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Moema Falci Loures Fronteiras do projeto 1 IX SEMINÁRIO DE HISTÓRIA DA CIDADE E DO URBANISMO SÃO PAULO, 4 a 6 de SETEMBRO DE 2006 Fronteiras do projeto: previsibilidade e imprevisibilidade Moema Falci Loures 1 Introdução O verbete Projeto difunde-se implicitamente em nosso vocabulário e em nosso cotidiano, no entanto, pouco se fala sobre a noção de projeto. Segundo Argan (2000, p.254) “através dos objetos de uso cotidiano, a sociedade aprendia que cada ato moralmente válido é um projeto, ou seja, um passo em direção à realização da ideologia em cuja perspectiva fora concebido”. O presente trabalho busca discutir fronteiras do Projeto sob a ótica da previsibilidade e imprevisibilidade, a partir reorganização, releitura e reflexão de estudos (projetos) atuais e precedentes dispersos, uma dialética que possa nos conduz à maturação da noção de Projeto dentro de uma realidade em movimento. Propositalmente, tenderemos neste trabalho a uma noção mais geral do verbete Projeto, a qual o Projeto de Arquitetura e Urbanismo estão enraizados. Projeto visto como hipótese e ideação; um ensaio, uma intenção; imagem como imaginação; ao mesmo tempo , Projeto que envolve o ato de previsibilidade: o projetar o que de alguma forma não estaria aqui. Pretendemos buscar o Significado (BARTHES, 2003) do Projeto, ou seja, aquilo que se esquiva diariamente e esquecer um pouco o significante, ou seja, o plano da expressão, da estruturação do sistema, da representação. Ao mesmo tempo, trabalharemos com a compreensão de que o significado e o significante não são duas palavras em oposição e sim complementares no processo de interpretação. A noção de (im)previsibilidade interligada ao Projeto será o nosso quadrante de reflexão, um artifício metodológico que orienta, mas que,ao mesmo tempo, permite a abertura. Sugerimos, assim, pensar este trabalho como um Projeto, enquanto antecipação que implica uma referência ao futuro, uma possibilidade que haja um futuro. O resultado certamente não será “uma revelação acerca da natureza das coisas (...)”, mas “(...) acerca de uma situação cultural em processo na 1 Universidade Federal do Rio de janeiro / PROURB e-mail: [email protected]

Fronteiras Do Projeto Previsibilidade e Imprevisibilidade

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LOURES Moema Falci

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IX SEMINÁRIO DE HISTÓRIA DA CIDADE E DO URBANISMO SÃO PAULO, 4 a 6 de SETEMBRO DE 2006

Fronteiras do projeto:

previsibilidade e imprevisibilidade

Moema Falci Loures1

Introdução

O verbete Projeto difunde-se implicitamente em nosso vocabulário e em nosso cotidiano, no

entanto, pouco se fala sobre a noção de projeto. Segundo Argan (2000, p.254) “através dos

objetos de uso cotidiano, a sociedade aprendia que cada ato moralmente válido é um projeto, ou

seja, um passo em direção à realização da ideologia em cuja perspectiva fora concebido”.

O presente trabalho busca discutir fronteiras do Projeto sob a ótica da previsibilidade e

imprevisibilidade, a partir reorganização, releitura e reflexão de estudos (projetos) atuais e

precedentes dispersos, uma dialética que possa nos conduz à maturação da noção de Projeto

dentro de uma realidade em movimento.

Propositalmente, tenderemos neste trabalho a uma noção mais geral do verbete Projeto, a qual o

Projeto de Arquitetura e Urbanismo estão enraizados. Projeto visto como hipótese e ideação; um

ensaio, uma intenção; imagem como imaginação; ao mesmo tempo , Projeto que envolve o ato de

previsibilidade: o projetar o que de alguma forma não estaria aqui.

Pretendemos buscar o Significado (BARTHES, 2003) do Projeto, ou seja, aquilo que se esquiva

diariamente e esquecer um pouco o significante, ou seja, o plano da expressão, da estruturação

do sistema, da representação. Ao mesmo tempo, trabalharemos com a compreensão de que o

significado e o significante não são duas palavras em oposição e sim complementares no

processo de interpretação.

A noção de (im)previsibilidade interligada ao Projeto será o nosso quadrante de reflexão, um

artifício metodológico que orienta, mas que,ao mesmo tempo, permite a abertura. Sugerimos,

assim, pensar este trabalho como um Projeto, enquanto antecipação que implica uma referência

ao futuro, uma possibilidade que haja um futuro. O resultado certamente não será “uma revelação

acerca da natureza das coisas (...)”, mas “(...) acerca de uma situação cultural em processo na

1 Universidade Federal do Rio de janeiro / PROURB e-mail: [email protected]

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qual se desenham conexões, a serem aprofundadas, entre os vários ramos do saber e as várias

atividades humanas” (ECO , 2005, p.31).

O texto está estruturado em duas partes. A parte I refere-se à fundamentação teórica, ponto de

partida do trabalho, que vai desde a compreensão do verbete Projeto, dentro de um exercício de

abstração, até sua aproximação ao Campo da Arquitetura e Urbanismo. Junto a isto, será

problematizada a relação entre modernidade e imprevisibilidade, dando margem à reflexão sobre

o que é o Projeto no mundo moderno.

Já na parte II, contextualizaremos o Projeto-Urbano dentro deste discurso, propondo uma breve

introdução ao verbete. Chegaremos, então, ao Projeto-Urbano para Euralille, neste trabalho uma

metalinguagem. Concluiremos com uma reflexão sobre os verbetes PROjeto, PROgresso e

PROcesso, sugerindo a expressão Urbanismo de Projeto.

PARTE I

1. Projeto e a Dialética da Previsibilidade e Imprevisibilidade

Pretende-se aqui pensar o Projeto dentro de um processo dialético, um movimento de síntese e

antítese que há séculos vem sendo estudado pela filosofia. Em outras palavras, propomos a

passagem de opostos; uma passagem de conciliação de dois opostos: previsibilidade e

imprevisibilidade. Um artifício metodológico que nos conduz às fronteiras do Projeto.

