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Fuentes - ikl.org.pl · o germen da futura colônia polonesa, vislumbrando a separação do estado do Paraná ... mas não continuaram o trabalho de campo, unica ... Campo Largo 8

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Textos de K. Smolana y M. A. Ignatowicz traducidos por

ALMIR GONCALVES

Texto de E. Anuszewska traducido por

MARIUSZ DOWBOR

Estudios Latinoamericanos 7, 1980 PL ISSN 0137-3080

Recenseamento da população polonesa no Brasil 1934-1938.

Sobre a emigração da Polônia para o Brasil já se escreveu nas páginas das publicações «Estudios Latinoamericanos» e «Przegląd Polonijny»1, foram examinadas as possibilidades dos arquivos poloneses sob esse prisma2. As fontes também foram publicadas3. Só em parte esses textos referiram ao período de entreguerras — 1918/1939. Desejando num grau maior preencher essa lacuna, apresentamos abaixo os resultados do recenseamento da população polonesa no Brasil dos anos 1934-38.

A emigração polonesa no Brasil, sendo o mais numeroso grupo polonês no continente latinoamericano, constituiu objeto de grande interesse no país de origem. Uns viam nele o germen da futura colônia polonesa, vislumbrando a separação do estado do Paraná do Brasil, outros queriam ver nos emigrantes um parceiro comercial para a Polônia. Os seguidores de ambas orientações desejaram conhecer, com precisão, o número de Poloneses no Brasil, tomar conhecimento do que lá fazem, onde e como moram, etc. Foram empreendidas numerosas tentativas da estimação do número da população polone­sa naquela região, baseando-se sobretudo nos dados sobre o número dos imigrantes chegados*. Também os próprios emigrantes associados em numerosas organizações, maiores e menores, queriam sabe-lo e aproveitarem para os próprios fins. Justamente os emigrantes partiram com a primeira iniciativa da realização do recenseamento, que daria

1. M. K u l a : Algumas observações sobre a emigração polonesa para o Brasil, «Estudios Latinoamericanos», t. 3, 1976, pp. 171-178; A. Mac ie rewicz : Cartas do Brasil (1890-1891), «Estudios Latinoamericanos», t. 3, 1976, pp. 163-169; A. K l a s a : Akcja nacjonalizacyjna w Brazylii a sytuacja Polonii brazyliskiej [Ação nacionalista no Brasil e a situação da Colônia Polonesa no Brasil], «Przegląd Polonijny», 1975, n° 1, pp. 113 -121; M. K u l a : Sukcesy i porażki polskich osadników w Brazylii [Sucessos e derrotas dos colonos poloneses no Brasil], «Przegląd Polonijny», 1977, n° 2, pp. 75-81; M. K u l a : Przemiany Polonii w Ameryce Łacińskiej [Transfor­mações tia Colônia Polonesa na América Latina], «Przegląd Polonijny», 1978, n" 2, pp. 17-24.

2. K. G r o n i o w s k i : As fontes da história da emigração para o Brasil situadas nos arquivos da Polônia, «Estúdios Latinoamericanos», t. 4, 1978, pp. 301-312.

3. M. K u l a : Paraná — Anos 1900, «Estudios Latinoamericanos», t. 1, 1972, pp. 369-384.

4. Tal tentativa empreendeu, entre outros, K. G ł u c h o w s k i : Wśród pionierów polskich na antypodach. Materiały do problemu osadnictwa polskiego w Brazylii [Entre os pioneiros poloneses nos antlpodas. Materiais Para o problema da colonização polonesa no Brasil], Warszawa 1927.

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pelo menos estimativas aproximadas. Foi realizado em 1931 pelo Departamento da In­dústria e do Comércio da União Central dos Poloneses no Brasil. Esse departamento colo­cou como objetivo, entre outros, elaborar: «1) um preciso recenseamento de todas as colônias polonesas juntamente com as distâncias das cidades e estações ferroviárias mais próximas, inclusive com a qualidade das vias de comunicação; 2) o cálculo do estado de posse dos agricultores poloneses no Brasil (quantidade das propriedades autônomas, quantidade da terra e dos animais); 3) cálculo aproximado da produção agrária anual dos agricultores poloneses no Brasil com a especificação dos diversos gêneros dessa produção; 4) recenseamento das manufaturas polonesas e estrangeiras nas colônias polonesas; 5) recenseamento dos comerciantes poloneses e estrangeiros nas colônias polonesas; 6) recenseamento dos artesãos poloneses e estrangeiros nas colônias polonesas»5. Com o fim de obter esses dados foram enviados 300 exemplares de questionários contendo per­guntas sobre as mencionadas informações. Foram obtidas respostas em 80% dos ques­tionários6. Infelizmente nas fontes conservadas não se encontra vestígios tanto das res­postas como de notícias sobre a continuação de trabalhos com esse caracter.

Essa iniciativa foi empreendida mais tarde (ou simplesmente a assumiu?) pelo Consu­lado Geral da RP em Curitiba. O recenseamento deveria abarcar sobretudo os três esta-dosdo sul — Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, onde se concentrava o grosso dos emigrantes poloneses e seus descendentes. É difícil de dizer quando exatamente co­meçou-se a realizar o recenseamento. Sabe-se que no território de todo o estado de Santa Catarina foi conduzido até 1934, mas «por causa da falta de pessoal especializado, nesse estado a estatística não foi levada a efeito [mais tarde — KS]. Com isso se explica o mo­desto resultado dos trabalhos estatísticos realizados no estado de Santa Catarina».7

A própria ação durou até 1938, até a campanha nacionalista. Uma série de decretos edi­tados nos quadros dessa ação limitou muito seriamente, e mais tarde até impossibilitou, a realização consecutiva do recenseamento. Em resultado disto surgiu a necessidade de se estimar aproximadamente os dados em falta em relação aos diversos municípios.

Simultaneamente com o recenseamento foram reunidos todos os materiais que per­mitiam uma elaboração mais precisa dos dados estatísticos — mapas, fotografias e, claro, foram também conduzidos trabalhos bibliográficos8.

Os investigadores (pesquisadores) do recenseamento eram instrutores especialmente formados para a condução de atividades culturais e de organização entre os emigrantes, subordinados ao Consulado em Curitiba. Eles também estavam ameaçados pela legislação nacionalista de Getúlio Vargas. Querendo protege-los frente a repressão, pois o recen­seamento foi levado a efeito em segredo face às autoridades brasileiras, foram encarre­gados de outro trabalho. E assim um dos instrutores passou a trabalhar na Delegação da RP no Rio de Janeiro, outro foi transferido para a Agência Consular em São Paulo. Os instrutores menos conhecidos por seu trabalho junto ao recenseamento ficaram no

5. Relatório Anual do Departamento da Indústria c Comércio da União Central dos Poloneses no Brasil, (em) Materiais da Dieta Menor da União Central dos Poloneses no Brasil, 1932, AAN Światpol 131, k. 99.

6. Ibidem, p. 98. 7. Relatório do Consulado Geral da RP em Curitiba para o MAE sobre a questão da estatística da emigração polonesa no Brasil. Estritamente secreto, de 31 de março de 1939, AAN MAE 10383, k. 21.

8. Relatório do Consulado Geral da RP em Curitiba sobre a questão dos materiais estatísticos. Confidencial, de 17 de agosto de 1935, AAN MAE 10383, k. 6.

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Consulado Geral da RP em Curitiba, mas não continuaram o trabalho de campo, unica­mente elaboravam os dados já recolhidos. Esses trabalhos foram dirigidos pelo vice-relator dos assuntos do ensino junto ao Consulado9. Talvez tenham sido ainda empreendidas tentativas da coleta de dados no território do estado do Rio Grande do Sul, para onde partiu um dos instrutores, aproveitando a situação de que aí «os decretos nacionalistas federais são realizados de maneira mais liberal»10. Entretanto, nos meados de 1938, como escrevia o cônsul geral em Curitiba, Józef Gieburowski, «nas presentes condições o trabalho estatístico tem de limitar-se ao trabalho de mesa, isto é, acabamento dos mate­riais recolhidos, pois a coleta de novos dados está extraordinariamente dificultada»'1.

O recenseamento mesmo, quanto ao seu mérito, foi muito bem preparado e deveria abarcar a quantidade maior possível de dados minuciosos. De um lado, deveria refletir a distribuição geográfica da emigração polonesa, por outro, fornecer dados tanto sobre os diversos grupos profissionais poloneses como sobre as outras nacionalidades que com eles viviam. «Os dados estatísticos são recolhidos através das diversas povoações (co­lônias), depois enquadrados a nível de município, devendo constituir na fase final do trabalho a base para os dados estatísticos em relação a todo estado»12.

O questionário básico referia-se à família, e somente a apresentação dos dados de todas as famílias polonesas em determinada colônia permitia completar (preencher) a folha seguinte, a chamada «OS.ZAS», isto é, colônia principal. Alem disto, haviam as folhas complementares e adicionais, igualmente dizendo respeito à colônia. Somente então os dados dessas folhas permitiam criar as folhas geográficas seguintes, intituladas «Colônia», «Município» e «Estado».

Entre as perguntas colocadas aos respondentes podemos distinguir os seguintes gru­pos: a) dados demográficos — número de Poloneses na colônia, idade, sexo, nascimentos, falecimentos, crescimento natural, enfermidades, e t c ; b) questões de nacionalidade — língua, lugar de nascimento, cidadania, casamento, religião, tendência social e nacional, etc.; c) questões de ensino — tipo de escola, número de alunos poloneses e não poloneses nas escolas polonesas e brasileiras, instrução dos adultos, prenumeração de jornais, pro­fessores, e t c ; d) profissionais — profissões liberais, comerciantes, artesãos, operários e agricultores; e) a colônia como um todo — dimensão, edificações, campos, oficinas, etc.

Infelizmente não dispomos das partes dos questionários relativos às famílias. Nos arquivos poloneses salvaram-se unicamente as partes coletivas referentes aos municípios dos estados do Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, assim como os dados ane­xados aos relatórios enviados para a central de Varsóvia do Ministério dos Assuntos Estrangeiros.

Em resultado dos trabalhos de recenseamento ficou estabelecido o número da popu­lação polonesa no Brasil em 191 977 pessoas. Segundo J. Gieburowski, durante a reali-

9. Relatório do Consulado Geral ua RP em Curitiba para o MAE sobre a questão dos instrutores de cultura e agricultura. Secreto, de 20 dejunho de 1938, AAN do MAE 10610, k. 139.

10. Ibidem, k. 140.

11. Ibidem, k. 140.

12. Relatório do Consulado Geral da RP em Curitiba para o MAE sobre a questão dos materiais estatísticos Confidencial, de 17 de agosto de 1935, AAN do MAE 10383, k. 3.

\

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zação do recenseamento a mesma aumentou. Além disto, o recenseamento não abarcou os Poloneses que habitavam outros estados. Isto considerando calculou (Gieburowski) o número da população polonesa em 220000 pessoas13.

Surge a pergunta — quem era abrangido por esse número? Até que geração considerou-se os decendentes dos emigrantes como Poloneses? O que fazia diferenciar o Polonês? É difícil responder a essas perguntas. Não foi um número estabelecido pelos pesquisa­dores. Fixaram-nas aqueles cujo meio levou a efeito o recenseamento, incluindo aqueles que considerava relacionados com o espírito polonês. Vale a pena isto recordar ao se ana­lisar esses dados, certamente imprecisos, mas que têm maior apoio na realidade social do que as inúmeras estimativas realizadas na época em Varsóvia.

Os dados apresentados a seguir provêm do relatório, provavelmente o último, do Con­sulado Geral da RP em Curitiba, referente ao recenseamento, enviado em março de 1939 para Varsóvia. Foram preservados na Seção das Actas do Ministério dos Assuntos Estran­geiros e estão guardados no Arquivo das Atas Novas em Varsóvia14. Encontram-se em bom estado.

Krzysztof Smolana

13. Relatório do Consulado Geral da RP em Curitiba para o MAE sobre a questão da estatística da emigra­ção polonesa no Brasil. Estritamente secreto, de 31 de março de 1939, AAN do MAE 10383, k. 21. 14. Ibidem, 1. 23/27.

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DADOS ESTATISTICOS DA POPULAÇÃO POLONESA NO BRASIL Arquivo das Atas Novas, Seção das Atas do Ministerio dos Assuntos Estrangeiros, pasta 10 383, k. 23-27 Estado do PARANÁ.

população polonesa Município ----------------------------------------------------------------------

1. Antonina 2. Araucária 3. Bocaguva 4. Bandeirantes 5. Colombo 6. Curitiba 7. Campo Largo 8. Campina Grande 9. Castro

10. Carlopolis 11. Cambará 12. Clevelandia 13. Entre Rios 14. Foz de Iguassú 15. Guaraquecaba 16. Guaratuba 17. Guarapuava 18. Ipiranga 19. Irati 20. Imbituva 21. Joaquim Tavora 22. Jaguariaiva 23. Jacaresinho 24. Lapa 25. Londrina 26. Lageado Bonito 27. Moretes 28. Marechal Mallet 29. Paranaguá 30. Piraguara 31. Ponta Grossa 32. Palmeira 33. Pirai 34. Prudentopolis 35. Palmas 36. Rio Negro

incsritos

5 201 —

22 490

4 880 3 692

— — -31 42

— 161 — —

4174 1 368 1750

150 307 255 —

5 161 234 — —

6 704 — 300

2 070 2 446

278 2 500

— 1 200

a inscrever

60 49

— — 270

5 620 168 300 850 -— 58

550 39 20 20

476 232

2 750 550 93

245 — 189 212

50 40 56 30

270 1 530

154 22

— 560

2 300

total

60 5 250

— 22

760 10 500 3 860

300 850 -

31 100 550 200

20 20

4 650 1600 4 500

700 400 500 —

5 350 446

50 40

6 760 30

570 3 600 2600

300 2 500

560 3 500

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37. Rio Branco 38. Ribeirão Claro 39. Rebouças 40. Rio Azul 41. Reserva 42. S. José dos Pinhais 43. Serro Azul 44. Senges 45. S. João do Triunfo 46. São Matheus 47. S.José da Boa Vista 48. Siqueira Campos 49. S. Antonio da

Platina 50. São Jeronimo 51, Sertanopolis 52. Tamandaré 53. Teixeira Soares 54. Tomazina 55. Tibagi 56. União da Vitória

— — 210

1 209 1 998 3 200

30 124 700

5 576 123 —

— — — — 315 244 90

6 935

550 — 340 141 302

1000 120 126 550 774 27

— — 20

1 950 335 22

280 135

550 — 550

1 350 2 300 4 200

150 250

1 250 6 350

150 —

— — 20

1 950 650 266 370

7 070

TOTAL 64 170 (cerca) 24 435 88 605

169 FUENTES

Estado do RIO GRANDE DO SUL.

