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1 Comunidade Terapêutica D.W.Winnicot Crianças e Adolescentes Funções Psíquicas - “Livro Preto” J. Outeiral

Funcoes Psiquicas

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Comunidade Terapêutica D.W.Winnicot

Crianças e Adolescentes

Funções Psíquicas - “Livro Preto”

J. Outeiral

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ATENÇÃO

I - CONCEITO

A reação seletiva pela qual o ego examina o mundo externo e o interno

chama-se atenção.

É a concentração do psiquismo diante de um estimulo, ou melhor, uma

resultante psíquica, já que centraliza todas funções numa determinada direção.

Há autores (2) que a consideram como um grau de consciência. Dizem,

pois, que tudo que é focal no campo da consciência é vivido com a atenção, e, tudo

que e franjal evoluiu no psiquismo sem a atenção.

Nessas condições, compreendidas como grau de consciência, a atenção

tem mais o caráter de qualidade das outras funções mentais do que função especial

propriamente dita.

É de interesse nos determos no estudo da primeira definição dada.

Implica ela na existência de dois elementos:

A - Estimulo:

B - Capacidade de concentração do psiquismo

Estímulo:

Objeto para o qual pode convergir nossa atenção que pode ser interno ou

externo. Interno em nosso corpo e externo, fora dele.

Capacidade de concentração do psiquismo:

É claro que, se o ego não está em condições de poder concentrar-se,

esse psiquismo não poderá prestar atenção. É o que se observa em muitos doentes

mentais, nos quais o processo mórbido produziu tal deterioração que os impediu de

formar essa componente que se denomina atenção.

II - CARACTERES DA ATENÇÃO

1 - Amplitude

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2 - Intensidade

3 - Duração

A amplitude refere-se ao campo que pode abarcar a atenção. A

intensidade, também chamada agudez da atenção, indica que esta é, às vezes

superficial outras vezes, profunda. Finalmente, a última particularidade é a

personalidade maior ou menor da atenção.

Do predomínio, ora da intensidade, ora da amplitude, surge o conceito de

concentração. Assim, quanto maior a intensidade, maior a concentração quanto

maior a amplitude, menor a concentração.

Além disso, distingue na atenção a tenacidade e a vigilância, que muitas

vezes podem atuar antagonicamente.

Tenacidade :

É a propriedade da atenção de estar dirigida de um modo permanente em

um mesmo sentido.

Vigilância :

Aquela de dirigir-se a atenção a um novo objeto.

Do ponto de vista psiquiátrico, estas características da atenção não são

de muita aplicação, ou pelo menos de menor aplicação que em psicologia normal e

em disciplinas correlatas, como por exemplo na orientação profissional.

III - FORMAS DE ATENÇÃO

Em clínica psiquiátrica se reconhecem duas formas principais de atenção:

Espontânea e Voluntária

Espontânea:

É aquela que se exerce ante um estímulo externo, sem intervenção da

nossa vontade. O objeto impõe-se aos nossos sentidos e, mais ainda, ao nosso

psiquismo. Exemplo: o ruído, o bater de uma porta quando estamos lendo.

Entrando numa casa, uma pessoa dirigirá espontaneamente a atenção

para aquelas coisas que impressionam mais suas inclinações; uma estátua para um

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turista, uma biblioteca para um estudioso, etc.

―A atenção espontânea‖ diz Ribot (2) está, inteiramente subordinada a

nossa sensibilidade afetiva, esta lei não sofre exceções.

Voluntária:

Assim denominamos a que se produz mediante a intervenção da vontade

do indivíduo, quem, por sua própria iniciativa concentra-se num objeto. Ex.: a

concentração forçada sobre as páginas de urna anatomia patológica.

IV. PSICOPATOLOGIA DA ATENÇÃO

A atenção é influenciada:

1 - da parte do sujeito (atenção voluntária)

a. pela afetividade.

b. pelo cabedal de associações disponíveis em relação ao assunto.

2 - da parte do objeto (atenção espontânea)

a. intensidade do estimulo

b. mobilidade

c. variações bruscas

d. proximidade

e. novidade

f. repetição

g. desaparecimento súbito

O contrário da atenção chama-se distração, que é fenômeno observado

no indivíduo, que submerso em suas meditações , não percebe as impressões

externas.

Trata-se portanto, mais de concentração de atenção propriamente de que

diminuição desta.

Como variações patológicas da atenção temos:

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1- Disprosexia.

2- Aprosexia.

3- Hiperprosexia.

4- Hipoprosexia.

5- Paraprosexia.

Examinaremos, sumariamente, cada um destes distúrbios, já que

psiquiatricamente tem muito pouco valor.

O termo disprosexia é a lentidão ou debilidade da atenção.

Aprosexia – falta de atenção, dependendo de fatores tóxicos, afetivos e

traumáticos. Em resumo indica uma perturbação do ego, passageira ou permanente.

Autores há que procuram diferenciá-la da ausência de atenção, proveniente da

indiferença afetiva ou do negativismo dizendo que, no último caso o indivíduo não

aceita os fatos porque carece de interesse ou porque, simplesmente não quer. Na

aprosexia verdadeira ele não poderia atentar.

A Hiperprosexia ou hiperatividade da atenção, consiste na capacidade

do atender, simultaneamente, as mais variadas impressões, sem que fixe a atenção

sobre um objeto determinado.

Os quadros de excitação maníaca nos fornecem ilustração mais perfeita

desse sintoma.

Esse termo é também usado por alguns autores, para designar o que

outros chamam de abstração, isto é, excesso de concentração sobre um

pensamento.

A hipoprosexia é a diminuição global da atenção. A atenção está

diminuída pela fadiga, estados tóxicos, lesões orgânicas e, exemplo mais típico, é o

estado de obnubilação.

Além das variações patológicas dizemos que o grau de atenção do

mesmo indivíduo depende das variadas condições fisiológicas.

A capacidade de atenção também oferece grandes diferenças individuais,

guardando em geral certa relação com o desenvolvimento intelectual.

Paraprosexia é empregada para designar um fenômeno paradoxal que

consiste na diminuição da intensidade e clareza das demais percepções, quanto a

atenção acha-se dirigida para um só objeto, graças a um esforço especial da

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vontade. O exemplo mais típico é a distração dos sábios.

SENSOPERCEPÇÃO

I. CONCEITO E CARACTERES

Os órgãos terminais ou receptores, estão construídos de tal maneira que

podem analisar e selecionar a energia ambiente, transformando-a dentro do mesmo

receptor e dando origem ao impulso nervoso. Esse impulso ao chegar a zona

apropriada do cérebro, produz uma imagem sensorial , auditiva, visual ou de outro

tipo, cuja interpretação ou significado dependerá das experiências e interpretações

previas do indivíduo. A isso, chamamos sensopercepção ou simplesmente

percepção como querem alguns autores.

A sensopercepção foi estudada como constituída por dois elementos: a

sensação e a percepção, entendendo-se pela primeira, o trajeto que vai desde a

percepção sensorial do estímulo até sua chegada a célula cortical e, por percepção,

a transformação que este estímulo sofre ao converter-se em fenômeno psíquico.

Dizemos pois, que a percepção é o fenômeno psíquico pelo qual a sensação se faz

consciente.

Até agora falamos dos estímulos externos e órgãos sensoriais. Em

realidade pode haver estimulação interna (desejos instintivos do ID).

As perturbações das sensações, quer dizer, a via centrípeta,

apresentamsintomas que serão vistos mais tarde, como sintomas da doença mental

que se expressam no plano orgânico, e pôr isso, não serão estudados aqui.

Em rigor alguns autores estudam a sensopercepção como um único

processo, e, sobre isso não existe ainda um acordo, embora seja evidente a relação

estreita entre sensação e percepção.

Se olharmos para uma laranja e sobre ela fixarmos a nossa atenção

receberemos, através do órgão visual, uma série de impressões sensoriais que, se

transformarão em sensações elementares. Esses dados sensoriais e elementares,

agregados e superpostos nos vão dar um complexo, uma estrutura a qual está

ligada também uma carga afetiva. A presença em nossa consciência de uma parte

desses atributos, evoca a estrutura toda e surge conhecimento: o que está diante de

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nós é uma laranja. Desse exemplo podemos concluir que a percepção ou

sensopercepção como todas as outras funções, não pode ser isolada do todo, pois,

como se vê, para o reconhecimento da laranja como objeto foi lançada mão de

outras funções, tais como: memória, associações, atenção, etc.

Esse mesmo exemplo da laranja servirá para distinguirmos percepção de

representação. Olhando uma laranja tivemos diante de nós sua imagem; ou seja, a

percebemos. Esta imagem chama-se: imagem sensorial, isto é, determinada pela

presença do próprio objeto, sendo então:

1 — nítida e delimitada,

2 — fixa e estável,

3 — extrojetada, isto é, situada no espaço objetivo externo.

Há autores há (2-8) que fazem um estudo mais detalhado do tipo de

imagem, que nos parecem sem maior importância. Assim simplesmente as

nomeamos; além das demais acima: post-sensorial – a imagem minêmica

fantástica, eidética, onírica pareidólicas.

II. PSICOPATOLOGIA DA PERCEPÇÃO:

A percepção do ego pode alterar-se em dois sentidos:

a. Quantitativamente.

b. Qualitativamente

Perturbações quantitativas:

Os distúrbios quantitativos da percepção podem ser:

1 - Por aumento de número ou intensidade – todos os sons parecem

altos, todas as cores parecem vivas. É o que ocorrem em estados neurastênicos,

delírios tóxicos, pródomos da crise epiléptica, etc.

2 - Por diminuição – tudo parece escuro ou cinzento, sem gosto, é o que

ocorre nos estados depressivos ou melancólicos.

Perturbações Qualitativas:

Podem ser:

1 - ilusões

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2 - alucinações

3 – pseudo-alucinações

Ilusões - definimos como a percepção deformada do objeto. O objeto

existe e é real, e o indivíduo o percebe, porém, o interpreta erroneamente. Pode

ocorrer com clareza de consciência ou ser favorecido por perturbações desta

(estados tóxicos ou infecciosos), mas sempre determinados por motivos afetivos,

impulsos reprimidos, desejos, temores, etc. É o apaixonado que vê a namorada

numa desconhecida para quem olha de repente ou um paciente carregado de

sentimentos de culpa que ouve vozes acusadoras quando as árvores são agitadas

pelo vento. A imagem ilusória é, pois, uma imagem sensorial deformada por

elementos representativos. Parece-nos que o mecanismo de defesa utilizado na

ilusão é a projeção.

Alucinações - é a percepção sem objeto também chamadas por alguns

autores de pseudo-percepção. É a projeção para o exterior de uma imagem

representativa, implicando numa distorção do juízo da realidade, isto é, aceita como

verdadeira.

Sob o ponto de vista dinâmico parece-nos que pode ser considerado

projeção para o exterior de conflitos, desejos inconscientes. Na ilusão a projeção

momentânea é rápida e não implica em maior comprometimento do ego, ao

contrário, na alucinação o ego se encontra seriamente comprometido.

Nas alucinações, bem como nas ilusões, seu significado é passível de

compreensão, como no sonho e outros produtos do inconsciente.

III. CLASSlFICAÇÃO DAS ALUCINAÇÕES:

As alucinações podem ser classificadas:

a. Segundo o órgão ou sistema afetado

b. Segundo o momento de produzir-se

c. Segundo o conteúdo.

Segundo o órgão ou sistema afetado podem ser:

1. sensoriais (visuais, auditivas, gustativas, olfativas, táteis).