Utilizaremos como referencial teórico o texto de Lefebvre “Sobre a Forma Urbana”2, mais

especificamente, sua abordagem sobre a dialética da forma e do conteúdo, palavras que aqui ,

dentro de um exercício de abstração, serão substituídas por previsibilidade e imprevisibilidade,

respectivamente.

Iniciamos a nossa reflexão com a seguinte afirmação: não há forma sem conteúdo, não há

previsibilidade sem imprevisibilidade. A previsibilidade (forma) é a natureza, momento de criação

pura. A imprevisibilidade (conteúdo) é o real, o meio. A forma dá acesso ao conteúdo; a forma só

tem realidade no conteúdo; quanto mais pura a forma mais esta se separa do conteúdo;

separando-se do conteúdo a forma se separa do concreto.

2 In: LEFEBVRE, Henri. O Direito à Cidade. São Paulo: Centauro, 2004.

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Penetrando na poética de Bachelard (2000) podemos identificar a compreensão do Projeto como

uma simulação analógica da concretização, que na sua forma pura é um ato de previsibilidade

que recorre a possibilidades; Projeto como “(...) um pretexto de Imaginação que teima em originar

objetos no Mundo” (MURAD, 1999, p.22) e que, ao mesmo tempo, é um ato de imprevisibilidade

que:

(...) não se desenvolve em uma horizontalidade, não segue uma continuidade linear,

sucessiva, crescente e portanto previsível. Ele (o projeto) é primordialmente uma dinâmica

de rupturas, de descontinuidades, de oscilações entre ascensão e o aprofundamento

(MURAD, Op.Cit., p.17).

O Projeto é duplamente incerto, tanto no que se refere ao meio (conteúdo) que atua, quanto a sua

natureza (forma). A natureza do Projeto é incerta, na medida em que não existe um objetivo puro,

“quando não muda o objeto mudam os métodos para interpretá-lo” (ECO, Op.Cit.). Ao mesmo

tempo, o mundo que se projeta é instantâneo e imprevisível.

A noção de imprevisibilidade faz parte de um conceito construído a partir de uma visão de mundo3

bastante atual. No entanto, graus (tipos) de complexidades e imprevisibilidades sempre existiram,

o homem em si é ambíguo e imprevisível. O Projeto está contaminado pela condição da

imprevisibilidade, mas também pelo desejo do autor de certeza (segurança), por aquilo que é

completo e seguro. A certeza é uma falácia, mas possui um efeito simbólico real. Ao mesmo

tempo, para que o Projeto exista tem que haver graus de previsibilidade algo que dê forma ao

conteúdo, no entanto a forma (previsibilidade) só tem existência através do conteúdo.

O Projeto lida com problema e possibilidade, intenção e transformação e faz parte daquilo que

ainda não é, mas poderá ser. O Projeto é:

(...) qualquer previsão, predição, predisposição, plano, ordenação, predeterminação, ect.,

bem como modo de ser ou de agir próprio de quem recorre a possibilidades 4.

O que se constrói é sempre uma imagem do futuro, a possibilidade que haja um futuro

(MOSCATO, 2003).

3 Entende-se por visão de mundo como a perspectiva com a qual um indivíduo, uma comunidade ou uma sociedade enxergam o mundo em um momento da história, reunindo em si uma série de valores culturais e o conhecimento acumulado daquele período histórico em questão. 4 ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

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Autores como Argan (1989), falam da crise do Projeto, que está vinculada à crise da noção de

sujeito e indivíduo, à crise do desejo, da impulsão humana que nos faz inventar coisas; à crise do

destino da humanidade; à crise daquilo que impulsiona o ser a criar projetos na aventura

imprevisível da criação humana5. A negação do sujeito é um recuo ao Projeto, ao Eu criador. O

autor recomenda tentar reencontrar o sentido da arte no sentido do ato de projetar, através da

lição da arte que, durante a história, foi entendida como aquela mais livre da providência

incontrolável do destino e, por isso, a mais preparada para projetá-la.

Inferimos que o Projeto tem existência dentro de processo dialético instantâneo e constante entre

a previsibilidade e a imprevisibilidade, um movimento de passagem e articulação que tenta

esclarecer a possibilidade oculta do conceito, um movimento dialético que faz aparecer a

problemática.

3. Modernidade e Imprevisibilidade

(...) embora seus iniciadores procurassem certezas para substituir os dogmas

preestabelecidos, a modernidade efetivamente envolve a institucionalização da dúvida

(GIDDENS, 1991, p. 175).

Primeiramente gostaríamos de ressaltar, que não existem acordos sobre as datas nem consenso

sobre o que deve ser datado quando nos referimos ao verbete modernidade “(...) e uma vez que

se inicie a sério o esforço de datação, o próprio objeto começa a desaparecer” (Bauman, 1999,

p.11). Em outras palavras, Giddens (Op.Cit., p.11) frisa, que definir a modernidade como um

estilo, costume de vida ou organização social que emergiram na Europa do século XVII, acaba por

associar a modernidade a um período de tempo e uma localização geográfica inicial, sendo que

suas “características principais ficam guardadas em segurança numa caixa preta”. Não seria este

o nosso intuito.

Utilizaremos a noção de Bauman (Op.Cit.) que define a modernidade como um projeto cultural

que ganha força a partir do Renascimento e que atingiu sua maturidade primeiramente como

projeto cultural, com o avanço do Iluminismo e depois como forma de vida socialmente

consumada, com o desenvolvimento da sociedade industrial (capitalista e, mais tarde, também a

comunista).

5 A noção do Eu criador e do gesto de desejo na criação do projeto está vinculada à obra: MURAD, Carlo Alberto. A Imaginação Criadora e o Gesto Projetual. Op. Cit.

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Após esta aproximação, partimos para o objetivo desta abordagem: refletir sobre o estágio

presente da era moderna, uma modernidade de muitas maneiras nova, o que Giddens (Op.Cit.)

chamou de ‘Radicalização da Modernidade’; Bauman (2001) de ‘Modernidade Líquida’ e Ascher

(2001) de ‘Terceira modernidade’. Autores que juntos, ao formarem uma família de pensadores,

ilustraram a nossa temática. O que afinal é esta nova modernidade e por que precisamos

compreendê-la para dar seguimento ao nosso discurso?

