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* Trabalho apresentado no Seminário Soberania Nacional e Relações Internacionais Promovido pela ABD em 22/10/2011. Rio de Janeiro FRONTEIRAS TRANSNACIONAIS, TERRITÓRIOS CIBERNÉTICOS E OS IMPACTOS NA CULTURA E NA SOBERANIA NACIONAL* Maria Helena de Amorim Wesley Rio de Janeiro Outubro de 2012

fronteiras transnacionais, territórios cibernéticos e os impactos na

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* Trabalho apresentado no Seminário Soberania Nacional e Relações Internacionais Promovido pela

ABD em 22/10/2011. Rio de Janeiro

FRONTEIRAS TRANSNACIONAIS, TERRITÓRIOS

CIBERNÉTICOS E OS IMPACTOS NA CULTURA E

NA SOBERANIA NACIONAL*

Maria Helena de Amorim Wesley

Rio de Janeiro – Outubro de 2012

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 03

I - FORMAÇÃO DAS FRONTEIRAS 06

1.1 – Regiões Fronteiriças 09

II - FRONTEIRAS TRANSNACIONAIS 12

III - TERRITORIOS VIRTUAIS OU CIBER-ESPAÇOS 18

3.1 - Impacto na Cultura Nacional

20

IV - FRONTEIRAS NA REGIÃO NORTE DO BRASIL 24

V - SOBERANIA E DEFESA DIANTE DA FRAGILIZAÇÃO DE UMA NAÇÃO:

o desmantelamento das Forças Armadas e a debilidade da Di-

plomacia

36

VI CONJUNTURA NACIONAL E COMPLEXIDADE ATUAL

47

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 52

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INTRODUÇÃO

As transformações hodiernas, a ênfase ao legado territorial histórico, a emergência

das Fronteiras Cibernéticas, a atual intervenção internacional - com destaque para a A-

mazônia Legal - e a nova face corsária que revestem a recolonização interna e externa

constituem o pano de fundo das reflexões sobre Fronteiras, Defesa.e Soberania.

Entretanto, quando um país prima, lamentavelmente, por desprezar seu passado,

sua história, sua cultura, não significa não ter memória, mas sim ausência de educação e

instrução, responsáveis pela construção da cidadania como resultante do respeito às tra-

dições, incutindo uma sólida consciência dos problemas políticos e sociais.

Neste espaço se busca deixar claro que não se estuda cultura ou sociedade alhei-

as; não se analisa por sobre os ombros de alguém a sua forma de se comportar, falar e

viver, contrariando a premissa assinalada por Geertz (1978) e adotada pela maioria dos

antropólogos. Enfatiza-se que nas marcas do passado se encontram todos os moldes do

atual comportamento que leva à responsabilidade de conhecer a realidade brasileira co-

mo o fizeram Rondon, Villas Boas, Nutels e Darcy Ribeiro, compartilhando com o último

na colocação que segue, onde espelha sua decepção com aqueles profissionais:

“Eu reclamava que a Antropologia Brasileira deixasse de ser uma primatologia ou

uma barbarologia, que só olha os índios como fósseis vivos do gênero humano, que só im-

portam como objeto de estudos. Sempre gostei, por isso, da tirada de Noel Nutels, que

chamava os antropólogos de gigolôs de índios.

De fato, ele, que procurava assisti-los, conheceu inúmeros desses estudiosos, que

lá estavam sem levantar uma palha a favor dos índios, apenas de olhos abertos, de ouvi-

dos acesos, ouvindo, olhando, aprendendo: gigolando.” (Ribeiro, 1997).

Na busca da elucidação dos movimentos populacionais passados que resultaram,

por exemplo, no povoamento das Américas e no surgimento de sociedades dizimadas

posteriormente pelo civilizador europeu, que, munido da capacidade de agredir e deses-

tabilizar a harmonia biótica conduziu à miséria a vida humana, perpetua-se no comporta-

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mento político agressivo, na vocação pusilânime não só dos políticos e cujo preço é a

liberdade, na luta por dinheiro e prestígio, no descuido dos problemas humanos. Esses

comportamentos também são procedentes algumas vezes das comunidades científicas

de forma imperdoável, visto que são de uma sociedade que sempre encontra recursos

suficientes para resolver os problemas que dizem respeito a interesses individuais. O do-

cumentário Segredos da Tribo, de José Padilha, ilustra o submundo da comunidade ci-

entífica focando em Napoleon Chagnon, autor de Yanomami: o povo feroz (1968) acu-

sado de genocídio e Jacquez Lizot, discípulo dileto de Lévi-Strauss, financiado pelo

Collège de France que ficou durante 20 anos entre os Yanomami. Trocava sexo por ar-

mas e é incriminado de pedofilia (Wesley, 2010).

Entre os diferentes princípios que nortearam a delimitação de fronteiras ao longo

do tempo em contextos geográficos diversos, no início do sec. XIX estudos antropológicos

desvendaram a importância do princípio territorial - e não somente o parentesco - como

basilar na formação da identidade (Lowie, 1927).

As atuais instabilidades estruturais do sistema de Estados nacionais frente às velo-

zes mudanças geram a nostalgia por uma época em que se concebia o Brasil como um

sistema fechado em seus limites históricos, sob a proteção da fronteira do Estado territo-

rial, fazendo com que a metáfora da porosidade das fronteiras sintetize tudo de negativo e

a emergência de situações que contrariam a coerência do sistema histórico de Estados

pareça acobertar a situação considerada caótica denominada de globalização, cujo cará-

ter ambíguo se apresenta nas relações entre Estados e indivíduos nas mais diversas

transações.

A inexorabilidade desse processo no que tange a interdependência da economia se

mostra como um processo universal, contínuo, progressivo e homogêneo, apresentado

como uma nova realidade impulsionada pela força material da expansão capitalista, em-

bora resulte de decisões políticas de países centrais, sobretudo o norte-americano, cujo

objetivo é alimentar as transformações tecnológicas e intensificar a competição mundial,

além de estimular reformas liberais nos países em desenvolvimento.

O mundo deste milênio, estruturado na economia informacional global, na socieda-

de em rede e na cultura da virtualidade real, redefine historicamente as relações de pro-

dução, poder e experiência da sociedade, configurando uma forma produtiva, competitiva,

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flexível e proprietária que se inclina ao aumento da desigualdade, da polarização entre as

classes sociais onde a exclusão não será superada.

Eis o motivo pela opção em apresentar uma breve reflexão – isolada - que se de-

bruça na dura realidade, como peça de inclusão na Academia Brasileira de Defesa, sem

rodeios ou subterfúgios que possam amenizar a angústia gerada na impotência de alterar

um milímetro de um cenário que se delineia devastador por desprezar o fato de que so-

mente a preservação da História dá relevo a um passado indispensável na construção da

identidade atual para que se possa construir o futuro, pautando sempre a reflexão na evi-

dência de que sem Soberania não há Liberdade.

Não há como negar que os membros desta Academia buscam a superação da fin i-

tude física, graças à aquisição e predominância de uma consciência crítica no entendi-

mento que leva a colocar a clareza e a sabedoria a serviço das gerações vindouras, e que

certamente revestem brasileiros imbuídos da convicção de que a vida representa bem

mais do que se tenta fazer para poder continuar a olhar nos olhos de seus descendentes.

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I - FORMAÇÃO DAS FRONTEIRAS

A denúncia dos latifúndios e a defesa ecológica que pautam os discursos ambien-

talistas hodiernos por certo desconhecem ou desprezam as origens da ocupação, da pos-

se e dos direitos coloniais que nortearam as conquistas do Brasil.

Mapa1

O legado português resultante da ocupação

territorial no século XVI e consolidada no século XVIII

desenharam os contornos das futuras fronteiras, que

já constavam na Carta de Diego Nuñes - provavel-

mente de 1553 – e foram reconhecidas pelo Tratado

de Madri em 1750.

O fracasso da colonização espanhola exempli-

ficados por Orellana e Pinzon em 1551 e 1555 na

Amazônia Brasileira certamente se deveu a impor-

tância repressora da muralha dos contrafortes da

cordilheira andina, um dos grandes obstáculos à pe-

netração dos espanhóis, e que beneficiaram a ocu-

pação portuguesa (Mapa1).

Também a descoberta da prata em Potosi, influenciou as decisões políticas imperi-

ais que dificultaram qualquer abertura de caminho a interferir no rígido controle do contra-

bando e outros possíveis desvios - da Coroa - sobre os caminhos que conduziam a prata

americana para a Espanha.

O estabelecimento das fronteiras políticas internacionais teve início no século XVIII

e, nos primeiros anos do século XX, os problemas ainda pendentes foram negociados

pelo Barão do Rio Branco1.

1 . A fronteira do Brasil com a Colômbia, por exemplo, foi delimitada através dos Tratados de Bogotá, em 1907, e do Rio de Janeiro, em 1928, após o tratado que

definiu, no mesmo ano, a situação do Trapézio Colombiano, cuja posse estava até então em litígio entre o Peru e a Colômbia.

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A expansão portuguesa, favorecida pelo rele-

vo e pela hidrografia de uma região comum das duas

maiores bacias fluviais, amazônica e platina, consti-

tuem um sistema hidrográfico em espaço continental

formado por zonas de relevo áspero, declives abrup-

tos e profundas depressões que se apresentam co-

mo um forte obstáculo à expansão humana e são

conhecidos como faixas ou centros formadores de

fronteira e que a Constituição de 1988 e a Lei

6.634/79, Artigo 20, assegura em 150 km para Segu-

rança Nacional.

Mapa 2

Após ter suas fronteiras juridicamente fixadas2 em acorde com o tradicional concei-

to de território como o espaço físico delimitado por fronteiras onde o Estado exerce a sua

soberania3, o Brasil, desde 1909, não tem qualquer problema de fronteira, mas apresenta

crescentes problemas nas suas fronteiras (Côrtes, 2006) e, apesar de “batido”, o tema

sobre as ameaças contra a Amazônia Brasileira impõe rever o significado da criação de

reservas indígenas ao se constatar que a assinatura, na Assembleia Geral das Nações

Unidas em 13/SET/2007, da Declaração Universal dos Direitos dos Povos Indígenas – por

ordem do Chanceler brasileiro – sequer foi alvo, até hoje, de discussão pelos representan-

tes do povo brasileiro.

Entre os séculos XIII e XV o conceito de fronteira se caracterizava pela herança

dos feudos onde os indivíduos ligados por laços de vassalagem, afastaram-se dos atribu-

tos originais de parentesco e territorialidade que norteavam os estudos antropológicos.

Entretanto as relações de lealdade ultrapassavam os domínios territoriais dos reinos e

impérios, e o mosaico de fronteiras políticas resultante negava, na prática, o poder dos

reis. Isso faz ruir as bases do sistema assentado nos direitos hereditários e históricos que

2 Tratados: Tordesilhas – 1497; Madri – 1750; Santo Ildefonso – 1777. Em 1870 – Paraguai; 1895 – Argentina; 1900 - França (Guiana); 1903 – Bolívia; 1904 – Equa-

dor; 1904 + 09 – Peru; 04 - Grã-Bretanha (Guiana); 1905 – Venezuela; 1906 - Holanda (Guiana); 07 – Colômbia; 1909 - Uruguai.

3 Com todas as fronteiras já delimitadas, o trabalho de demarcação e caracterização é executado por duas comissões bilaterais demarcadoras de limites: uma com

sede em Belém é responsável pelas fronteiras setentrionais, com a Guiana Francesa, o Suriname, a Guiana, a Venezuela, a Colômbia e o Peru; outra sediada no Rio

de Janeiro executa trabalhos nas fronteiras meridionais, com a Bolívia, o Paraguai, a Argentina e o Uruguai.

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tinham prevalecido até então na delimitação de fronteiras fortalecendo a emergência do

Estado Moderno, baseado na relação entre fronteira e soberania territorial inexistente no

mundo europeu visto que o poder dos reis sobre o reino era de tipo feudal e não nacional.

A ideia de fronteira natural dos filósofos políticos franceses e ingleses levou à sua

conexão com a noção de lei natural, no sentido de que respeitar os limites naturelles dos

estados seria nada mais do que obedecer a lei da natureza.

No início do século XIX surge a doutrina de fronteira no Discurso à Nação Alemã

de J. Fichte (1807), baseada no princípio da nacionalidade que defende a unidade territo-

rial do Estado e a lógica que preside o estabelecimento de seus limites em função de uma

língua e cultura comuns.

Os limites políticos precisos não eram demandados diante da pouca importância de

negócios realizados em escala internacional. Havia locais de inspeção, onde as mercado-

rias podiam ser examinadas para efeito de tarifas. A necessidade de ajustar as relações

entre os Estados ao crescimento do comércio mundial foi o principal motivo para a de-

marcação mais exata dos territórios, e somente no século XIX é que os Estados se torna-

ram suficientemente organizados e capazes de garantir a definição de suas áreas de ju-

risdição (Globet, 1934).