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2. Cenestésicas

3. Cinestesicas ou motoras

4. Psíquicas

5. Combinadas

Alucinações sensoriais – São aquelas que se produzem através dos

órgãos dos sentidos, classificando-se, consequentemente, em:

1. Visuais - o paciente crê ver objetos que não existem, sejam

elementares (chamas, iluminações, etc.) ou complexas (pessoas,

animais, etc.). Apresentam-se, principalmente, nos estados de

confusão mental, psicoses epilépticas e psicoses esquizofrênicas,

seria descrita por BLEURER (1), com o nome de ―extracampina’, nas

quais o doente vê objetos que se encontram fora do campo visual.

(―Vejo uma serpente atrás de mim‖). São próprias dos

esquizofrênicos.

2. Auditivas - do mesmo modo os pacientes ouvem ruídos ou sons,

elementares ou complexos; esses últimos podem ser: comuns (ruídos

de objetos individualizáveis, por exemplo o soar de urna campainha)

ou verbais (vozes), encontram-se em delírios alucinatórios, certas

formas de alcoolismo, estados esquizofrênicos principalmente em

estados melancólicos. Quase sempre são do tipo auto-acusatório. Isso

talvez se deva, em parte, que nosso superego seja formado

preferencialmente através da audição.

3. Gustativas e Olfativas — geralmente sua presença é simultânea,

assim o paciente pode sentir cheiro de podre e gosto estranho na

comida. Constata-se sua presença, em sindromes paranóides.

Expressam, quase sempre, temores do paciente de ser envenenado

4. Táteis — muito comum em tóxico-manias, (alcoolismo, cocainismo,

etc.).

Alucinações Cenestesicas - Compreendem aquelas dirigidas à

sensibilidade interna que regem à inervação dos órgãos e vísceras. O paciente

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queixa-se de que seu estômago esta podre, os testículos não funcionam, etc. Alguns

melancólicos, esquizofrênicos e neuróticos sofrem deste tipo de alucinações.

Cinestésicas ou Motoras - o paciente crê efetuar um movimento, sente-

se erguido ou, assinala que lhe estão levantando um membro. São observadas em

algumas formas de confusão mental, esquizofrênicos.

Alucinações Psíquicas (Baillarger) Aperceptivas (Kahlbaum) ou

Pseudo-Alucinações (kandinsky) - O doente percebe no ―interior do seu cérebro’,

uma voz ou uma imagem visual ou sem chegar a isso, simplesmente uma idéia ou

pensamento que atribui a algo ou alguém estranho a ele. Suas características são:

falta de vivacidade, estabilidade maior que a alucinação verdadeira (influenciáveis,

modificáveis); falta de crença persistente em sua realidade objetiva (J. Muller - E.

Kandinsky, citado por MYRA Y LOPES).

Alucinações Combinadas - Qualquer dos tipos citados podem combinar-

se ou apresentar-se simultaneamente.

Segundo o momento que se produzem podem ser diurnas, noturnas,

hipnagógicas (imediatamente antes do sono), a hipenopompica (imediatamente

depois do sono).

Segundo seu Conteúdo – Podem ser elementares (indiferenciadas:

chamas murmúrios contatos ou gostos indeterminados, etc.) e complexas

(diferenciadas: visão concreta de objetos, audição de vozes contatos ou gostos

determinados).

Pseudo-Alucinações - também uma pseudo-percepção. Pois é sem

objeto. Distingue-se da alucinação porque não é aceita pelo juízo da realidade como

percepção real do objeto. É chamada pela escola francesa de (DUPRE E GELMA),

citados por FIGUEIRAS E SIMAN de ―alucinoses‖ enquanto que a escola alemã e

americana reservam esse termo a uma Síndrome classificando-as habitualmente

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entre as psicoses alcoólicas que se caracterizam por uma reação com alucinações

auditivas, que se apresentam numa consciência clara e acompanhada,

efetivamente, por marcado temor.

Na pseudo-alucinação o paciente se dá conta de que é anormal o que

sente. Parece-nos que há uma parte do ego que se mantém intacta e capaz de

reconhecer a realidade.

MEMÓRIA

I. CONCEITO E CARACTERES

Vimos até agora, as primeiras funções que emprega o ser humano para

estabelecer contato com o meio que o rodeia. Por meio delas, a personalidade

concentra-se em um estímulo, que penetra num indivíduo, em forma de sensação.

Quando este chega ao cérebro faz-se consciente, convertendo-se em percepção.

Avançando um passo além, chegamos a conclusão de que o indivíduo

possui a faculdade de fixar ou apreender este estimulo, conservar durante longo

tempo, evocar quando necessita ou crê conveniente, isto é, colocá-lo em primeiro

plano, e por último reconhecê-lo ou identificá-lo. Assim, por exemplo, a leitura de

algumas páginas de um livro, provoca em nós um processo tal, nos permitindo

conservar e fixar o que lemos ou grande parte dele. Do mesmo modo o evocarmos

se necessário e finalmente, quando voltamos a repassar essa leitura a

reconhecemos ou identificamos com a realizada pela primeira vez. Todos esses

processos, cuja concatenação é evidente, integram uma função tão complexa como

- as anteriores - denominada memória. Podemos definir esta, portanto, como

capacidade de fixar, conservar, evocar e reconhecer um estímulo.

Não devemos concluir que a memória seja uma faculdade ou função

especial, mais ou menos isolada, senão um aspecto daquela parte, altamente

integrada do organismo, que chamamos mental. Esse aspecto tem também a

adaptação com o mínimo de esforço, pela ajuda que presta ao indivíduo para que

tire proveito de sua experiência.

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II. ETAPAS DO PROCESSO MENÉSICO

Como vimos acima, podemos distinguir, dentro da memória, quatro

etapas:

a – fixação

b – conservação

c – evocação

d - reconhecimento

Fixação:

Consiste a fixação num estabelecimento de associações entre a

experiência passada e o novo fenômeno, que é assim integrado na totalidade mental

a isto Bleuler denominava ―engrama‖, sem definir, claramente, o que entendia pôr

isso. A capacidade de formar e conservar esses engramas, foi designada pôr Wernik

(citado por Bleuler) com o nome de memória de fixação.

Todas as representações associadas com o elemento fixado, podem

servir depois no ato da fixação, como evocadoras, e, tanto mais fácil será a

reconstrução mnêmica quanto maior o número de evocadores associados.

Bleuler, deu a esses evocadores o nome de ―ecforia de engrama‖.

A fixação depende naturalmente da repetição do próprio ato de fixar. Esta

é a razão pela qual o estudante, se por ocasião dos exames tem de se dar conta do

que leu, repete o texto varias vezes e, quanto mais o faz, mais seguro sente-se. Pelo

ato da fixação, se estabelece a ―disposição mnêmica‖, isto é, a potencialidade de

recordar o fixado. A lei que estabelece a relação entre a força das disposições e o

número de fixações repetidas é formulada por OFFNER (citado pôr Iracy Doyls) da

seguinte maneira: ‖uma disposição torna-se tanto mais forte tanto mais freqüente se

repete o processo psíquico, qualitativamente idêntico que lhe serve de base.‖ Lendo

um texto científico pela primeira vez podemos conservar uma noção geral do

assunto, mas, via de regra, não seremos capazes de reproduzi-lo. Repetindo a

leitura outras vezes, aumentamos a força de disposição até o ponto em que

conseguimos reproduzi-lo literalmente ou em seu significado, conforme seja a

finalidade. Daí pôr diante, a repetição torna-se praticamente desnecessária, porque

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a fixação atingiu um ponto ótimo. Esse fato deu lugar a segunda lei de OFFNER:

―uma disposição reforça-se pela repetição, tanto menos quanto mais forte já era ela

antes da repetição‖ Esta lei é exata num limite, relativamente pequeno de tempo e,

por isso somos obrigados a uma nova repetição, de tempos em tempos para que a

disposição mnêmica se reestabeleça.

Na prática, distinguimos três modalidades de fixação: mecânica, racional

e mnemotécnica. Na primeira, procuramos, pela repetição automática acentuar o

sulco deixado pelo elemento fixado. Nesse tipo de fixação, o texto fixado é repetido

literalmente; dizemos que foi decorado, A fixação racional ou lógica dá-se quando ao

fixar procuramos integrar os fatos em nosso cabedal intelectual. Quando durante a

fixação inventamos relações esdrúxulas, mas que servem para facilitar a futura

repetição mnêmica, especificamente falamos em relação mnemotécnica.

Podemos distinguir ainda, a fixação consciente e a fixação pré-consciente

também chamada subconsciente por alguns autores. Fixar com atenção e fixar sem

atenção, são justamente, os termos que distinguem a fixação consciente da pré-

consciente. Do mesmo modo, influem sobre a fixação os sentimentos, as emoções e

interesses afetivos. Todos os elementos coloridos afetivamente fixam-se com mais

força do que os conteúdos indiferentes; e quanto maior a carga afetiva, tanto mais

profunda a fixação.

Na memória devemos considerar ainda, dosagens do material fixado, que

varia individualmente. Cada pessoa tem a sua dose ótima de fixação, que não pode

ser ultrapassada. A capacidade de fixação mnêsica constitue constante individual,

enquanto houver rigidez. Não conseguimos, mesmo pelo treinamento, aumentar o

número de conteúdos fixados. Entretanto, é possível aumentar o rendimento de

fixação, ensinando a pessoa a sintetizar o material a fixar, nesse sentido é que são

úteis os sumários e esquemas.

Conservação:

O estudo da conservação é muito difícil, pois essa fase do processo

mnêmico confunde-se com a terceira etapa, ou seja a evocação, desde que

apreciamos a conservação pelos relatos que o indivíduo fornece dos dados fixados:

Notando falhas no relato, temos dificuldade em concluir se isso decorre da

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insuficiente conservação, ou de defeito de evocação. Alguns autores negam a

existência dessa fase. Há, porém, aqueles que atestam o processo de conservação

no material fixado. Ebinghus (citado pôr Iracy Doyle), após fixar na memória do

examinando certa quantidade de material, deixava o indivíduo esquecer o fixado;

depois de confirmar a impossibilidade da repetição, renovava a fixação. Verificou

que tais casco, na segunda fixação, gastava-se muito menos tempo para refixar o

material ―esquecido‖.

Como se faz a conservação? Há duas correntes: os partidários da teoria

estática consideram a memória latente como uma espécie de câmera fotográfica,

que, de acordo com as necessidades, são retiradas para a reprodução. A teoria

dinâmica das representações, mais aceita modernamente, estabelece que não são

representações inteiras que se conservam mas sim unidades neles discriminadas no

momento da fixação e que depois reconstroem a lembrança. Em realidade, vemos

que o simples modo de olhar um determinado sinal ou cicatriz, orienta o

reconhecimento uma pessoa que há muito não vemos.

Evocação e Reconhecimento

A evocação em sentido prático é a memória propriamente dita. Muitos

autores costumavam descrever estes duas fases englobadas no conceito de

reprodução. A evocação não é nada mais do que uma associação expontânea ou

voluntária que traz, novamente a consciência o material previamente fixado e

conservado, portanto, a evocação exige a existência de ―um evocador‖ (ecforia).

Esse evocador pode ser consciente ou inconsciente. Sem exceção a evocação se

faz associativamente e por isso as leis de evocação são os mesmas das

associações. Quanto mais associações conduzem a uma fixação tanto mais fácil é a

evocação. Por outro lado, quanto mais agradável forem os afetos ligadas a esse

material fixado, tanto mais fácil será sua evocação.

O esquecimento não será um processo passivo mas o efeito de forças

que se opõem ativamente ao aparecimento de experiências desagradáveis ou por

qualquer motivo, repelidas pelo ego. O mecanismo de defesa utilizado pelo ego é a

repressão. Em ―psicopatologia da vida cotidiana‖, Freud demonstra que os distúrbios

isolados da evocação dependem sempre de causas afetivas.

