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04-06-2011 1 Física moderna Relatividade galileana Maio, 2011 Caldas da Rainha Luís Perna Relatividade galileana A primeira teoria da relatividade é designada por relatividade galileana, em homenagem a Galileu, esta relatividade aplica-se quando as velocidades dos corpos são pequenas comparadas com a velocidade da luz. Para fenómenos que envolvam velocidades próximas da velocidade da luz, aplicamos a teoria da relatividade restrita de Einstein, que engloba a relatividade galileana. Relatividade o que significa? O observador junto à árvore diz: o comboio move-se para a frente com velocidade de módulo v. O observador do comboio diz: A paisagem move-se para trás com velocidade de módulo v. Quem tem razão? Os dois!!! Cada observador, no seu referencial vê o movimento de modo diferente, mas os seus pontos de vista são igualmente válidos e equivalentes! Relatividade o que significa? Um observador dentro de uma carrinha que se move com movimento rectilíneo e uniforme deixa cair uma bola: como vê ele a trajectória da bola? E um observador no solo, como vê ele a trajectória da bola? Quem tem razão? Os dois!!! Cada observador, no seu referencial vê o movimento de modo diferente, mas os seus pontos de vista são igualmente válidos e equivalentes! A descrição de um fenómeno físico é relativa porque depende do referencial escolhido (relatividade). Mas que tipo de referenciais existem? Uma carruagem move-se com movimento rectilíneo uniforme em relação ao solo: Como vê o observador a mala? Ele verifica a lei da inércia? Se verifica, então o referencial ligado à carruagem é um referencial de inércia nele se verifica a lei da inércia. Que forças actuam na mala, supondo desprezável o atrito, sob o ponto de vista do observador na carruagem?

Física moderna relatividade galileana - Física e Química 1 Física moderna Relatividade galileana Maio, 2011 –Caldas da Rainha Luís Perna Relatividade galileana A primeira teoria

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04-06-2011

1

Física moderna

Relatividade galileana

Maio, 2011 – Caldas da Rainha

Luís Perna

Relatividade galileana

A primeira teoria da relatividade é

designada por relatividade galileana,

em homenagem a Galileu, esta

relatividade aplica-se quando as

velocidades dos corpos são pequenas

comparadas com a velocidade da luz.

Para fenómenos que envolvam

velocidades próximas da velocidade

da luz, aplicamos a teoria da

relatividade restrita de Einstein, que

engloba a relatividade galileana.

Relatividade – o que significa?

O observador junto à árvore diz:

o comboio move-se para a frente com

velocidade de módulo v.

O observador do comboio diz:

A paisagem move-se para trás com

velocidade de módulo v.

Quem tem razão?

Os dois!!!

Cada observador, no seu referencial vê o movimento de modo

diferente, mas os seus pontos de vista são igualmente válidos e

equivalentes!

Relatividade – o que significa?

Um observador dentro de uma carrinha

que se move com movimento

rectilíneo e uniforme deixa cair uma

bola: como vê ele a trajectória da bola?

E um observador no solo, como

vê ele a trajectória da bola?

Quem tem razão?

Os dois!!!

Cada observador, no seu referencial vê o movimento de modo

diferente, mas os seus pontos de vista são igualmente válidos e

equivalentes!

A descrição de um fenómeno

físico é relativa porque depende

do referencial escolhido

(relatividade).

Mas que tipo de referenciais existem?

Uma carruagem move-se com movimento

rectilíneo uniforme em relação ao solo:

Como vê o observador a mala?

Ele verifica a lei da inércia?

Se verifica, então o referencial ligado à carruagem é um

referencial de inércia – nele se verifica a lei da inércia.

Que forças actuam na mala,

supondo desprezável o atrito,

sob o ponto de vista do

observador na carruagem?

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Uma carruagem move-se com movimento

rectilíneo uniforme em relação ao solo:

Como vê o observador a mala?

Ele verifica a lei da inércia?

Se verifica, então o referencial ligado ao solo é um

referencial de inércia – nele se verifica a lei da inércia.