No século XX, apesar da criação do conceito de autodeterminação dos povos, a

concepção imperialista de fronteira desenhada durante a hegemonia da Grã-Bretanha no

sistema mundial, desconsiderou a existência e os interesses das coletividades envolvidas

e a maior parte das fronteiras políticas da África e da Ásia foi desenhada pelas potências

coloniais visando à estabilização do poder (embora episódico) entre as próprias potências

coloniais e apesar de ainda prevalecer a concepção contratual de fronteira internacional4,

os inúmeros conflitos de fronteira indicam que a fronteira contratual é na verdade extre-

mamente rara. Muitos tratados foram, na prática, artifícios para ganhar tempo e consolidar

antigas conquistas.

4 Onde o princípio geral é que sua delimitação seja o resultado de uma negociação bilateral em que as partes não utilizam outros recursos para fazer prevalecer seus

pontos de vista.

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1.1 - Regiões Fronteiriças

Os poucos estudos sobre regiões de fronteira internacional se deve ao fato de

grande parte dessas regiões estarem isoladas dos centros nacionais de seus respectivos

Estados, seja pela ausência de redes de transporte e de comunicação, ou pelo pouco pe-

so político e econômico que representam.

O Estado Territorial fruto da relação entre território, fronteiras e limites, é tradicio-

nalmente formado pelo Componente Institucional que abriga concepções distintas, mas

simultâneas, de controle dos limites e das fronteiras no âmbito das instituições governa-

mentais com efeitos sobre a distribuição de poder; pelo Componente Estrutural relativo ao

uso do estatuto de legalidade/ilegalidade e ao papel dos limites políticos numa economia

mundial caracterizada pelo risco e cuja irregularidade aponta para a instabilidade (estrutu-

ral) do sistema de Estados nacionais; e pelo Componente Conjuntural onde o atual escor-

regar da fronteira para o interior e a multiplicação de territórios especiais promovem a as-

censão da concepção econômica de fronteira em detrimento da concepção tradicional

resultando na ampliação da histórica porosidade das fronteiras - com destaque, no Brasil,

para a Região Amazônica.

Também estão formalmente isoladas dos Estados vizinhos pelo papel disjuntor dos

limites políticos. Sem instituições para instrumentá-la, a cooperação entre países vizinhos

em regiões de fronteira se efetua informalmente ou através de acordos tácitos entre as

autoridades locais dos países fronteiriços.

Esse cenário tende a mudar pela importância atual atribuída às cidades e regiões

de fronteira pelos estados nacionais no contexto da integração de países em blocos regi-

onais, e pode transformar essas regiões, em zonas de cooperação e sinergia entre países

vizinhos facilitando a criação de novos mecanismos legais e administrativos (Ganster et

al., 1997:7). A fronteira deixa de ser concebida somente a partir das estratégias e interes-

ses do Estado central, e passa a ser concebida também pelas comunidades de fronteira,

ou seja, no âmbito subnacional. O desejo e a possibilidade real de comunidades locais

estenderem sua influência e reforçarem sua centralidade além dos limites internacionais e

sobre a faixa de fronteira estaria subvertendo e renovando os conceitos clássicos de limite

e de fronteira (Machado, 1998).

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Além das diferenças entre países e entre segmentos da própria fronteira nacional

dificultar uma teoria para uma fronteira internacional, a inclinação à formação de blocos

econômicos regionais e a intensificação das diásporas de povos com nacionalidade com-

pósita alteram a abordagem das fronteiras e limites internacionais e muitos países vêm

desconsiderando os efeitos da existência dos limites internacionais, relevando mais os

efeitos da remoção desses limites, a diminuição das descontinuidades que estes repre-

sentaram ao longo do tempo para a vida econômica e social, e na circulação de ideias,

mercadorias e serviços (House, 1980).

Mas, mesmo a proposta de Anderson (2001)5, que considera o uso oportunista dos

diferenciais políticos e econômicos nos limites entre estados, esse uso não pode ser atri-

buído unicamente à globalização atual e sim aos fundamentos e evolução do sistema ca-

pitalista e do sistema de estados nacionais. As arbitragens oportunistas resultam de uma

contradição maior nascida no interior do sistema de acumulação capitalista inclinada a

destruir obstáculos a livre circulação de bens de capital, mercadorias etc., e, simultanea-

mente, gerar novos obstáculos à livre circulação, apoiando-se na forma política do siste-

ma de estados nacionais (Machado, 1996, p.374).

A visão negativa das fronteiras baseada na ideia de ser um obstáculo que limita a

liberdade individual ou coletiva se esvazia diante do fato de que a fronteira é uma neces-

sidade incontornável que regula e previne a existência dos perigos do caos, sublinhando

tanto diferenças legais como o principio da identidade territorial e a separação entre na-

cionais e não nacionais através de impedimentos jurídicos, políticos e ideológicos.

Presente em todos os países, territórios, culturas, fluxos de comunicações e finan-

ças, a economia global provoca a "exploração contínua do planeta à procura de novas

oportunidades de geração de lucros" e, implacavelmente, seleciona “conectando segmen-

tos valiosos e descartando locais e pessoas inúteis e não pertinentes", resultando em

uma geografia de contrastes. Dos segmentos excluídos resulta o aumento das operações

em conexão perversa, com diferentes regras na prática do capitalismo global, perceptíveis

na crescente influência da economia do crime organizado. Por outro lado, não menos per-

versa, ocorre "a exclusão dos que excluem pelos excluídos", prevendo que "a não adesão

5 Argumenta a favor da necessidade de retomar a teorização dos limites internacionais (borders) e das regiões de fronteira (border regions) no contexto da globaliza-

ção e da visão de um “mundo sem fronteiras”.

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de pessoas e de países não representará uma saída pacífica" (CASTELLS, 1999, p.431-

2).

O recente processo de aproximação do Brasil aos outros países da América do Sul,

após séculos de indiferença - consequente do processo de colonização - requer certa

acuidade, quando se centra a atenção às características geográficas da zona de fronteira

do Brasil e países lindeiros, que se revelam no pinçar das diferenças e peculiaridades da

fronteira continental nas análises sobre porosidade e fechamento das fronteiras dos esta-

dos nacionais.

Essas reflexões reforçam o papel do território e a importância de pactos territoriais,

enfatizando a soberania dos interesses do Estado, para que se torne legitimamente re-

presentativo da coletividade, já inferidos em trabalho anterior (Wesley, 2010).

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II – FRONTEIRAS TRANSNACIONAIS

O forte potencial das regiões fronteiriças para desenvolver a cooperação interna-

cional dos países depende da qualidade e da intensidade das relações entre elas. Quan-

do os sistemas em ambos os lados do limite são análogos, provavelmente existirá menor

tensão na periferia de cada um, embora a existência de simetria e paz não sejam garantia

de maior interação (Boggs, 1940).

O grau de homogeneidade das condições econômicas e sociais em ambos os la-

dos pode limitar a complementaridade das trocas, enquanto a diversidade pode estimular

o desenvolvimento de complementaridades e consequentemente basear uma nova divi-

são transfronteiriça do trabalho que resulta em maior dinamismo dos espaços fronteiriços

(House 1980).

Outra pendência no que tange às regiões fronteiriças deve ser considerada. Ainda

que elas atinjam um nível de complementaridade e cooperação efetiva, necessitarão se

impor, não como simples intermediárias, para que suas cidades não sejam meros nódulos

em rotas de passagem, mas como nódulos intermediários na rede ampla que liga os cen-

tros maiores entre si. Nas cidades e regiões de fronteira a questão crucial é a de como se

inserir nas diversas redes transnacionais que as atravessam, sem desempenharem o pa-

pel de mero ponto de passagem (Pradeau, 1994).

No Brasil as relações transfronteiriças sob o controle de ONGs nacionais e interna-

cionais detalhadas no Quadro 1 baseiam os fluxos de bens, capitais e pessoas nas zonas

de fronteira. Os efeitos nas comunidades fronteiriças de ambos os lados estão ligados às

oportunidades que oferece um Estado mais desenvolvido, sobretudo para a realização de

tarefas pesadas descartadas pelos profissionais qualificados desse mesmo Estado, acar-

retando ao longo do tempo grande difusão de trabalhadores para o interior.

Esse fluxo é predominantemente de trabalhadores diaristas ou sazonais, desquali-

ficados ou semiqualificados, atraídos pelas oportunidades de trabalho e pelos possíveis

pagamentos de assistência social no outro lado, mas pelos mesmos motivos pode incluir

também a saída dos mais qualificados do Estado menos desenvolvido. Se esse afluxo de

trabalhadores reduz as pressões demográficas e o desemprego no Estado menos desen-

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volvido, pode, também, se converter em potencial para grave exploração de trabalhadores

ilegais na região de fronteira do país mais desenvolvido.

FRONTEIRAS TRANSNACIONAIS

(Quadro 1)

ONGs, MISSÕES e AMBIENTALISTAS

NACIONAIS INTERNACIONAIS

- Assistencialismo/filantropia como lógica

de seus financiadores.

- Agentes capazes de oferecer uma alter-

nativa de emprego e trabalho para os

“excluídos” (e outras organizações do

chamado terceiro setor), sobretudo para a

classe média.

- empreendimentos turísticos e privatiza-

ções;

- Certa criminalização dos movimentos

sociais (colonizador brasileiro).

- Obstaculizar desenvolvimento; atos

violentos (questão nuclear, transgêni-

cos, aquecimento);

- Difere dos Estados e das Organiza-

ções Internacionais;

- ONGs possuem personalidade jurí-

dica de direito interno de um Estado

qualquer que lhes concede personali-

dade, e delega poderes para prosse-

guir em suas atividades (semelhança

c/a Carta de Corso).

- Distinguem-se das empresas trans-

nacionais (sem fins lucrativos).

Sem qualquer controle pelo Estado e, menos ainda, pela população que é o

“alvo” de suas ações.

Surgem, sobretudo, pela ausência/abandono do ESTADO

Difícil de mensurar são os fluxos de capital, pela relativa imobilidade se comparada

à alta mobilidade dos trabalhadores. Sujeita a variações conjunturais constantes pelas

diferentes políticas econômicas e cambiais, a faixa de fronteira é muito instável.

É comum que vários empresários invistam nos dois lados da fronteira para se pro-

tegerem dessa instabilidade, possuindo, muitas vezes, lojas em ambos os lados. Em ou-

tros casos são instaladas fábricas do lado menos desenvolvido em busca de trabalho ba-

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rato e de padrões ambientais menos rigorosos, mas os lucros são invariavelmente drena-

dos através da fronteira para o país de origem.

Além dos efeitos das assimetrias econômicas, a interpenetração de culturas, com

seu bilingüismo e costumes próprios, são, em muitos países, explorados para o turismo6,

mas podem gerar efeitos negativos para as transações transfronteiriças que podem ser

mais bem compreendidas na Tipologia das Fronteiras expostas no Quadro 2 e no Mapa 1.

6 Levando-se em consideração que a maior parte dos turistas são habitantes de grandes cidades, o isolamento das regiões de fronteira permite paisagens mais

preservadas que podem funcionar como um atrativo importante, especialmente se ela estiver próxima a áreas fortemente povoadas (Miossec apud Pradeau, 1994).

TIPOLOGIA DAS FRONTEIRAS

(Quadro 2)

JURÍDICA

FRONTEIRAS

METAFÍSICA

terrestre – aérea – marítima e oceânica

- Regidas p/Dir. Int. Públ., Atos Internacionais, Acordos e Trata-dos Bilaterais; - Visíveis (ainda que por convenção); - Ações detectáveis (às vezes antes de efetivada a Violação)

- Violações fisicamente perceptíveis.

ONGs

Missões

Ambientalistas

- Não subordinadas às normas internacionais específicas - Invisíveis (detecção difícil ou impossível) - O agressor age de forma insidiosa - O agredido não percebe a violação (ou só a discerne após o fato consumado)

espacial – institucional - cibernética

TRANSNACIONAIS

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A concordância, em 2007, do Brasil na ONU, reconhecendo os Direitos Universais

dos Povos Indígenas visando à indicação do então Presidente para Secretário favoreceu

o estabelecimento de ONGs estrangeiras, com assentimento da FUNAI, em grande parte

da Amazônia, onde estão as maiores reservas minerais e de água potável (Wesley,

2009).

A tentativa persistente de não considerar o índio como brasileiro, parece indicar

uma violenta política de fragmentação da nacionalidade, quando se observa a questão do

negro – agora afro descendentes – aliada aos quilombolas e as quotas no sistema de en-

sino (Wesley, 2011). Empunhadas como bandeiras, em geral sob liderança das ONGs,

pelos excluídos, constituem cunhas à integração social e construção da cidadania que

observe as leis – como qualquer brasileiro – impedindo a transformação das aldeias em

comunidades avançadas ou cidades.