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O termo reconhecimento designa, especificamente, a possibi1idade de

reproduzir as circunstâncias especiais e temporais que acompanham a fixação do

material. Do mesmo modo que existe um ―juízo da realidade‖, distinguindo as

percepções verdadeiras das falsas, dispomos também, de um ―juízo de

identificação‖, que permita discriminar as recordações verdadeiras das falsas.

III. PSICOPATOLOGIA DA MEMÓRIA

Os distúrbios da memória, podem ser quantitativos e qualitativos:

1. Perturbações Quantitativas.

Referem-se ao número de representações mnêmicas, que podem variar

para menos e para mais. Para mais quando um estado de excitação psíquica traz

como conseqüência, uma exaltação da memória; para menos quando há uma

inibição de causa orgânica ou afetiva que produz uma diminuição no número de

representações:

Classificam-se em:

a. Hipermnésia.

b. Dismnésia.

c. Hipomnésia.

d. Amnésia.

Hipermnésia:

Assim se denominam o aumento simples da memória, constituindo por si

só um fato patológico. Observam-se ocasionalmente, nos estados maníacos e na

paranóia. A capacidade mnemônica excessiva limita-se habitualmente a períodos

específicos, ou a experiências relacionadas com afetos particularmente intensos. As

impressões que se originam em fatos carregados emocionalmente registram-se,

quase sempre, com intensidade maior que a habitual e, por isso, o paciente tem uma

lembrança clara e detalhada.

Há entretanto pessoas que apresentam um desenvolvimento acentuado

do aspecto da memória em contraste com as demais formas de funcionamento da

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inteligência.

A hipertrofia de um aspecto da memória, como por exemplo, o musical, a

memória para números, etc; é comum ser encontrada em certos oligofrênicos.

A hipermnésia da paranóia é chamada por alguns autores de hipermnésia

seletiva. Esses acumulam toda a espécie de sinais mnêmicos e detalhes que

servem de apoio a suas afirmações delirantes; entretanto ha quase sempre redução

da memória, se testada em outros setores da atividade psicológica uma vez que

todo o ego e a memória inclusive, estão a serviço do delírio.

Dismnésia:

Nela as representações estão diminuídas. O processo mental patológico

influi sobre as diferentes fases da memória, restringindo seu funcionamento. Esse

estreitamento que também encontramos na hipomnésia e amnésia, é de um colorido

especial: - o paciente esquece alguns fatos em forma total e absoluta, outros em

formas fragmentadas e outros não esquecem.

J.T. Bordas (citado por Figueiras) em uma comparação feliz lembra o

derramar de tinta sobre a areia, impregnando totalmente algumas particulas,

parcialmente outras e não atingindo as demais. Esse fenômeno é típico nos

paralíticos gerais, e costuma ser as vezes o primeiro sintoma a apresentar-se. São

pequenos esquecimentos ou evocações um tanto confusas, que por semelhança

com as que se produzem no indivíduo normal passam despercebidas.

Hipomnésia

A diminuição da memória, ou hipomnésia, quando global, uniforme e

progressiva nos faz pensar na existência de um processo demêncial de natureza

orgânica, como ocorre na arteriosclerose cerebral, demência senil, na paralisia geral,

etc.

Há casos de aparente amnésia observados nos neuróticos, que vivem

queixando-se de insuficiência de memória, quando na realidade os testes

demonstram ser normal tanto a fixação, a conservação como a evolução.

Os mecanismos desse fenômeno são muito variados. Finalmente nos

oligofrênicos também se pode achar hipomnésia: a falta de desenvolvimento

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cerebral traz como conseqüência um funcionamento de deficiência da memória.

Amnésias:

Assim se denomina a perda completa da memória. Trata-se de uma perda

de lembrança seja por incapacidade de fixação, conservação ou de evocação,

Segundo sua extensão classificam-se em parciais e gerais

Parciais: são aquelas que produzem um determinado sentido: perda da

memória, auditiva, gustativa, etc.

Gerais: quando abrange todos os dados do conhecimento.

A amnésia pode ser produzida tanto por fatores orgânicos como

psicopatogênicos. Na amnésia orgânica as perturbações fisiológicas dos neurônios

por toxina, traumas ou degenerações, dificultam os processos associativos. A perda

da memória, por causa orgânica, deve ser um transtorno no processo da fixação e

conservação, especialmente neste último. Na amnésia psicógena inibe-se a

memória pôr razões psicológicas, estritamente falando, o paciente da amnésia

psicógena não esquece; ele não pode recordar, pois assim liberta-se da angustia

que está ligada a esses acontecimentos reprimidos.

As grandes perdas da memória de origem psicogênica devem ser

consideradas como de natureza histérica. O diagnóstico diferencial entre amnésia

orgânica e psicogênica é importante. Na diferenciação temos que investigar a

natureza da causa. Pode estar evidente, mas se não for será necessária fazer uma

historia cuidadosa e uma exploração detalhada do sistema nervoso, antes de

concluir que a amnésia é de origem psicogênica. Não havendo transtorno da

consciência ou alteração das funções intelectuais a amnésia será de origem

psicógena. Classicamente distingue-se três variedades de amnésia:

a. Amnésia de fixação ou anterógrada.

b. Amnésia de evocação ou retrógrada.

c. Amnésia total ou retroanterograda.

Amnésia anterógrada:

O paciente não consegue lembrar-se dos fatos recentes, repetir

imediatamente após as palavras que lhe foram ditas, fixar algum objeto que são

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apresentados, embora refira-se, com exatidão e precisão aos episódios de sua

meninice. Caso típico da demência senil. As vezes a amnésia anterógrada constitui

um sintoma secundário a outras alterações mentais: por exemplo, pode coincidir

com estados de obnubilação da consciência, quando é natural que a fixação não se

opere, uma vez que estímulos sensoriais não são percebidos claramente.

Amnésia de evocação ou retrógrada:

Caracteriza-se a amnésia retrógrada, pelo desaparecimento das

lembranças antigas há muito fixadas pela memória, que, ou não podem ser

evocadas, ou o são a custa de grande esforço. Esse o tipo de transtorno da memória

que aparece consecutivamente a traumatismos e infecções cranianas, embora

possa parecer também em certas intoxicações agudas e ataques epléticos. Iracy

Doyle, cita o caso de um paciente esquizofrênico muito degregado e delirante, que

vítima de traumatismo craniano severo, com fratura no parietal seguido de estado de

coma e convulsões, após recuperar a consciência apresentava amnésia retrograda

de intensidade máxima; não se recordava de detalhes algum de seu passado,

inclusive os próprios dados de identificação pessoal. Durante o período que persistia

a amnésia o paciente funcionou com absoluta lucidez, sem qualquer traço de

desagregação ou delírio. Logo, entretanto, que a recuperação mnêsica se processou

ameaçando trazer a memória dos conflitos reprimidos, instalou-se o quadro

esquizofrênico. É este tipo de amnésia que se apresenta em pacientes submetidos

ao eletrochoque e em pacientes submetidos a traumatismos emocionais intensos.

Costuma ser freqüente o paciente portador desse tipo de amnésia a substituição do

material esquecido por elementos de caráter imaginativos que constituem o que se

chama confabulação. Entende-se, por confabulação um processo, mediante o qual

o paciente substitui sua amnésia por expressões imaginativas as quais contam como

verdadeiras. Esse fenômeno é muito freqüente na confusão mental e na demência

senil.

Amnésia total retroanterograda:

Nesta amnésia a deterioração mental á tão grande que o paciente não

pode fixar, conservar, evocar e reconhecer os estímulos; perdeu toda a capacidade

Page 19: Funcoes Psiquicas

19

mnêmica, será um sinal de grave prognostico.

Um tipo particular de amnésia geral é a amnésia lacunar que se observa

nas confusões mentais e correspondem a períodos de graves perturbações da

consciência. A função mnêmica fica suspensa durante o período, sendo que,

passado esse, os pacientes voltam a recordar os fatos anteriores a sua enfermidade

assim como os posteriores, apresentando uma lacuna mnêmica que abrange

períodos de duração do processo.

2. Perturbações Qualitativas:

Referem-se as qualidades da representação mnêmica, recebendo o nome

genérico de paramnesicas ou falsos reconhecimentos, quer dizer, reconhecimentos

que não correspondem a realidade, são:

a - Deja Vu, ou fenômenos do já visto.

b - Fenômeno do nunca visto (Criptomnésia de Bleuler)

c - Ilusão da memória ou falsificação retrospectiva.

d - Alucinação da memória

Deja Vu: Impressão de já ter vivenciado antes o que na realidade já é

visto pela primeira vez. Ocorre quando a situação presente encontra uma relação

associativa com a experiência anterior reprimida no inconsciente.

Fenômeno do nunca visto: ao contrário do caso anterior, o paciente

acredita nunca ter visto algo que em realidade já vivenciou. Quando ocorre no

terreno patológico tem a característica de que paciente não reconhece o erro,

Entende-se facilmente que a fixação foi intensamente reprimida, por estar ligada a

associações de conteúdos desagradáveis para o indivíduo.

Ilusão da Memória ou Falsificação retrospectiva: Sob esse título

entende-se a evocação deformada ou a evocação de detalhes imaginários, sob a

influência de exigências afetivas, geralmente para corroborar uma interpretação

delirante. É muito freqüente na paranóia.

Alucinação de Memória: Na qual há uma evocação de algo que nunca

se fixou nem conservou. É a chamada confabulação, já descrita anteriormente. Iracy

Page 20: Funcoes Psiquicas

20

Doyle (2), reconhece ainda, outros distúrbios qualitativos da memória, que serão

somente citados, por nos parecerem de menor importância. Assim, por exemplo, fala

no falso reconhecimento, ou seja, um indivíduo é confundido com outro, Parece-

nos que aqui trata-se mais de uma ilusão do que propriamente um fenômeno de

memória.

DIDE EGUIRAUD (2) descrevem com o nome de reminiscência, o fato

de uma lembrança real não ser reconhecida como produto da memória e aparecer

como idéia nova e pessoal. O inverso também pode acontecer, isso é um processo

mental, que não é uma lembrança, ser reconhecida como tal.

As criações de fantasia podem ser relatadas como realidades, seja na

confabulação desenfreada dos presbiofrenicos e doentes de KORSAKOW, seja, de

modo mais discreto, dos relatos dos mentirosos habituais, que acabam

acreditando nos produtos da própria imaginação. Os sonhos podem adquirir tanta

viveza e impôr-se de tal modo ao juízo de identificação, que sejam referidos como

experiências reais da vida recordada.

CONSCIÊNCIA

I. CONCEITO E CARACTERES

Denominamos consciência a este estado de clareza do sensório que

possibilita o reconhecimento do próprio eu e do ambiente. Descritivamente talvez

fosse mais acertado a expressão ―clareza mental‖ para indicar o que se designa com

o nome de consciência.

O sensório é claro, quer dizer, a função dos sentidos especiais está

intacta e a apreensão dos estímulos externos não esta perturbada. Em outras

palavras o indivíduo é capaz de captar as condições do meio ambiente, tais como

lugar, tempo, situação pessoal e geral, e compreender perguntas e refletir sobre

elas.

O conceito é abstrato e, portanto, de difícil sistematização. Implica num

funcionamento harmônico e completo das funções psíquicas, comportando a

atenção, percepção, memória, associação de idéias, etc., mas fundamentalmente

Page 21: Funcoes Psiquicas

21

significa clareza do sensório.

Didaticamente fala-se em campo, foco e limiar da consciência.

Entende-se por campo de consciência a extensão que abarca o cenário

onde a consciência atua. Se representamos esse campo por círculos concêntricos,

como se fora um alvo de tiro, o centro do alvo corresponde ao máximo grau de

consciência e é chamado foco. Os círculos mais próximos esprimem,

esquematicamente, os processos pré-consciente, e os mais afastados os

inconscientes. Os circulos intermediários entre o foco e os processos pré-consciente,

seriam o limiar da consciência.