Que forças actuam na mala,

supondo desprezável o atrito,

sob o ponto de vista de um

observador no solo?

Uma carruagem parte do repouso e começa a

acelerar em relação ao solo:

Como vê este observador a mala? Como explica o seu

movimento? Ele verifica a lei da inércia?

Se não verifica, então o referencial ligado à carruagem é um

referencial acelerado – nele não se verifica a lei da inércia.

Que forças actuam na mala,

supondo desprezável o atrito,

sob o ponto de vista do

observador na carruagem?

Este observador, se quiser interpretar o movimento utilizando a Segunda Lei de

Newton, terá de supor uma força fictícia que empurra a mala para trás.

Uma carruagem parte do repouso e começa a

acelerar em relação ao solo:

Como explica este observador o movimento da mala?

Ele verifica a lei da inércia?

Se verifica, então o referencial ligado ao solo é um

referencial de inércia.

Que forças actuam na mala,

supondo desprezável o atrito,

sob o ponto de vista do

observador no solo?

A carruagem acelerou porque actuou uma força sobre ela. Mas a velocidade da

mala manteve-se. Conclusão: a velocidade da carruagem passou a ser maior do

que a da mala e esta ficou para trás!

Por que somos projectados para fora da curva na

situação da figura?

Como explica a situação uma pessoa dentro do carro?

Consegue aplicar as leis de Newton?

Como explica a situação uma pessoa no solo?

Consegue aplicar as leis de Newton?

Resolução da questão

O passageiro do automóvel está ligado a um

referencial acelerado, é projectado para fora devido a

uma força (fictícia) que sente exercer sobre si. O banco

do carro exerce uma força de atrito sobre o condutor,

que o obriga a descrever a curva, se assim não fosse o

passageiro seguiria em linha recta.

A pessoa no solo diz que sobre o carro actuam o peso e

a força normal, cuja resultante é nula, e actua também a

força de atrito exercida pelo solo que permite ao carro

descrever a curva.

Um observador ligado a um referencial acelerado

inventa “novas” forças (forças fictícias) para

explicar o movimento a partir das Leis de

Newton.

Um observador ligado a um referencial de inércia

explica os movimentos com as forças que actuam

sobre um corpo a partir das Leis de Newton.

As Leis da Mecânica só são válidas

quando se descrevem os fenómenos

em referenciais de inércia.

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A Terra será um referencial de inércia?

Um referencial é de inércia se nele se

verificar a Lei da inércia.

Um referencial ligado às estrelas será um

referencial de inércia?

Um referencial é de inércia se se mover com

velocidade constante em relação a outro

também de inércia.

Não. Contudo a aceleração da Terra associada aos seus movimentos

de rotação e de translação não é, para muitas situações, significativa.

Por isso, nesses casos, podemos considerar inercial um referencial ligado à Terra.

Normalmente, adopta-se como sistema de referência inercial todo o sistema em repouso

ou em translação rectilínea e uniforme em relação a estrelas longínquas, por aparentarem

manter fixas as suas posições ao longo de muitos anos de observação.

Em que situações podemos dizer que há um

referencial de inércia?

- Referencial ligado a um carro que viaja na A1 com

velocidade constante e de módulo 120 km/h.

- Referencial ligado a um carro que descreve uma curva.

- Referencial ligado a um avião que voa com velocidade

constante de 900 km/h.

- Referencial ligado a um carro que trava.

- Referencial ligado a um carro que acelera.

Questão 1

Questão 2

Uma carruagem move-se para a direita quando um

objecto se desprende do tecto da carruagem. Em

alguma das situações da figura um referencial

ligado à carruagem é um referencial de inércia?

Questão 3

Uma criança joga verticalmente para cima uma bola dentro de uma carruagem. Onde cairá a bola se:

- A carruagem se mover com velocidade constante de 80

km/h?

- A carruagem se mover com velocidade constante de

220 km/h?

- A carruagem travar?

- A carruagem acelerar?

- A carruagem estiver parada?