Município

1. S. Luiz Gonzaga 2. Santa Rosa 3. Santo Angelo 4. Ijui 5. Palmeira 6. Irai 7. Boa V. do Erechim 8. Get. Vargas (Erechim) 9. Lagoa Vermelha

10. Guapore 11, Prata 12. Alfredo Chaves 13. São Jeronimo 14. Guaiba 15. Porto Alegre 16. Encruzilhada 17. S. José do Camaquam 18. Pelotas 19. Rio Grande (cidade) 20. Dispersos (aproxima­

damente)

TOTAL (aproximadamente)

inscritos

— —

2 349 — —

15 953 — -— — — —

2 222 — — — — -

20 524

população polonesa

a inscrever

9 000 5000 3000 —

3000 600 —

3 600 1 200 1 900

900 200

2 000 —

7000 13000 3 000

300 800

5 000

59 500

total

9 000 5 000 3 000 2 349 3 000

600 15 953 3 600 1 200 1900

900 200

2000 2 222 7 000

13000 3000

300 800

5 000

80 000

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Estado de SANTA CATARINA.

Município Inscritos a inscrever total

1. Ararangua 2. Bom Retiro 3. Brusque 4. Blumenau 5. Biguassu 6. Cresciuma 7. Campos Novos 8. Curitibanos 9. Concordia

l0. Curzeiro do Sul 11. Caçador 12. Canoinhas 13. Campo Alegre 14. Camboriu 15. Florianopolis 16. Gaspar 17. Hamonia 18. Imarui 19. Itajai 20. Itaiopolis 21. Indaial 22. Jaguaruna 23. Jaragua 24. Joinville 25. Laguna 26. Lages 27. Mafra 28. Nova Trento 29. Orleans 30. Palhoça 31. Passo dos índios 32. Porto União 33. Parati 34. Porto Belo 35. Rio do Sul 36. São José 37. São Joaquim 38. São Bento 39. São Francisco 40. Timbo 41. Tubarão 42. Tijucas 43. Urussanga

TOTAL

— — -

1 323 — 654 — — — — -

1 870 105 — — — — — 176 936 208 — 471 — — — 792 — 420 -— 841 — — — — —

1 302 — 430 — — —

20 80

160 377 20

348 100 110 230 300

180 3 330

445 12

360 60

700 25

1024 2 064

262 35

129 180 30

110 208 130 830 60

120 259 50 45

120 125 60

398 90 70

120 420

50

9 528 (cerca) 13 844

20 80

160 1700

20 1000

100 110 230 300 180

5 200 550

12 360 60

700 25

1200 3000

470 35

600 180 30

110 1000

130 1250

60 120

1 100 50 45

120 125 60

1 700 90

500 120 420

50

23 372

Estudios Latinoamcricanos 7, 1980 PL ISSN 0137-3080

Emigração dos trabalhadores agrários polonêses para São Paulo.

A tradicional emigração polonesa para o Brasil, que data do final do século XIX, teve um caracter agrícola-colonizador e concentrava-se principalmente nos estados do sul: Paraná e Rio Grande do Sul. No período de entreguerras, na segunda metade dos anos vinte, as autoridades polonesas interessaram-se pela possibilidade da emigração de Po­loneses, dirigidos como trabalhadores agrários para as plantações de café para o estado de São Paulo. Se esses projetos fossem realizados, isto constituiria em algo de novo com respeito à emigração agrícola colonizadora de até então. O diretor do Serviço de Emigra­ção da época — estabelecimento que funcionava junto ao Ministério do Trabalho e da Assistência Social e que centralizava as decisões quanto às questões da emigração nos anos vinte — Stanisław Gawroński, no outono de 1921, viajou para o Brasil, a fim de pessoal­mente orientar-se quanto às possibilidades de emigração para o estado de São Paulo e entabular os correspondentes contatos. O efeito dessa viagem foi a assinatura, em 19 de fevereiro de 1927, do acordo quanto à questão da emigração entre o Departamento do Trabalho do Secretariado do Estado para as questões da Agricultura, do Comércio e das Obras Públicas do Estado de São Paulo e o Serviço de Emigração*.

Em 1928, em São Paulo, foi aberta — a terceira no Brasil, ao lado das do Rio de Janeiro e Curitiba — uma representação diplomática polonesa. Para a mesma foi enviado como cônsul, Michał Świrski, nascido em 1886, egresso da Faculdade Tecnológica em, Gente, funcionário do Ministério das Relações Exteriores, anteriormente cônsul em Bytom2. Justamente ele é o autor do relatório abaixo publicado, datado de 19 VII 1929, intitulado «Perspectivas do desenvolvimento da emigração polonesa no estado de São Paulo», enviado para o Serviço de Emigração, e uma cópia para o Ministério das Relações Exteriores. O texto do documento foi extraído das coleções do Arquivo das Atas Novas de Varsóvia, seção MAE, Departamento Consular, assinatura 9639, pp. 155-1893.

1. O texto completo do acordo e informações mais detalhadas sobre o assunto encontram-se, entre outros, no artigo de S. G a w r o ń s k i : Emigracja polskich robotników rolnych do São Paulo w związku z zawartym 19 lu­tego 1927 układem {Emigração dos trabalhadores agrárias poloneses para São Paulo cm relação com o acordo concluído em 19 de fevereiro de 1927] «Kwartalnik Instytutu do Badań Emigracji i Kolonizacji», T. U (pelo trimestre segundo), 1927, pp. 5-40.

2. Bytom — cidade polonesa na Silesia, então pertencente à Alemanha.

3. Sobre as fontes arquivais para a história da Colônia Polonesa no Brasil escreveu K. G r o n i o w s k i : As fontes da história da emigração para o Brasil situadas nos arquivos da Polônia, « Estudios Latinoamericanos», Vol. 4, 1978, pp. 301-312,

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É difícil de avaliar no quanto o citado relatório teria influenciado o bloqueio das ten­dências no sentido de enviar para São Paulo os trabalhadores agrários poloneses. Em todo o caso essa emigração nunca tomou maiores proporções nos quadros de todo o movi­mento emigracional. Esses planos não foram realizados e continuados, e em abril de 1932 foi liquidado o consulado de São Paulo, aberto quatro anos antes. Um importante fator constituiu aqui, sem dúvidas, a crise da economia mundial daqueles anos.

Maria Anna Ignatowicz

173 FUENTES

Arquivo das Atas Novas de Varsóvia, seção MAE, pasta n° 9639, pp. 155-189.

PERSPECTIVAS DO DESENVOLVIMENTO DA EMIGRAÇÃO POLONESA NO ESTADO DE SÃO PAULO

A. ÁREA DE EMIGRAÇÃO

O Brasil, com o seu território quase igual ao da Europa, apresenta quanto ao desenvolvimento econômico e cultural extremos contrastes. Esse desen­volvimento encontra-se em fermentação febril em alguns centros no litoral atlântico, onde estão situados os portos e poucas linhas ferroviárias — a parte restante deste gigantesco país permanece adormecida, juntamente com as grandes riquezas naturais, cuja apreciação pode ser somente obra do futuro.

Tal desenvolvimento febril da vida econômica vemos sobretudo no esta­do de São Paulo, o mais rico e o mais industrializado em toda a Federação Brasileira. Esse estado contribui para o Tesouro da Federação com 58% de todos os ingressos do Estado, possui linhas de comunicação relativa­mente boas e uma rede ferroviária melhor desenvolvida.

O território do estado de São Paulo abarca, por um lado, uma estreita cadeia de montanhas, junto ao Atlântico, com caracter baixo, clima úmido e malárico, não se prestando à colonização européia; por outro lado, um extenso planalto, docemente inclinando-se para o ocidente até o rio Paraná, que constitui a fronteira ocidental do estado. O extremo oriental do planalto situa-se a cerca de 750 m de altura, enquanto o ocidental atinge 270 m acima do nível do mar. À medida que se desloca do leste para o oeste, as terras são cada vez mais férteis, o que motiva o gradual deslocamento das plantações de café para o oeste.

O estado de São Paulo compreende uma superfície de 290 800 km2, isto é, três quartos da superfície do Estado Polonês. Entretanto, o seu desen­volvimento é desigual, concentrando-se quase exclusivamente na parte oriental, mais próxima do Atlântico, onde se encontra a capital do estado e o principal porto — Santos. À medida que se desloca para o leste vê-se cada vez menos linhas ferroviárias e centros populosos. Isto tem para a emigração uma grande significação, pois lá onde termina a linha ferroviá­ria tem início o «sertão» — floresta ou estepe, onde as pessoas vivem em condições primitivas e para onde, entre os Europeus, se dirige somente os viajantes, pesquisadores da natureza ou missionários.

Assim portanto, a linha ferroviária, eventualmente a zona situada num raio de 40-50 km da mais próxima estação, criam a fronteira natural tanto para a colonização dos emigrantes, que têm de preservar uma livre comu-

J74 FUENTES

nicação com os mercados para a venda de seus produtos, como para os emigrantes que contam com o trabalho, como fonte de vida, nos maiores aglomerados urbanos e propriedades agrárias. É coisa aceita aí que a fazen­da racionalmente organizada não pode estar distante da estrada-de-ferro mais do que 50-80 km.

A segunda fronteira, mais elástica, poderia ser formada pelas condi ções climáticas. Essas são completamente adequadas para os nossos emi­grantes no estado de São Paulo. Deve-se considerar exageradas as infor­mações de que o clima de São Paulo é demasiado quente. Com exceção-dos terrenos baixos litorâneos, que constituem somente uma estreita faixa de terra, é em todas as partes saudável, enquanto a temperatura dos meses de inverno (junho, julho e agosto) é no planalto com frequência desagra­dável por causa dos arrefecimentos à noite, juntamente com a ausência de quaisquer instalações de aquecimento. Esse clima caracteriza-se contudo por uma grande pluviosidade e frequente mudança de temperatura durante o dia. Inclusive nos maláricos terrenos baixos litorâneos a colonização se desenvolve, mas aí puderam se manter unicamente os Japoneses.

As condições climáticas dependem, antes de tudo, não da latitude geo­gráfica, mas da altitude em relação ao nível do mar, que no planalto brasi­leiro atinge de 300 a 1200 m. Deste ponto de vista não só o estado de São Paulo é climaticamente apropriado, mas tambem o estado de Minas Gerais, Espírito Santo, Goias e parte significativa de Mato Grosso, que se situam em altitudes de 500 a 1000 m.

Assim portanto, as condições climáticas não limitam a área de emigração no estado de São Paulo. Sobre esta área decidem contudo: para os colonos — a distância da linha ferroviária, os preços e a fertilidade das terras; para a emigração por motivos econômicos — a superfície das plantações de café, os pontos de desenvolvimento da indústria, das obras públicas ou das propriedades agrárias, e o nível das remunerações em cada um desses setores de trabalho.

Para se chegar entretanto, à conclusões adequadas quanto a objetivi­dade deste ou de outro tipo de imigração, deve-se examinar, alem das condi­ções físicas, ainda as condições sociais e econômicas, assim como os aspectos da política interna paulistana, coisas que desempenham um papel signi­ficativamente maior.

B. POLÍTICA EMIGRACIONAL DO GOVERNO PAULISTANO

O estado de São Paulo caracteriza-se, quanto ao aspecto econômico, por dois principais fatores de desenvolvimento:

1. É o centro da produção do café, 2. É o principal centro do comércio, indústria e obras públicas. Os proprietários das fazendas de café necessitam constantemente de

grande quantidade de mão-de-obra para o cultivo das plantações. Num

175 FUENTES

país tão pouco populoso como o Brasil, eles não podem contar só com a população local, que aliás não se presta ao cultivo dos cafezais.

Antigamente o problema era resolvido diretamente pela importação de escravos da África. A escravidão foi abolida no Brasil somente há 40 anos (13 de maio de 1889) e desde aquele momento a crise da mão-de-obra per­dura, continuamente, de forma mais ou menos aguda.

A geração presentemente em governação foi criada ou ainda nos tempos da escravidão ou nas tradições dessa época recente, cuja psicologia tem ain­da uma importante influência moral sobre a configuração das relações entre os empregadores e operários [trabalhadores].

Num país onde a única medida do valor humano é o dinheiro, os milio­nários da café constituem desde há muito a classe social mais influente. O governo paulistano é composto, predominantemente, pelos grandes pro­prietários das plantações de café; os interesses dos plantadores são, portan­to, a principal diretriz da atividade legislativa e da política emigracional desse governo. Os aspectos econômicos inclinam-se, aliás, completamente, em favor da colocação em primeiro plano dos interesses dos plantadores, pois a exportação do café é aqui, como é sabido, a base da riqueza nacional. Esses interesses exigem, antes de tudo, a garantia aos plantadores de uma quantidade fixa e significativa de mão-de-obra em forma de trabalhadores estabelecidos na fazenda, trabalhando juntamente com as famílias, os cha­mados colonos. São recrutados entre os emigrantes da Europa, dentre os quais os Poloneses pertencem aos mais procurados. A causa dessa demanda de emigrantes poloneses é entretanto não só a sua perseverança no trabalho e suave caracter, mas em significativa medida o seu baixo grau de cultura e falta de habilidade em fazer valer seus direitos, o que permite a muitos plantadores uma exploração sobremaneira em relação ao trabalhador polo­nês. No decorrer desse trabalho encontrar-se-ão exemplos que decidida­mente ilustram essa afirmação.