São conceitos puramente abstratos e sem importância pratica, por isso,

nos limitamos a comentá-los.

II. PSICOPATOLOGIA DA CONSCIÊNCIA

Os transtornos da consciência ocorrem, pôr:

1 - Obscurecimento da consciência

2 - Estreitamento da consciência

1 - Obscurecimento:

Esse transtorno ocasiona urna perda da claridade de nossas operações

mentais, uma espécie de adormecimento em vigília e retarda a elaboração psíquica.

Pode apresentar—se em diversos graus, desde a sonolência até o coma.

Nos deteremos no estudo de:

a - Obnubilação

b - Confusão

c - Estupor

d - Coma

a. Obnubilação: - é a incapacidade de responder

É um transtorno na qual a clareza mental não é completa, devido

habitualmente a alterações químicas ou físicas no sistema de associação do

cérebro. O limiar da consciência é alto e os estímulos sensoriais que, comumente

Page 22: Funcoes Psiquicas

22

produzem percepções claras, não são agora capazes de fazê-lo. Está alterada a

capacidade para pensar claramente, para perceber, esconder e recordar os

estímulos comuns, com a rapidez habitual. As vezes é necessário sacudir o paciente

para que compreenda uma pergunta, gritar-lhe e até repetir-lhe as coisas várias

vezes, até entender a pergunta o suficiente para poder respondê-la. O sintoma

aparece em pacientes que sofreram traumatismos cranianos ou processos

infecciosos agudos. Observa-se também em transtornos psicogênicos como na

histeria.

b - Confusão:

É uma alteração da consciência caracterizada pôr um embotamento do

sensório, dificuldades de compreensão, atordoamento, perplexidade, desorientação,

transtornos das funções associativas e pobreza ideativa. A face de um doente

confuso apresenta uma expressão ansiosa enigmática e às vezes de surpresa. A

confusão está confinada em grande parte a fase aguda de algumas doenças

mentais, especialmente as associadas a fatores tóxicos infecciosos ou traumáticos,

ainda qual, também, possa ocorrer em estados crepusculares, epilépticos ou

histéricos e certas ocasiões em condições de grande tensão emocional. É um grau

mais acentuado que a obnubilacão.

c - Estupor:

É um grau maior de obnubilação; estupor pode ocorrer tanto nas

enfermidades mentais tóxicas e orgânicas como nas psicogênicas. Observa-se

estupor em diversas enfermidades físicas e mentais, como as intoxicações,

enfermidades orgânicas do cérebro, depressão profunda, interseptação, medo

irresistível e, nas reações epilépticas e histéricas. Chamo atenção no estupor, a

imobilidade do paciente. No estupor tóxico os processos do pensamento conscientes

estão suspensos, enquanto que no estupor psicogênico há uma intensa

preocupação do pensamento, mas não existe suspensão real da consciência. Uma

passagem súbita do estupor à hiperatividade só ocorre no estupor psicogênico

d - Coma:

Page 23: Funcoes Psiquicas

23

Este, finalmente, é a abolição completa da consciência.

2 - Estreitamento da consciência:

Ao conceituarmos o campo da consciência dissemos que era a extensão

que abarca o cenário, onde a consciência atua, Em certos casos esta extensão sofre

uma redução, em suas dimensões que se denomina estreitamento da consciência.

Essa se localiza numa determinada direção, em um objetivo ficando borradas, todas

as outras representações mentais. LANGE, exemplifica esse fenômeno,

comparando-o com um boxeador ―grogue‖, que pode aparar e dar golpes - seu

objetivo - seguir as regras do pugilismo, mas incapaz de qualquer outra coisa,

inclusive retirar-se para seu canto.

Na clínica esse transtorno encontra-se nos chamados estados

crepusculares oníricos. Observam-se mais freqüentemente os estados

crepusculares, na epilepsia e na histeria; mas podem também aparecer, como

conseqüência de traumatismos emocionais intensos e de lesões orgânicas cerebrais

traumáticas.

Consistem esses estados na substituição das impressões normais,

corretas, pôr outras falsas de tal modo que a compreensão do mundo se torna

parciais e errônea. Nessas condições o paciente pode executar atos

incompreensíveis aparentemente até mesmo agressões perigosas. Varia a duração

de tais estados, de minutos a horas, de dias a até meses. Inicia-se e termina-se

subitamente, e é seguido de uma amnésia lacunar bem definida. A conduta explicita

costuma ser coerente e a orientação no tempo e no espaço conservam-se, ainda

que se faça de um modo automático. O resultado é que os pacientes podem

executar uma séria de atos, que embora tenham uma finalidade, são absolutamente

inconscientes.

Passado o episódio, o indivíduo não se recorda do que lhe aconteceu

mostra-se surpresa caso se encontre em lugar adverso da habitual, e nem sabe

explicar como chegou até ali. Iracy Doyle cita o exemplo de um indivíduo que

assumindo outra identidade, contraiu núpcias e já tinha um filho quando refez-se do

estado crepuscular para descobrir que já era casado anteriormente.

Os autores divergem quanto a esses fenômenos, dizendo uns que há,

Page 24: Funcoes Psiquicas

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simplesmente um estreitamento do campo da consciência, sem obnubilação,

enquanto afirmam outros que esta, está sempre presente.

Alguns autores incluem ainda, as perturbações da consciência delírio

confusional (delirum). Não é só a perturbação da consciência, senão um complexo

sintomático, comumente agudo, tanto no seu início como em sua evolução; essa

síndrome consiste na obnubilação da consciência, inquietação, desorientação,

pensamento incoerente, ilusões e alucinações. Apresenta-se habitualmente em

pacientes febris, e em estados tóxicos. Os sintomas pródromicos mais freqüentes

são o sono inquieto, dificuldade para compreensão e diminuição para fixação. Se a

obnubilação for intensa, ao recuperar-se, o paciente não recorda nada do ocorrido,

durante este estado, O delírio confusional pode ser seguido ou interrompido pôr

estados de estupor.

III. CONCEITO DE LUCIDEZ MENTAL

O que vimos atè agora, serve para. fixarmos o conceito psiquiátrico de

lucidez, de tal importância que ambos autores classificavam os doentes mentais em

lúcidos e não lúcidos. Cada autor tem sua maneira de defini-la, não existindo um

acordo a esse respeito. JASPERS (6) diz que e lúcido aquele indivíduo capaz de

entender e responder perguntas; outras chamam assim os capazes de atender e

perceber. A AMEGHINO (citado pôr Figueiras) (3º), define a lucidez como a

capacidade de atenção, percepção e memória; mediante o uso das quais o indivíduo

pode estabelecer contato com o mundo exterior. Para BLEURER (1), o estado de

lucidez seria simplesmente a falta de desordem na consciência, e uma boa

orientação.

ORIENTAÇÃO

I. CONCEITO E CARACTERES

Denominamos orientação a um complexo de funções psicológicas ―em

virtude das quais temos consciência, em cada momento, de nossa vida e da

Page 25: Funcoes Psiquicas

25

situação real em que nos encontramos‖, (VALEJO-NAGERA). Em outras palavras, é

o processo pela qual apreendemos o ambiente e nos situamos em relação a ele.

Depende, principalmente, da atenção, da consciência, da percepção, da memória e

do juízo.

Distinguimos, classicamente dois tipos de orientação:

1 - auto psíquica ou do mundo interno

2 - alo psíquica ou do mundo externo

1 -Autopsiquica:

Refere-se a própria pessoa e compreende:

a. consciência da situação (qual é a minha situação neste momento)

b. consciência da enfermidade (noção de que realmente é um doente

mental)

c. noção da própria personalidade

2 - Alopsquica:

Compreende por sua vez:

a. no tempo (dia, mês e ano)

b. no espaço (lugar onde se encontra)

A orientação auto e alopsiquica servem, semilogicamente, para formar um

conceito global de estado do psiquismo do paciente, pois, como já dissemos acima,

nela intervém a maior parte das funções psíquicas.

II. PSICOPATOLOGIA DA ORIENTAÇÃO

A desorientação pode apresentar-se em qualquer enfermidade mental, na

qual haja distúrbios da memória, das percepções, da consciência ou da atenção do

Page 26: Funcoes Psiquicas

26

paciente. Consequentemente, os transtornos da orientação observam-se tantos nos

processos orgânico e tóxicos como nos psicogênicos.

Quando a alteração acorre em um dos tipos de orientação, falamos em

desorientação autopsiquica, respectivarncnte. Essa ultima será ainda espacial ou

temporal, conforme o caso. Outras vezes a desorientação atinge ambos os tipos,

falamos então, em desorientação completa ou falta de orientação.

Segundo KARAEPELIN (citado pôr Iracy Doyle) (2), a desorientação pode

respeitar vários mecanismos. Quando conseqüência de distúrbio da memória, ela á

chamada desorientação amnésica, muito comum na demência senil, na síndrome de

Korsakow, e também, em algumas outras demências. Quando decorre de idéias

delirantes, fala-se em desorientação delirantes, observada freqüentemente em

parafrênicos esquizofrênicos e em certos casos demenciais delirantes.

PENSAMENTO

I- CONCEITO E CARACTERES

O Pensamento é o aspecto funcional da vida psicológica, mediante o qual

os dados elaborados do conhecimento, isto é, as idéias, impulsionados por uma

tendência determinante, selecionam-se e orientam-se ao redor de um propósito,

mais ou menos consciente (tema) seguindo as vias estabelecidas pelo processo

associativo.

Mediante o pensamento elaboramos nossas idéias, as associamos

estabelecemos a crítica que nos merecem e efetuamos as sínteses das coisas. Por

este simples enunciado podemos nos dar conta da complexidade desta função.

Estudaremos, sucessivamente, as distintas funções que integram o

pensamento, para logo nos ocupar deste, como um fenômeno totalizador

escreveremos, em primeiro lugar a ideação, em seguida associação de idéias e

depois o juízo.

a) IDEAÇÃO

Page 27: Funcoes Psiquicas

27

Denominamos idéia, toda a experiência psíquica que implica em

conhecimento desde a vivência vaga até o mais claro conceito; em outras palavras,

a concepção que forma na nossa mente de qualquer fato subjetivo ou objetivo.

A ideação é o processo pelo qual nossa mente elabora idéias. Em

psiquiatria as idéias interessam no que diz respeito a sua qualidade e quantidade.

Quantitativamente interessa saber se um indivíduo tem muitas ou poucas idéias, em

outras palavras, qual é o ―quantum‖ de seu capital ideativo. Do ponto de vista

qualitativo, a investigação dirige-se a saber, se as idéias são simples, de índole

concreta ou abstrata, de categoria superior. Nos estudos dos distúrbios do

pensamento fazemos referência ao seu conteúdo patológico.

b) ASSOCIAÇÕES DE ÍDEIAS

Ao mecanismo psíquico, através do qual conectamos uma idéia com

outra, denominamos, associação de idéias. As quatro leis que regulam o processo

associativo são conhecidas desde a antigüidade e são:

1) Lei da contiguidade espacial

2) Lei da contiguidade temporal

3) Lei da semelhança externa

4) Lei da semelhança interna

1) A lei da contiguidade espacial, postula que duas ou mais idéias se

associam porque correspondem à fatos ou estímulos recebidos no mesmo lugar.

Assim, por exemplo, se nos recordamos do céu, pensamos logo em estrelas. A

lembrança da escola acompanha-se da imagem do professor e colegas, etc.

2) Contiguidade temporal: estabelece esta lei, que duas ou mais idéias se

associam porque correspondem a fatos e ou estímulos recebidos no mesmo

momento.

3) Semelhança externa: esta finalmente diz que duas ou mais idéias se

associam porque correspondem a fatos ou estímulos recebidos, que tem para o

indivíduo o mesmo valor significativo ou intrínseco.