Desde o Iluminismo acreditava-se que o acúmulo de conhecimento seria proporcional ao acúmulo

de controle. A receita estava pronta e o homem um dia controlaria o universo, no entanto, tudo

isso se dissolve, o mundo mostra-se mais incerto, um mundo de:

(...) deslocamentos e incertezas, um ‘mundo fugitivo’. E, o que é perturbador, aquilo que se

supunha criar cada vez maior certeza – o progresso do conhecimento e da intervenção

humana – se encontra na realidade profundamente envolvido com esta imprevisibilidade

(GIDDENS, 1994, p.37).

O que muda, segundo Giddens6, é que com a modernidade surge o que denomina de novas

fontes de dinamismo, sendo estas: mecanismos de desencaixe (dinheiro e sistemas peritos);

reflexividade (apropriação reflexiva do pensamento) e desconexão espaço-tempo.

Para iniciar, lembramos as grandes invenções (mudanças) diretamente interligadas a desconexão

espaço tempo: invenção do relógio mecânico; padronização mundial do calendário e padronização

do tempo através de regiões. Observa-se a partir daí que a coordenação do tempo tornar-se-á a

base de controle do espaço. O tempo é acelerado, levando à intensificação da vida nervosa7 e a

proliferação das incertezas. A modernidade começa, suscita Bauman (Op.Cit.) quando o espaço e

o tempo são separados da prática da vida social. Na modernidade o tempo tem história, a

modernidade é a história do tempo.

Quanto aos mecanismos de desencaixes, Giddens refere-se ao deslocamento das relações

sociais das imediações “de contextos locais de interação e sua reestruturação através de

extensões indefinidas de tempo-espaço” (p.29), sendo estes representados por fichas simbólicas

e sistemas peritos.

As fichas simbólicas significam “meios de intercâmbio que podem ser ‘circulados’ sem ter em vista

as características específicas dos indivíduos ou grupos que lidam com eles em qualquer

6 Todas as citações de Giddens a partir deste trecho referem-se à obra: “As conseqüências da modernidade”, 1991. 7 Ver Simmel na obra: “A metrópole e a vida mental”, 1979. Simmmel teve grande influência nos trabalhos de Giddens.

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conjuntura particular”. (GIDDENS, p.30). O dinheiro constitui um grande exemplo de ficha

simbólica8. Já por sistemas peritos, o autor alude “a sistemas de excelência técnica ou

competência profissional que organizam grandes áreas dos ambientes material e social em que

vivemos hoje” (p.35), os quais interagimos diariamente e não dependem diretamente de um

conhecimento aprofundado sobre o seu funcionamento. Andamos pelas ruas, por exemplo, sem

nos preocuparmos se o calçamento que estamos pisando irá desabar, o que demonstra uma

confiança ‘abstrata’ em peritos e especialistas. Os mecanismos de desencaixe implicam tanto

numa atitude de confiança, quanto de dependência.

Chegamos então a noção central na obra de Giddens (p.46): a reflexividade9. Segundo o autor

estamos em um mundo “(...) parte constituído através de conhecimento reflexivamente aplicado,

mas onde, ao mesmo tempo, não podemos estar seguros de que qualquer elemento dado deste

conhecimento não será revisado”, em outras palavras, a ciência repousa sobre areia movediça

(POPPER, 1962).

A reflexividade da vida social moderna, afirma o autor (p.45):

(...) consiste no fato de que as práticas sociais são constantemente examinadas e

reformadas à luz de informação renovada sobre estas próprias práticas, alterando assim

constitutivamente seu caráter.

A visão de Giddens justifica o porque de estarmos trabalhando com parâmetros de

(im)previsibilidade hoje, conduzindo o nosso discurso para um melhor entendimento sobre a era

atual a qual ele acredita ser um período em que as conseqüências da modernidade estão se

tornando mais radicalizadas10 e universalizadas. As incertezas quanto ao presente e futuro se

intensificam perante o bombardeio de informações e desafios. A aceleração do tempo faz da

realidade uma sucessão de fatos desconexos, banindo a possibilidade do tempo projetivo e

conseqüentemente a previsibilidade do futuro.

8 Segundo Giddens a explicação mais abrangente das conexões entre dinheiro e modernidade foi feita por Georg Simmel na obra: ‘The Philosophy of Money” (London: Routlege, 1978). 9 Perante a noção de reflexividade, Giddens encontra o caminho alternativo para a nossa sociedade. Ele acredita que em uma sociedade ‘altamente reflexiva’, pode-se chegar a uma verdadeira democracia da vida privada, o que abrirá caminho para uma democratização da vida pública. 10 Inventam-se sufixos e prefixos para designar a atualidade, da pós-modernidade ao pós–modenismo, ultra-modernidade, ou,como alguns autores preferem enfatizar, “sociedade de informação”, “sociedade de consumo”, “sociedade pós-industrial”. Evitaremos utilizar estes verbetes para que o conceito de Giddens (1991) que situa a era atual como um período de radicalização da modernidade torne-se mais claro e coeso.

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Ascher também compartilha esta premissa dizendo que estamos vivendo a terceira modernidade,

sendo a primeira modernidade a cidade clássica renascentista e a segunda a cidade industrial.

Quanto a isto afirma (Op.Cit., p.25):

L’erreur premiére des postmodernistes est probablement d’avoir interprété cette

diversification scientifique et théorique comme l’ índice d’ une crise de la raison moderne,

alors que ces approches de l’ incertitude, de a complexité, du chãos em sont em fait de

développements majeurs. Ces ‘nouvelles rationalités’ sont em effet au coeur de la

modernisation réflexive.