Recentemente índios e ONGs ameaçaram o Governo, em busca da Independência

das Nações Indígenas, reconhecidas pela ONU por causa da Portaria 303 da Advocacia-

Geral da União (AGU), que proíbe a ampliação de áreas indígenas já demarcadas e a

venda ou arrendamento de qualquer parte desses territórios, se isso significar a restrição

do pleno usufruto e a posse direta da área pelas comunidades indígenas. Proíbe o garim-

po, a mineração e o aproveitamento hídrico da terra pelos índios, além de impedir a co-

brança, pela comunidade indígena, de qualquer taxa ou exigência para utilização de es-

tradas, linhas de transmissão e outros equipamentos de serviço público que estejam den-

tro das áreas demarcadas.

A portaria 303 foi publicada com o objetivo de ajustar a atuação dos advogados

públicos à decisão do Supremo no julgamento da questão da Raposa Serra do Sol. A im-

prensa tem noticiado, erradamente, que os índios não aceitam a portaria porque ela es-

tende a todos os processos demarcatórios as 19 condicionantes aprovadas pelo Supre-

mo, que proíbem, entre outras coisas, a ampliação de áreas indígenas já demarcadas.

A situação se agrava diante da exigência das 206 nações indígenas para o reco-

nhecimento de autonomia territorial, política, econômica e cultural, com fronteiras fecha-

das. Ou seja, pretendem que sejam consideradas como nações independentes, nos ter-

mos da Declaração Universal dos Direitos dos Povos Indígenas, aprovada pela ONU com

apoio do Brasil em 2007.

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O arrependimento do governo brasileiro motivou o não envio do tratado da ONU ao

Congresso, para ratificação e entrada em vigor. A portaria 303 é a primeira norma baixada

pelo governo após a aprovação do tratado internacional. Seu texto demonstra claramente

que o Brasil não aceitará a independência das nações indígenas almejada pela ONU

(Porto, 2012).

Mapa 3

As ações em outros países contra cidadãos, empresas e investimentos brasilei-

ros nos últimos oito anos, registram a ocorrência de sérios danos e o surgimento de

ameaças a interesses do Brasil em fronteiras extralimites (metafísicas) visíveis no Mapa

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3.

A Fronteira Institucional (metafísica) pode, por qualquer tipo de pressão, coação

ou indução ilegítima ou ilegal – por desvio ideológico ou com origem em outro Estado –

conduzir à adoção de decisões executivas, acordos internacionais ou legislação, alta-

mente lesivos ao Brasil, como ocorre em Brasília, caracterizando uma vulnerabilidade

que persiste há 20 anos.

Nas Fronteiras Jurídicas são registradas, com freqüência, reivindicações entre

terceiros, ameaça armada (subversão, tráfico de drogas), atividades ilícitas (contraban-

do, tráfico de pessoas, pesca ilegal, descaminho), agravadas pela porosidade e vazios

demográficos onde se realiza a atividade econômica local.

Essa realidade pontilhada de conflitos diversos conduz à suposição de que a

Amazônia pode ser perdida sem guerra, sem tiro, por um movimento muito mais finório

do que se imagina.

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III – TERRITÓRIOS VIRTUAIS OU CIBERESPAÇOS

O Território Virtual ou Ciberespaço se caracteriza pelo descarte absoluto dos limi-

tes impostos por fronteiras físicas e políticas que escapam da realidade conceitual costu-

meira de território. Está relacionado a uma ideia nova, de rede, fundamentada pela locali-

zação da informação como elemento identificador do território no ciberespaço constituindo

uma nova modalidade de fronteira transnacional.

Quadro 3

A revolução tecnológica geradora dos ciberespaços ou territórios virtuais ao esta-

belecer uma nova modalidade de fronteira transnacional, quando aliada ao vazio de poder

AUSÊNCIA DE PODER

SOBERANIA

(Fragilidade das Fronteiras)

FRONTEIRAS TRANSNACIONAIS

ONGs – MISSÕES - AMBIENTALISTAS

Internacionais/Nacionais

DEPENDÊNCIA

(assistencialismo, empobrecimento cultural)

INGERÊNCIA INTERNACIONAL

FORÇAS ARMADAS – DIPLOMACIA

(segurança interna e externa)

INSEGURANÇA

(violência urbana e rural – ameaças terroristas)

DEFESA GOV. MUNDIAL

REVOLUÇÃO TECNOLÓGICA, DEFESA E SOCIEDADE

RECOLONIZAÇÃO OU NOVA FACE CORSÁRIA?

(Interna – Externa)

+

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se transforma em poderosa ferramenta, através de ONGs, missões e ambientalistas, a

serviço dos interesses internacionais, afetando negativamente a Soberania, as Forças

Armadas e a Diplomacia ao fragilizar as fronteiras físicas, jurídicas e metafísicas, atingin-

do de forma deletéria a segurança interna e externa do Estado. Instala, geralmente, maior

dependência através do assistencialismo e do empobrecimento cultural, causando o apa-

recimento da insegurança geradora da violência (urbana e rural), ameaças e práticas ter-

roristas. Compõem desse modo, elementos favoráveis à ingerência internacional na frágil

Defesa em favor do almejado Governo Mundial, configurando um novo processo de reco-

lonização ou uma nova face corsária (Wesley, 2011), conforme se pode observar no Qua-

dro 3 e no Mapa 3.

As características do Ciberespaço fazem com que a internet dificulte estabelecer

um centro de comando nos moldes da versão tradicional de território físico delimitado, e

cuja inexistência acarreta certa indefinição penal diante da complexidade residente no

caráter internacional da rede, afetando o Estado em seu território, na sua economia, no

seu espaço rural e na sua sociedade, ultrapassando fronteiras e limites culturais e políti-

cos, como se verifica na presença de ONGs internacionais e nacionais que vêm ocupando

vazios do poder.

Porém, a crescente utilização da internet e a aquisição de objetos ligados à área da

informática não significa produção de conhecimento, muito menos de conhecimento cien-

tífico. Resulta, sim, em dependência tecnológica e endividamento e pode fazer parte de

uma orquestração externa que visa a impedir o acesso a tecnologias sensíveis, às quais o

governo se submete, mantendo o sistema de ensino no nível mais raso possível, através

do estímulo a conteúdos escamoteados (homossexualismo, preservação ambiental, dan-

ças, esportes, etc.) e agravados pelo sistema de quotas (Wesley, 2011a).

No território cibernético se configura uma das principais ameaças para a Seguran-

ça Nacional, uma vez que as ações militares estão cada vez mais dependentes do apara-

to tecnológico e por mais armamentos que se tenha nas Forças Armadas nunca se estará

seguro contra os ataques cibernéticos ou ao ciberterrorismo, cujas ameaças vão desde a

interrupção da eletricidade, apagão na rede bancária, ou sítios e redes institucionais de

conhecimentos estratégicos por um único individuo. No Brasil cerca de 400 mil ataques a

computadores foram registrados em 2011 pelo Gabinete de Segurança Institucional da

Presidência da República (GSI) através do Centro de Estudos, Resposta e Tratamento de

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Incidentes de Segurança (CERT), que reúne notificações sobre a guerra cibernética, de

ataques eletrônicos em todo o país.

A crueza desse cenário coloca em evidência a vulnerabilidade brasileira diante do

despreparo que permeia a incapacidade produtiva existente no âmbito caótico da Educa-

ção, configurando uma assustadora fragilidade que nasce nos primeiros anos escolares e

alcança o ensino dito superior, apesar de as Forças Armadas terem investido recente-

mente cerca de R$ 6 milhões em programas antivírus e simulações de ataques.

.1 – O Impacto Cibernético na Cultura Nacional

Por sua natureza interdisciplinar a Cultura Nacional é o elemento que fornece su-

porte para todos os estudos científicos quando se busca elaborar um esboço do cenário

nacional.

Tradicionalmente estudada enfocando as estruturas Adaptativa, Associativa e a I-

deológica, toda e qualquer alteração para sua transformação (nem sempre evolução) o-

corria primeiramente sempre na estrutura adaptativa, onde se encontram todas as formas

de produção, trabalho e economia, desencadeando, logo a seguir, mudanças na estrutura

associativa, que contém as relações sociais, os sistemas de parentesco e as alianças

conjugais, e, finalmente, as transformações na estrutura ideológica, constituída pelos sis-

temas de crenças, pela língua, pelos sistemas políticos e pelas artes (Ribeiro, 1972).

A estrutura ideológica sempre foi a última a sofrer alterações, contendo os elemen-

tos mais resistentes às mudanças. O exemplo mais imediato na História do Brasil é o do

africano: arrancado de sua terra e expropriado de sua economia, era vendido como peça,

ignorando-se qualquer ligação afetiva pessoal-familiar. Ao longo dos séculos, somente a

estrutura ideológica permaneceu através do sincretismo religioso que marca profunda-

mente a Cultura Nacional.

O advento da Estrutura Cibernética, gerada pelas transformações tecnológicas, a-

fetando quase simultaneamente todas as demais estruturas, contraria a tradicional forma

de analisar as culturas. A inversão na ordem das estruturas que anteriormente assinalava

alterações, primeiramente na estrutura adaptativa, agora ocorrem na estrutura ideológica

e as consequências são imprevisíveis. Pode-se somente inferir um maior controle sobre a

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sociedade através dos meios de comunicação, o rompimento do modelo político patriar-

cal, o esvaziamento de modelos sociais, alterações nas relações produtivas (trabalho,

economia), radicalização de crenças, novas formas de violência (que vão desde a perda

da privacidade às práticas terroristas), estímulo à importação tecnológica (com a geração

de dependência), e inversão da ordem no modelo de análise tradicional de transformação

cultural até então adotada, enfatizando o fato de muitas vezes não ocorrer transforma-

ção, mas sim a substituição instantânea de elementos simbólicos, como a língua, com

a ressalva de que não basta ter acesso tecnológico: é necessário que este tenha conteú-

do (Quadro 4) sob pena de gerar a exclusão graças ao descompasso entre a velocidade e

a assimilação com que ocorre a informação afetando sobretudo as gerações pretéritas.

Quadro 4

CULTURA NACIONAL

Com o surgimento dos Territórios Cibernéticos, é inevitável o surgimento de uma

nova sociedade, a Sociedade em Rede, onde a Informática é ferramenta ilimitada de tra-

balho, aquisição de conhecimento, informação e mobilização. Nascida no seio da revolu-

ção tecnológica e causando grande impacto nos sistemas de educação e ensino, torna

imprescindível a distinção entre informação e conhecimento.

Elemento interdisciplinar que fornece suporte aos estudos científicos para o

esboço do cenário cultural.

- Maior controle e comunicação; - Rompimento do modelo político patriarcal, - Esvaziamento de modelos sociais; - Alterações nas relações produtivas (traba-

lho, economia); -- Radicalização de crenças; - Novas formas de violência (privacidade, terrorismo); - Importação Tecnológica (gera dependên-cia); - Provável inversão da ordem conhecida (não

basta ter acesso tecnológico: exige-se con-

teúdo).

ESTRUTURA ADAPTATIVA

Produção, Trabalho, Economia

(1ª alteração)

-------------------------------------------

ESTRUTURA ASSOCIATIVA

Relações Sociais, Parentesco,

Alianças

----------------------------------------

(2ª etapa consequência)

ESTRUTURA IDEOLÓGICA

Sistema de Crenças, Língua,

Política, Artes

(3ª etapa - resultado final)

ATUAL

TRADICIONAL

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No espaço cibernético se configura uma nova forma de territorialização, caracteri-

zada pela inexistência de fronteiras onde as pessoas se identificam na rede e desenvol-

vem relações afetivas com o espaço virtual. Nessa sociedade em rede onde a segurança

física leva, de forma ambígua, ao isolamento social, a Cultura vem se firmando fora dos

espaços materiais, moldando outros tipos de produção que independem da referência a

um lugar, conformando um novo processo de conceituação de território onde a cidadania

cibernética difere da igualdade de direitos inspirada na cidadania romana fortalecendo o

ativismo eletrônico, a exemplo dos afiliados e recrutados do Greenpeace.

NOVAS FRONTEIRAS Quadro 5

SUBFRONTEIRA IDEOLÓGICA

(Idéias)

SUBFRONTEIRA ASSOCIATIVA

(Social)

SUFRONTEIRA ADAPTATIVA

(Econômica)

Política mais agressiva Movimentos separatistas Radicalização de crenças Alterações nas Leis Transformação linguística

Ênfase de movimentos Violência urbana e rural Terrorismo e insegurança Novos modelos de família Novos comportamentos

Investimentos estrangeiros Endividamento Despreparo tecnológico Desindustrialização Empobrecimento

SUB-FRONTEIRA CIBERNÉTICA

?

CULTURA NACIONAL – NAÇÃO SEM ALMA OU TRANSIÇÃO?

Na configuração desse cenário são estabelecidos novos parâmetros culturais for-

mados por territórios virtuais ou ciberespaços, geradores de novas fronteiras, caracteri-

zadas por subfronteiras relacionadas às estruturas ideológica, associativa e adaptativa

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que se entrelaçam e formam a subfronteira cibernética. A convergência dessas subfrontei-

ras constitui a atual Cultura Nacional, para os mais pessimistas, em transição, rumo a

uma futura nação sem alma diante da globalização dos comportamentos advindos pela

internet (Wesley, 2010).