Page 28: Funcoes Psiquicas

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Se deixarmos que nossa mente associe livremente suas idéias,

obteremos uma exposição ideativa pouco útil para o intelecto, mas é justamente a

associação livre uma das fontes, de que se valeu FREUD para realizar o estudo do

inconsciente.

Do ponto de vista psiquiátrico, interessa observar se a associação de

idéias realiza-se num ritmo normal e se seu conteúdo efetua-se de uma forma

coerente.

c) JUIZO:

Por juízo se entende a capacidade para comparar os fatos, idéias,

compreender suas relações e tirar conclusões. Representa uma síntese mental;

integra todas as funções da personalidade, mas é particularmente influenciada pela

compreensão do paciente e pôr fatores emocionais.

É fácil compreender que o juízo é de grande importância, no que, diz

respeito aos doentes mentais, pois representa a capacidade pessoal de resolver

situações, aprovando-as ou desaprovando-as. Classicamente é o elemento de que

se valem os psiquiatras para julgar se um paciente é psicótico ou não.

Distingue-se juízo subjetivo (ou autocrítica, ou ainda introspecção)

quando dirigido ao próprio indivíduo e juízo objetivo (hetero-crítica) quando se dirige

ao mundo externo.

Em psicanálise é comum o emprego do termo: juízo de realidade, ou

exame da realidade para designar o processo mental mediante o qual somos

capazes de distinguir um estímulo interno de um estímulo externo (GARMA).

II - PSICOPATOLOGIA DO PENSAMENTO

O pensamento, como atividade psíquica, é uma. forma de expressão da

personalidade, uma manifestação que implica na existência de um estímulo e de

uma resposta, tendendo para um fim. Possue, pôr isso, uma força impulsora, de

origem instintiva e uma tendência diretriz, uma forma de progressão e um conteúdo.

De acordo com esses conceitos dividiremos os distúrbios do pensamento

em;

Page 29: Funcoes Psiquicas

29

a) – distúrbio da produção

b) – distúrbio do curso do pensamento

c) – distúrbio do conteúdo

a) Distúrbio da produção:

O pensamento do homem adulto, civilizado, é orientado por um critério

racional, de acordo com os princípios básicos de contradição e de causalidade. É

um pensamento estatístico, no qual as tendências afetivas são corrigidas pela razão

e pela lógica. Denomina-se, por isso, pensamento lógico (realista ou racional). Por

oposição, temos o pensamento mágico que é o tipo de pensamento do homem

primitivo , do selvagem de nossos dias e das crianças.

O pensamento mágico não segue os princípios racionais da lógica; é pré-

lógico, mais depende das influências afetivas, representando uma etapa menos

evoluída do funcionamento psíquico. Rege -se pôr princípios mágicos de prazer.

1 - As coisas transmitem suas propriedades ao que se encontram próximo

no espaço e no tempo assim a casa e os objetos do chefe da tribo

adquirem as propriedades do mesmo e os talismãs que entram em

contato com o feiticeiro passam a gozar de propriedades

sobrenaturais.

2 - Dois objetos que se parecem exteriormente tem propriedades

semelhantes, e, finalmente

3 - A parte tem o valor do todo.

O pensamento mágico emprega os mitos e nas lendas da humanidade. É

a forma. de pensar a que regride o homem normal no sono ,e o doente na psicose. É

também chamado por BLEURER (1), autismo ou dereistico. Em doentes mentais,

particularmente nos esquizofrênicos, encontramos esta forma de pensamento.

b) Distúrbios no curso do pensamento

Page 30: Funcoes Psiquicas

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O ritmo e a forma da atividade associativa, não pode ser conhecido, por

suposto, sem o discurso do paciente. É fácil observar-se que, quando se expressam

os pensamentos por meio da linguagem existe um constante encadeamento, de uma

das idéias com a que a procede, isto é, o pensamento é conhecido, habitualmente

com a denominação de curso do pensamento, ou curso da conversação.

Normalmente a ordenação coerente e lógica das idéias e afins, e passa-se

ininterruptamente e sem desvios, da idéia inicial a afim. Quando isso não ocorrer,

teremos um dos seguintes distúrbios:

1) Fuga de idéias:

Em algumas enfermidades mentais existe uma perturbação do curso do

pensamento, caracterizada por um aumento da atividade associativa, e por um

desvio rápido de uma idéia à outra; as idéias então, seguem uma sucessão rápida,

mas não progridem para uma idéia final, de modo que esta nunca é alcançada. A

isso denomina-se fuga de idéias, quase sempre encontra-se associada a uma

hiperprosexia que faz com que o paciente seja incapaz de manter a atenção

necessária para guiá-lo a uma idéia final. O observador pode descobrir, geralmente,

uma conexão entre alguma idéia ou algum estímulo fugaz, uma percepção ocasional

do ambiente, recolhida no momento, ou também pode estar condicionada nas

lembranças que não vem ao caso. Um exemplo esclarecerá melhor:

Exemplo I - ―Boa tarde .Sim, boa tarde ,se a vida é tão doce como o mel

.Também lhe agrada o açucar-fábrica de açucar-a-cana e a corda não queres te

enforcar? Assassino - pai de assassino – pescoço - colarinho de camisa branca

como a neve e a inocência - Ah, ingênua inocência, como uma jovenzinha, etc.‖

Exemplo II - ‖ A um doente se perguntou como estava passando: estou

como sou - em que regimento servi? O senhor comandante está em casa— em

minha casa, em minha sala— o senhor viu o doutor sala? o senhor Koch, o senhor

conhece Virchow? o senhor está com a peste de cólera? Ah, que relógio mais

bonito. Que horas são?‖

As vezes a associação se estabelece com uma palavra de som

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31

semelhante, mas sem ter o significado relacionado a este fenômeno. Este fenômeno

se denomina associação por assonência. Vejamos um exemplo:

Exemplo III - Se perguntou a um paciente se estava triste, e este

respondeu: Sim se tem que estar calado para se estar triste. Tudo que tem que ver

com ―S‖ é silencioso: sentar-se, soluçar, suspirar, pesar, acabar-se, valor, doce

amor-de-mãe, salvação.

(Esse exemplo foi extraído de NOYES, e em inglês a letra inicial de triste,

―sad‖, á a mesma que a de todos os outros termos traduzidos: sit, sob, sigh, sorrow,

surcease, sought, sweet mother’s love,salvation.)

A fuga de idéias é típica nos estados maníacos e é considerada um dos

sintomas fundamentais do síndrome maníaco.

2) Inibição do pensamento:

Como acabamos de ver, na fuga de idéias o curso do pensamento é

anormalmente rápido. Na inibição ocorre o contrário. É uma alteração na qual, tanto

o início quanto o curso do pensamento são muito lentos. Encontra-se então um

doente falando devagar e habitualmente em voz baixa. Algumas vezes o doente

queixa-se que seus pensamentos vem muito lentamente ou que tem dificuldades

para pensar. A inibição se observa mais freqüentemente em síndromes depressivos,

mas pode ocorrer também na esquizofrenia.

3) Perseveração:

Esse sintoma consiste na repetição automática e freqüente de idéias que

são introduzidas como um material de recheio, para preencher as falhas na

evocação de novos elementos. Alguns autores chamam a perseveração verbal de

uma ou duas palavras de embolia.

A perseveração pode ocorrer nos estudos de inibição do pensamento, e

nos débeis mentais. Normalmente ocorre entre nós: o ―naturalmente‖, o ―aliás‖, o

―não é‖, que exercem a função de reduzir a insegurança do orador.

Page 32: Funcoes Psiquicas

32

4) Prolixidade:

É o termo usado para designar a minuciosidade excessiva do

pensamento ao contrário da fuga de idéias, o pensamento prolixo pouco muda de

tema, exibindo uma espécie de aderência viscosa aos assuntos. Neste distúrbio o

enfermo alcança, finalmente, seu objetivo ideatório, mas só depois de múltiplos

detalhes triviais ou desnecessários, que o fazem em divagações tediosas. A

prolixidade apresenta-se, principalmente, em pessoas que não formam conceitos

definidos ou que são incapazes de distinguir o essencial do secundário. É

freqüentemente observada nos débeis mentais, epilépticos e em casos pouco

avançados de psicose senil. Um exemplo esclarecerá melhor:

―Hoje faz oito dias que me encontro aqui, e digo a vocês que não se pode

encontrar palavras de alcance suficiente para dizer, sem exagerar, quanto fizeram

por mim, especialmente no curto tempo que aqui me encontro. Porque quando vim,

me encontrava de um modo tal, que parecia impossível em tão curto tempo melhorar

deste jeito. É possível que isto tenha contribuído, de grande maneira, minha colossal

força de vontade e também seus excelentes métodos de cura. Mas de toda maneira

sua conduta para comigo é tão digna de apreço que não se pode encontrar palavras

para alcança-la, e pôr isso eu desejo dar-lhes os mais expressivos agradecimentos,

assim como ao Dr. R., que tanto influiu para que eu viesse aqui. Pelo que faz

referencia a minha pessoa, penso alcançar colossalmente os resultados que se

obtém neste sanatório, cuja obra é digna de todos os elogios, ainda que a vocês

acabe prejudicial financeiramente. Por isto vocês merecem por seus esforços não só

um reconhecimento financeiro, como também o agradecimento e a moral mais

manifesta e lhes posso assegurar que hei de fazer o possível para dar a conhecer

sua excelente obra nos jornais locais‖.

5) Desagregação do pensamento:

Esse sintoma foi estudado, principalmente por BLEURER(l), e

apresentado como um dos sintomas básicos da esquizofrenia. ―As associações

Page 33: Funcoes Psiquicas

33

perdem suas conexões normais e, dos milhares de fios que conduzem nosso

pensamento, a doença rompe de um modo irregular, aqui e ali outro e mais além,

um grande número deles.‖ Muitas vezes: duas idéias que casualmente se juntam

são fundidas em uma só, e fragmentos de idéias se confundem também,

incorretamente, para formar outra que torna-se absurda‖. (1)

Interpretando este conceito de BLEURER, que o pensamento

desagregado mostra-se despedaçado e desorganizado, vemos que, nele somente

estão distribuídas as ligações associativas normais, como a estrutura das próprias

idéias. Assim, no pensamento desagregado perde-se toda a coerência, não só no

seu conjunto, como em seus termos ou idéias. BLEURER dá tão grande importância

a esse sintoma que diz que sempre que tivermos uma desagregação coexistindo ao

lado de uma boa orientação, no meio ambiente, estamos capacitados a fazer o

diagnóstico de esquizofrenia. Veja-nos alguns exemplos:

Exemplo I - ―Por obrigação de todo cidadão - reconhecia a profissão de

torneiro - vencendo o mês presente - pendentes das enfermidades da membrana - e

como toda a desordem procede da luxuria e o maltrato é incessante por não se ater

aos preceitos da higiene - aqui ao dizer - que não se muda de conduta — e que

ninguém responde por nós.

Exemplo II – ―Um concurso de óperas e, portanto dos idiomas sem

tradução difícil como sua música, fazendo esta a letra e a letra esta, senão os que

se acreditavam capazes para construir uma grande vitória, alguns, sobretudo os que

não tiveram arte nem honra, tal haviam fundido fazendo e compondo em cada país

e...etc.‖(8)

Diferencia-se da fuga de idéias, pois o examinador é capaz de perder a

mudança do rumo do pensamento e, apesar de ter sido relegado a plano secundário

a diretriz, se conservam as conexões normais, entre partes do discurso, enquanto

que, na desagregação, diz BLEURER, ―parece que as idéias foram jogadas em um

recipiente, intimamente misturadas logo, por ação da casualidade foram saindo,

novamente sem relação alguma.