De acordo com Bauman (Op.Cit.) a sociedade que entra no século XXI não é menos ‘moderna’

que a que entrou no século XX, o máximo que se poderia dizer é que ela é moderna de um modo

diferente. Não por acaso, fala em modernidade sólida e modernidade líquida, ambas

‘modernidades’. Vivemos, ressalta o autor, em um estado de inconstância, sempre prontos para

mudar, o que conta é o tempo. Os fluidos se movem facilmente, “ ‘fluem’, ‘escorregam’, esvaem-

se’, ‘pingam’; são ‘filtrados’, destilados’, mas não facilmente contidos” (p.08). Vivemos a rejeição

da tradição milenar, afirma Bauman, em que o nômade era rejeitado em favor a territorialidade,

hoje, ao contrário, evita-se o durável, deseja-se o transitório, as receitas para a boa vida têm ‘data

de validade’.

A radicalização da modernidade, vista sob o viés das incertezas, se materializa nas cidades, por

exemplo, através da multiplicação dos mecanismos de controle e da proliferação de unidades

autônomas, como organizações ‘tipo condomínio’, shopping centers, grandes centros médicos e

de negócio, entre outros. Busca-se um mundo homogêneo, sem falhas, ordenado, sob controle;

deseja-se um futuro sem acasos, onde não existam angústias e tensões, cria-se a “ideologia” do

puro, belo e ordenado como forma de mascarar a realidade e as fraquezas humanas (SOUZA,

2002). Devido à vastidão de debates não poderemos analisar dentro deste espaço todos os

argumentos, esta colocação, no entanto, se mostra bastante válida, apesar de não ser o enfoque

do trabalho.

Destacamos que o objetivo desta abordagem foi frisar que ao se observar dentro da literatura11

atual, autores dos mais variados campos disciplinares, percebemos com grande facilidade várias

reflexões sobre um dos grandes paradigmas (KUNH,2003) da era vigente: a imprevisibilidade.

11 Poderíamos citar algumas obras dentro da nossa referência bibliográfica: ASCHER, 2001, 1998; ECO, 2005; GIDDENS, 1991; KOOLHAAS 1992, 1995, 2004; MOSCATO, 2003; PORTAS, 1996; SOUZA, 2002; TSIOMIS, 2003; entre outros.

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Perante uma gama de conhecimento reflexivo maiores são as opções de escolha e,

conseqüentemente, maiores são as incertezas. As tradições tornam-se abertas ao discurso;

institucionaliza-se a dúvida junto à autonomia de ação (GIDDENS, Op.Cit.). Autonomia de ação:

Projeto como ato de previsibilidade; dúvida: Projeto que lida com a imprevisibilidade; um

movimento dialético que se intensifica na modernidade e torna-se o nosso grande desafio.

PARTE II

1. Parâmetros da (im)previsibilidade dentro do Campo da Arquitetura e do

Urbanismo

Um paradigma governa, em primeiro lugar, não um objeto de estudo, mas um grupo de

praticantes da ciência (...) grupos responsáveis (KUHN, Op.Cit., p.226).

Propositalmente desligamos, até aqui, o nosso discurso de uma comunidade científica. Nos

próximos itens, mesmo que o objetivo seja a aproximação da nossa temática ao Campo

Disciplinar da Arquitetura e Urbanismo, teremos o cuidado de não nos impor limites através de

uma literatura técnica específica.

Metodologicamente, definimos como escopo desta abordagem trabalharmos com parâmetros de

(im)previsibilidade interligados ao ato de projetar dentro do campo disciplinar da Arquitetura e

Urbanismo, seriam estes: Projeto e Linguagem12; Projeto e Certeza; e Projeto e Processo.

Parâmetros que estarão entrelaçados a momentos históricos os quais denominaremos de

períodos de ruptura na relação Projeto e previsibilidade, tendo consciência que “(...) não é fácil

estabelecer o estatuto das descontinuidades para a história em geral (...) o limite não é mais do

que um corte arbitrário num conjunto indefinidamente móvel” (FOUCAULT, 2002, p.69).

1.1. Projeto e Linguagem

Nossa primeira ruptura é o Renascimento, momento em que a noção de Projeto passa a ser

associada à noção de desenho. O Projeto desvincula-se do ‘fazer’ e passa a ser mediado pelo

desenho ocorrendo a gênese da separação entre criação e execução. Surge, assim, uma nova

forma do saber que se desvincula das práticas construtivas, o que Argan (Op.Cit., p.49) chama de

separação entre experiência operacional e experiência cultural.

12 Existe um senso comum teórico que substitui o verbete Projeto por desenho. Lembramos, por exemplo, que o verbete Projeto, (projet, progetto) em inglês - ‘design’ - é muitas vezes, traduzido por desenho. Por outro lado, a substituição do verbete Projeto por desenho possui imbricações mais profundas e não tão facilmente identificadas, por isso optamos pela utilização do verbete Linguagem. Frisamos, no entanto, mais uma vez que desenho não é Projeto, sendo este, neste trabalho, um parâmetro do Projeto.

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O desenho torna-se uma ferramenta capaz de fixar uma imagem do objeto antes de sua

realização. Os instrumentos do desenho vão construir a idéia de Projeto ligada à idéia de

previsão, ao mesmo tempo, a noção de Projeto como ideação e imaginação torna-se mais

importante. “A arquitetura muda de significado: adquire um rigor intelectual e uma dignidade

cultural que a distinguem do trabalho mecânico, e a tornam semelhante às artes liberais: a ciência

e a literatura” (BENÉVOLO, 2003, p. 404)

Brunelleschi define as regras da perspectiva como um novo método de trabalho, que destaca-se

como mecanismo de antecipação e permite representar e inventar os objetos do mundo visível.

Os desenvolvimentos de uma ciência e da prática da perspectiva (...) levavam a agir

justamente em oposição à abertura e a favor do fechamento da obra (...) ver a figura no

único modo certo possível, aquele para o qual o autor (arquitetando artifícios visuais)

procurava fazer convergir a consciência do fruidor (ECO, Op. Cit., p.42).

Neste mesmo repertório, destacamos, o surgimento da imprensa, ou seja, o deslocamento das

formas do conhecimento do oral para o escrito e visual, um intercâmbio que gera mais

informações, dúvidas, ambivalências, desconexões e simulacros (BAUDRILLARD, 2004) .

