulações que envolvem o tálus também é garantida

pelas suas estruturas ligamentares. Na região lateral do tornozelo, esses ligamentos

são o talofibular anterior e o talofibular posterior enquanto na região medial

encontra-se o ligamento deltóide com suas porções superficial e profunda. Os

ligamentos do tornozelo permitem a movimentação dessa articulação em flexão e

2

extensão, limitando os movimentos no plano frontal e de translação anterior ou

posterior(8).

Além dos ligamentos do tornozelo, inserem-se no tálus o ligamento

talonavicular na porção anterior, o ligamento talocalcaneano posterior e os

ligamentos inferiores, que estabilizam a articulação subtalar. Dentre os ligamentos

da porção inferior do tálus, estão o ligamento cervical, o ligamento interósseo

talocalcaneano e os ligamentos talocalcaneanos lateral e medial (8).

O tálus encontra-se envolto por uma rede vascular formada pelas artérias

tibial anterior, tibial posterior e fibular, no entanto, a ampla superfície coberta por

cartilagem e a ausência de inserções musculares determina áreas restritas para a

penetração do suprimento sanguíneo nesse osso (9).

A principal fonte do suprimento sanguíneo do corpo do tálus provém da artéria

do canal do tarso, localizada num sulco entre o tálus e o calcâneo. Esta artéria

origina-se da artéria tibial posterior e se anastomosa na região distal com a artéria

do seio do tarso, ramo da artéria tibial anterior. A artéria do canal do tarso é

responsável pela irrigação sanguínea dos terços médio e lateral do corpo do tálus e,

por sua situação anatômica, está suscetível à lesão nas fraturas do colo do tálus

acompanhadas de luxação da articulação subtalar (9-11).

A segunda fonte mais importante da irrigação sanguínea do corpo do tálus

são os ramos deltoídeos, que são originários habitualmente da porção proximal da

artéria do canal do tarso ou eventualmente como ramo direto da artéria tibial

posterior. Esses ramos penetram o corpo do tálus entre as porções tíbio-talar e tíbio-

calcaneana do ligamento deltóide, irrigando entre um terço e um quarto do corpo do

tálus na sua porção medial (9). Os ramos deltoídeos são suscetíveis à lesão nas

fraturas do colo do tálus associadas à luxação da articulação do tornozelo (10-11).

3

Outras fontes menos extensas da irrigação sanguínea do corpo do tálus são:

ramos diretos da artéria tibial anterior, que penetram o tálus pela porção superior do

colo, suprindo parte da região anterior da tróclea; ramos da artéria do seio do tarso

que suprem a porção lateral e inferior da faceta posterior da articulação subtalar; e

ramos da artéria fibular e tibial posterior ao tubérculo posterior do tálus (9).

Vários mecanismos são descritos como causadores da fratura do colo do

tálus, dentre os quais estão: o trauma direto no dorso do pé (2, 12); a supinação do pé

causando impacto do colo do tálus contra o maléolo medial(7); a dorsiflexão forçada

do tornozelo, levando ao impacto do colo do tálus contra a margem anterior da

tíbia(2-3, 13); e a transmissão da força de dorsiflexão do antepé promovendo a fratura

do tálus no seu ponto mais frágil, o colo(14). Um ponto comum entre esses

mecanismos é que o aumento da energia do trauma promove a associação da

fratura do colo do tálus às luxações das articulações subtalar, do tornozelo e

talonavicular, incrementando a extensão da lesão.

Baseado na associação entre a fratura do colo do tálus e as luxações

articulares, Hawkins(2) publicou em 1970 uma classificação radiográfica dessa lesão,

dividindo-a em três tipos. No tipo I, a fratura do colo do tálus não sofre desvio. No

tipo II, conjuntamente à fratura do colo do tálus ocorre a luxação ou subluxação da

articulação subtalar, sem comprometimento da articulação do tornozelo. No tipo III,

ocorre a luxação ou subluxação da articulação do tornozelo. Nas lesões ainda mais

graves, pode ocorrer simultaneamente a luxação da articulação talonavicular, o que

foi posteriormente classificado por Pantazopoulos et al(15) e Canale e Kelly(5) como

fratura do tipo IV (Fig. 1).

4

O tratamento incruento da fratura do colo do tálus está indicado nas situações

em que não há desvio entre os fragmentos fraturados (Tipo I, segundo a

classificação de Hawkins), o qual é realizado com o uso de bota gessada por

período médio de dez semanas (16).

1a 1b

1c 1d

Figura 1: Radiografias em perfil do tornozelo demonstrando os tipos de fraturas do colo

segundo a classificação de Hawkins modificada: tipo I (1a – paciente 27), tipo II (1b – paciente 11),

tipo III (1c – paciente 17) e tipo IV (1d – paciente 21)

5

Nas fraturas desviadas, a redução das superfícies articulares pode ser

realizada com a técnica de Böhleri, que consiste em manter o pé elevado em um

apoio sob o tendão de Aquiles, posicionar o tornozelo em máxima flexão plantar e

tracionar o calcanhar, eventualmente com o auxílio de um pino de Steinmann

transversal inserido três centímetros abaixo do maléolo medial(17). No entanto, a

redução possível é geralmente inadequada e, para ser mantida, há freqüentemente

a necessidade da manutenção da posição em eqüino(10, 18).

No tratamento cirúrgico busca-se a redução anatômica dos fragmentos

fraturados e a realização de uma osteossíntese interna e estável com compressão

entre os fragmentos, de forma semelhante à esperada em todas as fraturas

articulares(4, 19). Desta forma, espera-se evitar o aparecimento de deformidades

residuais, devido à consolidação viciosa, e o desenvolvimento de artrose pós-

traumática, causada por incongruência articular.

A despeito do tratamento adequado, altas taxas de complicações podem ser

esperadas a médio e longo prazo nos pacientes com fraturas do colo do tálus (2-5, 16-

17, 20-31). Entre as possíveis complicações destacam-se: a necrose cutânea, a

infecção, a consolidação viciosa, a osteonecrose parcial ou completa do corpo do

tálus e a artrose pós-traumática das articulações do tornozelo e subtalar. Em

conseqüência, o paciente pode desenvolver dor crônica e rigidez articular.

Realizamos, no presente estudo, uma avaliação retrospectiva do tratamento

da fratura do colo do tálus nos pacientes do Grupo de Cirurgia do Pé e Tornozelo da

Santa Casa de São Paulo, com ênfase nas complicações ocorridas a curto e médio

prazo, buscando avaliar o resultado clínico-funcional e radiográfico obtido após o

tratamento e identificar fatores que influenciam na incidência de complicações. i Böhler L. Die technick der knochenbruchbehandlung. Band II/2, Maudrich, Wien, 1957 apud Pajenda G, Vecsei V, Reddy B, Heinz T. Treatment of talar neck fractures: clinical results of 50 patients. J Foot Ankle Surg 2000; 39: 365-75.

6

1.2 Literatura

Em 1970, Hawkins(2) publicou artigo no qual apresenta uma série consecutiva

de 55 pacientes (57 pés) tratados por fratura do colo do tálus, num período de nove

anos, no Hospital Universitário do Colorado e 24 anos no Hospital Universitário de

Iowa. Sua casuística é composta por seis fraturas do tipo I, 24 do tipo II e 27 do tipo

III, sendo, no total, 12 fraturas expostas (21%).

O protocolo de tratamento consta de imobilização com gesso, nos pacientes

com fraturas não desviadas (tipo I), e tentativa de redução fechada e imobilização

com gesso nas fraturas desviadas (tipos II e III). Quando não é possível obter a

redução de forma incruenta (60% das fraturas do tipo II e 93% das fraturas do tipo

III), realiza preferencialmente a redução aberta por via de acesso ântero-medial,

associada à fixação com fios de Steimann. Em alguns pacientes, contudo, é

realizada talectomia ou artrodese subtalar primária.

Dos 52 pacientes não submetidos à talectomia, amputação ou artrodese

primária englobando o tornozelo, 30 (58%) apresentam sinais radiográficos de

osteonecrose do corpo do tálus. A incidência de osteonecrose por tipo de fratura é

de 42% nas fraturas do tipo II e 91% nas fraturas do tipo III, não havendo nenhum

caso de osteonecrose nas fraturas do tipo I. 13 pacientes com osteonecrose são

acompanhados e submetidos a radiografias, nove deles apresentam colapso da

tróclea do tálus (69%).

Três pacientes com fratura do tipo III (14%) apresentam pseudartrose e dez

pacientes (19%) são submetidos a procedimentos reconstrutivos secundários

durante o acompanhamento. Seis pacientes submetidos à talectomia são

reexaminados, cinco deles apresentam resultado regular e um ruim, quatro

7

apresentam dor, todos apresentam claudicação, rigidez e alargamento do retropé,

dificultando o uso de calçados.

Ainda no ano de 1970, Kenwright e Taylor(3) apresentaram uma série de 21

pés com fratura do colo do tálus, tratados no Accident Service of the Radcliffe

Infirmary – Oxford, num período de 19 anos. Utilizando a classificação de Coltart (13),

os autores descrevem três fraturas do colo do tálus sem desvio, 14 fraturas do colo

do tálus com subluxação ou luxação subtalar e quatro fraturas do colo com luxação

posterior do corpo do tálus.

Nas fraturas sem desvio, o tratamento é realizado com imobilização gessada

por oito semanas, sem descarga do peso corporal, seguidas por seis semanas de

descarga do peso corporal protegida. Nas fraturas desviadas, é realizada

preferencialmente a redução fechada (83% das fraturas com subluxação ou luxação

subtalar e 25% das fraturas com luxação posterior do corpo do tálus) e, nas

consideradas instáveis, a fixação com fios de Kirschner. Quando ocorre

osteonecrose ou retardo de consolidação, os pacientes são mantidos sem descarga

do peso corporal por um período médio de 15 semanas além das 12 semanas

recomendadas para os demais pacientes com fraturas desviadas.

Um dos 13 pacientes submetidos a tratamento cirúrgico (8%) apresenta

osteomielite do tálus, sendo esse o único paciente com complicação pós-operatória.

Sete pacientes (39%) apresentam, no acompanhamento ambulatorial, sinais

radiográficos de necrose do corpo do tálus: quatro deles com fratura do colo

associada à subluxação ou luxação subtalar (36% dos pacientes com esse tipo de

fratura) e três com fratura do colo do tálus associada à subluxação ou luxação do

tornozelo (75% dos pacientes com esse tipo de fratura). Nenhum paciente com

8

osteonecrose do corpo do tálus apresenta sinais radiográficos de colapso da tróclea

do tálus.

Em quatro pacientes (22%) a consolidação da fratura ocorre após período

superior a seis meses, não havendo nenhum caso de pseudartrose. Apenas um

paciente foi submetido a procedimento reconstrutivo secundário (6%), uma artrodese

subtalar, na tentativa de acelerar o processo de revascularização do corpo do tálus,

após o diagnóstico de osteonecrose. Quatro pacientes apresentam sinais

radiográficos de artrose (22%), em três deles acometendo somente a articulação

subtalar e em um tanto a articulação subtalar quanto a do tornozelo.

Em 1974, Gillquist et al(31) apresentaram um trabalho realizado com 27

pacientes (28 pés) tratados em quatro diferentes instituições da Suécia. De acordo

com a classificação de Hawkins(2), seis pés apresentam fraturas do tipo I (sendo uma

exposta), 12 apresentam fraturas do tipo II (quatro expostas) e 10, fraturas do tipo III

(cinco expostas).

O tratamento mais utilizado nesses pacientes é o incruento, sendo realizado

em todas as fraturas do tipo I, em 50% das fraturas do tipo II e em 30% das fraturas

do tipo III. Quando necessária a realização da redução cruenta, opta-se por mantê-la

com imobilização gessada, sendo a fixação com pinos de Palmer utilizada em

poucos pacientes. Nas fraturas sem desvio, a imobilização é mantida por seis a oito

semanas e, nas com desvio, por período que varia entre oito semanas e 12 meses.

O tempo médio de seguimento é de cinco anos e o tempo mínimo, de dois anos.

Dez dos 13 pés submetidos a tratamento cruento apresentam necrose

cutânea (77%), nove apresentam infecção pós-operatória (69%) e dois apresentam

complicações vasculares (15%), um deles com trombose arterial acometendo a

9

artéria tibial anterior e um com oclusão da artéria tibial posterior por conseqüência de

uma fratura negligenciada, do tipo III de Hawkins(2).

Três dos 28 pés tratados (11%) são submetidos a procedimentos cirúrgicos

secundários: uma artrodese do tornozelo e subtalar para tratamento da dor residual,

uma talectomia total para tratamento de osteomielite e uma amputação transtibial no

paciente com oclusão da artéria tibial posterior. Nenhum dos pacientes apresenta

retardo de consolidação ou pseudartrose. Vinte e um pés (75%) apresentam sinais

radiográficos de artrose, em 19 deles acometendo a articulação subtalar e em 17 a

articulação do tornozelo.

Três dos 27 pacientes tratados (11%) estão aposentados devido a

complicações decorrentes da fratura do colo do tálus e quatro (15%) apresentam

mudança na atividade profissional. O autor desaconselha a realização primária de

artrodese ou talectomia, pois em sua casuística ambas as condutas geraram

resultados ruins, com dor, baixa capacidade funcional e rigidez.

Pantazopoulos et al(15), em 1974, descreveram 20 fraturas tratadas ao longo

de nove anos no Accident Hospital, em Kifissia - Atenas. De acordo com a

classificação de Hawkins(2), há quatro fraturas do tipo I, nove fraturas do tipo II e seis

fraturas do tipo III. Uma das fraturas não se enquadra nesta classificação, sendo

considerada como uma fratura do tipo IV (fratura do colo do tálus com luxação da

articulação talo-navicular).

As fraturas do tipo I são tratadas com imobilização gessada e mantidas sem

descarga do peso corporal por um período de oito a 12 semanas. As fraturas do tipo

II são preferencialmente tratadas com reduções fechadas associadas à imobilização

gessada, por um período de oito semanas com o tornozelo em flexão plantar, e oito

semanas com o tornozelo em posição neutra (cinco pés). Quando não é possível a

10

obtenção da redução fechada, é realizada a redução aberta por via medial,

associada à fixação com fios de Kirschner e imobilização gessada, sendo este

tratamento também realizado nas fraturas dos tipos III e IV. Em uma fratura do tipo

III, é realizada talectomia primária devido à presença de infecção prévia, esse

paciente evoluiu com dor intratável, sendo necessária uma panartrodese durante o

período de seguimento. O tempo de seguimento mínimo é de 18 meses e o máximo,

de nove anos.