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IV - FRONTEIRAS NA REGIÃO NORTE DO BRASIL

Apesar de “batido”, o tema sobre as ameaças contra a Amazônia Brasileira sofreu

reformulação do significado da criação de reservas indígenas no Brasil, quando da assi-

natura da Declaração Universal dos Direitos dos Povos Indígenas – por diplomatas brasi-

leiros – na ONU, sem que a mesma tenha sido alvo de discussão pelos representantes do

povo brasileiro.

O atual quadro do Ministério das Relações Exteriores7 dominado por internaciona-

listas divididos entre alinhados com o bloco sino soviético e os alinhados com o establi-

shement anglo-americano ignora os poucos nacionalistas que consideram a assinatura

daquele documento um crime de lesa-pátria, pois faculta a legitimidade a futuras declara-

ções de independência por parte dos povos indígenas das muitas reservas do Brasil e

que não foi aceita pelos EUA e demais países anglo-saxões com populações indígenas

em seus territórios ou sob seus domínios, não deixando dúvidas sobre o propósito da

mesma como se pode observar nos artigos destacados8:

Artigo 3 - Os povos indígenas têm direito à livre determinação. Em virtude desse

direito, determinam livremente a sua condição política e perseguem livremente seu de-

senvolvimento econômico, social e cultural;

Artigo 4 - Os povos indígenas no exercício do seu direito a livre determinação,

têm direito à autonomia ou ao autogoverno nas questões relacionadas com seus assun-

tos internos e locais, assim como os meios para financiar suas funções autônomas;

Artigo 30 - Não se desenvolverão atividades militares nas terras ou territórios

dos povos indígenas, a menos que tenham solicitado;

Artigo 36 - Os povos indígenas, sobretudo os separados por fronteiras interna-

cionais, têm direito de manter e desenvolver contactos, relações e cooperação com ou-

tros povos, através das fronteiras.

Para dirimir a contradição de vários artigos com os princípios da Constituição Brasi-

leira, o Congresso introduziu, em 2004, um dispositivo no parágrafo 3º do Artigo 5º da

7 Responsável pela condução da política externa brasileira a cargo do Itamaraty (nome do palácio no Rio de Janeiro que abrigou o MRE até 1970).

8 Declaração Universal dos Direitos dos Povos Indígenas

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Constituição que dá aos tratados internacionais sobre direitos humanos equivalência a

emendas constitucionais, quando aprovados pelas duas casas do legislativo e por três

quintos dos votos, caracterizando uma manobra furtiva, aprovando-o em meio a um paco-

te de reformas do judiciário que liberou a pseudo legitimidade deste ato e refletindo com

clareza o histórico degradante do legislativo onde o voto favorável é acessível e barato

para a WWF, Greenpeace e Survival International.

As áreas fronteiriças entre a Amazônia brasileira e os demais países sul america-

nos se revestem de alta complexidade, desafiando generalizações estáticas e estadistas

que muitas vezes traem os preconceitos deixados pelo período colonial, ou evidenciam o

poder de um discurso ambientalista vigente, a exemplo dos discursos sobre os povos in-

dígenas, que marcam fortemente os estudos da Região Amazônica, em geral, distancia-

dos das estratégias e práticas dos atores locais e da mobilização transnacional que trans-

cende tanto as instituições formais do Estado, como as restrições legais, afastados da

realidade das comunidades e habitantes locais.

Na Amazônia Brasileira as terras indígenas apresentam a mais grave, urgente e

problemática questão da Amazônia como um todo, diante das discordâncias institucionais

e até mesmo individuais. Não existe, nem na FUNAI, nem entre profissionais voltados pa-

ra as diversas vertentes que o tema requer (antropólogos, economistas, geógrafos, ambi-

entalistas, agricultores, políticos etc.) uma concordância, além de invariavelmente ignora-

rem a premissa de que as Forças Armadas não trabalham para governos. Trabalham para

o Estado Brasileiro e precisam que a sociedade nacional – da qual fazem parte - decida o

que fazer em relação à faixa de fronteira.

Detentora de riqueza incalculável, a região não pode mais ser vista como reserva

intocável. Sua integração em um programa de desenvolvimento em curto prazo é urgente,

diante da evidência cada vez mais clara da cobiça de nacionais e estrangeiros (Wesley,

2011).

Apesar de o Exercito Brasileiro e a Aeronáutica (Sindacta 4) defenderem os princi-

pais pontos, onde os pelotões de fronteira têm uma tarefa decisiva no processo, é impos-

sível garantir a invulnerabilidade das fronteira, seja em trânsito, seja pela possibilidade de

confronto.

A Lei Complementar 117 deu poder de polícia ao Exército na faixa de 150 quilôme-

tros da fronteira, mas não os meios para a atuação eficiente. Um tenente do Exército é

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formado para guerra e não para averiguar documentação de transporte de madeira. Isso

não esta no currículo das escolas militares e cabe mais aos agentes da Polícia Federal,

do IBAMA e da Receita Federal.

Para a fronteira de Roraima, por conta de divergências entre países vizinhos, foi

enviada a 1ª Brigada de Infantaria de Selva, antecipando a importância da vivificação da

fronteira no arco fronteiriço.

Mapa 4

A reserva Raposa do Sol (Mapa 4) se localiza numa

área que já foi motivo de disputa no episódio conhecido por

Questão do Pirara. Foi resolvida por arbitragem pelo Rei da

Itália, em 1904, numa decisão inesperada em que o Brasil

perdeu parte do seu território, cerca de 19 630 Km², embora a

Inglaterra não tenha ficado com toda a área reivindicada

(33.200 Km²)

.

Apesar de os argumentos brasileiros, defendidos por Joaquim Nabuco e sob instru-

ção do Barão do Rio Branco, serem impecáveis do ponto de vista histórico e jurídico, as

pressões inglesas sobre o Rei de Itália foram decisivas. A Inglaterra alegou o mesmo mo-

tivo de hoje: a proteção aos índios (os povos em questão eram o Macuxi e o Tuxaua).

A disputa começou a partir das expedições de Robert Hermann Schomburgk, ale-

mão a soldo da Royal Geografic Society, cujos relatórios de duas expedições (1835-36,

1837-38), despertaram o governo britânico para o potencial da zona, que resolveu tomar

sob sua proteção os povos da área. Este trabalho foi facilitado pelos esforços do pastor

Thomas Yould da Church Missionary Society, que fundou uma missão (1838) próxima do

Forte São Joaquim, mas foi prontamente expulso do território9.

A divulgação da Church Missionary Society de denúncias de escravidão deu ao

primeiro-ministro Palmerston (1840) a desculpa para expedir uma mensagem do governo

da Guiana ao governo brasileiro em Março de 1841, notificando-o da oposição britânica à

presença de brasileiros no território e pedindo que o comandante deixasse o mesmo em

quatro meses, pedido reforçado em dezembro do mesmo ano por um ultimato em que

9 O forte recebeu reforços após o episódio, passando a sua guarnição a 10 homens, e o frei José dos Santos Innocentes se instalou na área para catequizar os

silvícolas.

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Londres ameaçava bloquear os portos brasileiros e ocupar a área com militares. Ao ulti-

mato se seguiu a ação, e em 14 de Fevereiro de 1842 chegou um destacamento militar de

40 homens ao local, obrigando a retirada e o abandono do forte no dia 27, apesar das

tentativas de negociação do comandante.

O presidente do Grão-Pará, Bernardo Sousa Franco, reagindo a esse movimento,

enviou 100 homens e pediu autorização ao governo central para atacar, mas nunca rece-

beu a resposta. O destacamento inglês ficou na área até setembro e Schomgburgk conti-

nuou a colocar marcos na fronteira.

O Brasil vivia um momento de imensas dificuldades10 e os temores do governo de

uma guerra diante da fragilidade à unidade nacional naqueles idos, fez com que o gover-

no propusesse a neutralização do território no princípio de 1843, aceita pela Grã-Bretanha

em 29 de agosto do mesmo ano.

A questão permaneceu suspensa até 1904, com nova investida dos ingleses a pre-

texto de um suposto pedido de proteção dos índios à coroa britânica.

Convém lembrar que além do país viver uma crise econômica que restringiu os

seus orçamentos, como consequência das políticas econômicas adotadas durante a pr i-

meira década da república, as Forças Armadas estavam num estado lamentável11.

O Brasil conseguiu que a Grã-Bretanha aceitasse o arbitramento da disputa e foi

escolhido o rei Vitorio Emanuel III, que, novamente, diante de pressões, ignorou os argu-

mentos de Joaquim Nabuco fundamentados pelos documentos históricos e mapas reuni-

dos por Rio Branco.

Embora a derrota brasileira não fosse total, a Grã-Bretanha conseguiu o acesso in-

direto ao Rio Amazonas através dos rios Mau e Tacutu. Os atores principais da recente

criação da reserva Raposa/Serra do Sol são os mesmos da Questão do Pirara; o Brasil e

a casa de Hanôver, idealizadora e financiadora da WWF e da Survival International.

10 O Brasil vivia a desordem dos tempos da Regência (1831-1840), envolta em inúmeras revoltas civis, como a Guerra dos Farrapos (1835-1845) ao Sul e a Cabana-

gem ao Norte (1835-1840), e além de os ingleses, os franceses ocuparam dois pontos na margem direita do Rio Oiapoque (no Rio Amapá e na Ilha de Maracá), sob o

argumento de defender Caiena, iniciando uma questão resolvida favoravelmente ao Brasil em 1900, graças ao Barão do Rio Branco.

11 A poderosa marinha imperial, que se encontrava entre as cinco maiores do planeta em 1889, foi reduzida a sucata após a Revolta da Armada (1893-4) e a maior

parte dos oficiais foi fuzilada em virtude de ser um bastião monárquico; o orçamento do exército foi diminuído a um quarto do que era no ano final do Império (1889)

nos primeiros dez anos da república, caindo ainda mais com os cortes orçamentários resultantes do acordo do Funding Loan, de 1898 (medida econômica tomada

pelo quarto presidente republicano brasileiro, Campos Sales e seu Ministro da Fazenda, Joaquim Murtinho, em 1898, a fim de estabelecer conversações com os

bancos credores e tentar negociar uma saída para a questão da dívida interna causada pela politica do encilhamento).

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As incertezas hodiernas acompanhadas das ambiguidades da política interna nas

definições das TIs (Terras Indígenas) afetam a política externa quando são estabelecidas

nas fronteiras, sobretudo quando se fixa o fato de que nas regiões Sul e Nordeste as TIs

são pequenas e 30% da população indígena habita áreas urbanas, enquanto no Norte a

Amazônia detém 99% das TIs e a extensão territorial das reservas nas fronteiras a oeste

dessa região fica a mercê de elementos externos como a USAID (Agência de Desenvol-

vimento Internacional), ONGs, instituições privadas e estrangeiras de pesquisas e negó-

cios em diversas áreas vindo lesionar a soberania e a segurança nacional.

A situação atual das Terras Indígenas, conforme dados fornecidos pela FUNAI, a-

presentam 105 milhões de hectares, reservados para cerca de 520 mil indígenas, corres-

pondendo a 12,41% do território brasileiro. Em dados comparativos, a cidade do Rio de

Janeiro apresenta 0,014% do território brasileiro ocupado por mais de 6 milhões de pes-

soas enquanto a cidade de São Paulo mostra 0,018% do território brasileiro ocupado por

mais de 10 milhões de pessoas.

Segundo Bensousan (2009), a prevalência de fraudes nos encaminhamentos an-

tropológicos em consequência das ONGs infiltradas nos quadros funcionais da FUNAI são

indícios marcantes da ingerência, subversão da ordem pública e dos conceitos morais e

éticos que regem os procedimentos antropológicos.

A Amazônia Azul incorporou área de

960 mil km2 à zona de soberania nacional no

mar, hoje de 3,5 milhões de km2, apesar

dessa medida não contar com aval da ONU,

ampliou os direitos do Brasil para exploração

de petróleo e gás.

Mapa 5

Na Amazônia Azul, semelhante ao que ocorre na Amazônia Legal, o vazio de poder

e a porosidade das fronteiras nas 200 milhas, favorecem as atividades de ONGs estran-

geiras, pirataria e práticas terroristas .

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A delicadeza dessa realidade agrava a situação regional e o país e os índios não

podem ficar a reboque do laudo de um antropólogo ou opinião isolada, por mais bem in-

tencionada que seja, e os resultados desastrosos já se fazem sentir.

Na Raposa Serra do Sol, a segregação é mais perigosa porque se acredita que a

maioria dos índios desejasse a permanência de não índios indicando um processo de in-

tegração o que não significaria apagar a cultura indígena (Wesley, 2011).