Por outro lado, não podemos nos esquecer que o conceito de Projeto redefine-se com a própria

cidade e que, também, já haviam sido usados alguns tipos de esboços antes do Renascimento. O

Renascimento é um marco, na medida em que, é neste momento que ocorre um crescimento

significativo dos desenhos como artifício de Projeto, como ferramenta de pensar e representar o

Projeto, sendo que é, também, neste período que aparece o conceito de cidade enquanto objeto

construído, junto à idéia de arranjo espacial (CHOAY, 1985). Podemos, assim, inferir que a noção

de desenho vinculada ao Projeto, muitas vezes substituída por este, é bastante recente.

1.2 Projeto e Certeza

Para a segunda ruptura, trabalharemos com a noção de ordem e certeza, lembrando sempre que

se passou a pensar na idéia de ordem apenas a partir da modernidade, quando a certeza do

divino é substituída por outra: a certeza da observação científica. A tentativa do homem controlar

o universo vincula-se ao anseio do homem pelo previsível. A ordem nasce como questão “de

projeto e ação (...) nós modernos, pensamos na ordem como questão de desígnio” (BAUMAN,

1999, p.14). É produto da modernidade a teorização da idéia de ordem e conseqüentemente a

noção de Projeto associada a ela.

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Como enunciou Freud (1974), o desejo de agressão, antes atribuído à responsabilidade de Deus,

na modernidade recai sobre o próprio homem e aparece conscientemente através do sentimento

de culpa. Esse desejo é dominado pela civilização que exerce uma certa censura mantendo uma

vigilância sobre as ações e intenções do ego (intenções pulsionais). Diante disso, a fragilidade

humana intensifica-se e é transformada em uma das maiores manifestações de medo do homem

moderno: as incertezas.

Beleza, limpeza e ordem ocupam uma posição especial entre os requisitos de civilização, que

aparecem como apoio diante às incertezas do homem moderno. Esperamos ver sinais de ordem.

“(...) A ordem é uma espécie de compulsão a ser repetida (...)” assinala Freud ( Op.Cit., p.66) e

continua:

(...) compulsão que ao se estabelecer um regulamento de uma vez por todas, decide quando,

onde e como uma coisa deve ser efetuada, e isso de tal maneira que em toda as

circunstâncias semelhantes, a hesitação e indecisão nos são poupadas.

Este recorte vincula-se ao Movimento Moderno e a busca do arquiteto/urbanista por um mundo

previsível, sem acasos, em que a ordem passa a ser vista como tarefa e devir. Assim como

ressalta Bauman (Op.Cit, p.15), a existência não ordenada passa a ser inadequada a vida

humana “algo que não se deve confiar (...) algo a ser dominado, subordinado, remodelado de

forma a se reajustar às necessidades humanas”. O Projeto passa a ser visto como um mecanismo

de controle e marcado pelo excesso de certezas.

O urbanismo modernista é um grande exemplo de como o medo do incerto e a crença nos ideais

civilizatórios, apontados por Freud (Op.Cit.) no final do século XIX, foram incorporados nas

cidades. Acreditava-se que o bom planejamento era aquele que concretizasse a idéia de ordem,

beleza e limpeza contra os desvios e o acaso. Verdades incontestáveis eram criadas em busca

de uma estabilidade. Por outro lado, não devemos subestimar os modernos, pois apesar de

projetarem o controle têm a consciência da imprevisibilidade e de que apesar da previsibilidade

não existir na sua forma pura, tem um efeito simbólico real13.

Bauman (Op.Cit, p.09), ao referir-se ao mundo moderno, mais especificamente ao que ele

denomina de ‘modernidade sólida’, ou modernismo, como muitos preferem designar, afirma:

Os tempos modernos encontraram os sólidos pré-modernos em estado avançado de

desintegração ; e um dos motivos mais forte por trás da urgência em derretê-los era o desejo 13 Ver item 1., PARTE I.

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de, por uma vez, descobrir ou inventar sólidos de solidez duradoura, solidez em que

pudesse confiar e que tornaria o mundo previsível e, portanto, administrável (p.10).

1.3 Projeto e Processo

Quanto à atualidade vinculamos os verbetes Projeto e Processo. Projeto visto como um sistema

aberto, uma extensão do possível (KOOLHAAS,1996)14, uma démarche, um caminhar (TSIOMIS,

2003); como uma utopia de processo e não como uma utopia de resultado (ASCHER, 1999).

Projeto no mundo das ambivalências, no mundo moderno, no momento em que a noção de ordem

foi descoberta e já é senso comum. Quanto a isto Koolhaas afirma (Op.Cit.):

If there is to be a ‘new urbanism’ it will not be based on the twin fantasies of order and

omnipotence; it will be the staging of uncertainty (…) it will no longer aim for stable

configurations but for the creation of enabling fields that accommodate processes that refuse

to be crystallized into definitive form; it will no longer be about meticulous definition, the

imposition of limits, but about expanding notions, denying boundaries (…).

A noção de Obra Aberta desenvolvida, ainda na década de 60, por Umberto Eco (Op. Cit.) está

muito imbricada na idéia de Projeto e processo, assim como sugeriu Nuno Portas15. A obra

(Projeto) não como uma definição mas como um grupo de “relações que esta se origina; não o

resultado mas o processo que preside a sua formulação; não a obra evento, mas as

características do campo das probabilidades que a compreende” (ECO, Ibid, p.10). “Abertura

como uma constante em qualquer obra em qualquer tempo” (p.25).

Avançaremos sobre a noção de Projeto e processo, dando enfoque ao ‘Projeto-Urbano’. Desde de

já frisamos, que não existe um consenso entre os Urbanistas ou entre outros Campos

Disciplinares sobre o que se define por Projeto-Urbano e o aumento da polissemia do termo gera

um emprego polivalente e, algumas vezes, indeterminado. Parafraseando Roncayolo16 a

denominação ‘projeto’ e urbano’, não é, ou jamais será, esclarecedora, muitos pontos de vista se

confrontarão.