Dos 11 pacientes submetidos a tratamento cruento, dois (18%) apresentam

infecção pós-operatória. Nos 18 pacientes em que é possível a avaliação do

desenvolvimento de osteonecrose, 50% apresentam essa complicação, quatro com

fratura do tipo II de Hawkins (44% dos pés com esse tipo de fratura) e cinco com

fratura do tipo III (100% dos pés com esse tipo de fratura). Nenhum paciente

apresenta pseudartrose ou retardo de consolidação.

Em dois dos vinte pacientes reavaliados (10%) é necessária a realização de

cirurgia secundária, com artrodese do tornozelo e da articulação subtalar. Onze pés

(55%) apresentam sinais de artrose nas radiografias realizadas na última avaliação.

Em 1977, Peterson et al(32) apresentaram uma série de 46 pacientes tratados

por fratura do colo do tálus num período de 12 anos, no Departamento de Cirurgia

Ortopédica da Universidade de Göteborg – Suécia. De acordo com a classificação

de Hawkins(2), há 13 fraturas do tipo I, 22 do tipo II e 11 do tipo III.

O tratamento mais empregado é o incruento, realizado em 31 pacientes,

mantendo-os sem a descarga do peso corporal. Em um paciente com fratura do tipo

II, este é o único tratamento realizado. Em 16 pacientes, esta conduta é associada à

imobilização gessada (13 com fraturas do tipo I e três do tipo II), e em 14 é também

realizada a redução incruenta (oito do tipo II e seis do tipo III). Nos demais pacientes

11

é necessária a redução cruenta, associada à imobilização em oito pacientes (quatro

com fraturas do tipo II e quatro do tipo III) e à fixação e imobilização em sete

pacientes (seis fraturas do tipo II e uma do tipo III).

Após um período médio de seguimento de seis anos, variando de 16 meses a

13 anos e quatro meses, 36 pacientes são reavaliados, sendo oito com fraturas do

tipo I, 19 do tipo II e nove do tipo III, segundo a classificação de Hawkins(2). Dois

pacientes apresentam infecção pós-operatória, dentre os 15 reavaliados que haviam

sido submetidos a tratamento cruento (13%). Seis dos 36 pacientes reavaliados

(17%) apresentam retardo de consolidação durante o acompanhamento, e nenhum

apresenta pseudartrose. Seis pacientes apresentam sinais radiográficos de

osteonecrose do corpo do tálus (17%).

Nenhum dos pacientes tratados foi submetido à cirurgia secundária. Dois

pacientes (6%) estão aposentados devido a problemas secundários à fratura do colo

do tálus, enquanto, em outros sete (20%), é necessária a mudança na atividade

profissional pelo mesmo motivo. Cinco pacientes (14%) fazem uso de órtese para

deambular, nove apresentam claudicação (25%) e dois apresentam deformidades

residuais (14%).

Canale e Kelly(5), em 1978, publicaram um trabalho relatando o tratamento de

107 pacientes com fratura do colo do tálus em um período de 32 anos, na Campbell

Clinic – Tennessee. Destes, 70 pacientes (71 pés) são examinados e radiografados

após um tempo de seguimento médio de 12 anos e oito meses. Em 17 pés, ocorre

exposição óssea no momento do trauma. Segundo a classificação de Hawkins(2), 15

fraturas são do tipo I, 30 do tipo II e 23 do tipo III. Três pacientes apresentam

fraturas do colo do tálus associada à luxação da articulação talonavicular, as quais

são classificadas como fraturas do tipo IV.

12

O tratamento realizado é preferencialmente o incruento, realizando-se a

redução nas fraturas com desvio. O tratamento cruento é reservado aos pés em que

a redução cruenta é considerada inaceitável (mais de cinco graus de

desalinhamento ou cinco milímetros de desvio entre os fragmentos). Dessa forma,

14 pacientes com fraturas do tipo I são tratados com imobilização gessada por um

período de seis a 12 semanas, seguidos por um período de cinco meses sem

descarga do peso corporal, enquanto um paciente é mantido sem descarga do peso

corporal por somente quatro semanas e sem imobilização, o que resulta em não-

consolidação.

Dentre os pacientes com fraturas do tipo II, 19 são tratados com redução

fechada e imobilização gessada, um paciente é mantido somente sem descarga do

peso corporal e dez são tratados com redução aberta e fixação interna (RAFI), dois

dos quais associadas à artrodese subtalar primária. Dos pacientes com fraturas do

tipo III, cinco são tratados com redução fechada (três destes com fraturas expostas),

15 com redução aberta (11 com fixação interna), dois com cirurgia de Blair

(artrodese tíbio-talar com excisão do corpo do tálus e fusão da porção anterior da

tíbia à cabeça e colo do tálus remanescentes)(33) e um com talectomia total primária.

Cinco dos 31 pacientes tratados apresentam infecção pós-operatória (16%),

todos com fraturas do tipo III ou IV. Dos 66 pacientes reavaliados quanto a

incidência de osteonecrose, 34 (52%) apresentam essa complicação, dois deles

após fratura do tipo I (13% dos pés com esse tipo de fratura), 15 após fratura do tipo

II (50%), 16 após fratura do tipo III (84%) e um após fratura do tipo IV (50%). Dois

terços dos pacientes com necrose do corpo do tálus não apresentam queixa que

justifique nova cirurgia, até a data do seguimento. Os pacientes que são mantidos

sem descarga do peso corporal após o diagnóstico de osteonecrose apresentam um

13

resultado melhor que os que são liberados para apoiar o membro tratado após a

consolidação.

Apenas um paciente apresenta pseudartrose do colo do tálus (2%), após uma

fratura do tipo I tratada somente com retirada do apoio do peso. Procedimentos

reconstrutivos secundários são necessários em 22% dos pacientes reexaminados,

com incidência crescente nas fraturas com maior desvio inicial.

Os autores relatam ainda que os dois pacientes submetidos ao procedimento

de Blair(33) apresentam resultados ruins, um por dor no espaço entre a tíbia e o

calcâneo e um por pseudartrose, deformidade em varo e dor, assim como ocorreu

nos pacientes submetidos à talectomia total. Por esses resultados, os autores

recomendam a realização de artrodese tíbio-calcaneana nos casos em que não for

possível a redução da fratura.

Em 1980, Penny e Davis(20) apresentaram os resultados do tratamento de 27

fraturas (26 pacientes), dentre as 40 (38 pacientes) tratadas em um período de 15

anos, no University of Alberta Hospital e no Royal Alexandra Hospitals – Edmonton.

Dentre os pacientes reexaminados, cinco apresentam fraturas do tipo I segundo a

classificação de Hawkins(2), sendo tratados com imobilização gessada, 11 pacientes

apresentam fraturas do tipo II e 11 do tipo III. O tratamento preferencial das fraturas

desviadas é o incruento, realizando-se redução cruenta na impossibilidade da

obtenção da redução fechada.

Os resultados obtidos são apresentados segundo o tipo de fratura. Assim, nas

fraturas do tipo I, não há nenhum caso de osteonecrose ou pseudartrose e o tempo

médio de afastamento laboral é de seis meses. Nas 11 fraturas do tipo II, ocorrem

duas pseudartroses (18%), duas osteonecroses (18%) e são necessárias cirurgias

secundárias em cinco pacientes (45%): quatro artrodeses tríplices e uma artrodese

14

do tornozelo. Nas 11 fraturas do tipo III, ocorrem três pseudartroses (27%), onze

osteonecroses do corpo do tálus (100%) e são necessárias cirurgias secundárias em

sete pacientes (64%): uma panartrodese em um paciente submetido previamente à

talectomia primária, uma talectomia, duas artrodeses subtalares e três artrodeses do

tornozelo. Além disso, outros dois pacientes com fratura do tipo III são submetidos à

artrodese tríplice no tratamento inicial.

Treze pacientes com osteonecrose do corpo do tálus foram acompanhados,

não havendo diferença, segundo o autor, nos resultados obtidos nos pacientes

submetidos ou não à proteção contra descarga do peso corporal. Ambos os

pacientes submetidos à talectomia necessitam de novas cirurgias durante o

acompanhamento, devido à dor e deformidade residual.

Comfort et al(34) descreveram, em 1985, o tratamento de 36 pacientes,

realizado durante um período de 14 anos, no St. Paul-Ramsey Medical Center –

Saint Paul – MN. Após um tempo médio de seguimento de sete anos, 26 pacientes

(28 pés) são reavaliados. Dentre estes, 14 pés apresentam fraturas do tipo I, seis do

tipo II, cinco do tipo III e três do tipo IV.

O tratamento incruento é empregado em apenas algumas fraturas do tipo I

(oito pés). Nas demais, é realizada redução aberta, optando-se pela via de acesso

ântero-medial (em 27 dos 36 pés), associada à osteotomia maleolar quando

necessário (em duas fraturas do tipo I e em quatro do tipo III). Em 22 pés, é

realizada fixação da fratura, utilizando fios de Kirschner em 11 e parafusos em

outros 11 pés. Em 18 dos 36 pés, a cirurgia é realizada em até 12 horas do

momento do trauma, em nove é realizada entre 12 horas e sete dias e, em um pé,

após 17 dias.

15

Todos os pacientes são mantidos com imobilização gessada por seis

semanas, quando são submetidos a exames radiográficos. Aqueles pacientes que

apresentam sinais radiográficos de osteonecrose de todo o corpo do tálus são

mantidos sem descarga do peso corporal, utilizando gesso ou órtese com apoio no

tendão patelar. Nos pacientes com osteonecrose parcial ou sem osteonecrose, é

iniciada descarga do peso corporal com gesso ou órtese. Após 12 semanas, todos

os pacientes que apresentam consolidação da fratura são liberados para descarga

do peso corporal sem a utilização de mecanismos de proteção.

Doze pacientes (33%) apresentam, durante o seguimento, sinais radiográficos

de osteonecrose do corpo do tálus e nenhum apresenta pseudartrose. Não houve

relação estatística entre o tempo transcorrido da fratura à fixação e a incidência de

osteonecrose. Dois pacientes (6%) são submetidos a cirurgias secundárias. Sete

pacientes apresentam queixa de rigidez matinal (25%), três de edema (11%) e três

de dificuldade para deambular em terrenos irregulares (11%).

Nos 24 pacientes submetidos à reavaliação radiográfica, 54% não

apresentam sinais de artrose, 33% apresentam sinais de artrose do tornozelo, 13%

sinais de artrose subtalar e 8% artrose talo-navicular. Dois pacientes estão

aposentados devido a problemas referentes ao pé tratado (8%), outros dois (8%)

apresentam alteração na atividade profissional enquanto os 22 demais mantêm a

mesma ocupação (92%).

Em um trabalho publicado em 1988, Freund(35) apresenta uma série de sete

pacientes com fraturas do colo do tálus tipo III, segundo a classificação de

Hawkins(2), tratados em um período de 13 anos no hospital central de Esbjerg –

Dinamarca. Uma das fraturas é exposta e em três ocorre fratura associada do

16

maléolo medial. Todos os pacientes são reexaminados após um tempo médio de

seguimento de seis anos e sete meses.

O tratamento é realizado em até 24 horas após o momento do trauma, sendo

realizadas quatro reduções cruentas, com osteossíntese em duas delas, e três

reduções incruentas, sem osteossíntese. Todos os pacientes são imobilizados após

o tratamento inicial.

Em nenhum dos pacientes operados ocorre infecção ou complicações

vasculares pós-operatórias. Quatro pés (57%) apresentam sinais radiográficos de

osteonecrose do corpo do tálus e dois apresentam pseudartrose do foco de fratura

(29%). Em dois pacientes (29%) é realizada cirurgia secundária: uma artrodese

subtalar para tratamento de artrose pós-traumática e uma panartrodese associada a

talectomia parcial para tratamento da pseudartrose. Outros dois pacientes (29%)

apresentam sinais radiográficos de artrose.

Dois pacientes (29%) estão aposentados, enquanto cinco exercem atividade

profissional semelhante à anterior ao advento da fratura.

No ano de 2000, Pajenda et al(17) publicaram um estudo no qual apresentam

50 pacientes tratados por fratura do colo do tálus no hospital geral de Viena –

Áustria, num período de cinco anos. De acordo com a classificação de Hawkins

modificada(2, 5, 15), 16 pacientes apresentam fraturas do tipo I, 14 do tipo II, nove do

tipo III e 11 do tipo IV.

Somente sete pacientes com fraturas do tipo I são submetidos ao tratamento

com imobilização gessada por três meses, sendo os dois primeiros sem descarga do

peso corporal. Os demais 43 pacientes são submetidos a tratamento cirúrgico,

sendo nove submetidos à fixação percutânea após a redução, quando necessária

(quatro com fios de Kirschner e cinco com parafusos); 27 submetidos à redução

17

aberta e fixação com parafusos; e em sete pés são utilizados fixadores externos.

Segundo o autor, os pacientes submetidos à redução aberta e fixação interna são

estimulados a realizar mobilização do pé tratado logo após a cirurgia.

Nos pés submetidos à redução aberta, a via de acesso mais utilizada é a

ântero-medial, realizada isoladamente em 16 pacientes e associada à via de acesso

póstero-medial em quatro pacientes. Outros sete pacientes são submetidos apenas

à abordagem por via de acesso póstero-medial.

Oito dos 43 pacientes submetidos a tratamento cirúrgico (19%) apresentam

infecção pós-operatória, todos tratados por fraturas do tipo III ou IV segundo a

classificação de Hawkins modificada(2, 5, 15). Nenhum paciente apresenta

pseudartrose ou retardo de consolidação.

Ao pesquisar a ocorrência de osteonecrose do corpo do tálus utilizando

ressonância magnética ou flebografia, o autor observa uma ocorrência média de

14% dessa complicação, com nenhum caso nas fraturas do tipo I, 6% das fraturas

do tipo II, 14% das fraturas do tipo III e 44% nas fraturas do tipo IV. Colapso do

corpo do tálus ocorre em 57% dos pacientes com diagnóstico prévio de

osteonecrose. Nove pacientes (18%) necessitam de procedimentos reconstrutivos

secundários, sendo esses procedimentos necessários em 14% das fraturas do tipo

II, 22% das fraturas do tipo III e 45% das fraturas do tipo IV.

Em 2004, Sanders et al(36) publicaram um artigo no qual apresentam os

resultados do tratamento de 70 das 104 fraturas desviadas do colo do tálus, tratadas

em uma instituição americana não especificada, durante um período de 11 anos. De

acordo com a classificação de Hawkins modificada(2, 5, 15), são identificadas 29

fraturas do tipo II, 25 do tipo III e 16 do tipo IV. Em dez das fraturas tratadas ocorre

18

exposição óssea. Em 41 pacientes ocorrem outras fraturas no mesmo membro,

sendo 31 pacientes classificados como politraumatizados.