Eis que esse mesmo plantador que em sua fazenda tende, através de to­das as maneiras, à exploração de seus «colonos» e não cumprimento das condições do acordo, em São Paulo atua como membro do governo, ocu­pando-se da questão dos acordos emigracionais com o representante do Estado estrangeiro. Nesse papel assume obrigação frente a esse Estado e seus cidadãos e promete controlar a si próprio como fazendeiro. Aqui se encontra uma das causas, pelas quais o acordo emigracional assinado em nome do Governo Polonês pelo Sr. St. Gawroński1, nunca teve duradouro apoio e permaneceu irrealizado. Quem conhece as relações brasileiras, sabe bem que qualquer rigor geral não se consegue aplicar aos fazendeiros, e que as condições de existência em dada fazenda dependerão sempre e exclusi­vamente do caracter e dos hábitos do proprietário. Os fazendeiros se consi­deram senhores autocráticos em suas terras e estão habituados, através de séculos, à arbitrariedade e fazer justiça segundo seu reconhecimento.

1. Ver a introdução.

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Qualquer parágrafo do acordo escrito e assinado pelas autoridades locais não está em condições de mudar tal situação, pois as autoridades executivas frente ao protecionismo local, às influências partidárias todo-poderosas e ás grandes distâncias, sempre serão impotentes.

A atitude do governo paulistano frente às questões da emigração da Europa é definida pelo princípio de que os plantadores necessitam de traba­lhadores e não de concorrentes. De acordo com isto, o governo apoiará a imigração por motivos econômicos, e não a de colonização.

Com isto justamente se explica que o estado de São Paulo, que no decor­rer do último século fez vir mais imigrantes do que cada um dos três estados sulinos do Brasil, tenha criado, apesar disto, uma quantidade menor de colônias agrícolas, dirigindo todos os recém-chegados para o trabalho nas plantações de café.

Isto fez com que o estado de São Paulo não possua tradições de coloni­zação (colônias estabelecidas) e que sua ação de trazer imigrantes de países estrangeiros é sempre levado a efeito com o fito de utilizá-los como traba­lhadores nas fazendas de café. Tal tendência da política imigracional paulis­tana pode somente se fortalecer, tendo em vista a aproximação da crise do café, quando a demanda de trabalhadores para as plantações tornar-se-á ainda maior. Compreendendo que a criação de colônias significa afastar os imigrantes do trabalho nos cafezais, o governo paulistano abandonou recentemente a projetada colonização nos arredores de Itapetininga. Por este motivo também não surtem efeito os esforços dos emigrantes hún­garos, no sentido de que o governo lhes facilitara a aquisição de terras para a colonização, nos arredores de Guapiava.

O atual presidente do estado é decidido adversário da emigração sub­sidiada, o que em última análise imobilizou o nosso acordo emigracional baseado neste princípio. Uma séria influência exerceu também o exemplo do Japão, cujo governo subsidia dos fundos próprios a emigração japonesa para o Brasil, pagando não só a viagem dos emigrantes, mas dotando-os, com bastante suficiência, de meios para se instalarem e trabalharem.

O sistema de subsídio das viagens é aplicado contudo pelo governo paulistano para os trabalhadores Brasilianos [é mantida aqui a forma usada pelo autor — nt] trazidos dos estados do norte. O valor desse elemento é entretanto mínimo e trouxe aos fazendeiros grandes perdas. Não acostu­mados ao trabalho, nem a cumprir quaisquer obrigações aceitas, fogem da fazenda levando consigo, com frequência, a roupa que o fazendeiro lhes deu em troca dos trapos trazidos, e o adiantamento em dinheiro para as primeiras necessidades. Os trabalhadores Brasilianos (maior parte das vezes negros e mulatos do norte) prestam-se unicamente para a derrubada e queima das florestas, enquanto para o cultivo dos cafeeiros o fazendeiro tem de trazer os imigrantes europeus. Além disto, é segredo público que os motivos para se trazer trabalhadores do norte são de natureza política e que o governo local traz dessa maneira trens inteiros de eleitores obedientes para as mais próximas eleições.

A segunda causa que age negativamente sobre o desenvolvimento da

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emigração de colonização é a possibilidade relativamente fácil de encontrar trabalho na indústria ou nas obras públicas. Para o emigrante que chega a Santos essas possibilidades criam um ponto de apoio no primeiro momen­to, antes de fazer uma sondagem e escolher uma profissão mais sólida. Com frequência, os emigrantes que aqui chegam visando o trabalho nas fazendas são absorvidos pelo trabalho fabril ou pelas grandes obras públicas, e com o passar do tempo dedicam-se exclusivamente a esse modo de ganhar dinheiro.

Assim portanto as condições econômico-sociais no estado de São Paulo, nas quais se baseia a política imigracional do governo local, criam uma situação favorável para a emigração por motivos econômicos, mas difícil para a emigração de colonização.

C. MOVIMENTO IMIGRACIONAL NO ESTADO DE SÃO PAULO

A imigração europeia mais intensiva, para o estado de São Paulo, teve início no período de 1877-1886 e abrangia principalmente Italianos e Por­tugueses. A imigração italiana continuou, nas seguintes décadas, sendo pre­dominante do ponto de vista numérico, atingindo durante um século — de 1827 a 1926 — cerca de um milhão de pessoas. O número global dos imigrantes chegados ao estado de São Paulo durante o período citado foi de 2 230 166 pessoas. Sendo 1 630 000 de Italianos, Espanhóis e Portugueses. Os povos romanos constituem, portanto, entre os emigrantes destinados a São Paulo, a gigantesca maioria. Isto é compreensível tanto por causa do parentesco da língua como pela melhor adaptação dos povos do sul às condições climáticas locais.

Em 1927, a estatística dos emigrantes chegados a São Paulo apresenta-se, segundo a nacionalidade, da seguinte maneira:

Chegados através do porto de Santos em 1927:

Lituanos 11 844 Portugueses 11 840 Japoneses 9 063 Italianos 8 311 Brasilianos 7 435 Espanhóis 7 357 Alemães 2411 Iugoslavos 2 319 Sírios 1 851 Poloneses 1 533 Outras nacionalidades 4 468

total 68 432 68 432

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Vieram através de trem de outros estados:

Romênia 204 Indus 92 Portugueses 92 Alemães 57 Poloneses 54 Italianos 42 Espanhóis 16 Austríacos 14 Lituanos 13 Outras nacionalidades 26 Brasilianos 23 371

Total 23 981 23 981

No total chegaram em 1927 92 413

Como vemos, os Poloneses nesse contexto numérico constituem 1,7%. Do número total dos 92 413 imigrantes chegados a São Paulo havia

23 314 subsidiados e 68 097 que chegaram por seus próprios custos. Esses números são dignos de atenção, pois serviram ao governo paulistano como argumento provando que a subvenção da emigração é dispensável, pois a estatística demonstra que predominam os emigrantes que chegam por conta própria. Que essa proporção não é um fenômeno casual, criado so­mente em 1927, indica a estatística das duas últimas décadas, segundo a qual de 1906 a 1917 chegaram 185 338 emigrantes subsidiados e 343 122 por conta própria, e no período 1917-1926 esses números atingiram, correspon­dentemente, 162 882 e 321 012.

É interessante conhecer igualmente o chamado coeficiente de fixação, que indica a relação porcentual dos imigrantes que permaneceram no Brasil face aos que, nesse mesmo período, partiram em retorno à Europa. Essa relação em 1927 apresenta-se para as diferentes nacionalidades da seguinte maneira :

Nacionalidade Permaneceram Partiram para no Brasil (em%) seus países (em %)

Lituanos Iugoslavos Japoneses Sírios Poloneses Espanhóis Portugueses Alemães Brasilianos Italianos

95,7 91,5 90,5 68,5 56,7 55,5 46,1 29,1 23,3 15,6

4,3 8,5 9,5

31,5 43,3 44,5 53,9 70,9 76,7 84,4

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Esses números referem-se às chegadas e saídas através do porto de Santos. A elevada porcentagem dos Lituanos e Iugoslavos deve-se atribuir, antes de mais, a certa carência de espírito de empreendimento e baixa cultura geral, quanto os Japoneses esse resultado é, completamente ao contrário, consequência da boa organização, sólida elaboração do plano de trabalho e da posse de capital suficiente. Isso faz com que os Japoneses não hesitem e não recuem em relação aos objetivos colocados, mas cumpram consequentemente o programa a priori delineado. Entre os restantes, unica­mente os Poloneses e Alemães podem ser considerados como elemento agrícola. Outras nacionalidades ocupam-se, aqui, sobretudo do comércio ou corretagem.

Em 1928 a estatística dos imigrantes chegados ao estado de São Paulo indica as cifras seguintes: Brasilianos 46920 Japoneses 10 948 Portugueses 2 116 Espanhóis 672 Poloneses 506 Lituanos 445 Italianos 351 Romenos 192 Alemães 185 Iugoslavos 85 Austríacos 62 Indús 46 Checoslovacos 30 Russos 28 Letões 34 Húngaros 13 Franceses 13 Outras nacionalidades 44

No total a soma das pessoas chegadas de todas as nacionalidades atinge 62 690.

Referentemente a 1929 idôneas podem ser as cifras que indicam a quan­tidade de imigrantes chegados ao Hotel Emigracional em São Paulo, em cada mes, até 1 de julho daquele ano. Essas cifras não abrangem, unica­mente, aqueles emigrantes que chegados de Santos a São Paulo, não passa­ram pelo Hotel Emigracional e seguiram diretamente para o lugar de tra­balho determinado anteriormente. Essa porcentagem entretanto não será significativa e não mudará fundamentalmente o estado de coisas.

Nacionalidade

Brasilianos Japoneses Portugueses Lituanos Poloneses Espanhóis Alemães Italianos Austríacos Iugoslavos Romenos Outras nacionalidades

Chegados no período Chegados no período de 1.1. até 1.4. 1929 de 1.4. a 1.6. 1929

18168 11119 4 240 3 264

908 828 231 676 161 200 148 224 39 46 37 120 21 19 16 39 11 32 40 123

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No total, o número dos chegados através do porto de Santos, durante o primeiro semestre daquele ano e localizados no Hotel Emigracional em São Paulo atinge 34 867 pessoas. Neste número os Poloneses constituem um porcentagem muito mais significativo do que no ano anterior, ainda que deva supor-se que a quantidade das chegadas aumentará na segunda metade do ano. Além disto, deve-se considerar o fato de que uma quanti­dade bastante significativa de Judeus, cidadãos poloneses, aqui chega em resultado da convocação da família e seguem diretamente para o lugar de moradia.

Cifras concretas referentes ao movimento geral de cidadãos poloneses através do porto de Santos poder-se-á dar somente após a publicação da correspondente estatística por parte da polícia, após o término do ano corrente.

Do ponto de vista das necessidades locais, que se expressam sobretudo na garantia do correspondente cultivo das plantações de café, o valor dos elementos emigracionais acima citados, de diversa nacionalidade, é muito heterogêneo. Os povos romanos, que por causa de língua aparentada e maior facilidade de aclimatização pareciam mais adequados, não se encon­tram em primeiro plano nessa classificação, pois o modo de ser mais em­preendedor e maior necessidade de independência levam-nos a procurar remunerações no comércio. Os que entre eles trabalham nas fazendas (prin­cipalmente italianos) constituem um elemento bastante inquieto, sabendo valer seus direitos e com freqüência isto o faz com arma na mão. Eis porque também os proprietários das plantações que empregam colonos italianos são obrigados a um comportamento relativamente honesto em relação aos mesmos.

Em grau significativamente maior possuem essas propriedades os Brasi­lianos, que pegam em armas por qualquer motivo, quando sentem-se preju­dicados. Esse traço ligado com a sua preguiça nata e incapacidade de tra­balho faz com que sejam considerados pelos plantadores como o pior elemento para o trabalho.

Um grupo completamente diferente constituem os Japoneses, que pos­suem uma excelente organização, sobre aqual falaremos a seguir detalha­damente. Entretanto, não são queridos, pois não se assimilam completa­mente, solidarizam-se imediatamente com cada pessoa do seu meio preju­dicada e tendem não a permanecerem no papel de trabalhadores, mas à criação de colônias próprias.

Outras nacionalidades ainda, como por exemplo, os Húngaros, Rome­nos, são considerados aqui como não adequados, por causa da impetuosi-dade do caracter e dos litígios continuamente daí resultantes.

Os povos eslavos, em primeiro plano os Poloneses, têm contudo muito boa opinião junto aos plantadores. Os proprietários das grandes fazendas, educados nas tradições da escravidão, consideram os povos eslavos como o ersatz relativamente melhor da antiga e gratuita força de trabalho.

Nas últimas semanas, um dos plantadores abordou na imprensa o inte­ressante projeto de evitar a carência de mão-de-obra fazendo vir para o Bra-

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sil grande quantidade de Chineses das regiões do sul da China. O autor do projeto sublinha que esses Chineses, possuindo poucas exigências e grande laboriosidade, são um povo calmo, paciente e que não colocam em primeiro plano o seu nacionalismo, como fazem os povos europeus ou os Japoneses. Além disto, são por gosto excelentes horticultores e sua capacidade nesta direção pode influenciar no aumento dos ingressos das propriedades agrá­rias. Esse projeto, por enquanto ainda muito recente de modo que possa ser já objeto de análise nas esferas governamentais, influenciaria, em caso de realização, na importante mudança das relações no domínio da imigração para o Brasil.

D. IMIGRAÇÃO DE COLONIZAÇÃO NO ESTADO DE SÃO PAULO

1. Colônias presentemente existentes

Frente às tendências acima mencionadas do governo paulistano na questão da imigração de colonização, o estado de São Paulo possui uma quantidade relativamente muito pequena de colônias. Podem ser divididas em dois grupos: as colônias criadas antigamente pelo governo, no período 1880-1910, e as colônias surgidas mais tarde e criadas não pelo governo, mas por sociedades privadas.