Em julho de 2002 o Presidente Fernando Henrique Cardoso, para honrar compro-

misso formal – “conservar” 10% do território nacional – com o príncipe Philip, fundador e

presidente Emérito do WWF, bem como justificar sua presença na RIO+10 em Johannes-

burg, criou o Parque Nacional das Montanhas do Tumucumaque, com 3,8 milhões de hec-

tares (38.000 km²), equivalente ao território da Bélgica, na região fronteiriça com a Guia-

na Francesa e a reserva indígena (Mapa 4) que abriga os Tiriyó, Apalaí, Wainá e Kaxuia-

na, esta contígua ao Suriname (Wesley, 2009).

Pelo fato de estar na

fronteira, se o índio não for

integrado à sociedade nacio-

nal, será, fatalmente, integrado

a outra sociedade, deixando

de ser brasileiro, embora habi-

tando o território do país (Fi-

gueiredo & Folha, 1977), re-

metendo a uma questão de

Segurança e Soberania, como

se pode aferir nos exemplos

dos Tiryó (Mapa 6) e dos cha-

mados Yanomami.

Mapa 6

No Tumucumaque os Tyrió foram absorvidos pelas missões protestantes do Suri-

name (Folha, 1987), e a desastrosa retirada de produtores da Raposa Serra do Sol, arru-

inou o processo de integração entre índios e arrozeiros que há muito tempo conviviam

em harmonia e em pleno processo de integração.

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A busca histórica de internacionalização da Amazônia constitui uma ameaça real à

soberania nacional e requer a urgente e imprescindível compreensão das ameaças a es-

sa região, como um dos maiores legado de nossos antepassados, cuja obra nenhuma

geração pode rejeitar e negar o usufruto às gerações posteriores, conforme vem ocorren-

do.

Nos 11 mil quilômetros de fronteiras internacionais na Amazônia, quase totalmente

ocupados por reservas indígenas, o vazio da presença do Estado vem sendo ocupado

pelo Exército, mas a missão se torna mais difícil pela ausência de povoados civis inviabili-

zados pela demarcação de terras indígenas.

Atualmente o Programa Calha Norte tem mais de 800 convênios, alguns ligados às

Forças Armadas, mas a maioria referente a atividades civis desenvolvidas pelas pref eitu-

ras nos Estados. Inclui alguns pelotões de fronteira, como a construção da base de uma

Brigada que será sediada na cidade de Barcelos (AM).

Os frequentes documentários sobre a devastação da Amazônia exibidos na Europa

(RTP 2) estão repletos de conselhos, através de ativistas, para que se deixe de consumir

carne brasileira, por ser a mesma a principal causa da destruição. Provavelmente esses

ativistas nunca estiveram no Brasil e muito menos estudaram essa questão da qual falam

cheios de certezas. Mas, como tantos especialistas, levantam a hipótese de estarem sen-

do regiamente pagos.

Não se trata aqui de desejar destruir a Amazônia, mas sim de querer que continue

sendo do Brasil. Para tal, urge reforçar a lei fundiária e levar o Estado, de fato, para a

Amazônia, hoje território de ninguém nas reservas indígenas, na floresta e nas zonas de

atuação do MST, estes últimos, os mesmos que se arvoram de defensores daquela re-

gião e lutam para que isso não aconteça.

Os conflitos na área da reserva Raposa Serra do Sol continuam a aumentar, ape-

sar da expulsão dos "brancos" da área e ao contrário do que havia sido propagandeado

como sendo o objetivo da criação do jardim antropológico, justificado em teses que po-

dem ser resumidas em poucas palavras: discriminação racial, eugenia, tribalismo.

Os conflitos que envolvem a Polícia Federal e o Exército de um lado, e os brasilei-

ros silvícolas de outro, giram em torno da questão do garimpo que prolifera na área, ape-

sar de ser ilegal, conforme o estatuto da reserva, devido à destruição da agricultura nos

cerrados da região.

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A opção agora é o garimpo, ilegal, ou a fome, que será aproveitada como arma de

propaganda, e alguns grupos já pensam em trazer o MST à região para ajudar na produ-

ção agrícola. O conhecido MST, que nada produz nas suas terras - a não ser conflito - e

depende por completo da ajuda federal para alimentar os seus bate-paus.

Tem-se a desmistificação das fraudes praticadas por antropólogos prestadores de

serviços à FUNAI, para dissimular os atos ilícitos e culpando toda a sociedade pela misé-

ria e a desagregação cultural indígena. Essas práticas precisam ser difundidas, pois refle-

tem a irresponsável impunidade que campeia no país, permitindo o perigoso desmonte e

banalização das instituições no continuado crime omissivo (Besausan, 2009).

Embora se reconheça que o Brasil tem o melhor combatente de selva do mundo e

tenha aperfeiçoado, do ponto de vista estratégico, o dispositivo militar inspirado na ocupa-

ção dos fortes portugueses, o mérito maior é a profunda ligação com a região, onde as

Forças Armadas se encarregam de ser o governo, de ser o Estado na Amazônia. Em mui-

tos lugares são a única presença do Estado. Isso confere grande conhecimento da área e

uma profunda ligação com a população, apesar das deficiências, da falta de investimentos

e da falta de recursos.

A crença de que o controle da fronteira exige grande número de soldados pode ser

uma visão equivocada. Enquanto a Amazônia tem 11 mil quilômetros de fronteira, entre o

México e os Estados Unidos essa extensão é de 2.500 quilômetros, numa área de fácil

acesso e controle. Mesmo assim, o norte-americano não conseguiu controlar essa faixa

de fronteira.

O que realmente dá efetividade ao controle das fronteiras é o trabalho conjunto do

Exército, Polícia Federal, Receita Federal, IBAMA e FUNAI, além de equipamentos com

plataformas altamente móveis, respaldando os pelotões de recursos compatíveis com o

século XXI.

Além de repetir enfaticamente a necessidade do entendimento consistente em que

as Forças Armadas não trabalharem para governos e sim para o Estado Brasileiro, é ne-

cessário que a sociedade nacional – da qual fazem parte inseparável - decida o que fazer

em relação à faixa de fronteira, impõe-se o reconhecimento do fato de que não existe

uma nação indígena. Existem etnias que vivem em tribos.

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A instalação de bases militares norte-

americanas (Mapa 7) na Colômbia: de 3 bases

aéreas, de 2 bases navais - no Atlântico e no

Pacífico - e de 2 terrestres, sendo que uma das

bases aéreas tem capacidade para receber avi-

ões de transporte estratégico C-17 (Palanque-

ro), equipamento utilizado somente em campa-

nhas militares de grande intensidade, não com-

bina com a ameaça representada pela guerrilha

ou por Chavez12.

Mapa 7

A Venezuela sofre para adaptar o emprego das suas forças ao armamento russo e

chinês e enfrenta grande dificuldade logística com as compras de armas recentes e a ma-

nutenção de caças Sukhoy 30, evidenciando sua dependência tecnológica.

Na realidade a Venezuela não oferece risco militar significativo para nenhum país,

incluindo a Colômbia13. A crise econômica e a queda do preço do petróleo vêm afetando

os planos de equipamento futuros e a possibilidade de uma invasão terrestre torna-se im-

provável.

A disposição das bases americanas no continente aponta para região da Cabeça

do Cachorro, no Brasil, e nada têm a ver com a Venezuela e o maior risco que Chavez

representa é o político. A guerra contra o narcotráfico e a ameaça chavista não justificam

esse gigantesco dispositivo14.

Todavia, não é de bom tom considerar essas reflexões como antiamericanismos. A

admiração pela República Americana estará sempre preservada dos banqueiros eugenis-

tas do stablishment Anglo-Americano que se aproveitam dessa potência para direcioná-la

contra os demais países, enfraquecendo a liberdade americana.

12Chavez fez muitas compras de armas, destacando-se a aquisição de 24 Sukhoy 30MK2, com a possibilidade de se chegar a 150, de radares tridimensionais

chineses, sistemas Tor-M1 de defesa aérea russos e 100 mil fuzis AK-103. Existem informações sobre o desejo de comprar armas mais sofisticadas.

13 O simples deslocamento de um porta-aviões Nimitz para a costa venezuelana bastaria para destruir toda a capacidade aérea e grande parte da infraestrutura do

país, incluindo as estradas principais, e garantiria a defesa do seu aliado colombiano em caso de ataque.

14 Isto deveria levar os americanos, na pior hipótese, a concentrar a sua infraestrutura em Cartagena e na Zona de Guajira, de onde poderiam atacar Maracaibo e

Caracas, defendendo-se com baterias Patriot e misseis anti-aéreos, além de conter qualquer invasão terrestre pelo norte junto aos aliados colombianos.

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Qualquer estudo sobre as chama-

das reservas indígenas brasileiras na A-

mazônia deve, prioritariamente, considerar

a extensão das mesmas, destacando as

localizadas nas Faixas de Fronteiras, zo-

nas sensíveis para as Forças Armadas,

formando verdadeiros territórios contínuos

como se pode observar nos mapas 8 e 7.

Mapa 8

Mapa 9

A extensão da Reserva Rapo-

sa do Sol vai desde a fronteira com a

Guiana15 até a zona da Cabeça do

Cachorro, na fronteira com a Colôm-

bia. Visto que a área intermediária

entre as reservas da Cabeça de Ca-

chorro e a Reserva Yanomâmi se

encontra em processo de se tornar

nova reserva (a Cué-Cué Marabita-

nas), mais ao leste, no estado de

Roraima, o território entre a Reserva

Raposa Serra do Sol e a Reserva

Yanomâmi está pontilhado de encla-

ves.

Por outro lado, a antiga desconfiança boliviana é dispensada ao Brasil, desde os

tempos coloniais, diante da percepção de uma futura expansão para o Oeste em busca

de uma saída para o Pacífico, absorvendo o Alto Peru (atual Bolívia, quando o Peru inclu-

ía também o Paraguai), a Argentina e a Província Cisplatina (atual Uruguai) a fim de ga-

rantir a ligação da costa brasileira com o interior da América do Sul pela Bacia do Prata.

15 País onde grandes áreas estão sob controle da WWF ou são territórios indígenas.

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A expansão do Brasil para o Oeste somente ocorreria no final do século XIX, com o

boom da borracha, quando os brasileiros compunham a maioria da população do Acre,

até então boliviano, na maior parte e também envolvido em disputas com o Peru.

O reconhecimento de que só recentemente as regiões Norte e Oeste estão sendo

ocupadas, especialmente a Amazônia, deve-se a uma mudança do processo econômico

que superou o extrativismo, quebrando o isolamento com o Sul e Sudeste do país, inicia-

do com a construção da Belém-Brasília. Embora estivesse presente na visualização dos

grandes problemas desde o período colonial, a ocupação do Norte ficou condicionada

pelas limitações e características temporais que transformaram o Brasil Amazônico em

região exportadora de toda a produção e importando para próprio consumo, sendo por

isso a mais penalizada das regiões, pelas variações do mercado internacional (Osiris da

Silva, 1962, p. 63).

O desinteresse do governo Central na questão do Acre demonstra claramente o

descaso do Poder Central da República pelo Norte, ante o despudor da interferência nor-

te-americana que explode com a entrega do Acre ao Bolivian Sindicate, chefiado pelo filho

do então presidente Roosevelt, tendo como figura de proa o embaixador boliviano Felix

Aramayo. Somente depois do comunicado do então Ministro das Relações Exteriores Ba-

rão do Rio Branco (24 de Janeiro de 1903), observa-se uma mudança na atitude do Go-

verno Federal, concretizada no Tratado de Petrópolis (Wesley, 1997).

Rio Branco conseguiu evitar a arbitragem do problema pela Inglaterra, alternativa

sugerida pelo Barão Rothschild, o maior credor do Brasil (cujo filho, August Belmont, era

acionista do Bolivian Syndicate), e a intromissão do governo de Theodor Roosevelt (seu

primo, W.E. Roosevelt, também acionista da companhia), negociando diretamente com o

governo boliviano, numa ação que exigiu extraordinária habilidade diplomática e pressão

militar. O envolvimento dos EUA e da Inglaterra na questão, poderia levar à abertura do

rio Amazonas, necessário à ligação do Acre com o Atlântico.

Com a incorporação do Acre ao país, a navegação do Amazonas permaneceu ex-

clusiva do Brasil.

Recentemente, contando com o apoio do governo brasileiro, Evo Morales, presi-

dente boliviano, expropriou a Petrobrás na Bolívia, invadindo as refinarias com o exército.

Questiona frequentemente a posse do Acre e começa a expulsar brasileiros dos territórios

limítrofes, instalando cocaleros no seu lugar e trazendo a produção do alcaloide para as

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fronteiras do Brasil (Defesa Net, acessado em agosto/2012). O mesmo ocorre com o Pa-

raguai depois que o ex-presidente Lugo - frequentador assíduo do Foro de São Paulo -

anulou a dívida com o Brasil para dispor como desejar a energia de Itaipú, construída com

dinheiro brasileiro após a hábil negociação do Embaixador Gibson Barboza, e deu início

ao processo de expulsão de centenas de milhares de agricultores brasileiros .