Todos os pacientes são submetidos a tratamento cirúrgico. A via de acesso

utilizada é a ântero-medial associada à ântero-lateral em 38 pacientes, ântero-medial

isolada em 35 pacientes e ântero-medial associada à póstero-lateral em sete

pacientes. Quatro pacientes são submetidos à talectomia primária e 66 à redução

aberta e fixação interna com parafusos. Em 15 pacientes, é necessária a utilização

de enxerto ósseo. Os pacientes são reavaliados após um período de seguimento

médio de cinco anos e dois meses.

Quarenta e quatro dos 70 pés tratados não são submetidos a procedimento

reconstrutivo secundário durante o acompanhamento, e seus resultados são

descritos separadamente. Nesse grupo, 52% dos pacientes apresentam queixa de

dor residual, 9% faz uso de muletas para deambular, 38% apresenta claudicação,

63% apresenta queixa de déficit funcional, 4% dos pacientes estão aposentados e

26% afastado da atividade profissional. Deformidade residual ocorre em 43% dos

pacientes, artrose do tornozelo em 40% e artrose subtalar em 78%.

O resultado médio do tratamento, segundo a escala clínico-funcional para

retropé e tornozelo da American Orthopaedic Foot and Ankle Association (escala

AOFAS)(37) é de 71 pontos, com pior resultado nos pacientes com artrose e

desalinhamento (52 pontos) e melhor resultado naqueles sem nenhuma dessas

complicações (92 pontos).

Nos 26 pacientes que necessitam de cirurgias secundárias (37%), são

realizadas 11 artrodeses subtalares, seis artrodeses tríplices, três panartrodeses,

duas artrodeses pela técnica de Blair(36), duas talectomias e duas amputações

transtibiais. Ocorre um aumento na incidência de procedimentos reconstrutivos

19

secundários com o aumento no tempo de seguimento, nos pacientes com fraturas

multifragmentadas, com fraturas do tipo III ou IV pela classificação de Hawkins

modificada(2, 5, 15) e com fraturas associadas em outros segmentos corporais.

Vallier et al(27), em 2004, descreveram o tratamento de 100 pacientes (102

fraturas do colo do tálus) submetidos à cirurgia num período de cinco anos e sete

meses, no Harborview Medical Center – Seattle – Washington. Fraturas expostas do

tálus ocorrem em 24 pacientes. Sessenta pés são reavaliados após um período

médio de seguimento de três anos, variando de um ano a seis anos e dois meses.

De acordo com a classificação de Hawkins modificada(2, 5, 15), quatro fraturas são do

tipo I, 68 do tipo II, 25 do tipo III e cinco do tipo IV.

Todos os pacientes são submetidos à tentativa de redução incruenta no

tratamento inicial e há um esforço em realizar o tratamento cruento em caráter de

urgência, porém, em algumas situações isto não é possível devido à presença de

lesões associadas, ao retardo no diagnóstico ou à demora na busca de atendimento

médico. Redução aberta e fixação interna é o tratamento realizado em todos os

pacientes. A via de acesso utilizada é a ântero-medial associada à ântero-lateral em

91 pés, ântero-medial isolada em oito pés e ântero-lateral isolada em três pés. Em

oito pés, é necessária também a osteotomia do maléolo medial.

A imobilização do pé e do tornozelo é mantida somente até a cicatrização das

feridas operatórias. A partir daí, é estimulada a mobilização do membro, embora a

descarga do peso corporal só seja liberada após a consolidação radiográfica da

fratura, o que ocorre, em média, após 12 semanas. Nenhuma alteração no

tratamento pós-operatório é realizada nos pacientes que apresentam sinais

radiográficos de osteonecrose do corpo do tálus.

20

Dos 60 pés reavaliados, seis (10%) apresentam algum tipo de complicação

pós-operatória, dois com infecção superficial, dois com osteomielite, um com

necrose cutânea e osteomielite e um com necrose cutânea. Um desses pés

apresenta retardo da consolidação e dois pseudartrose do foco de fratura.

Nos 39 pés que apresentam seguimento radiográfico há 19 (49%) com sinais

de osteonecrose, ocorrendo colapso da tróclea do tálus em 12 (63%). Nas fraturas

do tipo II, a incidência de necrose é de 39%, 64% nas do tipo III, e a única fratura do

tipo IV reavaliada também apresentou osteonecrose. A incidência de osteonecrose

do corpo e colapso da tróclea foi significativamente maior nas fraturas

multifragmentadas e nas fraturas expostas.

Vinte e um dos 39 pés reavaliados por radiografias (54%) apresentam sinais

radiográficos de artrose, sendo em 11 deles (28%) necessária a realização de

procedimentos reconstrutivos: cinco artrodeses subtalares, duas artrodeses pela

técnica de Blair(36), uma artroplastia do tornozelo associada à artrodese subtalar,

uma artroplastia do tornozelo e duas artrodeses tríplices.

Dos 45 pacientes que respondem à avaliação clínico-funcional, 11 estão

aposentados devido a problemas relacionados ao pé tratado por fratura do colo do

tálus, seis modificaram a atividade profissional pelo mesmo motivo e 26 exercem a

mesma atividade profissional prévia à fratura do colo do tálus. Os resultados obtidos

nos questionários aplicados demonstram resultado inferior ao observado em outras

fraturas do membro inferior e um pior resultado entre os pacientes com fraturas

multifragmentadas.

Ainda no ano de 2004, Lindvall et al(28) apresentaram uma série de 33 fraturas

desviadas e isoladas do colo e/ou corpo do tálus (32 pacientes), tratadas em um

período de cinco anos e quatro meses, no Instituto de Ortopedia da Flórida – Tampa.

21

Das 33 fraturas, 26 são reavaliadas após um período médio de seis anos e dois

meses. Dentre as fraturas reavaliadas, 18 são fraturas do colo do tálus, cujo

tratamento e resultados são apresentados de forma isolada.

De acordo com a classificação de Hawkins modificada, 11 fraturas são do tipo

II, seis do tipo III e uma do tipo IV. Um paciente com fratura do tipo II e um do tipo III

apresentam fratura associada do corpo do tálus ipsilateral. Ocorrem cinco fraturas

expostas e 12 fraturas são consideradas multifragmentadas. A maioria dos pacientes

é operada em até 12 horas após a chegada no hospital (11 pacientes), quatro

pacientes são operados em até sete dias e três pacientes após sete dias.

A redução das fraturas é realizada por dupla via de acesso (ântero-lateral e

ântero-medial) em nove pés, ântero-lateral isolada em cinco pés e ântero-medial

isolada em quatro pés. Vários métodos de fixação são empregados nos diferentes

pacientes: parafusos corticais de 3,5 mm; parafusos esponjosos de 4,0 mm;

parafusos de Herbert pequenos; parafusos e pinos bioabsorvíveis.

Todos os pacientes estudados apresentam sinais radiográficos de artrose.

Oito pacientes tratados apresentam sinais radiográficos de osteonecrose do corpo

do tálus: quatro dos onze pés com fratura do tipo II, três dos seis com fratura do tipo

III e o único pé com fratura do tipo IV. Há maior incidência de osteonecrose entre os

pacientes com fraturas expostas que entre os pacientes com fraturas fechadas. Não

há diferença significativa na incidência de osteonecrose nos pacientes operados por

diferentes vias de acesso ou cuja fixação é realizada em caráter de urgência ou

eletivo. Dois pacientes (11%) apresentam pseudartrose do colo do tálus, sendo os

únicos submetidos a procedimentos secundários (11%).

22

Segundo a escala AOFAS(37), a pontuação média encontrada foi de 64 ± 21

pontos. Um único paciente foi submetido ao procedimento de Blair(33) e apresentou

46 pontos na escala AOFAS(37), com dor e deformidade residual.

23

2 - OBJETIVOS

Avaliar o resultado clínico, funcional e radiográfico dos pacientes tratados por

fratura do colo do tálus no Grupo de Cirurgia do Pé e Tornozelo da Santa Casa de

Misericórdia de São Paulo.

Analisar os fatores que levam a maior incidência de complicações a curto e

médio prazo após o tratamento da fratura do colo do tálus.

24

3 - MÉTODO

No presente trabalho, realizou-se um estudo retrospectivo com os pacientes

tratados por fratura do colo do tálus no Grupo de Cirurgia do Pé e Tornozelo da

Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Este estudo foi aprovado

pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de

São Paulo, sob o número 355/08.

3.1 - Casuística

No período compreendido entre novembro de 1985 e agosto de 2004, foram

tratados, no Grupo de Cirurgia do Pé e Tornozelo do Departamento de Ortopedia e

Traumatologia da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, 37

pacientes (37 pés) com fraturas do colo do tálus. Os dados epidemiológicos e do

tratamento desses pacientes foram obtidos pela consulta dos prontuários do Serviço

de Arquivamento Médico e Estatística e do Grupo de Cirurgia do Pé e Tornozelo da

Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Os pacientes foram

ordenados em ordem crescente segundo a data da ocorrência da fratura (Tab. 1).

Trinta e um pacientes (84%) eram do sexo masculino e seis do sexo feminino

(16%). A média de idade no momento do trauma era de 29,5 ± 9,3 anos (Tab. 1). O

mecanismo de trauma mais comum foi a queda de altura ocorrendo em 15 pacientes

(41%), seguido pelos acidentes automobilísticos em 12 pacientes (32%), acidente

motociclístico em sete pacientes (19%) e atropelamento em outros três (8%). Seis

pés (16%) apresentaram fratura exposta do colo do tálus, classificadas como tipo I

em três pacientes e tipo II em outros três, segundo a classificação de Gustillo e

Anderson(38) (Tab. 1).

25

No momento da admissão, todos os pacientes foram submetidos a exames

radiográficos do pé traumatizado, nas incidências dorso-plantar, oblíqua e perfil,

assim como nas incidências ântero-posterior e perfil do tornozelo. Foram

classificadas como fraturas do colo do tálus todas aquelas nas quais, na radiografia

em perfil do pé, a extremidade inferior do traço principal da fratura ocupava a região

do seio do tarso, poupando a faceta posterior da articulação subtalar(39). Sempre que

possível, foi realizada tomografia computadorizada do pé e tornozelo.

Na avaliação radiográfica inicial foi pesquisada a presença de desvio

significativo na linha da fratura, com comprometimento da superfície articular e

incongruência nas articulações do tornozelo, subtalar e talo-navicular, além da

ocorrência de outras fraturas no pé ou tornozelo. Consideramos que o traço de

fratura estava significativamente desviado quando havia afastamento ou desnível

maior que três milímetros entre os fragmentos, ou uma angulação de pelo menos

cinco graus entre eles.

Utilizamos a classificação de Hawkins(2), modificada por Canale e Kelly (5)

para classificar as fraturas do colo do tálus. Na nossa casuística, duas fraturas não

apresentavam desvio (tipo I – 5%), em 22 ocorreu subluxação ou luxação da

articulação subtalar (tipo II – 60%), em 11 havia subluxação ou luxação na

articulação do tornozelo (tipo III – 30%) e em duas fraturas ocorreu luxação na

articulação talo-navicular (tipo IV – 5%) (Tab. 1). Vinte pacientes (54%) sofreram

outras fraturas além da fratura do colo do tálus, sendo que em onze pacientes (30%)

essas fraturas ocorreram no mesmo pé ou tornozelo, a mais freqüente delas no

maléolo medial (sete pés – 19%).

26

Tabela 1 – Dados epidemiológicos dos pacientes tratados por fratura do colo do tálus, ordenados segundo a data da ocorrência da fratura, contendo o sexo, a idade no momento do trauma, o lado fraturado, o mecanismo do acidente causador da fratura, a presença de exposição óssea no foco da fratura, a ocorrência de outras fraturas simultâneas à fratura do colo do tálus e o tipo da fratura do colo do tálus segundo a classificação de Hawkins modificada(2, 5). Paciente Sexo Idade

(anos) Lado Mecanismo do trauma

Exposição óssea Fraturas associadas Classificação de

Hawkins 1 M 33 D Queda de nível Não Maléolo medial D 2

2 M 24 D Queda de nível Não Calcâneo e cubóide E 2

3 M 20 E Motociclístico Não Maléolo medial E 3

4 F 29 E Automobilistico Não Não 2

5 M 37 E Queda de nível Não Maléolo medial E 2

6 M 19 E Atropelamento Não Não 3

7 M 34 D Automobilistico Não Maléolo medial D 3

8 M 18 E Motociclístico Não Rádio D e maléolo medial E 2

9 M 33 E Queda de nível Sim – tipo II Tuberosidade posterior do tálus E 2

10 M 66 E Atropelamento Não Tíbia E 3

11 M 39 D Queda de nível Não Não 2

12 M 37 E Automobilistico Sim – tipo II Maléolo medial E 3

13 M 23 D Motociclístico Não Não 3

14 M 35 D Automobilistico Não Acetábulo e patela D 2

15 M 41 E Queda de nível Não Não 2

16 M 33 E Queda de nível Não Não 2

17 F 14 D Automobilistico Não Ulna E, fêmur D 3

18 M 30 D Motociclístico Não Perna E e rádio D 2

19 M 21 E Automobilistico Não Fêmur E 2

20 F 27 E Atropelamento Não Não 2

21 F 32 D Queda de nível Sim – tipo I Não 4

22 M 20 D Automobilistico Não Não 3

23 M 23 E Queda de nível Não Não 2

24 M 22 E Automobilistico Não Acetábulo E 2

25 M 21 D Automobilistico Sim – tipo II Não 3

26 M 30 D Queda de nível Sim – tipo I Não 2

27 M 24 E Queda de nível Não Maléolo medial D 1

28 F 37 D Automobilistico Não 5º metat D 2

29 M 39 D Queda de nível Não Não 2

30 F 34 E Automobilistico Sim – tipo I Calcâneo D, fêmur E e 5º metat E 2

31 M 31 E Queda de nível Não Não 1

32 M 35 E Queda de nível Não Não 3

33 M 26 D Motociclístico Não Calcâneo E 2

34 M 32 D Automobilistico Não Úmero D, torn D e perna E 4

35 M 27 D Motociclístico Não Maléolo medial D 3

36 M 20 D Motociclístico Não Não 2

37 M 26 D Queda de nível Não Não 2

Legendas: M – Masculino, F – Feminino, D – Direito, E – Esquerdo, 5º metat – quinto metatarso.

Nota: tipo I e tipo II na coluna “Exposição Óssea” referem-se ao tipo de exposição óssea segundo a classificação de Gustillo e Anderson(38)

Fonte: Serviço de Arquivamento Médico e Estatística do Hospital Central da Santa Casa de São Paulo (SAME)

27

3.2 - Avaliação do resultado inicial

Todos os pacientes apresentavam em seus respectivos prontuários dados

referentes ao período de internação para tratamento da fratura, descrição do

acompanhamento ambulatorial por no mínimo quatro semanas e radiografias pré e

pós-operatórias imediatas. Foram coletados, nos prontuários de todos os pacientes

submetidos a tratamento cruento, os dados referentes a complicações como

hematoma pós-operatório, complicações cutâneas e vasculares e a ocorrência de

infecção, sendo essas consideradas complicações precoces.