14 Koolhaas, Rem. What Happened to Urbanism? In: S, M, L, XL. New York : The Monacelli Press, 1995. 15 PORTAS, Nuno. Palestra ministrada no Programa de Pós Graduação em Urbanismo (PROURB), Universidade Federal do Rio de Janeiro. Out. de 2005. 16 RONCAYOLO, Marcel. Lectures de Villes: Formes e Temps. (p. 84).

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2. Projeto-Urbano: introduzindo o verbete

O verbete Projeto-Urbano como o utilizamos no Brasil vem do francês Projet Urbain17. Um termo

que se difundiu na década de 70, como uma resposta ao Urbanismo Racionalista e como

proposta de revisão do sistema de Planejamento Urbano. Este surge junto a uma política de

redefinição do papel do Estado, ou seja, junto à crise do Estado Providência centrado nas políticas

federais.

Solà-Morales (1987), por outro lado, afirma que o Projeto-Urbano surge na década de 20, nos

países da Holanda, Dinamarca, Espanha, etc., como uma forma de articulação da arquitetura

moderna com projetos sociais, tradição esta rompida pela historiografia que tomou a história dos

CIAMs18 como a história do Urbanismo Moderno.

A partir de outro viés, Nuno Portas (1998) afirma que, ainda na década de 60, este verbete foi

utilizado para conotar Projetos-Urbanos de arquitetura de apreciável dimensão e complexidade

que pretendiam configurar o que deveria ser a cidade moderna. Estas contribuições surgem,

segundo o autor, a partir do Team X. Já a década de 70, é para Portas a segunda geração de

Projetos-Urbanos.

Conduziremos a nossa discussão a partir da noção de Projeto-Urbano que vem sendo difundida a

partir da década de 70 junto às transformações sociais, econômicas e políticas; um verbete que

surge para definir um novo tipo de Urbanismo, uma nova expressão crítica, afirma Roncayolo

(Op.Cit.), que nem sempre aparece como uma crítica ao Movimento Moderno. O Projeto-Urbano

como uma qualificação espacial e também um procedimento, que se baseia em diferentes

parâmetros e busca alcançar diversos objetivos, concretizando-se através de procedimentos

complexos, que envolve a articulação do tecido espacial e do tecido social (TSIOMIS, 2003).

O Projeto-Urbano vincula-se ao grande paradigma da era atual a imprevisibilidade, no entanto a

linguagem e a certeza, parâmetros do projeto interligados ao ato de previsibilidade não deixam de

existir, principalmente em um mundo de radicalização da modernidade (GIDDENS, Op.Cit.) e das

incertezas, do contrário não existiria Projeto, restaria o urbano, será?

17 Na França o verbete ‘Projet Urbain’ assume novas acepções como: “Projet de Ville” (mais falado pelos habitantes); ‘Plan Stratégique’ ou “Projet Mairie” e Projet Urbain ( ‘Charte Spatiale’). INGALLINA, Patrizia. Que sais-je: Le Projet Urbain. Paris: Presses Universitaires de France, 2003. 18 Congresso Internacional da Arquitetura Moderna.

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3. Euralille: uma Metalinguagem

Today, uncertainty is a factor which is completely independent from anything that we can

possibly imagine. It’s a fundamental factor, within which there can initially exist some form of

certainty, but which quickly yields to uncertainty. Lille is the perfect example of this.19

A perspectiva da (im)previsibilidade dentro do Projeto Urbano incide sobre diversos planos.

Delimitamos, assim, o Projeto-Urbano para Euralille (Lille, 1995) como o nosso ponto referencial e

de apoio para conduzir nossas reflexões, deixando claro que não faz parte dos nossos objetivos a

descrição/contextualização ou o debate que gira em torno das controvérsias deste Projeto como

resultado final. Estamos interessados em mergulhar na problemática do processo que caracteriza

o Projeto-Urbano.

O Projeto de Euralille apresenta-se aqui não como um estudo de caso, em alguns momentos,

aproxima-se de um caso referência, mas é acima de tudo uma metalinguagem, “(...) um sistema

cujo plano do conteúdo é, ele próprio, constituído por um sistema de significação; ou ainda, é uma

Semiótica que trata de uma Semiótica” (BARTHES, Op.Cit., p.96). Estratégia metodológica que

abre um leque para delimitação de casos referências para pesquisas futuras. Euralille é uma

linguagem em seu nível denotado, que centralizada no seu próprio código usa a linguagem para

falar dela mesma, abrindo um feixe de possibilidades e sentidos.

3.1. Linguagem método

Iniciamos o nosso discurso lembrando a pré-seleção do Projeto de Euralille, em que 8 equipes de

arquitetos foram chamadas a participarem do concurso que tinha como tema o Projeto-Urbano

(Master Plan) para a cidade de Lille. Invertendo a lógica dos concursos de Arquitetura e

Urbanismo tradicionais, desenhos de nenhuma espécie foram permitidos. Os participantes foram

convidados a defenderem oralmente sua idéia sobre o que a ‘cidade poderia ser’. Rem Koolhaas,

arquiteto holandês, foi o vencedor.

A expressão oral foi escolhida em detrimento do desenho, que exprime alto grau de previsibilidade

e uma visão do futuro bastante definida. E se acreditamos, assim como publicado, que Koolhaas 19 MENU, Isabelle e VERMANDEL, Frank. Interview Rem Koolhaas. In: Euralille. The Making of a New City Center,1996. (p.56)

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no momento da explanação não projetou uma única visão do futuro Centro de Negócio de Lille,

podemos pensar que existe dentro desta metodologia um pensamento sobre a questão da

imprevisibilidade. O objetivo do concurso era “to brew a wide range of ideas without prematurely

freezing the design dynamic”, afirma Vermandel20.

Ressaltamos, o papel do desenho no desencadear do Projeto de Euralille como uma extensão da

memória, um registro que libera a memória imediata. O desenho como um elemento de

comunicação do homem com ele mesmo dentro de um processo de criação. O desenho que

representa escolhas, propõe soluções, é um ato de previsibilidade, ao mesmo tempo, permite a

abertura e gera possibilidades; é um rascunho a ser redesenhado. Segundo Vermandel (Op. Cit.

p.22), Rem Koolhaas “refused to indulge in any ‘architectural will’ that would prematurely freeze

the major urban orientation into images”.