Ao primeiro grupo pertencem: a) São Bernardo, fundada há 38 anos como núcleo colonial habitado

por famílias polonesas (150), lituanas, russas, francesas e alemãs. Esses colonos com o passar do tempo deixaram as colônias, transferindo-se principalmente para a cidade próxima de São Paulo. Das 150 famílias polonesas aí se encontram no presente momento somente seis.

b)c) As colônias de Pariquera Assúa e Nova Europa foram fundadas pelo governo há 20 anos. Contavam cada uma com algumas centenas de famílias pertencentes às mesmas nacionalidades que os colonos de São Bernardo. Em ambas essas colônias viviam inicialmente, em cada uma, algumas deze­nas de famílias polonesas. Presentemente, em Pariquera Assúa vivem so­mente algumas famílias polonesas, e na colônia de Nova Europa um pouco mais de dez. Os nossos colonos, em comparação com outras nacionalidades que habitam a colônia Nova Europa, encontram-se em situação relativa­mente pior, e se possuem bens isto se deve não ao desenvolvimento da pro­priedade, mas à valorização dos terrenos em contínuo crescimento no que toca aos preços. Apesar de que essa colônia se encontre nos arredores das fazendas de café, somente um dos nossos colonos — Adam Januszkiewicz — conseguiu criar uma plantação de café e possui atualmente cerca de 7000 cafeeiros em frutificação.

d) Na colônia Nova Odessa, a última fundada sob os auspícios do go­verno paulistano, não existe Poloneses. Aí vivem Russos de diversas loca­lidades, não excluindo da Sibéria. Pelo que resulta das conversas com os colonos, têm boa situação e esta se desenvolve.

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Presentemente, o governo paulistano não dispensa quaisquer subvenções para a colonização permanente, assim como não a organiza. Contudo, existem sociedades privadas que vendem terras aos colonos e organizam a colonização. Essas colônias encontram em diversos estados de desenvol­vimento, dependentemente da mais ou menos eficiente organização dos co­lonos e seu capital inicial. Dentre elas as mais importantes são as seguintes:

a) Colônia Varpa, habitada por Letões batistas, bem organizada e figu­rando muitas vezes como modelo nas publicações de propaganda sobre o estado de São Paulo. Aí vivem cerca de 1500 pessoas.

b) colônia de Santo Anastásio, habitada por Lituanos e Bessarabianos, c) colônia Presidente Prudente, (Baliza) habitada por Lituanos, Alemães

e Bessarabianos, d) colônia Fazinal, habitada por Lituanos e Bessarabianos, e) colônia Cutia, pequena colônia onde se estabeleceram somente Ale­

mães. f) colônia de São José de Campos, alemã, com alguns elementos de

outras nacionalidades.

2. Áreas ainda livres

Embora o estado de São Paulo, ocupado em significativa parte por grandes plantações de café, possua menos terra livre para a colonização do que outros estados, existem aqui entretanto áreas que podem ser adquiri­das para fins de colonização. Existem grandes amplitudes de terras nâo cultivadas, cujos proprietários aproveitando-se dos impostos mínimos da terra aguardam a elevação dos preços e melhor oferta, deixando seus terrenos baldios, por falta de recursos e mão-de-obra dependem da distância das linhas ferroviárias e crescem à medida da aproximação de São Paulo. Ao longo das linhas ferroviárias Sarocabana e Norte, numa distância de 20-40 km da estação, um alqueire de terra (um alqueire — 2,4 ha) nos ter­renos de 10 alqueires cada um custa em média 400 milréis num período de pagamento de quatro anos. Entretanto, a terra nessa região é de baixa qualidade, exige adubo, ou pousio de alguns anos. Mais próximo de São Paulo, numa distância de cerca de 40 km da cidade, junto a estrada, os preços chegam a 2000 milreis por alqueire, não se falando já das regiões suburbanas, onde a terra é vendida a metro por preços muito elevados. As vezes entretanto, o colono pode comprar a terra por ocasião, de um proprietário individado, mas tais situações não podem ser consideradas no caso da formação de maiores centros de colonização.

As terras de café, situadas a oeste das linhas ferroviárias Sarocabana e Norte, inclusive na distância de cerca de 50 km custam 500 milreis por alqueire, e junto às estações ferroviárias chegam a 1000 milreis por alqueire e mais.

O governo paulistano, presentemente, apoia cada vez mais o desen­volvimento das plantações de laranjas, compreendendo que apoiar o bem--estar do Estado somente na cultura de café pode ser no futuro, com as espe-

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radas crises de superprodução, perigoso para o equilíbrio econômico do estado.

As maiores plantações de laranja desenvolvem-se no município de Li­meira, cujas autoridades têm presentemente a intenção de colonizar 2000 alqueires de terra distribuídos entre trabalhadores da Europa Central, sendo incluídos nessa categoria também os Poloneses. O preço do alqueire de terra sobcultivo de laranjas atingirá 2000 milreis. Essa cultura pode dar em verdade rendimentos significativos.

Muito vantajoso é também o cultivo de vegetais, levado a efeito aqui principalmente pelos Italianos, que têm terrenos nas regiões suburbanas. Cada propriedade agrária explorada intensivamente, inclusive numa peque­na área, mas contando com as condições locais, conduzindo somente as cul­turas que dão o melhor rendimento e adequadamente dirigida, dão aqui sem dúvidas significativos lucros e assegura completamente o futuro.

Existem muitos exemplos indicando como relativamente rápido puderam aqui ganhar a vida os colonos que se adaptaram completamente às condi­ções locais e organizaram suas propriedades sob o ângulo da cultura inten­siva e da organização comercial no grau mais elevado possível. Entretanto todos esses exemplos encontramos entre as nacionalidades, com exceção dos Poloneses. Eis porque também a resposta à pergunta de se o estado de São Paulo apresenta para os colonos um futuro, tem de ser muito relativa, dependentemente das propriedades do caráter, do espírito empreendedor e da cultura geral que caracterizam dado grupo de colonos.

3. Característica do emigrante polonês

A literatura e as descrições das viagens pelo Brasil criaram na sociedade polonesa o concenso do vigor do camponês polonês, das suas capacidades pioneiras, da dureza do caráter e da perseverança com que conquista passo a passo as florestas do Brasil. As publicações dos últimos tempos, possuindo caráter descritivo e de relatório, confirmaram em grande medida esse modo de ver. Entretanto, o valor do emigrante polonês deve ser medido não com a medida dos grandes esforços e pesados trabalhos que apresentou, mas só e exclusivamente com os resultados que alcançou. Quanto melhores os resultados simultaneamente com menores fatigas, tanto maior é o valor do emigrante.

Portanto, a única apreciação justa será a comparação dos resultados alcançados pelo emigrante polonês com os resultados do trabalho do Ale­mão, do Italiano, do Japonês ou Letão. Se tomarmos somente como base justamente esse critério, único justo, chegaremos a resultados completa­mente diferentes do que aqueles que nos apresentam em cores patrióticas e rosadas os viajantes e os autores de relatórios, admirando o vigor dos habi­tantes das regiões polonesas da Mazúria e Kujawy2. A apreciação impar-2. Mazúria — região no nordeste da Polônia; Mazurianos — habitantes dessa região. Trata-se aqui pro­vavelmente de um erro, pois a referência é feita antes de tudo ao Mazowszano [le-se Mazovchano — nf], habi­tante da Mazowsze, região da Polônia central. Kujawy — região no baixo Vistula: Kujawiano — habitante desta região.

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ciai dessas questões através da comparação seria uma interpretação muito mais justa dos sentimentos patrióticos, pois indicaria a fonte dos defeitos, e talvez as maneiras da sua superação.

Ao analisarmos essa questão encontramos logo no início certa contra­dição aparente, que deve ser esclarecida. O emigrante polonês tem junto aos estrangeiros a opinião de excelente trabalhador, isto seja na agricultura, na fábrica ou no artesanato. Por outro lado, as colônias polonesas, seja no campo ou na cidade, sob cada aspeto são inferiores às colônias de outras nações, quanto ao acervo, organização e bens possuídos. As causas dessa contradição encontram-se nos traços do caracter do imigrante polonês; o emigrante polonês trabalha bem sob a direção alheia, e mal quando é dei­xado à própria iniciativa. Este é um fato de primordial importância, que deve ser considerado antes de tudo quando da criação na emigração de quaisquer aglomerados poloneses. Vale à pena examinar mais de perto as causas secundárias desse estado de coisas:

A primeira delas é a rotina, inércia e falta de iniciativa, que obrigam o emigrante polonês a manter obstinadamente esses métodos de trabalho, aos quais se habituou na Polônia. Não sabe explorar a riqueza do solo e o clima do Brasil, nem inclusive aproveitar o exemplo dos vizinhos estran­geiros, que ao seu lado cultivam lucrativos produtos locais.

Entre os colonos poloneses que se encontram nas terras apropriadas para o café, o cultivo deste produto constitui uma extraordinária raridade, e o mesmo se dá com o cultivo de laranjas, tabaco, açúcar, mandioca, lucer­na. Não acontece igualmente do colono polonês estabelecido próximo da cidade se ocupar do cultivo extraordinariamente lucrativo de legumes e ver­duras. O emigrante que chega ao Brasil procura terras desflorestizadas, na qual pode usar o arado, não querendo compreender que a falta de floresta indica justamente a mà qualidade do solo. No estado de São Paulo, onde inúmeras e ricas cidades influenciam o crescimento dos preços e do nível de vida, o agricultor tem de conduzir uma cultura intensiva que traga sempre grandes lucros. No domínio da agricultura, assim como na indústria existe também a especialização. Eis porque também uma exploração calcu­lada para trazer o maior lucro possível, deve escolher certo tipo lucrativo de cultura e, aplicando todos os mais modernos modos de cultivo, conduzi-la à perfeição. Isto não conseguiu até agora o emigrante polonês; semeia de tudo um pouco e em nada alcança um sucesso de destaque. Contudo quando se convence que seus vizinhos estrangeiros alcançam excelentes resultados, lá onde somente chega a vegetar, perde o ânimo e/ou vende-lhes a terra, ou limita-se a imitar o camponês brasileiro, que através de uma maneira primitiva semeia um pouco de milho, feijão ou arroz, só para sobreviver.

Tocámos aqui o segundo defeito do emigrante polonês, isto é, a ausência de aspiração em alcançar um escalão social ou material superior. Inúmeros exemplos desse traço encontramos no seio da emigração por motivos eco­nômicos. O artesão, seja Alemão, Italiano ou Espanhol, que após chegar aqui começa a trabalhar como simples trabalhador, já após alguns anos possui oficina própria, e logo monta uma loja ou fábrica e não raro con-

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quista grande fortuna. O Sírio que chega a Santos, sem dinheiro, as vezes começa por tirar o paletó por causa do calor e vende-o na rua, começando desse modo a profissão de vendedor ambulante, e que com a ajuda dos compatriotas em breve monta uma pequena loja de tecidos, encontrando-se dentro de dez anos à frente de uma grande firma. O emigrante polonês, que inicia o trabalho como simples trabalhador, chega ao máximo ao cargo de mestre artesão ou fabril, mas nunca quase torna-se proprietário de loja ou empresa. Com o trabalho do emigrante polonês enriquece-se, contudo, sempre, o estrangeiro, que em troca lhe cria a merecida opinião de trabalhador honesto e laborioso.

O terceiro traço do nosso emigrante é a falta de tino comercial. Para este mal é mais difícil de encontrar uma solução, pois como se sabe em virtude das diversas e específicas circunstâncias históricas o desenvolvi­mento do comércio na Polônia foi travado e o nosso acervo geral nesse sen­tido tem sido até agora fraco. No estado de São Paulo, onde vigora a per­seguição do ouro e o ritmo da conquista de fortunas espelha-se no dos Esta­dos Unidos da América do Norte, esse traço coloca o emigrante polonês-muito atrás dos concorrentes de outras nacionalidades no plano comercial. Isto reflete-se também na agricultura, criando a inabilidade acima apontada na escolha do cultivo e condução de explorações intensivas e lucrativas.

Por fim, o quarto e último defeito do nosso emigrante a ser examinado para os fins deste trabalho é a falta de solidariedade. É esta uma coisa tão generalizadamente conhecida que é suficiente lembrar aqui quão grande constitui uma barreira para as atuações comuns, seja para o desenvolvi­mento da colônia ou para o movimento cooperativo, seja para a criação de quaisquer associações e empresas visando lucros. Lateralmente, este defeito, dividindo as colônias em pequenas frações em luta entre si no pano de fundo de animosidades pessoais ajuda à desnacionalização e isto em rápido progresso.

4. Condições de sucesso da ação de colonização

As observações acima feitas não provocam otimismo sobre a questão da ação polonesa de colonização. Entretanto, não se deve delas concluir que essa ação, em todas as circunstâncias estará condenada ao insucesso. Pro­vam unicamente que tal insucesso será conseqüência da má preparação, como se ve até agora, dos emigrantes para o trabalho nas colônias, e do fato de se encontrarem entregues a sua própria sorte. Os Japoneses, que aqui podem constituir modelo como colonos, não teriam alcançado tão bons resultados, com certeza, se o governo japonês não criasse para seus. emigrantes cursos de colonização, que os põem em contato, ainda no país de origem, com todas as propriedades das novas terras, com os aspectos culturais, com a língua portuguesa, etc. A um emigrante preparado desse modo é muito mais fácil dar conta num país tão diferente da sua pátria. No caso do emigrante polonês, só a própria preparação não é suficiente — deve-se ainda envolve-lo com assistência, ajuda e controle, a fim de anular

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as influências negativas exercidas pelas características acima mencionadas do próprio caracter do emigrante. Considerando todos esses fatores temos de chegar à convicção de que a ação de colonização pode aqui alcançar sucesso com a preservação das seguintes condições.

a) sólida e multilateral tomada de conhecimento por parte do emigrante, ainda na pátria, das condições de existência no Brasil e do estado ao qual se dirige do caracter da cultura agrária, da rentabilidade dos diversos culti­vos, e dos conhecimentos práticos da língua portuguesa.

b) a colonização dos emigrantes somente através de um grupo maior, a fim de evitar a dispersão, em cujas condições o emigrante torna-se primi­tivo, erradica o seu caracter nacional e assemelha-se ao camponês brasileiro.

c) a entrega de cada grupo deste tipo à administração de um instrutor compreensível e honesto, que conheça perfeitamente todas as condições locais, todas as propriedades da agricultura e horticultura locais e possuindo já certas relações entre as autoridades locais. Tal instrutor deveria possuir também certa autoridade administrativa, que asseguraria que, pelo menos no decorrer dos primeiros três anos, o emigrante estaria o b r i g a d o a se subordinar às suas diretivas.

Nessas condições o grupo de colonos concentraria imediatamente seu trabalho nas linhas adequadas e seria obrigada a observar certo ritmo de progresso econômico. Com o tempo, os emigrantes convencem-se da utili­dade desse método, de início aplicado sob certa pressão, e os mais capazes deles poderão constituir material para futuros instrutores, evidentemente após o sólido estudo dos cursos, que com este fim deveriam ser aqui orga­nizados.