6) Interceptação

Page 34: Funcoes Psiquicas

34

Neste transtorno, que às vezes se denomina bloqueio ou perda de

pensamento, tanto a expressão, como o curso de pensamento cessam

bruscamente. Algumas vezes a. interrupção é só momentânea e passados alguns

segundos se completa o pensamento, mas algumas vezes é definitiva e começa

outro pensamento, completamente diferente. O bloqueio do pensamento é uma

condição determinante de sua desagregação, mas pode observar-se, isoladamente,

principalmente nas fases iniciais do processo esquizofrênico. A interceptação pode

ser devida a um pensamento definido, ou melhor, ao afeto desagradável a que está

ligado, mas rapidamente se generaliza de tal maneira, que nenhum pensamento

pode ser iniciado. Este distúrbio é característico da esquizofrenia.

C) Distúrbio no conteúdo do pensamento:

1) Inclinações e idéias super valorizadas:

A evolução associativa das idéias e naturalmente, o conteúdo do

pensamento mostra urna tendência a ser determinada, mais por fatores afetivos, do

que por fatores lógicos; as idéias que tem carga afetiva mais forte tendem a

dominar. É a isto que se deve que o conteúdo do pensamento possa mostrar uma

inclinação, ou seja, uma propensão para se centralizar ao redor de um tópico

especial. Quando uma idéia chega a ter uma tonalidade afetiva muito intensa, ligada

a ela, denomina-se idéias super valorizadas. A importância, o valor e o significado

atribuídos a uma idéia, são diretamente proporcionais a necessidade interna de tal

crença. Quando existe uma idéia super valorizada o indivíduo torna-se cego para

todo o resto e selecionará, unicamente, aquelas lembranças e observações que

convenham ao seu propósito de confirmá-la; toda a personalidade é absorvida pela

idéia, e posta a sua disposição, resultando disso que a idéia super valorizada venha,

a ser um determinante de grande importância na conduta.

2) Delírios:

Denomina-se delírio a uma idéia, ou conjunto de idéias erradas, aceitas

Page 35: Funcoes Psiquicas

35

pelo juízo de realidade. Em geral o delírio se caracteriza:

a) Pela falta de consciência do Transtorno.

b) Irredutibilidade

c) Pela tendência à difusão

Classificação dos delírios

Dinamicamente, os delírios são a expressão deformada ou não de um

impulso inconsciente. De acordo com sua estrutura, poderemos distinguir delírios

não sistematizados, caracterizados pela ausência de uma interpretação total dos

conteúdos delirantes, de tal modo, que o todo se apresenta como deformado de

pequenos fragmentos, sem associação muito precisa, e delírios sistematizados em

que existe interpretação total, a tal ponto que em muitos casos, todos os novos

dados do conhecimento são elaborados pelo prisma delirante.

Em relação à sua evolução, é clássico distinguir os delírios em agudos e

crônicos. Quando os delírios evoluem por fases, aparecendo e desaparecendo,

falamos em delírios intermitentes. Estáveis, são os que se mantêm sem alterações

durante longos períodos e, as vezes, durante toda a evolução da doença. Quanto a

forma descreveremos as seguintes variedades:

1- Delírio de grandeza

2- Delírio de auto-acusação

3- Delírio persecutório

4- Idéias de referência.

5- Delírio de infIuência

6- Delírio hipocondríaco

7- Delírio niilista ou de negação

8- Delírio melancólico

9- Delírio místico

10- Delírio reformador

11- Delírio de invenção

12- Delírio de ciúmes

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13- Delírio de descendência

1 - Delírio de grandeza:

Caracteriza-se pelo aumento subjetivo de todos os valores relativos à

personalidade: o doente acredita-se poderoso, rico, belo, forte, amado, etc.

característico dos estados maniacos e da paranóia. Dinâmicamente podem ser

entendidos como uma reação aos sentimentos de onipotência

2 - Delírio de auto-acusação

Conforme o próprio nome indica, nesse tipo de atividade delirante o

enfermo se arvora em juiz inflexível, severo de suas próprias ações, e pensamentos

passados e presentes. Os atos mais insignificantes e aparentemente inocentes são

considerados pelo próprio autor, como reveladores de grande maldade. Além disso,

memórias falsas procuram convencer o indivíduo de que ele é responsável pôr

crimes, que na realidade não foram cometidos. Muitas vezes o doente se apresenta

à polícia pede que seja encarcerado, como um criminoso da mais baixa raIé.

3 - Delírios melancólicos depressivos:

Arquiteta-se sobre um fundo de tristeza e pessimismo. O tema delirante

relaciona-se vida presente e futura que aparece com as cores mais escuras

possíveis. O paciente e a família estão ou ficarão completamente arruinados; estão

condenados e a morte apresenta-se como a melhor solução para todo o sofrimento.

Tal forma de perturbação do pensamento, ocupa lugar intermediário, no ponto de

vista descritivo, entre os delírios de perseguição, no qual a infelicidade é sempre

proporcionada por terceiros, e o delírio de auto-acusação, em que o indivíduo torna-

se infeliz por suas próprias faltas; no delírio melancólico não se trata de inimigos,

nem de expiação; o paciente é pura e simplesmente vítima da fatalidade ou do

destino. Se quizermos apurar, superficialmente a razão de tantos infortúnios, não

conseguiremos mais que evasivas; ―as coisas estão se passando como tem de se

passar dentro do seu curso natural‖.

4 - Delírios persecutórios:

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Constitui o mais frequente dos delírios da nossa cultura e se apresenta,

especialmente, nas enfermidades mentais crônicas. Na formação dos delírios de

perseguição o mecanismo utilizado é a da projeção. As idéias agressivas e hostís

oue o doente atribui a outro, refletem seus próprios desejos.

5 – Idéias de referência:

Por meio delas, algumas ações ou observações de outras pessoas, que

não se referem ao observador, são, entretanto, por ele interpretadas, como muito

significativarnente relacionadas consigo, sendo seguidamente interpretadas como

acusação ou desprezo. São frequentemente encontrados nos estados paranóides e

depressivos.

6 - Delírio de influência:

Não raramente aparece associado a idéia de perseguição. Nesta forma

delirante o indivíduo sente a modificação do EGO, mas a atribui à influência de

forças naturais ou sobrenaturais, situadas fora dele; tais forças exteriores impõem-

lhe pensamentos, orientam suas ações, modificam o estado de suas visceras e

podem chegar até a alterar-lhe a aparência física. O que caracteriza essa forma

delirante do ponto de vista semiótico, é que ela exige para seu aparecimento, a

desagregação do pensamento e o predominio do pensamento lógico. A entidade

nosológica em que os delírios de influência campeiam com mais frequência e

intensidade é a esquizofrenia, principalmente na forma paranóide.

7 - Delírio místico:

Embora se caracterize na superfície por idéias de natureza religiosa, que

podem ser tão intensas que levem ao estado de êxtase, esse delírio, não raro,

encobre a preocupação de natureza erótica, acompanhando-se de pseudo-

percepções cenestésicas e táteis,cujo caráter sexual é evidente. IRACY DOYLE cita

um exemplo de um paciente que protegia as partes genitais com imagens de santos,

explicando que, assim procurava defender-se do impulso da masturbação; no

decorrer do tratamento explicou que o crucifíxo que tinha entre os membros

inferiores não bastava para apaziguar seus impulsos eróticos, pois, experimentava

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excitação erótica quando o comprimia entre as coxas.

A situação nosológica do delírio mistico é muito variada; podemos nos

estados crepusculares epilépticos, nas psicoses tóxicas, na esquizofrenia e em

certos psicopatas.

8 - Delírio Hipocondríaco:

Caracteriza-se pela presença de crenças e preocupações injustificadas e

irredutíveis, em relação ao estado de saúde corporal. Os pacientes vitimas deste

delírio declaram a sua convicção de que estão afetados de graves doenças; os

sintomas subjetivos que acusam são quase sempre expressão de alterações

cenestésicas ou interpretação mórbida de sensações normais.

9 - Delírio niilista ou de negação

Em casos graves de delírios hipocondríacos, como na depressão

melancólica bem acentuada, o paciente pode chegar a negar a própria existência

física, ou a realidade de um de seus órgãos. Um portador de delirio de negação

afirma, pôr exemplo, que está morto; outro diz que não tem coração, nem cérebro,

nem estômago; há os que afirmam que seu corpo há muito se decompôs. etc.

As vezes a prórpria conduta do paciente se harmoniza com as

preocupações delirantes; porque nega a existência dos olhos, um afirma que não

pode ver, outro nega a audição não ouvindo ordens .Em casos graves os doentes

fogem das correntes de ar e pedem encarecidamente que ninguém lhes toque, com,

medo de que seu corpo se desfaça com simples contato.

10 - Delírio da invenção:

Na base de princípios, maís ou menos corretos, extraidos de livros

científicos, ou do próprio conhecimento pessoaI, o inventor delirante chega à

obtencão de resultados falsos, que são refugados por todo o mundo que conheça o

assunto, com a indignação de seu criador. Na maioria dos casos trata-se de inventos

com escasssa finalidade prática cuja importância teórica é acentuada por seu autor.

Diante do pouco caso que dão à sua invenção, rápidamente se junta ao quadro, um

delirio de perseguição.

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Parece que dinâmicamente, a invenção simbolizaria a masturbação.

11 - Delirio de descendência

O paciente crê-se filho de algum personagem ilustre, ao mesmo tempo

que nega seus verdadeiros pais.

12 - Delírio reformador:

Conforme o nome indica, integram esse delirio, preocupações relativas à

modificações da realidade ambiental.

Naturalmente que o delirante reformador não se limita a fantasiar planos

idealistas e colocá-los no papel, mas trata-se de propagar as suas idéias por todos

os meios ao seu alcance.

As idéias delirantes do verdadeiro reformador idealista são mais ou

menos sistematizadas, e apresentam-se mescladas com ídéias filosóficas ou

religiosas.

O limite de separação entre esses enfermos e os reformadores sociais é

muito tênue. Apresenta-se, frequentemente em pacientes paranóicos.

13 - Delírio de ciúme:

É a convicção inabalável de traição por parte da pessoa amada, embora

não haja qualquer base real, no passado ou presente.

Embora não seja privilégio de uma entidade nosológica definida, o delirio

de ciúme é muito observado nos alcoolistas crônicos, nas personalidades psicóticas,

e no transcurso de vários estados psicóticos, de tonalidade depressiva ou paranóide.

3) Obsessões:

Assim se denominam os pensamentos que por si só irrompem na

consciência contra o desejo consciente do doente, que não compreende seu

significado e se esforça em rechaça-los, sem conseguir. São três as características

principais da obsessão: não são desejada, não são compreendidas e não podem ser

rechaçadas, apesar de que o indlvíduo não compreende sua razão de ser.

Apresentam-se com uma intensidade variada. Estes pensamentos em si de escassa

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tonalidade afetiva, despertam no paciente reações emocionais intensas que lhe são

extremamente desagradáveis. Os pensamentos obsessivos estão estreitamente

relacionados com atos compulsivos os quais depois de uma penosa resistência, o

paciente vê-se obrigado a cometer atos que por sua elaboração e repetição parecem

quase um ritual.

Estes pensamentos obsessivos, tomam frequentemente o aspecto de

repetidas dúvidas, de ter feito bem ou mal uma atividade qualquer. Frequentemente

também, são as obsessões de contraste que, por exemplo ocorrem num individuo

reIigioso quando em meio a uma oração lhe irrompem pensamentos obscenos.

Exemplo I – Um jovem portador de uma grave neurose obsessiva, sentia-

se compelido subitamente a parar um momento enquanto caminhava, e desenvolvia

a seguinte cadeia obsessiva de idéias: ―moverei primeíro meu pé esquerdo?—sim

pisarei primeíro com meu pé esquerdo. Mas posso pisar prirneiro com meu pé

direito, de maneira que pisarei primeiro com meu pé direito.‖

Estes pensamentos são derivados de impulsos reprimidos e realizam o

conteúdo deles, a defesa ou ambos sucessiva ou simultaneamente. No conteúdo,

avultam os conflitos masturbatórios, anais e edípicos.