3.2. A Certeza de um Cenário

O método de desenvolvimento do Projeto também está conectado à noção de cenário que exclui a

noção de um modelo pré-definido (TSIOMIS, Op.Cit.). Koolhaas fala em “experimental field of

metropolitan instability”21 e afirma:

I always favor improvisation, rather than defining the result from the beginning (…) the project

extension will not take on the form that we foresaw five year ago; it is perhaps regarding the

development of this that we would address a self-critical analysis22.

O Projeto de Euralille sugere pensar o Projeto-Urbano como um cenário; algo instantâneo que

com o tempo vai redefinindo-se e que se insere dentro das temporalidades. Um cenário que não

deixa de ser um gesto de previsibilidade, mas que abre margem para o imprevisível.

Destacamos o papel do desenho utilizado como um cenário que dentro de um universo de

múltiplas negociações vai transformando a cena. Um cenário que se constrói a partir da

articulação dos diversos atores e que depende de parcerias para a sua viabilização.

3.3. Processo multifaceado

(…) what we’re interested in is the development of new urban models; in the wake of the

urbanism of the eighties and nineties, we should now be focusing on the Discovery of a new

20 VERMANDEL, Frank. Euralille: Project for a city. In: Euralille. The Making of a New City Center, 1996. (p.19) 21 VERMANDEL, Frank. Op. cit. (p.33) 22 MENU, Isabelle e VERMANDEL, Frank. Op. cit. (p.54) (p.65)

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type of urbanism which opposes the concept of the city as an ordered series of objects; we

should be promoting forms which are rarely expressed and which have no architecture

relation whatsoever with one another (KOOLHAAS, 1992).

O Projeto de Euralille abrange uma nova estação para trens de alta velocidade próximo ao centro

de Lille, conectando a França à Bélgica, Alemanha e Holanda23; centro de convenções projetado

por Rem Koolhaas e edificações, áreas públicas, áreas de conexão e apropriação projetados por

outros arquitetos. O Projeto propõe a abertura à presença de múltiplos arquitetos/urbanistas

responsáveis por Projetos específicos, “the urban planner doesn’t have to define everything”24,

Junto a isto, uma resistência à unidade formal, “despite the fascinating shape of the overall

project”25.

O Projeto além de permitir uma nova forma de transporte e negócio no centro da Europa, dentro

de uma escala internacional, tem como uma das maiores expectativas o renascimento econômico

de toda a área de Lille, região do norte da França. A articulação de diversos atores, além de

arquitetos/urbanistas, entre eles, políticos, empresários e profissionais, conscientes de um retorno

à longo prazo, mostra-se indispensável à sua viabilização, sendo o fator tempo determinante nas

negociações. Alguns críticos afirmam que: “(…) don’t know of any other modern Project which has

been so thoroughly thought out in terms of link-ups”26.

Koolhaas27 afirma, ao referir-se à Euralille, que estamos sempre sendo confrontados por

condições das quais não conhecemos todos os dados e que é preciso explorar e analisar, uma

situação apaixonante. De outra parte, é frustrante, porque nunca temos o domínio definitivo sobre

o Projeto.

Através do Projeto de Euralille coloca-se em cena a questão da incerteza; uma forma de ‘encarar

a incerteza’, mesmo que, algumas vezes, este paradigma não ultrapasse o discurso. Koolhaas28

afima:

If there must be a new form of urbanism, then it must not rest on order and power. It must

incarnate uncertainty. It must break away from its previous bias toward those components

which express some form of perpetuity.

23 Esta é a primeira parada na Europa, após a travessia do Channel Tunnel, o túnel ferroviário sob o Canal da Mancha. 24 MENU, Isabelle e VERMANDEL, Frank. Op. cit. (p.57) 25 ATTALI, Jean. Criticism has lost its bearings. In: Euralille. The Making of a New City Center, 1996. (p.186). 26 MENU, Isabelle e VERMANDEL, Frank. Op. cit. (p.53) 27 Entrevista concedida a Frédéric Edelmann e publicada no jornal Le Monde, edição de 5 de agosto de 2005, sob o título "L'instabilité du monde m'inspire". Apud:http://www.vivercidades.org.br 28 MENU, Isabelle e VERMANDEL, Frank. Op. cit. (p.56)

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Metodologicamente, retornando aos parâmetros de (im)previsibilidade interligados ao Projeto

(linguagem, certeza e processo), observamos que o desenho continua, desde o Renascimento,

sendo um mecanismo de previsibilidade, no entanto se observa que dentro do Projeto de Euralille

existe uma certa consciência deste mecanismo e tenta-se lidar com ele, para que este não

substitua o Projeto. O excesso de ordem e certeza é um parâmetro de crítica de Rem Koolhaas à

matriz modernistas, trabalha-se com a noção de cenário, a certeza de um cenário. O processo é o

método Projetual, envolve a capacidade de redefinição (reshaping) e a capacidade de absorção29.

A dialética da previsibilidade e imprevisibilidade dentro do processo projetual é nosso grande

desafio, principalmente para os supostos ‘construtores da cidade’ – arquitetos e urbanistas e

assim como defende Koolhaas30 “(…) it is the arduous task of the final part of this century (...) to

deal with the extravagant and megalomaniac claims, ambitions and possibilities of the Metropolis

openly.”

O Projeto de Euralille é uma expressão projetual; lida com os parâmetros de (im)previsibilidade;

insere-se na nossa temática como uma possibilidade de expressão na cidade atual, como uma

possibilidade para o amanhã, como desígnio e, ao mesmo tempo, como ato de previsibilidade.

Euralille é uma hipótese.

4. PROjeto, PROgresso e PROcesso

J.P. Boutinet associa a noção de Projeto a noção de Progrés “(...) car as capacite d’ anticiper

l´avenir et la confiance qui l’ accompagne dérivent du developpement de la science et de sés

applications techniques”31. Progresso no sentido de continuação, sucessão ininterrupta dos

diversos estágios de um processo. Projeto, lógica de um Processo; continuidade e mudança.