Questão 4Numa carruagem um objecto desprende-se do tecto,

caindo verticalmente. A carruagem está totalmente

fechada para o exterior. O que dirá o observador

dentro da carruagem?

- A carruagem está parada.

- A carruagem move-se com movimento rectilíneo

uniforme.

Poderá fazer uma experiência

no interior da carruagem de

modo a distinguir as duas

situações?

É impossível

Questão 5

Um jogador de bilhar é

convidado para um

torneio a bordo de um

navio transatlântico.

Aceita o convite e

intensifica os treinos em

casa. Não seria melhor

a bordo do navio?

Se o barco se mover com movimento

rectilíneo uniforme e sem oscilações laterais será indiferente.

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Todos os referenciais de

inércia são equivalentes.

Não há referenciais

melhores do que outros.

Princípio da Relatividade de Galileu:

As leis da mecânica são as mesmas em

quaisquer referenciais de inércia

(são invariantes)

É impossível distinguir um

estado de repouso de um

estado de movimento

rectilíneo uniforme.

Os pontos de vista dos observadores

ligados a referenciais de inércia são

todos válidos e equivalentes.

Se as leis da mecânica são sempre as mesmas

(Princípio da Relatividade), por que vemos

trajectórias diferentes em diferentes referenciais

de inércia?

A força resultante é a mesma (a 2ª lei de Newton é a

mesma), mas as condições iniciais do movimento não são

as mesmas, logo tem a ver com as condições iniciais.

No referencial S´ o corpo cai

com velocidade nula

(é largado da mão).

No referencial S o corpo

inicia o movimento com

velocidade igual à da

carrinha.

P

P

amP

00

v

00

v

amP

Como estudar o movimento da bola, do exemplo

anterior, do ponto de vista dos passageiros e de

quem está fora da carrinha?

Consideremos dois observadores que se movem, um em

relação ao outro com movimento de translação uniforme, ambos

observam o movimento da bola.

O observador A está ligado ao referencial fixo, Oxyz.

O observador B está ligado ao referencial O´x´y´z´ e desloca-se

com movimento rectilíneo e uniforme.

Os dois referenciais são tais que os seus eixos x e x´ coincidem.

Admitindo que, para t = 0 s, a origem O coincide com a

origem O´, então no instante t qualquer,

é a velocidade do observador B em relação ao

observador A.

A figura mostra que:

ou seja:

tvOO' O'/O

O'/Ov

OO'PO'PO

Rrr

ou tvrr O'/OO'POP

//

O movimento da bola do ponto de vista dos

passageiros e de quem está fora da carrinha é

dado pela seguinte equação vectorial:

A equação vectorial anterior é equivalente às três equações

escalares:

´

´

´

zz

yy

vtxx

tvrr O'/OO'POP

//

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O que é um acontecimento ou evento

em teoria da relatividade?

Por exemplo um objecto é deixado cair,

o início da queda é um acontecimento e a chegada

ao solo é outro acontecimento ambos localizados:

no espaço – sítio onde acontece (x, y, z);

no tempo – instante em que acontece (t).

Um acontecimento em Física é caracterizado por

quatro coordenadas (x, y, z, t)

´

´

´

´

tt

zz

yy

vtxx

Transformação

de Galileu

´tt

Num acontecimento ou evento as equações que

relacionam as coordenadas de uma partícula

material em dois referenciais de inércia são:

tvrr O'/OO'POP

//

Consequências da Transformação de

Galileu

A posição de uma partícula é diferente

quando medida em diferentes referenciais

de inércia.

'// OPOP aa

´tt

A velocidade de uma partícula é diferente

quando medida em diferentes referenciais

de inércia.

A aceleração de uma partícula é igual quando

medida em diferentes referenciais de inércia.

O intervalo de tempo entre dois acontecimentos

é igual quando medido em diferentes

referenciais de inércia.

tvrr O'/OO'POP

//

O'/OO'POP vvv

//

Também:

A massa de um corpo é a mesma medida em

diferentes referenciais de inércia.

O comprimento de um corpo – módulo da

diferença entre duas coordenadas num dado

referencial – é igual em diferentes referenciais

de inércia.