Num tal sistema as terras teriam de ser compradas pelo governo, que face a condução da cultura intensiva por parte do grupo de colonos teria garantido o retorno da soma dispendida.

5. Capital indispensável para a família de colonos

Como orientação, quanto ao nível dos custos que tem presentemente de assumir uma família de colonos para se estabelecer no estado de São Paulo, apresento a baixo a tabela, tomando como base que tal família não con­duzirá uma exploração intensiva rentável numa área menor, mas em geral numa propriedade com uma área de pelo menos 10 alqueires, isto é, 25 ha. Como preço médio da terra adotamos 450 mureis por alqueire, do que 1/3 deve ser pago imediatamente e o resto a longo prazo. Trata-se aqui de terra florestizada, onde não ha necessidade de trações, arados e arma, mas bastam o machado, foice e enxada.

Pagamento de 1/3 da terra em reis 1.500 $000 Contr. da casa e dependências „ 2.000 $000 Galinhas e leitões ,„ 150 $000 Machados, enxadas e serras „ 100 $000

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Alimentação de uma família composta por 5 pes., durante o primeiro ano, sendo 80 $000 por mes „ 4.800 $000 Viagem da Polônia para São Paulo para uma fam. de 5 pes. e roupa ,, 6.000 $000

Total „ 14.550 $000 Em dolar: 1 732 dólares americanos.

Tal soma deveria trazer da Polônia a família de colonos para aqui se estabelecer de maneira a dar certas esperanças para o futuro, juntamente com uma boa adaptação às condições locais. Do ponto de vista dos interes­ses do país deve-se sublinhar que a família ao sair com este capital no mais das vezes nada envia à Polônia.

Certamente, com a organização da ação de colonização em grupos, os custos assumidos — como foram mostrados acima — pelo emigrante seriam menores e o interesse do país melhor assegurado.

Entretanto, com segurança, o estado de São Paulo, por causa da sua mais densa povoação por elementos ativos, com tino comercial e laboriosos, não se encontra num primeiro plano como região da colonização polonesa como a conduzida até agora. Contudo, se os emigrantes poloneses soubessem se adaptar às condições locais e se acostumassem a conduzir explorações intensíveis e rentáveis, assim como horticulturas e pomares, o estado de São Paulo lhes permitiria alcançar proveitos significativamente maiores do que outros estados menos povoados e possuindo menos aglomerados urbanos. Tal adaptação, entretanto, poder-se-ia esperar somente se o tra­balho do emigrante fosse dirigido e controlado pelo instrutor-administrador atuando em função do governo.

E. EMIGRAÇÃO POR MOTIVOS ECONÔMICOS

1) O trabalho nas fazendas de café

De todos os países, cujos cidadãos formam os contingentes imigracionais que anualmente chegam ao Brasil, unicamente a Polônia procurou abordar as condições da estadia de seus emigrantes aqui em forma de acordo com o governo paulistano. Essa tentativa não trouxe resultados e as observa­ções acima (ponto B) feitas explicam as causas desse insucesso. Na prática a fazenda é uma fortaleza fechada, cujo acesso para fins de controle não é dado a ninguém. A contabilidade da fazenda e o estado da conta de cada um dos trabalhadores são coisas que na fazenda constituem segredo seve­ramente guardado frente aos trabalhadores. Em muitas fazendas, o traba­lhador é severamente castigado pela tentativa de acesso à contabilidade e controle da sua conta. A administração comporta-se com a contabilidade completamente sem cerimônia, atribuindo ao trabalhador quaisquer quan­tidades de produtos e adiantamentos tirados, como se afirma. A prática mostrou que reclamações não surtem efeito quanto a esses abusos, pois as autoridades nunca consentem no controle oficial da contabilidade da fazen-

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da, e aos depoimentos das testemunhas dentre os trabalhadores, em princi­pio, não dão fé. Além disto, a administração da fazenda tem sempre possi­bilidade de prejudicar o trabalhador, no que respeita a semeadura que excepcionalmente pode fazer entre os cafeeiros sob seus cuidados. Esses abusos têm lugar continuamente, sem nenhuma possibilidade de qualquer intervenção para a melhoria das relações. No presente momento, entre tantos exemplos de abusos da administração das fazendas de café, o consu­lado tem, em fase de regularização, um dos mais característicos.

Da fazenda de São Martim, estação Martinho do Prado, conseguiram fugir dois trabalhadores poloneses, Antoni Wyrębski com o filho e A. Ba­ranek, que inquiridos protocolarmente no Consulado depuseram sobre as relações bárbaras dominantes na fazenda. Dessa fazenda nenhum dos tra­balhadores tem direito de sair e contra os que procuram fugir atiram os chamados «capangas», postados ai como guardas. Quando a saída da fazenda tem lugar com a permissão da administração, nunca deixam sair toda a família, mas só o marido ou a mulher, deixando o segundo como refém. Na estação ferroviária mais próxima a caixa não vende bilhetes para os trabalhadores sem permissão escrita da administração da fazenda. Toda a correspondência passa pelo escritório da fazenda, que a controla ou destrói de tal maneira que os papeis oficiais do Consulado endereçados às famílias interessadas como carta registrada não foram entregues.

Claro, nenhuma condição do contrato é mantida, e os trabalhadores são explorados pela administração de maneira tão descarada, que, por exemplo uma família italiana trabalhando nessa fazenda, após 12 anos de trabalho deve à administração da fazenda 15 mil milreis. Em certo caso a adminis­tração deteu à força umas famílias de trabalhadores poloneses que fugiram e foi necessária a intervenção pessoal do Chefe do Consulado junto ao Ministro da Justiça do estado de São Paulo para tirar esses escravos da fazenda. Mas ainda nesse acaso a administração declarou que as mulheres em questão viajaram há um mes atrás em direção desconhecida, o que está em curso de ser verificado. Esses tipos de relações pode ser que sejam excep­cionais, mas em absoluto não únicas em seu genêro. O proprietário da fa­zenda, como a maioria dos plantadores de café, tem enormes influências no governo estadual e qualquer lei ou repressão não podem alcança-lo. Em tais condições inclusive fazendeiros relativamente honestos conseguem modificar as condições do contrato, às quais estão obrigados, em fontes de proveito pessoal. Assim por exemplo, em muitos contratos figura uma cláu­sula sobre a assistência médica gratuita para os trabalhadores. Na prática verifica-se, entretanto, que essa assistência é fornecida pelo filho, irmão ou sobrinho do proprietário da fazenda, médico que em verdade não cobra pela consulta, mas exige o pagamento de 5,10 e 20 milreis pela deslocação do próprio automovel (custo da gasolina), ou então cobra muito caro pelos remédios que ele mesmo vende ou através da farmácia da fazenda. Da assis­tência médica o fazendeiro as vezes faz uma obrigação, de tal modo que o médico seu parente visita os operários e cobra pelo transporte [sua deslo­cação — nt] indiferentemente se esses estão doentes ou não.

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Aos fenômenos normais pertence igualmente o obrigar o trabalhador a comprar todos os produtos no armazem da fazenda ou em outro, onde o proprietário da fazenda é sócio velado.

Essas cláusulas e outras contidas no acordo emigracional e que visam, de certo modo, garantir o cumprimento justo dos acordos de trabalho não têm na prática o mínimo significado, e se bem que o acordo que a Polônia procurou concluir com o governo estadual de São Paulo preveja inúmeras condições almejando proteger os nossos trabalhadores frente à exploração, esse acordo é na prática sem valor, pois nada garante o cumprimento da totalidade de suas disposições, inclusive as mais bem pensadas. Em particular a assinatura das autoridades governamentais locais em nenhuma medida constitui tal garantia, o que é fácil de compreender tendo em vista — como acima foi esclarecido — a mais estreita comunhão, e com frequência iden­tidade, dos representantes do governo com os proprietários das planta­ções. Citarei ainda pelo menos um exemplo dessa situação:

Como se sabe, existe em São Paulo o chamado Patronato Agrícola como órgão do controle oficial sobre o cumprimento dos acordos de traba­lho pelos fazendeiros, tendo como objetivo assistir os trabalhadores e ser o portavoz de seus direitos. Esse Patronato possui inclusive especial advo­gado que deve, na eventualidade, apresentar-se em defesa dos trabalhadores na resolução dos litígios.

Eis que toda esta instituição é uma comédia criada unicamente para man­ter as aparências frente aos governos dos países emigracionais da Europa. O próprio Patronato compõe-se de fazendeiros e a sua atividade orienta-se na prática somente pela linha de solução das pretensões em seu proveito. No caso acima citado das bárbaras relações na fazenda São Martim, os trabalhadores Wyrębski e Baranek, que conseguiram fugir da fazenda sob as balas dos capangas, dirigiram-se primeiramente ao Patronato Agrícola em São Paulo com reclamação e exigência de libertação da fazenda das de­mais famílias. O Patronato respondeu-lhe com todo o cinismo, por escrito, que não pode se ocupar dessa questão, pois a partir do momento em que se encontraram fora dos limites da fazenda, deixaram de ser trabalhadores agrários, para os quais o patronato foi criado. O original desse documento se encontra nas atas do Consulado. Não se trata absolutamente de um único caso, mas nos arquivos consulares podem-se encontrar muitas outras provas que ilustram as observações acima.

Retornando ao texto do acordo emigracional polonês, deve-se remarcar que todo o seu valor é paralisado, por além das relações acima descritas, pela infortunada cláusula e art. 11, dispondo que o delegado do órgão emigracional polonês pode visitar os trabalhadores poloneses no local de trabalho com o a c o r d o dos p r o p r i e t á r i o s e com o c o n h e c i m e n t o do D e p a r t a m e n t o do T r a b a l h o do e s t a d o de São P a u l o . Na prática, ou o proprietário não dá tal consentimento, ou o Departamento do Traba­lho, em entendimento com o proprietário, prepara com antecedência a fa­zenda para a inspeção, dela afastando por um certo tempo todos que possam apresentar qualquer pretensão. Entretanto, se nessa encenação acontecesse

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algo inesperado e qualquer reclamação fosse apresentada ao delegado, o fa­zendeiro vingar-se-ia redobradamente do trabalhador, pois existem exces­sivos exemplos confirmando que os trabalhadores que reclamam são leva­dos por recomendação da administração pelos capangas à plantação e aí espancados com porretes. Quanto a este aspecto pode ser observado um fraco progresso desde os tempos da escravidão, que é considerada por cada fazendeiro, em pensamento, como «tempos de ouro».

A situação dos trabalhadores poloneses é tanto pior, pois falta ímpeto e não sabem reivindicar.

O trabalhador brasiliano, em idêntica situação, tira a pistola e a coloca no peito do fazendeiro, enquanto o Japonês provoca a greve geral de todos os seus compatriotas, tanto em dada plantação como nas fazendas vizinhas, e essa greve perdura até que a injustiça não seja reparada. Esse sistema tem seu lado positivo, pois os fazendeiros que sofrem a conseqüência da greve agem sobre o plantador que prejudicou o operário. Nesse caso trata-se do próprio interesse dos fazendeiros. Conheço igualmente casos em que o trabalhador brasiliano, em vão apresentando a reclamação no Patronato, obteve aí imediatamente satisfação, desde o momento em que declarou que em caso de não resolução da sua questão resolve-la-á matando o proprie­tário da fazenda.

Em todos esses casos, a lei e a constituição coexistem com a vida essen­cial, como documentos incapazes de mudar os costumes consagrados. A vida confirma completamente o provérbio local: «No Brasil todos mandam, nin­guém obedece e tudo vai bem».

As condições de trabalho citadas como exemplo no artigo do Sr. Sta­nisław Gawroński, intitulado Emigração dos trabalhadores agrários polo­neses para o estado de São Paulo em relação com o acordo concluído em 19 de fevereiro de 1927 (ver a publicação trimensal do Instituto Científico nr 2 Ano II)3 , mantem sua atualidade até agora; inclusive deve-se remarcar que melhoraram, pois, presentemente, pelo tratamento de 1000 cafeeiros pagam já não de 280 até 430 milreis, mas 500, 600 e as vezes inclusive 700 milreis. O nível dos ingressos da família trabalhadora calculado pelo Sr. Gawroński será portanto superior e pode chegar certamente a 10 000 milreis, ao invés de 7500, segundo seu cálculo. Assim portanto as condições de trabalho no café são boas e, examinando as coisas teoricamente, os nossos emigrantes poderiam nesse trabalho alcançar com o tempo o bem-estar. Como barreira erguem-se unicamente a desonestidade dos empregadores e ausência de qualquer controle eficaz no cumprimento por sua parte dos contratos.

Passemos, a seguir, ao exame dos meios preventivos. Como modelo de organização emigracional para o trabalho nas plan­

tações tomemos a organização japonesa. O Japão não tem com o governo local qualquer acordo de emigração. O fazendeiro que deseja obter para a sua plantação trabalhadores japoneses, dirige-se ao consulado japonês,

3. Ver introdução.

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onde se encontra um especial intermediário que, entretanto, não pertence ao pessoal do Consulado. O fazendeiro combina com ele as condições de trabalho e a quantidade de famílias necessárias. Uma das condições é sempre a manutenção, na fazenda, de tradutor especial, intermediário que é em geral Japonês, pertencente permanentemente a dado grupo de trabalhadores, dirigindo esse grupo e servindo de intermediário entre os trabalhadores da sua nacionalidade e a administração da fazenda. Trata-se de um homem experimentado que conhece as condições de trabalho nas plantações e que não permite o abuso por parte da administração. A fazenda tem de paga-lo, dispensando-lhe mensalmente 250-300 milreis, terra para o plantio e transportes. Tal tradutor tem sob sua assistência de 50 a 80 fa­mílias, ocupando-se não raramente de Japoneses de algumas colônias vizin­has.

Em caso de exorbitância por parte da administração, a única arma, mas sempre eficaz de tal «guia» dos trabalhadores japoneses, é a greve imediata, que como acima referi estende-se também pelas fazendas vizinhas. Em caso de abusos sistemáticos, o fazendeiro é, em geral, no Consulado Japonês, introduzido na lista negra e nunca mais receberá trabalhadores japoneses. Essa organização extremamente simples funciona excelentemente. Claro, um dos fatores mais importantes do sucesso é aqui a obediência absoluta dos trabalhadores japoneses em relação ao seu chefe e a completa solidariedade entre si.