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V - SOBERANIA E DEFESA DIANTE DA FRAGILIZAÇÃO DE UMA NAÇÃO: o desman-

telamento das Forças Armadas e debilidade da Diplomacia

O divórcio ocorrido a partir dos anos 90 entre Diplomacia e Forças Armadas acen-

tua-se no início do século XXI, trincando a união histórica entre as Forças Armadas e a

Diplomacia, em face da diplomacia presidencial, que funciona como cunha geradora do

afastamento do corpo diplomático das Forças Armadas, colocando à deriva a Soberania e

a Segurança e enfraquecendo o PN (poder nacional), graças aos desacertos diplomáticos

gerados na diplomacia presidencial, marcada por descaso nas questões orçamentárias e

pelo ranço histórico que se estabeleceu pós-período militar.

Em nome da economia, dentre centenas de ações negativas promovidas contra as

Forças Armadas, chegou-se ao ponto de interromper a continuidade na formação anual

dos nossos contingentes de reservistas, podendo com tal irresponsável ato produzirem

sérias consequências para a integridade territorial do país se houver necessidade de uma

mobilização em caso de guerra.

Os inúmeros cortes de verbas e o prejuízo na preparação das turmas de aspirantes

a oficial das academias militares de Agulhas Negras, Pirassununga e da Escola Naval

quebram a continuidade na formação de toda a cadeia de comando, que vai dos tenentes

aos oficiais generais.

Dentro da lei, o limite acima citado, a ser entendido como Estado de Necessidade,

deve obrigatoriamente ter que existir, e se o foi – atingido - os chefes militares deixaram

de cumprir com suas missões constitucionais. Em um trecho da carta enviada aos gene-

rais do Exército em 12 de outubro 2002, pela diretoria da ASMIR-PR (Associação do Mili-

tares da Reserva do Paraná), Coronel - Oficial de Estado Maior, Roberto Monteiro de Oli-

veira, pode-se ler:

“(...) E, se esta nossa avaliação for correta, já estamos perigosamente

próximos da situação extraordinária que São Tomás de Aquino e também o nos-

so Direito Positivo define como Estado de Necessidade, em que todos os fatores

adversos atingem um nível de gravidade e complexidade tão agudo que se po-

tencializam entre si, o que tende a engendrar um cenário tão excepcional que dá

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origem ao chamado Estado de Necessidade, no qual as avaliações, os juízos, os

conceitos, as decisões, e até os atos devem estar referenciados a parâmetros de

hierarquia superior, filosófica, quase de ordem metafísica, acima, portanto, das

normas, regras, valores e até dos princípios normais do Direito Positivo Salus

Patriae Suprema Lex.

E esse Estado de Necessidade pode — in extremis — tornar lícita (para

alguns até mesmo um dever) a desobediência civil contra o tirano injusto que

quer destruir a Pátria (...)”.16

Os sucessivos governos, neoliberais ou assemelhados, colocaram em risco a segu-

rança do Estado e o patrimônio nacional ao desmobilizar e desarmar criminosamente as

Forças Armadas, sem que ocorra uma insurreição, de ofício, por parte de seus coman-

dantes, dentro do que prevê a Constituição da República, a Lei de Segurança Nacional e

o Código Penal Militar.

Conforme Fregapani (2012), os alertas feitos publicamente por generais do Exérci-

to de que só há munição para uma hora de combate, torna-se mais alarmente diante da

constatação de que a única fábrica de munição não ser nacional, estar sediada em um

paraíso fiscal e o próprio Exército bloqueiar, de forma inexplicável, a fabricação de muni-

ções nacionais, desconsiderando os avisos às pressões do FMI e demais esquemas da

oligarquia financeira transnacional, quando tem seus interesses contrariados e passam a

urdir a substituição de gestores.

Em 1982, ficou estabelecido nos termos do Consenso de Washington, além da cri-

ação do Ministério da Defesa, o da submissão do Brasil ao Regime de Controle de Tecno-

logia de Mísseis.

O tanque de combate EE-T1 Osório, desenvolvido pela extinta Engesa S/A, parte

do emergente complexo industrial militar brasileiro, é um dos melhores exemplos para

denunciar essa política que submete as FFAA ao contínuo desarmamento e a dependên-

cia da boa vontade de governos estrangeiros para o fornecimento, através das Comissões

16 Ao lançar mão deste Direito o ex-ministro da Aeronáutica, Brigadeiro Werner Brauer, quando FHC, para humilhar as FFAA, nomeou para o recém criado Ministério

da Defesa um elemento civil, desqualificado e supostamente ligado a atividades ilícitas no Estado do Espírito Santo. Werner Brauer, corajosamente, denunciou o ato,

mas, desgraçadamente, foi abandonado por seus pares e por isso exonerado.

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Mistas de Compras no exterior, de suprimentos e de material bélico caro, inadequado e

ineficiente17.

Segundo declarações de um engenheiro de armamentos, ex-executivo da Engesa:

“Nesse momento as luzes de emergência se acenderam no governo americano. A

primeira consequência foi a surpreendente declaração de que a concorrência chegava ao

fim com dois produtos possíveis de serem comprados, de acordo com o anúncio feito em

Riad pelo ministro da Defesa, príncipe Sultan Azsiz Abdulazis. Essa foi a forma encontrada

para ceder às pressões de Washington e manter o M1-A1 no páreo. Na época, começou a

circular no Senado e na Câmara um documento conclamando senadores e deputados a se

envolverem no processo para impedir o fechamento da ENGESA, as demissões de traba-

lhadores e a perda de mercados cativos caso a encomenda do Osório não fosse concreti-

zada com a Arábia Saudita, país nem sempre amigo.” (entrevista para o jornal O Estado de

São Paulo de 10/11/2002).

Em 1991, com o fim da ENGESA, articulado pelo governo dos EUA com a colabo-

ração do governo brasileiro, o Exército ficou sem um fornecedor nacional de um tanque

de combate do mesmo nível do Abrams norte-americano, do Challenger inglês ou do

AMX-40 francês e de outros carros de combate nacionais, como o Urutu e o Cascavel18.

A assinatura do protocolo de compra do Osório entre o governo brasileiro e o da

Arábia Saudita foi marcada duas vezes pelo então presidente Fernando Collor de Mello

com o rei Fahd. O primeiro encontro, em agosto de 1990, não foi possível porque o prín-

cipe Sultan quebrou a perna. Em outubro de 1990, Collor anunciou uma nova data e os

nomes da comitiva oficial liderada pelo general Leônidas Gonçalves. A cerimônia seria

realizada em Roma.

Novo cancelamento foi anunciado, por causa da mobilização para a guerra contra o

Iraque. Em novembro daquele ano, a Arábia fez o anúncio de que fecharia o contrato com

a General Dynamics americana.

17 O Brasil, que já esteve próximo de produzir um dos mais modernos tanques de guerra do mundo, hoje voltou a ser um país importador de blindados usados, mal

repotencializados e de segunda linha, como o Obus autopropulsado 105-M-108, porque em 1989 os EUA impediram que a ENGESA vendesse 702 tanques pesados

— os EE-T1 Osório — para o Exército saudita. O contrato de US$ 7,2 bilhões ficou com o grupo americano General Dynamics, fabricante do tanque M-1A1 Abrams,

segundo colocado nas provas de desempenho promovidas pela Arábia Saudita.

18 O EE-T1 Osório pesava 41 toneladas vazio, peso limite para o seu transporte em carretas rodoviárias, usava blindagem de placas duplas, e levava como arma

principal um canhão de 120 milímetros, capaz de disparar munição supersônica. Além disso, incorporava vasta carga eletrônica. O tanque brasileiro era o único dos

concorrentes projetado especificamente para atender às exigências da licitação. Ao final de uma semana de ensaios, o Osório havia vencido todas as provas.

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Soube-se posteriormente, que a formalização para a compra dos tanques america-

nos havia sido concluída antes dos contatos de Collor com o rei saudita.

A ENGESA havia apostado todas as suas fichas no desenvolvimento do Osório,

cuja venda para a Arábia era tida como certa; contraiu uma dívida de US$ 53 milhões que

contribuiu para sua falência, e poderia ser refinanciada, tranquilamente, com o apoio do

governo federal. Entretanto, Fernando Collor não encomendou nenhuma unidade do Osó-

rio para o Exército Brasileiro e a ENGESA desapareceu fechando cinco fábricas e extin-

guindo cerca de 6 mil empregos, com graves consequências econômicas, sociais e milita-

res.

Após este lamentável episódio, o Brasil comprou para o Exército 87 tanques Leo-

pard lAl da Bélgica e 91 M-60 A3 TTS dos EUA e, recentemente, os dois últimos exempla-

res do EE-T1, que faziam parte da massa falida da ENGESA, foram incorporados ao E-

xército Nacional, com autorização judicial, o que conduz a hipótese de que talvez algum

governante já tenha assinado secretamente a nossa rendição, em termos mais vis do que

os do Tratado de Versalhes e o Brasil e suas Forças Armadas não foram avisados.

A recente revisão do conceito de Estratégia Nacional de Defesa (END) parece ter

seu objetivo esvaziado. Um processo desta natureza depende muito do envolvimento da

sociedade civil e da participação dos setores mais dinâmicos e qualificados do país tendo

em vista que o Conceito Estratégico só se torna Nacional a partir do momento em que o

País o assume como seu.

Não é o que se vive. O plano em curso, no Brasil, há muito promove a demolição

das Forças Armadas19 e apesar dos modelos econômicos da geopolítica possuir um mo-

vimento relativamente previsível, nada garante que a ordem internacional se manterá i-

gual nos próximos anos, especialmente se houver uma turbulência suficientemente forte

para desfazer as atuais alianças e abrir espaço para realinhamentos. Se isto acontecer, o

Brasil ficará na posição de uma nação cheia de riquezas e um enorme potencial econômi-

co e militar, uma vez que faz questão de mostrar ao mundo o quanto pode desperdiçar

em eventos como a Copa do Mundo e as Olimpíadas, e anuncia que abdicou da força

19 A substituição por “forças populares”, comum nas ditaduras socialistas encerra elementos funestos.

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como recurso para a resolução de qualquer questão, provando isso através da pauperiza-

ção e desmoralização das suas Forças Armadas.

É uma maneira eficaz de promover a cobiça internacional e atrair o desastre. Além

de sucateadas e mal armadas, as forças militares brasileiras só dispõem de munições

para uma hora de resistência, segundo declarou o General Maynard Santa Rosa ao jornal

O Globo. No caso de uma situação de guerra, teríamos que contar com um grande esfor-

ço diplomático, a fim de ganhar tempo e mobilizar a Nação às pressas para a defesa do

território e o desencanto de alguns faz com que sugiram, talvez, valer mais a pena contar

com o PCC e o Comando Vermelho, se houver uma invasão. É certo que uma ocupação

militar do Brasil por uma força invasora é quase impossível, e que teríamos condições de

expulsá-la depois de imensos sacrifícios da população civil, mas com a destruição de

nossos centros industriais mais importantes, o que mostra o Brasil como um dos países

mais vulneráveis do mundo (Santayana, 2012).

Atualmente a IMBEL, empresa estatal brasileira ligada ao exército, vem sinalizando

o desenvolvimento de um novo fuzil de assalto a partir do MD-9720, cujo nome é A-2, nos

calibres 5,56mm e 7,62mm, este último mais adequado a experiência de combate brasilei-

ra, que não permite a adoção do calibre 5,56mm em todos os teatros de operação que o

território brasileiro comporta21, como se pode verificar na Amazônia Brasileira, atualmente

o teatro de operações mais importante. Os desvios das munições menos pesadas causa-

dos pela densidade da vegetação, elegem o calibre 7,62mm nas unidades como a infanta-

ria de selva.

Mas apesar da penúria por que passam as Forças Armadas desde os anos 90 do

século XX, a pesquisa e o desenvolvimento de armamentos continuam a ser conduzidos

com extremo zelo pelos militares.

Recorrendo a Santayana (2012), pode-se afirmar que a desnacionalização do que

resta de indústria bélica, diante da entrada maciça de empresas estrangeiras, sobretudo

as de Israel, através da aquisição de firmas nacionais ou associações com empreendedo-

20 Parece que o desenvolvimento do mesmo é uma resposta à proposta da Taurus de produzir localmente o fuzil israelita Tavor, no calibre 5,56mm, que só peca por

ser do tipo bullpup. No combate aproximado, tal configuração torna a operação de carregamento problemática por exigir extrema atenção para que o carregador não

se fixe na roupa. A lentidão resultante dessa característica significa muito num combate a curta distância.

21 O 5,56mm cada vez mais usado pelas forças da NATO/OTAN permite que mais munição seja carregada e é menos mortal, causando maiores problemas para os

hospitais de campanha do inimigo, mas exigindo que mais soldados sejam postos fora de combate em operações de resgate.

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res, esvaziam o comando pelo Estado22 na produção de armamentos, contrariando a par-

ticipação direta na indústria brasileira de defesa, e o grau de conteúdo nacional nas en-

comendas que estão sendo contratadas junto a empresas estrangeiras, a exemplo da fa-

bricação de blindados pela IVECO. Em caso de conflito, ou mera ameaça de confronto,

entre o Brasil e qualquer país da OTAN (Europa e Estados Unidos), a produção desses

tanques seria descontinuada, e não teríamos como substituir o material perdido em com-

bate, tal como ocorreu com a Argentina, na guerra das Malvinas23.