As radiografias obtidas no pós-operatório imediato, realizada nas incidências

dorso-plantar, perfil e oblíqua do pé, foram comparadas com as radiografias obtidas

durante o seguimento ambulatorial. Nas radiografias pós-operatórias imediatas,

classificamos a qualidade da redução obtida em três tipos: anatômica (ausência de

desnível, angulação ou afastamento entre os fragmentos ósseos), aceitável

(desnível ou afastamento entre os fragmentos ósseos de até três milímetros ou

angulação de até cinco graus), ou redução ruim (desnível ou afastamento entre os

fragmentos ósseos maior do que três milímetros ou angulação superior a cinco

graus)(28). Foram excluídos dessa avaliação os pacientes submetidos à artrodese

tíbio-talo-calcaneana ou talectomia primárias.

Todas as radiografias disponíveis nos prontuários médicos ou de posse dos

pacientes reavaliados, com tempo de seguimento superior a seis meses, foram

analisadas em busca de possível perda da redução inicial e da ocorrência de retardo

na consolidação óssea, pseudartrose, osteonecrose ou colapso do corpo do tálus.

Foram excluídos dessa avaliação os pacientes submetidos à artrodese tíbio-talo-

calcaneana ou talectomia primárias, assim como os pacientes submetidos a esses

procedimentos num prazo inferior a seis meses do tratamento inicial.

28

Foram classificadas como em retardo de consolidação todas as fraturas nas

quais a consolidação óssea ocorreu após seis meses do tratamento inicial(32), e em

pseudartrose aquelas em que não houve evidência radiográfica de consolidação

após o tratamento inicial da fratura(28).

29

3.3 – Avaliação do resultado final:

No período compreendido entre março e outubro de 2005, convocamos para

avaliação todos os pacientes que apresentavam, na época, tempo mínimo de

seguimento de 12 meses. Após tentativa de contato telefônico e postal, 20 pacientes

(54%) se apresentaram para reavaliação, sendo submetidos a exames radiográficos

e avaliação clínico-funcional.

Os pacientes que já haviam sido submetidos a procedimentos reconstrutivos

secundáriosii até a ocasião da reavaliação foram considerados separadamente. As

retiradas de material de síntese não foram incluídas como procedimentos

reconstrutivos secundários.

Nas radiografias realizadas, avaliamos a presença de sinais de artrose do

tornozelo e demais articulações do tarso. Na presença de artrose, esta foi

classificada como: leve (esclerose subcondral mínima, osteófitos de até dois

milímetros e pequena redução do espaço articular), moderada (esclerose

subcondral, osteófitos maiores que dois milímetros e acentuada redução do espaço

articular) ou grave (pronunciada esclerose e cistos subcondrais; osteófitos grandes,

aparentemente bloqueando o movimento articular; mínimo espaço articular) (27-28).

A avaliação clínico-funcional consistiu na entrevista com o paciente e na

realização do exame físico. Para a graduação dos resultados obtidos utilizamos a

escala AOFAS(37) e a escala clínico funcional para fraturas do colo do tálus proposta

por Hawkins(2).

Os pacientes foram questionados sobre o impacto da fratura na sua qualidade

de vida. Verificamos se, após o tratamento, o paciente retornou ao seu trabalho

ii Tomando por base o trabalho de Sanders et al(36), que utilizam o termo “reconstructive surgery”, optamos, neste trabalho, por utilizar o termo “procedimento reconstrutivo” quando nos referimos aos seguintes procedimentos: artrodeses, talectomias, artroplastias e amputações

30

original, se houve necessidade de mudança na sua atividade profissional ou se o

paciente ainda permanecia afastado do trabalho (aposentadoria).

Perguntamos aos pacientes sobre a presença de queixas relacionadas ao pé

tratado, sendo dadas as opções: ausência de problemas maiores; queixa isolada de

dor no pé ou tornozelo; queixa isolada de dificuldade para locomoção ou queixa

combinada de dor e dificuldade para locomoção.

Na presença de queixa de dor residual, procuramos caracterizá-la quanto à

localização (seio do tarso, região anterior da articulação do tornozelo, dorso do

mediopé ou outras localizações) e quanto à intensidade. Para graduar a intensidade

da dor, solicitamos aos pacientes que a caracterizassem em uma das quatro

categorias: ausente, leve, moderada ou grave.

Os pacientes foram questionados quanto à necessidade de utilizar

instrumentos para auxiliar a marcha, quanto à limitação para atividade recreacional

(ausente, leve, moderada ou acentuada), quanto à distância caminhada (superior a

seis quarteirões, entre quatro e seis quarteirões, entre um e três quarteirões ou

menor que um quarteirão) e quanto à capacidade para caminhar em superfícies

irregulares (sem dificuldade, dificuldade leve ou dificuldade acentuada).

No exame físico, avaliamos o alinhamento do pé e tornozelo, classificando-o,

segundo o método AOFAS(37), como bom (pé plantígrado com ausência de

deformidade ou com deformidade leve), regular (pé plantígrado com moderado

desalinhamento) ou ruim (pé não plantígrado ou com deformidade acentuada).

A partir da observação do paciente deambulando com os pés descalços,

avaliamos e classificamos a marcha em três tipos, segundo o método AOFAS(37):

claudicação leve ou ausente, claudicação moderada e claudicação grave.

31

Aferimos a amplitude de movimento articular nas articulações do pé e

tornozelo, segundo os métodos convencionais de exame, utilizando goniômetro(40).

Comparamos a amplitude de movimento articular do pé fraturado com a do pé

contralateral do próprio paciente, utilizado como controle, considerando a diferença

como perda da amplitude articular, expressa em valores percentuais. Nos pacientes

que sofreram qualquer fratura no pé contralateral na mesma ocasião da fratura do

colo do tálus, os valores utilizados como controle da amplitude de movimento

articular foram obtidos a partir da média dos valores aferidos no pé controle dos

pacientes com fratura unilateral.

Para avaliar a presença de lesão dos nervos sensitivos do pé e tornozelo,

examinamos a sensibilidade por meio do monofilamento de Semmes-Weinstein

5.07(41), aplicado nos territórios inervados pelos nervos: tibial, sural, safeno, fibular

superficial e fibular profundo, comparando o pé afetado com o contralateral.

Verificamos também a presença de dor ou irritação na cicatriz cirúrgica e nos trajetos

dos citados nervos por meio da digito-percussão (sinal de Tinel) (40).

32

3.4 – Metodologia estatística

A análise estatística foi realizada utilizando o programa Epi Infotm versão 3.3.2

(Centers for Disease Control and Prevention – CDC). As possíveis variáveis

preditivas foram: o tipo de fratura pela classificação de Hawkins modificada, a

presença de exposição óssea e a via de acesso empregada para o tratamento

cirúrgico. Para utilização do tempo transcorrido entre a fratura e a fixação como

variável preditiva, dividimos os pacientes em dois grupos, os tratados com urgência

(até 12 horas entre a fratura e a fixação) e os tratados eletivamente (após 12 horas).

Os resultados clínicos incluíram a realização de procedimentos reconstrutivos

secundários e o retorno à atividade profissional prévia à fratura do colo do tálus.

Algumas variáveis foram utilizadas tanto como preditivas quanto como

resultados, sendo elas o desenvolvimento de complicações precoces, a qualidade

da redução obtida após o tratamento inicial e a ocorrência de osteonecrose do corpo

do tálus. O teste do qui-quadrado e o teste Exato de Fisher foram utilizados para

testar a associação entre as variáveis preditivas e os resultados clínicos.

O teste de Mann-Whitney foi utilizado para avaliar a ocorrência de

significância estatística na diferença dos resultados clínico-funcionais mensurados

numericamente (perda de movimento e resultado clínico-funcional pela classificação

de AOFAS) nos diferentes grupos de pacientes divididos segundo as possíveis

variáveis preditivas. Significância estatística foi definida como P<0,05.

33

4 – RESULTADOS

4.1 - Tratamento inicial:

No momento da chegada ao pronto atendimento, os pacientes que

apresentavam fraturas fechadas e desviadas do colo do tálus foram submetidos à

tentativa de redução pela técnica de Böhleriii. O tratamento incruento foi indicado nas

fraturas fechadas e isoladas do tipo I e nas fraturas em que, após a redução

incruenta, houve restabelecimento da congruência articular e do alinhamento entre

os fragmentos principais da fratura, comprovado pelas radiografias e, sempre que

possível, pela tomografia computadorizada.

Nesta série de 37 pacientes, quatro foram submetidos a tratamento incruento

(11%), 30 foram submetidos à redução aberta e fixação interna (RAFI – 81%), dois à

artrodese tíbio-talo-calcaneana (5%) e um à talectomia primária (3%) (Tab. 2).

O tratamento incruento foi realizado em um paciente com fratura do tipo I, em

dois pacientes com fraturas do tipo II e em um com fratura do tipo III (Tab. 2). Nos

pacientes com fraturas desviadas, optou-se por esse tratamento porque se

considerou que a redução obtida de forma incruenta foi aceitável. Esse tratamento

foi realizado com o uso de bota gessada por 12 semanas, sendo as seis primeiras

semanas sem apoio no membro e as seis seguintes com apoio de carga parcial.

Redução aberta e fixação interna foi realizada em um paciente com fratura do

tipo I, 19 pacientes com fraturas do tipo II, nove com fraturas do tipo III e um com

fratura do tipo IV. O paciente com fratura do tipo I foi tratado cruentamente devido à

associação com uma fratura do maléolo medial do tornozelo, buscando-se permitir a

mobilização precoce. Em três pés foi realizada simultaneamente uma artrodese

iii Böhler, 1957 apud Pajenda et al, 2000(17).

34

subtalar primária devido à grande fragmentação osteocondral observada no

momento da cirurgia (Tab. 2).

Onze dos 30 pacientes submetidos à RAFI (37%) foram operados

imediatamente após a admissão hospitalar (seis fraturas expostas), enquanto outros

19 pacientes (63%) vieram encaminhados de outras instituições alguns dias após o

trauma inicial. Nestes pacientes, a cirurgia foi realizada em caráter eletivo, após

melhora das condições da pele, o que ocorreu, em média, nove dias após o trauma,

variando de três a 30 dias (Tab. 2). Tanto nas cirurgias de urgência quanto nas

eletivas, o tratamento cirúrgico foi realizado com os pacientes sob raquianestesia. O

membro operado foi previamente exsangüinado e um torniquete foi aplicado à raiz

da coxa.

A escolha da via de acesso cirúrgico utilizada teve como parâmetros: a

presença de exposição óssea, o grau de fragmentação e a direção dos traços

principais da fratura, a lesão de partes moles associada, além da presença ou

ausência de fratura associada dos maléolos. Em 16 dos 30 pés submetidos à RAFI

(53%) foi utilizada a via de acesso ântero-medial isoladamente. Dois pés (7%) foram

operados através de única via de acesso ântero-lateral. Via de acesso combinada foi

empregada em 12 pés (40%). Nestes, foi utilizada abordagem ântero-lateral para

visualização do traço principal da fratura e abordagem lateral submaleolar para

visualização da articulação subtalar (Tab. 2).

O material utilizado para fixação da fratura variou de acordo com o tamanho

dos fragmentos ósseos, o grau de fragmentação, e a necessidade de artrodese

primária. Em cinco dos 30 pés submetidos à RAFI (17%), optou-se pela fixação

interna com parafuso canulado de rosca parcial com 6,5 mm de diâmetro,

introduzido de posterior para anterior. Parafusos com quatro milímetros de diâmetro

35

e rosca parcial, foram empregados em 22 pés operados (73%). Fios de Kirschner de

dois milímetros de diâmetro foram empregados isoladamente em três pés (10%)

(Tab. 2). Nos pacientes em que foi realizada a artrodese subtalar primária, foi

utilizado parafuso de rosca parcial com 6,5 mm de diâmetro para a fixação e

compressão articular.

Fixação adicional transarticular provisória, empregando fio de Kirschner com

dois milímetros de diâmetro, foi necessária em seis pés dos 30 pés submetidos a

RAFI (20%). Em cinco destes (pacientes 2, 18, 23, 25 e 29), a fixação incluiu a

articulação subtalar e foi indicada para manter o alinhamento desta articulação,

desestabilizada pela lesão completa do ligamento interósseo. No outro pé (paciente

36), foi necessária a fixação transarticular talo-navicular, devido à acentuada

instabilidade causada pela extensa lesão cápsulo-ligamentar.

Enxerto ósseo esponjoso, retirado da crista do osso ilíaco ou da região

metafisária da tíbia, foi impactado para preencher falha óssea presente no dorso do

colo do tálus em sete dos 30 pés submetidos à RAFI (Tab. 2).

Nos 34 pacientes submetidos a tratamento incruento ou RAFI, em 12 (35%) a

redução obtida foi classificada como anatômica, em 15 (44%) como aceitável e em

sete (21%) como ruim (Tab.2).

Em três dos 37 pés tratados (8%), não foi possível a reparação articular.

Talectomia total primária foi realizada em um destes pacientes (paciente 21) e

artrodese tíbio-talo-calcaneana, fixada com haste intramedular retrógrada bloqueada

e com interposição de enxerto ósseo, foi realizada em outros dois (pacientes 24 e

35).

Após a cirurgia, a extremidade operada foi imobilizada com goteira gessada

suropodálica. Drenagem aspirativa foi utilizada de rotina por período de 24 a 48

36

horas. Logo após a retirada da imobilização gessada, foi instituído tratamento

fisioterápico que consistiu em exercícios para ganho de força muscular e amplitude

de movimento articular.

Durante o período de acompanhamento ambulatorial, realizamos radiografias

do pé e tornozelo com intervalos mensais, para verificarmos possíveis alterações do

alinhamento osteoarticular, sinais de osteonecrose do corpo do tálus e a evolução

da consolidação, caracterizada pela presença de trabeculado ósseo cruzando o foco

da fratura. O apoio foi iniciado somente quando se evidenciou sinal da consolidação

óssea.

Na eventual presença de sinais radiográficos de osteonecrose do corpo do

tálus, os pacientes foram mantidos sem apoio no membro afetado ou utilizando

órtese moldada de polipropileno, com apoio no tendão patelar, buscando-se assim

evitar o colapso do corpo do tálus. Essa conduta foi mantida por período aproximado

de nove meses.