Além disto, os Japoneses que aqui têm relações bem ramificadas no seio da sua potente colônia (e por causa disto) são informados bem sobre o valor de dado fazendeiro como empregador.

A organização acima descrita considero como modelar, entretanto não ousaria afirmar que com a psicologia do trabalhador polonês, completa­mente diferente, pudesse ela dar igualmente bons resultados.

De qualquer maneira entretanto, penso que a solução da questão da localização dos nossos emigrantes nas plantações de café deve-se procurar através de contratos coletivos com cada fazendeiro em separado, mas não por intermédio da conclusão de acordos com o governo local.

2. Trabalho na indústria, artesanato e obras públicas

São Paulo como centro industrial-comercial situado próximo do porto de Santos, para onde chegam os emigrantes, apresenta um largo campo onde se pode encontrar trabalho nas fábricas e nas empresas públicas. Face ao desenvolvimento extraordinariamente rápido da capital do estado, existe aqui continuamente a demanda de artesãos especializados em todas as categorias, e igualmente a demanda de trabalhadores não qualificados para os trabalhos nas ferrovias e construções de estradas.

O trabalho dura 9 horas. Para ilustração do nível das remunerações citarei abaixo os salários médios na indústria de construção, aqui ampla­mente desenvolvida:

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Carpinteiro de Ia cat. Reis 1 $800 por hora „ 2a „ ,, 1 $200 até 1 $600 por hora

,, ,, 3a ,, ,, 1$200 por hora Pedreiro de Ia cat. ,, 2$000 até 2$500 por hora

„ 2a „ „ 1$300 - ]$500 „ „ Auxiliar „ 0$700 - 0$800 „ „

Nos trabalhos de construção de estradas ganha-se de 900 a 1$000reis. Entretanto a firma inglesa «Light & Power Cie» que possui maiores empre­sas e trabalhos paga somente de 700 a 900 reis por hora.

Nos trabalhos junto das linhas ferroviárias o trabalhador ganha em média 12 milreis por dia, se é que não possua especialidade profissional.

Os salários na indústria são aqui permanentes, pois as greves constituem um fenômeno completamente excepcional. O governo conduz obras públi­cas em grande escala, o que garante continuamente a demanda de traba­lhadores.

Fenômeno negativo no domínio do emprego dos nossos emigrantes nos trabalhos de construção de estradas é o fato de que em sua maioria são recrutados logo após o desembarque para os trabalhos nos arredores de São Paulo (represa de Santo Amaro) num terreno barrento, que provoca, particularmente nos recém-chegados, sintomas de forte febre tropical, que os faz não raramente completamente incapazes para o trabalho sucessivo. Entretanto, existe, para além desses pontos excepcionalmente desfavoráveis, inúmeros terrenos de trabalho, particularmente em trabalhos junto das rodo­vias e ferrovias, onde a maioria dos trabalhadores poderia encontrar ocu­pação. Para essas localidades o Consulado dirige continuamente os trabalha­dores e artesãos a procura de trabalho. O controle racional nesse domínio exigiria entretanto a organização de assistência sobre os emigrantes que chegam a Santos, através de um funcionário especial aí residente, cuja tarefa seria receber os nossos emigrantes ainda no navio e fornecer-lhes todos os conselhos e indicações necessárias. Postulado do Consulado analisando a organização de tal ajuda está sendo examinado presentemente pelo Mi­nistério dos Assuntos Estrangeiros e pelo Serviço de Emigração.

O caracter industrial de São Paulo faz com que quase toda a população polonesa desse estado concentre-se na capital e pertença à emigração por motivos econômicos. O bem-estar desta colônia, se bem modesto, é entre­tanto superior ao de algumas colônias que concentram um pequeno punhado de famílias polonesas de colonos.

Com os preços de manutenção dominantes em São Paulo, unicamente o trabalhador da mais alta categoria salarial pode, com grande dificuldade, alimentar a família, não tendo outra fonte de ingresso. Contudo, pode-se aceitar como norma que a família do trabalhador que ganha o salário médio tem de receber, mensalmente, uma soma igual ao salário de cabeça da família para satisfazer as necessidades imperiosas ou poupar alguma coisa. De acordo com a lei local, o menor de idade pode trabalhar (ser em­pregado) já na idade de 12 anos completos.

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A emigração por motivos econômicos sai da Polônia com menos di­nheiro do que os emigrantes colonos, todavia envia para o país certa parte da economia, particularmente se o emigrante é solteiro, e que tenha deixado na Polônia família.

Do ponto de vista dos interesses da economia do Estado, portanto, o emigrante polonês por motivos econômicos constitui para o país uma perda menor do que o colono.

F. COMO DEVERIA SER A EMIGRAÇÃO POLONESA PARA SÃO PAULO

Nesse lugar tocamos um dos importantes problemas do movimento emigracional, isto é, a pergunta de se a nossa emigração deve ser considerada somente como mal necessário, que se manifesta em certa forma invariável, ou também constituir deve um fator da nossa expansão econômica criadora, configurado intencionalmente pelas nossas autoridades.

Da resposta a essa pergunta depende a orientação de todas as iniciativas do governo e seus órgãos em relação à emigração.

O estado de coisas de até agora parece indicar que essa pergunta funda­mental não foi até agora respondida.

Entretanto, está fora de qualquer dúvida que todos os nossos esforços deveriam tender para que a emigração constituísse, no balanço estatal ma­terial geral, um saldo e não um débito.

Isto pode ter lugar unicamente quando a nossa emigração 1) vier a cons­tituir um fator do desenvolvimento das relações comerciais proveitosas para nós com o Brasil, 2) por sua cultura, acervo e influências conquiste na sociedade brasileira reconhecimento que venha constituir a base da opi­nião favorável dessa sociedade sobre a Polônia, 3) eleve sua situação ma­terial a tal ponto que as poupanças enviadas à Polônia ultrapasse a soma que os nossos emigrantes levaram da Polônia.

Será que pelo menos um desses postulados fundamentais a nossa emi­gração preenche? Infelizmente, a resposta é de que não preenche nenhum deles. No balanço material-moral estatal geral essa emigração constitui um claro minus, e em relação à segunda das citadas acima condições esse minus é para o prestígio do Estado Polonês bastante doloroso.

Por razões formais unicamente limito as observações quanto a essa questão ao campo da jurisdição do consulado da República da Polônia em São Paulo, que pesquiso desde há ano, entretanto estou convencido de que são corretas em relação ao todo da emigração polonesa no Brasil. É sufi­ciente comparar a atividade e os resultados alcançados pelos emigrantes de outras nacionalidades com o estado de posse dos Poloneses.

Não é suficiente explicar essa enorme diferença com o fato de os Alemães, Italianos, Japoneses, Espanhóis, etc. trabalharam aqui como cidadãos de países livres e ricos, cumprindo consequentemente o programa de expansão nacional, enquanto que os Poloneses na época da opressão política eram pobres e cerceados pelos ocupantes. Não se trata aqui de passado, mas sim

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de que durante o último decênio a emigração polonesa não mudou o carac­ter e a orientação de até agora, de que não cumpriu e não cumpre até agora qualquer plano de expansão econômica e de que, face a esta situação, é cada vez mais ultrapassada pelas nações que consequentemente realizam tal plano.

O Brasil é um colosso assentado numa base frágil e já bastante rachada. Isto é fruto da falta de comunicação estatal e nacional entre os enormes terri­tórios que o constituem, do claro separatismo de alguns estados, da impo­tência geral da administração, da heterogeneidade de raças, cores da pele e das nacionalidades, que configuram a noção teórica do «Brasiliano».

Nessa fenda insinua-se, agravando a situação, aberta e descaradamente a invasão do capital estrangeiro — Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, Itália. A direção do embate do capital é ditada não tanto pelos financistas, mas pelos políticos. É cada vez mais duvidoso se o Brasil, dominado por esse capital estrangeiro, consiguirá sair dessa opressão. O mais provável é que esse colosso minado pelas relações internas e atacado desde o exterior comece a se desmembrar. As fortalezas do capitalismo dos países acima mencionados tornam-se então a base de planos que vão muito a frente. Com isto se explica em grande medida o enorme desenvolvimento desses países e a febril atividade.

A Polônia, tendo como objetivos intenções estritamente emigracionais, ficou nessa corrida tão para tras que presentemente não se pode falar em comparações. Quase cada uma dessas nações tem aqui seus bancos, lojas, empresas, fábricas e colônia forte e rica, cujas influências alcançam não só as relações econômicas, mas também políticas.

A Polônia, apesar do grande número de seus cidadãos nada possui aqui, pois sua emigração compôe-se de população pobre, em sua enorme maioria não é cultural e servindo unicamente como força de trabalho, de cujo trabalho e esforços enriquecem-se outras nações.

Sem dúvidas, as condições de vida continuarão a obrigar a Polônia a enviar para o Brasil cidadãos sem terra e sem emprego. Esse capítulo da emigração, até que as condições não sofram melhoria constituirá um mal necessário. As observações contidas neste trabalho apontam de que forma dever-se-ia desenvolver a assistência sobre essas categorias de emigrantes, tanto no interesse desses como no interesse do Estado Polonês.

Entretanto, se a nossa ação emigracional deverá ter o caracter útil para a Polônia de expansão nacional, deve-se introduzir ao elemento emi­gracional novos ativos fatores: comerciantes, homens de empresa, enge­nheiros com capital, fabricantes, etc. Claro, apresenta-se aqui uma lógica resposta, de que as pessoas dessa categoria não têm para que viajar da Polô­nia e não querem emigrar. Entretanto, esses mesmos elementos emigram da Alemanha, Inglaterra, Estados Unidos e outros países muito mais ricos do que a Polônia. Evidentemente, serão necessários muitos esforços e propagan­da para movimentar a iniciativa e dominar a inércia. Mas isto em nada muda o conteúdo do problema.

Na Polônia, presentemente, fala-se muito do justo direito que o nosso

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país possui em obter colônia transoceânica. Se em realidade na Polônia não existisse um ativo elemento emigracional, sobre o qual acima falei, isto é, comerciantes, homens de empresa, fabricantes, engenheiros prontos a sair pelo mundo com capital, a fim de implantarem as bases da prosperi­dade polonesa em outras terras, então a posse por parte da Polônia de colô­nias seria completamente sem objetivo e condenada ao insucesso. Assim é claro que as colônias não podem ser lugar da deportação de desemprega­dos, mas somente lugar de trabalho, onde indivíduos ativos pertencentes a determinado Estado aumentam a riqueza da metrópole.

Portanto, com certeza existem na Polônia elementos que podem iniciar uma tão ativa e proveitosa emigração para o país.

Até agora temos no Brasil mais de 200 000 Poloneses. Entretanto, este é um dado somente aritmético. Dar-lhe importância e significado, colocar a cabeça neste corpo sem força é possível somente através da introdução da emigração comercial e industrial, que criará aqui, desde a base, o estado de posse polonês, até agora inexistente.

A este tipo de emigração presta-se antes de tudo São Paulo como centro industrial-comercial de toda a federação brasileira. A atividade de tal emi­gração, não se limitando ao domínio puramente comercial, deveria igual­mente abarcar aqueles setores da rentável cultura agrária, que para o colono polonês do tipo conhecido ate agora são como acima foi apontado, inaces­síveis.

Ante a emigração desse tipo, dispondo de capitais, abre-se no Brasil enormes áreas de rentável atividade.

Num país que tem enormes riquezas naturais e uma indústria em prin­cípio existem muitos domínios completamente ainda intocados, nos quais cada empresa em surgimento seria por longo período a única e sem concor­rência.

Sem dúvidas, cada ação desse tipo deveria ser anteriorizada por pro­fundos estudos das condições locais e pelo conhecimento direto do mercado.

Nesta via, pela qual desde há muito seguem já todas as outras nações, deve-se procurar o melhor futuro para os ativos elementos da nossa emi­gração no Brasil e para o desenvolvimento das relações econômicas da Po-ônia com o mundo, assim como para o renome da Polônia.

Estudios Latinoamcricanos 7, 1980

PL ISSN 0137-3080

A colonização polonesa no Brasil nos meados dos anos trinta do século XX.

Publicamos aqui um trabalho de Teodor Cybulski intitulado O futuro, as possibili­dades e os métodos da colonização polonesa no Brasil, de 26 de junho de 1934. Este trabalho era destinado à Direção da Liga Marítima e Colonial. Atualmente, o documento en­contra-se nos arquivos do Ministério dos Negócios Estrangeiros, na secção que abrange o período entre as duas guerras — Arquivo das Atas Novas1. Este documento foi esco­lhido para publicação por causa do seu caráter muito específico. É um dos poucos docu­mentos guardados pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros que se refere a todo o com­plexo das relações econômicas de colonização polonesa no Brasil. As informações nele contidas visavam servir a diplomacia polonesa na elaboração de sua política de emigra­ção. A Liga Marítima e Colonial era uma das mais importantes organizações que procurava áreas de colonização para os emigrantes poloneses2. Quanto a America do Sul, a Liga almejava — através da colonização — dominar parte de seu território. Os planos de colonização que não tomavam em consideração as condições existentes nos Estados da America do Sul — e que não ultrapassaram o estágio de planos — desmoro­naram-se nos fins dos anos trinta. Não se conseguiu ultrapassar as dificuldades que enfrentavam os colonos nas novas colônias. Faltou também apoio aos antigos, pouco desenvolvidos, centros da colonização polonesa. A política dos Estados da America do Sul que tinha como objetivo diminuir as diferenças entre os diversos grupos de emigrantes e a população local e, finalmente a eclosão da II Guerra Mundial puseram fim as tentativas polonesas de tornar-se uma potência colonial.

O autor do documento — Teodor Cybulski, nasceu em 1897. Terminou o ginásio em Petersburgo (hoje Leningrad) e a escola de oficiais da aeronáutica de Toruń. Ao passar

1. Materiais do Arquivo das Atas Novas relativos a America Latina foram analisados por: R. S t e m p l o w s k i e J. S z e m i ń s k i : Polskie źródła archiwalne do dziejów Ameryki Łacińskiej w XIX i XX wieku [Fontes arquivais polonesas da história da America Latina do sec. XIX e XX],«Dzieje Najnowsze», 1972, n° 2; K. G r o n i o w s k i : As fontes da história da emigração para o Brasil situadas nos arquivos da Polônia, «Estúdios Latinoamericanos», t. 4, 1978.