Urbanismo Processual, suscita Ascher (1998, p.141), Projeto como processo legítimo e não como

Projeto de controle. Quanto a isto afirma:

Considerar a cidade como complexa, e não somente como complicada (...) que constitui um

sistema aberto, que os seus equilíbrios são instáveis; que as variações menores podem

engendrar mudanças consideráveis; e que evoluções são geralmente irreversíveis (...) não

pode pretender ser previsivo, programático, sistemático, imperativo, devendo antes

constituir-se com base numa racionalidade limitada em contexto de incertezas (...) o

urbanismo no sentido alargado que utilizamos a palavra deve mobilizar instrumentos

29 ATTALI, Jean. Op. cit. (p.185). 30 FOSTER, Hal. Bigness. In Lodon Review of Books. Disponível em: http://www.lrb.co.uk/v23/n23/fost01_.html. Acesso em: out de 2005. 31 Apud INGALLINA. Op. Cit., p.98.

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capazes de admitir flutuações, criatividade, incerteza, contradição, ambigüidade,

imprecisão(...).32

O Urbanismo coloca-se como um campo experimental, institui-se a possibilidade da dúvida,

conceitualmente infinita. Através do Projeto-Urbano é permitido duvidar, não ter certezas. A dúvida

surge como a possibilidade de um novo potencial para a cidade. O Projeto-Urbano agiliza e

transforma, é uma visão do possível; soluções ensaiadas.

O Projeto-Urbano revela conflitos e não constitui mais uma resposta, mas sim uma démarche

(YANNIS, 2003) a ser reinventada. O Projeto-Urbano é um processo no qual os parâmetros se

articulam, resolve e expressa situações e tensões. É um processo de decisões que visa a solução

de problemas e também a satisfação de restrições. É a disponibilidade de intervenção sobre o

imprevisto; sobre cidade aberta, sobretudo a cidade que permite a expressão dos conflitos.

Dominar um destino aberto é uma utopia e impede a imaginação (TSIOMIS, Op.Cit.).

Em síntese, o contexto, o tempo e os autores ‘fabricam’ o Projeto-Urbano (TSIOMIS, Ibid.),

devendo este responder ao estado de conflito e tensão permanente. O Projeto-Urbano estrutura-

se a partir de problemas e não a partir de soluções. Oportunidade é uma palavra chave dentro do

Projeto-Urbano, criação e aproveitamento de “oportunidades não previstas” (PORTAS,1998).

5. Urbanismo de Projeto

Projeto - (s.m.) [do lat. Projectu, part. Pass. de projicere, ‘lançar adiante’]

(adj.) [do Lat. projectus, p.p. de projicere, lançar]33

A palavra Projeto refere-se ao processo técnico próprio da competência do arquiteto-urbanista, a

palavra Urbano diz respeito à cidade e suas multiplicidades afirma Ingallina (Op. Cit.). Dupla

denominação: ‘Projeto’ e ‘Urbano’. Assim, finalizando as nossas reflexões propomos, mais uma

vez, distanciarmo-nos do Campo da Arquitetura e do Urbanismo. Afinal o que entendemos por

Projeto?

De acordo com Bluteau34 - Vocabulario Portuguez e Latino - foi durante as Conferências Eruditas,

ano de 1696, que se passou a admitir na língua portuguesa o verbete Projeto com o mesmo

sentido da língua francesa – Projet:

32 Ver Edgar Morin: complexidade como ruptura com a idéia de conhecimento perfeito.NOTA 24 p.233 (Ascher). p.141 33 SILVA, Antonio de Moraes. Diccionario da Lingua Portugueza. Lisboa: Typographia de Antonio José da Rocha, 1844. 34 BLUTEAU, Raphael. Vovabulario Portuguez e Latino. Lisboa: No Collegio das Artes da Companhia de Jesu, 1712, 1ª ed.

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(...) fignifica hum penfamento, feguido de reflecção immediata (...) o intento fe fórma na idea,

a que fe fegue o confenfo, para ao depois fe executar (...) Projecto fe deriva de Projicere,

lançar, porque na língua Franceza o primeiyo ufo de Projet, foy fignificar coufa lançada por

papel, para ajudar a memória na execução da mefma couf.

Retornamos, então, ao verbete Projeto-Urbano. Projeto: natureza e meio imprevisíveis. Urbano: o

que diz respeito à cidade. A Cidade: o meio imprevisível. Projeto: desígnio, um lançar-se à frente;

antevê o tempo de amanhã, mas é hipótese, um ensaio para o amanhã.

A noção de Projeto-Urbano, nas últimas décadas, não seria, então, uma forma de recuperar as

próprias origens do verbete Projeto? Lembramos que ainda em 1696, no Vocabulario Portuguez e

Latino35, consta a seguinte colocação: (...) Diffenho, Modello, Delineação também não forao

admittidos em lugar de Projecto (...)

35 BLUTEAU, Raphael. Op. Cit.

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Figura 01: Movimento Dialético: Previsibilidade e Imprevisibilidade Referência: LEFEBVRE, Henri. O Direito à Cidade. São Paulo Centauro, 2001.

Figura 02: Processo de Criação Referência: LOBACH, B. Design Industrial. São Paulo: Edgard Blucher, 2000.

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Figura 03: Projeto Euralille. Estudos de implantação das torres feito pelo OMA (Office for Metropolitan Architecture) Fonte: Euralille – the making of a new city center: Koolhaas, Nouvel, Portzamparc, Vasconi, Duthilleul – architects. Espace Croisè, 1996.

Figura 04: Vista geral do Projeto de Euralille. Desenho OMA (Office for Metropolitan Architecture) Fonte: Euralille – the making of a new city center: Koolhaas, Nouvel, Portzamparc, Vasconi, Duthilleul – architects. Espace Croisè, 1996.

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Figura 05: Vista aérea Projeto Euralille Fonte: Euralille – the making of a new city center: Koolhaas, Nouvel, Portzamparc, Vasconi, Duthilleul – architects. Espace Croisè, 1996.

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IX SEMINÁRIO DE HISTÓRIA DA CIDADE E DO URBANISMO SÃO PAULO, 4 a 6 de SETEMBRO DE 2006

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