Mas:

- se a massa de um corpo é igual quando medida

em diferentes referenciais de inércia

e

- a aceleração de uma partícula é igual quando

medida em diferentes referenciais de inércia

então, pela 2ª de Newton (que tem a mesma

forma em diferentes referenciais de inércia):

´FF

A força resultante é igual quando medida

em diferentes referenciais de inércia.

Grandezas cujo valor é sempre o mesmo quando medidas

em diferentes referenciais de inércia:

Grandezas invariantes (ou absolutas)

Grandezas cujo valor depende do referencial de inércia

onde são medidas:

Grandezas relativas

Tipos de grandezas em relatividade:

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Grandezas invariantes Grandezas relativas

massa posição

comprimento velocidade

intervalo de tempo momento linear

aceleração energia cinética

força

Em relatividade galileana há

invariância

Leis da mecânica

(Princípio da Relatividade de

Galileu)

Grandezas

invariantes

Não confundir

invariância de uma grandeza:

mesmo valor em diferentes referenciais de inércia.

com conservação de uma grandeza:

mesmo valor antes e depois de uma interacção

no mesmo referencial de inércia.

Grandezas relativas

Quando aplicamos a Lei da Conservação da Energia

Mecânica ou a Lei da Conservação do Momento

Linear, sabemos que a energia do sistema ou o

momento linear se mantêm no mesmo referencial de

inércia.

Ao aplicarmos a mesma lei de conservação noutro

referencial de inércia, obtemos valores diferentes dos

anteriores, mas os valores antes e depois da interacção

continuam a ser iguais.

Questão 6Num grande navio de cruzeiro há uma sala onde se joga

bilhar. O navio move-se com velocidade constante e sem

oscilações laterais. Um jogador dá uma tacada e dá-se uma

colisão entre duas bolas que se pode considerar perfeitamente

elástica.

1.Que leis de conservação se poderiam aplicar à colisão se a

mesa de bilhar estivesse em terra? Poder-se-ão também

aplicar às circunstâncias do navio? Porquê?

2.Indique exemplos de grandezas físicas referentes à situação

descrita:

i) que são invariantes;

ii) que são relativas;

iii) que se conservam.

(massa, diâmetro, intervalo de tempo, aceleração)

(posição, velocidade, momento linear, energia cinética)

(momento linear, energia cinética)

Relatividade galileana

(primeira teoria da relatividade)

Apenas válida para referenciais de inércia

que se movem com velocidades muito

menores do que a velocidade da luz:

v << c

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Análise das situações: movimento de um

barco que atravessa um rio

Aplicando a Transformação de Galileu para a velocidade:

mrrbmb vvv ///

1ª situação 2ª situação

Cálculo da direcção em que seguiu o barco

na 1ª situação

Designando por o ângulo entre a direcção que o

barqueiro imprimiu ao barco e a direcção seguida por

este relativamente às margens do rio, conclui-se que:

mb

mr

v

vαtg

/

/

Questão 7

A Rita desloca-se com a velocidade de valor

2,0 m s-1 e a chuva cai com a velocidade de

módulo 5,0 m s-1. Admita que não há vento.

a) Calcule o valor da velocidade da chuva

em relação à Rita.

b) Calcule a inclinação que a Rita deverá

dar ao guarda-chuva para não se molhar.

c) Se a Rita se deslocasse com maior

velocidade, teria de inclinar mais ou

menos o guarda-chuva?

Resolução

Questão 8

Um barqueiro pretende atravessar um rio na direcção

Sul-Norte, perpendicularmente às margens. A largura

do rio é de 3,0 km e a travessia demora 15 minutos. A

velocidade da corrente é 6,0 km h-1 na direcção Oeste-

Este.

a) Calcule a velocidade do barco em relação à Terra.

b) Calcule a velocidade do barco em relação à água e

o respectivo módulo.

c) Determine a direcção em que seguiu o barco.

)km/h(12a) / yTb ev

b) 13,4 km/h c) 26,6º