2. M. K r a s i c k i : Polska «Akcja Kolonialna» w Ameryce Łacińskiej w latach 1929-1939 [«Ação Colonial» polonesa na America Latina nos anos 1929-1939], «Dzieje Najnowsze», 1977, n° 4.

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à reserva, assumiu o cargo de secretario da Liga Marítima e Colonial de 1931 a 1932. Em seguida passou para o serviço diplomático, com a função de vice-cônsul em Curitiba3.

Entre os documentos escritos pelos funcionários do Ministério dos Negócios Estran­geiros, o de T. Cybulski — embora destinado a organização cujos objetivos foram apresen­tados acima — ressalva-se pela sua objetividade e minuciosa observação da colônia polo­nesa no Brasil.

Ewa Anuszewska

3. »Czy wiesz kto to jest?» [Voce sabe quem é?], red. St. Łoza, Warszawa 1938, p. 115.

Arquivo das Atas Novas, Ministério dos Negócios Estrangeiros, sig. 9578, pag. 27-36.

O FUTURO, AS POSSIBILIDADES E OS MÉTODOS DA COLONIZAÇÃO POLONESA NO BRASIL

As colônias polonesas no Brasil, embora apresentem uma cultura agrária muito baixa, do ponto de vista econômico situam-se num nivel relativa­mente alto. A atual crise da erva-mate — cujos preços cairam abaixo da ren­tabilidade — provocou uma transformação no desenvolvimento dessas propriedades. Até agora a erva-mate era à base da prosperidade das nossas colônias no Brasil. Em 1927 o valor da erva produzida no Parana orçava em 98 milhões de milreis, dos quais a metade provinha de propriedades polonesas. Desta maneira podemos dizer que 1/3 do valor da toda a pro­dução polonesa no Parana constituia a erva.

Hoje a erva-mate não tem mais saída. O colono é obrigado a mudar de cultura nas suas plantações, mas como tem acontecido até agora em muitos centros, ele só conhece o cultivo da erva, desconhecendo quase que total­mente o cultivo de outras plantas.

É pois necessário reorganizar as propriedades que se encontram nos centros de produção da erva-mate a aprimorar o existente sistema nas colô­nias que cultivam outros produtos subtropicais. E também importante sanear o comércio dos produtos agrícolas nas colônias como também industrializar as colônias polonesas, particularmente aquelas que en­contram-se longe dos centros comerciais. Entretanto para analisar as possibilidades de tais transformações e objetivos, precisamos dar-nos perfeitamente conta das condições existentes e fazer a melhor análise possível das vias a serem escolhidas para a realização dos nossos objetivos.

A ATUAL ESTRUTURA ECONÔMICA E PSICOLÓGICA DAS COLÔNIAS POLONESAS NO PARANÁ

1. As propriedades agrárias

As propriedades agrárias são bastante ricas, graças as extraordinárias conjunturas que existiam até 1928 nas propriedades com produção desti­nada à exportação, tais como a erva-mate e a madeira, como também graças a extraordinária fertilidade da terra que não requeria mecanização durante os primeiros anos, dando assim mesmo colheitas abundantes. Hoje, no entanto, as boas conjunturas são coisas do passado e a terra deixa de pro­duzir se não houver mecanização. As propriedades agrárias que cultivam exclusivamente erva-mate, não produzindo sequer qualquer produto para consumo próprio tornaram-se totalmente escleróticas. Se além do mais to­marmos em consideração o fato de que a maioria dos nossos colonos eram operários agrícolas que não tinham noção nenhuma da gestão de proprie-

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dades agrárias poderemos compreender como é difícil mudar os hábitos desses, habituados — durante quase toda a sua vida — a uma fácil mono­cultura, O mesmo pode referir-se as propriedades que cultivam outros pro­dutos tais como o milho, a mandioca, arroz, cereais europeus, e tc , porque todos eles utilizam o velho sistema de queima das roças, sistema esse que era eficiente quando se tratava de florestas virgens — no início da coloni­zação — quando a utilização do arado era impossível por causa dos troncos de arvores e destroços que encontravam-se na terra. Este método no entanto, deixa de ser eficiente quando a terra já está desgastada pelas successivas queimas e os agentes atmosféricos. Para dar uma imagen completa do estado atual nas propriedades agrárias desejo por em relevo o fato de que em muitas colônias, que existem há mais de vinte anos, o arado continua a não ser utilizado, mas a foice para cortar os matos, que em seguida são queimados — e o acinho para limpar o milho. Por isto, nessas regiões é necessário fazer a propaganda da mecanização do cultivo (o arado e a grade), porque sem ela as colônias não se desenvolveram adequadamente. Podemos encontrar tristes exemplos de tal exploração colonial de rapinagem nos municípios centrais do Estado de São Paulo. Esta região é atualmente na sua grande parte um deserto por causa do desgaste total da terra que antigamente era o centro da produção do café. O colono tem grandes dificuldades em aceitar a idéia de que o cultivo da terra possa ser feito com meios mecânicos, não acreditando que — nas condições existentes — esses meios mecânicos possam ser aproveitados em grande escala. Isto resulta do espirito conser­vador do colono e das dificuldades locais, pois essas realmente existem, e dificultam o uso do arado e, em casos esporádicos impossibilitam-no. Isso refere-se principalmente ás regiões montanhosas com fortes encostas e solo pedregoso.

Quanto a criação de animais, encontra-se num estado embrionário e é so­mente nas redondezas de Curitiba que se começa a pensar na sua melhoria num sentido um tanto europeu.

Os sistemas utilizados até agora nessa região são: a criação de bovinos para carne em enormes extensões de terra e a criação de suinos para engorda nas propriedades menores. O primeiro caso não pode ser tomado em consi­deração por que essas fazendas não estão em mãos de Poloneses. A criação de suinos que encontra condições de desenvolvimento nas propriedades polonesas é feita de uma maneira muito primitiva, sem nenhuma assis­tência veterinária e sem nenhuma higiene, o que nas condições daqui é imprescindível; cria-se também os suinos ao ar livre, sem nenhum método racional. É pois muito natural que no clima daqui (subtropical) as epidemias sejam freqüentes, destruindo freqüentemente mais de 50% do inventário vivo.

Para terminar com este assunto é necessário mencionar a avicultura, que do ponto de vista comercial, praticamente não existe; as aves aqui são muito baratas, enquanto que a produção de ovos não compensa, tanto por falta de qualquer organismo de comercialização quanto por causa do péssimo estado das estradas, o que provoca uma baixa excessiva do preço

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do produto nas colônias. Se existisse um sistema de transporte rápido, uma estandardização e uma garantia de qualidade, seria possível desenvolver a produção de ovos, pois como nos ensina a experiência européia, a racio­nalização da produção e da comercialização permite exportar os ovos a grandes distancias. A produção de ovos aqui tem muitas possibilidades de desenvolvimento porque as aves põem ovos o ano inteiro e os custos de manutenção são mínimos.

2. Sistema atual de venda dos produtos agrários das propriedades polonesas no Paraná

Este capítulo pode ser subdividido em duas partes: no das plantações de erva e no das plantações de outras culturas. Como as propriedades mistas não são típicas, não as tomarei em consideração.

a. Plantações de erva. A erva, graças ao seu preço elevado, às facilida­des de venda, à ajuda concedida pelo governo e graças a existência de importantes firmas exportadoras — o que racionalizava a sua produção e proporcionava a estandardização do produto — proporcionava simulta­neamente altos e fáceis lucros aos produtores, já que a produção não reque­ria grande esforço e a sua venda era quase que garantida. A técnica de venda e compra da erva pelo colono era a seguinte: o colono, aliciado pela facili­dade dos lucros, por uma falsa garantia de renda para vários anos — o que para ele significava a vida inteira — comprava mais e mais terra para plantar erva, gastando para isto quase todo o dinheiro que provinha da venda desse produto e empenhando também as suas futuras colheitas. Os emprésti­mos eram dados pelos proprietários das vendas. Nessas próprias vendas o colono comprava a crédito os produtos necessários para a vida (inclusive freqüentemente a farinha para o pão e o milho para forragem). Os vendeiros davam estes empréstimos com muita facilidade, obtendo freqüentemente os capitais necessários das firmas que comercializavam a erva, porque a de­volução do empréstimo era garantida e por outro lado eles podiam, através desses créditos, regular os preços da erva na região, evidentemente não a favor do produtor. No entanto, com a baixa do preço da erva uma grande quantidade de plantações ficou individada e com a aproximação dos prazos de pagamento dos empréstimos, o preço da erva no interior tende a baixar mais ainda.

b. Plantações de outras culturas. Enquanto que a venda da erva como o vimos, era bem organizada, nos outros ramos de produção agrícola do Paraná, existem muitas deficiências no setor da comercialização. A principal fonte de renda e a razão de ser das propriedades é em muitos casos a cria­ção e engorda de suinos, o cultivo do milho, mandioca, faijão e batata. A compra dos suinos nas colônias está monopolizada por um ou dois comer­ciantes, fazendo com que o colono, não conhecendo outro centro de co­mercialização, tenha de sujeitar-se aos preços ditados pelos comerciantes.

A transformação dos porcos em gordura e outros produtos não é co­mum e os comerciantes vendem-nos quase que exclusivamente em três.

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pontos do Paraná, isto é em Curitiba, Ponta Grossa e no norte do Paraná, em Tomassim (grande matadouro da firma Matarazzo). Isto obriga a fazer longos percursos com os animais que duram as vezes até 4 semanas, e em consequência acarreta grandes gastos, diminuição do peso e perigo de doen­ças, e uma drástica queda do preço, nas colônias.

No estado do Rio Grande do Sul, a gordura de porco é produzida pelo próprio colono que a vende, como semi-produto as grandes retificadoras que estão afiliadas ao Sindicato dos Comerciantes de Gordura. Este sindicato é uma potente organização de comerciantes que até o Governo Federal precisa levar em conta e que dita os preços a escala nacional.

A comercialização dos outros produtos agrícolas não pode ser descrita com maiores pormenores, porque no caso deles não existe nenhum sistema. Em geral o produto é vendido ou melhor trocado por produtos industriais na venda local ou com o chamado carroceiro que freqüentemente faz viagens à cidade. É evidente que neste caso não pode haver nenhuma regula­mentação de preços.

Esta exposição demonstra-nos que o principal problema relativo à co­mercialização dos produtos agrícolas é a falta de contato direto entre o colo­no e os grandes centros comerciais ou pelo menos a falta de uma instituição que pudesse, de uma maneira honesta, comercializar estes produtos, ado­tando uma racionalização da produção. E necessário por em relevo no entanto que estas observações não se referem aos colonos que circundam Curitiba. Esses têm contato direto com a cidade a vendem os seus produtos diretamente aos consumidores a preços comerciais. Curitiba, entretanto, já é um centro muito pequeno para a quantidade de hortaliças e artigos derivados do leite que são produzidos na região, o que tem provocado uma baixa dos preços e criado dificuldades na venda desses.

3. O sistema de influências nas colônias

Quando surge uma nova colônia, os colonos mais inteligentes e ativos ligam-se ao comercio. Graças a essa atividade eles conseguem maior in­fluência entre os colonos, por que sendo os únicos a manterem contato com o mundo externo e em resultado aprenderem a lingua mais rapidamente, eles entram em contato direto com as autoridades locais e assim estão na posição de resolverem muitos dos problemas dos colonos. São raros os casos em que outras pessoas, além dos proprietários das vendas, que pela sua inteligência ou perspicácia tornam-se pessoas de influência entre os colonos.

Com o desenvolvimento da colônia os vendeiros aumentam a sua influencia não somente moral, mas também material, dado a certa depen­dência comercial em que cai o colono em relação ao vendeiro. Os vendeiros, com raras exceções são pessoas pouco instruídas que não possuem grandes conhecimentos sobre o comércio e que procuram unicamente obter os maio­res lucros possíveis, não dando nada em contrapartida à colônia. No entanto, como em geral, é o único elemento que tem contato com o mundo externo,

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aceita também com maior facilidade idéias novas. Os comerciantes são muito ativos nos trabalhos sociais (voluntários), uns para aumentar a sua influencia na colônia, outros porque são atraídos por esse tipo de trabalho ou pela «honra» que lhez traz.

O segundo elemento que possue influência nas colônias são os padres. No entanto dado o tamanho das paróquias, esta influência não é tão direta e é mais esporádica com exceção das localidades próximas do local de resi­dência do padre. A influência do padre em geral depende muito da sua própria individualidade. Apesar de tudo é o elemento mais esclarecido nas colônias e independentemente das convicções de cada um, é necessário tomar em consideração o papel deles nas colônias.

Para ser minucioso precisamos acrescentar que existem colônias onde os comerciantes tem visões mais amplas e por sua vez existem colônias onde o nivel dos colonos é mais elevado.

4. Comércio

a. As vendas. Em linhas gerais podemos dizer que o comercio nas colô­nias é feito nas vendas (lojas que abastecem o colono em todos os produtos indispensáveis para a vida). Nesta análise é necessário subdividir as colônias polonesas ou mesmo mistas, naquelas que possuem vendas polonesas e na­quelas em que as vendas estão em mãos de alheios: Alemães, Italianos, Brasileiros ou Sírios. Já caracterizamos os vendeiros poloneses no capítulo anterior. Basta adicionar ainda que é deles, relativamente de seus filhos que se recruta a nossa intelectualidade da qual sentimos tanta falta e que a maioria dos vendeiros de um lado travam o desenvolvimento das colô­nias — ditando e abaixando os preços dos produtos agrícolas tendo em vista somente os lucros imediatos — mas em contrapartida, como são pessoas ricas em geral, são para nos um elemento positivo porque são pessoas de influência nas repartições públicas provincionais. Dentro da estrutura econômica das nossas colônias eles são um elemento indispensá­vel porque têm o comércio nas suas mãos. Por isso, sob nenhum pretexto devemos lutar contra eles, bem ao contrário, devemos apoia-los, procurando ao mesmo tempo sanear o sistema comercial por eles adotado.