37

Tabela 2 – Dados do tratamento inicial dos pacientes com fratura do colo do tálus, ordenados segundo a data da ocorrência da fratura, contendo o tipo de tratamento realizado; o tempo transcorrido entre a ocorrência e a instauração do tratamento da fratura, nos pacientes tratados cruentamente; a via de acesso utilizada nos pacientes tratados com RAFI; o material empregado para a fixação óssea; o uso de enxerto ósseo no foco da fratura; a qualidade da redução obtida entre os fragmentos fraturados; e a ocorrência de complicações no período pós-operatório imediato. Paciente Tratamento inicial Urgente ou

eletivo Via de acesso

para RAFI Tipo de fixação Enxerto ósseo na fratura

Qualidade da redução

Complicações precoces

1 Incruento NSA NSA NSA NSA Aceitável NSA

2 RAFI Eletivo Ânt-medial Parafusos 4,0 mm Não Ruim Não

3 RAFI Eletivo Ânt-medial Fios K Não Aceitável Não

4 RAFI Urgente Ânt-lat Fios K Não Aceitável Não

5 RAFI Eletivo Ânt-medial Parafusos 4,0 mm Não Ruim Não

6 RAFI Urgente Ânt-medial Parafusos 4,0 mm Sim Aceitável Nec

7 RAFI Eletivo Ânt-medial Parafusos 4,0 mm Sim Aceitável Não

8 RAFI Eletivo Ânt-medial Parafusos 4,0 mm Sim Ruim Não

9 RAFI Urgente Ânt-medial Parafusos 4,0 mm Não Anatômica Hem

10 RAFI Urgente Lat + ânt-lat Parafusos 4,0 mm Não Anatômica Nec

11 RAFI Urgente Ânt-medial Parafusos 4,0 mm Não Ruim Nec

12 RAFI Eletivo Ânt-medial Parafusos 4,0 mm Não Anatômica Nec

13 RAFI Eletivo Ânt-medial Parafusos 4,0 mm Não Anatômica Não

14 RAFI Urgente Ânt-medial Parafusos 4,0 mm Não Aceitável Não

15 RAFI Urgente Ânt-medial Parafusos 4,0 mm Não Anatômica Não

16 RAFI Urgente Lat + ânt-lat Parafusos 4,0 mm Não Aceitável Não

17 RAFI Urgente Lat + ânt-lat Parafusos 4,0 mm Não Aceitável Não

18 RAFI Eletivo Lat + ânt-lat Parafusos 4,0 mm Não Aceitável Não

19 RAFI Urgente Ânt-medial Parafusos 4,0 mm Não Aceitável Não

20 RAFI Eletivo Ânt-medial Parafusos 4,0 mm Não Aceitável Não

21 Talectomia Urgente NSA Fios K NSA NSA Hem

22 Incruento NSA NSA NSA NSA Anatômica NSA

23 RAFI Eletivo Lat + ânt-lat Parafusos 4,0 mm Não Anatômica Não

24 Artrod tib-talo-calc Eletivo NSA Haste intramedular NSA NSA Não

25 RAFI Eletivo Ânt-lat Parafuso 6,5 mm Não Anatômica Nec, Infec

26 RAFI Eletivo Ânt-medial Parafusos 4,0 mm Não Aceitável Nec, Infec

27 RAFI Eletivo Ânt-medial Parafusos 4,0 mm Não Anatômica Hem

28 RAFI Urgente Lat + ânt-lat Parafuso 6,5 mm Não Aceitável Não

29 RAFI Eletivo Lat + ânt-lat Parafusos 4,0 mm Sim Aceitável Não

30 RAFI Eletivo Lat + ânt-lat Parafuso 6,5 mm Não Ruim Não

31 Incruento NSA NSA NSA NSA Anatômica NSA

32 RAFI + Artrod subtalar Eletivo Lat + ânt-lat Parafuso 6,5 mm Sim Ruim Nec

33 RAFI + Artrod subtalar Eletivo Lat + ânt-lat Parafusos 4,0 mm Sim Anatômica Não

34 RAFI Eletivo Lat + ânt-lat Fios K Não Ruim Infec

35 Artrod tib-talo-calc Eletivo NSA Haste intramedular NSA NSA Infec

36 RAFI + Artrod subtalar Eletivo Lat + ânt-lat Parafuso 6,5 mm Sim Anatômica Não

37 Incruento NSA NSA NSA Não Aceitável NSA

Legendas: RAFI – redução aberta e fixação interna, NSA – não se aplica, ânt-medial – ântero-medial, ânt-lat – ântero-lateral, lat – lateral, mm – milímetros, fios K – fios de Kirschner, nsa – não se aplica, Nec – necrose cutânea, Hem – Hematoma, Infec – Infecção. Notas: “Urgente ou eletivo” – refere-se ao tempo transcorrido entre a ocorrência da fratura e a instituição do tratamento.

Fonte: Serviço de Arquivamento Médico e Estatística do Hospital Central da Santa Casa de São Paulo (SAME)

38

4.2 - Complicações pós-operatórias precoces

Complicações precoces ocorreram em doze (36%) dos 33 pacientes

submetidos ao tratamento cirúrgico (Tab. 2). Hematoma pós-operatório, que

necessitou de drenagem cirúrgica, foi observado em três pés (pacientes 9, 21 e 27).

Necrose nas bordas da ferida operatória ocorreu de forma isolada em cinco pés

(pacientes 6, 10, 11, 12 e 32), e associada à infecção em dois pés (pacientes 25 e

26). Nenhum paciente apresentou complicações vasculares.

Quatro pacientes apresentaram infecção pós-operatória. Duas delas foram

superficiais (pacientes 26 e 34), tratadas com antibioticoterapia endovenosa, e as

outras duas foram profundas, uma delas (paciente 35) tratada com antibioticoterapia

e retirada do material de osteossíntese, e a outra (paciente 25 – Figura 2) tratada

com talectomia após quatro meses do tratamento inicial.

Os pacientes operados por fraturas do tipo III ou IV, pela classificação de

Hawkins, apresentaram incidência significativamente maior (P=0,009) de

complicações precoces (67%) que os pacientes operados por fraturas do tipo I ou II

(19%). Fato semelhante ocorreu com os pacientes com fraturas expostas, os quais

apresentaram incidência significativamente maior (P=0,016) de complicações

precoces (83%) que os operados por fraturas fechadas (26%). Nos pacientes

tratados com redução aberta e fixação interna, não houve diferença significativa nas

incidências de complicações precoces entre os submetidos à abordagem por via de

acesso única ou combinada (P=0,35), assim como não houve diferença significativa

entre os operados em caráter de urgência ou eletivo (P=0,46).

39

Figura 2 – Paciente 25 – Radiografias em perfil do tornozelo demonstrando a fratura (2a),

o pós-operatório imediato da redução da fratura e osteossíntese (2b) e o pós-operatório

imediato da talectomia total realizada para tratamento da osteomielite (2c).

2a

2b

2c

40

4.3 - Resultado radiográfico inicial

Vinte e oito dos quarenta pacientes dessa série apresentavam radiografias

realizadas ao menos seis meses após o trauma inicial. Vinte e quatro puderam ser

avaliadas quanto à presença de osteonecrose do corpo do tálus, consolidação

óssea, retardo da consolidação ou pseudartrose. Quatro pacientes foram excluídos

dessa avaliação: dois por terem sido submetidos à artrodese tíbio-talo-calcaneana

primária (pacientes 25 e 38), um por ter sido submetido à talectomia primária

(paciente 22) e um à talectomia secundária após quatro meses do tratamento inicial

(paciente 25). Notamos a presença de sinais radiográficos de osteonecrose do corpo

do tálus em nove pés (37,5%), retardo da consolidação em um único pé (4%) e

nenhuma pseudartrose (Tab. 3).

Nesse grupo de 24 pacientes, dois apresentavam fratura do tipo I segundo a

classificação de Hawkins, nenhum dos quais desenvolveu osteonecrose do corpo do

tálus; 14 apresentavam fratura do tipo II, dos quais dois evoluíram com osteonecrose

(14%); sete apresentavam fratura do tipo III, seis dos quais evoluíram com

osteonecrose do corpo do tálus (86%); e um apresentava fratura do tipo IV e

apresentou osteonecrose do corpo do tálus (100%). A diferença entre a incidência

de osteonecrose nos pacientes com fraturas do tipo I e II (12,5%) e a incidência nos

pacientes com fraturas do tipo III ou IV (87,5%) foi estatisticamente significativa

(P=0,0007).

Não houve diferença estatisticamente significativa entre as incidências de

osteonecrose nos pacientes: com fraturas expostas ou fechadas (P=0,22), operados

em caráter eletivo ou de urgência (P=0,63), operados por via medial ou combinada

(P=0,43), ou com diferentes qualidades da redução inicial (P=0,18).

41

O paciente que apresentou retardo da consolidação (paciente 34 – Fig. 3) foi

tratado com redução aberta e fixação interna utilizando-se fios de Kirschner em uma

fratura fechada do tipo IV de Hawkins, que evoluiu com infecção superficial no pós-

operatório imediato. Além do retardo da consolidação, ocorreu também

osteonecrose do corpo do tálus. O paciente foi, então, tratado com órtese de

descarga do peso corporal até o aparecimento de evidências da consolidação

radiográfica, o que ocorreu 14 meses após o trauma.

Figura 3 – Paciente 34 – Radiografia do tornozelo em perfil com seis meses de seguimento pós-

operatório, apresentando retardo de consolidação (3a) e com 14 meses de seguimento pós-

operatório (3b), evidenciando a consolidação viciosa do foco da fratura (3b).

3b 3a

42

Tabela 3 – Dados relativos à: necessidade de realização de procedimentos reconstrutivos secundários após o tratamento inicial dos pacientes com fratura do colo do tálus, ordenados segundo a data da ocorrência da fratura; à ocorrência de complicações radiográficas iniciais como osteonecrose, retardo da consolidação e pseudartrose; o tempo de seguimento radiográfico; e a presença radiográfica de artrose ou artrodese envolvendo as articulações subtalar ou do tornozelo na última radiografia avaliada.

Paciente Procedimento secundário

∆T ttmt secundário

(meses)

Motivo procedimento

secundária

Complicações radiográficas iniciais

Tempo de seguimento

(meses)

Tornozelo artrose/artrodese

Subtalar artrose/artrodese

1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1

2 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1

3 -2 -2 -2 Osteonecrose -2 -2 -2

4 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1

5 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1

6 -2 -2 -2 Osteonecrose -2 -2 -2

7 -2 -2 -2 Osteonecrose -2 -2 -2

8 Não NSA NSA Não 169 Grave Moderada

9 -2 -2 -2 Não -2 -2 -2

10 Não NSA NSA Não 142 Leve Grave

11 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1

12 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1

13 -2 -2 -2 Osteonecrose -2 -2 -2

14 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1

15 Não NSA NSA Não 113 Não Grave

16 Não NSA NSA Não 100 Não Moderada

17 Não NSA NSA Osteonecrose 96 Moderada Grave

18 Não NSA NSA Osteonecrose 101 Grave Moderada

19 -2 -2 -2 Osteonecrose -2 -2 -2

20 Não NSA NSA Não 98 Leve Não

21 Panartrodese 18 Artrose NSA 90 Artrodese Artrodese

22 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1

23 Não NSA NSA Não 67 Não Não

24 Não NSA NSA NSA 70 Artrodese Artrodese

25 Talectomia 4 Osteomielite NSA 61 Talectomia Talectomia

26 Panartrodese 35 Artrose Não 60 Artrodese Artrodese

27 -2 -2 -2 Não -2 -2 -2

28 -2 -2 -2 Não -2 -2 -2

29 Não NSA NSA Não 46 Leve Moderada

30 Não NSA NSA Não 41 Leve Leve

31 Não NSA NSA Não 43 Não Leve

32 Artrodese do tornozelo 28 Artrose Osteonecrose 33 Artrodese Artrodese

33 Não NSA NSA Não 25 Não Artrodese

34 Não NSA NSA Osteonecrose + retardo da consolidação 26 Moderada Moderada

35 Não NSA NSA NSA 22 Artrodese Artrodese

36 Não NSA NSA Não 14 Leve Artrodese

37 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 Legendas: ∆T ttmt secundário – Tempo transcorrido entre o tratamento inicial e o procedimento secundário, -1 – paciente com tempo de seguimento ambulatorial inferior a seis meses, -2 – paciente com tempo de seguimento ambulatorial inferior a 12 meses, NSA – não se aplica. Notas: As colunas “Tornozelo artrose/artrodese” e “Subtalar artrose/artrodese” referem-se ao grau de artrose dessas articulações ou à presença de artrodese ou talectomia na ocasião da reavaliação.

Osteonecrose refere-se à constatação radiográfica de osteonecrose do corpo do tálus Retardo de consolidação refere-se à consolidação ocorrida em período superior a seis meses do tratamento inicial

Fonte: Serviço de Arquivamento Médico e Estatística do Hospital Central da Santa Casa de São Paulo (SAME)

43

4.4 – Procedimentos reconstrutivos secundários

Vinte pacientes compareceram para reavaliação, apresentando tempo médio

de seguimento de 71 ± 42 meses (variando de 14 a 169 meses). Quatro desses

pacientes (Tab. 3) já haviam sido submetidos a algum procedimento reconstrutivo

secundário (20%).

Um desses pacientes (paciente 21) havia sofrido uma fratura exposta do tipo

IV, tratada com talectomia primária, que evoluiu com hematoma pós-operatório que

necessitou de drenagem cirúrgica. Após 18 meses do tratamento inicial, apresentou

artrose, deformidade residual e dor incapacitante, necessitando de uma artrodese

tíbio-calcaneana e mediotársica.

Outro paciente havia sido submetido à talectomia total para tratamento da

osteomielite, após quatro meses da redução aberta e fixação interna de uma fratura

exposta do tipo III (paciente 25 – Figura 2).

O terceiro paciente (paciente 26 – Fig. 4) apresentava fratura exposta do tipo

II, tratada com RAFI. Evoluiu com infecção superficial e necrose cutânea,

inicialmente tratadas com desbridamento e antibioticoterapia. Apresentou anquilose

talo-navicular e dor secundária à artrose, sendo submetido à artrodese tíbio-talo-

calcaneana após 35 meses do tratamento inicial.

O quarto paciente (paciente 32) havia sido tratado de uma fratura fechada do

tipo III, com RAFI associada à artrodese subtalar primária, apresentando necrose

cutânea no pós-operatório imediato. Teve sua artrodese estendida à articulação do

tornozelo, para tratamento da artrose pós-traumática sintomática, após 28 meses do

tratamento inicial.

44

Figura 4 – Paciente 26 – Radiografias em perfil do tornozelo demonstrando a fratura desviada do colo

do tálus com fragmentação dorsal (4a), o pós-operatório de 36 meses com artrose do tornozelo e da

articulação subtalar (4b) e o resultado após a artrodese tíbio-talo-calcaneana realizada para

tratamento da dor (4c).