4) Fobias:

As fobias, ou temores são semelhantes aos pensamentos obsessivos.

Como no pensamento obsessivo, as fobias irrompem persistentemente na

consciência, e como a ansiedade é acompanhante obrigatória da fobia a pessoa

possuidora está constantemente angustiada apesar de reconhecer os absurdos de

seus temores.

A fobia é uma defesa que se faz mediante a projeção do conflito, sobre

um conteúdo ideológico comumente neutro. Ao entrar o paciente em contato com as

situações fóbicas as crises tendem a ser desencadeadas. A relação fobia-conflito,

por vezes, é fácilmente compreensível, outras porém são mais dissimuladas. De um

modo geral, ―o temido é inconscientemente desejado‖.

A eleição do objeto fóbico é determinada pela história individual. As

fobias mais comuns são: medo de determinados alimentos, de andar, de viajar,

medo de espaços abertos, de multidões, de espaços fechados (claustrofobia), medo

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de animais (zoofobia), medo de enrudescer (eritrofobia), medo de sujeira

(misofobia), medo de morte (tanafobia), medo de doenças (nosofobia), etc..

5) Incoerência do pensamento:

Incluida por alguns autores como transtorno do curso do pensamento, e

por outros como de conteúdo. A nós parece mais razoável a segunda hipótese, já

que a incoerência é a conseqüência de distúrbios do curso do pensamento, tais

como fuga de idéias muito intensas, de desagregação, de interceptações freqüentes.

Por causa desses distúrbios do curso, o conteúdo do pensamento pode tornar-se

incoerente.

LINGUAGEM

I - CONCEITO E CARACTERES

Linguagem é o conjunto de sinais convencionais que utiliza o homem para

expressar seus pensamentos e sentimentos. Em outras palavras é o modo de

expressar-se.

Considerada pela maioria dos autores, em aspectos motores da conduta,

é considerada por outros isoladamente .

Constituindo a linguagem a forma de expressar os pensamentos e os

sentimentos deduz-se que quando se acham perturbados estes transtornos se

traduzem também na linguagem. Daí a importância de seu estudo.

Tomando a linguagem como meio de expressão ela podem ser:

1 – oral.

2 – escrita.

3 – mímica.

Examinaremos a seguir a psicopatologia de cada uma destas formas.

II) PSICOPATOLOGIA DA LINGUAGEM ORAL:

Encontramos duas grandes perturbações da linguagem oral:

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1 ) Perturbações causadas nos processos afetivos com integridade dos

elementos encarregados da articulação da linguagem (DISLOGIA)

2 ) Modificações na emissão da linguagem oral.

1- Perturbações da linguagem oral, por perturbações afetivas (dislogias)

Incluem-se sob este título todos os casos nos quais a expressão verbal

apresenta-se perturbada por causas afetivas, sem que haja comprometimento dos

elementos encarregados da articulação da linguagem:

a) Verborréia ou Taquilalia

Aceleração da velocidade de expressão por aceleração associativa.

Característica dos estados de excitação. Alguns autores distinguem a logorréia que

se distinguiria da verborréia por:

1- constituir sintomas conscientes e molestos para o paciente.

2- e o conteúdo verbal é mais elementar e perseverante de que na

verborrréia.

b) Jargonofasia

As vezes a verborréia adota a forma, na qual a linguagem realiza-se pela

justaposição arbitrária e incompreensível de elementos verbais, sem a menor

relação de significado. ―É a clássica salada de palavras‖.

c) Verbigeração

As vezes a verborréia adota esta forma, monólogo repetido

monótonamente uma infinidade de vezes, e constituidas por pedaços de frases, ou

de inflexões verbais sem sentido.

Tanto a jargonofasia como a verbigeração encontram-se de preferência

nos estados avançados da esquizofrenia.

d) Bradilalia

Diminuição da velocidade de expressão por lentidão associativa. Aparece

nos melancólicos, nos confusos mentais, etc..

Page 43: Funcoes Psiquicas

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e) Mutismo

Consiste na inibição voluntária ou semi-voluntária da palavra falada e

deve ser distinguido da afasia, na qual o paciente não fala porque não pode falar e o

no mutismo, seria capaz de falar se a isso se resolvesse. Naturalmente a atitude de

silêncio sistemático obedece a vários mecanismos e motivações diversas, o mutismo

pode ser consequência de desinteresse, como acontece em certos casos de

esquizofrenia. Há o mutismo dos melancôlicos, que tanto não falam como não agem

porque estão certos da inutilidade de qualquer esforço; É o mutismo pessimista. O

mutismo pode ainda indicar uma forma disfarçada de agressão, etc..

f) Neologismos:

A criação de palavras por condensação de outras, a deformação de

vocábulos ou o emprego de novas palavras conhecidas em uma nova relação de

significados chama-se neologismos. Distinguem-se os neologismos em ativos e

passivos. Neologismos passivos são palavras consagradas pelo uso as quais o

paciente imprime sentidos completamente novo; neologismo ativo consiste na

criação de palavras. Este sintoma encontra-se com mais pureza e mais

freqüentemente na esquizofrenia.

g) Paralogia:

Definida como o emprego de respostas verbais sistematicamente

inadequadas as perguntas, mas ligadas a ela por uma certa relação o sentido, por

exemplo perguntou-se a um doente onde ele nasceu e ele respondeu: - quando eu

nasci estava chovendo, este sintoma é também chamado pararesposta ou ―reposta

ao lado‖.

h) Ecolalia:

Repetição como se fosse um eco, da última palavra do interlocutor.

i) Estereotipia Verbal:

Forma parte dos grupos das estereotipias (de atitudes de movimento,

etc.) e consiste na repetição automática de uma palavra, sílaba ou som.

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2 - MODIFICAÇÃO DA LINGUAGEM ORAL:

Compreende um. vasto grupo de perturbações que podem ser

classificadas em:

A) Disartrias:

Chama-se disartria a um verdadeiro tropeço ou ―engrolar‖ silábico que

impede o correto pronunciamento das palavras. Distinguem-se dois tipos de

Disartria: um caracterizado por tremor da palavra e o outro por ataxia. As vezes, a

disartria é tão acentuada que se deixa perceber na simples palestra que mantemos

com o paciente, outras vezes, há necessidade de aplicação de teste usando

palavras que evidenciam o sintoma; especialmente úteis são os vocábulos que

encerram consoantes labiais e palatais, como por exemplo, paralelepipedo, clinica

neurológica, etc.. A Disartria é sintoma freqüente na paralisia geral e é sempre um

transtorno da articulação da palavra.

B) Dislalias:

Dá-se esse nome a um defeito orgânico ou funcional da fala, na

dependência de má formação ou inervação imperfeita da lingua, abóbada palatina e

demais órgãos da fonação. Observa-se mais comumente, na infância e nas

personalidades imaturas; o rotacismo, o lambdacismo e o sigmatismo (dificuldade de

pronunciar o ―r‖, o ―l‖ ou o ―s‖, respectivamente)

C) Anartria :

É a perda da capacidade articulatória.

D) Disfemias:

São desordens na emissão da palavra não de causa orgânica. Estão

incluídas nesse grupo a tartamudez, balbuciar,etc..

E) Disfonias:

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Defeitos da voz por perturbações do aparelho de fonação. Por exemplo:

afonia, rinofonia,etc.

F) Disfasias:

Debilitação ou perda da formação das associações verbais por diminuição

da capacidade mental, devido a enfermidades, choques ou traumas. Este grupo

compreende os diversos tipos de afasia, isto é, a perda da capacidade de

comunicação pela palavra falada ou escrita.

II - PSICOPATOLOGIA DA LINGUAGEM MÍMICA:

Somente faremos menção a aquelas perturbações da mímica úteis sobre

o ponto de vista diagnóstico. Em termos gerais pode-se dizer que o estado mental

do indivíduo tem seu correspondente na expressão mímica. A excitação psíquica,

traduzir-se-a po uma expressão mímica, muito exuberante: a depressão se

manifestará po uma mímica pobre, que reflete tristeza, no mesmo modo nos

processos demenciais, a mímica refletirá indiferença.

Podemos pois classificar as perturbações mímicas em:

a- hipermímica

b- hipomímica

c- amímica

d- paramímica

a) Hipermímica:

Aumento dos movimentos de expressão facial patognomônicos dos

estados da excitação mental.

b) Hipomímica:

Diminuição da expressão facial. Os autores consideram dentro deste

grupo as faces ―apagadas‖. Que apresentam os paralíticos gerais com um

desaparecimento da rugas faciais e diminuição do tônus muscular.

c) Amímica:

Neste transtorno há um imobilidade facial absoluta. É comum ser

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encontrada nos estados de estupor confusional, catatônico e melancôlico.

d) Paramimica:

A mímica nesse caso reflete um estado que na realidade não traduz, o

estado afetivo do indivíduo. É como se houvesse uma ―impropriedade

mímica‖.

III - PSICOPATOLOGIA DA LINGUAGEM ESCRITA

Deixaremos de lados estes distúrbios já que, na maneira em que é

abordado pela maioria dos autores escapa da finalidade deste ponto.

INTELIGÊNCIA

I- CONCEITO E CARACTERES:

Não é uma função e sim uma resultante da atividade de diversas funções.

Tem sido definida como: ―A capacidade de aproveitar experiências anteriores para

adaptação em novos problemas e situações.‖ Em outras palavras uma possibilidade

de utilizar o material de nossas percepções e representações anteriores em novas

combinações.

A inteligência como pensamento, repousa em essência nos processos de

associação, a capacidade intelectual de uma pessoa depende, por isso, em primeiro

lugar, do número de suas associações possíveis. Na criança, a inteligência se

desenvolve a medida que aumentam suas experiências e com isso as

responsabilidades associativas. Nos deficientes mentais (oligofrênicos), há causas

cerebrais que prejudicam a formação dos enlaces associativos ocasionando

assimilação insuficiênte do material da experiência e a consequente formação de

idéias ou conceitos poucos numerosos e incompletos. Compreende-se também,

dada a influencia dos fatores afetivos nos mecanismos de associação, que tais

fatores desempenham um grande papel na expressão da capacidade intelectual,

inibindo seu desenvolvimento ou impedindo sua manifestação (pseudo-oligofrênia e

pseudo-demência). Por outro lado, a pobreza intelectual do ambiente em que se

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desenvolve o indivíduo (analfabetismo, falta de estímulo intelectual, restrição de

interesses, etc..) pode contribuir para retardar o desenvolvimento intelectual

(debilidade mental socialmente condicionada).

No trabalho da inteligência, podemos distinguir três aspectos ou fases do

processo intelectual: compreensão, imaginação e critica.

Atendendo a estas várias fases integradoras da inteligência os autores

(MIRA, stc.) classificam diversas variedades de inteligência. Ao psiquiatra interessa

principalmente, a variação do rendimento intelectual global, sem qualquer

preocupação de tipo ou qualidade de inteligência. O estudo da qualidade da

inteligência interessa mais aos psicólogos.

II - PSICOPATOLOGIA DA INTELIGÊNCIA

Podemos dividir os estados deficitários da inteligência em dois grupos:

primeiro engloba as deficiências mentais por atraso ou insuficiência da evolução

intelectual , que chamamos de oligofrenia; o segundo, depende de uma parada ou

regressão intelectual que denominamos demência.