A situação nas colônias que possuem vendas em mãos alheias é diferente. Do nosso ponto de vista estes vendeiros não possuem nenhum dos aspectos positivos que citamos acima. Bem pelo contrário. Por isso também não precisamos contar com a sua existência.

b. Cooperativas. Uma das idéias que tem preocupado a nossa socie­dade é a criação de cooperativas. As experiências colhidas até agora no entanto não deram resultados positivos devido a falta de pessoas devida­mente preparadas e em alguns casos devido a desonestidade do chefe da cooperativa. Os elementos mais capazes, que poderiam gerir uma coope­rativa, dado as facilidades de crédito que existem e os pequenos salários dos gestores, preferem abrir um negócio próprio — uma venda. Podemos tirar exemplos deste tipo de comportamento da nossa própria experiência,

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embora muito pequena, onde o gestor da cooperativa após ter feito contato com os fornecedores, abria a sua própria venda, liquidando dessa maneira, a cooperativa onde ele era o gestor. A maioria dos vendeiros tem uma atitude semelhante em relação as cooperativas que têm caráter de venda e, alem do mais, como eles possuem uma forte influência no seio da colônia, eles ga­nham esta batalha tanto mais facilmente, que o colono é na sua maioria um elemento pouco esclarecido que não entende e não apoia a instituição da qual ele faz parte.

Quanto a atitude do governo em relação ao movimento das cooperativas é necessário por em relevo que apesar da assistência teórica por parte do governo, baseada em decretos, que se baseia na liberação de quase todos os impostos que normalmente são pagos pelas instituições comerciais, na realidade, as cooperativas dependem dos cobradores de imposto, que ga­nhando uma percentagem sobre os impostos cobrados, procuram impô-los às cooperativas. Do ponto de vista legal as cooperativas no Brasil são organismos fechados que só podem vender os seus produtos aos afiliados. É pois fácil provar que a cooperativa não esta cumprindo a lei ao pé da letra e em geral após um certo tempo as cooperativas são obrigadas não somente a pagar os impostos correntes mas também os atrasados. A luta contra a imposição de impostos no tribunal é muito difícil porque os rece-bedores de impostos são pessoas que tem a confiança e o accesso as autori­dades superiores e são eles que sempre ganham os processos. É bom por em relevo aqui que, durante os últimos 2 anos, nove (isto é quase todas) cooperativas ucranianas dissolveram-se; até mesmo algumas cooperativas alemãs que existiam até agora e que eram as vezes subvencionadas pelo con­sulado alemão, estão em via de liquidação. O mesmo se passa com 4 coope­rativas polonesas no Paraná, que estão passando pelas mesmas dificuldades. Em regra geral as cooperativas que pagam impostos e cujo capital não ultra­passa 10.000 milreis (isto é 5.000 zl), têm como vizinhos ricos vendeiros,. que por sua parte prejudicam as cooperativas mas que no encargo de impos­to não podem com eles competir.

5. Pequena industria agrária

Um dos problemas mais importantes relativo a venda dos produtos com o qual o colono tem que lutar é o problema do transporte, isto é as grandes distancias e as condições em que este transporte é efetuado e que são as vezes inconcebíveis para um europeu.

Não existe aqui quase nenhuma manutenção de estradas. As duas estra­das existentes na região não possuem nenhuma utilidade para as colônias polonesas. Para ilustrar a situação existente posso dizer que durante a época das chuvas certas colônias e até mesmo certos centros maiores ficam cor­tados do mundo durante algumas semanas. Outras colônias que essas são numerosas, só são accessiveis durante certos períodos do ano, a cavalo ou mula.

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Como nos não temos nenhuma influência no sentido de melhorar as condições de transporte, a única forma de ultrapassarmos essa dificuldade é a de valorizar os produtos agrícolas o mais possível, isto é, transformar as matérias-primas em produtos semi acabados, que agüentariam as con­dições e os custos de transporte.

a. Capital privado. Até agora a indústria agrícola nas nossas colônias reduz-se a algumas instalações primitivas do tipo alambiques, moinhos para mandioca, erva-mate e cereais. A falta de capital e de mão de obra qualificada, um sistema irracional de produção não favorecem o desen­volvimento desta industria. Nas condições atuais não se pode contar com o desenvolvimento desse setor sem formação de quadros e cooperação, pois esta é necessária para se conseguir maiores capitais, que por sua vez são indispensáveis para a racionalização da produção. As serrarias não foram citadas aqui porque são um ramo de indústria que não está direta­mente ligado a produção agrícola.

b. Associação de produtores. No Paraná, até agora, tem se feito muito pouco em prol daquilo que se poderia chamar associação de produtores. Esta idéia na região é muito nova, no entanto os trabalhos preparatórios realizados até agora demonstram que o colono apoia esse tipo de coope­ração. O colono demonstra uma compreensão e um interesse visivelmente di­ferente quando ouve falar em cooperativas: de produção e de compra e ven­da. O colono percebe melhor os benefícios que lhe traz um trabalho em con­junto na transformação e na venda dos seus produtos. Por sua vez tem maio­res dificuldades em perceber quais são os benefícios que decorrem do tra­balho nas cooperativas do segundo tipo; entretanto nos últimos tempos a percepção dos benefícios que decorrem das cooperativas de venda e compra tem feito progresso.

Como já foi demostrado, a criação de cooperativa para as novas cul­turas é indispensavel. Essa necessidade é tanto mais visível quando se trata de colônias onde são cultivados produtos cuja rentabilidade está posta em questão como a erva-mate e onde se faz sentir cada vez mais a necessidade de transpor-se para o cultivo de novos produtos ou de desenvolver os tradicionais tais como o linho, que foram pouco desenvolvidos porque não encontravam escoamento, devido a falta de industrialização dos cen­tros de produção.

A passagem ao cultivo de novos produtos vai requerer um trabalho muito mais intensivo, dado que simultaneamente será necessário convencer as pessoas e ensina-las a cultivar, como também criar novas empresas de transformação a fim de assegurar a sua venda. Este problema refere-se a toda uma série de novas plantas oleaginosas, desconhecidas aqui, tais como o se­zam, tungcarité, ricinus.

No caso em que essas culturas sejam industrializadas, o trabalho será menor, e particularmente diminuirão as dificuldades porque uma vez o cultivo conhecido, so será necessário racionalizar-lo. Em primeiro lugar dever-se-á arrecadar o capital necessário para emplementar as empresas transformadoras.

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6. O comércio polonês nas cidades

No Paraná, os comerciantes poloneses nas cidades não têm un papel tão importante quanto os seus semelhantes no interior. Os comerciantes nas cidades são em geral retalhistas e as suas lojas são semelhantes as das colô­nias, isto é abastecem os colonos em artigos de primeira necessidade. Por sua vez eles abastecem-se nos atacadistas portugueses, italianos e alemãos de Curitiba, Ponta Grossa ou mesmo em São Paulo. Ultimamente no Paraná foi fundada a associação dos comerciantes e industriais poloneses no Brasil, que afilia quase que exclusivamente paranaenses. Em Abril de 1933, sob iniciativa dessa associação foi fundado o primeiro ponto de venda em atacado polonês em Ponta Grossa, da qual fazem parte como acionários, 18 importantes comerciantes paranaenses. Este ponto tem como tarefa comprar os produtos agrícolas provenientes dos seus associados e vender--lhes os artigos necessários para o consumo. As possibilidades de desen­volvimento deste ponto são grandes e os prognósticos para o futuro são dos melhores.

CONCLUSÕES

1. Círculos e associações agrícolas

Os Poloneses no Brasil subdividem-se, na sua grande maioria em dois grupos, dos quais um vive e trabalha da agricultura, como pequenos e médios proprietários de terra, e o outro vive indiretamente da agricultura tal como o contra-mestre, o marceneiro, o carpinteiro, o forjador e os comerciantes, cujos fregueses são quase que exclusivamente os trabalha­dores do campo. Não podemos tomar em consideração os comerciantes das cidades grandes que vivem do comercio dos habitantes dessas, porque são pouco numerosos.

No estado de Santa Catarina e Paraná existem atualmente mais de 100 círculos agrícolas em funcionamento. A maioria deles já entrou no raio de ação do Sindicato Profissional dos Agricultores Poloneses do Brasil1. Após a estabilização das condições e o término da luta relacionada com a última crise da Associação Central dos Poloneses do Brasil2, todos eles estarão afiliados no Sindicato Profissional dos Agricultores Poloneses. Todos estes círculos agrícolas agregam um total cerca de 9.000 membros.

Até agora os círculos agrícolas, por falta de capitais, limitam-se a tratar dos problemas técnicos, deixando de lado os problemas eonômicos. Atual-

1. Sindicato dos Agricultores, foi criado em 1933 como um dos departamentos da União Central dos Polo­neses no Brasil.

2. União Central dos Poloneses no Brasil, foi fundada em 1930 por iniciativa dos representantes do serviço diplomático polonês. Tinha como objetivo agrupar e coordinar a atividade de todas as organizações • socie­dades da imigração polonesa, existentes no território brasileiro.

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mente o Sindicato Profissional dos Agricultores Poloneses começou a trans­formar os círculos agrícolas em instituições do tipo «Agricultores», isto é instituições que possuem um caráter agrícola-comercial. Por causa dos motivos citados acima, é impossível por enquanto transformar os círculos em cooperativas típicas e elas continuarão a ter um caráter de coope­rativas de produtores com a tarefa de vender os produtos agrícolas e em casos particulares transformar as matérias primas em semi-produtos e pro­dutos acabados, como também fazer a compra dos produtos necessários para à produção agrícola para os seus membros tais como: máquinas, adu­bos, etc. Desta maneira ultrapassam-se as leis sobre as cooperativas e as transações não pagam os impostos. Uma tal organização requer entretanto uma central comercial, mas a falta de capital não permite a sua criação. Como alternativa mais propícia foi escolhida uma estreita cooperação com a Central Comercial dos Vendedores Poloneses em Ponta Grossa, que é dirigida por pessoas que apoiam e procuram realizar todas as iniciativas dos círculos.

2. Organização dos comerciantes

Somente no estado do Paraná possuímos em posse dos Poloneses algu­mas centenas de empresas de comercio em forma de lojas. Estes comerciantes representam um importante patrimônio. A falta de uma organização que pudesse reunir os comerciantes poloneses — dispersos em enormes exten­sões — não permite por em relevo a força dos comerciantes poloneses no Brasil e entrega-nos em mãos dos atacadistas de outras nacionalidades, impossibilitando, dessa forma, uma troca comercial com a Polônia. Por isto, a tarefa mais importante dos comerciantes poloneses do Paraná é a de manter e desenvolver o existente ponto de venda em atacado polonês «União Mercantil Paranaense» de Ponta Grossa que é o maior centro co­mercial do Paraná, e de atrair para o seu raio de ação os numerosos comer­ciantes das colônias, das cidades e dos círculos agrícolas. A tarefa desse ponto de venda em atacado é de abastecer os seus membros e comprar deles os produtos agrícolas; outra tarefa que cabe a União é a de estandardizar os produtos agrícolas porque somente uma organização comercial que garanta o escoamento dos produtos pode eficientemente melhorar a sua qualidade.

Resumindo aquilo que foi dito acima, devemos procurar: 1) organizar todas as empresas polonesas de comercio sob a direção do Sindicato Pro­fissional dos Comerciantes Poloneses e do Ponto de venda em Atacado; 2) nomear Poloneses — com a ajuda das instituições citadas acima — para os postos de trabalho das centrais comerciais nas regiões que embora abran­gidas pela colonização polonesa, não possuem comercio próprio; 3) unir de uma forma organizada todos os existentes círculos agrícolas e as novas cooperativas, com a ajuda do Sindicato Profissional dos Agricultores Poloneses do Brasil, com Ponto atacadista comercial e vender os produtos agrícolas por intermédio desse.

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3. Banco

Para realizar estes objetivos é imprescindível que — tomando em consi­deração as condições econômicas das nossas colônias — possuamos uma instituição de crédito, tanto para financiar o trabalho do ponto de venda em atacado e dos seus membros, como para financiar as cooperativas de transformação agrícola. Dada a existente falta de capital, tanto os círculos agrícolas como os comerciantes não são capazes de realizar os almejados objetivos. É necessário por em relevo que é somente com a ajuda de uma instituição de crédito bancário, dirigida do país, que as autoridades compe­tentes polonesas poderão influenciar decididamente o desenvolvimento da vida econômica no Brasil.

4. Organização econômica nos futuros terrenos de colonização

Ao realizar-se a colonização dos novos terrenos seria indicado que: 1) O colono receba o título de propriedade quando pagar a última

prestação pelo terreno. 2) Até receber o título de propriedade o colono seja obrigado a culti­

var pelo menos 50% da terra segundo as diretivas da direção da colônia. Iste permitirá ao colono de evitar fazer experiências muitas vezes prejudi­ciais e de dar a direção da colônia a garantia de um produto estandardizado e unitário.

3) A direção da colônia possuísse um armazém e uma loja, criada em princípios puramente comerciais e que comercializá-se os produtos dos co­lonos. Deve ser uma empresa comercial totalmente independente financiar-mente da direção da colônia e totalmente comercializada. É necessário observar aqui que os créditos excessivos dados pelos armazens aos colonos nunca darão bons resultados, bem pelo contrário, como já foi freqüente­mente levaram a um endividamento excessivo do colono.

4) A criação de lojas privadas durante os dez primeiros anos deve ser proibida.

5) Ao fazer-se o balanço anual do armazém da colônia uma parte da renda deveria ser devolvida aos colonos — proporcionalmente a produção vendida e aos produtos comprados. Pelo menos metade do capital devol­vido ao colono deve ser feita em forma de ações da nova cooperativa. Essa cooperativa deve ser fundada no momento em que a colônia se emancipa (isto é quando os colonos acabam de pagar a última prestação e o que resulta na liquidação do armazém da colônia). Com o decorrer dos anos esse sistema ensinaria aos colonos os princípios do cooperativismo e per­mitiria arrecadar maiores fundos para as futuras cooperativas que, desta maneira, possibilitando-lhe no futuro o desenvolvimento e concorrência com as firmas privadas. Por enquanto, a experiência tem demostrado que a arrecadação dos fundos necessários para o funcionamento de uma coope­rativa, diretamente dos colonos, é impossível.

Teodor Cybulski