4a

4b

4c

45

Houve aumento significativo (P=0,01) na incidência de realização de

procedimentos reconstrutivos secundários nos pacientes com fraturas expostas

(75%) quando comparados aos com fraturas fechadas (6%). Nos sete pacientes que

apresentaram complicações pós-operatórias precoces e que foram reavaliados, a

incidência de procedimentos reconstrutivos secundários (quatro pacientes - 57%) foi

significativamente superior (P=0,009) a dos pacientes que não apresentaram essas

complicações (0%). Também houve maior incidência de realização de

procedimentos reconstrutivos secundários nos pacientes com fraturas do tipo III e IV

(43%) em relação aos com fraturas do tipo I e II (8%) segundo a classificação de

Hawkins, embora essa diferença não tenha demonstrado significância estatística

(P=0,1).

Não houve relação estatística entre a incidência de procedimentos

reconstrutivos secundários e as seguintes variáveis: RAFI por via de acesso única

ou combinada (P=0,21), tempo transcorrido entre a ocorrência da fratura e a sua

fixação (P=0,39), qualidade da redução inicial (p=0,9) ou osteonecrose do corpo do

tálus (P=0,45).

46

4.5 - Resultado radiográfico tardio

Na avaliação das radiografias realizadas durante o tratamento ambulatorial,

foi observado colapso da tróclea do tálus (Figura 5) em dois dos quatro pés

reavaliados e com diagnóstico prévio de osteonecrose (50%). No paciente 18, foi

constatado o colapso após 27 meses do tratamento inicial; e no paciente 34, o

colapso foi constatado após 14 meses do tratamento inicial.

5a 5b

5c 5d

Figura 5 – Paciente 19 – Radiografias em perfil do tornozelo demonstrando o desvio inicial da

fratura do colo do tálus e a luxação da articulação subtalar (5a), o pós-operatório imediato (5b),

o pós-operatório de 28 meses demonstrando a necrose do corpo do tálus (5c), e o pós-

operatório de 101 meses, demonstrando o colapso da tróclea do tálus (5d).

47

A avaliação radiográfica da articulação do tornozelo dos 16 pacientes

reavaliados e não submetidos a procedimentos secundários mostrou que: cinco pés

(31%) não apresentavam sinais de artrose; cinco pés (31%) apresentavam artrose

leve; dois pés (12,5%) apresentavam artrose moderada; dois pés (12,5%), artrose

grave; e dois tornozelos (12,5%) haviam sido submetidos à artrodese primária

(Tab.3).

A articulação subtalar mostrava-se sem sinais de artrose em dois pés

(12,5%), com artrose leve em dois pés (12,5%), com artrose moderada em cinco pés

(31%), com artrose grave em três pés (19%), e quatro articulações (25%) haviam

sido submetidas à artrodese primária (Tab.3).

Não houve nenhum caso de artrose moderada ou grave no tornozelo dos

pacientes cuja redução obtida após o tratamento inicial foi classificada como

anatômica, enquanto nos pacientes cuja redução foi classificada como aceitável ou

ruim a incidência de artrose moderada ou grave foi de 50%, embora essa diferença

não tenha demonstrado significância estatística (P=0,069). Foi estatisticamente

significativa a diferença na incidência de artrose moderada e grave do tornozelo,

entre os pacientes que apresentaram osteonecrose do corpo do tálus (100%) e os

que não apresentaram essa complicação (9% - P=0,01).

48

4.6 - Resultado clínico-funcional

Na ocasião da avaliação, 13 dos 16 pacientes (81%) não submetidos a

procedimentos reconstrutivos secundários referiram alguma queixa relacionada ao

pé fraturado. Um desses pacientes apresentou queixa isolada de dificuldade para

locomoção (6%), seis queixaram-se somente de dor no pé ou tornozelo (37,5%),

enquanto outros seis pacientes referiram queixa combinada de dor e dificuldade

para locomoção (37,5%). Dentre os 12 pacientes com queixa dolorosa, a região

anterior do tornozelo e o seio do tarso foram as localizações de dor mais freqüentes.

Desses pacientes, sete classificaram a dor como leve (44%) e cinco classificaram-na

como moderada (31%) (Tab. 4).

O alinhamento articular foi classificado como: bom em 10 pés (62,5%); regular

em quatro pés (25%), sendo dois com deformidade em varo (pacientes 15 e 29), um

com deformidade em varo e cavo (paciente 8) e um com deformidade em varo, cavo

e adução (paciente 18); e ruim em dois pés (12,5%), ambos com deformidade em

eqüino (pacientes 24 e 35) (Tab. 4).

Observamos sete pés (44%) com déficit sensitivo: três na área inervada pelo

nervo fibular superficial; um na área do nervo sural; um na área do nervo safeno;

dois nas áreas inervadas pelos nervos sural e fibular superficial (Tab. 4). Um dos

pacientes com déficit sensitivo havia sido submetido inicialmente à artrodese tíbio-

talo-calcaneana, enquanto os cinco demais haviam sido submetidos à RAFI por via

de acesso combinada.

Na ocasião da reavaliação, oito pacientes haviam retornado à mesma

atividade laboral prévia à fratura do colo do tálus (50%) e oito estavam afastados do

trabalho e recebendo auxílio-doença (50%) (Tab. 4). Em nenhum paciente houve

49

alteração na atividade profissional original devido às limitações acarretadas pela

fratura do colo do tálus.

A utilização de instrumentos para auxiliar a marcha era necessária em quatro

pacientes (25%), um dos quais utilizava bengala (paciente 30), enquanto os outros

três utilizavam órtese moldada de polipropileno para pé e tornozelo (pacientes 24, 34

e 35). Limitação para atividade recreacional esteve presente em oito pacientes

(50%), sendo classificada como leve em cinco pacientes e moderada em três.

Ao serem questionados quanto à distância máxima que conseguiam

caminhar, 11 pacientes indicaram mais de seis quarteirões (69%), um paciente

indicou entre quatro e seis quarteirões (6%), três pacientes indicaram entre um e três

quarteirões (19%) e um paciente referiu conseguir caminhar apenas uma distância

menor que um quarteirão (6%). Dificuldade para caminhar em superfícies irregulares

foi referida por 12 pacientes (67%), classificada como leve por oito e como grave por

quatro pacientes.

Classificamos a marcha dos pacientes como: normal ou com claudicação leve

em 11 pacientes (69%), claudicação moderada em três (19%) e claudicação grave

em dois pacientes (12%).

Quanto à perda de amplitude do movimento articular, observamos uma perda

média de 49 ± 31% na amplitude articular do tornozelo, 80 ± 21% na articulação

subtalar, 49 ± 32% no eixo de adução/abdução do médio e antepé e 35 ± 35% no

eixo de pronação/supinação do médiopé e antepé (Tab. 5).

A perda de movimento nas articulações do tornozelo e subtalar foi maior nos

pacientes que apresentaram complicações precoces. No tornozelo, a perda média

da amplitude de movimento foi de 84,5 ± 21% nos pacientes que apresentaram

essas complicações, comparada à perda de 42 ± 27% nos demais pacientes

50

(P=0,04). Na articulação subtalar, a perda média da amplitude de movimento foi de

95 ± 9 % nos pacientes que apresentaram complicações precoces, comparada à

perda de 79 ± 21 % nos pacientes que não apresentaram essas complicações,

embora esta diferença não tenha apresentado significância estatística (P=0,13).

De acordo com a escala AOFAS(37), observamos uma pontuação média de 73

± 18 pontos entre os 16 pacientes reavaliados e não submetidos a procedimentos

reconstrutivos secundários (Tab. 17). Segundo a classificação clínico-funcional de

Hawkins(2), foram obtidos cinco resultados excelentes, oito resultados bons, um

resultado regular e dois resultados ruins.

Os pacientes cuja redução obtida após o tratamento inicial foi classificada

como ruim tiveram um resultado médio (65 ± 15 pontos) significativamente inferior

(P=0,04) ao dos pacientes cuja redução foi classificada como anatômica ou aceitável

(82 ± 8 pontos). Os pacientes que desenvolveram osteonecrose do corpo do tálus

também apresentaram resultado médio (66 ± 17 pontos) inferior ao dos pacientes

sem essa complicação (81 ± 8 pontos), embora essa diferença não tenha

demonstrado significância estatística (P=0,11).

Dentre os pacientes submetidos a tratamento cruento e não submetidos a

procedimentos secundários, observamos um pior resultado, segundo a escala

AOFAS(37), nos que apresentaram complicações precoces após o tratamento inicial.

Estes pacientes apresentaram pontuação média de 56 ± 30 pontos comparados à

pontuação de 77 ± 13 pontos nos demais (P=0,38). Considerando também os

resultados dos pacientes submetidos a procedimentos secundários, observamos

uma diferença estatisticamente significativa (P=0,02), com uma média de 57 ± 19

pontos nos pacientes que apresentaram complicações precoces comparados à

média de 77 ± 13 pontos nos sem essas complicações.

51

Tabela 4 – Dados referentes ao resultado clínico-funcional final dos pacientes com fratura do colo do tálus, ordenados segundo a data da ocorrência da fratura, contendo: o tempo de seguimento clínico; o retorno às atividades laborais prévias à ocorrência da fratura; a presença de queixa relativa ao pé tratado; a presença, localização e intensidade da dor crônica residual; a presença e localização de déficit sensitivo no pé tratado; a presença, o tipo e a classificação da deformidade segundo o método AOFAS(37); a pontuação obtida na escala clínico funcional da AOFAS(37) e na classificação clínico-funcional de Hawkins(2).

Paciente Tempo de

seguimento (meses)

Retorno ao

trabalho

Queixa principal

Dor crônica residual Déficit sensitivo

Alinhamento AOFAS Resultado

Hawkins Localização Intensidade Defomidade Classificação

1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1

2 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1

3 -2 -2 -2 -2 -2 -2 -2 -2 -2 -2

4 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1

5 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1

6 -2 -2 -2 -2 -2 -2 -2 -2 -2 -2

7 -2 -2 -2 -2 -2 -2 -2 -2 -2 -2

8 169 Sim Dor Tornozelo Leve Ausente Cavo e varo Regular 77 Excelente

9 -2 -2 -2 -2 -2 -2 -2 -2 -2 -2

10 142 Sim Ausente Ausente Ausente Não Ausente Bom 90 Bom

11 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1

12 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1

13 -2 -2 -2 -2 -2 -2 -2 -2 -2 -2

14 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1

15 113 Não Dor e Incap Tornozelo e seio do tarso Leve Não Varo Regular 74 Bom

16 100 Sim Dor e Incap Tornozelo Leve Fib sup Ausente Bom 82 Excelente

17 96 Não Dor Tornozelo e seio do tarso Moderada Safeno Ausente Bom 69 Bom

18 101 Sim Ausente Ausente Ausente Fib sup e sural

Cavo, varo e adução Regular 82 Bom

19 -2 -2 -2 -2 -2 -2 -2 -2 -2 -2

20 98 Sim Dor e Incap Tornozelo Leve Não Ausente Bom 87 Excelente

21 90 -3 -3 -3 -3 -3 -3 -3 62 Regular

22 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1

23 67 Sim Incap Ausente Ausente Não Ausente Bom 94 Excelente

24 70 Não Dor Tornozelo Moderada Não Equino Ruim 44 Ruim

25 70 -3 -3 -3 -3 -3 -3 -3 67 Regular3

26 61 -3 -3 -3 -3 -3 -3 -3 64 Regular

27 -2 -2 -2 -2 -2 -2 -2 -2 -2 -2

28 -2 -2 -2 -2 -2 -2 -2 -2 -2 -2

29 46 Sim Ausente Ausente Ausente Fib sup Varo Regular 89 Excelente

30 41 Não Dor Tornozelo Leve Fib sup e sural Ausente Bom 69 Bom

31 43 Não Dor Seio do tarso Moderada Não Ausente Bom 71 Bom

32 33 -3 -3 -3 -3 -3 -3 -3 42 Regular

33 25 Sim Dor Seio do tarso Leve sural Ausente Bom 82 Bom

34 26 Não Dor e Incap Seio do tarso Moderada Não Ausente Bom 48 Regular

35 22 Não Dor e Incap Tornozelo e base do quinto metatarso Moderada Fib sup Equino Ruim 32 Ruim

36 14 Não Dor e Incap Tornozelo Leve Não Ausente Bom 79 Bom

37 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1

Legendas: Incap – Incapacidade funcional, Fib sup – fibular superficial, -1 – paciente com tempo de seguimento ambulatorial inferior a seis meses, -2 – paciente com tempo de seguimento ambulatorial inferior a 12 meses, -3 – paciente submetido a procedimeno reconstrutivo secundário, AOFAS – Classificação clínico –funcional para retropé e tornozelo da American Orthopaedic Foot and Ankle Society(37), Resultado Hawkins – resultado clínico-funcional segundo a classificação proposta por Hawkins(2)

Fonte: Serviço de Arquivamento Médico e Estatística do Hospital Central da Santa Casa de São Paulo (SAME)

52

Tabela 5 – Dados relativos ao tempo de seguimento clínico e a amplitude de movimento articular na última avaliação, observada nas articulações do tornozelo, subtalar e do mediopé dos pacientes tratados por fratura do colo do tálus, e a perda percentual da amplitude de movimento articular, comparada a amplitude articular do pé contra-lateral. Tabela 5 – Dados relativos ao tempo de seguimento clínico e a amplitude de movimento articular na última avaliação, observada nas articulações do tornozelo, subtalar e do mediopé dos pacientes tratados por fratura do colo do tálus, e a perda percentual da amplitude de movimento articular, comparada a amplitude articular do pé contra-lateral.