O cerco dos países geopoliticamente identificados como ocidentais à indústria béli-

ca brasileira - das empresas que desenvolveram tecnologia militar - nos últimos anos fica

evidente no controle adquirido por grupos internacionais recentemente. Apossaram-se,

assim, do conhecimento desenvolvido por técnicos e engenheiros brasileiros, e agora po-

dem decidir, conforme a orientação estratégica dos governos de seus países de origem, o

limite dessas empresas no desenvolvimento de novas tecnologias bélicas.

Atualmente, seja na área de blindados, na aviônica, na optoeletrônica (como é o

caso de periscópios) ou de aviões robóticos não tripulados, os israelenses – e, por meio

deles, também seus aliados norte-americanos - monitoram tranquilamente cada passo do

Brasil nessas áreas e o lucro do baixo investimento feito por mult inacionais estrangeiras

está assegurado por encomendas já contratadas, pela Marinha, pelo Exército e pela For-

ça Aérea. Em muitos casos, nossas forças armadas já desenvolviam sistemas em parce-

ria com as empresas que estão sendo desnacionalizadas, quando ainda estavam sob

controle local.

Vale, porém, ressaltar que após o período dos governos militares o escasseamento

orçamentário e o engavetamento dos projetos sob a alegação da falta de ameaças e ini-

migos, enfraqueceram os argumentos militares para o sistema de Defesa. Mas isso serviu

para impulsionar o desenvolvimento da tecnologia e da indústria no meio militar, apesar

da atual ameaça proveniente da crise econômica europeia e norte-americana que sufoca-

das pelos cortes nos gastos, atiram-se vorazmente sobre os mercados com preços altos

para cobrir os investimentos feitos. Tropeçam, no Brasil, nas prioridades estabelecidas na

Estratégia Nacional de Defesa/Lei 12.598/2012 (fomento da indústria nacional de defesa e

22 A cada ano, devido à Amazônia e ao Pré-sal, entre outras razões, cresce a importância de a Nação aumentar (como acontece na Europa com complexos industri-

ais militares como a EADS, a Navantia e a Finmecannica) a participação direta do Estado na indústria brasileira de defesa, e o grau de conteúdo nacional nas enco-

mendas que estão sendo contratadas junto a empresas estrangeiras.

23 A fabricação de 2000 blindados ligeiros Guarani no município de Sete lagoas – MG pela IVECO prevê que apenas 60% das peças sejam fabricadas no Brasil.

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a geração de emprego e renda no País) e na emergência de uma nova política que tem

como representantes principais a ORBISAT, fabricante de radares, comprada pela Em-

braer no ano passado24, e a THALES com o objetivo de expandir os negócios da área de

aviões militares para as forças terrestres e navais (http://www.defesabr.com/blog, 2011).

A Embraer Defesa e Segurança escolhida pelo Exército Brasileiro para executar o

projeto piloto do SISFRON (Sistema de Monitoramento de Fronteiras, Mapas 10 e 11),

contempla contempla, uma área de aproximadamente 600 quilômetros de fronteira terres-

tre, na fronteira do Estado do Mato Grosso do Sul com o Paraguai e a Bolívia. Prevê, ain-

da, o monitoramento de uma área de quase 17 mil quilômetros quadrados de fronteira

seca, envolvendo dez países sul-americanos e onze Estados brasileiros e poderá envol-

ver uma área de até 900 quilômetros, devido aos sensores, que contemplarão toda a área

de responsabilidade do Comando Militar do Oeste.

Mapa 10 Mapa 11

A recém-criada SAVIS, (Secure Advanced VISA Issuing System)25 conforme infor-

mação da EMBRAER atuará na gestão integrada de projetos de monitoramento e controle

de fronteiras, estruturas estratégicas e recursos naturais. A fabricante brasileira de aviões

informou que a SAVIS foi criada com o objetivo de fazer frente às necessidades nacionais

no setor de defesa e segurança e consequentemente estimular o desenvolvimento tecno-

24 Desenvolvem radares para o Exército que enxergam sob as copas de árvores da Amazônia e forneceram ao Exército 11 radares antiaéreos e 6 comandos de

operação de artilharia antiaérea, um dos 7 projetos estratégicos da força.

25 Foram desenvolvidas pesquisas para determinar como atingir um elevado grau de segurança para a emissão de Visto necessário no controle fronteiriço a fim de

minimizar as vagas de migração ilegais e o crime organizado.

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lógico nacional, inclusive para posterior exportação, fortalecendo assim a indústria nacio-

nal e a balança comercial brasileira.

O projeto SISFRON também atraiu o interesse das grandes empreiteiras brasilei-

ras, que se associaram a grupos de defesa estrangeiros para participar da concorrência,

mas a vitória da Embraer nessa primeira etapa do projeto demonstra que o governo prio-

rizou o nível de conteúdo nacional oferecido pelas empresas que disputaram a licitação,

confirmando as declarações do presidente da Embraer Defesa e Segurança, Luiz Carlos

Aguiar, ao assegurar que um dos principais diferenciais da proposta apresentada pela

empresa era o nível de conteúdo nacional com índice de 60% exigido pelo Exército Brasi-

leiro.

Talvez esses novos fatos possam atenuar a aprovação desastrosa ocorrida no Go-

verno de Fernando Henrique Cardoso, da emenda constitucional que transformou para

todos os efeitos, em brasileira qualquer empresa instalada no Brasil - mesmo que contro-

lada por capitais públicos ou privados estrangeiros – por mais que se esforce o atual go-

verno não consegue impedir o processo de desnacionalização e em alguns casos a fabri-

cação de armamentos é feita – sem subterfúgios ou hipocrisia – por empresas diretamen-

te controladas por governos estrangeiros.

Esse é o caso da DNCS, Direction des Constructions Navales, – que tem 75% de

suas ações nas mãos do governo francês26. Para Santayana (2012), a estratégia dos Es-

tados Unidos e da Europa Ocidental, com relação ao Brasil, está cada vez mais clara,

conforme se pode observar nos itens elencados pelo Autor como segue:

- Impedir o desenvolvimento de tecnologia nacional própria, com a compra de qual-

quer empresa que procurar desenvolvê-la;

- Associar-se à empresa que não se puder comprar, oferecendo cooperação no

desenvolvimento da tecnologia, com o intuito aparente de ajudar o país a queimar etapas,

mas, na verdade, para impedir que qualquer avanço se faça à sua revelia, sem a sua vigi-

lância ou participação.

- Impedir que o dinheiro gasto com o reaparelhamento das Forças Armadas chegue

às mãos de empresas sob controle nacional, e que esse dinheiro não seja investido para

26 Associou-se à Odebrecht, para construir, em Itaguaí, no Rio de Janeiro, quatro submarinos da classe Scorpéne, e mais o casco do futuro submarino nuclear

brasileiro – encomendados por 7 bilhões de dólares, através de contrato- negociado pelo então Ministro da Defesa Nelson Jobim

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avanços de caráter tecnológico que coloquem em risco a hegemonia de suas empresas

no mercado brasileiro e no exterior.

- Cooptar, com associações ou contratos de representação e de “lobby”, pessoal

da reserva das forças armadas, principalmente ex-adidos militares brasileiros no exterior,

para vender, como uma coisa ideologicamente natural, a associação do Brasil com em-

presas ocidentais para a produção de armamento, de forma a impedir que a Nação recor-

ra a outras opções.

- Impedir a reunião, coordenada, de pequenas empresas brasileiras de grande po-

tencial tecnológico, em grandes consórcios industriais militares de inspiração ou controle

público, como os que existem no Ocidente, como a Lockheed Martin, ou a própria EADS.

- Diminuir, via participação na maioria dos contratos, a realização de parcerias en-

tre empresas brasileiras de defesa de qualquer porte e empresas não ocidentais, como as

existentes nos países BRICS, e, se não puder impedir a cooperação entre uma empresa

brasileira de defesa e uma congênere do BRICS, estar presente acionariamente ou como

participante do projeto, do lado brasileiro, para “controlar” essa aproximação.

- Estabelecer, coordenadamente, via supervisão dos métodos de produção e ad-

ministração e baixos índices de conteúdo nacional, um alto grau de dependência da in-

dústria nacional de defesa com relação aos seus “parceiros” e controladores ocidentais,

tornando-se capaz de paralisar as linhas de montagem de seus armamentos em nosso

país, em caso de conflito, ou de potencial conflito, entre o Brasil e esses países.

A legislação perversa, do ponto de vista da defesa do capital nacional, obrigada a

concorrer com empresas que contam com acintoso apoio – direto e indireto – dos gover-

nos de seus países de origem, e as agências reguladoras nacionais, incluindo o CADE,

não fazem nenhuma distinção entre empresas de capital nacional ou estrangeiro, até

mesmo quando grandes grupos autenticamente nacionais tentam se expandir via aquisi-

ções, no mercado internacional.

Parecendo ser insuficiente, o Brasil ainda enfrenta internamente o absurdo dos

formadores de opinião na defesa do entreguismo e da capitulação da Nação, em um

mundo em que os países que mais intervêm na economia são justamente os que mais

crescem e onde os mais poderosos são os mais nacionalistas, como é o caso da China,

dos Estados Unidos, da Alemanha e do Japão.

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A recente criação da AMAZUL (Amazônia Azul Tecnologias e Defesa) - aprovada

por uma Comissão Especial da Câmara dos Deputados no dia 30 de maio do ano em cur-

so - para cuidar da produção do propulsor nuclear que irá equipar o futuro submarino nu-

clear brasileiro, pode ser mais um impulso para a independência do Brasil na área de de-

fesa, constituindo-se em uma estatal, que não poderá ser vendida a nenhum grupo es-

trangeiro. Isso poderá representar – se houver decisão política nesse sentido por parte do

governo – um divisor de águas na política brasileira de defesa, afirma Santayana (2012).

Poderá ser – e o Brasil precisa disso - a primeira de grandes empresas cem por cento

nacionais, destinadas à produção de armamento, transformando-se no embrião de um

grande estaleiro estatal, acoplado a uma importante escola de engenharia naval, para a

Marinha, além de constituir exemplo para a criação de uma empresa desse porte também

para a força terrestre.

Entretanto, a diplomacia brasileira, conforme determina a Constituição, deve ser

conduzida pelo presidente da República, mas isso não significa que essa liderança seja

exercida de forma arbitrária como se observa nas duas últimas décadas 27. Além da parti-

darização sistemática da política externa, que transformou a diplomacia em exercício i-

deológico, cujo perfil, danoso ao País, apegado a um antiamericanismo pueril, recente-

mente agregou movimentos voluntariosos a fim de imprimir a marca pessoal28.

Em fevereiro de 2007 a revista VEJA publicou a entrevista concedida por Roberto

Abdenur, ex-embaixador do Brasil nos Estados Unidos e ex-secretário geral do Itamaraty

(durante a primeira passagem de Amorim pela chefia do MRE), rotulando a política exter-

na brasileira de Amorim-Lula de ideológica, antiamericanista e denuncia a “intolerância à

pluralidade de opinião” no seio do Itamaraty, desencadeando e promovendo tensões polí-

ticas que se arrastam até hoje.

27 Casos dignos de figurar em manuais de relações internacionais, mas pelo seu aspecto negativo. O Brasil apequenou-se ante a ocupação, por tropas bolivianas, de

duas refinarias da Petrobrás naquele país, em maio de 2006. A resposta ao óbvio vilipêndio do patrimônio brasileiro, do então mandatário foi de que o ato boliviano

era "soberano" e que a Bolívia precisava de "carinho".

28 Acumulam-se demonstrações e gestos de voluntaristas. A fim de mostrar sua força como estadista, na conferência do clima Rio+20, a Presidente impacientou-se

com seus diplomatas e preferiu festejar um documento final articulado, às pressas, para não ter peso decisório nenhum, de modo que pudesse ser aceito por todos e

dar a impressão de uma grande competência diplomática. Posteriormente, quando da destituição do então presidente Fernando Lugo, no Paraguai, também em junho,

aceitou sem titubear a tese de que houve um golpe e que, portanto, o Paraguai tinha de ser duramente punido. Patrocinou pessoalmente a lamentável manobra de

inclusão da Venezuela no MERCOSUL, aproveitando a oportunidade do “golpe” a que foi submetido o Paraguai, que resistia ao ingresso do país de Hugo Chávez no

já desacreditado bloco sul-americano.

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Posteriormente, Mário Gibson Barboza escreveu uma coleção de artigos criticando

a condução do MRE feita por Amorim, acusando abertamente estar havendo:

“[...] politização dos diplomatas, para que possam obter promoção ou os melhores

postos no exterior. Por ‘politização’ entenda-se entusiástica adesão política ao petismo e

ao atual governo; absurda e desnecessária criação de novos 400 cargos de diplomatas,

quando éramos pouco mais de 900; leitura obrigatória de textos históricos e/ou diplomáti-

cos e subsequente e vexatória ‘tomada de lição’, visando à formação de uma ideologia un i-

ficada” (BARBOZA, 2008, 173).