1) Oligofrenias

Compreende três graus:

A - Idiotia

b - Imbecilidade

c - Debilidade Mental

a) Idiotia – Idade mental inferior a três anos, QI abaixo de 25, são

capazes de se resguardar perigos físicos comuns, não aprendem a falar, a vestir-se,

banhar-se, etc.

b) Imbecibilidade - Os imbecís apresentam idade mental de três a sete

anos, QI entre 25 e 49, são capazes de aprender a falar realizar trabalhos simples,

mas incapazes de se dirigir a si próprios ou nos seus negócios. Este grupo costuma

ser dividido entre leves e profundos. O primeiro com idade mental entre três e cinco

e o segundo de cinco e sete.

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c) Debilidade mental - Os débeis mentais apresentam uma idade mental

entre sete e dez anos, um QI entre 50 e 70, são incapazes de planejamento útil e

sagaz e de atuação prudente em seus negócios, necessitando geralmente cuidado

e supervisão para a sua proteção e dos demais.

2) - Demência:

Neste grupo se inclui as reduções da eficiência intelectual devido a um

empobrecimento global progressivo e persistente. É pois, um processo regressivo.

Exemplos: demência da paralisia geral, demência pôr arteriosclerose cerebral, etc..

AÇÃO ( CONDUTA)

I - CONCEITO E CARACTERES:

Os transtornos que estudaremos sob este subtítulo, são os que

antigamente se descreviam como transtornos da vontade, hipotética faculdade da

qual se supunha depender o ato de querer. A maioria dos autores aborda este

aspecto da personalidade de forma diversa. Uns costumam estudar esta função

denominado-a conduta e se subdividem em conduta explícita e conduta implícita,

sem deixar bem claro o que se entende por uma ou por outra; outros autores (9) sob

o título de transtornos dos aspectos motores da conduta a chamam de conação. Se

bem que nenhuma nos pareça completa, preferimos a última já que nos parece mais

compreensível.

Todo impulso tende a uma expressão, a uma manifestação de conduta, e

tem na sua origem uma força, um impulso instintivo que tende a satisfazer-se e é

mais ou menos modificado no seu trânsito para a ação. Esta tendência para a ação

é o aspecto conativo da personalidade. Segundo esse conceito a conação não é

uma função ou faculdade, mas essa tendência ―psico-motora‖ da atividade psíquica.

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II - PSICOPATOLOGIA DA CONAÇÃO

Sob este subtítulo veremos os distúrbios que se encontram na esfera da

ação da personalidade. São eles:

1 - Aumento da atividade.

2- Diminuição da atividade.

3- Catalepsia.

4- Flexibilidade cerea.

5- Maneirismos.

6- Estereotipias.

7- Atos Compulsivos.

8- Negativismo.

9- Obediência Automática.

10- Ecopraxia.

11- Ecolalia.

12- Ambivalência.

1 - Aumento da atividade: Também denominada hiperatividade é

observada típicamente na mania. Tal atividade tem um propósito que nunca é

alcançado, pois o objeto de trabalho é constantemente mudado; a pessoa está muito

ocupada, mas suas atividades não são produtivas, empreende uma nova atividade

antes de ter completado a primeira.

2 - Diminuição da atividade: Neste transtorno existe típicamente um

alongamento do tempo necessário para iniciar uma atividade e uma vez iniciada se

executa lentamente, como se fosse um esforço penoso. Este distúrbio é também

chamado de hipoatividade e é característico nos depressivos.

3 – Catalepsia: assim se denomina uma constante imobilidade numa

posição qualquer, uma forma cataléptica de imobilidade se observa na esquizofrenia

é a (4) flexibilidade cerea que recebe este nome pelo fato de que as articulações dos

pacientes podem ser refletidas ou estendidas oferecendo uma resistência

semelhante a da cera, e este pode permanecer em uma posição incomoda que será

mantida por um tempo muito maior do que seria capaz de suportar uma pessoa

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normal.

5 - Estereotipias: Assim se denomina a uma constante repetição de

certas atividades e podem ser na atitude, de movimento ou do discurso. Os

movimentos estereotipados são chamados maneirismos e são comuns na

esquizofrenia, podem tomar a forma de gestos, peculiaridades na marcha, etc. As

estereotipias tem um significado psicológico bem definido, ainda que o simbolismo

em cada caso seja peculiar ao indivíduo.

6 - Obediência automática: Assim se denomina o automatismo ás

ordens, ou seja, as sugestões ou ordens exteriores são compulsivas e

automaticamente obedecidas; a obediência automática pode tomar a forma de

ecolalia ou de ecopraxia, ou seja, uma repetição das palavras do interlocutor ou uma

imitação dos movimentos observados em outras pessoas.

7 - Negativismo: Caracteriza-se pela resistência do paciente em executar

o que se pede a ele, ou ainda, fazer exatamente o contrário do pedido.

8 - Compulsões: Ao impulso irresistivel para executar certo ato,

denomina-se compulsão. O ato pode ser de natureza simples, como tocar duas

vezes cada coisa, caminhar só pelo cordão da calçada, etc. Ou complexo e então

constituir um ritual. As compulsões tem todas as características que vimos das

obsessões e deve ser considerada como um resultado daquela. Assim sendo tudo

que foi dito sobre as obsessões é válido aqui também.

9 – Ambivalência: A esfera da ação, do mesmo modo que a esfera

afetiva da personalidade, pode caracterizar-se por impulsos antagônicos, que se

fazem conscientes simultaneamente; desejar ao mesmo tempo duas coisas

incompatíveis; amar e odiar simultaneamente.

AFETIVIDADE:

I - CONCEITO E CARACTERES:

No domínio da afetividade estão compreendidos os impulsos instintivos,

agressivos e libidinosos, os afetos, as emoções e os diversos tons sentimentais de

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prazer e desprazer. Os componentes afetivos são eminentemente dinâmicos e

participam ativamente de toda a vida mental determinando nossa atitude geral de

aceitação ou rejeição em face de uma experiência, favorecendo certas tendências

ou inibindo as ináceitáveis, interferindo com os processos associativos, com a

clareza da consciência, com o conteúdo do pensamento, isto é, em toda atividade do

homem.

O papel da afetividade na psicopatologia foi assim resumido por

BLEURER ―...da mesma forma que as anormaliddes que chamamos psicopatias,

não são mais que perturbações dos afetos, as influencias afetivas tem um papel tão

importante na psicopatologia geral que praticamente todo o resto é meramente

acidental.‖

A literatura psiquiátrica ressalta cada vez mais a importância dos fatores

psicógenos na produção da doença mental, quando falamos em fator psicógeno, nos

referimos realmente a fatores afetivos já que não são as idéias os fatores mais

importantes na determinação do conteúdo mental do paciente, ou na forma de sua

conduta, senão que, os afetos que estão ligados a ela

Os autores costumam diferenciar, os termos afetos, sentimentos,

emoções e humor. Denominam afetos as variações temporárias, as modulações e

as expressões da vida afetiva. Chamam sentimentos aos afetos associados a um

componente representativo. Por emoções entendem os afetos acompanhados de

uma forma de expressão somática e, finalmente o humor seria um tom afetivo mais

durável.

II – PSICOPATOLOGIA DA AFETIVIDADE

a) Afetos prazeirosos

Um afeto moderadamente prazeiroso é a ―euforia‖, na qual a pessoa se

encontra com uma disposição otimista e se sente invadida por um sentimento

agradável de bem estar. É característico dos estados hipomaníacos. No jubilo, um ar

de prazer e de confiança irradia do paciente: em sua situação pode haver algum

motivo de infelicidade, mas o paciente se desfaz dele, facilmente.

Page 52: Funcoes Psiquicas

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O júbilo não é contudo um estado afetivo constante, é muito lábil e pode

alternar-se facilmente com a irritabilidade. Na exaltação há um intenso júbilo

acompanhado de uma atitude de grandeza. Uma outra alteração da afetividade é o

extase na qual o paciente se identifica com um poder cósmico imenso; sente-se

desprendido das coisas externas, acompanhado de um sentimento de haver nascido

de novo.

b) Depressão:

A depressão pode variar, desde uma ligeira indisposição até o estupor;

em suas formas mais leves o paciente está infeliz, tem um sentimento de

incapacidade, desânimo, inutilidade, e perde o interesse por todas as atividades

habituais. Na depressão um pouco mais intensa existe um estado de tensão

desagradável; tudo é dificil; pode estar temeroso, ansioso ou agitado; a dores

corporais, como cefaléias, inapetência, etc., são muito comuns; a insônia,

especialmente a caracterizada por um acordar cedo, é quase a regra, a idéia de

suicidio é muito freqüente.

c) Tensão:

É uma manifestação de angustia, o paciente tem um sentimento de

inquietação, insatisfação; apresenta uma expressão facial tensa, os dedos estão

trêmulos e todos os movimentos que executa são agitados. Pode experimentar certa

dificuldade de concentração e queixar-se de opressão na cabeça.

d) Angústia:

Assim se designa um estado exaltado de tensão acompanhado de um

sentimento vago, mas muito inquietante, de perigo imediato. A angustia se expressa

também no plano orgânico através de taquicardias, palpitações, constipação,

diarréias, extrassístoles, distúrbios vasomotores, dificuldade respiratória, etc. As

mãos e as faces transpiram, há uma intranquilidade das mãos e dos pés, a voz pode

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ser entrecortada e forçada; a pessoa está inquieta, dorme muito mal e tem sonhos

perturbantes. Os autores propõem uma diferença entre medo e angústia dizendo

que medo é a resposta a um perigo externo, real, presente e desaparece quando a

situação que lhe deu origem se elimina. A angústia com seu persistente sentimento

de pavor e de desastre eminente, é uma reação provocada por conflitos

inconscientes.

A angústia ocupa um dos lugares mais importantes na dinâmica da vida

mental. Serve primeiramente como sinal de conflito e é também utilizada pelo ego

como um agente de reforço dos mecanismos de defesa. Como dissemos na

introdução, todo sintoma em última análise, pode ser considerado, uma defesa

contra a angústia, segundo FREUD ao nascer o organismo emerge de um ambiente

relativamente quieto, entra num estado de estimulação opressiva com um mínimo de

proteção contra estes estímulos. Esta enchente de excitações sem aparelho de

defesa adequado é de, acordo com FREUD, um modelo de todas as angustias

posteriores. Se chama culpa e angustia do ego em face do superego.

e) Pânico:

O pânico não é só um grau mais acentuado de angustia, se não, uma

angústia prolongada com clímax súbito caracterizado por temor, insegurança

extrema. Nesse estado há falsas interpretações, seguidas de projeções que podem

tomar a forma de alucinações ou delírios persecutórios.

f) Afeto inadequado:

É um embotamento emocional em forma de indiferença ou apatia. É um

transtorno frequente da atividade que se caracteriza por uma sensibilidade

inadequada às experiências que normalmente proporcionam prazer ou dor. Esta

ausência de resposta emocional faz o paciente parecer sem contato com a

realidade. Denomina-se também congelamento afetivo ou ainda rigidez afetiva.

g) - Ambivalencia:

Partindo do princípio que cada característica da personalidade tem um

duplo aspecto, isto é, cada impulso encontra-se intimamente conectado com o

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oposto, BLEURER introduziu no pensamento psiquiátrico o conceito de

ambivalência. Na ambivalência afetiva há sentimentos contraditórios, simultâneos

em relação há um mesmo objeto.

h) Despersonalização:

O sentimento de irrealidade, conhecido como síndrome de

despersonalização, pode ser definido como um transtorno afetivo no qual um dos

sintomas principais é o sentimento de irrealidade ou de modificação da

personalidade. Os sintomas de irrealidade podem ser de dois tipos: os sentimentos

de modificação da personalidade, e os sentimentos de que o mundo externo é irreal.

O paciente sente que já não é o mesmo, mas não sente que não se transformou em

outro diferenciando-se assim do que se chama transformação da personalidade; o

paciente experimenta uma perda total das respostas afetivas para qualquer

experiência. Os sentimentos da irrealidade costumam ser observados nas

depressões, nos estados obsessivos, nas histerias e em algumas esquizofrenias.

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