Paciente Tempo de

Seguimento (meses)

Tornozelo Subtalar Mediopé Mediopé (flexão e extensão) (varo e valgo) (adução e abdução) (supinação e pronação)

amplitude perda amplitude perda amplitude perda amplitude perda

1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1

2 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1

3 -2 -2 -2 -2 -2 -2 -2 -2 -2

4 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1

5 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1

6 -2 -2 -2 -2 -2 -2 -2 -2 -2

7 -2 -2 -2 -2 -2 -2 -2 -2 -2

8 169 30 60% 10 78% 10 67% 30 14%

9 -2 -2 -2 -2 -2 -2 -2 -2 -2

10 142 20 60% 0 100% 10 67% 10 50%

11 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1

12 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1

13 -2 -2 -2 -2 -2 -2 -2 -2 -2

14 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1

15 113 70 0 0 100% 10 50% 20 0

16 100 60 33% 5 83% 5 83% 20 78%

17 96 50 29% 20 33% 20 33% 35 0

18 101 30 63% 10 67% 20 20% 75 17%

19 -2 -2 -2 -2 -2 -2 -2 -2 -2

20 98 60 33% 10 67% 30 0 75 0

21 -3 -3 -3 -3 -3 -3 -3 -3 -3

22 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1

23 67 35 50% 5 83% 10 67% 75 17%

24 70 0 100% 0 100% 0 100% 0 100%

25 -3 -3 -3 -3 -3 -3 -3 -3 -3

26 -3 -3 -3 -3 -3 -3 -3 -3 -3

27 -2 -2 -2 -2 -2 -2 -2 -2 -2

28 -2 -2 -2 -2 -2 -2 -2 -2 -2

29 46 30 50% 5 83% 20 33% 40 27%

30 41 90 0 15 52% 30 0 65 0

31 43 60 25% 15 50% 30 0 75 0

32 -3 -3 -3 -3 -3 -3 -3 -3 -3

33 25 35 55% 0 100% 15 48% 40 38%

34 26 5 94% 5 84% 5 83% 10 84%

35 22 0 100% 0 100% 5 83% 15 83%

36 14 45 36% 0 100% 15 50% 15 57%

37 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1

Notas: As colunas “amplitude” referem-se à amplitude de movimento do pé fraturado. As colunas “perda” referem-se à perda percentual da amplitude de movimento do pé fraturado em comparação à amplitude do pé contralateral.

Fonte: Serviço de Arquivamento Médico e Estatística do Hospital Central da Santa Casa de São Paulo (SAME)

53

5 - DISCUSSÃO

As fraturas do tálus correspondem a 26% das fraturas que ocorrem nos pés

de motociclistas envolvidos em acidentes(42). Este fato é particularmente importante

em um município como São Paulo, no qual cerca de 150.000 pessoas são vítimas de

acidentes de trânsito anualmente, sendo que 23% das vítimas fatais são

motociclistas(43). Outro mecanismo de trauma bastante freqüente nessas lesões é a

queda de altura, e um fato comum a ambos os mecanismos é a sua ocorrência em

pacientes jovens, freqüentemente no exercício de sua atividade profissional. Na

presente casuística a média etária no momento do trauma foi de 28 anos, e

observamos grande impacto dessa fratura na capacidade funcional dos nossos

pacientes após o tratamento.

Metade dos pacientes reavaliados neste estudo nunca retornou a sua

atividade profissional, um resultado muito inferior ao encontrado na literatura(2, 27, 31-

32, 34-36). Embora parte desse fato deva-se a ausência de um mecanismo eficaz de

recolocação profissional em nosso país (nenhum paciente alterou sua atividade

laboral), parte pode ser explicada pela elevada incidência de complicações clínicas.

Na ocasião da reavaliação, apenas três pacientes (15%) não apresentavam

queixas relacionadas ao pé ou tornozelo tratado, enquanto 12 (60%) apresentavam

queixa de dor (Tab. 4). Outros quatro pacientes (25%) já haviam sido submetidos a

procedimentos reconstrutivos secundários para tratamento de complicações. Seis

pacientes não submetidos a procedimentos secundários (30%) apresentavam

deformidades residuais.

A gravidade do comprometimento articular nas fraturas do colo do tálus torna-

se evidente ao avaliarmos a perda de movimento nos pacientes não submetidos a

procedimentos reconstrutivos secundários (Tab. 5). A perda média de mobilidade na

54

articulação do tornozelo foi de 49%, na articulação subtalar foi de 80%, no eixo de

adução/abdução foi de 49% e de 35% no eixo de pronação/supinação do pé.

A pontuação média obtida, segundo a escala AOFAS para retropé e

tornozelo(37), foi de 73 pontos (Tab. 4), valor inferior ao encontrado nos pacientes

tratados em nosso serviço por fratura do calcâneo (85 pontos)(44), luxação peritalar

(83 pontos)(45) e fratura-luxação da articulação de Lisfranc (83 pontos – escala para

mediopé)(46); o que demonstra o pior prognóstico dos pacientes com fratura do colo

do tálus.

Grande parte das complicações conseqüentes à fratura do colo do tálus deve-

se à alta energia do trauma, que ocasiona não somente a lesão osteoarticular, com

luxações, fragmentação óssea e dano à cartilagem articular, como também lesão às

partes moles, comprometendo a integridade cutânea e vascular do pé(27). Essa lesão

pode ser agravada pela demora na redução das luxações articulares(15, 20) e pelo

trauma cirúrgico, gerando complicações como a necrose cutânea, hematoma,

deiscência de sutura e infecção(2-3, 31). No presente estudo, 36% dos pacientes

submetidos a tratamento cirúrgico apresentaram complicações precoces, com maior

incidência naqueles com fraturas mais graves, tanto nos casos com maior desvio

inicial quanto nas fraturas expostas, nos quais se presume a ocorrência de trauma

de maior energia. Esse achado é semelhante ao observado em outros estudos(5, 15,

17, 35-36).

O tratamento das complicações precoces, com rotação de retalhos,

desbridamentos, antibioticoterapia, retirada do material de síntese e eventualmente

talectomia, dificulta a reabilitação dos pacientes e freqüentemente leva a maus

resultados clínicos e funcionais(11). Dentre os pacientes reavaliados, aqueles que

desenvolveram essas complicações apresentaram maior incidência de

55

procedimentos reconstrutivos secundários, maior perda da mobilidade das

articulações do tornozelo e subtalar, e pior resultado clínico-funcional, quando

comparados aos demais pacientes.

Buscando evitar o agravamento das lesões às partes moles decorrentes do

trauma inicial, todas as luxações devem ser reduzidas e estabilizadas

imediatamente(31). Quando não for possível a redução das luxações por manipulação

e a fixação definitiva não puder ser realizada em caráter de urgência, pode-se

realizar a redução das superfícies articulares através das áreas de exposição óssea

ou de pequenas vias de acesso no trajeto das vias utilizadas para a fixação

definitiva. Já a estabilização articular pode ser realizada com a utilização de

fixadores externos nas fraturas mais graves(17), fios de Kirschner inseridos de forma

percutânea nas fraturas que permanecerem instáveis após a redução, ou somente

com imobilização, nas fraturas estáveis. Dessa forma, a redução aberta e a fixação

interna das fraturas poderão ser realizadas após a melhora das condições cutâneas,

como preconizado nas fraturas do calcâneo e do pilão tibial(47-48), e por uma equipe

com maior experiência no tratamento dessas lesões.

Embora não haja articulações no colo do tálus, desvios angulares no seu eixo

afetam o movimento e o alinhamento de todo o pé(49). Em um estudo com

cadáveres, Sangeorsan et aliv observam que desvios de apenas dois milímetros no

alinhamento do colo do tálus, principalmente quando em varo e dorsiflexão, levam a

alterações na área de contato da articulação subtalar, diminuindo a carga nas

facetas anterior e média e aumentando a carga na faceta posterior(11). Isso

justificaria o freqüente desenvolvimento de artrose secundária nas fraturas com

consolidação viciosa(11,50). Além do aumento no risco de desenvolvimento de artrose, iv Sangeorsan BJ, Wagner UA, Harrington RM, Tencer AF. Contact characteristics of the subtalar joint: the effect of talar neck misalignment. J Orthop Res 1992; 10:544-51. In: Fortin PT, Balazsy JE. Tálus fractures: evaluation and treatment. J Am Acad Orthop Surg 2001; 9 (2): 114-27.

56

a consolidação viciosa da fratura do colo do tálus, com desvio em varo, leva ao

encurtamento da coluna medial do pé, gerando deformidade em varo e rotação

interna do retropé, além de adução do mediopé. Esses desvios no alinhamento

levam à rigidez do retropé e mediopé(18), além de sobrecarga na borda lateral do

pé(49).

Durante a realização da redução cruenta da fratura do colo do tálus, a

visualização adequada das superfícies da fratura e a compreensão da anatomia

local contribuem decisivamente para a qualidade da redução obtida. Vias de acesso

limitadas podem levar o cirurgião a realizar reduções inadequadas na superfície não

abordada da fratura, o que comumente leva à consolidação viciosa em varo e

dorsiflexão, além de possíveis desvios rotacionais (50).

A dificuldade para obter uma redução adequada fica evidente na nossa

casuística, na qual uma redução anatômica foi obtida em apenas um terço dos

pacientes, além de três pés (7,5%) em que foi necessária a realização de artrodese

tíbio-talo-calcaneana ou talectomia primária, dada a total impossibilidade de reduzir

corretamente as superfícies articulares (Tab. 1).

Tendo em vista a dificuldade em obter-se uma redução anatômica pelas vias

de acesso empregadas no presente estudo, parece-nos razoável a idéia de

combinar a via de acesso ântero-medial, entre os tendões tibial anterior e tibial

posterior, a uma via de acesso ântero-lateral, que pode ser realizada imediatamente

lateral aos tendões extensores ou ser do tipo Ollier, ambas centradas no seio do

tarso. A abordagem associada possibilita o acesso às superfícies medial e lateral do

colo do tálus e à articulação subtalar, o que facilita a redução dos desvios angulares

e rotacionais e permite a retirada de fragmentos ósseos e condrais intrarticulares(50).

Cuidado especial deve ser empregado no sentido de evitar lesão dos nervos

57

cutâneos, gerando perda sensitiva semelhante à encontrada em 44% dos pacientes

tratados no presente estudo, principalmente nos pacientes submetidos à abordagem

por via de acesso combinada.

Pseudartrose e retardo de consolidação são pouco freqüentes após o

tratamento da fratura do colo do tálus(2, 5, 15, 17, 27, 31, 34). Embora o único retardo de

consolidação da nossa casuística tenha ocorrido em um paciente que também

apresentava osteonecrose do corpo do tálus, pode-se esperar a consolidação óssea

mesmo na ocorrência desta complicação(15). Parece-nos prudente, tal como

mencionado por outros autores(27-28, 34), aguardar a presença de sinais radiográficos

de consolidação antes do início da carga, evitando-se assim a ocorrência de desvios

no foco da fratura. Por outro lado, acreditamos que, nos casos em que for obtida

uma fixação interna rígida, pode-se iniciar a mobilização precocemente, não sendo

necessária a imobilização para a consolidação, ao contrário do indicado por alguns

autores(32, 34).

A osteonecrose ocorre quando há interrupção, ou significativa redução, no

suprimento sanguíneo ósseo. A insuficiência vascular leva à morte da parte orgânica

do tecido ósseo, o que reduz a sua resistência e favorece a ocorrência de

microfraturas com conseqüente colapso articular, particularmente em ossos que

suportam carga do peso corporal e com irrigação sanguínea tão peculiar quanto à do

corpo do tálus(51).

Dois fatores parecem estar diretamente relacionados à ocorrência de

osteonecrose pós-traumática do corpo do tálus: a magnitude do desvio inicial dos

fragmentos da fratura e a extensão da lesão às partes moles (5, 27-28). Em nossa

casuística, encontramos um aumento significativo (P<0,01) na ocorrência de

osteonecrose do corpo do tálus nas fratura do tipo III ou IV em relação às fraturas do

58

tipo I ou II. Essa relação deve-se à maior lesão na irrigação sanguínea do corpo do

tálus nas fraturas com maior desvio inicial(10-11).

Alguns autores consideram que a redução anatômica e a fixação da fratura do

colo do tálus realizada em caráter de urgência, assim como a utilização de uma via

de acesso cirúrgica que leve a menor dano vascular, reduzem a incidência da

osteonecrose pós-traumática do corpo do tálus (22, 26, 39), embora nenhum desses

estudos tenha demonstrado o impacto dessas condutas na incidência de

osteonecrose . Em nossa casuística também não observamos diferença significativa

entre as incidências de osteonecrose nos pacientes operados em caráter eletivo ou

de urgência assim como não observamos diferença entre os operados por via de

acesso única ou combinada. Acreditamos que fatores relacionados à gravidade do

trauma inicial e à extensão da lesão às partes moles sejam os fatores determinantes

para o desenvolvimento da osteonecrose(28-29).

O diagnóstico precoce das osteonecroses pode ser realizado pela

ressonância nuclear magnética(51). Esse diagnóstico é feito pela observação da

alteração no sinal da gordura intraóssea nas imagens ponderadas em T1, causada

pela morte precoce dos adipócitos, secundária à desvascularização. Dessa forma,

pode-se diagnosticar e mensurar a extensão da osteonecrose(52). No entanto, a

utilidade desse recurso no acompanhamento de pacientes tratados por fratura do

colo do tálus ainda não foi bem definida. O emprego da ressonância nuclear

magnética nas primeiras três semanas após o trauma, é limitado pelo risco de

imagens falso-negativas(11). Outra limitação é a impossibilidade de uso nas fraturas

fixadas com implantes de aço, freqüentemente utilizados devido a menor

disponibilidade dos implantes de titânio nos serviços de trauma.

59

Mais freqüentemente, suspeita-se da ocorrência de osteonecrose do corpo do

tálus pela ausência de uma linha radioluscente na região subcortical da tróclea do

tálus nas radiografias em incidência ântero-posterior do tornozelo, realizadas entre

seis e oito semanas após o trauma (sinal de Hawkins)(2). Mais tarde, observa-se nas

radiografias do pé o aumento da radiopacidade do corpo do tálus, indicando

indiretamente a redução do fluxo sanguíneo nessa região (10, 51-52). O diagnóstico

radiográfico da osteonecrose mostrou-se um dos principais fatores prognósticos do

resultado final do tratamento da fratura do colo do tálus. O grupo de pacientes que

desenvolveu osteonecrose do corpo do tálus apresentou pior resultado clínico

funcional pela classificação AOFAS(37) e maior incidência de artrose moderada e

grave no tornozelo.

A principal preocupação no tratamento dos pacientes com diagnóstico de

osteonecrose do corpo do tálus é a ocorrência do colapso das superfícies

articulares(7, 39) (Fig. 5). Buscando evitar essa complicação, alguns autores orientam

manter o pé acometido pela osteonecrose do corpo do tálus sem carga do peso

corporal por longo período (2, 39), conduta que foi empregada no presente estudo.

Desta forma, a reestruturação da matriz óssea impediria o colapso das superfícies

articulares. Outros autores contestam esta medida, afirmando que o colapso articular

ocorre a despeito da ausência de carga no membro fraturado (27, 30-31).

Em nossa casuística, o colapso da tróclea do tálus ocorreu em

aproximadamente 50% dos pés com diagnóstico de osteonecrose do corpo do tálus,

incidência semelhante à observada em estudos anteriores(2, 17, 27, 36). O tempo

transcorrido entre o tratamento inicial e o diagnóstico radiográfico do colapso nos

dois pés com essa complicação foi de 14 e 27 meses, o que vai ao encontro da

teoria de que o colapso não ocorre durante a fase esclerótica, mas somente após o

60

início da revascularização, quando a remodelação dos elementos avasculares forma

trabéculas mais frágeis e passíveis de sofrer microfraturas, levando à

desorganização articular (12, 20).