O desagrado no meio diplomático se evidencia nas duras críticas ao ministro Celso

Amorim, feitas em carta aberta publicada no Jornal do Brasil em 16 de dezembro de 2007,

pelo embaixador aposentado Marcio de Oliveira Dias, ao acusar o rompimento das tradi-

ções históricas do Itamaraty, diante do viés partidário que se implantou no comando da

Casa em nome de questões ideológicas:

“Como um grande número de colegas, acompanho com desaprovação, mas, em si-

lêncio, a maneira como você e Samuel [Pinheiro Guimarães] vêm conduzindo o Itamaraty.

Hierarquizados como somos, ainda acreditamos no velho bordão de que quem fala pela

Casa é o seu Chefe. Assim, ao nos darmos conta, logo no início do Governo Lula, de quem

iria dirigir a Casa nos próximos anos, muitos preferimos aposentar-nos a seguir na ativa

sob uma direção de que fatalmente discordaríamos. A propósito, nunca em momento al-

gum do Itamaraty, houve tantos Embaixadores aposentados voluntária e precocemente

(...). Com o Governo do PT e conhecendo a sua ‘flexibilidade’, mais o viés ideológico do

Samuel, vários, como eu, previmos o que estaria por acontecer e, com o espírito de disci-

plina da carreira, preferimos dela nos afastar, por estimarmos que viéssemos a discordar

frontalmente da maneira pela qual a Casa seria conduzida” (DIAS, 2007, p. A11).

Além de ressaltar que nunca, em momento algum do Itamaraty, houve tantos em-

baixadores aposentados voluntária e precocemente, contrariados com os rumos da atual

gestão, antes da data compulsória, critica duramente o comportamento indiferente de

Celso Amorim após a morte do embaixador Mário Gibson Barboza, no fim de novembro.

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VI – CONJUNTURA NACIONAL E COMPLEXIDADE ATUAL

As colocações até aqui feitas são somente uma tentativa de reflexão baseada em

fatos atuais à luz do conhecimento histórico, na busca de compreender o comportamento

errático da política externa brasileira.

Na política externa norte-americana, especialistas aparentam involuntariamente

prejudicar o próprio interesse nacional, apunhalam os aliados pelas costas, mas não se

pode acreditar nesse comportamento involuntário, quando se analisa com acuidade os

grupos que dominam os EUA e a política desses grupos, cujo poder se estende por várias

organizações, partidos e ideologias aparentemente divergentes. Nada mais é do que um

método dialético que pode ser aprendido com alguns estudos sobre as técnicas desenvol-

vidas pela inteligência soviética (Cheka)29, por sua vez desenvolvidas a partir do know

how britânico. Esses especialistas não podem ser vistos como tendo esse comportamento

involuntário, quando se analisam com acuidade os grupos que conduzem efetivamente

aquele país e cujo poder se estende por várias organizações, partidos e ideologias apa-

rentemente divergentes como se pode observar no exemplo venezuelano a seguir.

A chegada de Chávez ao poder se fez com a ajuda dos norte-americanos e com

recursos da Ford e da Rockefeller Foundation, fornecidos aos esquerdistas da América

Latina. O mesmo Chávez que depois a CIA ajudou a derrubar num golpe fracassado, que

mais pareceu uma farsa (tão rápida foi a ajuda do grupo convocado pelo então presidente

Jimmy Carter), que ficou ao lado dos EUA de Obama na questão de Honduras (apoiando

um ex-liberal que se tornou chavista e se recusou a respeitar a constituição, sendo por

isso destituído e expulso), e que agora se arma até os dentes e exporta sua revolução

para o continente.

Esses fatos levam a suspeitar que os grupos dominantes dos EUA estejam criando

um inimigo poderoso na América Latina, visando uma futura intervenção no continente,

semelhante ao ocorrido com a União Soviética e com a Alemanha Nazista (Sutton, 1976),

29 Cheka a primeira polícia secreta da União Soviética fundada por Felix Edmundovich Dzerzhinsky (1877-1926), do partido Social Democrata na Polônia, em 1900.

Passou a maior parte da sua vida preso por suas atividades revolucionárias. Em março de 1917, livre, após uma prisão de cinco anos, seu primeiro ato foi filiar-se ao

Partido Bolchevique. Dada a sua honestidade e seu caráter incorruptível, aliados à sua devoção à causa do partido lhe renderam o apelido de "Felix de Ferro”. É

atribuída a ele a seguinte frase: "Um membro da Cheka deve ter a cabeça fria, o coração quente e as mãos limpas." Era considerado por Lenin como um herói.

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tendo como coadjuvante o movimento comunista da região, liderado pelo Foro de São

Paulo e cujo mentor governa a Venezuela.

Empreender uma verdadeira guerra patriótica contra os gringos, a fim de unir o

continente e estabelecer uma ditadura comunista nacionalista no Brasil e na América La-

tina, com vista à formação da URSAL, faz parte de um jogo que podem ter resultados fu-

nestos, almejados pelos norte-americanos para poderem lançar-se sobre a Amazônia,

que sob o domínio estrangeiro, respaldaria a união do Brasil e do continente lembrando

os acordos entre bolcheviques e a Alemanha do Kaiser Guilherme I.

As implicações estratégicas para os países do continente americano ocasionadas

pelo terremoto do Haiti desnudaram a impotência militar do Brasil e dos seus aliados Ve-

nezuela e Bolívia.

O terremoto abafou a tentativa de

intimidação do então governo interino de

Honduras no episódio Zelaya, desviando

a atenção ao término da vergonhosa hos-

pedagem dispensada na embaixada brasi-

leira, enquanto os Estados Unidos instala-

vam 20.000 homens no Haiti, configuran-

do um fator de dissuasão para Cuba e

Venezuela.

Se na época áurea dos cartéis co-

lombianos, a infiltração do dinheiro da

droga no sistema político e policial ameri-

canos foram alarmantes, agora, com os

cartéis mexicanos ao lado e as maras as-

sociadas, dentro das fronteiras america-

nas, piorou30.

Mapa 12

30 Contam com o apoio de organizações como o La Raza, grupo que defende a separação do sul dos EUA (e cujo presidente faz parte do governo Obama). Há

milhões de imigrantes mexicanos e latino-americanos que podem servir como ingênuos úteis desses bandos.

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Sempre a pretexto da guerra contra as drogas, os Estados Unidos aumentaram a

sua presença militar, construindo novas bases na Colômbia (Mapa 12) e já circulam in-

formações da crescente presença da Black Water no Brasil em plataformas petrolíferas e

reservas indígenas31.

O personalismo imposto à política externa evidencia decisões tomadas não exata-

mente segundo o interesse nacional, mas de acordo com projetos de afirmação e manu-

tenção de poder. Esse atalho ocorrido na aproximação irresponsável com autocratas co-

mo Chávez, comprometeu a independência do Brasil na definição de seus interesses ex-

ternos. Em nome da exigência de buscar a "formação de uma comunidade latino-

americana de nações", conforme determinação constitucional se colocou o país a serviço

do delirante projeto bolivariano, exemplo do Socialismo do Século XXI adotado pelo grupo

de diplomatas brasileiros que assessora o governo32, e, atualmente, além de enfrentar as

idiossincrasias pessoais que contrariam os princípios basilares da diplomacia nas mesas

de negociação, compromete a diplomacia nacional, que sempre se pautou pelo comedi-

mento, enfraquecendo a influência do Brasil no concerto internacional.

A complexidade atual remete ao fato de que qualquer estudo sobre as chamadas

reservas indígenas brasileiras na Amazônia deve prioritariamente considerar a extensão

das mesmas destacando as localizadas nas Faixas de Fronteiras, zonas sensíveis para

as Forças Armadas, formando verdadeiros territórios contínuos, valendo o alerta de Fre-

gapani:

“A multiplicação das reservas indígenas, exatamente sobre as maiores jazidas mi-

nerais, usa o pretexto de conservar uma cultura neolítica (que nem existe mais), mas visa

mesmo à criação de ‘uma grande nação’ indígena. Agora mesmo assistimos, sobre as bra-

sas ainda fumegantes da Raposa-Serra do Sol, o anúncio da criação da reserva Anaro,

que unirá a Raposa/São Marcos à Ianomâmi. Posteriormente a Marabitanas unirá a Iano-

mâmi à Balaio/Cabeça do Cachorro, englobando toda a fronteira Norte da Amazônia Oci-

dental e suas riquíssimas serras prenhes das mais preciosas jazidas”. (Fregapani, 2012)

31 O Gal. Durval Antunes de Andrade Nery (Escola Superior de Guerra) denunciou a presença da Black Water em reservas na Amazônia e em plataformas de petró-

leo na costa do país.

32 Coordenados por Chávez e Marco Aurélio Garcia.

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A cobiça sobre a Amazônia se expressa atualmente não somente por invasões e

conflitos e a perda vem se encaminhando da forma mais perniciosa e letal: através da

política externa adotada há mais de 10 anos.

As ameaças atuais geradas pelo vazio demográfico ou pela ausência do Estado fa-

vorecem o tráfico de armas e ações terroristas em todo o território nacional, graças ao

vazio de poder que sempre se apresenta quando se coloca pessoas vazias no comando

de um governo, cuja incompetência ignora que para alcançar o tão almejado Desenvolvi-

mento Sustentável, não pode se pautar numa economia política de meio ambiente onde a

problemática ecológica desconsidera a realidade de que a preservação dos recursos e

investimentos realizados, entre si e as instituições, requerem o uso regulamentado e mo-

nitorado, conhecido e aceito, por civis e militares independentes de ideologias presas ao

ranço do passado.

Entre as ameaças atuais talvez o sistema hidrográfico brasileiro na Amazônia ocul-

te uma das mais complexas (Mapa 13). A revolução tecnológica estabelecendo novas

fronteiras e inovações bélicas não são capazes de apagar a realidade de ter a nascente

do rio Amazonas em um país lindeiro.

Mapa 13

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Em outro escrito (Wesley, 2011), foi assinalado que na visão do Estado a rala den-

sidade demográfica nas regiões limítrofes com os demais países latino-americanos confi-

gura um território afeito à guerrilha, carente de controle e integração através de forte ação

geopolítica. Ressurgem preocupações estratégicas, sobretudo para a Amazônia, impon-

do-se uma geopolítica intensa, capaz de exercer vigilância e controle, considerando-se o

passado de guerrilhas e contrabandos e a atual ação das FARCs e de narcotraficantes

que tangenciam atividades terroristas. As ópticas e interesses externos que veem a região

de uma maneira totalmente diferente somam-se à óptica endógena da sociedade local,

possibilitando ações concretas para o surgimento de um novo espaço regional e ou de

uma nova Amazônia que desconsidera o ecossistema regional e os recortes naturais, co-

mo se constata na antiga ocupação ao longo dos rios.

Acrescente-se, ainda, o fato de que uma das nascentes do Rio Amazonas se loca-

lizar no córrego Carhuasanta (ou ainda Quebrada Carhuasanta), localizado na região pe-

ruana de Apurímac, alimentado pelo derretimento de neve do monte Nevado Mismi e é

um dos nomes dados ao Rio Amazonas em sua saída do Peru antes de chegar ao Brasil.

(http://pt.wikipedia.org/wiki/Quebrada_Carhuasanta). Tal fato obriga a ficar atento à tradi-

cional colocação de quem comanda a foz, comanda o curso, assertiva esta que pode ser

contestada, considerando-se a possibilidade de o Peru instalar hidroelétricas em seu terri-

tório a fim de prover as suas necessidades energéticas33.

A insegurança urbana e rural provenientes das fissuras na organização do Estado

surge da perda de autoridade ocorrida na entrega gradual de suas leis a grandes empre-

sas, caracterizando a criação do vácuo no poder onde se instalou o poder paralelo res-

ponsável pelos picos de insegurança, aumento da desigualdade, eclosão da violência e

empobrecimento regional que conformam a contra-face da modernização34.

Apresentando uma política externa, no mínimo estranha, o Brasil deixou de apro-

veitar a porta aberta pela crise internacional para se apropriar de mão de obra especiali-

zada e de tecnologia que estão disponíveis lá fora, sem abrir mão de controlar, sozinho,

uma área que é estratégica para o país.

Novas faces corsárias se impõem, mas os objetivos são antigos.

33

Basta observar os exemplos na implantação de grandes projetos (entre os índios Waimirí /Balbina; as populações heliêuticas e camponesas – INGÁ, e mais

recentemente o caso Belo Monte).

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www.brasilbrasileiro.pro.br) _____. Brasil: transformações internas, relações externas e a Defesa Nacional. PU-

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sentado na V REUNIÃO DE ANTROPÓLOGOS DO NORTE E NORDESTE. RECI-FE/1997 (disponível em Textos Brasileiros no site http://www.brasilbrasileiro.pro.br).