Tendo em vista o longo período entre o tratamento inicial e a ocorrência do

colapso, bem como a ausência de sinais que demonstrem o aumento da resistência

óssea, acreditamos ser inviável manter o paciente sem carga ou utilizando órtese

durante o tratamento da osteonecrose do corpo do tálus. Além disso, vários

pacientes com colapso da tróclea do tálus não apresentam, durante longo período,

sintomatologia que indique a necessidade de procedimentos cirúrgicos adicionais(2, 5,

31, 34).

Procedimentos reconstrutivos secundários foram necessários em 18% dos

casos reavaliados após um seguimento médio de 72 meses. O principal motivo para

a realização desses procedimentos foi o desenvolvimento de artrose sintomática. Os

fatores relacionados à gravidade do trauma inicial, como o desvio inicial da fratura, a

presença de exposição óssea e a ocorrência de complicações precoces, mostraram

relação estatística com a necessidade de procedimentos secundários durante o

seguimento.

Embora a talectomia seja uma opção de tratamento nas osteomielites ou nas

fraturas multifragmentadas, não aconselhamos o emprego deste procedimento como

único tratamento, dada a alta incidência de resultados ruins. Em nossa casuística,

esse procedimento foi empregado em dois pés. Em um paciente, a talectomia foi

utilizada como tratamento primário de uma fratura grau IV, em que não foi possível

realizar uma redução satisfatória, sendo posteriormente necessária a realização de

uma panartrodese devido à dor incapacitante. No outro paciente, a talectomia foi

empregada no tratamento da osteomielite, e o paciente evoluiu com dor e

61

deformidade em varo. Também na literatura, encontramos grande incidência de

resultados insatisfatórios associados a esse procedimento, geralmente relacionados

à dor e às deformidades residuais(2, 5, 15, 20, 31, 36).

Acreditamos que, quando for indicada uma talectomia, esse procedimento

deve ser associado a uma artrodese tíbio-calcanear e tíbio-navicular, no mesmo

procedimento ou em procedimento posterior. Essa artrodese pode ser realizada com

uso de enxerto em bloco para manter o comprimento do membro, nos pés sem

infecção, ou com o emprego de técnicas de osteodistração para alongamento ósseo

conjuntamente à artrodese.

O desenvolvimento de artrose pós-traumática, principalmente na articulação

subtalar, é um evento freqüente e diversos autores consideram-na como a principal

complicação decorrente do tratamento dessa fratura (7, 21-22, 25, 28, 30). A artrose pode

ser conseqüência da lesão articular no momento do trauma, gerando fragmentação

do foco fraturário ou dano à cartilagem(20), ou da alteração na mecânica articular,

secundária à consolidação viciosa do colo do tálus.

Na presente casuística, 80% dos pés reexaminados apresentavam artrose

subtalar moderada ou grave, ou já haviam sido submetidos à artrodese dessa

articulação. Associando a incidência de artrose radiográfica à perda média de

movimento dessa articulação nos pacientes não submetidos a procedimentos

secundários (80%), parece-nos adequada a realização de artrodese subtalar

primária nos casos em que for constatada, durante a cirurgia inicial, grave lesão

condral e cominuição óssea.

A artrose do tornozelo mostrou-se menos freqüente que a subtalar,

principalmente nos pacientes que não apresentaram osteonecrose e em que foi

obtida uma redução anatômica no tratamento inicial da fratura do colo do tálus.

62

Artrodese primária do tornozelo no tratamento da fratura do tálus, em nossa opinião,

apresenta indicação restrita aos casos em que for impossível a redução dos

fragmentos fraturados, e muito cuidado deve ser tomado no posicionamento do

tornozelo. Em nossa casuística, ambos os casos submetidos à artrodese primária do

tornozelo e subtalar apresentaram deformidade em eqüino.

A presença de artrose sugere que os resultados clínicos encontrados tendem

a se deteriorar com o aumento do tempo de seguimento, sendo provavelmente

necessária a realização de artrodeses em outros pacientes, conforme demonstrado

por Sanders et al(36). Aparentemente, outros fatores, como a lesão às partes moles e

a qualidade da redução obtida no tratamento inicial, apresentam maior importância

no resultado clínico-funcional em médio prazo.

Encontramos algumas dificuldades para a comparação dos dados obtidos no

presente estudo com os da literatura. A primeira dificuldade diz respeito aos

diferentes métodos de tratamento. Até a metade da década de 80, o tratamento

preferencial era o conservador, mesmo nas fraturas desviadas, enquanto nos

trabalhos posteriores o tratamento preferencial das fraturas desviadas passa a ser o

cirúrgico. Mesmo entre os trabalhos que definem o tratamento preferencial como o

cirúrgico, diferentes vias de acesso e métodos de fixação são utilizados.

Outra dificuldade encontrada foi a ausência de padronização na avaliação

pós-operatória das complicações. No que diz respeito às complicações precoces,

poucos autores relatam a incidência de necrose cutânea dentre os pacientes

operados. Consideramos esse dado importante, tendo em vista a possibilidade

dessa complicação dificultar a reabilitação pós-operatória e predispor a ocorrência

de infecção, embora não tenhamos encontrado correlação estatística entre esses

dados. A mesma dificuldade mostra-se na avaliação dos resultados finais, tanto na

63

avaliação radiográfica (qualidade da redução obtida e desenvolvimento de colapso

da tróclea do tálus), quanto na avaliação clínico-funcional (alinhamento final do pé e

perda da mobilidade articular).

Uma forma de facilitar a comparação entre as diferentes condutas seria a

publicação dos dados individuais de todos os pacientes, incluindo condutas

empregadas e resultados encontrados, o que permitiria o agrupamento dos

pacientes de trabalhos distintos de acordo com o tratamento.

Percebemos durante a realização da revisão bibliográfica a escassez de

trabalhos publicados sobre o tratamento das fraturas do colo do tálus, principalmente

na literatura nacional. Consideramos importante que outros estudos sejam

realizados para que possamos aumentar o conhecimento a respeito do prognóstico

do tratamento dessas fraturas.

Também observamos algumas limitações no estudo clínico realizado. A

primeira delas diz respeito à natureza retrospectiva da avaliação dos pacientes, com

grande número de pacientes não reavaliados (46%), o que, embora seja comum nos

trabalhos que avaliam o resultado do tratamento de lesões traumáticas, dificulta o

estabelecimento de um prognóstico preciso, principalmente ao avaliarmos

complicações como a osteonecrose do corpo do tálus e o colapso articular. Além

disso, todos os dados foram colhidos e classificados por um só autor, que por vezes

já conhecia o resultado clínico e radiográfico final de alguns pacientes.

Outro aspecto importante diz respeito às limitações da classificação clínico-

funcional utilizada para definição dos resultados (classificação da AOFAS). Essa

classificação apresenta grande valorização referente à única pergunta a respeito de

dor, e mostrou-se pouco reprodutível em trabalhos anteriores(53).

64

6 - CONCLUSÕES

1. Após a fratura do colo do tálus foram freqüentes as complicações clínicas,

funcionais e radiográficas, destacando-se a dor residual e a perda da mobilidade,

principalmente afetando a articulação subtalar.

2. O aumento do desvio inicial da fratura do colo do tálus (Tipo III ou IV)

levou a um aumento significativo na incidência de complicações pós-operatórias

precoces e na incidência de osteonecrose, além de aumento não significativo na

necessidade de realização de procedimentos reconstrutivos secundários.

3. A presença de exposição óssea no foco de fratura levou a um aumento

significativo na incidência de complicações pós-operatórias precoces e na

necessidade de realização de procedimentos reconstrutivos secundários.

4. Houve alta incidência de pacientes cuja redução obtida após o tratamento

inicial foi não-anatômica apresentando pior resultado clínico-funcional pela escala

AOFAS(37), comparativamente aos pacientes cuja redução obtida foi anatômica.

5. A ocorrência de complicações pós-operatórias precoces levou a uma

redução significativa da mobilidade final do tornozelo e no resultado clínico-

funcional, segundo a escala AOFAS(37) .

6. A ocorrência de osteonecrose do corpo do tálus levou a um aumento

significativo na incidência de artrose pós-traumática do tornozelo e a uma redução

significativa no resultado clínico-funcional, segundo a escala AOFAS(37) .

65

7 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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70

Resumo:

Objetivo: avaliar o resultado clínico-funcional e radiográfico dos pacientes

com fraturas do colo do tálus tratados pelo Grupo de Cirurgia do Pé e Tornozelo da

Santa Casa de São Paulo. Método: Foram avaliados retrospectivamente 37 pés,

dois com fraturas do tipo I, 22 do tipo II, 11 do tipo III e dois do tipo IV, segundo a

classificação de Hawkins. Exposição óssea ocorreu em seis pés. Resultados: Doze

dos 33 pacientes operados apresentaram complicações precoces (36%). A redução

foi anatômica em 35%, aceitável em 44% e ruim em 21% dos pés. Houve 37,5% de

osteonecrose do corpo do tálus e 4% de retardo de consolidação entre os 24 pés em

que essas avaliações foram possíveis. Vinte pacientes foram reavaliados após um

seguimento médio de 71 meses. Procedimentos reconstrutivos secundários foram

realizados em 20% dos pés. Nos demais pacientes, observou-se colapso da tróclea

do tálus em 12,5%. Artrose subtalar ocorreu em 62,5% e 25% das articulações

subtalares foram artrodesadas primariamente. Artrose do tornozelo ocorreu em 56%

e 12,5% dos tornozelos foram artrodesados primariamente. 81% dos pacientes

apresentavam queixas referentes ao pé tratado. Metade dos pacientes nunca

retornou ao trabalho. O alinhamento dos pés foi classificado como bom em 62,5%,

regular em 25% e ruim em 12,5%. A perda média de movimento no tornozelo foi de

49% e na articulação subtalar, 80%. A pontuação média na escala AOFAS foi 73

pontos. Conclusão: A fratura do colo do tálus leva à alta incidência de complicações

clínico-funcionais e radiográficas, mesmo com o tratamento adequado.

71

ABSTRACT

Objective: To evaluate clinico-functional and radiographic outcome following

talar neck fractures in patients treated at the Foot and Ankle Surgery Group of the

Santa Casa de São Paulo. Method: We retrospectively reviewed the records of 37

feet, 2 classified as Hawkins type I, 22 as Hawkins type II, 11 as Hawkins type III,

and 2 as Hawkins type IV. Six fractures were open. Results: Twelve of 33 operated

patients had early complications (36%). The reduction was anatomical in 35%,

acceptable in 44% and poor in 21%. There were 37,5% of talar body osteonecrosis

and 4% of delay of consolidation out of 24 feet that were possible to assess. The

clinico-functional and radiographic reevaluation were performed in 20 patients. The

average follow-up was 71 months. At this time, 20% had already underwent

secondary reconstructive procedures. Of the remaining 16 patients, collapse of the

talar dome occurred 12,5%. Subtalar arthritis occurred in 62,5% and 25% of the

subtalar joints had been primarily fused. Ankle arthritis occurred 56% and 12,5% of

the ankles had been primarily fused. 81% of the patients who did not require

secondary procedures had some complaints. Half of them never returned to work.

The alignment of the foot was rated as good in 62,5%, regular in 25% and poor in

12,5%.The mean loss of ankle motion was 49%, and in the subtalar joint a loss of

80%. The average AOFAS score was 73 points. Conclusion: In despite of adequate

treatment, talar neck fractures are associated with high rates of clinico-functional and

radiographic complications.

72

APÊNDICES:

Escala AOFAS para tornozelo e retropé (37)

DOR: 40 pontos * nenhuma ............................................................................................ 40 pontos * leve, ocasional .................................................................................... 30 pontos * moderada, diariamente....................................................................... 20 pontos * grave, sempre presente ..................................................................... 0 ponto FUNÇÃO: 50 pontos A. Atividade: * sem limitação, sem suporte............................................................... 10 pontos * limitação recreacional, não usa bengala ......................................... 7 pontos * limitação recreacional, usa bengala .................................................. 4 pontos * limitação acentuada , usa andador, muletas, cadeira rodas ................0 ponto B. Distância caminhada: * superior a 6 quarteirões ................................................................... 5 pontos * 4-6 quarteirões .................................................................................... 4 pontos * 1-3 quarteirões .................................................................................... 2 pontos * inferior a 1 quarteirão ...................................................................... 0 ponto C. Capacidade para caminhar em diferentes superfícies: * sem dificuldade em qualquer terreno .............................................. 5 pontos * alguma dificuldade em terrenos irregulares, inclinados e escadas ....3 pontos * bastante dificuldade em terrenos irregulares, inclinados e escadas .. 0 ponto D. Anormalidade na marcha: * nenhuma ou discreta ......................................................................... 8 pontos * moderada e óbvia ............................................................................... 4 pontos * grave e marcante ............................................................................... 0 ponto E. Amplitude de movimentação sagital (flexo-extensão): * normal ou pequena restrição (30 graus ou + ) ............................... 8 pontos * moderada restrição (15 a 29 graus) .................................................. 4 pontos * acentuada restrição (menor que 15 graus) ........................................ 0 ponto F. Amplitude de movimentação do retropé (inversão-eversão): * normal ou pequena restrição ( 75%-100% ) .................................... 6 pontos * moderada restrição ( 25%-74% ) ...................................................... 3 pontos * acentuada restrição ( menor que 25% ) ........................................... 0 ponto G. Estabilidade do tornozelo e retropé (anteroposterior e varo-valgo): * estável ................................................................................................. 8 pontos * instável ................................................................................................ 0 ponto ALINHAMENTO: 10 pontos * bom, pé plantígrado, bom alinhamento tornoz.-retropé ................... 10 pontos * regular, pé plantígrado, moderado desalinhamento, assintomático .. 5 pontos * ruim, pé não plantígrado, acentuado desalinhamento, sintomático .. 0 ponto

73

Escala clínico funcional de Hawkins para fraturas do colo do tálus(2)

DOR: 6 pontos * nenhuma .................................................................................... ........ 6.. pontos * após fadiga .................................................................................. ....... 3 pontos * ao caminhar ................................................................................ ....... 0 ponto CLAUDICAÇÃO: 3 pontos * ausente ............................................................................................... 3 pontos * presente ......................................................................................... .... 7 pontos MOBILIDADE DO TORNOZELO: 3 pontos * total ..................................................................................................... 3 pontos * parcial ................................................................................................. 2 pontos * rígido ........................................................................................... ...... 1 ponto * deformidade rígida ....................................................................... ..... 0 ponto MOBILIDADE SUBTALAR: 3 pontos * total ..................................................................................................... 3 pontos * parcial ................................................................................................. 2 pontos * rígido ........................................................................................... ...... 1 ponto * deformidade rígida ...................................................................... ...... 0 ponto

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